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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRASIL MARGÔ DE DAVID CUIABÁ - MT 2015

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós-Graduação em Ciências

Florestais e Ambientais

OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM

QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE,

MATO GROSSO, BRASIL

MARGÔ DE DAVID

CUIABÁ - MT 2015

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MARGÔ DE DAVID

OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM

QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE,

MATO GROSSO, BRASIL

Orientadora: Profᵃ. Dra. Maria Corette Pasa

Dissertação apresentada a Faculdade de

Engenharia Florestal da Universidade Federal

de Mato Grosso, como parte das exigências do

Programa de Pós-Graduação em Ciências

Florestais e Ambientais para obtenção do título

de mestre.

CUIABÁ – MT 2015

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v

À minha família, Luis meu companheiro, meus filhos,

Gustavo e Marcela, por todo amor e carinho.

Aos meus pais, Elli e Ademir por me terem dado

afeto, educação e valores.

Às minhas irmãs, Rejane e Marisa, mesmo distantes,

sempre presentes em minha vida.

À minha orientadora Profª. Dra. Maria Corette Pasa,

pela oportunidade, acolhimento e amizade.

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vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus pela oportunidade que me foi dada na vida e pela

proteção em todos os momentos.

Em especial à minha orientadora, por me proporcionar o conhecimento da

Etnobotânica. Sua orientação, incentivo e ensinamentos foram

fundamentais para a realização deste trabalho.

À minha família, especialmente ao meu esposo pelo apoio, compreensão

e carinho. Aos meus filhos amados e à querida Natália. Obrigada pela

companhia e auxílio recebidos de todos vocês, principalmente na fase de

campo.

À Universidade Federal de Mato Grosso e ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Florestais e Ambientais (PPGCFA/UFMT) pelo

auxílio na realização deste estudo, em especial aos professores do

programa.

À Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) por permitir o afastamento

para qualificação profissional concedida no período de março de 2013 a

fevereiro de 2015.

À Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT) pela

concessão da bolsa de incentivo cedida entre o período de maio de 2014

a fevereiro de 2015.

Aos membros da Banca de Qualificação Profᵃ. Dra. Carla Maria Abido

Valentini e Prof. Dr. Antonio de Arruda Tsukamoto Filho pelas magníficas

sugestões que contribuíram para a melhoria da minha pesquisa.

Aos colegas de curso pela amizade, carinho e momentos compartilhados

nesta trajetória acadêmica.

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Ao Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso pela valiosa

colaboração com a identificação das espécies e confecção das exsicatas.

Aos informantes dos bairros Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e

Santa Isabel que, gentilmente, participaram deste trabalho e colaboraram

através do seu conhecimento.

A todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização desta

pesquisa.

Muito obrigada.

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viii

SUMÁRIO

Página

RESUMO................................................................................................. xv

ABSTRACT............................................................................................ xvi

1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 1

1.1. OBJETIVOS........................................................................................ 4

1.2. OBJETIVO GERAL............................................................................. 4

1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................... 4

2. REVISÃO DE LITRATURA.................................................................. 5

2.1. ETNOBOTÂNICA E COMUNIDADES TRADICIONAIS E SABER

LOCAL....................................................................................................... 5

2.2. BIOMA CERRADO E UNIDADES DE PAISAGENS.......................... 6

2.3. ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS............................... 9

3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................... 11

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................... 11

3.1.1. Aspectos Físicos..............................................................................11

3.1.2. Aspectos Históricos e Sociais........................................................ 12

3.1.3. Economia........................................................................................ 13

3.2. SELEÇÃO DOS BAIRROS................................................................ 15

3.3. SELEÇÃO DAS RESIDÊNCIAS........................................................ 15

3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA............................................................... 16

3.4.1. Pré-Teste........................................................................................ 16

3.4.2. Observação Direta.......................................................................... 16

3.4.3. Entrevista Semiestruturada............................................................ 16

3.4.4. História de Vida.............................................................................. 17

3.4.5. Turnê Guiada….............................................................................. 17

3.5. REGISTRO DAS INFORMAÇÕES.................................................... 17

3.5.1. Diário de Campo............................................................................. 17

3.5.2. Registro Fotográfico....................................................................... 17

3.5.3. Trabalho de Campo........................................................................ 18

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3.6. COLETAS ETNOBOTÂNICAS......................................................... 18

3.7. ANÁLISE DOS DADOS.................................................................... 19

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................... 21

4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO........................................................... 21

4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DOS BAIRROS........................ 32

4.2.1. As Unidades de Paisagens............................................................ 32

4.2.1.1. Cerrado........................................................................................ 32

4.2.1.2. Quintais....................................................................................... 32

4.2.1.3. Roça ........................................................................................... 39

4.2.1.4. Matas ripárias...............................................................................40

4.2.2. Etnobotânica, Manejo e Conservação das Plantas........................ 42

4.2.3. Etnocategorias e Consenso do Uso das Plantas........................... 50

4.2.3.1. Bairro Água Vermelha................................................................ 50

4.2.3.2. Bairro Bonsucesso..................................................................... 64

4.2.3.2. Bairro Cristo Rei......................................................................... 82

4.2.3.4. Bairro Santa Isabel..................................................................... 95

5. CONCLUSÕES.................................................................................. 106

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 108

APÊNDICE ............................................................................................ 116

ANEXO .................................................................................................. 121

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LISTA DE TABELAS

Página

1. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES POR TEMPO DE MORADIA NOS BAIRROS AV, BS, CR, SI. VÁRZEA GRANDE, MT 2014..................................................................................................... 25 2. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 54 3. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO

BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 72 4. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO

CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 85 5. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA

VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 98

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xi

LISTA DE FIGURAS

Página

1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................ 12

2. LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 15

3. IDADE DOS INFORMANTES - BAIRRO ÁGUA VERMELHA

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................ 22

4. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO BONSUCESSO,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................ 22

5. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO CRISTO REI,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 23

6. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO SANTA ISABEL,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 23

7. ORIGEM DOS INFORMANTES - BAIRROS: ÁGUA

VERMELHA, BONSUCESSO, CRISTO REI, SANTA ISABEL,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 24

8. ATIVIDADE DOS INFORMANTES - BAIRRO ÁGUA VERMELHA,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 27

9. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO BONSUCESSO,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................... 27

10. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO CRISTO REI,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................... 28

11. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO SANTA ISABEL,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 28

12. RENDA MENSAL DOS INFORMANTES DE VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014.......................................................................... 29

13. NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES DE

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 30

14. RELIGIÃO DOS INFORMANTES DE VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014 .......................................................................................... 32

15. VISTA PARCIAL DE QUINTAL NO BAIRRO CRISTO REI,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................... 33

16. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS

DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.... 36

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17. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS

DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......... 36

18. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS

DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 .............. 37

19. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS

DO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 ......... 37

20. VISTA PARCIAL DA ROÇA COM CULTIVO DE CANA-DE-

AÇÚCAR NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT.

2014.................................................................................................. 40

21. VISTA PARCIAL DA MATA RIPÁRIA ÀS MARGENS DO RIO

CUIABÁ NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT.

2014.................................................................................................. 41

22. ORIGEM DO ETNOCONHECIMENTO, VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014........................................................................................... 43

23. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014........................................................................................... 45

24. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT.

2014.................................................................................................. 46

25. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT.

2014................................................................................................. 46

26. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT.

2014.................................................................................................. 46

27. MANUTENÇÃO DO QUINTAL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.. 48

28. RUA BOA VISTA, BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014........................................................................ 52

29. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS

PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 60

30. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA

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VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..................................... 61

31. BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..... 63

32. RUA GIL JOÃO DA SILVA, BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014.......................................................................... 65

33. EXPOSIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS. FESTA

DE SÃO PEDRO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014............................................................................................ 67

34. PRODUÇÃO DE RAPADURA NO ENGENHO DONA BUGUELA,

BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................. 68

35. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS

PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014........................................................................... 78

36. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 80

37. BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................ 81

38. AVENIDA 31 DE MARÇO, BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014.......................................................................... 82

39. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS

PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014............................................................................ 91

40. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014............................................................ 93

41. BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................ 94

42. RUA I, BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 95

43. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL

VÁRZEA GRADE, MT. 2014............................................................. 103

44. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS

PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014........................................................................... 104

45. BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 .......... 105

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xiv

RESUMO

DE DAVID, Margô. Os recursos vegetais e a etnobotânica em quintais de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais) – Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. Orientadora: Profª. Dra. Maria Corette Pasa. O uso dos recursos naturais é essencial no cotidiano de diferentes comunidades. Neste sentido, as pesquisas etnobotânicas proporcionam inúmeras contribuições para a compreensão da relação entre essas comunidades e as plantas. Portanto, este estudo teve como objetivo catalogar, sistematizar e analisar de forma integrada o conhecimento que os moradores de quatro bairros de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil, possuem a respeito da flora nas unidades de paisagens, bem como da utilização, do manejo e da conservação dos recursos vegetais nos quintais. A área de estudo foi escolhida através de um sorteio dos questionários aplicados aos alunos da Escola Estadual Professor Jercy Jacob, que residem em diferentes bairros. Foram sorteados quatro bairros: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e Santa Isabel e cinco quadras em cada um, totalizando 20 quadras. Dentro de cada quadra foram sorteadas quatro residências, totalizando 80 residências para aplicação das entrevistas. As técnicas de pesquisa utilizadas foram: pré-teste, observação direta, entrevista semiestruturada, história de vida e turnê guiada. As coletas etnobotânicas consistiram-se através de visitas nas residências dos moradores, no período de maio de 2013 a abril de 2014, com um total de 127 informantes. No levantamento os informantes citaram 249 espécies vegetais distribuídas em 84 famílias botânicas. As espécies catalogadas foram distribuídas em etnocategorias de uso Alimentar (34%), Medicinal (64%), Ornamental (24%) e Outros usos (29%). Assim identificou-se os principais usos das espécies relatadas pelos informantes, com destaque para a categoria Medicinal. As famílias com maior representatividade foram Asteraceae (16 espécies), Lamiaceae (15 espécies), Fabaceae (14 espécies), Solanaceae (11 espécies), Araceae (nove espécies), Cucurbitaceae (oito espécies) e Anacardiaceae, Myrtaceae, Rutaceae (cada qual com sete espécies). Estas espécies estavam presentes principalmente nos quintais, mas também em outras unidades de paisagens do cerrado, mata de galeria e roça. Dentre as plantas que se destacaram quanto a Frequência Relativa de Concordância Quanto aos Usos Principais estão: Mangifera indica L., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf., Plectranthus barbatus Andrews, Saccharum officinarum L., Punica granatum L., Alloe vera (L.) Burm f., Allium fistulosum L. O conhecimento que essa população possui sobre as plantas presentes nos quintais é transmitido preferencialmente por meio do convívio familiar. Quanto ao manejo dos quintais são utilizados, principalmente, insumos agrícolas naturais e as regas são feitas ao amanhecer ou no final da tarde, sendo esta manutenção realizada sobretudo pelas mulheres. Deste modo, o cultivo de diferentes espécies, o manejo, a finalidade e a forma de uso contribuem para a conservação das plantas nesses ambientes. Palavras-chave: Saber local; manejo; plantas; etnocategorias de usos.

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xv

ABSTRACT

DE DAVID, Margô. The plant resources and ethnobotany in homegardens of Várzea Grande, Mato Grosso, Brazil. 2015.

Dissertation (Master of Forestry and Environmental Sciences) - Federal University of Mato Grosso, Cuiabá-MT. Advisor: Profª. Dra. Maria Corette Pasa. The use of natural resources is essential in the daily life of different communities. In this sense, the ethnobotanical studies provide numerous contributions to the understanding of the relationship between these communities and plants. Therefore, this study aimed to catalog, organize and analyze in an integrated way the knowledge that the residents of four neighborhoods of Várzea Grande, Mato Grosso, Brazil, have about the flora in the landscape units, as well as the use, management and conservation of plant resources in the yards. The study area was chosen through a random selection of questionnaires given to students of the Escola Estadual Professor Jercy Jacob, living in different neighborhoods. Were drawn four neighborhoods: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei and Santa Isabel and five blocks in each, totaling 20 blocks. Within each block were randomly selected four homes, totaling 80 homes for application of interviews. The research techniques used were pre-test, direct observation, semi-structured interviews, life history and guided tour. The ethnobotanical collections consisted up informally, through visits in the homes of neighborhoods, from May 2013 to April 2014, with 127 informants. In the survey, informants cited 249 plant species in 84 plant families. The cataloged species were distributed in Food ethnocategories of use (34%), Medical (64%), Ornamental (24%) and Other uses (29%). Therefore, we identified the main uses of the species reported by informants, especially the Medical category. Families with greater representation were Asteraceae (16 species), Lamiaceae (15 species), Fabaceae (14 species), Solanaceae (11 species), Araceae (nine species), Cucurbitaceae (eight species) and Anacardiaceae, Myrtaceae, Rutaceae (each seven species). They are found mainly in homegardens, but also in other cerrado landscape units, gallery forest and fields. Among the plants that stood out as the Relative Frequency of Agreement Regarding the Main, uses are Mangifera indica L., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Plectranthus barbatus Andrews, Saccharum officinarum L., Punica granatum L., Alloe vera (L.) Burm f., Allium fistulosum L. The knowledge that this population has on the plants present in homegardens is transmitted preferably through the family life. For the management are used mainly natural agricultural inputs and irrigation are made at dawn or in the late afternoon, which is maintenance performed mainly by women. Thus, the cultivation of different kinds, the purpose and manner of use contribute to the preservation of plants in these environments. Key words: Local knowledge, management, plants, ethnocategories of uses.

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1

1. INTRODUÇÃO

Há muito tempo o homem aproveita a natureza e dela retira

diversos recursos vegetais como benefício de sua subsistência. Dentre

esses recursos estão as plantas, que podem ser usadas para as mais

variadas finalidades como, alimentação, construção, remédios,

ornamentação entre outros. Além do cultivo de plantas, a criação de

animais também é atividade exercida há vários milênios.

Em países em desenvolvimento o uso desses recursos é

essencial em múltiplos aspectos no cotidiano de grande parte da

população. Entretanto, há alguns anos atrás, o cultivo de plantas em

áreas urbanas era comum, principalmente em classes menos favorecidas.

Hoje em dia, com o avanço nas pesquisas e a tendência pelo consumo de

produtos naturais e orgânicos, está ocorrendo uma mudança de

comportamento da população. Em quintais ou jardins urbanos e muitas

vezes onde esse espaço é reduzido, como é o caso de condomínios

verticais, pessoas com melhor poder aquisitivo cultivam plantas de

pequeno porte para o próprio consumo.

O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte da

sua cultura e é transmitido através das gerações ao longo das décadas e

séculos, por isso encontra-se relacionado com sua história de vida.

Existe, portanto, um grande tesouro do saber local por pesquisar e

documentar antes que se perca para sempre (PASA, 2007).

Segundo Caballero (1979), Etnobotânica é a ciência que

estuda as plantas e a interação destas com as comunidades humanas,

assim como investiga novos recursos vegetais.

Pode-se dizer que a Etnobotânica é antiga em sua prática, mas

jovem em sua teoria. De acordo com estudos, a sua origem coincide com

o surgimento das civilizações humanas, através dos primeiros contatos

entre o homem e as plantas. Porém, no meio acadêmico a Etnobotânica

foi mencionada pela primeira vez no final do século XIX pelo botânico

John W. Harshberger (CLÉMENT, 1998).

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2

Seu caráter interdisciplinar e integrador é evidenciado na

diversidade de tópicos que pode pesquisar, agrupando os fatores culturais

e ambientais, bem como as concepções desenvolvidas por essas culturas

sobre as plantas e a sua utilização (ALBUQUERQUE, 2005).

Investigações que combinam conhecimentos tradicionais e

modernos são de grande importância para a manutenção da cultura.

Dessa maneira, contribui para a conservação da diversidade biológica e

cultural nas mais variadas regiões. Trata-se, de uma área interdisciplinar

que abrange o estudo e a interpretação do saber, a significação cultural, o

manejo e os usos tradicionais da flora (CABALLERO, 1979).

Pesquisar as relações entre comunidades humanas e flora

local sugere em considerar que nas sociedades modernas o quintal, seja

ele urbano ou rural, é o principal local de cultivo, manejo, criação, lazer e

trabalho diário (CARNIELLO e PEDROGA, 2008).

Os “homegardens” tropicais são constituídos de uma reunião

de plantas, incluindo árvores, arbustos, trepadeiras e plantas herbáceas

crescendo adjacentes às casas (NAIR,1993). Estes quintais são formados

e mantidos pelos membros da família e seus produtos são destinados

para consumo próprio. Assim, os “homegardens” podem ser

estabelecidos em quase todas as ecozonas tropicais e subtropicais, onde

os sistemas de uso da terra, baseado na subsistência, predominam. A

exemplo, no México, “hortos familiares”, na América Central “hortos

caseros”.

Para Saragoussi et al. (1988) no Brasil o termo “quintal” é

usado para determinar o espaço do terreno situado ao redor da casa e

que é utilizado pela família. Complementando a ideia, Ferreira e Dias

(1993) definem os quintais mato-grossenses como a porção de terra perto

da casa, onde se cultivam ou se mantém múltiplas espécies que servem

de fonte às necessidades nutricionais básicas da família, como alimento e

remédio.

Os quintais são espaços de fácil acesso para os moradores

cultivarem uma variedade de espécies com funções entre elas: estética,

lazer, alimentação e medicinal. Importante ressaltar que em todas as

regiões tropicais do mundo ocorre o sistema agroflorestal denominado de

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quintal, com suas variantes em cada região ou país, sendo muito

semelhantes na sua estrutura e função (SIVIERO et al., 2011).

Deste modo, o resgate etnobotânico, através do saber local

permite compreender o aproveitamento e a interação das pessoas e as

plantas, obtendo informações sobre as espécies vegetais úteis e

possibilitando o registro da estrutura de organização dos quintais, a

composição, o manejo e a função das plantas.

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1.1 . OBJETIVOS

1.1.1. Objetivo Geral

Catalogar, sistematizar e analisar de forma integrada o

conhecimento que os moradores de quatro bairros de Várzea Grande

possuem a respeito da flora bem como da utilização, do manejo e da

conservação dos recursos vegetais nos quintais das residências.

1.1.2. Objetivos Específicos

Identificar as plantas e partes das mesmas usadas pelos

moradores de quatro bairros.

Registrar os meios para a aquisição e procedência das plantas

presentes nos quintais.

Realizar um levantamento etnobotânico e identificar as

etnocategorias das plantas nos quintais.

Divulgar as estratégias de conservação dos recursos vegetais

como garantia de utilização de espécies.

Proporcionar a difusão dos conhecimentos científicos locais como

forma de evitar a erosão cultural desta população mato-grossense,

através de publicações.

Apresentar à população os resultados da pesquisa, através da

produção científica na forma de um livro.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. ETNOBOTÂNICA E COMUNIDADES TRADICIONAIS/SABER

LOCAL

A etnobotânica tem como finalidade a investigação e o resgate

do saber botânico tradicional, principalmente relacionado ao uso dos

recursos da flora. Assim, pesquisas nessa área podem cumprir funções

extremamente importantes, agrupando informações sobre os usos das

plantas e colaborando para o desenvolvimento de novas formas de

exploração dos ecossistemas que se contraponham às formas destrutivas

existentes (PASA, 2011a).

Para Diegues (2000) a etnobotânica possui um dos aspectos

que mais tem colaborado para analisar o conhecimento das populações

tradicionais sobre os métodos naturais, não se podendo aceitar o

desprezo ao conhecimento tradicional acumulado, onde se troca a

etnociência pela ciência moderna.

No passado o conhecimento a respeito do uso das plantas era

limitado aos povos isolados geograficamente, porém, no Brasil, a partir do

século XX, se tornou comum para outras comunidades, tanto nos espaços

rurais quanto urbanos (VENDRUSCULO e MENTZ, 2010).

De acordo com Diegues (2000), o conhecimento tradicional

pode ser definido como o saber e o saber-fazer, a respeito do mundo

natural e sobrenatural, gerados na esfera da sociedade não

urbano/industrial. Assim, são transmitidos de forma oral e, através de

procedimentos e rituais que ensinam por observação do aprendiz ao

longo das gerações. O mesmo autor assegura que em diversas

comunidades tradicionais o conhecimento com relação ao uso,

melhoramento e conservação do saber é um bem que pode ser

compartilhado com os membros da própria comunidade ou mesmo com

outras comunidades.

No Brasil, o decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007,

refere-se ao termo populações tradicionais como povos ou comunidades

tradicionais, os quais são definidos pelo Artigo 3 como:

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“Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente

diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem

formas próprias de organização social, que ocupam e usam

territórios e recursos naturais como condição para sua

reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,

utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e

transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007).

Investigar a maneira pela qual as sociedades humanas

relacionam-se com o ambiente a sua volta tem papel fundamental no

resgate, registro e sistematização do saber popular. Além de refletir a

relação humana com o ambiente, poderá auxiliar planos de manejo que

tendam a conservação da biodiversidade bem como tornar acessíveis

esses saberes às futuras gerações (SANTOS e GUARIM NETO, 2008)

Albuquerque (2002) afirma que o estudo etnobotânico é o

principal aliado na interação entre as populações humanas e o ambiente

natural, na busca do desenvolvimento sustentável junto às populações

tradicionais.

As culturas tradicionais desenvolveram formas particulares de

manejo dos recursos naturais que não visam diretamente o lucro mas a

reprodução cultural e social como também percepções e representações

em relação ao mundo natural marcadas pela ideia de associação com a

natureza e a dependência de seus ciclos (DIEGUES, 2000).

2.2. BIOMA CERRADO E UNIDADES DE PAISAGENS

O cerrado compreende um complexo de formações oreádicas

(cobertura vegetal campestre que não seja propriamente uma floresta),

que vão desde o campo limpo até o cerradão, concebendo suas formas

savânicas (campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto)

verdadeiros ecótonos de vegetação entre a forma florestal, representada

pelo cerradão, e a campestre, constituída pelo campo limpo (COUTINHO,

1978).

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Segundo Batalha (2011) podemos usar a palavra “cerrado” em

três sentidos: i) Cerrado, com a inicial maiúscula, quando estivermos nos

referindo ao domínio fitogeográfico do Cerrado, incluindo não só o cerrado

sensu lato, mas também os outros tipos vegetacionais que ali se

encontram; ii) cerrado sensu lato ou simplesmente cerrado, quando

estivermos nos referindo ao cerrado enquanto tipo vegetacional, isto é, do

campo limpo ao cerradão – aqui há um complexo de biomas, bioma dos

campos tropicais, das savanas e das florestas estacionais; e iii) cerrado

sensu stricto, quando estivermos nos referindo a uma das fisionomias

savânicas do cerrado sensu lato.

No início da década de 1970, através de incentivos

governamentais e a adoção da mecanização, a vegetação natural do

cerrado passou por um processo de intensa derrubada motivada pela

agricultura e pecuária, principalmente. Dessa forma, proporcionou uma

gradativa alteração de paisagem, sobretudo na cobertura vegetal

(ALMEIDA, 1998).

Entretando, combinar conservação e gestão de recursos no

cerrado é um trabalho que envolve a importância dos conhecimentos

tradicionais além da potencialidade de vida e a variedade de ambientes

inseridos no bioma e suas particularidades (GUARIM NETO et al., 2010a).

Os mesmos autores destacam que o cerrado mato-grossense prossegue

com inúmeras possibilidades com relação aos seus recursos vegetais,

sendo as populações humanas possuidoras desses saberes, pois detém

um profundo conhecimento ao utilizarem a flora local, essencial em seu

cotidiano.

Dentre as diferentes unidades de paisagens do cerrado

inseridas neste estudo estão as matas ripárias, as roças e os quintais.

Estes últimos (roças e quintais) são resultantes da alteração da paisagem

pelo homem.

Matas de galeria

As matas de galeria também podem ser designadas florestas

ribeirinhas, matas ciliares ou matas ripárias por alguns pesquisadores.

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Esta última, não necessariamente precisa estar margeando os cursos

d’água. Para esta forma de vegetação a extensão da mata se encontra

longa e estreita, formando uma galeria. Assim, estão presentes ao longo

dos cursos d’água, a exemplo de riachos, rios e córregos (MANTOVANI,

1989; HARIDASAN, 1998).

As matas de galeria do cerrado destacam-se através da

riqueza, diversidade genética e pela sua função em proteger os recursos

hídricos, edáficos e faunísticos (REZENDE, 1998).

Segundo Ribeiro e Schiavini (1998) essa vegetação fornece

importante material para pesquisas com relação ao uso de espécies

nativas na recuperação de áreas degradadas do Cerrado. Dentre os

fatores que colaboram para isso, estão o valor econômico de algumas

espécies, à conservação da flora, da fauna e dos recursos hídricos e à

sua importância regional.

Roças

Conforme Adams (2000) a agricultura itinerante para o sustento

familiar nas florestas evoluiu, de forma independente, em todas as regiões

tropicais e revelou-se sustentável ao longo dos séculos. Entretando, a

autora afirma que no Brasil, essa prática é uma herança indígena, e pode

receber várias designações, como agricultura de coivara, roça de coivara,

roça de toco, agricultura de subsistência ou de derrubada e queima.

As roças são espaços ocupados pela produção agrícola, cuja

formação incide em áreas abertas no interior da vegetação natural,

especialmente com a derrubada da mata ou do cerrado. São

representadas pelas unidades familiares e, geralmente constituídas por

uma produção diversificada, contrastando com a lógica produtivista que

ressalta a racionalidade econômica através de sistemas especializados

(PASA, 2007).

Quintais

Os sistemas de quintais agroflorestais também conhecidos

como hortos, “home garden”, quintais caseiros ou pomares, constituem

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uma forma de uso da terra em domínio particular, onde várias espécies

arbóreas são cultivadas juntamente com culturas perenes e anuais,

podendo haver também a criação de animais de pequeno porte em volta

da moradia (NAIR,1993; NAIR e KUMAR, 2006).

Os quintais são designados por diversos grupos humanos o

espaço ao redor das residências. Ainda que muitas vezes apresentem

extensão territorial reduzida, os quintais acumulam uma diversidade

vegetal com complexas manifestações culturais quanto à origem, o

manejo e a utilização (CARNIELLO e PEDROGA, 2008).

Segundo Amorozo (2008) são múltiplos os papéis

desempenhados pelos quintais, sejam eles instituídos pelos moradores ou

mesmo desprovidos de planejamento. Entre as funções a autora cita:

a) Funções biológicas e ecológicas:

- domesticação e aclimatação: através do plantio de espécies que

o produtor ainda não está acostumado;

- conservação de agrobiodiversidade: podem exercer o papel de

viveiros de mudas; diversas espécies não estão mais presentes em

seus ambientes naturais, mas podem ser encontradas e

conservadas nos quintais;

- serviços ambientais: melhoram o microclima, aumentam a

umidade, reduzem o calor e absorvem poluente.

b) Funções sociais, econômicas e culturais:

- produção para consumo familiar e/ou para mercado: contribuindo

para a melhoria da alimentação;

- a face social e cultural dos quintais: aumentando o espaço da

residência, realização de atividades domésticas e de lazer.

2.3. ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS

A sociedade humana acumula um acervo de informações a

respeito do ambiente que a envolve e que vai lhe permitir interagir com

ele para fornecer suas necessidades de sobrevivência. Assim, registra-se

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o conhecimento referente ao mundo das plantas com o qual estas

sociedades estão em contato (AMOROZO, 1996).

Os usos que as comunidades humanas impõem às espécies

vegetais constituem as etnocategorias de uso. A diversidade vegetal além

de prover as múltiplas necessidades alimentares, medicinais, de abrigo,

de edificações, de embelezamento, de lazer, de artesanato, dentre outras

para as populações, encontram-se profundamente relacionadas à

conservação do meio natural (CARNIELLO e PEDROGA, 2008).

A utilização das plantas na alimentação e na medicina

tradicional está presente na vida humana há séculos. No passado

diversas civilizações já faziam o uso de determinadas espécies vegetais

em rituais religiosos e no método de mumificação (MACIEL e GUARIM

NETO, 2008).

As plantas representaram a única fonte de tratamento de

doenças para o ser humano durante muito tempo. Entretanto, através do

desenvolvimento da química farmacêutica, no começo do século XXI, as

plantas constituíram a principal matéria-prima para o desenvolvimento de

medicamentos (CARVALHO, 2010).

No Brasil, o conhecimento específico sobre o uso de plantas é

decorrência de uma miscigenação cultural, abrangendo os europeus, os

indígenas e os africanos (MARTINS et al., 2003).

Atualmente o uso de ervas medicinais, aromáticas e

condimentares vem crescendo por diversos motivos, a saber: eficácia

dessas plantas, efeitos colaterais de medicamentos sintéticos e também

por modismos (CARVALHO, 2010). A exploração da flora nativa, através

da extração direta nos ecossistemas tropicais (extrativismo), provoca

reduções drásticas da vegetação, tanto pelo processo predatório de

exploração, quanto pela falta de conhecimento de perpetuação das

espécies. Deste modo, a domesticação e o cultivo são alternativas para

obtenção da matéria-prima de interesse farmacêutico e redução do

extrativismo nas formações florestais (REIS e MARIOT, 1999).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O presente trabalho foi realizado na cidade de Várzea Grande,

Estado de Mato Grosso.

3.1.1. Aspectos Físicos

O município é designado pelo Projeto Radambrasil (1982)

como uma região da Depressão Cuiabana e delimitado pelas

coordenadas geográficas 15° 38′ 49″, de latitude Sul e 56° 07’ 58”, de

longitude Oeste (IBGE, 2009). Faz limites ao norte com os municípios de

Acorizal e Jangada, a leste com Cuiabá e Santo Antônio de Leverger, ao

sul e a oeste com Nossa Senhora do Livramento (Figura 1). Pertence à

mesorregião Centro-Sul Mato-Grossense e microrregião de Cuiabá.

O clima da região é tropical semiúmido (Aw na classificação de

Koppen), com precipitação pluviométrica anual de 1.350 mm (INMET,

1996) e apresenta duas estações bem definidas: a seca, que vai de maio

a outubro, e a chuvosa, que vai de novembro a abril. A amplitude térmica

varia muito, com temperatura média anual de 26ᵒC, com mínimas de 15ᵒC

e máximas de 32ᵒC. A umidade relativa do ar apresenta média anual em

torno de 74% (FUNASA, 2007).

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FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO.

VÁRZEA GRANDE, MT. Fonte CITYBRAZIL, 2014.

3.1.2. Aspectos Históricos e Sociais

A cidade de Várzea Grande surgiu da doação de uma sesmaria

aos índios Guanás, considerados hábeis canoeiros e pescadores, em

1832 por parte do Governo Imperial. A região foi caminho obrigatório das

boiadas que vinham de Rosário do Rio Acima (hoje Rosário Oeste) em

busca de Cuiabá, capital do Estado (OLIVEIRA, 2008).

Porém, conforme a história tradicional, sua fundação está

profundamente ligada ao acampamento militar instalado durante a guerra

com o Paraguai, supostamente nos arredores do atual centro da cidade -

o Acampamento Couto Magalhães. Entretanto, este acampamento militar

que dava suporte à capital do estado durante a guerra, e que foi

estabelecido em 15 de maio de 1867, pelo General José Vieira Couto de

Magalhães, se localizava na margem esquerda do rio Cuiabá. Foi elevado

à categoria de município com a denominação de Várzea Grande, pela Lei

Estadual n.º 126, de 23 de setembro de 1948, desmembrado do município

de Cuiabá e Nossa Senhora do Livramento (IBGE, 2009).

O território do município fazia parte de Cuiabá, antes de ser

desmembrado. Atualmente entre as duas cidades há somente o rio

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Cuiabá como limite. Segundo estimativa realizada em 2013 pelo IBGE, a

população de Várzea Grande é de 262.880 habitantes. É o segundo maior

município do estado e 99º lugar do Brasil em população, apresenta Índice

de Desenvolvimento Humano Municipal igual a 0,734.

3.1.3. Economia

Várzea Grande é predominantemente comercial e industrial.

Por meio de incentivos fiscais e doações de terras, várias indústrias se

instalaram na região, constituindo, juntamente com a capital, o principal

pólo industrial do estado (PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA

GRANDE, 2013). Atualmente, Várzea Grande concentra um dos maiores

e mais diversificados parque industrial do Estado, alocando indústrias

alimentícias, cerâmicas, bebidas, metalúrgicas, agroindústrias, plásticas e

indústria de colchões.

3.2. SELEÇÃO DOS BAIRROS

Os bairros foram selecionados através de um sorteio dos

questionários aplicados aos alunos da Escola Estadual Professor Jercy

Jacob. Estes questionários foram pertinentes às aulas de Ciências e,

relacionados à Etnobotânica. Assim, evidenciou-se que os alunos residem

em diferentes bairros, quais sejam:

Água Vermelha – O bairro Água Vermelha está localizado próximo ao

centro da cidade de Várzea Grande (Figura 2). Através da história oral de

alguns moradores locais obtivemos a informação de que o nome “Água

Vermelha” surgiu devido à existência de muitas valetas nas ruas da

região. Em épocas passadas elas se formaram pela retirada da terra para

fazer tijolos de adobe e quando chovia, formavam enormes poças d’água,

que escorriam levando toda a água rua a baixo, deixando as mesmas de

cor avermelhada. A produção de tijolos de adobe é batante artesanal, são

feitos com barro e água, às vezes também é acrescentado fibras ou

palha, no entanto eles são secados somente no sol, não passam por

fornalhas.

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Bonsucesso - Criado em 1823, Bonsucesso (Figura 2), o mais antigo

distrito de Várzea Grande, é uma comunidade tradicional ribeirinha que

cresceu em torno de um engenho de açúcar. Este é o bairro mais

afastado da região central da cidade, atualmente conta com cerca de

1.200 moradores. Porém, o Distrito de Bonsucesso, constituído pelas

comunidades de Praia Grande, Pai André, Souza Lima e Capela do

Piçarrão, possui aproximadamente 15 mil habitantes (Prefeitura Municinal

de Várzea Grande, 2014). A comunidade ribeirinha BS está estabelecida

à margem direita do rio Cuiabá, caracterizada basicamente por duas ruas,

a da Beira ou Rua Gil João da Silva (paralela ao rio) e a do Alto (paralela

à Beira), onde estão dispostos as residências, as igrejas, os engenhos, a

escola e um pequeno comércio, constituído principalmente de peixarias.

Cristo Rei - O bairro Cristo Rei (Figura 2) juntamente com outros bairros

de Várzea Grande fazem parte da Grande Cristo Rei, região mais

populosa do município, com aproximadamente 80 mil habitantes. Dispõe

de um forte setor industrial e comercial com inúmeras lojas,

supermercados, concessionárias, bancos, hospital, igrejas, seminário,

escolas, centro universitário, subprefeitura, entre outros.

Santa Isabel - O bairro Santa Isabel está localizado na zona oeste de

Várzea Grande, região afastada do centro da cidade (Figura 2). Segundo

os informantes, o bairro é um conjunto habitacional. No início as

residências eram padronizadas, todas iguais e com a mesma metragem

de terreno. Com o passar do tempo, cada morador foi modificando sua

casa, fazendo varanda, reformando e aumentando o tamanho de acordo

com suas necessidades e possibilidades.

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FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI), VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014. Fonte Google maps.

3.3. SELEÇÃO DAS RESIDÊNCIAS

Os bairros possuem tamanhos diferentes e assim, também um

número de quadras diferentes. Em cada bairro foi sorteado cinco quadras,

totalizando 20 quadras nos quatro bairros. Dentro de cada quadra foi

selecionado quatro residências, totalizando 80 residências para aplicação

das entrevistas. Foi determinado previamente que, havendo algum

problema que impossibilitasse a entrevista em uma das residências

sorteadas, a próxima a sua direita a substituiria, e se ainda assim não

fosse possível, a próxima à esquerda da residência selecionada para a

amostragem a substituiria e assim sucessivamente.

O contato com os informantes iniciou com um esclarecimento

sobre a pesquisa, a exposição dos objetivos e a importância da

colaboração dos informantes. De acordo com Carvalho (2006), o primeiro

contato é de extrema importância para estabelecer um clima harmonioso

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entre pesquisador e informante, sendo fundamental para o

desenvolvimento da pesquisa.

As entrevistas ocorreram nas residências, mais precisamente

na varanda ou no quintal de cada uma delas, com o responsável pela

família que estava no momento, independente de gênero e sempre

posteriormente à entrega do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, com a respectiva assinatura de concordância (Anexo).

3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA

Para auxiliar o desenvolvimento da metodologia proposta para

o estudo, foram utilizadas cinco técnicas, a saber:

3.4.1. Pré–Teste

O Pré-Teste foi utilizado como instrumento de sondagem da

comunidade e também para definir e ajustar a metodologia mais

apropriada ao desenvolvimento da pesquisa, bem como as técnicas e

ferramentas para a obtenção de dados.

3.4.2. Observação Direta

Através da Observação Direta realizou-se o registro das

atividades desenvolvidas pelos informantes durante a pesquisa.

3.4.3. Entrevista Semiestruturada

A Entrevista Semiestruturada foi organizada e redigida com

algumas questões fechadas e abertas. Durante as entrevistas,

frequentemente surgem novas questões relacionadas aos dados

coletados, que muitas vezes exigem novos eventos. Utilizou-se desta

técnica para entrevistar todos os informantes (Apêndice).

As entrevistas ocorreram em períodos matutino e vespertino e

nos finais de semana, período em que alguns participantes apresentavam

maior disponibilidade para emitir as informações.

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3.4.4. História de Vida

A História de Vida é a narrativa do conjunto de experiências

vividas por uma pessoa, neste caso o informante é soberano para

manifestar ou ocultar os fatos (MEIHY, 1996). Esta técnica foi utilizada no

momento em que o informante narra o seu caminho em diferentes fases

da sua vida, passando por acontecimentos e circunstâncias que

presenciou e vivenciou.

3.4.5. Turnê Guiada

A Turnê Guiada consiste de caminhadas exploratórias

conduzidas pelos moradores nos quintais das residências dos

informantes. Esta técnica é utilizada para se determinar o conhecimento e

as etnocategorias de usos das diferentes espécies de plantas citadas

durante as entrevistas.

3.5. REGISTRO DAS INFORMAÇÕES

3.5.1. Diário de Campo

Foi utilizado um Diário de Campo (caderno de campo) para o

registro de fenômenos observados e relacionados ao desenvolvimento da

pesquisa nas atividades de campo.

Segundo Minayo (2010) é o principal instrumento de trabalho

de observação. O diário de campo é um documento pessoal e constitui

um meio em que o pesquisador dispõe para organizar seus dados, sejam

eles, acontecimentos, percepções ou sentimentos.

3.5.2. Registro Fotográfico

Foi utilizada uma câmera digital para realizar o registro

fotográfico das atividades de campo, como as imagens de plantas,

animais, paisagens, residências, entrevistas, eventos culturais, entre

outros.

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Segundo Godolphim (1995) a fotografia constitui um

instrumento de pesquisa:

a) “... de produção de conhecimento etnográfico, onde é tomada

como mais uma técnica de documentação, junto com o caderno

de campo e o gravador, que se usa para registrar seus dados”.

b) “... como elemento de interação na devolução do material

fotográfico, estimulando a relação com o grupo estudado e

abrindo um campo de diálogo, de expressão da memória e das

reflexões dos informantes sobre as imagens devolvidas”.

3.6. TRABALHO DE CAMPO

As atividades de campo foram divididas em três etapas:

1ᵃ Etapa – Levantamento bibliográfico sobre o tema da pesquisa e

levantamento sobre o sorteio dos bairros de Várzea Grande. Esta etapa

teve início em abril de 2013 seguindo o período de execução da pesquisa

e redação do trabalho.

2ᵃ Etapa – Aplicação do Pré-teste, que ocorreu nos meses de abril e maio

de 2013.

3ᵃ Etapa – Foi realizada a coleta de dados pertinentes à pesquisa,

através de visitas aos bairros e órgãos públicos. Esta etapa aconteceu

nos meses de maio de 2013 a abril de 2014.

3.7. COLETAS ETNOBOTÂNICAS

As coletas etnobotânicas consistiram-se de maneira informal,

através de visitas nas residências dos bairros, no período de maio de

2013 a abril de 2014.

Perceber de que forma o conhecimento etnobotânico é

estabelecido demanda conhecer as comunidades, e o modo como ocorre

a transmissão deste saber, através dos membros da família e do

ambiente no qual convivem.

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De acordo com Pasa et al. (2013) o levantamento etnobotânico

acontece por meio de expedições às unidades de paisagem em que se

encontram as plantas usadas, buscando detalhar com maior clareza as

utilidades, a origem, o modo de preparo, as partes usadas, entre outras.

Através do trabalho de campo obteve-se o registro de imagens

relacionadas ao ambiente, nos diferentes quintais urbanos. Também

foram anotadas informações pertinentes e detalhadas às plantas (nome

popular, parte utilizada, finalidade de uso, formas de uso), o manejo e a

conservação local.

A coleta das amostras vegetais, sobretudo na fase reprodutiva

e vegetativa, para montagem das exsicatas ocorreu durante as

caminhadas exploratórias pelos quintais e unidades de paisagens

adjacentes (roças e matas ripárias) junto com o informante. Após, foi

realizada a identificação botânica e catalogação no Herbário Central da

Universidade Federal de Mato Grosso, com a ajuda de técnicos

especialistas deste local, permanecendo ali depositadas. A nomenclatura

foi conferida por meio da base de dados do Missouri Botanical Garden,

Saint Louis (http://www.tropicos.org). Entretanto, não foi possível coletar

material botânico de todas as espécies, principalmente aquelas que

afetariam o cultivo nos quintais dos informantes.

3.8. ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa.

Para a análise qualitativa foram utilizadas as informações

obtidas nas entrevistas, nas observações diretas e, na revisão

bibliográfica. Através da estatística descritiva analisou-se os dados

socioeconômicos dos informantes, o que permitiu a discussão dos

principais aspectos pertinentes à comunidade local e às plantas.

As plantas citadas durante as entrevistas foram separadas em

quatro etnocategorias de usos: Medicinal, Alimentar, Ornamental e Outros

usos (lenha, madeira, proteção, sombreamento).

Para o tratamento dos dados referentes aos usos dos recursos

vegetais foi empregada uma abordagem quantitativa. Com relação aos

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20

dados quantitativos, os mesmos podem ser utilizados como justificativa

para a conservação das espécies vegetais e do conhecimento popular,

principalmente por fornecerem informações sobre as espécies e/ou

famílias mais utilizadas para diversos fins.

Na abordagem quantitativa foi calculado o Índice de Fidelidade,

criado por Friedman et al. (1986) para as indicações de uso de cada

espécie e modificado por Amorozo e Gely (1988); Vendruscolo e Mentz

2010); Pasa (2011a). Desta forma, determinou-se as plantas mais

importantes quanto à finalidade para os informantes locais.

a) Nível de Fidelidade:

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼: 𝑵𝑭 =𝑭𝒊𝒅

𝑭𝒔𝒑𝑿 𝟏𝟎𝟎

Onde: NF = Nível de fidelidade

Fid = Número de informantes que indicaram o uso de uma espécie para

uma finalidade maior

Fsp = Número total de informantes que citaram a planta para algum uso

b) A utilização do Fator de Correção é necessária pela diferença no

número de informantes que citaram usos para cada espécie:

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼𝐼: 𝑭𝑪 =𝑭𝒔𝒑

𝑰𝑪𝑬𝑴𝑪

Onde: FC = Fator de correção

Fsp = Número total de informantes que citaram a planta para algum uso

ICEMC = Número de citações da espécie mais citada

c) Porcentagem de concordância quanto aos usos principais:

𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼𝐼𝐼: 𝑷𝒄𝒖𝒔𝒑 = 𝑵𝑭 × 𝑭𝑪

Onde: Pcusp = Frequência relativa de concordância quanto aos usos principais

NF = Nível de fidelidade

FC = Fator de correção

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21

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO

No total foram entrevistados 128 pessoas nos quatro bairros

que fizeram parte da área de estudo: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo

Rei e Santa Isabel. O número de participantes nas entrevistas variou de

acordo com a disponibilidade dos moradores. Em algumas residências

havia mais de uma pessoa no momento da entrevista, assim estas

também participaram da pesquisa.

Da unidade amostral a maior representação foi do gênero

feminino com 101 informantes (79%) enquanto que o gênero masculino

correspondeu a 27 informantes (21%). Diversos autores (AMOROZO,

1996; VIERTLER, 2002; BORBA e MACEDO, 2006; KFFURI, 2008;

VENDRUSCOLO e MENTZ, 2010; OLIVEIRA e PASA, 2013) observaram

a predominância de mulheres em trabalhos de Etnobotânica. Estes

autores relatam que os cuidados com os recursos vegetais ao redor da

residência são de domínio feminino, pois elas são detentoras do

conhecimento de espécies úteis para o bem estar familiar, já que passam

a maior parte do tempo no lar. No entanto, os homens detêm um

conhecimento maior das plantas mais distantes da residência, no caso

aquelas do mato.

Em alguns testemunhos foi confirmada essa característica:

“Quando eu levanto, gosto muito de cuidá das planta, fico alegre por cuidá delas. Coloco água, não importa o tempo, acho que é dom. Aprendi isso com minha mãe e minha vó, lá no sítio onde a gente morava”. (Sra. A. C., 48 anos – Bairro Cristo Rei)

“Eu tenho as planta aqui em casa porque gosto. A planta é tudo na minha vida, trouxe lá da cidade da minha mãe umas muda e plantei aqui nos vaso. Sempre que vou pra lá trago alguma planta. Quando eu fico sozinha, converso com elas e elas me entende”.

(Sra. M. R., 50 anos – SI)

A idade dos informantes variou entre 26 a 89 anos,

apresentando maior frequência de 46 a 65 anos de idade. Para o sexo

feminino, a mais jovem tinha 26 anos e a mais idosa 89 anos de idade.

Para o sexo masculino, o mais jovem tinha 46 anos e o mais idoso 87

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22

anos de idade, conforme Figuras 3, 4, 5 e 6. O motivo por não haver

informantes do sexo masculino entre 26 a 45 anos é que no momento das

entrevistas eles se encontravam no trabalho ou, em algumas residências,

não havia homem com esta faixa etária.

FIGURA 3 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

FIGURA 4 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO.

VÁRZEA GRANDE, MT. 20

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23

FIGURA 5 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

FIGURA 6 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Quanto à origem dos moradores entrevistados, a maioria (76%)

é da região ou do próprio estado, porém houve registro de outros estados

do país (Figura 7). Resultado semelhante foi encontrado por Pasa (2011b)

na comunidade de Conceição-Açu e Sánchez (2014) na comunidade de

Água Fria, ambas em Mato Grosso, onde um percentual baixo está

constituído por migrantes de outros estados.

A maior parte da migração se deu devido à necessidade de

conseguir uma estabilidade financeira para a obtenção de uma melhor

qualidade de vida. Nos bairros Água Vermelha e Santa Isabel o índice

migratório equivale a 7,5% (Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná,

Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul) e 10% (Bahia, Paraíba, São Paulo),

respectivamente. Já no bairro Cristo Rei a taxa de migração corresponde

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24

a 5% (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco) e, no

bairro Bonsucesso não houve indícios de migração local.

FIGURA 7 – ORIGEM DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI).

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

No bairro BS, todos os informantes são oriundos do estado de

Mato Grosso. Esta característica evidencia a identidade tradicional da

comunidade, onde seus moradores, conhecidos popularmente como

ribeirinhos, conservam práticas, saberes e crenças de antigos moradores

das margens do rio Cuiabá. Para Medeiros e Albuquerque (2012) o saber

local não se restringe a grupos tribais ou a habitantes de áreas rurais.

Acrescenta ainda que, todas as comunidades, rurais ou urbanas,

habitantes originais ou migrantes, podem estabelecer esse saber. Oliveira

(2012) ressalta que os ribeirinhos dessa comunidade são pessoas de pele

morena que incorporam elementos evidentes que os enviam à história da

Baixada Cuiabana.

O tempo em que os entrevistados residem no bairro foi

bastante heterogêneo. Os moradores mais recentes residem há menos de

dez anos e, o morador mais antigo ultrapassa oitenta anos de moradia

(Tabela 1). Também foi observado que nas comunidades mais urbanas

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(AV, CR e SI) o tempo de moradia não ultrapassou os cinquenta anos,

entretanto na comunidade ribeirinha (BS) esse número chegou a 89 anos

TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES POR TEMPO

DE MORADIA NOS BAIRROS AV, BS, CR, SI. VÁRZEA GRANDE

MT. 2014.

Tempo de moradia AV BS CR SI

1 - 10 anos 15 3 2 6

11 - 20 anos 4 3 4 4

21 - 30 anos 2 3 8 14

31 - 40 anos 4 4 12 -

41 - 50 anos 2 7 5 -

51 - 60 anos - 10 - -

61 - 70 anos - 7 - -

71 - 80 anos - 5 - -

> 80 anos - 3 - -

Total de informantes 27 45 32 24

Segundo relato de informantes do bairro BS, muitas pessoas

nasceram e continuam morando no mesmo local. Este fato ocorre porque,

após o casamento dos filhos, alguns constroem suas moradias no mesmo

terreno da casa dos pais e ali permanecem. Os moradores deste bairro

confirmaram gostar de viver no local, uma vez que é raro o acontecimento

de roubos e para quem gosta de uma vida mais sossegada é um lugar

propício para viver com sua família.

Oliveira (2012) assegurou através de seu estudo na

comunidade de Bonsucesso, que quando os filhos escolhem por residir na

localidade, instalam residências no fundo da casa dos pais. Sánchez

(2014) confirma em seu trabalho e destaca a tendência da passagem de

antigos terrenos dos pais ou avós para as novas famílias. Nos outros três

bairros estudados (AV, CR, SI) isto não é evidenciado, uma vez que os

terrenos geralmente são menores, dificultando a construção de uma nova

moradia e também não é uma tradição familiar morar com os pais após o

casamento.

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26

Segundo Amorozo (2010) a continuação dos filhos na área

rural, especialmente com interesse nas atividades agrícolas é de extrema

importância para a conservação de sistemas agrícolas tradicionais.

Quanto ao estado civil dos depoentes 61% são casados, 19%

são viúvos, 11,75% são separados ou divorciados e 8,75% são solteiros.

Em se tratando da característica cultural dos bairros temos AV e SI, onde

o número de viúvos é menor e a quantidade de depoentes mais jovens é

maior. Já nos bairros CR e BS prevalecem a maior quantidade de

depoentes viúvos e também apresentam o maior número de idosos.

Do total de 128 informantes, vários exercem mais de uma

atividade, ou seja, desempenham uma multiplicidade de funções, como

por exemplo, ser diarista e do lar ou ser aposentada e do lar, conforme

Figuras 8, 9, 10 e 11. Ocorreu o registro somente de dois informantes

desempregados, moradores dos bairros CR e SI. Um deles relatou estar

desempregado há quatro anos.

“... por falta de emprego ajudo minha mulher a cuidar das criança... são filhos dos vizinho que trabalham fora e moram aqui na região... aqui em casa funciona como uma creche, eles vem cedo e vão embora só no final da tarde”. (Sr. J. C. S., 50 anos – SI)

Outra moradora do bairro BS alegou o motivo de não trabalhar

fora:

“... esse bairro é um pouco longe da cidade, então prefiro cuidá da minha mãe, que já está velhinha, do que trabalhá lá na cidade e aí não precisamo deixá ela sozinha e nem pagá outra pessoa pra ficá com ela”. (Sra. M. A. S., 47 anos – BS)

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27

54

9

2 2 2 21

5

0123456789

10

me

ro d

e In

form

an

tes

Atividade

Bairro Água Vermelha

3

13

43

4

14

4

2 21

6

3 3

0

2

4

6

8

10

12

14

16

me

ro d

e In

form

an

tes

Atividade

Bairro Bonsucesso

FIGURA 8 – ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

FIGURA 9 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

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FIGURA 10 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

FIGURA 11 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Ao analisar as Figuras 8, 9, 10 e 11 observa-se um destaque

para a atividade ‘Do lar’, evidenciando a importância desta atividade e a

presença feminina neste estudo. Sánchez (2014) também observou uma

porcentagem maior de afazeres domésticos para as mulheres em sua

pesquisa. A atividade ‘Do lar’ está relacionada com o ‘Nível escolar’ dos

participantes, pois constatou-se que a maioria dos informantes que

13

21

3

11

34

3 3

0

2

4

6

8

10

12

14

me

ro d

e In

form

an

tes

Atividade

Bairro Cristo Rei

7

21

11

12

31

2

02468

1012

me

ro d

e In

form

an

tes

Atividade

Bairro Santa Isabel

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29

exercem esta atividade não frequentou a escola ou cursou os primeiros

anos do ensino fundamental, dificultando no momento da procura por um

emprego.

Outro item que sobressai é o número de informantes

aposentados, visto que uma considerável parcela de participantes tem

mais de 60 anos de idade. Esta característica é mais evidente nos bairros

Bonsucesso e Cristo Rei, onde a tradicionalidade é percebida através do

manejo exercido nos quintais das residências locais. Neles ainda são

mantidas diversas atividades, como por exemplo a benzeção, a

manutenção de cultivos, a criação de pequenos animais, as rodas de

conversas.

Quanto à renda mensal dos informantes, a mesma apresentou

uma variação de um a mais de dois salários mínimos, conforme Figura 12.

No entanto, a maioria dos depoentes (59%) relatou como renda mensal o

valor de um salário mínimo. Outras ainda se referiram ao salário do

marido como fonte renda para manter a família.

FIGURA 12 – RENDA MENSAL DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS,

CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

13

33

16

13

7 79

675

75

Água Vermelha Bonsucesso Cristo Rei Santa Isabel

mer

o d

e in

form

ante

s

Bairro

Renda mensal

1 salário mínimo 2 salários mínimos > 2 salários mínimos

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30

Quanto à escolaridade (52%) dos informantes possuem o

Ensino Fundamental de completo a incompleto (Figura 13). Já para as

outras categorias de ensino o percentual foi menor. Também para

aqueles que informaram o Ensino Médio, a maioria não o completaram.

Rocha (2013) estudando a Comunidade de Saloba Grande em Porto

Estrela, Mato Grosso, verificou que as categorias de ensino mais citadas

foram a de Não Alfabetizado e Ensino Fundamental (1º ao 4º ano).

Kffuri (2008) observou em seu estudo no município de Senador

Firmino, Minas Gerais, que o conhecimento das plantas medicinais no

tratamento tradicional está relacionado com o grau de escolaridade.

Acrescentou ainda que, quanto mais avançada a escolaridade, maior o

contato com a progresso e com a medicina moderna. Deste modo, as

pessoas com menor contato escolar preferem primeiramente a

terapêutica tradicional, deixando para um segundo plano o uso de

medicamentos sintéticos. Também detectou-se que o nível de

escolaridade encontra-se diretamente proporcional ao uso das plantas,

como fitoterápicos para tratamentos de saúde, como é o caso do BS e

CR.

FIGURA 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES DOS

BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

4 5 5

2

13

24

15 14

7

14

97

3 2 2 1

Água Vermelha Bonsucesso Cristo Rei Santa Isabel

mer

o d

e in

form

ante

s

Bairro

Nível de escolaridade

Não frequentaram a escola Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior

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31

Alguns informantes (12,5%) não frequentaram a Escola, o

motivo está em alguns depoimentos:

“Nunca frequentei a Escola, meu pai era daqueles antigo e achava que não precisava estudá, não era importante. Naquele tempo tinha roça, sítio, tinha com o que se sustentá ... tinha fartura. Meus filho, meus neto, nunca vão vê toda aquela fartura que eu tive

quando criança e jovem”. (Sra. F. A. F., 68 anos, SI)

“Nunca estudei, porque morava nos mato, nas fazenda. Meu sonho era í pra Escola, mas não tinha professor lá, porque eles iam prás casa dos fazendeiro. Aprendemo a lê, contá e escrevê, sem professor. A força de vontade ajudô a aprendê. Tem coisa que não precisa esperá ensiná, tem que procurá”. (Sra. J. M. R.,

84 anos, CR)

“Não estudei porque meu pai não deixava. Pra ele, naquela época, mulher tinha que sabê cuidá da casa, dos filho e do marido. Não precisava estuda pra trabalha pros outro, tinha que sabe cuidá das coisa de casa. Isso que era importante na cabeça

dele”. (Sra. M. M. V., 89 anos, SI)

Para aqueles que concluíram o Ensino Superior, três fizeram

curso para ser professor (Pedagogia e Letras), uma fez Enfermagem e

um concluiu o Curso de Contabilidade. No entanto, as professoras já

estão aposentadas e os outros dois estão na ativa.

Quanto ao aspecto religioso 98,5% dos informantes possuem

uma religião, destacando-se a religião Católica com 95 informantes

(75%), seguida da Evangélica com 30 informantes (Figura 14). Apenas

dois depoentes não têm religião e não frequentam nenhuma igreja.

A análise destes dados permite explicar as manifestações

religiosas e folclóricas no bairro BS, principalmente pelas festividades de

São Pedro, São Benedito, Nossa Senhora de Bonsucesso entre outras,

que acontece todos os anos e que reúne pessoas dos bairros vizinhos e

de várias regiões mato-grossenses. Em diversas residências da

comunidade ribeirinha foi possível observar a presença de imagens de

santos diretamente sobre a mesa ou dentro de oratórios, geralmente na

sala, caracterizando a forte ligação com o catolicismo. Além dos santos

de devoção de cada família, cada comunidade tem uma devoção coletiva,

um santo padroeiro reverenciado nas capelas e levado de casa em casa

(FERREIRA, 2010).

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32

FIGURA 14 – RELIGIÃO DOS INFORMANTES DOS BAIRROS

(AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DOS BAIRROS

4.2.1. As Unidades de Paisagens

4.2.1.1. Cerrado

A utilização de plantas do cerrado para alimentação, remédio,

madeira e lenha, entre outras, está presente no cotidiano da população,

sobretudo para as mais antigas desse estudo. Desta forma, diversos

informantes, procedentes principalmente da zona rural, relataram ter

conhecimento a respeito de plantas nativas. Entretanto, mesmo que o

cultivo dessas espécies não se destaque nos quintais, observa-se o seu

uso através da coleta de produtos em outras áreas, próximas ou distantes

das residências.

4.2.1.2. Quintais

Os quintais urbanos dos quatro bairros da área de estudo (AV,

BS, CR, SI), em Várzea Grande, Mato Grosso (Figura 15), representam

uma unidade de paisagem de extrema importância devido às distintas

18

40

23

15

8

5

9

8

1

0

0

1

Água Vermelha

Bonsucesso

Cristo Rei

Santa Isabel

Número de Informantes

Bai

rro

Religião

Sem religião Evangélica Católica

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33

atividades nele realizadas: plantio de várias espécies e produção de

alimentos; criação de pequenos animais, alguns utilizados para o próprio

sustento e para um pequeno comércio; preparação de medicamentos

caseiros; espaço de trabalho, de lazer e de socialização, entre outros.

FIGURA 15 – VISTA PARCIAL DE QUINTAL NO BAIRRO CRISTO REI,

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.

Para Amaral e Guarim Neto (2008) os quintais representam

além de um local de produção, visto que a multiplicidade dos trabalhos

domésticos ocorre nestes espaços. Assim, para diferentes moradores é

no quintal que se encontra a caixa d’água, a lavanderia, a cozinha, o jirau,

o forno e o pilão. Também é no quintal que se realizam rodas de

conversas, rezas, festas e danças. Deste modo podemos assegurar que

existe uma relação de afetividade entre os informantes e o ambiente que

os cercam, pois muitos se referem ao quintal como um espaço que

transmite conforto, beleza, afeto, liberdade, paz, saúde e bem-estar.

Neste contexto, os quintais mato-grossenses são espaços de

socialização com a presença de familiares, de amigos e de vizinhos. Pasa

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(2004) afirma que o cultivo nos quintais além de proporcionar uma

alimentação saudável, gera baixa dependência de produtos externos,

reduz os impactos sobre o ambiente, mantém os recursos vegetais e a

riqueza cultural, motivada no saber e nos costumes dos moradores locais.

Nos bairros onde foi realizado o estudo, os quintais apresentam

tamanhos variados, desde áreas pequenas com poucos metros até áreas

grandes com mais de 300 m². Diversos informantes não souberam definir

ao certo a respectiva área do quintal, pois em alguns casos não possuem

uma delimitação com o vizinho. Geralmente a maior parte do quintal está

disposta nos fundos da residência, como foi observado também por Pasa

e Ávila (2010) em comunidade ribeirinha de Rondonópolis, Mato Grosso.

Assim, na comunidade ribeirinha Bonsucesso, local em que os

quintais são maiores que os dos outros bairros, os mesmos não possuem

uma área bem definida, pois em muitas famílias quando os filhos casam,

eles constroem suas moradias no mesmo terreno em que está a casa dos

pais, não havendo portanto, um espaço delimitado nesses quintais. Este

fato evidencia a razão de diversos informantes nascerem e continuarem

residindo na comunidade até mesmo depois de constituírem novas

famílias. Neste local, diversos quintais se prolongam até a beira do rio

Cuiabá, em alguns casos se misturam com a roça ou a mata.

Situação contrária ocorre no bairro Santa Isabel, onde os

quintais são pequenos e a maioria deles ficou menor ainda por motivo de

reformas e aumento no tamanho das residências. Mesmo assim, os

moradores desfrutam das áreas que restam do quintal.

Entretanto, nos bairros Água Vermelha e Cristo Rei, observou-

se uma diversidade nos tamanhos dos quintais variando em pequenos,

médios e grandes. Os quintais maiores, geralmente são de moradores

com idade mais avançada e com maior tempo de moradia no local.

Quanto ao porte das plantas presentes nos quintais observou-

se os estratos: herbáceo como plantas ornamentais, ervas medicinais e

hortaliças; porte intermediário, os arbustos, como bananeira, limoeiro,

mamoeiro e pitangueira; arbóreas, entre elas a mangueira, o abacateiro e

o cajueiro. Pasa (2007) considera a estrutura espacial dos elementos

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35

vegetais encontrados nos quintais também em três estratos, quais sejam,

herbáceo, subdossel e dossel.

Segundo Nair (1993) ocorre uma similaridade entre os quintais

presentes nos trópicos, mesmo que fatores socioeconômicos, culturais e

ambientais determine a seleção de espécies vegetais. Acrescenta ainda

que a disposição de um subdossel seleciona as espécies tolerantes à

sombra, ou seja, que estão adaptadas a esses ambientes.

Os quintais também refletem a flora com seus valores culturais,

acompanham as pessoas em suas novas moradias, demonstrando o

anseio de se reportar os costumes e tradições do local de origem dessas

pessoas. Essas evidências ficam mais expostas à medida que

transportam consigo propágulos de plantas quando se mudam (SANTOS

e GUARIM NETO, 2008).

Os animais e os quintais

A população de um modo geral está habituada a conviver com

alguma espécie de animal (Figuras 16, 17, 18, 19). Desta forma, eles

estão presentes nos quintais da maioria das residências dos informantes

desempenhando diversas funções, entre elas: estimação, segurança,

consumo, produção, comercialização e transporte. Dentre as

comunidades estudadas, 82,5% dos informantes criam algum tipo de

animal e 17,5% afirmaram não possuir nenhuma espécie.

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36

FIGURA 16 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO

BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

FIGURA 17 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO

BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

14

1

5

7

0 2 4 6 8 10 12 14 16

cachorro

codorna

galinha

gato

Quantidade

An

imal

6

12

12

1

2

6

0 2 4 6 8 10 12 14

Boi

Cachorro

Galinha

Periquito

Porco

Vaca

Quantidade

An

imal

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37

FIGURA 18 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO

BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

FIGURA 19 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO

BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

11

4

2

0 2 4 6 8 10 12

Cachorro

Gato

Periquito

Quantidade

An

imal

14

5

8

2

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Cachorro

Galinha

Gato

Periquito

Quantidade

An

imal

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38

Quanto às instalações, a maioria dos animais citados vive solta

nos quintais, geralmente murados ou cercados. Apenas alguns deles

permanecem sem esta proteção, podendo a qualquer momento ir e vir.

Muitos informantes se referiram aos animais de estimação, o

cachorro (Canis familiaris), o gato (Felis catus) e o periquito (Brotogeris

tirica) com sentimento de carinho, ternura, amor e zelo. O cachorro além

de ser amigo e companheiro também foi mencionado muitas vezes como

uma forma de proteção para a casa e a família. Já o gato ajuda a manter

a casa longe dos ratos e os periquitos mesmo estando dentro de gaiolas

apresentam uma certa liberdade, pois elas ficam abertas em determinado

período do dia. Além disso, seus donos relataram que a conversa entre

eles (humano/ave) é como se fosse com outra pessoa.

As galinhas (Gallus gallus) e a codorna (Nothura maculosa)

vivem dentro de galinheiros ou solta no próprio quintal, tem como

finalidade a alimentação humana através da carne ou da produção de

ovos, podendo ser para consumo próprio ou para comercialização. O

porco (Sus domesticus), criado em local separado, também foi

mencionado para alimentação. Os bois (Bos taurus) foram citados na

comunidade BS como animais que ajudam no trabalho, transportando a

cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) da roça até o engenho, o

chamado ‘carro de boi’. As vacas (Bos taurus), no entanto fornecem o

leite que é comercializado na região ou utilizado no feitio de doce de leite

ou na rapadura de leite e cana-de-açúcar (espécie de rapadura feita de

doce de leite e rapadura de cana).

Rabelo Junior (2011) verificou na comunidade Passagem da

Conceição, em Mato Grosso, o uso da tração animal em épocas

passadas para o deslocamento de produtos até a região central de

Cuiabá com o objetivo de comercialização. Naquele período, os

produtores utilizavam cavalos, burros, e charretes, e alguns ainda faziam

esse percurso a pé.

A alimentação dos animais é basicamente ração e comida

(cães e gatos); milho, ração e restos de comida (galinhas); frutas e alpiste

(periquitos); ração (codorna); restos de comida (porco); pasto e bagaço de

cana-de-açúcar (bois e vacas).

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39

Outro grupo de animal bastante citado pelos informantes na

comunidade ribeirinha BS é o peixe, muito apreciado na culinária local e

também a principal proteína presente na gastronomia típica da baixada

cuiabana, servida nas peixarias da comunidade.

De acordo com os informantes a pesca é basicamente

artesanal, para consumo familiar e as espécies mais mencionadas são o

pintado (Pseudoplatystoma sp), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e o

piau (Leporinus sp). Entretanto, os peixes servidos nas peixarias da

comunidade ribeirinha têm diferentes procedências, podendo ser de

tanques próximos ao bairro ou de rios mais distantes e até de outros

municípios.

Os pescadores da comunidade BS utilizam a canoa de madeira

feita no local e alguns também pescam na barranca do rio Cuiabá. A isca

deve ser de acordo com o pescado que se deseja pegar, entre elas a

minhoca, o muçum e os peixes menores (VALENTINI et al., 2011). Alguns

informantes também relataram que utilizam uma ‘espécie de massa’ feita

com água e farinha de trigo como isca.

Para os membros da comunidade Bonsucesso a arte de pescar

é repassada de pais para filhos, ao longo dos anos, e muitos moradores

demonstram preocupação e a necessidade de manter o repasse desta

cultura para as futuras gerações.

4.2.1.3. Roça

Dentre os bairros estudados, a roça foi encontrada na

comunidade ribeirinha Bonsucesso. Nela são plantadas culturas vegetais

com o objetivo de obter uma maior produção para a subsistência familiar,

como Manihot esculenta Crantz (mandioca), Solanum tuberosum L.

(batata), Ananas comosus L. Merr. (abacaxi), Musa parasidiaca L.

(banana), Zea mays L. (milho), Saccharum officinarum L. (cana-de-

açúcar). Estas espécies são geralmente usadas para comercialização ou

como matéria-prima, a exemplo a cana-de-açúcar para a produção da

rapadura (Figura 20).

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40

FIGURA 20 – VISTA PARCIAL DA ROÇA COM CULTIVO DE CANA-DE-

AÇÚCAR NO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT.

2014. Fonte: acervo da autora.

Grande parte do cultivo de mandioca ocorre através de

propagação vegetativa e pode acontecer ao longo do ano. No estudo foi

verificado que a mandioca além de ser comercializada, principalmente em

feiras, é também utilizada na culinária tradicional da comunidade

ribeirinha, tanto nas residências quanto nas peixarias e ainda pode ser

processada utilizando-se um pilão para fazer a ‘puva’, como relata uma

moradora:

“... Eu faço a ‘puva’ prá passá no peixe antes de fritá. Tem que

socá aqui no pilão até ficá bem fina, essa farinha é muito melhor que

as outras, ela deixa o peixe mais saboroso, não puxa o óleo. Aqui a

gente não precisa comprá farinha no mercado. Aprendi a fazê isso

com minha mãe...” (Sra. A. M. M., 63 anos)

4.2.1.4. Matas ripárias

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41

Além de seu papel ecológico, a presença das matas ripárias é

de grande importância para as comunidades regionais, tanto para

subsistência familiar através de alimentos, remédios e outras

potencialidades, quanto para a permanência dos recursos nela existentes

através da conservação.

Assim, podemos confirmar o valor dessa unidade de paisagem

no dia-a-dia dos ribeirinhos de Bonsucesso, único bairro da área de

estudo que contempla esta vegetação, através da agricultura de

subsistência localizada nas bordas das matas e da coleta de produtos

(frutos, folhas, cascas, sementes e raízes) para fins alimentício e

medicinal. Outras atividades referentes ao trabalho dentro da mata

ocorrem através da coleta de lenha para combustão e a extração cultural

da espécie Guazuma ulmifolia Lam. (chico-magro), com a finalidade de

adicioná-la à garapa da cana-de-açúcar para promover a subida das

impurezas no momento da fervura, facilitando assim sua limpeza durante

o feitio da rapadura.

Para a maioria dos moradores da comunidade BS, a mata de

galeria faz parte de sua propriedade e/ou o quintal e a roça adentram esta

unidade de paisagem (Figura 21), por isso diversas espécies vegetais

nela existentes são muito úteis no cotidiano da população. Porém,

verificou-se que a coleta do produto da mata não se estabelece como

atividade principal e sim como complementar, especialmente através do

uso de remédios caseiros. Com relação à coleta de produtos vegetais da

mata, a principal forma de uso é a Medicinal, como exemplo as espécies

Siparuna guianensis Aubl (negramina), Strychnos pseudoquina A. St.-Hil

(quina) e Pterodon polygaliflorus (Benth.) (sucupira). Alguns informantes

confirmam através de relatos:

“... gosto de usá a negramina quando dá gripe... faz banho... ela tira aquela quentura do corpo e aquele mal estar”. (Sra. G. M. S.,

60 anos, BS)

“... pra anemia a gente usa quina, chá de frade e fedegoso. É só tomá direitinho que melhora. O chá de frade também é bom pra acaba com verme, acaba com eles tudo. E a quina do cerrado é bom pra curá hepatite. Se toma direito é melhor que remédio de farmácia...” (Sra. L. R. S., 73 anos, BS)

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42

FIGURA 21 – VISTA PARCIAL DA MATA RIPÁRIA ÀS MARGENS DO RIO

CUIABÁ NO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE,

MT, 2014. Fonte: acervo da autora.

4.2.2. Etnobotânica, manejo e conservação das plantas

A origem do conhecimento sobre o uso das plantas,

especialmente as medicinais, foi através do conhecimento tradicional

familiar, principalmente com a mãe e as avós. Para outros informantes o

repasse de informações se deu com vizinhas, geralmente com idade mais

avançada e através de fontes externas, como a leitura de livros, revistas e

de programas de televisão (Figura 22).

A maior parte dos entrevistados afirmou que faz uso das

plantas medicinais sempre que é necessário, e ainda por acreditar que

elas não fazem mal à saúde. Toda vez que um familiar adoece e o

problema é considerado de menor gravidade, a primeira atitude é recorrer

aos chás (por infusão ou decocção), xaropes, compressas e outros. Caso

o tratamento inicial não obtenha bons resultados ou a doença se agrave o

médico é então procurado.

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No bairro AV 90% dos informantes fazem o uso de plantas

medicinais. Destes, todos afirmaram que esse conhecimento foi

repassado pela família ao longo das gerações. Nas residências visitadas,

75% possuem algum cultivo de planta medicinal no quintal, as quais

utilizam e também repassam para vizinhos ou parentes quando

necessário. Contudo, mais da metade dos participantes afirmaram que

aprenderam a cultivar plantas com a mãe e alguns ainda informaram que

obtiveram esse conhecimento com as avós ou sozinhos.

Na comunidade ribeirinha BS 93% dos depoentes utilizam

plantas para o tratamento de doenças. A origem do etnoconhecimento é

principalmente tradicional familiar, entretanto a convivência com vizinhos,

principalmente idosos e programas na televisão também contribuem para

a transmissão desse saber. As plantas utilizadas como remédio são

encontradas frequentemente nos quintais e matas próximas às moradias.

Porém, quando não possuem, recorrem com vizinhos ou parentes mais

próximos. O saber sobre o cultivo de plantas é procedente sobretudo dos

pais, que nasceram e foram criados nesse meio e passaram o

etnoconhecimento para os filhos.

FIGURA 22 – ORGEM DO ETNOCONHECIMENTO DOS BAIRROS (AV, BS,

CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

100% 100%90%

100%

10%5% 5%5%

15%5%

Água Vermelha Bonsucesso Cristo Rei Santa Isabel

Per

cen

tual

de

info

rman

te

Bairro

ORIGEM DO ETNOCONHECIMENTO

Familiar Vizinhos Livros e TV

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44

No bairro CR o uso de plantas medicinais envolve 90% dos

informantes, sendo a origem desse conhecimento principalmente através

da família e para alguns moradores os livros e os programas de televisão

também contribuíram. Essas plantas estão presentes em 95% dos

quintais, porém também é comum compartilhar com vizinhos e parentes

próximos ou buscar em outra região. A maioria dos depoentes declararam

que aprenderam a cultivar plantas com os pais e os avós e que diversos

familiares mais idosos são procedentes da zona rural.

Em 90% dos informantes do bairro SI também foi verificado o

uso de plantas medicinais para tratamento de alguma enfermidade. Todos

os participantes que as utilizam afirmaram que esse conhecimento

provém da tradição familiar, principalmente com mães e avós. Entretanto

duas informantes relataram que também aprenderam com fontes externas

(livros, programas de televisão e com vizinhos). Nessas residências, 80%

apresentam espécies medicinais cultivadas nos quintais, porém quando

não possuem, buscam em outros locais (raizeiro, parentes, vizinhos,

terrenos próximos). A maior parte dos participantes também aprenderam

a plantar com os pais e alguns obtiveram esse conhecimento com

pessoas mais antigas, sozinhos ou ainda por fontes externas (televisão e

livros).

A forma de preparo das plantas usadas como remédio foi

diversificada, contudo o chá através da infusão foi o mais citado com

33%, seguido da forma macerada (15%), do chá na forma de decocção

(13%), misturado com água (8%), in natura e banho (7% cada uma),

misturado com álcool (6%), as demais formas de preparo obtiveram

pencentual inferior a 5% (Figura 23, 24, 25, 26). Alguns participantes

informaram que as partes mais rígidas das plantas como raízes, sementes

e cascas podem ser fervidas, enquanto que as mais macias não devem

e/ou necessitam passar por esse método.

Quanto à transmissão desse conhecimento, todos os

informantes afirmaram que os mais jovens não têm interesse em aprender

a respeito de plantas medicinais na terapêutica tradicional. Kffuri (2008)

também verificou em Senador Firmino, Minas Gerais, que os indivíduos

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mais jovens não demonstram importância em obter esse conhecimento.

Os relatos a seguir confirmam esses dados:

“Aprendi tudo sobre as planta com minha mãe. Os jovem de hoje não querem sabê de tratá doença com planta... qualquer gripe ou dor de garganta eles já correm pra farmácia pra comprá remédio”.

(Sra. R.B.R., 68 anos – CR). “Hoje as pessoas prefere í logo na farmácia compra um tanto de remédio e pagá caro... muitas vezes ele faz mal e até piora outra coisa... a juventude não qué sabê de remédio de planta não. Eles não acredita no poder que as planta tem”. (Sra. M.A.F.B., 70 anos – SI)

FIGURA 23 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014.

Banho2%

Compressa2%

Decocção16%

Infusão37%

Macerado14%

Misturado na água11%

Misturado no álcool

2%

Triturado11%

Xarope5%

Banho CompressaDecocção InfusãoMacerado Misturado na águaMisturado no álcool Triturado

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FIGURA 24 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014.

FIGURA 25 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014.

Banho11% Compressa

2%Decocção

9%

Emplasto2%

Infusão36%

In natura7%

Macerado18%

Misturado com água7%

Misturado no álcool4%

Triturado4%

Banho Compressa Decocção

Emplasto Infusão In natura

Macerado Misturado com água Misturado no álcool

Triturado

Banho7%

Compressa2%

Decocção17%

Infusão34%

Macerado17%

Mistura com água11%

Mistura com álcool2%

Triturado6%

Xarope4%

Banho Compressa Decocção

Infusão Macerado Mistura com água

Mistura com álcool Triturado Xarope

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FIGURA 26 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO

REMÉDIO NO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014.

As plantas medicinais são utilizadas como remédios caseiros,

sendo a folha a parte vegetal com maior número de citações (86). Desta

maneira, ocorre a conservação da planta para usos continuados já que

não compromete o crescimento e reprodução da espécie com a coleta

das folhas. Outras partes vegetais, entre elas a casca (29), o fruto (28), a

raiz (21), a semente (12), a flor e o caule (11 citações cada uma) e o broto

(nove citações) também são utilizados, porém com menor frequência.

Para Maciel e Guarim Neto (2008) o etnoconhecimento não se

limita somente ao uso de plantas medicinais, mas às demais

etnocategorias e, além disso, ao prazer pelo ambiente rural.

Quanto ao manejo, é realizado com práticas de cultivo simples

e de baixo custo. A manutenção do quintal é predominantemente feminina

nos quatro bairros estudados, porém, outros membros da família também

realizam esta tarefa (Figura 27). No bairro Bonsucesso, ocorre destaque

de toda a família para os cuidados com o quintal.

O papel das mulheres é essencial na manutenção e na seleção

das espécies a serem cultivadas, principalmente das medicinais,

ornamentais e aquelas usadas como temperos. Às mulheres cabe varrer,

Banho10%

Compressa8%

Decocção11%

Emplasto2%

Infusão31%

Macerado17%

Mistura na água11%

Triturado6%

Xarope4%

Banho Compressa Decocção Emplasto Infusão

Macerado Mistura na água Triturado Xarope

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juntar as folhas, irrigar as plantas, plantar, replantar, entre outras, e,

muitas mencionam esses cuidados como uma forma de lazer. Já para os

serviços mais pesados, principalmente nos quintais de maior porte

compete aos homens, o roçar, por exemplo.

Alguns cuidam do quintal diariamente, no entanto outros

dispensam atenção de forma semanal ou mensal, de acordo com a

necessidade de cada um e a época do ano.

FIGURA 27 – MANUTENÇÃO DO QUINTAL NOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI).

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Diversos estudos referentes a quintais também apresentam o

gênero feminino com a maior relação entre a manutenção do quintal,

como exemplo na obra de Guarim Neto e Carniello (2008) que estudaram

os quintais mato-grossenses.

Segundo os moradores locais é no período da seca que o

trabalho é maior para a manutenção do quintal, pois as folhas das árvores

caem e é preciso varrer com frequência. Irrigar diariamente as plantas

para evitar que elas sequem e morram também é outro cuidado

indispensável neste período porém, a maioria dos informantes afirmam

ser prazeroso esse zelo com o quintal. As regas são realizadas ao

8

11 11 11

3

11

32

6

9

6 66

14

5

12 2

3

1 1 1

Bairro Água Vermelha Bairro Bonsucesso Bairro Cristo Rei Bairro Santa Isabel

mer

o d

e in

form

ante

s

Resposável pela manutenção do quintal

Mulher Homem Casal Família Filho Neto Outro (pago)

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amanhecer ou ao entardecer, quando o sol está mais fraco. Para esta

tarefa são usadas mangueiras, baldes e regadores. Em Bonsucesso,

além desses utensílios, também é utilizado a casca do fruto da cabaça

(Crescentia alata Kunth), tanto para colocar água e molhar as plantas,

quanto para colocar milho e alimentar as galinhas. A atividade de poda

ocorre de acordo com a necessidade e características fenológicas de

cada espécie no quintal.

Para vários informantes do bairro Bonsucesso, as folhas

varridas são amontoadas ou colocadas num buraco e deixadas ao tempo,

para secar com o sol e umedecer com a chuva e, posteriormente, virar

‘adubo natural’, assim chamado pelos ribeirinhos. Outros relataram que

colocam as folhas ao redor do tronco das árvores ou dentro de lata de

alumínio para queimar, pois as cinzas também servem de adubo. Alguns

informantes deste bairro contaram que jogam as folhas perto da barranca

do rio e assim, faz fortalecer o solo ribeirinho.

Entretanto, nos bairros Água Vermelha, Cristo Rei e Santa

Isabel, alguns moradores aproveitam as folhas para fortalecer o solo,

enquanto outros juntam as folhas e restos de capinas em sacolas e

descartam com o lixo da casa.

Pasa (2007) também verificou em sua área de estudo, na

comunidade de Bambá, município de Cuiabá, Mato Grosso, a técnica de

combustão parcial das folhas, e acrescenta que, posteriormente, as

cinzas são misturadas com pedaços de folhas e despejadas no solo

jogando-se terra por cima. Quando vem as chuvas o restante das folhas

entra em decomposição e transforma-se em ‘adubo natural’.

Quando chega o tempo das águas, a manutenção do quintal

fica por conta de outros motivos, conforme relato de informantes:

“Aqui em casa dá mais trabalho cuidá do quintal na época da chuva porque o ‘mato’ cresce muito rápido... sempre tem que carpi pra deixá tudo limpinho... e ainda se dá vento as manga caem e é preciso sempre fica juntando”. (Sra. A.C.S., 56 anos – BS)

“Nesse tempo de chuva cria muito lodo na calçada. É pou causa da sombra das árvore e da calçada molhada... tem que ficá lavando de escova e onde tem terra junta muito barro... não é fácil mantê tudo limpo, mas é preciso”. (Sra. J.A.O., 53 anos – CR)

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50

Estes quintais são ambientes com baixa taxa de defensivos,

sua manutenção em geral é realizada com métodos manuais e de baixo

impacto ambiental. Muitos informantes usam insumos naturais nas

plantas, entre eles o esterco de boi, bagaço de cana, cinza, restos

vegetais e terra preta. O uso do bagaço de cana é comum no bairro

Bonsucesso, pois é cultivado nas roças desta região. Da unidade

amostral 75% não utilizam produtos químicos, entretanto aqueles que

fazem o uso de defensivos alegaram que servem para combater as

formigas, os cupins, os carrapatos, o mato ou como adubo químico para

as plantas.

A maioria das plantas presentes nos quintais é adquirida

através de doação ou troca com vizinhos e parentes. Desta forma, o

quintal é um espaço de socialização entre os moradores de uma

comunidade e entre familiares. Assim ocorre com a etnocategoria

ornamental, várias espécies são procedentes de outras localidades,

geralmente trazidas por um parente.

As plantas que nascem espontaneamente ou por meio de

rebrota daquelas já existentes são conservadas, principalmente por

possuírem alguma finalidade etnobotânica.

Os relatos de alguns informantes evidenciam o valor da

conservação dos recursos naturais que mesmo morando na cidade são

para eles fundamentais. O orgulho que estas pessoas demonstram por ter

suas origens no campo, na zona rural e deste lugar ter retirado seu

alimento é ressaltado a seguir:

“Sempre eu gostei de plantá. Desde quando era pequena e morava na roça meu pai ensinava que se nós cuidava das planta elas dava o sustento pra nós”. (Sra. A.L.S., 64 anos - CR)

“Criei todos meus filho com o trabalho na roça... com a criação de animal... com a plantação... Tenho orgulho de ter vindo de lá. Mudei porque meu marido ficou doente e precisava trata na cidade. As pessoas tinham que dá mais valor pra isso...” (Sra.

G.R., 70 anos - AV)

4.2.3. Etnocategorias e Consenso do Uso das Plantas

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Na área de estudo os quintais estão organizados de acordo

com o espaço disponível e o manejo que cada morador propõe. Assim,

eles podem ser utilizados nas mais variadas formas por uma comunidade.

Através do levantamento etnobotânico realizado identificou-se

249 espécies vegetais distribuídas em 84 famílias botânicas. As plantas

citadas pelos informantes foram distribuídas em quatro categorias de uso:

(1) Alimentar – podendo ser in natura ou processado; (2) Medicinal –

subproduto utilizado para diferentes tratamentos, prevenção e cura de

doenças, de acordo com a medicina popular; (3) Ornamental –

relacionada à estética e beleza do ambiente; (4) Outros usos – reúnem

outras categorias, como lenha, madeira, proteção e sombra.

Pasa (2007) ressalta que a etnocategoria de uma planta pode

ter valor acumulativo. Portanto, uma espécie vegetal pode pertencer a

diferentes categorias de uso. Assim ser utilizada como alimentar,

medicinal e ornamental e, o valor de uso de uma planta é diretamente

proporcional ao seu número de usos.

Para este trabalho optou-se por separar as espécies de acordo

com seu uso em cada bairro da área de estudo (Tabelas 2, 3, 4, 5).

4.2.3.1. Bairro Água Vermelha

No bairro Água Vermelha (Figura 28) do total de 27

informantes, poucas pessoas sabem sobre a história de como iniciou a

sua formação demográfica. Talvez isso pode ser explicado pelo fato de

que 55% deles residem no local há menos de dez anos, e outros ainda

não despertaram curiosidade em adquirir este conhecimento.

Os informantes mais antigos disseram que só havia alguns

barracos de tábua quando ali chegaram e que posteriormente novas

moradias foram construídas com adobe. Tudo era muito precário, quando

os pais de alguns moradores chegaram, os mesmos tiveram que abrir

caminho com foice para entrar, pois era só matagal, não havia água

encanada, nem energia elétrica e as poucas ruas, que mais pareciam

caminhos, eram esburacadas. Hoje o bairro possui a maioria das ruas

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asfaltadas e conta com água tratada, energia elétrica, comércio, escolas,

igrejas entre outras.

De acordo com os informantes a principal festa realizada para

a comunidade de AV é de caráter religioso na Igreja Nossa Senhora das

Graças. Outras comemorações menores ocorrem nas Escolas, entre elas

Festa Junina, comemoração para o Dia das Mães e para o Dia das

Crianças, principalmente para a própria comunidade escolar.

FIGURA 28 – RUA BOA VISTA, BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.

A Tabela 1 apresenta as 126 espécies utilizadas pelos

informantes do bairro Água Vermelha distribuídas em 63 famílias

botânicas.

As famílias botânicas de maior representatividade foram:

Asteraceae e Lamiaceae (oito espécies cada), Solanaceae e Fabaceae

(sete espécies cada), Araceae e Myrtaceae (cinco espécies cada). Rocha

(2013) também encontrou as famílias Asteraceae, Fabaceae, Lamiaceae

e Solanaceae como as mais expressivas em seu estudo na comunidade

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de Saloba Grande em Porto Estrela, Mato Grosso. Oliveira (2012),

pesquisando os quintais na comunidade de Santo Antonio do Caramujo

em Cáceres, Mato Grosso, refere-se às famílias com maior

representatividade Lamiaceae, Asteraceae, Rutaceae, Cucurbitaceae,

Solanaceae e Fabaceae. A família Fabaceae encontra-se distribuída em

todos os biomas brasileiros, sendo a mais representativa, ultrapassando a

19 mil espécies (LEWIS et al., 2005).

A frequência relativa de concordância quanto aos usos

principais (Pcusp) apresentou 13% das espécies com valor igual ou maior

que 50%. Entre essas espécies estão: manga (Mangifera indica L.) com

70%; babosa (Alloe vera (L.) Burm f.), capim-cidreira (Cymbopogon

citratus (DC.) Stapf.), espada-de são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain),

orquídea (Orchis L.) e quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.), com

60% cada; acerola (Malpighia glabra L.), anador (Justicia pectoralis

Jacq.), avenca (Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris), boldo

(Plectranthus barbatus Andrews), caju (Anacardium occidentale L.),

hortelã (Mentha villosa Becker), romã (Punica granatum L.) e samambaia

(Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), com 50% cada.

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TABELA 2 – PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT,

2014. VALOR RELATIVO DE CONCOR DÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA

ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS

INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE

CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS.

“continua...”

Nome Popular Nome Científico Família Categoria de Uso Hábito Fsp Fid NF FC

Pcusp (%)

Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae A Ou Ar 9 7 77 0,9 70

Babosa Alloe vera (L.) Burm f. Xanthorrhoaceae M He 10 6 60 1 60

Capim-cidreira Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Poaceae M He 8 6 75 0,8 60

Espada-de-são- Jorge Sansevieria trifasciata Prain Asparagaceae O Ou He 8 6 75 0,8 60

Orquídea Orchis sp. Orchidaceae O He 6 6 100 0,6 60

Quebra-pedra Phyllanthus orbiculatus Rich. Phyllanthaceae M Ra 6 6 100 0,6 60

Anador Justicia pectoralis Jacq. Acanthaceae M He 7 5 71 0,7 50

Avenca Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris Pteridaceae O He 5 5 100 0,5 50

Boldo Plectranthus barbatus Andrews Lamiaceae M He 8 5 63 0,8 50

Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae A M Ar 8 5 62 0,8 50

Hortelã Mentha villosa Becker Lamiaceae A M He 7 5 71 0,7 50

Romã Punica granatum L. Pucicaceae A M Ab 8 5 62 0,8 50

Samambaia Nephrolepis biserrata (SW.) Schott Davalliaceae O He 5 5 100 0,5 50

Acerola Malpighia glabra L. Malpighiaceae A M Ab 6 4 66 0,6 40

Alfavaca Ocimum basilicum L. Lamiaceae M He 6 4 66 0,6 40

Algodão Gossypium hirsutum L. Malvaceae M Ab 6 4 66 0,6 40

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Ata Annona squamosa L. Annonaceae A Ab 4 4 100 0,4 40

Bocaiuva Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Arecaceae M Ar 6 4 66 0,6 40

Cacto Cereus peruvianus (L.) Mill. Cactaceae O Ab 4 4 100 0,4 40

Camomila Matricaria reticulita L. Asteraceae M He 7 4 57 0,7 40

Caninha-do-brejo Costus spicatus (Jacq.) Sw Costaceae M He 6 4 66 0,6 40

Cebolinha Allium fistulosum L. Amaryllidaceae A He 4 4 100 0,4 40

Coco-da-baía Cocos nucifera L. Arecaceae A M O Pa 6 4 66 0,6 40

Erva-de-santa- maria Coronopus didymus (L.) Smith. Brassicaceae M He 6 4 66 0,6 40

Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae A M Ou Ar 6 4 66 0,6 40

Hortelãzinha Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 4 4 100 0,4 40

Jabuticaba Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Myrtaceae A M Ou Ar 6 4 66 0,6 40

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex

Hayne. Caesalpiniaceae M Ou Ar 6 4 66 0,6 40

Laranja Citrus sinensis L. Osbeck Rutaceae A M Ou Ar 8 4 50 0,8 40

Lírio Spathiphyllum wallisii Regel Araceae O He 4 4 100 0,4 40

Mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae A He 4 4 100 0,4 40

Pimenta-bodinho Capsicum chinense Jacq. Solanaceae A He 4 4 100 0,4 40

Pimenta-dedo-de- moça

Capsicum baccatum var. pendulum (Willd.) Eshbaugh Solanaceae A He 4 4 100 0,4 40

Primavera Bougainvillea glabra Choisy Nyctaginaceae O Ab 4 4 100 0,4 40

Quina Strychnos pseudoquina A. St. -Hil. Loganiaceae M Ar 5 4 80 0,5 40

Rosa Rosa sp. Rosaceae O He 4 4 100 0,4 40

Terramicina Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Amaranthaceae M He 5 4 80 0,5 40

Tomate Solanum lycopersicum L. Solanaceae A Tr 4 4 100 0,4 40

Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae M Ou Ab 5 4 80 0,5 40

Abiu Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. Sapotaceae M Ar 3 3 100 0,3 30

Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae M He 5 3 60 0,5 30

Banana Musa parasidiaca L. Musaceae A M He 4 3 75 0,4 30

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Barbatimão

Stryphnodendron adstringens (Mart.)

Coville Fabaceae M Ou Ar 5 3 60 0,5 30

Buxinho Buxus sempervirens L. Buxaceae O Ab 3 3 100 0,3 30

Cabeluda Eugenia cabelludo Kiaersk. Myrtaceae O Ab 3 3 100 0,3 30

Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Poaceae A He 5 3 60 0,5 30

Cancerosa Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Celastraceae M He 3 3 100 0,3 30

Chapéu-de-couro Echinodorus macrophyllus Miq. Alismataceae M He 5 3 60 0,5 30

Colônia

Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt &

R. M. Zingiberaceae M He 3 3 100 0,3 30

Comigo-ninguém-pode Dieffenbachia amoena Bull. Araceae O Ou He 5 3 60 0,5 30

Copo-de-leite Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng. Araceae O He 3 3 100 0,3 30

Erva-de-bicho Polygonum hydropiperoides Michx. Polygonaceae M He 5 3 60 0,5 30

Ipê amarelo Tabebuia ochracea Standl. Bignoniaceae M O Ou Ar 5 3 60 0,5 30

Ipê roxo Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo Bignoniaceae M O Ou Ar 6 3 50 0,6 30

Jaca Artocarpus integrifolia L. f. Moraceae A Ou Ar 5 3 60 0,5 30

Jambo Eugenia malaccensis L. Myrtaceae A Ou Ar 3 3 100 0,3 30

Losna Artemisia absinthium L. Asteraceae M He 4 3 75 0,4 30

Manjericão Ocimum basilicum L. Lamiaceae A He 3 3 100 0,3 30

Milho Zea mays L. Poaceae A He 5 3 60 0,5 30

Palmeira

Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje

& J.Dransf. Arecaceae O Pa 3 3 100 0,3 30

Pata-de-elefante Beaucarnea recurvata Lem. Asparagaceae O He 3 3 100 0,3 30

Picão Bidens pilosa L. Asteraceae M He 3 3 100 0,3 30

Pimenta-malagueta Capsicum frutescens L. Solanaceae A He 3 3 100 0,3 30

Pingo-de-ouro Duranta erecta L. Verbenaceae O Ab 3 3 100 0,3 30

Três-marias Bougainvillea spectabilis Willd. Nyctaginaceae O Ab 3 3 100 0,3 30

Abacate Persea americana Mill. Lauraceae A M Ou Ar 4 2 50 0,4 20

Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr. Bromeliaceae A M He 3 2 66 0,3 20

Abóbora Cucurbita moschata Dusch. Cucurbitaceae A M Ra 5 2 40 0,5 20

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Alface Lactuca sativa L. Asteraceae A He 2 2 100 0,2 20

Anis-estrelado Illicium verum Hook. f. Schisandraceae M Ar 3 2 66 0,3 20

Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae M Ou He 3 2 66 0,3 20

Batata Solanum tuberosum L. Solanaceae A Ra 2 2 100 0,2 20

Beijo Impatiens walleriana Hook. f. Balsaminaceae O He 2 2 100 0,2 20

Brinco-de-princesa

Fuchsia hybrida hort. ex Siebert &

Voss Onagraceae M Ab 2 2 100 0,2 20

Caiapiá Dorstenia cayapia Vell. Moraceae M He 3 2 66 0,3 20

Cajá-manga Spondias mombin L. Anacardiaceae A Ar 2 2 100 0,2 20

Carambola Averrhoa carambola L. Oxalidaceae A M Ab 3 2 66 0,3 20

Cardo-santo Argemone mexicana L. Papaveraceae M He 2 2 100 0,2 20

Douradinha Waltheria douradinha A. St.-Hil. Malvaceae M He 2 2 100 0,2 20

Erva-cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae M He 4 2 50 0,4 20

Espirradeira Nerium oleander L. Apocynaceae O Ab 2 2 100 0,2 20

Fedegoso Senna occidentalis (L.) Link Fabaceae M Ab 2 2 100 0,2 20

Flor-de-maio

Zygocactus truncatus (Haw.) K.

Schum. Cactaceae O He 3 2 66 0,3 20

Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Moraceae M Ab 3 2 66 0,3 20

Funcho Foeniculum vulgare Mill. Apiaceae A M He 3 2 66 0,3 20

Gengibre Zingiber officinale Roscoe Zingiberaceae A M He 3 2 66 0,3 20

Girassol Helianthus annuus L. Asteraceae A M O He 5 2 40 0,5 20

Guiné Petiveria alliacea L. Phytolaccaceae M Ou He 3 2 66 0,3 20

Hortênsia Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Hydrangeaceae O He 2 2 100 0,2 20

Jamelão Syzygium jambolanum (Lam.) DC. Myrtaceae M Ou Ar 3 2 66 0,3 20

Jasmim Jasminum nitidum Skan Oleaceae O Tr 2 2 100 0,2 20

Jucá Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul. Fabaceae M Ou Ar 3 2 66 0,3 20

Jurema Pithecellobium tortum Mart. Fabaceae Ou Ab 3 2 66 0,3 20

Lichia Litchi chinensis Sonn. Sapindaceae A M Ar 3 2 66 0,3 20

Limão Citrus limon (L.) Osbeck Rutaceae A M Ar 3 2 66 0,3 20

Malva-branca Malva palviflora L. Malvaceae M He 2 2 100 0,2 20

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Mamão Carica papaya L. Caricaceae A M Ab 3 2 66 0,3 20

Marcela Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Asteraceae M He 2 2 100 0,2 20

Neen Azadirachta indica A. Juss. Meliaceae M Ou Ar 3 2 66 0,3 20

Nóz vômica Strychnos nux-vomica L. Loganiaceae M He 2 2 100 0,2 20

Paratudo

Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth.

& Hook. f ex S. Moore Bignoniaceae M Ou Ar 4 2 50 0,4 20

Pariparoba Piper peltatum L. Piperaceae M Ar 2 2 100 0,2 20

Pimenta Capsicum albescens Kuntze Solanaceae A He 2 2 100 0,2 20

Pocã Citrus reticulata Blanco Rutaceae A Ar 2 2 100 0,2 20

Poejo Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 4 2 50 0,4 20

Quiabo Abelmoschus esculentus (L.) Moench Malvaceae A M He 3 2 66 0,3 20

Rosa-do-deserto Adenium obesum (Forssk.) Roem. Apocynaceae O He 2 2 100 0,2 20

Sangra d'água Croton salutares Muell. Arg. Baill. Euphorbiaceae M Ou Ar 3 2 66 0,3 20

Sete-sangrias

Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.F.

Macbr. Lythraceae M He 3 2 66 0,3 20

Unha-de-gato Uncaria tomentosa (Willd.) DC. Rubiaceae M Ab 3 2 66 0,3 20

Urucum Bixa orellana L. Bixaceae A M Ab 3 2 66 0,3 20

Alho japonês Allium tuberosum Rottler ex Spreng. Amaryllidaceae A M He 2 1 50 0,2 10

Antúrio Anthurium andraeanum Linden Araceae O He 1 1 100 0,1 10

Berinjela Solanum mammosum L. Solanaceae A M He 2 1 50 0,2 10

Caferana Vernonia polyanthes (Spreng.) Less Asteraceae M Ab 2 1 50 0,2 10

Cavalinha Equisetum arvense L. Equisetaceae M He 2 1 50 0,2 10

Couve Brassica oleracea L. Brassicaceae A M He 2 1 50 0,2 10

Erva doce Foeniculum vulgare Mill. Apiaceae M He 1 1 100 0,1 10

Ingá Inga speciosa M. Martens & Galeotti Fabaceae A Ou Ar 2 1 50 0,2 10

Inhame Dioscorea cayenensis Lam. Dioscoreaceae A He 1 1 100 0,1 10

Negramina Siparuna guianensis Aubl. Siparunaceae M Ar 1 1 100 0,1 10

Pata-de-vaca Bauhinia forficata Link Fabaceae M O Ou Ab 3 1 33 0,3 10

Pau-brasil Caesalpinia echinata Lam. Fabaceae O Ou Ar 2 1 50 0,2 10

Taioba Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott Araceae A M He 2 1 50 0,2 10

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Vassourinha Scoparia dulcis L. Plantaginaceae M He 2 1 50 0,2 10

Gérbera Gerbera sp. Asteraceae O He 2 1 50 0,2 10

Legenda: Categorias de uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.

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Quanto às etnocategorias de uso, a Medicinal destacou-se com

64% das espécies, seguida da Alimentar com 36% e da Ornamental com

24% (Figura 29). Já para a categoria Outros usos, o percentual foi de

20%. O destaque para medicinais evidencia a importância que os

informantes atribuem à flora, principalmente com relação à busca de

tratamento para doenças através da medicina tradicional.

Entretanto, algumas espécies apresentam uma utilização mais

diversificada, como por exemplo, abacate (Persea americana Mill.), coco-

da-baía (Cocos nucifera L.), goiaba (Psidium guajava L.), jabuticaba

(Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg), laranja (Citrus sinensis L. Osbeck) e

pata de vaca (Bauhinia forficata Link), com três usos cada.

FIGURA 29 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS

INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014.

Guarim Neto e Amaral (2010) através de um levantamento

realizado no município de Rosário Oeste, Mato Grosso, encontraram 266

espécies vegetais distribuídas em 85 famílias botânicas, destacando a

categoria Medicinal (103 espécies), seguida da Alimentar (97 espécies) e

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Alimentar Medicinal Ornamental Outros usos

45

81

30 25

mer

o d

e C

itaç

ões

Etnocategorias de Uso

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da Ornamental (79 espécies), sendo as mais representativas a

Asteraceae, Euphorbiaceae, Lamiaceae e Araceae.

Rabelo Junior (2011) observou que a maior parte das plantas

utilizadas na Comunidade Passagem da Conceição, Mato Grosso, são

destinadas para fins medicinais. Em Nobres, Mato Grosso, Guarim Neto

et al. (2013) também evidenciaram um número maior de plantas com

finalidades medicinais. Os mesmos autores salientam que a categoria

Medicinal ocupa uma posição em destaque, pois além da flora natural do

cerrado ser diversificada o cultivo de novas espécies por diferentes

comunidades faz aumentar esta categoria.

Pasa et al. (2011) em Bom Jardim, também em Mato Grosso,

estudando plantas medicinais obtiveram 86 espécies distribuídas em 41

famílias botânicas, onde as mais significativas foram Fabaceae,

Mimosaceae e Caesalpiniaceae, sendo o hábito arbóreo como o mais

representativo, seguido do herbáceo e do arbustivo.

No bairro Água Vermelha, o hábito herbáceo destacou-se

perante os demais com 68 espécies e representando mais da metade das

espécies citadas (Figura 30). Número bem superior ao hábito arbóreo

(segundo mais citado) e arbustivo (terceiro mais citado) com 29 e 22

espécies, respectivamente. Aspecto semelhante foi encontrado por

Oliveira (2012) na comunidade Santo Antônio do Caramujo, Mato Grosso.

FIGURA 30 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA

VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Arbóreo24%

Arbustivo18%

Herbáceo55%

Palmeira1%

Rasteiro1%

Trepador1%

Arbóreo Arbustivo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador

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Plantas utilizadas como medicinais e herbáceas na maioria,

frequentemente estão presentes nos quintais urbanos e podem aparecer

intercaladas com hortaliças para o próprio consumo (GUARIM NETO et

al., 2010).

A seguir, são apresentadas diversas fotos (Figura 31)

realizadas em diferentes momentos, durante o estudo no Bairro Água

Vermelha: escola, quintal, entrevista, plantas medicinais cultivadas

diretamente no solo, poço, plantas ornamentais em vasos e no solo,

moradores do bairro, árvores frutíferas.

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FIGURA 31 - A - Escola pública do bairro AV; B - Quintal com cultivo de plantas

ornamentais; C - Entrevista com informante; D - Cultivo de planta medicinal; E - Poço

no quintal da residência; F - Quintal com Mangifera indica L.; G - Informante mostrando

cultivo de plantas ornamentais e medicinais; H - Quintal com árvores frutíferas.

F

G H

A

C

B

D

E

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4.2.3.2. Bairro Bonsucesso

Segundo relatos de moradores antigos locais, as terras onde

se localiza o bairro Bonsucesso (Figura 32) pertenciam, no século XIX, a

Justino Antônio da Silva Claro, fazendeiro que possuía empregados e

escravos. Seus herdeiros repartiram a área e nela fizeram suas criações e

lavoura, sendo a cana-de-açúcar a principal plantação, da qual se

produzia aguardente de alambique, além do “açúcar de barro”, espécie de

açúcar mascavo, muito apreciado nos primórdios da vida no estado de

Mato Grosso (SILVA, 2011).

As comunidades ribeirinhas da Baixada Cuiabana são

apontadas por instalar um conglomerado de moradias alinhadas

paralelamente ao curso do rio (FERREIRA, 2010). Oliveira (2012) destaca

que, em determinados pontos da rua da Beira é possível ver o rio Cuiabá,

os portos de canoa e os pescadores em atividade. Segundo os depoentes

da comunidade, 60% conhecem a história da origem do bairro,

principalmente aqueles com maior idade, conforme relato:

“... Havia um senhor de engenho que cultivava arroz, cana-de-açúcar e outras culturas... tudo o que ele plantava dava numa excelente colheita. Era um sucesso. Isso foi passando de um para outro e, por fim deram o nome do bairro de ‘Bonsucesso’ ou ‘Bom

Sucesso...” (Sr. A. C. S., 58 anos)

Outra depoente narrou que essa região era do seu bisavô e

naquela época os índios andavam por lá e também os ciganos. E foi

assim que iniciou o bairro.

Quanto ao aspecto cultural, várias festas são realizadas pela

comunidade, principalmente as religiosas, entre elas destacam-se: Festa

de São Benedito, Festa do Divino Espírito Santo (padroeiro da

comunidade), Festa de São Pedro (também chamada de Festa do

Pescador ou do Peixe), Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Festa de

Nossa Senhora do Bom Sucesso. Estas festas são realizadas no Centro

Comunitário, com exceção da Festa de São Pedro que ocorre num

espaço bem próximo ao rio, geralmente com missa e procissão por terra e

por água, baile popular, apresentações culturais de dança e música (siriri

e cururu).

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FIGURA 32 – RUA JOÃO GIL DA SILVA, BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.

As Festas de Santo Antônio e São João acontecem nos

quintais das residências, são festas menores, comumente é servido pela

dona da casa com elementos gastronômicos como o bolo, o chá, e o

refrigerante. Contudo, outros membros da comunidade que participam

destas festas também levam algum alimento para compartilhar.

A comunidade BS expressa intensa presença religiosa,

principalmente a Católica, onde os espaços domiciliares frequentemente

estão providos de imagens de santos, os quais são referendados com

festas e rituais que conservam antigos costumes. Segundo Ferreira

(2010) as festas religiosas nessas comunidades encontram-se

relacionadas aos ciclos da natureza local (estações da chuva ou da seca).

Dessa forma o autor relata:

“Ao findar o período das cheias, estabelecendo a fartura de peixes no rio, nas baías ou nos corixos, é tempo de festejar este momento. É tempo de colheita de peixe e de produtos da roça, de praia e de baixada. É tempo em que a cana já madura, dá bom caldo para rapadura. É então, o tempo de agradecer a vida e a

natureza” (FERREIRA, 2010).

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Outra festa bastante tradicional na comunidade é o Carnaval,

com participação expressiva de moradores de outros bairros da cidade,

além de bandas, desfiles de blocos na rua e concurso. A comunidade

como um todo se prepara para esta data, enfeitando as ruas, as

residências e através da confecção de fantasias ou abadás. Alguns dos

blocos com destaque na comunidade BS é o Bloco da Rapadura e o

Cordão do Meu Coração, que foram citados por alguns informantes que

são integrantes dos mesmos.

Festa de São Pedro (Festa do Peixe)

Uma das mais tradicionais festas da Rota do Peixe da Baixada

Cuiabana é a Festa do Peixe, realizada em Bonsucesso há 34 anos. O

evento é organizado pela Associação de Pescadores e pela Associação

de Bairro em parceria com o município e o Estado. Esta festa congrega

ribeirinhos e visitantes numa homenagem a São Pedro, que é o padroeiro

dos pescadores e já faz parte do calendário de eventos do Estado. De

acordo com os organizadores, são preparadas para esta data toneladas

de peixe para serem servidos durante o almoço a milhares de

participantes e turistas.

No ano de 2014 a Festa de São Pedro teve início no sábado

(28 de junho) com o baile popular à noite. No domingo, dia 29 foi

celebrada a missa pela manhã, seguida da procissão na rua e após a

comunidade se reuniu para um chá com bolo. Este ano não foi realizada a

procissão no rio devido às condições climáticas, pois além do frio estava

ventando muito. Dando continuidade às comemorações é servido o

almoço com pratos típicos à base de peixe frito e peixe ensopado.

Posteriormente, a festa prossegue com o baile popular, animado por

banda e com a presença marcante de muitas pessoas, tanto da

comunidade local quanto de outros bairros e até de outras cidades.

Além das barracas com comidas e bebidas instaladas no

gramado próximo ao rio, são montadas diversas tendas ao longo da rua

principal e nas próprias varandas na frente das residências (Figura 33).

Nesses locais são comercializados diferentes produtos. Muitos são feitos

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pelos moradores da comunidade, entre eles os doces de fruta (mamão,

caju, goiaba), doce de leite, rapaduras de cana-de-açúcar e de leite,

cocada, e o artesanato local, como redes, caminhos de mesa, xales, e

outros produtos.

FIGURA 33 – EXPOSIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS

DURANTE A FESTA DE SÃO PEDRO NO BAIRRO

BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Fonte: acervo da autora.

Segundo Sra. G., uma das artesãs da comunidade, as redes

que confecciona são comercializadas entre os valores de 1.200 a 1.800

reais, dependendo da arte aplicada na confecção de cada uma. Durante a

Festa de São Pedro há um ponto onde esse artesanato é exposto e

comercializado, mas em qualquer época do ano pode ser encomendado

e/ou comprado.

Existe um espaço próprio para as crianças brincarem, com

pupa-pula, escorregador e roda-roda. Em diversos quintais também é

possível ver as crianças jogando bola e soltando pipa, num momento de

alegria, descontração e confraternização.

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A Festa de São Pedro é bastante familiar, com participantes de

diferentes faixas etárias, desde crianças até pessoas bem idosas. Muitas

famílias reunidas, casais de namorados, rodas de amigos e pessoas

solteiras. Para a segurança há também uma ajuda da polícia, caso ocorra

alguma eventualidade. Entretanto o que predomina é a alegria e a

diversão.

A produção da rapadura

O processo do feitio da rapadura (Figura 34) inicia ao

amanhecer. Entretanto, o corte da cana-de-açúcar e o seu transporte, da

roça até o engenho utilizando o carro de boi, normalmente é realizado ao

no dia anterior. A cana-de-açúcar é moída no engenho movido por um

motor elétrico, porém, há décadas passadas esse trabalho era realizado

somente por bois. Atualmente ainda há um engenho no local que não usa

motor elétrico, o engenho do Sr. Neco.

FIGURA 34 – PRODUÇÃO DE RAPADURA NO ENGENHO DONA BUGUELA,

BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Fonte: acervo da autora.

Conforme os baldes se enchem de garapa, os mesmos são

despejados no tacho para ser fervido. Nesse período dezenas de abelhas

são atraídas pelo cheiro e muitas delas pousam ou caem no tacho.

Através do superaquecimento da garapa as abelhas morrem e em

seguida são retiradas juntamente com outras impurezas com o auxílio de

uma “peneira” feita com a cabaça (Crescentia alata Kunth). Outras

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abelhas que estavam voando por perto vão embora. Nesse momento,

acrescenta-se cascas do tronco de chico-magro (Guazuma ulmifolia

Lam.), que ajudam as impurezas a subirem no tacho durante a fervura.

Enquanto a garapa ferve é necessário mexer constantemente.

De um modo geral, o tempo de fervura varia de duas horas e meia a três

horas, com o tacho cheio. Isso corresponde em média a oito latas de

garapa (150 litros).

Não há um tipo específico de madeira para fazer o fogo. De

acordo com o Sr. F., proprietário de um dos engenhos, qualquer madeira,

estando seca é boa para queimar. Geralmente na segunda-feira é o dia

em que se recolhe a lenha que será utilizada durante a semana no feitio

da rapadura. Pode ser desde galhos secos até restos de madeira de

móveis demolidos.

O feitio da rapadura é realizado durante o ano todo, com

intervalo somente entre Natal e Ano Novo. A comercialização é na própria

comunidade, onde geralmente toda a produção é vendida.

Os restos do bagaço da cana-de-açúcar e a parte com as

impurezas que são retiradas da garapa fervente servem de alimento para

os bois e as vacas leiteiras.

Sobre o feitio e a comercialização da rapadura o Sr. F. F., 49

anos, expõe:

... Aprendi a fazê rapadura com meus pais, que já faleceram... desde que aprendi a falá, já via e ajudava eles a fazê... hoje eu sigo essa tradição... mas ninguém qué mais... depois que entrô a

internet não querem sabê disso... a tendência é pará.

... Vendo aqui mesmo no engenho ou na minha casa, do outro lado da rua ... a clientela vem procurá, nunca sobra. A rapadura é afrodisíaca, melado e caldo de cana também. Na época da chuva a produção mingua muito, porque a cana é mais aguada, faço umas 20 rapadura por dia. Na época da seca é mais doce, aí

rende mais, dá mais ou menos o dobro de rapadura, umas 40...

Diversas vezes durante o feitio da rapadura, o produtor é

abordado por pessoas que passam pela comunidade e param para

observar o processo, no entanto, acabam sempre adquirindo o produto.

Até mesmo as escolas levam os alunos para conhecer os engenhos,

contribuindo para a preservação cultural da comunidade.

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Outros informantes também afirmaram que fazem rapadura.

Entretanto, em alguns períodos do ano é necessário suspender esta

atividade por alguns dias e esperar o desenvolvimento da cana-de-açúcar

para que fique “no ponto” de colheita.

De acordo com relato da Sra. R., da cana não há nenhum

desperdício:

“A ponta da cana e o bagaço serve pras vaca e os boi comê... com a cana nós fazemo a rapadura... o bagaço da cana quando tá seco, é muito bom pra acendê o fogo do fogão à lenha e da fornalha pra fervê a garapa. E ainda quando os boi come a cana, aqueles farelo que sobra se mistura na terra e vira adubo... é bom pras planta. A rapadura é muito bom pra não dá anemia, deixa a pessoa forte.” (Sra. R. M. S., 79 anos)

Para Silva (2010) os moradores de Bonsucesso costumam

tratar as atividades artesanais, transmitidas pelos seus antepassados,

como meio de subsistência, muitas vezes, sem perceber que estão de

alguma forma preservando uma cultura centenária. Assim, os produtos

desenvolvidos pela comunidade destacam a tradição, não se atentando

ao processo de modernização tecnológica.

A Tabela 2 apresenta as 148 espécies vegetais e 62 famílias

alistadas no bairro Bonsucesso, bem como seus nomes populares e a

forma pela qual cada espécie compõe uma fonte de recurso vegetal na

região.

As famílias botânicas com maior representatividade são

Lamiaceae com 11 espécies; Asteraceae com nove espécies, Fabaceae,

com oito espécies; Anacardiaceae, Cucurbitaceae e Rutaceae com seis

espécies cada; Myrtaceae, Rubiaceae e Solanaceae cada qual com cinco

espécies. Essas famílias completam 39% do total de espécies

amostradas na área. As demais famílias possuem número de espécies

inferior a cinco.

Guarim Neto e Pasa (2009) em seu estudo etnobotânico em

Acorizal, Mato Grosso, catalogaram 71 espécies e 40 famílias, sendo a

Fabaceae, Rubiaceae, Annonaceae, Caesalpiniaceae e Volchysiaceae

com maior representatividade específica.

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Quanto à frequência de concordância de usos principais

(Pcusp) 14% exibem valor igual ou superior a 50% dentre as 148

espécies citadas. Das espécies mencionadas a erva-de-santa-maria

(Coronopus didymus (L.) Smith.) obteve nível de fidelidade (NF) igual a

100%, seguido do boldo (Plectranthus barbatus Andrews) com 83%, da

romã (Punica granatum L.) e do anador (Justicia pectoralis Jacq.) cada

qual com 75%, entre outras plantas com ampla utilização pela

comunidade. Pasa (2011) em seu estudo na comunidade Bom Jardim,

Mato Grosso, verificou percentual maior para a frequência de

concordância quanto aos usos principais, 35%. Assim, a mesma autora

sugere haver uma possibilidade de que essas espécies sejam comuns e

presentes na região, sendo utilizadas frequentemente pela população.

Para as espécies que obtiveram concordância superior a 50%,

todas pertencem a etnocategoria medicinal, com exceção da pimenta

(Capsicum albescens Kuntze), pertencente à categoria alimentar e

cultivada nos quintais. As principais indicações para as espécies

medicinais são: problemas digestivos (boldo, Plectranthus barbatus

Andrews), ansiedade e insônia (capim cidreira, Cymbopogon citratus

(DC.) Stapf.), gripe e ansiedade (erva cidreira, Melissa officinalis L.),

cicatrizante e fortificante do cabelo (babosa, Alloe vera (L.) Burm f.),

inflamação da garganta (romã, Punica granatum L.).

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TABELA 3 – PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014.

VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA

ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS

INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE

CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS.

“continua...”

Nome Popular Nome Científico Família Categoria de Uso Hábito Fsp Fid NF FC

Pcusp (%)

Romã Punica granatum L. Punicaceae A M Ab 12 9 75 1,00 75

Babosa Alloe vera (L.) Burm f. Xanthorrhoaceae M He 12 8 66 1,00 66

Boldo Plectranthus barbatus Andrews Lamiaceae M He 12 8 66 1,00 66

Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Poaceae A M Ou He 12 8 66 1,00 66

Laranja Citrus sinensis L. Osbeck Rutaceae A M Ou Ar 8 4 50 0,66 66

Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae A M Ou Ar 12 8 66 1,00 66

Capim-cidreira Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Poaceae M He 11 7 63 0,91 57

Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae M He 11 6 54 0,91 50

Algodão Gossypium hirsutum L. Malvaceae M Ab 10 6 60 0,83 50

Amora Morus nigra L. Moraceae A M Ar 10 6 60 0,83 50

Anador Justicia pectoralis Jacq. Acanthaceae M He 8 6 75 0,66 50

Camomila Matricaria reticulita L. Asteraceae M He 12 6 50 1,00 50

Erva-de-santa-maria Coronopus didymus (L.) Smith. Brassicaceae M He 6 6 100 0,50 50

Mamão Carica papaya L. Caricaceae A M Ab 9 6 66 0,75 50

Pimenta Capsicum albescens Kuntze Solanaceae A He 8 6 75 0,66 50

Urucum Bixa orellana L. Bixaceae A M Ab 10 6 60 0,83 50

Abacate Persea americana Mill. Lauraceae A M Ou Ar 8 5 62 0,66 41

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Acerola Malpighia glabra L. Malpighiaceae A M Ab 7 5 71 0,58 41

Banana Musa parasidiaca L. Musaceae A M He 8 5 62 0,66 41

Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae A M Ar 8 5 62 0,66 41

Erva cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae M He 7 5 71 0,66 41

Pimentão Capsicum annuum L. Solanaceae A He 7 5 71 0,58 41

Poncã Citrus reticulata Blanco Rutaceae A Ou Ab 7 5 71 0,58 41

Tamarindo Tamarindus indica L. Fabaceae A M Ou Ar 8 5 62 0,66 41

Terramicina Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Amaranthaceae M He 8 5 62 0,66 41

Vique Mentha arvensis L. Lamiaceae M He 6 5 83 0,50 41

Abóbora Cucurbita moschata Dusch. Cucurbitaceae A M Ra 8 4 50 0,66 33

Alface Lactuca sativa L. Asteraceae A He 4 4 100 0,33 33

Alho Allium sativum L. Amaryllidaceae A M He 7 4 57 0,58 33

Arnica Solidago chilensis Meyen Asteraceae M Ab 6 4 66 0,50 33

Aroeira Myracrodruon urundeuva Allemão Anacardiaceae M Ou Ar 7 4 57 0,58 33

Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae M Ou He 8 4 50 0,66 33

Ata Annona squamosa L. Annonaceae A Ab 6 4 66 0,50 33

Berinjela Solanum mammosum L. Solanaceae A M He 8 4 50 0,66 33

Cabaça Crescentia alata Kunth Bignoniaceae M Ou Ab 6 4 66 0,50 33

Cebolinha Allium fistulosum L. Amaryllidaceae A He 6 4 66 0,50 33

Cordão-de-frade Leonotis nepetifolia (L.) R. Br. Lamiaceae M O Ou Ar 6 4 66 0,50 33

Embaúba Cecropia hololeuca Miq. Urticaceae M Ou Ar 6 4 66 0,50 33

Eucalipto Eucalyptus globulus Labill. Myrtaceae M Ou Ar 6 4 66 0,50 33

Fruta-do-conde Annona squamosa L. Annonaceae A Ou Ab 6 4 66 0,50 33

Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae A M Ar 8 4 50 0,66 33

Hortelã Mentha villosa Becker Lamiaceae M He 4 4 100 0,33 33

Limão Citrus limon (L.) Osbeck Rutaceae A M Ou Ar 8 4 50 0,66 33

Louro Cordia glabrata (Mart.) A.DC Lauraceae A M Ou Ar 6 4 66 0,50 33

Mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae A He 6 4 66 0,50 33

Milho Zea mays L. Poaceae A He 6 4 66 0,50 33

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Negramina Siparuna guianensis Aubl. Siparunaceae M Ar 8 4 50 0,66 33

Pata-de-vaca Bauhinia forficata Link Fabaceae M O Ou Ab 6 4 66 0,50 33

Picão Bidens pilosa L. Asteraceae M He 4 4 100 0,33 33

Pingo-de-ouro Duranta erecta L. Verbenaceae O Ab 4 4 100 0,33 33

Poejo Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 6 4 66 0,50 33

Quebra-pedra Phyllanthus orbiculatus Rich. Phyllanthaceae M Ra 4 4 100 0,33 33

Rosa Rosa sp. Rosaceae O He 4 4 100 0,33 33

Samambaia Nephrolepis biserrata (SW.) Schott Davalliaceae O He 8 4 50 0,66 33

Sucupira

Pterodon polygaliflorus (Benth.)

Benth. Fabaceae M Ou Ar 5 4 80 0,41 33

Unha-de-gato Uncaria tomentosa (Willd.) DC. Rubiaceae M Ar 5 4 80 0,41 33

Vassourinha Scoparia dulcis L. Plantaginaceae M He 6 4 66 0,50 33

Batata doce Ipomoea batatas (L.) Lam. Convolvulaceae A Ra 3 3 100 0,25 25

Bocaiuva

Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex

Mart. Arecaceae M Ar 6 3 50 0,50 25

Caferana Vernonia polyanthes (Spreng.) Less. Asteraceae M Ab 5 3 60 0,41 25

Caninha-do-brejo Costus spicatus (Jacq.) Sw Costaceae M He 4 3 75 0,33 25

Chico-magro Guazuma ulmifolia Lam. Malvaceae M Ou Ar 4 3 75 0,33 25

Coco-da-baía Cocos nucifera L. Arecaceae A M Pa 6 3 50 0,50 25

Confrei Symphytum officinale L. Boraginaceae M He 4 3 75 0,33 25

Couve Brassica oleracea L. Brassicaceae A M He 6 3 50 0,50 25

Dipirona Althernantera Forssk. Amaranthaceae M He 6 3 50 0,50 25

Espada-de-são-jorge Sansevieria trifasciata Prain Asparagaceae O Ou He 5 3 60 0,41 25

Espirradeira Nerium oleander L. Apocynaceae O Ab 3 3 100 0,25 25

Fedegoso Senna occidentalis (L.) Link Fabaceae M Ab 3 3 100 0,25 25

Jambo Eugenia malaccensis L. Myrtaceae A Ou Ar 6 3 50 0,50 25

Lima da pérsia Citrus limittioides Tanaka Rutaceae M Ar 3 3 100 0,25 25

Malva Malva palviflora L. Malvaceae M He 4 3 75 0,33 25

Melão-de-São- Momordia charantia L. Cucurbitaceae M Tr 5 3 60 0,41 25

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Caetano

Neen Azadirachta indica A. Juss. Meliaceae M Ou Ar 4 3 75 0,33 25

Orquídea Orchis sp. Orchidaceae O He 3 3 100 0,25 25

Picão-branco Porophylum ruderale (Jacq.) Cass. Asteraceae M He 6 3 50 0,50 25

Pronto-alívio Achillea millefolium L. Asteraceae M He 6 3 50 0,50 25

Raiz-de-bugre Bytteneria melastomifolia St. Hil. Sterculiaceae M Tr 6 3 50 0,50 25

Tansagem Platango major L. Plantaginaceae M He 3 3 100 0,25 25

Tapera-velha Hyptis suaveolens (L.) Poit. Lamiaceae M He 3 3 100 0,25 25

Tarumã Vitex cymosa Bertero ex Spreng Lamiaceae M O Ou Ar 5 3 60 0,41 25

Erva-de-bicho Polygonum hydropiperoides Michx. Polygonaceae M He 5 3 60 0,41 25

Erva-doce Foeniculum vulgare Mill. Apiaceae A M He 4 3 75 0,33 21

Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr. Bromeliaceae A M He 4 2 50 0,33 16

Alho poró Allium porrum L. Amaryllidaceae A M He 4 2 50 0,33 16

Antúrio Anthurium andraeanum Linden Araceae O He 2 2 100 0,16 16

Banana-da-terra Musa sp. Musaceae A He 2 2 100 0,16 16

Batata Solanum tuberosum L. Solanaceae A M Ra 4 2 50 0,33 16

Bucha Luffa aegyptiaca Mill. Cucurbitaceae M Ou Tr 4 2 50 0,33 16

Caiapiá Dorstenia cayapia Vell. Moraceae M He 2 2 100 0,16 16

Cancerosa Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Celastraceae M He 4 2 50 0,33 16

Canela Cinnamomum zeylanicum Blume. Lauraceae M Ou Ar 4 2 50 0,33 16

Carambola Averrhoa carambola L. Oxalidaceae A M Ar 4 2 50 0,33 16

Cenoura Daucus carota L. Apiaceae A He 2 2 100 0,16 16

Chuchu Sechium edule (Jacq.) Sw. Cucurbitaceae A Ter 2 2 100 0,16 16

Colônia

Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt &

R. M. Zingiberaceae M He 4 2 50 0,33 16

Comigo-ninguém-pode Dieffenbachia amoena Bull. Araceae O Ou He 4 2 50 0,33 16

Crista-de-galo Celosia cristata L. Amaranthaceae M He 2 2 100 0,16 16

Espinheira santa Maytenus aquifolium Mart. Celastraceae M He 2 2 100 0,16 16

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Feijão chicote Vigna sinensis (L.) Savi ex. Hassk. Fabaceae A Ter 2 2 100 0,16 16

Hortelã-do-campo

Hyptidendron canum (Pohl ex.

Benth.) Lamiaceae M He 2 2 100 0,16 16

Ingá Inga speciosa M. Martens & Galeotti Fabaceae A Ou Ar 3 2 66 0,25 16

Ipê roxo Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo Bignoniaceae M O Ou Ar 5 2 40 0,41 16

Jabuticaba Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Myrtaceae A Ou Ab 4 2 50 0,33 16

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex

Hayne Caesalpiniaceae A M Ou Ar 4 2 50 0,33 16

Losna Artemisia absinthium L. Asteraceae M He 4 2 50 0,33 16

Maracujá Passiflora edulis Sims. Passifloraceae A M Tr 4 2 50 0,33 16

Maravilha Mirabilis jalapa L. Nyctaginaceae O He 2 2 100 0,16 16

Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae M Ou Ab 4 2 50 0,33 16

Noz-vômica Strychnos nux-vomica L. Loganiaceae M He 2 2 100 0,16 16

Pariparoba Piper peltatum L. Piperaceae M Ar 4 2 50 0,33 16

Pequi Caryocar brasiliense Cambess. Caryocaraceae A M Ar 5 2 40 0,41 16

Pimenta-do-reino Piper nigrum L. Piperaceae A He 2 2 100 0,16 16

Pitanga Eugenia uniflora L. Myrtaceae A M Ab 3 2 66 0,25 16

Pitomba Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk. Sapindaceae A Ou Ar 3 2 66 0,25 16

Quiabo

Abelmoschus esculentus (L.)

Moench Malvaceae A M He 4 2 50 0,33 16

Quina-do-cerrado Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. Loganiaceae M Ar 4 2 50 0,33 16

Sabugueiro Sambucus australis Cham. & Schltdl Adoxaceae M Ab 3 2 66 0,25 16

Salsa Petroselinum crispum (Mill.) Fuss Apiaceae A He 3 2 66 0,25 16

Timbó Enterolobium contortisiliquum (Vell) Morong Fabaceae M Ar 4 2 50 0,33 16

Tomate Solanum lycopersicum L. Solanaceae A Tr 4 2 50 0,33 16

Violeta Viola sp. Violaceae O He 2 2 100 0,16 16

Acuri

Scheelea phalerata (Mart. Ex.

Spreng.) Burret Arecaceae A Pa 1 1 100 0,08 8

Azaleia Rhododendron simsii Planch. Erecaceae O Ab 1 1 100 0,08 8

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Beterraba Beta vulgaris L. Amaranthaceae A M He 3 1 33 0,25 8

Brilhantina Pilea microphylla (L.) Liebm. Urticaceae M Ra 2 1 50 0,16 8

Cajá-manga Spondias mombin L. Anacardiaceae A Ou Ar 2 1 50 0,16 8

Cajazinho Spondias lutea L. Anacardiaceae A Ou Ab 2 1 50 0,16 8

Dinheiro-em-penca Callisia repens (Jacq.) L. Commelinaceae O Ou He 3 1 33 0,25 8

Elixir Ocimum selloi Benth Lamiaceae M He 3 1 33 0,25 8

Figatil Vernonia condensata Baker Asteraceae M Ar 4 1 25 0,33 8

Figo Ficus carica L. Moraceae A Ab 2 1 50 0,16 8

Fortuna Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Crassulaceae O Ou He 2 1 50 0,16 8

Fruta-pão Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Moraceae M Ab 2 1 50 0,16 8

Genciana

Acosmium subelegans (Mohlenbr.)

Yakovlev Fabaceae M Ar 2 1 50 0,16 8

Jenipapo Genipa americana L. Rubiaceae A M Ar 2 1 50 0,16 8

Jequitibá Cariniana sp. Lecythidaceae M O Ou Ar 3 1 33 0,25 8

Lima Citrus sp. Rutaceae A M Ou Ar 4 1 25 0,33 8

Mangaba Hancornia speciosa Gomes Apocynaceae A M O Ar 3 1 33 0,25 8

Maria-sem- vergonha Impatiens walleriana Hook. F. Balsaminaceae M He 1 1 100 0,08 8

Maxixe Cucumis anguria L. Cucurbitaceae A Tr 2 1 50 0,16 8

Melão Cucumis melo L. Cucurbitaceae A Ra 2 1 50 0,16 8

Mulateira Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. F. ex K. Schum. Rubiaceae M Ar 1 1 100 0,08 8

Rafia Rhapis excelsa (Thunb.) A. Henry Arecaceae O He 1 1 100 0,08 8

Rosa branca Rosa alba Rosaceae M O He 2 1 50 0,16 8

Sangra d'água Croton urucurana Baill. Euphorbiaceae M Ou Ar 1 1 100 0,08 8

Seriguela Spondias purpurea L. Anacardiaceae A Ou Ar 2 1 50 0,16 8

Coentro Coriandrum sativum L. Apiaceae A He 2 1 50 0,16

8

Legenda: Categoria de Uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.

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No bairro Bonsucesso foram identificadas espécies que se

enquadram nas etnocategorias de planta Alimentar (44%), Medicinal

(70%), Ornamental (15%) e Outros usos (lenha, madeira, proteção,

sombra) com 26% (Figura 35). Com base nesses dados fica evidente a

importância que os informantes atribuem à flora, principalmente com as

plantas medicinais e alimentares.

FIGURA 35 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS

INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014.

Entre as plantas medicinais, algumas são cultivadas nos

quintais e outras são coletadas na mata, próxima às residências, é o caso

do jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex. Hayne.), raiz-de-bugre

(Bytteneria melastomifolia St. Hil.) e sucupira (Pterodon polygaliflorus

(Benth.) Benth.). Entretanto, a negramina (Siparuna guianensis Aubl.) é

encontrada em locais mais distantes da comunidade, do outro lado do rio.

Valentini et al. (2008) verificaram diversos usos da negramina, entre eles,

no combate a gripe, dengue, malina e dor de cabeça.

Para a categoria alimentar, a maioria é cultivada nos quintais

ou nas roças da comunidade, a exemplo da abóbora (Cucurbita moschata

Dusch.), batata (Solanum tuberosum L.) e mandioca (Manihot esculenta

Crantz).

0

20

40

60

80

100

120

Alimentar Medicinal Ornamental Outros Usos

64

103

2138N

úm

ero

de

esp

éci

es

Etnocategorias de Uso

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De acordo com essas etnocategorias, existem espécies com

uma multiplicidade de usos, incidindo uma maximização do recurso

disponível, como por exemplo, abacate (Persea americana Mill.), cordão-

de-frade (Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.), ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla

(Vell.) Toledo), jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex. Hayne), pata de

vaca (Bauhinia forficata Link) e tamarindo (Tamarindus indica L.), todas

com três usos cada.

Quanto ao hábito as herbáceas também se destacaram com 67

espécies, seguido do arbóreo com 41 espécies e do arbustivo com 24

espécies citadas. Palmeiras, trepadoras e rasteiras somaram 16 citações

(Figura 36). Apesar de ser um bairro ribeirinho, rodeado pela mata ripária

e distante do centro da cidade, seus moradores utilizam no cotidiano um

número expressivo de plantas de pequeno porte, por exemplo hortaliças,

ervas medicinais e ornamentais.

As plantas ornamentais são em sua maioria herbáceas e

cultivadas nos quintais, entre elas o antúrio (Anthurium andraeanum

Linden), a azaleia (Rhododendron simsii Planch.), a rosa (Rosa sp.), a

violeta (Viola sp.), a samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), o

dinheiro-em-penca (Callisia repens (Jacq.) L.) e o comigo-ningém-pode

(Dieffenbachia amoena Bull.). Outras espécies apresentam hábito

arbóreo, como o ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo), jequitibá

(Cariniana sp.) e tarumã (Vitex cymosa Bertero ex Spreng).

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FIGURA 36 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Na Figura 37 estão registradas imagens durante momentos

distintos da coleta de dados no Bairro Bonsucesso: entrevistas,

residência, escola, rio, igreja, coleta de frutos, quintal e roça. Em alguns

desses registros, também é possível evidenciar a relação dos moradores

locais com as plantas, que constitui e expressa a etnobotânica local.

Arbustivo16%

Arbóreo28%Herbáceo

45%

Palmeira3%

Rasteiro3%

Trepador5%

Arbustivo Arbóreo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador

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FIGURA 37 - A - Entrevista com moradores; B - Residência típica do bairro Bonsucesso;

C - Escola pública do bairro; D - Informante usando o pilão para o feitio da “puva”; E - Rio

Cuiabá, às margens da comunidade; F - Igreja com faixa da Festa de São Pedro; G -

Moradora coletando fruto no quintal; H - Cultivo de banana na roça.

B

C D

E F

G H

A

C

E

G

E

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4.2.3.3 BAIRRO CRISTO REI

A maioria dos informantes do bairro Cristo Rei (Figura 38)

conhece um pouco da história de como originou o bairro, conforme relatos

de alguns moradores:

“No início era chamado de roção, era um matão sem fim. Com o tempo derrubaram as plantas, fizeram as ruas. Naquela época a administração do estado era o governador Fragelli... depois foi chamado de Vila Governador Fragelli. Onde tinha o seminário era chamado de Cristo Rei. Hoje o bairro é chamado de Cristo Rei, se fosse mais longe do centro da cidade era para ser emancipado”.

(Sr. B. L. S., 70 anos)

“Onde hoje é a UNIVAG era tudo seminário dos padre. Não tinha asfalto... aqui era tudo roça dos padre... meu pai trabalhava no seminário e na roça aqui”. (Sra. G. P. S. S., 58 anos).

“Aqui era conhecido como Capão de Negro. Tinha poucas casas, a casa maior era o seminário. Não tinha rua, era só estradinha. Também era conhecido como roção. Era uma mata. Cresceu mesmo com o governo do Fragelli e do Campos”. (Sr. G. L. C., 68

anos)

FIGURA 38 - AVENIDA 31 DE MARÇO, BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA

GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.

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A devoção é forte no bairro, com 71% dos informantes

praticantes da religião católica. As principais festas realizadas para a

comunidade são as festas religiosas, que ocorrem na igreja. No entanto,

alguns moradores também comemoram as festas de São João e de Santo

Antônio em suas residências. Além dessas, as escolas promovem festas

para a comunidade, principalmente as Juninas e datas comemorativas,

Dia das Mães, Dia das Crianças.

Foram citadas pelos moradores do bairro Cristo Rei o universo

de 143 espécies pertencentes a 67 famílias botânicas (Tabela 3). As

famílias botânicas que apresentaram maior riqueza de espécies foram

Asteraceae (11 espécies), Lamiaceae (dez espécies), Fabaceae (sete

espécies), Araceae (seis espécies), Malvaceae e Solanaceae, cada qual

com cinco espécies e, Cucurbitaceae, Poaceae e Rutaceae (quatro

espécies cada).

Carniello et al. (2008) estudando os quintais urbanos em

Mirassol D’Oeste, Mato Grosso, identificaram 275 espécies pertencentes

a 77 famílias botânicas, cujas mais representativas foram Solanaceae,

Asteraceae, Rosaceae, Verbenaceae, Euphorbiaceae, Malvaceae e

Rutaceae.

Maciel e Guarim Neto (2008) encontraram números

semelhantes na área rural de Juruena, Mato Grosso, 267 espécies e 75

famílias botânicas, sendo as mais representativas: Euphorbiaceae (11

espécies), Lamiaceae (13), Fabaceae (14), Mimosaceae (19) e

Asteraceae (27 espécies).

Dentre as plantas remanescentes da vegetação encontra-se

abacate (Persea americana Mill.), canela (Cinnamomum zeylanicum

Blume), goiaba (Psidium guajava L.), mamão (Carica papaya L.), manga

(Mangifera indica L.) e sete-copas (Lecythis pisonis Cambess.).

Espécies arbóreas como abacateiros e mangueiras são típicas

de quintais mato-grossenses, os quais são espaços de conservação de

recursos e de costumes que permeiam a maneira de ser da população

dessa região (GUARIM NETO, 2008).

Segundo Amorozo (2008) o cultivo de árvores e outras plantas

nos quintais urbanos, praças e parques contribui na melhoria da

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qualidade de vida. Essas áreas verdes aumentam a umidade e reduzem o

calor da irradiação através da conversão da água do solo em umidade

atmosférica.

Com relação à frequência relativa de concordância quanto aos

usos principais, destacaram-se com valores superiores a 45% as

espécies: manga (Mangifera indica L.) e samambaia (Pleopeltis

pleopeltifolia (Raddi) Alston) com 58%; boldo (Plectranthus barbatus

Andrews) com 53%, capim cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf)

com 52%, acerola (Malpighia glabra L.) com 47% e babosa (Alloe vera

(L.) Burm f.) com 46%. Dentre essas espécies todas pertencem à

etnocategoria medicinal, com exceção da samambaia, ornamental

cultivada em diversas residências, tanto em vasos no chão, quanto

suspensos.

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TABELA 4 - PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE – MT, 2014.

VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA

ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS

INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR

DE CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS

PRINCIPAIS.

“continua.. “

Nome Popular Nome Científico Família Categoria de Uso Hábito Fsp Fid NF FC

Pcusp (%)

Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae A M Ou Ar 17 10 58 1 58

Samambaia Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston Polypodiaceae O He 10 10 100 0,58 58

Boldo Plectranthus barbatus Andrews Lamiaceae M He 12 9 75 0,71 53

Capim-cidreira Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Poaceae M He 14 9 64 0,82 52

Acerola Malpighia glabra L. Malpighiaceae A M Ab 12 8 66 0,71 47

Babosa Alloe vera (L.) Burm f. Xanthorrhoaceae M He 11 8 72 0,64 46

Erva-cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae M He 12 7 58 0,71 41

Rosa Rosa sp. Rosaceae O He 7 7 100 0,41 41

Caninha-do-brejo Costus spicatus (Jacq.) Sw Costaceae M He 13 7 53 0,76 40

Limão Citrus limon (L.) Osbeck Rutaceae A M Ar 11 7 63 0,64 40

Abacate Persea americana Mill. Lauraceae A M Ou Ar 9 6 66 0,53 35

Banana Musa parasidiaca L. Musaceae A M He 13 6 46 0,76 35

Comigo-ninguém- pode Dieffenbachia amoena Bull. Araceae O Ou He 8 6 75 0,47 35

Espada-de-são-jorge Sansevieria trifasciata Prain Asparagaceae O Ou He 9 6 66 0,53 35

Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae A M Ar 10 6 60 0,58 35

Orquídea Orchis sp. Orchidaceae O He 6 6 100 0,35 35

Pimenta Capsicum albescens Kuntze Solanaceae A Ou He 7 5 71 0,41 30

Avenca Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris Pteridaceae O He 5 5 100 0,29 29

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Espirradeira Nerium oleander L. Apocynaceae O Ab 5 5 100 0,29 29

Lírio Spathiphyllum wallisii Regel Araceae O He 5 5 100 0,29 29

Mamão Carica papaya L. Caricaceae A M Ab 9 5 55 0,52 29

Mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae A He 5 5 100 0,29 29

Romã Punica granatum L. Punicaceae A M Ab 10 5 50 0,58 29

Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae M Ou He 8 4 50 0,47 24

Ata Annona squamosa L. Annonaceae A Ou Ab 8 4 50 0,47 24

Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae M He 6 4 66 0,35 23

Algodão Gossypium hirsutum L. Malvaceae M Ab 7 4 57 0,41 23

Amora Morus nigra L. Moraceae A Ou Ar 6 4 66 0,35 23

Caferana Vernonia polyanthes (Spreng.) Less. Asteraceae M Ab 6 4 66 0,35 23

Camomila Matricaria recutita L. Asteraceae M He 10 4 40 0,58 23

Cebolinha Allium fistulosum L. Amaryllidaceae A He 7 4 57 0,41 23

Copo-de-leite Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng. Araceae O He 4 4 100 0,23 23

Erva-de-santa-maria Coronopus didymus (L.) Sm. Brassicaceae M He 6 4 66 0,35 23

Hortelã Mentha villosa Becker Lamiaceae A M He 10 4 40 0,58 23

Laranja Citrus sinensis L. Osbeck Rutaceae A M Ar 7 4 57 0,41 23

Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae M Ab 7 4 57 0,41 23

Quebra-pedra Phyllanthus orbiculatus Rich. Phyllanthaceae M Ab 4 4 100 0,23 23

Alfavaca Ocimum basilicum L. Lamiaceae M He 6 3 50 0,35 18

Carambola Averrhoa carambola L. Oxalidaceae A M Ou Ar 6 3 50 0,35 18

Fedegoso Senna occidentalis (L.) Link Fabaceae M Ou Ab 6 3 50 0,35 18

Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr Bromeliaceae A M He 5 3 60 0,29 17

Abóbora Cucurbita moschata Dusch. Cucurbitaceae A M Ra 5 3 60 0,29 17

Antúrio Anthurium andraeanum Linden Araceae O He 3 3 100 0,17 17

Beijo Impatiens walleriana Hook. f. Balsaminaceae O He 3 3 100 0,17 17

Beladona Atropa belladonna L. Solanaceae O Ab 3 3 100 0,17 17

Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae A M Ar 7 3 42 0,41 17

Coco-da-baía Cocos nucifera L. Arecaceae A M O Pa 7 3 42 0,41 17

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Dama-da-noite Cestrum nocturnum L. Solanaceae O Ab 3 3 100 0,17 17

Fortuna Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Crassulaceae O Ou He 5 3 60 0,29 17

Hortênsia Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Hydrangeaceae O He 3 3 100 0,17 17

Malva Malva palviflora L. Malvaceae M He 5 3 60 0,29 17

Manjericão Ocimum basilicum L. Lamiaceae A He 5 3 60 0,29 17

Oiti Licania tomentosa (Benth.) Fritsch Chrysobalanaceae O Ou Ar 2 1 50 0,11 17

Primavera Bougainvillea glabra Choisy Nyctaginaceae O Ab 3 3 100 0,17 17

Quina Strychnos pseudoquina A. St. -Hil. Loganiaceae M Ar 5 3 60 0,29 17

Alho poró Allium porrum L. Amaryllidaceae A M He 4 2 50 0,23 12

Assa-peixe Vernonia ferruginea Less. Asteraceae M Ou Ab 4 2 50 0,23 12

Cana-de-açúcar Saccharum officinarum L. Poaceae A He 4 2 50 0,23 12

Couve Brassica oleracea L. Brassicaceae A M He 4 2 50 0,23 12

Erva-de-bicho Polygonum hydropiperoides Michx. Polygonaceae M He 4 2 50 0,23 12

Figatil Vernonia condensata Baker Asteraceae M Ar 3 2 66 0,17 12

Hortelãzinha Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 5 2 40 0,29 12

Malva branca Malva sylvestris L. Malvaceae M He 4 2 50 0,23 12

Maracujá Passiflora edulis Sims. Passifloraceae A M Tr 4 2 50 0,23 12

Poejo Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 6 2 33 0,35 12

Rosa branca Rosa alba L. Rosaceae M O He 4 2 50 0,23 12

Terramicina Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Amaranthaceae M He 5 2 40 0,29 12

Urucum Bixa orellana L. Bixaceae A M Ab 5 2 40 0,29 12

Anador Justicia pectoralis Jacq. Acanthaceae M He 3 2 66 0,17 11

Arnica Solidago chilensis Meyen Asteraceae M Ab 2 2 100 0,11 11

Begônia Begonia elatior hort. ex Steud. Begoniaceae O He 2 2 100 0,11 11

Bucha Luffa aegyptiaca Mill. Cucurbitaceae M Ou Tr 3 2 66 0,17 11

Carqueja Baccharis trimera Less. DC. Asteraceae M He 2 2 100 0,11 11

Embaúba Cecropia hololeuca Miq. Urticaceae M Ar 3 2 66 0,17 11

Gérbera Gerbera sp. Asteraceae O He 2 2 100 0,11 11

Girassol Helianthus annuus L. Asteraceae M O He 3 2 66 0,17 11

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Guaco Mikania glomerata Spreng. Asteraceae M Ab 2 2 100 0,11 11

Icsória Ixora chinensis Lam. Rubiaceae O He 2 2 100 0,11 11

Jabuticaba Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg Myrtaceae A M Ar 3 2 66 0,17 11

Mamona Ricinus communis L. Euphorbiaceae M Ab 3 2 66 0,17 11

Marcela Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Asteraceae M He 3 2 66 0,17 11

Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Cucurbitaceae A He 2 2 100 0,11 11

Melão-de-são-caetano Momordia charantia L. Cucurbitaceae M Tr 3 2 66 0,17 11

Pingo-de-ouro Duranta erecta L. Verbenaceae O He 2 2 100 0,11 11

Pitanga Eugenia uniflora L. Myrtaceae A O Ar 3 2 66 0,17 11

Rosa-do-deserto Adenium obesum (Forssk.) Roem. & Schult. Apocynaceae O He 2 2 100 0,11 11

Sucupira preta Bowdichia virgilioides Kunth Fabaceae M Ou Ar 3 2 66 0,17 11

Tomate Solanum lycopersicum L. Solanaceae A Tr 2 2 100 0,11 11

Vique Mentha arvensis L. Lamiaceae M He 2 2 100 0,11 11

Açafrão Crocus sativus L. Iridaceae A M He 3 1 33 0,17 6

Araticum Annona coriacea Mart. Annonaceae A Ou Ab 2 1 50 0,11 6

Azedinha Oxalis acetosella L. Oxalidaceae M Ou He 2 1 50 0,11 6

Bacuri Platonia insignis Mart. Clusiaceae M Ou Ar 2 1 50 0,11 6

Barbatimão

Stryphnodendron adstringens (Mart.)

Coville Fabaceae M Ou Ar 2 1 50 0,11 6

Berinjela Solanum mammosum L. Solanaceae A M He 2 1 50 0,11 6

Beterraba Beta vulgaris L. Amaranthaceae A M He 2 1 50 0,11 6

Biribá Annona mucosa Jacq. Annonaceae M Ou Ar 2 1 50 0,11 6

Boa noite Catharanthus roseus (L.) G. Don Apocynaceae M Ou Ab 2 1 50 0,11 6

Bocaiuva Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Arecaceae M Ou Ar 2 1 50 0,11 6

Brinco-de-princesa Fuchsia hybrida hort. ex Siebert & Voss Onagraceae M Ou Ab 2 1 50 0,11 6

Bromélia Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f. Bromeliaceae M Ou He 2 1 50 0,11 6

Cabaça Crescentia alata Kunth Bignoniaceae M Ou Ab 2 1 50 0,11 6

Cabriteiro Rhamnidium elaeocarpum Reissek Rhamnaceae M Ou Ar 2 1 50 0,11 6

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Canela Cinnamomum zaylanicum Blume Lauraceae A M Ar 2 1 50 0,12 6

Confrei Symphytum officinale L. Boraginaceae M He 3 1 33 0,17 6

Coroa-de-frade Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. Cactaceae M Ou Ab 2 1 50 0,11 6

Figueira Ficus sp. Moraceae M Ar 2 1 50 0,11 6

Gengibre Zingiber officinale Roscoe Zingiberaceae A M He 3 1 33 0,17 6

Guiné Petiveria alliacea L. Phytolaccaceae M Ou He 2 1 50 0,11 6

Jaborandi Pilocarpus pennatifolius Lem. Rutaceae M Ou Ab 2 1 50 0,11 6

Jenipapo Genipa americana L. Rubiaceae A M Ou Ar 3 1 33 0,17 6

Jucá Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul. Fabaceae M Ou Ar 3 1 33 0,17 6

Losna Artemisia absinthium L. Asteraceae M He 2 1 50 0,11 6

Louro Cordia glabrata (Mart.) A. DC Lauraceae A M Ar 2 1 50 0,11 6

Quiabo Hibiscus esculentus L. Malvaceae A M He 2 1 50 0,11 6

Sete-copas Lecythis pisonis Cambess. Lecythidaceae O Ou Ar 2 1 50 0,11 6

Tamarindo Tamarindus indica L. Fabaceae A M Ar 2 1 50 0,11 6

Bandeirinha Spathiphyllum wallisii Regel Araceae M He 1 1 100 0,05 5

Cardo-santo Argemone mexicana L. Papaveraceae M He 1 1 100 0,05 5

Cavalinha Equisetum arvense L. Equisetaceae M He 1 1 100 0,05 5

Citronela Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor Poaceae Ou He 1 1 100 0,05 5

Coentro Cichorium sativum L. Apiaceae A He 1 1 100 0,05 5

Colônia Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R. M. Zingiberaceae M He 1 1 100 0,05 5

Douradinha Waltheria douradinha A. St.-Hil. Malvaceae M He 1 1 100 0,05 5

Gloxínia Sinningia speciosa (Lodd.) Hiern Gesneriaceae O He 1 1 100 0,05 5

Imbé Philodendron imbe Schott ex Endl. Araceae Ou Tr 1 1 100 0,05 5

Insulina-vegetal Cissus sicyoides L. Vitaceae M Tr 1 1 100 0,05 5

Jaca Artocarpus integrifolia L. f. Moraceae A Ar 1 1 100 0,05 5

Jasmim Jasminum nitidum Skan Oleaceae O Tr 1 1 100 0,05 5

Jurema Pithecellobium tortum Mart. Fabaceae Ou Ar 1 1 100 0,05 5

Lágrima-de-cristo Clerodendrum thomsoniae Balf. Lamiaceae O Tr 1 1 100 0,05 5

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90

Milho Zea mays L. Poaceae A He 1 1 100 0,05 5

Onze-horas Portulaca grandiflora Hook. Portulacaceae O He 1 1 100 0,05 5

Palma Opuntia cochenillifera (L.) Mill. Cactaceae A Ab 1 1 100 0,05 5

Palmeira

Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje &

J.Dransf. Arecaceae O Pa 1 1 100 0,05 5

Piúva Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos Bignoniaceae M Ar 1 1 100 0,05 5

Renda portuguesa Davalia fejeensis Davalliaceae O He 1 1 100 0,05 5

Rosa amélia Rosa centifolia L. Rosaceae O He 1 1 100 0,05 5

Salsa Petroselinum crispum (Mill.) Fuss Apiaceae A He 1 1 100 0,05 5

Sapatinho-de-nossa- senhora

Paphiopedilum spicerianum (Rchb. f.)

Pfitzer Orchidaceae O He 1 1 100 0,05 5

Seriguela Spondias purpurea L. Anacardiaceae A Ar 1 1 100 0,05 5

Tansagem Plantago major L. Plantaginaceae M He 1 1 100 0,05 5

Vassourinha Stylosanthes guyanensis (Aubl.) SW. Fabaceae M He 1 1 100 0,05 5

Legenda: Categorias de uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.

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91

As espécies foram agrupadas de acordo com a categoria de

uso mencionada pelo informante. A categoria de uso Medicinal exibiu um

total de 92 espécies, representando a categoria com maior número de

espécies, aproximadamente 64% do total, dado este que confirma a

importância da flora usada na medicina tradicional. Para a categoria

Alimentar foram citadas 45 espécies, seguido das categorias Outros usos

com 35 espécies e Ornamental com 34 espécies (Figura 39).

Dentre as plantas utilizadas na etnomedicina local e a

respectiva indicação terapêutica, encontram-se a babosa (Alloe vera (L.)

Burm f.), utilizada para cicatrização, queimadura e queda de cabelo com

16 citações; o capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf), para

insônia e indigestão, com 14 citações; a caminha-do-brejo (Costus

spicatus (Jacq.) Sw), utilizado como anti-inflamatório e diurético, com 13;

o boldo (Plectranthus barbatus Andrews), para indigestão e problemas do

fígado e a erva-cidreira (Melissa officinalis L.), para gripe, pressão alta e

insônia, cada uma com 12 citações e, a camomila (Matricaria recutita L.),

para constipação intestinal, insônia e diarreia, com dez citações.

FIGURA 39 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS

INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE,

MT. 2014.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Alimentar Medicinal Ornamental Outros Usos

45

92

34 35

me

ro d

e es

cies

Etnocategorias de uso

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92

A espécie Senna occidentalis (L.) Link, também conhecida por

fedegoso foi citada como uma planta utilizada para fins medicinais e para

benzimento. No bairro Cristo Rei duas informantes relataram sobre o

“poder” de benzer:

“Sou benzedera desde os 12 anos... foi ensinado por Deus, foi ele que me ensinô a benzê... vem criança, adulto, tudo. Vem gente até de Livramento aqui pra benzê... dizem que minha mão é abençoada. Benzo com três folha, faço a prece com a mão na cabeça da pessoa. Tem doença que remédio não cura... arca caída e quando a mulher tem filho e não faz dieta aí o sangue sobe pra cabeça... daí o que cura é só benzeção”. (Sra. A. F. S.,

84 anos).

“Eu benzia... benzia criança e gente grande. Deus me deu isso desde pequena. Benzia de irisipele, de cobreiro, de impinge, benzia tudo. Usava planta pra benzê, o fedegoso... fazia a oração, entregava a nossa parte pra Deus e eles recebiam a bênção”.

(Sra. A. C. 76 anos).

Maciel e Guarim Neto (2006) em seu estudo em Juruena, Mato

Grosso, referiram as espécies vegetais Ruta graveolens L., Petiveria

alliacea L. e Rosmarinum officinale L., além de outras, utilizadas por

benzedeiras da região.

Algumas plantas foram encontradas com frequência nos

quintais, geralmente na parte da frente das residências, tanto em vasos,

quanto em canteiros no chão. Dentre elas a arruda (Ruta graveolens L.) e

a espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain), ambas com função

protetora além da função medicinal da primeira e ornamental da segunda

espécie.

Quanto ao hábito, 53% das espécies citadas apresenta hábito

Herbáceo (76 espécies), seguido do hábito Arbóreo (31 espécies) e

Arbustivo (25 espécies). Os demais hábitos Palmeira, Rasteiro e Trepador

totalizam 11 espécies (Figura 40).

Para o hábito arbóreo entre as mais citadas estão: manga

(Mangifera indica L.), limão (Citrus limon (L.) Osbeck), goiaba (Psidium

guajava L.), abacate (Persea americana Mill.) e caju (Anacardium

occidentale L.). Todas elas são cultivadas diretamente no solo, sobretudo

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pelo seu porte e, também apresentam uma multiplicidade de uso:

alimentar, medicinal e sombreamento.

FIGURA 40 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO

REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

As plantas herbáceas são cultivadas diretamente no solo, nos

quintais maiores, entretanto nos quintais de porte menor são plantadas

em pequenos canteiros, vasos ou latas. Algumas vezes quando o espaço

é muito pequeno, também é possível encontrar cultivos suspensos em

muretas, jiraus e até mesmo pendurados em muros ou paredes. Contudo

as plantas de maior porte, como a pata de vaca são plantadas em covas

diretamente no solo.

A Figura 41 apresenta diversas imagens registradas durante o

estudo realizado no bairro Cristo Rei: escola, benzedeira, residência,

remédio caseiro, cultivo de diferentes espécies em latas, sacos, vasos e

diretamente no solo, quintal e aproveitamento de cascas de frutas.

Arbustivo17%

Arbóreo22%

Herbáceo53%

Palmeira1%

Rasteiro1%

Trepador6%

Arbustivo Arbóreo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador

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FIGURA 41 - A - Escola pública no bairro CR; B – Informante e benzedeira; C –

Residência de informante; D – Remédio caseiro; E – Cultivo de plantas; F – Turnê

guiada pelo quintal; G – Cultivo de plantas no quintal e na varanda; H – Casca de frutas

para compostagem.

A

C

E

G

B

D

F

H

A

C

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95

4.2.3.4 BAIRRO SANTA ISABEL

No bairro Santa Isabel (Figura 42) os terrenos possuem, em

média, uma área de 200 m². Porém a maior parte é ocupada pela

residência, de modo que os moradores locais ainda cultivam uma

variedade de espécies vegetais, principalmente de porte menor. A

bioarquitetura é executada através da verticalização das plantas em

muros, pilares e paredes, para um melhor aproveitamento do espaço,

bem como em canteiros, floreiras ou vasos e outras plantas maiores

diretamente no solo.

FIGURA 42 – RUA I, BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

Fonte: acervo da autora.

Durante as entrevistas, quando perguntou-se sobre a origem

do bairro, uma informante relatou:

“Moro aqui há quase trinta anos... o que sei é que este bairro recebeu o nome de Santa Isabel, em homenagem à esposa do governador que era naquela época. Ela se chama Isabel Campos e o bairro é Santa Isabel”. (Sra. B. R., 71 anos).

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O bairro possui ruas asfaltadas, uma escola estadual e uma

igreja com o mesmo nome do bairro. No seu entorno há um pequeno

comércio, com mercado, posto de combustível, loja de material de

construção, entre outros.

Com relação às festas realizadas no bairro, as mais citadas

foram as festas de caráter religioso na Igreja Santa Isabel e as festas

realizadas na Escola, entre elas Festa Junina e outras de porte menor.

Na Tabela 4 estão registradas as 98 espécies vegetais

utilizadas pelos informantes do bairro Santa Isabel, dispostas em 52

famílias botânicas. Dessas famílias, as mais representativas foram

Lamiaceae (10% das espécies), Asteraceae (9%), Araceae, Brassicaceae

e Fabaceae (4% das espécies cada uma).

Verificou-se que as espécies mais ocorrentes são aquelas que

têm maior potencial de uso para os moradores e facilidades para

obtenção e manejo, a exemplo do capim cidreira (Cymbopogon citratus

(DC.) Stapf.), a babosa (Alloe vera (L.) Burm f.) e o boldo (Plectranthus

barbatus Andrews), todas com indicações medicinais.

Entre as plantas presentes nos quintais do bairro, a frequência

relativa de concordância quanto aos usos principais (Pcusp) ressaltou a

cebolinha (Allium fistulosum L.) com 66% na categoria Alimentar. Na

categoria Medicinal, o boldo (Plectranthus barbatus Andrews) e o capim-

cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.) utilizados para problemas do

sistema digestório e nervoso, respectivamente e, a samambaia

(Nephrolepis biserrata (SW.) Schott) como Ornamental, frequentemente

penduradas nas paredes, vigas e muros, com 55% cada uma.

As espécies caninha-do-brejo (Costus spicatus (Jacq.) Sw),

fortuna (Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken) e quebra-pedra (Phyllanthus

orbiculatus Rich.) são usadas para problemas nos rins conforme relatos

dos informantes:

“... Se eu estou viva, agradeço a Deus em primeiro lugar e as plantas de remédio em segundo... Meu filho fez transplante de rim e eu também tenho problema... e ainda tenho pressão alta... não

posso ficá sem essas planta...” (Sra. M. A. S., 76 anos).

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“... Tinha pedra nos rim... fui no médico e ele queria fazê cirurgia... mas consegui por as pedra pra fora tomando chá de quebra-pedra e suco da folha da fortuna...” (Sr. A. C. S., 50 anos).

A etnocategoria de uso medicinal é cultivada em canteiros,

vasos ou diretamente no solo, variando de acordo com o hábito da planta.

As espécies de menor porte geralmente são cultivadas em canteiros e

vasos, porém, em várias residências foi possível observar esse cultivo em

pequenos corredores entre a casa e o muro. Contudo, as espécies de

maior porte, como a pata de vaca (Bauhinia forficata Link), jabuticaba

(Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg), limão (Citrus limon (L.) Osbeck) e caju

(Anacardium occidentale L.) são plantadas em covas.

A maior parte das espécies medicinais cultivadas é exótica.

Pode-se citar nesse grupo o alecrim (Rosmarinus officinalis L.) e a erva-

cidreira (Melissa officinalis L.), originários do Mediterrâneo; a arruda (Ruta

graveolens L.) e a camomila (Matricaria recutita L.), originária da Europa;

o capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), originário da Índia

(CORRÊA JUNIOR et al., 1994; REIS e MARIOT, 1999).

Com relação à frequência relativa de concordância quanto aos

usos principais destacaram-se: cebolinha (Allium fistulosum L.) com 66%;

boldo (Plectranthus barbatus Andrews), capim-cidreira (Cymbopogon

citratus (DC.) Stapf.), samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott),

com 55%; alecrim (Rosmarinus officinalis L.), babosa (Alloe vera (L.) Burm

f.), cacto (Cereus peruvianus (L.) Mill.), caninha-do-brejo (Costus spicatus

(Jacq.) Sw, hortelã (Mentha villosa Becker), manga (Mangifera indica L.),

quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.), rosa (Rosa sp.) e sucupira

(Boudichia virgilioides Kunth), com 44%.

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TABELA 5 - PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE – MT, 2014.

VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA

ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS

INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE

CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS.

“continua...”

Nome Popular Nome Científico Família

Categoria de Uso Hábito Fsp Fid NF FC

Pcusp (%)

Cebolinha Allium fistulosum L. Amaryllidaceae A He 6 6 100 0,66 66

Boldo Plectranthus barbatus Andrews Lamiaceae M He 8 5 62 0,88 55

Capim-cidreira Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Poaceae M He 9 5 55 0,99 55

Samambaia Nephrolepis biserrata (SW.) Schott Davalliaceae O He 5 5 100 0,55 55

Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae M He 6 4 66 0,66 44

Babosa Alloe vera (L.) Burm f. Xanthorrhoaceae M He 7 4 57 0,77 44

Cacto Cereus peruvianus (L.) Mill. Cactaceae O Ab 4 4 100 0,44 44

Caninha-do-brejo Costus spicatus (Jacq.) Sw Costaceae M He 6 4 66 0,66 44

Hortelã Mentha villosa Becker Lamiaceae A M He 7 4 57 0,77 44

Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae A M Ou Ar 6 4 66 0,66 44

Quebra-pedra Phyllanthus orbiculatus Rich. Phyllanthaceae M Ra 5 4 80 0,55 44

Rosa Rosa sp. Rosaceae O He 6 4 66 0,66 44

Sucupira Boudichia virgilioides Kunth Fabaceae M Ar 5 4 80 0,55 44

Antúrio Anthurium andraeanum Linden Araceae O He 3 3 100 0,33 33

Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae M Ou He 5 3 60 0,55 33

Ata Annona squamosa L. Annonaceae A Ab 3 3 100 0,33 33

Avenca Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris Pteridaceae O He 3 3 100 0,33 33

Comigo-ninguém Dieffenbachia amoena Bull. Araceae O Ou He 7 3 42 0,77 33

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99

pode

Erva-cidreira Melissa officinalis L. Lamiaceae M He 5 3 60 0,55 33

Espada-de-são -jorge Sansevieria trifasciata Prain Asparagaceae O Ou He 5 3 60 0,55 33

Losna Artemisia absinthium L. Asteraceae M He 4 3 75 0,44 33

Mamão Carica papaya L. Caricaceae A M Ab 4 3 75 0,44 33

Orquídea Orchis sp. Orchidaceae O He 5 3 60 0,55 33

Poejo Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 5 3 60 0,55 33

Acerola Malpighia glabra L. Malpighiaceae A M Ab 4 2 50 0,44 22

Alface Lactuca sativa L. Asteraceae A M He 3 2 66 0,33 22

Alfavaca Ocimum basilicum L. Lamiaceae M He 4 2 50 0,44 22

Algodãozinho-do-campo Cochlospermum regium (Schrank) Pilg. Bixaceae M Ab 2 2 100 0,22 22

Assa-peixe Vernonia ferruginea Less. Asteraceae M Ab 2 2 100 0,22 22

Begonia Begonia elatior hort. ex Steud. Begoniaceae O He 2 2 100 0,22 22

Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae A M Ar 4 2 50 0,44 22

Camomila Matricaria reticulita L. Asteraceae M He 3 2 66 0,33 22

Carambola Averrhoa carambola L. Oxalidaceae A M Ar 2 1 50 0,22 22

Coco-da-baía Cocos nucifera L. Arecaceae A M O Pa 4 2 50 0,44 22

Colônia

Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R.

M. Zingiberaceae M He 3 2 66 0,33 22

Couve Brassica oleracea L. Brassicaceae A M He 5 2 40 0,55 22

Erva-de-santa-maria Coronopus didymus (L.) Smith. Brassicaceae M He 3 2 66 0,33 22

Erva-de-bicho Polygonum hydropiperoides Michx. Polygonaceae M He 2 2 100 0,22 22

Espirradeira Nerium oleander L. Apocynaceae O Ab 2 2 100 0,22 22

Fedegoso Senna occidentalis (L.) Link Fabaceae M Ab 3 2 66 0,33 22

Fortuna Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Crassulaceae M O Ou He 4 2 50 0,44 22

Gengibre Zingiber officinale Roscoe Zingiberaceae A M He 3 2 66 0,33 22

Guiné Petiveria alliacea L. Phytolaccaceae M Ou He 4 2 50 0,44 22

Icsória Ixora chinensis Lam. Rubiaceae O He 2 2 100 0,22 22

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100

Jiló Solanum gilo Raddi Solanaceae A He 2 2 100 0,22 22

Limão Citrus limon (L.) Osbeck Rutaceae A M Ar 3 2 66 0,33 22

Lírio-da-paz Spathiphyllum wallisii Regel Araceae O He 2 2 100 0,22 22

Manjericão Ocimum basilicum L. Lamiaceae A He 4 2 50 0,44 22

Mussaenda-rosa Mussaenda Erythophylla L. Rubiaceae O Ab 2 2 100 0,22 22

Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae M Ou Ab 3 2 66 0,33 22

Noz-vômica Strychnos nux-vomica L. Loganiaceae M He 4 2 50 0,44 22

Pimenta Capsicum albescens Kuntze Solanaceae A He 4 2 50 0,44 22

Renda-portuguesa Davalia fejeensis Davalliaceae O He 2 2 100 0,22 22

Romã Punica granatum L. Punicaceae A M Ab 3 2 66 0,33 22

Rosa-do-deserto

Adenium obesum (Forssk.) Roem. &

Schult. Apocynaceae O He 2 2 100 0,22 22

Terramicina Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Amaranthaceae M He 4 2 50 0,44 22

Tomate Solanum lycopersicum L. Solanaceae A He 3 2 66 0,33 22

Vassourinha Stylosanthes guyanensis (Aubl.) SW. Fabaceae M He 3 2 66 0,33 22

Abacate Persea americana Mill. Lauraceae A M Ar 2 1 50 0,22 11

Abacaxi-de-jardim

Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. &

Schult. f. Bromeliaceae O He 1 1 100 0,11 11

Abóbora Cucurbita moschata Dusch. Cucurbitaceae A M Ra 2 1 50 0,22 11

Açafrão Crocus sativus L. Iridaceae A M He 2 1 50 0,22 11

Agarra-pinto Boerhavia diffusa L. Nyctaginaceae M He 1 1 100 0,11 11

Agrião Nasturtium officinale W.T. Aiton Brassicaceae A M He 2 1 50 0,22 11

Arnica Solidago chilensis Meyen Asteraceae M He 2 1 50 0,22 11

Babaçu Orbignya phalerata Mart. Arecaceae M Ou Pa 2 1 50 0,22 11

Banana Musa parasidiaca L. Musaceae A M He 2 1 50 0,22 11

Bananeira-de-jardim Heliconia rostrata Ruiz & Pav Heliconiaceae O He 1 1 100 0,11 11

Bucha Luffa aegyptiaca Mill. Cucurbitaceae M Ou He 2 1 50 0,22 11

Cacto japonês Kalanchoe tubiflora Raym.-Hamet Crassulaceae M O He 2 1 50 0,22 11

Cajuzinho Anacardium humile A. St.-Hil. Anacardiaceae A M Ar 2 1 50 0,22 11

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101

Cancerosa Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Celastraceae M He 1 1 100 0,11 11

Carqueja Baccharis trimera Less. DC. Asteraceae M He 1 1 100 0,11 11

Coentro Cichorium sativum L. Apiaceae A He 3 1 33 0,33 11

Cordão-de-frade Leonotis nepetifolia (L.) R. Br. Lamiaceae M Ar 1 1 100 0,11 11

Coroá Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez Bromeliaceae M He 1 1 100 0,11 11

Costela-de-adão Monstera deliciosa Liebm. Araceae O He 1 1 100 0,11 11

Dinheiro-em-penca Callisia repens (Jacq.) L. Commelinaceae O Ou He 2 1 50 0,22 11

Erva-doce Foeniculum vulgare Mill. Apiaceae A M He 3 1 33 0,33 11

Figo Ficus carica L. Moraceae A Ab 1 1 100 0,11 11

Gervão Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl Verbenaceae M He 1 1 100 0,11 11

Girassol Helianthus annuus L. Asteraceae O He 2 1 50 0,22 11

Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae A M Ou Ar 3 1 33 0,33 11

Hortelãzinho Mentha pulegium L. Lamiaceae M He 2 1 50 0,22 11

Hortensia Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Hydrangeaceae O He 1 1 100 0,11 11

Jabuticaba Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Myrtaceae A M Ou Ar 3 1 33 0,33 11

Jaca Artocarpus integrifolia L. f. Moraceae A Ou Ar 2 1 50 0,22 11

Lágrima-de-cristo Clerodendrum thomsoniae Balf. Lamiaceae O Ou Tr 2 1 50 0,22 11

Mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae A He 1 1 100 0,11 11

Maracujá Passiflora edulis Sims. Passifloraceae A M Tr 2 1 50 0,22 11

Mentrasto Ageratum conyzoides L. Asteraceae M He 1 1 100 0,11 11

Milho Zea mays L. Poaceae A M He 3 1 33 0,33 11

Pata-de-vaca Bauhinia forficata Link Fabaceae M O Ou Ab 3 1 33 0,33 11

Pronto-alívio Achillea millefolium L. Asteraceae M He 1 1 100 0,11 11

Quiabo Hibiscus esculentus L. Malvaceae A M He 2 1 50 0,22 11

Rosa branca Rosa alba Rosaceae M O He 2 1 50 0,22 11

Rúcula Eruca sativa Mill. Brassicaceae A He 1 1 100 0,11 11

Calunga Aristolochia esperanzae Kuntze Aristolochiaceae M Ar 1 1 100 0,11 11

Legenda: Categorias de usos: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra).

Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeita; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.

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102

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103

Das espécies citadas 69% (67 espécies) apresentam o hábito

Herbáceo, seguido do Arbustivo (13 espécies) e do Arbóreo (12

espécies). Para os demais hábitos a totalidade é representada por seis

espécies (Figura 43).

Essa característica pode ser explicada pelo fato desses

quintais serem pequenos, comparados aos outros da área de estudo,

dificultando assim um cultivo maior de plantas de grande porte.

Entretanto, estão presentes em alguns desses quintais espécies frutíferas

com multiplicidade de usos alimentar, medicinal e sombreamento, como

abacateiro (Persea americana Mill.), cajueiro (Anacardium occidentale L.),

goiabeira (Psidium guajava L.), limoeiro (Citrus limon (L.) Osbeck) e

mangueira (Mangifera indica L.).

FIGURA 43 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO

CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA

ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

As espécies encontradas foram agrupadas de acordo com a

categoria de uso, sendo a Medicinal mais expressiva com 64 espécies

(Figura 44).

Segundo Amorozo (2008) a produção de espécies para fins

alimentar e medicinal em quintais urbanos é mais comum entre os grupos

mais carentes da população.

Arbustivo13%

Arbóreo12%

Herbáceo69%

Palmeira2%

Rasteiro2%

Trepador2%

Arbustivo Arbóreo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador

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104

FIGURA 44 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS

PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL.

VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.

As plantas alimentares e ornamentais tiveram

representatividade semelhante nesses quintais, 36% e 34%,

respectivamente. Na categoria alimentar, encontram-se principalmente

árvores frutíferas e hortaliças. Percebe-se o empenho dos informantes em

manter os quintais com uma boa aparência, mesmo aqueles com espaço

reduzido. Dentre as espécies ornamentais as mais frequentes estão: rosa

(Rosa sp.), orquídea (Orchis sp.), samambaia (Nephrolepis biserrata

(SW.) Schott), o cacto (Cereus peruvianus (L.) Mill.), antúrio (Anthurium

andraeanum Linden), avenca (Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris),

comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena Bull.) e espada-de-são-

jorge (Sansevieria trifasciata Prain). Essas duas últimas ainda foram

relatadas como protetoras, para afastar mau olhado, são plantadas

geralmente na frente da casa.

A Figura 45 mostra a variedade de plantas utilizadas em

diferentes etnocategorias pelos moradores do bairro Santa Isabel, bem

como o reaproveitamento de partes vegetais e outros momentos durante

a coleta de dados.

0

10

20

30

40

50

60

70

Alimentar Medicinal Ornamental Outros Usos

35

65

33

11

me

ro d

e e

spé

cie

s

Etnocategorias de Uso

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FIGURA 45 - A – Diversidade de plantas no quintal; B – Cultivo de plantas em

pequeno espaço do quintal; C – Semente de planta, Boudichia virgilioides Kunth; D –

Informante mostrando as plantas no quintal da residência; E – Moradora na frente da

residência; F – Restos de cascas e folhas para produção de compostagem; G – Igreja

do bairro Santa Isabel; H – Visita à residência para coleta de dados.

G

B

D

F

H

A

C

E

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106

5. CONCLUSÕES

Quintais

São importantes para a manutenção da agrobiodiversidade,

sendo a flora ainda mantida, principalmente por herbáceas e arbóreas.

Os quintais são utilizados para trabalho, cultivo, criação de

pequenos animais, realização de festas, lazer, rezas e benzeção.

A aquisição das plantas nos quintais é feita por doação ou

troca com vizinhos e familiares. Verificou-se que algumas espécies vêm

de localidades distantes, trazidos por moradores quando mudam de local

ou por parentes quando vem visitar os familiares.

Para a manutenção dos quintais observou-se principalmente o

uso de insumos agrícolas naturais, a exemplo de restos de folhas, cascas,

esterco e bagaço de cana-de-açúcar misturado com terra preta.

O manejo é realizado preferencialmente pelas mulheres, as

quais têm uma posição de destaque nos quintais. Desta forma, a

preocupação em manter o cultivo de diferentes espécies, bem como a

finalidade, a forma de uso e as partes vegetais utilizadas no cotidiano

desta população contribuem para a conservação das plantas nesses

ambientes.

Plantas

O número de espécies utilizadas pelos moradores totalizou 249

e, variou de 98 no bairro Santa Isabel a 148 no bairro Bonsucesso,

completando 515 citações pelos informantes locais.

Identificou-se os principais usos das espécies relatadas pelos

informantes. Dentre essas plantas destacou-se a etnocategoria Medicinal,

seguidas da Alimentar, Ornamental e Outros usos. A folha foi evidenciada

notavelmente para a etnocategoria Medicinal, sendo o chá, por infusão, a

principal maneira de preparo.

Nível de Fidelidade (NF)

Pode-se concluir que, quanto ao Nível de Fidelidade (NF), o

bairro Bonsucesso obteve o maior percentual (11%) para as plantas com

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PCup igual ou maior que 50%, ou seja, das 148 espécies utilizadas, 16

apresentaram um uso comum para a maioria dos informantes.

O bairro Água Vermelha obteve um percentil de 9%, o que

significa matematicamente analisando, que das 126 espécies vegetais

usadas pela população local 12 espécies apresentam um uso comum.

Nos demais bairros, apesar do uso de uma variedade de

plantas no cotidiano, apresentaram percentil menor. O bairro Cristo Rei

obteve 3%, ou seja, das 143 espécies utilizadas pelos moradores cinco

apresentaram uso comum para a maioria dos informantes, enquanto no

bairro Santa Isabel (2%), das 98 espécies utilizadas, duas são de uso

comum entre os informantes locais.

Etnobotanicamente é possível afirmar que os bairros Água

Vermelha e Bonsucesso apresentam um certo grau de tradicionalidade

pelo tempo que residem no local (BS) ou pelo etnoconhecimento

expresso (AV e BS). Desta forma, confere o termo tradicional, e assim um

status cultural para esta população várzea-grandense.

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SIVIERO, A.; DELUNARDO, T. A.; HAVERROTH, M.; OLIVEIRA, L. C.; MENDONÇA, A. M. S. Cultivo de espécies alimentares em quintais urbanos de Rio Branco, Acre, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 25(3): 549-

556. 2011. TROPICOS. Missouri Botanical Garden. electronic databases. 2013. Disponível em: <http://www.tropicos.org/>. Acesso em: 19 maio 2014. VALENTINI, C. M. A.; PINHEIRO, A. C. M.; SALES, F. N.; GUILHER, M. C.; SILVA, T. C. A.; MISSA JR, S. Impactos socioambientais gerados aos pescadores da comunidade ribeirinha de Bonsucesso-MT pela construção da Barragem de Manso. Holos, ano 27, v. 4, p. 6-22, 2011. VALENTINI, C. M. A.; ALMEIDA, J. D.; COELHO, M. F. B.; ORTÍZ, C. E. R. Uso de Siparuna guianensis Aublet (negramina) em Bom Sucesso, município de Várzea Grande, Mato Grosso. Revista de Biologia Neotropical, v. 5, n. 2, p. 11-22, 2008.

VENDRUSCOLO, G. S.; MENTZ, L. A. Estudo da concordância das citações de uso e importância das espécies e famílias utilizadas como medicinais pela comunidade do bairro Ponta Grossa, Porto Alegre, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 2006, v 20, n 2, p 367-382.

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APÊNDICE: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA

OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS URBANOS DE

VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRASIL

1. NOME:_______________________________________________________________

2. ENDEREÇO:__________________________________________________________

3. SEXO: ( ) FEMININO ( ) MASCULINO

4. IDADE: ______ 5. POSSUI FILHOS? ( ) SIM ( ) NÃO 6. QUANTOS? _________

7. ESTADO DE ORIGEM: _______________________________________________________________________

8. RELIGIÃO: _______________________________________________________________________

9. ESTADO CIVIL: ( ) SOLTEIRO ( ) CASADO ( ) VIÚVO

( ) SEPARADO ( ) OUTRO

10. GRAU DE INSTRUÇÃO: ( ) ENSINO FUNDAMENTAL ( ) ENSINO MÉDIO

( ) SUPERIOR ( ) PÓS-GRADUAÇÃO ( ) ______________INCOMPLETO

11. RENDA MENSAL: ( ) UM SALÁRIO MÍNIMO ( ) DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS

( ) MAIS DE DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS

12. HÁ QUANTO TEMPO RESIDE NO LOCAL? _______________________________________________________________________

13. VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DE ORIGEM DO BAIRRO? ( ) SIM ( ) NÃO

14. QUAIS SÃO AS FESTAS IMPORTANTES NO BAIRRO?

_______________________________________________________________________

15. NÚMERO DE PESSOAS NA FAMÍLIA: ____________________________________

QUE MORAM NA CASA ( ) QUE NÃO MORAM NA CASA ( )

16. QUE ATIVIDADE EXERCE ATUALMENTE? ________________________________

17. QUAIS AS PLANTAS QUE VOCÊ CONHECE? _______________________________________________________________________

18. TEM PLANTAS QUE CURAM? ( ) SIM ( ) NÃO QUAIS SÃO? _______________________________________________________________________

19. CRIA ANIMAIS? ( ) SIM ( ) NÃO QUAIS? ____________________________

20. QUE TIPOS DE CULTIVOS POSSUE NA PROPRIEDADE?

_______________________________________________________________________

21. EM CASO DE DOENÇA NA FAMÍLIA, ONDE RECEBE TRATAMENTO?

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( ) NO POSTO MÉDICO OU HOSPITAL

( ) VAI PARA OUTRA CIDADE (QUAL)? _____________________________________

( ) FAZ TRATAMENTO COM REMÉDIOS NATURAIS

( ) NÃO FAZ NADA

22. QUAIS AS DOENÇAS MAIS COMUNS NA FAMÍLIA?

( ) MALÁRIA ( ) FEBRE AMARELA ( ) HANSENÍASE

( ) TUBERCULOSE ( ) LEISHMANIOSE ( ) SARAMPO

( ) VERMINOSE ( ) DIARRÉIA ( ) CATAPORA

( ) GRIPE ( ) DIABETES ( ) GASTRITE

( ) ANEMIA ( ) PROBLEMAS CARDÍACOS ( ) DENGUE

( ) OUTRAS:

_______________________________________________________________________

PLANTAS MEDICINAIS

24. FAZ USO DE PLANTAS MEDICINAIS?

( ) SIM ( ) NÃO

25. DE ONDE VEM O CONHECIMENTO DE USO DE PLANTAS MEDICINAIS?

( ) CONHECIMENTO TRADICIONAL FAMILIAR.

( ) CONHECIMENTO ORIUNDO DE CONTATOS COM FONTES EXTERNAS

(MIGRANTES OU VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO).

( ) CONTATOS COM TÉCNICOS (MÉDICOS, ENFERMEIROS, BIÓLOGOS,

PROFESSORES

( ) OUTROS:

_______________________________________________________________________

26. QUAIS PLANTAS MEDICINAIS SÃO USADAS PELA FAMÍLIA?

_______________________________________________________________________

27. QUAL A ORIGEM DAS PLANTAS (QUINTAL, COMÉRCIO ETC) UTILIZADAS COMO REMÉDIO?

_______________________________________________________________________

28. QUAL A PARTE DA PLANTA É UTILIZADA (RAIZ, CAULE, FOLHA, FLOR, FRUTO, SEMENTE)?

_______________________________________________________________________

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29. POSSUI ALGUMA PLANTA MEDICINAL NO QUINTAL DA SUA RESIDÊNCIA? QUAL?

_______________________________________________________________________

30. QUAL É A FORMA DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO?

_______________________________________________________________________

DADOS DO IMÓVEL

31. FORMA DE APROPRIAÇÃO DO IMÓVEL:

( ) PROPRIETÁRIO ( ) ALUGUEL ( ) MORA DE FAVOR ( ) OUTRO

32. DOCUMENTO QUE POSSUI:

_______________________________________________________________________

33. DIMENSÃO DO IMÓVEL: _______________________________________________

34. ÁREA CONSTRUÍDA: __________________________________________________

35. POSSUI QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO

36. ÁREA DE QUINTAL: ___________________________________________________

37. LOCALIZAÇÃO DO QUINTAL:

( ) FUNDOS ( ) AO LADO ( ) NA FRENTE ( ) OUTRO LOCAL

DADOS DO QUINTAL

38. PLANTA NO QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO

39. HÁ QUANTO TEMPO?

_______________________________________________________________________

40. POR QUE?

_______________________________________________________________________

41. QUAIS AS PLANTAS QUE POSSUI NO QUINTAL?

_______________________________________________________________________

42. QUAIS AS PLANTAS REMANESCENTES DA VEGETAÇÃO NATURAL?

_______________________________________________________________________

43.COMO SÃO USADAS AS PLANTAS DO QUINTAL?

_______________________________________________________________________

44. QUEM CUIDA DO QUINTAL?

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_______________________________________________________________________

45. QUANTO TEMPO GASTA DIARIAMENTE CUIDANDO DO QUINTAL?

_______________________________________________________________________

46. QUAL ÉPOCA DO ANO TEM MAIS TRABALHO COM O QUINTAL?

_______________________________________________________________________

47. ALGUMA PLANTA NASCEU ESPONTANEAMENTE?

48. PELA EXPERIÊNCIA QUE POSSUI QUAIS AS PLANTAS QUE PODEM SER

PLANTADAS JUNTAS?

_______________________________________________________________________

49. COMO PLANTA? (CONHECIMENTO EMPREGADO):

_______________________________________________________________________

50. COM QUEM APRENDEU A PLANTAR?

_______________________________________________________________________

51. O QUE FAZ COM AS FOLHAS E RESTOS DE CAPINAS DO QUINTAL?

( ) QUEIMA ( ) JOGA NO LIXO ( ) FAZ ADUBO (COMPOSTO) ( ) OUTRO

52. CASO FAÇA COMPOSTO, EXPLICAR COMO.

_______________________________________________________________________

53. COMPRA ALGUM INSUMO PARA USAR NO QUINTAL? ( ) NÃO ( ) SIM

QUAL? ______________________________________________________________________

54. CULTIVA PLANTAS EM OUTRAS ÁREAS DA RESIDÊNCIA? ( ) SIM ( ) NÃO

55. ONDE? QUAIS? PARA QUE?

_______________________________________________________________________

56. CRIA ANIMAIS NA RESIDÊNCIA? ( ) SIM ( ) NÃO

57. QUAIS AS ESPÉCIES?

_______________________________________________________________________

58. QUANTIDADE:

(UNIDADE):_____________________________________________________________

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59. INSTALAÇÕES: ( ) CERCADO ( ) SOLTO

60. ALIMENTAÇÃO:

_______________________________________________________________________

61. QUAL É A IMPORTÂNCIA DOS ANIMAIS NA VIDA DO SR (A)?

_______________________________________________________________________

62. USA OS RESÍDUOS: ( ) NA HORTA ( ) NAS FRUTEIRAS

( ) NAS ORNAMENTAIS ( ) VENDE

63. OUTRAS UTILIDADES DAS PLANTAS NO QUINTAL:

_______________________________________________________________________

DADOS SOBRE ATIVIDADES REALIZADAS NO QUINTAL

64. É COSTUME REUNIR NO QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO

65. PARA QUE?

_______________________________________________________________________

66. OUTRAS ATIVIDADES NO QUINTAL (POR QUE):

_______________________________________________________________________

67. QUAL A IMPORTÂNCIA DO QUINTAL PARA O SR (A)?

_______________________________________________________________________

RESIDÊNCIA POSSUI MATAS? ( ) SIM ( ) NÃO

69. VOCÊ JÁ TIROU/TIRA PRODUTOS DA MATA?

_______________________________________________________________________

70. QUAIS AS PLANTAS, POR QUE E PARA QUE?

_______________________________________________________________________

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ANEXO: TERMO DE ACEITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA.

TERMO DE ANUÊNCIA PRÉVIA

Eu ........................................................................................ portador(a) da

Carteira de Identidade nº ........................................................................................

e do CPF .............................................................................venho através do

presente documento oficializar o termo de aceitação para participar de livre e

espontânea vontade como integrante da Pesquisa: Os recursos vegetais e a

etnobotânica em quintas urbanos de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil,

coordenada pela Profª. Dra. Maria Corette Pasa do Departamento de Botânica e

Ecologia/IB da Universidade Federal de Mato Grosso e pela Mestranda Margô

De David do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais

da UFMT.

............................................................................................

Assinatura da(o) participante

Várzea Grande, ........ de ................................ de 2013.