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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA (BOTÂNICA)
ETNOBOTÂNICA DE QUINTAIS DE TRÊS BAIRROS URBANOS DE MANAUS,
AMAZONAS
DIANA NUNES DE OLIVEIRA
Manaus, Amazonas
Maio, 2015
ii
DIANA NUNES DE OLIVEIRA
ETNOBOTÂNICA DE QUINTAIS DE TRÊS BAIRROS URBANOS DE MANAUS,
AMAZONAS
ORIENTADORA: DRA. MARIA TERESA FERNANDEZ PIEDADE (INPA)
Co-orientadora: Dra. Veridiana Vizoni Scudeller (UFAM)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia (Botânica) do INPA, como
parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em Biologia (Botânica).
Manaus, Amazonas
Maio, 2015
iii
Banca Avaliadora da Qualificação
Nome Instituição Parecer
Valdely Ferreira Kinupp Instituto Federal do Amazonas - IFAM Aprovada
Ari de Freitas Hidalgo Universidade Federal do Amazonas - UFAM Aprovada
Josephina Barata da Veiga Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA Aprovada
Banca Avaliadora da Defesa de Mestrado
Nome Instituição Parecer
Charles Roland Clement Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA Aprovada
Maria Christina de Mello
Amorozo
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho – UNESP
Aprovada
Valdely Ferreira Kinupp Instituto Federal do Amazonas - IFAM Aprovada
iv
O48e Oliveira, Diana Nunes de
Etnobotânica de quintais de três bairros urbanos de Manaus,
Amazonas / Diana Nunes de Oliveira. --- Manaus: [s.n.], 2015.
x, 95 f.. : il. color.
Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015.
Orientador: Maria Teresa Fernandez Piedade
Coorientador: Veridiana Vizoni Scudeller
Área de concentração: Botânica
1.Composição florística - Manaus. 2.Biodiversidade.
3.Categorias de uso. I.Título
CDD 581.5247
Sinopse:
Foi estudada a riqueza de espécies vegetais presentes nos quintais de três
bairros urbanos de Manaus, suas categorias de uso, a diversidade e a
similaridade vegetal entre os bairros estudados, bem como os hábitos de
vida, a origem geográfica, o manejo das espécies estudadas e a estrutura
dos quintais.
Palavras-chave: composição florística, diversidade, categorias de uso
v
Ao meu amado filho Pedro Henrique
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela bênção e pela oportunidade de poder cursar Botânica no INPA e
de continuar a aprender coisas novas e superar desafios a cada dia.
A minha família, em especial a minha mãe e minha irmã, pois apesar das dificuldades
me apoiaram e cuidaram do Pedro quando eu precisei me ausentar para estudar. Filho, mamãe
ama você!
A Dra. Veridiana Vizoni Scudeller, pelos ensinamentos, apoio e incentivo em estudar
e prestar a prova do mestrado. Também quero agradecê-la pela amizade, pelo
companheirismo, educação, simplicidade e pelo carinho demonstrado durante os anos em que
a senhora ilumina minha mente e meus caminhos na vida acadêmica. Pensando no mestrado
como uma extensão da graduação, não posso deixar de agradecer também ao Dr. Edinaldo
Nelson Santos Silva, pelas aulas, oficinas e cursos do Biotupé que me ajudaram a entender
melhor essa vida de pesquisador e me prepararam para a prova do mestrado.
A Dra. Maria Teresa Fernandez Piedade, que aceitou o desafio de me orientar e
permitiu que eu continuasse trabalhando com os quintais urbanos, pois sem ela esse trabalho
não seria possível. Maite, muito obrigada por tudo, pela paciência, dedicação e
principalmente, pela orientação. Suas dicas e conselhos foram muito proveitosos e
influenciaram bastante essa nova etapa da minha vida. Obrigada por ser minha amiga e por
estar sempre presente e disposta em me aconselhar e me direcionar da melhor forma possível.
Aos amigos do curso de Botânica da turma de 2013 pela amizade e conversas
engraçadas e divertidas que fizeram parte da nossa história ao longo desses dois anos:
Alisson, Ednéia, Heloíde, Liane, Lívia, Lorena, Luciana, Marcos, Rafael, Sabrina, Samyra e
Semirian.
As secretárias do curso: Neide, Léia e Carminha. Meninas, obrigada pela disposição,
atendimento e educação durante esses dois anos.
Aos professores que ministraram disciplinas e compartilharam suas experiências e
conhecimentos comigo: Maria Teresa Fernandez Piedade, Charles Clement, Jean-Louis
Guillaumet, Charles Zartmann, Glenn Shepard, Ricardo A. Marenco, Mike Hopkins e Maria
Silvia de M. Queiroz.
vii
Aos membros da banca da qualificação, que me ajudaram com conselhos e dicas
oportunas para melhorar a estrutura do plano da dissertação: Dr. Ari Hidalgo, Dra. Josephina
Veiga e ao Dr. Valdely Kinupp.
Aos membros da banca da defesa: Dr. Charles Clement, Dra. Maria Christina de Mello
Amorozo e Dr. Valdely Kinupp.
Aos velhos amigos pela convivência, experiências e conquistas alcançadas: Rafa,
Luisa, Yuri, Lincoln, Pauline, Jheny e Marcos Melo.
Aos amigos do Max Planck: Heloide, Layon, Liane, Bianca, Aurélia, Kelvin, Beth,
Aline, Yuri e Rafael Assis. Obrigada pela ajuda, conversas e experiências compartilhadas.
Aos moradores dos bairros Cahoeirinha, Glória e Coroado que concordaram
cordialmente em participar da pesquisa, trocar experiência e compartilhar conhecimentos
comigo durante as entrevistas realizadas. Muito obrigada!
viii
RESUMO
Este trabalho objetivou obter informações sobre a riqueza, a diversidade de espécies, os
hábitos dos vegetais, a distribuição espacial das plantas e as práticas de manejo dos vegetais
nos quintais urbanos de Manaus. O primeiro capítulo trata da composição florística dos
quintais dos bairros Cachoeirinha, Glória e Coroado, onde foram encontradas 297 espécies em
52 quintais. O bairro Cachoeirinha, um dos mais antigos de Manaus foi o que apresentou
maior riqueza de espécies (234) seguido do Coroado (175) e da Glória (165). As espécies
presentes nos quintais foram classificadas em categorias de uso, sendo que a maioria é
cultivada por ser de uso ornamental. Os bairros estudados apresentam alta diversidade e
similaridade vegetal. Entretanto, existem espécies exclusivas em cada bairro. No segundo
capítulo é evidenciada a estrutura, o manejo e a importância dos quintais de Manaus. Foram
encontrados1416 indivíduos, onde a maioria dos vegetais cultivados é de hábito herbáceo. Foi
verificada uma diferença na riqueza de espécies vegetais cultivadas na frente e nos fundos dos
quintais, onde a maioria das espécies cultivadas na frente dos quintais é de uso ornamental,
enquanto que a maioria das espécies medicinais e alimentícias é cultivada nos fundos dos
quintais. A maioria das espécies encontradas nos quintais é exótica (60,47%). O manejo dos
vegetais ocorre com a rega diária, limpeza e adubação dos vegetais. Os quintais de Manaus
apresentam um importante papel cultural e social, e apesar de possuirem uma alta riqueza de
espécies vegetais, contribuem pouco para a biodiversidade nacional.
Palavras-chave: composição florística, diversidade, categorias de uso
ABSTRACT
This study aimed to obtain information about the richness, diversity of species, habit of the
plants, their spatial distribution and management practices of plants from urban homegardens
in Manaus. The first chapter deals with floristic composition of the homegardens in the
neighborhoodsof Cachoeirinha, Glória and Coroado, where 297 species were found in 52
homegardens. The Cachoeirinha neighborhood, one of the oldest in Manaus presented the
highest species richness (234) followed by Coroado (175) and Glória (165). The species
sampled in the homegardens were classified into categories of use, and most of them are
grown for ornamental purposes. The neighborhoods studied have high plant species diversity
and similarity. However, some species were exclusives of each neighborhoods. In the second
chapter it is shown the structure, management and importance of the homegardens in Manaus.
It was reported 1416 individuals, and most of these grown plants presented herbaceous habit.
A difference was observed in the richness of plant species grown in the front and in the back
part of the homegardens, where most of the species grown in the front part are of ornamental
use, whilethe majority of plants used for medicinal purposes and food are cultivated in the
back part of the homegardens. Most of the species found in the homegardensare exotics
(60.47%). The care of the plants occurs through daily watering, cleaning and fertilization. The
homegardens of Manaus have an important cultural and social role, and despite having a high
richness of plant species, contribute little to national biodiversity.
Key words: floristic composition, diversity, use categories
ix
SUMÁRIO
Lista de Figuras...........................................................................................................................x
Introdução Geral.........................................................................................................................1
Objetivo Geral............................................................................................................................5
Capítulo 1 - Composição florística de quintais urbanos em Manaus, Amazonas,
Brasil..........................................................................................................................................6
Resumo.......................................................................................................................................8
Abstract.......................................................................................................................................9
Introdução.................................................................................................................................10
Material e Métodos...................................................................................................................11
Resultados.................................................................................................................................14
Discussão..................................................................................................................................23
Conclusão..................................................................................................................................26
Bibliografia Citada....................................................................................................................28
Capítulo 2 – Estrutura, manejo e importância dos quintais de Manaus, Amazonas,
Brazil……................................................................................................................................35
Resumo......................................................................................................................................37
Abstract.....................................................................................................................................38
Introdução.................................................................................................................................39
Material e Métodos...................................................................................................................41
Resultados.................................................................................................................................44
Discussão..................................................................................................................................52
Conclusão..................................................................................................................................56
Bibliografia Citada....................................................................................................................57
Conclusão Geral........................................................................................................................64
Referências Bibliográficas........................................................................................................65
Apêndice 1 ...............................................................................................................................69
Anexo A – Questionário Socioeconômico................................................................................80
Anexo B – Questionário Etnobotânico.....................................................................................81
Anexo C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................................82
Anexo D – Termo de responsabilidade do pesquisador...........................................................83
Anexo E – Ata de Qualificação...............................................................................................84
Anexo F – Ata de Defesa.........................................................................................................85
x
Lista de figuras do Capítulo 1
Figura 1. Localização de Manaus e dos três bairros estudados. Mapa elaborado por Aline
Lopes.........................................................................................................................................12
Figura 1. Curva de acumulação de espécies nos bairros Cachoeirinha, Glória, Coroado e
total............................................................................................................................................15
Figura 2. Correlação entre a idade dos quintais estudados e número de espécies em cada
quintal........................................................................................................................................16
Figura 4. Categorias de uso em número de espécies por bairro estudado................................19
Lista de figuras do Capítulo 2
Figura 1. Localização de Manaus e dos três bairros estudados. Mapa elaborado por Aline
Lopes.........................................................................................................................................41
Figura 2. Hábito das espécies encontradas nos quintais urbanos de Manaus (n = 52
quintais)...................................................................................................................................45
Figura 3. Diferença entre quintais de frente e de fundo, em número de indivíduos nos bairros
Cachoeirinha, Glória e Coroado de Manaus, Amazonas, Brasil...............................................47
Figura 4. Diferença entre quintais de frente e de fundos, em número de indivíduos, por
categoria de uso nos bairros estudados.....................................................................................48
Figura 5. Formas de obtenção dos propágulos e das espécies cultivadas nos quintais urbanos
de Manaus (n=52).....................................................................................................................49
1
INTRODUÇÃO GERAL
As relações existentes entre o homem e o mundo natural são muito importantes e há
muito tempo passaram a ser estudadas. Por esta razão, é possível observar uma crescente
preocupação com as formas de classificação do mundo natural atribuídas pelo homem, tanto
na nomenclatura de espécies animais quanto àquela de espécies vegetais, geralmente bastante
semelhantes à nomenclatura científica (Bartlett 1940). Essas classificações refletem, em
grande parte, a maneira como o homem enxerga, organiza e utiliza os recursos naturais
disponíveis no ambiente, e podem ser encontradas em diversas pesquisas etnobiológicas
(Ellen 1979; Kay e Kempton 1984; Shepard 2004; Shepard et al. 2004).
Um bom exemplo pode ser encontrado no estudo realizado por Shepard (2004), em
duas comunidades indígenas da Amazônia Peruana, os Matsigenka e os Yora, que utilizam as
plantas para a cura de suas doenças. Apesar da relativa proximidade entre as comunidades
estudadas, a seleção das plantas se mostrou intimamente relacionada à cultura de cada
comunidade. Os Matsigenka, muito mais reservados nas emoções e na dor, preferem utilizar
plantas amargas por via oral, enquanto os Yora, que expressam dor física e emocional de
forma exagerada e melodramática, preferem administrar as plantas, principalmente, na forma
de compressa morna.
Posey (1987) define a etnobiologia como o “estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. É o estudo do
papel da natureza no sistema de crenças e adaptações do homem a determinados ambientes.
Nesse sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia humana, porém, enfatiza as
categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos estudados”.
Assim, as pesquisas etnobiológicas são muito importantes, pois visam o resgate e o
registro dos saberes e práticas locais sobre a biodiversidade, servindo como testemunho da
diversidade cultural humana (Albuquerque 2005). Por buscar entender como os homens
classificam a natureza, em especial os organismos, a etnobiologia utiliza disciplinas como a
botânica, a zoologia e a ecologia, sendo a etnobotânica a área que mais tem concentrado
estudos em etnobiologia (Begossi 1993).
O termo “etnobotânica” foi publicado pela primeira vez em 1895 pelo botânico John
W. Harshberger (Hamilton et al. 2003), sendo aetnobotânica definida como o “estudo das
interrelações diretas entre seres humanos e plantas” (Ford 1978). É considerada uma
disciplina científica que estuda e interpreta a história das plantas nas sociedades antigas e
atuais (Fonseca-Kruel e Pereira 2009). O enfoque de cada trabalho em etnobotânica varia de
2
acordo a região estudada, entretanto, este ramo do conhecimento abrange, de forma
contextualizada, o estudo das inter-relações entre plantas e seres humanos inseridos em
ecossistemas dinâmicos com componentes naturais, culturais, sociais, políticos, biológicos, e
ecológicos, abordando o conhecimento local e aquele relacionado com o uso e a conservação
dos recursos naturais (Oliveira et al. 2009; Alcorn 1995).
Nas últimas décadas a pesquisa etnobotânica cresceu consideravelmente, em especial
na América Latina, em países como o México, a Colômbia e o Brasil, sendo o México o país
com maior número de publicações em revistas científicas internacionais. Esse crescimento se
deve, em parte, à atuação do Grupo Etnobotânico Latino Americano (GELA) (Hamiltonet al.
2003; Fonseca-Kruele Pereira 2009). No Brasil a etnobotânica é promissora, pois o país
apresenta uma grande diversidade biológica e cultural, com cerca de 231 povos indígenas,
além dos povos não indígenas (Diegues et al. 2000; Fonseca-Kruel e Pereira 2009).
Em todo mundo, os quintais (em inglês: homegarden, housegarden; em espanhol:
huerto, solar) vêm despertando o interesse dos pesquisadores, pois são áreas localizadas ao
redor das casas, onde geralmente ocorre o uso da terra para o plantio (Albuquerque 2005). O
quintal é considerado um espaço muito importante para a pesquisa etnobotânica, pois sua
utilização para o cultivo de frutíferas, hortaliças e plantas medicinais conserva os recursos
genéticos vegetais e a riqueza cultural (Pasa et al. 2005). Este conhecimento fundamentado no
saber dos moradores locais promove a reciclagem de elementos naturais e ocasiona impactos
mínimos sobre o ambiente, além de resultar na baixa dependência da população de produtos
adquiridos externamente. Ao mesmo tempo, os quintais fortalecem os vínculos sociais da
comunidade, pois esses espaços podem ser utilizados para atividades sociais, como rezas,
festas e lazer.
O quintal pode ser definido como a área ao redor da residência onde são cultivadas
várias espécies de plantas para fins medicinais, ornamentais, alimentícios e condimentares. É
um espaço de usos múltiplos, onde ocorrem à socialização e as trocas de mudas de plantas de
interesse para a população, o que contribui bastante para a conservação do germoplasma.
Além disso, cada quintal é único e apresenta sua fisionomia e composição florística
diversificada, refletindo a influência, história, interesses e necessidades dos proprietários
(Amorozo 2006). Desta forma, a área do quintal e as plantas nele presentes podem variar em
função da condição econômica que a família tem em estabelecer a parte construída, do
tamanho do terreno dos proprietários e do tempo de moradia na residência.
Muito mais do que meras porções de terra, os quintais urbanos são espaços sociais que
reduzem a situação de precariedade dos moradores de áreas urbanas e contribuem para
3
amenizar os efeitos negativos da artificialização e da verticalização do ambiente. O quintal no
ambiente urbano é ainda um espaço social e cultural, onde se mantém uma grande variedade
de plantas que são utilizadas de forma sustentável, garantindo assim sua preservação nestes
espaços (Novais et al. 2011).
O hábito de cultivar plantas nos quintais urbanos ajuda na obtenção de um microclima
mais agradável, na conservação do solo, na reciclagem de nutrientes, na limpeza de áreas que
poderiam ser utilizadas para depósito de lixo, no controle da proliferação de vetores de
doenças e na conscientização dos moradores de áreas urbanas (Machado e Machado 2002).
Os quintais urbanos podem também permitir a obtenção de informações etnobotânicas
relevantes a respeito dos múltiplos usos que a população faz dos vegetais presentes nesse
espaço. O uso da vegetação e sua escolha na composição dos quintais urbanos podem ser
complexos, pois dificilmente uma planta é exclusiva de uma categoria de uso, podendo
frequentemente uma mesma espécie ter vários usos, como é o caso do bacupari [Garcinia
gardneriana (Plach & Triana) Zappi], espécie que pode ser tanto de uso medicinal quanto
alimentício (Hanazaki 2001).
O cultivo de plantas de uso medicinal e alimentício em quintais urbanos é uma prática
mais comum entre as camadas mais carentes da população, que podem obter frutíferas e
hortaliças diretamente da produção de seus quintais, ou via troca com vizinhos e familiares, o
que contribui para a sobrevivência da família em centros urbanos (Amorozo 2006; Sivieiro et
al. 2011).
A diversidade vegetal encontrada nos quintais urbanos (Siviero et al. 2011;
WinklerPrins e Olivera 2010; Eichemberg et al. 2009) pode ser considerada uma fonte de
variabilidade genética que vem sendo acumulada pelas populações locais, uma vez que esses
espaços abrigam algumas espécies vegetais que já não são cultivadas pela agricultura
moderna e, desta forma, os quintais urbanos acabam se tornando um patrimônio de recursos
genéticos vegetais (Eichemberg et al. 2009). Entretanto, a perda do contato com a terra e do
hábito de plantar e, consequentemente, a perda do conhecimento sobre as plantas e seus usos,
contribuem para as grandes diferenças existentes entre quintais rurais e urbanos (Moura e
Andrade 2007).
Em áreas urbanas, os quintais estão se tornando cada vez mais raros e são, para grande
parte da população, a fonte mais próxima com a natureza. Por esta razão, a etnobotânica tem
dedicado atenção particular para a conservação da biodiversidade dos quintais em áreas
urbanas (Eichemberg et al. 2009). Portanto, é importante resgatar o conhecimento que as
populações detêm sobre a flora nativa ou exótica presente em seus quintais, pois estes estudos
4
representam uma maneira de registrar um aprendizado informal, que na maioria das vezes é
transmitido oralmente, de geração a geração e, portanto, pode se perder fácil e rapidamente
(Diegues et al. 2000). Pasa et al. (2005) também alertam sobre a necessidade de “resgatar o
conhecimento que as populações detêm sobre o uso dos recursos naturais”, em diferentes
culturas, antes que os mesmos se percam.
Os diversos usos das espécies vegetais presentes nos quintais urbanos podem ser
evidenciados por meio dos levantamentos realizados em diferentes localidades do Brasil,
como no Mato Grosso (Amara e Guarim Neto 2008), no Pará (WinklerPrins e Oliveira 2010)
e no Acre (Siviero et al. 2011). Entretanto, alguns estudos realizados mostram que a maioria
das plantas cultivadas nas cidades é de uso ornamental, conforme os levantamentos realizados
em Pernambuco (Moura e Andrade 2007), em São Paulo (Eichemberg et al. 2009) e também
no Mato Grosso (Silva et al. 2008; Castro et al. 2011).
No Estado do Amazonas o deslocamento rural-urbano especialmente para Manaus foi
muito rápido, pois as populações rurais, em busca de educação, saúde, e melhor qualidade de
vida, procuraram cada vez mais à capital, principalmente após a criação da Zona Franca de
Manaus (Amorozo 1981). Por ser uma cidade situada no meio da Floresta Amazônica,
Manaus ainda apresenta fragmentos florestais no ambiente urbano, estes, porém, têm
diminuído gradativamente diante do crescente aumento populacional. Apenas no período de
1985 a 1999, a perda de áreas verdes em Manaus foi de aproximadamente 9.500 ha (Jardim
Lima e Nelson 2003), enquanto que a população triplicou de 1980 a 2010, sendo atualmente
da ordem de 1.802.014 habitantes (IBGE 2010).
Por esta razão, a cidade vive permanentemente as contradições entre a presença
humana, a necessidade do desenvolvimento econômico e a preservação ambiental (Schor e
Alves-Gomes 2011). Além disso, considerando as dimensões e a dinâmica de crescimento de
Manaus, os estudos realizados sobre a composição das espécies vegetais e seus usos nos
quintais urbanos da cidade ainda podem ser considerados muito modestos (Veiga et al. 2007;
Cruz et al. 2012).
5
OBJETIVO GERAL:
Realizar o levantamento das espécies vegetais presentes nos quintais urbanos dos
bairros Cachoeirinha, Glória e Coroado.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Verificar a composição florística e a utilidade dos vegetais presentes nos quintais
estudados;
Veirificar o hábito de vida, a origem geográfica das espécies e a forma de manejo dos
quintais estudados.
6
Capítulo 1
___________________________________________________________________________
Manuscrito formatado para a revista Acta Amazonica
7
Composição florística de quintais urbanos em Manaus, Amazonas, Brasil
Floristic composition of urban homegardens in Manaus, Amazon, Brazil
Diana Nunes de OLIVEIRA1*, Veridiana Vizoni SCUDELLER
2, Maria Teresa Fernandez
PIEDADE3
1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Programa de Pós-graduação em Botânica. Av.
André Araújo 2.936, Aleixo CEP: 69060-001, Manaus, Amazonas, Brasil.
2Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Ciências Biológicas, Programa de Pós-
graduação em Diversidade Biológica. Av. Gen. Rodrigo Octávio 3000, Coroado I, CEP:
69077-000, Manaus, AM, Brasil.
3Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Programa de Pós-graduação em Botânica,
Grupo de ecologia, monitoramento e uso sustentável de áereas úmidas. Av. André Araújo
2.936, Aleixo CEP: 69060-001, Manaus, Amazonas, Brasil.
*Corresponding author: [email protected]
8
Composição florística de quintais urbanos em Manaus, Amazonas, Brasil
Resumo
O quintal é considerado um espaço muito importante para conservação dos recursos genéticos
vegetais e da riqueza cultural de um local, por ser utilizado para o cultivo de frutíferas,
hortaliças, plantas medicinais e ornamentais. É também muito utilizado na obtenção de
informações etnobotânicas, pois através dele pode-se verificar a relação das pessoas com as
plantas cultivadas. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi realizar o levantamento da riqueza
de espécies vegetais e seus usos em quintais urbanos dos bairros Cachoeirinha, Glória e
Coroado, no município de Manaus, Amazonas. Os dados foram obtidos por meio de
entrevistas semiestruturadas aos moradores de 52 residências selecionadas intencionalmente,
por apresentar vegetação aparente. Levantou-se um total de 297 espécies, 200 gêneros e 76
famílias botânicas. O bairro Cachoeirinha foi o que apresentou maior riqueza de espécies
(234), seguido do Coroado (175) e da Glória (165). As espécies foram agrupadas em
categorias de uso, sendo a ornamental a mais representativa com 215 espécies, seguida da
medicinal (61 espécies) e do uso alimentício (59). O índice de Shannon-Wiener detectou uma
alta diversidade de espécies em cada bairro e também considerando os três bairros juntos (H’=
5,20 nats). O coeficiente de similaridade florística de Jaccard (Sj) mostrou que os bairros mais
similares foram Glória e Coroado (Sj = 0,81). Apesar da categoria ornamental ser a mais
representativa, pode-se notar que nos quintais estudados ainda se conserva uma alta
diversidade de espécies úteis que contribuem na alimentação e na medicina caseira.
Palavras-chave: etnobotânica, categorias de uso, diversidade de espécies
9
Floristic composition of urban homegardens in Manaus, Amazon, Brazil
Abstract
The homegarden is considered a very important space for conservation of plant genetic
resources and the cultural richness of a site, to be used for fruit trees, vegetables, medicinal
and ornamental plants cultivation. It is also widely used in obtaining ethnobotanical
information, because through it, one can see the relationship of people with cultivated plants.
Thus, the aim of this study was to survey the richness of plants and their uses in urban
homegardens of Cachoeirinha, Glória and Coroado neighborhoods in the city of Manaus,
Amazonas. Data were collected through semi-structured interviews with residents of 52
homes selected intentionally, to its apparent vegetation. Rose a total of 297 species, 200
genera and 76 botanical families. The Cachoeirinha neighborhoods showed the highest
species richness (234), followed by Coroado (175) and Gloria (165). The species were
grouped in ethnocategories of use, being ornamental use the most representative with 215
species, followed by medical (61 species) and food use (59). The Shannon-Wiener index
detected a high diversity of species in each neighborhoods and also considering the three
neighborhoods together (H' = 5.20 nats). The floristic similarity coefficient of Jaccard (Sj)
showed that the most similar neighborhoods were Coroado and Gloria (Sj = 0.81). Although
the ornamental category is the most representative, it may be noted that the studied
homegardens still retains a high diversity of useful species which contribute in food and folk
medicine.
Keywords: ethnobotany, use categories, diversity of species
10
INTRODUÇÃO
As relações entre as comunidades humanas com o reino vegetal são bastante
complexas e podem ser consideradas a partir de várias perspectivas. Uma delas é a
etnobotânica, que estuda e interpreta as relações entre seres humanos e plantas nas sociedades
antigas e atuais (Amorozo 2002; Fonseca Kruel e Pereira 2005).
Em todo o mundo, mas principalmente na América Latina, em países como o México,
a Colômbia e o Brasil, os quintais vêm despertando o interesse dos pesquisadores (Hamilton
et al. 2003), pois são áreas localizadas ao redor das casas, onde geralmente ocorre o uso da
terra para o cultivo de plantas úteis como frutíferas, hortaliças, plantas medicinais e
ornamentais.
O quintal é um importante local onde se expressam a cultura e a relação das pessoas
com as plantas, e que pode contribuir para a conservação dos recursos genéticos vegetais e a
riqueza cultural (Pasa et al. 2005). No ambiente urbano o quintal é ainda um espaço social e
cultural, onde se mantém uma grande variedade de plantas que são utilizadas para os mais
diversos fins (Novais et al. 2011).
Estudos etnobotânicos têm muito a contribuir com o desenvolvimento da região onde
os dados são coletados, pois levam ao conhecimento das espécies que são utilizadas pelas
populações e podem servir como instrumento para estabelecer estratégias de utilização,
conservação e manejo dessas espécies (Begossi 1996). Por esta razão, a etnobotânica tem
dedicado atenção particular para a conservação da biodiversidade dos quintais em áreas
urbanas (Eichemberg et al. 2009).
O deslocamento rural-urbano da Amazônia, especialmente para Manaus foi muito
rápido, pois as populações rurais, em busca de educação, saúde, e melhor qualidade de vida,
procuraram cada vez mais a capital, principalmente após a criação da Zona Franca de Manaus
11
(Amorozo 1981). No entanto, as pesquisas em etnobotânica no Estado do Amazonas se
concentram na área rural com comunidades tradicionais (Souza e Scudeller 2011; Veiga e
Scudeller 2011; Vásquez et al. 2014) e, por esta razão, os estudos realizados sobre a
composição das espécies vegetais e seus usos nos quintais urbanos ainda podem ser
considerados muito modestos (Veiga et al. 2007; Emperaire e Eloy 2008).
Por esta razão, o objetivo deste estudo foi realizar o levantamento das espécies
vegetais presentes nos quintais urbanos dos bairros Cachoeirinha, Glória e Coroado,
classificar as espécies em categorias de uso, calcular e analisar a diversidade e a similaridade
vegetal dos bairros estudados.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
Manaus é a capital do Estado do Amazonas (Figura 1) e está localizada na região
Norte do Brasil, à margem esquerda do rio Negro (SEPLAN 2007). É uma cidade
geograficamente inserida no centro da floresta tropical amazônica que ainda apresenta
fragmentos florestais no ambiente urbano, estes, porém, têm diminuído gradativamente diante
do crescente aumento populacional (Jardim-Lima e Nelson 2003).
O clima de Manaus é equatorial quente úmido, com o período chuvoso de novembro a
abril e temperatura média de 26° C. A cidade tem uma área de 11.401 Km² e quase dois
milhões de habitantes, sendo composta por 56 bairros, distribuídos em seis zonas (SEPLAN
2007; IBGE 2010).
A seleção dos bairros para a realização deste estudo obedeceu aos seguintes critérios:
1) estarem localizados em diferentes zonas na área urbana da cidade de Manaus; 2) terem sido
fundados em diferentes épocas.
12
Desta forma, foram selecionados três bairros: Cachoeirinha, um dos mais antigos de
Manaus, localizado na zona Sul da cidade e fundado em 1892, com aproximadamente 17.000
habitantes (Mingos 2010; IBGE 2010); o bairro da Glória, localizado na zona Oeste de
Manaus e fundado em 1953, apresentando aproximadamente 9.000 habitantes (Jornal do
Comércio 2012); e o bairro do Coroado, localizado na zona Leste de Manaus, fundado em
1968, com aproximadamente 44.000 habitantes (Santos 2010).
Figura 1. Localização de Manaus e dos três bairros estudados. Mapa elaborado por Aline Lopes.
Coleta e análise dos dados
Por se tratar de uma pesquisa na área urbana, onde nem todas as casas possuem quintal
com plantas, as casas foram selecionadas intencionalmente, desde que apresentassem
13
vegetação aparente na área externa da casa, seja na frente, nas laterais ou nos fundos da
residência, independentemente de serem cultivadas em vasos ou diretamente no solo.
O levantamento dos dados ocorreu de maio a novembro de 2014, por meio de
entrevistas com utilização de questionários contendo perguntas abertas e fechadas (Anexos A
e B), realizado preferencialmente com os moradores responsáveis pelos cuidados com os
quintais, permitindo a eles a liberdade de falar de sua vida e de suas plantas. O projeto de
pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (CEP-INPA), conforme o parecer 504.358 em
31/12/2013. Antes da realização de cada entrevista e da coleta de dados, foi apresentado a
cada informante e firmado seu consentimentono Termo de Consentimento Livre Esclarecido
(TCLE) (Anexo C).
Durante a entrevista foi realizada uma turnê-guiada para verificar o cultivo das plantas
citadas e validar os nomes vernaculares (Albuquerque e Lucena, 2004). Além disso, todas as
espécies foram fotografadas e quando o morador da residência permitia eram coletadas. As
plantas coletadas foram depositadas no Herbário INPA.
A identificação do material botânico foi realizada com o auxílio de literatura botânica
especializada (Lorenzi e Matos 2008; Souza e Lorenzi 2012; Lorenzi 2013), consulta ao
Herbário Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e por meio das bases de dados
Tropicos, do Missouri Botanical Garden, versão on-line, disponível em
http://www.tropicos.org, onde também foi confirmada a nomenclatura científica. Após a
identificação, as espécies foram agrupadas pelas autoras em categorias de uso.
Para estimar a diversidade do uso dos recursos vegetais presentes nos quintais, foi
utilizado o índice de Shannon-Wiener (H’= - Σpilnpi) total e por categoria de uso (Begossi
1996). Para avaliar o grau de semelhança dos recursos vegetais presentes nos quintais dos
diferentes bairros, foi calculado o coeficiente de similaridade de Jaccard (Sj = a/(a+b+c)). Em
14
etnobotânica, índices de similaridade vêm sendo utilizados para comparar a similaridade de
espécies úteis entre áreas. Para isso, as constantes a, b e c passam a ser consideradas as
espécies utilizadas pela comunidade local (Araújo e Ferraz 2008). E para avaliar o esforço
amostral e a correlação entre a idade dos quintais estudados com as plantas neles presentes,
foram utilizados respectivamente, o programa R e a correlação de Pearson.
RESULTADOS
Fitodiversidade nos três bairros
Foram realizadas 52 entrevistas semiestruturadas com os moradores dos bairros
Cachoeirinha, Glória e Coroado, tendo sido encontrado um total de 297 espécies, 200 gêneros
e 76 famílias botânicas (Apêndice 1). Considerando-se os bairros individualmente, o maior
número de espécies cultivadas foi encontrado no bairro da Cachoeirinha com 234 espécies,
seguido do Coroado com 175 espécies, e da Glória com 165 espécies cultivadas nos quintais.
No entanto, com relação ao esforço amostral de cada bairro, foi verificado que nos bairros
Cachoeirinha e Coroado onde foram realizadas 20 entrevistas em cada bairro, há uma forte
tendência a estabilização da curva do coletor, enquanto que na Glória onde foram realizadas
apenas 12 entrevistas, ainda há tendência de crescimento da curva do coletor (Figura 2). Esse
menor número amostral no bairro Glória, resultou da desocupação de várias casas construídas
às margens do rio Negro, devido ao PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés
de Manaus), componente do PAC 2 (www.pac.gov.br). Diante disso, alguns moradores não
foram encontrados em suas residências e outros se recusaram a participar da pesquisa, por
temerem que o trabalho fizesse parte de algum levantamento visando à sua remoção da área.
15
Figura 2. Curva de acumulação de espécies nos bairros Cachoeirinha, Glória, Coroado e Total.
A maior variação na riqueza de espécies por quintal foi encontrada no bairro da
Cachoerinha, seguido do Coroado e da Glória. Entretanto, comparando-se a média de espécies
por quintal, a maior média foi encontrada no bairro Glória (13,75), seguido da Cachoeirinha
(11,7) e do Coroado (8,75). E comparando-se a média da idade dos quintais, os mais antigos
também foram encontrados na Glória (24, 5 anos), seguido da Cachoeirinha (23, 2 anos) e do
Coroado (19, 4 anos). Contudo, foi possível verificar uma tendência de quintais mais antigos
apresentarem mais espécies em relação aos quintais mais jovens (Figura 3).
16
Figura 3. Correlação entre a idade dos quintais estudados e número de espécies em cada quintal.
Com relação ao perfil socioeconômico dos moradores entrevistados de cada bairro, a
maioria foi do sexo feminino, tendo sido o universo de entrevistados no Coroado composto
exclusivamente por mulheres. O entrevistado mais idoso (86 anos) foi encontrado no Coroado
e o mais jovem (21 anos) na Glória, contudo, a média dos moradores mais idosos é da
Cachoeirinha (63,1 anos), onde também foi encontrada a maior porcentagem de aposentados
(65%).
O bairro Cachoeirinha apresentou o maior número de entrevistados naturais do estado
do Amazonas, seguido do Coroado e da Glória. O bairro da Glória foi aquele com a maior
porcentagem de pessoas com ensino médio completo (41,7%) e também com a maior
porcentagem de renda familiar acima de 3 salários mínimos (33,3%), seguido da Cachoeirinha
(25%), enquanto que no Coroado foi encontrada a menor porcentagem de entrevistados que
Idade do quintal (anos)
Esp
écie
s
17
concluíram o ensino médio (20%) e também a maior porcentagem de moradores com renda
até 3 salários mínimos (95%), ou seja, no Coroado os moradores possuem baixa escolaridade
e baixa renda familiar mensal.
Nos três bairros, as mulheres representaram a maioria dos entrevistados, sendo 48
(92,3%) mulheres e apenas 4 (7,7%) homens. A média geral de idade dos entrevistados foi de
61,5 anos. Dos 52 entrevistados, apenas 5 (9,6%) são do Nordeste (Ceará, Maranhão e Rio
Grande do Norte), e 47 (90,4%) são da região Norte, destes últimos, a maioria é do Estado do
Amazonas, 41 (78,8%), embora também tenham sido entrevistados moradores naturais do
Acre, do Pará, e de Rondônia. O Coroado foi o bairro mais diversificado quanto à
naturalidade dos informantes.
A maioria dos entrevistados não concluiu a educação básica, uma vez que 37 (71,2%)
moradores não possuem o ensino médio completo e apenas 15 (28,8%) concluíram. Embora a
ocupação tenha variado, a metade dos entrevistados, 26 (50%) é aposentada. A renda familiar
mensal é baixa para a maioria, pois 42 (80,8%) dos entrevistados recebem até 3 salários
mínimos e apenas 10 (19,2%) acima disso (Tabela 1).
Tabela 1. Informações dos quintais dos bairros estudados e perfil socioeconômico dos
moradores entrevistados.
Cachoeirinha Glória Coroado
Informações dos
quintais/bairros
Quintais estudados 20 12 20
Riqueza de espécies 234 165 175
Gêneros 160 128 130
Famílias botânicas 70 66 64
Variação de espécies
por quintal 6 a 72 9 a 56 9 a 62
Média de espécies
por quintal 11,7 13,75 8,75
Variação na idade
dos quintais 1 a 79 anos 1 a 60 anos 1 a 50 anos
Média da idade dos
quintais 23,25 anos 24,5 anos 19,4 anos
18
Perfil
socioeconômico dos
entrevistados
Sexo
19 (95%) - feminino
1 (5%) - masculino
9 (75%) - feminino
3 (25%) – masculino 20 (100%) – feminino
Variação na idade 39 a 80 anos 21 a 85 anos 39 a 86 anos
Idade média dos
entrevistados 63,1 anos 57,3 anos 62,6 anos
Origem 16 (80%) - Amazonas
4 (20%) - outros estados
11 (91,7%) - Amazonas
1 (8,3%) - Rio Grande do
Norte
14 (70%) - Amazonas
6 (30%) - outros estados
Nível de escolaridade
14 (70%) - médio
incompleto e 6 (30%) -
médio completo
7 (58,3%) - médio incompleto
5 (41,7%) - médio completo
16 (80%) - médio
incompleto e 4 (20%) -
médio completo
Profissão/ocupação 13 (65%) aposentados
7 (35%) outras ocupações
3 (25%) - aposentados
9 (75%) - outras ocupações
10 (50%) - aposentados
10 (50%) - outras ocupações
Renda
15 (75%) - até 3 salários
5 (25%) - acima de 3
salários
8 (66,7%) - até 3 salários
4 (33,3%) - acima de 3
salários
19 (95%) - até 3 salários
1 (5%) - acima de 3 salários
As categorias de uso apontadas pelos entrevistados foram similares na Cachoeirinha e
no Coroado, tendo sido citadas nesses bairros as categorias ornamental, medicinal,
alimentício, místico, sombra e renda. Entretanto, no bairro da Glória as categorias de uso
místico e renda não foram citadas. A Cachoeirinha apresentou a maior representatividade de
espécies em quase todas as categorias de uso, com exceção da categoria de uso renda, que foi
mais bem representada pelo Coroado. Nos bairros estudados a categoria mais representativa
foi a ornamental, seguida da medicinal e do uso alimentício, entretanto, apenas na
Cachoeirinha as categorias de uso alimentício e medicinal tiveram o mesmo número de
espécies (Figura 4).
As famílias botânicas com maior riqueza de espécies foram: Araceae (17),
Acanthaceae (14), Apocynaceae (13), Arecaceae (13), Lamiaceae (12), Asparagaceae e
Euphorbiaceae com 11 espécies cada. Acanthaceae, Apocynaceae, Araceae, Asparagaceae e
Euphorbiaceae são em geral cultivadas por suas espécies ornamentais, enquanto que
Arecaceae e Lamiaceae são cultivadas por suas espécies alimentícias e medicinais,
respectivamente.
19
Figura 4. Categorias de uso em número de espécies por bairro estudado.
As 297 espécies encontradas foram organizadas em categorias de uso, das quais a
categoria com maior representatividade foi a ornamental com 215 espécies (72,3%), seguida
da medicinal com 61 (20,5%), do uso alimentício com 59 (19,8%), renda com 28 (9,4%),
sombra com 26 (8,7%) e do uso místico com 7 espécies (2,3%).
As espécies ornamentais geralmente estão dispostas na frente e na lateral da casa e são
cultivadas por sua beleza, pelo colorido de suas folhas e flores e, segundo o relato dos
moradores, elas são responsáveis por deixar a casa visualmente mais bonita e enfeitada. As
espécies ornamentais mais frequentes nos quintais estudados foram: icsória (Ixora coccinea
L) presente em 35 quintais, cajado-de-são-josé (Plumeria pudica Jacq) presente em 29
quintais, espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain) presente em 27 quintais e boa-
noite (Catharanthus roseus (L.) G. Don) presente em 26 quintais.
As espécies medicinais cultivadas nos quintais são utilizadas para sanar problemas
digestivos, resfriados, gripes e sinusites, queimaduras, anemia, problemas nos rins,
inflamações, para banho em crianças e como calmante. Geralmente a folha é a parte da planta
20
mais utilizada na preparação de remédios caseiros, no entanto, também foi citado o uso das
raízes e dos frutos. As formas de utilização das plantas medicinais foram: preparação de chás,
lambedor e xaropes, garrafadas, folhas maceradas para aplicação na pele, inalações, tinturas e
pó. As espécies mais frequentes na categoria medicinal foram: babosa (Aloe vera (L.) Burm.
f) com 23 citações, corama (Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken) com 21 citações, capeba
(Piper peltatum L) e malvarisco (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng) com 18 citações
cada.
As espécies citadas na categoria alimentícia são utilizadas para fazer chocolates,
doces, consumir in natura, na forma de sucos, chás, como condimentos e temperos na
preparação de refeições. As espécies mais frequentes foram: mamão (Carica papaya L) com
22 citações, goiaba (Psidium guajava L) com 16 citações, acerola (Malpighia emarginata
DC) e manga (Mangifera indica L) com 13 citações cada.
Algumas espécies alimentícias também são utilizadas para dar sombra, como as
mangueiras (Mangifera indica L), as caramboleiras (Averrhoa carambola L), os abiuzeiros
(Pouteria caimito (Ruiz & Pav) Radlk), as goiabeiras (Psidium guajava L), os cajueiros
(Anacardium occidentale L), os cacaueiros (Theobroma cacao L), as bananeiras (Musa x
paradisiaca L) e os abacateiros (Persea americana Mill).
Entre as espécies citadas para a geração da renda familiar estão as mangueiras
(Mangifera indica L), as pitombeiras (Talisia esculenta (A. St. Hil.) Radlk) e os abiuzeiros
(Pouteria caimito (Ruiz & Pav) Radlk), frutíferas que são comercializadas em feiras, vendidas
aos vizinhos e também contribuem para a dieta familiar. Contudo, algumas espécies
medicinais como o none (Morinda citrifolia L), o crajiru (Fridericia chica (Bonpl.) L. G.
Lohmann), e a mangarataia (Zingiber officinale Roscoe) também são comercializadas
contribuindo para a geração de renda.
21
As 7 espécies citadas para uso místico foram: comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia
amoena Bull), árvore-da-felicidade (Polyscias fruticosa (L.) Harms), chama-dinheiro
(Dracaena godseffiana Hort), espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain), espada-de-
são-jorge (Sansevieria cylindrica Bojer), pião-roxo (Jatropha gossypiifolia L) e pião-branco
(Jatropha curcas L). Estas espécies geralmente são cultivadas na frente da residência, pois
são atribuídos a elas poderes para atrair marido, chamar dinheiro e também proteger contra
mau olhado.
Algumas espécies apresentaram múltiplas funções como, por exemplo, a mangueira
(Mangifera indica L) cultivada por sua utilidade alimentícia, medicinal, para sombreamento e
renda; o urucum (Bixa orellana L), a goiaba (Psidium guajava L) e o cacau (Theobroma
cacao L) utilizados na alimentação, na medicina popular e também para sombreamento; a
canela (Cinnamomum zeylanicum Blume) utilizada na alimentação, na ornamentação e para
sombreamento e o abiu (Pouteria caimito (Ruiz & Pav) Radlk) útil por suas funções
alimentícias, geração de renda e sombreamento.
Da mesma forma como uma mesma planta pode apresentar vários usos, o nome
popular de uma planta pode ser utilizado para designar várias espécies diferentes, inclusive de
distintas famílias botânicas, por exemplo, foi utilizado o termo roseira para designar espécies
de plantas que dão flor, como Ruellia simplex C. Wright (Acanthaceae) e Rosa x grandiflora
Hort (Rosaceae); e boldo para espécies utilizadas na medicina popular como Vernonia
condensata Baker (Asteraceae), Plectranthus barbatus Andrews e Plectranthus ornatus Codd
(Lamiaceae).
22
Diversidade vegetal nos bairros estudados
Os bairros estudados apresentaram uma alta diversidade presente nos quintais.
Entretanto, o bairro com maior diversidade geral foi o da Cachoeirinha, seguido da Glória e
do Coroado (Tabela 2).
Tabela 2. Índice de Shannon-Wiener (H’ – nats) para os bairros Cachoeirinha, Glória e
Coroado.
Cachoeirinha Glória Coroado
Riqueza de espécies 234 165 175
Citações 620 300 496
H' Geral 5,13 4,91 4,84
H’ Ornamental 4,84 4,53 4,36
H’ Alimentício 3,53 3,30 3,22
H’ Medicinal 3,49 3,22 3,44
Similaridade vegetal entre os bairros
Para avaliar a semelhança florística, no que diz respeito à presença/ausência de
espécies vegetais entre os quintais estudados foi utilizado o coeficiente de similaridade de
Jaccard. Das 297 espécies levantadas nos quintais estudados nos três bairros, 234 ocorrem nos
bairros Glória e Coroado (Sj= 0,81), 265 nos bairros Cachoeirinha e Coroado (Sj=0,75), 275
ocorreram nos bairros Cachoeirinha e Glória (Sj= 0,74). Os resultados do coeficiente de
similaridade florística de Jaccard (Sj) indicam que há uma alta similaridade florística entre os
quintais dos bairros estudados, principalmente entre os bairros Glória e Coroado.
Entretanto, apesar da similaridade entre os quintais estudados, cada bairro apresenta
uma estrutura vegetal que pode ser considerada única, em virtude das espécies exclusivas que
ocorrem em seus quintais. Das espécies levantadas, 63 ocorrem exclusivamente no bairro
23
Cachoeirinha, entre elas o biribá (Annona mucosa Jacq), a ata (Annona squamosa L), o
tucumã (Astrocaryum aculeatum G. Mey), o açaí (Euterpe oleracea Mart), o cará-roxo
(Dioscorea trifida L. f), a macaxeira (Manihot esculenta Crantz) e o limão-caiano (Averrrhoa
bilimbi L); 32 espécies são exclusivas do bairro Glória, como a bacaca (Oenocarpus bacaba
Mart), o jambu (Acmella oleracea (L.) R. K. Jansen), a couve (Brassica oleracea L), o jucá
(Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz) e o jenipapo (Genipa americana L); e 22
foram encontradas apenas no Coroado, entre elas o sabugueiro (Sambucus australis Cham. &
Schltdl), o cipó-alho (Mansoa alliacea (Lam.) A. H. Gentry), a tamarina (Tamarindus indica
L), a tangerina (Citrus reticulata Blanco) e a parreira (Vitis vinifera L), esta última,
recentemente introduzida no bairro.
DISCUSSÃO
Os resultados numéricos da florística dos quintais estudados na cidade de Manaus
guardam similaridade com o inventário realizado nos quintais urbanos da cidade de Bogotá
(Colômbia), por Sierra-Guerrero e Amarillo-Suárez (2014), onde foram registradas 238
espécies, 198 gêneros e 85 famílias. Assim como em Manaus, na cidade de Bogotá também
está ocorrendo uma redução no número de residências que possuem quintal, principalmente
devido às mudanças no uso deste espaço, de residencial para comercial.
Como padrão geral, o manejo dos quintais de Manaus é responsabilidade das
mulheres, que em sua maioria têm mais de 60 anos, são aposentadas ou do lar e apresentaram
baixa escolaridade e baixa renda familiar. Resultados semelhantes a estes foram verificados
por Siviero et al. (2011) no Acre, onde a maioria dos entrevistados também foi do sexo
feminino, com baixa escolaridade e aposentadas ou do lar.
24
Os diversos usos da vegetação encontrados para os quintais estudados (ornamental,
medicinal, alimentício, para sombreamento, místico e renda) também podem ser evidenciados
por meio dos levantamentos etnobotânicos em quintais urbanos de diferentes localidades do
Brasil, Indonésia, Colômbia e Peru (Marín-Corba et al. 2005; Abdoellah et al. 2006; Albán et
al. 2008; Guarim Neto e Novais, 2008; Eichemberg et al. 2009).
O bairro da Cachoeirinha foi o mais representativo em número de espécies de plantas,
e também o mais representativo em quase todas as categorias de uso, com exceção da
categoria renda, onde foi citada apenas a espécie Talisia esculenta (A. St. Hil.) Radlk,
também encontrada no Coroado, bairro com maior representatividade nesta categoria.
Entretanto, comparando a Glória e o Coroado, o bairro Glória apresentou mais espécies de
uso ornamental e de sombreamento, enquanto que o Coroado apresentou mais espécies de uso
alimentício e medicinal.
A maioria das espécies cultivadas nos quintais estudados é de caráter ornamental, para
o embelezamento das residências e das áreas normalmente observadas por outras pessoas.
Esta tendência de cultivo de plantas ornamentais em quintais urbanos também foi verificada
em outros estados no Brasil (Moura e Andrade 2007; Silva et al. 2008; Eichemberg et al.
2009; Castro et al. 2011). Entretanto, tendência diferente foi encontrada por Souza e Scudeller
(2011) em quintais rurais no município de Manaus, onde as espécies frutíferas foram
predominantes.
No estudo de Huamantupa et al. (2011) no Peru, a família Lamiaceae foi apontada
como uma das mais representativas em número de espécies, corroborando o resultado
encontrado no presente trabalho. Entretanto, enquanto no Peru todas as partes da planta são
utilizadas (raízes, talos, folhas, flores e frutos) para o tratamento das inflamações mais
frequentes (hepáticas e renais, gástrico-estomacais, bronco-pulmonares e respiratórias), nos
25
quintais estudados em Manaus, as folhas foram mais utilizadas na preparação dos remédios
caseiros.
Por outro lado, na cidade de Porto Alegre (RS) ainda que a folha tenha sido a parte da
planta mais utilizada medicinalmente, o uso das flores, raízes, frutos e sementes, em menor
escala também foram reportados (Vendruscolo e Mentz 2006). O uso medicinal de espécies
de Lamiaceae é também citado por outros estudos realizados no Brasil (Vendruscolo e Mentz
2006; Albuquerque et al. 2007; Eichemberg et. al. 2009; Silva e Guarim Neto 2012).
O cultivo de plantas alimentícias ainda é bastante comum nas cidades brasileiras,
principalmente por sua contribuição à dieta familiar, sendo as espécies cultivadas consumidas
in natura, utilizadas na preparação de saladas, chás, doces, sucos ecompotas. Em estudos
realizados nos quintais de Rosário Oeste (MT) foram encontradas 94 espécies (Amaral e
Guarim Neto 2008), nos quintais de Castanheira (MT) 97 espécies (Guarim Neto e Novais
2008), nos quintais de Juína (MT), 64 espécies (Fracaro e Guarim 2008), nos quintais de
Santarém (PA) 51 espécies (WinklerPrins e Oliveira 2010) e nos quintais de Rio Branco (AC)
77 espécies de uso alimentício (Siviero et al. 2011).
A categoria de uso místico foi uma das menos representadas nos quintais estudados,
resultado também verificado em outros estudos (Florentino et al. 2007; Guarim Neto e Novais
2008; Silva et al. 2008; Carniello et al. 2010). Contudo, dentre as espécies citadas nesta
categoria, Sansevieria trifasciata Prain e Dieffenbachia amoena Bull são amplamente
cultivadas, pois estão presentes respectivamente em 27 e 24 quintais estudados.
As plantas encontradas nos quintais estudados foram citadas para diversos fins,
refletindo o conhecimento dos moradores sobre elas. Além disso, os índices de diversidade
vegetal encontrados nos quintais urbanos dos bairros Cachoeirinha (H’ base 10 = 2,23),
Glória (H’ base 10 = 2,13) e Coroado (H’ base 10 = 2,10) podem ser considerados alto
quando comparados aos índices de diversidade encontrados nos quintais das comunidades
26
Agrovila (H’ base 10 = 2,07) e Julião (H’ base 10 = 1,99), localizados na zona rural de
Manaus (Souza, 2011). De acordo com Araújo e Ferraz (2008), esse índice pode ser utilizado
para expressar além da diversidade vegetal, a diversidade de uso/conhecimento da vegetação
de uma determinada área, uma vez que índices elevados em geral estão relacionados a áreas
relativamente bem conservadas, associadas a populações com significativo conhecimento
etnobotânico (Begossi 1996).
Dentre os bairros estudados, o bairro mais antigo, Cachoeirinha, foi o que apresentou a
maior riqueza de espécies. Entretanto, quando comparamos a média de espécies por quintal, a
maior média foi encontrada para o bairro Glória, que também apresentou a maior média de
idade dos quintais. Além disso, foi verificada uma tendência de quintais mais antigos
apresentarem mais espécies. Este resultado corrobora o que foi verificado por Eichemberg et
al. (2009) para os quintais de Rio Claro (SP), e por Coomes e Ban (2004) para os quintais da
Amazônia peruana, onde houve uma tendência de bairros e quintais mais antigos
apresentarem um maior número de plantas cultivadas. Entretanto, esta relação não foi
encontrada por Siviero et al. (2011) para os quintais urbanos de Rio Branco (AC), onde a
maior riqueza de espécies foi positivamente relacionada à maior área efetiva do quintal.
CONCLUSÃO
Foi verificado que as mulheres são as responsáveis pela manutenção dos quintais na
área urbana de Manaus, e que apesar do bairro Cachoeirinha ter apresentado mais espécies em
relação aos outros dois bairros, a Glória apresentou a maior média de espécies vegetais por
quintal em comparação com os bairros Cachoeirinha e Coroado. Entretanto, o bairro do
Coroado se destacou por apresentar a maior representatividade de espécies utilizadas para
geração de renda, provavelmente por ser o bairro que também apresentou a mais baixa renda e
27
baixa escolaridade. Algumas espécies são úteis pelos múltiplos usos que apresentam,
entretanto, predomina o cultivo para propósitos ornamentais, embora também tenham sido
encontradas plantas de uso medicinal, alimentício, para sombreamento, renda e uso místico. A
diversidade vegetal encontrada nos quintais urbanos da cidade de Manaus demonstra que os
moradores ainda possuem um elevado conhecimento sobre as plantas de seus quintais e que,
apesar da alta similaridade vegetal encontrada, cada bairro apresenta uma identidade única,
com espécies exclusivas que merecem atenção e boas práticas de manejo para permanecerem
no ambiente urbano. Estas práticas, enormemente ameaçadas pelo crescimento das cidades e
supressão de seus quintais devem ser preservadas por sua importância e contribuição para a
manutenção da qualidade de vida e das relações inter sociais dos moradores, contribuindo
ainda para a manutenção de áreas verdes nos grandes centros urbanos, como Manaus.
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudos da primeira autora, aos Projetos MAUA e Biotupé pela
utilização dos equipamentos e espaço físico, ao Curso de Botânica do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), a Dra. Aline Lopes pela elaboração dos mapas, ao Dr.
Charles Clement, a Dra. Maria Christina de Mello Amorozo e ao Dr. Valdely Kinupp pelas
correções do artigo. E também aos moradores dos bairros Cachoeirinha, Glória e Coroado
pelas entrevistas concedidas.
28
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Capítulo 2
___________________________________________________________________________
Manuscrito formatado para a revista Acta Amazonica
36
Estrutura, manejo e importância dos quintais de Manaus, Amazonas, Brasil
Structure, management and importance of home yards in Manaus, Amazonas, Brazil
Diana Nunes de OLIVEIRA1*, Veridiana Vizoni SCUDELLER
2, Maria Teresa Fernandez
PIEDADE3
1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Programa de Pós-graduação em Botânica. Av.
André Araújo 2.936, Aleixo CEP: 69060-001, Manaus, Amazonas, Brasil.
2Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Ciências Biológicas, Programa de Pós-
graduação em Diversidade Biológica. Av. Gen. Rodrigo Octávio 3000, Coroado I, CEP:
69077-000, Manaus, AM, Brasil.
3Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Programa de Pós-graduação em Botânica,
Grupo de ecologia, monitoramento e uso sustentável de áereas úmidas. Av. André Araújo
2.936, Aleixo CEP: 69060-001, Manaus, Amazonas, Brasil.
*Corresponding author: [email protected]
37
Estrutura, manejo e importância dos quintais de Manaus, Amazonas, Brasil
Resumo:
Quintais urbanos são importantes espaços que podem ser utilizados para a detecção
das espécies que estão sendo cultivadas nas cidades e verificar a relação homem-planta. Neste
trabalho, realizou-se o levantamento da diversidade vegetal presente nos quintais de três
bairros urbanos de Manaus, Amazonas (Cachoeirinha, Glória e Coroado), a análise da
distribuição das plantas no espaço do domicílio, seus usos, forma de obtenção e manejo, bem
como a análise da riqueza de espécies nativas e exóticas. Dessa forma, este estudo buscou
responder às seguintes perguntas: 1) Como são estruturados os quintais da cidade de Manaus?
2) Qual a contribuição dos quintais urbanos de Manaus para a manutenção da biodiversidade
nacional? Foram reconhecidos 1416 indivíduos e 297 espécies vegetais ocorrendo nos
quintais de 52 moradores, sendo a maioria de hábito herbáceo. Houve diferença na riqueza e
no uso das espécies cultivadas na frente e nos fundos dos quintais. O manejo das plantas se dá
pela limpeza diária, rega e adubação. A maioria das espécies presentes nos quintais é exótica
(60,47%) e destas, a maioria é de uso ornamental (78,21%). Os quintais urbanos estudados
têm um importante papel cultural e social, e apesar de possuir uma alta riqueza de espécies
vegetais, estes contribuem pouco para a manutenção da biodiversidade nacional.
Palavras – chave: composição vegetal, riqueza de espécies, categorias de uso
38
Structure, management and importance of home yards in Manaus, Amazonas, Brazil
Abstract:
Urban yards are important spaces that can be used to detection of the species being cultivated
in cities, and check the human-plant relationship. In this work, we conducted a survey of plant
diversity present in the yards of three urban neighborhoods of Manaus, AM (Cachoeirinha,
and Glória and Coroado), an analysis of the distribution of plants in the home, their uses, the
way they are obtained and managed, and also species richness of native and exotic plants.
Thus, the aim of this study was to answer the following questions: 1) How are yards in the
city of Manaus structured? 2) What is the contribution of urban yards in Manaus to the
maintenance of national biodiversity? A total of 1416 plants and 297 plant species were found
occurring in the yards of 52 residents, with most of the plants being herbaceous. There were
differences in richness and use of the species cultivated in the front yard and backyard. The
management of the plants consisted of daily cleaning, watering and fertilizing. Most species
present in the yards were exotic (60.47%), and of these, most were for ornamental use
(78.21%). Urban yards studied have an important cultural and social role, and despite having
a high species richness of plant species, they contribute little to the maintenance of national
biodiversity.
Key words: plant composition, species richness, use categories
39
INTRODUÇÃO
O Brasil é um país que apresenta uma alta taxa de diversidade biológica e cultural
(Diegues et al. 2000) e isso pode ser evidenciado através das inúmeras pesquisas realizadas
tanto com populações humanas, quanto com os outros grupos de seres vivos (Miranda e
Hanazaki 2008; Piedade et al. 2010; Lopes et al. 2011 ). Dentro desse leque de estudos,
encontram-se as pesquisas em etnobotânica, que fazem referência ao uso que as populações
humanas fazem dos vegetais de uma forma geral, seja pela dependência direta através do
consumo, como na alimentação e na medicina caseira, ou simplesmente pela utilização das
plantas em seus quintais por motivos estéticos e de embelezamento das residências.
A composição e os usos das plantas dos quintais vêm sendo estudados há muito tempo
em todo o mundo, entretanto no Brasil e em especial no Estado do Amazonas, foi dada
bastante ênfase para quintais rurais (Méndez et al. 2001; Coomes e Ban 2004; Abdoellah et
al. 2006; Florentino et al. 2007; Miranda e Hanazaki 2008; Souza e Scudeller 2011).
Contudo, assim como os quintais das comunidades rurais têm suas utilidades e funções
(Abdoellah et al. 2006), os quintais urbanos também são importantes, pois contribuem como
pequenas ilhas de vegetação dentro das cidades, proporcionando um microclima mais
agradável, uma melhor qualidade de vida para os seus mantenedores, servindo como hábitat
para inúmeros animais, desde insetos a vertebrados de pequeno porte e também como fonte de
renda e alimentação para algumas famílias (Amaral e Guarim Neto 2008; Siviero et al. 2011;
Sierra-Guerrero e Amarillo-Suárez 2014).
As pesquisas envolvendo quintais urbanos podem auxiliar no levantamento das
espécies que estão sendo cultivadas nesses locais, estabelecendo o interesse dos moradores em
cultivá-las, sua utilidade e categorias de uso às quais essas plantas pertencem, permitindo
ainda diagnosticar a função dos quintais como mantenedores da biodiversidade local. Um
40
estudo realizado nos quintais urbanos de Porto Rico detectou que 69,5% das espécies
cultivadas são exóticas, pertencentes à categoria de uso ornamental e que a maioria é de porte
arbustivo, tendo sido também verificada uma diferença na utilidade das espécies cultivadas na
frente e nos fundos dos quintais, sendo as espécies da frente em geral ornamentais, e as dos
fundos medicinais e alimentícias (Vila-Ruiz et al. 2014).
Em levantamentos etnobotânicos realizados no Brasil ainda são encontradas árvores,
arbustos, subarbustos, ervas e trepadeiras compondo muitos quintais urbanos (Semedo e
Barbosa 2007; Amaral e Guarim Neto 2008; Carniello et al. 2010; Siviero et al. 2011), muitas
delas nativas. Contudo, dentre as espécies cultivadas também há uma grande porcentagem de
espécies exóticas, que foram introduzidas no Brasil e que hoje fazem parte da composição
tradicional de muitos quintais urbanos e rurais, como algumas espécies de Rubiaceae e
Rutaceae (Eichemberg et al. 2009; Carniello et al. 2010; Siviero et al. 2011; Souza e
Scudeller 2011).
A cidade de Manaus sofreu um grande aumento populacional nos últimos anos, o que
levou à diminuição de suas áreas verdes (Jardim-Lima e Nelson 2003), tornando os quintais
um importante espaço de melhoria da fitofisionomia da cidade. Entretanto, como são
estruturados esses quintais? Como eles contribuem para a manutenção da biodiversidade
regional ou nacional? Este trabalho visa responder a essas perguntas, por meio do
levantamento da diversidade vegetal presente nos quintais de três bairros urbanos de Manaus,
analisando o hábito de crescimento das espécies vegetais, a riqueza de espécies nativas e
exóticas, a distribuição espacial das plantas e seus usos em relação ao domicílio e a forma de
obtenção e manejo das espécies.
41
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
A cidade de Manaus surgiu em 1669 com a construção da “Fortaleza de São José do
Rio Negro”. Em 24 de Outubro de 1848 passou a ser nomeada de “Cidade da Barra do Rio
Negro”, e apenas em 04 de setembro de 1856 ficou conhecida como “Cidade de Manaus” em
homenagem à nação indígena dos Manaós, o mais importante grupo étnico habitante da
região, atualmente extintos (SEPLAN 2007; IBGE 2010a). Localizada no Estado do
Amazonas, Brasil, a cidade de Manaus (Figura 1) apresenta clima equatorial quente e úmido,
com um período chuvoso de novembro a abril e temperatura média de 26° C.
Figura 1. Localização de Manaus e dos três bairros estudados. Mapa elaborado por Aline Lopes.
42
Atualmente a cidade é composta por 56 bairros, distribuídos em 6 zonas que cobrem
uma área de 11.401 Km², e sua população é de cerca de dois milhões de habitantes (SEPLAN
2007; IBGE 2010a). Para a realização deste estudo foram selecionados os bairros da
Cachoeirinha, Glória e Coroado, que apresentam diferentes tipos de ocupação e estão
localizados em diferentes áreas da cidade. Os bairros estudados apresentam as seguintes
distâncias entre si: Cachoeirinha e Glória (4,9 Km), Cachoeirinha e Coroado (7,7 Km), Glória
e Coroado (9,2 Km).
Os bairros estudados
O bairro Cachoeirinha está localizado na zona Sul de Manaus e foi projetado em 1892,
sendo um dos bairros mais antigos da cidade. Seu processo de urbanização envolveu a
construção de obras de infraestrutura urbana e social, como feiras, hospitais, escolas e uma
universidade pública. O bairro possui ainda uma área comercial que inclui setores da cons-
trução civil, elétrico, autopeças, lojas de eletrodomésticos e supermercados, entre outros
serviços (Mingos 2010).
O bairro Glória se localiza na zona Oeste de Manaus, e seu desenvolvimento teve
início em 1953, com a chegada de interioranos fugidos de uma grande enchente. O bairro
conta com um mercado municipal, uma quadra de esportes, um complexo de lanchonetes, um
posto de gasolina, várias lojas, drogarias, escolas, cartório, um posto de saúde e a Igreja
Nossa Senhora da Glória (Jornal do Comércio 2012), ao redor da qual o bairro cresceu.
O bairro do Coroado está localizado na zona Leste de Manaus e teve início por volta
de 1968 com a invasão de um pequeno grupo de pessoas oriundas do interior do Estado, às
terras pertencentes à Universidade Federal do Amazonas. Atualmente, o Coroado possui
43
escolas, duas delegacias de polícia, um Serviço de Pronto-Atendimento, um Jornal
Comunitário, uma Minivila Olímpica e feiras (Santos 2010).
Coleta e análise de dados
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (CEP-INPA), conforme o parecer
504.358 em 31/12/2013. Os dados foram coletados nos meses de maio a novembro de 2014
por meio de entrevistas, utilizando questionários contendo perguntas abertas e fechadas. As
entrevistas foram realizadas preferencialmente com os responsáveis pelos cuidados com o
quintal, após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Todas as espécies vegetais presentes nos quintais foram fotografadas. A identificação
do material botânico foi realizada com o auxílio de literatura botânica especializada (Lorenzi
e Matos 2008; Souza e Lorenzi2012; Lorenzi 2013), consulta ao Herbário Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (INPA), e por meio das bases de dados Tropicos, do Missouri
Botanical Garden, versão on-line, disponível em http://www.tropicos.org, onde também foi
confirmada a nomenclatura científica.
Após a identificação, as espécies foram classificadas e organizadas de acordo com seu
hábito de crescimento. Para as espécies não arbóreas, foi considerado como indivíduo, o
agrupamento ou montante de uma mesma espécie. Para a análise e classificação quanto à
origem das espécies, foram consultados Lorenzi e Matos 2008; Souza e Lorenzi 2012;
Lorenzi 2013; Kinupp e Lorenzi 2014. As espécies foram classificadas e organizadas em
categorias de uso. Também foi calculada a frequência relativa e absoluta das 10 espécies mais
comuns das principais categorias de uso.
44
Para a análise da distribuição espacial das plantas nos quintais, foi verificada a
composição vegetal quanto ao hábito de crescimento e a composição das plantas úteis na parte
da frente e na parte dos fundos dos quintais.
RESULTADOS
Composição e estrutura vegetal dos quintais
Foram registrados 1416 indivíduos, pertencentes a 297 espécies que incluíam árvores,
arbustos, subarbustos, palmeiras, herbáceas e trepadeiras em 52 quintais pesquisados nos
bairros Cachoeirinha (n=20), Coroado (n=20) e Glória (n=12). O bairro Cachoeirinha foi o
mais abundante em indivíduos (620) e o que apresentou a maior riqueza de espécies (234),
seguido do Coroado com 496 indivíduos e 175 espécies. O bairro da Glória apresentou o
menor número de indivíduos (300) e também a menor riqueza de espécies (165).
Cada quintal mostrou uma composição vegetal única, refletindo as necessidades,
interesses, disponibilidade de tempo e dinheiro dos moradores, assim como também sofreu
influência de acordo com a área disponível para plantar. Em alguns casos, o cultivo ocorria
simultaneamente na frente e nos fundos das residências (50%), ou apenas na frente (42,3%)
especialmente quando este era o único espaço disponível para o plantio, e em outros casos
apenas nos fundos (7,7%) da residência.
Foram encontrados subarbustos, arbustos, árvores, palmeiras, trepadeiras e herbáceas,
estas últimas como forma de vida dominante, compondo 46% da diversidade dos quintais
(Figura 2). As principais categorias de uso relatadas foram a ornamental (72,3%), a medicinal
(20,5%) e a alimentícia (19,8%). Os demais usos, como renda, sombreamento e uso místico
apresentaram menores percentuais de citações e foram agrupados na categoria outros,
somando 20,5%. A soma das categorias de uso foi superior a 100%, pois algumas espécies
45
como Cinnamomum zeylanicum Blume, Persea americana Mill, Theobroma cacao L,
Psidium guajava L e Bixa orellana L foram citadas para mais de um uso.
Figura 2. Hábito das espécies encontradas nos quintais urbanos de Manaus (n = 52 quintais).
Espécies nativas e exóticas
Com relação à origem geográfica, 296 espécies foram classificadas e apenas para
Canna X generalis H. Bailey & E. Z. Bailey não foi possível obter a origem por se tratar de
um híbrido que teve seu mapeamento perdido (Lorenzi 2013). Dessas, 179 (60,47%) são
exóticas e apenas 117 (39,53%) são nativas. Esse índice elevado de espécies exóticas também
é refletido nas espécies mais frequentes nos quintais (Tabela 1), onde a maioria das espécies
também foi de origem exótica.
46
Tabela 1. Espécies mais frequentes na Cidade de Manaus, por categoria de uso e origem
geográfica. A frequência das espécies foi calculada com base no número total de casas
visitadas (n=52).
Categoria de
uso Espécies Categoria/hábito Origem Nº casas
Freq.
(%)
Ornamental Ixora coccinea arbusto Exótica 35 67.30
Plumeria pudica arbusto Exótica 29 55.76
Sansevieria trifasciata herbácea Exótica 27 51.92
Catharanthus roseus subarbusto Exótica 26 50.00
Dieffenbachia amoena herbácea Exótica 24 46.15
Ruellia simplex subarbusto Nativa 21 40.38
Caladium hortulanum herbácea Nativa 16 30.76
Rosa x grandiflora arbusto Exótica 15 28.84
Dracaena godseffiana arbusto Exótica 14 26.92
Oxalis violacea herbácea Exótica 14 26.92
Medicinal Aloe vera herbácea Exótica 23 44.23
Bryophyllum pinnatum herbácea Exótica 21 40.38
Piper peltatum subarbusto Nativa 18 34.61
Plectranthus amboinicus herbácea Exótica 18 34.61
Fridericia chica arbusto Nativa 17 32.69
Petiveria alliacea herbácea Nativa 16 30.76
Morinda citrifolia arbusto Exótica 15 28.84
Plectranthus barbatus herbácea Exótica 14 26.92
Costus spicatus herbácea Nativa 13 25.00
Jatropha gossypiifolia arbusto Exótica 13 25.00
Alimentício Carica papaya arbusto Exótica 22 42.30
Psidium guajava árvore Nativa 16 30.76
Malpighia emarginata arbusto Exótica 13 25.00
Mangifera indica árvore Exótica 13 25.00
Averrhoa carambola árvore Exótica 10 19.23
Musa paradisiaca herbácea Exótica 10 19.23
Theobroma cacao árvore Nativa 9 17.30
Talinum fruticosum herbácea Nativa 8 15.38
Ananas comosus herbácea Nativa 7 13.46
Citrus limon árvore Exótica 7 13.46
47
Distribuição espacial das plantas nos quintais
Foi observada uma variação na riqueza e no uso das espécies cultivadas na frente e nos
fundos dos quintais. Nos bairros Cachoeirinha e Coroado o cultivo ocorreu com mais
freqüência na frente, enquanto que na Glória a maior riqueza de indivíduos foi verificada nos
fundos dos quintais (Figura 3). Cada bairro apresentou uma característica própria quanto ao
local do cultivo das espécies, na Cachoeirinha predominaram espécies ornamentais na frente e
espécies de uso medicinal e alimentício nos fundos dos quintais. Na Glória, todas as
categorias de uso foram mais cultivadas nos fundos dos quintais, enquanto que no Coroado,
todas as categorias de uso predominaram na frente dos quintais.
Figura 3. Diferença entre quintais de frente e de fundo, em número de indivíduos nos bairros Cachoeirinha,
Glória e Coroado de Manaus, Amazonas, Brasil.
De modo geral, a maioria das espécies cultivadas na frente dos quintais é de uso
ornamental, ficando na frente da residência para favorecer sua visibilidade, enquanto que as
espécies de uso alimentício e medicinal, principalmente ligadas ao uso da família, foram mais
cultivadas nos fundos dos quintais (Figura 4).
48
Obtenção e manejo das espécies
A obtenção dos propágulos das espécies se deu por pedir (73,07%), pegar (53,84%),
comprar (34,61%) e trocar (17,30%) mudas, galhos, frutos e sementes para cultivar nos
quintais (Figura 5). Alguns entrevistados relataram ainda, adquirir espécies de plantas em
Cemitérios de Manaus.
Figura 4. Diferença entre quintais de frente e de fundos, em número de indivíduos, por categoria de uso nos
bairros estudados.
Além das espécies cultivadas, alguns moradores mantêm em seus quintais plantas
espontâneas. Dos quintais estudados, 25 (48,07%) possuem apenas espécies cultivadas,
enquanto que 27 (51,93%) além das cultivadas possuem algumas espécies espontâneas, ou
seja, são plantas que estão no banco de sementes do solo ou que são trazidas por animais e
pelo vento e que permanecem junto com as espécies cultivadas.
49
As espécies mantidas nos quintais são: capeba (Piper peltatum L), quebra-pedra
(Phyllanthus niruri L e Phyllanthus tenellus Roxb), erva-de-jabuti (Peperomia pellucida (L.)
Kunth), jerimum (Cucurbita pepo L), boa-noite (Catharanthus roseus (L.) G. Don), embaúba
(Cecropia pachystachya Trécul), goiaba (Psidium guajava L), limão (Citrus limon (L.)
Osbeck), maracujá (Passiflora edulis Sims), e mamão (Carica papaya L).
Figura 5. Formas de obtenção dos propágulos das espécies cultivadas nos quintais urbanos de Manaus (n=52).
Quanto ao manejo, o cultivo se deu diretamente no solo, em vasos e também em
alguns recipientes reaproveitados, como latas de tinta e de leite, garrafões de água, garrafas
pet, entre outros. As espécies cultivadas e mantidas nos quintais, sejam exóticas ou nativas,
recebem rega diária, adubo de galinha, esterco de boi, restos de vegetais, paú e até mesmo
adubo comercial (NPK) para permanecerem bonitas e vistosas. O cuidado também se estende
aos quintais de Manaus, por meio de limpeza diária ou capina.
50
Função e importância dos quintais na percepção dos moradores
Os quintais urbanos estudados apresentaram diversas funções, como ecológica,
econômica, social. Na função ecológica, os quintais são utilizados como abrigo/refúgio de
inúmeras espécies de plantas cultivadas e espontâneas, que auxiliam na redução da
temperatura local, proporcionando aos moradores temperaturas mais amenas. Além disso,
também são utilizados na criação de animais de pequeno porte como tartarugas, papagaios,
galinhas, galos, gatos e cachorros. Na função econômica, os quintais são utilizados para
prover plantas de uso alimentício e medicinal consumidas pelos próprios familiares auxiliando
na economia e evitando a compra de espécies comercializadas. Já na função social os quintais
são indispensáveis, pois são utilizados como área de convivência e socialização, onde os
moradores podem ter sombra para receber amigos, vizinhos, parentes e onde as crianças
podem brincar ao ar livre.
Além das diferentes funções que os quintais estudados apresentam, eles também são
importantes para cada morador que os mantêm, seja pela utilização para o cultivo das espécies
de sua prefência, por melhorar o aspecto da casa, ou simplesmente por apresentar valor
sentimental, pela recordação da infância ou pela recordação de um ente querido já falecido.
Tal importância pode ser observada de acordo com o relato de alguns dos moradores
entrevistados:
“Adoro mexer com plantas, acho elas bonitas. No quintal meus filhos tinham onde
brincar, espaço pra ficar e a sombra das árvores.” (Informante feminino, 56 anos,
Cachoeirinha).
51
“É bom ter um quintal pra ter sombra, espaço para receber a família. Fica mais fresco.
A gente gosta por que tem sombra, vento, e pássaros. Quando dá banana, a gente divide com
os vizinhos.” (Informante feminino, 52 anos, Cachoeirinha).
“É tudo, é uma área verde pro meu filho ter educação ecológica, pra ele aprender a
respeitar e dar atenção às plantas. Ter plantas ajuda no clima, no visual da casa, melhora o ar”.
(Informante feminino, 35 anos, Cachoeirinha).
“Essa planta (icsória) é a mais linda do meu quintal, toda vez que olho pra ela lembro
do meu filho que faleceu, era a preferida dele”. (Informante feminino, 80 anos, Coroado).
“A beleza das plantas enfeita a Terra, as plantas têm vida, são de Deus. Me sinto mais
perto da natureza.” (Informante feminino, 67 anos, Cachoeirinha).
“Ter plantas em casa, faz ficar mais fresco. No quintal posso plantar, estender roupas,
as crianças têm onde brincar, é um lugar para se reunir.” (Informante feminino, 34 anos,
Glória).
“Cuido de todas essas espécies de plantas, por que são a herança de minha falecida
mãe, ela adorava essas plantas e deixou esse ensinamento para gente, por isso todo dia
regamos as plantinhas para elas não morrerem” (Informante feminino, 57 anos, Glória).
52
DISCUSSÃO
Nos quintais urbanos de Mirassol D’Oeste (MT), o componente vegetal apresentou os
mesmos hábitos de vida que os encontrados nos quintais de Manaus e o maior número de
espécies cultivadas também foi de herbáceas (Carniello et al. 2010). Por outro lado, nos
quintais tropicais de Porto Rico, apesar de terem sido encontradas as mesmas formas de vida
que as encontradas no presente estudo, o hábito arbustivo foi percentualmente superior aos
demais (Vila-Ruiz et al. 2014). Entretanto, parece haver uma grande influencia da localidade
onde o estudo é realizado, pois nos quintais urbanos de Rosário Oeste (MT), Amaral e
Guarim Neto (2008) encontraram apenas os hábitos arbóreos, arbustivos/subarbustivo e
herbáceo.
Os quintais de Mirassol D’Oeste (MT) também foram similares aos quintais de
Manaus com relação às principais categorias de uso, contudo, naquela localidade as categorias
ornamental e alimentícia receberam 35% de citações cada, e a medicinal apenas 29%
(Carniello et al. 2010). Entretanto, no levantamento realizado nos quintais urbanos de
Santarém (PA), as frutíferas foram dominantes em relação às demais categorias de uso
(WinklerPrins e Oliveira 2010).
Apesar de Manaus ser uma cidade no meio da floresta tropical amazônica, o
percentual de árvores encontradas nos quintais estudados foi baixo, e menor ainda
considerando apenas as nativas (7%), indicando que a cidade é pouco arborizada. Este
resultado confirma o levantamento realizado pelo IBGE (2010b) para as capitais, onde
Manaus aparece com o segundo menor índice de arborização (25,1%) do Brasil, perdendo
apenas de Belém (22,4%). Adicionalmente, as árvores cultivadas em Manaus são em sua
maioria selecionadas por seu uso alimentício e não para ornamentação. O uso ornamental
53
predomina para as espécies com hábitos herbáceos e arbustivos, em geral perenes e que
exigem cuidados de manutenção, mas não de replantio.
A maioria das espécies de plantas presentes nos quintais estudados em Manaus é de
origem exótica. Resultado semelhante foi verificado em Porto Rico, onde 69,5% das espécies
encontradas nos quintais urbanos foram introduzidas (Vila-Ruiz et al. 2014). Um estudo
realizado em Mato Grosso destacou que 91% das espécies cultivadas nos quintais eram
introduzidas (Carniello et al. 2010). Igual tendência de predomínio de espécies exóticas foi
verificada em outros estudos conduzidos no Brasil (Amaral e Guarim Neto 2008; Siviero et
al. 2011; Silva e Guarim Neto 2012) e na Colômbia (Sierra-Guerrero e Amarillo-Suárez
2014).
Este resultado pode ser um reflexo da modernização, principalmente por se tratar de
quintais urbanos, uma vez que a “modernização traz consigo a desvalorização da cultura local
e uma tendência à perda ou abandono das práticas tradicionais” (Amorozo 2002a),
evidenciada no presente estudo pelo baixo índice no cultivo de espécies nativas, indicando
que os quintais estudados em Manaus contribuem pouco para a manutenção da biodiversidade
vegetal nacional.
Dentre as nativas do Brasil cultivadas nos quintais de Manaus estão algumas espécies
de uso alimentício, como o cajueiro (Anacardium occidentale L), o biribá (Annona mucosa
Jacq), a goiaba (Psidium guajava L) e a bacaba (Oenocarpus bacaba Mart). E entre as nativas
da Amazônia estão a chicória (Eryngium foetidum L), o bacuri (Garcinia madruno (Kunth)
Hamm), o cará (Dioscorea trifida L. f), e a macaxeira (Manihot esculenta Crantz), espécies
também cultivadas em outros quintais brasileiros (Amaral e Guarim Neto 2008; Emperaire e
Eloy 2008; Eichemberg et al. 2009; WinklerPrins e Oliveira 2010).
Já as espécies exóticas presentes nos quintais estudados são em sua maioria compostas
por plantas de uso ornamental, tais como: Ixora coccinea L, Sansevieria trifasciata Prain,
54
Catharanthus roseus L. G. Don, Codiaeum variegatum (L.) Rumph. ex A. Juss,
Dieffenbachia amoena Bull, Dypsis lutescens (H. Wendl.) Beentje & J. Dransf, Polyscias
fruticosa (L.) Harms, Celosia argentea L, Gomphrena globosa L, Cordyline fruticosa (L.) A.
Chev, Euphorbia tirucalli L, Hibiscus rosa-sinensis L e Rosa chinensis Jacq. Estas, por sua
vez, também são cultivadas em outros países como no Vietnã (Trinh et al. 2003), no México
(Blanckaert et al. 2004), na Colômbia (Sierra-Guerrero e Amarillo-Suárez 2014) e em Porto
Rico (Vila-Ruiz et al. 2014).
A distribuição espacial das plantas dos quintais estudados em Manaus está fortemente
relacionada ao espaço disponível para o cultivo, seja por ser o único espaço que sobrou da
construção da casa ou em virtude da localização da residência no terreno. Porém, este
resultado não está relacionado apenas com a área disponível para o cultivo, mas também com
a preferência dos moradores em manter as plantas úteis escondidas ou não da vista dos
vizinhos. Contudo, nosso resultado corrobora o verificado por Vila-Ruiz et al. (2014) para os
quintais urbanos de Porto Rico, e por Siviero et al. (2011) para os quintais de Rio Branco, no
Acre. Em ambas as localidades as plantas ornamentais estavam concentradas na frente e as
alimentícias predominaram nos fundos dos quintais.
Esse aspecto é pouco discutido nos estudos etnobotânicos no Brasil, contudo deve ser
mais explorado, pois pode estar relacionado à estrutura e função dos quintais em áreas
urbanas, com o predomínio de plantas ornamentais na frente dos quintais, provavelmente mais
relacionado à estética. Já que nos quintais rurais ocorre predomínio de espécies frutíferas,
conforme observado por Coomes e Ban (2004) para os quintais da Amazônia peruana e por
Souza e Scudeller (2011) para os quintais rurais no município de Manaus, na Amazônia
brasileira.
Foi verificada uma a diferença existente entre as formas de obtenção das espécies no meio
urbano e rural, pois a troca, bastante comum nos quintas rurais, como observado por Pasa et
55
al. (2005) para os quintais de Cuiabá (MT), foi algo que ocorreu com pouca frequência nos
quintais urbanos de Manaus. Em São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro (AM)
foi verificado que os moradores também têm o hábito de pedir mudas e sementes para manter
seus cultivos e este hábito sempre ocorre com reciprocidade (Emperaire e Eloy 2008). Nos
quintais urbanos de Rosário Oeste (MT) foi verificado que a maioria das espécies cultivadas
foi obtida por doações de parentes e vizinhos, enquanto que a compra não foi citada (Amaral e
Guarim Neto 2008).
As espécies espontâneas são mantidas nos quintais, por apresentarem utilidades aos
moradores, podendo ser usadas na alimentação, na medicina caseira e também na
ornamentação da casa. A espécie mais comum encontrada em 34,61% das residências foi a
capeba (Piper peltatum L), espécie nativa na região Norte do Brasil (Kinupp e Lorenzi 2014)
e mantida por sua utilidade medicinal. Em um estudo realizado em Mirassol D’Oeste (MT),
também foram encontradas espécies espontâneas mantidas nos quintais, dentre elas o quebra-
pedra (Phyllanthus tenellus Roxb) e a erva-de-santa-maria (Dysphania ambrosioides (L.)
Mosyakin & Clemants) (Carniello et al. 2010).
Com relação ao manejo dos quintais, Pasa et al. (2005) também relataram a utilização de
restos de vegetais e de esterco de animais domésticos entre os cuidados com os quintais da
comunidade de Conceição-Açu (MT). Amaral e Guarim Neto (2008) estudando os quintais
urbanos de Rosário Oeste (MT), encontraram resultados similares, com capinas periódicas,
irrigação, limpeza, utilização de adubo e esterco de galinha e de gado, para manutenção dos
quintais.
Os quintais urbanos funcionam como ilhas de vegetação que servem para aumentar a
umidade local e reduzir o calor, assim como também podem ser utilizados na conservação de
espécies nativas que são pouco exploradas comercialmente (Amorozo, 2008). Além disso, são
importantes, pois são áreas sociais onde amigos e familiares podem conviver e trocar
56
experiências e também mudas de plantas de interesse (Amorozo 2002b). No entorno da cidade
de Manaus, também foi detectada a criação de animais domésticos, juntamente com o cultivo
de árvores, arbustos, e ervas (Veiga et al. 2007). Já nos quintais urbanos de Rio Branco (AC),
destacou-se o consórcio de frutíferas e animais de pequeno porte (Siviero et al. 2011).
CONCLUSÃO
As espécies cultivadas nos quintais urbanos estudados pertencem a seis diferentes
tipos de hábito vegetal, com predominância do hábito herbáceo. Apesar de Manaus ser uma
cidade geograficamente inserida na Floresta Amazônica, o percentual de espécies arbóreas foi
baixo, indicando que Manaus é uma cidade pouco arborizada, refletindo a necessidade de uma
educação ambiental voltada para o cultivo de espécies arbóreas tanto nos quintais, quanto nas
áreas públicas da cidade.
A maioria das espécies cultivadas nos quintais foi de origem exótica. Também foi
verificada uma diferença na riqueza e na utilidade das espécies cultivadas na frente e nos
fundos dos quintais, sendo a maioria das espécies cultivadas na frente de uso ornamental,
enquanto que as espécies de uso alimentício e medicinal predominam nos fundos dos quintais.
As espécies são obtidas por pedir, pegar, comprar ou trocar, uma muda ou uma estaca
de seu interesse. A troca e a compra ocorreram com pouca frequência. Além das espécies
cultivadas, também foram encontradas espécies espontâneas que são mantidas nos quintais,
como a Piper peltatum L. As plantas são cultivadas diretamente no solo ou em vasos
reutilizados, tais como garrafa pet, garrafão de água, latas de tintas e de leite.
Os quintais urbanos de Manaus apresentam as funções econômica, ecológica e social,
uma vez que são áreas utilizadas para a criação de pequenos animais, para o cultivo das
plantas de interesse e na manutenção das relações entre amigos e familiares, além de ser
57
importantes por seu valor sentimental. Portanto, a manutenção dos quintais na zona urbana de
Manaus deve ser incentivada junto aos moradores, assim como também deve ser incentivado
o cultivo de espécies nativas pra conservação da biodiversidade vegetal local e nacional.
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudos da primeira autora, aos Projetos MAUA e Biotupé pela
utilização dos equipamentos e espaço físico, ao Curso de Botânica do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), a Dra. Aline Lopes pela elaboração dos mapas e também aos
moradores dos bairros Cachoeirinha, Glória e Coroado.
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64
CONCLUSÃO GERAL
Os quintais de Manaus apresentaram uma alta riqueza de espécies vegetais que são utilizadas
com os fins ornamentais, medicinais, alimentícias, para sombreamento, renda e uso místico.
Dos bairros estudados, o mais antigo (Cachoeirinha) foi o que apresentou a maior riqueza de
indivíduos e de espécies vegetais. Em geral, a manutenção dos quintais é responsabilidade das
mulheres, que possuem baixa escolaridade e baixa renda. Algumas espécies apresentaram
múltiplos usos como Theobroma cacao L, Persea americana Mill e Psidium guajava L.
Entretanto, a maioria das espécies cultivadas nos quintais de Manaus é de uso ornamental. A
maioria das plantas dos quintais é de hábito herbáceo, exigindo cuidados de manutenção
como rega, limpeza diária e adubação. Apesar dos quintais abrigarem uma alta diversidade
vegetal, a maioria das espécies encontradas nos quintais é de origem exótica. Por esta razão, é
importante que a manutenção dos quintais seja incentivada. Entretanto, também se faz
necessário o incentivo à cultura dos vegetais nativos, principalmente de espécies arbóreas,
tanto nos quintais como em áreas públicas da cidade, para que o conhecimento da flora local
não seja perdido e nem substituído por espécies introduzidas.
65
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69
Apêndice 1 - Espécies úteis dos quintais urbanos de Manaus. (Orn = ornamental; Med = medicinal; Ali = alimentício; Som = sombra; Ren =
renda; Mís = místico; Ca = Cachoeirinha; Gl = Glória; Co = Coroado; Freq = freqüência).
Família Espécie Nome Popular
Freq Usos Hábito
Bairros
presentes
Acanthaceae Asystasia gangetica (L.) T. Anderson
11 orn herbácea Ca, Gl, Co
Fittonia albivenis (Lindl. ex Veitch) Brummitt
1 orn herbácea Ca
Graptophyllum pictum (L.) Griff
2 orn arbusto Ca, Co
Hemigraphis alternata (Burm. f.) T. Anderson hera-roxa 1 orn herbácea Ca
Hypoestes phyllostachya Baker confeti 1 orn herbácea Ca
Justicia brandegeeana Wassh. & L.B. Sm camarão 1 orn herbácea Ca
Justicia calycina (Nees) V. A. W. Graham sara-tudo 5 med subarbusto Ca, Gl, Co
Justicia secunda Vahl sara-tudo 3 orn subarbusto Ca, Co
Megaskepasma erythrochlamys Lindau
4 orn arbusto Ca, Co
Pachystachys spicata (Ruiz & Pav.) Wassh camarão 1 orn arbusto Co
Pseuderanthemum carruthersii (Seem.) Guillaumin cróton 2 orn arbusto Ca, Gl
Ruellia simplex C. Wright roseira 21 orn subarbusto Ca, Gl, Co
Sanchezia parvibracteata Sprague & Hutch
1 orn arbusto Ca
Thunbergia erecta (Benth.) T. Anderson
1 orn arbusto Gl
Adoxaceae Sambucus australis Cham. & Schltdl sabugueiro 2 med/ren arbusto Co
Amaranthaceae Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze penicilina 1 orn herbácea Ca
Amaranthus caudatus L rabo-de-gato 1 orn arbusto Co
Celosia argentea L crista-de-galo 8 orn/med herbácea Ca, Gl, Co
Gomphrena globosa L perpétua 4 orn/med herbácea Ca, Gl, Co
Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen corrente 3 med/orn subarbusto Ca, Co
70
Amaryllidaceae Allium fistulosum L cebolinha 6 ali herbácea Ca, Co
Crinum x powellii hort. ex Baker açucena 2 orn herbácea Ca, Gl
Crinum sp. açucena, lírio 2 orn herbácea Ca, Gl
Eucharis grandiflora Planch. & Linden lírio-do-amazonas 6 orn herbácea Ca, Gl, Co
Griffinia espiritensis Ravenna amarílis 1 orn herbácea Co
Hippeastrum puniceum (Lam.) Kuntze açucena 5 orn herbácea Ca, Gl, Co
Hippeastrum reginae (L.) Herb açucena 1 orn herbácea Gl
Hymenocallis littoralis (Jacq.) Salisb lágrima 1 orn herbácea Ca
Anacardiaceae Anacardium occidentale L cajueiro 6 ali árvore Ca, Co
Mangifera indica L manga 13 ali/med/ren/som árvore Ca, Gl, Co
Annonaceae Annona mucosa Jacq biribá 1 ali árvore Ca
Annona muricata L graviola 4 ali/som árvore Ca, Gl, Co
Annona squamosa L ata 1 ali/som árvore Ca
Apiaceae Eryngium foetidum L chicória 3 ali herbácea Ca, Gl, Co
Apocynaceae Adenium obesum (Forssk.) Roem. & Schult flor-do-deserto 4 orn arbusto Ca, Gl, Co
Allamanda blanchetii A. DC alamanda 2 orn arbusto Ca
Allamanda cathartica L alamanda 7 orn trepadeira Ca, Gl, Co
Allamanda polyantha Müll. Arg alamanda 1 orn arbusto Ca
Calotropis procera (Aiton.) W. T. Aiton leiteira 1 orn arbusto Ca
Catharanthus roseus (L.) G. Don boa-noite 26 orn subarbusto Ca, Gl, Co
Huernia macrocarpa N.E. Br cacto 1 orn herbácea Co
Nerium oleander L loucura 5 orn arbusto Ca, Co
Plumeria pudica Jacq cajado-de-são-josé 29 orn/som arbusto Ca, Gl, Co
Plumeria rubra L jasmim 1 orn arbusto Co
Tabernaemontana divaricata (L.) R. Br. ex Roem. &
Schult jasmim-cambraia
6
orn arbusto Ca, Gl, Co
Tabernaemontana laeta Mart jasmim 5 orn/som arbusto Ca, Gl, Co
Thevetia peruviana K. Schum castanha-do-pará 3 orn/som arbusto Gl, Co
Aquifoliaceae Ilex aquifolium L azevinha 1 orn arbusto Ca
71
Araceae Aglaonema commutatum Schott tajá, irapuru 10 orn herbácea Ca, Gl, Co
Aglaonema costatum N. E. Br tajá 3 orn herbácea Ca, Gl, Co
Aglaonema crispum (Pitcher & Manda.) Nicolson tajá 3 orn herbácea Ca
Alocasia x amazonica André tajá 3 orn herbácea Ca, Co
Anthurium andraeanum Linden antúrio 8 orn herbácea Ca, Gl, Co
Caladium bicolor (Ainton.) Vent tajá, tajá-branco 6 orn herbácea Ca, Gl, Co
Caladium hortulanum Birdsey tajá 16 orn herbácea Ca, Gl, Co
Caladium lindenii (André) Madison mão-aberta, tajá 4 orn herbácea Ca, Co
Dieffenbachia amoena Bull comigo-ninguém-pode 24 orn/míst herbácea Ca, Gl, Co
Epipremnum pinnatum (L.) Engl tajá-jiboia, tajá 10 orn herbácea Ca, Gl, Co
Monstera adansonii Schott costela-de-adão 10 orn herbácea Ca, Gl, Co
Philodendron hederaceum (Jacq.) Schott tajá-trepadeira 1 orn herbácea Gl
Philodendron imbe Schott ex Endl tajá 10 orn herbácea Ca, Gl, Co
Spathiphyllum ortgiesi Regel bananeira-ornamental 3 orn herbácea Ca, Co
Spathiphyllum wallisii Regel lírio-da-paz, lírio 3 orn herbácea Ca, Gl
Syngonium angustatum Schott tajá 10 orn herbácea Ca, Gl, Co
Xanthosoma pentaphyllum (Vell.) Schott tajá 1 orn herbácea Ca
Araliaceae Polyscias fruticosa (L.) Harms chama-dinheiro 10 orn/míst arbusto Ca, Gl, Co
Polyscias guilfoylei (W. Bull.) L. H. Bailey árvore-da-felicidade 7 orn arbusto Ca, Gl
Polyscias scutellaria (Burm. f.) Forsberg cuia-mansa 6 med/ren/orn arbusto Ca, Gl, Co
Arecaceae Arenga caudata (Lour.) H.E. Moore palmeira 1 orn palmeira Ca
Astrocaryum aculeatum G. Mey tucumã 1 ali palmeira Ca
Bactris gasipaes Kunth pupunheira 2 ali palmeira Ca, Gl
Chamaedorea brachypoda Standl. & Steyerm palmeira 2 orn palmeira Gl, Co
Chamaedorea cataractarum Mart palmeira 1 orn palmeira Ca
Cocos nucifera L coqueiro 5 ali/som palmeira Gl, Co
Dypsis lutescens (H. Wendl.) Beentje & J. Dransf palmeira 11 orn palmeira Ca, Gl, Co
Euterpe oleracea Mart açaí 1 ali/som palmeira Ca
Euterpe precatoria Mart açaí 2 ali/med palmeira Ca
72
Licuala grandis H. Wendl. ex Linden palmeira-leque 2 orn palmeira Ca
Oenocarpus bacaba Mart bacaba 1 alim palmeira Gl
Rhapis excelsa (Thunb.) A. Henry palmeira 6 orn palmeira Ca, Gl, Co
Serenoa repens (W. Bartram) Small palmeira 1 orn palmeira Gl
Asparagaceae Agave americana L agave 2 orn arbusto Co
Agave angustifolia Haw espada-de-são-jorge 8 orn arbusto Ca, Gl, Co
Chlorophytum comosum (Thunb.) Jacques
4 orn herbácea Ca, Gl, Co
Cordyline fruticosa (L.) A. Chev cróton 13 orn arbusto Ca, Gl, Co
Dracaena fragrans (L.) Ker Gawl
3 orn arbusto Ca, Gl, Co
Dracaena godseffiana hort chama-dinheiro 14 orn/míst arbusto Ca, Gl, Co
Dracaena sanderiana hort
3 orn herbácea Ca, Gl, Co
Dracaena surculosa Lindl irapuru 5 orn arbusto Ca, Gl, Co
Sansevieria cylindrica Bojer espada-de-são-jorge 9 orn/míst herbácea Ca, Gl, Co
Sansevieria masoniana Chahinian espada-de-são-jorge 2 orn herbácea Ca
Sansevieria trifasciata Prain espada-de-são-jorge 27 orn/míst herbácea Ca, Gl, Co
Asteraceae Acmella oleracea (L.) R. K. Jansen jambu 1 ali herbácea G
Bidens sulphurea (Cav.) Sch. Bip margarida 1 orn herbácea Ca
Cichorium intybus L chicória 1 ali subarbusto Ca
Gerbera jamesonii Adlam margarida 1 orn herbácea Ca
Tagetes erecta L cravo 1 orn herbácea Ca
Vernonia condensata Baker boldo, buzina 13 med/orn arbusto Ca, Gl, Co
Balsaminaceae Impatiens walleriana Hooh.f maria-sem-vergonha 2 orn herbácea Gl, Co
Begoniaceae Begonia × hybrida auct begônia 2 orn herbácea Co
Begonia aconitifolia DC begônia 5 orn subarbusto Ca, Gl, Co
Begonia bowerae Ziesenh begonha 1 orn herbácea Ca
Begonia egregia N. E. Br begônia 1 orn arbusto Gl
Begonia manicata Brongn. ex F. Cels begonha 2 orn herbácea Ca, Gl
Begonia masoniana Irsmsch. ex Ziesenh begônia 1 orn herbácea Ca
Begonia semperflorens Link & Otto begônia 3 orn herbácea Ca
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Begonia ulmifolia Willd begônia 1 orn herbácea Gl
Bignoniaceae Crescentia cujete L cuia 2 med/orn árvore Ca, Co
Fridericia chica ( Bonpl.) L.G. Lohmann crajiru 18 med/ren/orn arbusto Ca, Gl, Co
Mansoa alliacea (Lam.) A.H. Gentry cipó-alho 3 med/ren trepadeira Co
Saritaea magnifica (W. Bull) Dugand sariteia 1 orn/som trepadeira Ca
Bixaceae Bixa orellana L urucum 3 ali/med/ren/som árvore Ca, Gl, Co
Brassicaceae Brassica oleracea L couve 1 ali herbácea Gl
Bromeliaceae Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. & Schult. F abacaxi-de-jardim 4 orn herbácea Ca, Co
Ananas comosus (L.) Merr abacaxi 8 ali/med/ren herbácea Ca, Gl, Co
Canistrum aurantiacum E. Morren bromélia 1 orn herbácea Co
Deuterocohnia sp bromélia 1 orn herbácea Gl
Neoregelia compacta (Mez) L.B. Sm bromélia 1 orn herbácea Co
Cactaceae Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A. Berger cacto 2 orn árvore Co
Cereus jamacaru DC mandacaru 5 orn arbusto Ca, Gl
Nopalea cochenillifera (L.) Salm-Dyck cacto, palma 4 orn arbusto Ca, Co
Opuntia microdasys (Lehm.) Pfeiff cacto-palma, cacto 2 orn arbusto Ca, Gl
Pereskia aculeata Mill rosa-madeira 2 orn arbusto Ca, Co
Pereskia bleo (Kunth) DC rosa-madeira 4 orn/ali arbusto Ca, Gl
Cannaceae Canna X generalis L. H. Bailey & E.Z. Bailey bananeira-ornamental 7 orn herbácea Ca, Gl, Co
Caricaceae Carica papaya L mamoeiro 22 alim/med arbusto Ca, Gl, Co
Clusiaceae Clusia fluminensis Planch. & Triana clúsia 2 orn arbusto Ca, Co
Garcinia madruno (Kunth) Hammel bacuri 1 ali árvore Gl
Commelinaceae Commelina erecta L santa-luzia 2 med/orn herbácea Gl
Tradescantia pallida (Rose) D.R. Hunt coração-roxo 9 orn herbácea Ca, Gl, Co
Tradescantia spathacea Sw abacaxi-roxo 10 orn herbácea Ca, Gl, Co
Tradescantia zebrina Heynh. ex Bosse
2 orn herbácea Ca, Co
Costaceae Costus spicatus (Jacq.) Sw pobre-velho 14 med/ren herbácea Ca, Gl, Co
Crassulaceae Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken corama 21 med/ren herbácea Ca, Gl, Co
Kalanchoe gastonis-bonnieri Hamet & H. Perrier corama 6 orn/med/ren herbácea Ca, Co
74
Kalanchoe sp. suculenta 4 orn herbácea Ca, Co
Crysobalanaceae Licania tomentosa (Bent.) Fritsch oiti 1 orn árvore Ca
Cucurbitaceae Cucurbita pepo L jerimum 2 ali herbácea Ca, Co
Cupressaceae Chamaecyparis lawsoniana (A. Murray) Parl pinheirinho 4 orn arbusto Ca, Gl, Co
Cycadaceae Cycas thouarsii R. Br palmeira, palheira 2 orn arbusto Ca, Gl
Cyclanthaceae Carludovica palmata Ruiz & Pav palmeirinha 1 orn subarbusto Ca
Davalliaceae Davallia fejeensis Hook renda-portuguesa 2 orn herbácea Ca, Gl
Nephrolepis biserrata (Sw.) Schott samambaia 2 orn herbácea Ca, Gl
Nephrolepis brownii (Desv.) Hovenkamp & Miyam samambaia 7 orn herbácea Ca, Gl, Co
Nephrolepis exaltata (L.) Schott samambaia 1 orn herbácea Ca
Dioscoreaceae Dioscorea trifida L.f. cará-roxo 1 ali herbácea Ca
Euphorbiaceae Acalypha wilkesiana Mull. Arg rabo-de-pavão 1 orn arbusto Ca
Codiaeum variegatum (L.) Rumph. ex A. Juss cróton 3 orn arbusto Ca, Gl, Co
Euphorbia cotinifolia L
5 orn arbusto Ca, Co
Euphorbia milii Des Moul coroa-de-cristo 4 orn subarbusto Ca, Co
Euphorbia tirucalli L dedo-de-adão 5 med/ren/orn arbusto Ca, Gl, Co
Euphorbia trigona Mill cacto 1 orn arbusto Ca
Jatropha curcas L pião-branco 4 med/orn/míst arbusto Ca, Gl, Co
Jatropha gossypiifolia L pião-roxo 21 med/orn/míst arbusto Ca, Gl, Co
Jatropha podagrica Hook pião-barrigudo 12 orn arbusto Ca, Gl, Co
Manihot esculenta Crantz macaxeira 2 ali arbusto Ca
Pedilanthus tithymaloides (L.) Poit coramina 13 orn/med arbusto Ca, Gl, Co
Fabaceae Adenanthera pavonina L tento 1 orn árvore Ca
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud pata-de-vaca 1 orn árvore Ca
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz jucá 1 med árvore Gl
Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw flor-de-pavão 1 orn árvore Ca
Cassia fistula L acássia imperial 1 orn árvore Ca
Clitoria fairchildiana R. A. Howard sombreiro 1 orn árvore Ca
Tamarindus indica L tamarina 1 med/ren árvore Co
75
Garryaceae Aucuba japonica Thunb aucuba 1 orn arbusto Gl
Gesneriaceae Episcia cupreata (Hook.) Hanst laço-de-amor 6 orn herbácea Ca, Gl, Co
Episcia lilacina Hanst laço-de-amor 1 orn herbácea Ca
Episcia sp laço-de-amor 3 orn herbácea Gl, Co, Ca
Kohleria amabilis (Planch. & Linden) Fritsch
1 orn herbácea Gl
Nautilocalyx melittifolius (L.) Wiehler crespinha 4 orn herbácea Ca, Gl, Co
Heliconiaceae Heliconia bihai (L.) L bananeira-ornamental 1 orn herbácea Ca
Heliconia densiflora B. Verl helicônia 1 orn herbácea Ca
Heliconia hirsuta L. f unha-de-dragão 3 orn herbácea Ca, Gl
Heliconia rostrata Ruiz & Pav helicônia 1 orn herbácea Ca
Hydrangeaceae Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser hortência 7 orn arbusto Ca, Gl, Co
Iridaceae Belamcanda chinensis (L.) Redouté orquídea 1 orn herbácea Ca
Eleutherine bulbosa (Mill.) Urb marupá 2 med/ren herbácea Ca, Co
Neomarica caerulea (Ker Gawl.) Sprague lírio, orquídea 7 orn herbácea Ca, Gl, Co
Neomarica candida (Hassl.) Sprague palma-de-santa-rita 4 orn herbácea Ca, Gl
Neomarica longifolia (Link & Otto) Sprague
1 orn herbácea Ca
Neomarica sp lírio 1 orn herbácea Gl
Lamiaceae Clerodendron x speciosum Tiejism. & Binn brinco-de-noiva 2 orn arbusto Ca, Gl
Melissa officinalis L cidreira 2 med herbácea Gl
Mentha x piperita L hortelã 3 med herbácea Ca, Gl, Co
Ocimum basilicum L alfavaca 3 med subarbusto Ca, Gl, Co
Ocimum gratissimum L alfavaca 2 med subarbusto Ca, Gl
Ocimum tenuiflorum L manjericão 1 ali herbácea Gl
Origanum vulgare L manjericão 5 ali/med herbácea Ca, Gl, Co
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng malvarisco, hortelã 19 med/orn herbácea Ca, Gl, Co
Plectranthus barbatus Andrews boldo, malvarisco 14 med/orn herbácea Ca, Gl, Co
Plectranthus ornatus Codd boldo 4 med/ren herbácea Ca, Co
Solenostemon scutellarioides (L.) Codd cóleus 11 orn herbácea Ca, Gl, Co
Vitex agnus-castus L alecrim-do-norte 2 orn/ali arbusto Ca
76
Lauraceae Cinnamomum zeylanicum Blume canela 4 ali/som/orn/med/ren árvore Ca, Co
Persea americana Mill abacate 6 med/ali/som árvore Ca, Gl, Co
Liliaceae Liriope muscari (Decne.) L. H. Bailey
1 orn herbácea Gl
Linderniaceae Torenia fournieri Linden ex E. Fourn boca-de-lobo 2 orn herbácea Ca, Gl
Lythraceae Cuphea gracilis Kunth érica 3 orn herbácea Ca, Gl
Lagerstroemia indica L rosedá 9 orn árvore Ca, Gl, Co
Malpighiaceae Malpighia aquifolia L azevinho 2 orn arbusto Ca, Co
Malpighia emarginata DC acerola 13 ali arbusto Ca, Gl, Co
Malvaceae Abutilon striatum Dicks. ex Lindl balão-chinês 1 orn arbusto Co
Gossypium hirsutum L algodão 2 med/ren arbusto Co
Hibiscus mutabilis L papoula 3 orn arbusto Ca, Co
Hibiscus rosa-sinensis L papoula, hibisco 9 med/orn arbusto Ca, Gl, Co
Hibiscus sabdariffa L vinagreira 2 med/ali subarbusto Ca, Co
Hibiscus schizopetalus (Dyer) Hook. F papoula 1 orn arbusto Ca
Theobroma cacao L cacau 9 ali/som/med árvore Ca, Gl, Co
Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K.
Schum cupuaçu
3
ali/som árvore Ca, Co
Marantaceae Calathea argyraea Korn palheira 1 orn herbácea Ca
Calathea loeseneri J. F. Macbr orquídea 1 orn herbácea Ca
Calathea ornata (Lindl.) Korn tajá, palheira 3 orn herbácea Ca
Calathea picturata K. Koch & Linden
2 orn herbácea Gl, Co
Maranta leuconeura E. Morren
3 orn herbácea Ca, Co
Stromanthe thalia (Vell.) J.M.A. Braga tajá 1 orn herbácea Co
Moraceae Ficus carica L figo 1 ali arbusto Ca
Ficus sp apuí, ficus 3 orn/som árvore Ca, Gl
Morus nigra L amoreira 5 ali/med árvore Ca, Gl, Co
Musaceae Musa ornata Roxb bananeira-de-jardim 1 orn arbusto Gl
Musa x paradisiaca L banana 10 ali/ som herbácea Ca, Gl, Co
Myrtaceae Eugenia pitanga (O. Berg) Kiaersk pitanga 1 ali/som árvore Gl
77
Eugenia stipitata McVaugh araçá-boi 4 ali árvore Ca, Co
Eugenia uniflora L pitanga 2 ali árvore Gl, Co
Psidium guajava L goiaba 17 ali/med/ren/som árvore Ca, Gl, Co
Syzygium cumini (L.) Skeels azeitona 4 ali/som árvore Ca, Gl
Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry jambeiro 2 ali árvore Ca
Nyctaginaceae Bougainvillea glabra Choisy buganvile 3 orn arbusto Ca, Co
Bougainvillea spectabilis Wildd buganvile 6 orn/som arbusto Ca, Gl, Co
Orchidaceae Spathoglottis plicata Blume orquídea 4 orn herbácea Ca, Co
Oxalidaceae Averrhoa bilimbi L limão-caiano 1 ali/som árvore Ca, Gl, Co
Averrhoa carambola L carambola 10 ali árvore Ca
Oxalis latifolia Kunth trevo-verde 3 orn herbácea Ca, Co
Oxalis violacea L trevo-roxo 14 orn herbácea Ca, Gl, Co
Passifloraceae Passiflora edulis Sims maracujá 3 ali trepadeira Ca, Co
Phyllanthaceae Phyllanthus niruri L quebra-pedra 10 med herbácea Ca, Co
Phyllanthus tenellus Roxb quebra-pedra 3 med herbácea Gl, Co
Phytolaccaceae Petiveria alliacea L mucuracaá 16 med herbácea Ca, Gl, Co
Piperaceae Peperomia pellucida (L.) Kunth erva-de-jabuti 12 med/orn herbácea Ca, Gl, Co
Peperomia serpens (Sw.) Loudon peperômia 2 orn herbácea Ca, Gl
Piper cavalcantei Yunck elixir-paregórico 1 med arbusto Co
Piper peltatum L capeba 18 med/rend subarbusto Ca, Gl, Co
Plantaginaceae Russelia equisetiformis Schltdl. & Cham flor-de-coral 5 orn subarbusto Ca, Gl
Poaceae Axonopus compressus (Sw.) P. Beauv capim- nobre 1 orn herbácea Gl
Bambusa vulgaris Schrad. ex J.C. Wendl bambuzeiro 1 orn arbusto Gl
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf capim-santo 11 med/ren/ali herbácea Ca, Co
Saccharum officinarum L cana-roxa 1 med arbusto Ca
Polypodiaceae Phlebodium decumanum (Willd.) J. Sm samambaia 2 orn herbácea Ca, Gl
Portulacaceae Portulaca grandiflora Hook onze-horas 9 orn herbácea Ca, Gl, Co
Portulaca oleracea L onze-horas 3 orn herbácea Ca, Co
Portulaca pilosa L amor-crescido 5 med/ren herbácea Ca, Gl, Co
78
Pteridaceae Adiantum raddianum C. Presl avenca 2 orn herbácea Ca, Gl
Adiantum subcordatum Sw avenca 3 orn herbácea Ca, Co
Rosaceae Rosa chinensis Jacq roseira 13 orn arbusto Ca, Gl, Co
Rosa x grandiflora Hort roseira 15 orn arbusto Ca, Gl, Co
Rosa lucieae Franc. & Rochebr ex Crép roseira 6 orn trepadeira Ca, Gl, Co
Rubiaceae Genipa americana L genipapo 1 ali árvore Gl
Ixora chinensis Lam icsória 2 orn arbusto Ca
Ixora coccinea L icsória 35 orn arbusto Ca, Gl, Co
Ixora finlaysoniana Wall. ex G. Don jasmim, icsória 5 orn/som arbusto Ca, Gl, Co
Ixora macrothyrsa (Teijsm. & Binn.) N.E. Br icsória, jasmim 12 orn arbusto Ca, Gl, Co
Ixora undulata Roxb icsoria 4 orn/som arbusto Ca, Gl
Morinda citrifolia L none 16 med/ren/orn/som arbusto Ca, Gl, Co
Mussaenda erythrophylla Schumach. & Thonn
1 orn arbusto Ca
Mussaenda philippica A. Rich
1 orn arbusto Ca
Pentas lanceolata (Forssk.) Deflers show-de-estrelas 1 orn herbácea Ca
Rutaceae Citrus limon (L.) Osbeck limão 7 ali árvore Ca, Gl, Co
Citrus reticulata Blanco tangerina 2 ali árvore Co
Citrus sinensis (L.) Osbeck laranja 4 ali árvore Ca, Co
Murraya exotica L jasmim-laranjeira 2 orn/som árvore Ca, Gl
Ruta graveolens L arruda 7 med/ren/orn subarbusto Ca, Co
Sapindaceae Talisia esculenta (A. St.Hil.) Radlk pitomba 5 ali/ren árvore Ca, Gl, Co
Sapotaceae Pouteria caimito (Ruiz & Pav) Radlk abiu 4 ali/som/ren árvore Ca, Co
Solanaceae Capsicum annuum L pimentão 1 ali subarbusto Gl
Capsicum chinense Jacq pimenta-cheirosa 4 ali subarbusto Ca, Co
Capsicum frutescens L pimenteira 7 alim/orn subarbusto Ca, Co
Capsicum sp pimenta 1 ali subarbusto Gl
Petunia hybrida E. Vilm petúnia 1 orn herbácea Ca
Talinaceae Talinum fruticosum (L.) Juss cariru 9 ali herbácea Ca, Gl, Co
Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn cariru 3 ali/orn herbácea Ca, Co
79
Urticaceae Cecropia pachystachya Trécul embaúba 1 orn árvore Co
Pilea cadierei Gagnep. & Guillaumin
1 orn herbácea Gl
Pilea involucrata (Sims) Urb
1 orn herbácea Gl
Verbenaceae Lantana camara L flor-amarela 3 orn arbusto Gl, Co
Lippia alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton & P. Wilson cidreira 11 med/rend subarbusto Ca, Co
Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl rinchão 2 med/ren subarbusto Ca, Co
Verbena hybrida Groenl. & Rumpler.
1 orn herbácea Gl
Vitaceae Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E. Jarvis insulina 2 med herbácea Ca, Co
Vitis vinifera L parreira 1 ali arbusto Co
Xanthorrhoeaceae Aloe arborescens Mill aloe-vera 1 med herbácea Ca
Aloe chabaudii Schonland babosa 1 med herbácea Gl
Aloe vera (L) Burm. F babosa 25 med/ren/orn herbácea Ca, Gl, Co
Zingiberaceae Alpinia purpurata (Vieil.) K. Schum gengibre-ornamental 3 orn herbácea Gl, Co
Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt & R.M. Sm vindicá 1 med herbácea Co
Etlingera elatior (Jack.) R. M. Sm bastão-do-imperador 1 orn herbácea Gl
Hedychium coronarium J. Koenig lírio-borboleta 1 orn herbácea Gl
Zingiber officinale Roscoe mangarataia 6 med/ren herbácea Ca, Gl, Co
Zingiber sp gengibre-ornamental 1 orn herbácea Co
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ANEXO A – QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO
Nome do informante:
Idade: Sexo: ( ) Fem ( ) Masc
Ocupação/profissão:
Origem/locais onde o entrevistado morou:
Endereço:
Escolaridade:
( ) Não alfabetizado ( ) Ensino Fundamental incompleto
( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto
( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto
( ) Ensino superior completo
Renda familiar mensal e número de moradores da residência:
( ) até 1 salário ( ) até 3 salários ( ) até 5 salários ( ) acima de 5 salários
Tempo de residência/idade do quintal:
Tamanho do terreno/lote:
Qual a importância do quintal para você?
Quais espécies você considera mais importante? Qual o motivo de tal importância?
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ANEXO B – QUESTIONÁRIO ETNOBOTÂNICO
Nome popular Usos Identificação botânica
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ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr.(a) para participar do Projeto de Pesquisa “Etnobotânica de
quintais de três bairros urbanos de Manaus, Amazonas”, das pesquisadoras Diana Nunes
de Oliveira, Veridiana Vizoni Scudeller e Maria Teresa Fernandez Piedade.
A pesquisadora Diana Nunes de Oliveira realizará o levantamento das plantas úteis
presentes em seu quintal através de uma entrevista e também por meio de turnê-guiada ao
quintal, onde ocorrerá o preenchimento de formulário/questionário contendo perguntas sócio-
econômicas e sobre o tipo de uso das plantas presentes em seu quintal, como alimentícias,
medicinais, ornamentais, para sombra, entre outros fins. Com as informações pretende-se
verificar se os moradores do bairro têm o hábito de usar as plantas presentes em seus quintais
e como as utilizam.
A participação é voluntária e se participar não terá nenhuma despesa ou receberá algo
em troca. Consequentemente, a vantagem de sua participação é apenas de caráter científico.
Mesmo após sua autorização, o Sr.(a) terá o direito e a liberdade de retirar seu consentimento
em qualquer fase da pesquisa, independente do motivo e sem qualquer prejuízo à sua pessoa.
Os resultados serão divulgados, porém sua identidade será mantida em sigilo para
sempre. Se você quiser saber mais detalhes e os resultados da pesquisa, pode fazer contato
com as pesquisadoras Diana Nunes de Oliveira, Veridiana Vizoni Scudeller e Maria Teresa
Fernandez Piedade, pelos telefones (92) 8828-4676 / 9602-5572 ou na UFAM Av.General
Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000. Coroado I. Manaus – AM. (Mini-campus/ ICB).
Fui informado sobre o que o pesquisador quer e por que precisa da minha
colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto,
sabendo que não vou ganhar nada e posso sair quando quiser. Estou recebendo uma cópia
deste documento, assinada, que vou guardar.
........................................... ou Impressão do polegar Data.../.../....
Assinatura do participante Caso não saiba assinar
............................................. Data.../.../....
Pesquisador responsável
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ANEXO D – TERMO DE RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR
Eu, DIANA NUNES DE OLIVEIRA, Pesquisadora Responsável pelo Projeto
“ETNOBOTÂNICA DE QUINTAIS DE TRÊS BAIRROS URBANOS DE MANAUS,
AMAZONAS”, declaro que:
1. Conheço e cumprirei integralmente todas as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde
(CNS) do Ministério da Saúde, relacionadas com as minhas atividades de pesquisa e
publicadas até a presente data;
2. Cumprirei as atividades de pesquisas estabelecidas no referido Projeto, prestando ao CEP-
INPA, aos sujeitos da pesquisa e as Instituições executoras ou participantes (Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia) toda e qualquer informação solicitada;
3. Utilizarei as informações obtidas exclusivamente na realização da presente pesquisa;
4. Divulgarei, ao término do projeto, os resultados em publicações técnico-científicas de
circulação nacional ou internacional e em outros veículos de divulgação de informação para a
sociedade, visando ofertar os conhecimentos para uso pelos participantes ou órgãos
responsáveis pela política de uso das plantas;
5. Comprometo-me a não patentear e a não divulgar informações de conhecimento
tradicional, obtidas de forma não intencional e relacionadas ou não com a presente pesquisa,
durante ou após a mesma.
Manaus, 10 de Dezembro de 2013.
________________________
Assinatura do pesquisador
84
ANEXO E - ATA DA QUALIFICAÇÃO
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ANEXO F – ATA DA DEFESA