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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP MARIA DE LOURDES RODRIGUES OS PSICÓLOGOS E OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS: Sentidos da Interdisciplinaridade nos Centros de Referência de Assistência Social - CRASs, na Cidade de São José dos Campos/SP. MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC - SP

MARIA DE LOURDES RODRIGUES

OS PSICÓLOGOS E OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS

POLÍTICAS PÚBLICAS: Sentidos da Interdisciplinaridade

nos Centros de Referência de Assistência Social - CRASs,

na Cidade de São José dos Campos/SP.

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social

MARIA DE LOURDES RODRIGUES

OS PSICÓLOGOS E OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS

POLÍTICAS PÚBLICAS: Sentidos da Interdisciplinaridade

nos Centros de Referência de Assistência Social - CRASs,

na Cidade de São José dos Campos/SP.

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob a orientação da Profª Drª Úrsula Margarida Karsch.

SÃO PAULO

2011

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Banca Examinadora

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À minha família:

Meus pais

Manoel e Senilde

Que por amor se uniram,

E me possibilitaram a vida.

Às milhas filhas:

Annelise, Melise e Evelise

Pelo carinho, pela espera e paciência,

E a ânsia em acreditar que tudo seria possível.

Em especial, ao meu querido companheiro

Wanderley, pelo amor, carinho e superação

Em saber lidar com as minhas ausências.

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AGRADECIMENTOS

Nessa caminhada, agradeço primeiramente a DEUS; sua presença é constante

em minha vida. Sem ELE, nada seria e nada poderia.

Neste momento tão singelo, agradeço por todos aqueles que se fizeram

presentes nessa caminhada tão importante da minha vida.

MUITO OBRIGADA!

A todos que compõem a equipe do CNPq, por terem possibilitado e financiado

esta pesquisa.

Aos psicólogos, Nícolas e Aníbal, e às assistentes sociais Rebeca e Adélia

(nomes fictícios), por contribuírem com a realização das entrevistas, pois sem este

consentimento esta pesquisa não teria vida.

A meus queridos pais, Manoel e Senilde, mestres na ciência de viver, que me

proporcionaram a vida, por me ensinarem os primeiros passos e coragem para lutar.

Ao Wanderley, meu amado companheiro, razão do meu viver, por me dar força

e estar sempre ao meu lado, encorajando-me de que tudo seria possível.

Às minhas queridas filhas, Annelise, Melise e Evelise, flores que enfeitam o

meu jardim. Vocês são parte de mim. Sem vocês não teria sentido o meu viver.

À Profa Dra Úrsula Margarida Karsch, orientadora desta dissertação, por seu

empenho e dedicação.

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À Profa.Dra Maria Lúcia de Carvalho Silva, pelas ricas contribuições dadas

durante o meu exame de qualificação e por conseguir, através das suas aulas,

despertar nos seus alunos o desejo de transformar sonhos em realidades.

À Profa Dra Marta Silva Campos, pela leitura cuidadosa e carinhosa do meu

trabalho e pelas ricas sugestões dadas durante o exame de qualificação.

À Profa. Dra Vânia Baptista Nery, por gentilmente aceitar fazer parte da minha

Banca de Defesa.

À Profa Dra Maria Lúcia Martinelli, pelo carinho e dedicação, pela força que

me deu durante todo meu percurso.

À Profa. Dra Maria Lúcia Rodrigues, pelo apoio e por se colocar disponível em

poder me orientar.

À querida Vânia Mendes Medeiros de Lima (secretária do PEPG em Serviço

Social), pela dedicação e carinho, por estar sempre pronta para nos atender.

Quanta LUZ há em ti! Obrigada!

À Elisete de Fátima Rangel, coordenadora da Secretaria de Desenvolvimento

Social de São José dos Campos, por se colocar disponível e me receber carinhosamente.

Ao Fábio Alexandre Gomes, pelas sábias ideias que me levaram aos CRASs.

Aos meus colegas de caminhada, Ademar Sales Macaúbas, Cláudia Lúcia

da Silva, Camila Young, Douglas Zacarias da Silva, Kléber Navas, Mailiz

Garibotti Luza, Marciana Ártico, Sonimara Perin, Nancy Mieko Igarashi, por se

mostrarem solidários em poder compartilhar.

À Ana Carla Meireles Junqueira, por sua valiosa colaboração em me indicar

caminhos.

À Lindamar Alves Faermann, por ter me indicado o caminho do saber,

apresentando-me a PUC. Por sua generosidade e pelas facilidades que me

proporcionou para a execução desse trabalho e pelas contribuições durante a

elaboração do projeto de pesquisa que deu início a esta dissertação.

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À Maria da Conceição Clarindo, por nossos encontros, nossas partilhas,

nossas trocas confidentes. Saudades!

À psicóloga Maria Letícia de Almeida, por me ouvir nos momentos de alegrias

e frustrações, por suas dicas e sugestões.

À psicanalista Roseli Aparecida Iorio Borges, pelos sábios conselhos, por me

abrir os olhos para a vida.

Agradeço ao casal Wilson e Renata pela compreensão e tolerância do tempo

que deixei de dedicar ao convívio com eles.

Especialmente à querida psicanalista Soraya Souza, por sua atenção e

dedicação e por quem tenho um imenso carinho. Por seus incentivos, sugestões e

contribuições que muito me auxiliaram, se é que não foram mesmo decisivos nesse

trabalho. Obrigada!

OBRIGADA SENHOR,

PELO DOM DA VIDA!

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RESUMO

A presente pesquisa consistiu em analisar os sentidos da Interdisciplinaridade na

relação cotidiana de trabalho dos psicólogos e dos assistentes sociais que atuam

nos Centros de Referência de Assistência Social (CRASs), na cidade de São José

dos Campos - SP, situada no Vale do Paraíba. E ainda, identificou as possibilidades

e os desafios da prática interdisciplinar entre os profissionais psicólogos e

assistentes sociais nos CRASs, tendo como finalidade a melhoria da relação

cotidiana de trabalho destes profissionais na proteção social básica. A

fundamentação teórica e metodológica que serviu de base para esta pesquisa de

natureza qualitativa está em conformidade com os parâmetros da Política Nacional

de Assistência Social (PNAS), tendo como fator de mediação o campo da Psicologia

Sócio-Histórica, com base no materialismo histórico dialético, bem como o Centro de

Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Os resultados

foram obtidos a partir dos sentidos da Interdisciplinaridade na equipe profissional.

Observou-se que para uma equipe, a Interdisciplinaridade está marcada na ação

conjunta, e para outra equipe, o trabalho é fragmentado e há falta de comunicação.

Aponta-se que a Interdisciplinaridade entre a psicologia e o serviço social no âmbito

do CRAS é um processo em construção, pois carrega a postura pessoal e

profissional de cada profissional.

PALAVRAS-CHAVE:

Assistência Social; Interdisciplinaridade; Psicologia.

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ABSTRACT

This study consisted in analyzing the sense of interdisciplinarity in the daily working

relationships of psychologists and social workers at Social Assistance Reference

Centers (CRASs) in the city of São José dos Campos, São Paulo State, Brazil.

Furthermore, the study sought to identify the possibilities and challenges of the

interdisciplinary practice among CRAS professionals, psychologists and social

workers with the purpose of improving their daily working relationships in the

performance of their tasks. The theoretical and methodological foundation of this

qualitative research conforms to the standards set forth by the Social Assistance

National Policy (PNAS), whose mediating factor is related to Social and Historical

Psychology based on dialectical and historical materialism, as well as on the

practices adopted by the Reference Center for Psychology and Public Policies

(CREPOP). Results of the research were obtained from the sense of interdisciplinarity

among members of the CRAS professional teams. We found that interdisciplinarity in

one team was focused on joint efforts, while in the other team work was carried out in

a fragmented manner and lack of communication prevailed among members. We

conclude that the interdisciplinarity between psychology and social work within the

CRAS realm is a process under construction, since it is associated with the personal

and professional characteristics and attitudes of each professional.

KEY WORDS:

Social Work; Interdisciplinarity; Psychology.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC - Benefício de Prestação Continuada

CAPS - Centro de Atenção Psicossocial

CF - Constituição Federal

CFP - Conselho Federal de Psicologia

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro de Referência Especializado de Serviço Social

CREPOP - Centro de Referência Técnica de Psicologia e Políticas Públicas

CRP - Conselho Regional de Psicologia

CTA - Centro Técnico Aeroespacial

EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEAv - Instituto de Estudos Avançados

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica

ICEA - Instituto de Controle do Espaço Aéreo

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

NOB/RH - Norma Operacional Básica de Recursos Humanos

NOB/SUAS - Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social

NOB-RH/SUAS - Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema

Único de Assistência Social

OMS - Organização Mundial da Saúde

PAIF - Programa de Atenção Integral à Família

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

PET - Programa de Educação Tutorial

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PUC/SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

SDS - Secretaria de Desenvolvimento Social

SUAS - Sistema Único de Assistência Social

UBS - Unidade Básica de Saúde

UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Número Mínimo dos Profissionais do CRAS.

Quadro 2 - Primeiros Resultados do Censo 2010 do IBGE.

Quadro 3 - Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2008.

Quadro 4 - Economia e Finanças Públicas de São José dos Campos.

Quadro 5 - Distribuição Mínima de CRAS por Porte do Município.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 12

1 CAMINHOS TRILHADOS PARA A PESQUISA: METODOLOGIA................... 18

1.1 Pressupostos Teóricos...................................................................................... 21

2 A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O CRAS:

CONTEXTUALIZANDO O UNIVERSO DA PESQUISA.................................... 28

2.1 A Constituição Federal e a Lei Orgânica da Assistência Social: Marcos

Históricos que Antecederam a Política Nacional de Assistência Social............ 30

2.2 Contextualizando o Centro de Referência de Assistência Social...................... 32

2.3 O CRAS - Unidade de São José dos Campos.................................................. 35

3 INTERDISCIPLINARIDADE: AFINAL, DO QUE SE TRATA?........................... 41

3.1 Psicologia na Assistência Social....................................................................... 46

3.2 O Trabalho Interdisciplinar no Centro de Referência de Assistência Social..... 51

4 AS NARRATIVAS DOS SUJEITOS DA PESQUISA. PERSPECTIVA INTER-

DISCIPLINAR: AS TROCAS DE CONHECIMENTO DOS SABERES E

PRÁTICAS ENTRE OS TÉCNICOS.................................................................. 55

4.1 Dos Trabalhos Interdisciplinares Entre Psicólogos e Assistentes Sociais:

Contribuição para Qualificar os Serviços Prestados. Dos Desdobramentos

na Oferta dos Serviços e no Atendimento aos Usuários................................... 66

4.2 São Inúmeras as Demandas e Necessidades Apresentadas pelos Usuários.

Você Entende que a Articulação do Serviço Social com a Psicologia

Favorece o Enfrentamento Dessas Problemáticas? De que Forma?............... 71

4.3 Questionário de Complementação.................................................................... 77

4.4 Análise Individual das Categorias Selecionadas............................................... 78

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 84

ANEXOS............................................................................................................ 88

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INTRODUÇÃO

Curiosidade, criatividade, disciplina e especialmente paixão

são algumas exigências para o desenvolvimento de um

trabalho criterioso, baseado no confronto permanente entre

o desejo e a realidade. (MIRIAM GOLDENBERG, 2006. p. 17)

Este trabalho é fruto de uma pesquisa qualitativa e tem como objeto de estudo

os sentidos da Interdisciplinaridade dos psicólogos e assistentes sociais nos Centros

de Referência de Assistência Social (CRASs). Ele se propõe a apontar

possibilidades e desafios da prática interdisciplinar destes profissionais na proteção

social básica, partindo do pressuposto da capacidade de emancipar e de

potencializar os indivíduos que se deparam com uma situação de pobreza e

exclusão.

A categoria Interdisciplinaridade aqui representada se baseia nos parâmetros

da Política Nacional de Assistência Social, (PNAS), onde a mesma “expressa

exatamente a materialidade do conteúdo da assistência social como um pilar do

Sistema de Proteção Social Brasileiro no âmbito da Seguridade Social”, (BRASIL,

2004. p. 7).

Proteção Social, que vem resguardar os direitos dos indivíduos que se

encontram em condições desfavoráveis, bem como o Centro de Referência Técnica

em Psicologia e Políticas Públicas, (CREPOP, 2008. p. 29), que servirá de base

teórico-metodológica, onde destaca através do Ministério do Desenvolvimento Social

(MDS) as ações dos profissionais que atuam nos CRASs: (...) visando a provocar

impactos na dimensão da subjetividade política dos usuários, tendo como diretriz

central a construção do protagonismo e da autonomia na garantia dos direitos com

superação das condições de vulnerabilidade social e potencialidades de riscos

(BRASIL, 2006. p. 13).

Depreende-se, ainda, que o CREPOP busca articular a efetivação do serviço

social com a psicologia no âmbito das políticas públicas, favorecendo seu

fortalecimento enquanto lugar da prática na atenção e intervenção psicossociais.

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Tem como campo de pesquisa o Centro de Referência1 de Assistência Social,

(CRAS). Desta forma os CRASs, são os espaços cotidianos de trabalho tanto dos

psicólogos, como dos assistentes sociais, onde sua intervenção será desde o

acolhimento das famílias referenciadas2, bem como os encaminhamentos e visitas

domiciliares. Ainda, o cenário que se apresenta a estes profissionais no campo da

proteção social básica são as adversidades, desigualdades e as mais variadas

formas de sofrimento, vulnerabilidade e exclusão social.

Neste sentido, fundamenta-se nas teorias da Psicologia Sócio-Histórica com

estudiosos que se baseiam na dimensão do materialismo histórico dialético,

seguidores de MARX, como: BOCK (2001), VIGOTSKY (2007), SAWAIA (2009),

LANE (1984), dentre outros mais.

Estes teóricos foram selecionados pois se baseiam na concepção do

materialismo, vinculados ao pensamento de Marx, que postula que são as relações

de produção da vida material vividas pelos homens que determinam sua condição

de ser social. O homem é produto e produtor de sua própria história. É na relação

com o mundo material e social que se desenvolvem as possibilidades humanas,

(BOCK, 2001. p. 24). Assim, o homem, através de suas relações sociais, é que

garante sua própria subsistência.

Os sofrimentos vivenciados pelos indivíduos são denominados como

sofrimentos ético-políticos, onde a raiz do sofrimento não está no indivíduo, mas sim

nas formas de pobreza e exclusão social geridas pela contemporaneidade3 do

1 O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma unidade pública estatal

descentralizada da política de assistência social responsável pela organização e oferta de serviços da proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e DF. Dada sua capilaridade nos territórios, caracteriza-se como a principal porta de entrada do SUAS, ou seja, é uma unidade que possibilita o acesso de um grande número de famílias à rede de proteção social de assistência social.

2 Família Referenciada é aquela que vive em áreas caracterizadas como de vulnerabilidade, definidas a

partir de indicadores estabelecidos por órgãos federais, pactuados e deliberados. A unidade de medida “família referenciada” é adotada para atender situações isoladas e eventuais relativas a famílias que não estejam em agregados territoriais atendidos em caráter permanente, mas que demandam do ente público proteção social. Dados extraídos da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS NOB-RH/SUAS (BRASÍLIA, 2006. p. 38).

3 A contemporaneidade diz respeito aos tempos recentes, dos últimos vinte anos, e pode-se

considerar a marca desta época o fenômeno da globalização ou da mundialização. Dados extraídos do site: Contemporaneidade - Arte do Século XX/XXI: Visitando o MAC na web. Dados acessados em 13.03.2011.

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mundo capitalista. É o indivíduo que sofre, porém, esse sofrimento não tem a gênese

nele, mas sim na intersubjetividade delineada socialmente. (SAWAIA, 2009. p. 99).

Na maioria das vezes, estes indivíduos não conseguem ver solução diante da

exclusão vivenciada, tornando-se reféns do próprio sofrimento frente ao cotidiano

que se repete num círculo vicioso. Há que se mobilizar diante destas situações de

exclusão no sentido de gerar oportunidades que visem à melhoria das condições

psicossociais destes indivíduos. Construções que provoquem a desmobilização

destes sujeitos no sentido de que possam galgar um “lugar” digno de ser vivido.

Conforme contextualiza Lane (1984), conhecer o indivíduo no conjunto de suas

relações sociais, tanto naquilo que lhe é especifico, como naquilo em que ele é

manifestação grupal e social, o que implica uma concepção do ser humano como produto

e produtor de sua história. Pois o homem vive em constante transformação no mundo. Ao

se relacionar socialmente, cria e vive sua própria história, relaciona-se com o mundo,

transformando-o e se transformando com sua maneira de ser e estar no mundo.

Isto é, o sujeito se revela por inteiro, pois é nas relações sociais que constrói

seu “EU”, ou seja, na relação com o “OUTRO” é que constrói manifestações

históricas socializadas.

Sob este ângulo, a inserção dos psicólogos nas diferentes áreas que compõem

as Políticas Públicas é uma das formas propostas como construção do compromisso

social da psicologia, (ARAÚJO, 2010. p. 17). Possibilitar a ampliação de meios de

atuação direcionada para intervenção psicossocial, onde o indivíduo se efetive

enquanto sujeito de direitos para poder viver com dignidade.

Pretende, desta forma, caminhar rumo ao conhecimento adquirido

academicamente pelos profissionais e à construção da prática vivenciada no

trabalho de proteção social básica.

Em relação à Interdisciplinaridade, a autora Ivani Fazenda (1996:17), uma das

precursoras da discussão em pauta há mais de 30 anos, afirma que num projeto

interdisciplinar “não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se”, propiciando

desta maneira uma forma de ampliar horizontes.

Assim, a equipe de referência4 do CRAS deve trabalhar de forma integrada,

4 A equipe de referência do CRAS é constituída por todos os profissionais que atuam no CRAS. A

equipe de referência normatizada pela NOB-RH trata apenas do padrão mínimo estabelecido para cada CRAS a partir de sua capacidade de atendimento. Assim, todos os profissionais que atuam em determinado CRAS constituem sua equipe de referência, mesmo que seu número supere o estabelecido pela NOB-RH (BRASIL, 2009. p. 61).

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para que os resultados sejam mais eficazes e mais rápidos, beneficiando a todos os

envolvidos no cotidiano em que se apresentam.

Com este mesmo pensamento, Japiassu aborda: “O interdisciplinar vai além do

simples monólogo de especialistas ou do diálogo paralelo e tem como horizonte o

campo unitário do conhecimento”. (1976, p. 73, grifos nossos). As trocas de saberes

favorecem as articulações umas com as outras, onde exige criatividade, iniciativa,

adaptação, é preciso aprender a lidar com as diferenças.

É neste sentido que a prática interdisciplinar será assegurada onde a mesma

requerer comunicação, diálogos abertos entre diferentes pontos de vista, de modo

que todos participem, visando a objetivos comuns.

Esta dissertação reflete minha aproximação com a PUC/SP, que se deu frente

ao tema “depressão como forma de expressão da questão social”, onde perguntas

se calaram perante a falta de anotações em prontuários nas Unidades Básica de

Saúde (UBS). Daí resultando a troca do tema.

A curiosidade e o desejo em pesquisar não me deixaram desistir. Este tema

amadureceu com a Profa. Dra. Maria Lúcia de Carvalho Silva, em conjunto com os

colegas de sala, principalmente nosso colega assistente social Fábio Alexandre

Gomes, que indicou o CRAS, e a Elisete de Fátima Rangel, também assistente

social, (hoje ambos são mestres pelo Serviço Social da PUC/SP), resultando nesta

dissertação: “Sentidos da Interdisciplinaridade nos Centros de Referência de

Assistência Social - CRASs”.

Frustrações e alegrias me acompanharam. Muitas perguntas sem respostas, a

vontade de desistir, ao mesmo tempo de resistir frente às inquietações que

suscitaram. O serviço social e a psicologia interagem na perspectiva interdisciplinar?

Há trocas de conhecimentos, saberes e práticas entre os profissionais destas áreas?

De que forma isso acontece? Como é essa troca? Enfim, a curiosidade e a

inquietação ante os questionamentos me trouxeram até aqui.

Definiu-se então como objeto de pesquisa os sentidos da Interdisciplinaridade

dos psicólogos e dos assistentes sociais nos CRASs, na proteção social básica.

Como objetivo geral, objetivou-se analisar os sentidos implicados na relação

profissional interdisciplinar destes profissionais, entrelaçando sua forma subjetiva de

se relacionar.

Os objetivos específicos: Explicitar quais são os desdobramentos da prática

interdisciplinar na prestação dos serviços aos usuários da assistência social nos

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CRASs, na proteção social básica; identificar se a psicologia e o serviço social

interagem na perspectiva interdisciplinar; conhecer se o trabalho dos psicólogos e

dos assistentes sociais contribui para qualificar os serviços prestados aos usuários;

conhecer se há discussão de casos e se eles partilham suas dúvidas.

Justifica-se que o estudo deste tema é de grande relevância acadêmica,

profissional e social, sobretudo para os profissionais que trabalham nesta área de

Assistência Social - SUAS, especialmente psicólogos e assistentes sociais. Tendo

em vista a Interdisciplinaridade ser um dos parâmetros de atuação destes

profissionais em conformidade com a PNAS, bem como o CREPOP.

As respostas a essas indagações foram realizadas através das entrevistas

realizadas no espaço dos CRASs na proteção social básica com os psicólogos e

assistentes sociais, sendo que duas entrevistas foram realizadas com uso de

gravador e as outras duas entrevistas foram realizadas através de resposta escrita.

O resultado deste trabalho pretende contribuir com a prática do profissional no

âmbito dos CRASs, socializando práticas e saberes interdisciplinares.

Como primeiro capítulo, apresentamos Os Caminhos Trilhados para a

Pesquisa: pressupostos teórico-metodológicos que norteiam o presente trabalho

para abordagem da realidade e que oferece recursos para interpretação da temática

a que se propôs.

O segundo capítulo se refere à Política Nacional de Assistência Social e o

CRAS: contextualizando o universo da pesquisa. Este capítulo traz à PNAS sua

materialidade enquanto política, garantindo direito de cidadania e responsabilidade

do Estado, bem como contextualiza o CRAS como espaço de conquista onde se

organiza e coordena a rede de serviços socioassistenciais locais das políticas de

assistência social. (BRASIL, 2004. p. 29).

Já o terceiro capítulo busca apresentar a Interdisciplinaridade: Afinal, do que se

trata? Da socialização dos saberes, das trocas que viabilizam a desenvoltura dos

atendimentos, onde é possível tornar-se via facilitadora nas relações de interação social.

No quarto capítulo, apresentamos as narrativas dos sujeitos da pesquisa,

“Então eu acho que é dessa forma, trocando literatura, trocando conversa,

discutindo caso, aí que vai...” onde há busca por demonstrar perspectivas

interdisciplinares das trocas no cenário do CRAS. A elaboração do quarto capítulo,

procura entrelaçar aspectos subjetivos dos sentidos da Interdisciplinaridade, com as

respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa.

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Procuramos ainda entender a forma como estes sujeitos realizam as trocas e

sociabilizam os saberes, tendo em vista ampliar o conhecimento e a desenvoltura do

trabalho em equipe dos profissionais psicólogos e assistentes sociais nos CRASs,

enquanto trabalho interdisciplinar.

Esta pesquisa revela sobre os sentidos da Interdisciplinaridade, que para uma

equipe a Interdisciplinaridade está marcada na ação conjunta e, para outra equipe, o

trabalho é fragmentado e há falta de comunicação. Entretanto, a psicologia e o

serviço social têm se empenhado nesta direção.

Aponta-se que a Interdisciplinaridade entre a psicologia e o serviço social no

âmbito do CRAS é um processo em construção, pois carrega a postura pessoal e

profissional de cada profissional.

Nossa intenção não foi de proceder a uma construção de um modelo a ser

cumprido sobre a Interdisciplinaridade, mas fazer uma análise do sentido

interdisciplinar destes profissionais, onde suas respostas revelam sua forma

subjetiva de pensar, revelando sua singularidade.

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CAPÍTULO 1

CAMINHOS TRILHADOS PARA A PESQUISA: METODOLOGIA

[...] metodologia, o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. A metodologia inclui simultaneamente a teoria de abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador. “Ela inclui concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade”. (MINAYO, 1994. p. 16)

Esta dissertação traz como base de investigação científica os sentidos da

Interdisciplinaridade implicados na e pela relação cotidiana de trabalho dos

psicólogos e dos assistentes sociais nos CRASs, na proteção social básica. Desta

forma, este trabalho delineia-se por meio de pesquisa baseada em entrevistas semi-

estruturadas, aplicadas junto aos profissionais das equipes.

Para análise dos sentidos da Interdisciplinaridade, depreendem-se os aspectos

subjetivos dos sentidos da Interdisciplinaridade, ou seja, as significações sociais na

dimensão da singularidade individual das relações sociais.

O par dialético sentido/significado é considerado nesta análise como:

significados correspondem a sinais/códigos, que têm característica definidora, que

não se modificam. Já os sentidos revelam o modo como nos apropriamos destes

sinais/códigos com nossas experiências de vida.

Para Vigostski, os sentidos são as formas como nos apropriamos dos

significados sociais, das nossas relações sociais.

Para Aguiar (2009, p. 63), os sentidos não são respostas fáceis, imediatas,

mas são históricos. Constituem-se a partir de complexas reorganizações e arranjos,

em que a vivência afetiva e cognitiva do sujeito, totalmente imbricadas na forma de

sentidos, é acionada e mobilizada. Então os significados dos sentidos estão

relacionados à subjetividade objetiva, do momento vivenciado pelo sujeito.

Os sujeitos desta pesquisa foram quatro profissionais, sendo dois psicólogos e

dois assistentes sociais, todos com no mínimo dois anos de experiência na proteção

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social básica. Para a realização das entrevistas, tomou-se a iniciativa de fazer um

levantamento para identificar em quais unidades de CRAS em São José dos

Campos - SP estavam alocados os técnicos psicólogos e assistentes sociais. A

resposta a esta indagação foi adquirida junto à colega assistente social Ana Carla,

funcionária do CREAS de São José dos Campos, que disponibilizou os contatos

para o início do trabalho de campo.

De posse da lista, procurou-se estabelecer os contatos via telefone com os

profissionais para obter autorização de execução de trabalho e agendar os horários

com estes profissionais. Buscou-se ainda estabelecer contato com a Secretaria de

Desenvolvimento Social (SDS), órgão da Prefeitura Municipal de São José dos

Campos, para autorização da pesquisa nos CRASs, contato este realizado com a

coordenadora dos CRASs Elisete de Fátima Rangel, que foi nomeada como

responsável pelo processo da entrevista.

Com o consentimento dos profissionais e a autorização da secretaria, foram

preenchidas as autorizações. O próximo passo foi realizar as entrevistas nos

espaços físico dos CRASs, o que se deu no segundo semestre de 2009, com o

consentimento e assinatura dos sujeitos da pesquisa e da diretora da SDS, Maria

Quitéria de Freitas. Com base nas entrevistas realizadas, foram ainda selecionadas

algumas categorias referentes aos “sentidos”, onde foi elaborado um questionário de

complementação, respondido a punho pelos profissionais.

Duas entrevistas foram realizadas com uso de gravador, uma entrevista foi

respondida oralmente, com a pesquisadora anotando as respostas, e o último

entrevistado preferiu responder com uso de seu computador.

Os dados das entrevistas foram transcritos e submetidos a análise. Foram

necessários alguns cortes nas respostas, por serem muito longas, tomando-se o

cuidado para não subtrair o real sentido dos depoimentos.

Procedeu-se a uma pesquisa de natureza qualitativa, com questionários e

entrevistas abertas. A abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos

significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável,

(MINAYO, 1994. p. 22). Desta forma, justifica-se tal escolha, pois revela os sentidos

singulares das respostas dadas pelos sujeitos da pesquisa. Mostra ainda a

flexibilidade e ampliação das informações fornecidas pelos profissionais entrevistados.

Os sujeitos da pesquisa alocados nos CRASs receberam nomes fictícios, são

eles: Rebeca, assistente social, funcionária pública há 20 anos. Sua função é de

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coordenadora do CRAS da Vila Industrial desde 2007 e relata que trabalha com

visão de um trabalho em equipe desde este mesmo ano, fazendo trocas e parcerias

com sua equipe. Tem como parceiro o psicólogo Nícolas, que trabalha na Prefeitura

há 15 anos e que também está nesta equipe desde o ano de 2007. Mostra-se

bastante dinâmico e criativo e sempre solícito.

O outro CRAS escolhido está situado em Eugênio de Melo, também em São

José dos Campos. Seus componentes são: Adélia, assistente social, trabalha na

Prefeitura há seis anos, está alocada neste CRAS como coordenadora desde o ano

de 2007. Demonstra seu empenho e dedicação junto à equipe de trabalho para que

possam exercer a prática interdisciplinar. O psicólogo deste CRAS é o Aníbal, que

está nesta equipe desde 2009, apenas dois anos, porém trabalha na Prefeitura há

20 anos. Revela esforço como forma de se aproximar da prática interdisciplinar.

Com o resultado das análises, pretendeu-se reunir elementos significativos dos

sentidos da Interdisciplinaridade na intervenção psicossocial dos profissionais

psicólogos e assistentes sociais alocados nos CRASs, na proteção social básica,

contribuir com a prática do profissional no âmbito do CRAS, socializando práticas e

saberes interdisciplinares e favorecer a articulação e efetivação do serviço social

com a psicologia no âmbito das Políticas Públicas.

OBJETIVO GERAL

Analisar os sentidos implicados na prática interdisciplinar destes profissionais,

entrelaçando com sua forma subjetiva de se relacionar, no cotidiano de um CRAS,

na proteção social básica.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar os desdobramentos da prática interdisciplinar na prestação dos

serviços aos usuários da assistência social nos CRASs, na proteção social básica;

Identificar se a psicologia e o serviço social interagem na perspectiva

interdisciplinar;

Conhecer se o trabalho dos psicólogos e dos assistentes sociais contribui para

qualificar os serviços prestados aos usuários;

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1.1 - Pressupostos Teóricos

A fundamentação teórica que norteou este trabalho está em conformidade com

os parâmetros da Política Nacional de Assistência Social, tendo como fator de

mediação o campo da Psicologia Social, com a visão da Psicologia Sócio-Histórica,

bem como o Centro de Referência de Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP).

Mencionar a PNAS, que norteia a atuação dos profissionais, tanto do psicólogo

como do assistente social, é imprescindível, pois a Proteção Social Básica é fruto

desta política onde a mesma está inserida e é fonte de “vida”.

Em conformidade com o disposto na Constituição Federal de 1988 - CF/88,

aprovada em 05 de outubro, marco fundamental do processo que reconhece a

assistência social como Política Social, juntamente com as Políticas de Saúde e da

Previdência Social, compõe o Sistema de Seguridade Social Brasileiro, incluindo

assim a assistência social na esfera da Seguridade Social, conforme Artigo 194.

A seguridade social compreende:

Um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 2003. p. 193)

Desta forma, as Políticas de Assistência Social estão inscritas na CF/88,

conforme os artigos 203 e 204:

Art. 203 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I- a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II- o amparo às crianças e adolescentes carentes; III- a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV- a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V- a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção, ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204 - As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no Art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:

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I- descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II- participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 2003. p. 130)

Sendo assim, a CF/88 trouxe reflexões e mudanças através da proteção social,

afirmando direitos e oferecendo o surgimento de novos movimentos sociais, bem

como objetivando sua efetivação.

Entretanto, com os avanços da CF/88, houve a necessidade de aprovação de

uma Lei Orgânica para que a mesma pudesse ser regulamentada e

institucionalizada.

Por meio de muitos debates regionais em todo o país através do Ministério do

Bem-Estar Social, promoveram-se encontros para a discussão da Lei Orgânica da

Assistência Social, culminando na Conferência Nacional de Assistência Social -

CNAS/1993.

A Política Nacional de Assistência Social, aprovada por unanimidade em 2004,

pelo Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, é resultante de lutas e

conquistas, debates e encontros que envolveram conselhos de direito, sociedade

civil, e setores públicos. É um documento que expressa a materialidade da

assistência social como pilar do Sistema de Proteção Social Brasileiro no âmbito da

Seguridade Social.

[...] a Política Nacional de Assistência Social - PNAS busca incorporar as demandas presentes na sociedade brasileira no que tange a responsabilidade política, objetivando tornar claras suas diretrizes na efetivação da assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado. (PNAS, p. 8).

No entanto, com as deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência

Social (2003) e as diretrizes estabelecidas pela Lei Orgânica da Assistência Social

(LOAS. 1993), onde se aprovou a construção e implementação do Sistema Único de

Assistência Social (SUAS), abriu-se o espaço em que está localizado o Centro de

Referência de Assistência Social - CRAS, unidade pública estatal de base territorial

onde esta pesquisa foi realizada.

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O CRAS, cuja localização é a área de vulnerabilidade social, desenvolve serviços

de proteção social básica para até 1.000 famílias referenciadas por ano, coordenando

as redes locais de serviço socioassistencial da política de assistência social.

O CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando à orientação e ao convívio sociofamiliar e comunitário. Neste sentido, é responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral às Famílias (PAIF). Na proteção básica, o trabalho com famílias deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um modelo único baseado nas famílias nucleares e partindo do suposto de que são funções básicas das famílias: prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado. (BRASIL, 2004. p. 29)

Efetivamente, todo trabalho a ser realizado com as famílias deve partir do

pressuposto de que, para a família se prevenir, proteger, promover e incluir seus

membros, é necessário em primeiro lugar garantir condições de sustentabilidade

para tal. Deverão ser desencadeadas estratégias de atenção sociofamiliar que

levam em conta a singularidade, as vulnerabilidades no contexto social, além dos

recursos simbólicos e afetivos de cada uma das famílias. Será ainda considerada a

disponibilidade para transformar o seu cotidiano e dar conta de suas atribuições,

visando ao fortalecimento do grupo familiar para o exercício de suas funções de

proteção, ao lado de sua auto-organização e conquista de autonomia (Política

Nacional de Assistência Social).

A equipe do CRAS deve prestar informação e orientação para a população de sua área de abrangência, bem como se articular com a rede de proteção social local, no que se refere aos direitos de cidadania, mantendo ativo um serviço de vigilância da exclusão social na produção, sistematização e divulgação de indicadores da área de abrangência do CRAS em conexão com outros territórios. (BRASIL, 2004. p. 29)

De modo que, deverão ser adotados os seguintes instrumentais de trabalho

com as famílias: entrevistas, visitas domiciliares, grupos, reconhecimento dos

recursos do território e apropriação dos mesmos pelas famílias, articulação e

comunicação permanente com os órgãos do Sistema de Garantia de Direitos e com

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as políticas sociais locais. Ou seja, articular nos territórios com a rede social local no

que diz respeito aos direitos de cidadania.

O eixo de ação no que se refere ao trabalho com as famílias deve proporcionar

atendimento das crianças e adolescentes, traçando um plano de atuação com estas

famílias. Ainda desenvolver as diferentes capacidades dos integrantes das famílias,

a partir do plano de atuação desenvolvido, propiciando ganhos de autonomia e

melhoria sustentável da qualidade de vida, com ampliação dos capitais: humano,

social e produtivo.

São da responsabilidade dos CRASs a promoção, a capacitação e a inserção

das famílias nos serviços de assistência social, bem como o encaminhamento da

população local para as demais políticas públicas e sociais.

[...] possibilitando o desenvolvimento de ações intersetoriais que visem à sustentabilidade, de forma a romper com o ciclo de reprodução intergeracional do processo de exclusão social, e evitar que estas famílias e indivíduos tenham seus direitos violados, recaindo em situações de vulnerabilidade e riscos. (BRASIL, 2004. p.30)

Neste sentido, a prática do psicólogo junto às políticas públicas de assistência

social, em conformidade com o CREPOP, vem afiançar que a partir da interface

entre várias áreas da psicologia, estas ações estão sendo construídas numa

perspectiva interdisciplinar (CREPOP, p. 32), com a atuação de um profissional da

área social. Portanto, será utilizada como referencial teórico a Psicologia Social,

sendo utilizados os pressupostos da Psicologia Sócio-Histórica, que reporta a

práticas socializadas. Sendo assim, conhecer o indivíduo no conjunto de suas

relações históricas e sociais, tanto naquilo que lhe é especifico, quanto naquilo em

que ele é manifestação grupal e social, são o objetivo da Psicologia Social, em sua

dimensão social. (LANE, 1984).

O indivíduo, sujeito da história, é constituído de suas relações sociais e é, ao mesmo tempo, passivo e ativo (determinado e determinante)... Ele é história na medida em que se insere e se define no conjunto de suas relações sociais, desempenhando atividades transformadoras destas relações. (LANE, 1984. p. 40)

Para desempenhar estas atividades transformadoras, o indivíduo como agente

ativo e criador se utiliza de instrumentos. Segundo Namura, o homem cria e utiliza

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instrumentos que se interpõem entre ele e a natureza, produzindo condições de

sobrevivência, transformando a natureza e sendo transformado por ela (VIGOTSKY,

in NAMURA, 1996. p. 45).

Desta forma, o homem se insere historicamente na sociedade, é produto e

produtor de sua própria história, constrói suas relações interpessoais como ser

criativo, agindo e interagindo com os outros seres. O homem manifesta sua

criatividade utilizando de sua imaginação, interage em suas relações através do

trabalho. Assim Marx postula:

[...] o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento suas forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa modificando-a, e ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. (MARX, 1971. p. 202).

A natureza é transformada através da ação criativa do homem para satisfazer

suas próprias necessidades humanas. Nesse sentido, concebe o homem como

ativo, social e histórico.

Vigotsky, autor da Psicologia Sócio-Histórica, fundamenta-se no marxismo e

adota o materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método. A

sociedade como produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem

sua vida material (BOCK, 2001. p. 17). Com o uso de sua própria força, o homem,

através da natureza e da sua própria criatividade, adquire a maneira de ganhar a

vida, que se estabelece no cotidiano por meio de suas relações e interações sociais,

garantindo sua sobrevivência material e relacional.

Desta forma, utilizou-se das teorias do estudioso Vigotsky, que foi um eminente

psicólogo russo que trouxe à luz do saber uma psicologia que entendesse o homem

com suas manifestações naturais e sociais dos processos psicológicos superiores e

que considerasse seus aspectos sócio-históricos. Assim postula Vigotsky:

Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro no nível social e depois no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e depois no interior da criança

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(intrapsicológica). Isso se aplica igualmente para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das relações reais entre indivíduos humanos. (2007, p. 57/58).

Este processo ocorre no meio sociocultural em que o indivíduo está inserido.

No entanto, não acontece de uma hora para outra, mas sim através de suas

interações com seu ambiente socializador, que são fundamentais para que se

constitua enquanto sujeito. Para Vigotsky, a linguagem entra no processo de

mediação deste entendimento, onde ocorrerá a transformação das funções

psicológicas elementares: memória (orgânica, imediata) em superiores (o raciocínio,

e atenção voluntária).

A linguagem é a mediação na relação dialética entre interno e externo e, portanto, podemos dizer que o que está na base da consciência é a linguagem. Pode-se concluir, para melhor compreensão, que o que constrói a consciência é a atividade mediada pelos significados. (AGUIAR, 2009. p. 56).

A linguagem, portanto, torna-se uma atividade semioticamente mediada,

enquanto constituidora do sujeito.

Vigotsky considera que: “A internalização de formas culturais de

comportamento envolve a reconstrução da atividade psicológica, tendo como base

as operações com signos” (2007, p. 58). Assim, ao internalizar os signos, o sujeito

tem o domínio de suas atividades, realiza transformação de uma atividade externa

para uma atividade interna. O signo foi a forma denominada por Vigotsky como

sendo o “instrumento psicológico”, e tem como utilidade para o homem servir em

suas atividades psíquicas.

O autor ressalta que o pensamento não é meramente materializado no ato da

fala, pois esta não se apresenta apenas como momento no qual o pensamento, até

então silencioso, se revela. Realiza-se na fala. (VIGOTSKY in, AGUIAR, 2009. p.

55). Para Vigostsky, o pensamento e a linguagem têm o seu início na fala social,

através da qual os significados sociais são entendidos.

Como o próprio Vigotsky aponta, os sentidos se apresentam como “uma

síntese psicológica”, algo que é próprio do sujeito, que melhor expressa sua

subjetividade e que revela sua história e suas contradições. (VIGOTSKY in AGUIAR.

2009. p. 54).

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História que está inserida no ser, que revela sua subjetividade nas formas de

expressões significativas de sentir e se relacionar.

Em relação ao conceito de sentidos, Vigotsky toma como inspiração os estudos

do psicólogo francês Paulham sobre a relação entre “significado” e “sentido”, e o

conceitua:

{...} o sentido de uma palavra é a soma de todos os fatos psicológicos que ela desperta em nossa consciência. Assim, o sentido é sempre uma formação dinâmica, fluida, complexa, que tem várias zonas de estabilidade variada. O significado é apenas uma dessas zonas do sentido que a palavra adquire no contexto de algum discurso e, ademais, uma zona mais estável, uniforme e exata. Como se sabe, em contextos diferentes a palavra muda facilmente de sentido. O significado, ao contrário, é um ponto imóvel e imutável que permanece estável em todas as mudanças de sentido da palavra em diferentes contextos. (1934/2001, p. 465)

Desta forma, Vigotsky propõe que o “sentido” seja compreendido como

acontecimento semântico particular que se realiza através das relações sociais

cotidianas; uma variedade de signos que se expressa, o que contribui para o

processo de singularização, sendo o significado a zona mais duradoura, mais

estável e precisa dos sentidos. Botarelli concebe que os sentidos representam a

forma como os indivíduos vão se apropriando dos significados sociais em suas

experiências cotidianas de encontros sociais. (2008, p. 28). Significados e sentidos

são internalizados através do social e cultural na interação social vivenciada.

Já as produções relacionais socializadas e os diálogos compartilhados

reportam-se à questão da Interdisciplinaridade. “Inter” prefixo que definimos como

aquele que está entre, e que também exprime a noção de relação recíproca. O

prefixo "inter" não indica apenas uma pluralidade, uma justaposição; evoca também

um espaço comum, um fator de coesão entre saberes diferentes. Por esta questão,

compartilha-se com as ideias de Ivani Fazenda (2001), que relata que uma equipe

que se propõe a trabalhar na perspectiva Interdisciplinar, onde o compromisso é

selado, propõe um movimento de congruências e confrontos não só de disciplinas,

mas de pessoas. É através da prática compartilhada que os profissionais se

fortalecem, comprometendo-se com a ética, socializando o saber e criando os

sentidos.

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CAPÍTULO 2

A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O

CRAS: CONTEXTUALIZANDO O UNIVERSO DA PESQUISA

Para falar dos sentidos da Interdisciplinaridade implicados na e pela relação

cotidiana de trabalho entre o serviço social e a psicologia no Centro Referência da

Assistência Social (CRAS), faz-se necessário mencionar a política que norteia a

atuação destes profissionais. Nesse sentido, este capítulo tratará da Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) e do CRAS - espaço onde esta pesquisa foi

realizada.

A Política Nacional de Assistência Social é resultado de um amplo debate que

envolveu a sociedade civil, os conselhos de direito, setores públicos e seguiu no

cumprimento da IV Conferência Nacional de Assistência Social realizada em

Brasília, em dezembro de 2003.

A versão preliminar da política foi apresentada ao CNAS em 2004 e foi

amplamente divulgada e discutida em todo o país. Diante isso, inicia-se o processo

de construção de uma gestão pública e participativa.

Neste ínterim, foi aprovada por unanimidade através da Resolução N 145 de

15 de outubro de 2004, que incide sobre a implantação da PNAS, a qual foi

construída a partir de discussões realizadas em todos os Estados brasileiros através

de conferências e de fóruns. Sendo assim, podemos dizer que a PNAS foi instituída

tendo em vista transformar em ações diretas os pressupostos da Constituição Federal

(1988) e da Lei Orgânica da Assistência Social (1993), ou seja, para dar continuidade

ao que foi inaugurado pela Constituição e pela LOAS, sendo a assistência social

entendida como direito do cidadão e dever do Estado, como política de seguridade

social não contributiva.

Com o intuito de reunir demandas presentes na sociedade brasileira, tal política

objetivou o favorecimento das mais diversificadas situações de desigualdades

sociais. No que é da sua responsabilidade, procura tornar claras suas diretrizes no

sentido da regularização da assistência social como direito do cidadão e

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responsabilidade primeira do Estado. Tem em seu âmbito providenciar serviços,

projetos e programas de proteção social básica, proteção social especial para as

famílias, grupos e indivíduos que dela necessitam. Em ação conjunta por meio de

programas, desenvolvem-se de modo integrado as políticas setoriais, relevando as

desigualdades socioterritoriais, priorizando a garantia dos direitos, o favorecimento

de condições mínimas no sentido de cuidar das contingências sociais e a

universalização dos direitos sociais. Visa ainda à resolução de problemas ligados à

sociedade como um todo e objetiva proporcionar a garantia de direitos e condições

dignas de vida ao cidadão de forma equânime e justa.

Vale lembrar que, com a consolidação da assistência social como política, a

última década denotou a ampliação do reconhecimento pelo Estado no auxílio da

luta da sociedade brasileira, com referência aos direitos das crianças, adolescentes,

idosos e pessoas com deficiência. Hoje, há impactos importantes em relação à

redução da pobreza no país, tendo em vista o Benefício de Prestação Continuada -

BPC, que caminha para a sua universalização.

Ressalta-se que, ao consolidar-se como política, portanto como um direito

social, denota-se o enfrentamento de importantes desafios. A importância da IV

Conferência Nacional de Assistência Social, de dezembro de 2003, teve papel

essencial para a deliberação, construção e implementação do Sistema Único da

Assistência Social - SUAS, requisito primordial da LOAS para dar efetividade à

assistência social como política pública.

Entretanto, a Política Nacional de Assistência Social vem expressar a

materialidade do conteúdo da assistência social como pilar do Sistema de Proteção

Social Brasileiro no campo da Seguridade Social.

No entanto, frente às grandes e crescentes demandas sociais, com

expressivas desigualdades, faz-se necessário promover discussões e o processo de

reestruturação orgânica da política na direção do SUAS, ampliando e resignificando

o atual sistema descentralizado e participativo, compromisso que se faz com o

Ministério do Desenvolvimento Social à frente das secretarias estaduais e do Distrito

Federal. Karsch, neste sentido, postula:

Enquanto o grande mercado e suas condições funcionais passam a ser objeto da esfera pública, a sociedade desenvolve desigualdades cada vez mais flagrantes: é preciso proteger e compensar os grupos mais fracos e prevenir ou conduzir modificações estruturais

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convenientes ao processo. São essas as tarefas das políticas sociais enunciadas pelos governos, no espaço que o sistema abriu, e que constitui a “esfera social”. (KARSCH, 1989. p. 105)

Desigualdades estas que são de natureza econômica, social e política. Neste

sentido, é preciso que as políticas sociais se fortaleçam para enfrentar os desafios

postos frente às demandas apresentadas da questão social e da atualidade.

Outro aspecto importante a ser destacado é que a PNAS, na perspectiva do

SUAS, salienta o campo da informação, monitoramento e avaliação, tendo em vista

novas tecnologias da informação e a ampliação das possibilidades de comunicação

na atualidade. Tem um significado, um sentido técnico e político, que são os veios

estratégicos para uma melhor atuação no tocante às políticas sociais.

2.1 - A Constituição Federal e a Lei Orgânica da Assistência Social:

Marcos Históricos que Antecederam a Política Nacional de Assistência

Social

A Constituição Federal de 1988 foi promulgada com a participação de diversos

setores da sociedade brasileira. Entre muitos embates, foi estabelecida com ativa

participação popular e, em luta coletiva, a sociedade conseguiu que a Carta Magna

introduzisse com suas leis as transformações no cenário brasileiro.

Em seu título VIII, estabeleceu entre os direitos fundamentais da cidadania a

condicionante da função nominada “Da Ordem Social”, que traz em seu Capítulo 2,

disposições da Seguridade Social.

A Constituição Federal institui a assistência social como um dos pilares da

seguridade social (assistência social, previdência e saúde), após anos de

reivindicações, lutas e negociações. Nessa ocasião é que a assistência é

reconhecida como um direito do cidadão e dever do Estado, alterando

fundamentalmente as concepções de Estado e sociedade.

Através de amplo movimento nacional com gestores municipais, estaduais,

organizações não-governamentais e representantes no Congresso em 1993, a

assistência é decretada e sancionada, tornando-se Lei.

Com a sua promulgação, regulamentam-se os artigos 203 e 204 da CF88,

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reafirmando a concepção de assistência social como política pública universal e de

gestão participativa, um avanço conquistado pela sociedade brasileira, voltada para

a garantia de direitos.

Considerada um marco histórico, a Constituição Federal de 1988 consolida-se

então mediante lutas e conquistas populares, trazendo à luz redefinições do perfil

histórico da assistência social no país, onde a qualifica como política de seguridade

social.

Logo, a assistência social passa a ser um conjunto de ações cuja iniciativa se

estabelece através dos poderes públicos e da sociedade, com a finalidade de

assegurar os direitos referentes à saúde, à previdência e à assistência social, e

devendo ser prestada a quem dela necessitar. Ressalta-se conforme a Constituição

da República que:

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social. (Art. 194)

Com o crescente movimento dos sindicatos, profissionais liberais, igreja,

partidos políticos e trabalhadores da área, dentre muitos outros, houve grande

discussão em favor da criação de proposta da Lei Orgânica da Assistência Social e

da Política de Assistência Social, em benefício da população em situação de

vulnerabilidade social.

A criação da Lei Orgânica da Assistência Social em 1993, a Lei 8.742, definida

como política pública descentralizada5 demandou grandes transformações e

significativas mudanças em âmbito nacional.

Ao tornar-se política pública, a assistência social insere-se no campo dos direitos,

da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal.

A política de assistência social, através da LOAS, gera nova matriz, adentrando

no sistema do bem-estar social brasileiro, formando um tripé com a saúde e a

previdência social. Conforme o artigo primeiro da referida Lei, a assistência social é

considerada:

5 Descentralização dos serviços de assistência social é a transferência da gerência, da execução de

ações e da prestação de serviços para instâncias de gestão e decisão mais próxima dos usuários e beneficiários. (NOB-RH/SUAS, 2006. p. 37)

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[...] direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social, que prove os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS, 1993)

Neste sentido, a assistência social é uma política pública de atenção e “defesa

dos direitos sociais, rompendo com o caráter suplementar da assistência e

efetivando-se como um direito universal e não contributivo” (LOAS/1993).

Houve um avanço na política de assistência social. Em 2004, realizou-se a IV

Conferência Nacional de Assistência Social, através de ampla divulgação,

envolvendo vários setores da sociedade: governos, terceiro setor, universidades, por

meio de amplo processo, como debates e encontros. Estabeleceram-se assim novas

bases e diretrizes para a Política de Assistência Social na perspectiva do SUAS, ou

seja, de se tornar um sistema unificado para a gestão da assistência social.

2.2 - Contextualizando o Centro de Referência de Assistência Social

Em conformidade com a PNAS, o CRAS é uma unidade pública estatal, de

base municipal, integrante do SUAS. Localiza-se em áreas de pobreza,

vulnerabilidade e risco social.

Salienta-se que diversos fatores configuram esta vulnerabilidade, eventos e

risco social ou pessoal. A vulnerabilidade social é uma dada condição

“desfavorável”, condição esta que viabiliza a situação de exclusão, que aumenta a

probabilidade de um evento ocorrer. O que a identifica são processos sociais e

situações que produzem fragilidades próprias do ciclo de vida, que ocorre

predominantemente em crianças de zero a cinco anos e em idosos acima de

sessenta anos.

Pontuamos que as vulnerabilidades são o objeto de políticas sociais. São elas

que constituem no contexto da ação da assistência social o sentido da prevenção,

proteção básica, promoção e inserção social.

O CRAS é um espaço no qual se desenvolvem programas socioassistenciais e

se operacionalizam serviços de proteção social básica às famílias.

Com a vigência da Norma Operacional Básica (NOB/RH) a mesma traz

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diretrizes para a gestão dos trabalhadores no SUAS. A equipe do CRAS deve ser

composta por profissionais, servidores públicos municipais, sendo que todos devem

ser aprovados em concursos públicos. A equipe de referência do CRAS deve

compor-se de coordenador e técnicos de nível superior. A inserção do psicólogo no

CRAS requer uma reorganização do fazer profissional dentro das áreas sociais, com

uma interlocução com o serviço social. Os manuais disponibilizados pelo MDS não

demarcam a atuação dos profissionais alocados nos CRASs.

No quadro abaixo, representamos o número mínimo dos profissionais do

CRAS, de acordo com dados extraídos de orientações técnicas para o Centro de

Referência da Assistência Social (BRASIL, 2009):

QUADRO 1

NÚMERO MÍNIMO DOS PROFISSIONAIS DO CRAS

Famílias Referenciadas

Capacidade de Atendimento Anual

Equipe de Referência

Até 2.500

500 famílias

Dois técnicos com nível médio e dois técnicos com nível superior, sendo um assistente social e outro, preferencialmente um psicólogo.

3.500

750 famílias

Três técnicos com nível médio e três técnicos com nível superior, sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicólogo.

5.000

1.000 famílias

Quatro técnicos com nível médio e quatro técnicos com nível superior, sendo dois assistentes sociais, um psicólogo e um profissional que compõe o SUAS*

* É a partir realização do diagnóstico territorial que o gestor municipal de assistência social (ou do DF), juntamente com o Coordenador do CRAS define o profissional que deverá compor a equipe de referência. Poderão compor a equipe: pedagogo, sociólogo, antropólogo ou outro profissional com formação compatível com a intervenção social realizada pelo PAIF.

Com o intuito de obter baixa rotatividade é que a NOB-RH SUAS resolve

determinar que a equipe de referência seja composta por profissionais efetivos,

garantindo desta forma que as ações ofertadas nos CRASs sejam contínuas, bem

como para possibilitar melhores resultados.

Seu foco é atender as famílias de baixa renda através de ações, serviços,

programas e atividades socioeducativas variadas, bem como fortalecer vínculos,

contribuir para a autonomia das famílias e trabalhar de forma preventiva, evitando

que a população atendida tenha os seus direitos violados.

Por prevenção, a mesma relaciona-se com intuito de criar apoios nas situações

circunstanciais de vulnerabilidade, evitando que o cidadão resvale (desça) do

patamar de renda alcançado ou perca o acesso que já possui aos bens e serviços,

mantendo-o incluído no sistema social a despeito de estar acima da linha de

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pobreza e/ou atendido pelas políticas setoriais.

Vale dizer que são dois os tipos de proteção neste sistema: proteção social

básica e proteção social especial.

De acordo com a PNAS, os serviços de proteção social básica, serão

executados nos CRASs e em outras unidades básicas e públicas de assistência

social, bem como de forma indireta nas entidades e organizações de assistência

social da área de abrangência dos CRAS.

A proteção social básica tem como porta de entrada o Sistema Único da

Assistência Social e os CRASs.

O propósito do serviço de proteção básica é prevenir as situações de risco por

meio de desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento das relações e

vínculos familiares e comunitários e de aquisições da capacidade para sua própria

emancipação.

Neste tipo de proteção, atende-se a população que vive em situação de

vulnerabilidade social em decorrência da pobreza, privação, ausência de renda,

fragilização de vínculos afetivos relacionais e de pertencimento social.

O Programa de Atenção Integral à Família - (PAIF) é parte integrante da

proteção social básica do CRAS, onde são ofertados programas sociais com as

famílias referenciadas. Uma das finalidades da política da assistência social são a

defesa do direito e o favorecimento do usuário no convívio familiar e comunitário, o

fortalecimento dos vínculos familiares, neste sentido, torna-se um grande desafio.

O SUAS tem como propósito fundamental que o indivíduo, enquanto

beneficiário de seus serviços, não seja desvinculado do seu meio familiar e social.

Assim, busca responder aos desafios postos, direcionando suas ações em apoiar

famílias a se desenvolverem, a atingir a socialização, inserindo-se em aprendizagem

e os desenvolvimentos das capacidades humanas.

Campos reafirma “a importância de tornar disponíveis serviços e recursos que

assegurem condições de diminuir, mais que a pobreza, a desigualdade social”

(2004, p. 31). Nesse sentido, há que se providenciar serviços de proteção social6 às

famílias, para que possam ter autonomia para gerar seus recursos de subsistência.

6 Constituem Serviços da Proteção Social Básica do SUAS aqueles previstos na Tipificação Nacional

de Serviços Socioassistenciais. (BRASIL, 2009. p. 9)

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Viabilizar práticas socioeducativas para que as famílias possam se fortalecer, aspirando

benefícios e recursos. Campos ainda ressalta que “as reuniões socioeducativas podem

ser entendidas como oportunidades para abordagem mais global da situação social e

econômica dos beneficiários envolvidos, entre outros motivos para evitar que se

identifique a pobreza apenas com a baixa renda”. (2004, p. 32).

Nesse ínterim, os profissionais dos CRASs devem priorizar programas sociais

junto às famílias voltadas às reuniões e ações socioeducativas, possibilitando

transformações na realidade dos envolvidos.

Já os serviços de proteção social especial requerem acompanhamento

individual e familiar, pois necessitam de maior flexibilidade nas soluções protetivas,

destinados a famílias e indivíduos cujos direitos foram violados ou ameaçados.

Comportam encaminhamentos efetivos e monitorados, apoios e processos que

assegurem qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção social.

Os serviços de proteção social especial foram distribuídos em média e alta

complexidade. Os de média complexidade são aqueles que oferecem atendimento

especializado às famílias e aos indivíduos com seus direitos violados nas situações

em que os vínculos familiares e comunitários não foram rompidos.

Já os de alta complexidade oferecem atendimento e acolhimento em serviços

especializados nas situações de violação de direitos quando os vínculos familiares

e/ou comunitários foram rompidos, objetivando garantir proteção integral como a

alimentação, a moradia, higiene, trabalho protegido para famílias e indivíduos que

não se encontrem em situação de convívio familiar e comunitário. Com o intuito

ainda de oferecer serviços como: Casa de Passagem, Casa Lar, Albergue, Família

Acolhedora, Família Substituta e Medidas Socioeducativas.

2.3 - O CRAS - Unidade de São José dos Campos

De acordo com a Norma Operacional Básica (NOB/SUAS, 2005), a cidade de

São José dos Campos é reconhecida como um município de grande porte, com uma

população estimada de 627.5447 habitantes, conforme dados abaixo:

7 Dados extraídos do site do IBGE (CIDADES). http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1

acessado em 08.03.211.

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QUADRO 2

PRIMEIROS RESULTADOS DO CENSO 2010 DO IBGE

Total da população 627.544 Pessoas

Total de homens 307.394 Pessoas

Total de mulheres 320.150 Pessoas

Total da população urbana 615.610 Pessoas

Total da população rural 11.934 Pessoas

Total de domicílios particulares 213.701 Domicílios

Total de domicílios particulares ocupados 185.512 Domicílios

Total de domicílios particulares não-ocupados fechados 3.765 Domicílios

Total de domicílios particulares não-ocupados de uso ocasional 6.303 Domicílios

Total de domicílios particulares não-ocupados vagos 18.121 Domicílios

Total de domicílios coletivos 339 Domicílios

Total de domicílios coletivos com morador 160 Domicílios

Total de domicílios coletivos sem morador 179 Domicílios

Fonte: IBGE, Primeiros Resultados do Censo 2010.

Localizada no Planalto Atlântico, a região é chamada de Vale do Paraíba e fica

a 84km de São Paulo e 321km do Rio de Janeiro, beirando as margens da Via

Dutra. São José dos Campos, inicialmente ocupada por uma fazenda de pecuária,

em torno do ano de 1590, foi gerada oficialmente a partir da concessão de uma

sesmaria, a pedido de padres jesuítas. Sua denominação como fazenda de gado foi

uma estratégia usada pelos jesuítas para ocultar dos Bandeirantes uma missão

catequética.

Em 1611, a lei que regulamentava os aldeamentos indígenas por parte dos

religiosos fez com que os jesuítas fossem expulsos e os aldeões espalhados. Os

jesuítas foram expulsos do Brasil em 1759 e todas as posses da ordem foram

confiscadas pela Coroa.

O governo da Capitania de São Paulo, Dom Luís Antônio de Souza Botelho,

conhecido como Morgado de Mateus, com a missão de levantar/reerguer a

Capitania, assumiu na mesma época. Elevou à categoria de Vila diversas aldeias,

entre elas São José, com o objetivo de aumentar a arrecadação provincial. Antes

mesmo de se tornar freguesia, em 27 de julho de 1767, a aldeia foi elevada à

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categoria de Vila, cuja denominação foi “Vila Nova de São José”, depois “Vila de São

José do Sul” e bem mais tarde “Vila de São José do Paraíba”, erguendo-se o

pelourinho e a Câmara Municipal.

Já em meados do século XIX, quando passou a exibir sinais de crescimento

econômico graças à expressiva produção de algodão, exportado para alimentar a

indústria têxtil inglesa, em 1871 o município recebe a atual denominação de São

José dos Campos.

A cidade foi a principal produtora de café durante a maior parte do século XIX.

Em 1877, para escoar a produção do café da nossa região para o porto do Rio de

Janeiro, o município obteve a inauguração da estrada de ferro. São José dos

Campos vem ocupar posição periférica no período áureo do café no Vale do

Paraíba. Até 1930, o café teve importância econômica significativa, sendo que sua

quebra ocorreu em função da Bolsa de Valores de Nova York, onde o preço do

produto veio a cair assustadoramente.

Já em 1918, e até a atualidade, São José dos Campos conserva relativa

importância para a economia do Estado, com a pecuária leiteira. Transformada em

Estância Hidromineral em 1935, para o tratamento da tuberculose pulmonar, em

1924 foi inaugurado o Sanatório Vicentina Aranha. Com a chegada das indústrias na

cidade, reduz-se a procura de tratamento sanatorial no final dos anos 40.

O município foi administrado por prefeitos “sanitaristas”8 nomeados pelo

governo estadual, de 1935 até 1958, onde ganhou autonomia para eleger seus

prefeitos, perdendo-a novamente em 1967, durante o regime militar.

A fase científico-tecnológica de São José dos Campos tem início com a

instalação do Centro Técnico de Aeronáutica, o CTA, dando início ao processo de

industrialização.

A Rodovia Presidente Dutra, inaugurada em 1951, cortou a cidade em sua

região central, o que colaborou muito para o grande desenvolvimento regional e

industrial. Com a duplicação da Rodovia Presidente Dutra em 1967, a economia da

cidade ganhou um novo impulso. Instala-se em São José dos Campos uma nova era

de desenvolvimento tecnológico com a criação da Embraer em 1969, gerando

8 É o indivíduo especialista em saúde pública e ou coletiva, forjado de conhecimentos acerca do

conjunto de medidas que visam a elaborar, controlar e fiscalizar o cumprimento de normas e padrões de interesse sanitário, com fins à saúde da população. Dados extraídos do site: http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.Php?Palavra=sanitarista&id=423 Acessado em 10/05/2010.

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empregos e mão de obra especializada formada pelo ITA, acentuando o perfil da

cidade em relação à alta tecnologia. A cidade ganha novo acesso com a

inauguração da rodovia Carvalho Pinto, em 1994.

Na década de hoje, século XXI, concentra grandes centros de estudos e

pesquisas e ensino, como por exemplo: Instituto de Estudos Avançados (IEAv),

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Tecnológico de

Aeronáutica (ITA) Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), Centro Técnico

Aeroespacial (CTA).

A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) iniciou suas atividades em 02 de

janeiro de 1954, como Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, e foi reconhecida

pelo Ministério da Educação pela portaria nº 510, em 1992, como de excelência em

ensino/educação para São José dos Campos e região.

A cidade é constituída dos Distritos de São José dos Campos, 1º e 2º

Subdistritos, Eugênio de Melo e São Francisco Xavier.

Vale destacar que atualmente São José dos Campos se revela como polo

tecnológico industrial, sendo considerada polo industrial e o maior complexo

aeroespacial da América Latina.

Entre as principais indústrias instaladas no município estão a Refinaria de

Petróleo Henrique Lage/Petrobrás, Embraer, General Motors, Eaton, Johnson &

Johnson, Monsanto, Panasonic, Hitachi, Johnson Controls, Avibrás, Ericsson,

Tecsat, Solectron, Kanebo, Philips, Bundy e Tecsat,

Conforme dados do (IBGE), as estatísticas das empresas de São José dos

Campos são:

QUADRO 3

ESTATÍSTICAS DO CADASTRO CENTRAL DE EMPRESAS 2008

Número de unidades locais 19.885 Unidades

Pessoal ocupado total 206.431 Pessoas

Pessoal ocupado assalariado 180.641 Pessoas

Salários e outras remunerações 4.739.527 Mil reais

Salário médio mensal 5,0 Salários mínimos

Número de empresas atuantes 19.212 Unidades

Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. NOTA 1: Atribuem-se zeros aos valores dos municípios onde não há ocorrência da variável ou onde, por arredondamento, os totais não atingem a unidade de medida. NOTA 2: Os dados com menos de 3 (três) informantes estão sem identificação, apresentando a expressão Não disponível, a fim de evitar a individualização da informação.

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Hoje a economia de São José dos Campos está representada desta forma,

segundo fonte do IBGE.

QUADRO 4

ECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Orçamento do Município (Em R$ bilhões) - 2009 1,345

Participação no PIB do Estado 1,99 %

Participação nas Exportações do Estado - 2008 10,71 %

Participação dos Setores Econômicos no Valor Adicionado - 2007

Indústria 51,22 %

Serviços 48,64 %

Agropecuária 0,14 %

Um conjunto de fatores associados é que resulta na pobreza, e não uma única

causa. Porém, grandes grupos econômicos detêm alta concentração da riqueza,

desenvolvendo-se econômica e socialmente. A parcela da população que não tem

acesso a emprego, muitas vezes por falta de oportunidade, sente-se excluída. Desta

forma muitos são acolhidos nos CRASs, procurando oportunidade para capacitação

e geração de empregos.

Em São José dos Campos, os CRASs são unidades da SDS, órgão da

Prefeitura, e atendem famílias com renda de até três salários mínimos que se

encontram em situação de vulnerabilidade social. A implantação dos CRASs

realizou-se através da Secretaria de Desenvolvimento Social no ano de 2007.

Rangel (2009, p. 72) explica que, quando se detectou que as Unidades

Regionalizadas não poderiam ser transformadas em CRASs, a SDS decidiu

implantar dois CRASs na Região Leste do Município. Atualmente, a SDS

disponibiliza quatro unidades de CRAS à população de baixa renda, localizados na

Vila Industrial, Eugênio de Melo, D. Pedro I e Parque Santa Rita.

O CRAS da Vila Industrial, localizado na região leste da cidade, abrange os

seguintes bairros: Bairro do Sapé, Chácara dos Eucaliptos, Integração, Intervale,

Fazenda Marson, Jardim Brasília, Jardim Copacabana, Jardim Ismênia, Jardim

Maracanã, Jardim Olímpia, Jardim São Jorge, Jardim Universo, Martins Guimarães,

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Parque das Américas, Residencial JK, Residencial Planalto, Ronda, Tatetuba,

Tesouro, Valparaíba, Vista Linda, Vila Ester, Vila Industrial e Vila Nova Renascer.

O CRAS de Eugênio de Melo possui nove bairros que são: Fazenda Ronda

Fazenda Nossa Senhora da Conceição, Fazenda Taira, Fazenda Takanashi,

Fazenda Vila Franca, Galo Branco, Itapuã, Jardim das Flores, Jardim Ipê.

No primeiro semestre de 2007, o CRAS em Eugênio de Melo começou os

trabalhos com os usuários, que nesta data eram de 2.500 famílias para referenciar.

Segundo os requisitos de gestão do Sistema Único da Assistência Social, cidades

com o porte entre 100.001 a 900.000 habitantes, que é o caso de São José dos

Campos, devem ter no mínimo quatro CRASs. A cidade alcançou o nível de gestão

plena, ou seja, o patamar em que tem a gestão total das ações de assistência social.

Em conformidade com a NOB/SUAS do ano de 2005, o número de famílias

referenciadas e a capacidade de atendimento anual, a distribuição mínima de CRAS

por porte do município é a seguinte:

QUADRO 5

DISTRIBUIÇÃO MÍNIMA DE CRAS POR PORTE DO MUNICÍPIO

Porte do Município

Nº de Habitantes

Nº Mínimo de CRAS

Famílias Referenciadas

Capacidade de Atendimento Anual

Pequeno Porte I Até 20 mil Habitantes

1 CRAS 2.500 500 famílias

Pequeno Porte II De 20 a 50 mil

Habitantes 1 CRAS 3.500 750 famílias

Médio Porte De 50 a 100 mil

Habitantes 2 CRASs 5.000 1.000 famílias

Grande Porte De 100 a 900 mil Habitantes

4 CRASs 5.000 1.000 famílias

Metrópole Mais de 900 mil

Habitantes 8 CRASs 5.000 1.000 famílias

Dados retirados da NOB/SUAS 2005.

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CAPÍTULO 3

INTERDISCIPLINARIDADE: AFINAL, DO QUE SE TRATA?

Falar sobre a Interdisciplinaridade entre o serviço social e a psicologia requer

inicialmente entendermos o que vem a ser este conceito. Segundo Fazenda (1989),

a Interdisciplinaridade não é algo novo, atual, mas remonta à Grécia Antiga, onde o

ato de aprender realizava-se através da prática socializada e da cultura que se dava

por meio da dinâmica de apreensão de conhecimentos em atos sociais que

discorriam sobre todas as áreas do saber, dando origem ao conceito de Paideia,

cujo foco era o de gerar homens mais competitivos, criativos e aptos a responder a

todos os desafios. Segundo Jaeger (1995):

É então que o ideal educativo grego aparece como Paideia

9, formação geral que tem por tarefa construir o

homem como homem e como cidadão. Platão define Paideia da seguinte forma "(...) a essência de toda a verdadeira educação, ou Paideia, é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento. (Cit. in JAEGER, 1995. p. 147).

Tornando-se assim um cidadão, um ser completo e dinâmico, que ao socializar

o saber, suas relações implicam várias áreas do conhecimento para a prática da

ação para a vida. Prática essa que não acontece sozinha, individualizada ou

fragmentada, mas há que se estabelecer através de equipe.

Ivani Fazenda, coordenadora do grupo de estudos e pesquisa sobre

Interdisciplinaridade da PUC/SP, descreve sobre o caminho dos estudos da

Interdisciplinaridade no Brasil, relatando que a mesma surgiu na Europa, França e

Itália, em meados da década dos anos 60. A Interdisciplinaridade foi sendo

intensificada nas propostas e práticas educacionais, com a Lei de Diretrizes e Bases

9 Dados extraídos do site: www.educ.fc..ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/Paideia/Conceito

dePaideia, acessado em 10/05/2010.

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da Educação Nacional (LDB) de 1996 e com os Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN), datados de 1998. Alguns professores almejavam “o rompimento com uma

educação por migalhas”, (FAZENDA, 2001), onde a organização do currículo escolar

mostra-se excessivamente compartimentada, cuja proposta de conhecimento induz

o olhar do aluno numa única direção.

“Inter” prefixo que definimos como aquele que está entre as disciplinas, e que

também exprime a noção de relação recíproca. O prefixo "inter" não indica apenas

uma pluralidade, uma justaposição; evoca também um espaço comum, um fator de

coesão entre saberes diferentes.

Destacamos que é relevante estabelecer a diferença entre Interdisciplinaridade

de outros conhecimentos como: multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade. O autor,

Japiassu (1976, p. 73/77), sustenta ser “...simples justaposição, num trabalho

determinado, dos recursos de várias disciplinas, sem implicar necessariamente um

trabalho de equipe e coordenado”.

Em relação à questão da pluridisciplinaridade, este mesmo autor define como

uma “justaposição de diversas disciplinas situadas no mesmo nível hierárquico e

agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas - um sistema

de um só nível e de objetivos múltiplos, com cooperação, mas sem coordenação”

(JAPIASSU, 1976).

Por Interdisciplinaridade, postula que se realiza pela intensidade das trocas

entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de

um projeto específico de pesquisa. Conforme relato anterior, “O interdisciplinar vai

além do simples monólogo de especialistas ou do diálogo paralelo e tem como

horizonte o campo unitário do conhecimento”. (JAPIASSU, 1976. p. 73)

Dialogando, trocando com esforço no sentido de estarem contribuindo para que

sua própria linguagem técnica possa alcançar o todo. A Interdisciplinaridade supõe

abertura de pensamento, curiosidade que se busca além de si mesmo (GUSDORF).

Ainda, o filósofo e epistemólogo Georges Gusdorf (1987), considerado um dos

principais precursores da Interdisciplinaridade, esclarece: “o destino da ciência

multipartida seria a falência do conhecimento, pois na medida em que nos

distanciamos de um conhecimento em sua totalidade, estaríamos decretando a

falência do humano, a agonia da nossa civilização".

A Interdisciplinaridade representa um nível mais elevado de interação entre as

disciplinas, um nível hierárquico superior, onde procede a coordenação das ações

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disciplinares. Há, portanto, uma organização e articulação voluntárias coordenadas

das ações disciplinares orientadas por um interesse comum. Isto significa que na

Interdisciplinaridade há cooperação e diálogo entre os conhecimentos disciplinares.

Numa visão mais profunda e ampla, deve-se tentar uma linguagem e uma

escrita comum aos resultados da ação interdisciplinar. Uma equipe que se propõe a

trabalhar na perspectiva interdisciplinar, onde o compromisso é selado, propõe um

movimento de congruências e confrontos não só de disciplinas, mas de pessoas

(FAZENDA, 2007). É através da prática compartilhada que os profissionais se

fortalecem, comprometendo-se com a ética, socializando o saber.

A Interdisciplinaridade é bastante difundida nas escolas, principalmente na

oratória entre os professores. Caminhando rumo à discussão/construção de novos

modos de socializar o saber não fragmentado, considerando-o como um todo.

As disciplinas sempre foram muito distantes, onde, e até os dias de hoje, há

fragmentação, sendo que não se comunicam e não interagem.

Segundo Alves, Interdisciplinaridade faz-se como um espaço de construção,

um espaço de abertura, diálogo, ligação, religação, criação, congruente, coerente,

porque nela habita o ser que o faz.

A Interdisciplinaridade é a possibilidade de superação da dicotomia ciência/existência, tão proeminente nos séculos XVIII e XIX e ainda hoje, uma vez que esta dicotomia ainda mostra suas marcas na fragmentação da ciência e da subjetividade humana. (ALVES, 2009. p. 121)

Sendo assim, as mudanças sociais hoje exigem profissionais que estejam

também em constante mudança, no sentido de poderem acompanhar as

transformações do mundo globalizado.

A partir de um enfoque fundamentalmente interdisciplinar, o pesquisador-produto-histórico parte de uma visão de mundo e do homem necessariamente comprometida, e neste sentido não há possibilidade de se gerar um conhecimento “neutro”, nem um conhecimento do outro que não interfira na sua existência. (LANE, 1984. p. 18).

Os fenômenos (acontecimentos) observados, ou mesmo vivenciados, não

podem ser entendidos como fatos isolados. A dinâmica relacional entre a equipe

deve ser construída de maneira global, subentendendo que os acontecimentos estão

inseridos numa teia de relações, ou seja, interligados. Há que se buscar novos

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saberes, novas vivências, ou seja, só se pode avançar na caminhada evolutiva com

os outros, pois eles são necessários para continuadamente aprender. (BEAUCLAIR,

2001. p. 73).

É através de nossas interações sociais que conseguimos olhar e sermos

olhados, amar e sermos amados, e nessa interação proporcionamos abertura para

valorizarmos nossa condição ético/moral/espiritual. “Feliz aquele que transfere o que

sabe, e aprende o que ensina”, (CORA CORALINA).

Ao interagirmos nesta troca, possibilitamos crescimento “intra-inter-pessoal”,

favorecendo visão mais ampliada, onde o uno e o múltiplo se compõem,

possibilitando a superação de dicotomias, onde o compartilhamento é possível.

No critério de compartilhamento, o eu e o outro são eus em movimento de dividir os saberes da vida, vida dividida em altos e baixos, mas não menos vida, pois cada um é gente aprendendo a lidar com gente, nos movimentos de relações interpessoais sempre presentes em nossa cotidianidade. (BEAUCLAIR, 2008. p. 74)

As diversidades de relações por nós vividas cotidianamente nos fazem

enfrentar desafios dos mais diversos, onde despertamos nossa criatividade,

sociabilidade, agimos e interagimos e nos movemos para colocamos nossas ações

em prática.

A ação nos possibilita trocar experiências, pensar sobre a prática, diálogo, e

com um pensar crítico que ainda nos favorece no sentido de despertar o desejo ante

o conhecimento, ante o aprender.

Conforme menciona BEAUCLAIR (2008), aprender é saber, desenvolver

nossos potenciais para a mudança, visando a alcançar maior flexibilidade para a

apreensão das diferentes situações formais e informais presentes no cotidiano:

quando se aprende, melhora e adquire novos conceitos e amplia os antigos,

generalizando-os.Aprender é saber promover transferências de aprendizagens

anteriores para situações novas, expandindo os sentimentos de competência de

cada um.

No entanto, é preciso ter sentimento de competência e autoconhecimento no

sentido de internalizar os cinco princípios que subsidiam a prática interdisciplinar,

como aponta Fazenda: humildade, espera, respeito, coerência e desapego.

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Humildade: há necessidade de reconhecer limitações e coragem para superá-las.

Espera: tempo de escuta sem apegos.

Respeito: há que se ter respeito por si mesmo e pelas pessoas que o cerca.

Coerência: ter coerência no que se diz e também no que se faz.

Desapego: ter desapego das certezas - buscar na partilha com o outro, novas

possibilidades de pensar e também de agir.

Neste contexto, faz-se necessário propiciar atitude interdisciplinar para que a

equipe busque harmonia na liberdade de seus movimentos (de agir, partilhar,

compartilhar, socializar...) constituindo um todo, dinâmico e inacabado. Por atitude

interdisciplinar, comenta Fazenda:

Entendemos por atitude interdisciplinar uma atitude diante das alternativas para conhecer mais e melhor, atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, ao diálogo - diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo - atitude de humildade diante das limitações do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitudes de desafios - desafio perante o novo, desafio de redimensionar o velho - atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida. (FAZENDA, 2007. p. 82)

Atitudes que requerem desafios em redimensionar o velho, desvelar novos

saberes, que são exercitadas no diálogo. Sendo assim, estas atitudes devem ser

vivenciadas no cotidiano, como nos relata nossa entrevistada Rebeca, sujeito da

pesquisa, que vivencia a questão interdisciplinar da seguinte maneira:

Olha, é... Eu entendo a Interdisciplinaridade como uma complementação de um trabalho com outro... o fato de existir os dois profissionais, ele enriquece o trabalho. (Rebeca).

Ou seja, para Rebeca, a Interdisciplinaridade representa o complemento à

contribuição, à junção, à união, para formar um todo, pois ainda “o fato de existir os

dois profissionais, ele enriquece o trabalho”, fortalecendo - o enquanto equipe. E,

complementando com o relato acima, a autora FAZENDA (1996, p. 17), afirma,

conforme mencionamos anteriormente, que num projeto interdisciplinar “não se

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ensina nem se aprende: vive-se, exerce-se”, propiciando desta maneira uma forma

de ampliar horizontes.

3.1 - Psicologia na Assistência Social

Com a institucionalização da psicologia na assistência social em 2004, com a

implantação do SUAS, a mesma vem sustentar seu lugar no campo da proteção

social básica. Este campo de atuação do psicólogo, conforme já descrito

anteriormente, situa-se no CRAS, Centro de Referência de Assistência Social.

Espaço onde a atuação do psicólogo deve estar voltada à prática da Psicologia

Social. Para tanto, elegemos a Psicologia Sócio-Histórica, que foi escolhida tendo

em vista que a mesma considera seus fundamentos teóricos e metodológicos na

perspectiva materialista histórica e dialética.

A Psicologia Social critica parte do reconhecimento da condição sócio-histórica

do homem: um ser intencional, ativo, criativo e em constante transformação,

determinado e determinante da História. (ARAÚJO, 2010. p. 26). O homem é dotado

de criatividade, onde realiza as transformações necessárias para sua subsistência,

capaz de transformar e transformar-se, emancipando-se para seu próprio

crescimento ético-moral.

De forma complementar, Bock assegura que o compromisso social da

psicologia, construído em diferentes projetos, valoriza a construção de práticas

comprometidas com a transformação social em direção a uma ética voltada para a

emancipação humana. (CFP, 2007. p. 9)

Sendo assim, cabe reafirmar que o campo da psicologia neste trabalho será

abordado numa perspectiva com intervenção psicossocial. Onde valoriza o “SER” de

forma integral, potencializando-o para seu crescimento pessoal. E, nesse contexto,

compartilhamos com as Referências Técnicas para a atuação do(a) psicólogo(a) no

CRAS/SUAS (2008, p. 22), que estabelecem:

Uma psicologia comprometida com a transformação social toma como foco as necessidades, potencialidades, objetivos e experiências dos oprimidos. Nesse sentido, a psicologia pode oferecer, para a elaboração e execução de políticas públicas de assistência social - preocupada em promover a emancipação social das famílias e fortalecer a cidadania

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junto a cada um de seus membros - contribuições no sentido de considerar e atuar sobre a dimensão subjetiva dos indivíduos, favorecendo o desenvolvimento da autonomia e cidadania.

Nessa concepção, a prática do psicólogo deve ser por meio da dinâmica social

interdisciplinar, do diálogo compartilhado socializado, tendo em vista que o mesmo

visa a favorecer a emancipação e promover a vida do sujeito.

Em conformidade com as Referências Técnicas para atuação dos psicólogos

nos CRASs (2008, p. 25.), o mesmo afirma: a prática interdisciplinar é uma prática

política, um diálogo entre pontos de vista para se construírem leituras, compreensões

e atuações consideradas adequadas, e visa à abordagem de questões relativas ao

cotidiano, pautadas sobre a realidade dos indivíduos em seu território.

A psicologia, nesse ínterim, visa à construção de referencial teórico voltado ao

compromisso ético e político, direcionado aos sujeitos que se encontram em

condições de vulnerabilidade social. Nesse sentido, direcionamos nosso foco sobre

o relato da autora Nery em sua tese de doutorado que vem afirmar:

A Psicologia Social está de forma crescente preocupada com as questões da subjetividade social do indivíduo, como parte da dimensão humana enquanto ser social que possui uma determinada individualidade, fruto, por sua vez, de uma construção histórica geradora de sofrimentos particulares e coletivos vivenciados pelos sujeitos. (NERY, 2009. p. 101)

Desta forma, por estarem inseridos em sofrimentos que são construções

históricas e que estão enraizados na maioria desta população, e que também se

encontra em situação de vulnerabilidade, muitos se veem sem alternativa para sua

solução.

Assim, as práticas psicológicas não devem categorizar e patologizar e

objetificar as pessoas atendidas, mas buscar compreender e intervir sobre os

processos e recursos psicossociais, estudando as particularidades e circunstâncias

que ocorrem. (CFP, 2008. p. 22).

Há que se considerar a maneira de sobrevivência deste sujeito, seus recursos

para sua própria manutenção frente aos desafios que a vida lhe oferece. Neste

sentido, a Psicologia Sócio-Histórica vem contribuir, pois tem como referencial

teórico e metodológico o materialismo histórico e dialético, ao considerar a história

deste sujeito, seu mundo interno e externo:

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A Psicologia Sócio-Histórica tem como referências o materialismo histórico e dialético, que concebe que a história é o quê e o modo como os homens produzem os meios de existência e como se organizam para tal. Considerar a história significa levar em conta o que os homens concretos produzem, de que forma o fazem e como se relacionam para transformar a natureza, a partir dos meios de existência já elaborados. (BOCK, 2007. p. 12).

Cabe apontar que o mundo psicológico é um mundo em relação dialética com o

mundo social. (BOCK, 2007. p. 22). Esse mundo social que é um mundo de

relações, de atividades/criatividades, de histórias onde estão suas memórias.

Uma postura materialista, histórica e dialética considera que a partir da atividade criativa do homem sobre a natureza, na busca por satisfazer suas necessidades, há um salto ontológico que retira a existência humana das determinações estritamente biológicas, pois ao modificar a natureza, o homem modifica-se a si próprio, criando novas necessidades, cada vez mais complexas, e diferentes formas de satisfazê-las. (ARAÚJO, 2010. p. 27)

E assim sendo, ao satisfazer suas necessidades, o sujeito é parte integrante

desta história que armazena em sua memória. Ante seus anseios, cria e recria seu

mundo sociopsicológico. Necessidades estas, geridas ante o contato entre os homens

e dos homens com a natureza. Bock enfatiza junto à psicologia sócio-histórica que:

A compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do “mundo externo”, pois são dois aspectos de um mesmo movimento, de um processo no qual o homem atua e constrói/modifica o mundo e este, por sua vez, propicia os elementos para a constituição psicológica do homem. (BOCK, 2007. p. 22)

Os aspectos desse mesmo movimento que se estabelecem nos proporcionam

a harmonia entre entendimento interno/externo, que deve existir entre as diversas

partes de um todo e entre cada parte e o todo.

Diante dessa questão, a literatura mostra que essa visão de homem e de

mundo está explícita na Psicologia Sócio-Histórica, pois considera o homem como o

todo. Bock traz à luz o porquê da Psicologia Sócio-Histórica:

A Psicologia Sócio-Histórica: porque já não poderemos mais pensar a realidade social, econômica e cultural como algo exterior ao Homem, estranho ao mundo psicológico, que aparece como algo que o impede, o anula ou desvirtua. O mundo social e o mundo psicológico

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caminham juntos em seu movimento. Para compreender o mundo psicológico, a psicologia terá obrigatoriamente de trazer para seu âmbito a realidade social na qual o fenômeno psicológico se constrói; e, por outro lado, ao estudar o mundo psicológico, estará contribuindo para a compreensão do mundo social. Trabalhar para aliviar o sofrimento psicológico das pessoas exigirá do psicólogo um posicionamento ético e político sobre o mundo social e psicológico. (BOCK, 2007. p. 25)

No entanto, este sujeito que se encontra inserido em condições desfavoráveis,

que são contrárias à sua vontade (pobreza, condições de risco, condições de

vulnerabilidade social, que na maioria das vezes são frutos da falta de oportunidade,

gerando sofrimento. Sofrimento que Sawaia qualifica de sofrimento ético-político,

proveniente da exclusão social, e ainda:

O sofrimento é a dor mediada pelas injustiças sociais. É o sofrimento de estar submetido à fome e à opressão, e pode não ser sentido como dor por todos. É experimentado como dor, na opinião de Heller, apenas por quem vive a situação de exclusão por “seres humanos genéricos” e pelos santos, quando todos deveriam estar sentindo-o, para que todos se implicassem com a causa da humanidade. (SAWAIA, 2009. p. 102)

Desta forma, a intervenção deve estar voltada para os aspectos saudáveis, do

sujeito, valorizando o que “ele” pode desenvolver com seus recursos.

Assim, estes são os compromissos sociais com a psicologia nas políticas

públicas, em consonância com o Conselho Federal de Psicologia, conforme aborda

Bock, direcionadas para práticas que apontam alternativas para o fortalecimento de

populações em situação de vulnerabilidade social, assim como para o fortalecimento

dos recursos subjetivos para o enfrentamento das situações de vulnerabilidade

social (CFP, 2009. p. 9). Então, a prática do psicólogo deve estar voltada à realidade

e às condições concretas vivenciadas pela população atendida.

Os problemas e entraves da intervenção solitária levam a muitos projetos de

trabalho interrompidos. A mentalidade fechada para o diálogo acaba se reduzindo à

fragmentação dos saberes. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas

da psicologia à Psicologia Social, mas sim cada uma assumir dentro da sua

especificidade a natureza histórico-social do ser humano. (LANE, 1984. p.19)

O psicólogo, enquanto trabalhador inserido na política de assistência social,

deve desenvolver seu trabalho voltado para o fortalecimento das políticas públicas.

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Ao promover a emancipação social das famílias e fortalecer a cidadania, a psicologia

vem de encontro com a dimensão subjetiva do sujeito, oferecendo subsídios para

sua emancipação e promoção. Desta forma, oportuniza o sujeito a vislumbrar novo

lugar enquanto protagonista do espaço referenciado pelo CRAS.

Para tanto, as Referências Técnicas para atuação do(a) psicólogo(a) no

CRAS/SUAS, postula os Princípios que devem orientar a prática do psicólogo no

CRAS:

1. Atuar em consonância com as diretrizes e objetivos da PNAS e da Proteção Social Básica (PSB), cooperando para a efetivação das políticas públicas de desenvolvimento social e para a construção de sujeitos cidadãos; 2. Atuar de modo integrado à perspectiva interdisciplinar, em especial nas interfaces entre a psicologia e o serviço social, buscando a interação de saberes e a complementação de ações, com vistas à maior resolutividade dos serviços oferecidos; 3. Atuar de forma integrada com o contexto local, com a realidade municipal e territorial, fundamentada em seus aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais; 4. Atuar baseado na leitura e inserção no tecido comunitário, para melhor compreendê-lo, e intervir junto aos seus moradores; 5. Atuar para identificar e potencializar os recursos psicossociais, tanto individuais como coletivos, realizando intervenções nos âmbitos individual, familiar, grupal e comunitário; 6. Atuar a partir do diálogo entre o saber popular e o saber científico da psicologia, valorizando as expectativas, experiências e conhecimentos na proposição de ações; 7. Atuar para favorecer processos e espaços de participação social, mobilização social e organização comunitária, contribuindo para o exercício da cidadania ativa, autonomia e controle social, evitando a cronificação da situação de vulnerabilidade; 8. Manter-se em um permanente processo de formação profissional, buscando sempre a construção de práticas contextualizadas e coletivas; 9. Atuar com prioridade de atendimento aos casos e situações de maior vulnerabilidade e risco psicossocial; 10. Atuar para além dos settings convencionais, em espaços adequados e viáveis ao desenvolvimento das ações, nas instalações do CRAS, da rede socioassistencial e da comunidade em geral. (CREPOP. 2008. p. 25/26)

Objetivar atuações com determinações que possam ser efetivas para o

favorecimento das classes mais empobrecidas, para que possam obter

atendimentos mais pontuais. Entretanto, do ponto de vista conceitual, ainda ressalta

o CREPOP: a atuação do psicólogo e do assistente social e as diretrizes do MDS

unem-se na reabilitação psicossocial de um lado e de outro, na promoção da

cidadania e do protagonismo político. (2008, p. 26.)

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3.2 - O trabalho Interdisciplinar no Centro de Referência de Assistência

Social

Este trabalho vem se intensificando, sendo um dos requisitos para a prática

profissional e dinâmica relacional. Há que ser uma psicologia que valoriza a

construção de práticas comprometidas com a transformação social em direção a

uma ética voltada para a emancipação humana.

No entanto, a PNAS, no que diz respeito aos serviços de proteção social básica

que são ofertados nos CRASs, pressupõe a interface no trabalho realizado, num

movimento articulado entre os integrantes da equipe, sendo que uma de suas

finalidades será a melhoria da comunicação entre os grupos, visando a uma prática

socializada.

A Interdisciplinaridade é um processo dinâmico, consciente e ativo, de reconhecimento das diferenças e de articulação de objetos e instrumentos de conhecimentos distintos, que contribui para a superação do isolamento dos saberes. (BRASIL, 2009. p. 65)

Nessa concepção, elege respostas variadas obtidas com as trocas de saberes.

Assim sendo, entendemos que o trabalho interdisciplinar pode, quando constituído

devidamente pela equipe de referência do CRAS, tornar-se um instrumento de

trabalho coletivo e político. Eis o que nos diz o CRAS:

A equipe de referência do CRAS é interdisciplinar e os perfis devem convergir de forma a favorecer o desenvolvimento das funções do CRAS. O trabalho social com famílias depende de um investimento e uma predisposição de profissionais de diferentes áreas a trabalharem coletivamente, com o objetivo comum de apoiar e contribuir para a superação das situações de vulnerabilidade e fortalecer as potencialidades das famílias usuárias dos serviços ofertados no CRAS. (BRASIL, 2009. p. 62)

Trabalho coletivo através de atuações contextualizadas, para que possam

ajudar os profissionais a enfrentarem as demandas que são postas e que são

complexas (não são poucos os sofrimentos), pois qualificará os serviços prestados.

Perante as transformações societárias que vêm ocorrendo ao longo da história, a

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psicologia mostra-se cada vez mais preocupada com uma ética direcionada para a

emancipação humana.

Nesse ínterim, juntamente com o Conselho Federal de Psicologia (CPF), o

sistema de Conselhos criou o Centro de Referência Técnica em Psicologia e

Políticas Públicas (CREPOP), objetivando a produção de informação qualificada,

uma prática com o objetivo de ampliar a capacitação dos psicólogos na

compreensão das políticas públicas nas áreas de saúde, educação, assistência

social, criança e adolescente, entre outras.

A atuação do psicólogo dentro do CRAS deve ser compreendida numa

dimensão de valorização e promoção da vida, relevando os aspectos saudáveis

como um todo, tanto do indivíduo, quanto da família, sem, no entanto, deixar de

considerar os aspectos de vulnerabilidade em que o mesmo está inserido.

É de suma importância que o psicólogo exerça sua função com envolvimento

coletivo junto aos técnicos da equipe, com diferentes formações, para que possa

dimensionar seu olhar. Desta forma, compartilhamos com o que nos reporta o

Conselho Federal de Psicologia, assim:

Temos muito que ver fora dos consultórios, dos settings convencionais. Temos a oportunidade de estabelecer muitos olhares, muitas conexões, muitas redes. Temos a oportunidade de trabalhar com a vida, não com o pobre, o pouco, o menos. Temos o dever de devolver para a sociedade a contradição, quando muitos não usufruem de um lugar de cidadania, que deveria ser garantido a todos, como direito. Para isto, devemos nos ocupar de todos os casos, pois eles estão ali, pedindo algo, e às vezes, porque demoramos demais, nem pedindo estão mais. Mais motivos temos para nos aproximar e retomar o que deve ter ficado perdido nos fragmentos dos atendimentos segmentados, dos encaminhamentos assinalados nos papéis, mas ainda não inscritos na vida. (CFP, 2008. p. 17)

Diante do exposto, faz-se necessária a presença do psicólogo enquanto

membro da equipe interdisciplinar das ações e articulações existentes nas regiões e

nas comunidades, enquanto território referenciado pelo CRAS. As ações da equipe

devem estar direcionadas com suas atuações a combater a exclusão e favorecer

“...a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso

aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais em áreas urbanas e

rurais” (MDS, 2006).

Imprescindível acrescentar que os psicólogos possam ter visão ampliada

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enquanto ser humano, que se faz presente, percebendo e considerando o sujeito e a

comunidade como um todo, integral e não pulverizada.

Desta forma, será preciso uma aproximação e vinculação sem discriminação ou

preconceitos, trazendo para perto a intimidade do sujeito despida de formalidades.

O compromisso ético-político deve estar voltado ao bem-estar biopsicossocial,

aos que dele necessitam, oportunizando ao indivíduo tornar-se capaz de gerir sua

própria dinâmica relacional com a vida.

Faz-se necessário um novo modo de atuação por parte dos profissionais de

psicologia, para que o trabalho se concretize de forma ética e política, voltado para

os sujeitos referenciados pelo CRAS, e que este profissional esteja identificado e se

aproprie desta atuação, o que não deixa de ser um processo interior.

Na unidade básica da assistência social, o CREPOP aponta os serviços

realizados, os benefícios, programas e projetos (BRASIL, 2006):

1. Serviços: socioeducativos geracionais, intergeracionais e com famílias; sociocomunitário; reabilitação na comunidade; outros; 2. Benefícios: transferência de renda (Bolsa-Família e outra); Benefícios de Prestação Continuada - BPC; benefícios eventuais - assistência em espécie ou material; outros; 3. Programas e Projetos: capacitação e promoção da inserção produtiva; promoção da inclusão produtiva para beneficiários do programa Bolsa Família - PBF e do Benefício de Prestação Continuada; projetos e programas de enfrentamento à pobreza; projetos e programas de enfrentamento à fome; grupos de produção e economia solidária; geração de trabalho e renda.

(CREPOP, 2008. p. 28)

Assim sendo, o psicólogo deve participar de todas essas ações, articulando a

sua atuação a um plano de trabalho elaborado em conjunto com a equipe

interdisciplinar (CREPOP, 2008. p. 28).

Para que a prática interdisciplinar se concretize, é preciso que as intervenções

entre os profissionais da equipe do CRAS sejam desenvolvidas conjuntamente.

Sampaio, (2010, p. 88) aborda que, “{...} a Interdisciplinaridade supõe uma relação

de reciprocidade e interação de conhecimentos, contrapondo-se a atitudes isoladas

e fragmentárias {...}”. Em sendo assim, a Interdisciplinaridade realiza-se através de

discussões e reflexões, articuladas, entre os profissionais. Estas realizações são

planejadas e executadas para que, através da troca de casos, sejam alcançados

resultados positivos para todos.

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Nesse sentido, a prática interdisciplinar favorece espaços comuns, propiciando

reflexão e questionamentos da ação, promove campo de novas ideias, junção de

pensamentos e saberes diferenciados, “um novo saber ético e social” (MARTINELLI,

1995), onde há possibilidade de rever e rediscutir práticas de intervenção mais

assertivas.

Depreende-se, portanto, o benefício que o trabalho interdisciplinar acrescenta à

equipe enquanto espaço de diferenças, pois a junção de saberes propicia novos

conhecimentos, novas posturas, novos modos de agir e interagir. Desta forma,

Rodrigues contribui:

Penso a Interdisciplinaridade não como um método de investigação, uma técnica didática, um instrumento utilitário, um princípio de homogeneização, ou um modelo metodológico capaz de produzir ideias generalizadoras ou universalizantes. Penso-a, inicialmente, como postura profissional que permite se pôr a transitar o “espaço da diferença” com sentido de busca, de desvelamento da pluralidade de ângulos que um determinado objeto investigado é capaz de proporcionar, que uma determinada realidade é capaz de gerar, que diferentes formas de abordar o real podem trazer. (RODRIGUES, 1995. p. 156)

Nesse sentido, saberes e conhecimentos se entrelaçam ante o espaço da

diferença, que requer autoconhecimento, crescimento e postura profissional, para

que as práticas sociais formem alianças direcionadas a objetivos comuns. Martinelli

ressalta que: “Todos somos trabalhadores, lutamos por causas comuns e das

diferenças de nossas profissões é que devem brotar as possibilidades!” (1995, p.150).

Construir espaços interdisciplinares não é fácil, mas possível quando se

acredita que é capaz de transformar em se transformando.

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CAPÍTULO 4

AS NARRATIVAS DOS SUJEITOS DA PESQUISA. PERSPECTIVA

INTERDISCIPLINAR: AS TROCAS DE CONHECIMENTO DOS

SABERES E PRÁTICAS ENTRE OS TÉCNICOS

“Somos a memória que temos

E a responsabilidade que assumimos

Sem memória não existimos

Sem responsabilidade

Talvez não mereçamos existir”

José Saramago

“Então eu acho que é dessa forma, trocando literatura,

trocando conversa, discutindo caso, aí que vai...

[...] o fato de existir os dois profissionais, ele enriquece o trabalho... Leva a um atendimento que se completa entre uma área e outra [...]

Rebeca.

[...] há uma divisão de território, o que não propicia uma discussão da situação dos usuários [...]

Adélia.

Este capítulo apresenta as narrativas dos sujeitos da pesquisa, ou seja, a

entrevista que se revela de modo relacional. Como aborda Portelli (1997, p. 9), “uma

entrevista é uma troca entre dois sujeitos: uma visão mútua”.

A mutualidade conduz à reciprocidade que os faz interagir num campo de

fidelidade de trocas, detento de saber, como aponta Szymanski, “aquele que está

sendo entrevistado descobre ser dono de um conhecimento importante para o

outro”. (2010, p. 10).

E é nesta dinâmica recíproca que os sujeitos da pesquisa se apresentam,

contando suas histórias que trazem de suas memórias. Revelam seus

conhecimentos, seus desejos, seus anseios, suas esperanças, suas angústias. São

depoimentos carregados de emoção, de reflexões, de certezas e dúvidas, são

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momentos de entrega, de compartilhamento. Uma construção, onde passado

presente e futuro se entrelaçam num emaranhado de significados que expressam

momentos históricos, revelando a própria experiência de vida. Corroboramos com as

ideias de Khoury, quando a autora assegura que “Tanto fatos, como narrativas, se

constroem nas e pelas redes de relações em que estão inseridos”. (KHOURY, 2004.

p. 123).

As narrativas dos sujeitos são expressões que estão enraizadas em seu ser,

expressões por eles vivenciadas. Torna-se imperioso acatar a narrativa do Outro,

saber ouvir, acolher, colocando-os em silêncio e respeitar seu ponto de vista,

tornando-nos introspectivos para introduzirmos o que vem de fora para se juntar com

o que está dentro de nós, compreendendo e entendendo. Neste ínterim,

apresentamos as expressões dos sujeitos da pesquisa:

Então, ao ser questionada se: o serviço social e a psicologia trabalham na

perspectiva interdisciplinar, se há trocas de conhecimento, saberes e práticas

entre os profissionais? Ouçamos Rebeca:

Olha é... Eu entendo a Interdisciplinaridade como uma complementação de um trabalho com outro, então quer dizer que o serviço social não compreende, vamos dizer assim e faz à psicologia, a psicologia vai complementando o trabalho e nós vamos complementando o trabalho dela, não sei se essa minha compreensão é correta da Interdisciplinaridade né... então nesse sentido, com certeza dentro da perspectiva de trabalho do CRAS, o serviço social, a psicologia trabalham Interdisciplinaridade tá..., é existe sim a troca de conhecimentos, é a prática dos profissionais também vão sendo enriquecidas com o saber de cada um, uma vez que tanto os grupos, quando nós trabalhamos com grupos e usuários como é, quando é atendimento individual muitas vezes existe o trabalho conjunto das duas partes, buscando às vezes atingir objetivos que são os mesmos, outras vezes objetivos comuns, objetivos daquela área, então a psicologia usa do vínculo do assistente social com aquele usuário para conduzir também o seu trabalho para ter abertura de trabalho, e muitas vezes com o mesmo trabalho... com o mesmo fim... é, eu acho que isso também é uma coisa assim que nós estamos é... batalhando, a gente estranha muito... muitas vezes é... se confronta, entendeu?! Na dificuldade de levar esse trabalho em conjunto é..., uma hora puxa mais pra um lado e outro pra outro... Assim não é uma coisa que eu falo: -Ahhhhhhh eu Posso, nossa! É tranquilo, vai tudo bem! Não eu acho que a gente enfrenta dificuldades também, o trabalho acontece de forma interdisciplinar. O fato de existir os dois profissionais, ele enriquece o trabalho porque tem ou senão fica com aquela visão única da situação sempre. É preciso ter o parecer do outro também, do outro profissional, na avaliação de como

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dá a sequência, a necessidade, a discussão do caso leva a um atendimento que se completa, entre uma área e outra, o encaminhamento tem que ser completo. Então na verdade é assim, se você for ver a visita domiciliar é um instrumento do serviço social, ele é caracterizado, se você for ver como um instrumento do nosso trabalho é aqui, muitas vezes pra acompanhamento da situação da família. Aconteceram visitas conjuntas, assim como também aconteceram visitas ao bairro em que o psicólogo foi para ter conhecimento de como que é a realidade, aquela realidade né... vai ser trabalhada uma vez que a perspectiva do nosso trabalho é a comunidade... Já aconteceram visitas assim combinadas entre os dois profissionais, domiciliares.

Rebeca

Para Rebeca, Interdisciplinaridade são trocas de conhecimento, pois existe

parceria, e isto só é possível no trabalho em conjunto conforme seu relato. E, nesta

parceria, Rebeca afirma que há objetivos comuns, ou seja, com a mesma finalidade.

Claro que existem confrontos como em sua fala, a dificuldade existe sim, mas no

final existe o entrosamento direcionado à prática interdisciplinar. As visitas

domiciliares são combinadas.

Mesmo sendo um instrumento de trabalho do assistente social, elas são

realizadas em conjunto. A perspectiva de trabalho para Rebeca é a comunidade que

se beneficia deste trabalho em equipe.

É nesse contexto que a atuação interdisciplinar deve sempre caminhar,

criando espaços comuns, fortalecendo a relação da profissão com as equipes,

para que também possam dar visibilidade às políticas públicas. Dar voz e vez

para os espaços se ampliarem, facilitando diálogos para que se transformem em

ação.

No entanto, reconhecemos que os desafios postos não são fáceis e não é só

para o SUAS, mas para toda a equipe que compõe os espaços de compartilhamento

profissional, onde devem reunir esforços no sentido de viabilizar o trabalho tanto na

prática, quanto na teoria.

Conforme relato de Nícolas, sujeito da pesquisa que diz: “Há trocas de

conhecimentos tanto teórica, quanto prática”. As decisões quando compartilhadas

nos levam a atitudes mais seguras mais pontuais, mais assertivas, oferecendo

assim, oportunidades de livre expressão tanto para aquele que manifesta suas

ideias à equipe, quanto para aquele que está a escutar, à espera de sua vez, para

que também sua voz seja efetiva.

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Alissandra, do Conselho Federal de Psicologia, afirma: “Essa experiência

compreende as nossas especificidades profissionais, as interfaces, interlocuções,

interações e articulações entre as áreas de saber, caracterizando o desafio que

temos a superar”. (CFP, 2010. p. 13, grifos nossos).

Dentro dessa compreensão, torna-se imprescindível que os profissionais se

apropriem dos saberes e se reciclem para que possam ter iniciativa conjunta para

que o trabalho possa acontecer e se desenvolver de maneira que todos entrem em

um consenso.

Ainda complementamos com o relato de Nícolas, que nos dá visão e sentido à

prática interdisciplinar como via facilitadora, mas que afirma que no início ficou

complicado. Apreciemos seu relato:

Com certeza. Há trocas sim, na verdade estou falando enquanto nas diretrizes na equipe. Atuação desta equipe não tem como falar das outras. Existe uma preocupação INTER até porque não fica só no social. Vem com tudo o social e o psicológico, é lógico que precisa este olhar. No início ficou complicado, é como se fosse um pêndulo, fica complicado. A assistência social ficava com a benesse e o psicólogo como o leitor dos outros, à medida que as coisas vão se relacionando. A psicologia contribui muito com a leitura da subjetividade. Ele não faz porque ele não tem essa leitura. É como se estivesse vendo um mundo novo. É uma questão de leitura, ponto de vista. Isso estreitou muito a leitura, a aproximação com o serviço social. Muitas vezes pedem orientação como poderia ser. Faço assinalando, clarificando, percebem o usuário dentro do atendimento. Insisto muito na anamenese, ele trabalha, tem filhos, é social. Quando você começa a explorar, você começa a destrinchar e assim muda. Passei a aprender muita coisa desde 1986, trabalho com o social, mas nunca me interessei no SUAS. A política pública vem para referenciar tudo isso. Vem para melhorar discutindo o (manejo da escola) todo há interação entre o todo. Porque a escola não está, é um todo, um conjunto, não tem como dissociar isso. O Marxismo existe um significado importante dentro de tudo isso. O serviço social não é assistencialismo, o trabalho é outro. Existe a troca, se não sei, pergunto a elas, não sei, eu pergunto. Realizamos as visitas conjuntamente, vamos às casas juntos. Há interação, um momento o tempo todo. Vai sair com um técnico para ajudar uma senhora que está com Alzheimer. Há trocas de conhecimentos tanto teórica, quanto prática. A ação jovem, por exemplo, já formalizei minha opinião já recebi um projeto, a visão psicológica do caso do psicólogo foi considerada. Foi ponderado. O assistente social é muito oral, precisa analisar, é preciso pontuar, assinalar. Não abarcar o mundo. Essa reação é muito legal eu pergunto, eles perguntam.

Nícolas.

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Nícolas ainda relata que passou a “aprender muita coisa”, sua dinâmica é

“explorar, e que a PNAS, vem para referenciar”, de certa forma facilitar ampliar o

saber, ter uma diretriz. Aponta a Interdisciplinaridade como o estreitamento e

aproximação na prática vivenciada pela equipe. O diálogo torna-se agente facilitador

e mediador da práxis, pois viabiliza o trabalho da equipe de forma ampla como um

todo, abrindo possibilidades.

Entretanto, na narração de Nícolas, ainda existe a cisão entre objetividade e

subjetividade. O profissional da assistência social ainda é aquele que trabalha com a

questão dos bens materiais, a necessidade do usuário, quer seja Bolsa-Família,

quer seja dos recursos para sua subsistência.

Já o psicólogo, no relato de Nícolas, é aquele que trabalha com a

subjetividade, aquele que faz a leitura do mundo interno, das questões relativas ao

“eu interior” do sujeito. Ao psicólogo cabe “aquilo que tange o mundo interior do

sujeito, que está escondido e que dificulta o desenvolvimento (“o emocional”, “a

autoestima”), (ARAÚJO, 2009. p. 90).

As narrativas dos sujeitos manifestam aspectos da subjetividade e são,

portanto, elementos que estão enraizados no sujeito em sua história, resultantes de

suas vivências relacionais. Cada um de nós vivencia sua história à sua maneira, em

sua singularidade e individualidade, a reconhece e internaliza o seu modo de ser.

Esta é a maneira como desenvolvemos nossa subjetividade.

É de cada um de nós, com nossa visão de mundo, nossa maneira de ver e

sentir o mundo como ele é, e ao traduzirmos, colocamos nosso modo de pensar e

ver as “coisas” como elas são, “uma síntese psicológica” (VIGOTSKY, 2007).

E quando afirmamos que os sentidos são elementos constitutivos e que

expressam a subjetividade, permitindo-nos no campo da psicologia conhecer os

sujeitos, estamos enfatizando a importância de uma dimensão subjetiva da

realidade, entendida como uma síntese entre objetividade e subjetividade. Falar dos

sentidos é falar de subjetividade, da dialética afeto/cognição, é falar de um sujeito

não diluído, de um sujeito histórico e singular ao mesmo tempo. (AGUIAR, 2009. p.

54/65). Por conseguinte, as transformações atribuídas ao nosso ser acontecem ao

longo da vida, onde provocamos mudanças em nossas ações, em nossas

concepções, em nosso modo de pensar, de sentir, agir e interagir, contribuindo

assim para nossa sociabilização, construção que se dá passo a passo ao longo de

nossas vidas, pautada pelo diálogo.

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Conforme o relato de Adélia, esse processo de socialização interdisciplinar

ainda está em construção:

Sim a gente tem buscado na verdade construir isso. né, é até uma coisa que assim nós já discutimos em reunião de equipe, a gente tem as nossas reuniões que são semanais e onde a gente discute todas as nossas ações, os casos também quando necessita de discussão a gente traz para esta reunião, a equipe traz. Todas as reuniões, a discussão é da equipe, pra tudo, a gente está repensando algumas coisas porque a gente vem, assim o serviço social, pelo menos assim em São José dos Campos, de prática que a gente tem é que o serviço social sempre trabalhou sozinho, aqui em São José, e aí assim, é... tinha já alguns setores da Secretaria que tinha psicólogo é... muito pouco, não tinha essa e ainda não tem de fato alguns CRASs que está com a equipe completa. Agora que ele esta chegando, o profissional, estou falando da assistência, a assistência sempre foi mais, como é a proporção, porque precisa de um, precisa de psicólogo e às vezes tem dois assistente social, então a proporção ela é diferenciada, mas é para nós... é uma descoberta, nós estamos ainda construindo ainda essa forma de trabalhar, não estamos certinhos, corretinhos, bonitinhos ainda porque na verdade é uma descoberta, é... a gente tem construído, é muito importante você vê a outra área do saber, é muito gostoso essa troca, é principalmente quando a equipe se propõe a isso e está aberta a isso e aqui a gente tem isso tanto do psicólogo quanto dos assistentes sociais, então a gente está construindo isso, existe troca de saber, é mas o Aníbal chegou esse ano, então a gente deu um tempo pra ele conhecer um pouco do que é o CRAS, ele estava em outra área, ele estava na Aquarela, então a gente deixou primeiro ele se inteirar de tudo da política, ler um pouco do que é o CRAS e tal, e aí ele vem desenvolvendo as ações que a princípio ele achou que devia, mas agora tá, esteve junto do processo, sempre esteve junto com a equipe e tal, mas e a gente já definiu, porque esse ano (2009), ele não trabalhou junto em grupos, pro ano que vem a gente vai estar fazendo isso. A outra psicóloga que estava aqui, isso acontecia, mas com ele e a gente deixou um pouco ele se inteirar, porque ele chegou, a coisa já estava andando, e quando a gente começou a gente teve algumas capacitações lá, participamos e ele não pegou isso, então a gente ele deixou ele um pouco assim ler todo o material que a gente tinha lá, bem como é que funcionava, como era a dinâmica. Tem ações que são é... porque como te falei, a gente não construiu ainda todo esse trabalho de Interdisciplinaridade, está em construção, então eu espero que agora em 2010 a gente consiga melhorar bastante isso, porque como a gente tinha um psicólogo, aí saiu e veio outro, então tudo isso meio que porque as pessoas têm um tempo de conhecer o trabalho, de se conhecer, então tudo isso. De desenvolvimento da própria equipe, porque não dá pra você falar assim: agora você vai trabalhar junto comigo, e é agora assim, tem um processo até das famílias porque as famílias começaram a conhecer o Aníbal.

Adélia

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O profissional psicólogo deste CRAS está neste espaço físico há apenas um

ano e meio, desta forma, ainda não se apropriou dos saberes da PNAS. E para

Adélia, que é da mesma equipe, o trabalho interdisciplinar entra em processo de

discussão em equipe, pois requer preparo, requer estudo, conhecimento da política.

Por este motivo é que neste ano, conforme seu relato, não houve interação

interdisciplinar, ou seja, trabalho em grupo, com o psicólogo. Para Adélia, é preciso

um “tempo de conhecer o trabalho, de se conhecer”.

Ao ser questionado quanto à questão da Interdisciplinaridade, Aníbal relata:

A interação interdisciplinar é incipiente, não há sistematização, e não há um trabalho para sua implantação já que nossas reuniões têm um cunho mais administrativo e, algumas vezes, teórico. Mas enquanto equipe é incipiente.

Aníbal

Neste sentido, há que se buscar entrosamento, possibilitando aberturas de

ambas as partes para que o trabalho em equipe possa ocorrer e ser via de

crescimento, para que a socialização seja viabilizada em todos os sentidos. Com

diálogos interrompidos, os trabalhos se tornam individualizados, fechados.

Ainda continuamos com nosso pesquisando Aníbal em relação à questão se:

Há trocas de conhecimentos, saberes e práticas entre os profissionais dessas

áreas? Eis seu relato:

Com a assistente social América tem havido um fortalecimento na discussão sobre a problemática de usuários comuns, atendimentos conjuntos, visitas domiciliares e institucionais e ações com CAPS Leste e UBS, também envio de relatórios ao Programa Habitacional. Começamos um trabalho conjunto com o Grupo “CRI ART”, porém oficinas de aprimoramento acabaram por interromper. Com a assistente social Maíume tem ocorrido com incidência bem menor: início de um atendimento conjunto e outro de um atendimento conjunto.

Aníbal

Este profissional ainda não conseguiu adentrar para trabalhar

interdisciplinarmente, pois nota-se em seu relato que não há entrosamento. O

trabalho deve ser dinâmico e acontecer cotidianamente entre a equipe, pois quando

há interação na equipe, ela torna-se muito facilitadora, possibilitando diálogo e

proporcionando abertura para atendimento e entendimento dos casos.

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Da abordagem das trocas de saberes e conhecimentos. A relação deve ser

recíproca, facilitando o entrosamento de forma conjunta entre a equipe. Assim nos

relata Rebeca: “Então eu acho que é dessa forma, trocando literatura, trocando

conversa, discutindo caso, aí que vai...”

Eu acho que vai mesmo pela discussão de cada caso. Então acontecem os acompanhamentos conjuntos, de forma conjunta, muitas vezes a entrevista é a discussão, por exemplo: o psicólogo e a assistente social, os dois estão acompanhando uma situação de violência contra idoso. Estão fazendo reuniões com os filhos, então os dois participam dessa reunião. Assistente social e psicólogo. A assistente social e a psicóloga participa da reunião com a família, questionando as situações que vão acontecendo com as propostas e tais, depois eles vão discutir a situação, o que aconteceu, como é que vai apoiar os filhos, como que vai questionar outros, então eu acho assim as trocas elas se dão realmente na discussão de caso. Nesta unidade, nós temos uma... Vamos dizer, não sei se é sorte que a gente pode falar, mas nós temos uma situação de que hã... as pessoas estão abertas pra esse trabalho em conjunto, tá. Ainda que se busque, tenha discussões aí na própria política nacional da assistência de qual o papel do psicólogo dentro desse trabalho como é que é essa psicologia social que fala... é e aí o próprio CRP tem tido discussões a respeito disso pra... me parece até que, eu tenho essa impressão que para o psicólogo ele precisou se abrir mais que o assistente social que já estava ali trabalhando, que estava acostumado com esse lado do trabalho. Mas assim ahhhh, a perspectiva pra nós que estamos aqui, a gente não tem dificuldade, se eu disser pra você que tem, não tem, se pra isso contribui o fato, por exemplo, a maior parte do tempo os meus assistentes sociais estão aqui são profissionais novos, de pouco tempo de formação é... não todos, mas eu tenho muito deles na paz eu tenho alguns, mas as meninas têm menos tempo aí o Nícolas, o psicólogo no caso já ter passado por diversos outros setores. E com o social também, mas a gente brinca muito que não é fácil trabalhar com assistente social, porque a assistente social tem sempre alguma coisa pra perguntar, para falar, dizer que não concorda, por se distende, para ser contrário... é, então eu acho assim às vezes a gente brinca... tenho até dó dele... um monte de mulher falando, o Nícolas também... é somos todas mulheres, ele é o único ser do sexo masculino aqui presente, então assim mas... eu acredito que a experiência dele e também a abertura das pessoas que estão aqui... favorece. Então existem trocas sim a serem feitas é e com certeza ele contribui pro nosso trabalho, mas a gente também tem certeza que a nossa contribuição pra ele também existe. Essa é a minha recepção... Pra mais minha querida (risadas). Então eu acho que é dessa forma, trocando literatura, trocando conversa, discutindo caso, aí que vai...

Rebeca

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Rebeca mostra-se com bastante abertura para diálogos, trabalhado sempre de

forma conjunta. Para ela, não existem dificuldades, pois o assistente social já

domina essa prática de trabalhar em equipe com aberturas para discussão. Já para

o psicólogo, diz: “precisou se abrir mais”. No entanto, reconhece que “esse”

profissional que está em sua equipe tem experiência, o que facilita de certo modo

sua dinâmica na equipe. Traz ainda em seu relato que tanto a PNAS, como o CRP,

estão à disposição com suas diretrizes para que se possa aprimorar, tomar

conhecimento de como se deve atuar. Então eu acho que é dessa forma,

trocando literatura, trocando conversa, discutindo caso, aí que vai...

Nícolas descreve que o trabalho gira em torno do consenso, é uma equipe de

trocas. Neste sentido, a equipe busca permissão onde as trocas são realizadas em

consenso feito através da permissão da equipe:

Reunião de equipe neste CRAS trabalha muito no consenso é uma equipe de trocas. Frente aos casos também. Casos para discussão onde existe a abordagem para discussão. Analisar pensar. Às vezes passa uma semana e lembramos as coisas que ficam não é monitoramento (casos), pensei nisso então, as trocas continuam. A assistente social vai fazer uma palestra e geralmente socializa muitas coisas que traz da dinâmica que acontece lá na dinâmica. Material que pega, distribui, vai receber. Sempre algo novo, pesquisa, e há trocas. Não é mais porque a política não deixa. O CRAS tem uma linha e a gente vai desenvolver uma linha para atuar. É muito morosa a política. Não quero nem saber se a Secretaria quer ou não, vamos à rua. Essa abertura que a coordenação dá é muito legal. Às vezes precisamos fazer à revelia, mas é muito bom, tem dado muitos resultados no trabalho. Tá tudo no começo, tem uma família. Sempre em equipe elas não têm técnica de grupo. Vão assumir a mãe, dão as diretrizes. A família incorpora. Está pegando muito no pé. Atende cuidar de família lá fora, ainda cuida da família no CRAS. Cada um da equipe, ela faz uma tentativa. Assinala a outra já pega a equipe, já se fala pelo olhar, há uma afinação na relação. Acontece esse caso da família, o que você vai dar para a gente, atenção orientação, a coisa muda de cenário. Marcou, tem que assumir o compromisso, respeito, pontualidade, equipe não deixa para depois, estabelecer vínculos, assumir o compromisso, tem que ter o compromisso, sair desse lugar de funcionário público. A postura é diferente quando nos defrontamos com outra equipe, eles percebem muito isso. O vínculo, a empatia é muito importante, a contratransferência também tem que ser trabalhada. Entrar num processo de avaliar tudo o que a pessoa está levando para casa. Essa reciprocidade existe, tudo o que falam é considerado. Um dá satisfação para o outro, o que vai fazer, aonde vai. Reunião de equipe acontece sempre e a roupa suja é lavada. A equipe precisa amadurecer junto, tem que esquecer muitas coisas e recomeçar um trabalho. Não pode ter ranços, isso empaca a unidade, não avança. Precisa ter liberdade de expressão.

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Um respira, o outro sabe que a outra está na TPM. Se sair todo mundo, um ajuda o outro, um tem que ficar, vamos todo mundo junto. As pessoas que vêm para cá vai aderindo, entra no esquema, o motorista. O aniversário que fazemos para a coordenação é o mesmo para a faxineira, sem tirar nem pôr. Implantei a informática, o PNL, gosto de criar coisas novas. Durante a semana, discutem que tem pauta, coisa para discutir. Vai ter uma discussão, provavelmente iremos discutir casos de duas famílias. Socializar os casos para as pessoas saberem. Cada um tem um grupo. Trabalho no PET um adolescente. A equipe acaba se articulando frente à necessidade de cada um. Grupo socioeducativo, cada hora com um da equipe. As palestras nem sempre acontecem com toda a equipe, às vezes é o dentista, o educador, pessoa de fora. Existe um quadro. É o mapa da mina, onde tudo é anotado. Ação jovem, já fez algumas justificativas e assinalam o que acham interessante. Há que se justificar do por quê?

Nícolas

Ainda para Nícolas, para que as trocas se realizem, deve haver vínculos,

empatia e reciprocidade. Existe afinação na relação da equipe, onde todos se

mobilizam frente à necessidade de cada um, conforme relato acima.

Deve-se, entretanto, possibilitar abertura por parte da equipe e, principalmente,

da coordenação para que não haja trabalhos truncados, individualizados. No

entanto, há que se considerar que a prática do psicólogo no CRAS é recente, que

são práticas construídas na relação cotidiana, junto aos outros técnicos. Adélia

menciona que há ações individualizadas:

Age sozinho sim, tem ações que são é... porque como te falei, a gente não construiu ainda todo esse trabalho de Interdisciplinaridade, estamos em construção, então eu espero que agora em 2010 a gente consiga melhorar bastante isso, porque como tínhamos um psicólogo, ele saiu e veio outro, então tudo isso meio que porque as pessoas têm um tempo de conhecer o trabalho, de se conhecer, então tudo isso. De desenvolvimento da própria equipe, porque não dá pra você falar assim: agora você vai trabalhar junto comigo, e é... agora assim tem um processo até das famílias, porque as famílias começaram a conhecer o Aníbal.

Adélia

A construção se dá na relação com a prática cotidiana e profissional. Não

existe uma receita pronta, e sim todo um processo de conhecimento e construção,

possibilitando oportunidades de conhecimentos aos trabalhadores da área da

assistência social. A NOB-RH/SUAS, dentre outras, vem assegurar a capacitação

dos profissionais, conforme itens:

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4. A capacitação dos trabalhadores da área da assistência social deve ser promovida com a finalidade de produzir e difundir conhecimentos que devem ser direcionados ao desenvolvimento de habilidades e capacidades técnicas e gerenciais, ao efetivo exercício do controle social e ao empoderamento dos usuários para o aprimoramento da política pública. (NOB-RH/SUAS, 2006. p. 17) 8. A capacitação no âmbito do SUAS deve primar pelo investimento em múltiplas formas de execução, adotando instrumentos criativos e inovadores, metodologias que favoreçam a troca de experiências e tecnologias diversificadas. (NOB-RH/SUAS, 2006. p. 18)

Adélia acrescenta que, com um profissional capacitado, contribui-se para que o

trabalho prestado seja de qualidade, ouçamos:

[...] quando é... eu sempre digo que estar capacitado, enfim, quem vai se beneficiar é a população, é a equipe integrada, e com mais possibilidades também, faz com que o serviço que você presta, ele seja de qualidade. E eu não tenho a menor dúvida que quando veio essa questão de ter o serviço social e a psicologia, foi um ganho enorme para a população, porque é... o serviço, ele às vezes... ele olha o todo, mas a psicologia, ela traz um benefício muito grande porque ela tem um olhar às vezes assim em coisas mais é... mais particulares, então isso faz com que a gente consiga ver o todo, mas veja o que tá ali também, né, o pequeno, o cerne da questão, isso com certeza vai fazer uma diferença muito grande no serviço que a gente presta para a população. Já pensei, mas com certeza vai ampliar muito mais, e acho que são duas áreas que sempre foram próximas, mas sempre estiveram distantes, agora com essa oportunidade, ela com certeza vai melhorar muito no serviço que a assistência presta, o psicólogo tem uma contribuição muito grande.

Adélia

Adélia declara que a psicologia e o serviço social, as duas áreas sempre foram

próximas, e que com a aproximação da psicologia nos CRASs, o serviço prestado à

população vai melhorar, pois a contribuição desta profissional é muito grande.

Para Aníbal, ao responder: por que não há trocas de conhecimento entre os

profissionais, já que as diretrizes da Política Nacional de Assistência Social e

da Proteção Social Básica preveem esta interação? O mesmo relata assim:

Porque considero incipiente: porque não é a tônica da equipe. Entre as assistentes sociais há uma divisão do território, o que não propicia uma discussão da situação dos usuários. O que quero dizer é que considero que o usuário não é visto como nosso.

Aníbal

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Para que haja entrosamento na equipe é preciso diálogo, participação, abertura

para que o trabalho possa ocorrer de forma socializada. Há que se ter atitude de

compartilhar dos espaços físicos, comprometimento com o outro, quer seja o próprio

técnico da equipe, quer seja o usuário. Como enfatiza Fazenda (1994, p. 82.),

atitude de diálogo, atitude de espera, atitude de desafio - desafio perante o novo,

desafio em redimensionar o velho - atitude de envolvimento e comprometimento com

os projetos e com as pessoas neles envolvidas.

Quanto à questão das trocas de saberes na equipe, Nícolas é enfático ao dizer:

Não, eu acho que tem que ter... Se não houver trocas, você não trabalha, não tem como.

Nícolas

A fala de Nícolas acima nos aponta que sem trocas de saberes não há como

trabalhar, então se faz necessária cooperação, pressupondo uma articulação entre a

equipe. Sem que haja divisão ou favorecimento do técnico da equipe pelo poder de

assumir o usuário, tomando-o para “si”. Desta forma, para que ocorram espaços de

trocas, faz-se necessária a vinculação com a equipe, bem como a empatia, que é de

suma importância para que haja crescimento, engajamento, possibilitando

resultados favoráveis no sentido de que essas trocas de saberes possibilitem a

liberdade de expressão como um todo.

4.1 - Dos Trabalhos Interdisciplinares Entre Psicólogos e

Assistentes Sociais: Contribuição para Qualificar os Serviços

Prestados. Dos Desdobramentos na Oferta dos Serviços e no

Atendimento aos Usuários.

Em suas narrativas, percebe-se que há movimento para o desenvolvimento em

equipe. Que os atendimentos, quando em conjunto, ampliam olhares, possibilitando

crescimento, amadurecimento e beneficiando usuários como um todo. Ações que

viabilizam a rapidez de processos e o bem-estar comum. Ouçamos Rebeca, que

afirma:

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Eu acho que o estar com a psicologia, o serviço social e a psicologia, você amplia o olhar pra aquele atendimento que você esta fazendo pra aquela família, para aquele grupo que você esta acompanhando, você não tem um profissional só focado que tem que pensar especificamente na sua área, possibilidade de discussão de caso e as ações em relação a aquilo, elas têm maior qualidade.

Rebeca

Para Aníbal, a contribuição para qualificar os serviços prestados torna-se via

facilitadora dos atendimentos. Ouçamos:

Entendo que toda vez que um usuário tem sua problemática discutida e pensada em conjunto, que o serviço prestado ganha uma qualidade superior e quanto mais pensada em conjunto, melhor será. Ângulos não percebidos passam a ser, intervenções inadequadas são imediatamente corrigidas - no atendimento comum - e encaminhamentos mais eficazes ocorrem.

Aníbal

Pensar conjuntamente traz a possibilidade de novas soluções para antigos e

novos problemas. Assim, as problemáticas vivenciadas no cotidiano do CRAS, ao

serem compartilhadas, facilitam entendimentos e viabilizam os processos de

atendimento. É no trabalhador, que o usuário se referencia, isto é, na possibilidade

de proporcionar um espaço relacional de escuta, capaz de estabelecer vínculos e

assegurar o acesso a bens materiais subjetivos. (NERY, 2009. p. 24).

Cabe ao profissional realizar sua função com responsabilidade, exercendo sua

humildade, aprimorando sua escuta, para estabelecer compromissos perante os

usuários dos serviços ofertados e utilizando-se, acima de tudo, da ética e da moral.

São poucos os profissionais do sexo masculino que adentram esse espaço, em

sendo assim, o profissional é visto com “mistificação” por parte dos usuários, [...]

eles falam: nossa eu preciso falar com o doutor [...]

Ouçamos a nossa entrevistada Rebeca, que vivencia momentos como:

Com certeza... É engraçado a forma que as pessoas veem também... Existe uma... um pouco de mística em torno do psicólogo... Não tem nada a haver, mas é um profissional de difícil acesso às vezes para população mais carente, mas, ainda... E, ao mesmo tempo é uma coisa assim muito julgado psicólogo. Olha, para aquele profissional do sexo masculino é diferente, é muito interessante você olhar, você observar sabe, a forma com que eles falam: nossa, eu preciso falar com o doutor, falam umas coisas assim. É, e tem a ver também é assim na verdade tudo faz parte do contexto que se forma no trabalho com aquelas famílias. Então quando vê, tem um homem na oferta do serviço, é

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muito interessante como os olhares respondem e olhar que muda... É muito engraçado (risadas)... É que isso é uma observação que não tem como... Mas assim só pra constar uma coisa que me passou pela mente... é uma dinâmica, então assim é com certeza o trabalho, ele acaba tendo mais qualidade na medida em que ele não tem um olhar só, ele não tem um... não se encara só a assistência, quando você vai fazer um grupo de convivência, você vai trabalhar as relações familiares e tal, nossa é muito útil aquilo que a psicologia nos traz. Mas assim, o que eu percebo é que não existe essa coisa, essa técnica é minha... É só eu que sei fazer. Não, isso não existe. Porém, o que acontece, o programa fala não, mas eu não faço a inclusão de renda mínima, não você não faz inclusão de renda mínima porque o levantamento socioeconômico é do assistente social, é o assistente social que faz, quem vai estar fazendo, aí o acompanhamento deste programa é um assistente social que vai referenciar o bairro e tal, porém, como eles faz a acolhida das pessoas, tem dia que é ele que atende a primeira vez que a pessoa vem, nós nos dividimos aqui na nossa rotina, né, cada meio período é um de nós que faz a... Que está ali para o primeiro atendimento. É, existe dia que ele faz também, então ele tem que conhecer, existe programa de renda mínima, quem que pode entrar no programa... Mas é... eu não percebo no nosso dia-a-dia essa coisa isso é meu, isso é seu, a gente procura fazer um trabalho conjunto. É o desdobramento de qualificação. Como é que a gente vai perceber assim como é que se dá, como é que eu posso dizer que percebo isso. Eu entendo assim que na medida em que eu tento entender aquela família como um todo, eu vou é estar qualificando o meu trabalho, eu não vou focar no programa social em si, eu não vou focar no programa de relacionamento pai e filho, mas quando ela vem, o acompanhamento já que ela vai passar por observação, vamos dizer assim do assistente social e do psicólogo, na medida em que eu vou discutir o caso, a minha ação, ela vai estar qualificada no contato com aquela família, que eu fui e observei... No todo, eu trouxe para discussão com o meu colega, qual é a melhor forma de atender aquela família e tal, e aí então eu tô qualificando. Eu acho que é no desdobramento das ações da gente em relação àquela situação que estou verificando a qualidade do trabalho e eu percebo que eu... Ele está qualificado na medida em que eu não fiquei assim olha, ela tá no programa Bolsa Família, então as crianças estão na escola, não, mas eu consegui perceber além daquelas frequências escolares, qual foi a dinâmica familiar e fazer um trabalho preventivo. Entendeu? Eu acho que o estar com a psicologia, o serviço social e a psicologia você amplia o olhar pra aquele atendimento que você esta fazendo pra aquela família, pra aquele grupo que você esta acompanhando, você não tem um profissional só focado que tem que pensar especificamente na sua área, possibilidade de discussão de caso e as ações em relação a aquilo elas têm maior qualidade. A questão da psicologia. Agora, se ele não faz atendimento clínico, ele vai trabalhar mais a prevenção.

Rebeca

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Nota-se que em sua dinâmica de trabalho, Rebeca procura envolver todos os

componentes da equipe. Levantamento socioeconômico é função do assistente,

nem por isso o psicólogo deixa de atuar, [... nós dividimos aqui na nossa rotina...].

Muito importante esse olhar, uma vez que todos fazem parte do mesmo espaço de

trabalho, não há porque ficar de fora. No entanto, Rebeca afirma que no cotidiano de

trabalho não percebe que existe “posse” isso eu faço ou não faço. Simplesmente o

trabalho acontece de forma harmoniosa. “Mas é... eu não percebo no nosso dia-a-

dia essa coisa, isso é meu isso é seu, a gente procura fazer um trabalho conjunto”.

Acrescenta-se ao relato de Rebeca o que afirma o CFP, que o foco de atuação

do CRAS é a prevenção e promoção da vida, por isso o trabalho do psicólogo deve

priorizar as potencialidades. E complementamos com as considerações de nossa

pesquisada Adélia, que relata:

“...e acho que são duas áreas que sempre foram próximas, mas sempre estiveram distantes, e agora com essa oportunidade ela com certeza vai melhorar muito no serviço que a assistência presta, o psicólogo tem uma contribuição muito grande”.

Adélia

Com este entendimento, os espaços se ampliam, surgindo oportunidades de

contribuições de uma psicologia voltada às práticas sociais e para o fortalecimento

das políticas públicas. E continuamos com Adélia:

Como se dá, esse desdobramento? Com certeza porque, quando é... eu sempre digo que estar capacitado, enfim, quem vai se beneficiar é a população e a equipe integrada e com mais possibilidades, também faz com que o serviço que você presta ele seja de qualidade. E eu não tenho a menor dúvida que quando veio é... essa questão de ter o serviço social e a psicologia, foi um ganho enorme pra população, porque é o serviço social, como você falou, ele às vezes, ele olha o todo, mas a psicologia, ela traz um benefício muito grande, porque ela tem um olhar às vezes assim em coisas mais é... mais particulares, então isso faz com que a gente consiga ver o todo, mas veja o que tá ali também, o pequeno, o cerne da questão , isso com certeza vai fazer uma diferença muito grande no serviço que a gente presta para a população, já pensei, mas com certeza vai ampliar muito mais, e acho que são duas áreas que sempre foram próximas, mas sempre estiveram distantes e agora com essa oportunidade ela com certeza vai melhorar muito no serviço que a assistência presta, o psicólogo tem uma contribuição muito grande.

Adélia

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Os desdobramentos dos atendimentos da psicologia com o serviço social para

Adélia faz-se com a capacitação da equipe, gerando um atendimento de qualidade,

e acrescenta que o serviço do psicólogo tem uma contribuição muito grande.

Já para Nícolas, os desdobramentos se dão através de anotações, que são

parte fundamental do trabalho, pois quando registradas, tornam mais fácil o acesso

para se chegar ao conhecimento do relatório do usuário atendido. Ouçamos:

Essa é outra estranheza do pessoal lá fora, e só carimbar.

Estão fazendo divulgação do CRAS. O que chamo de

diagnóstico, chamo de parecer. Anota no SIAS: atendi.

SIAS foi criado para o pessoal técnico dentro da SDS do

desenvolvimento, tem o psicólogo e o assistente social,

para esses profissionais terem a leitura, acesso ao

relatório. Tudo é anotado, tudo. Comprometimento junto

com o profissional e o usuário. Aderiu essa linguagem.

Então é só de anotação, tenho outro relatório sigiloso e

uma assistente social da equipe pode entrar neste

relatório, pode alterar, não é da equipe toda é da dupla.

São assinalantes que faço na reunião, referentes ao

próprio grupo. No próprio feedback que eles nos dão à

medida que você vê o próprio ranço, você vê que há uma

mudança, ele liga, informa, agradece. Não perde, tem

muito isso que ele consegue a autoestima é trabalhada, é

muito importante, estimula a cidadania. Percebe esse

resgate. Ou ele desaparece, não necessariamente vamos

até a casa da pessoa.

Nícolas

Entretanto, as anotações sigilosas não devem fazer parte deste contexto, pois

há que se socializar para facilitar e agilizar os atendimentos, favorecendo de certa

forma o trabalho em equipe interdisciplinar, e com apontamentos individualizados,

não há interação enquanto equipe.

Ora, as demandas e necessidades apresentadas pelos usuários dos CRASs

são inúmeras, visto que a população, ao obter conhecimento dos espaços

oferecidos e ao se referenciar na região, busca o serviço de forma constante.

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4.2 - São Inúmeras as Demandas e Necessidades Apresentadas

pelos Usuários. Você Entende que a Articulação do Serviço Social

com a Psicologia Favorece o Enfrentamento Dessas Problemáticas?

De que Forma?

E, conforme expressa o depoimento de Rebeca, a acessibilidade do

profissional facilita e qualifica os atendimentos prestados, favorecendo a resolução e

articulação das dificuldades apresentadas. Ouçamos Rebeca:

“Então eu acho que assim, que o desdobramento é que você oferece um serviço de maior qualidade com eles... E você facilita o acesso a um profissional que de certa forma ele tem uma aura em volta dele, primeiro, que o primeiro pensamento quando se fala que vai passar por psicóloga é será que eu tô meio doidinho, existe... Então eu acho que assim é a gente percebe os desdobramentos nisso quando você vê que aquela família perdeu aquele medo, talvez quebrasse um pouquinho aquela aura do psicólogo, então ele é um profissional acessível e tal, ao mesmo tempo qualifica o nosso atendimento, porque é possível a discussão do caso ali pertinho, onde as coisas estão acontecendo, ele também está participando, então vai discutir e vai se chegar num encaminhamento, mas é mais rápido e talvez, melhor. E agora assim quanto à articulação do serviço social com a psicologia, se ela favorece o enfrentamento das problemáticas aí apresentadas pelo usuário, eu creio que sim, é da mesma forma se nós tivéssemos aqui outros profissionais, muitas vezes, por exemplo, o profissional do direito aqui também iria favorecer, seria enriquecedor... Com certeza, com certeza. Então é um... como é que a gente vai falar, é assim, eu acho que é a personalidade da qualificação mesmo, você tem um outro olhar, eu falo para o pessoal assim: que o nosso maior trabalho com a população atendida é ampliar horizontes dela, porque muitas vezes a pessoa... Ela vê possibilidades porque muitas vezes a vida dela não permite para ela que ela enxergue mais do que está ali, se você consegue fazer isso, você já faz com que ela quebre muitas vezes aquele círculo que ela vive, que se repete, que se repete, que se repete, ela vai para lá, então é, eu vejo assim que o trabalho conjunto do serviço social e a psicologia ele também amplia os nossos horizontes enquanto profissionais, ele dá um outro olhar pra situações de como você vai enfrentar aquela problemática, então o que parece de repente para gente, pode parecer nossa, mas não tem solução, a única solução é inserção dele no programa social que ele tem um acompanhamento assim, e assim, na medida em que você tem a perspectiva dos dois profissionais aqui, você pode falar assim não, mas olha nós dois juntos, enquanto a gente não consegue inserir essa pessoa em tal trabalho, vamos tentar trabalhar com ela este outro lado da questão, encaminhar pra

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grupos ou pra participar de outras atividades. Então assim há a troca de experiências e a troca de ela também é... aumenta a nossa visão de ação, de como encaminhar, de como agir, então não tem como negar a questão de que a outra articulação favorece o atendimento e o entendimento”.

Rebeca

Os entendimentos dos casos são discutidos no mesmo espaço físico e

juntamente com os usuários, proporcionando soluções mais rápidas, como por

exemplo, os encaminhamentos. A articulação sofre a influência das características

da qualificação do próprio grupo. Quando as funções estão delimitadas, o grupo se

fortalece tornando-se harmonioso e coeso.

Rebeca afirma que o maior problema com a população atendida é conseguir

com que “eles” possam ampliar seus horizontes. E diz que o trabalho conjunto da

psicologia com o serviço social, vem para ampliar os horizontes tanto da equipe,

quanto dos usuários. E afirma que se houvesse outros profissionais para agregar a

equipe, também iria favorecer e fortalecer o grupo nos atendimentos, bem como nos

entendimentos.

Assim como Rebeca, Nícolas também é da mesma opinião de que associar

outros profissionais ao grupo traz mais fortalecimento e garantia de favorecimento

aos usuários. Eis as palavras de Nícolas:

Não só do psicólogo, mas precisaria de um sociólogo um advogado, quanto mais técnico você tem, maior a interação e favorecimento à medida que tem mais profissional, mais facilidade irá ter. Orientadores sociais são muito importantes, segue as normas OMS. Cada 1000 famílias mais ou menos, um psicólogo.

Nícolas

As demandas apresentadas pelos usuários são identificadas através dos

diversos grupos já formados há algum tempo, como das pastorais, das instituições,

das formações de grupos de adolescentes, como nos relata Adélia, que ainda afirma

que a população não é muito participativa. Ouçamos Adélia.

Demandas existem, o que eu disse é que não existem os casos, assim... existem referenciadas, são... não chegam a 30 famílias, demandas existem sim, é, mas como eu falei é uma população que não é muito participativa, a gente

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conhece as demandas que existem não só por conhecer muitas famílias do território, mas também porque como a gente faz esta reunião de rede é a gente tem as discussões, a gente tem, por exemplo, os trabalhos das pastorais que apontam assim... demandas enormes para trabalhos, a gente tem entidades por exemplo que trabalham com adolescentes gestantes e aparecem várias demandas porque cada um com seu trabalho vai apontando várias demandas então muitas vezes estas demandas não chegam aqui no CRAS pela população. As demandas existem hoje, o que tem acontecido assim, por exemplo, essa entidade que tem é que faz este trabalho com gestante, que não é um dos focos da Secretaria, esse trabalho, que a Secretaria não financia, é mais entendendo um CRAS como articulador da rede e responsável pelo território, a gente se envolve em tudo, a gente tá ficando como meio aquele que põe o dedinho em todo lugar, então é o que nós fizemos, eles trouxeram algumas dificuldades, como aconteceu na última reunião nossa na Pastoral da Saúde do Galo Branco, trouxe várias dificuldades as próprias pessoas que estavam na reunião que compõem a rede fizeram vários apontamentos, mas o CRAS ele tem tentado fazer assim naquilo que ele pode se envolver e colaborar ele tem feito, então hoje, o Aníbal, ele vai a cada quinze dias nesse grupo de gestantes, então a gente não tem feito só as ações dentro do CRAS, a gente tem ido para a comunidade, onde existe a demanda nós vamos para essa demanda, não naquele momento era uma demanda, mas pode ser que no ano que vem isto aconteça, naquele momento a demanda que a entidade apontou era a questão da psicologia, então ele foi, mas para o ano que vem é uma coisa que a gente vai até pensar, porque depois a responsável lá pelo projeto, ela veio, colocou a não sei o que do assistente social, então assim muitas vezes a gente apaga incêndio, a gente fala assim: nossa, tem isso aqui tal, você se dispõe, mas a gente peca pela essa questão do trabalho conjunto do trabalho, não conjunto de estar junto, mas de realmente existir esta troca e essa construção mesmo, então ele foi mais pela questão que a própria pessoa da entidade colocou da dificuldade e tudo o mais, ele se interessou que ele foi fazer esse trabalho, mas é uma ação do CRAS, mas não é uma ação interdisciplinar.

Adélia

Nota-se no relato de Adélia que o profissional Aníbal veio transferido de outro

setor, não participa dos grupos, uma vez que conforme discurso de Adélia, seria

preciso um tempo para que o mesmo se adaptasse;

...como falei para você, ele chegou, os grupos já existiam,

então ele (o psicólogo) não entrou em nenhum grupo, eu até deixei, assim, ele sondar e perceber, mas...

Adélia

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Como foi para você a chegada de um profissional de outra área?

A chegada dele, foi assim, foi gostoso, nós estávamos na expectativa e não sabíamos se viria, e quando viria porque a secretaria não deu qualquer possibilidade, mas até porque não tinha ninguém pra poder mandar, não tinha psicólogo, mas aí o Aníbal, ele pediu transferência de onde ele estava, e aí ele foi na SDS conversar, eles indicaram para vir para cá mas, para nós foi assim, foi tranquilo, foi bom, porque ele tem um perfil que eu avalio, eu não sei ele casou bem com a equipe, uma pessoa assim disponível, comprometido com o trabalho, então foi tranquilo e o que a gente pecou talvez foi... eu acho que é mais culpa minha mesmo como coordenadora, foi de não ter já sentado e feito algum planejamento, para esse ano, porque ele chegou e estava fora das ações da assistência no sentindo da nova política, então a gente conversou tudo, eu tinha dito para ele assim: olha, Aníbal, eu vou te deixar à vontade para você conhecer o que é o trabalho, quando você falar assim para mim, agora eu quero fazer o atendimento, agora eu tô pronto.

Adélia

Percebe-se que este profissional não está inserido no grupo, as ações desta

equipe não estão coordenadas de modo a facilitar a socialização. Ainda é

imprescindível apropriar-se da leitura tanto da política, quanto dos referenciais

apontados pelo CFP e CREPOP, etc., para que o saber seja a forma de

discussão/aproximação tanto dos casos, como nas trocas entre a equipe.

Continuamos com Adélia:

É então aí eu falei: você fica à vontade, então tinha os grupos eu falava pra ele: vai lá para você ver como é a reunião, então ele comparecia, mas eu deixei ele à vontade eu não fiz cobrança, eu não falei: agora você vai fazer isso não, não fiz, ele chegou, ele estudou o que ele tinha que estudar, depois ele chegou em mim e falou: eu já posso fazer atendimento, eu falei para ele quando você quiser, se você já achar que já está preparado. Organizamos a equipe quais dias seriam os dele e ele começou a fazer o atendimento, só que como te falei, não existia muito esta questão da procura de psicologia, ele mesmo falou para mim assim: eu posso sair e fazer um..., falei: à vontade, um

trabalho que sabe que gente tem que fazer você já viu qual que é, e você fica à vontade para fazer aquilo que você acha, claro que a gente sempre discute e fala olha vou fazer isso ou estou pensando assim, ou qualquer coisa parecido, mas ele foi, ele fez e eu achei super interessante esse movimento que ele fez porque daí ele foi nas escolas e falou um pouquinho das ações dele, acho que as escolas já conhecem o CRAS, muitas já participam dessa reunião, mas ele foi falar específico da psicologia dentro do CRAS, e aí começou a surgir uma demanda para ele das escolas, as escolas começaram a encaminhar, isso foi bem legal.

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Encaminha a família, ele faz a intervenção dele da forma como ele, né... daí começou a surgir, mas como te falei a demanda para psicologia espontaneamente é difícil aparecer, porque a própria comunidade ela conhece aqui como onde tem um assistente social, e eles vêm em busca dos programas sociais, em busca de alguma coisa neste sentido, e aí o trabalho do CRAS é muito mais que isso, mas a gente tá aí nesses dois anos aí trabalhando com essa população para que eles percebam qual que é realmente a finalidade, mas foi assim, foi tranquilo e a gente construiu acho que coisas bem interessantes durante este ano, mas eu tenho certeza disso e acredito até que o próprio Aníbal vai dizer a mesma coisa que assim é pro trabalho interdisciplinar ainda falta bastante coisa para crescer. Estamos num processo de construção, tem muito ainda pra acrescentar, pra melhorar, porque senão você fica assim... é um trabalho que você diz que é interdisciplinar, mas na verdade não é, vocês estão sós no mesmo espaço, cada um faz a sua ação, não acontece muito, então a nossa, principalmente a minha preocupação é que neste ano agora já comece o ano, já começa tomar a diretriz como irá ser este trabalho, já tivemos uma reunião em que eu já falei para eles que assim a gente vai pensar grupos para o ano que vem, mas assim grupos em que possam ser desenvolvidos numa dupla e aí o grupo desenvolvido, mas aí assim, total com projeto com construção de reunião com discussão de como é que está este grupo com os dois ali, o tempo todo construindo, fazendo a ação de fato, não só eu assim, aí não é troca, né.

Adélia

Podemos observar neste relato de Adélia que a Interdisciplinaridade, as trocas

de saberes e conhecimentos, não fazem parte do contexto da equipe. Uma vez que

cada técnico trabalha isoladamente, apenas ocupam o mesmo espaço físico. Estão

construindo ações isoladas, individualizadas, fragmentadas, completamos com

Adélia [...] é um trabalho que você diz que é interdisciplinar, mas na verdade

não é, vocês estão sós no mesmo espaço, cada um faz a sua ação [...]

[...] não é Interdisciplinaridade, aí é assim: eu venho, faço só a minha parte, eu vou embora e você que cuida, né. É ainda acontece, e eu acho que assim tem um pouco da vivência mesmo do serviço social, um pouco disso, mas que sempre trabalhou muito o serviço social com o serviço social, então assim, por mais que a gente queira negar, não tem jeito. Mas a equipe não está resistente, não é isso de forma alguma, eu percebo que dos dois lados existe uma abertura muito grande, por isso eu tenho certeza que a gente vai conseguir, o Aníbal ele está participando de um grupo que é do CRP, não sei se você participa (“é eu participei desta última”) então, justamente para tentar a gente perceber o que tem aí de importante para a gente poder construir de uma forma melhor e que o trabalho realmente surta o efeito que tem que surtir, porque o nosso objetivo não é aqui, é a população.

Adélia

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Em conformidade com a afirmação de Adélia, realmente não existe

Interdisciplinaridade nesta equipe, pois cada um age por si. A abordagem

interdisciplinar acontece na prática, na relação com a equipe em seu cotidiano, não

há formulas prontas. Ressaltamos que é de suma importância realizar planejamento

e sistematização para que a dinâmica ocorra de forma positiva. Provocar diálogos

sugerindo as parcerias, trocando ideias para poder chegar num consenso positivo.

Faz-se necessário que todos da equipe trabalhem nos programas sociais.

As discussões de casos e dúvidas devem ser partilhadas para que possam

também existir as trocas de conhecimento, assim facilitam os atendimentos entre a

equipe.

As trocas existem, mas ainda tem muitas coisas que ainda tá, ainda não tá tão bom ainda não, porque assim existe mas, geralmente é até as próprias assistente sociais, elas trazem os casos, mas são poucos os casos que elas trazem para discussão, são só os casos realmente mais difíceis, então são aqueles que estão dando muito trabalho, que está assim: olha, já não sei mais o que eu faço, já encaminhei, já fiz isso, já fiz contato aqui e ali, e agora né, são mais esses casos. Em Eugênio de Melo, a gente não tem uma proporção de casos assim muito grande, nós temos alguns casos que às vezes é muito complicado, mas não tem uma proporção muito grande, não são assim... a gente tem total de casos assim acompanhados, digamos a gente tem 200 famílias, aí uma proporção assim nem 10 famílias, são esses casos assim sabe, então é bem pequena a proporção e, então trazem mais esses casos para a discussão.

Adélia

Quem avalia se vai para equipe? Para discussão?

São elas mesmas, e o Aníbal também se ele tem algum caso que ele atendeu ele quer trazer, a decisão é dele. A decisão é de quem está atendendo o caso. Então quem decide é o profissional que está tomando conta daquele caso para levar ou não para a discussão. Isso.

Adélia

Mais uma vez, percebe-se então que para esta equipe de técnicos não há

trocas de conhecimento, uma vez que o técnico atua sozinho e a decisão para

discussão em equipe fica a critério do próprio técnico que atendeu o caso.

Ouçamos Aníbal, que compõe esta equipe acima, ao responder: a articulação

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do serviço social com a psicologia favorece o enfrentamento das

problemáticas apresentadas pelos usuários? De que forma?

Considero que sim, principalmente porque ajuda a manter o norte: é o direito que está em jogo, à cidadania. O serviço social, trabalhando mais com a objetividade, guia o olhar da psicologia, do apenas subjetivo, das percepções subjetivas para o foco do direito. Na discussão da problemática do usuário, conseguimos nos ater a este fundamento: o que lhe é de direito e manter uma fala que o conscientize disto, não importa os meios que utilize. Assim, o trabalho ganha um alcance educativo, pois direciona para a cidadania, o direito, sem desfazer da autonomia, isto é, do meio usado pelo usuário na busca da satisfação de sua necessidade.

Aníbal

Como relatamos em momentos anteriores, ainda há cisão entre

objetividade/subjetividade, fragmentação que ainda ocorre.

4.3 - Questionário de Complementação

O sentido de uma palavra é a soma de todos os fatos

psicológicos que ela desperta em nossa consciência.

Assim, o sentido é sempre uma formação dinâmica, fluida,

complexa, que tem várias zonas de estabilidade variada.

(VIGOTSKY, p. 465)

Foram selecionadas algumas categorias para que pudesse ser apurado o

SENTIDO da Interdisciplinaridade. Eis, os resultados conforme segue:

INTERDISCIPLINARIDADE // SENTIDOS // GRUPO // POLÍTICA //

RELACIONAMENTO // TRABALHO // EQUIPE.

AS CATEGORIAS APRESENTADAS PELOS ENTREVISTADOS FORAM

ANALISADAS

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A categoria SENTIDO obteve os seguintes significados: percepções / direções;

cheiro / sabor; e vida. Para a equipe, o sentido foi classificado como uma forma de

existência e de ser percebido a nível sensorial, das sensações tanto do tato, quanto

do olfato, ou seja, em nível da sensibilidade percebida singularmente.

Já a categoria INTERDISCIPLINARIDADE significa psicologia, confiança,

troca; partilha; equipe. Relaciona-se com a troca, interação, a mutualidade e a união.

O termo GRUPO lembra: relação; amigos; os meus; mudança. Esta categoria

expressa alteração/transformação, como forma de aproximação dos sujeitos.

POLÍTICA traz a lembrança de: pública; direito; assistência social; avanço.

Política relaciona-se com a razão com o direito, com o trabalho, como no relato do

psicólogo Nícolas que declara: “a política vem para referenciar...”

RELACIONAMENTO trouxe a lembrança de: abertura; colegas de trabalho;

franqueza; afeto. O relacionamento estabelece um campo seguro direcionado à

liberdade. Nícolas exprime: “Não quero nem saber se a Secretaria quer ou não,

vamos à rua. Essa abertura que a coordenação dá é muito legal.”

A categoria TRABALHO lembra: realização; força / busca; saúde. Então,

trabalho se relaciona com a vitalidade.

A referência à EQUIPE suscita: ação conjunta; necessidade de colaboração;

Interdisciplinaridade; diferenças. Equipe significa cooperação, crescimento onde as

diferenças devem ser respeitadas. “O contrário da igualdade não é a diferença, mas

a desigualdade, que é socialmente construída, sobretudo numa sociedade tão

marcada pela exploração classista.” (BENEVIDES, 1998. p. 166).

4.4 - Análise Individual das Categorias Selecionadas

REBECA

Para a assistente social Rebeca, a categoria Sentido é associada a cheiro /

sabor, ou seja, no nível das sensações, uma forma introjetiva de perceber, e está

relacionada com a incorporação oral. Nícolas, em seu discurso, relata que “o

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assistente social é muito oral...”. Faz sentido com o discurso de Rebeca.

Por Interdisciplinaridade sua memória associa a profissão psicologia, espaço

onde interage através da comunicação.

Já por Grupo alia aos amigos e são formas afetuosas de se relacionar. Sua

postura sustenta em sua fala: “Então eu acho que é dessa forma trocando literatura,

trocando conversa, discutindo caso, aí que vai...”

A Política faz ligação com sua própria função, Assistência Social, que está

aliada às suas atribuições profissionais.

Relacionamento lembra colegas de trabalho parceria, um modo de ligação.

Em se tratando da palavra Trabalho, compreende o mesmo como força /

busca, ou seja, energia, vitalidade que se emprega no ato da sua atuação

profissional.

Equipe faz articulação com necessidade de colaboração, cooperação, onde se

realiza através da competência, para alcançar objetivos comuns, como em seu

relato: [...] “quando nós trabalhamos com grupos e usuários como é, quando é

atendimento individual, muitas vezes existe o trabalho conjunto das duas partes,

buscando às vezes atingir objetivos que são os mesmos, outras vezes objetivos

comuns, objetivos daquela área, então a psicologia usa do vínculo do assistente

social” [...]

NÍCOLAS O psicólogo Nícolas assimila à categoria Sentido a palavra vida, de estar vivo,

o modo de se viver, energia, muitas formas de estar se relacionando.

A categoria Interdisciplinaridade refere-se a equipe, uma maneira de estar

interagindo. Sua fala confirma: “Existe a troca, se não sei, pergunto a elas, se elas

não sabem, também perguntam”.

Para Nícolas, Grupo significa “os meus”; pronome possessivo que indica forma

de controle, de guardar para “si”, de possuir. Em seu relato diz: [...] “tenho outro

relatório sigiloso [...]”

Considera que Política faz relação com avanço, crescimento, progresso,

desenvolvimento.

A palavra Relacionamento é lembrada como franqueza, que traz em si uma

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relação com a verdade, exprime liberdade de expressão e só se entrega na

confiança. Indicamos sua própria expressão: [...] “uma assistente social da equipe

pode entrar neste relatório, pode alterar, não é da equipe toda, é da dupla.

Assinalantes que faço na reunião referente ao próprio grupo.”

Trabalho para Nícolas significa saúde, ou seja, energia, empenho,

determinação e força de vontade.

Alia a palavra Equipe a Interdisciplinaridade, que está associada a trocas,

diálogos, comunicação. Como revela em sua fala: “A equipe tem que amadurecer

junto, tem que esquecer muitas coisas e recomeçar um trabalho. Não pode ter

ranços, isso empaca a unidade, não avança. Precisa ter liberdade de expressão. Um

respira, o outro sabe que está na TPM.”

ADÉLIA

Para Adélia, assistente social, a palavra Sentido traz a noção de percepção,

impressão, seleção, como maneira de perceber e sentir o outro.

Interdisciplinaridade, Adélia nomeia como troca/partilha, e indica que esta

carência existe em sua equipe.

Considera que Grupo é relacionado com mudança, necessidade de mudar

toda dinâmica de trabalho.

Política, direito, é concebida no sentido de “dever”, ser necessário, ser

obrigatório.

Relacionamento exprime noção de afeto, está ligado à maneira de afetar e ser

afetado pelo outro, tanto no trabalho quanto na vida.

Agrega à categoria Trabalho como forma de realização, desejo de poder

sentir-se realizada no trabalho.

Equipe supõe diferenças, significa que elas estão presentes, há que se lidar

com elas. “A diferença pode ser enriquecedora, mas a desigualdade pode ser um

crime.” (BENEVIDES, 1998. p. 166). Ser conivente com a desigualdade é uma forma

de exclusão.

ANÍBAL Para Aníbal, que é psicólogo, a categoria Sentido é lembrada como

percepções/direções, percebe-se fora do contexto do trabalho, não está inserido, há

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que se tomar outras direções. Esclarece que já pediu transferência para outra

equipe.

Articula Interdisciplinaridade com confiança/troca, é tudo que precisa para se

relacionar em equipe, sendo que no momento para Aníbal não existe.

Grupo traz a lembrança de relação. Enquanto equipe, ainda não existe relação

e nem grupo.

Política associa com direito, não se vê no direito de usar de sua política para

se relacionar. Seu relato revela: “[...] há uma divisão do território. O que quero dizer

é que considero que o usuário não é visto como nosso”.

Aníbal traz em sua lembrança o Relacionamento como abertura, “céu azul”,

uma expressão que exprime o desejo da liberdade de ação.

Trabalho é lembrado como realização, é percebida como necessidade de ser

bem sucedido em seu trabalho, no entanto, esta não é a dinâmica no momento.

A Equipe para Aníbal é tida como ação conjunta, há que se ter abertura e

diálogos para que aconteça.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, o trabalho apresentado mostra caminhos possíveis rumo à

Interdisciplinaridade. A Política Nacional de Assistência Social, com seus

parâmetros, contribui com seu avanço possibilitando aberturas e espaços para que

profissionais agreguem, compartilhando com seus saberes, com suas experiências,

com suas ideias, descobrindo e criando alternativas ou mesmo soluções, frente às

demandas no âmbito dos CRASs.

Para o CREPOP, que vem somar conjuntamente com a política no sentido de

práticas interdisciplinares, tem a oportunidade de lançar ações em conjunto para o

favorecimento da população mais empobrecida. É nesta “ordem” que é preciso

valorizar ações que demandam atitudes éticas - moral, para o fortalecimento e

materialidade das políticas em ação. Contudo, os profissionais envolvidos neste

trabalho devem se resguardar da responsabilidade e compromisso, para que esta

política assegure que os sujeitos que dela façam uso pressintam o sentimento de

pertencimento e inclusão social.

Este espaço oportuno ofertado aos psicólogos no CRAS, conjuntamente com

os assistentes sociais, viabiliza intervenções práticas nas relações intersubjetivas

através da comunicação. São muitas as demandas que se apresentam aos serviços

de assistência, onde o trabalho do profissional de psicologia e do profissional de

assistência social tem muito a colaborar, articulando seus serviços conjuntamente.

Os atendimentos e discussões em conjunto dependem do bom relacionamento

pessoal, postura profissional, respeito para consigo e com o outro.

Trazem a trajetória histórica de cada um, suas expectativas frente às

adversidades vivenciadas. Carregam ainda, consigo sua visão de “homem” e de

“mundo”, há que se promover o autoconhecimento, pois cada profissional tem sua

singularidade. A articulação dos diferentes saberes é que produzirá um novo

conhecimento. A Interdisciplinaridade só se efetiva pelo movimento dialético, num

movimento de ir e vir.

Constatou-se que os desdobramentos da prática interdisciplinar entre os

profissionais pesquisados possibilitam crescimento, amadurecimento, beneficiando

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usuários como um todo. Ações que viabilizam a rapidez de processos ao bem-estar

comum, contribuindo desta forma para a qualificação dos serviços prestados.

Observou-se que, para uma equipe, a Interdisciplinaridade está marcada na

ação conjunta e, para outra equipe, o trabalho é fragmentado, é a falta de

comunicação.

Aponta-se que a Interdisciplinaridade entre a psicologia e o serviço social no

âmbito do CRAS é um processo em construção, pois carrega a postura pessoal e

profissional de cada profissional.

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______. Norma Operacional Básica da Assistência Social - NOB/SUAS. Resolução n. 130/05. Brasília: MDS/CNAS, nov. 2005c. ______. Política Nacional de Assistência Social - PNAS. Resolução n. 145/04. Brasília: MDS/CNAS, nov. 2004. Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Referência Técnica para Atuação do Psicólogo no CRAS / SUAS / Conselho Federal de Psicologia (CFP). Brasília: CFP, 2007. (Reimpressão 2008) 60 p. ISBN: Atuação do Psicólogo. Assistência Social. SUAS. Psicologia I. Título. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Dicionário em Construção: Interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2002. ______. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. 8. ed. São Paulo: Papirus, 2007. ______. (Org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. 14. ed. São Paulo: Cortez, 1989. ______. (Org.). Novos Enfoques da Pesquisa Educacional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. ______. (Org.). Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro. São Paulo: Loyola, 1996. GUSDORF, George. Professores para quê? Para uma Pedagogia da Pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 1987. JAPIASSU, Hilton. (1934) Interdisciplinaridade e Patologia do Saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. KARSCH, U. M. O Serviço Social na Era dos Serviços. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989. KHOURY. Y. A. (Org.) Muitas Memórias, Outras Histórias: cultura e o sujeito na história. Muitas Memórias Outras Histórias. São Paulo: Olho D’água, 2004.

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DISSERTAÇOES E TESES CONSULTADAS, ACERVO DA PUC/SP ARAÚJO, F. I. C. Mas a gente não sabe que roupa deve usar. Um estudo sobre a prática do psicólogo no Centro de Referência de Assistência Social: Dissertação de Mestrado em Psicologia Social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010. BEAUCLAIR, João. Do fracasso escolar ao sucesso na aprendizagem: Proposições Psicopedagógicas. Rio de Janeiro: Wak, 2008. BOTARELLI, A. O psicólogo nas políticas de proteção social: uma análise dos sentidos e da práxis. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008. NAMURA, M. R. A constituição do sujeito na perspectiva sócio-histórica de Vigotsky. In: ______. A interiorização do discurso da mudança e constituição do sujeito gerente: uma análise psicossocial. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1996. NERY, V. B. O trabalho de Assistentes Sociais e Psicólogos na Política de Proteção Social: saberes e direitos em questão. Tese (Doutorado em Serviço Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: 2009. RANGEL, Elisete de Fátima. A Implementação e Implantação dos CRAS - Centro de Referência de Assistência Social em São José dos Campos: um estudo do CRAS - Eugênio de Melo. Dissertação (Mestrado em Serviço Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009.

SITES ACESSADOS Site: www.educ.fc..ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/Paideia/Conceito de Paideia, acessado em 10/05/2010. Site: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 do IBGE (CIDADES), acessado em 08/03/2011.

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ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: OS PSICÓLOGOS E OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS

POLÍTICAS PÚBLICAS: Sentidos da Interdisciplinaridade nos Centros de

Referência de Assistência Social - CRASs, na cidade de São José dos Campos/SP.

Nome da Pesquisadora: Maria de Lourdes Rodrigues

Telefone para contato: (12) 3431 4949

Nome da Orientadora: Úrsula Margarida Karsch

Telefone para contato: (11) 3071 0437

O(a) Sr.(a) _____________________ está sendo convidado(a) a participar

desta pesquisa, que tem como finalidade conhecer e identificar se o serviço social e

a psicologia interagem na perspectiva interdisciplinar, tendo em vista a qualificação

dos serviços prestados aos usuários da assistência social, bem como o

enfrentamento das expressões e manifestações da questão social que emergem no

cotidiano de trabalho.

Ressalta-se que a opção por desenvolver a pesquisa neste CRAS se deu pelo

fato de ser uma instituição conceituada e tradicionalmente conhecida pela

população. Utilizaremos o método de pesquisa qualitativa, com entrevistas

semiestruturadas, com uso de gravador e questionários para serem respondidos. Os

dados serão coletados através de depoimentos. Para coletar as narrativas dos

sujeitos entrevistados, faremos uso de instigadores (questões abertas que

nortearam a entrevista). Desta forma, os sujeitos pesquisados poderão se expressar

abertamente sobre o assunto, dando suas opiniões, críticas e depoimentos.

Os dados serão coletados neste mês de dezembro, com entrevistas individuais

que serão gravadas e depois transcritas, com garantia de sigilo, podendo o sujeito

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entrevistado retirar o seu consentimento ou interromper a participação a qualquer

momento. Tem como objeto de estudo os sentidos da Interdisciplinaridade dos

psicólogos e assistentes sociais nos Centros de Referência de Assistência Social

(CRASs) e se propõe a apontar possibilidades e desafios da prática interdisciplinar

destes profissionais na proteção social básica, partindo do pressuposto da

capacidade de emancipar e de potencializar os indivíduos que se deparam com

situação de pobreza e exclusão.

Por acreditarmos que o CRAS tem um papel fundamental na dinâmica relacional

como um todo, pretende-se através deste trabalho entender como a questão da

Interdisciplinaridade entre os profissionais assistente social e psicólogo se desdobra.

Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética

em Pesquisa com Seres Humanos, conforme resolução n.º 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde. A sua participação nesta pesquisa não acarretará em nenhum

tipo de despesa.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre

para participar desta pesquisa. Confirmo que recebi cópia deste termo de

consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a divulgação dos

dados obtidos neste estudo.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, ___________________, de

forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa:

___________________________________

Nome do Participante da Pesquisa

___________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

___________________________________

Assinatura do Pesquisador

___________________________________

Assinatura do Orientador

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ANEXO B

INSTIGADORES PARA A PESQUISA DE CAMPO

1 - O serviço social e a psicologia interagem na perspectiva

interdisciplinar? Há trocas de conhecimentos, saberes e práticas entre os

profissionais destas áreas?

Se sim, perguntarei:

2 - De que forma isso acontece? Como é essa troca?

O sujeito (entrevistado) terá que abordar como é a troca de saberes e

conhecimentos. Então, se há discussão de casos, se eles partilham suas dúvidas e

perguntas. Se eles me responderem que não, perguntarei:

3 - Por que não há a troca de conhecimentos entre os profissionais, já que

as diretrizes da Política Nacional de Assistência Social e da Proteção Social

Básica preveem esta interação?

4 - Na sua concepção, os trabalhos interdisciplinares entre psicólogos e

assistentes sociais contribuem para qualificar os serviços prestados aos

usuários? Como você percebe o desdobramento disso na oferta dos serviços

e no atendimento dos usuários?

5 - São inúmeras as demandas e necessidades apresentadas pelos

usuários. Você entende que a articulação do serviço social com a psicologia

favorece o enfrentamento dessas problemáticas? De que forma?

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ANEXO C

Transcrição das Entrevistas

[Documento Digital em CD]

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ANEXO D

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