os professores enquanto sujeitos do...
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PRÁTICA DOCENTE: OS
PROFESSORES ENQUANTO
SUJEITOS DO CONHECIMENTO
Por Carolina Fernandes e Fabiana Giovani
(profs. UNIPAMPA)
A SUBJETIVIDADE DO PROFESSOR
Com base em Tardif (2002), o professor de profissão
não deve ser visto apenas como objeto de estudo, mas
como sujeito do conhecimento.
Não o conhecimento acadêmico (conteúdo), mas o
“savoir-faire” da profissão, as competências e
habilidades que servem de base ao profissional da
educação.
Os professores possuem, utilizam e produzem saberes
específicos ao seu ofício. Seu trabalho é, portanto,
espaço prático de produção, transformação e
mobilização de saberes, conhecimentos específicos do
oficio de professor.
OS SABERES:
“Todo trabalho humano exige do trabalhador um saber
e um saber-fazer”
Mas qual é o saber-fazer do professor?
O PROFESSOR É O ATOR!
Ele sabe como se
expressar,
conversar com os
alunos, interagir
com eles,
reformular suas
explicações, e
métodos, elaborar
enunciados,
propostas
pedagógicas e
atividades
didáticas etc.
A SUBJETIVIDADE DO PROFESSOR
O professor é o ator [de sua prática] diz Maurice
Tardif (2002) que, assim como Zabalza (1994), partem
do conhecimento do professor nos seus estudos, de
seus dilemas e reflexões como nos diários de classe e
nas entrevistas.
QUADRO PRODUZIDO POR TARDIF (2002)
JÁ SILVA (1995), MOSTRA PESQUISA EM QUE OS
PRÓPRIOS PROFESSORES DIZEM QUAL É O SEU PAPEL.
SABER LER E AVALIAR O TEXTO DO ALUNO É UM
DOS SABERES DOCENTES DO PROFESSOR DE
LÍNGUA PORTUGUESA:
Análise do caso 1(Geraldi, 1993)
MEU DIA
Eu acordei e fui escovar os dentes e depois fui
toma café. Ai eu fui arruma a minha cama. E
depois fui joga bolinha e depois fui joga bola. E
depois fui anda de bicicleta e depois eu fui
aumoça ai eu fui asidi televisão. E depois eu
tomei banho e depois vim pra escola.
PARA PENSAR:
Que observações se pode fazer sobre esse texto?
Como a professora poderia corrigi-lo? Que
encaminhamentos deveriam ser feitos?
AVALIAÇÃO DA PROFESSORA:
A professora queria que seus alunos “escrevessem
bastante” para “treinar” a escrita, então achou
que partindo de um tema conhecido dos alunos,
seria fácil atingir essa escrita “quantitativa”.
Mas segundo a professora foi “decepcionante” e
proferiu o seguinte enunciado ao tratar do texto
que acabamos de ler: “vocês acham que eu
poderia dar nota para uma coisa dessas?”
A “coisa dessas” de que trata a professora é a
redação que o aluno fez a respeito do tema
proposto por ela: “escreva tudo o que aconteceu
durante o seu dia”.
E SE, DE FATO, O PROFESSOR QUISESSE
MESMO SABER SOBRE O DIA DO ALUNO?
Se o professor não priorizar a estrutura
gramatical da língua, mas seu uso social como em
um gênero discursivo, ele teria que fazer algumas
perguntas para dar mais detalhes e esclarecer as
informações dadas conseguindo assim “maior
quantidade de texto escrito” e a eliminação de
repetições.
AS PERGUNTAS SOBRE O TEXTO:
O professor deve mostrar que o texto deixa dúvidas para oleitor que poderia perguntar por exemplo:
• De que modo você acordou? Ainda estava com sono? Ficourolando na cama ou levantou logo?
• Saiu da cama de pijama? Trocou de roupa? O que vestiu?
• O que você comeu e bebeu durante o café? Alimentou-sebem? Alguém preparou seu café ou você mesmo o fez?
• Jogou bola com quem? Era uma disputa? Quem venceu?
• O que tinha para o almoço? Comeu bastante? Estava comfome?
• Que programa você viu na televisão? Gosta desseprograma? Costuma assistir a ele sempre?
• Qual a tarefa que você fez? Estava difícil? Alguémajudou?
• Você tem companhia para vir à escola? Utiliza algummeio de transporte?
Estudos bakhtinianos:
Duas faces da palavra: é determinada tanto pelo
fato de que procede de alguém, como pelo fato de
que se dirige a alguém. Constitui justamente o
produto da interação do locutor e do ouvinte.
Através da palavra, defino-me em relação ao
outro, isto é, em última análise, em relação à
coletividade. A palavra é uma espécie de ponte
lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia
sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se
sobre o meu interlocutor.
A situação e os participantes mais imediatosdeterminam a forma e o estilo ocasionais daenunciação. A estrutura da enunciação e daatividade mental a exprimir são de naturezasocial (...) a realidade da língua é social.
O centro organizador de toda enunciação, de todaexpressão, não é interior, mas exterior: estásituado no meio social que envolve o indivíduo(...) A enunciação enquanto tal é um puro produtoda interação social, quer se trate de um ato defala determinado pela situação imediata ou pelocontexto mais amplo que constitui o conjunto dascondições de vida de uma determinadacomunidade linguística.
Estudos sobre o gênero
o teórico Mikhail Bakhtin (2003) aponta que autilização da língua efetua-se em forma deenunciados - orais ou escritos - concretos e únicos,oriundos de sujeitos pertencentes a inúmerasesferas da atividade humana. Ainda que ocaráter e os modos dessa utilização sejamvariados, como as próprias esferas da atividadehumana, a unidade da língua não écomprometida mantendo-se una e, assim,possibilita a interação entre os sujeitos falantes,mesmo que estes ocupem ou representemdiferentes lugares na sociedade. O fato de cadaesfera de utilização da língua elaborar tiposrelativamente estáveis de enunciado édenominado, pelo teórico, gêneros do discurso.
QUADRO PRODUZIDO POR DOLZ E SCHNEUWLY
(2004)
Domínios sociais de
comunicação
Aspectos tipológicos
Exemplos de gêneros orais e escritos
Gêneros do narrar romance, conto, fábula, lenda,
crônica, piada
Gêneros do relatar relato, diário, notícia, reportagem,
biografia
Gêneros do
argumentar
carta de leitor, artigo de opinião,
editorial
Gêneros do expor texto explicativo, entrevista,
verbete, artigo enciclopédico
Gêneros do descrever
ações
texto instrucional, receita,
regulamento, regras de jogo
TRABALHANDO COM A LÍNGUA
Voltando à atividade proposta pela professora de
relatar a rotina, uma outra atividade poderia ser
proposta para que o aluno mobilizasse os recursos
da língua portuguesa, agindo sobre eles de modo
criativo. Exemplo disso é o texto de Ricardo
Ramos, Circuito Fechado. Aqui, o uso somente de
substantivos, causa períodos curtos como no texto
do aluno, produzindo um efeito de rapidez,
movimentos automatizados, o que reflete a
monotonia da rotina, tudo sempre igual, uma
coisa sempre após a outra, sem pausa.
CIRCUITO FECHADO
Ricardo Ramos
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova,
creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel,
espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água
quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,
abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo
com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa
de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo.
Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa,
cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos,
cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes,
xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz,
papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras,
copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço
de cigarros, caixa de fósforos.
...
Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis,telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefoneinterno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos,caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa defósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule,talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro,fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo,papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel,pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta epapel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro,fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa defósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros.Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos.Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo.Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa,sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.Chinelos. Coberta, cama.
OUTRAS ALTERNATIVAS
Pode-se ainda mostrar ao aluno que um poema
pode produzir um efeito melódico diferente,
causando um efeito lírico ao tema rotina. Como
no poema a seguir:
ROTINA QUE DESANIMA
Espreguiço a manhã da tua ausência
e na saliva sem gosto, engulo a saudade.
afago o rosto,
consolo o desgosto...
exaustão...
escancaro as janelas do dia
de par em par...
na hora tardia e com preguiça...
as dobradiças rangem na agonia sem sol,
no edital da rotina,
que desanima...
no sal do exagero,
no amargo tempero,
aflição!
ATIVIDADE:
Que outro tipo de texto poderia tratar do tema
rotina? E de que modo você o trabalharia em sala
de aula?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, Michael. Estética da criação verbal.
Martins Fontes, SP: 2003.
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. e colaboradores.
Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Professor de 1º
Grau: identidade em jogo. São Paulo: Papirus,
1995.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e
formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2008.