nilsson maurice 2013 tiy ucs hay
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relata as atuais posições da Hutukara Associação Yanomami (HAY) sobre as Unidades de conservação vizinhas e ou sobrepostas à TI Yanomami.originalmente apresentado nas Jornadas PPGAS UFSC 2013.TRANSCRIPT
Terra Yanomami e Unidades de Conservação: a Hutukara diante do debate territorial da Amazônia
Maurice Seiji Tomioka Nilsson1
Resumo
Considerando a demarcação contínua da Terra Indígena Yanomami
(TIY) como uma luta em que a participação no debate técnico e
científico teve papel fundamental, abordo a posição da Hutukara
Associação Yanomami (HAY) em relação às Unidades de conservação
(UCs) em situação de sobreposição e vizinhas diante do desafio da
defesa territorial da Terra Yanomami. Demonstro que a posição dos
Yanomami contra as Flonas reside no objetivo histórico dessas
unidades, criadas para expropriar e reduzir direitos territoriais dos
Yanomami. Ao mesmo tempo, a HAY participa dos conselhos das UCs
vizinhas, apoiando a ampliação das UCs que protegem a TIY, criando
mais uma faixa de áreas protegidas em relação à fronteira de
ocupação mais intensiva, com assentamentos e pontos de entrada para
invasões da TIY por via terrestre. Comento que a aliança dos
Yanomami com o ambientalismo de Estado tem fundamento na
paisagem resultante, de manutenção da floresta
Palavras chave: Unidades de Conservação, Terras indígenas, organização
indígena.
1 Doutorando do programa Humanidades direitos e outras legitimidades, Diversitas FFLCH USP. [email protected]
Introdução A ordenação territorial recente da Amazônia Brasileira deve-se a processos históricos e
políticos que contaram com a ação indutora do Estado, baseada numa orientação técnica
e científica conforme fundamentada por Bertha Becker (Becker 1988; 1989; 2010) em
suas obras dedicadas à região. A reflexão mais aprofundada da importância atual da
ciência e da tecnologia na organização do Espaço Nacional de maneira geral tem em
Milton Santos um dos seus maiores contribuintes (Santos 1988). Apoiado nos
conhecimentos territoriais gerados pelo Projeto RADAM, com o uso de imagens
orbitais e viabilizados pela infra-estrutura logística, a indução de vetores de ocupação,
originou um rol considerável de conflitos territoriais, resultantes do novo projeto
dirigido de ocupação em confronto com o suposto ‘vazio demográfico’ de habitantes
históricos da região, bem como dentre os novos habitantes, que não representavam um
projeto único e harmônico de ocupação (Little 1997).
A mudança de paradigma relacionada aos direitos territoriais indígenas não foge ao
caso, e teve uma grande contribuição de novos avanços na ciência antropológica, na
própria resistência indígena e na qualificação técnica e científica dos quadros de
instituições defensoras dos povos indígenas, influenciando a redação da Constituição
Federal de 1988: de uma visão onde o índio estava fadado ao desaparecimento cultural
passou-se a uma visão de garantias territoriais que lhe permitissem a sobrevivência não
apenas física, mas cultural. As extensões de terras condizentes com essa perspectiva
foram demarcadas em terras indígenas na Amazônia a partir dos anos 1950, no caso
isolado do Xingu e mais recentemente com as TIs Kayapó, Alto Rio Negro, Yanomami,
Javari e a emblemática Raposa Serra do Sol, para citar algumas, e as comparamos com
as demarcadas no Centro Sul do País. Não cabe otimismo, uma vez que também foram
demarcadas terras na Amazônia cujo objetivo não foi outro senão liberar terras para a
iniciativa privada, acarretando perdas territoriais consideráveis, caso das primeiras
terras no Lavrado de Roraima, de terras no Acre (Ioris 1996) entre outros; são em
grande parte dependentes da luta política que acompanha o processo de reconhecimento.
O caso da Terra Yanomami, não foi diferente, implicando numa luta política contra
fortes interesses, movida também por campanhas internacionais de sensibilização,
podemos dizer que tal competência técnica e científica, que objetivava explicar com
maior clareza possível o modo de vida Yanomami, suas ligações com a terra-floresta
(Urihi) que habitam (Albert 1992), ao mesmo tempo em que procediam a um
levantamento sistemático das povoações Yanomami em todas as situações de contato
(ou não) conhecidas, apoiados em Cartas-imagem do Projeto Radam (Carlo Zacquini,
comunicação pessoal em aula proferida aos Yanomami em 2004-5). E que junto a ela
aliou-se uma considerável sensibilidade artística, condizente com a riqueza cultural
representada pelas imagens fotográficas de Claudia Andujar e as imagens fornecidas
pelo pensamento ameríndio Yanomami, expressos em suas concepções da floresta
(Albert 2002). A trajetória e a importância da CCPY2 nesse processo de consolidação da
Terra Indígena Yanomami (TIY) está muito bem relatada e documentada em Tourneau
(2010). A relação que faço com a inserção da CCPY no debate técnico e científico
nacional e o seu principal objetivo alcançado terá consequências na continuidade das
ações de defesa dos direitos Yanomami, tomados para si pelo maior expoente dessa
defesa, Davi Kopenawa.
A Hutukara Associação Yanomami (HAY), atual organização representante política dos
Yanomami no cenário brasileiro, herda desse casamento de arte e experiência técnico
científica, através de um programa originado da vontade de Davi Kopenawa, o
Programa de Educação Intercultural Yanomami, que teve por objetivo qualificar um
grupo de jovens expoentes de algumas regiões da TIY, preparando-os para disseminar
através da educação escolar indígena uma formação abrangente que lhes permitissem
entender a sociedade não Yanomami, cujo contato permanente é recente. Esse processo
educativo consistia em oferecer oportunidade de adquirirem competência em diversas
ferramentas de abordagem, tais como a escrita (Castro e Pereira 2013), a matemática, os
mapas, com isso promovendo uma reflexão sobre as Sociedades de Estado, ao mesmo
tempo adquirindo competência técnica para lidar com elas, para se defenderem das
ameaças impetradas. Esse processo de busca de compreensão e entendimento pelos
Yanomami das sociedades de Estado poderia ser considerado uma “etnografia às
avessas”, uma sofisticação do processo de antropologia reversa proposto por Roy
Wagner (1981). Foram esses quadros que ocuparam boa parte dos postos de liderança
da HAY.
A HAY tem participado de boa parte das ações de enfrentamento dos conflitos
territoriais e socioambientais que afetam a TIY, principalmente o garimpo e a intrusão
das fazendas no Ajarani, dentro da TIY, sempre de forma esclarecida (Nilsson 2011),
seja cobrando das autoridades responsáveis uma atuação mais eficaz ou participando
efetivamente com seus quadros e com outros Yanomami, por exemplo através do
2 Comissão pela Criação do Parque Yanomami, de 1978 até 1992, e depois Comissão Pró- Yanomami até 2008.
PNGATI3 e das ações de desintrusão levadas a cabo pela Funai, com a Polífica Federal
e o Exército.4 Mas também tem sido papel da HAY operar como agente esclarecedor
desse enfrentamento no seio das comunidades Yanomami, nem sempre envolvidas e
conscientes dos riscos originados do envolvimento com os napëpë (não indígenas)
(Totti 2013).
Diante do desafio maior da vigilância territorial, um aspecto do Estado Nacional chama
a atenção, pelo caráter ainda não totalmente decifrado de seu papel, trata-se da política
ambiental, especialmente aqui representada pela criação de Unidades de Conservação
(UCs). O posicionamento da HAY em relação a ela alterna entre denunciar, quando essa
lhe afeta os direitos e participar, tornando-se parceira quando esta lhe pode ser benéfica.
Discutirei o posicionamento da HAY em relação às UCs vizinhas e em situação de
sobreposição territorial, nos vários contextos em que conheci e presenciei, relacionando-
o ao papel desempenhado pelas mesmas em relação aos direitos territoriais Yanomami
no atual quadro de ameaças socioambientais. Para isso, pretendo usar exemplos e
reflexões retiradas da observação metódica nos anos de minha experiência de campo e
conhecimento de situações vivenciadas pelos Yanomami apoiado na bibliografia
conhecida sobre o tema, a literatura já consagrada aos Yanomami mas, aproveitando-a,
discorrer sobre a coerência do posicionamento atual da HAY frente à defesa territorial
da TIY.
As sobreposições com unidades de conservação:
A Terra Indígena Yanomami (TIY) enfrentou um histórico de resistências à sua criação,
devido principalmente a projetos geopolíticos, econômicos e militares (Tourneau 2010).
Diante da consistência técnico-científica com que foi apresentada a proposta de um
Parque Yanomami, pela CCPY5, tal resistência culminou no uso do discurso
“ecológico” e das unidades de conservação (UCs) para restrição de direitos territoriais, a
despeito da evidente ocupação indígena de toda região, demonstrada pelos estudos
executados pelos membros da CCPY. A criação das Florestas Nacionais (Flonas) de
Roraima e do Amazonas (Portarias 160 e 250/1988), sobrepostas à delimitação da TIY
3 Política Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas 4 http://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/funai-pf-e-exercito-promovem-acoes-para-impedir-garimpo-ilegal-na-ti-yanomami-em-roraima e também: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/vida-rural/noticia/2013/05/funai-inicia-liberacao-de-terras-indigenas-em-roraima.html 5 Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY)
(previsto nos estudos da Funai em 19856) configura o uso geopolítico do discurso
ambientalista, em ascensão devido ao resultado das políticas públicas de ocupação da
Amazônia, que levaram a uma rápida degradação ambiental nos locais onde se
efetivaram, sendo o Estado de Rondônia o caso mais emblemático (Fearnside 1989). As
Flonas criadas abrangem o território Yanomami, destinando apenas 19 pequenas ilhas
(Áreas Indígenas) que nem abarcavam todas as comunidades existentes no período
(Albert 1991b).
Figura 1: sobreposições das Flonas Roraima e Amazonas e demarcação descontínua em 19 “Áreas Indígenas” para os Yanomami, sobrepostos à TIY atual e às comunidades em 2007
Quem olha a paisagem exuberante de floresta amazônica naquela região, com ocupação
humana esparsa e pouco visível, pode se enganar a respeito da territorialidade
Yanomami. As comunidades muitas vezes distam dias de caminhada, único meio de
acesso e ligação entre muitas delas. O sistema de trocas e alianças intercomunitárias dos
Yanomami foi devidamente descrito por Albert (1985) e implica em uma vida carregada
de visitas e intercâmbios cujo ponto alto são as cerimônias reahu, associadas à memória
de um falecido importante. Esse será o único dia em que lembrarão os feitos dessa
6 Portaria Funai 1817/E/1985.
pessoa, para depois ser interditada inclusive a pronúncia de seu nome. Eu pessoalmente
testemunhei algumas vezes eventos em que os deslocamentos de grupos inteiros de
Yanomami transcenderam o traçado das 19 ilhas7, em 2002 numa cerimônia Reahu
realizada no Piau, região do Toototopi foram convidados os moradores do Watorikɨ.
Cerca de 80 pessoas, com cestos wɨɨa, crianças e até animais de estimação se
deslocaram por dez dias na floresta, atravessando os cursos Ananariu, Mapurau entre
outros, para participarem da cerimônia. Durante o trajeto relembravam locais por onde
habitaram e passaram, às vezes com tristeza, em função dos acontecidos e epidemias
ocorridos nos lugares. Esses dois cursos de água ficariam de fora das ilhas destinadas
aos Yanomami, embora fossem parte do território histórico presente na memória dos
Yanomami.
A reprodução física de um povo agricultor, caçador e coletor dá a dimensão de suas
necessidades territoriais (Albert 1992; Milliken e Albert 1999), com as práticas de
permanecerem temporadas inteiras em regiões remotas, acampados na floresta (waimɨ
huu). A mobilidade Yanomami é outro aspecto que torna difícil assegurar que as “ilhas”
pudessem conter a população Yanomami. Relatos indicam trajetos bastante longos, não
contidos nessas ilhas. Disso se infere que o projeto político militar para os Yanomami
seguia o mesmo caminho que resultou na demarcação das terras indígenas no resto do
Brasil, justificados com a previsão integracionista das populações, o que implicaria em
maior sedentarização e não necessidade das grandes extensões dos seus territórios
originais. A política indigenista do país está cheia de exemplos em que o objetivo era
justamente a contenção territorial da população indígena, para liberação de suas terras
para outros (Azanha e Valadão 1991). Em trabalho recente (Nilsson e Fearnside 2011),
ficou evidente a mobilidade residencial ser um fenômeno ativo e predominante hoje,
para além dos relatos sobre trajetórias pretéritas. O acerto da demarcação contínua da
TIY garantiu não apenas a sobrevivência física dos Yanomami, mas cultural, também,
de um povo majoritariamente monolíngue. Desta forma, a sobreposição com UCs torna-
se uma ameaça importante de ser tratada pelos Yanomami, que têm se defendido nas
interlocuções com a Sociedade de Estado através da Hutukara Associação Yanomami
(HAY), criada em 2004 e que hoje congrega praticamente todas as regiões da TIY. Nas
páginas que se seguem analiso e comento o posicionamento político da HAY frente às
UCs, tanto às sobrepostas e as vizinhas dos Yanomami.
7 Na verdade, mesmo no momento da promulgação da Portaria, haviam 23 comunidades fora de seus limites (Albert 1991).
O projeto conservacionista do Estado
As políticas de proteção da biodiversidade no Brasil tem na criação de UCs uma de suas
principais ferramentas. Deixar intocados amostras representativas dos ecossistemas as
salvariam das graves perdas em termos de biodiversidade causadas pelo modo de
organização do espaço produtivo sob o sistema capitalista: um modo de produção que
intensifica a transformação da paisagem ao ponto de torna-la irreconhecível. Se a
paisagem produtiva enfrenta a crítica do desequilíbrio ambiental por homogeneizar o
ecossistema, as UCs vêm cumprir o efeito de garantir espaços livres de serem afetadas
por essa forma de produzir (Vivacqua e Vieira 2005). Ocorre que, disso advém uma
nova violência de Estado, a imposição do que pode e não pode ser feito nesses espaços,
que recai sobre as populações ali residentes, ora sendo deslocadas, ora sofrendo as
interdições. Torna-se, tanto quanto a propriedade privada, espaços excludentes . Do
ponto de vista social, portanto, as UCs devem ser entendidas como inerentes ao sistema
produtivo capitalista, nascidos da mesma lógica (Escobar 2000; Barreto 2001). Uma
sobreposição entre UCs e Terras indígenas relativiza o direito de usufruto exclusivo e
garantias de viver segundo seus usos costumes e tradições (artigo 231 CF1988). Quando
da criação das UCs que se sobrepõem à TIY, Albert (1991a) demonstrou o objetivo de
usurpar os direitos indígenas: com a criação de unidades de uso direto, tais direitos
viram-se mais ainda ameaçados, pois permitiria a exploração econômica garimpeira,
bastante danosa em seus impactos socioambientais e sanitários, já que três “reservas
garimpeiras” (1990) foram criadas em seguida a essas UCs, e os Yanomami conviviam
com a situação de fato de um surto garimpeiro de cerca de 40 mil pessoas. As reservas
garimpeiras foram revogadas na gestão seguinte, quando foi decretada, homologada e
registrada a TIY em forma contínua (Dec. 25/05/1992). Uma análise consistente do
momento histórico da criação de UCs com objetivos de “expropriação ecológica” pode
ser encontrado em Albert (1991b) – a expressão foi cunhada por ele.
O projeto explícito de oposição à demarcação contínua da TIY envolvia uma conjunção
de sujeitos: políticos, militares, empresariais e população garimpeira. Havia
instrumentos legais e institucionais que demonstravam claramente políticas de Estado
preocupadas com questões de soberania nacional sobre a Amazônia, em especial o
Projeto Calha Norte. Os setores militares manifestavam preocupação com a presença
indígena na fronteira, disseminando na população o temor de internacionalização pelo
fato de os Yanomami se encontrarem de ambos os lados da fronteira. Juntava-se às
preocupações militares o projeto político econômico do Estado de Roraima, baseado no
garimpo como forma de acumulação primitiva. Embora muitos hoje ainda sejam
saudosos a esse projeto, haja vista as atuais invasões garimpeiras na TIY e declarações
de políticos locais8, já há uma massa crítica no Estado de Roraima relacionada aos
direitos dos povos indígenas e outras populações. Após a sua homologação em 1992, as
UCs sobrepostas mantiveram sua existência sob o argumento de ‘não abrir precedentes’
de revogação de UCs, mesmo com a disposição expressa em documentos como a I
Conferência Nacional de Meio Ambiente de desafetarem as Terras Indígenas. A solução
na época foi a “extinção administrativa”, não lotando pessoal nem recursos para essas
UCs. Mas posteriormente voltaram a ativa-las (Albert e Tourneau 2006). A retomada de
ações administrativas nas Flonas significou uma retomada de negociações e de pressão
por parte dos Yanomami para que se efetivasse a desafetação da TIY.
Uma vitória recente foi a desafetação da TIY pela Flona Roraima (Dec. 12.058/2009)
que mudou de perímetro, ganhando um novo formato9. O processo não está isento de
preocupações, sendo a Flona uma UC de uso direto, podendo se estabelecer corte de
madeira e mineração, observado em outras Flonas, como Jamari (RO). O novo formato
da Flona desafeta também um Projeto de Assentamento (PA) do Incra, que havia sido
criado dentro de seus limites. A Flona Roraima é considerada uma maior proteção que a
ocupação desordenada, previsivelmente produzindo efeitos perversos para a TIY.
A luta e as negociações me levam a continuar uma reflexão de Albert 2002 sobre Davi
Kopenawa e a aliança estratégica com o ambientalismo: a aliança teria um caráter
provisório, diante de uma opinião pública sensível ao discurso ambiental, dos
Yanomami como protetores da floresta, mas uma vez que o próprio discurso da
conservação foi usado na tentativa de expropriação, observa-se o governo brasileiro
tentando um estratagema para ludibriar a opinião pública mundial. Se o projeto
conservacionista deve ser percebido como uma outra faceta da organização do espaço
sob o sistema capitalista, de uma natureza objetificada (Peet e Watts 1996), operando o
mesmo raciocínio instrumental que o caracteriza, quando se trata de uma UC de uso
direto, sua exploração econômica é prevista, proporcionando o receio de sua exploração
iminente, fundada em argumentos cientificistas de eficiência, o que tende a ser
excludente a populações não capitalizadas (Peluso 1994). Projetos com tais
características foram observados em outras áreas (Ioris 2008) e não estão distantes de
discursos encontrados na elite local (Albert e Tourneau 2006). A exploração mineral em
8 http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=119382 9 http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=72211
Flonas, é prevista e realizada, por exemplo a Flona Jamari em Rondônia, que foi
explorada pela Brascan (1970) e depois pela Cia. Paranapanema, e onde sua própria
decretação serviu para barrar a exploração indesejada da jazida por garimpeiros de porte
menor, sempre com forte esquema de policiamento particular10.
O diálogo pela desafetação da TIY teve um aliado inusitado, dentre as cosmografias
regionais (Little 1997): a presença dos assentamentos (PAs) Vila Nova e Sumauma,
com sua desapropriação decretada, na época, levou as lideranças dos assentados a
procurar ajuda nas esferas políticas locais, para que a Flona também desafetasse os PAs
Vila Nova e Sumauma. Lá produzem farinha de mandioca, arroz e banana, segunda
maior fornecedora para o mercado11. É provável que tal fato tenha sensibilizado muito
mais a elite local do que a sobreposição com a TIY. Evidentemente, é uma congruência
de interesses que não vai muito além. O PA faz fronteira com a TIY, e é uma porta de
entrada para a TIY, possuindo “varadouros” até seus limites. Além da desafetação, a
modificação de limites da Flona Roraima passou a ”blindar” a TIY, fazendo fronteira
em boa parte de sua extensão. Ainda assim restam a Flona Amazonas (do mesmo
decreto de 1989), o Parque Estadual (Parest) da Serra do Aracá (Dec estadual
12836/1990) e o Parque Nacional (Parna) Pico da Neblina (Dec. Fed. 83550/1979).
O Parque Estadual do Aracá, no Estado do Amazonas faz parte de um mosaico de UCs
do Baixo Rio Negro, e tem como referência principal o tepui e a Cachoeira do Aracá, a
maior do Brasil. Tem sido ativado pela Secretaria de desenvolvimento sustentável
(SDS, equivalente de secretaria do meio ambiente no Amazonas), responsável
administrativa pelo parque, que organizou uma expedição ali. O Parque abrange
também toda a cabeceira do Rio Demini, onde estão importantes comunidades dentro da
TIY, havendo uma sobreposição de mais de 70% de sua área. A SDS tem mostrado
disposição para modificar o seu perímetro, de forma a desafeta-lo, ampliando para fora
da TIY, o que o levaria a proteger uma parte da fronteira da TIY12. Nessa região
encontram-se áreas de campinaranas, vegetação mais baixa sobre solos arenosos, boa
parte deles sujeitos a flutuações sazonais do nível de água. Embora sejam ambientes de
grande fragilidade, não cobiçados para ocupação agrícola, são dignas de proteção. 10 testemunho do Autor, que visitou a exploração de cassiterita. Ver Estudos socioeconômicos das áreas de concessão para madeireiras da FLona Jamari, SFB, dsiponivel em: http://www.rioterra.org.br/wp-content/uploads/2011/07/analise_socioeconomica_do_entorno_da_area_de_concessao_publica_parte_ii.pdf 11 http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=72448 12 http://hutukara.org/governo-do-amazonas-reconhece-a-legitimidade-da-terra-indigena-yanomami-e-vai-redelimitar-area-de-protecao-estadual.html
O Parque Nacional do Pico da Neblina afeta principalmente as comunidades da região
de Maturacá e Ariabu, uma de cada lado do Rio Cauburis. Hoje já há um consenso
maior sobre a possibilidade de ver na existência do Parque uma oportunidade, mais do
que uma ameaça. Foi um desafio proposto à AYRCA13, que passou a integrar o
Conselho Consultivo dessa UC14. Já havia um interesse dos Yanomami de se
apropriarem das atividades turísticas na região, outrora (e novamente) afetada por
garimpo, detentora do ponto culminante do Brasil. Em 2008, na Assembléia da
Hutukara no Ajarani encontrei uma liderança da AYRCA que relatou um
desentendimento com um antigo chefe do parque, que tentou levar grupos de turistas ao
Pico da Neblina, à revelia dos Yanomami e sem nenhuma comunicação ou
entendimento. A trilha passa necessariamente pela comunidade Maturacá, onde os
turistas foram apreendidos e feitos reféns. Chamado o MPF para intermediar a situação,
estes lembraram o direito dos Yanomami de serem notificados, de se beneficiar das
atividades turísticas que afetam seu território. Lembrei a essa liderança que a atividade
turística em um parque está condicionada ao Plano de Manejo, e este deve ser feito com
a participação da comunidade através de um conselho consultivo. Mais recentemente
houve uma oficina em que foi tratado da participação Yanomami no conselho
consultivo, o que tem significado uma aproximação esclarecida com o parque.
Embora outras experiências entre populações tradicionais e diálogos desse tipo com o
Estado tenham resultado em conflitos, trata-se de um risco que a própria população
dessa região tem assumido, com um diálogo intercomunitário, também, de distribuição
equitativa de benefícios, com as outras comunidades mais remotas do Parque, que não
fazem parte do trajeto turístico. Um dos riscos, conforme observado em outros casos
(Gauld 2000), é de a presença indígena servir para legitimar o caráter participativo da
empreitada ecoturística, sem de fato deter o controle da atividade, que é um dos
preceitos levantados em Azanha (2002) como critério de sustentabilidade de práticas
alternativas econômicas em sociedades indígenas. O discurso dos atuais gestores do
parque, porém, é de maior controle e fiscalização15, recorrente com casos teorizados na
literatura (Escobar 2000).
13 Associação Yanomami do Rio Cauaburis 14 http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/20-geral/977-parque-nacional-do-pico-da-neblina-promove-oficina-para-avaliar-criacao-de-conselho.html 15 http://acritica.uol.com.br/amazonia/Biopirataria-Parque-Nacional-Pico-Neblina-Amazonas-Amazonia-Manaus-Sandro-Cardoso_0_535148063.html
A Flona Amazonas recentemente foi desprovida de servidores e recursos, mas não foi
tomada nenhuma providência em relação à desafetação da TIY. Conhecendo o histórico
de sua criação e as características legais da categoria, de uso direto, permitindo
exploração madeireira e mineral, torna-se preocupante que ainda não haja uma revisão
de seus limites, ou mesmo a extinção, conforme propunha minuta de decreto datada de
1992, época da homologação contínua da TIY, por José Lutzenberger. Trata-se de uma
incógnita o futuro dessa UC, o que faz a Hutukara perseverar-se na luta. Embora possa
se encontrar interlocutores sensíveis no ICMBio atualmente, trata-se de uma questão
mais profunda e sem solução definitiva.
As UCs vizinhas
Se nessas circunstâncias, as UCs demonstraram ser uma nefasta ameaça aos direitos
territoriais Yanomami, pela forma como foram criadas, nem por isso os Yanomami e
seus aliados deixam de pensar a criação de UCs em suas estratégias de proteger ainda
mais os limites leste da TIY, os mais ameaçados por uma situação de vizinhança direta
com projetos de assentamento, com uma população mal esclarecida, que portanto segue
os interesses da elite econômica roraimense, e cujas vicinais são potenciais vetores de
entrada terrestre, transformando-se em varadouros floresta adentro. E as vias fluviais de
acesso, agora mais controladas por postos recém construídos e mais bem colocados,
ambos estão na origem da exploração garimpeira que antecedeu a demarcação. Em Boa
Vista eu tinha o costume de conversar com ex-garimpeiros sobre suas histórias de vida,
quando os conhecia. Nesses relatos ficou evidente, que as primeiras incursões se davam
a pé por dias de caminhada nos varadouros, chegando principalmente às regiões do
Apiau, Rio Novo e finalmente Papiu, uma das regiões de maior concentração de
garimpos, e só então se abriam pistas de pouso. Essas incursões não se faziam sem
conflitos, encontros com índios ocorriam e geralmente violentos, entre armas de fogo e
flechas, com impacto previsívelmente desvantajoso aos portadores de arco e flecha.
Desta forma, a Hutukara mantém boas relações com outras UCs vizinhas, mantendo
representantes no Conselho consultivo da Estação Ecológica de Maracá, e mais
recentemente do Conselho consultivo conjunto das Estações Ecológicas (Esec) Niquiá,
Caracaraí e Parna Serra da Mocidade, todas vizinhas à TIY, e que cumprem esse papel
de parceria no controle de atividades ilícitas e possíveis ameaças à TIY. Outra UC em
vias de criação que também cumprirá o mesmo papel é a Flona Parima, a ser
estabelecida a partir dos estudos de redefinição de limites da Reserva Florestal Parima,
quase totalmente sobreposta à TIY, cujos estudos já foram concluídos pelo ICMBio
(2010). Junto com a ESEC Maracá, que tem um projeto de ampliação, ambos previstos
no Decreto 6754/2009, que repassa as terras para o Estado de Roraima. Todas essas
UCs devem afastar mais cerca de dez quilômetros de distância das residências até a
fronteira da TIY. Esse papel aparentemente paradoxal demonstra não ser uma escolha
ideológica contra a política conservacionista, mas uma definição estratégica em função
da defesa territorial.
Um aspecto de tradução cultural difícil é o sentido lógico da existência das UCs. Na
minha experiência de tradutor e de assessor educacional da CCPY, tornava-se difícil
explicar o que era uma UC, um espaço reservado para “não ser usado”, pois isso só faz
sentido para uma sociedade que se propõe a uma ocupação total do espaço disponível. O
sentido geral de “Urihi noamaɨ” (proteger a floresta) parecia aplicável, mas apenas para
quem tem a experiência de conhecer a paisagem resultante da ocupação napëpë. Os
Yanomami que viajavam a Boa Vista interpretavam os lavrados, campos naturais de
Roraima, como uma paisagem modificada pelos napëpë, e não efeito de condicionantes
climáticos, como a pluviosidade estacional. O “acordo”, portanto, com a prática
conservacionista está não na atitude baseada na lógica da exclusão, mas no objetivo
comum de proteger a floresta frente à sanha destruidora do modo de produção napëpë.
Lembro-me de uma visita à Esec Maracá, por um grupo Yanomami, local de fauna
abundante e facilmente visualizavel, em que todas as vezes em que se avistavam
elementos da macrofauna, os Yanomami faziam gestos insinuando o desejo de alveja-lo
(niapraɨ). Também caberia compreender que o chamado movimento ambientalista não é
homogêneo, com posições que vão desde origens libertárias de crítica ao sistema de
produção capitalista, até as vertentes autoritárias e excludentes, das quais um exemplo é
apresentado nesse trabalho. Portanto, o principal ponto de acordo quanto ao sentido de
proteger a floresta está na paisagem, e não no modo de fazê-lo, questão já soberbamente
abordada por Albert (2002). Tal fato não desmerece a aliança e seu valor para ambos os
lados, diante da fantástica transformação socio-econômica que sofreu o Estado de
Roraima no final do Século passado, em grande parte por projetos que cobiçavam
justamente a (hoje) TIY. Curiosamente, seu fechamento às atividades econômicas
predatórias e também a criação das UCs não provocaram nenhuma catástrofe econômica
para seus habitantes, sintoma da ilusão causada pelo ouro (MacMillan 1995).
Para concluir, a intencionalidade na criação das Flonas Amazonas e Roraima
sobrepondo-se à TIY, encontra equivalente ao papel histórico dos Parques em sua
origem nos EUA: transmitindo uma imagem de altruísmo e deferência à natureza, tinha
por trás um interesse econômico de exploração turística (Barreto 2001), ainda mais
quando isso implicou na expropriação de populações nativas (Spence 1999). Da mesma
forma, no Estado de Roraima, já havia sido aplicado ao Parna Monte Roraima,
sobreposto à Terra Ingaricó, hoje incorporada à TI Raposa Serra do Sol (TIRSS), mas
em regime de dupla afetação; o fato se torna mais preocupante diante das
condicionantes impetradas quando do julgamento das ações referentes à homologação
da TIRSS, no STF, ainda sua tentativa de generalização através da Portaria 303 da
AGU, em evidente desrespeito à Convenção 169 da OIT, referendada pelo Brasil. Os
objetivos reais dessas três UCs se revelam ainda mais pelo desinteresse das elites locais
em criar UCs para defesa da biodiversidade, como a resistência contra a criação de uma
UC no Lavrado, as savanas naturais de Roraima, sobre áreas de posses extensivas. Não
houve, até agora, a criação de UCs representativas desse ecossistema, a despeito da
importância, em ser a maior área de savanas no bioma Amazônico. Não houve, por
parte do Estado de Roraima até agora, nenhuma criação de UCs estaduais, com sua elite
sempre crítica à demarcação de terras indígenas e à destinação de áreas protegidas à
biodiversidade, consideradas inibidoras da exploração econômica. Para a HAY, ao
desafio da defesa territorial por ameaças efetivas e concretas, tais como fazendeiros e
garimpeiros acrescentam-se as “ameaças de papel”, expressas nos projetos de alteração
legal dos direitos e garantias aos povos indígenas, revelando intencionalidades políticas
e interesses geopolíticos sobre seu território. Trata-se de um aprendizado em lidar com
os modos de apropriação e organização supraestruturais das Sociedades de Estado.
Referências
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