os microclimas do campus do pici-ufc na perspectiva ... · o microclima urbano, desse modo, está...
TRANSCRIPT
Eixo Temático 8: Clima e Planejamento Urbano/Rural
OS MICROCLIMAS DO CAMPUS DO PICI-UFC NA PERSPECTIVA TERMODINÂMICA
LIMA, Lorena Cavalcante. Autora. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) e graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará- UFC/ Fortaleza-CE. [email protected] BANDEIRA, Luana Lima. Autora. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) e graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará- UFC/ [email protected] ZANELLA, Maria Elisa. Orientadora. Profª. Drª. do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará-UFC/Fortaleza-CE. [email protected]
RESUMO: A crescente urbanização que vem acontecendo desde meados do século XIX tem ocasionado uma série de problemas ambientais repercutindo na queda da qualidade de vida da população. Uma das modificações refere-se as suas condições climáticas, uma vez que as diferentes formas de uso e ocupação do solo ocasionam, em virtude de seu comportamento frente à radiação solar recebida, uma organização climática peculiar na cidade: os microclimas urbanos. Diante desse contexto, fez-se necessário um estudo microclimático no Campus do Pici – UFC, já que este se apresenta como uma área piloto no sentido de que existem diversas formas de uso do solo (recurso hídrico, áreas verdes, ruas, construções entre outros) e que no contexto da cidade de Fortaleza, constituí-se como uma área com presença de cobertura vegetal importante. Este estudo objetiva analisar os microclimas do Campus do Pici - UFC, mostrando assim as diferenças termohigrométricas e de conforto humano em função das diversas formas de uso do solo, além de compreender como a urbanização atua modificando o clima da cidade. Como embasamento teórico foi utilizado o Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976, 2003), subsistema termodinâmico. Para atingir os objetivos propostos, executaram-se medições de temperatura e umidade num perfil de 12 horas em cinco pontos distintos do campus por meio do aparelho Thermo-Hygrometer no período das estações seca e chuvosa. Por conseguintes, os resultados foram comparados indicando as variáveis taxa de ocupação e as diferenças de conforto térmico humano em função das diversas formas de uso e ocupação do solo, o que possibilitou a comprovação da existência de microclimas urbanos dado pelas análises das diferenças entre os valores de temperatura, umidade relativa do ar nos pontos analisados.
Palavras- Chaves: microclimas, Campus do Pici e uso do solo ABSTRACT: The increasing urbanization that has taken place since the mid-nineteenth century has caused a number of environmental problems impacting the decline in quality of life. One of the changes relates to the weather, since the different forms of land use and occupation cause it, because of their behavior against the solar radiation received, an organization peculiar climate in the city: the urban microclimates. In this context, there was a need for a study on the campus of microclimat study in UFC-University Federal of Ceará (Campus do Pici), which was introduced as a pilot area in the sense that there are various forms of land use (water, green areas, streets, buildings and others) and that in the city of Fortaleza, is as an area with significant presence of vegetation cover. This study aims at examining the microclimate of the Campus of Pici - UFC, thus showing the termohigrométric differences and human comfort in terms of various forms of land use, and understand how development contributes to changing the climate of the city. For theoretical basis the “Urban Climate Monteiro (1976, 2003)”, was used, thermodynamic subsystem. To achieve the objectives, measurements are performed in a 12 hour temperature and humidity profile in at five different spots of the campus by the apparatus Thermo-Hygrometer during the dry and rainy seasons. Therefore, the results were compared indicating the variables occupancy rate and differences of the levels human thermal comfort in terms of various forms of soil use and occupation. This allowed the proof of the existence of urban microclimates given by the analysis of differences among the values of temperature and relative humidity in points analyzed. Keywords: microclimate, Campus do Pici and soil use
INTRODUÇÃO
Em um momento de grandes debates sobre as mudanças climáticas, o estudo sobre o clima
urbano se destaca para as observações dessas modificações a partir do crescimento urbanístico cada
vez mais acelerado.
O que podemos observar com esse processo de urbanização são as grandes variações climáticas
ocasionadas pelas transformações decorrentes do uso do solo através da concentração de construções,
impermeabilização do solo com o asfaltamento de ruas e avenidas, aumento do fluxo de pessoas e
automóveis além da destruição da vegetação natural, fazendo com que essas alterações tenham uma
repercussão não só em nível local, mas em uma dimensão regional.
Essa má utilização dos solos, segundo Monteiro (2003) origina vários problemas, entre eles a
poluição do ar, ilhas térmicas (ilhas de calor e ilhas de frescor), inundações no espaço urbano, dentre
outras formas, refletindo peculiaridades do clima da cidade.
As áreas verdes urbanas constituem-se em importantes instrumentos para a regulação do clima
urbano, controle de poluição atmosférica, além dos aspectos paisagísticos. Diante dessa questão, áreas
verdes contribuem de fato para amenizar a diferença térmica e aumentar a qualidade de vida nas
cidades?
Nesse sentido “o clima constitui-se numa das dimensões do ambiente urbano e seu estudo tem
oferecido importantes contribuições ao equacionamento da questão ambiental das cidades. As
condições climáticas destas áreas, entendidas como clima urbano, são derivadas da alteração da
paisagem natural e da sua substituição por um ambiente construído, palco de intensas atividades
humanas.” (MENDONÇA, 2003, p. 93).
Para entender o clima urbano, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro elaborou a Teoria Clima
Urbano (1976, 2003) que se divide em três subsistemas: termodinâmico, físico-químico e
hidrometeórico, com o intuito de elaborar teoria e metodologia para o sua análise de forma integrada à
cidade, e que seus resultados contribuíssem para o planejamento urbano.
A percepção e a conscientização dos problemas urbanos, destacando o clima, decisivo à
qualidade de vida do ambiente urbano, gera expectativas que, socialmente, são muito importantes na
busca de valores para a definição de metas que minimizem a degradação ambiental. Diante desse
contexto, o estudo do canal conforto térmico é bastante significativo, pois além de implicar no bem
estar, repercute nos demais canais (qualidade do ar e o impacto meteórico).
Nesse sentido é importante se fazer um estudo microclimático no Campus do Pici – UFC, já
que este se apresenta como uma área piloto por existirem diversas formas de uso (recurso hídrico,
áreas verdes, ruas, construções entre outros) e que no contexto da cidade de Fortaleza constitui-se
como uma área verde importante pela presença de áreas de cobertura vegetal mais significativa.
Dessa forma, o trabalho em epígrafe, realizado em duas estações sazonais definidas: seco e
chuvoso no Campus da UFC/ CE, tem como objetivo estudar as possíveis diferenças entre os valores
de temperaturas e umidade relativa do ar em diferentes usos do solo no Campus da Universidade
Federal do Ceará (UFC), na escala do microclima, com coletas de dados e análises equivalentes às
duas estações do ano, uma referente ao período de estiagem (Primavera) e outra referente ao período
chuvoso (Outono), pois os resultados obtidos podem ser atribuídos as diferenças no uso do solo local.
ÁREA DE ESTUDO
A Universidade Federal do Ceará (UFC) ocupa uma área urbana de 233 hectares, dividida em
três campi: Campus do Benfica ,Campus do Pici e Porangabussu. Foi criada pela lei pela Lei 2.373, de
dezembro de 1954 e instalada numa sessão no dia 25 de junho de 1955 nascendo como resultado de
um amplo movimento de opinião pública. O presente trabalho foi realizado no Campus do Pici
localizado em Fortaleza, Ceará no Bairro Pici numa área de 212 hectares.
O Campus é composto pelos Centros de Ciências, de Ciências Agrárias e Tecnologia; Pró-
Reitorias de Graduação e de Pesquisa e Pós-Graduação; Biblioteca Universitária, Restaurante
Universitário, núcleos e laboratórios diversos, além do Ginásio com áreas para a prática de esportes.
As características observadas no campus são as mais variadas podendo ser encontrados solos
nus, asfaltamento nos estacionamentos, calçamentos, vegetações de diversas espécies, superfícies de
água e edificações. Essa diversidade serve como parâmetro para auxiliar-nos no estudo das
repercussões climáticas no local.
O que podemos notar, em nossa área de estudo, é o seu desenvolvimento urbanístico de
edificações em uma expansão horizontal havendo o asfaltamento de estacionamento, resultando a
degradação dos espaços verdes e possível geração de desconforto térmico, mas é importante considerar
a escala geográfica, já que o Campus do Pici se entendido no contexto da cidade de Fortaleza,
constituí-se em uma área verde representativa.
MATERIAL E MÉTODO
Como embasamento teórico foi utilizado o Sistema Clima Urbano (SCU) de Monteiro (2003)
no qual, é o resultado das interpretações entre as atividades humanas urbanas e as características da
atmosfera local, dentro de um contexto regional. É a partir do sítio urbano, que constitui o núcleo do
sistema, que o espaço urbanizado mantém relações estreitas com o ambiente regional (MONTEIRO,
1976).
Monteiro agrupa o Sistema Clima Urbano (1996, 2003) em subsistemas, o Termodinâmico, o
físico-químico e o Hidrometeórico. Estes por sua vez, são fragmentados em canais de percepção
humana, respectivamente em: conforto térmico, Qualidade do ar e Impacto meteórico. Embora
divididos, os elementos de composição, comportamento e produção atmosférica se relacionam, já que
o Sistema Clima Urbano admite a abordagem sistêmica, com hierarquias e níveis de resolução.
De acordo com Monteiro (2003) o Canal conforto térmico engloba as componentes
termodinâmicas que, se expressam através do calor, ventilação e umidade. O Canal qualidade do ar,
relaciona-se à poluição (água, solo etc),mas principalmente a do ar, um dos males do século. E o Canal
Impacto Meteórico que agrupa todas as formas meteóricas, hídricas (chuva, neve, nevoeiros),
mecânicas (tornados) e elétricas (tempestades), que se manifestadas intensamente são capazes de
causar impacto na vida da cidade.
O microclima urbano, desse modo, está relacionado com a intervenção e percepção humana. A
saúde, energia e o conforto humano são afetados diretamente pelas variações climáticas. Segundo
Elaine Medianeira a sensação de conforto térmico humano pode ser entendida como “estado de
espírito” que representa o bem estar ou não com as condições térmicas do momento e local, devendo-
se levar em conta, principalmente, as variações ambientais, a atividade desempenhada e a indumentária
dos indivíduos.
Quando o organismo humano não consegue equilibrar sua temperatura (normalmente em torno
de 37) com a temperatura do ambiente, é gerada uma sensação de desconforto térmico. É também
importante destacar que a sensação de conforto varia de pessoas para pessoa. No entanto, existem
temperaturas entendidas como ideais para cada atividade desenvolvida pelos homens, como se percebe
na tabela 01
Tipo de Trabalho Temperatura do Recinto (ºC)
Trabalho mental sentado 21 ºC
Trabalho leve sentado 19 ºC
Trabalho leve em pé 18 ºC
Trabalho pesado em pé 17 ºC
Trabalho muito pesado 15 – 16 ºC Tabela 01: Temperaturas recomendadas conforme os esforços físicos realizados pelo homem. Grandjean (1998)
apud Pagnossin (2004)
Segundo Fagner (1970) apud Pagnossin (2004) existem variáveis que atuam no conforto
térmico humano, sendo elas: variáveis físicas, relacionadas principalmente com a temperatura do ar,
umidade do ar, velocidade do ar e temperatura média radiante; variáveis pessoais, ligadas ao tipo de
atividade desempenhada pelo indivíduo e a indumentária; e variáveis psicológicas, relacionadas com a
idade do indivíduo e sexo. Desse modo, o diagrama de conforto humano de INMET nos possibilita a
averiguação, em função da temperatura e umidade relativa do ar, o estado de conforto térmico humano
ou não, apresentando assim, quais são as variáveis necessárias ao conforto.
Dessa forma, as variáveis ambientais meteorológicas, especialmente, a temperatura do ar,
umidade do ar e os ventos influenciam no conforto térmico humano, este varia de acordo com a
estação do ano e a localização geográfica do local estudado.
Para atingir os objetivos propostos para este trabalho, fez-se necessário a divisão da
metodologia operacional por etapas, no sentido de organizar os procedimentos para sua realização. A
pesquisa compreende cinco etapas: I) revisão bibliográfica com a leitura de material referente à Teoria
Clima Urbano de Monteiro (1976, 2003), Lombardo (1985), Mendonça (2003), Ayoade (2003), Moura
(2007) dentre outros; II) consiste na definição da área de estudo (Campus do Pici - UFC), do
subsistema (termodinâmico) do Sistema Clima Urbano, além da definição dos pontos; III) Nesta etapa
serão levantados os dados de campo em campanhas realizadas de uma em uma hora em um perfil de
doze horas nos períodos seco e chuvoso; IV) elaboração e análises de gráficos relativos à temperatura e
umidade; V) Formulação de sugestões para os problemas correlacionados ao clima urbano, visando um
desenvolvimento e planejamento urbano.
Foram coletados dados referentes à temperatura, a umidade do ar, ao conforto térmico, a
velocidade e direção dos ventos e a nebulosidade em cinco pontos distintos do campus (ver foto 01),
sendo estes: Guarita (ver foto 02); Ponte sobre o açude (ver foto 03); Mata (ver foto 04); Departamento
de Geografia (ver foto 05) e Ginásio Esportivo (ver foto 06). A temperatura e a umidade foram
medidas através do aparelho thermo-hygrometer. A velocidade dos ventos por meio da escala de
beaufort e o conforto térmico humano através do diagrama do INMET.
Esses dados foram coletados em um perfil de doze horas (de 7:00 hs às 18:00 hs) a cada uma
hora, nas estações seca e chuvosa, tendo em vista que o Ceará apresenta uma quadra chuvosa que se
concentra nos meses de fevereiro a maio, sendo os outros meses de menor intensidade ou de estiagem.
Estes dados permitirão a elaboração do mapeamento das condições termo-higrométricas.
Por conseguintes, os resultados foram comparados mostrando as variáveis taxa de ocupação e
as diferenças de conforto térmico em função das diversas formas de uso do solo, o que nos possibilitou
as observações da existência de microclimas dado pelas análises das diferenças entre os valores de
temperatura, umidade relativa do ar e uso dos solos mapeados.
Foto 01 - Campus do Pici/ UFC – Fonte: Google Earth (2008) Foto 01 – Guarita do Campus do Pici/UFC Foto 02 – Ponte sobre o açude Foto 03 – Mata Foto 04 – Dep. Geografia
05 – Ginásio Esportivo. Fotos: Nogueira (2008)
RESULTADO E DISCUSSÕES DOS EXPERIMENTOS
Foram discutidas as variações dos elementos climatológicos, entre os diferentes pontos no
primeiro experimento, realizado no período seco (10/12/2008/ Primavera) e no segundo experimento,
realizado no período chuvoso (29/04/2009/ Outono). Analisou-se o comportamento da temperatura,
umidade relativa, velocidade e direção dos ventos, conforto térmico, tipologia de nuvens e
nebulosidade e a influência dos sistemas atmosféricos em referidos dias.
Na tipologia nebulosidade pode-se notar maior intensidade no segundo experimento, fato este
explicado pela ação da Zona de Convergência Intertropical – ZCIT, sistema atmosférico produtor de
chuvas que atua de Fevereiro a Maio na região. Deve-se considerar, ainda, que o ano de 2009 se
caracteriza pela presença de Lã Nina e Dipolo do Atlântico negativo (favorável às chuvas), fazendo
com que o referido ano seja caracterizado como muito chuvoso.
Assim, no decorrer do dia observa-se o aumento da nebulosidade em todos os pontos no
segundo experimento. Percebe-se uma tipologia de nuvens produtoras de chuvas (nimbostratus e
stratocumulus) ocorrendo precipitação às 17h. Já no primeiro experimento a nebulosidade foi maior
pela manhã, diminuindo significativamente a partir das 12h, com a presença de cumulus, com pequeno
desenvolvimento vertical, indicando bom tempo, típico do período seco. No Ponto que se localiza na
Mata não foi possível a visualização da tangente nebulosidade, por se tratar de uma área com
predominância de vegetação de grande porte não permitindo a sua constatação.
Analisando a direção dos ventos, estes permaneceram sem maiores variações em sua rota no
primeiro experimento, predominando os de Sudeste. Somente no Ponto da Guarita, a direção foi
predominante Nordeste. No segundo experimento teve maiores variações. Predomínio de Sudeste e
Nordeste, devido à confluência dos alísios de nordeste com os de sudeste na região (atuação da ZCIT).
A velocidade dos ventos se comportou da seguinte forma: tanto no primeiro quanto no segundo
experimento o local de maior velocidade foi a Ponte com 11,1 m/s (de acordo com a Escala Beaufort)
no primeiro (período seco) e 8,6 m/s no segundo (período chuvoso). As menores variações, também
nos dois períodos, foram identificadas no ponto da Mata com a velocidade de 2,5 m/s no período seco
e 0,3 m/s no período chuvoso. Essa diferenciação da velocidade pode ser explicada pela caracterização
física dos locais. No Ponto da Ponte sobre o Açude, mesmo localizado entre ruas pavimentadas, há
grande influência do corpo de água (Açude Santo Anastácio) e de seu vale na canalização do vento,
além de nenhuma construção que impeça a sua circulação livre. Já no Ponto localizado na Mata há
uma grande dificuldade para a circulação dos ventos devido à presença de árvores de grande porte. No
Ginásio Esportivo pode-se notar, principalmente no segundo experimento, a velocidade dos ventos
chegando a 4,3m/s. Nele não há presença de obstáculos que interferem na circulação.
Variação da temperatura no 1º experimento
26
27
28
29
30
31
32
33
6 8 10 12 14 16 18 20
Horário
Tem
pera
tura 1. Guarita
2. Ponte3. Mata4. Dep. Geografia5. Ed. Física
No Departamento da Geografia a velocidade dos ventos também se apresentou baixa. Há
maiores dificuldade da circulação livre dos ventos pela presença de edificações, até mesmo o próprio
departamento que apresenta uma altura em torno de 10 m.
Com relação à temperatura, esta teve seu valor mínimo registrado no Ponto da Mata 26,6ºC
às18h, e máximo no Departamento de Geografia 32,6 ºC às 14h no primeiro experimento (ver Gráfico
01). No segundo experimento (ver Gráfico 02) a temperatura teve seu valor mínimo registrado no
Ponto da Guarita 25,2 ºC às 18h, e seu valor máximo no Ginásio Esportivo 31,5º C às 12h. No período
seco, a temperatura apresenta valores mais baixos pelo início da manhã e final da tarde, tendo seu
menor valor às 18h com 26,7 ºC (Mata). Os valores mais elevados ocorrem por volta de 13h às 15h,
atingindo seu pico às 14h com 32,6º C (Departamento de Geografia), sendo que durante o final da
tarde a temperatura volta a diminuir entre 17h e 18h, atingindo o menor valor de temperatura no Ponto
da Mata com 26,6ºC.
Gráfico 01 – Oscilação de temperatura dos cinco pontos no 1° experimento
Pode-se observar que os maiores valores de temperatura foram encontrados no Ponto do
Departamento de Geografia e no ponto do Ginásio Esportivo no período da tarde, ás 12h e 14h, com
32,6ºC e 32,7ºC, respectivamente. O local físico se distingue com a ocupação de espaços urbanizados,
com a presença de concreto e solos nus, o que contribui para que ambos apresentem as maiores
temperaturas e desconforto térmico humano, este último definido por meio do diagrama do Conforto
humano de INMET , que atinge a categoria “Muito Quente”.
As características do dia também contribuíram para tais conclusões: a baixa nebulosidade e o
período quente proporcionaram a evidência das condições atmosféricas normais, ou seja, mais amena
durante o começo da manhã, com elevação durante o começo da tarde e sua diminuição no início da
noite. A baixa nebulosidade contribui para maior entrada de energia e conseqüentemente maior
absorção dos raios solares, aumentando a temperatura.
Já no período chuvoso os maiores valores de temperatura, assim como no período seco, foram
registrados às 12h e 13h sendo o Ponto do Ginásio Esportivo com o maior valor, cerca de 31,5º C às
12h. Os menores valores de temperatura foram registrados no final da tarde e início da noite. Isso pode
ser explicado pela precipitação ocorrida a partir da 17h, onde os Pontos da Mata e o Ponto da Ponte
sobre o Açude atingiram as menores temperaturas sendo 25,4º C às 18h para ambos.
A chuva ocorreu devida a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que é uma
banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre, formada principalmente pela
confluência dos ventos alísios do hemisfério norte com os ventos alísios do hemisfério sul.
Normalmente a ZCIT migra sazonalmente de sua posição mais meridional a aproximadamente 2 a 5º
C, em março-abril.
Gráfico 02 – Oscilação da temperatura dos cinco pontos no 2° experimento.
Em se tratando da umidade o resultado dos experimentos se deu da seguinte forma (ver gráfico
03): no primeiro experimento (período seco) as baixas umidades foram registradas tanto no início da
manhã quanto no final da tarde, atingindo as 66% (7h no ponto da Guarita) e 77 % (18h no ponto da
ponte). Todos os pontos por volta das 12h tiveram a umidade abaixo de 61%. A seqüência natural é
assim percebida: no período da manhã, a umidade é alta, por volta de 12h às 14h ela diminui, tornando
a subir a partir de 15h. Tanto os maiores quanto os menores valores de umidade foram encontrados na
Ponte sobre o Açude Anastácio, nos horários de 12h e 18h entre 57% e 77%, respectivamente. Isto
deve ter sido influenciado pela temperatura do ar já que, a umidade relativa varia inversamente com a
temperatura, sendo baixa no começo da tarde e elevada durante a noite. (AYOADE, 2003).
Variação da temperatura no 2º experimento
25
26
27
28
29
30
31
32
6 8 10 12 14 16 18
Horário
Tem
pera
tura 1. Guarita
2. Ponte3. Mata4. Dep. Geografia5. Ed. Física
Variação da umidade no 2º experimento
60%
65%
70%
75%
80%
85%
90%
6 8 10 12 14 16 18
Horário
Um
idad
e (%
)
1. Guarita
2. Ponte
3. Mata
4. Dep. Geografia
Ginásio Esportivo
Variação da umidade no 1º experimento
50%
55%
60%
65%
70%
75%
80%
6 8 10 12 14 16 18
Horário
Um
idad
e (%
) 1. Guarita2. Ponte3. Mata4. Dep. Geografia5. Ed. Física
Gráfico 03 - Oscilação da umidade dos cinco locais no 1º experimento.
No segundo experimento, há a ocorrência de chuva no final da tarde por volta das 17h, um fator
que altera o habitual comportamento da umidade durante o dia (ver Gráfico 04). O Ponto da Ponte
sobre o Açude foi o que apresentou maior valor de umidade chegando a 94% às 18h. Isso ocorreu em
todos os outros pontos, onde, o pico de maior umidade se deu principalmente no final da tarde, às 18h
e também pela manhã (8h).
No Departamento de Geografia, a menor umidade se deu no período da tarde (17h), com
mínima de 73% às 12h. Tanto o Ponto da Guarita como o do Ginásio Esportivo, tiveram a umidade
reduzida entre 12h e 14h, assim como os demais pontos. Desta forma, a curva da umidade,
inversamente proporcional à da temperatura, demonstrou uma pequena alteração no Departamento de
Geografia com uma queda às 17 h, o que pode estar indicando erro de registro. Nos demais pontos, o
que se pode constatar são maiores índices no início da manhã e no final da tarde, e com mínimas entre
12 e 14 horas.
Gráfico 04 - oscilação da umidade dos cinco locais no 2º experimento.
Depois de tais comparações entre os pontos estes serão caracterizados individualmente, o que é
de fundamental importância para avaliação dos microclimas segundo a teoria de SCU de Monteiro,
analisando assim, desde a entrada de energia observada, tanto em termos quantitativos quanto na
superposição dos elementos que compõem cada localidade do experimento, desde a presença de
vegetação a sua morfologia e funcionalidade urbana.
Os pontos serão analisados, especialmente, por seus comportamentos termo-higrométricos
(temperatura e umidade) correlacionados com sua descrição do ambiente.
O primeiro Ponto a ser analisado é o da Guarita, entrada do Campus. Suas temperaturas no
primeiro experimento variam de 27,6º C a 31,4ºC, e no segundo de 25,3º C à 30,6ºC. Nota-se a
temperatura maior no primeiro experimento, representativo do período seco. Já a umidade variou entre
58 e 76% no primeiro experimento e entre 70 e 91% no segundo, indicando maior umidade por ocasião
do último, representativo do período chuvoso.
As características físicas do local também podem ter contribuído para tais resultados, quando
comparados aos demais pontos analisados dentro do Campus. Neste ponto (Guarita), há presença de
árvores de grande porte, o que contribui para menor alcance dos raios solares no solo. Por outro lado,
há vias asfaltadas, pavimentação, construções, além do elevado fluxo de veículos e pessoas,
contribuindo para a elevação da temperatura tanto pela presença de concreto quanto pelo calor emitido
pelos automóveis. Assim, os valores deste ponto ficaram mais baixos em relação ao Departamento de
Geografia e Ginásio Esportivo e mais elevados em relação aos Pontos da Mata e da Ponte sobre o
Açude.
Os valores da temperatura da Ponte sobre o Açude, no primeiro experimento, variaram entre
27,4ºC e 29,7ºC, já no segundo entre 25,2ºC e 28,6ºC. Com relação à umidade esta variou entre 57 e
77% no primeiro experimento, representativo do período seco e entre 76 e 94% no segundo,
representativo do período chuvoso.
Em relação aos demais pontos analisados, a umidade relativa da Ponte sobre o Açude
apresentou-se mais elevada nos dois experimentos. Esses resultados podem ser explicados devido à
composição física desta área. Apesar dele se localizar entre ruas de paralelepípedos, há a presença
marcante do corpo de água, o Açude Anastácio, o que contribui para umidades mais elevadas e
temperaturas mais amenas. Outros fatores de relevância é a presença de vegetação, além da ausência
de edificações permitindo a livre circulação do vento. Assim, este Ponto foi o local de maior conforto
humano, definido pelo Diagrama de Conforto humano INMET, como “Confortável” em todos os
horários analisados, tanto no período seco como no período chuvoso.
No ponto da Mata a temperatura variou entre 26,6ºC e 30,8ºC no dia 10/12/08 e entre 25,4ºC e
29,5ºC no dia 29/04/09 e a umidade entre 60 e 74% no primeiro experimento e entre 79 e 93% no
segundo experimento. As condições do tempo de referidos dias que caracterizam o período seco
(primeiro experimento) com presença de baixos índices de nebulosidade e período chuvoso (segundo
experimento), altos índices de nebulosidade e ocorrência de chuva podem explicar os valores de
referidos elementos.
Em relação aos demais pontos aqui analisados o ponto da Mata apresentou-se com as segundas
menores temperaturas dentro do campus. Com relação à umidade relativa, foi inferior apenas à da
Ponte sobre o Açude. Isso pode ser explicado pela presença de cobertura vegetal do local que manteve
valores mais amenos da temperatura e valores mais elevados de umidade relativa, denotando condições
de conforto (Diagrama do Conforto Humano) e também da “necessidade de vento para conforto” em
alguns horários (13h e 14h).
O ponto da Mata é ocupado por uma vasta vegetação predominando árvores de grande porte,
além de arbustivas (que atua como barreira à radiação solar direta) sendo ausente à presença de
construções, com exceção do Restaurante Universitário que fica próximo ao local de coleta. Não há
movimento de carros nem de pessoas.
As maiores temperaturas foram encontradas no Departamento de Geografia no primeiro
experimento (período seco), variando entre 27,7ºC e 32,6ºC, estes valores registrados nos horários de
7h e 14h, respectivamente. Já no segundo experimento (período chuvoso) variaram entre 25,3ºC e
29,4ºC nos horário de 7h e 12h, respectivamente, ficando um pouco inferiores àquelas registradas no
ponto do Ginásio Esportivo. A umidade relativa variou entre 57 e 72% às 12h no período seco e 73 e
86% no período chuvoso.
Em relação aos demais pontos analisados, o Departamento de Geografia apresenta um uso do
solo representado por construções, por atividades administrativas e acadêmicas, com intenso fluxo de
veículos e pessoas, o que contribui para elevação das temperaturas. A umidade relativa também se
apresentou inferior aos demais pontos analisados.
A presença de edifícios atingindo em média 10 metros de altura dificulta a passagem do
vento, e conseqüentemente há a diminuição do conforto humano, sendo observado no diagrama em
quase todos os horários “Necessidade de vento para Conforto”, além de “Muito Quente”, este último
registrado no horário de 12 às 14 h.
O segundo Ponto com maiores índices de temperatura, no período seco, foi registrado no
Ginásio Esportivo, onde a temperatura variou entre 28,5ºC a 31,5ºC. No período chuvoso este ponto se
destaca com as maiores temperaturas entre 26ºC a 31,5ºC, com a umidade entre 60 e 72% dia 10/12 e
entre 69 e 91% dia 29/04.
A área apresenta pequenas porções de área verde, com a existência de solos nus sendo em
grande parte pavimentado. Há a presença do Ginásio Poli Esportivo, um Conjunto Habitacional, além
das construções de novos departamentos, o que intensifica o aumento da energia emitida. Os maiores
índices de temperatura, em ambos os experimentos, ocorreram nos horários de 12h às 15h tendo a
contribuição para este resultado a grande movimentação de automóveis e pessoas.
Com relação ao conforto humano observou-se em quase todos os horários “Necessidade de
vento para Conforto” e “Muito Quente”, este último principalmente entre 12 e 14h.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Ao final das explicações do comportamento da atmosfera nos dias 10/12/2008 (1° experimento)
e 29/04/2009 (2° experimento), e da análise dos locais que ficaram sob influência das variações diárias
podemos concluir que o ponto de maior conforto térmico humano, de acordo com o diagrama de
conforto humano foi o Ponto da Ponte sobre o Açude Santo Anastácio. Isto se deve à presença do
corpo hídrico e da conformação de seu vale que propicia a canalização dos ventos de Sudeste, além da
presença de cobertura vegetal que atua como regulador de umidade e temperatura.
Os locais de menor conforto térmico humano foram o Departamento de Geografia (1º
experimento) e o Ginásio Esportivo (2º experimento), pois como foi discutido anteriormente, suas
constituições físicas contribuíram para tais resultados.
Abaixo (ver tabelas 02 e 03) podemos observar os locais de maior e menor temperatura
registradas nos dias 10/12/2008 e 29/04/2009 no Campus do Pici:
Horário Guarita Ponte Mata Geografia Ginásio 7 8 9
10 11 12 13 14 15 16 17 18
INTERVALOS
26 - 27.9 ºC 28 - 29.9 ºC 30 - 31.9 ºC 32 - 33.9 ºC
Tabela 02 – Diferenciação térmica do Campus do Pici. 1° experimento (10/12/2008)
Horário Guarita Ponte Mata Geografia Ginásio
7 8 9
10 11 12 13 14 15 16 17 18
INTERVALOS 26 - 27.9 ºC 28 - 29.9 ºC 30 - 31.9 ºC Tabela 03 – Diferenciação térmica do Campus do Pici. 2° experimento (29/04//2009)
Dessa forma, o trabalho em epígrafe, realizado em duas estações do ano (Primavera - período
seco e Outono - período chuvoso), no Campus do Pici/ UFC, pode constatar que as condições
atmosféricas (temperatura e umidade) locais são influenciadas pelo uso e ocupação do solo, ou seja,
onde há presença de vegetação e água há um maior conforto térmico humano, em contrapartida as
áreas mais edificadas, pavimentadas e sem a presença de vegetação e corpo hídrico geram um menor
conforto térmico humano ou mesmo um desconforto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. BASTOS, J.A; ZAMPARONI, C.A.P. O Microclima do Campus da UFMT/MT. Trabalho apresentado no 8º Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, Minas Gerais, 2008. LOMBARDO, Magda Adelaide. Ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1985. MENDONÇA, F. OLIVERIA; DANNI, Inês Moresco. Climatologia- Noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007, p. 11-25.
MENDONÇA, F. CLIMA E PLANEJAMENTO URBANO EM LONDRINA Proposição metodológica e de intervenção urbana a partir do campo termo-higrométrico. In: MONTEIRO, C.A.F; MENDONÇA, F. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003, p.93-120. MONTEIRO, C.A.F. TEORIA E CLIMA URBANO Um projeto e seus caminhos. In: MONTEIRO, C.A.F; MENDONÇA, F. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003, P. 9 – 67. MOURA, Marcelo de Oliveira. O CLIMA URBANO DE FORTALEZA SOB O NÍVEL DO CAMPO TÉRMICO. Dissertação de Mestrado: Fortaleza, 2008. PAGNOSSIN, E.M;LEMES, D.P;BURIOL, G.A. INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS METEOROLÓGICOS NO CONFORTO TÉRMICO HUMANO: BASES BIOFÍSICAS. Trabalho apresentado no Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, Sergipe, 2004. SOUSA FILHO, M.R.P. Microclimas Urbanos nos Enclaves Úmidos do Ceará – O Caso de São Benedito. Trabalho apresentado no 8º Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, Minas Gerais, 2008.