os jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro...

27
Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense – UFF www.uff.br/observatoriojovem www.emdialogo.uff.br

Upload: internet

Post on 18-Apr-2015

102 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo

num mundo veloz, mutante e inseguroProf. Dr. Paulo Carrano

Universidade Federal Fluminense – UFF

www.uff.br/observatoriojovem www.emdialogo.uff.br

Page 2: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Duas questões para o diálogoComo fazer para que nossas escolas consigam

incorporar os objetivos da formação integral dos nossos jovens, objetivos estes consagrados nas novas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio?

Como fazer para que as nossas práticas educativas funcionem de fato como suporte nos processos de construção de identidades e projetos de vida dos e das jovens estudantes?

Page 3: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Eixos da comunicaçãoQuem trabalha com a juventude precisa

compreender o que significa ser jovem nos dias de hoje.

A importância do reconhecimento comum sobre os desafios que precisamos enfrentar para que a escola faça sentido para os estudantes.

A escola como espaço-tempo de experiências significativas para estudantes e professores. A arte de aprender a fazer boas escolhas num mundo saturado de informações e valores conflitantes.

Page 4: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Juventude-JuventudesA juventude representa a síntese complexa

de uma unidade – enquanto fase da vida - e de diversidades – considerando os atributos sociais que distinguem os jovens uns dos outros A juventude é ciclo medido em anos de vida e também representação social sobre as idades

Adolescência e Juventude: Explicação fácil: Adolescente = entre 12 e 18 anos (ECA). Juventude = entre 15 e 29 anos (Estatuto da Juventude).

Juventude(s) – Expressão que temos utilizado nos últimos anos para descrever a diversidade evidenciada. É preciso tentar perceber também as unidades que legitimam o uso de juventude como conceito.

Page 5: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

As idades do homem

1 The Ages of Man, late 16th century (oil on panel), English School, (16th century) / Private Collection / Photo © Christie's Images / The Bridgeman Art Library

Page 6: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

As idades do homem

The Ages of Man, 1906 (colour litho), French School, (20th century) / Musee Nat. des Arts et Traditions Populaires, Paris, France / Lauros / Giraudon / The Bridgeman Art Library

Page 7: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Idades líquidas

Page 8: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Idade de vida e representação

Page 9: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Declínio do Patriarcalismo Para Gilberto Freyre, o moço só tem espaço para aparecer

no Brasil com a desintegração da sociedade patriarcal. Durante o predomínio do patriarcalismo, havia uma distância imensa entre o menino e o adulto, mas nenhuma categoria intermediária entre os dois extremos. O menino queria ser adulto o quanto antes, até mesmo para se livrar do sadismo com que era tratado dentro da casa-grande. Era como se a meninice fosse uma doença que tivesse que ser curada velozmente, e com toda a crueldade. Com a decadência do sistema patriarcal, esse antagonismo entre menino e adulto se transformou em rivalidade, com a inclusão de um terceiro termo [O ADOLESCENTE] numa relação que até então refletia apenas a total dominação de um extremo, o adulto, sobre o outro sem voz, o menino.

Hermano Viana, "A RIVALIDADE ENTRE O HOMEM MOÇO E O HOMEM VELHO":o conflito de gerações em Sobrados e Mucambos publicado no livro Quem Somos Nós – 60 Anos Sobrados de Mucambos, organizado por Maria do Carmo Tavares de Miranda, publicado pelas Fundação Joaquim Nabuco e Editora Massangana, em 2000.

Page 10: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Não mais o “ser adulto” como referência cultural

A calça Lee libertou os jovens de terem de usar a calça de tergal de seus pais (Antonio Maria – Jornalista – 1921-2001)

A calça comprida marcava a transição do moço para o adulto (Gilberto Freyre – A dialética entre o homem moço e o homem velho)

Antigamente as filhas faziam de tudo para usar as roupas de suas mães para serem adultas mais rápido. Hoje, tenho assistido brigas porque as mães pegam as roupas das filhas “emprestadas” (Estilista de São Paulo em entrevista na TV)

Page 11: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Juventude transviada (Década de 50) (Rebel Without A Cause). Direção: Nicholas Ray. EUA, Drama, colorido, legendado, 110’.

Page 12: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

A geração iôiô

[...] Nas "voltas que a vida dá" é curioso constatar que o movimento (iô) de socialização de pais para filhos dá uma volta de retorno (ioiô) que assegura que também os pais sejam socializados pelos filhos, aculturizados por uma cultura juvenil, cada vez mais referencial, nomeadamente no domínio da moda e da valorização do corpo. (José Machado Pais).

Page 13: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

TRANSIÇÕES PARA A VIDA ADULTA EM TEMPOS DE INDETERMINAÇÃO (I)

Fluidez nas relações entre gerações (sociedade pós-tradicional – A. Giddens). O indivíduo da modernidade pode projetar a própria biografia (desinstitucionalização do curso da vida).

Mudanças estruturais nas sociedades capitalistas ( a década de 1970 é um marco) tem afetado os modos de passagem da juventude para a vida adulta. Sociedade de risco (Ulrick Beck).

Geração ioiô (J.M. Pais) – Os jovens se desdobram em personagens possíveis experimentando estatutos intermediários e reversíveis, com maior ou menor grau de transitoriedade, precariedade ou formalidade.

Page 14: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Transições para a vida adulta (ii)

A calça Lee libertou os jovens de terem de usar a calça de tergal de seus pais (Antonio Maria – Jornalista – 1921-2001)

A calça comprida marcava a transição do moço para o adulto (Gilberto Freyre – A dialética entre o homem moço e o homem velho)

Antigamente as filhas faziam de tudo para usar as roupas de suas mães para serem adultas mais rápido. Hoje, tenho assistido brigas porque as mães pegam as roupas das filhas “emprestadas” (Estilista de São Paulo em entrevista na TV)

Page 15: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Transições (iii)Os atuais processos individuais de transição

para a vida adulta fogem aos padrões tradicionais (fim da escolarização; trabalho; casamento; moradia independente dos pais; ser mãe-ser pai).

Trajetórias diversificadas - sentidos diferentes a cada uma das etapas isoladamente e também às relações estabelecidas entre estas.

Page 16: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Transições (iv)Não só as fronteiras entre o percurso de

escolaridade e o mercado de trabalho se tornam fluídas, como a saída de casa dos pais não é definitiva nem implica necessariamente o casamento.

Há um campo infinito de oportunidades, combinações e experiências.

Surgem "buracos negros", situações em que os jovens não estão integrados em qualquer das esferas (educação, emprego, família), mergulhando em processos de “desfiliação” e isolamento.

Page 17: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Prolongamento da juventudecrescimento do número de jovens que

retardam o cumprimento das etapas consideradas marcadores da passagem para a vida adulta. Trajetórias escolares prolongadas, entrada tardia no mercado de trabalho, permanência prolongada na casa dos pais ou sob sua dependência financeira e adiamento do casamento e do nascimento de filhos.

Page 18: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Com quem contar para entrar e sair do labirinto?

Page 19: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Desafios educacionaisComo educar para sociedades complexas, sem

referências comunitárias estáveis, e que exigem multiplicidade de papéis dos indivíduos?

Como não praticar socializações profiláticas e pedagogias tutelares para jovens de comunidades populares?

Como fazer com que os indivíduos (jovens) sejam diretores de suas próprias vidas? A individuação como processo relacional em busca do “O governo de si” (autonomia) e o reconhecimento do outro (princípio ético da vida em sociedade)

Page 20: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

A dependência tecnológica, as relações superficiais e o fetiche da informação

Page 21: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

A experiência e a narraçãoA experiência estaria ficando cada vez mais

rasa, cada vez mais pobre, em decorrência do excesso de informações.

Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo a serviço da informação. (W. BENJAMIN)

Page 22: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Como escolher?

Page 23: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Aprender/ensinar a fazer boas escolhas – Entrevista com H. Eco

Spiegel: Mas você disse que as listas podem estabelecer a ordem. Então, tanto a ordem quanto a anarquia se aplicam? Isso tornaria a internet, e as listas criadas pelo mecanismo de busca Google, perfeitas para você.

Eco: Sim, no caso do Google, ambas as coisas

convergem. O Google faz uma lista, mas, no minuto em que eu olho para minha lista gerada pelo Google, ela já mudou. Essas listas podem ser perigosas - não para pessoas mais velhas como eu, que adquiriram o conhecimento de outra forma, mas para os jovens, para quem o Google é uma tragédia. As escolas precisam ensinar a fina arte de discriminar.

Page 24: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Spiegel: Você está dizendo que os professores deveriam instruir seus alunos sobre a diferença entre o que é bom e o que é ruim? Se sim, como eles deveriam fazer isso?

Eco: A educação deveria voltar à forma que era nas oficinas do

Renascimento. Lá, os mestres não eram necessariamente capazes de explicar aos alunos porque uma pintura era boa em termos teóricos, mas eles faziam isso de forma mais prática. Veja, o seu dedo pode se parecer com isso, mas ele é de fato assim. Veja, esta é uma boa mistura de cores. A mesma abordagem deveria ser usada nas escolas ao lidar com a internet. O professor deveria dizer: "Escolha qualquer assunto, quer seja a história alemã ou a vida das formigas. Busque 25 páginas diferentes na internet e, ao compará-las, tente descobrir qual oferece uma boa informação". Se dez páginas descreverem a mesma coisa, pode ser um sinal de que a informação publicada está correta. Mas também pode ser um sinal de que alguns sites copiaram os erros dos outros.

Entrevista ao jornal Der Spiegel, publicada no Uol Notícias/ Brasil

http://vaocombate.blogs.sapo.pt/161932.html

Page 25: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

A escolarização com sentidoPara que o conhecimento escolar não se

oponha “à vida” dos estudantes é preciso que a escola não apenas se dedique a ensinar novos conhecimentos, mas se preocupe também em dialogar com os diferentes saberes. Este diálogo entre “conhecimento escolar” e os “outros saberes” (saberes dos outros?) contribui para que a experiência de escolarização faça mais sentido e que novos conhecimentos possam ser aprendidos por sujeitos (crianças, jovens e adultos) que foram valorizados social e culturalmente.

Page 26: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Por fim...

Um método para o diálogo com os jovens

Page 27: Os Jovens e a escola: tensões e possibilidades de diálogo num mundo veloz, mutante e inseguro Prof. Dr. Paulo Carrano Universidade Federal Fluminense –

Para o diálogo...

“Primeiro pergunte...depois, escute”

(Antonio Machado, poeta espanhol, 1875-1939).