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16 /DESAFIO /ABRIL/JUNHO 2013 ZAHA HADID /ART R Chef Rui Paula Eleutério Jewels Monte da Vilarinha Adriana Barreto Munna Design •••

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Zaha Hadid • Adriana Barreto • Bloco 103 • Tiago Mourão • Ana Tecedeiro • Opera House (Austrália) • Made in Portugal • Conserva • Palácio da Pena (Sintra) • África do Sul • Sicília • Bairro Alto Hotel • Restaurante Midori • Munna Design • Eleutério Jewels • Chef Rui Paula • Fragile • Susana Carvalho • Pedras Salgadas Spa & Nature Park • Monte da Vilarinha

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16/desafio

/abril/junho 2013

Zaha hadid

/art

RChef Rui Paula

Eleutério JewelsMonte da Vilarinha

Adriana Barreto Munna Design

•••

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/desafioProvocar, Despique, Repto. Que mais vos podemos dizer se não que somos movidos pelo constante Desafio? O desafio de nunca sermos iguais. O desafio de sermos Mutantes.

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editoriala cada novo número a história repete-se.ordem natural dos afazeres mutantes: o desafio de escolher um novo tema, a cada tema concluído.Mas qual a nova palavra a ser soberana?Maldito desafio persistente e... o tema surge sem demora: DESaFio!Desafiámos nomes, espaços, sabores, danças... Percorremos o desafio (im)possível de Zaha hadid com jóias Eleuterio, que é desafio constante de ser tradição na contemporaneidade. Viajámos a norte ao desafio único de Pedras Salgadas Spa & nature Park. ao centro, desafiaram-nos para o bairro alto hotel, mais sabores do chef rui Paula e ainda houve quem nos acicatasse para sul. Sem contestar ru-mámos para o Monte da Vilarinha, uma experiência única cujo maior desafio foi deixar o espaço e re-gressar a casa... não satisfeitos, deixamos-nos ser desafiados a receber experiências da África do Sul e da austrália, sem medo. Quisemos ser revisitados por Fernanda lamelas com o seu desafio de dese-nhar viagens, relembrámos conversas com adriana barreto e, porque o descanso nos é merecido, fize-mos pausa no mobiliário da desafiante Munna con-templando a arte na bloco 103. E tanto mais há nas páginas que à frente se seguem... desafie-se a ler e descobrir cada um dos autores. Quantas vezes recorremos ao verbo desafiar, neste editorial? Desafiamos-vos a contar!

/DirEtorJoão Pedro [email protected]

/EDiçãoPatrícia [email protected] Quaresma Capitã[email protected]

/DirEção DE artEJoão Pedro Rato

/DirEção [email protected]

/colaboraDorES nESta EDiçãoana Tecedeirofernanda Lamelasfilipe CardeiraHernâni duarte MariaMaria PratasMiguel Justino / Bloco 103susana Carvalhosusana GonçalvesTiago Mourão

/FotograFiaJoão Pedro Rato

/iluStraçãofernanda Lamelas sara Quaresma Capitão

/Foto caPaZaha Hadid por steve double

/tiPograFiaLeitura • www.dstype.com

/rEDaçãorua Manuela Porto 4, 3º esq.1500-422 [email protected]

www.mutante.ptwww.mutantemagazine.blogspot.ptwww.facebook/MutanteMag

Mutante é uma marca registada.

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06 move/Opera House • Austrália/Made in Portugal • Conserva/Palácio da Pena • Sintra/África do Sul/Sicília

56 art/Zaha hadid/adriana barreto/Bloco 103 • Tiago Mourão e Ana Tecedeiro

42 unique/bairro alto hotel/Midori

104 experience/Pedras Salgadas Spa & nature Park/Monte da Vilarinha

84 new/Eleutério jewels

16 /desafio /abril/junho 2013

48 trendy/Munna Design

88 today/chef rui Paula/Fragile/Susana carvalho

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THe fins of THeopera house

tEXto E FotograFia filipe cardeira PóS-ProDução jpr

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A Ópera de Sidney é um marco no universo construído,quer na história da arquitetura australiana, quer na históriada arquitetura internacional. Para a maioria dos habitantesde Sydney é impossível imaginar a cidade sem a Ópera quefoi incluída pela UNESCO na lista de Património da Humanidade, em 2007. As “barbatanas” da Ópera de Sydney tornaram-se celebridades arquitetónicas e já muito se escreveu a seu respeito.

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Visitei a ópera de Sydney pela primeira vez em 2008. a ópera foi um dos pou-cos edifícios que estudei como aluno de arquitetura, mas que nunca tinha tido o privilégio de analisar in loco. aguardava ansiosamente por essa experiência.relembro vividamente a primeira vez que me dirigi à ópera de Sydney. as “barbata-nas” podem ser vistas de bastante longe e são indubitavelmente de uma enorme beleza. Mas, se me permitem a pergunta, sabem que materiais foram empregues na construção dessas “barbatanas”?confesso que a construção da ópera de Sydney nunca foi assunto que me pre-ocupasse, até ter tido a oportunidade de a visitar. também não sabia que a ópera tinha sido concebida, como projeto, em meados dos anos cinquenta; além disso, estou tão habituado aos processos cons-trutivos contemporâneos, que nunca me passou pela cabeça que as “barbatanas” da ópera tivessem sido construídas em betão e cobertas com mosaico cerâmi-co, como as fotos bem ilustram.a primeira coisa que me veio à mente foi “mas que método de construção tão arcaico”, especialmente quando o betão é usado à escala da ópera de Sydney, o que parece algo insustentável para um arquiteto dos tempos que correm.Estudei as “barbatanas” em pormenor e fui recordando ter visto estruturas de be-

tão colossais em países sem os conheci-mentos e as competências técnicas para construírem edifícios com tal grau de so-fisticação. Penso que, se a ópera tivesse sido construída hoje, se teria sido usado um processo construtivo completamente diferente. no entanto, e apesar da minha estupefação, causada pela grande expe-tativa que tinha acerca do valor da ópera de Sydney, como marco arquitetónico, consegui chegar a uma conclusão. Estas “barbatanas” foram, provavelmente, de uma enorme complexidade de constru-ção para época. o que é fascinante reco-nhecer é que, embora tivéssemos pisado a lua nos anos sessenta, os avanços nos métodos de construção, sendo o gugge-nheim de bilbau um bom exemplo disso, são conquistas arquitetónicas recentes; eu nunca me tinha apercebido de tal, ou sequer pensado nisso, antes de visitar a ópera de Sydney.Mas há algo mais a dizer sobre as “bar-batanas”, extremamente relevante pa--ra a história da arquitetura, que só depois de visitar o edifício é que tomei consciência. Embora o desenho ousa-do da ópera de Sydney possa parecer desatualizado para um arquiteto con-temporâneo, não nos devemos esque-cer que o local abriu as suas portas ao público no ano de 1973. Desde então, a ópera de Sydney tornou-se num edifí-

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cio icónico que todos nós conhecemos e um dos símbolos mais fotogrados que mais se associam à austrália.Embora Sydney seja considerada por direito próprio uma das mais belas ci-dades do mundo, faltava-lhe um edifí-cio digno de postal ilustrado, que fosse reconhecido em todo o mundo.a harbour bridge era, desde os anos 30, a fotografia turística por excelência, mas foi a partir do momento em que a ópera ficou concluída que Sydney ganhou um postal ilustrado icónico, reconhecido em todo o mundo. E o timing não po-

deria ter sido mais perfeito. Foi nos anos setenta que o turismo se propagou co-mo um vírus no mundo desenvolvido; e as “barbatanas” da ópera de Sydney re-velaram ter o sex appeal capaz de atrair milhares de turistas a Sydney. hoje em dia, a ópera de Sydney atrai cerca de sete milhões de turistas por ano.a ópera de Sydney deixou de ser o de-sastre construtivo de que todos nós ou-víamos falar, para se tornar num marco arquitetónico que atrai como um íman os turistas e justifica uma visita a esta cidade portuária; demonstrando assim

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a edilidades de todo o mundo, como a arquitetura pode impulsionar a eco-nomia de uma cidade. Desde então, têm-se multiplicado concursos de ar-quitectura em todo o mundo, propos-tos por autoridades locais inteligentes, promovendo a construção de edifícios capazes de atrair turistas.o guggenheim de bilbau é um bom exemplo disso mesmo. bilbau deixou de ser conhecida como uma cidade indus-

trial cinzenta, para se tornar num marco na arte contemporânea, atraindo milha-res de turistas anualmente, desde que o museu abriu portas. até o aeroporto da cidade teve de ser melhorado e atualiza-do. o aeroporto, que movimentava me-nos de um milhão de passageiros por ano antes da abertura do museu, chegou aos quatro milhões de passageiros em 2012.Em suma, as “barbatanas” da ópera de Sydney, construídas em betão e cobertas

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por mosaico cerâmico, fazem agora parte de uma cultura global, e é provavelmente irrelevante que tenham sido construídas num material considerado “passe” hoje em dia. a importância da ópera de Sydney e das suas “barbatanas” reside no facto de este edifício ter dado uma contribuição importante no posicionamento de certas cidades como destinos turísticos atra-vés da arquitetura. Por outras palavras, a ópera de Sydney lançou as fundações

para a criação de uma arquitetura arroja-da, tão presente nos dias de hoje.jorn utzon faleceu em 2007. Frank gehry, arquiteto do guggenheim, exprimiu as suas condolências dizendo, “(Utzon) foi um arquiteto à frente do seu tempo”. uma frase que eu não pude deixar de sentir como perfeita quando visitei o seu projeto mais emblemático. d

R www.sydneyoperahouse.com

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Os enlatados que tenho empilhados e organizados por conteúdo na minha despensa não percebem a importância que tême o bem que fazem à economia caseira.

PRaZeR conservado

abrir uma lata não carece de grandes instruções. É fazer magia gastronómica que impressiona qualquer um: o conteú- do está limpo, temperado, está pronto a consumir, nunca teve de passar pelo fogão ou frigorífico e tem uma validade duradoura. Deita-se o conteúdo num prato forrado com pão caseiro, tomate, salsa, coen-tro, manjericão, azeite e alho, vinagre balsâmico ou… com o que se quiser, que nem o céu é o limite. Vai à mesa sem preconceitos, porque hoje as conser-vas já não são alimento marginal como o foram durante algum tempo, aquan-do da invasão dos produtos congelados nos supermercados. no final da década de 70, no mundo doméstico, lembro-

-me que as conservas, os enlatados em geral, eram mercadoria que constava do menu, ou melhor, da lista das férias de campismo.o sector conserveiro veio ascender a curva da economia do país com o au-mento da produção e da exportação e, consequentemente, do seu consumo. as conservas são saudáveis, práticas e económicas para fazer uma refeição que se queira completa.a indústria conserveira anima a eco-nomia portuguesa quando apostou na qualidade e não na quantidade. Portu-gal compete e ganha mercado quando se apresenta com a sardinha ou o atum pescados na costa portuguesa. São os melhores de todas as águas e são as-

made in portugalTexTo e FotograFia maria pratas

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sim há mais de um século. a sardinha é a rainha das conservas, mas há novos produtos que surpreendem qualquer boca que gosta de comer e um chef que goste de desafios. a enguia, o carapau, as ovas de sardinha, o polvo, a truta de aveiro em vinho branco, a muxama de atum do algarve ou o peixe-espada preto de Sesimbra e a lista não termi-na tão cedo. Empratam-se como um produto natural e saudável, pois não tem corantes nem conservantes e está pronto-a-comer, directamente da lata, se não houver preconceito.as marcas são muitas e a qualidade também varia. não é o preço que ga-rante a escolha acertada. há muitas marcas, há muitas conservas e eu (ain-

da!) não conheço nem metade do que existe no mercado. Marcas portuguesas há pelo menos uma dezena e todas são boas. o desafio é provar as conservas, não ligar aos preços ou ao design das embalagens que também é atraente, e há para todos os gostos, moderno ou vintage, mas não será pela embalagem que as conservas saltam da prateleira, no caso, as aparências podem iludir, e como sempre foi, é o interior que me-rece o melhor destaque. d

Para conservar é preciso comer e que sejapor muito mais tempo.

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d’aLMa RoMânTiCa…palácio da penatEXto E iluStração sara quaresma capitão

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há espaços de encanto e encantamento, de amor. há edifícios quase cenográfi-cos de exotismo teatral, revivalistas. há os dois no mesmo espaço físico e tem-poral, onde o real e o fantástico coexis-tem. há o Palácio da Pena, Sintra, que nunca é revisitado o suficiente para a alma se cansar e hoje nele me perco.Se a Sintra coroa tivesse de dar, dar--lhe-ia o Palácio da Pena. não por alti-vo estar, mas por nele tudo concentrar. história longa envolve este Palácio nas- cido de promessas feitas, de glórias con- seguidas e de amor profundo a pátria adotada. uma penha, uma capela, um mosteiro. uma intempérie, uma ausên-cia, um esquecimento. uma redesco-berta, um silêncio e um Palácio. É assim que sinto a sua história.um Palácio que começa lá longe nos tempos de avis, que toma registo numa promessa a capela visitada por Prínci-pe Perfeito; que cresce com chegada da

Índia e uma ordem estimada que mos-teiro ganha das mãos do Venturoso; que se perde com infortúnios do destino de ordens extintas e esquecido no tempo fica; que renasce na quebra do neoclás-sico e se (re)transforma em ex-líbris do romantismo cá e mais além.Se me esqueci de um certo nome? não... bem sei que D. Fernando ii não foi aci-ma falado, mas a falta é assim tão senti-da? não creio, pois se ele é o Palácio, se são uma só identidade; pois se os dois se confundem naquilo que hoje visitamos, o nome do grande amor de D. Maria ii está subjacente. nome que olhando o desafio da memória preserva traças e desenha o novo com emoção desmedida e imagina-ção sem rédeas, porque neste século XiX de fortes travos quinhentistas que hoje visitamos, no natural ou no construído, tudo tem de ser exagerado para ser verda-deiramente sentido, quase um pleonasmo paisagístico-arquitetónico-decorativo.

Que pena a Pena não ser,por vezes, só minha...

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o meu caminho começa no verde pro-fundo, pois não vale ir direto às pare-des que contam e escondem estórias, que homenageiam história, que revivem simbologias, que carregam num só pla-no o ocidente e o oriente, que são com-plexas redes de memórias das nossas aventuras além do bojador. não vale só viver isto. Só as paredes erguidas não nos tornam românticos, não nos fazem ceder, a alma por inteiro, à fantasia, ao sonho. a envolvente, os caminhos a per-correr são, também, cenário de Palácio.tudo na envolvente corresponde na ín-tegra aos valores estéticos defendidos na época. Dominada pela agressividade da paisagem de blocos graníticos que me tornam mínima, o horizonte com mar à vista, pela força da expressão da natureza exótica e sobretudo pelo iso-

lamento: a solidão é estar fundamen-tal do romantismo, fico só. E assim, no topo do ermo penhasco se ergue o en-cantado Palácio com percursos escon-didos pela densa vegetação, com ruínas camufladas por musgo, casas de fan-tasia que, no caminho, parecem saídas do mundo dos sonhos. a isto se rendeu D. Fernando ii, homem apaixonado pelo belo, pela fantasia, pelo mundo onírico.E subo, ziguezagueando sequóias e outros altos verdes. E caminho, mirando sem-pre no cimo as cores fortes da arquitetura que sei de cor: amarelo, rosa e um viole-ta azulejar. Sei de cor a sua localização, a sua área, as suas volumetrias e posicio-namento no verde monte. Sei, de olhos fechados, onde está o cavaleiro que ao longe, protege arquiteturas encantadas D’El rei; sei onde está a cruz que alta vai.

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E chego. E paro. E a cada vez que se vi-sita, a pergunta é sempre igual: como imaginaste tu algo assim? como conse-guiste tu, no meio de tão complexo jogo gráfico, criar algo tão exageradamente diferente, mas belo?Sozinho? não. romântico, mas sensato. ao lado dele, deste arquiteto criativo, a engenharia de Eschwege que lhe sus-tentou o sonho, que lhe deu a estrutu-ra para ser grande. aliança que revela como a engenharia pode abraçar a lou-cura de traços eloquentes carregados de extras, de planos retos que inter-

setam arcadas mouriscas, de memó-rias de tempos primeiros que se unem a memórias oitocentistas, de detalhes medievalistas em equilíbrio com camo-nianos seres, de curvas e contracurvas e pontes levadiças...; como a engenha-ria e a arte de projetar são uma união perfeita, um casamento vitalício.a Pena que hoje persiste, que hoje me encanta a cada novo olhar, nasce de contra cânones, contra normas classi-cistas, não aceita o racionalismo lógico que tanto me rege. É o desafio a, por vezes, não procurar a razão em tudo.

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É projeto que se abriu a um vasto leque de possibilidades artísticas, onde é per-mitido e elogiada a liberdade de pen-samento, o mais emotivo possível; é inspirado em vibrações intensas, redes-cobre a emoção, a luz e o movimento. São remakes de arquiteturas manueli-nas, são neos e originais; são símbolos que nos fazem questionar associações de ideias e azulejos de presenças idas; é

tomar e é belém; é chanterrene e tetos de alfarge; é a Índia no Portugal armi-lar.... É arquitetura que não chega uma visita para decifrar. E é, quase tudo, do sonho dele, das ideias dele, rei-artista que se vestia de Pai natal, que desenha-va, que era homem das artes. É facto, não é lenda e é essência que explica tan-to da entrega eloquente a um projeto de sonho, a um Palácio, ao Palácio da Pena.

e que pena a Pena não ser,por vezes, só minha...

R www.parquesdesintra.pt

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áfrica do sul aTRavessaR

a nação aRCo-íRistEXto E FotograFia susana gonçalves PóS-ProDução jpr

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O desafio não podia ser mais aliciante: percorrer mais de três mil quilómetros, de Joanesburgo à Cidade do Cabo, sem guias nem programas pré-estabelecidos, descobrindo um país singular.

É ao mais movimentado aeroporto de África que chegamos num dia cinzen-to de janeiro. joanesburgo, serve de ponto de chegada e de partida para a aventura. carinhosamente tratada por joburg ou jozi pelos habitantes, a ci-dade é atravessada por inúmeras vias rápidas que encurtam a distância entre vários núcleos urbanos. À medida que progredimos nas estradas, passamos ora por versões modernas das famosas townships (bairros reservados à popu-lação negra durante a época do apar-theid), ora por vistosos condomínios em zonas profusamente arborizadas. umas e outros vedados por muros altos!o centro da cidade revela-se seme-lhante ao clima: cinzento, opressivo.

a triste fama da violência faz-se aqui sentir. Mesmo assim, o bulício que se vive contrasta com o vazio das avenidas despidas de gente nos bairros residen-ciais da periferia, onde impressionantes vivendas e condomínios estão rodeados por muros electrificados e onde todos se deslocam apenas de carro. Dois dias depois iniciamos a descida ru-mo a Durban. a palavra “descida” faz todo o sentido: joanesburgo situa-se a quase 1700 metros de altitude. até Durban, na costa, são 600 quilómetros, em que a paisagem vai das extensas plantações de milho e soja, que alter-nam com terrenos de pasto, ao limite do horizonte marcado pelas dramáticas montanhas Drakensberg.

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viagem de carro de joanesburgo à cidade do cabo

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o poder do futebol

o clima subtropical de Durban torna-a num popular destino de férias. na zona marginal abundam os centros comer-ciais, casinos e parques aquáticos. nas praias os relvados quase mergulham no Índico. já o centro histórico revela uma encantadora mistura de tradição e mo-dernidade, onde os bem preservados edifícios da época colonial convivem pacificamente com arranha-céus. Em época de campeonato africano de Futebol, não resistimos a assistir a um jogo entre a equipa da casa e a selecção de angola. Entrar no Moses Mabhida Stadium em dia de jogo é, simplesmen-te, uma festa. o futebol não é o despor-to nacional da África do Sul, que prefere o rugby ou o cricket, mas os africanos

vivem-no com uma alegria que conta-gia, mesmo quando a sua equipa está a perder! num país onde as diferenças étnicas ainda se sentem com invulgar intensidade, é gratificante ver que ne-gros, asiáticos e brancos não resistem ao apelo do futebol e torcem em unís-sono pela sua selecção. nas bancadas do estádio, quando todos celebram em comunhão mais um golo dos “bafana--bafana” percebe-se o quanto é extra-ordinário poder do desporto!

Planície com plantações na estrada n3 • entre joanesburgo e durban

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câmara municipal de durban

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Port Elizabeth, a “cidade ventosa”, tem um clima ameno e praias agradáveis, enci-madas por bungalows de madeira. o am- biente é mais descontraído, com ruas e esplanadas cheias de gente até mais tar-de. É por aqui que decidimos fazer a tra-dicional visita a um parque natural, aka safari, no Parque nacional addo Elephant, um dos mais conceituados e o único onde podem ser avistados os “big 7”.

Para a etapa final, até à cidade do cabo, está reservada a maior surpresa: a gar-den route. a estrada costeira, traçada num território que inclui florestas mile-nares, lagos e baías de sonho, montanhas e desfiladeiros. Vale a pena explorar as imediações: o Parque nacional de tsitsi-kamma, a cidade de Knysa; Wilderness, na foz do rio Kaaiman… cada desvio es-conde segredos de uma beleza intensa.

Vida selvagem e a “estrada jardim”

em modo safari • addo elephant park

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finalmente, Cidade do Cabo

a cidade do cabo respira um ambiente boémio e descontraído. o centro históri-co, para calcorrear a pé, permite desco-brir a cada esquina edifícios com história, feiras de artesanato coloridas, memórias dos tempos do apartheid… São indis-pensáveis as visitas ao porto de recreio; a bo Kaap, bairro negro onde a população se “vingou” da proibição de vestir rou-pas coloridas pintando as casas de cores berrantes; sentir o “peso” da história no Distric Six. igualmente intensa é a visita a robben island, que abriga a prisão que serviu de casa a nelson Mandela.

Se o vento o permitir, é obrigatória a uma das Sete Maravilhas naturais do Mundo, a famosa table Mountain, formação ro-chosa com o topo plano (tal como mui-tas outras montanhas na África do Sul “esculpidas” por ventos fortes). À emo-cionante subida de teleférico segue--se uma caminhada de duas horas pelo topo, que permite avistar os extremos meridionais do continente, como o cabo das agulhas e o da boa Esperança, lugar de especial importância para qualquer português, que não consegue deixar de emocionar-se face ao padrão que assi-nala a vitória dos navegadores lusos so-bre os maiores perigos do mar.

a morada dos boémios • cidade do cabo

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espectáculo de rua

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À medida que a data do regresso se apro-xima, começamos a sentir saudades do país recém-descoberto: da organização que lhe permite ser produtivo e prati-camente auto-suficiente; dos cenários

surpreendentes que nos remetem para outras paragens tão distantes de África; das milhares de crianças que caminham quilómetros de uniforme impecável pa-ra irem à escola; das aldeias rurais; do

camps bay • a praia das elites

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ouvir falar português nos locais mais inesperados… e da simpatia do povo! um país ainda em evidente processo de reconciliação, do qual se espera que encontre o caminho para o futuro de

forma pacífica, conseguindo ultrapas-sar as mágoas da história e seguir em frente, concretizando o sonho da nação arco-Íris. d

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o espiritual no desenhotEXto E iluStração fernanda lamelas

A Sicília foi o destino escolhido para mais um retirode “O Espiritual no Desenho”. A viagem foi feita com escalaem Roma, onde algumas pessoas se juntaram ao grupo. desenhei alguns pormenores, para iniciar o caderno que nos foi oferecido,e que foi feito de propósito pela Ketta, para este encontro. É sempre uma grande responsabilidade manchar uma folha branca, pelo menos eu sinto isso…

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aterrámos em catânia e, com o grupo completo com o cláudio e a Maria, italia-nos a viver na Sicília, dirigimo-nos para Sávoca, já de noite. Sávoca situa-se a sul desta ilha italiana, perto do estreito de Messina. Eleva-se 330 m acima do mar e é através de estradas sinuosas que chegamos ao nosso destino, um antigo mosteiro dos capuchinhos.instalámo-nos, e fomos jantar. Fiquei em frente ao Mário linhares; ele disse que me ia desenhar, e eu fiz o mesmo.ao longo destes três dias iremos ser

confrontados com vários temas que nos farão pensar, desenhar, e iremos parti-lhar com o grupo as nossas experiências.

Primeiro tema: apresentaçãoEm duas páginas devíamos fazer uma mancha com aguarela, que simbolizas-se aquilo que esperávamos do retiro. Esse desenho iria (ou não) ser comple-tado depois, quando sentíssemos que era chegado o momento.Fiz a mancha, o desenho ficou por aca-bar. Só no final o revelarei...

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Segundo tema:a temperatura do desenho não podemos ser mornos,temos que procurar a nossa nota......mas eu sou todas as notas…… ou quase todas…

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sa Filipe. o objectivo era cada um de nós desenhar como o outro faria, escolhendo o tipo de caneta, de local, de abordagem.no primeiro desenho eu desenhei como ela desenharia. Ela escolheu (e eu aju-dei…) o teatro romano, mesmo no alto, onde a vista é deslumbrante com o mar e o Etna ao fundo. Desenhámos com ca-neta fininha castanha Pentel. como tinha duas, no final ainda ganhei uma caneta nova. no segundo desenho, foi o inver-so. Percorremos as ruas de taormina, em busca de pormenores de arquitec-tura. Queria encontrar uma perspectiva de uma rua, com as casas, mas a noite caiu e começou a ficar frio, e optei por uns pormenores mais simples e mais rá-pidos! caneta preta uni-ball eye micro, eu também tinha duas, e desta vez pude ser eu oferecer uma caneta nova. gostei muito de me transfigurar, embora tenha sido uma pequena transfiguração, pois a teresa é bastante parecida comigo na forma de desenhar! E também gostei de a conhecer um pouco melhor...Fomos as últimas a entrar no autocar-ro para regressar, porque estivemos a comprar produtos típicos, onde estão incluídas as alcaparras salgadas e doces à base de amêndoa. E foi assim que se passou mais um dia em cheio!

terceiro tema: a barriga da baleia Fiquei 3 horas na “barriga da baleia”, simbolizando os três dias de jonas. Es-colhi o local, sentei-me, observei, fui paciente, desenhei a preto e branco, ao detalhe, como se tivesse muito tempo, como se fosse lá estar mesmo três dias…

Quarto tema: aspirai às coisas do altoDurante o caminho no autocarro, o bos-co, que é professor de ciências, deu uma aula acerca dos vulcões. Ficámos a sa-ber que este é “efusivo”, quer dizer que é bom. os “explosivos “ são os piores, e ainda há os… etc, etc. Foi muito interes-sante. Depois de uma quase escalada de 1h 15m, com fantástico espírito de entre-ajuda do grupo, nomeadamente no que me diz respeito, pois mal podia comi-go, chegámos ao cimo do monte mesmo em frente ao vulcão. a vista era deslum-brante, o sentimento de ter conseguido deu-me uma enorme alegria. Depois o desenho do Etna. Só podíamos usar aguarela, muito leve… Foi o que fiz. Es-te foi um dos temas que mais me tocou, que mais me fez e tem feito pensar...

Quinto tema: a transfiguraçãoEm taormina fizémos um sorteio, e de-senhámos dois a dois. Fiquei com a tere-

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a comida, ao jantar, depois de tanto exer-cício físico, soube mesmo muito bem!

Sexto tema: o desenho tem perdão? Domingo de ramos, a igreja do mostei-ro preparava-se para a celebração da missa. Descemos às catacumbas, por baixo da igreja, onde estavam múmias embalsamadas, le mummie di Savoca. no início foi um choque. Depois, sem palavras, desenhámos apenas.

Sétimo tema: o isco ou o anzol? objectivo: Fazer algo que não faríamos à partida. Surpreender, ser surpreendi-do. Procurar sinais de Primavera…

tarefa difícil com o frio que se fazia sentir nesta tarde de domingo. Procu-rei inspiração, procurei primeiro o calor e conforto do café… bebi um capucci-no, desenhei os doces típicos. Mas tinha

que seguir viagem… a estrada que sobe para Sávoca tinha--me fascinado desde o primeiro dia, a sua forma de serpente, como dizia a Emília. Desenhei a aguarela apenas, al-go que não costumo fazer. Depois se-gui sem rumo, até que achei que era o momento de completar a mancha que tinha feito durante o jantar da chegada ao retiro.com a caneta castanha que a teresa me tinha oferecido, desenhei uma ár-vore sem folhas, à espera de renascer. Quando a minha caneta estava no ramo mais alto, um passarinho pousou, fiquei contente: já tinha a minha primavera!Desenhei depois a silhueta da città, a permanente relação entre as casas e a natureza, as verticais que descem até ao mar. agora já ao pé do Miguel, um dos companheiros desta viagem.o frio obrigou-nos a voltar a casa! d

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bairro alto hotelUM QUaRTo CoM visTa

soBRe a CidadetEXto patrícia serrado FotograFia bairro alto hotel

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A fusão do novo com o antigo. A influência do exotismotrazido de novos mundos outrora conquistados cruzadacom a contemporaneidade de outras nações. O reflexodo equilíbrio perfeito no retrato atual de um espaço que habita entre o boémio Bairro alto e o cultural Chiado. o nome: Bairro alto Hotel.

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R www.bairroaltohotel.com

Para sempre abraçado à arquitetura tradicional portuguesa, aquela que já foi a casa do afamado grand hotel de l’Europe, o bairro alto hotel foi o pri-meiro boutique hotel de cinco estrelas no país. testemunho de um passado repleto de glamour, meticulosamen-te retratado nos materiais originais e na aplicação de vários estilos, desde as peças de mobiliário aos tons eleitos pa-ra os quartos, aos frescos – um pássaro diferente, pintado à mão por um artista local em pontos diferentes das paredes dos espaços reservados à intimidade de cada hóspede. todos com vista sobre a cidade. nas suites, o trendy é moda e as cores são inspiradas numa lisboa apai-xonada, com o amarelo dos carros elé-tricos, o marfim do linho, o azul do tejo e o vermelho dos telhados de uma urbe

cheia de cantos e recantos por explorar. nas águas furtadas, os aposentos são adornados pelas guaches de Virgínia Mota e por fotografias de nuno cera – o universo das artes com cunho nacional. Subimos ao terraço. o convite ao des-canso é aceite com agrado ou não fosse a vista o retrato de um rio e uma cidade resplandecentes num final de tarde so-alheiro. ou… descemos ao café bar ba para uma bebida antes do repasto? tal-vez a Mezzanine, a sala privada suspen-sa sobre o café bar ba, com uma vista mangífica para a Praça luís de camões, para ler aquele livro. Finalmente janta-mos no Flores do bairro, o restaurante do hotel que não deixa de surpreender os mais exigentes comensais. Que tal?

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midorifoR sUsHi LoveRstEXto patrícia serrado FotograFia joão pedro rato

a parede envidraçada oferece o enqua-dramento magistral para uma paisa-gem dominada pelo verde da serra e as cores vivas do jardim. Perfeito para um almoço descontraído ou… um encontro inesperado em Sintra num espaço ele-gante e intimista, dominado pelo tons da terra, com três privados, reservados a momentos especiais. Mas falemos da comida, da gastronomia japonesa apre-sentada em carta e em menu assinados pelo chef Pedro almeida. Para o repas-to propomos as variedades de sushi e

sashimi, teppan ou de frios. uma verda-deira provocação ao sentido do gosto e uma tentação ao olhar, sobretudo para quem experimenta a cozinha nipónica pela primeira vez. aos que desejam vol-tar, o buffet Sushi lovers, às quartas, ou o Midori buffet, aos sábados, são uma escolha difícil. agora só falta o nome: Midori, o discreto restaurante japonês do Penha longa hotel. a experimentar!

R www.penhalonga.com

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munnadesiGn de eMoção...tEXto sara quaresma capitão e munna FotograFia inês d’orey

nasceste em 2008 e logo levantaste voo galático. a tua frase foi qualquer coisa como houSton we do not have a problem, por isso lEt’S PlaY uma dança das cadeiras. Dizem que foi um início de voo MElloW (de doce)... nem poderia ser de outra forma. Quando se é criada para o mundo, há que abraçá-lo de bra-ços abertos e mente desperta. Fui criada com o objetivo de me tornar uma refe-rência internacional do design. acreditei em mim, no projecto em que me delinea- ram. apresentei-me, pela primeira vez, em 2008, em londres, onde premiaram uma das minhas criações como peça do ano 2008. aí percebi que tinha tudo o que precisava para ir mais longe. Evoluí e tenho feito a diferença, a mesma a que me propus assim que levantei voo.

caPricE

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candeeiro de mesa turner

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no teu nome carregas magia e poder. Foste à cultura hindu buscar o teu no-me. rimas com luna. a lua só poder ser a tua MuSE. confessas? confesso de-sejar a excelência. o trabalho é o meu companheiro de viagem. Partimos, no início, com o pensamento no oriente longínquo. Em hindu, o meu nome sig-nifica desejo e, em árabe, excelência. Estas são as minhas bases. E o obje-tivo é claro. criar peças de design que representem a ideologia que para mim traçaram: criatividade, excelência, ins-piração e fantasia. Só trabalho artesa-nalmente, no Porto, por via das mãos que imprimem no seu trabalho uma marca de paixão e qualidade, com to-do o detalhe necessário. a atenção aos pormenores faz deles meus confidentes. confesso, sim.

ao sabor do tempo cresces, colocas um liPSticK e dizes ao mundo looK at ME, sem medo, porque estás confiante do teu poder de encantamento e... Sento--me. levanto-me. jogo um pouco ao hiDE’n’SEEK e chego sempre a uma mesma conclusão: o teu encantamento existe porque tu és de essência FEMina. YES no [or] MaY bE So? grandes mulhe-res… Sabes o que são, quem são? São aquelas que vão mais além dos limites da própria essência. Eu, Munna, tenho a graciosidade das divas e a força das heroínas e é por isso que olho em fren-te. Sempre olhei. E aventurei-me. Sem arreios, derrubando preconceitos e de bandeira em punho. Verde e verme-lha, nacional, além fronteiras, levando mais longe o nosso nome. o saber fazer português deu-me asas e a criativida-de que designers, artesãos e todos os outros elementos da minha equipa im-puseram diariamente fez o resto. agora posso viajar, chegar e dizer Munna.

You & ME

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a essa essência tenho de adicionar os teus nomes são sempre qualquer coi-sa de canDY ou cutiE. São românticos e fazem-nos relembrar deixas como You’n’ME saídas de um clássico como johnny guitar. Fazem-nos render ao teu design que diz, entre os detalhes e os acabamentos de excelência, bE Mi-nE. És uma eterna romântica... chama-rem-nos por algo maior do que o nosso próprio nome é especial. E é isso que fazem comigo… ao nomearem todas as minhas criações. o romantismo faz par-te. Mas abandono o óbvio. cruzo ideias e design e confiro-lhe identidade, por-que o compromisso com algo, alguém, é sempre a base do que ser construir maior, melhor. ter uma personalidade faz-nos diferentes, maiores e melhores.

E não fosse o romantismo um reviver da história, todo ele carregado de ecletis-mos de patrimónios, e tu não terias uma joSEPhinE e uma hEritagE. É com no-mes destes que me confirmas que em ti é a história da manufactura, da tradição dos artesãos que te fazem única, dife-rente in bEtWEEn tanta oferta no mun-do do design... e cereja no topo do bolo a histórica ópera la bohÈME. a meta é Munna, mas o ponto de partida é o mundo. gosto das correntes históricas… Estudo e gosto. Fundo o design Moderno e o clássico numa corrente transcen-dente, intemporal, muito mais de sem-pre do que de ontem ou hoje. amanhã, sim. Ser menos não é ser Munna. cutiE

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Fazes uma história SoFt anD crEaMY no universo do design de produção na-cional. És uma lolita acompanhada de um louiS e de um MonSiEur t. Primas pela excelência dos acabamentos, pelo requinte dos materiais, pela passagem da memória dos artesãos e... há algo que escondas que não me deixas ver por detrás dos teus veludos? as páginas do que fomos indicam o que seremos, mas sou mais livre do que isso. construí-me Munna assumindo o compromisso de ir mais além. E a produção manual em que me idealizaram permite-mo. cada pedaço de tecido reveste o meu interior repleto de sonhos, qualidade e emoção. ofereço a possibilidade de personalizar a maior parte dos acabamentos das pe-ças e toda a sua natureza. ao chama-rem-me sabem que estarei à altura. Sabem sempre onde e como estou. E sabem para onde vou.

Para ti, design de la luna, o desafio de novos designs é teu caPricE, não vi-ves sem ele, assim sendo, peço-te que, com a cabeça na lua, nunca deixes sur-preender... o repto é natural em mim. E permanente. Ser quem sou é dese-jar. Sempre. E em breve vou mais além. Sempre. d

MonSiEur t

R www.munnadesign.com

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Zaha hadidCeRTeZa do iMPossíveLtEXto sara quaresma capitão

maxxi / roMa / itÁlia / 1998-2009FotograFia iwan baan

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concentro-me.

tornou-se inata. Existe, coexiste, é es-sência sem se ver. É esta primeira leitura ao trabalho sui generis da arquiteta na-tural de bagdad; a primeira dedução que retiro da leitura do seu percurso, do olhar atento ao trabalhar da forma impossível, dos planos torsos, das curvas que levi-tam de forma natural, sem esforço.na paisagem, quase sempre urbana, ela cria dinâmicas revolucionárias, con-trastantes, audazes e, simultaneamen-te, fluidas, permeáveis, leves, que nos fazem questionar a razão da ortogona-lidade, que são o desafio a newton no jogo de planos paralelos, oblíquos, de frente ou de nível. cria uma arquitetu-ra tantas vezes apelidada de futurista, mas será que se pode ser futurista se se existir desde ontem e hoje? ao seu percurso de obra feita, vou chamar-lhe avant-garde com adjetivação futurista. Seja ele construído, conceptual, arqui-tetónico, urbanístico ou no design, ou ainda como sapiente lente da arte de projetar; numa mão cheia de talento, resultado da contínua experimentação de tecnologias de ponta e… Dou um passo atrás. Vou chamar-lhe avant--garde com ideias de futuro visionárias.

Penso nas primitivas ocultas que me ajudam a calcular áreas, conceptuais ou não, penso nos logaritmos que tantas vezes cruzaram os meus papéis. Penso nos vetores que me indicam direções, nas coordenadas que me situam no es-paço, penso nas formas que sonho de-senhar e no x, y e z que me dão o real.após esta mão na consciência, vejo o percurso de Zaha hadid como algo na-tural ou lógico. começa por ingressar no curso de matemática e depois, e só depois, ruma para arquitetura. a segu--rança da geometria analítica, aquela que Descartes nos ensina, que permite a manipulação de equações para criar planos complexos, aquela que percorre os projetos de Zaha hadid e que quase não nos lembramos que tem de existir,

sento-me.

maxxi / roMa / itÁlia / 1998-2009FotograFia roland halbe

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Uma arquiteta que é uma constante Odisseia no Espaço.

galaxy soho / PEQuiM / china / 2008-2012FotograFia iwan baan

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conhecendo os seus projetos, pela insaciabilidade que o mundo da arquitetura exerce em mim, tenho mão consciente e não caio na ten-tação de os descrever um a um, de me perder em palavras caras ou-sando analisar as suas obras mais significativas. tenho antes de en-contrar um máximo, ou mínimo, denominador comum e nele me focar e “na paisagem, quase sempre urbana, ela cria dinâmicas fluidas...”. Pelo mundo tem projetos que rasgam a paisagem, procurando na geografia dos rios e dos terrenos linhas que lhe conduzam

o traço, que orientem e justifiquem volumes. na malha das cidades vê pontos de fuga, nos

perfis agarra planos orientadores e na história sustenta um complemento para o seu futuro.

Desenvolve projetos com uma complexidade estrutural, formal e estética, sem par. Deli-

neia projetos que começaram a respirar em 1993 no corpo de bombeiros Vi-

tra, na alemanha, com um simples plano aguçado, que se tornou a

denuncia de algo futuro. Foi como uma primeira edi-

ção da gramática hadid que, em 2004, viu

a sua genialidade reconhecida com

mais alto prémio da arquitetura re-

cebendo o primei-ro Pritzker entregue

a uma mulher...galaxy soho / PEQuiM / china / 2008-2012FotograFia iwan baan

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gangZhou opera house / gangZhou / china / 2003-2010FotograFia christian richters

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Entre tantos outros reconhecimentos.Sinto, em Zaha hadid, uma quase cer-teza do impossível ser possível. Do de-safio nunca recusado ou temido, e do impossível desafiado. Miro o reflexo de uma obra pautada no equilíbrio entre o construído e o conceptual, com nome lapidar no universo arquitetónico. Vejo um modo de vida, um estado natural de um mundo cartesiano e...agito tudo. Vejo na arquitetura a ciência das artes, num jogo intenso de núme-ros, fórmulas e geometrias que, tantas vezes, atingem no meu olhar o grau

superior de obra de arte. tomo cons- ciência vaga daquilo que raramente me lembro, que a matemática vive em cada traço desenhado da arquitetura, em ca-da plano projetado. Porque aquele seg- mento de reta que se traça é a distan-cia mais curta entre dois pontos, num mesmo plano. d

R www.zaha-hadid.com

gangZhou opera house / gangZhou / china / 2003-2010FotograFia iwan baan

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68 art FotograFia antónio caetano

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adriana barretoo CoRPo Pode TUdotEXto patrícia serrado

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o corpo como um todo. a afirmação per-manente do ser humano. a carga psi- canalítica dos movimentos reveladas nas marcas que perpetuam no tempo. recordações cravadas na alma. recor-dações que atropelam a parte física. Deslocações no espaço e no tempo – ou no não tempo – que seguem as mar-cações desenhadas no chão e assim permanecem. Para trás, ficam as ações corporais, efémeras… num cenário re-tratado pelo domínio da dança, pela po-ética do ritmo que emerge no campo das artes visuais. a interação com o outro, o desencadear de sucessivas mutações na forma como os braços e as pernas, as mãos e os pés, o tronco e a cabeça se mexem. assim é “o que pode o corpo”, a mais recente performance de adriana barreto, inspirada na célebre frase do fi-lósofo holandês baruch Spinoza.

FotograFiaS thales leite

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“É o próprio trabalho que me inspira” adriana barreto, nasceu no rio de janei-ro, em 1949, onde vive e trabalha. Des-de cedo descobre o amor à arte. “Tinha uma artista dentro de mim.” E de dentro surge a paixão eterna pelo ballet, pe-la dança, pela coreografia, pela perfor-mance. Pela pintura, pela escultura, pela fotografia, pelo vídeo. “Sou vítima do meu trabalho. É o próprio trabalho que me inspira.” o começo flui com o pen-samento, a organização das ideias. o conceito começa com a escrita. Mas é o “fazer”, a performance, o que “mais in-teressa”.

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outra vez o corpo. “Gosto da par-te física, de mexer nas texturas, de perceber, de sentir…” a exímia mes-tria da escultura atravessa a ponta dos dedos e preenche a palma das mãos de adriana barreto, que retoca, com zelo, a peça em barro puro, moldável. “Há aqui um trabalho desenvolvido a partir da essência de Bordalo Pi-

FotograFiaS joão pedro rato

nheiro” com o objetivo de “pegar no material do artista e dar-lhe conti-nuidade”. um legado português com sotaque brasileiro que decorre no âm-bito do projeto bordalianos do brasil, criado pela Faianças artísticas bordalo Pinheiro, das caldas da rainha. Porque “Bordalo Pinheiro fez uma grande obra.” d

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TexTo hernâni duarte maria

desafio de ReaLiZaRUM fiLMe, o que é isso?

res, prevalecerá para o bem e para o mal.a organização da rodagem de um filme poderá ser complexa ou, até mesmo, simplifica, dependendo dos projectos de cada realizador, dos apoios inerentes ao filme, quer seja de nível mais ama-dor, quer seja de nível mais profissional; não existe qualquer distinção entre es-tas duas vertentes, pois, o que prevale-ce, é a história, os elementos técnicos, a equipa técnica, os actores.além disso é necessário ter o deno-mindado olho artístico, a tal referência a um determinado realizador, que as-sociamos aos seus filmes realizados, à sua carreira; um capitão que leva o seu barco a um porto de abrigo.Existem um conjunto de desafios ine-

um realizador de cinema, quer seja pro-fissional ou amador, tem como objectivo essencial esse desafio tremendo de rea-lizar um filme, quer seja no formato cur-ta metragem ou longa metragem; eles, através da sua visão e da sua objectiva (lente), tentam criar ou – criam mesmo – uma visão global do seu objectivo ar-tístico, o filme, o de contar uma história. Esta é uma das essências da realização cinematográfica, a visão do realizador.através do olho do realizador, a super-visão do filme, da rodagem e de todos os elementos inerentes a um filme estarão intrisicamente ligados ao realizador. É ele o timoneiro do filme. através da história de um guião adaptado ou da história ori-ginal, a sua visão, enquanto realizado-

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rentes à realização cinematográfica, e o realizador é o seu condutor. não falo dos egos de alguns, mas sim na simpli-cidade e humildade em realizar um fil-me, mesmo com todas as dificuldades conhecidas. Essa será a permissa, em-bora este esteja pressionado por este ou aquele estúdio, por esta ou aquela estreia, etc. o objectivo essencial será realizar o filme, contar a história.o desafio de realizar um objecto artísti-co, neste caso um filme não pode estar ligado a eventos sociais de espécie algu-ma, a passadeiras vermelhas, ao apare-cer nas fotos nas revista dedicadas aos eventos sociais e, até mesmo, a revista técnicas sobre cinematografia. o essen-cial reside num aspecto simples, directo,

a que muitos estão esquecidos: o filme, o de contar a história e o de mostrar esta história numa sala de cinema, numa sala escura, até – digamos – obscura, no si-lêncio, a ver e a ouvir… o filme é isto… E o regozijo para um realizador é mostrar o seu produto final, o seu filme na tela, no escuro, no bafio de um velho cinema, com fumos… cheiros que perduram pa-ra a eternidade… e termino com a frase do realizador David lynch: “…as ideias são como peixes. Podemos encontrá--los à superfície das águas, mas lá em baixo, nas profundezas, é que eles são maiores. E sabem qual é o principal is-co para os apanhar? O desejo. Temos de desejar as ideias. É o desejo que traz cá para cima esses peixes graúdos.” d

still frame do filme de david lynch eraserhead 1977, na foto david lynch e jack nance no set da rodagem© www.davidlynch.de/eraserdestroy.html

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BLoCo 103 ConTeMPoRaRy aRT LisBoapaisagens improváveisExposição de ana tecedeiro e tiago Mourão21 de março a 12 de maio de 2013

ana tecedeiroMilagre 1Bordado s/gravura encontrada23,5 x 33 cm2012

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tiago Mourãosérie Paisagens improváveisÓleo s/cartão20 x 24 cm2012

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a memória é um dos elementos fulcrais no trabalho de ana tecedeiro, construí-do por inúmeros registos, que envolvem e evocam o quotidiano. Esta recolha ou apropriação, relembra o olhar pueril de uma criança, atento, curioso e desprovi-do de resistência. Embora este olhar pos-sa parecer ingénuo, concentra em si uma significação profunda, remete-nos para lugares e experiências passadas, não obs-tante, tem o poder de as reformular. o seu trabalho possui uma grande versatilidade, não só em termos técnicos, assumindo diferentes abordagens, como uma extra-ordinária coerência formal e conceptual.

a apropriação está bem patente, tanto nos seus trabalhos bidimensionais, nos quais a introdução de certos elementos provocam uma reconstrução pensada que subverte os elementos puramen-te visuais e pré-adquiridos, como na construção tridimensional, em que ana tecedeiro concentra, circunscreve e deposita objectos, entre cubículos ou caixas de madeira, e estes assumem uma vivência própria, concentrando em si reminiscências de um passado onde o espectador se revê e revisita, mas ao mesmo tempo reconstrói os diferentes espaços e os concentra num só.

Tiago Mourão escreve sobreo trabalho de ana Tecedeiro

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a pintura de tiago Mourão constrói en-tre ausências. Estas paisagens já não são desertas, mas estão ainda cheias de silêncios. insistindo num olhar mais inquiridor, distingo a presença de três forças que se tensionam mutuamente:

os objectos construídosnão importa se são tendas, prédios ou mesas de ping-pong. Valem pelo que são em si mesmos, impõem-se segundo leis próprias. apesar disso, escapam-se para os territórios do mistério quando os questionamos: para que serve, o que é, qual a sua verdadeira dimensão, será habitável, será confortável?

o construtor não há nestas pinturas vislumbre de presença humana. a humanidade ou

já partiu ou tardará a chegar. o único ser que por ali andou foi o pintor/ar-quitecto obsessivo e rigoroso. não está representado, mas sentimo-lo. ainda ali está. como se nos olhasse enquanto observamos as suas paisagens.

a atmosfera Presença soberana no vazio primordial que o artista/construtor povoa de vo-lumes. a atmosfera tem poderes que escapam ao controle do pintor. Ele sabe que também ela é criadora, geradora de sombras, de luzes, de efeitos cromá-ticos. Que não lhe podemos seguir as arestas ou contornar-lhe os planos, que as suas regras são outras. respeitá-la é dar-lhe espaço e dar-lhe poder sobre o espaço. É a imaterial, indomável, pode-rosa co-habitante destas paisagens.

ana Tecedeiro escreve sobreo trabalho de Tiago Mourão

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tiago Mourãosérie Paisagens improváveisÓleo s/cartão20 x 24 cm2012

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ana tecedeiroSei como te sentesbordado sobre gravura encontrada25 x 33 cm2013

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a galeria surgiu no final de 2011, num momento já conturbado do país e das artes: galerias e publicações ligadas à arte a fechar, mercado em contracção. Mas decidimos arriscar, sabendo que uma galeria não se constrói num mo-mento, mas ao longo do tempo. tínha-mos disponível um espaço fantástico numa zona nobre da cidade, mesmo em frente ao hotel ritz. Pessoalmen-te, o meu contacto com a pintura ad-vém das minhas raízes, através do meu

sobre a Bloco 103

R www.bloco103.com

rua rodrigo da Fonseca, 103

1099-074 lisboa

de 3ª a 6ª feira / das 13h às 19h30

Sábado das 15h às 19h

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pai, o pintor justino alves, o que me permitiu ao longo da vida frequentar a Escola de belas artes, museus, gale-rias e, sobretudo, manter uma contínua proximidade com pintores e com a sua praxis. E é neste conceito de proximi-dade e conhecimento dos autores que a bloco103 se revê e distingue. Partin-do de um conceito eclético, propomos uma atenção permanente atenção aos actos criativos, optando por aqueles que constroem uma identidade pró-

pria, abarcando distintas áreas técnicas e processos de realização. não tenho uma visão minimalista, concêntrica da arte. como em muitos outros campos há distintas linguagens que inspiram e nos retêm. a bloco103 procura autores que realizem e assumam um caminho próprio, tenham eles 70 ou 20 anos, projectem o gestualismo ou a figuração. São os actos e a coêrencia dos mesmos que traduzem e ampliam o seu signifi-cado. E aí reside o poder da arte. d

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eleutério jewelsa TRadição ReinTeRPReTada

tEXto patrícia serrado

a filigrana

a arte de um ofício delicado assente numa tradição longínqua. Saber refina-do de artesãos na feitura de sumptuo-sas peças de alta joalharia concebidas com paixão. a mestria de um trabalho assente na ponta dos dedos. Enlaçar, justapor, puxar, envolver… o trabalhar com minúcia os finíssimos fios de ouro. De lupa e pinça na mão. no coração do Minho. no norte de Portugal.

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Património de excelência

o dom persiste no tempo, na casa por-tuguesa Eleutério jewels. o reflexo das memórias de um saber fazer com reinter-pretações marcantes para um património de excelência; de um aliar a tradição do passado às exigências do presente; de um fundir do método artesanal com o design gracioso e romântico. resposta dada às novas tendências em consonância com a primazia dos contrastes — ouro branco / ouro preto / ouro amarelo / ouro rosa – e a percursão no casamento da filigrana com as pedras preciosas.

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ofício de homem livre

nos bastidores conta-se a história de uma família com tradição na arte de enlaçar, ofício da casa Eleutério, um nome que de-riva do grego com um significado muito especial: “homem livre”. E é esse o espíri-to presente nesta descedência dedicada à liberdade, à criatividade e à mestria.o início data de 1895, em travassos, no Minho, onde os segredos da ourivesaria artesanal passam de Manuel joaquim antunes para o filho, Eleutério antunes que, três décadas depois abre as portas da oficina na célebre “aldeia do ouro” (travassos), um passo importante pa-ra a Eleutério jewels na criação de pe-ças trabalhadas com arrojo. realidade testemunhada pelo filho, joão antunes que, em 1975 assume o controlo de um legado da alta joalharia da família.

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Paixão pela joalharia

hoje, os irmãos rosa e luís antunes re-presentam a casa Eleutério. nas mãos detêm a missão de criar peças únicas e intemporais de alta joalharia enraizadas na delicadeza artística da filigrana. Ver-dadeiras obras de arte de alta joalharia reveladoras do amor pela arte do deta-lhe e pela conjugação das técnicas de artesãos com as tecnologias de suporte; da paixão pela cultura oriental, inspira-ção para muitas das peças dotadas de delicadeza enraizada no ofício ancestral da filigrana. jóias que conquistaram a inglaterra, a Polónia, os Estados unidos, Moçambique e angola. Próximo destino: a rússia. no percurso, fica o registo na junwex, em S. Petersburgo, na inhor-genta, em Munique; bem como, o re-gresso a londres para o jewellery Show, seguido do international jewellerye, tel aviv, o ijl, novamente na cidade ingle-sa, e o junwex, em Moscovo (2013). d

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olfato. Visão. Paladar. tato. audição. os cin-co sentidos são servidos com ousadia à me-sa de um chef portuense, autodidata, que preserva na memória, de forte inspiração tradicional, os sabores e os cheiros de ou-trora, de uma infância passada, de tempos a tempos, na casa de família cheia de gen-te, em alijó. o concelho douriense que, em 1994, assiste à abertura do seu primeiro restaurante de nome cêpa torta. Sequioso de saber, aperfeiçoa a arte de cozinhar com outros chefs e, mais tarde, casa a comida e o vinho com a paisagem, com o Doc, nas margens do Douro, onde os saberes conju-gados com uma criatividade refinada e uma experiência sensorial convergem na criação de dar prazer ao palato dos comensais – o que é bem verdade –, fundamento alinhado com o DoP, ponto de paragem obrigatória no Porto, e no Vidago Palace hotel, no Vidago, no qual é chef consultor. Falamos, claro está, de rui Paula, que trouxe os sabores do norte, fechados num menu soberbo, até ao terraço do tivoli lisboa, “um hotel emblemático no nosso país”.

chefrui pauladeGUsTaR

CoM oUsadia

tEXto patrícia serradoFotograFia joão pedro rato

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o percurso dos sabores do norte cedo despertaram curiosidade no rui Paula. a minha família tinha uma quinta. logo, havia muita gente para comer. os tra-balhadores da casa, os convidados dos meus avós, dos meus pais… cozinhava--se muitas vezes lá em casa e eu sempre gostei muito de estar na cozinha, com a

minha avó, a minha mãe… Era o lugar da casa onde comíamos – era muito grande, com um forno a lenha enorme. Portanto, cresci neste ambiente dos sabores… até que abri o primeiro restaurante, de cozi-nha tradicional, onde apliquei tudo o que aprendi naquela cozinha.

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caminhemos pelas reminiscências do chef. Que sabores, cheiros e textu-ras se recorda dos tempos de menino? Dos enchidos, do cheiro dos legumes frescos. Saber o que é verdadeiramen-te bom. tenho na memória o cheiro do caldo do feijão, da cevada, das carnes, da salgadeira… cheiros e sabores que, hoje em dia, é muito difícil de encontrar. E quando encontramos o mais aproxi-mado, o que nos faz lembrar desses tempos e nos faz sorrir temos, à partida, de aproveitar para trabalhar. a memória é a minha principal fonte de inspiração.

Na minha cozinha está semprepresente a gastronomia tradicional.

autodidata, rui Paula não quis sair da cêpa torta; pelo contrário, abriu as por-tas de um restaurante com este nome.Quando percebi que era esta a carreira que pretendia seguir passei para o cêpa torta. cinco, seis anos depois de abrir o restaurante, comecei a confecionar pratos com os chefs e, para evoluir e aprender as técnicas francesas, que ainda hoje admiro muito, tive de me

formar e atualizar com as pessoas cer-tas. Mas na minha cozinha está sempre presente a gastronomia tradicional. Es-tá sempre presente o sabor. não admito que a comida não tenha sabor.

agora falta explicar o porquê do nome: cêpa torta. o nome provém da cêpa de vinho; torta, porque são todas tortas. Queria um nome curto para o restau-rante; que ficasse facilmente no ouvido. Foi o meu primeiro negócio. contei com as ajudas do meu avô, do meu pai… não podia falhar. a criatividade não era ar-rojada, contudo, servia a comida com uma apresentação diferente do habi-tual, em faiança. Era tal e qual como a minha avó fazia. Seis anos depois é que comecei a confecionar pratos contem-porâneos, a aplicar produtos que não os nossos… não acredito nos chefs que não saibam fazer comida tradicional. Quem vive ou é de um país com tradi-ção gastronómica tem de saber fazer a comida tradicional do seu pais; fazer tal e qual como uma senhora de 80 anos – que saiba cozinhar muito bem – o faz. Só quando se sabe tudo é que vai cozi-nhar alguma coisa.

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De inspiração tradicional e regional, a sua cozinha acaba por embarcar nu-ma viagem pelas memórias “com uma roupagem moderna”. alguns pratos são mais tradicionais, outros têm uma rou-pagem mais arrojada, mas todos têm de estar muito bem apresentados, têm de ser feitos com produtos de excelência… Se a comida que levamos à boca nos faz lembrar, por exemplo, “aquele” arroz de tamboril, então é mesmo boa! assim conseguimos o sucesso da nossa ca-sa. Por outro lado, precisamos de aliar a técnica francesa a um prato que é nosso, para o tornar mais apetecivel ao olhar… porque a nossa cozinha não dei-xa de ser um pouco “bruta”, chegan-do, por vezes, a ser um pouco pesada. a técnica é marcar bem os sabores do peixe e da carne, além de que é preciso respeitar o ponto das cozeduras, caso contrário o sabor fica alterado.

“Criamos para criar prazer”. Este é um dos fundamentos da cozinha do chef rui Paula. a forma como confeciona e apresenta os seus pratos é, no fun-do, um de desafiar constante do pala-to? temos de criar para dar prazer. Por exemplo, “o colher da trufa” [o amuse bouche do jantar no terraço do tivoli lisboa] desperta emoções, desde a for-ma como o cliente o leva à boca – com a mão – à forma como é surpreendido. É importante que seja surpreendido, te-nha prazer a comer. o melhor cliente que podemos ter no nosso restaurantes é aquele que tem prazer em comer. isso requer tempo, gosto, vontade de expe-rimentar…

O prato ideal é aquele que convoca todos os sentidos à mesa

Solicita a presença dos sentidos à mesa, pois os olhos também comem, os chei-ros causam desejos… todos os sentidos são importantes. o tato, a visão, o chei-ro… Quantos mais sentidos convocar à mesa, maior prazer a comida nos dá. Mais do que isso, o prato ideal é aquele que convoca todos os sentidos à mesa.

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Em 2007 surge o Doc. Degustar. ousar. comunicar. um convite para embarcar numa viagem pelos sentidos, provocada pela ousadia de rui Paula. o Doc está in-serido numa região vitivinícola, rodeado de vinhos e vinhedos. o nome significa que estamos a degustar, ousamos fazer coisas diferentes, sem ter medo de as fazer, e comunicamos, porque falamos sempre uns com os outros na cozinha e à mesa. Foi um caso único no país. Paguei o investimento que fiz num ano e meio, com o restaurante sempre cheio, num sítio improvável, onde não há mercado.

três anos mais tarde, é a vez do DoP. Degustar. ousar no Porto. aqui, a degus-tação é de origem protegida. o conceito advém da forte ligação com a cidade que o viu nascer? É um restaurante de pro-duto – do bom azeite, do bom presun-to… com um conceito muito elaborado, de um rigor muito grande. Mas a tradi-ção está lá, está no sabor. É um espaço mais evoluído, mais direcionado para o gourmet, no bom sentido da palavra. ti-

nha de mostrar que sei fazer. E faz senti-do ter um restaurante mais encostado à raiz tradicional e outro um pouco afasta-do desse cariz, mas sempre fiel ao sabor.

Depois acrescenta o Vidago Palace ho-tel, um desafio de pleno requinte num lugar com história, onde o Salão nobre recebe os repastos com a sua assinatu-ra. É um hotel muito charmoso, lindís-simo. Fiz um menu à altura da nobreza da sala, muito artístico, mas com os pés bem assentes na terra.

Dentro em breve, a sabedoria de rui Paula irá atravessar o atlântico, até re-cife, a capital do estado de Pernambuco, no nordeste brasileiro. o nome do res-taurante é rui Paula, onde vou investir em recursos humanos, pois é isso que eu faço. É esta a minha mais valia. tenho de rentabilizar as pessoas em que acredito e em quem apostei; pessoas a quem en-sinei e que me ensinaram. Prometo um bom trabalho! d

R www. ruipaula.com

R www.tivolihotels.com

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fragilePRoJeTo de inCLUsão de PessoasCoM defiCiênCia visUaLnas aRTes PeRfoRMaTivastEXto patrícia serrado DESEnho sara dias

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as fronteiras da arte transpõem o cru-zamento transdisciplinar protagonizado por uma linguagem corporal associada a movimentos constantes e conexos. numa performance transversal com-posta por formas, posturas e poses, envolta em perceções e desejos, cons-truídas por bailarinos profissionais e intérpretes com deficiência visual. um desafio alcançado com um trabalho meritório, em três línguas tão diferen-

tes e, ao mesmo tempo, tão próximas por quem vê com outros olhos. no pal-co do teatro Municipal joaquim benite, em almada. no culminar de uma perfo-mance inclusiva de três partes, acom-panhadas por música e assinadas por três coreógrafos. Primeiro “touched”, de Kjersti K.Engebrigtsen, da noruega. Depois “Plexus”, de ajjar ausma, da Es-tónia. Por fim, “Edge”, de ana rita ba-rata, de Portugal. o nome: Fragile.

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Touchedo toque. ato que permite a união entre as pessoas. a permanente descoberta do outro através do toque. tocar uma cara que não pode ver, para o conhecer. tocar no ombro do outro para o sau-dar. Saltar até alguém que é cego para dizer “olá!” E sorrir. Mas como pode o outro, que é cego, retribuir? talvez por-que o toque tivesse sido suave, cordial. Porque o toque é o “ponto chave” para quem anseia por conhecer o outro sem que a visão se torne uma barreira entre dois mundos vividos e contemplados de formas tão distintas pela raça humana infinitamente dependente do outro.

Plexuso encadeamento no espaço, no seu to-do, no caos e na regularidade, onde a omissão da luz é quase infinita, o tato protagoniza a descoberta, o movimento dos corpos de quem vê e de quem não vê. a procura constante desse alguém que se dá a conhecer num emaranhado de coordenadas no espaço é incessan-te num desenrolar de ações que expri-mem dificuldade; ou será desinteresse? inércia, talvez… Mas a desistência é pa-lavra sem entrada consentida em cena, dando lugar à persistência na conquista por atos contínuos.

edgeo momento último ou o início de um trajeto sem fim. Quatro momentos con-duzidos por quatro músicas compassa-das pelo movimento sincronizado dos corpos que ora trocam ora recombinam, ora reduzem ora separam-se, na ânsia de proteger o outro de algo funesto – do medo, do desconhecido… E nos mo-mentos que se sucedem começam jun-tos, unidos de novo, para atravessarem uma trajetória que descreve ora o fim, ora o princípio de algo. E logo alguém surge para salvar o outro que tende a passar a barreira do desconhecido, para que o mesmo não caia no abismo…

afinal, a visão é um sentido indispensável nas artes performativas?

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TexTo susana carvalho

hagiografia ModeRna

na penumbra do escritório, a luz do ecrã aureolava-lhe o perfil. Desalinhado, o ca-belo fora percorrido vezes sem conta por dedos-agulha que, desde a testa até à nuca, imprimiam com lentidão mecânica o registo agonizante de mais uma noi-te de horas extraordinárias. começava a duvidar se alguma vez terminaria aquele balancete. atormentado com o trabalho acumulado sobre a secretária, saltando sucessivamente a hora de almoço em jejuns forçados, obrigado a antecipar as manobras diabólicas dos mercados e as investidas confrangedoras da D. Mina, junto à máquina do café, julgava-se atin-gido pelo ferrete das penas eternas. Do tempo em que a mãe o obrigava a

ir à missa, já então de calças e cami-sa, vinham-lhe de súbito à memória, as imagens dos santos. Por entre o frio hú-mido das ogivas e a flama trémula, qua-se descrente, dos castiçais, olhava com desconfiança essas figuras martirizadas, que exibiam à assistência devota as suas flechas em diagonal como quem oferece às objetivas ávidas dos fotógrafos, o seu melhor ângulo. E aquele olho fito no di-vino, longe de qualquer êxtase místico, mais lhe parecia implorar pela graça de um desumificador. num dia em que che-gara a casa exausto, disposto a renunciar à promissora carreira a que se resignara como um destino, mandando o Senhor Diretor, conçensa, às urtigas, beijou a

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mãe, distraidamente, e lembrou-se de lhe perguntar por que motivo o levava, em criança, à igreja. “Para pôr os olhos em Deus”. “Para ser alguém na vida”. assim. Sem mais. como se houvesse uma lógica secreta e inatingível a ligar duas unidades de pensamento e de discurso. talvez que a mãe tivesse razão, no seu raciocínio tortuoso. afinal, o criador é, de todos os gestores de topo, aquele que se mantém há mais tempo num alto cargo.Sentado no pesado banco de madeira – esmagado na atual cadeira de escri-tório – reprimia a vontade de balouçar as pernas, de sair a correr de forma de-sabrida provocando o pasmo solene de todos, de desafiar o todo-Poderoso--chefe com um gargalhada catraia, de abolir a eternidade das-nove-às-sete para instituir um tempo só seu.olhou para a janela e puxou a fita áspera da persiana; a manhã surgia enfim, aos poucos, num tracejado de luz. andar após andar, sentiu todo o edifício a re-tomar a sua vida de termiteira. E conti-nuou a fitar o écran do computador até que a luz do sol, determinada, avançou sobre a máquina e lhe apagou da vista aquela estranha litania de números.Deixou que se acumulassem, na caixa de correio, algumas dezenas de emails a reclamarem, por igual, resposta ur-gente. a campainha do telefone soava,

insistente e ameaçadora, como uma trombeta do juízo Final. Saiu do gabi-nete, adivinhando os comentários dos colegas e o seu veneno de áspides. Dis-pensou o elevador, descendo os cinco lances de escadas que o separavam da rua. respirou fundo. Entrou no primeiro boteco que lhe apareceu e onde um pa-trão, à beira da falência cardíaca, des-compunha o empregado com falta de experiência mas com excesso de habi-litações. Sem a imagem da viuvez fláci-da da telefonista a atormentá-lo, pediu um café. E saboreou, demoradamente, cada gole da chávena fumegante, sob o olhar cúmplice do empregado que nele se fixava, estranhamente comovido. d

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pedras salgadaso adMiRáveL Reino das TeRMastEXto patrícia serrado FotograFia joão pedro rato

A exuberância do verde deixa adivinhar o encontro com o sossego, o embalo profundo de uma paisagem outrora destino da realeza portuguesa. Para lá do Marão. Numa região abraçada pelas terras altas e pelos vales profundos, bem no cimo de Portugal, embalada a preceito pela natureza e dominada pelo poder das águas. Apresentamos Pedras Salgadas Spa & Nature Park.

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Para lá das grades encimadas no muro que delimita o parque ao fundo da rua, é notória a graciosidade da natureza. um manto verde compõe o cenário feito de abetos, ciprestes, pinheiros, faias… Es-pécies infindáveis, que dão o nome às casas que ali habitam. as eco-houses, com a assinatura de luís rebelo de an-drad e Diogo aguiar. Peças de constru-ção gigantes, quando comparadas com as da pequenada, dispostas entre aglo-merados de árvores, como se brincas-sem às escondidas neste admirável reino de Ísis. o sonho de qualquer criança. ou

melhor: o sonho de qualquer adulto que gosta de voar pelo universo imaginário das crianças. lá dentro nada foi deixado ao acaso. com uma área q.b., o espaço casa o conforto com a funcionalidade no domínio de um branco imaculado pre-enchido pelo silêncio quebrado assim que se abre a porta. agora sim, ouve--se o chilrear desenfreado dos pássaros e sente-se o ar puro a entranhar-se nos pulmões. a respirar fundo… o astro-rei dá o ar da sua graça por entre a folha-gem do arvoredo. apetece tanto pre-guiçar na varanda!

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Por entre um punhado – grande, bem grande – de árvores que cobrem todo o parque, o passeio faz-se a pé ou de bi-cicleta. com calma… o tempo assim o permite. Porque os ponteiros do relógio estagnaram – sim, é verdade, a norte o relógio também suspende o seu próprio funcionamento. Porque os dias brindam com um sol esplendoroso. E porque a viatura estaciona-se em local próprio. Por entre o punhado de árvores, está o grande hotel, ou o que resta de um dos mais faustosos hotéis que fez história nas termas das Pedras Salgadas. o ca-

sino das termas, datado de 1910, sem li-cença para jogar, a capela… Exemplares clássicos da magnificente belle époque, dotada de uma arquitetura magistral aos olhos de quem aprecia a essência da ar-te da construção, com surpresas a des-vendar em junho deste ano. aguarda-se a prova e aquisição de produtos locais nas antigas garagens, a converter em pequenas lojas, e as iguarias da região na casa de chá, recuperada com a assi-natura do arquiteto Siza Vieira. a mesma com que deu mais vida ao lago e rasgou uma piscina no exterior do parque.

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regressemos ao presente, a um “hoje” ainda apegado ao passado. no antigo e imponente edíficio reservado aos trata-mentos, disponíveis graças às proprie-dades terapêuticas de Pedras Salgadas, o traço de Siza Vieira rima com a própria identidade do atual Spa termal, onde o simbolismo da belle époque convive de forma harmoniosa com o minimalismo do arquiteto português da atualidade.

o chão da entrada decorado com o be-líssimo mosaico hidráulico. as janelas a rasgar, desde outrora, o pé direito do edifício, numa sintonia perfeita com os seus esquiços traduz-se no encontro perfeito com o exterior. E quão real é a imagem e a luz do sol que brinda o olhar de quem ali fica, inerte, perante tão gi-gantescos quadros de natureza viva a entrar nas salas, nas divisões destinadas

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ao banho turco e à sauna, nos amplos balneários, na espaçosa sala dedicada ao silêncio. relaxemos… a piscina fica para o fim. É lá que está a janela. a moldura pela qual se espreita a paisagem em frente.imagine-se, agora, a acordar, de ma-nhã, bem cedo, num lugar como este, carregado de história e riqueza, outrora destino da realeza. Desfrutar da nature-

R www. parquepedrassalgadas.com

za, mergulhar na piscina exterior, brin-car com os seus filhos à vontade – sim, porque o parque das Pedras Salgadas é um reino encantado repleto de recantos que desafia a descoberta, que dispõe de um espaço para os mais pequenos – e entregar-se à terapia com água. Sentir o dia e a noite e experimentar o silêncio que prevalece n’ “um reino maravilho-so” de Miguel torga. d

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monte da vilarinhaenTRe a seRRa e o MaRtEXto E FotograFia joão pedro rato

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A manhã já vai longe.Fazemo-nos à estrada rumo a sul em amena cavaqueira, deixando para traz uma Lisboa mergulhada num sol há muito aguardado. devagar, pois a viagem quer-se feita com tempo. Longe do ritmo das estradas conduzidas à pressa, depois à beira mar, a tocar,no infinito, a infinita linhado horizonte. Com merecida paragem em Porto Covo parao repasto que adivinha a tarde,o continuar de uma viagemque se imagina calma. Pela serra. depois com o atlântico mesmo ali ao lado. e, por fim, o Monte da vilarinha, envolto num forte abraço da natureza da Costa vicentina, sob um céude um incomensurável azul.

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abro a porta do carro. o silêncio impõe--se sem rodeios. assim como a pai-sagem, exuberante desde o primeiro minuto, que permanece quieta ao som do nada, acompanhado pelo calor que em tudo se parece com um magnífico dia de verão. Pouco tempo depois che-ga joão Pedro cunha, o mentor do Mon-te da Vilarinha. a conversa dá o mote para um agradável passeio pelo imenso jardim relvado, salpicado de árvores e arbustos, com piscina, e circundado por um pequeno ribeiro, de onde advém o

coaxar das rãs em manifesta sintonia.a forte ligação com a região serviu de pretexto para o anfitrião avançar com o projeto de turismo rural, de 34 hecta-res, erigido há cerca de seis anos entre a serra e o mar. um sonho construído anos a fio após uma época marcada por bons momentos preservados na me-mória, com os fins de semana e as fé-rias preenchidas pelas surf trips com os amigos e pela pesca. a vontade de par-tilhar o paraíso na terra, para desfrutar com a calma que tanto merece.

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a começar pela entrada de cada casa, com um terraço privativo, que prome-te o descanso a qualquer hora do dia… nada foi deixado ao acaso. no interior as paredes são revestidas de taipa e os tetos de caninha, e há peças de mobili-ário feitas de cortiça; no exterior, a ma-deira e o xisto rimam na perfeição.o fim da tarde termina com uma cami-nhada a Vilarinha, a aldeia erguida no vale, em pleno Parque natural do Sudo-este alentejano e costa Vicentina, de-corada com o típico casario branco.

já a noite começa a impor a ordem no universo, quando regressamos ao Mon-te da Vilarinha. o repasto é preparado por quem sabe – antónio rosa, fun-dador da alcagoita, e rui rodrigues, da herança rural, dois empreendedores na área da agricultura biológica. E com uma sobremesa divinal elaborada pe-la olga, num jantar desfrutado em boa companhia. a conversa vai longa, mas é preciso descansar, pois o dia seguinte traz uma caminhada feita à nossa medida.

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a manhã acorda cedo. Depois da primei-ra refeição do dia metemos o pé no tri-lho, com início na bordeira. um desafio com percursos pela zona da carrapatei-ra, criado pela guia ana carla cabrita. o nome: Walkin’ carrapateira. E lá parti-mos à descoberta das pequenas mara-vilhas que a natureza reserva ao comum dos mortais sem pedir nada em troca,

pelo pinhal do bordalete até à praia da carrapateira. Pausa para um chá e um bolo de alfarroba… uhm… um deleite! continuamos a caminhada, até porque a hora do almoço está adiantada, desta vez com os pés na água da ribeira que desagua no mar da praia da bordeira. Para rematar, um delicioso repasto que se encontra à nossa espera!

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Para descontrair, após o almoço,continuamos a caminhada até ao Monteda Vilarinha, deixando o imenso oceanopara trás, despedindo-nos com um “Até já!” d

R www. montedavilarinha.com

R www. walkinsagres.com

R www.herancarural.com

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