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Os Grandes Desafios do Adolescente no Cotidiano Escolar Autor Kátia Leite Vieira Profº. Orientador Mary Sue Pereira Janeiro/2004

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Os Grandes Desafios do Adolescente

no Cotidiano Escolar

Autor

Kátia Leite Vieira

Profº. Orientador

Mary Sue Pereira

Janeiro/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

Os Grandes Desafios do Adolescente

no Cotidiano Escolar

Monografia apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Supervisão Escolar na

Universidade Cândido Mendes / Pró Reitoria

de Planejamento e Desenvolvimento /

Diretoria de Projetos Especiais / Instituto de

Pesquisas Sócio-Pedagógicas como

requisito para obtenção do certificado.

Kátia Leite Vieira

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AGRADECIMENTOS

Otávio e Mariana, meus pais, por todas as

dificuldades enfrentadas (e vencidas) a pelas ações

incentivadoras para me tornar a pessoa que sou.

Luiz Gustavo, meu namorado, pela paciência e

sabedoria em lidar com a minha inquietude durante a

produção deste trabalho acadêmico.

Mary Sue, minha professora-orientadora, pela sua

serenidade ao me conduzir pela pesquisa.

Meus familiares e amigos por compreender os

momentos de ausência.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho acadêmico ...

* A todos os educadores que lutam

por uma educação integral e de

qualidade, tornando esse mundo

cada vez melhor.

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RESUMO

Vivemos o enorme desafio de transformar o atual sistema educacional

de modo que ele possa atender a um mundo voltado para a globalização.

Desafio maior enfrentamos ao nos deparar com altos índices de repetência e

evasão escolar devido ao desinteresse educando pelo ambiente escolar.

É preciso que a Educação permita ao indivíduo, em especial o

adolescente, o seu desenvolvimento integral, nos seus múltiplos aspectos,

respeitando as diferenças desta fase de desenvolvimento, atendendo às

necessidades pessoais e fazendo com que ele se perceba como um todo e,

ao mesmo tempo, como uma parte interdependente do universo.

Cabe à escola promover uma educação de qualidade com

metodologias que incentivem, que despertem o interesse na busca na

construção do conhecimento e com práticas avaliativas que visem a

melhoria do processo ensino aprendizagem e não a reprovação e exclusão

do aluno.

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SUMÁRIO - INTRODUÇÃO ......................................................................................8

- CAPÍTULO I ..........................................................................................10

O PERFIL DO ADOLESCENTE

- CAPÍTULO II ....................................................................................... 17

AGRESSIVIDADE, VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA:

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

- CAPÍTULO III ...................................................................................... 29

DINÂMICA ESCOLAR:

ESTAGNAÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO?

- CONCLUSÃO .................................................................................... 39

- BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 43

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INTRODUÇÃO

Visando um estudo aprofundado da dinâmica de sala de aula dos

adolescentes, direciono este trabalho monográfico para o estudo e reflexão

dos principais fatores que fazem o educando perder o interesse pelo

ambiente escolar.

Para atingir tal propósito, se faz necessário, primeiramente, conhecer

este jovem que basicamente vive em crise de identidade na qual se debate

entre questionamentos relativos ao seu corpo, valores existentes na

sociedade, às escolhas que deve fazer, ao que exigimos dele e ao seu lugar

na sociedade. Estes e tantos outros assuntos serão evidenciados no

Capítulo I: O perfil do Adolescente – fatores biológicos e sociais.

Os demais capítulos estão voltados para temas polêmicos e comuns à

realidade das escolas de todo o país: A indisciplina e a prática pedagógica

do educador. O fracasso escolar, que deixa marcas profundas em crianças e

jovens, muitas vezes tem ligação à indisciplina, violência e agressividade

que assusta toda a sociedade.

Abre-se, então, um leque de interrogação que, no decorrer da leitura

deste trabalho acadêmico, serão esclarecidas:

* Que relação existe entre a postura do professor e a indisciplina?

* Que fatores são responsáveis pela indisciplina da sala de aula?

* Qual é o verdadeiro ofício do educador na formação do

adolescente?

* E o da instituição escolar?

* Como um aluno reprovado se comporta em relação aos mestres e

ao espaço físico onde ele estuda?

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A violência e agressividade ganharam espaço quando se deixou de

acreditar, valorizar e respeitar o indivíduo que, mesmo com toda dificuldade,

ainda precisa ter a educação como referencial para alcançar melhor posição

no mercado de trabalho e na sociedade.

A comunidade escolar tem o poder de construir um ambiente de paz,

mas para isso é preciso uma reformulação de conceitos de disciplina, de

estrutura familiar e principalmente, da visão do profissional de educação.

Hoje a escola não transmite meramente conhecimentos e delega

funções aos seus subordinados (alunos). Ela deve estimular o educando a

buscar, a construir seus próprios conceitos a partir de novos experimentos.

No entanto, vemos que o professor ainda minimiza a capacidade criativa,

argumentativa e crítica do aluno utilizando metodologia arcaica e vista como

modelo ideal.

O processo de avaliação escolar também pode ser encarado pelo

adolescente como uma imensa barreira, já que esta possui o poder

avassalador de determinar os “bons e maus” alunos. Os primeiros são

sempre destaques pela grandiosa capacidade de superar a sua própria

incapacidade, já os maus alunos parecem pertencer a uma sub-classe que

determina a exclusão.

Temos aqui espaço para reflexão, vendo que o adolescente encontra

enormes desafios para pertencer – e permanecer – na dinâmica escolar.

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CAPÍTULO I

O PERFIL DO ADOLESCENTE

Lá fora, todos os corações

Procurando sua órbita.

Novas propostas pro mundo

Novos encaixes para as coisas

Que ainda não estão no lugar.

Atento às diversidades em busca

de um mundo melhor.

É preciso provar das loucuras,

ativar novas possibilidades.

De volta ao planeta dos macacos

(Jota Quest)

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Capítulo I

O Perfil do adolescente

Educar adolescentes é uma tarefa instigante, emocionante e

turbulenta. Eles – que na maioria e em diferentes níveis escolares se

rebelam contra pais e professores por estarem a procura de emoção e nem

sempre agem da maneira adequada. Desejam privacidade, independência e

privilégios de adultos mas, sobretudo, querem amor, respeito e aceitação por

parte dos familiares e de todos que os cercam.

Diante disso, está a escola que deve oferecer subsídios para a

formação plena do cidadão participativo e íntegro na sociedade. O

comportamento do educador é imprescindível pois estará lidando com a

evolução de um ser único e exclusivo. A orientação e o apoio que se dá são

inestimáveis nessa fase de desenvolvimento. Embora os adolescentes

englobam apenas uma pequena parcela da população, representam 100%

do futuro.

Com tanta responsabilidade, o professor encontra inúmeras

dificuldades para lidar com este ser mutável e, aparentemente,

inconseqüente.

Visando minimizar este impasse este capítulo traçará, em linhas

gerais, as fases de desenvolvimento do adolescente.

Quanto mais pais e educadores compreenderem os estágios da

adolescência e dos problemas que os jovens enfrentam a cada etapa,

melhor estarão equipados para corresponder às exigências.

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Os autores do livro “Criando Adolescentes” relacionam esta fase à um

passeio de montanha russa, vivendo intensamente os altos e baixos do

trajeto.

“Pense na adolescência como um passeio na montanha

russa (...). Durante o passeio, os adolescentes sofrem

imensas transformações emocionais e físicas. As

mudanças físicas podem ser vistas a olho nú. Quanto as

alterações emocionais, se visíveis, seriam muito mais

drásticas que as físicas. Cada adolescente é um ser

único, sem similar. Uns passam por dificuldades durante

uma determinada fase, outros durante todas fases e

ainda outros navegam praticamente sem sobressalto por

todas elas. Entretanto aqueles que parecem estar

felizes, às vezes estão escamoteando insegurança e

incertezas”.

(Michael Carr-Gregg e Erin Shale, 2003, página 09)

Já o psiquiatra Icami Tiba retrata a adolescência como um “segundo

parto” em seu livro “Ensinar Aprendendo”:

“O filho nasce da família para entrar na sociedade (...).

No primeiro parto, o bebê recebe tudo da família, mas

precisa respirar por conta própria. No segundo parto, o

adolescente pode receber tudo do social, mas precisa

encontrar a própria identidade.”(Icami Tiba, 1998, pág

76)

O autor ainda sintetiza essa necessidade de identificação:

“A criança identifica seu sobrenome convivendo com os

pais. O púbere busca sua identidade sexual. O

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adolescente, um nome próprio, procurando sua

identidade social” (Icami Tiba, 1998, pág 77)

1.1 – Pré-Adolescência – Auto-Conhecimento e

Modificações Hormonais

Esta fase está totalmente relacionada com a auto-suficiência social e

com os fatores biológicos. A saída da infância — caracterizada pela total

proteção e segurança familiar — gera a busca da própria identidade, do seu

auto–conhecimento e equilíbrio psicológico.

O jovem que entra na puberdade atravessa um período difícil de

dúvidas e isolamento pois socialmente ainda depende dos mais velhos. Essa

dependência geralmente provoca revoltas por lembrar muito a maneira como

a sociedade (pai, mãe, professor...) trata as crianças.

Nesta fase, seus corpos e suas emoções sofrem transformações

numa velocidade alarmante. Biologicamente, há aumento de níveis de três

tipos de hormônios: gomadotropinas, esteróides sexuais e androgênios da

puprarenal, o que costuma contribuir para as constantes dores de cabeça,

mal estar, tonturas e desmaios.

Os órgãos sexuais também se desenvolvem devido a produção de

estrogênio — hormônio secretado pelos ovários que determina a

menstruação e o comportamento feminino — e a testosterona — produzido

pelos testículos e responsável pelo comportamento masculino.

Para facilitar o relacionamento entre professor-aluno e contornar

possíveis situações do cotidiano, é importante que o professor perceba que

o pensamento abstrato das meninas começa a se desenvolver nesta fase.

Portanto, a capacidade de entendimento aumenta bastante e de forma

global. Já os púberes masculinos sentem a transformação no corpo e não

conseguem administrar e compreender tudo que os hormônios lhes confere,

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enfatizando assim o principal atributo: a força bruta. Eis aí o início do

problema de agressividade e violência nas escolas.

Os jovens estão entrando na puberdade e iniciando a vida sexual

cada vez mais cedo. Além da maturidade física precoce, muitos jovens estão

pressionados a crescer rápido demais emocionalmente, sobretudo por meio

de revistas, filmes e propagandas de televisão. Imagens de relacionamento

entre jovens de pouca idade, e que normalmente extrapolam a realidade,

induzem os jovens a começar a namorar sem se prevenir de doenças

sexualmente transmissíveis e até mesmo de gravidez indesejada.

Os inúmeros estímulos sociais tornam-se ainda mais negativos

quando indiretamente, incentiva a formação de subgrupos que elegem,

discriminam e exclui jovens por não estar dentro de um padrão aceitável

pelo grupo (uma espécie de código de conduta).

As roupas, os acessórios, as gírias são importantes nesse processo

pois o jovem necessita da aprovação do grupo, de mostrar popularidade e

de aparentar autoconfiança.

1.2 – Fase intermediária – Amizade, máscaras e onipotência

Quanto mais avançam na adolescência, mais influencia terão os

amigos. O foco, que era a família, passa a ser a convivência com os amigos

visando a busca de novas vivencias e experiências. Talvez estejam, nesse

momento, as portas abertas para a descoberta do álcool e das drogas.

Uma das metas mais importantes que os adolescentes tem a alcançar

é a formação da identidade. E para descobrir quem são, experimentam uma

seqüência de “máscaras” até encontrarem a que serve. Muitos escolhem

participar de “grupos” ou “tribos” para terem algo com que se identificar, para

pertencer, mesmo que isso cause desagrado e proibição por parte da família

e da escola.

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O adolescente nesta fase intermediária despreza tanto o controle

exercido pelos adultos como qualquer ajuda que possam prestar. Querem

desafiar tudo, sobretudo, os pais e outras autoridades. Sentem-se

onipotentes, poderosas e auto suficientes.

1.3 – Pós-adolescência – Planos, responsabilidade e emancipação

Os jovens na pós-adolescência estão se esforçando para encontrar

um lugar no mundo que seja só seu. E´nessa fase que os jovens começam a

amadurecer e enfrentam todas as mudanças que lhes vem acontecendo.

Começam a elaborar seus projetos de vida, decidindo profissões e

“formatando” sua personalidade.

No mundo de hoje, porém, os pós-adolescentes estão se defrontando

com um mundo cheio de dificuldades e incertezas necessitando de uma

assistência ainda maior, de apoio incondicional para enfrentar tais

obstáculos. Em geral voltam a valorizar seus pais e dar a devida importância

à escola.

Entretanto muitos jovens já não possuem esta perspectiva por

estarem desestruturados devido uma série de fatores sócio-econômicos.

Muitos ultrapassam os estágios da adolescência pela necessidade de

assumir um emprego, que exige pouca qualificação (muitos já se evadiram

da escola) e conseqüentemente o retorno financeiro é pouco estimulante.

Neste período, já se preocupam mais com a imagem, já começam a

construir a identidade, a auto-estima está mais elevada. Passam por datas

importantes: participam de eleições, podem tirar carteira de motorista,

freqüentam lugares de adultos, entre outras conquistas. Também é o

período em que iniciam relacionamentos mais sérios.

Muitos jovens, na última fase da adolescência, saem finalmente das

“trevas hormonais” que os invadiram desde a puberdade e passam a ver as

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coisas com mais discernimento. Tornam–se mais críticos e questionadores

mas sem a arrogância e a rebeldia dos estágios anteriores.

Em suma, a adolescência é um período de transformações físicas,

emocionais e pedagógicas (esta última refere-se às mudanças do 1º para o

2º segmento do Ensino Fundamental e em seguida, do Fundamental para o

Ensino Médio.

Buscam alcançar as seguintes metas:

• Formar identidade equilibrada e positiva.

• Alcançar a independência dos pais ou dos adultos responsáveis pela

sua educação.

• Conhecer pessoas para amar fora do círculo familiar.

• Encontrar um lugar no mundo ao dar rumo à carreira profissional e

alcançar independência econômica.

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CAPÍTULO II

AGRESSIVIDADE, VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA:

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Miséria e fome derrotam, derrotam nossa nação

Para completar, tem, tem violência ao cidadão

Precisamos sim fazer por nossos irmãos

(...)

O povo brasileiro continua rindo

Resistindo à violência que alguém planejou

Vivendo na favela, morrendo na viela

Coitado do banguela, sua hora já chegou.

(Farofa Carioca)

Música: Moro no Brasil

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Capítulo II

Agressividade, Violência e Indisciplina:

Considerações Teóricas

Neste capitulo serão tecidas considerações sobre estudos já

realizados que se relacionam ao tema deste trabalho: comportamentos

agressivos e/ou indisciplinados e suas manifestações como fator negativo à

vida escolar do adolescente.

A questão inicial, básica ao desencadeamento de todas discussões

propostas neste trabalho, é a conceituação de agressividade e o

comportamento agressivo.

Em termos de conceituações pode-se observar por exemplo:

AGRESSIVIDADE s.f. 1. Tendência a atacar, a agredir.

2. Qualidade de agressivo. 3. Energia, força. Psican.

Conjunto de manifestações reais em fantasmáticas da

pulsão da agressão. (Dicionário de Língua

Portuguesa. Larousse Cultura Nova Cultural. SP.

Moderna, 1992).

As definições 1 e 2 provavelmente são as mais referenciadas quando

o termo agressividade é utilizado. Nelas, o ser agressivo é caracterizado

como aquele que está sempre pronto a atacar, a agredir, a causar danos em

outrem. Porém, tais conceituações apresentam fraqueza de cientificidade e

revestem-se de um caráter de senso-comum. A terceira definição, extraída

da Psicanálise nos coloca no caminho mais seguro para a reflexão sobre

agressividade.

Enquanto maus hábitos de alguns alunos são combatidos, suas boas

atitudes não são, sequer, mencionadas. A estagnação causa um efeito

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cauterizador na mente dos professores, proporcionando um juízo

“eternamente” ignoto.

2.1 – Indisciplina: principais conceitos

A questão da indisciplina constitui uma das maiores preocupações

atuais dos professores. Ingenuamente, é pensado que tal questão nunca

ocupou os palcos das discussões escolares, tratando-se de uma nova

pendência a se resolvida isoladamente pelas instituições de ensino.

Toma-se impossível pensar em tal questão sem antes repousarmos

na reflexão de sua antítese, isso porque a estruturação do(s) conceito(s) de

disciplina e a definição dos parâmetros disciplinares viabilizam a existência

da própria indisciplina.

Cabe aqui mostrar que a concepção de disciplina não é a única, mas

relaciona-se aos vários valores, princípios e objetivos do meio social que o

traçou. A disciplina visa atender e manter uma determinada ordem social,

ainda que esta não beneficie uma maioria.

Geralmente, as instituições mais referenciadas em uma determinada

sociedade seguem os padrões disciplinares impostos pelos grupos

dominantes daquela sociedade, isso com o objetivo de criar nos indivíduos

uma sujeição justificada pela recompensa da legalidade e enquadramento

naquela sociedade. A escola adaptou sua concepção de disciplina ao

histórico das transformações sócio-econômicas pelas quais o mundo passou

ao longo dos séculos. A primeira grande transformação do conceito de

disciplina escolar acontece com o advento da Revolução Burguesa. Com o

objetivo de formar uma elite, a escola mantinha a disciplina através do medo:

medo de permanecer analfabeto, medo de não conhecer ou de não ter

informações.

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Estamos em uma nova era, marcada pela revolução tecnológica e

uma grande mudança de paradigma. O conhecimento não é mais um

monopólio da escola, que por sua vez não permanece na posição de o único

mecanismo de ascensão social.Os valores que a escola propagou durante

um longo tempo não são mais os mesmos, todavia, seus atores

permanecem imbuídos dos ideais pregados em tempos remotos. Há

divergências entre expectativas escolares, sociais e familiares sobre o

comportamento dos alunos, aliadas ao despreparo de todos esses

segmentos em lidar com certas formas de manifestação de comportamento

indisciplinado por parte de nossas crianças.

Se outrora, escola, sociedade e família encontravam-se aliadas pelas

mesmas formas de compreensão de disciplina, atualmente, uma critica a

atuação de outra na realização da tarefa de manutenção da mesma.

A imposição de normas disciplinares quase sempre foi uma das

características mais marcantes da escola. A disciplina escolar buscava certa

semelhança a militar, para isso, rituais como filas, formas, uniformes e etc,

foram integralmente copiadas. As melhores escolas foram aquelas que

obtinham maior êxito na tarefa de imitação.

Ainda hoje, pais e professores que assistiram àquela escola, a enaltecem e

aclamam pelo seu retorno. A grande estratégia das escolas da atualidade

ainda constitui-se as mesmas de anos atrás, o comportamentalismo continua

marcante no que se refere ao controle disciplinar.

Diante as grandes reformas sociais ocorridas ao longo dos anos, o

conceito de disciplina foi reformulado. A obediência e submissão que

caracterizavam os modelos disciplinares mais antigos são substituídos pela

disciplina da participação, da cooperação, do interesse e do questionamento.

À escola atual não cabe mais moldar os indivíduos dentro de formas,

uniformizando-os dentro de uma leitura de mundo. Hoje, a sua tarefa

principal é cultivar as diferenças e o respeito a estas diferenças. Uniformizar

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e padronizar são substituídos por compreender e optar. Como ela (a escola)

não mais detém o conhecimento, alguns argumentos enfraqueceram-se e a

melhor forma de manter o interesse de seus alunos é respeita-los, instigando

sua curiosidade e instrumentalizando-os via aprender a aprender, tomando

assim o processo ensino-aprendizagem mais prazeroso.

Afirmando essa mudança, o psicanalista Içami Tiba, em um de seus

livros, ressalta:

“A disciplina escolar é um conjunto de regras que devem

ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos

alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito.

Portanto é uma qualidade de relacionamento humano

entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula

e, conseqüentemente, na escola.”

(Icami Tiba, 1996, página 117)

2.2 – A disciplina escolar e o papel do educador

Neste momento o objetivo é iniciar uma reflexão sobre pensamento

do professor em relação a disciplina, bem como suas expectativas em

relação ao comportamento de seus alunos.

A disciplina cobrada em nossas escolas relaciona-se não só a filosofia

e proposta pedagógica delas, mas também a ação pedagógica de seus

professores em particular. O(s) regime(s) disciplinar(es) que atuou/atuaram

sobre o professor ao longo de sua vida influencia/m positiva ou

negativamente na sua relação com a autoridade disciplinar que ele exerce.

Isso não quer dizer que foram vitimados por regimes totalitários a autoritários

de disciplina atuarão da mesma forma. A opressão também pode estimular a

luta pela transformação.

Vejamos a citação de Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido:

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“... a luta somente tem sentido quando os

oprimidos ao buscarem recuperar a humanidade, que é

uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente

opressores, nem se tornam de fato, opressores dos

opressores, mas restauradores da humanidade de

ambos.”

(Paulo Freire, 1979, página 30)

“Quem melhor que os oprimidos, se encontrará

preparado para entender o significado terrível de uma

sociedade opressora?”

(Paulo Freire, 1979, página 31)

A escola que se propõe a combater seus problemas de indisciplina

cabe não mais aumentar o número de regras, mas viabilizar aos alunos uma

reflexão sobre os benefícios sociais e individuais advindos do cumprimento

delas e permitir a mudança gradativa, autônoma e reflexiva do

comportamento indesejável do ponto de vista social para o aceitável.

É necessário que o professor compreenda que o modo como reage a

certas atitudes pode contribuir para a sua extinção, reforço ou neutralidade.

Nem toda atitude indisciplinada é direcionada contra o professor, algumas

vezes constitui-se de um padrão comportamental aprendido pelo aluno

(julgado por ela como neutro) ou utilizado com o objetivo de preservação de

sua identidade.

Pode-se dizer que a dificuldade dos professores em interpretar as

causas dos comportamentos do ponto de vista psicológico e social, aliada a

visão autoritária de disciplina e as suas próprias condições emocionais e

físicas produzem atitudes negativas que apenas reforçam o que objetivam

combater.

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Ao contrário do que se pensa, atos violentos na escola não ocorrem

somente por parte dos alunos. Os jovens também sentem-se agredidos

quando não são escutados.

É possível construir um ambiente de paz e respeito na sala de aula. O

professor deve ter uma postura marcante, mostrar que possui autoridade

sem ser autoritário. O aluno necessita de noções de limite e isso ocorre

através de um contrato estabelecido por ambas as partes deixando claro que

o diálogo e a valorização humana são as bases de um bom relacionamento.

O mestre e doutor Ubiratan D`Ambrósio em entrevista à revista Nova

Escola reafirma a importância deste contrato pedagógico e ainda indica

caminhos para conseguir formalizar a cultura da paz:

“Uma idéia fácil é abrir espaços para alunos se

expressarem, como uma roda da discussão, em que

todos tenham voz e não sejam censurados e nem

julgados por suas posições. Outra maneira é identificar

os aspectos positivos de cada aluno e oferecer situações

nas quais ele se sinta à vontade para participar e

contribuir com o que tem de melhor. Assim, se houver

algum aspecto negativo, ele será minimizado até

desaparecer.”

(Ubiratan D´Ambrósio, ano 2003, página 28)

A instituição escolar deve (ou deveria) ser um espaço seguro para o

encontro das individualidades, das diferenças entre as pessoas com

experiências de vida variadas e conhecimentos prévios e histórias

peculiares. No entanto, ainda não estamos abrindo espaço para essa

discussão com os elementos que compõe a escola e, ainda mais

preocupante, não tomamos muitas vezes a atitude adequada diante de

determinadas atitudes violentas e rotineiras entre os alunos.

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Uma pesquisa realizada pela ABRAPIA (Associação Brasileira

Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) revela que 40,5%

de alunos de 5ª à 8ª séries estão envolvidos em atitudes agressivas (ver

relação de atitudes ao quadro abaixo), intencionais ou repetidas adotadas

por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor ou angustia, e

executadas em uma relação de desigualdade de poder.

Atitudes Agressivas Mais Freqüentes

* Colocar apelidos * Excluir * Ironizar

* Ofender * Isolar * Dominar

* Zoar * Ignorar * Agredir

* Gozar * Intimidar * Bater

* Encarnar * Perseguir * Chutar

* Humilhar * Assediar * Empurrar

* Fazer sofrer * Aterrorizar * Ferir

* Discriminar * Amedrontar * Roubar

* Quebrar o que é do outro

Essas atitudes configuram o que especialistas chamam de “bullying” e

que podem ter conseqüências sérias para vida de ambos alunos (agressor e

vítima), como comprometimentos emocionais de várias ordens.

Os alunos alvos do bullying sentem-se desprotegidos dentro da

própria instituição que deveria promover sua segurança física e emocional.

Segundo psicólogos e psicopedagogos, essa falta de “proteção” deve-se ao

fato da instituição abandonar sua função educadora ao se restringir à

transmissão do conhecimento, da informação.

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Em espaço educativo onde a função pedagógica é determinante, não

poderia haver espaço para o desrespeito mútuo, para qualquer tipo de

violência entre alunos e destes com professores e funcionários.

2.3 – Aspecto histórico da disciplina escolar

Seria impossível falar sobre indisciplina sem tratar de seu oposto: a

disciplina. A primeira só pode existir a partir da segunda. Se algumas

atitudes são rotuladas como indisciplinadas é porque existem atitudes-

modelos que expressam as expectativas sociais de um bom comportamento.

A sociedade e os diversos organismos que a compõe estabeleceram

e reformularam seus padrões disciplinares ao longo do tempo visando

atender as exigências estabelecidas pela a renovação da cultura frente ao

desenvolvimento tecnológico, cientifico, ideológico, etc.

Com a escola, não poderia ser de outra forma. Estar inserida em uma

sociedade requis sua transformação constante visando sua adaptação ao

longo do processo evolutivo.

Padrões disciplinares que compuseram os primórdios da Educação

Tradicional foram em grande parte superados e, atualmente, as práticas

isoladas das quais se diz tradicionais mantém relações pouco estreitas com

aqueles padrões. Quanto ao objetivo da disciplinarização, pode-se dizer que

pouca alteração sofreu se comparada ao da Escola Tradicional. O aluno

continua sendo alvo e objeto do processo disciplinar, o professor ainda é a

própria materialização da disciplina, o bem estar social e a segurança física

do aluno ainda são pretextos.

O capítulo XXVl de Didática Magna (versão 1997) é reservado para

tratar exclusivamente da “Disciplina Escolar”. Nele, COMENIUS não só dá

indicativos para a atuação docente no processo disciplinar como também

trata de sua importância, sobre a qual ele diz usando as palavras de um

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provérbio daquela época: “Escola sem disciplina é como um moinho sem

água.”

Lançando mão de uma investigação do termo “aluno” (a=sem,

luno=lume=luz, logo, aluno=sem luz própria), constata-se que COMENIUS

disse, sem se dar conta, de algo extremamente importante para a

compreensão da própria disciplina que pregava: retirar a luz da criança, em

outras palavras, domesticá-la, impedir sua capacidade criativa e inventiva

para impor regras e limitações para suas produções, fazer dela uma tabula

rasa, em suma, torna-la um aluno só poderia ser conseguido através de um

processo que prestasse a tal propósito.

COMENIUS não aconselhava o uso de chicote nas escolas, que,

segundo ele, deveriam ser usados com escravos e não com homens livres,

todavia, sugeria o afastamento dos alunos que resistiam em enquadrar-se

nas regras escolares devido a sua maldade e “preguiça de índole, própria

dos engenhos servis”. Observa-se que já naquela época a escola afastava e

punia através do encaixamento em uma camada basilar da sociedade

àqueles que se sujeitavam às suas regras e normas.

2.4 – Algumas causas da indisciplina escolar

São inúmeras as causas da indisciplina, agressividade e violência na

escola. Vejamos os motivos mais comuns que levam o aluno a se comportar

de forma inadequada.

Existem distúrbios de ordem pessoal: psiquiátricos; neurológicos;

deficiência mental; distúrbios de personalidade; entre outros. Estas

anomalias muitas vezes são caracterizadas por muita agitação, inquietude,

dificuldade de compreender regras bem como suportar frustrações.

Portadores de tais distúrbios possuem pouco controle sobre suas reações

primitivas de agressividade e de impulsividade. Logo, brigas, castigos ou

expectativas excessivas só servem para deixa-los tensos.

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Os distúrbios relacionais estão voltados para o campo das intenções

sociais. O adolescente passa por uma etapa transitória onde ocorre um

denso processo de modificação hormonal e psicosocial já analisadas no

capítulo anterior. Um jovem pode agir de maneiras distintas, conforme a fase

que estiver atravessando e os educadores devem (ou deveriam) estar

cientes dessas mudanças para compreendê-lo melhor e saber o que se

pode esperar dele.

O professor tem papel importante no processo disciplinar.

Inconscientemente, ele determina, com suas ações, o nível de

relacionamento da turma. É ele que promove atividades criativas (ou não)

capazes de reter a atenção do grupo. A metodologia utilizada, o conteúdo

pertinente à realidade são subsídios indispensáveis para alcançar o

interesse e a participação do adolescente.

No entanto vale ressaltar que o professor não é o único responsável

pela ação ou efeito disciplinar, não é uma responsabilidade unilateral. Essa

concepção pode revelar que o professor ainda considera o aluno incapaz de

tomar decisões e responder pelo que faz levando a cair em contradição com

a teoria sociointeracionista defendida por estudiosos da Psicologia do

Desenvolvimento Humano como VYGOTSKY que valoriza a concepção do

sujeito ativo na construção dos processos mentais e da aprendizagem.

Entretanto este sujeito ativo, o adolescente, não possui muitas vezes,

a estrutura familiar. As razões primordiais para a violência acredita-se ainda

que são resultantes do ambiente em que o educando vive.

Para RAPPAPORT, autor de Psicologia do Desenvolvimento – A

Idade Escolar e a Adolescência, o papel da família como agentes

socializadores é fundamental. A interação afetiva entre pais e filhos

determina a importância de sentimentos de integração que,

conseqüentemente, permite aos mesmos o desenvolvimento de suas

capacidades cognitivas e de relações sociais e emocionais. A falta desta

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estrutura familiar desencadeia outros problemas de relacionamento como

brigas com colegas, uso de drogas e de álcool, distorções e oscilações de

auto-estima e até mesmo dificuldades para lidar com a própria sexualidade.

Em outra vertente, como é comumente visto em noticiários de TV e

páginas de jornais, a violência e a agressividade (suas causas e

conseqüências) não são propagandas apenas entre os muros da escola ou

dentro da célula familiar. É visível que a agressividade escolar é reflexo da

violência urbana que, devido a total desestruturação socioeconômica que

nossos pais vem atravessando, determina a classe menos favorecida, com

baixo poder aquisitivo e pouca perspectiva de melhoria da qualidade de vida.

O jovem discriminado e excluído não encontra alternativas na escola e cai

na marginalidade.

Neste contexto, o diretor do Instituto Internacional de Planejamento de

Educação de Buenos Aires indica de forma objetiva em entrevista a Revista

Nova Escola o oficio da escola atual inseridas nessas comunidades.

“É necessário educar para que nossos alunos sejam

capazes de elaborar uma explicação sobre o que

acontece (por isso, a prioridade deve ser o ensino da

leitura e da escrita), de ter um projeto de vida (e para

isso devem conhecer a si mesmos, seus pontos fortes e

fracos) e de sentir que seus professores têm confiança

neles e na sua capacidade de aprender.”

(Juan Carlos Tadesco, 2003, página 12)

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CAPÍTULO III

DINÂMICA ESCOLAR:

ESTAGNAÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO?

“Depois de vinte anos na escola não

é difícil aprender.

Todas as manhãs do seu jogo sujo.

Não é assim que tem que ser?

Vamos fazer nosso dever de casa

E aí então, vocês vão ver

Suas crianças derrubando reis

Fazer comédia no cinema com as suas leis.”

(Legião Urbana – Geração Coca-Cola)

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Capítulo III

Dinâmica Escolar:

Estagnação ou Transformação?

A sociedade moderna exige a escolarização de todos os cidadãos.

Mas é necessário garantir a todos a possibilidade de ingressar no processo

de escolarização oferecendo oportunidades de movimentação dos bens

criados por esta sociedade. Observa-se a dificuldade do acesso ao ensino e

este é um fator que atua contra a democratização do mesmo.

A nova Lei de Diretrizes e Bases que rege a Educação no país prevê

8 anos de escolaridade como o mínimo necessário para a formação do

cidadão. Entretanto o nosso sistema educacional não oferece subsídios

necessários para o cumprimento das mesmas.

A evasão e a repetência escolar revelados através de dados

estatísticos comprovam a ineficácia do nosso sistema:

“Os dados educacionais nacionais revelam que de cada

1000 crianças que ingressam anualmente na 1º série do

Ensino Fundamental, 560 não chegam, ao final do ano,

aprovados p/ a 2º série. Ou evadiram-se ou foram

reprovados na escolaridade. Isso quer dizer que 56% da

população escolar (...) não chegaram ao patamar da

série seguinte. Dessas 1000 crianças, somente 180

chegam ao final do Ensino Médio e, aproximadamente,

07 ingressam na Universidade. Há um processo intenso

de repetência e evasão da escolaridade. Desde a

década de 30 se reconhece o fenômeno das altas taxas

de evasão escolar e nada se tem feito para sanar essa

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situação. São muitos os interesses que mantém essa

situação educacional no país.”

(Luckesi, 1990)

A sociedade burguesa através de diversos mecanismos limita o

acesso e a permanência das crianças e adolescentes no processo de

escolaridade.

Quanto mais ignorância e mais inconsciência, melhor para os

segmentos dominantes da sociedade.

Entende-se que a não permanência na escola assim como o baixo

nível de terminalidade são fatores antidemocráticos no que se refere ao

ensino, mas não se pode esquecer que estes estão ligados a qualidade de

ensino. A pratica escolar e docente deve criar condições necessárias e

suficientes para que a aprendizagem se faça da melhor forma possível. É

preciso desenvolver meios efetivos pelos quais os educadores, de fato,

aprendam os conteúdos que estão sendo propostos e ensinados.

Precisa-se possibilitar aos educandos o processo de emancipação.

Desta forma torna-se imprescindível que o planejamento, a pratica

pedagógica e a avaliação se processem de forma adequada. Pois se estas

forem conduzidas inadequadamente, levarão à repetência e,

conseqüentemente, a evasão.

Sendo assim este capitulo oferece uma reflexão crítica sobre a prática

do educador principalmente no que se refere a avaliação Escolar que vem

passando nos últimos tempos por um processo de inovação conflitante.

A avaliação Educacional, do ponto de vista inovador, conforme

argumentam Parlett e Hamilton veio declarar a resistência a esse modo tão

mecânico e desumano de controlar os resultados da aprendizagem:

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(...)”sua principal preocupação prende-se à descrição e

interpretação em lugar de mensuração e predição”

(Parlett e Hamilton, 1983, página 47)

Essa reflexão é de extrema relevância para melhor compreensão

acerca das deficiências da avaliação de aprendizagem que, nos dias atuais

vêm sendo amplamente discutida a fim de levar a novos rumos esse

processo tão fundamental na prática pedagógica e igualmente complexo e

contraditório.

3.1 – Avaliação numa abordagem conservadora

O que vem caracterizando o sistema de ensino brasileiro é uma

prática pedagógica atrelada a um conceito de educação já ultrapassado,

mas que tem tido força suficiente para não se deixar modificar. A ação

didática tem primado por uma práxis educativa reprodutora e conservadora

da sociedade, em detrimentos de uma postura pedagógica progressista que

busque a transformação social.

Nas instituições educacionais, há professores que tomam para si o

controle absoluto da situação do aluno, eles decidem que informações serão

coletadas ao longo do processo, estruturam os instrumentos que julgam

adequados, sem qualquer participação do estudante, tomam as decisões

consideradas certas e boas para ele. Consciente ou inconsciente, esse tipo

de professor é partidário de uma pratica pedagógica acrítica, ultrapassada

(do ponto de vista progressista), mas que certamente, atende aos seus

ideais conservadores.

Outra questão importante e que certamente tem contribuído para esse

desajuste do processo educacional – fruto de um processo histórico de

dependência cultural pelo qual o Brasil vem passando – é que ao longo dos

tempos a educação brasileira tem vivenciado algumas tendências

pedagógicas, produzidas pelo modelo liberal conservador que, a despeito da

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pregação inovadora, não alcançaram tal intento, há que se desenvolveram,

conforme afirma Luckesi (1984), “com o objetivo de conservar a sociedade

na sua configuração” (p.4)

Assim, nesse enfoque, os procedimentos didáticos – pedagógicos são

obsoletos e desestimulantes, resultando numa avaliação falsa e autoritária,

cuja preocupação tem estado voltada à memorização de fatos e

informações.

A avaliação, numa abordagem liberal conservadora, é praticada de

forma linear e fragmentada, enfatizando a descrição quantitativa do

rendimento do aluno e considerando o grau de aquisição dos conteúdos

transmitidos pelo professor, com vistas a controlar os objetivos pré-

estabelecidos do ensino.

Neste contexto, tem se valorizado a aquisição pura e simples de

conhecimentos sem qualquer relação com a aplicação pratica, ao invés de

considerar o processo intelectivo do aluno.

Utilizando a avaliação apenas para classificação do educando, o

professor atribui um grau ou conceito, pelo desempenho na prova/teste e a

lança nos documentos onde se registram a vida escolar.

Essa postura reflete a falta de interesse em investigar as causas das

deficiências de aprendizagem que levaram o aluno à aquele desempenho,

bem como a falta de sensibilidade do educador pelo possível rótulo criado a

partir do lançamento de um grau que, muitas vezes, pode até não

corresponder à realidade acadêmica do aluno e que, naturalmente,

interferirá na continuidade e na terminalidade da fase educacional e,

fatalmente, na sua vida profissional.

Negando a própria competência para avaliar o desenvolvimento do

processo didático, o professor que pratica uma pedagogia conservadora usa

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ainda a avaliação como instrumento disciplinar de condutas sociais, quando

a utiliza para fazer retornar a ordem social à sala de aula (Luckesi, 1984).

Conforme Luckesi, este comportamento tem sido comum no meio

educacional e assim:

“Uma atitude de indisciplina na sala de aula, por vezes, é

imediatamente castigada com um teste relâmpago, que

poderá reduzir as possibilidades de aprovação de um

aluno (...) De instrumento de diagnóstico para o

crescimento, avaliação passa a ser um instrumento que

ameaça e disciplina os aluno pelo medo.”

(Luckesi, 1984, página 51)

Estas características não se prestam ao desenvolvimento de uma

avaliação que visa ao diagnóstico e ao atendimento do aluno nas suas

necessidades individuais de aprendizagem. Desta forma, impedem não só

que a ação didática caminhe num continuum integrado, mas também que o

processo avaliativo, em particular, proporcione o feedback tão útil para o

aperfeiçoamento e melhoria do ensino, proporcionando ao aluno o avanço

progressivo na aprendizagem. Conseqüentemente, a avaliação assim

praticada não pode servir ao propósito da transformação social.

3.2 – Avaliação numa abordagem transformadora

A necessidade de uma nova prática avaliativa vem sendo sentida nos

últimos tempos, o que tem levado, os estudiosos da área de pesquisas,

respaldo cientifico à inovação da avaliação na sala de aula.

Grillo (1990) acena para a possibilidade de que se esteja caminhando

para “uma abordagem diferenciada” da avaliação:

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“(...) onde professores e alunos comprometidos

mutuamente, dialogam e refletem sobre os resultados

obtidos. Esta postura implica numa visão progressista de

escola colocando a produção do conhecimento como

instrumento essencial do processo de aprendizagem e

de avaliação”.

(Grillo, 1990, página 34)

Uma prática pedagógica desenvolvida desta forma proporcionará a

interação verdadeira entre ambos – educador e educando – como elementos

igualmente ativos e responsáveis juntos pela construção de um novo modelo

social. Neste momento, não haverá a simples transferência de um

conhecimento, mas sim haverá uma colaboração e se estará criando

condições para a produção do conhecimento.

Em tal contexto, será verdadeira a situação de igualdade social

iniciada na sala de aula, quando educador e educando crescerão juntos e,

numa ação integrada, ambos se destacarão como sujeitos do processo de

educação porque, segundo Freire, “ninguém educa ninguém, ninguém se

educa; os homens se educam entre si, mediatizados pelo Mundo” (in

Mizukami, 1986, p.98).

Ao invés de um saber transmitido, fragmentado que envolve um

conjunto de idéias abstratas e desvinculadas do contexto nele vivido, que

torna o individuo impotente para atuar de forma coerente e transformadora –

os novos rumos da educação ensejariam um processo avaliativo aliado à

prática de um ensino construtivista e assim estariam voltados para o

desenvolvimento de um saber crítico, pelo que aprendemos relacionar

dialeticamente teoria e prática.

Vale lembrar aqui um velho provérbio que, muito oportunamente

defende a importância, não do saber adquirido sem relação com a realidade

imediata do educando, mas, do saber que ele constrói à medida que vê

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aplicação prática do referencial teórica que recebe na sala de aula:

“Ninguém vale pelo que sabe e sim pelo que faz com aquilo que sabe”.

Seria a decadência da memorização, do saber acrítico, em prol da

criatividade e da reflexão com base num saber construído pelo próprio aluno,

fundamentado numa prática de vida real. A avaliação, neste caso,

privilegiaria a cultura do aluno.

Diante deste enfoque, em que o aluno se dará a chance de participar

da construção do conhecimento através de conteúdos mais significativos, a

avaliação educacional passa a assumir um enfoque diferente: vencendo a

barreira do autoritarismo, ela se tornará democrática e participativa. A

avaliação passa a ser entendida como em constante diagnóstico com

extensão do sujeito a ser avaliado.

Assim, participam deste processo, além de professores e alunos,

demais representantes da comunidade acadêmica num julgamento mútuo do

trabalho educacional desenvolvido.

3.3 – A atual prática pedagógica e avaliativa

Após estudo, pesquisa e conversas informais com educadores e

educandos, de uma escola pública do Município do Rio de Janeiro (2º

segmento do Ensino Fundamental) percebe-se que a avaliação no cotidiano

escolar leva professores e alunos a opiniões bem divergentes sobre o

processo pedagógico e avaliativo.

Na visão dos professores em meio a tantos conceitos e teorias o que

fica é que se avalia porque o sistema exige, cumpre-se apenas uma

“obrigação”. Corrigir provas e testes, emitir boletins e pareceres para uma

provável promoção ou não do aluno. Pode-se perceber também uma grande

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inquietação com o tema e um consenso de que deve haver mudanças,

porém não se sabe por onde começar.

Entre os alunos o que se percebe claramente é o “medo” de ser

avaliado, pois eles percebem perfeitamente que há uma seleção a partir da

avaliação, por isso se preocupam mais com os resultados do que com o

processo, com o caminho que foi percorrido para se chegar a este resultado

e geralmente os alunos só estudam se for cobrado na prova, só estudam o

que cai na prova.

Fazendo uma reflexão e comparação dos dados coletados, nota-se

por parte dos educadores um comportamento que estimula e perpetua esta

prática, deixando os educandos sedentos pelas notas e resultados

bimestrais.

Nota-se porém um sentimento em comum entre os grupos, o

sentimento de serem “sobreviventes” de um processo avaliativo pouco

aberto a mudanças e cheio de vícios e mazelas que vem se perpetuando por

uma prática avaliativa castradora e classificatória.

Encontra-se também em meio a educadores acomodados com a

situação e que temem as mudanças, educadores inquietos e que buscam

caminhos alternativos para procederem de modo libertado, numa postura

mediadora em benefício da avaliação como processo neste cotidiano

escolar.

Nota-se que acima se tudo os educadores precisam se armar de

“coragem”, coragem para questionar, refletir e realizar uma avaliação

dinâmica, significativa e libertadora. Educadores e educandos deverão reunir

forças para que isto aconteça na prática e deixe de ser um a utopia e

modifique a realidade da pratica avaliativa nas escolas de ensino

fundamental.

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Um educador que esteja preocupado com a sua prática pedagógica,

não poderá agir sem planejamento. Sua prática deverá ser norteada por

objetivos previamente estabelecidos.

A postura mediadora do educador, bem como a do Supervisor

Escolar, no processo ensino-aprendizagem se destina a acompanhar,

empreender, interpretar e favorecer a progressão contínua do aluno, lhe

dando novas possibilidades.

E dever do educador assumir um compromisso com o

aprofundamento teórico sobre o assunto, o conteúdo a ser trabalhado. Assim

o termo “aprender”, para o aluno, ganha uma nova interpretação: construir

conhecimento diminuindo então a distancia entre a real função da escola e a

vivência do adolescente.

A ação pedagógica deve contar com a curiosidade de conhecer a

quem se educa, possibilitando a descoberta de si própria. Não se pode mais

supervalorizar o cognitivo em detrimento das demais dimensões que

compõem a totalidade do ser humano como garante Edgar Morim, pensador

contemporâneo de grande importância no cenário atual.

O ser humano, ele, é a um só tempo físico, biológico, psíquico, social

e histórico. Esta unidade está totalmente desintegrada na educação atual

determinada por disciplinas fragmentadas.

Eis então a necessidade de trabalhar de fato com a

interdisciplinaridade, que promove o desenvolvimento integral do educando

nos níveis físico, emocional afetivo, mental, social, espiritual, ecológico e

cósmico, não deixando aberto lacunas para o desinteresse do educando no

cotidiano escolar.

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CONCLUSÃO

O adolescente necessita criar sua própria identidade e saber seu

papel na sociedade. Com isto passa por um período contraditório e cheio de

incertezas. A família, que seria fundamental neste processo de mudança,

está desestruturada. Logo, a instituição escolar ganha um espaço muito

maior na formação deste indivíduo. Muitos adolescentes não concluem os

estudos devido a falta de interesse pela escola, já que esta não vem

cumprindo com o seu novo papel: além da formação cognitiva, a escola deve

se preocupar com a formação da personalidade, de valores e da ética.

E ela cedeu seu espaço para a sociedade e seus distúrbios. A mídia,

a tecnologia, a violência, as drogas estão sendo cada vez mais interessantes

e necessárias do que a instituição.

A falta de conhecimento sobre a evolução biológica do ser humano e

a deficiente formação dos professores são as principais barreiras no

processo de mudança no ensino.

Continuamos a oferecer para os nossos alunos técnicas e metodologias

tradicionais, totalmente desvinculados do contexto social atual. Não se pode

esperar que um adolescente assista uma aula expositiva por mais de uma

hora se sua capacidade de concentração não ultrapassa de 20 minutos.

Precisamos utilizar recursos didáticos mais adequados para atingir nossos

alunos. Além disso necessitamos reformular o currículo, os objetivos, as

metodologias e nossa avaliação escolar, caso contrário o processo ensino-

aprendizagem permanecerá neste ciclo: aulas desinteressantes que levam

alunos à indisciplina fazendo com que os professores utilizem avaliações

rígidas e castradoras gerando reprovação e mais desinteresse.

Para reverter este caótico quadro, é preciso rever o papel do

educador. Ele deve criar situações que facilitem a aprendizagem de

procedimentos que contribuam para construção da autonomia pessoal,

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oferecer métodos de organização para o trabalho que possibilitem a

construção de uma disciplina pessoal, dar indicações de atitudes e

responsabilidades que lancem as condições para o desenvolvimento de

justiça, ser um guia para ajudar o estudante a explorar, reconstruir e situar-

se no meio cultural onde vive e apoiar atitudes de companheirismo e

solidariedade que estimulem o respeito mútuo. Estes princípios são um

excelente ponto de partida para o professor que pretende começar uma

transformação em sua escola.

Outra questão relevante neste processo de transformação é o

planejamento. Se visamos um ensino emancipador, o planejamento deve

estar voltado para a heterogeneidade, diversidade, autonomia e valorização

do aluno porque este sim deve estar no centro do processo de

aprendizagem.

No entanto, nosso sistema educacional ainda possui professores que

acreditam ser o ator principal na dinâmica escolar, sendo o absoluto detentor

do saber tendo o aluno como mero receptor de informações. Sob esta ótica

a transmissão de conhecimento não propicia a reflexão e criatividade, mas

sim o desprazer e medo.

Vejamos trechos da entrevista do sociólogo e escritor Pedro Demo à

Revista Nova.

“Nós precisamos criar um ambiente de aprendizagem na

classe, onde o aluno possa reconstruir experimentos ou

até mesmo conceitos. (...). Se você dá material para o

aluno comparar e interpretar, já criou um ambiente de

aprendizagem centrado na dúvida – que pode incluir as

do próprio professor.”

“Quem lida com o conhecimento, lida com poder. Então

pela própria posição que tem na escola, o professor

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maneja o poder. O que nós, professores devemos

combater é o poder prepotente, que faz da prova uma

arma”

(Pedro Demo, 2001, página 50 e 51)

O processo de ensino-aprendizagem bem como a avaliação,

envolvem, além das questões técnicas, as de ordem política que certamente,

determinam a prática pedagógica.

Muitas vezes a avaliação tem sido utilizada sem qualquer

fundamentação teórico científica, tornando-se por base, apenas opiniões.

Algumas vezes são classificações, calçadas em dados tão objetivos e

quantitativos, obtidos através da medida, cuja a precisão o tornam

eminentemente autoritária e burocrática.

Privilegiando os dados quantitativos, valoriza-se e atribui-se uma nota

ou conceito ao aluno, o professor faz um julgamento indevido dos resultados

alcançados pelo aluno, tirando-lhe qualquer chance de avanço e

desestimulando cada vez mais.

Segundo Celso Antunes, a avaliação não tem como única função

verificar o processo de aprendizagem do aluno, mas também identificar

“pontos fortes e fracos” na estrutura pedagógica.

“Fornecer base para que a equipe docente localize

deficiências na estrutura do ensino e tome decisões no

sentido de aperfeiçoamento do trabalho visando a

eficácia de seus esforços instrucionais, na melhor

capacitação de cada professor e na melhoria crescente

do processo ensino – aprendizagem.”

(Celso Antunes, 2002, página 38)

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Assim, ao professor caberá a responsabilidade de desenvolver

eficientemente o processo pedagógico, avaliando cuidadosamente a

seqüência institucional com vistas a melhora-la para a operação seguinte.

Para isso, é fundamental que o professor verifique a compreensão dos

alunos a respeito do conteúdo discutido, mas o faça de um modo ativo,

fornecendo imediatamente conhecimento dos resultados para garantir a

compreensão do que foi estudado.

Que, na busca de uma Educação democrática e autônoma

consigamos acabar com a imagem de uma avaliação sentenciva, excludente

e seletiva, de caráter rígido, inflexível, quando na verdade a avaliação

precisa ser flexível e provisória, estabelecendo um vínculo de confiança

entre o educador e educando num ato acima de tudo de amor. Logo, cada

educador estará avaliando não para excluir ou selecionar, mas para melhor

formar cidadãos com ética, consciência e generosidade.

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ção / Empresa Municipal de Multimeios, 2003 Seção: Atualidade – Lem-

branças que não deixam saudades.

* Revista Nova Escola – Agosto de 2001 – Edição 144-SP. Seção Fala Mes-

tre. É errando que a gente aprende.

* Revista Nova Escola – Março 2003 – Editora Abril – Edição nº 160 SP –

Seção Fala Mestre: “A Cultura da Paz começa na Escola”.

* Revista Nova Escola – Abril de 2003 – Editora Abril – Edição 161 – SP.

Seção com a Palavra: Sobreviver as Crises.

* Revista VEJA – Edição 1809 – ANO 36 – Nº26 - 2 de junho de 2003 - São

São Paulo.

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* TIBA, Icami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo: Gente, 1996.

* _________. Ensinar Aprendendo. São Paulo: Gente, 1998.

* Vídeo Maravilhas do Corpo Humano - Produção BBC – EUA.

* ZAGURY, Tânia. Encurtando a Adolescência – Dúvidas que angustiam e

reflexões que aliviam. Rio de Janeiro: Record, 2001.

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ÍNDICE - INTRODUÇÃO ............................................................................... 8

- CAPÍTULO I ................................................................................... 10

O PERFIL DO ADOLESCENTE

• 1.1- Pré-adolescência: Auto-conhecimento e ................................ 13

modificações hormonais

• 1.2- Fase intermediária: Amizade, máscaras e ............................. 14

onipotência

• 1.3- Pós-adolescência: Planos, ...................................................... 15

responsabilidades e emancipação

- CAPÍTULO II .................................................................................. 17

AGRESSIVIDADE, VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA:

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

• 2.1- Indisciplina: principais conceitos ............................................. 19

• 2.2- A disciplina escolar e o papel do educador ............................. 21

• 2.3- Aspecto histórico da disciplina escolar ................................... 25

• 2.4- Algumas causas da indisciplina escolar ................................. 26

- CAPÍTULO III ................................................................................. 29

DINÂMICA ESCOLAR:

ESTAGNAÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO?

• 3.1- Avaliação numa abordagem conservadora ............................ 32

• 3.2- Avaliação numa abordagem transformadora .......................... 34

• 3.3- A atual prática pedagógica e avaliativa .................................. 36

- CONCLUSÃO ................................................................................ 39

- BIBLIOGRAFIA .............................................................................. 43

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MENSAGEM

Os Dez Mandamentos do Ensino

A Educação da juventude se processará facilmente se

I- Começar cedo, antes da corrupção das inteligências.

II- Se fizer com a devida preparação dos espíritos.

III- Proceder das coisas gerais para as particulares.

IV- E das coisas mais fáceis para as mais difíceis.

V- Se ninguém for demasiado sobrecarregado com trabalho escolares.

VI- Se em tudo se proceder lentamente.

VII- E se os espíritos não forem constrangidos a fazer nada mais que

aquilo que desejam fazer espontaneamente, segundo a idade e por

efeito do método.

VIII- Se todas as coisas forem ensinadas, colocada-as

imediatamente sob os sentidos.

IX- E fazendo ver a utilidade imediata.

X- E se tudo se ensinar sempre com um só e o mesmo método.

(Johan Amós Comenius)

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ANEXOS

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Os Grandes Desafios do Adolescente

no Cotidiano Escolar

Janeiro/2004

Avaliação: _________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

Avaliado por: ________________________________________

____________________, ______ de ________________ de __________

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