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Coleção Aventuras Grandiosas Condessa de Ségur OS Desastres de Sofia Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez 2 a edição FRONT Desastres de Sofia.indd 1 30/05/11 10:51

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Coleção Aventuras Grandiosas

Condessa de Ségur

OS Desastres de Sofia

Adaptação de Ana Carolina Vieira Rodriguez

2a edição

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Capítulo 1

UMA LINDA BONECA!— É minha! Esta caixa de presente é minha! — gritou Sofia, correndo pela

sala com o embrulho no colo.— Que maravilha! Quem mandou? — perguntou a babá Lúcia.— Meu pai me mandou de Paris!— Então vamos abri-la — disse a jovem, ajudando a menina a rasgar o papel

e a tirar os laços.Quando a caixa foi aberta, o rosto de Sofia se iluminou ainda mais. Era uma

linda boneca feita de cera, IMPECAVELMENTE vestida com uma roupinha de renda azul e sapatos de VERNIZ.

Sofia mal conseguia conter sua emoção. Ela abraçou a boneca várias vezes e correu para mostrá-la a Paulo, o primo de cinco anos que ia sempre a sua casa brincar. Quando o menino pediu para segurá-la, ela teve medo:

— Cuidado! Não quero que ela caia no chão — recomendou.Paulo examinou a boneca de todos os lados, depois a devolveu para a

dona, meio sem graça. — Não gosto de bonecas — disse ele.— Eu amo bonecas e vou convidar Camila e Madalena para conhecê-la.Pouco antes de as meninas chegarem para a visita, Sofia penteou a boneca e ajeitou

sua roupinha, depois pensou: “Acho que ela está um pouco PÁLIDA. Vou colocá-la na janela para tomar sol, assim estará corada para receber Camila e Madalena”.

E foi o que ela fez. Quando as amigas chegaram, Sofia levou-as ao seu quarto. Camila pegou a boneca e disse:

— Ela é muito bonita, mas não tem olhos.Sofia deu um grito:— Mamãe! A boneca perdeu os olhos!A sra. Réan, mãe de Sofia, explicou:— Você colocou a boneca no sol e a cera derreteu. Sofia chorou desesperadamente, mas a mãe a acalmou:

* IMPECAVELMENTE: de maneira impecável, perfeita, sem defeitos* VERNIZ: tipo de resina vegetal natural usada para proteger

madeira, metal, etc.* PÁLIDA: sem cor, com a pele descorada

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* DESBOTADO: sem brilho, que perdeu a cor* PAPELOTES: pedaços de papel usados para encrespar os cabelos* ESCALDA-PÉS: banho nos pés com água bem quente* FLANELA: tipo de tecido macio

— Querida, eu sou uma ótima médica de bonecas e vou curar a sua bem depressa. Quer ver?

Sofia enxugou as lágrimas. As três meninas sentaram-se à mesa da sala e ficaram observando a sra. Réan operar a boneca. Primeiro ela pegou uma tesoura e separou a cabeça do corpo, o que fez as meninas estremecerem. Depois, com a ajuda de uma pinça, ela retirou os olhos, que haviam caído dentro da cabeça da boneca, derreteu um pouquinho de cera e conseguiu formar de novo o rosto. Para finalizar, costurou de volta a cabeça ao corpo.

— Viva mamãe! Viva mamãe! — gritava Sofia, enquanto Camila e Madalena batiam palmas.

Sofia aproveitou muito a companhia da boneca, mas pode-se dizer que a pobrezinha sofreu bastante durante o tempo em que ficou com ela. Foram diversos acidentes.

Certa vez, Sofia resolveu dar banho na boneca. Esfregou tanto, que o rosto ficou DESBOTADO. Depois Sofia decidiu que devia colocar PAPELOTES no cabelo da boneca. Enrolou cacho por cacho e passou os papelotes a ferro quente. Resultado: a boneca ficou careca. Sofia chorou muito.

Em uma outra ocasião, Sofia quis que a boneca fizesse ginástica e a suspendeu com um barbante para que ela aprendesse a fazer piruetas no ar. A boneca teve um braço quebrado nesse dia. A sra. Réan tentou consertar, mas um braço acabou ficando mais curto que o outro, por mais que Sofia tivesse chorado de novo.

Um dia, Sofia viu sua mãe fazendo um ESCALDA-PÉS para relaxar e resolveu que a boneca também precisava de um. Ela trouxe uma bacia de água quente e mergulhou os pés da boneca nela, que derreteram imediatamente. Ouviu-se outra choradeira pela casa, mas a boneca ficou sem pés.

Na tarde em que a boneca teve que aprender a subir em árvores, ela caiu e se quebrou em vários pedaços. Dessa vez, Sofia não chorou. Em vez disso, convidou as amigas para o enterro da boneca.

Camila e Madalena chegaram perguntando:— Onde vamos enterrá-la? A babá já havia preparado uma linda caixa forrada com FLANELA cor-de-

-rosa, colchão e travesseiro combinando. As crianças estavam encantadas com tanto

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* LÍRIOS: espécies de flor* TRAQUINAGENS: travessuras* BANGALÔ: pequena casa térrea com varanda

capricho! Colocaram a boneca deitada e a cobriram com uma manta, também cor-de-rosa, para que ninguém visse o corpo despedaçado. Só a cabeça ficou de fora. Depois fecharam a caixa e saíram em direção ao jardim.

Houve uma pequena briga para ver quem iria carregar a caixa, mas eles mesmos decidiram que Paulo e Sofia iriam fazer o transporte, já que eram os mais novos. Cada um segurou de um lado. Camila e Madalena foram uma na frente e a outra atrás, levando cestinhas de flores nas mãos.

No jardim, cavaram um buraco, enterraram a boneca e plantaram dois LÍRIOS sobre o local. Depois foram buscar água no regador para molhar as flores. As crianças se divertiram muito molhando os pés uns dos outros na hora de regar as plantinhas. Correram, deram risada e não sentiram a morte da velha boneca.

Na hora de ir embora, Camila e Madalena pediram a Sofia e Paulo que quebrassem outra boneca, assim poderiam fazer outro enterro divertido.

Capítulo 2

TRAQUINAGENSSofia era uma menina bem agitada. Ela também não gostava de cumprir

ordens, embora respeitasse muito os pais. Certo dia, ela saiu com sua mãe para um passeio perto do riozinho. Havia alguns pedreiros lá construindo um BANGALÔ, que sua mãe pretendia usar para ler, pintar ou apenas observar a paisagem no fim da tarde.

— Mamãe, o que é esta areia tão branquinha? — perguntou ela, aproximando-se de um pequeno monte.

— Não toque nesta areia, querida. É cal — respondeu a sra. Réan. — E por que não posso tocar?— A cal queima a pele, machuca.Sofia foi embora dali inconformada. Ela queria tanto sentir aquela areia fofinha

nas mãos... Mais tarde, quando estava sozinha, fugiu até o riozinho e foi direto ao monte de cal. Assim que se aproximou, levou um tombo e acabou caindo de joelhos em cima dele. Os pedreiros vieram acudir, e a babá, ouvindo os gritos da menina, correu para lá.

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— O que houve? — perguntou Lúcia aos pedreiros?— A menina Sofia caiu em cima da cal e quase queimou as pernas. Veja,

as meias ficaram esburacadas e a pele está um pouco vermelha — disse um deles, que havia limpado a perna de Sofia rapidamente, não dando tempo de a cal agir.

Já em casa, a sra. Réan ficou sabendo de tudo. Sofia estava envergonhada por ter desobedecido à mãe.

— Desculpe, mamãe — disse ela.— Tudo bem, querida, eu sei que você se assustou bastante e isso

já foi castigo suficiente, mas entende agora por que eu tinha dito que a cal era perigosa?

— Sim, mamãe, meus joelhos formigaram!Sofia abraçou a mãe com carinho e prometeu que nunca mais iria

desobedecê-la. A sra. Réan sabia que era uma promessa difícil de cumprir, já que Sofia era uma menina curiosa, mas abraçou a filha de volta. Ela precisava de seu amor naquela hora.

Uma semana depois, as coisas estavam bem calmas até que, como a sra. Réan previu, Sofia logo aprontou de novo. Na sala de estar da casa havia um enorme aquário de água doce, com cerca de quinze peixinhos. Todos os dias, Simão, um dos empregados, limpava a água, alimentava os peixes com ração própria e, quando necessário, removia o LIMO das paredes de vidro.

Sofia não gostava de ver os peixinhos presos, então resolveu fazer algo muito importante: pescou os peixinhos um a um com uma pequena rede, colocou-os dentro de um balde com água e soltou-os no rio.

Quando a mãe viu o aquário vazio, ficou furiosa e foi logo falar com a babá. Perguntou se tinha sido Sofia a autora daquilo, mas Lúcia negou:

— Sofia ficou desenhando no quarto a tarde toda — afirmou. Ela não tinha visto Sofia sair e depois voltar para o quarto.— Estranho — disse a sra. Réan —, eu podia jurar que tinha sido obra de

minha filha.— Sofia não tem culpa — acrescentou a babá. — Disso tenho certeza.Durante o jantar, a sra. Réan disse:— Vou DEMITIR Simão.— Por quê, mamãe? — perguntou Sofia.

* LIMO: qualquer tipo de alga que forma massas verdes na água doce* DEMITIR: despedir, afastar

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— Porque ele matou meus peixinhos. Devia estar cansado de tomar conta do aquário.

— Ele... ele não matou — gaguejou a menina, com lágrimas nos olhos. — Como sabe que não foi ele?— Por favor, mamãe, não demita Simão. Ele não teve culpa. — Foi você, Sofia? Matou meus peixes? — perguntou a sra. Réan, com

braveza na voz.— Eu, eu não os matei, mamãe, eu os libertei. Eles viviam em uma prisão e

eu os coloquei no rio — confessou ela, aos prantos. A sra. Réan pensou um pouco, depois disse:— Está bem, Sofia, eu a perdoo. Você agiu com o coração e, além disso,

confessou sua atitude para que eu não demitisse Simão. No entanto, não sei se os peixinhos irão sobreviver.

— E por que não, mamãe? — perguntou ela, enxugando os olhos.— Eles nasceram dentro de um aquário e não estão acostumados com

correntezas, chuvas, peixes maiores... Não sabem se defender, nem comer outra coisa que não seja ração.

Sofia ficou muito triste e disse:— Animais nunca deveriam nascer presos.A mãe ficou em silêncio, no fundo orgulhosa da filha. “Esta menina me

faz pensar”, refletiu.

Capítulo 3

SOFIA QUER MUDARSofia era muito preocupada com sua aparência. Ela tinha cabelos

loiros e lisos, mas queria muito ter cachos como os de Camila. A babá penteava seus cabelos, colocava fitas, fazia rabo de cavalo, mas ela nunca estava feliz.

— Você já reparou como os cabelos de Camila são bonitos? — perguntou certa manhã para a babá Lúcia.

— Os seus também são lindos, Sofia — respondeu a jovem.Sofia nem prestou atenção, ficou se lembrando de que, quando estavam

molhados, os cachos de Camila eram ainda mais marcantes. De repente, teve uma ideia: “E se eu molhasse meus cabelos? Será que eles também ficariam cacheados?”, pensou.

O dia estava um pouco chuvoso e Sofia perguntou:— Mamãe, posso dar uma volta?

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* ÂNSIA: desejo ardente* ESPESSAS: grossas* DENSOS: volumosos* RALAS: sem volume

— Vai chover, é melhor não. Você vai molhar a roupa, o cabelo tão bem penteado, os sapatos...

Aquelas palavras, a ideia de molhar os cabelos, tudo aquilo deu a Sofia mais vontade de sair de casa. Como não podia passear, assim que a chuva começou, Sofia foi até a varanda e ficou observando o céu. Depois, como a ÂNSIA de se molhar não parava de crescer, deu alguns passos para fora e deixou as gotas pingarem em seus pés. A água gelada a deixou empolgada, já que fazia muito calor.

— Quer saber, vou tomar um banho de chuva! Quero ver se meus cabelos não mudam! — disse em voz alta, e saiu correndo pela grama de braços abertos.

A mãe, quando olhou pela janela, gritou:— Sofia! O que eu falei? Eu tinha uma surpresa para você, por isso não

queria que ficasse desarrumada.Sofia adorava surpresas, por isso entrou em casa rapidamente, confessando

que só tomou chuva porque queria que seus cabelos ficassem cacheados. Uma voz alta e grossa veio do fundo da sala dizendo:

— Querida, seus cabelos são lindos, você é linda assim, do jeitinho que é.— Papai! Você voltou de Paris! — gritou Sofia, pulando no pescoço do pai

e ensopando-o com seu vestido molhado. Era aquela a surpresa! Dessa vez a sra. Réan ficou brava com a desobediência

da filha, mas logo tudo ficou bem. O dia era de festa! Sofia trocou de roupa e secou os cabelos, que nunca se cachearam.

A família passou um dia feliz ouvindo as histórias do sr. Réan, que ficava a maior parte do tempo trabalhando em Paris. Eles não moravam longe, a apenas algumas horas de viagem de carro da capital francesa, mas Sofia tinha muitas saudades do pai.

Alguns dias depois, Sofia fez mais uma das suas travessuras, de novo com a intenção de mudar a aparência.

O pai trouxera de Paris várias revistas para a sra. Réan. Em todas elas, as modelos tinham sobrancelhas ESPESSAS, o que Sofia achava lindo!

Como ela tinha ouvido falar que, para ter cabelos mais DENSOS e volumosos, era preciso cortá-los curtos, refletiu: “Se eu cortar minhas sobrancelhas, que são tão finas e RALAS, elas ficarão grossas!”.

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No fundo, ela sabia que a mãe não iria gostar disso, então esperou todos se deitarem depois do almoço e foi até o banheiro. Pegou uma tesourinha no armário e cortou as sobrancelhas bem curtas. Quando se olhou no espelho, disse para si mesma:

— Vou levar bronca. Estou horrível!Correu para o quarto e ficou lá a tarde toda. Na hora do jantar, a babá veio

chamar: — Sua mãe está estranhando você ter sumido. Venha jantar. Estão todos

esperando — disse ela.— Todos? — perguntou Sofia, escondendo o rosto com as mãos.— Os pais de Paulo, seus tios, estão aí. — Não quero jantar — disse Sofia.— Sua mãe está chamando. É melhor você ir — disse Lúcia.Quando Sofia apareceu na sala, muito tímida, houve uma gargalhada geral.— O que você fez na cara? — perguntou Paulo.— Querida, você cortou as sobrancelhas? — perguntou a mãe.Sofia, com lágrimas nos olhos, respondeu que sim com a cabeça.— Nossa, eu nunca pensei que um rosto mudasse tanto sem as sobrancelhas

— disse a sra. D’Aubert, mãe de Paulo e irmã da sra. Réan.— Por que fez isso? — insistiu a mãe.— Eu... eu queria que... que elas ficassem mais grossas! — respondeu,

soluçando.Sofia correu de volta para o quarto, com vergonha. Seu pai foi até lá levar-lhe

o jantar. Enquanto a filha comia, já mais calma, ele disse:— Querida, às vezes não gostamos de algo em nosso rosto ou corpo, mas

isso é passageiro. Você pode não gostar de ter sobrancelhas finas hoje, e daqui a alguns anos achar lindo ter sobrancelhas assim.

— O que está querendo dizer, papai?— Quero dizer que devemos gostar de nós como somos e não ficar lutando

para ser de outra forma. — Não acha feias minhas sobrancelhas, papai?— Que sobrancelhas? — perguntou o pai, arrancando risos dos dois.Depois ele abraçou Sofia e disse:— Você é linda, filha. Não faça mais nenhuma loucura desse tipo.As sobrancelhas de Sofia demoraram seis meses para crescer. Mesmo

não tendo ficado espessas, Sofia ficou feliz da vida quando as viu de volta no rosto.

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Capítulo 4

GULODICESSofia estava em fase de crescimento, por isso tinha muita fome. A mãe não

gostava que ela comesse fora dos horários das refeições, mas ela sempre dava um jeitinho de abocanhar alguma coisa. Sua babá, muitas vezes, lhe dava comida às escondidas, com pena da menina.

Certa tarde, isso lhe custou muito caro. Sofia foi lhe dizer:— Lúcia, estou com tanta fome... — Sofia, você sabe que não pode comer entre as refeições — lembrou

a jovem.— Mas eu estou com vontade de comer alguma coisa, por favor —

insistiu Sofia.— Está bem, vou lhe trazer um pão preto quentinho e um pote de geleia

de amora, mas coma só um pouco. Não exagere.A menina bateu palmas e sentou-se à mesa. Enquanto Sofia comia, Lúcia foi

chamada pela sra. Réan e se retirou da sala para saber do que se tratava. Quando voltou, o pote de geleia estava quase vazio e o pão pela metade.

— Meu Deus, Sofia! Eu disse para não exagerar — reclamou a babá.— É que a fome era muito grande — disse Sofia.— Você vai ficar doente. — Não vou, não, estou me sentindo muito bem.— Sua mãe vai brigar comigo.— O que mamãe queria quando chamou você? — perguntou Sofia,

aproveitando que o assunto era a mãe.— Ah! Eu já estava me esquecendo. Você deve ir até o quarto dela para

aprender a bordar.— Bordar? Está bem — disse Sofia, saindo. A babá tirou a mesa, louca de preocupação. Mais tarde, Sofia foi mostrar

a Lúcia o paninho de prato que tinha feito. O bordado ainda estava meio torto, mas muito bonito. A babá perguntou:

— Você está bem? — Sim, estou ótima, mas sem fome nenhuma — respondeu a menina.— É claro que não está com fome, afinal, comeu quase um pote de geleia!

* GULODICES: excessos de comida e bebida

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Sofia voltou ao quarto da mãe para recolher as linhas e as agulhas e guardá-las dentro de sua nova cestinha de costura. Fez isso muito orgulhosa de ter aprendido a bordar, mas, de repente, sentiu-se esquisita. Doíam-lhe a cabeça e o estômago.

— O que houve? — perguntou a sra. Réan, percebendo algo de errado.— Não sei, estou me sentindo esquisita — respondeu Sofia.— Você comeu alguma coisa?Sofia não respondeu, então a mãe foi falar com a babá. Voltou furiosa.— Quantas vezes eu já lhe disse para não comer entre as refeições? —

perguntou à filha.— Mas, mamãe...— Bem, é melhor ir se deitar. Vamos, eu a levo para a cama — disse a mãe.

— Sofia, você é terrível, não sabe obedecer.Sem reclamar, Sofia foi para o quarto e ficou lá até o dia seguinte, tomando

apenas chá de folha de laranjeira. Só de madrugada conseguiu dormir. O pior foi não ter podido ir à casa de Paulo à noite jantar com seus pais. Eles moravam perto e Sofia adorava ir visitar o primo. Camila e Madalena também foram e sentiram a falta da amiga, que não teve condições de se levantar da cama.

Lúcia levou uma bronca e prometeu a si mesma que nunca mais daria comida para Sofia às escondidas. Mas, infelizmente, a sra. Réan acabou demitindo a pobre moça alguns dias depois. Ela não confiava mais na babá. Preferiu contratar outra, que seguisse À RISCA suas recomendações.

Alguns dias mais tarde foi o aniversário de Sofia. Era dia 19 de julho e Sofia estava fazendo 5 anos. Logo cedo, ela foi ao quarto da mãe, pois sabia que sempre ganhava um presente no aniversário. A sra. Réan deu-lhe um beijo muito afetuoso e lhe entregou um pacote, que Sofia abriu com AVIDEZ.

— Um livro, mamãe? — perguntou ela, desapontada. — Mas eu ainda não sei ler.

— Ah! Mas deste livro você vai gostar. Chama-se As Artes — disse a sra. Réan, sorrindo.

Sofia mexeu um pouco o livro e percebeu que havia algo solto dentro dele. Sacudiu e escutou mais barulhos. Tentou abri-lo e não conseguiu.

— Que livro diferente, mamãe — disse.— Este é um livro muito especial mesmo. Só é possível abri-lo se alguém

apertar o cantinho direito da capa — falou a mãe, mostrando como se fazia.

* À RISCA: com precisão, ao pé da letra, com rigor* AVIDEZ: ansiedade, desejo muito grande

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Assim que a sra. Réan apertou o local certo, a capa se abriu e, dentro do livro, Sofia encontrou muitos pincéis, tintas, cadernos e desenhos para colorir.

— É uma caixa de pintura! — exclamou Sofia, vibrando.— Isso mesmo. Você gostou? — Adorei, mamãe, obrigada!— Você tem outro presente.— Mais um? Que bom, que bom!— É de sua tia. Ela trará Paulo mais tarde para brincar com você, mas fez

questão que você recebesse o presente de manhã.Era um lindo aparelho de chá em miniatura. Sofia gostou tanto que correu

para mostrar tudo à nova babá. Depois foi arrumar as tintas e o aparelho de chá na varanda para esperar Paulo e as amigas Camila e Madalena.

Enquanto arrumava, pensou: “Vou preparar um chá para servir a eles”. Pediu água quente e bolachas à babá, mas ela negou:

— Sua mãe disse que vai me demitir se eu te der comida fora de hora — disse.

Sofia então ficou refletindo e disse a si própria:— Vou preparar meu próprio chá.Foi ao jardim e pegou algumas flores de laranjeira. Colocou no bule e depois

jogou água do pote do cachorro em cima. Sofia tinha um lindo cão mestiço chamado Pingo, que a acompanhava em todos os passeios.

No pequeno açucareiro ela colocou um pó branco de limpar prata, que encontrou nos materiais de limpeza embaixo da escada. Por fim, pegou algumas bolachas do prato de Pingo e arrumou sobre a bandejinha. Ficou satisfeita com o chá que havia preparado.

Quando Paulo, Camila e Madalena chegaram, eles se divertiram muito pintando os desenhos dos cadernos que vieram na caixa em forma de livro. Depois, Madalena PROPÔS:

— Vamos tomar chá?Todos se sentaram em volta do aparelho de chá e começaram a servir as

xícaras com chá e açúcar. Paulo tomou um gole e cuspiu o líquido na hora. Madalena e Camila fizeram o mesmo. Só Sofia não tomou seu chá. Para completar, quando Pingo viu as crianças com seus biscoitos na mão, começou a latir.

— O que é isso? Este chá está horrível! — reclamou Paulo.— E estes biscoitos são do Pingo! Vejam como ele está bravo — disse

Camila.

* PROPÔS: sugeriu

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Sofia confessou aos amigos o que tinha feito. Paulo ficou muito bravo:— Você queria nos fazer tomar um produto de limpeza! Começou uma briga entre os primos. Madalena segurou Paulo, que dava chutes

no ar. Camila segurou Sofia, que queria empurrar o primo. No fim, Madalena disse:— Vamos parar, vocês dois! Daqui a pouco nossas mães virão aqui e nos

levarão embora. Daí não haverá mais brincadeira nenhuma.— Isso mesmo, elas estão na sala e logo vão escutar os gritos de vocês —

disse Camila.Sofia pediu desculpas a todos e os quatro se abraçaram. Depois saíram pelo

jardim correndo entre as borboletas e rolando na grama. Não se esqueceram de levar os biscoitos para Pingo, que ficou muito feliz e correu junto com eles. Foi um aniversário inesquecível.

Capítulo 5

GRANDES AMIGOSCerta manhã, a sra. Réan disse:— Sofia, você quer ir comigo ao sítio dos Svitine? É um passeio longo, que

passa pelo meio da floresta. — Ah, mamãe, eu quero!Paulo estava chegando bem na hora e quis ir junto também.— Prestem atenção, vocês dois: É preciso caminhar perto de mim. Não

podem parar para brincar ou coisa parecida. A floresta tem seus perigos — disse a sra. Réan.

— Prometo que vamos ficar junto de você, mamãe — disse Sofia.— Também prometo, tia — falou Paulo.Então saíram os três pela floresta, acompanhados de Pingo e de outros cães

do sítio, que sempre caminhavam com a sra. Réan. A MATILHA ia bem animada, correndo entre eles, alguns na frente, outros atrás.

De repente, Sofia viu alguns morangos silvestres. Parou e disse a Paulo: — Vamos comer alguns?— Não podemos parar, lembra? Temos que seguir junto da sua mãe.— Não seja bobo, é só um moranguinho. Veja, que delícia — disse ela,

abaixando-se e mordendo um, bem SUCULENTO.

* MATILHA: grupo de cães* SUCULENTO: que tem suco

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— Estou indo, porque não quero me perder. Veja, a titia já está longe. — Se quiser, pode ir, seu medroso. Já, já eu encontro vocês — disse

Sofia.Mais adiante, os cães começaram a se agitar de maneira esquisita. A sra.

Réan percebeu um par de olhos observando-a de dentro da mata. Olhou para trás e viu apenas Paulo.

— Onde está Sofia? — perguntou ao sobrinho, aflita.— Ficou para trás comendo morangos — respondeu Paulo.— Deus do céu, nós estamos sendo seguidos por lobos! Vamos voltar até

onde Sofia está.Eles caminharam rápido e logo viram Sofia agachada ao lado de um pezinho

de morangos. A sra. Réan fez sinal para Paulo ficar calado, pois um lobo ESPREITAVA a filha de perto, pronto para dar o bote.

Os cães avançaram sobre ele, mas não teve jeito, o lobo deu um salto em direção a Sofia, que gritou em desespero. Dois outros lobos se aproximaram, certos de que iam conseguir arrastar a menina com eles.

Pingo, corajosamente, pulou sobre o primeiro lobo e lhe deu uma forte mordida no pescoço. O lobo correu, mas conseguiu levar consigo um pedaço do vestido de Sofia. A menina estava sentada no chão, muito assustada.

Ainda faltavam os outros dois lobos. O pequeno Paulo, em um ato de coragem, pegou um enorme pedaço de madeira e jogou em direção a eles. Foi o bastante para os lobos ficarem confusos e se deixarem atacar pelos cães da sra. Réan. Houve muita luta, mas os cães conseguiram vencer e os dois lobos fugiram pelo mato.

Quando tudo se acalmou, a sra. Réan foi ver a filha:— Sofia, você está ferida? — perguntou, ajudando-a a se levantar.— Acho que não, mamãe. — Então vamos sair daqui, venham. Eles caminharam em silêncio até um riacho, onde beberam água e se

sentaram um pouco. Os cães, feridos, entraram na água e se lavaram, saindo de lá refrescados.

— Meu Deus, Sofia, você entende agora por que eu disse que a floresta tem seus perigos? Você não podia ter ficado para trás — disse a sra. Réan.

— Entendo, mamãe, por favor, me desculpe. E me desculpe você também, Paulo, por ter te chamado de medroso. Eu vi quando você atirou o tronco nos lobos. Você e os cães salvaram minha vida.

* ESPREITAVA: observava escondido, espiava

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A sra. Réan abraçou a filha e o sobrinho, afagou os cães e depois disse:— Agora é melhor seguirmos nosso caminho. Quando chegaram ao sítio dos Svitine, os cães foram tratados como heróis,

o que de fato eram. Ganharam IODO para as feridas e um almoço FARTO, com carne e ossos. Todos elogiaram Paulo pela coragem e agradeceram aos céus por estarem todos bem.

Uma semana depois, Paulo demonstrou mais uma vez o grande amor que tinha pela prima. Sofia era muito impaciente e começou a se irritar porque Paulo balançava a cadeira enquanto pintava.

— Você está me atrapalhando, Paulo. Assim a mesa balança também e meu desenho fica borrado — reclamou ela.

Paulo parou por alguns instantes, mas logo voltou a sacudir a cadeira. Sofia, muito nervosa, partiu para cima do primo e o arranhou todo, arrancando-lhe sangue dos braços e do rosto. O menino correu para a DESPENSA de alimentos e se trancou lá.

Sofia bateu na porta, cheia de raiva, mas ele não abriu. De repente, começou a se sentir arrependida. Paulo havia sido tão bom quando a salvou dos lobos. Era bobagem brigar com ele por uma coisa tão sem importância. Foi até a despensa e bateu de leve na porta:

— Paulo, saia daí, não estou mais brava — disse. — Tem certeza? — perguntou o garoto.— Tenho, pode vir aqui. Quando Paulo saiu da despensa, Sofia levou um susto. Havia um arranhão

grande em seu braço e outro enorme na bochecha. Os dois estavam sangrando.— Paulo! O que eu fiz com você? — disse ela.— Não é nada, vamos lavar e tudo ficará bem — falou ele.Por mais que lavassem, os VERGÕES não desapareciam. Sofia se desesperou:— Mamãe vai me matar! Eu não podia ter te machucado, Paulo. — Eu tenho uma ideia — disse ele.— O que vai fazer?— Espere um pouco aí.

* IODO: líquido usado para limpar e curar feridas* FARTO: abundante, cheio* DESPENSA: local onde se guardam mantimentos* VERGÕES: marcas na pele

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Paulo correu para o jardim, jogou-se em um ARBUSTO ESPINHOSO e voltou mais machucado ainda.

— Meu Deus, você está sangrando mais ainda! — exclamou Sofia.— Agora todos vão pensar que me machuquei na árvore de espinhos. Sua

mãe não vai brigar com você.Quando a mãe de Paulo o viu daquele jeito, levou um susto enorme:— Meu filho, como você se machucou assim? — perguntou.— Caí em um arbusto com espinhos, mamãe — respondeu o menino.— E você, Sofia, por que não o ajudou? — disse a sra. Réan.— Ela me ajudou sim, tia. Se não fosse ela me ajudar a levantar, eu estaria

ainda mais ferido.Paulo foi para casa com a mãe cuidar dos arranhões. Sofia e a mãe foram

jantar. A menina estava muito quieta, até que, sem mais nem menos, começou a chorar.

— O que houve, querida? — perguntou a mãe. — Por que está triste?Só quando conseguiu parar de soluçar Sofia contou à mãe o que havia

acontecido de fato. A sra. Réan disse:— Paulo é um menino muito bom, mas não precisava ter feito isso. — Eu tive medo que você brigasse comigo, mamãe, então ele se machucou

mais ainda. — Veja, é claro que vocês não devem se bater, e eu ia te REPREENDER por

ter machucado Paulo, mas as crianças brigam, isso é normal. Eu não ia “te matar” por ter arranhado seu primo, como você pensou. Que bobagem!

Sofia continuou a chorar. — Agora pare, querida, você não deve se sentir culpada. A culpa não faz

bem a ninguém. Amanhã falamos com Paulo e o convidamos para um bom lanche. O que você acha?

A menina enxugou as lágrimas e abraçou a mãe, dizendo:— Paulo gosta muito de mim, mamãe. — Que bom! E você também gosta muito dele, não é?— É verdade.— Isso é o mais importante, vocês serem amigos.

* ARBUSTO: vegetal que tem os galhos ramificados* ESPINHOSO: com espinhos* REPREENDER: censurar, advertir

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Capítulo 6

DOCES DE FRUTASCerta tarde, um entregador trouxe uma caixa muito bonita para o sr. e a sra.

Réan. Sofia queria muito saber o que era, então perguntou ao homem:— Você sabe o que tem aí?— Na etiqueta diz que são doces de frutas cristalizadas — respondeu ele.Sofia ficou com água na boca e disse:— Pode entregar para mim.— A encomenda deve ser assinada por um adulto. Veio de Paris — falou

o entregador.Logo a sra. Réan entrou na sala e pegou o pacote, assinando o papel da

entrega. Sofia, muito curiosa, perguntou a ela:— Quem mandou, mamãe?— Uns amigos de seu pai em Paris. Foi muito GENTIL da parte deles.— Paulo e eu vamos poder comer os doces também?— É claro que sim, mas só depois do jantar — disse a mãe, guardando a

caixa na CRISTALEIRA. Sofia ficou muito desapontada, mas foi brincar com Paulo. Volta e meia, ela

falava nos doces. Paulo comentou:— Você é muito gulosa, Sofia. — Guloso é você! — REVIDOU ela. — Eu não fico pensando em comida o tempo todo!— Paulo, você é insuportável! É melhor me deixar em paz.— Você me acha insuportável, é? — Acho sim!— Então quem foi que se arranhou todo no espinheiro para você não levar

bronca?Sofia se calou por alguns instantes, depois disse:— Está bem, está bem, você não é insuportável. Mas não me faça sentir

culpada de novo. Mamãe me disse que a culpa não faz bem.

* GENTIL: generoso, amável, delicado* CRISTALEIRA: armário com portas de vidro para guardar cristais,

louças, copos, etc.* REVIDOU: retrucou, respondeu

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Paulo deu um sorriso MAROTO, depois mudou de assunto e os dois voltaram a brincar. O tempo passou depressa e a hora do jantar chegou. Quando acabaram de comer, a sra. Réan abriu a cristaleira e pegou a caixa de doces. Tirou o laço dourado que a envolvia enquanto os olhos de Sofia acompanhavam tudo com muito interesse. Depois abriu a tampa e colocou a caixa no centro da mesa:

— Sofia e Paulo, escolham dois cada um — disse ela.Sofia quase tremia de tanta ansiedade. Ela olhou os doces com muito

cuidado e escolheu os dois que considerou maiores, um de pera e outro de ABRICÓ. Paulo escolheu um de ameixa e outro de pera. A sra. Réan e o marido se serviram do de nozes.

Depois da refeição, todos se levantaram da mesa. Sofia imaginou que a sra. Réan iria voltar os doces à cristaleira, mas ela colocou-os em seu quarto, no alto do armário.

— Agora seu pai e eu vamos visitar uns amigos aqui perto junto com os pais de Paulo. Vocês dois podem brincar até mais tarde hoje, certo? — disse a sra. Réan à filha e ao sobrinho.

— Podemos brincar com o regador, tia? — perguntou Paulo.— Sim, está uma noite quente, não há mal nisso — respondeu ela, subindo

no carro com o marido. As duas crianças fizeram um grande buraco no chão e colocaram bastante

água dentro, mas a água nunca ficava lá dentro, já que a terra ABSORVIA tudo. A brincadeira era ver quem conseguia manter o buraco cheio de água por mais tempo. Sofia estava se divertindo, mas não tirava o pensamento dos doces sobre o armário, tanto que perguntou ao primo:

— O doce de ameixa estava bom?— Sim, estava — respondeu ele.— Eu devia ter escolhido o de ameixa...— Amanhã você escolhe.— Será que o de nozes é bom?— Pare de pensar em doces, Sofia!Ela já ia discutir com o primo, quando de repente ele derramou o regador

em cima dos sapatos, sem querer.

* MAROTO: esperto, malandro* ABRICÓ: damasco, o fruto do abricoteiro* ABSORVIA: engolia, sorvia

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— Vou ter que trocar de sapatos, senão minha mãe pode achar ruim. Já volto — disse ele, entrando em casa.

Sofia se viu sozinha no jardim e teve uma ideia. “Vou até o quarto de mamãe espiar os doces, assim posso escolher hoje mesmo aqueles que vou querer comer amanhã”, pensou.

Ela correu até lá e tentou pular para alcançar a caixa sobre o guarda-roupa, mas era muito alto. Resolveu subir em uma cadeira e, finalmente, conseguiu pegar a caixa nas mãos, coisa que estava querendo desde a hora em que ela chegou.

Olhou doce por doce, muito animada. De repente, teve outra ideia: “Vou dar uma mordidinha bem pequena em cada um deles, assim posso experimentar e saber qual é o melhor. Vai ser mais fácil escolher o mais gostoso amanhã” , refletiu. “Ninguém vai perceber nada, pois vou morder muito pouquinho.”

E foi o que ela fez. Depois de provar cada doce, chegou à conclusão de que todos eram ótimos. Precisaria comer mais um pedaço de cada um para saber qual era o melhor. E assim ela mordeu mais um pouco de cada doce e depois mais outro bocado. Quando percebeu que os doces estavam pela metade, suas pernas tremeram.

— Ai, meu Deus, o que vou fazer? Mamãe vai saber que fui eu — disse em voz alta.

Ela pensou, pensou, depois concluiu que iria dizer que foi um rato o causador dos buracos nos doces. “Vou falar que vi um rato hoje mesmo saindo do quarto e entrando na sala”, pensou.

Sofia fechou rapidamente a caixa, guardou-a de volta sobre o armário e voltou para o jardim. Paulo apareceu uns instantes depois.

— Você demorou — disse ela, com o regador nas mãos. — É que eu não achava meus outros sapatos. — O buraco está vazio — disse ela.— Ah! Por que você o deixou esvaziar? Vamos, passe aqui o regador que

eu vou encher de água. Sofia entregou-o a Paulo, que foi até a torneira enchê-lo. Voltou reclamando:— Que estranho, a alça do regador está grudenta. Sofia imediatamente colocou as mãos dentro do regador para lavar. Ela sabia

que o açúcar dos doces havia sujado as alças. — O que está fazendo? — perguntou Paulo— Refrescando as mãos.— Você está estranha, com jeito de quem aprontou alguma coisa. O que

fez enquanto eu estava fora?

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— Não fiz nada, fiquei aqui. Vamos, encha o buraco que está vazio — disfarçou.

O menino obedeceu e os dois ficaram brincando assim até tarde. Quando a babá veio chamar, eles foram dormir.

Durante a noite, Sofia teve um sonho muito esquisito. Sonhou que queria entrar em um lindo jardim, cheio de flores coloridas e frutas apetitosas. Seu Anjo da Guarda, no entanto, pediu:

— Venha comigo para o jardim do bem. Este que está vendo é o jardim do mal.

Sofia não quis seguir com ele, pois o caminho que ele apontava era longo e difícil. Preferiu pular o muro que a separava do belo lugar que estava vendo e entrar naquele jardim.

Assim que colocou os pés lá dentro, algumas crianças a chamaram para brincar. Ela foi, com alegria, mas qual não foi sua surpresa quando as crianças jogaram areia em seus olhos e lhe deram beliscões.

Sofia se afastou das crianças e se aproximou de um lindo arbusto florido. Ao cheirar as flores, contudo, teve outra surpresa. Elas tinham um perfume horrível. Foi então pegar uma fruta de uma árvore próxima. Mordeu a fruta e precisou jogá-la longe, pois tinha um gosto ASQUEROSO.

Lembrou-se então que seu Anjo ainda estava do lado de fora. Pulou o muro e foi ao seu encontro. Os dois caminharam por uma estrada cheia de PEDREGULHOS e terra solta. Era difícil se equilibrar sem derrapar, mas à medida que o jardim do bem se aproximava, o chão ficava mais firme e o caminho mais agradável.

Quando estavam quase chegando ao jardim do bem, Sofia acordou. “Que pena” , pensou, “eu queria tanto ver o jardim do bem”. Intrigada, foi logo contar o sonho a sua mãe. Encontrou-a com o ar meio contrariado, mas não prestou muita atenção a isso.

— Você não sabe o significado de seu sonho, Sofia? Tem certeza? — perguntou a mãe.

— Não sei, mamãe.— Pois eu acho que o sonho quer lhe mostrar que uma pessoa que faz

coisas erradas, segue por caminhos errados, só tem aborrecimentos em vez de alegrias.

Sofia ficou vermelha, lembrando-se do que tinha feito na noite anterior.

* ASQUEROSO: nojento, repugnante* PEDREGULHOS: muitas pedras pequenas

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— Você tem alguma coisa para me contar, não tem, Sofia? — perguntou a mãe.

Depois de alguns segundos, Sofia confessou que tinha comido os doces sobre o armário.

— Eu só queria prová-los para depois escolher o melhor, mamãe — explicou.

— E como achou que ia conseguir esconder isso de mim?— Você já sabia, mamãe?— Para começar, você esqueceu a cadeira ao lado do armário, o que me

chamou a atenção e me fez abrir a caixa. Quando vi que os doces estavam comidos, logo vi que tinha sido você. O que pretendia me dizer?

— Que tinha sido um rato — respondeu a menina, envergonhada.— E você acha que os ratos sabem abrir e fechar caixas de doces? Haveria

um buraco na caixa se tivesse sido um rato.— Desculpe, mamãe.— Mais uma vez, vou te perdoar porque você confessou seu erro, mas não

permitirei que você coma o que sobrou dos doces.Sofia ficou triste, mas aliviada por não ter recebido castigo maior. Mais tarde,

contou a Paulo tudo o que havia se passado, além de contar seu sonho, que a impressionou muito.

Capítulo 7

O GATO MANSINHOCerta manhã, Sofia, Paulo e a babá saíram para um passeio. Os dois primos

corriam por entre as árvores e entravam no mato para se esconder um do outro. De repente, Sofia saiu do esconderijo assustada.

— Paulo, acho que escutei um barulho atrás daquela MOITA — falou.— Que barulho?— Um miado.— Vamos ver — disse Paulo, indo na direção apontada pela prima.Quando chegaram lá, encontraram um lindo gatinho branco de olhos negros,

todo sujo, magro e muito fraquinho. Na mesma hora, chamaram a babá, que os ajudou a levá-lo para casa, a dar-lhe leite e carne.

* MOITA: um grupo de plantas juntas, formando um local de vegetação densa

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O gatinho tomou o leite e comeu os pedacinhos de carne com avidez, logo conseguindo dar seus primeiros passos pela cozinha. Paulo e Sofia limparam seus pelos com uma toalha e chamaram a sra. Réan.

— Vocês fizeram muito bem em trazê-lo para casa — disse ela. — Como será que ele foi parar lá no mato, sozinho? — perguntou Sofia.— Provavelmente foi abandonado por pessoas muito más. — E por que alguém abandonaria uma criaturinha tão linda?— Talvez porque já tinha gatos demais e não queria mais um ou porque

não gosta de gatos. Há muitos motivos para as pessoas abandonarem seres indefesos.

Sofia ficou pensativa, depois disse:— Indefeso porque ele não sabe se defender, certo?— Isso mesmo — disse a mãe. — Ele é como um bebê humano. Não sabe

falar, não consegue voltar para casa, nem sabe se alimentar sozinho. — Se eu me perdesse, eu perguntaria para alguém o caminho de volta e

falaria meu nome, mas o gatinho não sabe fazer isso — concluiu Sofia.— Os seres humanos sabem ser muito cruéis — disse a sra. Réan. — Eles

maltratam outras espécies por se JULGAREM superiores a elas.— O que quer dizer, titia? — perguntou Paulo.— Que não somos piores, nem melhores que os animais. O que eu não

gostaria que fizessem comigo, não posso fazer como eles, entende, Paulo? — disse a sra. Réan.

— Sim, titia.Sofia e Paulo ficaram muito felizes em poder ajudar o gatinho. Arrumaram

uma cama para ele perto do fogão à lenha, onde ele podia se aquecer e comer a hora que tivesse vontade. Depois pediram à mãe que tirasse a medida do pescoço dele para lhe CONFECCIONAR uma coleirinha.

— Você pode bordar o nome dele na coleira, mamãe? — pediu Sofia.— E qual vai ser o nome dele? — perguntou a sra. Réan.Depois de várias ideias, Paulo e Sofia chegaram a uma conclusão:— O nome dele vai ser Mansinho — disse ela.Mansinho cresceu forte e feliz, mas logo arrancou a coleira. Seu pescoço

ficou grande demais e ele não gostava de coisas que o apertassem. Ele aprendeu a se dar bem com os cães, mas não gostava de passarinhos. Sempre que via algum

* JULGAREM: considerarem, acharem, decidirem* CONFECCIONAR: fazer, preparar

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por perto, corria atrás dele. Sofia dava bronca em Mansinho, mas ele nunca perdia esse hábito.

— Infelizmente, os gatos têm o INSTINTO de caçar passarinhos — explicou a sra. Réan à filha.

Para distraí-lo, Sofia arrumou vários brinquedinhos, bolinhas e pássaros de papel, assim Mansinho se divertia e depois dormia satisfeito, esquecendo-se dos passarinhos.

Capítulo 8

UMA DIFÍCIL LIÇÃO— Venha ver que linda cesta de costura eu ganhei! — disse a sra. Réan para

Sofia certa manhã. Os olhos da menina brilharam. Era uma cesta dourada por fora e forrada

com veludo azul marinho. Havia vários COMPARTIMENTOS pequenos contendo as mais diversas coisas necessárias para bordar e costurar. As tesourinhas, agulhas, alfinetes, CARRETÉIS e DEDAIS eram todos de ouro, o que deixou Sofia muito impressionada. Ainda havia linhas das mais diversas cores, almofadinhas para acomodar os alfinetes, panos e toalhas próprios para bordar, além de muitos rolinhos de fitas coloridas.

— Mamãe, que coisa linda! De quem é esta cesta? — perguntou Sofia, certa de que a mãe diria que era um presente para ela.

— É minha. Seu pai me mandou de Paris.Sofia ficou muito desapontada, dizendo:— Que pena.— Está chateada porque eu ganhei um presente? — perguntou a mãe. — Não é isso, mamãe, é que eu queria tanto esta cesta.— Você ainda não sabe bordar e costurar o suficiente para ganhar uma

cesta destas.

* INSTINTO: impulso espontâneo, comportamento natural de uma espécie

* COMPARTIMENTOS: divisões* CARRETÉIS: pequenos cilindros usados para enrolar linha * DEDAIS: pequenos objetos em forma de cilindro que se encaixam

no dedo e que são usados para empurrar a agulha quando se está costurando

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— Mas estou me esforçando, não estou? Tenho bordado bem, não tenho, mamãe?

— É verdade, mas sempre demora um tempão para vir quando a chamo para a aula de bordado.

Sofia foi para o jardim muito triste. A cesta e as coisinhas dentro dela não lhe saíam da mente. “Ah! Como vou fazer para conseguir aquela cesta?”, pensava. De repente, vendo a cesta em cima da mesa da sala, teve uma ideia.

Foi até ela, olhou bem ao redor para se certificar de que não havia ninguém por perto e deu início ao seu plano. Lentamente, tirou todas as coisas de dentro da cesta e as colocou em uma sacola. Seu coração pulava de nervoso, com medo de que chegasse alguém antes de ela concluir a tarefa.

Por fim, deu tudo certo, e Sofia levou a sacola para o quarto de brinquedos, guardando tudo dentro da gaveta da CÔMODA. “Quando mamãe vir que a cesta está vazia, vai entregá-la para mim de presente, já que não servirá para mais nada. Eu coloco tudo de volta e terei a cesta todinha para mim”, concluiu Sofia, que estava completamente enfeitiçada pela cesta. Em nenhum momento lhe passou pela cabeça que a mãe ficaria muito brava quando percebesse o conteúdo faltando.

O dia passou tranquilamente até que chegou a hora do jantar. A sra. Réan convidara umas amigas para conversar e as chamou até a sala.

— Vejam que linda cesta de costura eu ganhei esta manhã! — disse ela, aproximando-se da mesa.

Sofia se deu conta de repente do que tinha feito e começou a tremer. A sra. Réan abriu a cesta e soltou um grito:

— Onde estão minhas coisas? As amigas se admiraram. Uma delas perguntou:— Você deixou a cesta aqui na mesa o dia todo?— Sim, mas aqui em casa são todos muito CONFIÁVEIS. Nenhum empregado

tocaria em nada — respondeu a sra. Réan.— Mas o fato é que alguém roubou o conteúdo da cesta.A sra. Réan olhou ao redor e soltou outro grito:— Sofia! Onde você está?

* CÔMODA: móvel de madeira cheio de gavetas* CONFIÁVEIS: dignos de confiança, em quem se pode confiar

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* ENÉRGICO: de modo firme, rigoroso* INJUSTA: sem fundamento, que não é justa* INTENÇÃO: desejo, pensamento, vontade* GENUÍNO: natural, autêntico, puro

As amigas se afastaram e Sofia apareceu entre elas, com o rosto muito vermelho.

— Foi você que pegou minhas coisas? — perguntou a mãe, em um tom muito ENÉRGICO.

— Nã... não, mamãe, não fui eu — gaguejou ela.— Diga a verdade, Sofia!— Não sei de nada, mamãe.— Então vamos ver isso de perto — disse a sra. Réan, pedindo licença às

amigas e puxando a filha pelas mãos até o quarto de brinquedos.Ela abriu várias gavetas sem encontrar nada. Já estava com medo de ter

sido INJUSTA com Sofia, quando chegou até a cômoda e se deparou com todas as agulhas, tesourinhas, linhas, alfinetes, enfim, todo o conteúdo da cesta. Olhou bem para Sofia e disse:

— Desta vez você passou dos limites. Roubar é uma coisa muito séria.— Mamãe... — tentou explicar a menina.— Não diga nada! Vá para o seu quarto. Ficará de castigo até eu mandar sair. Sofia chorou muito naquela noite e tentou explicar à babá qual tinha sido

sua INTENÇÃO ao se apoderar das coisas de sua mãe. A babá explicou a ela que aquela não fora uma boa ideia e que assim todos pensariam que ela era ladra. Sofia chorou mais ainda.

Na manhã seguinte, a mãe mandou chamá-la em seu quarto. Quando viu a filha entrar, a sra. Réan pegou um envelope, tirou uma folha de dentro dele e disse:

— Veja a carta que seu pai me mandou junto com a cesta: “Querida, esta cesta é para Sofia, mas não diga nada a ela ainda. Será um prêmio, caso ela se comporte durante uma semana inteira. Não fale nada, ou ela se comportará de propósito e não de modo GENUÍNO. Observe-a e, se ela se portar bem, diga que mereceu o presente”.

Os olhos de Sofia se encheram de lágrimas e, mais uma vez, ela pediu desculpas à mãe por ter errado. Ela pôde então sair do castigo, mas não ganhou a cesta. De qualquer maneira, aprendeu definitivamente que não se deve roubar.

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Epílogo

A VIAGEM

— Paulo, estou preocupada — disse Sofia, certa manhã.— Por quê? — indagou o primo. — Minha mãe e sua mãe estão sempre cochichando pelos cantos. De vez

em quando elas choram também. — Escutei minha mãe dizer que vamos todos morar nos Estados Unidos.

Elas estão tristes porque vão ter que deixar a família e os amigos aqui na França. Os olhos de Sofia se encheram de luz e ela disse, toda animada:— Vamos morar todos juntos nos Estados Unidos? Você, eu, papai, mamãe

e seus pais?— Acho que sim.— Mas isso é ótimo! Seremos como irmãos, Paulo! Além disso, pense como

devem ser bonitos os Estados Unidos!— Será que há pássaros por lá? — perguntou Paulo.— Deve haver muitos pássaros vermelhos, cor de laranja, azuis, pretos...Os dois ficaram imaginando milhares de coisas sobre o lugar onde iriam

morar. Falaram sobre tartarugas gigantes, papagaios, beija-flores, tudo o que gostariam de ver por lá. De repente, a sra. Réan e a sra. D’Aubert passaram por eles DISFARÇANDO as lágrimas e foram se sentar em um banco do jardim. Sofia teve uma ideia:

— Vamos até lá falar com elas, Paulo. Podemos CONSOLÁ-LAS. — Como assim? — perguntou ele.— Vamos dizer alguma coisa para elas se sentirem melhor. As duas crianças foram para perto das mães. Sofia perguntou:— Por que você está chorando, mamãe?— Por um motivo que ainda é difícil para você entender, querida —

respondeu a sra. Réan.— Quem disse que eu não entendo? Sei que está chorando porque vamos

morar nos Estados Unidos. Todos ficaram quietos e a sra. Réan trocou olhares com sua irmã. Sofia

continuou:

* DISFARÇANDO: mascarando, reprimindo, escondendo* CONSOLÁ-LAS: confortá-las, suavizar-lhes o sofrimento

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— Sabe, mamãe, acho que você não precisa ficar triste. Se vamos morar com Paulo, titio e titia, isso vai ser muito bom! E deve ser ótimo viver nos Estados Unidos, um país tão lindo...

A sra. Réan acariciou os cabelos da filha, sorrindo. Sofia mal conhecia os Estados Unidos e já falava daquela maneira. Era encantador o jeitinho dela.

— Por que vocês acham que vamos nos mudar para a América? — perguntou ela.

— Porque escutei você e mamãe conversando sobre isso — disse Paulo à tia. — Mas Sofia está certa, seremos felizes lá — completou o menino.

A sra. D’Aubert tomou a palavra:— Vocês estão certos, vamos mesmo para os Estados Unidos.— Por quê, mamãe? — perguntou Paulo.— Porque o sr. Fichini, um amigo nosso que morava lá, morreu. Ele não

tinha parentes e deixou sua fortuna para nós. Seu pai e o pai de Sofia vão tratar de receber o dinheiro e administrar os bens que nos deixaram.

— Eles não podem ir sozinhos?— Todo esse trabalho pode levar um ou dois anos. Não queremos deixá-los

ir sozinhos, mas estamos tristes porque vamos deixar nossos parentes e amigos por aqui.

— Quer dizer que vamos morar nos Estados Unidos durante um ou dois anos, titia? — perguntou Sofia, animada.

— Isso mesmo, querida.— Ah, mamãe, então não precisamos ficar tristes! Estaremos todos juntos

e poderemos descobrir muitas coisas divertidas na América! — disse ela à mãe.— Você tem razão, Sofia — falou a sra. Réan. — Não vamos mais chorar

— disse ela, dirigindo-se à sra. D’Aubert. As mães abraçaram os filhos e, a partir daquele dia, começaram a fazer

planos para a viagem. Na semana seguinte, foram se despedir de Madalena e Camila de Fleurville.

— Quanto tempo vocês vão ficar nos Estados Unidos? — perguntou Camila.

— Acho que uns dois anos — respondeu Sofia.— Quando voltarem, tragam coisas bonitas para nós — pediu Madalena.Nos dias seguintes, eles continuaram a fazer visitas e a dizer adeus aos

amigos. Quando as malas ficaram prontas, Sofia, Paulo e suas mães foram encontrar o sr. Réan e o sr. D’Aubert em Paris, onde eles os aguardavam.

Foi muito triste deixar a casa, Pingo e os outros cães, o gato Mansinho, a babá e os outros empregados, que continuariam ali cuidando de tudo até a volta

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da família. Sofia chorou, mas logo ficou animada de novo, pois eles passaram uma semana em Paris comprando tudo o que era necessário para viajar: roupas, maletas, luvas, livros, presentes, chapéus, etc. Além disso, passearam no Jardim Botânico, nos cafés e restaurantes parisienses.

Depois disso, as famílias seguiram para Havre, de onde o navio partiria para os Estados Unidos. Passaram três dias na cidade conhecendo tudo e finalmente EMBARCARAM. O navio se chamava “SIBILA” e era muito grande e luxuoso.

Paulo e Sofia dormiam em um camarote com duas camas pequenas, de onde podiam enxergar o mar através de uma pequena janela. Era para eles uma enorme aventura. Além disso, ficaram amigos do capitão do navio, que respondia a todas as perguntas das crianças.

Paulo dizia que queria ser marinheiro quando crescesse. Sofia dizia:— Mas eu queria que você ficasse comigo, mesmo depois de crescer.— Nesse caso, venha morar no navio comigo! — propôs Paulo. A viagem foi muito longa e durou vários dias. Durante esse tempo, os dois

primos prometeram manter a amizade para a vida toda e nunca se separar.

* EMBARCARAM: entraram em uma embarcação para viajar* SIBILA: profetisa, bruxa, feiticeira

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Roteiro de leitura

Sofia e as crianças não sofrem a morte da boneca. Por que você acha que isso aconteceu: porque elas eram crianças insensíveis ou porque elas aproveitaram a boneca enquanto ela ainda era “viva”? Quando você tem um brinquedo de que gosta muito, o que prefere fazer: brincar bastante com ele ou guardar para não estragar? Converse com seus colegas e descubra o que a maioria prefere fazer. Você acha que Sofia machucava a boneca de propósito? Justifique sua resposta. Faça um desenho de como você imagina que seja a boneca de Sofia. Se preferir, desenhe o dia do enterro da boneca, com as crianças brincando e se divertindo.Você sabia que em alguns países, com cultura diferente da nossa, quando alguém morre, é motivo de comemoração em vez de tristeza? Faça uma pesquisa na internet e descubra alguns lugares onde isso acontece. Qual o significado da morte para essas pessoas?No capítulo 2, Sofia desobedece à mãe e acaba se machucando. Isso já aconteceu com você? Você acha importante obedecer aos pais? Justifique sua resposta.No mesmo capítulo, Sofia resolve libertar os peixes do aquário e os leva para o riozinho. O que você achou dessa atitude dela? Ela estava certa ou errada? Discuta com os colegas e apresente sua justificativa para a classe.Sofia afirma, no final do capítulo 2: “Animais nunca deveriam nascer presos”. Qual é a sua opinião sobre isso? Quais são as coisas que Sofia faz no capítulo 3 para mudar sua aparência? O que você achou do que o pai de Sofia disse a ela: “devemos gostar de nós como somos e não ficar lutando para ser de outra forma”?No capítulo 4, Lúcia, a primeira babá de Sofia, é demitida. Por que a sra. Réan a manda embora? Você acha que o motivo foi justo? Por quê? Sofia ganha uma caixa de pintura e um aparelho de chá em miniatura de presente de aniversário. Qual foi o melhor presente de aniversário que você já ganhou? Por que você gostou tanto de ganhá-lo?Como foi a aventura que Sofia, Paulo e a sra. Réan viveram na floresta? Quem foram os grandes heróis e o que eles fizeram para merecer serem chamados de heróis?

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Sofia e Paulo eram amigos? Justifique sua resposta com passagens do capítulo 5. Você tem algum(a) amigo(a) muito especial? Por que ele(a) é tão querido(a) por você? Escreva um pequeno texto, contando coisas curiosas sobre a amizade entre vocês. O que Sofia faz, no capítulo 6, por causa dos doces de frutas cristalizadas? Por que a sra. Réan a perdoa e não lhe dá nenhum castigo? Se você fosse a mãe de Sofia, agiria da mesma forma?Como foi o sonho de Sofia no capítulo 6? Você concorda com a interpretação da sra. Réan? Você costuma sonhar muito à noite? Qual foi o sonho que você teve e que mais o(a) impressionou?No capítulo 7, Sofia e Paulo resgatam um gatinho abandonado. A sra. Réan aprovou a atitude deles? E você, achou positivo ou negativo o que eles fizeram? Por quê?Na sua cidade há animais abandonados? Por que você acha que as pessoas abandonam animais nas ruas ou no mato? Você concorda com a sra. Réan quando ela diz que os seres humanos muitas vezes “maltratam outras espécies por se julgarem superiores a elas”? Hoje em dia existe um termo chamado “especismo”. Pesquise na internet e descubra o que isso quer dizer. Você sabe o que é “posse responsável de animais”? Pesquise sobre isso junto aos órgãos de proteção aos animais e meio ambiente na sua cidade, depois, em grupo, faça um cartaz descrevendo o que envolve a “posse responsável de animais domésticos”. Inclua desenhos, fotos e explique por que ela está diretamente ligada à cidadania e à boa convivência em uma sociedade. Qual a diferença entre a atitude das pessoas que abandonaram Mansinho no mato e a atitude do próprio Mansinho de atacar passarinhos, ou seja, qual a diferença entre instinto animal e crueldade? Qual foi a grande lição que Sofia aprendeu no capítulo 8? Se você fosse a mãe dela, teria lhe dado a cesta depois que as coisas se acalmaram? Justifique sua resposta.Paulo e Sofia viajam para os Estados Unidos no último capítulo. Você já viajou para algum lugar interessante, perto ou longe de onde mora? Escreva uma redação contando como foi essa viagem, o que houve de melhor e por que ela foi marcante para você.

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OS DESASTRES DE SOFIA

Condessa de Ségur

Biografia da autora

A Condessa de Ségur é uma importante autora da literatura francesa voltada ao público jovem. Ela nasceu em São Petersburgo, na Rússia, em 1799 com o nome de Sofia Rostopchine, mas seu pai, por motivos de perseguição política, foi obrigado a deixar a Rússia. A família se mudou para Paris, em 1817, quando Sofia tinha 18 anos.

Na França, em 1819, ela se casou com o conde Eugênio de Ségur. Tiveram oito filhos e viveram num castelo na região francesa da Normandia. Quando tinha 50 anos, a condessa virou avó. Como suas netas Camille (Camila) e Madeleine (Madalena) de Malaver moravam na Inglaterra com os pais, a condessa começou a escrever histórias dedicadas a elas e logo seus contos ganharam fama fora do domínio familiar.

As personagens da condessa eram baseadas em pessoas reais, por isso se sujavam, riam, choravam, cometiam erros, arrependiam-se e agiam como seres humanos, ao contrário de outras narrativas infantis, em que os personagens eram perfeitos e pouco humanos.

Seus livros foram originalmente publicados na famosa coleção “Biblioteca Rosa”. Ela escreveu livros, contos, peças de teatro e trabalhos religiosos para jovens e crianças e até hoje parte de sua obra ainda é publicada.

Em suas obras se destacam este livro, Os Desastres de Sofia (Les malheures de Sophie), de 1864, As Meninas Exemplares (Les Petits Filles modeles), de 1865, e Memórias de um Burro (Mémoires d’un âne), de 1860, que também faz parte da Coleção Aventuras Grandiosas da Editora Rideel e é dedicado ao seu neto Henri de Ségur.

A Condessa de Ségur faleceu em 1874.

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