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PME NO RADAR Valorizamos Portugal, e as PME as Pessoas Uma iniciativa Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4237, de 6 de maio de 2020, e não pode ser vendido separadamente. O radar virado para a tecnologia Manuel Heitor Na incerteza, o conhecimento é determinante Isabel Guerreiro A vertigem do processo digital Os desafios de liderança e gestão O trabalho remoto que veio para ficar A aplicação de todos os medos

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PME NO RADARValorizamos Portugal,

e as PME

as Pessoas

Uma iniciativa

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4237, de 6 de maio de 2020, e não pode ser vendido separadamente.

O radar virado para a tecnologia

Manuel Heitor Na incerteza, o conhecimento é determinante Isabel Guerreiro A vertigem do processo digital

Os desafios de liderança e gestão O trabalho remoto que veio para ficar A aplicação de todos os medos

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II | QUARTA-FEIRA

| 6 MAI 2020

“Éneste tempo de incerteza que o co-nhecimen-to e a capa-

cidade científica e tecnológica são cada vez mais determinantes como vimos nas últimas semanas tanto em Portugal como no mun-do”, afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor, no segundo Think Tank Digital PME no Radar, a iniciativa do Negócios, em parceria com o Santander, que está a promover a discussão em se-tores-chave da economia.

A capacidade científica e téc-nica portuguesa para reagir a esta pandemia e para abrir novas oportunidades verificaram-se na “capacidade de realização de tes-tes, tendo sido possível aumentar a capacidade nacional de testes sobretudo usando a capacidade instalada em laboratórios cientí-ficos e técnicos, uns que já esta-vam adaptados à medicina mole-cular, outros que se adaptaram como o Laboratório de Biotecno-logia do Instituto Politécnico de Viana do Castelo ou em Leiria ou em Bragança, o laboratório da Montanha, à necessidade de au-mentar o número de testes que se faz em Portugal”.

Salientou ainda que a mobi-lização de recursos qualificados

permitiu o desenvolvimento de meios para se fazerem estes tes-tes. Deu como exemplo, o teste desenvolvido no IMM (Institu-to de Medicina Molecular), que tem por base um protocolo aberto a nível internacional mas que foi adaptado para funcionar com reagentes nacionais de uma empresa de biotecnologia por-tuguesa.

Outro meio essencial para es-tes testes são as zaragatoas, de que Portugal era importador, contudo a capacidade científica e técnica de um consórcio entre o Centro Académico Clínico do Algarve, Centro Académico Clínico Algar-ve Biomedical Center, a start-up do Algarve, a Mark 6 Prototyping, o Instituto Superior Técnico, de Lisboa, e a Hidrofer, empresa de Famalicão que fazia cotonetes e passou a ser fabricante de zaraga-toas e a abastecer do mercado na-cional e a exportar.

Portugal no top dos testes “Hoje Portugal está no top de mais testes realizados por milhão de ha-bitantes, com muitos testes adqui-ridos no estrangeiro, mas também com muita produção própria”, sublinhou Manuel Heitor. Há três semanas produziam-se 100 testes por dia, nos 16 laboratórios certi-ficados, hoje existe uma capacida-de de mais de 4 mil testes, para além da capacidade dos laborató-rios privados e do Sistema Nacio-nal de Saúde, garante Manuel Heitor.

As pandemias, como esta da covid-19, não terminam de um dia

para o outro, e mesmo depois do estado de emergência, também o tipo de testes deve evoluir ao lon-go do tempo. A questão crítica são os testes virais, de diagnóstico, mas hoje temos em curso outras triagens com testes baseados em sangue, os testes serológicos, não curam mas são essenciais para se começarem a fazer estudos de imunologia. A Universidade do Porto, por exemplo, vai lançar um desses rastreios na comunidade universitária e que vai ser feita ao longo de três anos para estudar sistematicamente as questões imunológicas.

Tem de se aumentar a capaci-dade de produção de vários tipos de testes e que se tem de prolon-gar ao longo do tempo. Por isso mesmo, em todos os laboratórios científicos que foram adaptados para fazer testes, utilizou-se ape-nas parte, para poderem ser feitas outras atividades. É crítico desen-volver esta capacidade de fazer testes não só de uma forma pon-tual mas pelo menos durante um ano a um ano meio.

Um projeto relevante da reo-rientação da nossa capacidade científica e técnica foi a mobiliza-ção perante a necessidade de pro-duzir ventiladores, que são um fa-tor crítico das unidades de cuida-dos intensivos neste tipo de pan-demia. Entre alguns projetos que foram desenvolvendo, como o projeto Atena do CEIIA, em que 100 engenheiros, sobretudo habi-tuados a trabalhar na área aeroes-pacial e aeronáutica, trabalharam num ventilador que já está hoje

A questão crítica são os testes virais, de diagnóstico, mas hoje temos em curso outras triagens com testes baseados em sangue, os testes serológicos, não curam mas são essenciais para se começarem a fazer estudos de imunologia.

FILIPE S. FERNANDES

“As pandemias não terminam de um dia para o outro”

NEGÓCIOS INICIATIVAS PME NO RADAR - TECNOLOGIA

em testes clínicos. Referiu ainda que o programa

lançado pela Fundação para Ciên-cia e Tecnologia para estimular a investigação nesta área tem em curso 66 novos projetos, assim como os apoios que Agência de Inovação libertou sobretudo para o projeto de ventilador.

Numa crise desta natureza há grandes desafios e obstáculos sobretudo associados à estagna-ção relativa da economia mas es-tes tempos também são de refle-

Manuel Heitor diz que Portugal pode ter um papel importante no fornecimento

A crise mostrou a dependência da Europa a elementos básicos oriundos da China. MANUEL HEITOR Ministro da Ciência e Tecnologia

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QUARTA-FEIRA | 6 MAI 2020

| SUPLEMENTO

| III

“Este contexto de pandemia em que vivemos introduziu profun-das alterações que experienciá-mos em primeiro mão como em-pregadores e depois através dos contactos com os nossos clientes, quer indivíduos quer empresas”, referiu Isabel Guerreiro, adminis-tradora do Santander Portugal, no segundo Think Tank Digital PME no Radar, a iniciativa do Negócios, em parceria com o San-tander, que está a promover a dis-cussão em setores-chave da eco-nomia

Como o banco já tinha as con-dições técnicas para o poder fazer, pôs, em menos de uma semana, a totalidade dos serviços centrais em teletrabalho. Mas o mais surpreen-dente, para esta gestora de topo, foi o “processo muito acelerado de au-toformação que revelou pela enor-me capacidade de adaptação e de ajuste que as pessoas tiveram”.

Depois olharam para a outra parte do negócio e aperceberam-se de que os clientes, tanto as empre-

sas como os particulares, acelera-ram na adoção do digital nas suas atividades bancárias e financeiras. “Foi uma surpresa porque eram pessoas a quem no passado tínha-mos oferecido a possibilidade de transacionar e trabalhar com o banco de forma digital, mas que ti-nham apresentando vários tipos de resistência, como as demográficas ou porque o balcão era muito con-veniente. Mas este contexto levou--os a que fizessem uma adoção ver-tiginosa do processo digital”, expli-cou Isabel Guerreiro.

Empresas digitais Na sua opinião, este processo “no-tou-se sobretudo nas empresas, que não se relacionavam digitalmente com o banco e, em menos de dez dias, tivemos uma taxa de cresci-mento de dois dígitos na digitaliza-ção, o que nunca tinha acontecido”.

No Santander desde 2005, Isa-bel Guerreiro tem na administra-ção a área da transformação digi-tal. Confia que estas mudanças,

tanto a transacionalidade como da compra de bens e serviços de for-ma digital, vieram para ficar defini-tivamente”.

Considera que “neste aspeto ti-vemos um fast-tracking de apren-dizagem, estávamos atrasados face à média da União Europeia, e acre-dito que a pandemia nos fez ter um catch-up muito rápido, com o que já tinha acontecido no Reino Uni-

do ou os nórdicos”. Isabel Guerreiro sublinhou que

o banco vai “continuar a investir na inovação, no apoio aos nossos clientes tanto de forma física como de forma remota, apoiando-os tan-to na transição para o digital como continuar a suportá-los nos bal-cões que continuam abertos com os constrangimentos que são co-nhecidos”. ���

A aplicação de todos os medos

Segundo José Manuel Mendon-ça, presidente do INESC-TEC, a plataforma tecnológica está a operar e a aplicação está em tes-tes. Depende de alguns apports do sistema de saúde e de um refi-namento do interface da aplica-ção que tem de ser interativo, in-formativo e que descanse as pes-soas relativamente à privacidade dos dados. Poderá ficar disponí-vel dentro de uma a duas sema-nas e vai ser apresentada ao Pre-sidente da República, Governo, parceiros sociais para receber feedback.

A app StayAway é uma aplica-ção móvel para rastreio rápido e anónimo das redes de contágio por covid-19 em Portugal, que surge no âmbito do Monitor4COVID19. Como refere Manuel Heitor, “os

principais laboratórios associados para Fundação da Ciência e Tec-nologia nas áreas do computer sciences em Portugal mobilizaram--se, e sob a liderança do INESC--TEC do Porto IT, INESC ID e LARSyS, assim como o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), desenvolveram e está prestes a ser concluída esta app seguindo rigorosamente as re-ferências europeias que exigem que seja totalmente voluntária, não discriminatória, seja anonimizada e proteja a privacidade”.

Standard europeu Neste projeto seguiu-se o standard europeu, e procedimentos como o facto de ser voluntária, não discri-minatória, completa segurança e privacidade dos dados, “não exis-

te GPS, tracking, nem base de da-dos central, a informação está no telemóvel e sob controlo do utili-zador, usa a tecnologia Bluetooth para trocar mensagens entre os te-lemóveis, medir distâncias e nem sequer não fica registo quando e onde esteve e com que esteve”, as-segura José Manuel Mendonça.

Seria também importante que tivesse interoperabilidade euro-peia, diz José Manuel Mendonça. Ainda não está nenhuma aplica-ção similar a funcionar na Europa, mas rapidamente vai acontecer, e “seria importante que um alemão em Portugal, ou um português em França, tivessem um sistema que funcionasse porque senão há re-gresso a uma normalização qual-quer que ela seja”.

Manuel Heitor reiterou que a

plataforma que está prestes a ser partilhada é de uso voluntário, e é um sensor de proximidade, “com dados totalmente anónimos e ser-ve para a pessoa perceber se há ajuntamentos de pessoas ou não”. Um segundo nível de adoção é o registo voluntário das pessoas in-fetadas. “Se mantivermos os prin-cípios da privacidade da informa-ção, de iniciativa voluntária, a ano-nimização dos dados, descentra-lizada e baseada nas pessoas deve ser incentivada e estimulada.”

“Não tem nada a ver com os mo-delos seguidos inicialmente em Sin-gapura, que supunham um uso for-çado. No contexto europeu foram definidas regras e regulamentações diferentes. Só funcionará se houver uma mobilização muito grande”, concluiu Manuel Heitor. �

“Não tem nada a ver com os modelos seguidos inicialmente em Singapura, que supunham um uso forçado. No contexto europeu foram definidas regras e regulamentações diferentes”, concluiu Manuel Heitor, ministro da Ciência.

o de equipamentos de proteção.

“Adoção vertiginosa do processo digital” Este processo “notou-se sobretudo nas empresas, que não se relacionavam digitalmente com o banco e, em menos de dez dias, tivemos uma taxa de crescimento de dois dígitos na digitalização, o que nunca tinha acontecido”, diz Isabel Guerreiro.

xão no contexto europeia, “porque a crise mostrou cla-ramente a dependência da Europa a elementos básicos oriundos da China e por isso a reorientação das cadeias de produção industrial ao nível europeu, em que Portugal pode ter um papel importan-te no fornecimento de equi-pamentos de proteção indi-vidual até aos ventiladores e a outras tecnologias”, salien-tou Manuel Heitor. ��

Uma iniciativa do Negócios em parceria com

Isabel Guerreiro refere um fast-tracking de aprendizagem.

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IV | QUARTA-FEIRA

| 6 MAI 2020

A lexandre Nilo da Fonseca, presidente da ACEPI- Associa-ção da Economia Di-

gital, que está num projeto de apoio ao comércio eletrónico de micro e pequenas empresas, afir-mou que esta digitalização pode ser uma oportunidade para mu-dar o contexto do mundo digital nacional.

Antes da crise pandémica, Portugal, em comparação com a Europa, apresentava bons resul-tados em conectividade e na oferta dos serviços públicos di-gitais. O défice estava na digita-lização nas PME já que “60% das empresas portuguesas, so-bretudo micro e pequenas em-presas, não tinham qualquer pre-sença na internet”, afirmou Ale-xandre Nilo da Fonseca.

Portugal tinha também algum défice na digitalização dos consu-midores com 20% dos portugue-ses que nunca utilizaram a inter-net. No entanto, como sublinha Alexandre Nilo da Fonseca, nos últimos tempos assistia-se a um crescimento no nível e utilização da internet referindo que no “ano passado mais de 3 milhões de por-tugueses fizeram compras online em que gastaram cinco mil mi-lhões de euros”.

Contudo, as compras dos portugueses eram feitas “em si-tes na China, Reino Unido, em Espanha, ao contrário dos con-sumidores de França, Alema-nha ou Reino Unido, que adqui-rem tendencialmente no seu próprio país”. O que fazia com que a oferta de comércio eletró-nico em Portugal fosse fraca, até porque tinha pouca adesão das PME.

Experiência nacional “Com a pandemia, em que as pes-soas foram confinadas e houve uma certa disrupção da cadeia in-ternacional de entregas, em que foi virtualmente impossível rece-ber coisas do estrangeiro, é que os portugueses descobriram os sites nacionais”, diz Alexandre Nilo da Fonseca. Além disso, “focaram-se em categorias importantes para o dia a dia, como a alimentação, que era uma categoria em que os por-tugueses não estavam muito inte-ressados, enquanto já era uma realidade noutros países”.

Após o isolamento social im-posto pela covid-19 “haverá mais portugueses com mais experiên-cia digital, mais habituados a comprar em sites em Portugal, mais habituados a fazer pagamen-tos eletrónicos, e com uma alte-ração no comportamento das ca-tegorias. As mais compradas, que

eram as viagens, a hotelaria e o vestuário, caíram, e o alimentar cresceu muito, não só na grande distribuição mas também nas mercearias e pequenas lojas”.

Microdigitais Os processos de transformação digital eram muito mais acentua-dos nas grandes e em muitas mé-dias empresas. Nas microempre-sas, que representam 95% do te-cido empresarial, é que tem havi-do um distanciamento digital. “Um dos desafios que temos é fa-zer uma aceleração e uma capa-citação aceleradas de muitos des-tes pequenos empresários.” Se-gundo Ricardo Parreira, CEO da PHC Software, nunca tinha tido “tantas encomendas do nosso software de e-commerce, o que é um sinal de que há empresas a aproveitar o momento para se di-gitalizarem”.

Na Associação da Economia Digital estão-se a dar passos im-portantes nesta frente, que tem online um site chamado comer-ciodigital.pt, no qual qualquer em-presa de comércio e de serviços tem ao dispor uma ferramenta que ajuda e permite criar o chamado 3 em 1, o domínio pt, contas de e--mail, uma ferramenta para criar um site, gratuita durante um ano, e uma academia digital com sete cursos que ajudam a criar o site, uma página de Facebook, a fazer publicidade na internet.

Em 2020, oferecem gratuita-mente a certificação dos sites com o Selo de Confiança, que “é mui-to importante porque há muitos consumidores a iniciarem-se no comércio eletrónico e precisam de confiança e de que as empre-sas que estão online existam”. �

“Quem não está na internet é como se não existisse”

NEGÓCIOS INICIATIVAS PME NO RADAR - TECNOLOGIA

Alexandre Nilo da Fonseca diz que houve uma disrupção na cadeia internaci

Os testes para a criação de um robô social “A investigação sobre robôs sociais nos cuidados de pessoas mais velhas pode ser importante para o futuro do apoio social”, salientou Natália Machado da Cáritas Coimbra.

O robô Hugo não regressou ao apoio social da Cáritas Coim-bra onde esteve entre 2014 e 2018 no âmbito do projeto GrowMeUp, financiado pelo programa H2020 da Comissão Europeia que em 2014-2018, para o desenvolvimento de um robô social, de apoio às ativida-des da vida diária mais velhas.

Foi emprestado ao Instituto Pedro Nunes de Coimbra, para o projeto Lifebots, “para conti-nuar a desenvolver a plataforma do robô para que futuramente

seja possível implementar nos nossos serviços”, disse Natália Machado, gestora de projetos da Cáritas Coimbra. Nesta nova fase, as indústrias, a academia e organizações sociais como a Cá-ritas de Coimbra voltam a cola-borar na troca de experiências e no desenvolvimento de novos robôs sociais.

Com interações através de voz ou touch-screen, o robô Hugo permitia o agendamento de compromissos, lembretes de toma de medicamentos. O pro-

“Muitos pequenos comerciantes perceberam que têm de ter presença online”, assinala Alexandre Nilo da Fonseca. A presença das PME na internet e a oferta digital portuguesa vão crescer, com uma maior adaptação do comércio tradicional ao digital bem com uma maior adesão ao pagamento digital.

60% das empresas portuguesas, sobretudo micro e pequenas, não tinham qualquer presença na internet. ALEXANDRE NILO DA FONSECA Presidente da ACEPI

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QUARTA-FEIRA | 6 MAI 2020

| SUPLEMENTO

| V

jeto foi bem-sucedido porque “os nossos utentes, desde o início, es-tiveram presentes e participaram na construção desse robô. Mas este ainda estava numa fase de desenvolvimento em que não era possível ser implementado nos nossos serviços, tanto no centro de dia como nas estruturas residen-ciais”, sublinha Natália Machado.

Durante a pandemia, houve al-gumas conversas com o IPN para tentar dar uma resposta nas estru-turas assistenciais da Cáritas. Mas o robô, até pelas questões de iso-lamento social impostas pela luta contra o vírus, não estava em con-dições de ser implementado. “É um grande passo para que no fu-turo possamos atrair este tipo de tecnologia para os nossos serviços. Claro que não podemos esquecer o contacto pessoal, porque o robô seria apenas um instrumento, como todas as tecnologias, para novas tarefas.”

Apoio ao trabalho social Na fase de testes e de piloto sobre a efetividade do robô, esteve tan-to nas áreas residenciais como no centro de dia. Uma das suas fun-

cionalidades são os jogos de simu-lação cognitiva e física. “Esta par-te era muito interessante porque os utentes do centro de dia usavam esses jogos e participavam dessas atividades”, diz Natália Machado. “A investigação sobre robôs sociais nos cuidados de pessoas mais ve-lhas pode ser importante para o fu-turo do apoio social”, salientou.

Com o início do estado de emergência, muitos serviços tive-ram de ser encerrados, como o centro de dia que dava apoio a pessoas mais velhas, que passa-vam o seu dia e tinham acesso a alimentação, a atividades físicas e cognitivas. Cerca de 200 pessoas tiveram de ficar em casa e cerca de 140 não tinham apoio familiar próximo. A Cáritas passou a for-necer apoio domiciliário, os cola-boradores vão ter com esses ido-sos para os ajudar nas suas ativi-dades. A Cáritas criou para estas pessoas as chamadas visitas guia-das em que passa pela utilização de smartphones ou tablets e assim as pessoas conseguem diminuir a distância em relação aos seus fa-miliares e amigos através de vi-deochamadas. ��

onal de entregas.

Acrescenta que as impressões 3D foram uma grande experiên-cia com a fabricação de dezenas de milhares de viseiras entregues ao Serviço Nacional de Saúde. Os protótipos dos ventiladores Ate-na foram feitos em duas ou três semanas por causa da impressão 3D. “Em pequenas séries, a im-pressão 3D é uma tecnologia cru-cial, porque um ventilador pan-démico que, em custos de produ-ção, fica em 300 euros, só para fa-zer moldes custaria meio milhão de euros”, refere José Manuel Mendonça. “Este desafio pôs à prova as tecnologias digitais. Esta mudança está em curso e vai ser acelerada”, diz José Manuel Mendonça.

Inovação e futuro José Manuel Mendonça subli-nhou ainda que Portugal tem su-bido do European Innovation Scoreboard e, em 2019, posicio-nou-se como o país que está à frente do moderator innovators, muito perto da média europeia nos indicadores de inovação. Três das suas regiões, Norte, centro e Lisboa e Vale do Tejo, passaram para o lote de strong innovators.

Esta capacidade científica e de inovação refletem-se na capa-cidade exportadora, que tem “uma componente tecnológica que não deve ser desprezada”. O calçado exporta 2 mil milhões, o têxtil, cinco mil milhões e a meta-lomecânica chegou aos 18 mil mi-lhões de produtos tangíveis, hardware, software, “exportados no mercado mundial, não estou a dizer serviços nem matérias-pri-mas nem produtos de baixo valor acrescentado. E isto só se conse-guiu com incorporação de conhe-cimento e tecnologia”, assinala José Manuel Mendonça.

O investigador e professor ca-tedrático salienta que parte dos fundos de investigação em Portu-gal é financiado pelos fundos es-truturais e “há a convicção de que a ciência e a tecnologia são impor-tantes, mas ciência com impacto social, económico, não a ciência di-letante do paper e da citação”. José Manuel Mendonça acrescenta que “não há razão para o alarme para 2020, mas o meu medo é 2021 e 2022, quando vamos co-meçar a sentir o impacto financei-ro deste impacto económico do que agora está a acontecer”. ��

“Este desafio pôs à prova as tecnologias digitais”

“Em pequenas séries, a impressão 3D vai ser uma tecnologia crucial, e foi uma experiência importante na produção de milhares de viseiras em poucos dias para o SNS”, afirma José Manuel Mendonça.

“As tecnologias, sobretudo as digitais, são transformadoras e há décadas que se consideram as tecnologias de comunicação e de informação como tecnolo-gias capacitadoras. E têm de nos ajudar a enfrentar os grandes desafios da sociedade, os gran-des problemas e as grandes transformações”, afirma José Manuel Mendonça, presidente do INESC-TEC.

O investigador e professor ca-tedrático no Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto ilustra com a capacidade de inovação dos testes com produtos químicos e componentes que se pudessem encontrar em Portugal, nas inicia-tivas para fazer máscaras, visei-ras, ventiladores, tanto pandémi-cos como invasivos, surgiu a app.

Uma iniciativa do Negócios em parceria com

Natália Machado considera que os robôs sociais poderão ser muito importantes nos cuidados dos mais velhos.

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VI | QUARTA-FEIRA

| 6 MAI 2020

Este novo mundo exige “uma liderança diferente e, de facto, estamos a as-

sistir a esta aceleração que só pode ser positiva, porque de fac-to há exemplos de ganhos de efi-ciência e de eficácia nas mais pe-quenas coisas, desde as reu-niões, que passaram a começar a horas, as pessoas ouvem-se umas às outras porque não po-dem falar todas ao mesmo tem-po, as reuniões são mais curtas”, refere Ricardo Parreira, CEO da PHC, empresa de software de gestão.

Na PHC já existiam práticas remotas, mas nunca tinham tido a necessidade de pôr a em-presa totalmente em trabalho remoto. “Está a ser um bom tes-te para analisar. Em que com-petências temos de evoluir ago-ra, que áreas é que temos de tra-balhar em termos de liderança. Temos vários tipos de líderes, somos mais de 200 pessoas em cinco países (Portugal, Espa-nha, Angola, Moçambique e Peru), antigamente em seis es-critórios, atualmente em 200 escritórios. Tínhamos líderes que se focavam mais numa lide-rança pelo resultado, outros em acompanhar muito de perto, to-dos eles estão a evoluir, a gerir remotamente”, analisa Ricardo Parreira.

A liderança em termos de trabalho remoto tem questões muito importantes, alerta Ri-cardo Parreira. “É muito mais difícil perceber se a pessoa não está bem, porque se vê apenas pela câmara e diante desta as pessoas ficam de certo modo in-timidadas. São necessários ou-tros tipos de liderança, de técni-cas que permitam assegurar que as equipas estão bem, se estão a evoluir bem, se cada indivíduo se está a sentir e o que pode fa-zer para melhorar”.

Líder pelo serviço Alerta, no entanto, que “este também não é um teletrabalho normal porque em muitos dos casos se está em família, em que as solicitações são maiores e mais diferenciadas. Por isso va-mos aproveitar muito quando o trabalho remoto for normal”.

Na PHC já têm o conceito do líder pelo serviço, cujo grande objetivo deve ser retirar os obs-táculos às pessoas. “Em remote é muito mais importante nós co-municarmos, ouvirmos ou ver-mos que obstáculos existem e para os retirarmos”, afirma Ri-cardo Parreira. Para quem “nes-te momento um dos principais obstáculos é acima de tudo o medo. Temos feito muito para

combater este conceito do medo pelo medo, que se ultrapassa com informação, comunicação, e nós aumentamos de tal manei-ra a comunicação concentrada que temos pessoas a dizer que as equipas estão melhores, que se sentem mais integrados, que se reveem mais no trabalho que está a ser feito”.

“Estamos a fazer um esforço na PHC para que tentar extra-polar as partes positivas de todo este novo mundo, a que chama-mos, employee experience”, afir-ma Ricardo Parreira. Acrescen-ta que “é muito óbvia a evolução da experiência do cliente e do co-mércio eletrónico, mas acho que a experiência do colaborador ainda vai ser maior, porque tive-

mos dois meses de quarentena e muitas empresas dois meses a trabalhar em casa. E toda esta experiência vai mudar a menta-lidade da liderança e dos pró-prios colaboradores”.

“Pensava-se que não se po-dia fazer recrutamento remota-mente, mas é possível fazer as entrevistas, os testes e contratar. Pensava-se que era difícil liderar remotamente, mas é perfeita-mente possível. Pensava-se que não era possível vender sem reu-niões presenciais. Pensava-se que a colaboração exigia que as pessoas trabalhassem todas em open space, não é verdade, há muitas oportunidades no mun-do da colaboração”, considera Ricardo Parreira. ��

NEGÓCIOS INICIATIVAS PME NO RADAR - TECNOLOGIA

Liderança e gestão em tempos de teletrabalho

A liderança remota é mais focada em resultados, com a pessoa a trabalhar onde quiser, o que desafia muitas empresas centradas em práticas antigas de liderança pelo microgestão, pelo controlo visual do trabalho.

Ricardo Parreira considera que a pandemia está a ser um bom teste para analisar.

O conceito do medo pelo medo ultrapassa-se com informação e comunicação concentrada, defende Ricardo Parreira.

Pensava-se que não se podia fazer recrutamento remotamente, mas é possível fazer as entrevistas, os testes e contratar. RICARDO PARREIRA CEO da PHC

Perdemos interação física, ganhámos eficiência, porque o teletrabalho traz eficiência ao nível de organização, de reuniões. PEDRO PINTO CEO da Take the Wind

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QUARTA-FEIRA | 6 MAI 2020

| SUPLEMENTO

| VII

“A pandemia foi um grande ca-talisador do trabalho remoto e vemos muitas empresas a olhar para esta situação e a dizer ‘nós já tínhamos pensado nisto mas nunca tivemos coragem para implementar’”, refere Marce-lo Lebre, CTO da Remote, start-up que fundou, no início de 2019, com Job van der Voort, ex-responsável de pro-duto da plataforma GitLab. Esta tecnológica de recursos humanos facilita a contratação global de talentos em cerca de 40 países.

“A evolução e a adoção do tra-balho remoto têm vindo a cres-cer ano após ano por várias ra-zões. Não só porque, está prova-do, aumenta o bem-estar dos tra-balhadores, reduz muito o stress e consegue-se um aumento sala-rial, pela economia tanto espacial mas em todos os custos que im-plica ter um escritório nos cen-tros urbanos pelo mundo intei-ro”, reforça Marcelo Lebre, vice--presidente de engenharia na start-up portuguesa Unbabel.

Mas, Marcelo Lebre chama a atenção para o facto de a pan-demia ter “forçado este reforço” da passagem para o teletrabalho. “Importa salvaguardar que nes-te momento não se vive um tra-balho remoto normal. Nesta al-tura, as pessoas em teletrabalho controlam o seu ambiente de

trabalho, existe um aumento de produtividade, mas existe tam-bém um peso no nosso subcons-ciente de que algo não está bem, com muitos elementos familia-res de dispersão e a pedir aten-ção que implica um esforço re-dobrado”.

Menos escritório Considera que esta experiência pode fazer com que as empresas não voltem na sua totalidade para o modelo de escritório anterior. “Temos alguns clientes e parcei-ros que nos dizem que vão optar por ou escritórios mais pequenos ou mesmo descentralizados, sain-do de zonas extremamente caras e com isso dar melhores condi-ções aos seus trabalhadores”.

Se o tecido empresarial foi mais focado no que se entrega, do que se faz, será um impulso para o teletrabalho, acredita Marcelo Lebre. Para as pessoas trabalharem de forma remota existe uma necessidade básica que são as tecnologias, o compu-tador, a internet, o acesso a uma câmara e até um microfone com alguma qualidade. Mas avisa que “em termos normais estar no trabalho conta como estar no trabalho, mas no trabalho remo-to não é assim”.

Segundo Marcelo Lebre, o que se nota, do ponto de vista das empresas, é uma preocupação maior em dar condições às pes-soas para poderem trabalhar mais à vontade, estão a munir-se de mais ferramentas, aplicações, ser-viços online para que os seus co-laboradores possam ter acesso.

Sublinha que a formação on-line tem vindo a ganhar peso, e cada vez mais há start-ups a inves-tir nesta área, “há uma espécie de explosão na formação online, que tem muito menos custos para as empresas e para as pessoas”, con-clui Marcelo Lebre. ��

O trabalho remoto veio para ficar

Marcelo Lebre diz que “neste momento não se vive um trabalho remoto normal”, mas foi um catalisador e muitas empresas vão passar a ver o teletrabalho com outros olhos.

“Com médicos e enfermeiros desenvolvemos um módulo Como tratar os doentes com co-vid-19, baseado em informações de várias partes do mundo. É gra-tuito, tem 40 mil utilizadores em 138 países e com feedbacks a di-zer que era necessário para trei-nar pessoas da linha da frente”, diz Pedro Pinto, CEO da Take the Wind.

Muitas destas pessoas ainda não tinham experiência em emergências e os doentes de co-vid-19 têm de ser rapidamente normalizados porque têm uma evolução rápida. “Com este mó-dulo treinam com doentes vir-tuais para depois não cometerem erros com doentes reais”, subli-nhou Pedro Pinto.

A Take the Wind é uma em-presa tecnológica que tem um sistema de educação clínica, o Body Interact, que permite trei-nar o exercício clínico com base na simulação com pacientes vir-tuais. “É um produto na cloud, trata-se de pacientes virtuais, que permite treinar a decisão clínica e o pensamento crítico antes de ir para um hospital ou para um cenário real e interagir com um paciente virtual como se fosse um paciente real”, explica Pedro Pinto.

O Body Interact tem oito anos e está presente em escolas médicas, de enfermagem, para-médicas e depois programas de formação profissional continua-do em 41 países e hoje serve cen-tenas de milhares de pessoas.

Casos online A covid-19, com o encerramen-to das escolas e o confinamento das populações, alterou o para-digma porque o Body Interact era utilizado sobretudo em am-biente presencial. “Inicialmente a sua adoção começou por pôr pacientes virtuais na sala de aula

para simulação e desenvolver um programa curricular em torno dos pacientes virtuais”, refere Pe-dro Pinto.

Houve uma adaptação força-da e foi-se mais além da evange-lização de Pedro Pinto que “era a necessidade de um sistema hí-brido, uma solução online com uma presencial”. Subitamente fi-cou apenas a solução online, o que obrigou a Take the Wind a ter de preparar os servidores e a reconverter os seus processos, “para poder servir centenas de milhares de pessoas que tem de ter acesso a aulas, a pacientes vir-tuais, porque já não têm acesso aos seus pacientes reais”, refere Pedro Pinto.

A solução tem entrado em países como os Estados Unidos “onde o incentivo à procura é ele-vado para encontrar soluções em processos online”, e, mesmo o Japão, um mercado difícil e onde no ano passado ganharam um prémio e-learning dado pelo Go-verno japonês, mas não estavam em nenhuma universidade. “A covid-19 alterou a situação, esta-mos a crescer com o número de

universidades que adotou o Body Interact no seu e-learning”, sa-lientou Pedro Pinto.

Novo negócio A crise sanitária está a ser tam-bém uma oportunidade para a empresa olhar para outro mer-cado diferente da educação e lan-çar um novo serviço, que já está que está em beta testing para o mercado de recrutamento na área da saúde, “que é um proces-so complexo. A nossa tecnologia faz um ranking de competências escalável, automático e é uma nova área de negócio”, referiu Pe-dro Pinto.

Na empresa já havia prática de teletrabalho mas hoje funcio-na totalmente em trabalho re-moto. “Perdemos interação físi-ca, ganhámos eficiência, porque o teletrabalho traz eficiência ao nível de organização, de reu-niões”, diz Pedro Pinto. Este ges-tor referiu ainda que “o que esta-mos a viver é um desafio às lide-ranças internas das empresas e é um teste às lideranças de topo e middle management das empre-sas”. ���

O e-learning da medicina

A Take the Wind é uma empresa tecnológica que tem um sistema de educação clínica, o Body Interact, que permite treinar o exercício clínico com base na simulação com pacientes virtuais.

Uma iniciativa do Negócios em parceria com

Temos alguns clientes e parceiros que nos dizem que vão optar por escritórios mais pequenos. MARCELO LEBRE CTO da Remote

Pedro Pinto enfatiza a existência de uma curva de adaptação forçada.

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No âmbito da iniciativa PME no Radar, o Jornal de Negócios, em parceria com o Santander, lança o terceiro Think Tank Digital, este dedicado ao setor da Indústria Transformadora.

No dia 12 de maio, vão ser abordados temas--chave na área da Indústria Transformadora. Neste think tank digital, vamos contar, uma vez mais, com especialistas e líderes de PME, que estão neste momento na linha da frente e a reinventar os seus negócios e novas formas de trabalhar, para fazer face à conjuntura que estamos a atravessar.

Assista em direto, no dia 12 de maio às 10h00, no site e nas redes sociais do Jornal de Negócios e redes sociais do Santander.

Acompanhe este e outros momentos da iniciativa em www.pmenoradar.negocios.pt

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