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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
AUGUSTO BOAL E A EDUCAÇÃO:
proposta para uma emancipação social através do Teatro-Fórum
Sérgio Luís Borges1
Nelson Silva Junior2
RESUMO: Este artigo é resultado da aplicação da Metodologia do Teatro do
Oprimido, de Augusto Boal, por meio da técnica do Teatro-Fórum, como forma de
linguagem e possibilidades sociais e educativas. O projeto de intervenção pedagógia
foi desenvolvido no Instituto de Educação Estadual Professor César Prieto Martinez -
Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, localizado no município de Ponta
Grossa/PR - no 1º semestre de 2014, com as alunas e aluno do 4º ano do Curso de
Formação de Docentes - Integrado. A intervenção foi realizada em contra turno, nas
dependências da própria instituição. Para a realização do artigo, foi realizado uma
pesquisa-ação, analisando quais as possibilidades sociais e educativas que podem
ocorrer através da técnica do Teatro-Fórum, desenvolvida pelo teatrólogo Augusto
Boal, estabelecendo relações com a Pedagogia do Oprimido, do educador Paulo
Freire. Com as atividades teatrais praticadas durante o projeto, foi possível observar
que as/o participantes desenvolveram sua imaginação, observação. suas relações
socias e senso crítico. Verificou-se que através das encenações propostas,
encontramos estímulo para a atividade teatral na escola, bem como na prática
docente, que iram desenvolver como professoras (es) na Educação infantil e nos anos
iniciais do Ensino Fundamental.
PALAVRAS-CHAVE: Augusto Boal; Teatro-Fórum; Paulo Freire; Formação de
Docentes.
1 Professor PDE: Graduação em Licenciatura Plena em Artes Cênicas, pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP).
Especialização em Fundamentos da Arte-Educação pela Faculdade de Marechal Cândido Rondon e Educação Profissional na Educação de Jovens e Adultos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Atua como professor da disciplina de Arte, no Instituto de Educação Estadual Professor César Prieto Martinez - Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, na cidade de Ponta Grossa - Paraná. 2 Professor Orientador do PDE: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa - Paraná. Graduação
em Engenharia Civil e Licenciatura Plena em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Especialização em Magistério da Educação Básica pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão. Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutorado em andamento, em Ensino de Ciência e Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Ponta Grossa - Paraná.
1. INTRODUÇÃO
Tendo em vista a importância do ensino do Teatro, na formação de futuras (o)
docentes e cidadãos com autonomia e pensamento críticos, fez-se necessário a
elaboração e aplicação de dois questionários. Sendo o primeiro realizado durante a fase
de preparação do Projeto, composto de duas perguntas objetivas e quatro perguntas
discursivas em relação a trajetória dos estudantes na participação em atividdes teatrais,
sua importância e contribuição no processo de ensino aprendizagem e na formação de
futuros profissionais da educação infantil e da séries iniciais do ensino fundamental.
Com o término da Implementação Pedagógica do Projeto na escola, foi desenvolvido o
segundo questionário, onde abordou questões sobre, as expectativas, motivos que
levaram a participar, o que mais gostou, dificuldades e contribuições que a técnica do
Teatro-Fórum pode proporcionar.
Considerando-se que muitas vezes, o ensino de Teatro, na escola ainda é visto
como supérfluos e um mero entretenimento, foi analisado através dos questionários
respondidos pelas alunas e aluno do Curso de Formação de Docentes3, qual a
importância do ensino do teatro na formação docente, bem como as possibilidades de
emancipação social e educativa que podem ocorrer, com o uso da linguagem teatral na
escola.
Optou-se pelo Teatro Fórum, por apresentar técnicas propicias para as questões
que envolvam conflitos, opressores e oprimidos, despertando nas alunas (o), o debate
crítico sobre os problemas levantados e suas possíveis resoluções. Para Augusto Boal:
O Teatro Fórum - talvez a forma do Teatro do Oprimido (TO), mais democrática
e, certamente, a mais conhecida e praticada em todo o mundo, usa ou pode usar
todos os recursos de todas as formas teatrais conhecidas, a estas
acrescentando uma caracteristica essencial: os espectadores - aos quais
chamamos de Spect-atores - são convidados a entrar em cena e, atuando
teatralmente e não apenas usando palavra, revelar seus pensamentos, desejos e
estratégias que podem sugerir, ao grupo o qual pertencem, um leque de
alternativas possíveis por eles próprios inventadas: o teatro deve ser um ensaio
para a ação da vida real, e não um fim em si mesmo. (BOAL, 2012, p. 19)
3 Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, na modalidade
Normal Integrada, com duração de 4 anos, em nível médio. (Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná).
O Teatro é uma das linguagens artísticas que nos oferece ampla possibilibilidade
educativa. Contribuindo na formação de nossos alunos e alunas na sociabilização,
interação e comunicação, em especial na formação de futuos docentes da educação
infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental. Pois podemos perceber também sua
importância nos PCNs4:
O teatro, no processo de formação, cumpre não só função integradora, mas dá
oportunidade para que o aluno aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos
sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos [...]
No plano individual (o teatro), possibilita o desenvolvimento de capacidades
expressivas e artísticas (1997, p. 57).
Outro grande obstáculo que foi trabalhado durante o Projeto, foi a compreensão
por parte das alunas e aluno envolvidos, sobre a real importância que o Teatro pode
trazer na área da educação. Pois as vezes percebemos que o conhecimento teatral no
âmbito escolar é distorcido, como já foi mencionado acima visto somente como um mero
entetenimento ou até mesmo como supérfluo. Com base nessa realidade que
presenciamos dia a dia na escola, pretendeu-se com a Intervenção Pedagógica deste
Projeto, possibilitar reflexões que auxiliem na emancipação do pensamento, tornando-os
assim, alunas (o) mais críticas e a compreensão do ensino de Teatro na escola como
uma ferramenta pedagógica, ajudando no processo ensino aprendizagem de seus
futuros alunos.
No desenvolvimento do Projeto, foi utilizada a técnica de Augusto Boal, porém
vale ressaltar que o objetivo de sua teoria não se fundamenta para encontrar ou formar
atores. Nem tampouco é o objetivo de se ensinar Teatro na escola. As atividades
realizadas através da Metodologia do Teatro do Oprimido5, enfatizando-se a técnica do
Teatro Fórum terá como foco principal de expandir e emancipar o pensamento reflexivo
e crítico, desenvolvendo o sentido de liberdade para a contrução de novos
conhecimentos.
4 Parâmetros Curriculares Nacionais: mais conhecidos como PCNs, é uma coleção de documentos que compõem a
grade curricular de uma instituição educativa. Foi elaborado para servir como ponto de partida para o trabalho docente, norteando as atividades realizadas em sala de aula. 5 Teatro do Oprimido: Método sistematizado pelo teatrólogo Augusto Boal que à transformação de realidades
opressivas, através de meios estéticos e a partir dos diálogos entre os oprimidos.
O Teatro do Oprimido, em todas as suas formas, busca sempre a transformação
da sociedade no sentido da libertação dos oprimidos. É ação em si mesmo, e é
preparação para ações futuras. "Não basta interpretar a realidade: é necessário
transformá-la!" - disse Marx, com admirável simplicidade. (BOAL, 2012, p.19)
Augusto Boal adota a fundamentação teórica da metodologia e Paulo Freire, para
quem o ensino é democracia e diálogo. Denonimando seu método de intervenção social
e política através do Teatro do Oprimido, inspirando diretamente no título do livro
"Pedagogia do Oprimido", e no pensamento de Freire, de que todo ser humano pode
ensinar a todo mundo. Adotando um dos princípios freireano, de uma pedagogia
elaborada pelos oprimidos e não para os oprimidos, exercendo uma prática teatral que
conscienti os oprimidos a lutarem pela libertação: "A ficção antes da realidade, a
repetição antes da revolução". (BOAL. 1980, p.90)
2. O ENSINO DE TEATRO NA ESCOLA
2.1 Breve histórico do Teatro no Mundo e o Teatro do Oprimido e suas técnicas
O ensino do Teatro na escola, é pouco valorizado como forma de conhecimento.
Percebo que talvez seja pela falta de compreensão que as alunas e alunos tem do
mesmo, uma vez que desconhecem a origem e sua finalidade, seja no âmbito
educacional ou social. Tendo em vista, o pouco conhecimento da linguagem teatral,
foi realizado no início da intervenção pedagógica uma breve abordagem teórica a
respeito do teatro no mundo, estudo da Metodologia Teatro do Oprimido, focando a
técnica do Teatro-Fórum.
A partir dos encontros teóricos, foi proposto as alunas e aluno, estabelecer um
contato com a linguagem do teatro e sua evolução, bem como suas contribuições
para a área da educação.
Os assuntos que foram trabalhados na sala de aula, foram pertinentes para que as
alunas (o), pudessem entender as práticas teatrais e suas possíveis discussões
sociais e educativas. Assim foi coerente trabalhar assntos como: o Teatro Grego,
Romano, Medieval e Renascentista, também vida e obra do dramaturgo Augusto
Boal6 e a criação do Teatro do Oprimido e suas técnicas. Foram feitas exposições
orais sobre os assuntos mencionados, seguido de vídeos que auxiliaram na
compreensão dos conteúdos propostos.
Ainda nos encontros teóricos, foi abordada a relação pedagógica entre o
dramaturgo Augusto Boal e o educador brasileiro Paulo Freire7, bem como a
importância de ambos para a educação.
Pois se fez necessário e oportuno estabelecer as relações pedagógicas entre Boal
e Freire, se tratando que a intervenção foi desenvolvida com as alunas e aluno do 4°
ano do Curso de Formação de Docentes, no 1º semestre de 2014. Vale ressaltar que
a Metodologia do Teatro do Oprimido de Boal, apresenta pensamentos da
Metodologia da Pedagogia do Oprimido de Freire, onde ambas trabalham com a
6 Augusto Pinto Boal nasceu em 17 de março de 1931 no Rio de Janeiro e morreu no dia 02 de maio de 2009, aos 78 anos de insuficiência respiratória. Boal também tinha leucemia. Concluiu o curso de Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, em 1950, e embarca para Nova York, onde estuda Teatro na Universidade de Columbia. Cursa direção e dramaturgia, tendo John Gassner como um de seus mestres. Augusto Boal foi teatrólogo brasileiro, sendo considerado um dos mais importantes diretores de teatro. Desenvolveu a Metodologia do Teatro do Oprimido durante seu exílio político entre o período de 1971 e 1986 em que esteve na América Latina (Argentina e Peru, sobretudo) bem como em diferentes países da Europa com incursões também na África. site: wikipedia.org/wiki/Augusto_Boal 7 Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 em Recife e morreu em São Paulo, no dia 02 de maio
de 1997, aos 76 anos de infarto agudo do miocárdio. Formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão, preferindo dedicar-se a projetos de alfabetização. Seu método defendia uma prática de trabalho de alfabetização que capacitasse o oprimido tanto para a leitura e escrita quanto para a sua liberdade de expressão. Sendo assim Paulo Freire propõe na sua teoria, a superação da relação "opressor-oprimido", ou seja a elaboração e construção do conhecimento ligado ao processo de criação crítica da realidade. (Vale, 2005, p.64)
perspectiva de opressores e oprimidos em nossa sociedade. Augusto Boal conheceu
Paulo Freire entre os anos de 1959 e 1960, tendo oportunidade de estar com ele
apenas, por duas vezes no Brasil. Declarou que acompanharam as atividades e a
vida um do outro, porém não chegaram realizar atividades juntos.
As frases citadas a seguir, mostram o respeito e a admiração que um tinha pelo
outro:
"Conheci Augusto Boal nos anos sessenta, ainda muito jovem. Já
naquela época tinha grande admiração pela genialidade que
anunciava no teatro pela seriedade que já vivia, pela coerência com
que diminuia a distãncia entre o que dizia e o que fazia." (FREIRE,
Hamlet e o filho do padeiro, 2000)
"Paulo Freire inventou um método, o seu, o nosso, o método que
ensina ao analfabeto que ele é perfeitamente alfabetizado nas
linguagens da vida, do trabalho, do sofrimento, da luta, e só lhe falta
aprender a traduzir em traços, no papel. Maiêutico, socrático, Paulo
Freire ajuda o cidadão a descobrir, por si o que faz dentro de si."
(BOAL, 2000)
Desta forma, após as abordagens teóricas acima citadas, foi realizado um
estudo sistemático sobre a técnica do Teatro-Fórum8, pois a mesma apresenta
técnicas que propiciam questões que envolvem conflitos, opressores e oprimidos9.
Para Augusto Boal:
O Teatro Fórum - talvez a forma do Teatro do Oprimido mais democrática e,
certamente, a mais conhecida e praticada em todo o mundo, usa ou pode usar todos
os recursos de todas as formas teatrais conhecidas, a estas acrescentando uma
caractéristica essencial: os espectadores - aos quais chamamos de Spect-atores -
são convidados a entrar em cena e, atuando teatralmente e não apenas usando
palavras, revelar seus pensamentos, desejos e estratégias que podem sugerir, ao
8 Segundo Boal, o Teatro Fórum destrói-se a peça sugerida pelos artistas para, juntos, construírem outra. Com uma
técnica teatral realizada por meio de uma pergunta feita pelo elenco aos espectadores. É apresentado um problema objetivo, através de personagens opressores, que entram em conflito por causa de seus desejos e vontades contraditórias. (Boal, 2003) 9 Boal define oprimido como "cidadãos aos quais se subtraiu o direito à palavra, ao diálogo, ao seu território, à sua
livre expressão, à sua liberdade de escolha." (Boal, 2003)
grupo o qual pertencem, um leque de alternativas possíveis por eles próprios
inventadas: o teatro deve ser um ensaio para a ação da vida real, e não um fim em si
mesmo. (BOAL, 2012, p.19)
2.2 Descrição da Prática Docente através da Técnica do Teatro Fórum no Curso
de Formação de Docentes
O trabalho de intervenção na escola organizou-se em 08 encontros, com
atividades teóricas e práticas, possibilitando a prática da técnica do Teatro Fórum.
Abaixo apresento um quadro demonstrando as atividades que foram realizadas em
cada encontro, e na sequência o detalhamento dos mesmos.
Encontros
Atividades realizadas na Intervenção Pedagógica Carga Horária
1º Encontro Introdução ao Projeto de Intervenção Pedagógica. Breve história do Teatro Ocidental e do Teatro Brasileiro. Vídeos sobre a história do Teatro. Exercícos de sociabilização e integração do grupo.
04 h
2º Encontro Vida e obra do dramaturgo Augusto Boal e sua importância para o Teatro Brasileiro. Vídeos sobre Augusto Boal e o Teatro do Oprimido. Exercícios de aquecimento vocal e físico.
04 h
3º Encontro Relações pedagógicas entre o educador Paulo Freire e o dramaturgo Augusto Boal. Vídeos sobre Paulo Freire. Exercícios teatrais de máscaras e rituais e quebra de repressão.
04 h
4º Encontro Estudo teórico sobre o Teatro Fórum. Vídeo sobre a origem do Teatro Fórum e sua aplicação em diversos países. Ensaios para a preparação de um modelo do Teatro Fórum.
04 h
5º Encontro Prática da Técnica do Teatro Fórum 04 h
6º Encontro Prática da Técnica do Teatro Fórum 04 h
7º Encontro Prática da Técnica do Teatro Fórum 04 h
8º Encontro Prática da Técnica do Teatro Fórum. Avaliação do Projeto. A importância do Projeto na construção das futuras (o) docentes.
04 h
Iniciamos os encontros da intervenção pedagógico, com muito entuasiasmo e
com muita vontade de aprender e desenvolver o senso crítico social e educativo,
através da linguagem teatral, tendo como foco a técnica do Teatro Fórum, que nos
possibilita refletirmos e modificarmos situações de opressões e oprimidos, presentes
em nossa sociedade.
O início do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, foi de muitas
expectativas e curiosidade, tanto pelo Professor PDE, quanto pelas alunas e aluno
envolvidos nas atividades propostas. Já no primeiro encontro, pude constatar que as
alunas (o), estavam dispostas e interessadas em receber novos conhecimentos e
informações, possibilittando e despertando a importância do ensino do Teatro na
escola e na formação de futuras(o) docentes. Foi feito no primeiro encontro uma
introdução da aplicação e importância da intervenção pedagógica, na sequência um
breve histórico do Teatro na Grécia, Roma, Medieval, Renascentista e o Teatro
Brasileiro; sendo intercalado teoria (aula expositiva) com vídeos ilustrando os
conteúdos. Para finalizar o encontro foram feitos exerccícios de sociabilização e
integração do grupo, deixando-os mais descontraídos para os próximos encontros.
O segundo encontro foi de extrema importância, pois estudamos a vida e obra do
dramaturgo Augusto Boal, bem como sua importância no panorama do teatro
brasileiro. Foi o primiro contato que as alunas (o), tiveram com a metodologia do
Teatro do Oprimido e Augusto Boal. Assistimos vídeos sobre o dramaturgo e na
seuqência realizamos exercícos de aquecimento vocal e físico.
Já o terceiro encontro teve a finalidade de estabelecer as relações pedagógicas
entre o dramaturgo Augusto Boal e o educador Paulo Freire, colocando em evidência
a semelhança da Pedagogia do Oprimido X Teatro do Oprimido. Sendo exibido no
encontro um vídeo sobre a vida e contribuições de Paulo Freire para a educação.
Podemos citar algumas ideias comuns entre Paulo Freire e Augusto Boal:
● O diálogo baseado nas questões ético-morais. Boal e Freire defendem o diálogo e a
cooperação ente sujeitos na busca de problematizar, compreender e transformar a
realidade.
● Uma pedagogia e um teatro elaborado "pelos e não para os oprimidos",
conscientizam os oprimidos a lutarem pela libertação, Denominam seus métodos de
intervenção social e política através da educação e do teatro.
● As metodologias de Boal e Freire são fundamentadas em princípios éticos, morais,
sociais e estéticos.
O quarto encontro foi marcado pelo estudo da Técnica do Teatro Fórum, técnica
esta que norteou todas as atividades práticas que se seguiram nos demais
encontros. Evidenciando com objetividade a função e o significado da aplicação da
técnica do Teatro Fórum. Segundo Boal, o objetivo do Teatro Fórum não é "vencer" o
opressor ou apresentar uma alternativa correta para o problema, e sim, provocar a
criação de possibilidades que podem acontecer na vida social através de um ensaio.
(Boal, 2003).
O quinto, sexto, sétimo e oitavo encontros, aconteceram as prática da técnica do
Teatro Fórum. Estes encontros tiveram como objetivo incentivar a prática teatral e
estimulando a reflexão dos temas abordados durante o Teatro Fórum, bem como
buscar alternativas para solucionar problemas sociais e educativos através das
atividades propostas.
Para a realização final da intervenção pedagógica, no oitavo encontro, foram
desenvolvidas práticas das técnicas do Teatro Fórum, seguida de avaliação do
Projeto e sua importância para a formação de docentes na Educação Infantil e nas
séries iniciais do Ensino Fundamental. Os resultados e discussões sobre a aplicação
do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, será demonstrado a seguir através
das falas das vinte alunas e um aluno, que fizeram parte das atividades realizadas.
Como principais aspectos positivos observados pelas alunas (o), pude observar
que, na questão que perguntava se o Projeto de Intervenção Pedagógica, atendeu as
expectativas esperadas, obtive respostas dissertativas como: "Sim e acabou me
surpreendendo, pois além de aprendermos a história do Teatro e a Metodologia do
Teatro do Oprimido, vimos o valor que o Teatro pode ter na educação." "Sim, foi além
do que eu esperava." "Sim, pois aprendi coisas novas e assim ampliei meus
conhecimentos." De um modo geral as alunas e aluno apresentam em suas falas que
a intervenção atendeu as expectativas esperadas.
Analisando a pergunta: Na sua opinião, podemos através da técnica do Teatro
Fórum solucionar situações de opressões, sejam elas sociais ou educativas?
Contamos com diferentes respostas que se expressaram com a seguinte fala: " "acho
que é para isso que essa técnica nos prepara, para sabermos identificar opressões e
ter a sensibilidade de solucioná-las." " Sim, pois através das cenas teatrais que
realizamos durante o projeto, percebemos que as opressões acontecem em todos os
momentos do dia." "Podemos refletir e tentar mudar as nossas atitudes, porém
acredito que não é possível acabar com as opressões, mas sim tentar evitá-las." "Sim,
pois através dessa técnica podemos ajudar tanto opressor quanto oprimido na
solução de problemas." Podemos perceber através das falas citadas, que a aplicação
do Teatro Fórum, faz com que refletimos nossas ações diárias, analiando-as e
ficarmos atentos para que com as nossas atitudes, não aumentem o número de
oprimidos.
Quanto ao posicionamento na questão que tratava dos motivos que levaram a
participar do Projeto de Intervenção Pedagógica, as respostas se apresentaram muito
semelhantes, citando o gosto e interesse pelo Teatro, proporcionar novos
conhecimentos e estabelecer relação com a prática docente e as possibilidades
educativas que a linguagem teatral pode oferecer.
A questão que perguntava: O que você mais gostou durante a realização do
Projeto? Vou mencionar algumas respostas que expressam a opinião da maioria das
alunas (o), onde podemos verificar o que a turma pensa. "Gostei das aulas práticas,
onde nos expressamos." "De todas as discussões, pois todos puderam expressar
suas ideias." "Das práticas, dos debates e reflexões que ocorreram no decorrer do
projeto. Foram de grande valia, pois me proporcionou um grande crescimento." "Dos
diálogos abertos, trocas de experiências e dos teatros improvisados com temas do
cotidiano."
Na questão: "O que as atividades práticas do teatro fórum, podem contribuir na
sua formação de docente na educação infantil e nas séries iniciais do ensino
fundamental?", obtemos as seguintes afirmativas: "Me tornou alguém mais sensível e
atenta para os problemas que possam surgir na minha ação docente, quando estiver
exercendo a profissão, contribuindo também para a minha formação de cidadã mais
crítica." "Reflexões sobre acontecimentos que ocorrem na sala de aula." " Que a
opressão surge por parte de professor e alunos, cabe a ambos compreenderem entre
si e refletirem suas atitudes." "Eu posso levar o que aprendi sobre opressão, no
contexto da sala de aula e saber identificar e solucionar essas situações." Ficou em
evidência nas falas que as atividades teatrais feitas com a técnica do Teatro Fórum,
podem ter uma contribuição significativa no prática docente, ajundo a resolver
situações de opressõe/oprimidos no dia a dia na sala de aula.
Foi questionado as alunas e aluno, se esta foi a primeira experiência de
participação em atividades de teatro? As respostas foram unanimes, com relatos de
que demonstram que já desenvolveram alguma atividade utilizando a linguagem
teatral, porém ressaltaram que sempre realizaram práticas sem fazer um estudo
teórico mais aprofundado, como por exemplo história do teatro.
Fez-se necessário perguntar se as alunas(o), tiveram dificuldades no decorrer da
intervenção pedagógica, as respostas foram variadas, pois sabemos que cada pessoa
vem de contextos sociais e culturais diferentes, onde podemos observar nas falas que
se manifestaram com as seguintes afirmativas: " Em conviver com algumas meninas
que eu não convivia antes." "A de enfrentar minha timidez." "Não encontrei
dificuldades no decorrer do projeto, pois a parte teórica havia sido bem fundamentada
anteriormente." "Não tive muita dificuldade, penso que a maior dificuldade foi a de
interagir com algumas colegas da turma que eu não tinha muito contato."
"Dificuldades de se expressar, que foi superado no decorrer do projeto."
A prática do Teatro Fórum, como já foi citada, é a técnica do Teatro do Oprimido
mais democrática, possibilitando o direito de liberdade de expressão e alternativas
para mudanças que julguem necessárias. Com objetivos claros que o Teatro Fórum
propõe através da sua prática, as alunas (o) foram indagadas com a seguinte
pergunta: Se você tivesse oportunidade de mudar algo na sociedade em que vive, o
que você mudaria? As afirmativas foram muito interessante, pois podemos analisar de
fato as transformações possíveis que a prática do Teatro Fórum podem causar nas
pessoas que as pratica: "As desiguladades sociais e valorizaria mais a cultura, que na
maioria da vez é esquecida pelas massas alienadas." Que a educação de fato fosse
igual para todos." "Talvez a atitude de algumas pessoas de serem superiores as
outras, de não terem humildade em admitir seus erros." "Resgatar alguns valores
perdidos, que foram deixados de lado com o passar do tempo." "O respeito, pois hoje
em dia é raro as pessoas se tratarem com respeito, percebo isso na sala de aula." "O
preconceito com relação à todos, a desilgualdade, tudo que atinge os oprimidos."
A última questão foi uma reflexão a respeito das opressões que professoras (es) e
alunas (os) sofrem na escola? As respostas as alunas (o) se justificam de modo
diferentes e se revelam em falas como: " A desvalorização do trabalho do professor,
que em alguns casos é impedido de desenvolver sua ação docente. Alunos que são
excluídos pelos próprios colegas por não se encaixarem nos "padrões" seguidos pela
maioria." "Discriminação de ambas as partes." "Alunos que conversam durante as
aulas, dificultando as aulas dos professores e o aprendizagem dos demais alunos da
sala." "Professor humilhar o aluno por ele não entender o conteúdo." "Alunos não
prestam atenção no que o professor fala." "Em relação aos alunos, por não atingir
algumas metas estabelecidas pelos professores. Em relação aos professores, por não
atingirem algumas metas estabelecidas pela escola." "Referente as diferentes classes
econômicas na sala de aula, quando um aluno tem um poder aquisitivo maior que o
outro." "Desigualdade social, bagunça na sala de aula e falta de respeito."
2.3 Registros dos momentos da Intervenção Pedagógica
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
"Eu Augusto Boal, desejo que o espectador assuma o papel de ator, invada o
personagem e o palco, ocupe o seu espaço e proponha soluções. Liberta-se é
transgredir. Transgredir é Ser. Libertar-se é Ser." Augusto Boal, 2006.
Este projeto ação, teve como principais objetivos, propor o uso da técnica do
Teatro Fórum, do dramaturgo Augusto Boal, como uma proposta metodológica de
ensino para as futuras (o) docentes da Educação Infantil e das séries iniciais do
Ensino Fundamental, contribuindo para a formação social e educativa , bem como
ampliar a compreensão sobre a importância do Teatro no processo de emancipação
do pensamento socisal e estimular a potencialidade expressiva dos sujeitos
envolvidos na intervenção pedagógica.
Com base nas atividades práticas realizadas e da coleta de dados das questões
respondidas pelas alunas (o), buscou-se analisar a interferência e possibilidades, que
a técnica do Teatro Fórum pode fazer no processo de emancipação crítica do
pensamento, contribuindo na formação docente.
Através das atividades desenvolvidas nos encontros, constatamos que há uma
coerência entre a teoria e prática, na utilização do Teatro Fórum. Pois percebemos
no decorrer do projeto, que as alunas (o), mostraram com evidência as contribuições
que o Teatro Fórum traz para que se faça reflexões e possíveis mudanças sociais e
educativas. As alunas (o), mostraram estar preocupadas em aprender técnicas e
dinâmicas que possibilitem conhecimento e qualificação profissional. O Teatro Fórum
é um método que auxilia as pessoas a lutarem através do teatro, contra todas as
formas de opressão. Sendo assim a intervenção sócio educativa através da técnica
do Teatro Fórum, viabilizou o desenvolvimento da consciência crítica, através das
práticas de encenações dos problemas socias e educacionais que ocorrem no
cotidiano das pessoas; bem como a possibilidade de entrarem em contato com a
linguagem teatral, realizando vivências e debates que ajudam na construção do
pensamento crítico e autônomo.
Com esta implementação pedagógica, espera-se que as formandas e formando do
Curso de Formação de Docentes - Integrado, possam identificar os problemas socias
e educativos vivenciados, encontrando soluções viáveis aos mesmos. Que valorizem
o ensino de Teatro na escola, como forma de transformação social e educativa,
auxiliando no processo de ensino e aprendizagem; não vendo o Teatro somente como
um mero entretenimento.
De fato, como demonstrou a intervenção pedagógica, o ensino do Teatro na
escola, em especial a utilização da técnica do Teatro Fórum, possibilita contribuir
para a formação e emancipação do pensamento social dos cidadãos, sobretudo das
futuras (o) docentes, estimulando-as a potencialidade expressiva e criativa.
REFERÊNCIAS
BOAL, Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e o não ator com vontade de
dizer algo através do teatro. 5ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
BOAL, Augusto. Hamlet e o filho do padeiro: memórias imaginadas. Rio de
Janeiro: Record, 2000.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 14ª edição rev. e ampliada. - Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. 12ª edição. Rio de
Janeiro. Civilização Brasileira, 2012.
BOAL, Augusto. A Estética do Oprimido. Rio de Janeiro, 2009. Parceria entre a
Funarte, o Ministério da Cultura e a Editora Garamond.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 2ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. 17ª edição. São Paulo: Paz e Terra,
2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50ª edição rev. e atualizada. - Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. 13ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 2010.