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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO –

SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ –

UEM

MARLI DE MARCO

A GUERRA DE PORECATU E A PARTICIPAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO: DE OBJETO DE PESQUISA A MATERIAL DIDÁTICO

MARINGÁ

2014

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MARLI DE MARCO

A GUERRA DE PORECATU E A PARTICIPAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO: DE OBJETO DE PESQUISA A MATERIAL DIDÁTICO

Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2013, programa de formação continuada promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná e participação da Universidade Estadual de Maringá no biênio 2013/2014. Orientador: Professor Dr. Ângelo Aparecido Priori

MARINGÁ

2014

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A GUERRA DE PORECATU E A PARTICIPAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO: DE OBJETO DE PESQUISA A MATERIAL DIDÁTICO

Angelo Aparecido Priori 1 Marli de Marco2

RESUMO: O artigo que se apresenta, objetiva demonstrar os resultados do Projeto de Intervenção Pedagógico e da Produção Didática desenvolvida ao longo do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) turma de 2013, que visavam contribuir para que a produção historiográfica dos centros acadêmicos, sobre a Guerra de Porecatu e a atuação do PCB, se tornasse um material didático utilizável em sala de aula. Para tanto, o método utilizado se subdividiu em duas partes: o primeiro se baseou em uma pesquisa bibliográfica de autores relevantes sobre a temática elencada, nos quais podemos citar: Priori (2009), Ipólito (2013) Leocádio (2013), Gonçalves (2004), Oliveira (2003), Burke (1992) e outros que contribuíram com suas pesquisas para que compreendêssemos qual a importância da História Local e Regional no processo de ensino e aprendizagem; o que desencadeou a Guerra de Porecatu e o que motivou a participação do PCB. Num segundo momento houve a realização de um curso destinado aos professores do município de Astorga e alunos de graduação em História para promover o conhecimento e divulgação do tema. Nesse contexto, o artigo se subdivide em três partes: na primeira é abordada a questão da relevância do ensino a História Local e Regional. Na segunda a ênfase recaiu sobre a Guerra de Porecatu e a participação do Partido Comunista Brasileiro e por fim a apresentação da análise do curso promovido.

Palavras-chave: Guerra de Porecatu. Partido Comunista Brasileiro. História Local e Regional. Universidade. Escola.

ABSTRACT: The article presents, intended to highlight the results of the Educational Intervention Project and Production Curriculum developed along the Educational Development Programme (EDP) class of 2013, which aimed to contribute to the historiography of academic centers on the War Porecatu and the performance of the PCB, to become a usable teaching material in the classroom. Therefore, the method used was divided into two parts: the first was based on a literature review of relevant authors on elencada theme, in which we can mention: Priori (2009), Ipolito (2013) Leocádio (2013), Gonçalves (2004 ), Oliveira (2003), Burke (1992) and others who contributed their research for us to understand that the importance of Local and Regional History in the teaching and learning; what triggered the Porecatu War and which led to the involvement of the PCB. Secondly there was the realization of a course for teachers in the city of Astorga and graduate students in history to promote knowledge and dissemination of the theme. In this context, the article is divided into three parts: the first is addressed the question of the relevance of education at Local and Regional History. In the second the emphasis was on the Porecatu War and the

1 Professor Orientador Doutor em História e professor de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá. 2 Professora de História do Estado do Paraná. Formada em História pela Universidade Estadual em Maringá; pós em História e sociedade pela mesma instituição e em Metodologia do Ensino Superior, Educação Especial e Psicopedagogia pela FAAST.

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participation of the Brazilian Communist Party and finally the presentation of the analysis of the promoted course.

Keywords: Porecatu War. Brazilian Communist Party. Local and Regional History. University. School.

INTRODUÇÃO

O presente artigo é o resultado da última atividade que os professores

inseridos no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), realizado pela

Secretaria de Estado da Educação (SEED), em conjunto com Instituições de

Ensino Superior (IES) conveniadas, tem que cumprir. Com este programa os

professores da rede pública do Estado do Paraná ficam afastados por um ano

das atividades de docência a fim de que possam retornar aos estudos e, por

conseguinte se capacitar e atualizar seus conhecimentos teórico-práticos,

almejando mudanças na sua prática escolar.

O programa consiste em quatro etapas: a primeira refere-se a cursos

ofertados pelas IES tanto na área pedagógica quanto na área específica de

cada disciplina que colaboram para um repensar da prática pedagógica e

também na elaboração de um Projeto de Implementação Pedagógica. Na

segunda após novos cursos de aprofundamento teórico e tecnológico ofertados

na IES e pelos núcleos regionais o professor tem que elaborar as atividades

que servirão de base para a implementação do projeto.

A terceira etapa consiste na implementação das atividades na escola

escolhida pelo professor e também a apresentação do mesmo no Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), onde tem a possibilidade de socializar o projeto e

trocar experiências com os demais professores da rede. Por fim, as reflexões

da implementação se efetivam num artigo que fica disponibilizado no site do

Dia a Dia Educação.

Posto isto, o Projeto de Intervenção e depois a Unidade Didática foram

elaborados tendo como público alvo os professores, porque em conversas

informais com os mesmos estes não tinham conhecimento da temática

elencada, ou seja, as ações legais tomadas pelos órgãos repressores

estaduais e nacionais, diante da presença do Partido Comunista Brasileiro

(PCB), na Guerra de Porecatu.

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A implementação do projeto, se deu através de um curso ofertado aos

professores da rede municipal e estadual do município de Astorga, e com

alunos do curso de graduação em História a distância ofertado pela

Universidade Estadual de Maringá. O objetivo geral do curso foi contribuir para

que a produção historiográfica dos centros acadêmicos, sobre a Guerra de

Porecatu e a atuação do PCB, se torne um material didático utilizável em sala

de aula.

Para apresentarmos os resultados dos estudos realizados durante o

PDE e sua implementação segue o artigo em questão, que encontra subdivido

em três seções: na primeira abordamos a relevância do enfoque da História

Local ou Regional como recurso didático na sala de aula e principalmente na

formação acadêmica e pessoal dos alunos. Em seguida fazemos uma breve

descrição do que foi a Guerra de Porecatu e a atuação do Partido Comunista

Brasileiro através das obras de Priori, Ipólito, Gonçalves e Leocádio; e por fim

apresentamos as análises das atividades desenvolvidas no curso.

1. A HISTÓRIA LOCAL E NOVAS POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM

HISTÓRICA

A Nova História proporcionou a ampliação das discussões sobre

abordagens e enfoques na pesquisa em histórica, promoveu uma diversificação

no conceito de fonte histórica, bem como uma dinamização no objeto de estudo

do pesquisador, tornando viável estudar aspectos que até então não eram

mencionados nas academias.

Mudanças estas que também se refletiram na visão dos agentes

elaboradores da história, porque a noção tradicional da narrativa histórica

passou a dar lugar a uma história problema, trazendo a tona temas antes

renegado pela historiografia. Peter Burke (1992) sobre esta questão esclarece

que:

(...) a nova história começou a se interessar por virtualmente toda a atividade humana. (...) Nos últimos trinta anos nos deparamos com várias histórias notáveis de tópicos que anteriormente não se havia pensado possuírem, como por exemplo, a infância, a morte, a

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loucura, o clima, os odores, a sujeira, os gestos, o corpo. (...) O que era previamente considerado imutável é agora encarado como uma “construção cultural” , sujeita a variações, tanto no tempo quanto no espaço. (BURKE, 1992, p. 11).

Com o advento de novas fontes e temáticas houve a possibilidade de

uma aproximação do historiador com seu objeto de estudo, a incorporação dos

fenômenos históricos da região, e, por conseguinte a construção de uma

história plural em que os excluídos na historiografia tradicional passam a ter

voz.

Diante desse contexto, inicia-se no Brasil a partir da década de 1980

pesquisas acadêmicas voltadas à História Local ou Regional. Dessa forma,

temas que até então eram renegados e nem cogitados pelos historiadores

passam a ser estudados, e como consequência a História de muitas regiões do

Paraná, em alguns casos desconhecida da população, porque a historiografia

tradicional não valorizava estes acontecimentos, vieram a tona.

O incentivo a pesquisas de cunho Local e Regional ganhou novo

impulso com a promulgação da Lei nº 13.381, de 18 de Dezembro de 2002,

pelo Governo Estadual, em que os conteúdos de História do Paraná, passaram

a ser obrigatórios no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual

de Ensino.

Com a promulgação da referida Lei a História Local e Regional saiu do

espaço acadêmico e adentrou as salas de aulas, e ao se utilizar dessas novas

concepções metodológicas e epistemológicas o professor proporciona aos

alunos perceberem que o local em que vivem pertencem a uma conjuntura

maior e que fatos a nível mundial podem refletir na sua vida, proporcionando-

lhes a perspectiva de que a História não é uma ciência distante de sua

realidade e nem tão pouco é construída apenas por heróis como muitos livros

didáticos deixam transparecer, mas por pessoas comuns.

Nesse sentido, quando o professor enfatiza o estudo da História Local

e Regional o mesmo contribui para uma visão da história “vista de baixo”, na

medida em que considera mais seriamente as opiniões e experiências de

pessoas comuns, permitindo aos indivíduos tornarem-se partícipes das

mudanças sociais.

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Como ressalta Sharpe (1992, p.62), “a história vista de baixo ajuda a

convencer aqueles de nós nascidos sem colheres de prata em nossas bocas

de que temos um passado, de que viemos de algum lugar”. A História Local e

Regional possibilita, portanto, um avanço nas discussões históricas que

ultrapassam a visão de que só existe um tipo de conhecimento histórico

universalizado em temas de História Geral e do Brasil, muitas vezes sem

significado para os alunos. Sob esse aspecto, Fonseca (2003) argumenta que:

(...) o estudo regional oferece novas óticas de análise ao estudo de cunho nacional, podendo apresentar todas as questões fundamentais da história (como os movimentos sociais, a ação do estado, as atividades econômicas, a identidade cultural, etc) a partir do ângulo de visão que faz aflorar o específico, o próprio, o particular. A historiografia nacional ressalta as semelhanças, o regional lida com as diferenças. (...) (FONSECA, 2003, p.222)

A partir das colocações de Fonseca (2003), afirma-se que a região está

historicamente inserida no todo, ou seja, as diferenças e a multiplicidade da

região pertencem às questões mais amplas, nacional e/ ou mundial e ao

trabalhar com o regional o aluno pode relacionar os acontecimentos históricos

do seu cotidiano com os processos históricos mais abrangentes possibilitando

compreender sua contextualização. Como esclarece Neves (2002):

O estudo do regional, ao focalizar o peculiar, redimensionaria a análise do nacional, que ressalta as identidades e semelhanças, enquanto o conhecimento do regional e do local insistira na diferença e diversidade, focalizando o indivíduo no seu meio sócio cultural, político e geoambiental, na interação com os grupos sociais em todas as extensões, alcançando vencidos e vencedores, dominados, conectando o individual com o social. (Neves, 2002, p. 89)

Nestes termos, ao se trabalhar com a História Regional ou Local o

professor tem a possibilidade de abordar aspectos que não seriam percebidos

no contexto maior. Dessa forma, de acordo com Silva (1990):

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[...] o estudo regional oferece novas óticas de análise do estudo de cunho nacional, podendo apresentar todas as questões fundamentais da História (como os movimentos sociais, a ação do Estado, as atividades econômicas, a identidade cultural etc.) a partir de um ângulo de visão que faz aflorar o especifico, o próprio, o particular. A historiografia nacional ressalta as semelhanças, a regional lida com as diferenças, a multiplicidade. A historiografia regional tem ainda a capacidade de apresentar o concreto e o cotidiano, o ser humano historicamente determinado, de fazer a ponte entre o individual e o social. [...]. (SILVA, 1990,p.13)

Dessa forma, o trabalho com o local e o regional esta amparado por

Lei e pelas Diretrizes Curriculares de História (DCE), elaborada pela Secretaria

de Educação do Paraná, em 2012, no qual ressalta que ao enfatizar as novas

propostas metodológicas “não se pretende negar a influência da Europa na

história brasileira, mas abordá-la de modo não determinista, pois ao enfatizar a

integração da História do Brasil à História Geral” (DCE, 2012, p.23), há a

possibilidade de que o aluno perceba e valorize a história brasileira e possa

fazer correlações com os acontecimentos nacionais, regionais e locais com os

mundiais.

O trabalho com esta nova proposta metodológica, portanto,

acrescentam novas possibilidades de abordagem histórica, possibilita a criação

de uma identidade regional e torna o conhecimento cientifico contextualizado e

significativo para o aluno.

No entanto, apesar do aumento considerável de pesquisas que

enfatizam a História Local e o Regional nota-se que as mesmas chegam às

escolas de Ensino Fundamental e Médio de maneira muito discreta, e em

alguns casos nem são mencionadas nos livros didáticos, que em muitos casos

continuam valorizando a história em europeia em detrimento da brasileira e

principalmente da regional.

Fato este que se comprova com a temática Guerra de Porecatu e a

participação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tema que será abordado a

seguir.

2. A GUERRA DE PORECATU E A PARTICIPAÇÃO DO PARTIDO

COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)

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O estudo da Guerra de Porecatu, pode ser dividido em dois

momentos antes e depois de Angelo Priori, porque até este ilustríssimo

pesquisador este fato histórico não era tratado com a relevância política,

social e econômica que merecia.

Suas pesquisas deram origem a alguns livros e artigos sobre a

temática cujas conclusões demonstraram que este fato não foram ações

desconexas de posseiros, pelo contrário uma luta armada

desencadeada em virtude da posse de terras no Brasil, em que usando

de má fé homens poderosos se apoderavam de regiões que não eram

mais devolutas e sim ocupadas por posseiros que buscavam a posse

através do uso capião.

Além disso, ao aprofundar seus estudos descobriu-se que houve

a participação do Partido Comunista do Brasil (PCB), e que seus

membros tinham o objetivo de iniciar com esta revolta uma revolução

socialista que se espalharia pelo Brasil. A Guerra de Porecatu é assim

descrita por Priori (2009):

Os conflitos armados tiveram início no final de 1948 e só foram desmobilizados em julho de 1951, com a presença das tropas da Polícia Militar do Estado e de agentes das Delegacias Especializadas de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo e do Paraná. A resistência armada dos posseiros de Porecatu marcou a região, que se constituiu em alvo de grandes reportagens nos principais diários do país e em órgãos de imprensa periódica, como a revista “O Cruzeiro” e o semanário “Voz Operária”, órgão do Partido Comunista Brasileiro (PCB). A intervenção do PCB na região e na organização do movimento armado de Porecatu foi possível devido à mudança de sua linha política, decorrente dos “manifestos” de janeiro de 1948 e de agosto de 1950, que apontavam para o Partido a necessidade da defesa da “violência revolucionária”, como linha de ação, visando a luta direta para a tomada do poder. Nesse sentido, o Partido propôs, em seu programa, a formação de uma Frente Democrática de Libertação Nacional, cujo objetivo maior consistia em fazer a “revolução agrária e antiimperialista”. Em relação ao campo, defendia a imediata entrega das terras dos latifundiários para os camponeses que nelas trabalhavam. (PRIORI, 2009, p.2)

Como descrito acima houve a intervenção do PCB, cujo intuito segundo

Leocádio (2011) era:

(...) através da luta armada, tomar o poder. Segundo as fontes, o conflito ocorrido na região de Porecatu pode ser entendido como um

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dos possíveis embriões desta possibilidade. Por isso, o fato pode ser denominado Guerra, pois, dando certa esta escolha pela luta armada em Porecatu, o intuito seria levar a cabo esta perspectiva Brasil afora, conforme propostas presentes no “Manifesto de Agosto”. (LEOCADIO, 2011, p.1)

Como se constata na citação acima o objetivo do PCB era que este

levante fosse à espinha dorsal para outros que se espalhariam para o Brasil, e

o fato do partido ter se envolvido no confronto desencadeou ações não

somente da polícia do Paraná como também de São Paulo denominada nesse

momento de Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS).

Mas por que um acontecimento local chamou a atenção das forças

policiais externas do estado.

Para entender temos que nos remeter a um dos acontecimentos

marcantes do século XX foi a Revolução Russa (1917) no qual instaurou o

regime socialista na Rússia, que em 1924 passa ser denominada de União

Soviética. Este acontecimento provocou uma divisão mundial entre capitalistas

e socialistas, que anos mais tarde dá início a Guerra Fria.

O mundo mudou após este fato porque inimigos foram criados em

ambos os lados levando em consideração qual o sistema político que

consideravam relevantes: capitalismo ou socialismo. Assim, a ameaça

comunista se tornou para os governos capitalistas um mal que deveria ser

combatido.

Nesse contexto, é que se compreendem as ações de Vargas (1930-

1945) durante seu governo, no qual combateu austeramente os comunistas e

colocando na clandestinidade o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que tem

sua origem no Brasil em 1922.

Com o fim do governo Vargas em 1945 inicia-se um período de

democratização do país, mas isso não significa que os socialistas ou

comunistas deixaram de ser concebidos como inimigos da pátria; houve de

1945 a 1947 a concessão do Estado, dirigido pelo então presidente Eurico

Gaspar Dutra a legalidade do PCB, todavia, segundo, Ipólito e Priori (2010,p.3):

“o governo continuava alimentando os organismos repressores e contradizendo

a Constituição de 1946”, a qual garantia a liberdade de manifestação do

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pensamento, de consciência e crença e de defesa mediante qualquer

acusação.

Nesse contexto, segundo Ipólito e Priori (2010):

A atuação da polícia política nesse período configura-se ainda pelo controle político cultural ou de qualquer forma de expressão que contenha ou signifique ameaça à ordem social estabelecida. A ideia e o pensamento eram os objetos de censura e de investigação. (IPÓLITO e PRIORI, 2010, p.6)

Dessa forma, os mecanismos legais atuavam a fim de manter a ordem

do país e isso significava conter movimentos que pudessem conter ideais

revolucionários bolcheviques, ou seja, ideais que almejavam instaurar o

socialismo. No Paraná um movimento que passa a apresentar uma

possibilidade dessa concretização de ideais socialistas foi a Guerra de

Porecatu, principalmente quando se descobriu que o PCB estava participando

ativamente do movimento.

Essa participação deveu-se ao fato do partido estar procurando de

acordo com Ipólito e Priori (2010):

(...) ser um partido de massas, maleável e democrático. Os comunistas se revelaram ágeis na organização de vários Comitês Populares e Democráticos. Nas cidades, procuravam discutir temas como habitação, instrução e saúde públicas, custos dos gêneros de primeira necessidade, etc. Criaram ainda os comitês profissionais, os quais tinham a função de atuar em sindicatos, pois o partido não fazia parte da diretoria dessas agremiações. É nessa década também que o “Partidão” começa a se engajar na luta pela questão agrária, que ganhou forças, principalmente no período de sua legalidade, entre os anos de 1945 a 1947. É inegável que a sua principal preocupação sempre foi o movimento operário, muito embora houvesse interesse do partido em organizar o campesinato. Mas o empenho por essa questão só foi despertado, na prática, em fins da década de 1940, quando houve sinais de agitação no norte do Paraná envolvendo brigas pela posse da terra. Esse movimento, conhecido como Revolta de Porecatu (1948-1951), iniciou as atividades do PCB no campo.(IPÒLITO e PRIORI,2010,p.6)

Na análise de Priori (2009) a intervenção do PCB na região e na

organização do movimento armado de Porecatu foi possível devido:

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(...) à mudança de sua linha política, decorrente dos “manifestos” de janeiro de 1948 e de agosto de 1950, que apontavam para o Partido a necessidade da defesa da “violência revolucionária”, como linha de ação, visando a luta direta para a tomada do poder. Nesse sentido, o Partido propôs, em seu programa, a formação de uma Frente Democrática de Libertação Nacional, cujo objetivo maior consistia em fazer a “revolução agrária e antiimperialista”. Em relação ao campo, defendia a imediata entrega das terras dos latifundiários para os camponeses que nelas trabalhavam. (PRIORI, 2009, p.2)

No Paraná os autores supracitados enfatizam que há uma ausência de

uma trajetória historiográfica, em decorrência dos parcos estudos sobre a

experiência do PCB-PR, mesmo com um vasto material de pesquisa, assim o

pouco que se tem conhecimento sobre o partido é que este:

(...) passou a existir no Paraná após 1930, mais precisamente depois de 1945, quando da I Conferência Estadual que levou à direção do partido no Paraná os comunistas como: Meireles, Walfrido Soares de Oliveira, Dario, Jacob Schmidt e outros que construíram a história do partido no estado. A situação é mais crítica ainda quando nos referimos ao norte do Paraná. O que se conhece sobre a atuação do PCB nessa região, é apenas direcionado à Revolta de Porecatu, onde os militantes tiveram um importante papel na luta dos camponeses pela permanência da posse da terra. Nomes de muitos comunistas também aí se popularizaram: Manoel Jacinto Correa, Newton Câmara e Flavio Ribeiro são apenas alguns exemplos. Sem falar nos militantes reconhecidos nacionalmente, e que também estiveram deliberando o episódio, que são o caso de Gregório Bezerra e João Saldanha. (IPÓLITO e PRIORI, 2010, p.7)

Sobre a atuação do partido no estado do Paraná Gonçalves (2004)

mostra que:

Desde fins dos anos de 1940 os membros do PCB tinham construído duas estruturas de direção intermediárias, além de uma estrutura estadual centralizada e uma forte organização nos municípios. A organização do PCB a nível nacional acontecia a partir da célula – ou organismos de base –, seja ela do local de trabalho e estudo. Ainda assim, eram reforçadas e na maioria das vezes atuavam na clandestinidade, já que corriam riscos de serem abordados pela polícia. No Paraná, a exemplo de outros estados, as células se organizavam de acordo com repartições, como: células de empresas, sindicatos, associações, diretórios municipais, um dos dois comitês distritais e por último, o Diretório Regional. (GONÇALVES, 2004: p. 49-50).

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Para Priori (2009) a luta armada só foi possível em decorrência da

fundação de Ligas Camponesas na região. De acordo com o mesmo:

A primeira notícia que se tem da formação de uma Liga Camponesa no Estado do Paraná, ocorreu em 1944. Nesse ano dois acontecimentos marcaram o início do movimento organizado dos posseiros de Porecatu e região. Na localidade conhecida como Ribeirão do Tenente, um grupo de 270 famílias fundou uma Liga Camponesa onde foram escolhidos os posseiros Herculano Alves de Barros, Hilário Gonçalves Padilha e José Billar como seus representantes. Em Guaraci, um outro grupo de famílias também formou uma Liga, sendo que o representante escolhido para defender os interesses na defesa de suas terras foi o posseiro Manoel Marques da Cunha. Um único objetivo pautou a atuação dessas duas ligas: legalizar a posse da terra. (PRIORI,2009,p.3)

Todavia, a legalização da posse da terra se tornou difícil após a posse

do novo governador, Moisés Lupion (1946-1950), pois este não aceitava

dialogar com os posseiros, dessa forma Priori (2009):

a única garantia que eles tinham para permanecer nas terras eram “frágeis” requerimentos encaminhados ao Departamento de Terras e

Colonização do Estado solicitando a posse dos lotes. Enquanto a situação se tornava insustentável para os posseiros, as Ligas agiam em defesa dos mesmos, apoiando, organizando e incentivando as centenas de famílias que se preparavam para a luta. No ano de 1946 houve uma grande manifestação organizada pelas Ligas de Ribeirão do Tenente, Centenário, Guaraci, Água das Pelotas, cabeceira do Centenário, Água Tupi e Ribeirão do Capim. Mais ou menos 1500 pessoas, oriundas das mais diversas ligas de toda a região, se reuniram no patrimônio de Guaraci e resolveram fechar a estrada que ligava Presidente Prudente (SP) a Londrina (PR). O objetivo era sensibilizar o governo e os políticos para a situação de instabilidade que vivia a região e pela legalização imediata das terras dos posseiros. (PRIORI, 2009, p.3)

É nesse contexto que o PCB, nos dizeres de Priori (2009) se inseri e

tem um papel relevante:

(...) tanto a nível estadual como nacional. Além de criticarem as atitudes políticas de Lupion em não resolver a contenda, condenavam a violência contra os posseiros, exercidas por jagunços e policiais contratados pelos grileiros. O próprio deputado Carlos Marighella cobrou da Câmara dos Deputados a instalação de uma CPI para apurar as denúncias de violência contra os camponeses de Porecatu (PRIORI,2009,p.4).

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Quando a luta se inicia o envolvimento do PCB na luta dos posseiros

de Porecatu:

(...) se deu através do Comitê Municipal de Jaguapitã, do qual eram dirigentes Arildo, Ângelo, Miguel e Mercedes Gajardoni. A família Gajardoni exerceu papel fundamental na organização do movimento e nos conflitos que se sucederam. Aos poucos, conseguiram organizar os posseiros em grupos, “conscientizando-os” da

importância de defenderem suas posses: primeiro legalmente, depois pelas armas. (PRIORI,2009,p.4)

Os resultados dessa guerra foram à morte de vários posseiros, a prisão

de outros e o assentamento em outras regiões de alguns. Porém mesmo

vencidos este fato histórico é relevante para que o aluno perceba que a história

do Brasil tem inúmeras guerras civis por direitos desmistificando a ideia de um

país ordeiro e pacífico.

Além disso, esta revolta demonstra que a atuação do PCB nesse

acontecimento foi primordial para a organização dos posseiros e também para

o fornecimento de armamentos, e que esta ligação com o partido, num período

de combate ao socialismo, acarretou uma preocupação dos órgãos públicos e

conferiu um novo caráter ao movimento, em que deixou de ser tratado como

um simples levante de homens do campo para um movimento comunista, e

assim, os posseiros passaram a ser tratados como terroristas.

Nota-se que ao abordamos os acontecimentos históricos

desencadeados em Porecatu se faz necessários que outros fatos sejam

elucidados para que ocorra a análise e compreensão do mesmo. E é nesse

aspecto que o ensino da História Local ou Regional é válida e significativa

porque corrobora para que o aluno estabeleça relações entre os fatos a nível

internacional, nacional e regional.

Todavia, esta gama de fatos descritos acima não estão disponíveis

nos livros didáticos e isso faz com que a população, alunos e muitos

professores não tenham conhecimento da Guerra de Porecatu e nem tão

pouco da participação do PCB.

Fato este que se comprova com os resultados do curso ofertado aos

professores do Ensino Fundamental e Médio e alunos do curso de História da

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Educação a Distância pela UEM no polo de Astorga, que serão descritos a

seguir.

3. UNIVERSIDADE VERSUS ESCOLA: ROMPENDO BARREIRAS

O objetivo do Projeto de Implementação e que depois norteou a

formulação das atividades da Produção Didática era o de divulgar o

conhecimento sobre a temática Guerra de Porecatu e a participação do PCB

neste processo revolucionário produzido nos centros acadêmicos aos

professores do ensino Fundamental e Médio e alunos de graduação que se

interessassem pela temática.

O interesse surgiu pelo fato da temática ser desconhecida pelos

professores e até moradores da cidade de Astorga e região, haja vista que os

livros didáticos não a abordam. O curso contou com 29 inscritos, sendo 23

professores e 6 alunos do curso de História a distância ofertado pela UEM no

polo de Astorga. Entre os professores participantes haviam da área de

Matemática, Arte, Pedagogia, Língua Portuguesa, Geografia e História.

Antes de iniciarmos a abordagem da temática e para termos uma ideia

do conhecimento prévio dos inscritos sobre o fato histórico em questão, foi

solicitado que os mesmos descrevessem os motivos que os levaram a

participar e o que sabiam do tema: Guerra de Porecatu e a participação do

PCB.

Vale ressaltar que como os cursistas não aceitaram divulgar seus

nomes, os mesmos serão denominados como professor ou aluno 1, 2, 3 e

assim sucessivamente. Posto isto, entre os objetivos se destacam:

“ Me inscrevi porque nunca ouvi falar de que aqui no norte do Paraná havia tido uma guerra e nem que o PCB tinha participado.” (aluno 3) “ O que me despertou o interesse foi o fato de que o PCB participou desse acontecimento e assim quero saber os motivos que eles tinham em vir lutar tão longe dos grandes centros.” (professor 12) “ Moro em Astorga há 37 anos e nunca ouvi falar que numa cidade vizinha tenha ocorrido uma guerra, isso me deixou curiosa e por isso estou aqui.” ( professor 18) “ Me interessei pelo assunto porque estamos estudando do Paraná e já li alguns textos do professor Angelo Priori.” ( aluno 5)

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Com relação ao conhecimento do acontecimento histórico: Guerra de

Porecatu 13% sabiam que em Porecatu ocorreu uma guerra e 87% nem

cogitavam a hipótese. No que se refere à participação do PCB, 100% dos

inscritos não tinham conhecimento desse fato.

Diante desses números significativos iniciamos a abordagem da

temática, e para que os participantes pudessem compreender os motivos que

desencadearam a luta pela posse da terra no norte do Paraná, mais

especificamente em Porecatu e porque o PCB participou desse levante e as

consequências da mesma o curso foi subdividido em quatro momentos.

Num primeiro momento discutiu-se a questão agrária no Brasil

perpassando pelas Capitanias Hereditárias, Lei de Terras de 1850 e a

expansão da fronteira agrícola para o Paraná na primeira metade do século XX

e suas consequências.

Em seguida, abordaram-se as características políticas, sociais e

econômicas mundiais, nacionais e seus reflexos nas regionais em especial em

Porecatu na década de 1940 que propiciou a formação da primeira Liga

Camponesa do Brasil e, por conseguinte a guerra de Porecatu.

Na terceira tendo como referencial a obra de Angelo Priori “O levante

dos posseiros: a revolta camponesa de Porecatu e a ação do Partido

Comunista Brasileiro no campo” foi apresentada e discutida o que motivou a

Guerra de Porecatu e a participação do PCB e por fim os cursistas foram

divididos em equipes e estruturam atividades e textos para se trabalhar a

temática estudada, ao final houve a apresentação e todo o material elaborado

foi disponibilizado para que os professores pudessem levar para suas escolas

e assim ter um material pedagógico de apoio.

Ao final do curso como avaliação foi solicitada que os participantes

descrevessem o que aprenderam sobre o acontecimento histórico abordado e

sua importância no ensino da História, entre as respostas destacamos:

“ Ao final desse curso percebo o quanto não sabemos nada, e como é importante sempre estarmos nos reciclando, e que quando analisamos um fato histórico é necessário uma relação com os acontecimentos históricos mundiais e nacionais, porque eles são reflexos e por isso considero que a História tem que ser trabalhada, partindo de acontecimentos que estão próximos a nós para que eles possam perceber que não somos ilhas isoladas e sim resultados de condições políticas, sociais, e econômicas de uma conjuntura

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maior.Quando deixamos de estudar um fato como este estamos relegando o nosso passado e a luta de homens simples por direitos.” ( professor 2)

A citação acima demonstra muito bem o que enfatizamos anteriormente

no texto, ou seja, que ao se trabalhar com a História Local ou Regional o

professor não está relegando acontecimentos a nível nacional ou internacional,

pelo contrário ele está proporcionando ao aluno uma contextualização do

conteúdo, trazendo a tona sujeitos por muitos anos esquecidos pela

historiografia tradicional e, por conseguinte o aluno se sentirá parte integrante

do processo histórico e assim a aprendizagem se tornará prazerosa e

significativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizamos enfatizando que a História Local ou Regional é um recurso

que os professores podem e devem utilizar em sua prática pedagógica, pois

proporciona um olhar diferenciado sobre o conteúdo na medida em que

propicia a inserção de temas antes relegados pela historiografia tradicional, e

principalmente demonstra os resultados de alguns acontecimentos nas esferas

mundial e nacional no cotidiano próximo.

Mostrando assim, que os fatos se correlacionam e que mesmo nas

regiões mais longínquas as relações políticas, econômicas e sociais das

estruturas maiores exercem sua influência. Nessa perspectiva, rompe-se com a

ideia da História feita apenas por heróis e se inseri diferentes sujeitos com

gêneros, cor ou classe social díspares, mas que participam da construção do

processo histórico.

Quando iniciamos os estudos tínhamos a hipótese da falta de

conhecimento da temática elencada, e com curso esta se concretizou através

dos expressivos números elencados no decorrer do artigo. Através deles se

constata a necessidade de uma integração maior entre os centros acadêmico e

as demais instâncias de ensino, para que os resultados das pesquisas que são

significativas socialmente não sejam contemplados apenas quando forem

introduzidos aos livros didáticos.

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O PDE é recurso que promove esta integração, pois ao possibilitar aos

professores reingressarem às Universidades estes se interaram das novidades

epistemológicas e podem rever seus conceitos e modificarem sua prática

docente, além disso, quando retornam às escolas divulgam e compartilham o

conhecimento adquirido.

No entanto, para que este processo não se finde com o término do PDE

é importante que os docentes continuem participando dos eventos promovidos

pelas instituições de Ensino Superior e busquem manter-se informados através

das revistas especializadas.

A temática Guerra de Porecatu e a participação do Partido Comunista é

um material didático viável e sua utilização traz a tona uma história que por

anos foi esquecida, mostrando para nossos alunos que homens simples

também lutam por seus direitos e que mesmo no norte do Paraná questões

nacionais e mundiais interferem no seu cotidiano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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