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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O GÊNERO NOTÍCIA TRABALHADO NA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Ananery Lacerda Ribeiro 1
Jane Kelly de Oliveira 2
RESUMO Este artigo apresenta os resultados obtidos durante o desenvolvimento de projeto vinculado ao PDE (Programa de desenvolvimento da educação). O projeto visava o desenvolvimento de práticas de linguagens utilizando a Sequência Didática no gênero Notícia. Os resultados obtidos foram as interações dos alunos em questões contextuais, valorização do texto como unidade fundamental de análise e o desenvolvimento de habilidades leitoras de gêneros textuais informativos e jornalísticos, usando da análise interpretativa e produção de textos pelos alunos, tendo como apoio pedagógico diferentes suportes, gêneros discursivos e esferas sociais. Este trabalho oportunizou que os alunos desenvolvessem a oralidade, a leitura e a escrita na produção textual, além de propiciar a análise e reflexão de assuntos cotidianos em sua pluralidade, propiciando o ato de observação, posicionamento, argumentação, diferenciação de textos, comentários e discussões. Esta prática pedagógica é resultado da investigação e intervenção baseado na fundamentação teórica, planejamento, atividades individuais e coletivas dos alunos e da avaliação contínua e formativa.
Palavras- chave: leitura; produção textual; notícia; sequência didática.
ABSTRACT
This article presents the results obtained during the development of a project linked to PDE (Developing of Education Program). The project aimed at developing to language practices using didactic sequence in the news genre. The results were the student’s interaction in contextual issues, appreciation of the text as the fundamental unit of analysis and the development of informative and journalistic genre reading skills, using interpretive analysis and text production by students, with different pedagogical support brackets, speech genres and social spheres. This task gave the students the opportunity to advance the speaking, the reading and writing in the textual production, as well as providing analysis and reflection of daily issues in its plurality, providing the act of observing, positioning, argumentation, text differentiation, comments and discussions. This teaching practice is the result of research and intervention based on the theoretical basis, planning, individual and collective activities of the students and the continuous and formative assessment.
Keywords: reading; textual production; news; didactic sequences.
1 Professora PDE 2013. Formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jandaia do Sul
(2002). Especialista em Pedagogia Escolar: supervisão, orientação e administração (2004) e Educação Especial (2011).
2 Professora Orientadora da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Graduada em Letras pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002), Mestre (2005) e Doutora em Estudos Literários (2009), na área de concentração Teoria e Crítica do Drama.
1. INTRODUÇÃO
Este Artigo Científico é subsidiado pelo PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional) do Estado do Paraná em parceria com a Universidade Estadual de
Ponta Grossa/PR. Apresenta o resultado de um processo pedagógico que se iniciou
pela elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica, Produção Didático-
Pedagógico, a implementação do Projeto Pedagógico na Escola e as contribuições
do Grupo de Trabalho em Rede (GTR).
Como está definido pelo Documento-Síntese elaborado pela Secretaria da
Educação do Estado do Paraná, o PDE é uma política pública do governo do Estado
do Paraná, através do Decreto nº. 4.482, de 14/03/05, em consonância com as
Diretrizes Curriculares Estaduais norteadoras. Este programa visa investimentos e
parceria com as instituições superiores e a educação básica pública deste Estado,
prioritariamente com profissionais da educação estatutários. Objetiva auxiliar em
práticas pedagógicas, através de atividades teóricas-práticas sustentadas pelos
estudos científicos e ações processuais sistematizados, visando melhorias nas
práticas pedagógicas dos educadores a fim de uma educação de qualidade e
também, na promoção no plano de carreira do profissional habilitado.
A elaboração e desenvolvimento do meu projeto e material didático-
pedagógico dentro da temática “A leitura enquanto interação entre sujeitos e
construção de sentidos” foi voltado para a turma 9ºA/2014 do Colégio Estadual
Teófila Nassar Jangada no município de Reserva/PR. Obtive como problemática
“Como utilizar os gêneros textuais da esfera informativa na leitura e produção de
textos pelos alunos?” em decorrência de atitudes investigativas e interventivas
durante o processo desenvolvido na Sequência Didática.
Este artigo apresentará o processo vivenciado durante o desenvolvimento do
projeto, englobando desde a seleção de textos, passando pelos momentos de
reflexão dos alunos envolvidos, até a reelaboração do gênero textual jornalístico
Notícia.
Com esta proposta buscou-se a análise crítica dos alunos referentes aos fatos
enunciados, a autenticidade da notícia e as reais intenções em suas entrelinhas,
possibilitando análise e contextualizações dentro das práticas sociais dos
educandos, além de fomentar a formação de opiniões. Além disso, o
desenvolvimento do trabalho com o gênero Notícia possibilitou aos alunos se
informar, convencer e entreter, contextualizar com fenômenos históricos, sociais e
ideológicos.
Os alunos participantes do projeto são matriculados em uma Escola do
Campo e pertencentes às famílias de produtores rurais de baixa renda, muitas vezes
estes alunos auxiliam as próprias famílias no trabalho na área da agricultura. É
comum para estes indivíduos ter como meio de informação os noticiários televisos,
nos quais muitas vezes predominam notícias trágicas. Portanto, busquei a
priorização da apresentação dos jornais impressos, visto que estes são escassos e
de difícil acesso para os educandos. Diante desta realidade e contexto social
discorro com minhas análises seguintes.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Na fundamentação deste artigo busquei conceitos sobre gêneros discursivos,
esferas sociais da comunicação, gêneros textuais e da metodologia das sequências
didáticas. Estas reflexões teóricas estão baseadas segundo a visão dos linguístas
Luiz Antônio Marcushi (2008), Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e Michelle
Noverraz (2004), as Diretrizes Curriculares da Educação básica do Estado do
Paraná de Língua Portuguesa (DCE/PR, 2008) e o filósofo Mikhail Bakhtin (1997).
Sabemos que o plano de trabalho docente de Língua Portuguesa tem
conceitos e teorias baseadas em resultados significativos no processo ensino-
aprendizagem, visei desenvolver práticas de linguagem referente ao contexto social,
de modo que contribuísse para ampliar os conhecimentos dos alunos em diferentes
domínios discursivos.
Os gêneros discursivos definidos por Bakhtin são classificados de acordo com
as seguintes características: “conteúdo temático, estilo e construção composicional”
Bakhtin (1997, p. 280), considerados mutáveis pela influência do contexto social.
Marcushci (2008, p. 194-196), por sua vez, diz que os gêneros podem ser “comuns a
vários domínios discursivos” tais quais: instrucional, jornalístico, religioso, saúde,
comercial, industrial, jurídico, publicitário, lazer, interpessoal, militar e ficcional.
Diante das práticas de diversidades de gêneros, tendo a Notícia como objeto
de ensinoaprendizagem, sugere-se trabalhar com a Sequência Didática (SD). A
sequência didática ocorre no início de uma investigação e necessidade que definirão
os caminhos a serem percorridos, buscando a própria realidade da turma para sua
formação textual. Partindo da problematização, com situações vivenciadas pelo
grupo e de interesse real da turma propusemos uma produção textual significativa.
A partir destas ações e no que diz respeito à implementação do material, nos
pautamos em atividades processuais para a reconstrução dos significados textuais.
Os pesquisadores Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 97) também conceituam a
sequência didática como sendo “... um conjunto de atividades escolares
organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”.
Para realizarmos nossa atividade de implementação, no momento da
preparação do material didático, parti da ideia de que os textos são unidades de
ensino que se modificam de acordo com a sociedade, interlocutores, tempo
decorrido, a influência das diferentes culturas e demais intervenções. Portanto, o
professor deve selecionar predominando a utilização de textos de base comum do
cotidiano dos alunos que facilitem a compreensão de linguagens específicas e
posturas autônomas frente ao conteúdo textual.
Todo falante nativo de português, independente de sua posição no contínuo de urbanização e independentemente também do grau de monitoração estilística na produção de uma tarefa comunicativa, produz sentenças bem formadas, que estão de acordo com as regras do sistema da língua que esse falante internalizou. Essas sentenças podem seguir as regras da chamada língua padrão ou as regras das variedades rurais ou urbanas. Bortoni-Ricardo (2004, p. 72)
Sendo assim aproveitei o interesse dos alunos aos quais o projeto se
destinou, buscando textos comunicativos e explorando as habilidades linguísticas
dos alunos, movidos por situações e atitudes ideológicas nas diversas atividades
cotidianas. Então, propuz-me a aprofundar a leitura dos textos e aplicar o estudo
com características específicas de uma esfera de comunicação ou esferas sociais
que possibilitam o trabalho com práticas em atividades interativas, sociais, históricas
e mentais, assim como determina a regência das Diretrizes Curriculares do Estado
do Paraná:
Para o trabalho das práticas de leitura, escrita, oralidade e análise linguística serão adotados como conteúdos básicos os gêneros discursivos conforme suas esferas sociais de circulação. Caberá ao professor fazer a seleção de gêneros, nas diferentes esferas, de acordo com o Projeto Político Pedagógico, com a Proposta Pedagógica Curricular, com o Plano Trabalho Docente, ou seja, em conformidade com as características da escola e com o nível de complexidade adequado a cada uma das séries. DCE (2008, p. 91)
Escolhi o gênero jornalístico Notícia com textos referentes à área rural (o
campo) devido ao fato de o projeto ser voltado para alunos de uma escola rural.
Para esta implementação, priorizei o trabalho com a escrita para que os próprios
alunos desta realidade vivenciada pudessem analisar, caracterizar, refletir, inferir e
produzir textos escritos com temas cotidianos, e, em alguns casos, com temas locais
do município de Reserva, identificando-se com a realidade dos assuntos elencados
nesta proposta.
Em consonância com Schneuwly; Doltz (2004) conceituei a Notícia em
algumas de suas características que são informar, não apresentar opinião do autor,
e relatando de forma que responda as questões “o quê’, “quem”, “quando”, “como”,
“onde” e “por quê”.
Com isto, intencionei trabalhar com os alunos as percepções de
ler/ouvir/produzir. Para tanto se fez necessário reconhecer, além dos aspectos
cognitivos e contextuais vivenciados, as estruturas de composição dos gêneros e
seus suportes, tema, estilo, pertinente dentro da coerência e coesão textual, análise
de situações intencionais e tendenciosas, devendo ser tratada com imparcialidade e
ética.
Também foi importante salientar que os suportes de gêneros são os locais
que situam/localizam os textos, influenciando-os e delimitando-os. E além disso, são
alguns modos de divulgação, exposição e circulação de mensagens utilizadas como
suportes de gêneros são: outdoor, jornais, revistas, livros, etc. Além dos livros,
comumente usados, a mídia eletrônica (televisão, telefone, rádio, internet...), pára-
choque de caminhão, camisetas, corpo (tatuagens), entre tantas outros oferecem
suporte de diversidades de informações.
Considerando que o processo ensino-aprendizagem educacional ocorre com
o favorecimento de meios que facilitam o acesso de informações, bem como a
internet, sendo assim propicia a comuta de informações, conhecimentos e
experiências, amplia e aprimora competências na comunicação e na cultura das
atividades humanas.
Desta forma de inclusão social, a leitura e a escrita são primordiais,
independente da sua formalidade ou informalidade, exige-se o conhecimento das
ferramentas que serão utilizadas nos diversos gêneros. Assim como cita Marcuschi
(2008, p. 38)
(...) o século XX, em especial no seu final, experimentou uma série de novas orientações e perspectivas ligadas aos avanços tecnológicos, e hoje enfrentamos o desafio de entender os usos linguísticos no ainda desconhecido campo da comunicação digital e nas interações virtuais representadas pela internet.
Embora sabendo da particularidade influenciadora dos meios apelativos
midiáticos impressos ou eletrônicos, com inúmeras possibilidades e diferenciações
de textos, busquei selecionar vários assuntos do cotidiano em textos informativos
que circulam socialmente de acordo com este momento histórico.
Levando em consideração tais evidencias, relembro e acrescento a
composição básica da notícia: título, subtítulo, lead e estrutura (corpo da matéria). O
título irá atrair os olhares para instigação à leitura e informa brevemente sobre o
assunto. O subtítulo acrescenta informações ao título. O LEAD (lide) se apresenta
de forma breve, muitas vezes no primeiro parágrafo. Portanto, ela deve induzir a
curiosidade do leitor. A estrutura (composição) ou o OLHO da notícia vem em
sequência, com intuito de detalhar, acrescentar e complementar a informação do
lead, com os personagens, local, tempo e sequência de fatos.
Diante do exposto, procurei analisar a significação do texto para o leitor que
se atribuiu pela compreensão do leitor, de acordo com as interferências vivenciadas,
podendo extrair e atribuir significados aos conteúdos das Notícias. Sendo os
próprios indivíduos coautores das informações, produzindo e construindo
significados através da fala (no processo falante, ouvinte e o quê se fala), leitura e
escrita. Condizente com Bortoni-Ricardo (2004, p. 49):
Além da rede social com que o indivíduo efetivamente interage, devemos considerar também o seu grupo de referência, pessoas com quem esse indivíduo não interage fisicamente ou por meio de conduta. Geralmente esse grupo de referência é escolhido pela experiência vicária... Então, na prática, os fatores estruturais se inter-relacionam com os fatores funcionais na conformação dos repertórios sociolinguísticos dos falantes.
Tendo em vista os aspectos observados, considero que as práticas de
linguagens precisam ser revisadas e readaptadas, seja ela na oralidade, leitura e
escrita, em forma processual para melhor desenvolvimento e integração dos alunos
nas novas concepções de língua e ensino, aprimorando-se através da ação de
discursos em suas diversas finalidades de comunicação.
Portanto, direcionei a prática pedagógica em forma Sequência Didática
seguindo um roteiro de organização: apresentação da situação, a primeira produção,
os módulos e a produção final. Busquei meios de estimular a produção textual diante
de fatos da realidade atual no contexto escolar e social, com critérios diferenciados
para definir os textos pretendidos de acordo com a identidade e autonomia da turma
e escola pretendida, de forma metodológica, com a elaboração do Plano de Aula
para minha atuação.
Os estudos sobre notícia/informação que vimos no decorrer dos pressupostos
teóricos guiaram nossa prática durante a implementação do material didático e o
trabalho com sequência didática. Levando em conta os conceitos e teorias
apresentados, explanarei e demonstrarei o processo do trabalho desenvolvido. Na
sequência, inicio pelo questionário respondido pelos alunos.
2.2 IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA
2.2.1 INVESTIGANDO E CONCEITUANDO
O projeto visou os alunos da turma 9º ano do Ensino Fundamental II, com
uma realidade diferenciada em que suas residências pertencem ao meio rural e,
também, a escola estadual é uma “Escola do Campo”. Tal escola distancia-se das
casas dos alunos em muitos quilômetros, isto quando não fazem longas caminhadas
para chegar ao ônibus que os transporta até a escola. Ela é vista como um lugar de
socialização e integração para estes alunos, pois, na maioria das vezes, é onde se
encontram para estabelecer relações sociais.
Esta realidade compõe uma diversidade sociocultural diferenciada nas
adversidades, singularidades, competências, aspirações, necessidades e pluralidade
dos alunos. Diante disto, busquei valorizar tal realidade destes alunos e suas
culturas, assim com novas perspectivas de futuros, reconhecendo suas identidades
e garantindo a valorização dos saberes no processo educacional efetivo. Desta
forma, visando superar as dificuldades educacionais de aprendizagens, evasões,
repetências e desenvolver o respeito e valorização do homem como sujeito do
campo.
Iniciei o trabalho pedagógico com a apresentação do meu projeto “O gênero
notícia trabalhado na Sequência Didática”, esclareci sobre a temática, expliquei o
seu funcionamento, objetivos, a avaliação, as sete fases a serem percorridas pela
sequência didática e as aulas utilizadas para o desencadear desta proposta.
Prossegui com a aplicação de um questionário individual para os 24
educandos da turma. Orientei que este questionário não era avaliativo e visava
apenas reconhecer hábitos e leituras, portanto os alunos deveriam ser sinceros e
realistas sobre as suas respostas especificadas.
O resultado que chamou a minha atenção desta prática, através das
respostas elencadas deste questionário foi que a maioria dos alunos não gosta de
ler o jornal, e apenas 1/3 gostam de notícias. Neste primeiro momento, percebi que
os alunos não gostam de ler jornais pela própria dificuldade/contato ao acesso do
jornal impresso. Em vista disso, notei que eu poderia ter alguma dificuldade de
trabalhar reconhecimentos dos gêneros textuais. Contudo, 1/3 da turma demonstrou
interesse por notícia, que considero um bom início de trabalho.
No decorrer deste processo questionei oralmente aos alunos sobre alguns
pontos importantes de meu projeto:
O que é suporte textual?
E para que serve um suporte textual?
Quais os gêneros textuais que mais chamam sua atenção?
Por que esse tipo de texto é atrativo para você?
Você sabe quais as características destes textos?
Neste momento percebi a pouca participação oral e a dificuldade nos
reconhecimento dos gêneros, suportes e diferenciações, sendo que a maior parte
dos alunos não soube responder tais questões acima mencionadas. Portanto,
prossegui com as explicações teóricas das suas definições.
Na produção do material didático-pedagógico sobre Sequência Didática, eu
previa sempre atividades de reconhecimento do gênero Notícias e suportes,
produções textuais e suas reescritas, dividido em sete fases.
De modo que na primeira fase o obstáculo apresentado pelos alunos foi maior
nos exercícios de reconhecimento e composição textual. Mas, na segunda fase, eles
souberam reconhecê-los, mas, por outro lado, tiveram dificuldades nas escritas das
notícias. Na terceira fase, os alunos puderam verificar a estrutura e compreenderam
sobre as formas de noticiar. Logo, na quarta fase, puderam novamente, elaborar
notícias e reescrevê-las. Nossa intervenção neste momento visava nortear os erros
ortográficos, vozes do texto, elementos articuladores e demais expressões. Assim,
na quinta fase, o momento foi de interpretação e argumentação por meio de debate
de uma notícia que retratava a realidade local. Em decorrência desta atividade, os
alunos puderam sondar, localizar e listar no perímetro escolar, os textos informativos
e seus respectivos suportes na sexta fase. Já na sétima e última fase, algumas
dificuldades apresentadas foram superadas por conta da reescrita e divulgação de
suas notícias nos suportes, puderam ainda comparar as sequências de suas
produções.
Em todas estas atividades, notei que os estudantes participaram
assiduamente e destaco um aspecto relevante apresentado pelos alunos em relação
à notícia que foi o relato de notícias trágicas por diversos alunos, evidenciando
atitudes sensitivas de emoção e comoção frente aos fatos apresentados.
Provavelmente isto aconteça pela própria influência constante das mídias acessadas
pelos alunos e também situações estas ocorridas na realidade local, que
demonstram as práticas linguísticas que os alunos adquirem e trazem para a escola.
2.2.2 RECONHECIMENTO DA COMPOSIÇÃO DA NOTÍCIA
Na realização do exercício “1.5” que previa reconhecer o gênero e suporte
textual, entre outras informações, percebi que 70% dos alunos não sabiam
responder tais indagações. À medida que ocorria atividades com exercícios, e
também, após conhecerem e saberem as características e composições textuais, os
alunos puderam solucionar com habilidade o exercício “2.6”, com reconhecimento e
identificação destes aspectos citados.
Considero que este pressuposto ocorreu porque os alunos puderam
estabelecer relações entre as partes do texto e explorar o assunto sobre diferentes
gêneros e suportes, além de discernirem a composição e estrutura das notícias em
que o gênero é produzido, reconhecerem as marcas linguísticas, os aspectos
discursivos e identificaram as notícias tendenciosas e intencionalmente
direcionadas, conforme mencionaram alguns alunos, que chamarei de “João” e
“Maria”3:
João: “As notícias são relatadas e a manipuladas de acordo com interesses
pessoais do escritor e geralmente, vem acompanhada de tragédias, com títulos que
provocam a curiosidade de quem vai ler”.
Maria: “O relator de notícias, muitas vezes distorce os fatos ocorridos, induzindo a
conclusão do leitor. Muitas vezes, o jornalista direciona o pensamento do leitor para
os acontecimentos, culpando alguém ou alguma instituição pelo ocorrido”.
2.2.3 LEITURA E INTERPRETAÇÃO EM DIFERENTES VEÍCULOS
O que chamou a atenção dos alunos foi o contato com diferentes textos
informativos, que possibilitaram averiguar e associar os conteúdos com os objetivos
pré-intencionados, os possíveis destinatários e o contexto pelo qual o material
circulava. Esta atividade visava à leitura e análise de textos em diferentes veículos
de circulação.
Desta forma, o contato e o manuseio com o jornal impresso foi de extrema
importância, pois despertou muito interesse e curiosidade pela sua apresentação,
diagramação, além do seu conteúdo exposto. Os educandos puderam também ler,
analisar e posicionarem-se criticamente a respeito de algumas notícias, observando
as temáticas retratadas e discutindo sobre as suposições sugestionadas
anteriormente aos títulos em relação ao conteúdo do texto retratado.
3 Os nomes aqui expostos são fictícios.
Outra atividade que despertou o interesse dos alunos foi o acesso à revista
Dinheiro Rural. Como ela depende de recurso financeiro para sua aquisição, a maior
parte dos educandos nunca teve contato com tais exemplares, portanto incluindo
com êxito no trabalho direcionado. Esta revista por ser direcionada ao meio rural
possibilitou a contextualização da realidade vivenciada pelos alunos de área rural,
expandindo a interpretação, relacionando-as com conhecimentos cognitivos e
adicionou conclusões posteriores.
Em referência ao texto “Fiscais da SRTE/PR resgatam 5 trabalhadores em
situação análoga à de escravo”, os alunos defenderam suas opiniões baseadas ao
fato desta notícia ocorrer na região em que residem e terem verificado as reais
condições dos trabalhadores envolvidos no contexto, sabendo claramente as
circunstâncias ocorridas do fato.
Assim, segue a fala do “João” em referência ao texto “Três trabalhadores em
situação análoga à escravidão foram encontrados morando em uma barraca de lona
improvisada, no meio da plantação”.
João: “A notícia que está escrita não é totalmente verdadeira, porque os
trabalhadores não estavam em situação de escravos, eles é que preferiram pousar
na lavoura porque suas casas eram muito longe para vir a pé...”
Segue abaixo também, o ponto de vista da “Maria” em referência ao texto
“Outro casal, na mesma condição, residia numa casa cedida pelo empregador, que
foi interditada pela fiscalização. A casa não tinha instalações sanitárias, o esgoto
corria a céu aberto... Além disso, a estrutura da casa era totalmente precária.”
Maria:“ O que adianta não deixar parar naquela casa, sendo que a casa destes
moradores é pior, não têm banheiro, ninguém se preocupa com isso e nem vêm
fiscalizar. Depois tiram o serviço destas pessoas e elas ficam sem dinheiro, aí quem
vai pagar as contas delas!?...”
Respostas como as citadas acima, trouxeram-me satisfação na medida em
que os alunos defenderam seus pontos de vistas analisados e perceberam que as
notícias são tendenciosas e focam ideologicamente, sem analisar a situação como
um todo.
A minha satisfação em ouvir tais comentários está relacionada ao fato de os
alunos perceberem que a notícia não traz uma verdade e sim uma versão dela.
“João” e “Maria” puderam comparar o que estava escrito com o que eles apreendiam
em seu dia a dia.
Nos demais exercícios propostos, os discentes puderam localizar notícias,
respondendo ao questionário básico (título, subtítulo, quem, o quê, quando, onde,
como e por que). O resultado foi excelente, de fácil reconhecimento e compreensão
com apresentação de circunstancias que o texto oferecia e elementos para
identificação, que contribuiu na valorização dos aspectos cognitivos dos alunos.
2.2.4 ORALIDADE E INFERÊNCIAS
Os alunos exploraram e debateram oralmente as notícias selecionadas pelo
material-didático, vinculando seus conhecimentos ao contexto histórico, social,
ideológico, político e cultural. Nisto, pautaram a comunicação por meio de trocas de
informações entre os envolvidos, referiram-se ao contexto situacional em que se
encontram e realçam as experiências trazidas de suas práticas diárias, que
evidenciam a linguagem informal. Eles puderam também, selecionar informações
contidas nas entrelinhas do texto, o que exigiu esforço na compreensão das leituras
realizadas.
No que se refere ao exercício que havia apenas a escrita das manchetes para
que os alunos sugestionassem sobre o que elas retratavam, facilitou a compreensão
dos enunciados com os assuntos relacionados que seriam lidos. O enfoque desta
atividade foi o conhecimento prévio do aluno em conjunto com os conhecimentos
linguísticos, com isto observei as possibilidades prognósticas do leitor em relação ao
texto lido e os alunos concluíram que uma informação comparada com outros textos,
tendo o mesmo tema poderá ter diversas formas de tratamento.
Assim sendo, destaco aqui outra inferência por parte dos alunos no tocante à
dinâmica que exibia um noticiário televisivo da jornalista Lílian Withe Fibe,
manifestaram interesse sobre a biografia dela, além de outros questionamentos
“Que região ela pertence”? “Em qual jornal ela trabalha?” “Este jornal é apresentado
aqui?”.
Outro grande proveito foi a possibilidade de conhecer, argumentar e discutir a
respeito do primeiro jornal do município de Reserva/Pr (da qual fazemos parte) de
1947, datilografado, que pelo formato chamo de tabloide. Esta atividade provocou
aos alunos a curiosidade e a perplexidade do tempo decorrido. Também, os alunos
relacionaram a leitura com a forma da escrita, perceberam e indagaram palavras
com grafias incorretas, bem como “êste”, “critandade” e “belesa”, buscaram seus
significados e a formas corretas de ortografar.
Esta proposta corroborou para situar a identidade do grupo em seu contexto
local, histórico e sociocultural, resgatando a memória os fatos históricos e perfil do
município, com uma minuciosa análise dos interesses “implícitos”, o conteúdo
proposto, a forma de tratamento aos leitores e a linguagem que visava à
formalidade.
Os alunos fizeram também, um comparativo com outros jornais atuais
impressos e midiáticos, conhecidos da região. Obtiveram a conclusão que as
produções textuais são registros históricos que ficam armazenados, e que os jornais
são produções que servem como armazenamentos dos fatos, servindo de
comparativo com outros. Com o passar do tempo possibilita a reflexão das
evoluções das pessoas e acontecimentos ocorridos.
Nesta etapa constatei que os alunos sentem-se desmotivados ou
envergonhados frente a sua habilidade oral, mas gostam de falar e emitir opiniões
quando os mesmos são estimulados. Isto posto, como resultado da sucessão das
propostas, os alunos puderam desempenhar a oralidade de forma motivada e
desinibida, o processo de implementação possibilitou aos alunos a capacidade de
expressarem-se espontaneamente, o que facilitou o trabalho desenvolvido.
2.2.5 ESCRITA E REESCRITA DA PRODUÇÃO TEXTUAL
Em decorrência da proposta de atividade com Sequência Didática, verifiquei
os conhecimentos prévios da turma e com base nas discussões e análises das
estruturas das notícias observadas pelos discentes, pedi a produção da primeira
versão textual sobre o gênero notícia da realidade local do município de Reserva.
Esta produção foi direcionada da seguinte forma. Aos alunos foi dito que a
atividade não seria avaliada com notas, mas apenas com minhas análises e
correções, que visava favorecer o início do processo de raciocínio e construção de
sentidos. A intenção foi que os alunos produzissem notícias significativas que
fossem expostos e circulassem no colégio.
Neste caso, em relação à escrita textual, obtive como resultado grande
quantidade de erros ortográficos, pontuações, concordâncias verbais e nominais,
regências, paragrafação e as produções sem títulos. Houve dificuldades nos
aspectos da linguagem do uso da língua e na elaboração da estrutura das ideias,
também.
Justifico esta sucessão de problemas pelo fato dos alunos não estarem
adaptados com a estrutura e composição das notícias, a ausência do hábito de
escrever textos e realizar leituras, conjuntamente ao processo educacional
decorrente da falta de práticas dos professores em cobrar produções textuais.
Os erros mais comuns eram nas concordâncias e considero estes erros
devido ao falar regional (verbos no plural e sujeito no singular). As práticas da
oralidade interferem na escrita, assim os alunos têm tendências de reproduzirem a
fala na escrita, ou seja, de escrever da mesma maneira que falam, demonstrando o
predomínio da linguagem oral em suas vidas, assim foi esta situação que ocorreu.
Desta forma, mesmos sabendo que os educandos são autores e coautores de
suas produções, eles precisavam readaptar-se no processo de construção textual,
assim eles foram desafiados para alterarem seus textos e reconstruírem suas
criações, com elementos expressivos e relevantes de acordo com as adequações
gramaticais e semânticas necessárias.
Com o trabalho de revisão e reescrituras dos textos pelos alunos, que visou
um público leitor preciso e um veículo determinado, foi preciso percepção para a
observação e análise linguística que visaram solucionar o problema da perspectiva
gramatical, elementos básicos/ fundamentais da notícia, aspecto e organização
textual.
Esta atividade possibilitou aos alunos a produção final que visava a
comparação com a primeira produção inicial. Portanto, os elementos foram
observados para a compreensão textual que envolveu: a linguagem, eliminação das
marcas interacionais e subjetividades nas notícias, análises das falas dos
interlocutores, inclusão e exclusão de pontuações, substituições de palavras ditas
anteriormente e remoção das repetições, uso da paragrafação com coesão e
coerência textual.
A comparação entre a primeira produção e a produção final revelou o avanço
dos alunos o processo de aprendizagem pelo qual passaram.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com Sequências Didáticas foi o facilitador do contato dos alunos
com os gêneros textuais e seus suportes, que buscava assuntos de interesses e dos
conhecimentos da turma selecionada de forma a aperfeiçoar o desenvolvimento no
processo planejado e devem ser aprofundados no desenvolvimento progressivo
desta prática.
Diante desta prática, o trabalho com gêneros textuais aperfeiçoou nos alunos
a ampliação das competências textuais através de seus contatos com a diversidade
textual e seus diferentes tipos de suportes textuais, principalmente em textos
referentes aos contextos.
Desta forma promoveu-se a construção e o desencadear das habilidades
linguísticas e leitoras nos alunos, possibilitando o reconhecimento e identificação
dos aspectos discursivos, marcas linguísticas, elementos históricos, políticos,
sociais, estilísticos e estruturais nos textos lidos.
A realização deste projeto textual com o gênero informativo é muito instigante
e relevante, pois, o jornal permeia um material rico em diversidade de recursos, que
possibilita seu uso habitual, na diversidade de pontos de vista, com situações
significativas de interlocução para a formação e desenvolvimento de leitores críticos,
desta mesma forma contribui para o posicionamento crítico frente às informações de
interesse social, ideológicas ou não, contribuindo para a cidadania.
Por esta observação dos aspectos analisados acima, considero importante
destacar a obrigatoriedade da leitura de diversos textos de um mesmo gênero, para
que os alunos possam conhecer os aspectos da estrutura e composição, de modo
consequente deve ser realizada a produção de texto pelos alunos, pois sabemos
que a leitura é de grande valia quando relacionada à escrita, sendo que estas devem
ser habitualmente usadas na prática.
Desta forma, direcionei as análises dos alunos para que tivessem a
oportunidade de verificar as suas escritas, observando seus erros para posterior
melhoramento, assim estabelecendo relação concreta com as situações de
comunicação.
Ainda que os discentes estejam acostumados com a defasagem no
conhecimento da língua materna e influências dos aspectos discursivos, os
profissionais da educação requerem atitudes habituais e pedagógicas com práticas
de oralidade, leitura, escrita e análise linguística, que viabilizem intervenções nos
hábitos diários dos alunos, objetivando a eficaz compreensão da língua materna em
suas formações.
Com o desfecho deste trabalho e tendo em vista os aspectos observados,
ressalto ainda, que os educadores precisam reavaliar suas práticas, prevalecendo
além do trabalho com a oralidade e leitura dos alunos, a importância de se
aperfeiçoar o desenvolvimento de habilidades textual dos mesmos, visto que muitos
alunos não estão acostumados exporem suas ideias, principalmente com produção
e reprodução textual.
4. REFERÊNCIAS ALVES FILHO, Francisco. Gêneros Jornalísticos: notícias e cartas de leitor no ensino fundamental. São Paulo: Cortez, 2011. BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In M. Bakhtin, Estética da Criação Verbal. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. BRASIL. Ministério da Educação. PDE: Prova Brasil - ensino fundamental: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SEB; Inep, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/prova%20brasil_matriz2.pdf
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