Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Av. Água Verde, 2140 – CEP 80240-900 – Curitiba - Paraná

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

JOANISTELA GONÇALVES MENDES

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA UNIDADE DIDÁTICA

PDE 2013

COTIDIANO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO: ESTUDO SOBRE

HÁBITOS E COSTUMES DO PROFESSOR

MARINGÁ - PARANÁ

2013

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Av. Água Verde, 2140 – CEP 80240-900 – Curitiba - Paraná

JOANISTELA GONÇALVES MENDES

COTIDIANO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO: ESTUDO SOBRE HÁBITOS E COSTUMES DO PROFESSOR

Produção Didático-Pedagógica – Unidade Didática apresentada à Secretaria de Estado da Educação do Paraná por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE: Cotidiano escolar contemporâneo: estudo sobre hábitos e costumes do professor. Orientação: Profª Drª Terezinha Oliveira

MARINGÁ - PARANÁ

2013

SUMÁRIO

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA -

TURMA 2013 ......................................................................................................... 4

APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 6

MATERIAL DIDÁTICO – UNIDADE DIDÁTICA .................................................... 7

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES ........................................................................ 8

ORIENTAÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS ............................................12

REFERÊNCIAS .....................................................................................................15

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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA TURMA 2013

Título: Cotidiano escolar contemporâneo: estudo sobre hábitos e costumes do professor

Autora: Joanistela Gonçalves Mendes

Disciplina/Área: História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga –

E. F. M.

Município da escola: Maringá

Núcleo Regional de Educação: Maringá

Professor (a) Orientador (a): Terezinha Oliveira

Instituição de Ensino Superior: UEM

Relação Interdisciplinar: Todas as disciplinas da educação básica

Resumo:

Nesta produção didático-pedagógica intitulada ‘Cotidiano escolar contemporâneo: estudo sobre hábitos e costumes do professor’ faremos uma reflexão sobre o cotidiano escolar tendo como referência os estudos e as reflexões de autores da literatura clássica que investigaram temas como o homem, a educação, hábitos e costumes sociais. Nosso principal foco são os docentes da educação básica, em particular os que lecionam no Col. Est. Dr. José Gerardo Braga/E.F.M. e demais interessados em refletir sobre os dilemas da educação em nossa contemporaneidade. Interessa-nos proporcionar subsídios teóricos para a reflexão e compreensão sobre a escola como ambiente próprio do conhecimento historicamente produzido, contribuindo para o entendimento da figura do professor como sujeito mediador/condutor relevante no processo de ensino, atingindo aqueles que são a verdadeira razão de ser desta Unidade Didática, ou seja, as crianças e os adolescentes, em formação. Estudando os clássicos da literatura, particularmente as questões relacionadas aos hábitos e

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costumes, propiciam-se, as possibilidades do desenvolvimento de práticas docentes criadoras e transformadoras.

Palavras-chave: Clássicos – Hábitos – Professor

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público: Professores da educação básica

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APRESENTAÇÃO

Esta Unidade Didática apresenta as estratégias de implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica com a finalidade de realizar a leitura, estudo e reflexão de autores clássicos da literatura que analisaram temáticas sobre hábitos e costumes sociais, possibilitando aos professores, da educação básica do Paraná, um estudo do cotidiano escolar e a correlata relação entre as análises desenvolvidas pelos clássicos, de forma a contribuir na formação de novos hábitos e práticas docentes.

A razão desta Unidade Didática consiste em acreditarmos que é o professor o agente transformador necessário no processo de vivência com seus alunos, mais ainda: por vezes ele se constitui na única referência moral e de conduta, dentro e fora, do ambiente escolar. Em virtude disso, consideramos que o professor também deve ser orientado para conhecer, estudar, problematizar e relacionar a literatura clássica sobre hábitos e costumes, com sua própria vida profissional e a do aluno.

Desse modo, torna-se imprescindível estudar e debater com o corpo docente, nosso público alvo, os significados sociais dos hábitos e costumes norteadores das atitudes profissionais do professor na contemporaneidade. Para tanto, urge recuperar as reflexões sobre a essência da natureza humana, suas possibilidades exemplificadas na aquisição das virtudes intelectual e moral, ou mesmo sua completa negação, cotidianamente reafirmada em práticas que reclame ‘desconhecimento’, egoísmo e mesmo intolerância, por parte do docente.

O contexto em que a função da escola na atualidade vem ocupando como assistencialista, relegando à um segundo plano, o lugar do conhecimento científico, nos leva a uma proposta de sensibilização dos professores para a modificação de sua prática docente. Destacamos que essa sensibilização vincula-se estreitamente à importância e à natureza do conhecimento. O estudo da literatura clássica sobre hábitos e costumes, permitirá aos professores do Colégio no qual será implementado esta Unidade Didática a reflexão sobre sua realidade histórica, compreendê-la e questioná-la, bem como, atuar como sujeito social.

Nesse sentido, reestabelecer o papel social de transformar/ensinar da escola significa reafirmar sua real finalidade daí a importância para o estudo do cotidiano escolar, que os docentes debrucem-se sobre questões relacionadas aos hábitos e costumes, recuperando e problematizando o legado teórico das análises desenvolvidas por diferentes autores da literatura clássica.

Embasados em autores como Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.), Hugo de São Vítor (1096 - 1141), Tomás de Aquino (1224-5 - 1274), Erasmo de Rotterdam (1465 -1536), William Shakespeare (1564 – 1616) dentre outros, os professores da rede pública poderão refletir, criticamente, sobre sua prática docente no contexto da nossa contemporaneidade. Assim, ao problematizar as múltiplas questões que perpassam a relação professor/aluno, nosso projeto contribuirá para que os docentes percebam a escola como o lugar/ambiente insubstituível para a produção do conhecimento científico, com vistas à superação das impressões empíricas absorvidas no cotidiano, o conhecimento típico do senso comum.

O objetivo desta Unidade Didática é realizar com os professores do Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga – EFM/Maringá e demais interessados, um estudo sobre hábitos e costumes por meio da literatura clássica e, por conseguinte, refletir suas influências nas práticas pedagógicas.

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MATERIAL DIDÁTICO – UNIDADE DIDÁTICA

As estratégias que iremos adotar no processo de efetivação desta Unidade

Didática refere-se à leitura e à reflexão de textos da literatura clássica sobre hábitos e costumes, por meio de um curso de extensão, certificado pela Universidade Estadual de Maringá, com carga horária de 32h, distribuídas em 8 encontros de 4h cada, nos meses de março, abril e maio de 2014, ofertado aos professores da educação básica do Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga – EFM/Maringá e demais interessados.

Durante o curso, a tarefa dos participantes será a leitura e realização de atividades de compreensão e interpretação dos textos que tratem do tema em questão, debates sobre os conteúdos e a elaboração de um quadro comparativo dos hábitos e costumes presentes na literatura clássica e na contemporaneidade.

O curso aqui proposto converge com a necessidade de formação continuada dos docentes que atuam na educação básica, razão pela qual encontra-se vinculado à linha ‘História Social das Crianças’, abordando questões sobre a educação e adolescência no contexto das relações sociais contemporâneas. Assim, partimos do pressuposto que pensar a questão da criança e do adolescente, em consonância com os novos movimentos sociais, exige questionar o cotidiano escolar uma vez que é concebido como espaço/momento para o desenvolvimento das práticas de aprendizagem e ensino.

O curso proposto tem como premissa que, no contexto do tempo presente, a escola é desafiada a cumprir sua principal missão, com vistas a contribuir para que o professor ocupe o lugar de condutor do processo de aprendizagem e ensino. Daí a razão desta Unidade Didática que possibilitará a reflexão sobre os hábitos e costumes de professores e as implicações desses comportamentos no cotidiano escolar.

Quando no referimos à literatura clássica temos como referência autores, como Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.), Hugo de São Vítor (1096 - 1141), Tomás de Aquino (1224-5 - 1274), Erasmo de Rotterdam (1465 -1536), William Shakespeare (1564 – 1616) que, ao refletirem sobre aspectos sociais e históricos fundamentais para a compreensão do homem e da sociedade, foram capazes de transcender suas épocas, contribuindo para o entendimento de que cabe ao professor, dotar-se de conhecimentos, permitir-se a autocrítica de sua ação pedagógica cotidiana e recolocar-se continuadamente como agente essencial para o bom desenvolvimento do processo educativo, propiciando às crianças e aos adolescentes a adoção de práticas e condutas fundadas no conhecimento.

As atividades propostas nesta Unidade Didática, terão por base a leitura dos textos clássicos selecionados e o debate de ideias tendo como foco os hábitos e costumes do professor, construídos socialmente, no cotidiano escolar contemporâneo.

Os textos para leitura e estudo estarão distribuídos de acordo com o cronograma abaixo.

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CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

ETAPA 1º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO A abordagem dos clássicos sobre hábitos e costumes.

OBJETIVOS 1.Apresentar a organização do curso de formação. 2.Iniciar a leitura do primeiro texto clássico Ética a Nicômaco livro I e II, de Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.).

ATIVIDADES 1. Apresentação do curso de formação (carga horária, objetivos, calendário, justificativa, fundamentação teórica), dos autores, dos textos e da metodologia. 2. Contextualização e introdução do texto Ética a Nicômaco, livro I e II, de Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.).

ORGANIZAÇÃO

E EXECUÇÃO

Professora PDE.

ETAPA 2º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO Os clássicos sobre hábitos e costumes e o cotidiano escolar na

visão dos autores clássicos que discutem o tema.

OBJETIVO Identificar que hábitos e costumes são construídos nas relações sociais cotidianas.

ATIVIDADES 1. Debate sobre o texto: Ética a Nicômaco, livro I e II, abordagem dos conceitos de hábitos e costumes e sua relação com o cotidiano escolar. 2. Produção de texto sobre ética, hábitos e costumes do professor contemporâneo.

ORGANIZAÇÃO Professora PDE, coletivo e em grupo.

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ETAPA 3º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO Hábitos e ação docente em relação aos clássicos: Aristóteles

(384 a. C. - 322 a. C.), Tomás de Aquino (1224-5 - 1274), Erasmo

de Rotterdam (1465 -1536) e William Shakespeare (1564 –

1616).

OBJETIVO Relacionar os hábitos docentes cotidianos com os clássicos.

ATIVIDADES 1. Apresentação e debate referente às principais ideias do texto clássico da literatura Coriolano, de William Shakespeare. 2. Elaboração de um quadro comparativo entre os personagens do texto e os “personagens” da escola contemporânea.

ORGANIZAÇÃO Professora PDE, coletivo e individual.

ETAPA 4º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO As contradições da prática pedagógica cotidiana atuais em

relação aos clássicos.

OBJETIVO Perceber as contradições da prática cotidiana, relacionando com os clássicos.

ATIVIDADES 1. Filme: Coriolanus. Direção: Ralph Fiennes. Produção: Ralph Fiennes. Reino Unido. 2011, 1 DVD (107’). Color. 2. Complementação do quadro comparativo dos personagens.

ORGANIZAÇÃO Professor PDE, coletivo e individual.

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ETAPA 5º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO Ética e sua relação com o cotidiano escolar nos clássicos.

OBJETIVO Identificar ética na relação ensino e aprendizagem nos clássicos.

ATIVIDADES 1. Debate sobre o texto: Sobre o Ensino (De Magistro) e A Prudência a virtude da decisão certa, de Tomás de Aquino. 2. Reflexão sobre a escolha da profissão de professor e este como o mediador da relação aprendizagem/ensino. 3. Anotações sobre o debate.

ORGANIZAÇÃO Professora PDE e coletivo.

ETAPA 6º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO É possível a construção de novos valores éticos no cotidiano

escolar com a contribuição da literatura clássica?

OBJETIVO Refletir sobre as possibilidades da construção de novos valores éticos no cotidiano escolar, por meio da literatura clássica.

ATIVIDADES 1. Leitura do texto: A importância da leitura de escritos tomasianos para a formação docente, de Terezinha Oliveira. 2. Vídeo documentário: Pro dia Nascer Feliz. Direção: João Jardim. 2005. 88’. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfOvqmU> Acesso em: 12 nov. 2013. 3. Debate e redação a partir do texto e do documentário.

ORGANIZAÇÃO Professora PDE e coletivo.

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ETAPA 7º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO Os clássicos como referência para a reflexão sobre a

reelaboração de hábitos e costumes do docente.

OBJETIVO Identificar na literatura clássica elementos para reflexão sobre a

revisão de hábitos e costumes do docente.

ATIVIDADES 1. Leitura, apresentação e debate sobre o texto: A crise na educação, de Hannah Arendt. 2. Debate sobre o vídeo documentário: Criança a Alma do Negócio. Direção: Estela Renner. Documentário. 2009. 49'05". Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=49UXEog2fI8>Acesso em: 12 nov. 2013.

ORGANIZAÇÃO Professora PDE, em dupla e coletivo.

ETAPA 8º Encontro

DURAÇÃO 4h

CONTEÚDO É possível a construção de novos hábitos e costumes no

cotidiano escolar a partir dos clássicos?

OBJETIVO Refletir sobre as possibilidades da construção de novos hábitos e costumes dos educadores no cotidiano escolar com a contribuição dos clássicos.

ATIVIDADES 1. Leitura, apresentação e debate sobre o texto: A violência escolar e a crise da autoridade docente, de Júlio Groppa Aquino. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s010132621998000400002&script=sci_arttext> Acesso em: 12 nov. 2013. 2. Debate e redação a partir do tema do texto e dos vídeos: 2.1. A família no fogo cruzado da educação contemporânea. zPalestra com Júlio Groppa Aquino. 2010. 105’. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=0u48uOxCZyQ> Acesso em: 12 nov. 2013. 2.2. Filhos, melhor não tê-los. Palestra com Rosely Sayão. 2010. 43’. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=loP8sZGMLOY> Acesso em: 12 nov. 2013.

ORGANIZAÇÃO Professora PDE, em dupla e coletivo.

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ORIENTAÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

Esta Unidade Didática tem como finalidade realizar com os professores da

educação básica o estudo e leitura de um referencial teórico clássico que discorre sobre hábitos e costumes. Por meio da literatura “da arte de ler” (Hugo de São Vítor, 2001), por exemplo, é possível relacionar o conhecimento elaborado ao longo do processo de construção da História com a dinâmica social produzida na esfera do cotidiano.

Da mesma forma, autores clássicos, tais como Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C), Hugo de São Victor (1096 - 1141), Tomás de Aquino (1224-5 - 1274), Erasmo de Rotterdam (1465 -1536) e William Shakespeare (1564 – 1616) ao refletirem sobre os dilemas sociais de seus diferentes tempos, não se furtavam em indicar as razões e possíveis soluções para os respectivos problemas então analisados. Todavia, ainda que tenham se deparado com questões sociais relativas às diferentes temporalidades históricas, em comum, temos que esses autores abordaram temas fundamentais na construção de sociabilidades, quais sejam: ética, virtude e vício, temas que formam os ‘hábitos,’ historicamente, transmitidos por meio do ensino e da aprendizagem.

Visto assim, a educação ganha centralidade, pois se constitui como elemento fundamental para a construção de uma sociedade, definindo a formação do homem, aspecto essencial à civilidade propriamente dita.

Aristóteles em Ética a Nicômaco (1973, p. 267), afirma que: Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por via de regra, gera-se e cresce graças ao ensino – por isso requer experiência e tempo; enquanto a virtude é adquirida em resultado do hábito [...]. Por tudo isso, evidencia-se também que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; com efeito, nada do que existe naturalmente pode formar um hábito contrário a sua natureza. (ARISTÓTELES, 1973, p. 267).

Na passagem acima, o autor enfatiza a virtude intelectual e moral do homem

não como processo natural, mas como parte dos conhecimentos adquiridos ao longo do processo de aprendizagem e ensino. Da mesma forma, os hábitos tecidos no cotidiano podem ser incorporados, propiciando que as virtudes estejam em permanente aperfeiçoamento. Nesse caso, a formação do homem humanizado (portador da virtude) dependerá da informação/formação recebida e apreendida ao longo do seu processo de educação, considerando-se, evidentemente, as possibilidades e potencialidades de cada indivíduo, posto que a prática social revela-se indispensável à incorporação e ao aperfeiçoamento dos valores transmitidos.

Dessa maneira, faz-se necessário recuperar a valorização da razão/educação e dos seus fundamentos teleológicos enquanto elemento indispensável à reflexão das relações humanas, do processo que se inicia já no início da trajetória do indivíduo, elevando o hábito de educar à primeira condição entre as múltiplas ações necessárias à formação do homem.

Nesse sentido, Erasmo de Rotterdam em De Pueris (Dos Meninos), (2008, p. 30-31) afirma que:

Está fora de dúvida. A mãe natureza aparelhou, com mais recursos, ou animais desprovidos de fala para suas funções genuínas. Não admira,

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então, ter a divina Providência entregue ao único ser racional, dentre os viventes, a maior parcela de sua natureza à educação? [...] Com efeito, a fonte de toda a virtude consiste numa educação diligente e aprimorada. De igual modo, em relação à demência e à perversidade, o primeiro, o segundo e o terceiro passos resultam da educação descuidada e corrupta. E pensar que tudo depende, de modo preponderante, de nós mesmos! (ROTTERDAM, 2008, p. 30-31).

De acordo com Erasmo, a providência divina distribuiu recursos para seus

filhos. Para os animais, o suprimento natural de suas necessidades, aos homens o desenvolvimento de capacidade racional criadora, inclusive, de novas necessidades que extrapolam, transformando o mundo natural para a sua sobrevivência. É justamente por isso que aos homens, seres bípedes com dedo polegar opositor, dotados de linguagem e de razão, impõe-se a necessidade da educação.

Atualmente, a preocupação com a formação da criança e do adolescente ocupa, cada vez mais, espaço no debate sobre educação, pois, diante das condições históricas atuais, a escola firmou-se como o ambiente em que as crianças e adolescentes passam a maior parte de seu tempo, é o lugar onde reproduz/produz seu cotidiano. Por essa dupla razão, (permanência e reprodução do cotidiano) a escola passou a ser responsabilizada pela sua formação intelectual e de costumes, momento em que os ensinamentos dos saberes clássicos ou formais, historicamente construídos, são transmitidos. O homem é um ser que necessita de aprendizagem para viver em sociedade, porém, suas capacidades e potencialidades devem ser exploradas, como afirma Rotterdam em De Pueris (Dos Meninos), (2008, p. 37):

[...] Árvores crescem ao sabor da natureza improdutivas ou dando frutos silvestres. Cavalos nascem até mesmo sem utilidade, todavia, posso assegurar, os homens não nascem. Eles são o resultado de uma modelagem. [...] A razão faz o homem. [...] se a aparência fizesse homens, as estátuas seriam parte do gênero humano. (ROTTERDAM, 2008, p. 37).

Justamente porque enfatiza a necessidade do estudo que, em consonância

com a passagem acima, recuperamos Roterdam (2008, p. 53) quando afirma: “[...] chamo de aprendizagem o uso do hábito oriundo da natureza, mas aperfeiçoado pela razão. Sim, a natureza postula a razão. A aprendizagem, fora do controle racional, fica flanqueada a muitos erros e perigos.” Dessa forma, confirma-se que o hábito se aprende, logo é algo que deve ser ensinado e o ensinamento deve conter finalidades. Portanto, torna-se necessária a definição de estratégias e pensar o processo educativo sem perder de vista seu conteúdo teleológico1.

Os hábitos que adquirimos definem as condições de vivermos de forma virtuosa ou não. É novamente Aristóteles que nos ensina quando enceta que “[...] As excelências, então, não se geram em nós nem por natureza, nem contra a natureza, mas por sermos constituídos de tal modo que podemos, através de um processo de habituação2, acolhê-las e aperfeiçoá-las”. Aristóteles, (2009, p. 40).

No cotidiano são reveladas as contradições da vida, do ser humano, da

1 Consideramos o termo teleológico como uma finalidade. 2 Utilizamos a tradução do grego de António de Castro Caeiro, da obra Ética a Nicômaco. Consideramos que o significado de hábitos que utilizamos refere-se à concepção de Aristóteles, tal qual sua afirmação, “[...] as virtudes [...] adquirimo-las pelo exercício [...] as coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo [...]”. (Aristóteles, 1973: 267).

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mesma forma que é no cotidiano, por meio do exercício de hábitos de excelência, que podemos compreendê-lo e encontrar mecanismos para superar suas adversidades. O estudo de uma literatura humanista referente à filosofia à educação e à história da educação nos permitem compreender os hábitos e costumes historicamente construídos, expressando as relações temporais com o passado; porém, fundamentais quando se procura apreender o âmago da vida social e suas contradições.

Visto assim, temos que os professores da educação básica, particularidade dos professores do Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga, devem apreender os significados históricos e sociais sobre educação, as virtudes intelectuais e morais apresentadas e analisadas pelos clássicos, conhecimento imprescindível à compreensão dos hábitos e costumes do professor em nossa contemporaneidade, suas práticas e as contradições sociais, econômicas e culturais que interferem diretamente na produção do conhecimento.

Já afirmava Erasmo de Rotterdam em, De Pueris (Dos Meninos), que: “Seria de recordar que nada melhor do que a sabedoria aliada à instrução para se conquistarem riqueza, dignidade, poder e mesmo boa saúde, coisas essas tão suplicadas aos céus para os filhos”. Rotterdam (2008, p. 34).

A escola deve desejar, então, que seus alunos se reconheçam enquanto indivíduos pertencentes e atuantes em uma sociedade em processo de construção, pois “[...] não é o caso tu me dizeres que todas as virtudes são tênues nos seus princípios, e que com o passar do tempo adquirem dureza e robustez” Sêneca (2012, p. 35). Assim, à medida que o tempo passa as virtudes ensinadas na mais tenra idade e praticadas cotidianamente solidificam-se.

A escola é o ambiente do conhecimento científico, historicamente produzido pela humanidade, na qual se encontram indivíduos portadores das capacidades de aprender e ensinar. Mas, apesar da convivência ao longo de anos, muitas vezes pouco se aprende, quase nada se ensina, ou quando a aprendizagem acontece é de grande fragilidade.

Oliveira (2009, p.77) em A importância da leitura de escritos Tomasianos para a formação docente, salienta que:

[...] Tomás de Aquino pensava o Ser, ou seja, uma pessoa dotada de inteligência e, exatamente, por isso, capaz de aprender e conhecer. Do ponto de vista desse autor, para o mestre, os homens não nasciam sabendo. Ao contrário, deveria estar em um processo contínuo de aprendizagem. (OLIVEIRA, 2009, p. 77).

Por fim, sendo o ‘Ser’ uma pessoa dotada de inteligência e o ensino a forma

dotada dos instrumentos para o desenvolvimento da inteligência individual latente, torna-se imprescindível discutir o processo de aprendizagem praticado no ambiente escolar.

Contextualizar a educação à luz de nossa contemporaneidade, bem como, os novos desafios e possibilidades infindáveis de construção - a partir do desenvolvimento das virtudes - de um novo homem. Procurando contribuir para esse fim é que esta Unidade Didática visará refletir e agir em prol do desenvolvimento de ações educativas envolvendo professores e demais interessados.

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REFERÊNCIAS

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<http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/escudos.pdf > Acesso em: 24 jun. 2013.