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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O GÊNERO RECEITA COMO INSTRUMENTO PARA O TRABALHO COM A

LEITURA E A ESCRITA EM SALA DE AULA

Autora: Geni Maria de Matos1

Orientadora: Prof.ª Ma. Mônica Cristina Metz2

Resumo: Tendo em vista que os alunos do 6º ano do Colégio Estadual do Campo professora Vilma

dos Santos Dissenha apresentam dificuldades nas práticas de leitura e escrita, o objetivo geral deste

trabalho foi desenvolver habilidades de leitura e escrita por meio do trabalho com o gênero receita

culinária, e por ser um Colégio do Campo, nessas receitas foram usados produtos cultivados em suas

propriedades. Para tanto, especificamente, buscou-se refletir sobre a importância do trabalho com os

gêneros textuais a partir de sequência didática; discutir sobre as possibilidades do trabalho com o

gênero receita; elaborar uma sequência didática a partir do gênero receita; e confeccionar um caderno

com as receitas elaboradas pelos alunos. A prática da leitura e da produção de receitas possibilita uma

forma de instigar o interesse dos alunos, pois esse gênero faz parte do cotidiano e da realidade em que

estão inseridos, permitindo o desenvolvimento de diversas atividades, como a pesquisa de receitas

familiares com produtos cultivados em suas propriedades, atividades de leitura de diferentes textos

sobre a temática de alimentação saudável e do cultivo de alimentos orgânicos, atividades de produção

textual e análise linguística, entre outras.

Palavras-chave: Gênero receita; sequência didática; leitura; escrita.

1. Introdução

Ao trabalhar com alunos do 6º ano do Colégio Estadual do Campo Professora Vilma

Dissenha, verificou-se que eles possuem inúmeras dificuldades de leitura e escrita, sendo que

ao término do ano letivo, muitos deles ainda se encontram com as referidas dificuldades no

desenvolvimento dessas práticas.

Geralmente, isso ocorre porque nosso educando não tem contato com diferentes

gêneros textuais, por diversos motivos, como, por exemplo, a falta de hábito de leitura fora do

espaço escolar, o pouco contato com livros, o pouco uso do espaço da biblioteca dentro da

escola, o que dificulta, muitas vezes, o acesso a informações diversificadas e a compreensão

do significado da leitura realizada por ele.

Assim, surge a necessidade de se trabalhar com gêneros textuais próximos da

realidade dos alunos e que possibilitem o aprimoramento das habilidades de leitura e escrita.

Nesse sentido, as práticas de leitura e produção de receitas possibilitam uma forma de

instigar o interesse dos alunos, pois esse gênero faz parte do cotidiano e da realidade em que 1 Professora PDE, licenciada em Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela FAFI (1993).

2 Professora da UNICENTRO, mestra em Letras pela UEM (2012) e licenciada em Letras Português e

Literaturas de Língua Portuguesa pela UNICENTRO (2008).

estão inseridos, permitindo o desenvolvimento de diversas atividades, como a pesquisa de

receitas familiares, leitura de diferentes textos sobre a temática da alimentação saudável e do

cultivo de alimentos orgânicos, atividades de produção textual e análise linguística, entre

outras.

A escolha do gênero receita se fez pelo motivo do trabalho ser realizado num colégio

do campo, objetivando, dessa forma, a integração das práticas de leitura e escrita com as

especificidades dessa realidade escolar. Nesse sentido, o trabalho visa propiciar atividades que

permitam o desenvolvimento da leitura e da escrita e a formação de leitores mais

participativos e conscientes do espaço social no qual estão integrados. Dessa forma, objetiva-

se a elaboração de atividades que contemplem a leitura e a produção de receitas culinárias

produzidas com produtos cultivados no campo, fazendo, ainda, uma troca de receitas entre os

alunos.

Para tanto, objetiva-se elaborar atividades sobre o gênero receita a partir do modelo

de sequência didática apresentado por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), por constituir uma

forma de organização gradativa de diversas atividades sobre o gênero, o que propicia a

visualização do processo pelo qual o aluno deve passar durante o período de aprendizagem,

tendo em vista os objetivos que se pretende atingir.

Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa foi desenvolver habilidades de leitura e

escrita por meio do trabalho com o gênero receita culinária, para o qual, buscou-se

especificamente: refletir sobre a importância do trabalho com os gêneros textuais a partir de

sequências didáticas; discutir sobre as possibilidades do trabalho com o gênero receita;

elaborar uma sequência didática a partir do gênero receita; e confeccionar um caderno com as

receitas elaboradas pelos alunos.

2. Fundamentação teórica

Existem diversas discussões sobre como trabalhar com textos nas escolas e sabe-se

que isso não é uma tarefa fácil. Há, por grande parte dos alunos, dificuldades em relação à

leitura e à produção de textos, pois consideram o ato de ter que reproduzir o que pensam em

forma de texto um trabalho cansativo, difícil e penoso e por mais que se deparem com uma

diversidade de textos no seu cotidiano, muitas vezes não conseguem uma compreensão

significativa daquilo que leem e escrevem.

Nessa perspectiva, o trabalho com os gêneros textuais em sala possibilita o trabalho

com a língua nos seus mais diversos usos e pode despertar no aluno o interesse pela escrita e

pela leitura. Os gêneros são instrumentos de linguagem, que permitem a produção e a

compreensão dos textos, provocando novas possibilidades de conhecimento e de interação.

Bakhtin (2003, p. 262) define os gêneros como “tipos relativamente estáveis de

enunciados” (orais e escritos) a partir dos quais se efetua o emprego da língua. Quando

falamos ou escrevemos, cada situação específica, de acordo com as funções que pretendemos

cumprir, requer o uso de um gênero específico. Dessa forma, a riqueza e a diversidade de

gêneros do discurso são infinitas porque as possibilidades de atividades humanas com a

língua são inúmeras.

Assim, os gêneros são tipos de textos que circulam socialmente e cumprem

determinadas funções comunicativas. Por serem relativamente estáveis, cada gênero possui

características específicas mais fixas e outras que se moldam conforme a situação de

produção. Conforme Bakhtin (2003), cada gênero da comunicação humana é composto por

três elementos que se ligam no todo do enunciado: o conteúdo temático, o estilo e a

construção composicional.

Segundo Bakhtin (2003) os gêneros são divididos em primários e secundários. Os

gêneros primários são aqueles que ocorrem em situações cotidianas (ou livres), como a

conversa familiar e bilhetes, por exemplo, já os secundários são textos mais elaborados, que

exigem certo planejamento, como um resumo e a receita culinária.

De acordo com Schneuwly (2004, p. 23),

Os gêneros têm uma certa estabilidade: eles definem o que é dizível (e,

inversamente: o que deve ser dito define a escolha de um gênero); eles tem

uma composição: tipo de estruturação e acabamento e tipo de relação com os

outros participantes da troca verbal.

Nesse sentido, visto que a comunicação se realiza por meio de textos, é preciso dar ao

aluno a chance de produzir e compreender textos de forma adequada a cada situação de

interação comunicativa. Conforme Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 78),

a melhor alternativa para trabalhar o ensino de gêneros textuais é envolver os

alunos em situações concretas de uso da língua, de modo que consigam, de

forma criativa e consciente, escolher meios adequados aos fins que se deseja

alcançar. É necessário ter a consciência de que a escola é um “autêntico

lugar de comunicação” e as situações escolares “são ocasiões de produção e

recepção de texto”.

É importante que o leitor perceba as características próprias de cada gênero, para

facilitar sua compreensão, sabendo o que diz cada um deles, bem como sua composição e

estrutura. Nessa perspectiva, uma forma de trabalho com o gênero é a partir de um modelo

didático. O modelo didático tem a finalidade de ajudar os alunos a organizar e melhor

dominar um gênero textual, permitindo-lhes escrever ou falar em um dado momento de

comunicação, auxilia na escolha do objeto que será ensinado, de acordo com o grau de

dificuldade que possui nosso educando, não nos esquecendo da bagagem que o aluno traz do

seu cotidiano. De acordo com Gonçalves (2009, p. 227),

O modelo didático faz parte da engenharia didática e ocupa um lugar nodal

na sua estrutura já, que ele coloca em foco as dimensões ensináveis de um

determinado gênero, ou seja, é uma ferramenta pragmática. O modelo, como

entendemos, favorece a articulação entre os saberes referentes a uma prática

de linguagem (re) configurada em um gênero e a dimensão de sala de aula, já

que, como sabemos, o gênero ensinado em sala é sempre uma adaptação do

gênero de referência.

Assim, o gênero trabalhado em sala de aula se apresenta como um modelo para as

práticas realizadas na sociedade. Há momentos, por exemplo, em que não se faz necessária

tanta formalidade para escrevermos ou nos expressarmos, porém, diariamente nos deparamos

com situações em que se faz necessária a utilização de uma linguagem mais culta. Dessa

forma,

quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os

empregarmos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa

individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais

flexível e sutil a situação singular da comunicação (BAKHTIN, 2003, p.

285).

As pessoas que dominam as práticas de leitura e produção de diferentes gêneros têm

facilidade em participar de discussões científicas, sociais, entre outras. Para isso, não é

necessário somente estilo, segundo Bakhtin (2003) é necessário dominar o maior número

possível de gêneros que circulam socialmente. É necessário saber refletir sobre o seu

conteúdo, bem como, sobre as especificidades da sua construção composicional.

Explorar essa diversidade permite ao professor uma aproximação maior do aluno e

proporciona a produção de textos não escolares, bem como leva o aluno a compreender a

função dos gêneros textuais, a partir das suas peculiaridades, o que facilita a aprendizagem

sobre eles.

Sob essa perspectiva, propiciar aos alunos o contato com gêneros textuais que

envolvem a temática das receitas, da alimentação, da saúde, das notícias, do cotidiano, enfim,

é uma das propostas encontradas nas Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa

(DCE-LP) (Paraná, 2008, p. 20):

Brait (2000, p. 20) recorda que “não se pode falar de gênero sem pensar na

esfera de atividades em que eles se constituem e atuam, aí implicadas as

condições de produção, de circulação e recepção”. Há diferentes esferas de

comunicação, e cada um deles produz os gêneros necessários as suas

atividades, tendo-se, por exemplo: os gêneros na esfera jornalística (notícia,

reportagem, editorial, classificados...); da esfera televisiva (novela,

telejornal, entrevistas...), da esfera cotidiana (lista de supermercado, receitas,

recados...), da esfera digital (e-mail, bate-papo virtual, lista de discussão...),

e assim por diante.

Dominar diferentes gêneros textuais auxilia na comunicação dos indivíduos em todas

as esferas. Alguns dos gêneros interessam mais às escolas, outros às atividades sociais e

cotidianas, por estarem presentes no dia a dia dos nossos educandos. No entanto, a escola

deve trabalhar com gêneros de todas as esferas, podendo com isso despertar o interesse pela

leitura e escrita de textos das práticas sociais dos alunos.

A melhor alternativa para trabalhar o ensino de gêneros textuais é envolver

os alunos em situações concretas de uso da língua, de modo que consigam,

de forma criativa e consciente, escolher meios adequados aos fins que se

deseja alcançar. É necessário ter a consciência de que a escola é um

“autêntico lugar de comunicação” e as situações escolares “são ocasiões de

produção e recepção de textos” (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY,

2004, p. 78).

Assim, a receita culinária é o gênero escolhido para a elaboração da sequência

didática proposta por esse projeto. Ela se caracteriza como um gênero textual que se pauta

pela instrução.

A receita é um gênero textual que apresenta duas partes bem definidas – ingredientes

e modo de fazer -, que podem ou não vir indicadas por títulos. A primeira parte relaciona os

ingredientes, estipula as quantidades necessárias, indicadas em unidades de medidas, tais

como, gramas, xícaras, colheres, pitadas etc. Os verbos são empregados quase sempre no

modo imperativo (o modo verbal que expressa ordem, conselho etc.), pois serve para indicar,

passo a passo, a sequência dos procedimentos e da união dos ingredientes a ser feita para se

obter o melhor resultado da receita.

Nesse gênero textual a linguagem é direta, clara e objetiva, pois sua finalidade é levar

o leitor ou cozinheiro a obter sucesso no preparo do prato culinário.

O trabalho em sala de aula com esse gênero textual possibilita ao aluno dominar

mecanismos e recursos que facilitarão a forma de interpretar e representar a escrita,

compreendendo suas funções e também o desenvolvimento de estratégias que vão

proporcionar a fluência na leitura e aprimorar a capacidade de interpretar e selecionar textos

de acordo com suas necessidades e interesses.

Dessa forma, esse projeto buscou desenvolver um trabalho que propiciasse ao aluno

oriundo do campo vivenciar sua realidade na escola associando seu cotidiano com o conteúdo

científico escolar, pois segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (2006, p.

29) a escola é:

local de apropriação de conhecimentos científicos construídos

historicamente pela humanidade e local de produção de conhecimentos em

relações que se dão entre o mundo da ciência e o mundo da vida cotidiana.

Os povos do campo querem que a escola seja o local que possibilite a

ampliação dos conhecimentos; portanto, os aspectos da realidade podem ser

pontos de partida do processo pedagógico, mas nunca o ponto de chegada. O

desafio é lançado ao professor, a quem compete definir os conhecimentos

locais e aqueles historicamente acumulados que devem ser trabalhados nos

diferentes momentos pedagógicos.

A escola do campo deve atender as necessidades da formação dos povos do campo,

atendendo os níveis de conhecimento a ser ensinado. A palavra é um ato social que surgiu

com o homem, isso quer dizer que o homem não recebeu a língua pronta, ela depende do

contexto em que o indivíduo vive, pois a língua se modifica e varia de acordo com as

diferentes funções comunicativas com as quais é utilizada.

3. Resultados

3.1 A sequência didática

Apresentação da situação

A apresentação da situação visa apresentar para os alunos um projeto de comunicação,

delimitando as condições de produção para a elaboração do gênero a ser trabalhado, tendo em

vista as características do gênero e a temática a ser abordada. Essa apresentação visa à

primeira tentativa de realização do gênero, que será trabalhado nos módulos seguintes.

Produção Inicial

Na produção inicial os alunos tentarão produzir o gênero proposto na Apresentação.

Essa primeira produção regula as atividades que serão realizadas nos módulos, pois ela

apresentará as dificuldades e os problemas encontrados pelos alunos na elaboração do gênero.

Os Módulos

Os módulos trazem as atividades a serem realizadas com o objetivo de sanar os

problemas e dificuldades encontradas pelos alunos na produção inicial. Trata-se de propiciar

aos alunos atividades variadas e de diferentes níveis, buscando ampliar a competência

comunicativa do aluno a partir do gênero proposto.

Produção final

A produção final constitui a situação real, em toda sua riqueza e complexidade. Nesta

produção, devem ser colocados em prática os conhecimentos trabalhados nos módulos. Nesse

sentido, pode-se comparar a produção inicial com a produção final, para verificar se os

objetivos foram alcançados.

3.2 Aplicação da sequência didática

Quando foi colocado que iríamos trabalhar com o gênero Receitas Culinárias com

produtos cultivados no campo, surgiram muitas perguntas, tais como: Quais os produtos que

seriam usados? Qual o local da realização para fazer as receitas? Quantas aulas usariam para

concluir esse trabalho? (entre outras).

Após assistirmos à Reportagem do Globo Repórter: “Alimentação para uma vida

saudável”, todos os alunos fizeram questionamentos e sentiram-se valorizados por produzirem

em suas propriedades produtos sem agrotóxicos. Participaram com muitas perguntas, como: O

que devemos comer para ter uma vida saudável?

Foram realizadas leituras, em sala de aula, de receitas com produtos do campo. Um

queria ler a receita do outro, alguns copiaram as receitas para a mãe fazer, alguém comentou

que em casa eles tinham esses produtos e muitas vezes jogavam no lixo por não terem

conhecimentos das receitas. E assim ficaram todos entusiasmados com o trabalho.

O questionamento ao que é gênero apresentou algumas dificuldades, mas depois de

diversos exemplos simples eles entenderam. Depois de todas essas informações, solicitou-se

que eles produzissem uma receita culinária que tivesse como ingrediente algum produto

cultivado no campo, alguns tiveram dificuldades. Essa produção inicial foi comparada com a

produção final, para verificar se houve aprendizagem.

Num segundo momento, foi realizada uma visita à horta do Colégio. Os alunos que

conheciam os produtos cultivados na horta falavam o nome para seus colegas. Tiramos fotos

e rimos das nossas fotos.

Voltando à sala de aula foram realizadas algumas atividades como: fazer uma lista dos

produtos cultivados na horta e, então, colocá-los em ordem alfabética. Alguns alunos

precisaram de ajuda para resolver. Trabalhamos também algumas interpretações de texto

sobre alimentação saudável.

Num terceiro momento, na sala de informática, os alunos tiveram que procurar alguns

produtos cultivados na horta do colégio e pesquisar qual a importância desses alimentos para

a saúde. Alguns deles nunca tinham obtido contato com o computador e apresentaram

dificuldades para realizar a pesquisa, porém outros alunos ajudaram.

A professora levou para a sala de aula o texto “Os alimentos e suas funções” e

distribuiu para os alunos fazerem a leitura. Após a leitura, surgiram os questionamentos e a

mediação entre o texto e os alunos, fazendo com que eles dialogassem e interagissem com o

texto, compreendendo qual a função dos alimentos em nosso organismo.

Para atender aos interesses dos alunos por leitura foi levado para sala de aula o texto

“O que é alimentação orgânica?”.

A relação entre a escola, a leitura e a vida pode ser muito significativa se não

distanciarmos os elos dessa cadeia. A melhor coisa que fazemos para nossos alunos é criar

espaços na sala de aula para conversas, para manuseio e leitura de materiais escritos variados

e situações em que escrevam atendendo a múltipas propostas, para que possam se tornar

íntimos de diversos tipos de textos que, na sociedade letrada, cumprem funções específicas e

diferenciadas.

Explorando o gênero Receita

Conforme o Dicionário de Gêneros Textuais de Sergio Roberto Costa (2009, p.175),

na receita culinária, “predomina uma linguagem instrucional com uso de formas verbais

(imperativo, infinitivo) de valor imperativo ou impessoal. Em culinária, a receita estrutura-se

geralmente em duas partes: ingredientes e Modo de Preparo (Confecção), incluindo-se, muitas

vezes, a maneira de servir”.

O Modo de preparar apresenta as instruções para a realização da receita. Essa forma de

organizar a linguagem que apresenta instruções é chamada de sequência Injuntiva.

Conforme as autoras Koch e Elias (2009, p.69), as sequências injuntivas “apresentam

prescrições de comportamentos ou ações sequencialmente ordenadas, tendo como principais

marcas os verbos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente e articuladores adequados ao

encadeamento sequencial das ações prescritas”.

Os alunos fizeram pesquisas em diferentes veículos de comunicação (jornais, revistas,

livros, internet) em que este gênero esteja presente, eles ficaram admirados ao constatar a

diversidade de receitas e onde são encontradas, até então desconhecidas por eles. Também

foram realizados vários questionamentos sobre esses diferentes veículos que apresentam o

gênero.

Retomando as receitas da atividade anterior, a professora pediu que identificassem os

verbos utilizados. Os verbos no imperativo se referem a quem? E os verbos no infinitivo? Há

alguma diferença de sentido entre o uso do imperativo e do infinitivo? Fizemos uma discussão

sobre as questões dos verbos no imperativo e infinitivo, mostrando o seu funcionamento

dentro de uma receita, alguns tiveram facilidade para resolver as questões, outros

apresentaram dificuldades. Retomei novamente o conteúdo com questões diversificadas para

melhor entendimento dos verbos no texto.

A professora levou para sala de aula para leitura e interpretação o texto “Final feliz”

que se apresenta na estrutura de uma receita. Depois da leitura pela professora, surgiram

diversos questionamentos, através desse texto despertou a curiosidade dos alunos em

pesquisar outros tipos de textos que “brincassem” com a estrutura do gênero.

Depois de todas as discussões e atividades realizadas acerca da questão do gênero

receita culinária, bem como, questões da questão da alimentação saudável, chegou a hora de

retomarmos nossa produção inicial e colocarmos em prática o que estudamos nos módulos.

Chegamos então à produção final.

Após a auto avaliação, os alunos reescreveram as suas receitas tendo em vista todas as

questões estudadas. Todas as receitas foram organizadas para a confecção de um caderno de

receitas que foi exposto à comunidade escolar.

4. Conclusão

O projeto proporcionou aos alunos compreender as situações envolvidas no processo

de leitura e escrita de um texto, por meio de um gênero que aproximou o conhecimento

científico aprendido na escola do seu contexto social. Essa é uma condição indispensável

numa atuação responsável e comprometida.

Através do trabalho realizado, a comunicação e o conhecimento se tornaram motivos

de cooperação e organização de uma comunidade comprometida com o mundo da leitura e da

escrita, que agora vai procurar organizar registros de acompanhamento do processo de

construção do conhecimento.

Além disso, ampliaram-se e qualificaram-se as formas de acesso dos educandos aos

diferentes textos, estimulando-os a se assumirem como produtores de conhecimentos, capazes

de, oralmente ou por escrito, verbalizarem seu prazer de ler e/ou sua aprendizagem a partir do

lido. Proporcionou-se, portanto, que as práticas de leitura e escrita fossem valorizadas no

contexto social, colaborando assim para a formação de um leitor crítico para a própria

transformação, como também da escola e da comunidade.

5. Referências

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial,

2003.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para

o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ,

Joaquim (orgs.). Gêneros Orais e Escritos na Escola. Campinas: Mercado das Letras, 2004.

GONÇALVES, Adair Vieira. Ferramentas didáticas e ensino: da teoria à prática de sala de

aula. In: NASCIMENTO, Elvira Lopes (org.). Gêneros textuais: da didática das línguas aos

objetos de ensino. São Carlos: Editora Claraluz: 2009.

LOPES-ROSSI, Maria Aparecida Garcia. O desenvolvimento de habilidades de leitura e de

produção de textos a partir de gêneros discursivos. In: ______. (org.) Gêneros discursivos no

ensino de leitura e produção de textos. Taubaté – SP: Cabral Editora e Livraria

Universitária, 2002.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Língua Portuguesa. Curitiba:

SEED, 2008.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Curitiba: SEED, 2006.

SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e

ontogenéticas. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim (orgs.). Gêneros Orais e

Escritos na Escola. Campinas: Mercado das Letras, 2004.

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Campinas: Mercado das Letras, 2004.