os desafios da escola pÚblica paranaense na … · de palavras e na língua portuguesa e os...

17
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

Upload: lamnguyet

Post on 08-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

A RELAÇÃO DO ALFABETO MANUAL DE LIBRAS COM A

ESCRITA NA LÍNGUA PORTUGUESA PELO ESTUDANTE

SURDO

Wladia Felix Espírito Santo1

Valentim da Silva2 RESUMO O acesso ao alfabeto manual utilizado pelos surdos é considerado uma das

primeiras fases para desenvolver a aprendizagem em Língua Brasileira de

Sinais (Libras). Nesse sentido, buscou-se apresentar a importância do alfabeto

datilológico nos processos de construção da aprendizagem e a relação com a

escrita, e consequentemente com a leitura na língua portuguesa pelos surdos.

Nessa proposta, utilizou-se a temática dos Alimentos, voltada ao ensino de

ciências. Para desenvolver essas atividades foram utilizadas de procedimentos

metodológicos significativos ao cotidiano dos estudantes, que contemplassem

os saberes prévios e na construção vocabular. Ainda, utilizaram-se materiais

que possibilitasse a elaboração e abordagem de conceitos contextualizados.

Esses encaminhamentos foram aplicados no ensino em ciências para

estudantes surdos do 4º e 5º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual

para Surdos Alcindo Fanaya Jr.

Palavras-chave: Alfabeto Manual; Libras; Escrita na Língua Portuguesa pelo surdo.

1. INTRODUÇÃO

A utilização do alfabeto manual na Língua Brasileira de Sinais (Libras),

integrada à escrita na língua portuguesa poderá facilitar a compreensão no

estudo das diversas áreas do conhecimento. Especificamente na área de

ciências, com a temática dos alimentos, buscar-se-á, como ponto inicial, o

estudo em verificar a influência nos processos de aprendizagem através do uso

de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos

surdos. Acredita-se que possibilitará a utilização em diferentes contextos no

seu cotidiano. A utilização de imagem é técnica que se complementa alguns

dos processos, pois auxilia na promoção e nas diferentes relações e

compreensões.

1 Professora PDE: Especialista em Educação Especial-Gestão Pedagógica e Políticas para

uma Educação Inclusiva / Educação Especial: Educação Bilíngue para Surdos – Libras/Língua Portuguesa, graduada em Língua Portuguesa, professora da Rede Estadual de Ensino – SEED – PR - Colégio Estadual para Surdos Alcindo Fanay Jr. E-mail: [email protected] 2 Orientador PDE: Professor Doutor em Química pela Universidade Federal do Paraná – UFPR.

Docente do Curso de Licenciatura em Ciências do setor Litoral da UFPR. E-mail [email protected]

Page 3: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Dentro dos inúmeros desafios, nos atuais processos de ensino para

surdos, destaca-se principalmente a fragilidade dos materiais didáticos

disponibilizados para o uso nos processos de aprendizagem. Esses materiais

didáticos são disponibilizados sem adequações específicas para o público que

se destina, como destaca Lesnau (2012). Essa falta de especificidades fragiliza

os processos de aprendizagem, pois os mesmos não trazerem o alfabeto

manual. Essa situação, ainda propicia a descontextualização dos

conhecimentos construídos, pois induzem a interpretações equivocadas, já que

não há uma linguagem comum aos estudantes, inviabilizando os

encaminhamentos que auxiliam na alfabetização bilíngue.

Com isso, a intenção é verificar a importância da utilização do alfabeto

manual em Libras, e a influência desta nos processos de aprendizagem através

do uso de palavras e seus significados na Língua Portuguesa e no sinal pelo

estudante surdo.

As atividades propostas, utilizando o tema: alimentação está sendo

proposta como ponto de partida para outras atividades em diferentes áreas do

conhecimento. Para organização dessas atividades, referenciou-as com

propostas em língua portuguesa utilizando os livros didáticos de ciências

distribuídos às escolas pelo Programa Nacional do Livro Didático – PNLD

(BRASIL, 2014). No entanto, ressalta-se que as atividades utilizadas foram

desenvolvidas e adaptadas para o contexto da escola bilíngue, permitindo um

aprofundamento na construção do conhecimento.

Reconhecendo as possibilidades e os desafios, propõem-se realizar

algumas abordagens metodológicas, práticas e diálogos que busquem

promover aprendizagem significativa para os estudantes surdos do 4º e 5º ano

do Colégio Estadual para Surdos Alcindo Fanaya Júnior, na cidade de Curitiba

– PR. A referida instituição utiliza suas práticas pedagógicas na modalidade

bilíngue, sendo a Libras a primeira língua de instrução e o português, na

modalidade escrita, a segunda língua.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Alfabeto Manual

Segundo Ramos (2005) vem do século XVI, com o espanhol Pedro

Ponce de Léon (1520- 1584), monge da ordem dos Beneditinos e que viveu no

Page 4: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

monastério de Onã, em Burgos, a invenção do primeiro alfabeto manual

conhecido, publicado por Juan Martin Pablo Bonet em 1620 em um livro

intitulado Reduccion de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos.

O trabalho de Ponce de Léon está registrado nos livros da instituição

religiosa que relata o sucesso de uma metodologia que incluía datilologia,

escrita e fala que levou três estudantes surdos a falar grego, latim e italiano,

além de chegar a um alto nível de compreensão em física e astronomia.

O alfabeto manual é uma forma de “escrita” pelas mãos que

representam as letras do alfabeto do país de origem. Apresenta-se na figura 01

o alfabeto manual ou datilológico utilizado no Brasil, que é composto por 27

formatos, incluindo a letra “Ç”, que representam as letras do alfabeto da escrita

na língua portuguesa (Gesser, 2009).

Figura 01. Alfabeto manual da libras

Fonte: http://www.csjonline.web.br.com/alfabeto.htm (2015).

A representação de soletrar com as mãos do alfabeto, sendo a parte

mínima da língua oral escrita, permitindo que a junção possa formar palavras,

frases e textos, é uma das alternativas que se propõem para a comunicação

para os surdos.

Dentro deste contexto, fragilizam-se as abordagens pedagógicas no

ensino para surdos quando os atuais materiais didáticos são escritos somente

em português oral.

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

2.2. Língua Brasileira de Sinais – Libras

Segundo Ribeiro e Santo (2008), Libras é uma língua de modalidade

gestual-espaço-visual, tendo sua própria estrutura gramatical, que pode auxiliar

no desenvolvimento cognitivo do surdo, favorecendo seu acesso a informações

e registros conceituais pré-existentes.

A afirmação acima, ganha status com a aprovação da Lei nº 10.436, de

24 de abril de 2002, a qual reconhece que a Libras é o meio legal de

comunicação e expressão para os surdos, como aponta o parágrafo único que

diz:

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais (Libras) a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002).

Orienta-se que a identificação do surdo atenda o Decreto nº 5.626 de 22

de dezembro de 2005, que estabelece no:

Art 2º Para os fins deste Decreto considera-se pessoa surda àquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras (BRASIL, 2005).

O mesmo Decreto, ainda determina que o surdo tem o direito a

educação bilíngue, sendo que:

Art. 22. § 1o São denominadas escolas ou classes de educação

bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo (BRASIL, 2005).

Deste modo, há possibilidades da utilização do alfabeto manual

integrado a vários recursos, principalmente com o usa de imagens com a

finalidade de promover espaços de construção de conhecimento para os

surdos em todos os níveis da educação.

E para a escrita na Língua Portuguesa pelo surdo, Ribeiro & Santo

(2008) definem que a interlíngua é um sistema linguístico que transita no

sistema educacional dos estudantes surdos, entre a primeira língua aprendida

até a aquisição da segunda língua.

Assim, a primeira língua é a Libras e a segunda a língua portuguesa que

acontece em níveis de compreensão e utilização na ampliação de seu

vocabulário.

Page 6: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto de intervenção pedagógica do PDE foi implementado no

primeiro semestre de 2015 com nove estudantes do 4º e 5º ano do ensino

fundamental no Colégio Estadual para Surdos Alcindo Fanaya Jr. em Curitiba –

PR. Os estudantes participantes da pesquisa apresentam surdez bilateral,

ainda importa destacar que entre eles há estudantes com outros

comprometimentos de: fala e outras deficiência associada à surdez, um deles

necessita de acompanhamento constante para resolução das atividades.

A pesquisa fundamentada na metodologia da pesquisa-ação, a qual

define que é

um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, apud BARBOZA, 2010, sp).

Na pesquisa-ação o pesquisador tem papel ativo na resolução do

problema encontrado, no acompanhamento e na resolução das ações que

surgem.

Dentro desse contexto, propõe-se nessa prática metodológica que

possibilite a construção do conhecimento, através de atividades e estratégias

como: o trabalho com imagens, alfabeto manual e a Língua Portuguesa escrita.

Utilizou-se especialmente o computador na formação de textos visuais,

atividades com vocabulários e o dicionário trilíngue (CAPOVILLA, 2001)

buscando contribuir para a aprendizagem significativa do português escrito pelo

estudante surdo.

3.1. Encaminhamentos didáticos pedagógicos

Para Frison (2000), na concepção de educar pela pesquisa, a atuação

do aluno e do professor adquire novo significado e a ação pedagógica passa a

ser dinâmica e dialógica.

Na dificuldade de encontrar materiais referentes ao tema de interesse

para a pesquisa, fizeram-se adaptações de materiais com recursos visuais, a

fim de comprovar a necessidade e possibilidades de trabalho com o alfabeto

manual como recurso para o ensino da língua portuguesa escrita.

Page 7: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Para a utilização das atividades com os surdos e como objetivo do

projeto, fez-se uso do alfabeto manual. Esse tem a proposta de trabalhar a

Libras no contexto para além da explicação de atividades em Língua

Portuguesa escrita, pois considera com grande importância da utilização de

recursos visuais.

As sugestões de desenvolvimento das atividades foram encaminhadas

por roteiros experimentais com a temática dos alimentos, que se encontram na

Produção Didático-Pedagógica na Escola desenvolvida por Santo (2014).

3.2 Atividades com o Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

O GTR é uma atividade obrigatória relacionada â formação continuada do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), com a participação de professores

da Rede Estadual de Ensino do Paraná, realizada no ambiente virtual na plataforma

Moodle. Busca-se nesse processo socializar as atividades que serão propostas e

acrescentar reflexões que possam integrar ao tema da pesquisa proposta pelo

Projeto de Intervenção Pedagógica e ampliar o Material Didático para que

possa ser integrado aos diferentes públicos, níveis e áreas do conhecimento,

trazendo assim melhores contribuições nas produções dos professores e no

processo do PDE.

3.3. Processos avaliativos

Para os processos avaliativos foram fundamentados em

A nova avaliação em sala de aula deve considerar os aspectos de produção e argumentação própria, conduzindo o aluno a um constante desafio, atingindo níveis de produção cada vez mais elevados. Avaliar é acima de tudo constatar e investir esforços para que o aluno avance e realize sua aprendizagem (FRISON, 2000, p. 5-6).

Assim, as atividades propostas no material didático sobre os alimentos,

estão baseadas nos encaminhamentos como: formação de palavras

espontâneas, produção de um dicionário ilustrado, classificar os alimentos,

relacionar imagens/palavras, interpretação de frases em alfabeto manual para

português, jogo de memória imagem/alfabeto manual, alfabeto manual/língua

portuguesa, interação com os estudantes do 9º ano.

Seguindo orientações da LDB 9394/96 (BRASIL, 1996), a qual destaca

no Artigo 24 que:

Page 8: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

Compreendo a importância de uma avaliação contínua e cumulativa que

considere o desempenho do estudante independente de sua condição

sensorial, sem desconsiderar o decreto quando ressalta no Artigo 14 da LDB

9394/96 que no que diz respeito ao estudante surdo se faz necessário:

VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda a língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; (BRASIL, 2005).

Toda avaliação deve ser contínua e processual considerando todos os

momentos de aprendizagem dos estudantes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As atividades foram desenvolvidas no percurso de quatro meses entre

março e junho, totalizando oito encontros de quatro horas.

No primeiro encontro de intervenção, os estudantes com o kit de cartelas

com alfabeto manual em mãos começaram a separar em ordem alfabética (Fig.

02). Como estavam sentado um de frente para o outro, facilitava a troca de

informações para a sequencia correta, mas mesmo assim, quando tinham

dúvidas seguiam o painel alfabético que tem dentro da sala de aula.

Figura 02. Interação com as cartelas separando em ordem alfabética.

Page 9: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Após percebendo que tinham cartelas iguais começaram a separara em

grupos passando a juntar as vogais e consoantes. Mostraram interesse em

escrever algumas palavras espontaneamente, porém alguns estudantes

apresentaram dificuldade de montar, sendo que ele sinalizava o que queria e

então era passado digitalizado facilitando a construção das mesmas. Quando

persistia a dúvida a palavra era registrada no quadro pela professora.

Entende-se como fundamental que os estudantes compreendam o que

leem ou escrevem como destaca Romand (2003, p.15): “Escrever é produzir

um texto, é colocar em palavras seu pensamento. Escreve-se para ser lido por

outro ou para ser relido por si mesmo: a ligação escrita-leitura é fundamental”.

Convém que o professor, quando interage com o estudante surdo por

meio de procedimento que explore a escrita, faça uso do alfabeto manual, por

muito tempo desconsiderado no trabalho com surdos.

No segundo encontro foi passado imagens de alimentos diversos para

serem colados em uma folha com os nomes escritos em alfabeto manual, para

a construção do dicionário ilustrado (Fig. 03). Essas imagens era distribuída

aleatoriamente, o que dificultou para os estudantes individualmente identificar a

imagem à palavra, porém todos interagiram para solucionar em qual a imagem

pertencia. Foi uma grande oportunidade para um debate a respeito dos gostos

por cada alimento. Esse dicionário ilustrado poderia ser usado no decorrer dos

encontros nas próximas atividades.

Figura 03 – Dicionário Ilustrado.

Page 10: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Outra atividade proposta no mesmo encontro foi a construção de

palavras digitalizadas pela professora seguindo uma tabela de progressão de

letras, começando com duas passando para três até seis letras. A participação

foi geral onde eles digitalizavam novamente ou sinalizava para realizar a

montagem com as cartelas. Caso alguém trocasse as letras, eram ajudados

pelos demais.

No terceiro encontro, utilizou-se como apoio teórico Meneguete e

Quintero (1998), na tentativa de traduzir respeito às necessidades linguísticas e

cognitivas dos surdos, para repensar as formas e a realidade das adaptações

curriculares em sala de aula. Destacando que ainda que o alfabeto seja

apontado como um mero recurso paliativo, pode auxiliar na qualidade de

escrita e de apreensão de novas palavras, como referente para a produção

escrita.

A atividade proposta na figura 04 era registrar em português o nome do

alimento que está com as letras embaralhadas em alfabeto manual. No início

somente copiaram não percebendo que estavam fora da ordem. Questionados

passaram a pesquisar no dicionário ilustrado para a escrita correta. Já para

representar em desenho, sinalizavam o alimento tornando uma atividade lúdica

de aprendizagem, pois repetiam o nome agora de forma correta para o colega

fazer o sinal de qual alimento estava se referindo.

Figura 04. Auxilio do dicionário ilustrado para ordenar as palavras.

As atividades da figura 05 foram realizadas com a participação de todos

e na interação entre eles, sendo que na figura 05 A, foi para separar os

Page 11: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

alimentos nas colunas de doce, carne, fruta ou legume. Foi explicado antes o

significado de cada item com exemplos. Na realização da atividade os

estudantes fizeram sem dificuldade.

Nas figuras 05B e 05C era para fazer um circulo na figura

correspondente a escrita em alfabeto manual e na próxima ligar a imagem com

a escrita também em alfabeto manual eles digitalizavam o nome e já faziam a

relação com a imagem.

Figura 05. A) Separar por categoria (doce, carne, fruta, legume); B) Circular a imagem a escrita

em alfabeto manual C) Ligar a imagem ao nome em alfabeto manual.

No quarto encontro, a primeira atividade era para transcrever as frases

que estava em alfabeto manual para o português (Fig.06). Sendo desenvolvida

sem dificuldade, porém para interpretar o que dizia a frase, alguns estudantes

tiveram dificuldade realizando somente alguns sinais de palavras conhecida.

A B

C

Page 12: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Depois de passado a mediação com a professora e outros estudantes com

perguntas e diferentes recursos é que houve um retorno positivo.

Figura 06. Transcrever a frase em alfabeto manual para o português.

No caça-palavras (Fig. 07) eles tinham que escrever o nome do alimento

e procurar à palavra correspondente a imagem. Os estudantes recorreram ao

dicionário ilustrado para a verificação da escrita correta do alimento.

Figura 07. Caça-palavra em alfabeto manual e escrita em português das imagens.

No quinto encontro, desenvolveu-se com a participação de todos um

jogo de memória (Fig. 08) contendo fichas com a escrita do alfabeto manual e

Page 13: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

outras com a imagem. Em um outro momento a atividade foi realizada com as

fichas em alfabeto manual e escrita no português. Durante o processo os

estudantes apresentaram maior dificuldade na segunda etapa do jogo.

Necessitaram da intermediação da professora para o entendimento da escrita

que utilizou estratégias como escrita no quadro e pesquisa no dicionário

ilustrado. Ao término foi proposta a confecção de um jogo de memória que

cada estudante levou o seu para casa.

Figura 08. Interação com o jogo da memória.

No sexto encontro, utilizou-se como apoio teórico Bakhitin (1988), Lane

(1992), Sacks (1990), para justificar a necessidade de formar uma identidade

segura, por meio de interações dialógicas firmadas entre os pares.

Para atingir o objetivo, os estudantes realizaram atividades com apoio de

estudantes do 9º ano, os quais os auxiliaram na resolução das atividades

propostas de interpretação de escrita e leitura das perguntas feitas em alfabeto

manual, as quais foram respondidas em português e também por meio da

Libras (Fig. 09). Os estudantes participaram perguntando alguns sinais como

“Popeye, coroa”, palavras que continham nas perguntas que eles não

conheciam. Era explicado o significado com gestos ou dramatização.

Questionaram várias vezes para responder as perguntas feitas, buscando as

respostas. O trabalho foi de grande valia, pois permitiu alcançar o objetivo.

Page 14: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Figura 09. Referente à atividade em pares para resolução das perguntas em alfabeto manual.

No sétimo encontro os estudantes colocaram sua leitura e escrita em

prática, para registro no alfabeto manual e na língua portuguesa. Verificaram a

imagem para saber se correspondia com a escrita em português colocando

verdadeiro ou falso (Fig. 10A). A próxima atividade (Fig. 10B) tinha que

completar as frases com o nome do alimento que estava escrito em alfabeto

manual entre as três opções dadas. Os estudantes escreveram em português

as opções para verificarem qual seria a correta para a frase. Percebeu-se que

tiveram dificuldade em relacionar a palavra adequada no contexto da frase. Na

outra atividade (Fig. 10C) tinha que assinalar a opção correta escrita em

português relacionada a imagem. Os estudantes fizeram a busca no

vocabulário ilustrado, como auxílio para produção escrita e reconhecimento da

palavra (Fig. 10).

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

Figura 10. A) Colocar verdadeiro ou falso na imagem/escrita. B) completar a frase com a opção

correta escrita em alfabeto manual. C) assinalar imagem/escrita correta em português.

Para encerrar as atividades de intervenção pedagógica, no oitavo

encontro, trabalhou-se com jogos, mímicas e registro através da língua escrita.

Durante as atividades puderam fazer uso e ampliar o dicionário ilustrado com

novas palavras, favorecendo o processo de construção da linguagem.

Trabalharam em grupo e trocaram informações. Como a maior parte das

atividades foram desenvolvidas pela ludicidade, verificou-se que houve mais

segurança para a realização. Todos ajudavam uns aos outros com troca de

experiência digitalizando as palavras ou mesmo escrevendo e muitas vezes

demonstrando através da dramatização, o que tornava as atividades

prazerosas para todos.

A B

C

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destaca-se que o alfabeto manual, embora considerado apenas um

recurso paliativo de Libras, deve ser considerado como potencializado no

ensino da Libras para estudantes surdos, pois reflete a identidade e a cultura

surda, mais significativamente do que o próprio alfabeto na língua portuguesa,

servindo como referente para aquisição da língua portuguesa.

O projeto possibilitou melhor compreensão de conceitos, bem como

aprendizagem de palavras necessárias na vida cotidiana e acadêmica dos

estudantes surdos.

Bem mais que conhecer um sinal e esvaziá-lo de sentido na escrita, hoje

os estudantes buscam escrever no espaço qualitativamente os conceitos, as

palavras e buscar nelas significação. Como destaca Schubert (2015), os surdos

necessitam compreender os inúmeros, significados e sentidos existentes no

cotidiano escolar, para que não sejam esvaziados na sua aprendizagem, já que

a educação concorre para a emancipação humana.

A construção da aprendizagem se dá através do envolvimento e da

relação de parceria que se estabelece entre professor e aluno.

Compreendendo o aluno como pesquisador, o professor coloca-se como

organizador, facilitador e mediador entre o aprendiz e o objeto de

conhecimento. Desse modo o professor auxilia o aluno a descobrir e

redescobrir, intervém, organiza, facilita, desafia, questiona e instiga o aluno a

desvelar conflitos, a buscar a autonomia necessária a este processo de

construção.

6. REFERÊNCIAS

BAKHITIN. M. Marxismo e psicologia da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1988.

BARBOZA, L. M. V. Metodologia de Pesquisa Ação, Universidade Federal do Paraná, Setor da Educação, Curitiba: UFPR/CIPEAD, 2010. 51p.

BRASIL. L.ei que dispõe sobre a Língua brasileira de Sinais. Lei nº 10.436, 24/04/2002. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm. Acesso em: 18 de março de 2014.

BRASIL. Decreto que regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Decreto nº 5626,

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de palavras e na Língua Portuguesa e os significados com os sinais pelos surdos. Acredita ... e realize sua aprendizagem (FRISON,

22/12/2005. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 18 de março de 2014.

BRASIL, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf Acesso em 12 de junho de 2015.

CAPOVILLA, F. C; RAPHAEL, W. C. (2001). Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da língua de sinais brasileira. 2. ed. São Paulo: Edusp/ Imprensa Oficial,Fapesp, Fundação Vitae, FENEIS, Brasil Telecom, dois volumes.

FRISON, L. M. B. Pesquisa como Superação da Aula Copiada Faculdade Porto - Alegrense de Educação Ciências e Letras – FAPA III Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul Porto Alegre – 29 de novembro a 1º de dezembro de 2000. 3p. Disponível em: < http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2000/Aprendizagem_e_conhecimento/Mesa_Redonda_-_Trabalho/05_47_48_3M2402.pdf >. Acesso em: 06/09/2015.

GESSER, A. – Libras? Que língua é essa? : crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo, Parábola, 2009.

LANE, H. A máscara da Benevolência: A Comunidade Surda Amordaçada. Tradução Cristina Reis. Coleção: Horizontes Pedagógicos. Lisboa: Instituto Piaget-Divisão Editorial, 1992.

LESNAU, N. M. Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. Universidade Federal do Paraná – Ensino de Ciências do Solo para surdos, Curitiba, 2012.

MENEGUETE, D; QUINTERO, J.M.W. Manual de Ciências e Geografia. Curitiba. SEED/SUED/DEE, 1988.

RAMOS, C. R. História da Datilologia, 2005. 2 p. Disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo3.pdf Acesso em: 06/09/2015.

RIBEIRO, M. F. C. & SANTO, W. F. E. – Educação Inclusiva, Curitiba, IESDE Brasil S.A., 2008.

ROMAND, C. Alfabetização de Surdos – Técnicas e Estratégias. In: Congresso Surdez e Escolaridade: Desafios e Reflexões (2003, Rio de Janeiro), INES – Rio de janeiro. 2003.pp.13-24.

SACKS, O. Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

SANTO, W.F.E. Produção Didático-Pedagógica na Escola. Secretaria de

Educação do Paraná – A Relação do Alfabeto Manual de Libras com a escrita

da língua portuguesa pelo estudante surdo, Curitiba, 2014.

SCHUBERT, S.E.M. Entre a Surdez e a Língua: Outros Sujeitos...Novas Relações (Intérpretes e Surdos desvelando sentidos e significados). Curitiba. Editora Prismas. 2015.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 16 ed. São Paulo: Cortez,

20008.