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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O TEXTO PUBLICITÁRIO NO INCENTIVO AO GOSTO PELA LEITURA

Sonali Cristina de Camargo

Vladimir Moreira

RESUMO

A escola deve ser por excelência, um local onde se promova o gosto pela leitura.Nesse sentido, este artigo tem como finalidade apresentar os resultados obtidosapós uma intervenção pedagógica elaborada no Programa de DesenvolvimentoEducacional - PDE, nos anos de 2013 e 2014, realizados pela Secretaria deEstado de Educação do Paraná e teve como objetivo desenvolver o gosto denossos alunos pela leitura, utilizando, para isso, o anúncio publicitáriodivulgando o acervo bibliográfico da escola e os livros lidos no "Cantinho daLeitura". Durante a primeira etapa do programa - Projeto de Pesquisa, foielaborado o Projeto de Intervenção Pedagógica intitulado "O texto publicitáriono incentivo ao gosto pela leitura". A implementação do projeto foi realizadano Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de Londrina, aosalunos do Ensino Fundamental Coletivo, por meio de uma sequência didática,com carga horária de 32 horas/aulas, onde no primeiro momento os alunos seapropriaram dos conteúdos referentes ao gênero publicitário e posteriormenteelaboraram os anúncios publicitários dos livros lidos. Paralelamente àimplementação, o projeto foi socializado no Grupo de Trabalho em Rede - GTR edisseminados por outros professores da Rede Estadual de Ensino.

Palavras-chaves: Leitura. Gênero Textual. Gênero Publicitário.

INTRODUÇÃO

O presente artigo é o resultado de estudos realizados nos anos de 2013

e 2014 no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, promovido pela

Secretaria de Estado da Educação do Paraná em parceria com a Universidade

Estadual de Londrina e teve a finalidade de desenvolver, por meio de uma

sequência didática, o gosto pela leitura dos alunos da turma onde o projeto foi

implementado e de toda comunidade escolar, em especial dos alunos de outras

turmas, utilizando para isso, o anúncio publicitário divulgando o acervo

bibliográfico da escola e os livros lidos no "Cantinho da Leitura".

Após diversas observações realizadas em salas de aula, o que fica

evidenciado é o total desinteresse de nossos alunos pela leitura. E essa

situação é agravada, ainda mais, pela falta de divulgação de livros, tanto nas

mídias, quanto nas escolas.

Apesar de toda a comodidade que temos hoje em dia, graças ao avanço

das ferramentas tecnológicas, uma vez que o leitor pode ter acesso à leitura

sem sair de casa, o que observamos é o aluno cada vez mais distante dos

livros.

Em razão dessas observações, surgiu a proposta de fazer um projeto

que desse conta de minimizar essa situação. Optamos, então, em desenvolver

uma atividade que fosse prazerosa com os alunos do Ensino Fundamental

Coletivo, do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de

Londrina, com carga horária de 32 horas/aulas; onde, inicialmente, os alunos se

apropriariam dos conteúdos referentes ao gênero publicitário e posteriormente

elaborariam os anúncios publicitários dos livros lidos.

É de nosso conhecimento, de acordo com dados analisados, que o

trabalho com as tipologias textuais como a narração, dissertação e narração

não tem atingido os objetivos esperados. E essa dificuldade fica evidenciada

nos resultados das avaliações como SAEB (Sistema de Avaliação da Educação

Básica), o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e a Prova Brasil que nos

mostram o baixo desempenho de nossos alunos tanto na compreensão como

na produção de textos.

Ao chegar à escola, o aluno deve encontrar sua realidade refletida na

sala de aula, ou seja, a sala de aula deve ser a extensão de seu cotidiano. Ele

deve vivenciar na escola o que vive lá fora, da mesma forma que deve usar em

seu cotidiano, os conteúdos trabalhados em sala de aula. Dessa forma, a

aprendizagem torna-se significativa e funcional. Nesse sentido, vimos no

trabalho com os gêneros, uma alternativa capaz de cumprir essa função.

Entre os diversos gêneros, optamos por trabalhar com o gênero

publicitário, por ser um texto extremamente simples, prazeroso e que está

presente em nosso cotidiano por meio dos diversos veículos de comunicação.

Pretendemos, com esse estudo, desenvolver o gosto pela leitura, não

somente dos alunos da turma onde o projeto foi realizado, mas também de toda

comunidade escolar, em especial os alunos de outras turmas; e para isso, serão

utilizados os anúncios publicitários produzidos pelos alunos durante o projeto de

intervenção, divulgando o acervo bibliográfico da escola e os livros do "Cantinho

da Leitura".

Para a aplicação do projeto, foi escolhida a Sequência Didática, por ser

um conjunto de atividades organizadas de maneira sistemática e gradual e que

tem como ponto de partida o conhecimento prévio que os alunos têm acerca do

gênero.

A ideia foi instigar e aguçar a curiosidade de toda comunidade escolar,

levando à leitura dos livros divulgados por meio de anúncios publicitários

produzidos em sala de aula.

Além da sala de aula, o projeto foi socializado no Grupo de Trabalho em

Rede - GTR, e disseminado por outros professores da Rede Pública Estadual.

2 . PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 Leitura

Para Kleiman (2002), a leitura é um processo que envolve percepção,

processamento, memória, inferência e dedução. Ainda, segundo a autora, a

leitura implica uma atividade de procura pelo leitor no seu passado de

lembranças e conhecimentos.

A atividade de leitura não se restringe apenas à decodificação de códigos,

interpretação e compreensão do que se lê. A leitura precisa permitir que o leitor

apreenda o verdadeiro sentido do texto. No ato de ler, o indivíduo utiliza os seus

conhecimentos prévios as suas experiências, os seus conhecimentos de mundo,

a sua formação familiar, religiosa, enfim, as várias vozes que o constituem

(PARANÁ; p. 56).

Para Kleiman (2002, p. 13), a compreensão de um texto só se efetiva a

partir do momento em que o leitor ativa seu conhecimento prévio.

A compreensão de um texto é um processo que secaracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitorutiliza na leitura o que ele já sabe o conhecimentoadquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação dediversos níveis de conhecimento, como o conhecimentolingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que oleitor consegue construir o sentido do texto.

Conforme Kleiman (2002), a partir do momento que o cérebro percebe as

palavras, o leitor se ocupa em construir os significados; sendo assim, a ativação

do conhecimento prévio é essencial à compreensão, pois é o conhecimento que

o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências e as deduções

necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto.

Assim que o leitor assimila o novo conhecimento, esta nova informação

passa a fazer parte do conhecimento de mundo do leitor e será utilizada sempre

que houver necessidade para que haja novas compreensões.

Para as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008), no ato da

leitura, um texto leva a outro texto e orienta para uma política de singularizarão

do leitor que, convocado pelo texto, participa da elaboração dos significados,

confrontando-o com o próprio saber, com a sua experiência de vida.

Cabe ainda ressaltar, que leituras impostas pelos professores, sem

nenhuma finalidade, uma prática comum em salas de aula, não surtem os

resultados esperados; portanto, o professor, ao propor uma leitura, deve ter os

objetivos predefinidos.

Cabe notar que a leitura que não surge de umanecessidade para chegar a um propósito não épropriamente leitura; quando lemos porque outra pessoanos manda ler, como acontece frequentemente na escola,estamos apenas exercendo atividades mecânicas quepouco tem a ver com significado e sentido. (KLEIMAN,

2002, p. 35).

O simples fato de o aluno ter um objetivo maior, um leitor real para as

suas produções fez com que ele se dedicasse ao máximo ao trabalho que foi

exposto aos demais alunos da escola. Era evidente o entusiasmo dos alunos

quando observavam outras pessoas lendo e comentando os seus anúncios.

2.2 Escrita

Durante muito tempo, a leitura e a produção escrita ficaram restritas às

tipologias textuais como narração, dissertação e descrição, utilizadas apenas

como pretexto para ensinar a gramática.

O tradicional ensino de redação, baseado principalmenteem produção de narração, descrição e dissertação, vemsendo posto em discussão desde o início dos anos 80 porinúmeras pesquisas na área de Linguística e LinguísticaAplicada. (LOPES-ROSSI, 2002, p.19).

As produções escritas desenvolvidas em sala de aula têm se mostrado

ineficazes e descontextualizadas. Antunes (2003) salienta a importância de o

professor desenvolver uma prática escolar que considere o leitor, um texto que

tenha um destinatário e finalidades, para então se decidir sobre o que será

escrito, tendo em vista que “[...] a escrita na diversidade de seus usos, cumpre

funções comunicativas socialmente específicas e relevantes” (ANTUNES, 2003,

p.47).

Ainda, sobre a ineficácia dos métodos tradicionais, Lopes-Rossi (2002, p.

23) ressalta:

O fracasso total de um ensino baseado nessa tradiçãopode ser evitado – como mostram várias pesquisas – se o

professor souber criar situações de redação em sala deaula que envolva o aluno com algum objetivo ou leitorhipotético e ainda, se planejar atividades que organizem oprocesso de produção do texto com discussão e busca deinformações sobre o tema (geração de idéias),planejamento das idéias, planejamento e revisãocolaborativa do texto.

Para Lopes-Rossi (2002), escrever bem não é uma questão de pura

inspiração, é, sobretudo, um trabalho de planejamento e organização, como

demonstra pesquisas com escritores proficientes.

Concluimos que é necessária a mudança de concepção do ensino e

aprendizagem de produção escrita e as propostas encontram no conceito de

gênero discursivo de Bakhtin uma alternativa interessante, um instrumento para

o ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. (LOPES-ROSSI, 2002).

O aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de diferentes

gêneros, por meio das experiências sociais, tanto no singular quanto

coletivamente vividas. Segundo Marcuschi, os gêneros textuais:

[...] são os textos que encontramos em nossa vida diária eque apresentam padrões sociocomunicativoscaracterísticos definidos por composições funcionais,objetivos enunciativos e estilos concretamente realizadosna integração de forças históricas, sociais, institucionais etécnicas. [...] (MARCUSCHI, 2008, p.155).

No momento da implementação, percebemos que foi esse encontro diário

com o gênero publicitário trabalhado em sala de aula que facilitou a

aprendizagem e fixação dos conteúdos, pois o conteúdo trabalhado em sala de

aula era reforçado no dia a dia dos alunos por meio de outdoors, tv, jornais,

revistas. E o inverso também ocorreu, quando os alunos, por diversas vezes,

traziam de seu cotidiano as dúvidas ou curiosidades acerca do gênero. Nesse

sentido, o conteúdo não se encerrava na sala de aula, não havia limites

geográficos para a aprendizagem, tornando, com isso, a aprendizagem

significativa e funcional.

Logo após algumas aulas na implementação, os alunos reconheciam as

principais características do anúncio publicitário e já o reconhecia em seus dia a

dia.

O professor é o responsável pelo desenvolvimento de habilidades de

escrita de seus alunos e para isso deve criar condições para que os alunos

possam apropriar-se de características discursivas e linguísticas de diversos

gêneros, em situações de comunicação real. De acordo com Bakhtin (1992,

p.279):

[...] a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são

infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é

inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um

repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se

e ampliando-se à medida que a própria esfera se

desenvolve e fica mais complexa.

Segundo as DCE (2008), o aluno deve se envolver com os textos que

produz e assumir a autoria do que escreve, uma vez que ele é um sujeito que

tem o que dizer. Quando escreve fala de si, da sua leitura de mundo, das suas

crenças, sua religião.

Isso ficou evidenciado durante implementação, na elaboração dos

trabalhos produzidos pelos alunos participantes do projeto. Eles se envolveram

na produção dos anúncios publicitários, pois tinham conhecimento de que os

seus trabalhos seriam expostos para toda a comunidade escolar.

2.3 Gênero Textual Publicitário

Para MORAES (2002, p. 77), o texto publicitário é um dos textos mais

comuns e está presente em nosso dia a dia, nas mais diversas formas; e a sua

compreensão vai muito além da decodificação de sinais linguísticos:

O texto publicitário é, com certeza, um dos textos maiscomuns. Está presente por meio de inúmeros portadores,seja na mídia impressa (jornais, revistas, cartazes,prospectos, folhetos), seja na eletrônica (cinema, televisão,internet). A leitura de um texto publicitário, como dequalquer outro, não pode resumir à atividade de decifrar ossinais lingüísticos simplesmente, pois sabemos que leituranão pode ser apenas decodificação e que nenhum textopermite apenas uma leitura.

Propaganda, segundo Zenone e Buairide (2003, p.38), “É qualquer

anúncio ou comunicação persuasivos veiculadas nos meio de comunicação de

massa em tempo ou espaços pagos ou doados por um indivíduo, empresa ou

organização.”.

Para Sant’Anna (2002, p. 76):

a) a publicidade é um meio de tornar conhecido umproduto, um serviço ou uma firma; b) seu objetivo édespertar, na massa consumidora, o desejo pela coisaanunciada, ou criar prestígio ao anunciante; c) faz issoabertamente, sem encobrir o nome e intenções doanunciante; d) os anúncios são matérias pagas.

A função do texto publicitário é convencer o leitor a comprar um produto,

um serviço, uma ideia, seja ele em forma de cartazes, folhetos, outdoors,

banners ou anúncios de rádio, TV, jornal, revista, internet.

O texto publicitário deve capturar a atenção do cliente para mostrar os

pontos fortes do produto, os benefícios que o cliente poderá usufruir com a

aquisição do produto, sendo assim, de natureza persuasiva, deverá criar no

receptor a intenção de consumir ou absorver o produto.

Segundo MORAES (2002, p.78), atualmente, não existe uma divisão

exata do que seja propaganda e o que seja texto publicitário. A função dos dois

termos é tornar público, divulgar ideias, crenças, princípios, doutrinas, opiniões

com um propósito definido.

Os textos publicitários e propagandas podem ser de produto, de serviços,

de varejo, de promoções, ideológicos, político, eleitoral, governamental,

institucional ou social. Antes da criação de qualquer texto publicitário, o autor

deve ter em mente o público-alvo a quem se destina para poder adequar a

linguagem ao seu receptor, seja ele infantil, adolescente, adulto ou idoso.

O discurso do gênero publicitário caracteriza-se pela concisão da

linguagem. Por isso, toda campanha publicitária possui um argumento central,

que será usado como forma de transmissão do tema da campanha publicitária.

Para atingir seus objetivos, os textos publicitários exploram recursos de

linguagem como a metáfora visual e a intertextualidade.

A intertextualidade e a inferência foram recursos bastante explorados

durante a intervenção pedagógica e pode ser aplicada a outros gêneros

trabalhados em sala de aula.

A linguagem persuasiva é utilizada para convencer o público de alguma

coisa, por meio de palavras, de cores, de imagens e principalmente, levar o

consumidor a comprar mais e mais. A linguagem no texto publicitário é utilizada

de modo a criar a ilusão de que está sendo dirigida a cada pessoa

individualmente e se manifesta por meio de estímulos de ordem, de persuasão e

de sedução. A linguagem é apelativa, tocando as emoções, sentimentos e

fantasias do público.

Segundo Sant’Ana (1998), o tema da campanha publicitária pode ser

apresentado de maneira direta ou indireta: com texto racional, que fornece fatos,

informa, descreve o produto ou problema (no caso da propaganda social), usa

de argumentos básicos, positivos, sem rodeios; ou indireta: por meio de textos

emotivos, que despertam a curiosidades e salientam os efeitos do produto.

3. METODOLOGIA

3.1 Intervenção Pedagógica

Para o desenvolvimento desse trabalho, foi selecionada a proposta

denominada por Dolz, Noverraz e Schnewly (2004) de "Sequência Didática".

A sequência didática foi escolhida por ser um conjunto de atividades

organizadas de maneira sistemática e gradual que permite a apropriação de um

determinado gênero.

Nesse sentido, o trabalho com a sequência didática contribui para que os

conhecimentos em construção sejam consolidados e novos conhecimentos

sejam adquiridos progressivamente, pois os conteúdos estão organizados de

forma modular, a partir do conhecimento que o aluno já possui.

A sequência didática foi dividida em nove (9) módulos: 1) apresentação da

sequência didática; 2) avaliação diagnóstica; 3) apresentação do gênero

publicitário; 4) aprendendo sobre o gênero publicitário; 5) história da

propaganda; 6) estrutura do texto publicitário; 7) slogans; 8) recursos do gênero

publicitário; 9) produção final.

Durante a Formação Continuada, apresentamos o projeto à direção, à

equipe pedagógica e aos professores do CEEBJA. Para a apresentação, foi

utilizado o data show e apresentamos a justificativa, a problematização, os

objetivos, as estratégias de ação e os vídeos. A parte que mais chamou a

atenção da equipe docente foi à apresentação dos vídeos sobre o gênero

publicitário, pois ficaram muito entusiasmados recordando algumas propagandas

antigas, das quais nem se lembravam.

A apresentação do projeto aos alunos foi feita em outra sala e também foi

utilizado o data show, o que chamou muita a atenção dos alunos, pois muitos

não conheciam esse recurso didático. Foram apresentados alguns vídeos sobre

o gênero publicitário. Assim como na Formação Continuada, o vídeo que mais

chamou a atenção foi o que apresentava diversas propagandas antigas.

É muito importante que no início de qualquer trabalho, o professor

verifique o que o aluno já domina sobre o assunto a ser estudado, ou seja, os

conhecimentos prévios que o aluno tem. É por meio da verificação desses

conhecimentos que o professor irá definir sua linha de trabalho, o caminho a ser

percorrido, as estratégias e as intervenções necessárias.

A avaliação diagnóstica mostrou que os alunos estavam muito

familiarizados com o gênero publicitário, por se tratar de um gênero bastante

presente em suas vidas por meio da tv, rádio, revista, outdoors, etc.

Para a apresentação do gênero publicitário, foram selecionados alguns

vídeos como “O Poder das Palavras”, “Consumismo – Gênero Textual

Propaganda”, “Eu etiqueta” e "Texto Publicitário", para que fossem assistidos,

analisados, interpretados e debatidos. Os alunos puderam observar a

criatividade, o jogo de palavras, a linguagem verbal e não verbal e o poder de

persuasão do gênero.

Durante o desenvolvimento dessa ação, foram necessárias algumas

modificações, pois foi escolhida uma seleção extensa de vídeos, o que ficou

meio cansativo. Sendo assim, a melhor alternativa foi intercalar a análise dos

vídeos durante o desenvolvimento dos outros módulos, o que melhorou muito a

qualidade das aulas.

Embora os alunos já estejam familiarizados com o gênero publicitário, é

necessário sistematizar os conhecimentos sobre o gênero. Para isso, nesse

módulo, os alunos começaram a aprender alguns recursos utilizados no gênero

publicitário como o uso de verbos no imperativo, a intertextualidade, textos

informativos, o vocativo, as figuras de linguagem, onomatopeias, ambiguidade,

variedades linguísticas, recursos sonoros, ironias, imagens, estrangeirismos e

variação gráfica das letras. As aulas foram muito dinâmicas, pois após a

apropriação dos conteúdos, os alunos escolheram alguns anúncios para análise

e apresentação aos demais alunos da sala. À medida que os alunos iam se

apropriando dos conteúdos trabalhados, iam reconhecendo os conteúdos

discutidos em sala de aula nas propagandas apresentadas na tv pendrive,

jornais e revistas.

Sem dúvida, conhecer a história de um gênero é imprescindível em

qualquer trabalho. No entanto, a História da Propaganda não foi escolhida para

o momento oportuno da sequência didática. Durante o desenvolvimento do

projeto, os alunos estavam muito motivados na análise e nos recursos utilizados

nos anúncios e não foi viável interromper a ação. Sendo assim, o estudo da

História da Propaganda ficou para o final do projeto, depois que os alunos

exploraram os anúncios publicitários e estavam menos ansiosos.

Dando continuidade aos conteúdos do gênero publicitário, os alunos

tiveram a oportunidade de aprender sobre a estrutura do anúncio publicitário. Os

alunos puderam aplicar a estrutura nos anúncios publicitários e apresentar a

análise aos demais alunos da sala.

No trabalho com o gênero publicitário, os slogans não poderiam ficar de

fora, pois estão presentes na maioria das propagandas. As aulas foram muito

divertidas, pois os alunos conheciam a maioria deles e virou quase que uma

competição adivinhar os slogans dos anúncios. Além disso, alguns alunos

puderam rever slogans antigos.

À medida que os alunos iam se apropriando dos conteúdos do gênero

publicitário, já eram capazes de utilizá-los nas atividades em sala de aula.

Quando se inicia o estudo de um gênero, abre-se um leque de oportunidades a

serem trabalhadas; um assunto leva a outro.

Avaliar os resultados obtidos após o término de um trabalho é condição

fundamental para que o professor verifique se os objetivos pretendidos foram

alcançados. E isso só é possível quando o aluno põe em prática os

conhecimentos adquiridos durante o desenvolvimento da sequência didática. E

ao término da sequência didática observamos que os objetivos foram atingidos,

uma vez que os alunos foram capazes de produzir os anúncios dos livros lidos,

utilizando os conteúdos trabalhados em sala de aula. Além da elaboração dos

anúncios, também foram capazes de voltar um olhar mais profundo sobre o

gênero trabalhado, foram capazes de analisá-los, identificar as suas

intencionalidades, o seu poder de persuasão, os recursos verbais e não verbais.

Outro ponto muito importante foi a descoberta de que os anúncios poderiam ser

utilizados não somente para a divulgação dos livros e na disciplina da Língua

Portuguesa, mas também para outros conteúdos e disciplinas e até mesmo para

eventos realizados no âmbito escolar.

Simultaneamente à implementação do projeto na escola, aconteceu o

Grupo de Trabalho em Rede - GTR/2014. O Grupo de Trabalho em Rede - GTR,

é uma atividade prevista do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE,

onde o professor integrante do PDE socializa o Projeto de Intervenção

Pedagógica com os demais professores da Rede Pública Estadual por meio de

interação virtual. É um espaço onde os professores estudam, discutem, fazem

sugestões e repassam as suas experiências.

Para o GTR/2014 - "O texto publicitário no incentivo ao gosto pela leitura",

foram realizadas dezessete inscrições. Dos dezessete participantes, quatorze

concluíram o Grupo de Trabalho em Rede.

O trabalho só toma consistência a partir do momento que o expomos às

outras pessoas e essas pessoas passam a acreditar nele também, e isso pôde

ser verificado durante a socialização do projeto onde foram repassados as

experiências e os resultados parciais obtidos durante a implementação do

Projeto de Intervenção Pedagógica. Foram várias postagens nos fóruns e diários

elogiando e incentivando o PIP (Projeto de Intervenção Pedagógica) e várias

sugestões de atividades, demonstrando, com isso, o comprometimento de

nossos professores em buscar sempre uma educação de qualidade para os

nossos alunos.

A seguir, selecionamos alguns depoimentos dos professores participantes

do GTR:

Sonali, o seu material didático é excelente. Aplicá-lo emnossas aulas é altamente pertinente. As etapas postadaspor você ilustram muito bem; contribuíram muito para aminha prática pedagógica. Parabéns! (professor A)

Parabéns, Sonali! Muito bom seu Projeto. Os alunos ficambastante interessados por ser algo de fácil acesso epresente no seu cotidiano. O mais importante é saber queconseguem fazer essa nova leitura: do que não estáexplícito nas leituras que fazem. Boa ideia e bem criativa.(professor B)

Sonali, seu trabalho é realmente muito bom, acredito que oentusiasmo tenha crescido com a mudança do público, poisjá trabalhei com a EJA e sei que, apesar das limitações,eles têm sede de aprendizado. Você está enfrentando

desafios com a diversidade, mas esse é o nosso cotidianona escola. A implementação desse trabalho tende a trazerbons frutos, inclusive já estou utilizando algumasatividades. Parabéns pela escolha. (professor C)

Achei a temática e a proposta extremamente interessantes.Gostei de todas as atividades, em especial a análise dealguns comerciais de tv. Gosto muito de trabalhar compropaganda, principalmente pra explorar aintertextualidade, a linguagem denotativa e conotativa.Esse material com certeza será utilizado em minhas aulas.E interessante também a encenação de comerciais de TV,análise dos Quadrões de Maurício de Souza e tem umtexto bem legal chamado "O estranho comportamento deDona Dolores" em que uma mulher tinha a linguagem dapropaganda como parte do seu cotidiano. Acredito que aaplicação do projeto será um sucesso. (professor D)

Certamente eu usarei o material didático da colega Sonali,além dele estar bastante claro, bem elaborado e comatividades bastante interessantes, o tema proposto éaltamente sedutor. É muito prazeroso o trabalho feito comas propagandas de maneira geral. Em especial o vídeo e opoema "Eu etiqueta", independentemente do conteúdoproposto para o ano letivo, sempre encontro uma forma deinseri-lo no contexto de minhas aulas. Além de ser umbelíssimo poema, também demonstra muito bem o "apelo"das propagandas. Gosto da análise feita com base nasimagens, quando fica muito claro que muito do que vemosé produto fabricado para nos iludir. (professor E)

Olá professora Sonali, seu projeto está realmenteencantador e certamente eu aplicaria nas turmas nas quaisleciono. Acredito também que não haveria dificuldade emsua aplicação, visto que as atividades são de fácilcompreensão e as mais difíceis podem contar sempre coma ajuda do professor incentivando o questionamento, aargumentação. Todas as atividades se mostraminteressantes para o trabalho em sala de aula,especialmente a relação intertextual que a propagandatraz, o que aproxima a realidade do aluno com aconstrução do conhecimento. Acredito que hoje, com o usodas tecnologias educacionais, especialmente o vídeo e ainternet, é possível encontrar uma variedade imensa demateriais a serem trabalhados, do mais, é só usar acriatividade, levar revistas para a sala de aula, jornais,rótulos, vídeos, músicas, e claro, os livros... (professor F)

Olá, abordar a leitura com o público jovem é realmentemuito difícil, pois vivemos em uma sociedade mais visualdo que verbal. Porém, o texto publicitário proporciona aoaluno o texto visual e verbal e isso faz com que ele seaproxima mais da leitura. Em se tratando do PIP, o tema émuito interessante, está muito bem articulado aapresentação, as metodologias que serão utilizadas, bemcomo, os objetivos propostos pela tutora Sonali. Ajustificativa do tema também vem de encontro àsnecessidades e dificuldades que nós, professoresencontramos no cotidiano escolar. Acrescentando que, otexto publicitario é um texto que apresenta multimodos detrabalhar em sala de aula e dessa forma pode melhorar aapreensão dos conhecimentos pelos alunos. (professor G)

Além da grande manifestação de incentivo, alguns professores sugeriram

ideias e novas estratégias para serem utilizadas em nossa prática docente e

também contribuíram para o enriquecimento do Projeto.

Já comentei em outro fórum que trabalho com acuriosidade dos alunos: quem sabe aguçar seu público tãodiversificado com o inverso? Você fazer a propaganda deum livro para que eles queiram conhecer o clímax edesfecho? Você seria um modelo para eles! Escolha umlivro interessante e deixe as propagandas pela escola. Emsala, comente com eles, em um tom chamativo, e peçapara que eles tragam os comentários de o que acharam dofinal da história, buscando na biblioteca! É uma dica!(professor A)

Olá Sonali, seu projeto está bem estruturado, a maneiracomo você está conduzindo a implementação é fantástica.O incentivo a leitura e a produção de texto estãocontribuindo muito para o ensino-aprendizagem. Vocêpoderá sugerir aos alunos um anúncio publicitário para acomunidade escolar doar livros para a biblioteca da escola.(professor B)

As opiniões dos colegas professores foram muito importantes, poisserviram de estímulos durante à implementação do Projeto de IntervençãoPedagógica. Foram momentos de intensa troca de experiências e por meiodessas trocas, verificou-se a possibilidade do PIP ser aplicado em outros

contextos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Formar leitores competentes, capazes de interpretar o mundo em que

vivem, é um grande desafio. Desafio ainda maior depois dos avanços

tecnológicos, que afastaram, ainda mais, os nossos alunos dos livros.

O presente estudo abordou dois objetivos distintos, mas que ao final se

completaram. No primeiro momento, os alunos se apropriaram dos conteúdos

inerentes ao gênero publicitário. Logo após, os alunos utilizaram os conteúdos

adquiridos para a divulgação do acervo bibliográfico da escola, procurando

dessa forma, desenvolver o gosto pela leitura dos alunos participantes do projeto

e de toda comunidade escolar.

Vimos nessa técnica simples, uma estratégia para levar os livros até os

alunos, uma vez que, se o aluno não gosta de ler, a biblioteca é o último lugar

que ele irá procurar e para os alunos que gostam de ler é muito importante que

ele veja os livros indicados por seus colegas de turma e sintam o desejo de ler.

O trabalho com o gênero publicitário foi muito prazeroso, em razão de ser

um texto simples, criativo e presente nos mais diversos veículos de

comunicação. Durante o desenvolvimento do projeto, foram contempladas

atividades relacionadas à oralidade, leitura, escrita e análise linguística.

A implementação desenvolvida por meio da sequência didática, proposta

por Dolz, Noverraz e Schneuwly, mostrou-se eficaz, pois apresentou os

conteúdos de forma sistemática e organizada em módulos de forma gradual, o

que permitiu que os alunos consolidassem os conteúdos já adquiridos e

adquirissem novos conhecimentos, partindo sempre do conhecimento prévio do

aluno.

Procurar novas estratégias e novos recursos audiovisuais deve ser a

busca constante do educador. Os recursos audiovisuais utilizados na

implementação do projeto enriqueceram as aulas e prenderam a atenção do

aluno, e quando o aluno está motivado à aprendizagem acontece de forma

natural. O simples fato de usar a tv pendrive no desenvolvimento do projeto

trouxe um enriquecimento incomensurável às aulas.

Muito mais importante que o sucesso de uma sequência didática, o

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE proporcionou a nós,

educadores, um novo olhar sobre a nossa prática docente. Nenhum professor se

sente feliz ao ter a sua prática questionada. Faltavam-nos os caminhos

norteadores para uma prática eficaz. E esses caminhos nos foram repassados

durante o Programa.

Outro ponto muito importante está relacionado à autoestima dos

professores. Muitos professores nunca haviam produzido um artigo científico e o

PDE trouxe essa possibilidade e, com ela, a sensação de "ser capaz", refletindo

positivamente em nossa prática docente.

Mesmo após o término da implementação do projeto, os alunos

continuaram elaborando os anúncios dos livros lidos, pois temos consciência de

que o desenvolvimento do gosto pela leitura deve ser uma prática permanente. A

divulgação de livros se tornou uma prática constante em nossas aulas.

Muitos alunos aumentaram o número de livros lidos, outros, apesar de

continuarem não gostando de ler, tem consciência da importância da leitura e

ouvem o tempo todo comentários sobre os livros lidos em sala de aula, pois

acreditamos que a escola deva ser, por excelência, um lugar onde se transpire

leitura.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, I. Aula de Português: Encontro & interação. São Paulo: Parábola,2003.

BAKTHIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal.São Paulo: Martins Fontes,1992.

BRASIL. Ministério da Educação - Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996.Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF, 1997.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares

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