os desafios da escola pÚblica paranaense na … · análise de dados. a utilização da poesia de...
TRANSCRIPT
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
HELENA KOLODY: o haicai como apoio pedagógico no processo de leitura
Lucélia Maria Souza de Oliveira1
Marly Catarina Soares2
Resumo: Atualmente muito se discute sobre as dificuldades de leitura em sala de aula tendo como base teórica a serem seguidas as Diretrizes Orientadoras Estaduais de Língua Portuguesa, dando ênfase à leitura. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, com pesquisa de campo e análise de dados. A utilização da poesia de Helena Kolody como apoio pedagógico para despertar o gosto pela leitura-prazer e a melhoria no processo de leitura, é o objetivo deste artigo. Partindo deste problema, este artigo descreve os resultados de uma investigação-intervenção com os estudantes dos 7ºs anos do Colégio Estadual Dr. Marcelino Nogueira – Ensino Fundamental e Médio do município de Telêmaco Borba, que foram levados a participar das seções, direcionando-os à pesquisa e investigação do conteúdo sobre haicais. Nestas seções os estudantes foram orientados a realizar pesquisas, construir conceitos, fazer analogias, escrever haicais e refletir sobre a importância da leitura e do estudo realizado. O haicai serviu de instrumento de apoio para a produção dos alunos, levando-os a procura de pistas formais do gênero. Conclui-se desta forma que houve o desenvolvimento de um maior interesse ao hábito de leitura e de sua importância, valorizando o processo de construção do leitor literário através das poesias; contribuindo assim para o aperfeiçoamento da compreensão do gênero poético para o avanço em leitura dos demais gêneros.
Palavras-chave: poesia – leitura – haicai.
1. IntroduçãoA busca de alternativas para compreender e facilitar o processo de ensino-
aprendizagem, em especial a leitura, tem sido uma constante preocupação dos
professores e pesquisadores da área da educação, visto que a leitura é uma
atividade essencial na vida do homem de nosso século.
A escola tem sido apontada, principalmente no Ensino Fundamental, como a
“vilã” do afastamento do aluno, da literatura, e o resultado vem aparecendo
diagnosticado desde a década de 90, quando houve iniciativas para exames
nacionais de avaliação (IDEB, SAEB, PISA) sobre o desempenho dos alunos.
As deficiências constatadas na rede pública de ensino e os dados críticos que
foram levantados sobre o desempenho em leitura nos anos finais do ensino
fundamental fizeram com que questionássemos as práticas de leitura utilizadas até o
momento.
Em todas as conceituações de leitura, passando das mais tradicionais até as
mais recentes, três elementos sempre são destacados: o autor, o texto e o leitor.
1 Lucélia Maria Souza de Oliveira - Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail: [email protected]
2 Marly Catarina Soares – Professora Doutora e Orientadora PDE da Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG. E-mail: [email protected]
Houve épocas em que não se podia falar de leitura sem relacioná-la ao autor. Em
outras, o texto foi o foco das atenções. Hoje, estamos na era do leitor. Os estudos
apontam o leitor como o principal elemento a ser abordado na explicitação do ato de
ler. Para ilustrar o destaque dado para o leitor basta percorrer alguns ensaios sobre
a leitura e encontramos: “...o leitor (que assume o modo da compreensão) porta-se
diante do texto, transformando-o e transformando-se” (SILVA,1981, p.44).
Sabendo-se que a aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem
das letras, pensou-se numa abordagem da prática da leitura em que o educando
compreendesse o texto lido e que melhorasse sua capacidade de interpretação, e
seu desempenho escolar. Ao repensar o papel da leitura no ensino-aprendizagem, a
proposta foi a de usar exemplos de poemas curtos, como o haicai, da poetisa
paranaense Helena Kolody, os quais foram levados para a sala de aula como
recurso (apoio pedagógico) para despertar nos alunos o prazer e o gosto pela
leitura, além de favorecer-lhes o pensamento e a reflexão sobre as diversas
realidades sociais.
Os poemas desta autora abordam diversos temas sociais, utilizados em
diferentes campos de conhecimento e funcionaram como método para enriquecer o
vocabulário e ampliar os significados, levando conceitos de um campo de
conhecimento para outro e vice-versa. Foi justamente esse enriquecimento que
serviu como estratégia de persuasão e incentivo à leitura.
Neste sentido, este artigo descreve a aplicação de uma metodologia
diferenciada, ou seja, o uso do haicai como metodologia alternativa de ensino. Aulas
expositivas reelaboradas em formato de seções, incluindo o haicai como recurso
auxiliar. A diversificação ocorreu com o uso de filme, biblioteca da escola, visita a
biblioteca pública, laboratório de informática, pátio da escola entre outros, onde os
estudantes foram levados a participar das seções criadas e desenvolvidas pela
professora PDE, direcionando-os à pesquisa e investigação do conteúdo sobre
haicais. Nestas seções os estudantes foram orientados a realizar pesquisas,
construir conceitos, fazer analogias, escrever haicais e refletir sobre a importância
da leitura e do estudo realizado. O haicai serviu de instrumento de apoio para a co-
produção dos alunos. Objetivou-se desta forma, despertar no educando um maior
interesse no desenvolvimento do hábito da leitura e de sua importância, valorizando
o processo de construção do leitor-literário através das poesias; contribuindo assim
para o aperfeiçoamento da compreensão do gênero poético para o avanço em
leitura dos demais gêneros.
O presente artigo descreve os pontos positivos de se trabalhar com o haicai
como apoio pedagógico para despertar o interesse à leitura literária. Em seguida
aborda a metodologia aplicada com os alunos, e finalmente as conclusões
realizadas na implementação com os estudantes, e os resultados discutidos no
GTR, relativos ao desenvolvimento deste trabalho, análises do rendimento dos
alunos participantes do projeto.
Para isso, os procedimentos metodológicos empregados na pesquisa
abrangeram um levantamento bibliográfico acerca da leitura, literatura, e texto
literário - haicai e observação de seções realizadas para aplicação do Projeto de
Intervenção Pedagógica – Unidade Didática no Colégio Estadual Dr. Marcelino
Nogueira, em Telêmaco Borba – PR, que ocorreram no 1º semestre de 2014 e
resultado da aplicação de questionário diagnóstico aos alunos dos 7º anos do Ensino
Fundamental, como pesquisa de campo e análise de dados obtidos.
2. Leitura , Literatura e texto literário – haicaiEntende-se por leitura o ato que dá materialidade (voz) ao texto.
Na escola abordamos a leitura como um recurso pedagógico objetivando a
aprendizagem e o hábito da leitura, silenciosamente ou em voz alta e interpretações
superficiais do texto lido.
Definir o que é literatura tem sido a preocupação de muitos estudiosos, ao
longo da história do pensamento humano. Nessas definições é possível perceber
que a obra literária está vinculada diretamente a língua, linguagem e cultura.
Na antiguidade para Platão, a arte literária consistia na imitação (mimese) da
realidade. Ele ainda fala o seguinte:Sem dúvida outorgaremos a todos aqueles que, sendo amigos dos poetas sem praticarem a poesia, constituem-se patronos dos mesmos, o direito de pronunciar em prosa um discurso em favor da poesia ... o discurso, nós o ouviremos com benevolência, pois será incontestavelmente um bem para nós mostrar que a poesia é, não somente agradável, mas ainda útil! (PLATÃO, X, 607 d.).
Outros grandes pensadores apresentaram as seguintes visões de Literatura:
para Aristóteles, “literatura é a arte que cria, pela palavra, uma imitação da
realidade” (APUD CASTRO, 1995, p. 57-58) e para São Tomás de Aquino, “arte
literária é uma forma de conhecimento da realidade” (APUD CASTRO, 1995, p. 57-
58).
Até o século XVIII, a palavra literatura era usada com o sentido de gramática;
a partir do século XVIII, a literatura passou a ser considerada arte.
Segundo Fidelino de Figueiredo, “arte literária é, verdadeiramente, a ficção, a
criação de uma supra-realidade, com os dados mais profundos, singulares da
intuição do artista” (APUD CASTRO, 1995, p. 57-58).
Procura-se, hoje, caracterizar o discurso literário por seu caráter específico,
ou seja, pela sua linguagem de múltiplas significações (conotativa) e sua
originalidade. No texto literário, as regras tradicionais da gramática são muitas vezes
quebradas ou transformadas, em função da mensagem que se deseja transmitir. O
artista cria o texto de forma a que ele se abra a várias interpretações e sentidos. O
uso poético e emotivo da palavra vai além de sua significação básica e permite ao
leitor descobrir novos caminhos para entender a mensagem. Aí reside toda a beleza
e toda a força da literatura: em sua capacidade de instigar o leitor e desafiá-lo, como
em um jogo. Em suma: “A literatura é a arte da palavra” e “a expressão mais
completa do homem”. (DOMÍCIO APUD CASTRO, 1995, p. 58).
Ao analisar uma obra literária, é preciso levar em conta dois aspectos: seu
conteúdo (as ideias, os conceitos, a significação das palavras, etc.) e sua forma (os
sons das palavras, seu ritmo, sua rima, sua disposição gráfica no papel, etc.). Estes
dois aspectos formam o todo de que se compõe um texto literário. Um texto literário
apresenta-se em duas formas: em prosa e em verso.
Um texto em prosa está disposto em parágrafos; cada um deles formado por
frases, orações, períodos.
Já no texto seguinte, de Helena Kolody, pertencente à literatura paranaense,
as linhas não ocupam todo o espaço da página. Cada linha é um verso e o
agrupamento de versos forma a estrofe. Observe:
AdvertênciaÉ meio-dia em minha vida.Um mensageiro inesperadoVem prevenir que apresse a lida,Como se fosse anoitecer.Vento da noite, ainda é cedo!... e nem lavrei a terra agreste. (KOLODY, 1951, p. 49)
Ela também escreveu haicais, poesia minimalista e inovadora estruturada em
três versos:
DomDeus dá a todos uma estrela.Uns fazem da estrela um sol.Outros nem conseguem vê-la. (KOLODY, 1986, p.41)
Muitos poemas foram reduzidos, qualquer um pode notar isso, a três versos.
“Ao mesmo tempo, parece que a poesia vem mais enxuta, mais essencial”
(VENTURELLI, 1995, p. 23). Surge então o haicai kolodyano, que vem ganhando
cada vez mais adeptos. Em entrevista pessoal concedida por um deles, o autor
paranaense Silva (2014), ele define que:Escrever é considerado uma arte ou um dom, o que para mim é um passatempo prazeroso, porque a inspiração vem sem pedir licença. Ela chega, despeja seu teor no papel e pronto. Algumas se apresentam em formato de poema, geralmente sonetos, porém existem àquelas em que tudo se define em uma, duas ou no máximo três linhas onde forma-se um haicai, facilmente identificado por sua forma poética que valoriza a concisão e a objetividade. Um haicai deve buscar a simplicidade das palavras indexadas à intenção do sentimento. É como um suspiro onde o som quase não se ouve mas torna-se um alarde quando percebemos sua magia. Esta forma de texto deve ser saboreada calmamente, porque quem a contempla é a alma e não os olhos. Por exemplo: “Refletir você é trazer à mente a silhueta de outrora. Caminhei contigo resumindo um abraço em um beijo”. Neste haicai busca-se a imagem perdida em uma lembrança onde o calor de um beijo abraçou uma alma em um momento sublime. Assim que gosto de descrever um haicai. (SILVA4, 2014, entrevista pessoal on line)
Analisando a contribuição do autor e a produção poética da autora, percebe-
se que sua poesia evoluiu consideravelmente desde a publicação de Paisagem
Interior (1941) a Reika (1993) em relação a síntese reflexiva, concisão e lirismo
espontâneo contidos numa linguagem que busca o essencial.
3. Metodologia, Resultados e DiscussãoA metodologia da pesquisa foi bibliográfica, com pesquisa de campo e análise
de dados. Para a composição deste artigo, realizou-se o levantamento bibliográfico a
respeito do tema, objetivando-se analisar tanto a teoria que vem informando os
educadores, bem como a leitura e sua aprendizagem são percebidas por alunos,
professores e pedagogos do Ensino Fundamental – Séries Iniciais do Colégio
Estadual Dr. Marcelino Nogueira da Rede Estadual de Ensino no Município de
Telêmaco Borba. Em seguida foi aplicado um questionário com perguntas aos
professores do Ensino Fundamental vespertino do Colégio Estadual Dr. Marcelino
Nogueira, em Telêmaco Borba. A coleta de informações junto a esse grupo deu-se
4 SILVA, Djalma Custódio da. Conceituação de haicai. Rio de Janeiro, 24 jun. 2014. Entrevista on line concedida ao Programa PDE 2013.
por meio de entrevistas, e com os alunos foi aplicado também um questionário
diagnóstico. O colégio tem cerca de 600 alunos, do Ensino Fundamental, (6º ao 9º
ano), e Ensino Médio.
O grupo estudado constituiu-se de sete professores que exercem atividades
docentes nas séries iniciais de 1° Grau, de dois coordenadores pedagógicos, de um
diretor e de sessenta alunos.
Após a referida pesquisa quantitativa para coleta de dados, foi realizada a
tabulação e análise dos dados coletados.
Nosso intuito foi analisar de que maneira a abordagem dominante na
literatura educacional, referente à leitura e sua aprendizagem se relaciona com o
processo de leitura no colégio. Por isso, não houve necessidade do profissional
identificar-se ao responder o questionário.
Para explicitar a abordagem dominante na literatura educacional, referente à
leitura e sua aprendizagem, fez-se uma seleção dos autores cujas propostas têm
sido mais frequentemente veiculadas nos meios educacionais telemacoborbense, as
quais constituíram foco de análise, bem como das Diretrizes Orientadoras Estaduais
de Língua Portuguesa, dando ênfase à leitura.
Após essa etapa foi possível, com base nos dados obtidos, diagnosticar como
a leitura vem sendo planejada na prática pedagógica, para dessa maneira
realizarmos uma discussão e pensarmos como lançar mão de seções para tornar a
leitura mais dinâmica e prazerosa no processo de ensino.
Partimos então para a análise da aplicação da Unidade Didática, o GTR
(Grupo de Trabalho em Rede) com professores de diversos municípios do Estado do
Paraná que participaram da pesquisa e demais interessados que atuam no Colégio
Estadual Dr. Marcelino Nogueira.
Inicialmente, para buscar resultados, se houve ou não benefícios quanto ao
uso da poesia de Helena Kolody como apoio pedagógico ao processo de leitura, a
pesquisa foi realizada com professores que atuam no Colégio Estadual Dr. Marcelino
Nogueira – Ensino Fundamental e Médio, e professores participantes do PDE os
quais serão identificados com a letra “P” e também numerados de 1 a 8, e alunos
que compõem as duas turmas participantes.
Após levantamento junto aos docentes da escola sobre o uso da poesia de
Helena Kolody como apoio pedagógico ao processo de leitura que traz o tema, a
mesma, tornou-se um desafio positivo levando-se em consideração os dados
apontados nos gráficos de notas do 1º e 2º bimestres do PAD (Programa de
Aceleração do Desenvolvimento) da escola, em relação à apropriação dos
conhecimentos necessários para o desenvolvimento da leitura e compreensão de
vários gêneros textuais pelos alunos, que foi vencido com sucesso, conforme relato
abaixo dos professores entrevistados (doravante serão nominados com as siglas P1,
P2,P3,P4,P5,P6,P7 e P8), obtidos através da realização da pesquisa de campo
desenvolvida com a aplicação de um questionário, contendo três questões básicas:
Questão 1 – Quando a leitura deve ser incentivada?P1: A leitura deve ser incentivada desde a alfabetização e durante todo o período escolar dos estudantes. Ensinar não somente a decodificação do sistema de escrita, mas propiciar aos aprendizes o desenvolvimento da capacidade de ler com compreensão, fazer inferências, associar os elementos.
P2: Os estudantes devem ser motivados a ler por prazer e não a ler por obrigação. Todo leitor tem direito de não terminar de ler um livro se a história não lhe agrada. O papel do professor com mediador da leitura é motivar os alunos a descobrirem qual o tipo de leitura que lhe dá prazer.
Analisando as respostas coletadas pode-se refletir sobre o processo de
apropriação da leitura, o qual é realizado durante todo o período escolar dos
discentes, tempo este necessário para que ele venha desenvolver sua capacidade
de leitor.
Questão 2 – É pertinente trabalhar com haicais com alunos de 7º ano?P3: Sabedores de que é função primordial da escola é ensinar a ler e a desenvolver relações entre leitura e leitor, o professor precisa ter preparo teórico e metodológico para que a leitura aconteça da forma mais natural. Também é função do professor propor ou criar atividades inovadoras para que a leitura aconteça dentro dos principais elementos: o autor, o texto e o leitor. Acredito sim ser pertinente trabalhar haicais com alunos do 7º ano, porque os textos poéticos são amplos e capaz de permitir que o sonho e a imaginação sejam liberados. Segundo o poeta José Paulo Paes, no seu livro - Poesia para Crianças - p.1, "um mundo sem poesias é o mais triste dos mundos.
Conforme relato acima, a ideia de se trabalhar com o haicai é inovadora e
pertinente para a idade/ano a qual foi proposta, desde que o professor tenha os
subsídios necessários para desenvolver as relações entre leitura e leitor.
Questão 3 – A estratégia de trabalhar com o haicai como introdução da leitura literária é viável?
P4: Certamente existem muitas estratégias que o professor pode empregar para tentar conscientizar seu aluno para a necessidade da leitura literária. A ideia de utilizar poemas curtos é muito interessante nessa faixa etária, pois a maioria dos alunos apresenta certa dificuldade em compreender textos poéticos longos, não consegue perceber os sentidos figurados que os textos
trazem e, assim, com um trabalho bem sistematizado , partindo dos haicais, é possível colocar o aluno em contato com a poesia de modo mais prazeroso, já que é assim que deve ser a literatura.P5: Precisamos procurar despertar nos educandos o gosto pela leitura, utilizando todos os meios possíveis que estão ao nosso alcance. Um desses meios é a poesia, pois ela encanta e desperta a sensibilidade do leitor, fala o que ele está sentindo. A leitura tem a capacidade de fazer quem está lendo viajar pela imaginação, interagir com o mundo e com o texto, podendo ser textos de ficção literária (narrativas curtas e longas: o conto e a crônica, a novela e o romance); gênero poético (os poemas), livros informativos (textos periódicos, publicitários), obras de ficção científica, etc. Na visão sócio-interacionista, o homem constitui-se através de sua interação com o meio em que está inserido e se o aluno está inserido na escola, é o melhor lugar para ele fazer essa socialização, ou seja trocas significativas e interações dialéticas. Para que isso ocorra é preciso um ambiente favorável e que a leitura seja prazerosa, pois um bom leitor é capaz de perceber os sentidos do texto e os recursos que o autor utilizou para transmitir o que queria dizer, nisso nossa poetisa se faz compreender bem.
A estratégia de se trabalhar com o haicai como apoio pedagógico e como
introdução à leitura literária, segundo a pesquisa realizada, é viável porque são
textos curtos, que falam da vida cotidiana e sentimentos, o que aproxima a poesia
da realidade dos alunos e desperta os seus sentimentos, sua imaginação, levando-
os a interagir com o texto, com a natureza que o cerca e a compartilhar suas
percepções e experiências.
Os benefícios da utilização das poesias de Helena Kolody como apoio
pedagógico no processo de leitura no Colégio Estadual Dr. Marcelino Nogueira
(resultados) ficou evidenciado através das falas dos professores participantes do
GTR postadas nos fóruns. Destaca-se uma delas onde uma participante relata a
viabilidade de utilização com os alunos da Educação Infantil e Educação Especial
com as devidas adaptações.
P6: Acho muito pertinente o trabalho com haicai, não só no ensino fundamental do 6º ao 9ºano, como também nas séries iniciais de 1º ao 5º ano. Principalmente no período de alfabetização, como os poemas são pequenos e falam da vida cotidiana, está mais perto da realidade dos estudantes.
Esses resultados refletem a preocupação e a consciência que os docentes
têm sobre a importância da formação do leitor-literário desde a sua base
educacional (Educação Infantil), permeando os que possuem necessidades
especiais (alunos da Educação Especial) até os ditos normais que necessitam de
novas alternativas metodológicas de ensino.
3.1 Aplicação do Projeto
A implementação pedagógica teve como objetivo desenvolver as seções
criadas para a melhoria do processo de leitura no contexto educacional das escolas
sobre o tema proposto neste Projeto: o gênero poesia, com ênfase no haicai. O tema
surgiu ao verificar o desinteresse e as dificuldades de leitura dos estudantes dos 7ºs
anos do Colégio Estadual Dr. Marcelino Nogueira – Ensino Fundamental e Médio.
Buscou-se então uma estratégia que motivasse o interesse pela leitura.
A implementação pedagógica teve início com a aplicação de um questionário
investigativo aos alunos com a finalidade de diagnosticar quais os gêneros textuais
mais lidos e sua frequência.
Nos gráficos abaixo estão demonstrados o grau de preferência de cada
gênero literário (muito, médio, pouco ou nada), ficando evidenciado que apreciam
muito o gênero poético conforme o gráfico de análise dos dados coletados nos
sétimos anos, turmas A e B:
Turma “A” Turma “B”
Fonte: Elaborada pela autora
Quanto à leitura fora de sala de aula do gênero poético também fica evidente
que há bastante interesse, conforme gráficos abaixo :
Turma “A” Turma “B”
Fonte: Elaborada pela autora
1) Romance2)Conto3) Crônica4) Poema5) Teatro
1) Romance2) Conto3) Crônica4) Poema5) Teatro
1) Bastante2) Pouco3) Nenhum4) Outra si-tuação
1) Bastante2) Pouco3) Nenhum4) Outra si-tuação
A primeira etapa da implementação deu-se com a apresentação do projeto e
uma sondagem do conhecimento prévio do gênero poético haicai. Passou-se na
sequência para a apresentação da poetisa paranaense Helena Kolody: vida e obras
da autora. Após este procedimento, os alunos foram divididos em grupos,
encaminhados a biblioteca da escola para realizarem as “BiblioAtividades” que
consistiam em pesquisar o acervo de livros da poetisa Helena Kolody, selecioná-los
e anotar o título das obras para posterior uso em sala de aula. Foi solicitado que
verificassem, através de uma enquete, o que seus colegas e sua família conheciam
sobre a poetisa paranaense Helena Kolody, trouxessem as informações para a
próxima seção, onde foi feito uma apresentação dos resultados à turma. Foi
entrevistado on line um poeta que estuda as poesias de Helena Kolody e foi
assistido ao vídeo Helena Kolody – 100 anos, que se encontra disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=386iG6vNoUc . Em seguida foi feito um
levantamento oral de dúvidas e das ideias principais do vídeo para fixação de
informações , as quais foram retomadas na próxima seção sobre a origem do haicai.
Nesta etapa, denominada “InfoAtividades” os alunos foram divididos em cinco
grupos para pesquisar e selecionar uma poesia de cada livro da autora, por décadas
(a partir de 1945), até chegar a produção dos haicais, no laboratório de informática.
Ainda em grupo, elaboraram cartazes ilustrados conforme os temas com
dobraduras/origami e montaram um “Varal Poético” para socializar as poesias
pesquisadas à escola como um todo. Na seção seguinte foram apresentadas as
diferenças entre haicai e dístico e passaram a “VisitAtividade”. Ou seja, uma visita
a Biblioteca Municipal para verificar quantas obras de Helena Kolody existiam e
quais são as obras mais conhecidas. Durante a visita ficaram atentos as
informações passadas pelo bibliotecário e anotaram-nas para posterior debate em
sala de aula e elaboraram um relatório da visita.Na quinta seção estudaram as
características do gênero poesia – haicai, conseguindo já conceituá-lo.Passou-se
então a “ProduAtividades”; onde os alunos foram conduzidos ao pátio para
observar a natureza e instigá-los a desenhar o que viam ao redor. Foram
incentivados a criar um haicai, com base nas regras estudadas na seção e solicitado
que o ilustrassem. Um vaso grande com galhos de bambu foi ornamentado com
tirinhas de folhas de sulfite coloridas, onde foram escritos os haicais produzidos
pelos alunos e expostos à comunidade escolar. O trabalho teve sua finalização com
a seção intitulada “VideoAtividades” – Pipoca e filme. Assistiram ao filme: A
Poesia de Lee Chang-dong (um dos destaques da 34.ª Mostra Internacional de
Cinema de SP); e através da dinâmica Cine Fórum, foram divididos em cinco
equipes, onde cada uma recebeu uma pergunta sobre o filme assistido e tiveram
cinco minutos para responder e sintetizar as ideias sobre a questão recebida.
Apresentaram as ideias ao grande grupo, conforme a sequência distribuída. Ao final
da exposição, o professor fez o fechamento das reflexões/ideias apresentadas pelos
grupos e esclareceu as dúvidas que surgiram.
3.2 Resultados e discussõesDurante a implementação do projeto, foi possível observar o interesse por
parte dos alunos participantes, pois todos (100%) estudaram e realizaram as
atividades propostas.
Ao final das seções, produziram haicais e até confrontaram as poesias de
Helena Kolody com as de Paulo Leminski, realizando pesquisas na internet. Para
evidenciar que houve compreensão, a figura 1 ilustra a produção de um haicai, onde
um estudante descreve uma estação do ano.Figura 1 – Atividade da seção 5
Fonte: caderno de atividades do aluno participante do projeto
Verifica-se aqui que o estudante consegue escrever um haicai e expressar
uma das características desta poesia mínima: as estações do ano. Apresenta o
outono e o inverno, de forma simples, singela, coerente com a faixa etária. Partindo
do raciocínio expresso pelo estudante, fica evidente a apropriação do gênero em
questão. Ele ultrapassa os limites da leitura superficial, pois consegue fazer
inferências com o cotidiano ao seu redor e transformar seus sentimentos em poesia.
Os estudantes afirmaram em conversas no final de cada seção, que estudar
poesia assim foi interessante e que gostaram de criar suas próprias poesias, pois
puderam demonstrar o que sentem e que ninguém sabe.
Este comentário vem ao encontro do relato de um professor participante do
GTR:P7: Acho o haicai importante também pelo fato de permitir uma interação do aluno com a natureza, nessa época de aquecimento global. Ao manter o foco em uma cena da paisagem, o aluno aprende a observá-la, admirá-la e explorá-la para dela tirar a essência e um momento de reflexão. Além disso, permite ao aluno usar todos os seus sentidos de forma mais apurada e o estimula a compartilhar suas experiências e percepções com as pessoas ao seu redor.
Analisando a leitura contextualizada do aluno e a fala do professor
participante do GTR, fica evidenciado que o objetivo desta implementação foi
atingido, visto que para a construção do conhecimento até se chegar a produção
final é realizado um passo a passo. Ressalta-se a facilidade com que os alunos
desta faixa etária absorveram o conteúdo do gênero proposto.
4. Considerações FinaisO trabalho realizado trouxe resultados positivos. Ficou comprovado o
interesse, pelo resultado demonstrado nos gráficos sobre o grau de preferência de
cada gênero literário (muito, médio, pouco ou nada), ficando constatado que
apreciam muito o gênero poético. Os alunos gostaram dessa metodologia diferenciada pelo uso do haicai e pelo
processo aplicado em seções, pela formação dos trabalhos em grupos de pesquisa
para familiarização dos alunos com o gênero poesia - haicai, quer fosse para tirar
dúvidas ou para descobrir a beleza deste enquanto poesia mínima.
A análise demonstra que 100% dos estudantes que responderam os
questionários dizem ter bastante interesse na leitura fora de sala de aula do gênero
poético, o qual fica comprovado pelos haicais produzidos.
Os alunos conseguiram analisar a linguagem sintética dos versos que a
autora utiliza para descrever os acontecimentos cotidianos relacionados com a vida
e a reproduziram em seus versos.
Os objetivos propostos foram alcançados na aplicação do projeto, pois foram
motivados à produção, estimulados à criatividade e incentivados à descobrir novos
autores paranaenses adeptos ao haicai, indo além do planejado.
Destaca-se aqui a importância desse programa de formação de professores,
pois através dele foi possível desencadear uma série de pesquisas e atividades na
disciplina de Língua Portuguesa. Também proporcionou mudança de paradigma
quanto ao uso da poesia – haicai como incentivo ao leitor literário na escola,
conforme relato de um professor participante do GTR, pois apresenta uma forma
inovadora: P 8: Estamos na era da tecnologia, da lei do menor esforço, da economia de palavras, da linguagem abreviada, do imediatismo...mas, apesar de tudo que está na contramão do nosso trabalho, elencarmos textos curtos como o haicai e que fazem sentido aos alunos, pode ser uma saída. Foi viável a implementação do projeto uma vez que é diferenciado das formas tradicionais que temos trabalhado (participante do GTR).
A eficácia é comprovada através das produções dos alunos pelo vocabulário
enriquecido. Observou-se também maior facilidade na leitura e compreensão do
gênero poético e um avanço para a leitura e compreensão de outros gêneros
textuais. Ela oportunizou um aprendizado contextualizado de uma forma nova,
quando foi utilizada como recurso pedagógico, possibilitando assim explorar ao
máximo o potencial pedagógico que a poesia pode oferecer.
É essencial que os professores de Língua Portuguesa e Literatura trabalhem
a poesia - haicai na escola despertando o gosto pela leitura, para que os mesmos
façam inferências com outros conhecimentos adquiridos, evitando que encontremos
alunos que sentem muita dificuldade em interpretar textos, não conseguindo
estabelecer relações com outros conhecimentos.
A leitura é um objetivo buscado constantemente pelo professor por meio de
encaminhamentos diversos: leitura pelo professor, leitura pelo aluno, leitura
compartilhada, leitura para apresentação a turma ou grande grupo, leitura
extraclasse, dentre outras, portanto o hábito de ler deve ser estimulado.
O livro ainda é um importante veículo para transmissão da cultura, e para que
ocorra a sobrevivência e evolução da mesma, os conhecimentos transmitidos às
novas gerações devem ser trabalhados com recursos como o haicai que agrega
valores e fortalece costumes.
4. Referências AGUIAR, Vera Teixeira de. et al. (Org.) ZIBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. 164p.
ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 2002. 109p.
BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. São Paulo, SP: Cortez, 1994, 159p.
BENCINI, Roberta. Todas as leituras, Nova Escola, n. 194, p.31-37, agosto, 2006.
BRASIL Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa, 3 ed., v.2, Brasília: MEC/SEF, 2001.144p.
CASTRO, Maria da Conceição. Língua & Literatura.3.ed. São Paulo: Saraiva,1995. 57-58p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).
ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34, 1999. KOLODY, Helena. Vida e obra. Disponível em:http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/obras_paranaenses/HelenaKolody2.pdf. Acessado em: 26/04/2013.
KOLODY, Helena. Sinfonia da vida. Curitiba:Letraviva Ltda, 1997.41-49p.
LINARD, Fred. O X da questão, Nova Escola, n. 18, p. 7-9, abril, 2008. Edição Especial: Leitura.
MENEZES, Débora: A idade das letras, Nova Escola, São Paulo, n. 18, p. 31-38, abril, 2008, Edição Especial: Leitura.
MOÇO, Anderson: A Prova Brasil em detalhes, Nova Escola, n. 222, p. 52-56, maio, 2009.
MOREIRA, Prof. Dr. Ubirajara Araujo. Oficina Viva a Poesia: questionário.1ª.ed.Ponta Grossa: UEPG , maio/junho, 2013, 2-4p.
NABEIRO, Márcia. Uma viagem pela leitura: a descoberta do prazer. Bauru, SP: Sena, 2004, 92p.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Spicione, 1997.
PARANÁ. Diretrizes curriculares da educação básica. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado, 2008. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao. pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/portugues.pdf>
PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret. 2004.
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. (Trad.) MACHADO, Ana Maria Neto. Aprender a ler e escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003, 191p.
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
SILVA, Djalma Custódio da. Ateliê de Sonhos. Curitiba:Brasil, Editora Protexto, 2010.
SILVA, Djalma Custódio da. Conceituação de haicai. Rio de Janeiro, 24 jun. 2014. Entrevista individual on line concedida ao Programa PDE 2013.
SILVA, Ezequiel Teodoro da. O Ato de Ler. Fundamentos Psicológicos para uma nova Pedagogia da Leitura. São Paulo, Cortez,1981.(Coleção educação contemporânea).
SETUBAL, Maria Alice & CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. A Prova Brasil na escola.1. ed. São Paulo: Publicação do Cenpec em parceria com a Fundação Tide Setubal, 2007,33-34 p.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução de José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
______. Pensamento e Linguagem. Tradução de Jéferson Luiz Camargo. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987.