os desafios da escola pÚblica paranaense na … · a obra “o fantástico mistério de...
TRANSCRIPT
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
Título: Ensino e Aprendizagem de Leitura: a intertextualidade dos contos de fadas tradicionais na obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha”
Autora: Rosa Maria Mariano
Disciplina/Área: Língua Portuguesa
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Anita Garibaldi – Ensino Fundamental e Médio
Município da Escola: Jardim Alegre – Paraná
Núcleo Regional de Educação: Ivaiporã - Paraná
Professora Orientadora: Drª Celciane Alves Vasconcelos
Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina - UEL
Relação Interdisciplinar: Disciplinas de Arte e História
Resumo:
A presente produção didático-pedagógica tem por objetivo propiciar oportunidades de aprendizagem através da leitura e análise dos contos de fadas tradicionais, com o intuito de evidenciar as características originais desse gênero literário e estabelecer paralelo com a obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha", autoria de Pedro Bandeira, um conto de fadas contemporâneo que reinventa o gênero e se adapta à realidade dos leitores modernos. Esse trabalho foi realizado com alunos do 6º ano A, período matutino do Colégio Estadual Anita Garibaldi – Ensino Fundamental e Médio. Durante a implementação pedagógica, os alunos se envolveram nas atividades por meio de questionários, leituras, produções de textos, vídeos, encenação de teatro e debates despertando o gosto pela leitura, através da reescrita dos contos de fadas.
Palavras-chave:
Contos de Fadas, Intertextualidade e Leitura
Formato do Material Didático: Unidade Didática
Público:
Alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental II
Ensino e Aprendizagem de Leitura: a intertextualidade dos contos
de fadas tradicionais na obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha”
MARIANO, Rosa Maria1
VASCONCELOS, Celciane Alves2
RESUMO Este trabalho teve como objetivo trabalhar o ensino aprendizagem de leitura, utilizando a intertextualidade dos contos de fadas, que são histórias curtas capaz de despertar a curiosidade dos alunos por meio de seu contexto. No âmbito escolar há uma grande preocupação dos educadores no sentido de despertar nos alunos o gosto pela leitura. Neste sentido, o projeto foi desenvolvido com os alunos do 6º ano A, período matutino, do Colégio Estadual Anita Garibaldi – Ensino Fundamental e Médio, localizado na cidade de Jardim Alegre – Paraná. Para alcançar tal objetivo foram pesquisados diversos autores que trabalham com essa temática, a saber:Kleiman (1997); Aguiar e Bordini (1993); Silva e Zilberman (1990); Freire (2001); Lajolo (1997); Cagliari (1995); Dieckmann (1986); Coelho (2000), entre outros que destacam a importância da leitura para o desenvolvimento crítico dos alunos.
Palavras-Chave: Leitura. Intertextualidade. Contos de Fadas. ABSTRACT This study aimed to work learning teaching reading, using the intertextuality of fairy tales, which are
short stories able to arouse curiosity of the students through their context. In the school there is a wide
scope of educators in order to awaken in students a taste for reading. In this sense, the project was
developed with the students of the 6th grade A - morning period, at ColégioEstadual Anita Garibaldi –
Ensino Fundamental e Médio, located in the city of Jardim Alegre - Paraná. To achieve this goal were
surveyed several authors working on this subject, namely: Kleiman (1997); Aguiar and Bordini (1993);
Silva and Zilberman (1990); Freire (2001); Lajolo (1997); Cagliari (1995); Dieckmann (1986); Rabbit
(2000), among others that highlight the importance of reading to the critical development of students.
.
Keywords: Reading. Intertextuality. Fairy Tales.
1 Professora Orientanda do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná - PDE
2014. E-mail: [email protected] 2 Professora Orientadora do Departamento de Letras da Universidade de Londrina Paraná - UEL. E-
mail: [email protected]
1. Introdução
Atualmente, observa-se que a prática de leitura no âmbito escolar tem sido
considerada um grande desafio para os professores do Ensino Fundamental, pois
quando são apresentados livros e textos para os alunos lerem, estes, muitas vezes,
transmitem certo repúdio quanto ao ato de ler. Talvez, um dos motivos que se
justifica, seja a inserção do sujeito na era digital, repleta de movimento, cor e
tecnologias que se renovam dia a dia, resultando numa ferramenta bem mais
atraente que o livro.
Dessa forma, incentivar a leitura de textos aos alunos tornou-se um desafio
para o professor em sala de aula, principalmente durante a transição dos educandos
do 5° ao 6° ano, momento em que se acentuam as dificuldades que cada aluno
possui em se adequar a nova realidade escolar, visto que esse público sai de uma
escola municipal e se depara com um novo ambiente, a escola estadual, e, além
disso, muda de nível de ensino, ao passo que no Ensino Fundamental II a realidade
é muito diferente da anterior, fazendo com que, no início do 6° ano, o estranhamento
e as dificuldades são maiores.
Pensando em trabalhar com algo que desperte o gosto pela leitura, o
presente trabalho propõe a leitura e análise dos contos de fadas com o intuito de
explorar e evidenciar os temas característicos do gênero Contos de Fadas, a saber:
racismo, submissão da mulher, sistema social baseado no ter, individualismo, o sexo
visto como pecado, rigidez de conduta, obediência aos tabus, racionalismo, fé, e
compará-las com os temas abordados no livro “O Fantástico Mistério de Feiurinha”,
autoria de Pedro Bandeira, que apresenta uma visão contemporânea do conto de
fadas, relatando o que acontece após os finais felizes dos contos de fadas
tradicionais.
A obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha” possui um papel fundamental para
a inserção da temática deste projeto, ressaltando que esses contos são textos já
familiarizados pelo alunado, e por isso, suscita a sensação de algo rotineiro, pois
cria oportunidades para ampliar o horizonte de seus leitores, uma vez que rompe
com a expectativa não apenas ao que se refere ao final da história esperada para as
personagens, mas também ao que diz respeito a valores sociais.
2. Desafios para Despertar o Hábito pela Leitura em uma Sociedade Dominada
pela Inserção da Tecnologia
O prazer pela leitura, além de aprimorar o desenvolvimento cognitivo, torna o
ser humano mais crítico e reflexivo, fazendo com que sua habilidade argumentativa,
tanto na oralidade quanto na escrita, sejam ampliadas. Devido a isso, o incentivo a
ela deve se iniciar desde as séries iniciais e continuar ao longo da vida, pois o hábito
da leitura fornece subsídio necessário para a formação cognitiva de qualquer área
de conhecimento e também contribui para a formação de cidadãos com capacidade
de pensarem por si próprios, sem serem manipuláveis.
Conforme Kleiman (1997), a construção da coerência textual está vinculada
aos conhecimentos prévios do leitor, na medida em que são eles que cooperam na
compreensão dos textos. Esses conhecimentos são compostos pelos elementos
linguísticos, textuais e de mundo, sendo que, quando uma falha, automaticamente o
outro é ativado no ato da leitura. Com isso, se torna nítido, que ler vai muito além de
simplesmente decodificar palavras, e como afirma Lajolo (1993, p. 15): “ou o texto
dá um sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum”.
Dessa forma, torna-se claro que o professor tem um papel fundamental na
formação dos alunos para que sintam prazer pelo ato de ler, pois é o docente quem
deve perceber o que é essencial, determinar o objetivo da leitura e, principalmente,
respeitar a criatividade e o conhecimento prévio dos seus alunos. O professor
educador deve ter o papel de incentivador da leitura, instigar o conhecimento, a
pesquisa e o próprio ato de ler como construção. Na concepção de Kleiman (2004)
ensinar a ler é:
criar uma atitude de expectativa prévia com relação ao conteúdo referencial do texto, isto é, mostrar à criança que quanto mais ela prever o conteúdo, maior será sua compreensão; (...) é ensinar a utilização de múltiplas fontes de conhecimento – linguísticas, discursivas, enciclopédicas (...) é ensinar, antes de tudo, que o texto é significativo (...) criar uma atitude que faz da leitura a procura pela coerência. (KLEIMAN, 2004, p.151).
Nesse sentido, a leitura proporcionaria ao o estudante a sensação de
autorrealização, visto que, além de aprender de forma prazerosa, também os levaria
à prática da reflexão, estimularia sua criatividade e, inevitavelmente, ampliaria seus
conhecimentos. Constata-se assim, que o ensino e aprendizagem de leitura deve
ser um processo contínuo e mediado pelo professor que tem como papel multiplicar
os leitores, os quais, a partir de então, veriam a leitura como algo prazeroso.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) enfatizam que, o leitor
competente é capaz de fazer inferências, notar as intencionalidades do autor e
compreender as entrelinhas do texto. É o leitor quem correlaciona a leitura com seus
conhecimentos prévios e estabelece relações com textos lidos anteriormente. Nessa
perspectiva, o leitor dá novos significados ao texto, uma vez que sua interpretação
partiu de seus conhecimentos e leituras prévias,
Ainda é pertinente ressaltar que os textos selecionados para se trabalhar em
sala de aula, devem ser bem escolhidos, justamente para que tenha alguma relação
prévia com a realidade do aluno e de suas necessidades. A esse respeito, Aguiar e
Bordini (1993, p.16) ressaltam que “a formação escolar do leitor passa pelo crivo da
cultura em que este se enquadra”. Assim sendo, é importante que o aluno se
identifique com a obra ao pensar em sua realidade social e em suas experiências de
vida, pelo menos em um primeiro momento de sua formação.
A partir da constatação dessa realidade, deve-se pensar em textos que
possam auxiliar na formação das crianças e dos adolescentes, ativando seu
imaginário, ajudando a responder perguntas através da analogia entre o mundo real
e o mundo fictício, da comparação dos problemas das personagens e do próprio
leitor. De acordo com Silva e Zilberman (1990), a leitura do texto literário contribui
para a formação desse leitor que se busca trabalhar em sala de aula:
A leitura do texto literário constitui uma atividade sintetizadora, na medida em que permite ao indivíduo penetrar o âmbito da alteridade, sem perder de vista sua subjetividade e história. O leitor não esquece suas próprias dimensões, mas expande as fronteiras do conhecido, que absorve através da imaginação, mas decifra por meio do intelecto. Por isso trata-se também de uma atividade bastante completa, raramente substituída por outra, mesmo as de ordem existencial. Essas têm seu sentido aumentado quando contrapostas às vivências transmitidas pelo texto, de modo que o leitor tende a se enriquecer graças ao seu consumo. (SILVA;ZILBERMAN, 1990, p. 19).
Dessa forma, a autora esclarece que a leitura além de humanizar, também
ajuda a compreender a própria vida, tendo em vista que o leitor se compara com as
personagens e encontra respostas nos livros. Contudo, para que isso seja possível,
é necessário que os discentes escolham obras capazes de despertar o interesse dos
alunos pela leitura. Infelizmente, não se verifica a participação de um número
considerável de alunos, o que realmente se observa são professores, que proferem
conhecimentos adquiridos e fechados sobre as obras literárias, sem darem abertura
para um diálogo entre os alunos, para que estes possam ter oportunidades de expor
sua interpretação acerca do texto.
No contexto atual, tem se verificado, que a realidade escolar, na maioria dos
casos, ainda é trabalhar com uma leitura obrigatória, impondo ao seu alunado o
preenchimento de uma ficha de leitura, a qual exige respostas exatas, e em alguns
casos, o texto serve somente de pretexto para a implementação de regras
gramaticais. Sobre este assunto, Lajolo (1997) comenta que assim como o texto,
nossas aulas também devem dar um sentido ao mundo dos alunos, dessa forma é
extremamente necessário dar um basta nesta distância que se impõe entre o
professor e os alunos, e também entre a leitura de ambos. Estabelecer um diálogo e
dar vida ao texto é o momento oportuno para permitir que o imaginário de cada
aluno recrie o texto fazendo com que ele dê um sentido ao mundo, deixar que a
interação leitor/livro realmente exista, pois é nisso afinal, que realmente consiste a
leitura.
Incentivar a formação de leitores não se reduz a obrigar a leitura de livros e
aplicar testes e provas. Os professores precisam se conscientizar de que seus
alunos também são elementos ativos no processo de comunicação, tendo em vista
que “suas mudanças em relação às obras alteram o curso de produção das
mesmas” (AGUIAR, 1996, p. 23). Além disso, precisam ter noção de que, além de
transmitirem seus conhecimentos, precisam ensinar a ler, ou seja, precisam formar
leitores competentes.
O educador Paulo Freire (2001, p. 11), relata que “a leitura de mundo precede
sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura
daquele”, ou seja, para que realmente se leia com competência é primordial que se
respeite o universo do educando, haja vista que, dessa forma, o mesmo realmente
se tornará um leitor competente, capaz de reflexões em torno do texto. Dessa forma,
podemos observar que as reflexões de Freire (2001) acerca da leitura, assemelham-
se com as considerações apontadas por Cagliari (1995, p. 149), quando afirma que
“a leitura é uma atividade de assimilação de conhecimento e reflexão, um processo
de descoberta, observando-a como extensão da escola na vida das pessoas”.
Seguindo esta linha de pensamento, é importante ressaltar que a prática da
leitura não compete somente à disciplina de Língua Portuguesa, cabe também aos
demais docentes de outras disciplinas (Matemática, História, Ciências, Geografia
etc.), terem consciência de que a leitura e a interpretação de um texto são
indispensáveis para a resolução, análise e reflexão de qualquer conteúdo trabalhado
durante a aula. Percebe-se, em muitos casos, que o aluno deixa de participar das
aulas propostas em sala, porque não consegue entender o enunciado de
determinado exercício. Sobre essa questão Cagliari (1995) ressalta que:
O aluno muitas vezes não resolve problemas de matemática, não porque não saiba matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema [...] Porque de fato ele não entende mesmo é o português que lê. Não foi treinado para ler números, relações quantitativas, problemas de matemática [...] Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver. (CAGLIARI, 1995, p. 148-149).
Dessa forma, nota-se a necessidade do incentivo à leitura e, para isso os
alunos precisam ser estimulados, principalmente, quanto à escolha de obras
interessantes, para que o processo torne-se eficaz e coopere no processo de
formação do leitor. Portanto, busca-se no gênero Contos de Fadas uma solução ao
problema exposto, por se tratar de uma narrativa que atrai a atenção do aluno, e ao
mesmo tempo, conscientiza e trabalha com valores universais.
3. A Magia dos Contos de Fadas para Aulas de Leitura no Ensino Fundamental
Desde o início da sua produção, a literatura infanto-juvenil brasileira tem um
número razoável de obras e autores das mais diversas tendências temáticas e
estilísticas, e, entre as “novas” tendências encontram-se aquelas que fazem
referências aos contos de fadas. Estes encantam os adultos e as crianças há muito
tempo e, devido a isso, despertam certo interesse nas academias literárias. Para
Coelho (1998), no gênero Contos de Fadas (definido como uma narrativa), não
precisa necessariamente haver a presença de fadas, mas o elemento fantástico é
imprescindível, fazendo com que a história apresentada seja algo realizável, uma
descrição verdadeira por traz de uma fantasia, que pode auxiliar o leitor a superar
conflitos que são inerentes ao seu processo de desenvolvimento.
Quanto à funcionalidade dos contos de fadas tradicionais, estes não tinham a
função de contação de histórias, serviam como forma de educar, pois na medida em
que eram evidenciados aos camponeses o mundo e suas artimanhas, ofereciam, ao
mesmo tempo, estratégias para enfrentá-lo, lembrando que nessa época, séculos
XV e XVI, a França vivia um período de guerra, epidemias e muita fome.
Neste contexto, é pertinente ressaltar que tais histórias não eram destinadas
ao público infanto-juvenil, serviam além de entretenimento como forma de educar e
alertar os adultos quanto às reais condições de vida das pessoas mais carentes,
consideradas em muitos casos, precária.
Muitos folcloristas franceses escreveram contos em diversos dialetos, e neles
aparece o nome de Charles Perrault. Este autor, além de recolher um vasto material
sobre a tradição oral do povo camponês, adaptou inúmeras histórias que encontrou
para atender ao gosto dos sofisticados frequentadores dos salões aos quais ele
dedicou à primeira versão publicada em 1697, de Mamãe Ganso. Já no final do
século XVIII, os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm beberam desta mesma fonte
(narrativas de memória popular) e passaram a publicá-las com o título de Contos de
Fadas.
No Brasil, Pimentel (1894) foi quem primeiro publicou, no século XIX,
coletâneas de contos que faziam um paralelo entre as histórias europeias com as
que eram contadas pelos povoadores do Brasil, portugueses e africanos. Sobre esse
aspecto, vale ressaltar:
Eles resultam de um trabalho de compilação, onde a criatividade e o talento do autor assumem importância decisiva. Não são obras populares, anônimas, mas textos de origem popular recriados por uma elaboração erudita. (COELHO, 1998, p. 61).
Nota-se que, por meio dos textos, o homem sempre tentou expressar e
compreender a si próprio e a sua cultura, desde o surgimento do gênero conto de
fadas, – mesmo que não voltado inicialmente ao público infanto-juvenil –, ele já
nasceu repleto de leituras, releituras e intertextualidade e assim continuou e se
perpetuou, ao ponto de, com o passar do tempo, as histórias não foram esquecidas,
mas sim modificadas, como é o caso do livro “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, e
do conto de fadas “Chapeuzinho Vermelho”, ambos adaptados para o cinema, em
outra linguagem artística, e mediante a estas adaptações, são denominadas, pela
crítica literária, como “contos de fadas contemporâneos”.
Em épocas e espalhados pelo mundo, os leitores foram se apaixonando pelos
contos de fadas, os quais foram eternizados e recriados, fazendo com que novas
obras dialogassem com as clássicas, criando, na atualidade, contos de fadas
contemporâneos, com características capazes de suprir as necessidades e anseios
dos leitores atuais. Esse é o caso da obra de Pedro Bandeira (2009) “O Fantástico
Mistério de Feiurinha”. Seu enredo, ao mesmo tempo em que questiona a realidade,
torna o leitor agente da busca da solução dos impasses presentes no texto.
Os contos de fadas exercem uma influência muito benéfica na formação da
personalidade, porque através da assimilação dos conteúdos da estória, as crianças
aprendem que é possível vencer obstáculos e saírem-se vitoriosas. Para Dieckmann
(1986):
“[...] As figuras e feições, como também a ação do conto, são vividas não mais como acontecimento real do mundo, exterior, mas como personificação de formações e evoluções interiores da mente”. (DIECKMANN, 1986, p. 49).
Devido a isso, os temas presentes nos contos de fadas cooperam para que as
crianças superem seus problemas e os solucionem, controlem suas emoções e
sentimentos, haja vista que se identificam com as personagens presentes nas
histórias contadas. Os contos de fadas, segundo Coelho (2000), são representados
nas narrativas por uma realidade mágica:
[...] em geral, povoados por personagens que representam, simbolicamente, valores e estruturas sociais arcaicas. Nesse mundo, convivem seres maravilhosos (fadas, bruxas, anões, gigantes, ogres) seres superiores, privilegiados pela realeza (reis, rainhas, príncipes, princesas...) e seres inferiores, ou seja, plebeus, que exercem funções consideradas “servis” (servos, servas, amas, escudeiros, lacaios, guardas, mercadores, gente do povo em geral). (COELHO, 2000, p. 95).
Quanto à temática inerente aos contos de fadas, Bettelheim (2002) menciona
os seguintes: o dilema existencial, o amor, o medo, a morte e o abandono. Estes
temas são tecidos por meio de uma narrativa simples e que, devido a esse fato,
torna-se capaz de atingir diretamente o mundo infanto-juvenil, cooperando na
solução de problemas, ao passo que esse público leitor se identifica com os
personagens e é capaz de entender as narrativas.
Desse modo, espera-se que o professor ao trabalhar com o gênero Contos de
Fadas, em sala de aula, possa proporcionar um momento prazeroso, despertando o
interesse dos educandos pelo hábito da leitura, uma vez que o gênero em questão
continua a encantar os leitores por tratar de temas atemporais e universais. Sobre
este aspecto, Coelho (2000) elucida:
[...] toda grande obra literária que venceu o tempo e continua falando ao interesse de cada nova geração, atende a outros motivos particulares que, como os que atuaram em sua origem, são decorrentes de uma verdade humana. (COELHO, 2000, p. 45).
Ao refletir sobre os contos de fadas, no processo educativo, pode-se
assegurar que ele coopera para o desenvolvimento intelectual do adolescente, o que
se nota nas palavras de Bettelheim (2002) quando o autor enfatiza que a tarefa mais
importante e, também a mais difícil na formação de uma criança, é ajudá-la a
encontrar um significado na vida. Dentro deste contexto, é pertinente salientar
também que, além da família e da escola, a literatura tem papel fundamental no
processo educativo, ao passo que é carregada de heranças culturais, como a
religião, seus hábitos de leitura, seu gosto musical, entre tantos outros. Neste
sentido, deve-se lembrar de que, como cita Silva (2008) na maior parte da história
da humanidade, a formação de uma criança, contou com a ajuda das histórias
míticas, religiosas e dos contos de fadas.
Portanto, acredita-se que trabalhar com contos de fadas, no ambiente escolar
seja pertinente pelo fato de que se pode retomar o que lhes é conhecido, ou seja,
iniciar o processo ensino-aprendizagem por meio da realidade do aluno, tendo em
vista que se trata de um dos gêneros mais trabalhados no Ensino Fundamental I.
Além disso, com a obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, acredita ser possível
fazer a emancipação dos horizontes de expectativas dos estudantes, ao passo que
se romperia com o que se é esperado deles, na medida em que nessa obra, por se
tratar de uma reinvenção do conto de fadas tradicional, os alunos se deparariam
com realidades não esperadas, como, por exemplo, a visão das princesas não
idealizadas, com medo de serem esquecidas, com um padrão de beleza diferente
pelo imposto pela sociedade e um comportamento aproximado ao de seres
humanos comuns, bem diferente do encontrado nos livros originais, o que já
despertaria grande interesse pelo livro e, ao mesmo tempo, temas para comparação
e discussão entre os contos tradicionais e contemporâneos.
Cabe ressaltar ainda neste trabalho a questão da intertextualidade. Para
Chartier (2002), o objeto primordial da história literária e da crítica textual é o
processo pelo qual leitores, dão sentido aos textos dos quais se apropriam, o que
acontecerá certamente em “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, cada vez que os
estudantes se depararem com personagens e histórias conhecidas. Além disso, é
pertinente salientar que críticos como Proença Filho (1988) confirmam a presença
da intertextualidade na pós-modernidade:
Torna-se frequente também a presença marcante da intertextualidade à luz das teorias de Bakhtin do diálogo ou cruzamento de vários textos. Na literatura contemporânea isso se dá com o aproveitamento intencional de obras do passado. (PROENÇA FILHO, 1988, p. 39).
A intertextualidade é vista claramente em Pedro Bandeira (2009), na medida
em que, para construir sua história, o autor se apropria de personagens já
existentes, embora abale as certezas e expectativas dos leitores, em relação aos
mesmos, ao passo que modifica totalmente seus desfechos. Sobre essa questão,
Zilberman (2005) tece comentários acerca dessa tendência intertextual utilizada por
Pedro Bandeira (2009):
O processo, porém, é compreensível, pois foi como se a literatura infantil precisasse retornar ao início - do conto de fadas, nascido na Europa; dos Contos da Carochinha, como os que Figueiredo Pimentel narrou, nos primeiros anos da história do gênero no Brasil -, para tomar impulso necessário para cruzar fronteiras e impor novas regras de criação e leitura de textos destinados à infância. (ZILBERMAN, 2005, p. 56-57).
Fica claro, nas palavras de Zilberman (2005), que a literatura infanto-juvenil
retornou aos contos de fadas, ultrapassando fronteiras e criando releituras, como se
pode notar com a presença das princesas na obra do autor brasileiro. Bandeira
(2009) usa a intertextualidade como estratégia narrativa transformando a obra em
ponto de encontro entre personagens famosos de várias histórias e suas próprias
personagens, fazendo com que seu texto comprovasse as ideias de Bakhtin (1992,
p. 319) quando afirma que: “[...] todo discurso dialoga com outro discurso e toda
palavra é cercada de outras palavras”.
Assim, o livro de Bandeira (2009) atenderia as necessidades expostas nos
PCNs de Língua Portuguesa (1997) o qual enfatiza, em relação à formação do leitor
competente:
Formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos, que estabeleçam relações entre o texto que lê e outros já lidos, que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos. (BRASIL, 1997, p. 41).
São exatamente elementos como as mudanças, e até mesmo as
semelhanças, com os estereótipos existentes em nossa sociedade, como os citados
anteriormente, como as inovações da obra, realizadas por meio da intertextualidade
com os contos de fadas clássicos, que despertam o encantamento e o senso crítico
dos alunos/leitores e, dessa maneira, possibilitando um novo horizonte de
expectativas e emancipando-o enquanto leitor.
4. Metodologia: Desenvolvimento da Implementação
A proposta de intervenção Pedagógica “Ensino e Aprendizagem de Leitura: a
intertextualidade dos contos de fadas tradicionais na obra O fantástico mistério de
Feiurinha” foi aplicada aos alunos do 6º ano A, período matutino, do Colégio
Estadual Anita Garibaldi – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de
Jardim Alegre – PR., durante o ano letivo de 2015.
Para que o educando alcançasse o objetivo central do projeto em questão, foi
necessária a realização de algumas atividades tais como: questionários
investigativos, aulas dialogadas, roda de leitura, trabalhos em grupos, pesquisa no
laboratório de informática, aula com vídeo, atividades: como caça-palavras e
complete com cruzada, produção de textos, dramatização de uma peça teatral
baseada na obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, de Pedro Bandeira, que
envolveram os alunos no processo de ensino aprendizagem despertando nos
mesmos o interesse e a compreensão da importância do hábito da leitura.
Cabe ressaltar que para que o projeto tivesse o resultado almejado se fez
necessário que, professores das disciplinas de Arte e História, Equipe Pedagógica e
direção do colégio, também contribuíssem de acordo com cada especificidade,
porém, o fizeram sem medir esforços e por acreditarem que o trabalho coletivo
propicia maior desenvolvimento dos alunos.
A proposta de Implementação teve início com a apresentação da obra
de Bandeira ao coletivo do colégio, durante reunião pedagógica, no início do ano
letivo. Em seguida, foi apresentado aos educandos do 6º ano A, período matutino,
que acolheram a proposta com entusiasmo por se tratar de um tema que está em
evidência na atualidade e que ao mesmo tempo causa certos embaraços em
determinadas situações.
4.1 Ações Executadas na Implementação do Projeto
Atividade 01 – Questionário Investigativo
Partindo do pressuposto de que para um aprendizado consistente é
necessário ter como base o cotidiano do aluno, foram elaboradas questões
referentes ao tema proposto no projeto. Tais questões serviram para um
levantamento prévio do conhecimento da turma, no que diz respeito ao nível de
leitura dos alunos do 6º ano A.
O objetivo desta atividade era também a de perceber o conhecimento prévio
dos alunos sobre os Contos de Fadas, visto que estas histórias em tempo
passado eram rotineiras no dia a dia das crianças.
Atividade 02 – Abordagem do tema Contos de Fadas com os alunos
Para que o aluno entendesse o conteúdo que a professora estava propondo a
ensinar, foi necessária a abordagem de como surgiram os contos de fadas. A aula
foi preparada através de tópicos no Power Point com diversas imagens e textos
explicativos de cada conto de fada tradicional. A ideia central foi a de, através da
imagem, suscitar a lembrança dos alunos sobre o conto mencionado e propiciar a
participação do mesmo durante a aula. Também foi explicada a importância do
gênero contos de fadas.
Atividade 03 - Roda de Leitura de Contos de Fadas Tradicionais
Depois de realizada a abordagem sobre os contos de fadas, foi iniciada uma
roda de leitura, onde os alunos foram colocados em círculo e a professora usando
diversas entonações de voz leu para os alunos vários contos de fadas tradicionais
como: “Chapeuzinho Vermelho”, “A Branca de Neve”, “A Bela e a Fera”, entre outros.
Trabalhar com os alunos a leitura em voz alta fez com que despertassem o
interesse em conhecer outras obras, e recordar da infância quando as mães
contavam pequenas histórias para eles.
Essa atividade também teve como objetivo fazer com que os alunos se
recordassem dos principais contos de fadas que eles tiveram acesso durante a
infância. Para que isso ocorresse de maneira natural, o professor foi fazendo
diversas indagações que possibilitou o envolvimento dos mesmos fazendo com que
os dados que provavelmente foram omitidos no questionário viessem à tona neste
momento.
Atividade 04 – Utilização de Histórias em Quadrinhos
Após a roda de leitura, a professora passou uma história em quadrinho onde
os desenhos estavam colocados aleatoriamente. O objetivo desta atividade foi
perceber a compreensão dos alunos quanto ao enredo que era alvo da história em
quadrinho.
Para realizar a atividade, cada aluno deveria colorir, e em seguida, recortar e
colar no caderno de produção de texto, na sequência correta da história. Para
incentivar a interpretação, deveriam escrever, de maneira resumida, a história ao
lado de cada desenho.
Atividade 05 – Atividades sobre os Contos de Fadas: Caça-palavras
Esta atividade teve como objetivo fazer com que os alunos de maneira
prazerosa realizassem exercícios diferenciados sobre os principais contos de fadas
tradicionais.
Esta etapa foi realizada em sala de aula com os alunos dispostos
individualmente. Cada um respondeu as questões de um complete, e as palavras
que completavam a frase deveriam ser encontradas em um caça-palavras.
Atividades 06 – Exposição e Leitura para os Alunos sobre a obra “O fantástico
mistério de Feiurinha”, de Pedro Bandeira
Depois de trabalhado os contos de fadas tradicionais, chegou o momento de
expor para os alunos o conto moderno de Pedro Bandeira “O Fantástico Mistério de
Feiurinha”. Após mostrar o livro para os alunos, foi realizada uma leitura em voz alta
para que todos entendessem a história. Os alunos ficaram encantados com a
história do livro e quando terminou a aula, a maioria da sala já estava agendando na
biblioteca, para levarem o livro para casa para realizarem uma nova leitura.
Durante essa atividade também foi realizada uma pesquisa no laboratório de
informática, sobre outras obras do autor Pedro Bandeira e, em seguida foi elaborado
um cartaz contendo a biografia com o resumo de várias obras do mesmo, a saber:
“A droga da obediência”, “A formiga e a pomba”, “A droga do amor”, “O Dinossauro
que fazia Au-Au”, “Rosa Flor e a Moura Torta”, entre outras obras. Esse cartaz foi
exposto no pátio da escola para que houvesse a socialização com os demais alunos
da escola. Cabe ressaltar também que, algumas obras que não havia na biblioteca
da escola foram adquiridas pela direção devido ao interesse demonstrado pelos
educandos.
Atividade 07 – Aula Expositiva do Contexto Histórico em que foram Produzidos
os Contos de Fadas
Esta atividade foi realizada com a ajuda da professora de História, que
realizou uma aula expositiva para os alunos relatando o contexto histórico que
possibilitou o surgimento dos contos de fadas. Os alunos ficaram encantados em
conhecer a verdadeira história que existia por trás dos contos de fadas. Muitas foram
as indagações demonstrando curiosidade sobre a temática, visto que esses valores
contribuem e influenciam a formação da personalidade do ser humano.
Atividade 08 – Pesquisa no Laboratório de Informática sobre as Mulheres na
Contemporaneidade
Para relacionar a temática abordada na sala de aula com a realidade dos
alunos, foi proposta uma pesquisa a ser realizada no laboratório de informática
sobre “o papel das mulheres na atualidade”. Antes de irem ao laboratório realizarem
a pesquisa, a professora os orientou de quais sites deveriam ser pesquisados e
como deveriam fazer as devidas anotações.
Como a escola não tem um computador para cada aluno da sala de aula, os
mesmos foram divididos em grupos de três alunos. Um aluno de cada grupo ficou
responsável por acessar o computador e os demais para fazerem as devidas
anotações.
Atividade 09 – Trabalho em Grupo para os Alunos reconhecerem as
Características dos Principais Personagens dos Contos de Fadas
Nesta atividade os alunos da sala foram divididos em quatro grupos. Cada um
recebeu uma caixa contendo várias palavras que significava uma característica dos
principais personagens dos contos de fadas.
No quadro negro a professora colocou os cartazes de pregas com ilustrações
dos principais contos de fadas. Era função de cada grupo ver a palavra e ir correndo
até o quadro para colocar no cartaz a palavra. A equipe que conseguisse colocar
mais palavras corretamente nos cartazes, vencia a competição. De maneira lúdica
os alunos participaram da atividade e tiveram maior conhecimento sobre os contos
de fadas.
Atividade 10 – Produção Textual dos Alunos levando em Consideração os
Contos de Fadas Tradicionais e os Modernos
Como o projeto tinha como meta trabalhar a intertextualidade, os alunos
realizaram uma produção de texto individual, tendo como base os contos de fadas
tradicionais e os modernos. Esses textos foram entregues à professora que os
corrigiu e devolveu para que cada um verificasse onde havia desvios ortográficos.
Em seguida, os alunos foram divididos em quatro grupos para compartilharem os
textos escritos por eles, de maneira que cada um deveria ler o texto do colega.
Essa atividade teve como objetivo prepará-los para a seguinte etapa, que
seria a montagem de um livro com todos os textos dos alunos.
Atividade 11 – Confecção do Livro sobre a Temática “O Mistério dos Contos de
Fadas”
Em grupo, os alunos baseados nos textos por eles mesmos escritos,
montaram uma história para ser publicada no livro “O Mistério dos Contos de Fadas”.
Todos os alunos se empolgaram com a produção e se empenharam para realizar
um bom trabalho. Depois de escritos os textos, a professora realizou as devidas
correções e as enviou para encadernação.
Com os livros prontos foi realizada no colégio uma noite de autógrafos, onde
foi convidada a comunidade escolar e demais autoridades da cidade para estarem
presentes e prestigiarem o trabalho desses alunos.
Atividade 12 – Aula com Vídeo: “Xuxa em o Mistério de Feiurinha”
Nesta atividade os alunos foram levados para a sala de vídeo e assistiram ao
filme “Xuxa em o Mistério de Feiurinha”. O objetivo desta aula foi o de perceber
como era o cenário e o diálogo das personagens para a montagem de uma peça
teatral tendo como foco a obra principal de Pedro Bandeira.
Atividade 13 – Preparação de uma Peça Teatral baseada na Obra de Pedro
Bandeira “O fantástico mistério de Feiurinha”
Depois de realizada todas as atividades em sala de aula, os alunos do
contraturno ensaiaram a dramatização da obra “O Fantástico Mistério de Feiurinha”,
para posteriormente apresentarem aos demais alunos do colégio e também à
comunidade escolar.
Atividade 14 – Apresentação dos Trabalhos realizados em Sala de Aula para a
Comunidade Escolar
A apresentação foi realizada em quatro seções, onde pais, professores,
funcionários, alunos e demais convidados da comunidade, puderam ver a
apresentação de todos os trabalhos realizados pela professora-PDE e pelos seus
alunos, e para encerrar realizaram a apresentação do teatro baseado na obra de
Pedro Bandeira “O Fantástico Mistério de Feiurinha”.
Atividade 15 – Avaliação
A avaliação ocorreu durante todo o processo da Implementação Pedagógica
através da observação e do empenho dos alunos nas realizações das atividades
propostas, tais como: trabalhos em grupos, produção de textos, pesquisas diversas,
leitura de contos de fadas e dramatização de teatro.
5. Resultados e Discussão
O questionário investigativo foi respondido por vinte e nove alunos do 6º ano
A, do Colégio Estadual Anita Garibaldi – Ensino Fundamental e Médio. Essa
atividade teve por objetivo realizar uma sondagem prévia sobre como são os hábitos
de leitura dos alunos.
Já nas primeiras questões foi possível perceber que a maioria dos alunos não
tem o hábito de realizarem a leitura em suas casas, seja de livros ou de qualquer
outro tipo de periódico. O que mais causou estranhamento foi o relato de que os pais
não tiveram o costume de realizarem leitura para eles, quando pequenos.
Conclui então que, nós professores, devemos redobrar nossas atenções e
nossas dinâmicas de como trabalhar o gosto e hábito pela leitura. Os contos de
fadas é uma das alternativas que contribui para o envolvimento dos alunos, por
trabalhar questões que são frequentes na vida dos mesmos, como: frustração,
medo, abandono, rejeição, entre outros tantos que se podem observar no
comportamento em sala de aula.
Através deste trabalho foi possível perceber a importância do desenvolvimento
de atividades que venham ao encontro dos anseios dos alunos e promovam o
ensino-aprendizagem, e principalmente, propicie o hábito da leitura. Com atividades
diversificadas o comprometimento e a participação foram notáveis. A magia dos
contos de fadas levou ao entendimento de como a leitura contextualizada
desenvolve o conhecimento sobre diversos aspectos. Questões antes não
observadas ou não compreendidas pelos mesmos.
6. Espaço Virtual GTR: Interação do Projeto de Intervenção Pedagógica com
Professores da Rede Estadual de Ensino
No quarto período de atividades realizadas pelo professor-PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional), ocorreu o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), que
teve como finalidade promover a interação dos professores da rede pública estadual
do Paraná que se interessam pelo tema proposto dentro da linha de estudo “Ensino
e Aprendizagem de Leitura”.
No decorrer do curso os professores interagiram com os colegas e com o
tutor responsável discorrendo sobre o tema proposto, bem como relatando suas
experiências em sala de aula e seus anseios quanto à prática do hábito pela leitura.
Todos os cursistas tiveram espaço para exporem suas reflexões e após todas as
etapas do GTR terem sido cumpridas, pode-se constatar que grande parte dos
professores aplicaria o projeto em suas escolas por perceberem a importância de se
trabalhar com o tema “Contos de Fadas Tradicionais e Contemporâneas”, tornando
as aulas mais dinâmicas e envolventes capaz de atrair a atenção dos alunos, e
consequentemente, contribuindo para a formação do indivíduo.
7. Considerações Finais
Desde tempos mais remotos, a contação de histórias nas horas vagas sempre
foi uma prática na vida das pessoas mais simples, que aproveitavam esses
momentos livres para relatarem seus anseios e/ou frustrações. Esses pequenos
relatos sobreviveram a diversas intempéries da história humana.
Com o passar do tempo essas histórias criadas pelo homem tendo como base
a realidade em que a sociedade vivia, ficaram conhecidas como contos de fadas que
até os dias atuais cativam e influenciam as pessoas que delas se apropriam.
Aproveitando esse encantamento propiciado pela leitura desses textos, é que se
propôs este trabalho voltado para a leitura e intertextualidade.
No decorrer da Implementação Pedagógica foi possível observar a
transformação ocorrida na mentalidade dos alunos e também na sua participação
para a realização das atividades propostas. Os contos de fadas sobrevivem até a
atualidade por conseguirem tocar os sentimentos mais profundos e sublimes dos
seus leitores.
Porém, erradicar a falta de interesse pela leitura não é uma tarefa fácil de ser
realizada e requer mais comprometimento dos professores, da escola e
principalmente da família. O gosto pela leitura é algo que deve ser despertado desde
a tenra idade. A escola deve sempre estar propondo atividades que envolvam a
participação da família, para que esta perceba o quanto é importante para os filhos
terem pelo menos uma hora diária de leitura complementar em seus lares.
8. Referências
AGUIAR, Vera Teixeira de. O leitor competente à luz da teoria da literatura. In:
Revista Tempo Brasileiro. Nº 124. Rio de Janeiro: ed. trimestral, 1996.
AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura e a Formação do
leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Livre, 1993.
BANDEIRA, Pedro. O Fantástico Mistério de Feiurinha. 3. ed. São Paulo: Moderna,
2009.
BAKHTIN, Michail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2002.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 1995.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
CHARTIER, Roger. História e Literatura. In: À Beira da Falésia: a história entre
incertezas e inquietude. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: ed.
Universidade/UFRGS, 2002.
DIECKMANN, Hans. Contos de Fadas Vividos. São Paulo: Paulinas, 1986.
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler, em três artigos que se completam.
41. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
KLEIMAN, Ângela. Leitura: Ensino e Pesquisa. Campinas, S. Paulo, 2004.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo. São Paulo:
Ática, 1993.
Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, 1997.
PIMENTEL, Alberto Figueiredo. Contos da Carochinha. 1894.
PROENÇA FILHO, Domício. Pós-Modernidade e Literatura. Série Princípios. São
Paulo: Editora Ática, 1988.
SILVA, Ezequiel Theodoro da; ZILBERMAN, Regina. Literatura e Pedagogia.
Ponto e contraponto. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990. (Série Contrapontos).
SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura Infantil Brasileira: um guia para
professores e promotores de leitura. 2. ed. Goiânia: Cânone Editorial, 2008.
ZILBEMAN, Regina. A Literatura Infantil Brasileira: como e por que ler. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2005.