os desafios da escola pÚblica paranaense na … · 2016-06-10 · enfrentando os desafios postos...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

ESCOLA, FAMÍLIA E CONSELHO TUTELAR: PARCERIAS EM

DEFESA DO DIREITO À EDUCAÇÃO

Dirce de Souza1

Saulo Rodrigues Carvalho2

Resumo:

O presente artigo discorrerá sobre as reflexões dos estudos e pesquisa desenvolvidas no projeto de Intervenção na escola com o título: “Escola, Família e Conselho Tutelar: parcerias em defesa do direito à educação”, realizadas em 2013 e 2014, no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. A Implementação do Projeto teve como público alvo as famílias de alunos do 6º e 7º ano, professores, conselheiros tutelares, direção e equipe pedagógica do Colégio Estadual “Floriano Peixoto” - EFMP de Laranjeiras do Sul – Paraná. Tendo como objetivos investigar o conhecimento que as famílias têm sobre o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), nas questões que envolvem o dever de acompanhar a vida escolar do filho. A pesquisa teve como eixo central descobrir as possíveis causas da ausência das famílias na escola, bem como as atitudes apresentadas pelos filhos/alunos como: descompromisso, falta de motivação para qualquer tipo de atividade; ausência de perspectiva para consigo mesmo e indisponibilidade para qualquer reflexão, fatores que interferem no processo de aprendizagem. A partir das questões citadas, propôs-se investigar e criar ações possíveis para a seguinte questão: Como a escola, em parceria com o Conselho Tutelar, pode criar vínculos com a família em defesa dos direitos à educação? Ao analisar as entrevistas realizadas observou-se que s resultados obtidos indicaram aspectos relevantes, e que demonstram a importância do papel da escola em relação a formação e orientações dadas aos pais, no sentido de a escola prover melhores condições para que as famílias participem da gestão da escola, e sintam-se valorizadas por esta, pois compreende-se que a participação, não ocorre espontaneamente, é um processo de construção coletiva da comunidade escolar. Cabe ressaltar também que a parceria entre escola e conselho tutelar é fundamental, já que ambas trabalham em prol do desenvolvimento do aluno e de seu bem estar.

Palavras-chave: Escola. Família. Conselho Tutelar. Direito à Educação.

1 Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná no Colégio Estadual Floriano

Peixoto EFMP, em Laranjeiras do Sul – PR. Graduada em Pedagogia pela Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente SP. Pós-graduada em Gestão da Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná / PUC-PR, Psicopedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE e Educação Especial e Inclusiva, pela Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER – PR. 2 Professor da Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO, Guarapuava-PR. Mestre em

Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP-FCL/Araraquara-SP. Doutorando em Educação Escolar pela mesma universidade. Orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE/PR. Bolsista CNPq.

INTRODUÇÃO

O presente artigo discorrerá sobre as reflexões dos estudos e pesquisa

desenvolvidas no Projeto de Intervenção na Escola, tendo como objetivos investigar

o conhecimento das famílias sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA,

nas questões que envolvem o dever dos pais de acompanhar a vida escolar do filho,

identificar as expectativas quanto a trajetória escolar; quais são as ações que o

Conselho Tutelar desenvolve, e conhecer qual a concepção dos professores a

respeito da participação das famílias no ambiente escolar.

A pesquisa buscou realizar uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelos

docentes, entre eles destaca-se: descompromisso, falta de motivação para qualquer

tipo de atividade, ausência de perspectiva para consigo mesmo e indisponibilidade

para qualquer reflexão. A partir dos pontos citados, propôs-se investigar, e criar

ações possíveis para a seguinte questão: Como a escola, em parceria com o

Conselho Tutelar, pode criar vínculos com a família em defesa dos direitos à

educação?

Assim sendo, verificou-se com a Implementação do Projeto de Intervenção

na Escola que é possível organizar e efetivar ações para a melhoria da relação

escola-família. A análise da pesquisa e as reflexões dos participantes contribuíram

para fortalecer a importância do trabalho coletivo, bem como elaborar possíveis

ações a serem desenvolvidas em parceria com o Conselho Tutelar e comunidade

escolar.

A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação. A amostra da pesquisa foi

constituída de doze professores, quarenta e nove pais e quatro conselheiros

tutelares. Para coleta de dados utilizou-se como instrumento um questionário,

composto por questões abertas e fechadas. A análise das respostas foi descritiva.

A perspectiva teórica que fundamenta este trabalho tem no materialismo

histórico-dialético suas bases, destacando o estudo da educação escolar, dos

direitos da criança e adolescente e da constituição histórico-social da família: O

referencial teórico utilizado para a discussão teve como base as pesquisas de

Saviani (2003), Kramer (2007), Freitas e Khulmann Jr (2002), Declaração Universal

dos Direitos Humanos (1948). Szymanski, (2001), Brasil (1988). Ariès (1981),

Brasil (1996). Rizzi (2011), e Paro (2000).

O trabalho está assim estruturado: na primeira parte, buscou-se uma

abordagem teórica sobre família, infância e adolescência na atualidade – discutindo

seus determinantes históricos. A segunda tratou da educação escolar como direito

da criança - determinantes legais. Na terceira, reportou-se à Escola, Família e

Conselho Tutelar: mediações possíveis e dados da pesquisa. A última etapa,

apresenta as considerações finais, as quais ressaltam a importância das parcerias:

escola, família, conselho tutelar .

1. FAMÍLIA, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NA ATUALIDADE: APRESENTAÇÃO

DAS DETERMINANTES HISTÓRICAS.

O foco em destaque, nessa etapa foi às questões referentes à família,

infância e adolescência, a qual têm sido, e ainda é a preocupação de muitos

pesquisadores, profissionais da educação e também dos próprios pais. Percebe-se

que cada época da história teve e tem suas necessidades, na escola não é

diferente. No entanto, para entender as mudanças na concepção de família e sua

função social, verifica-se que é necessário recorrer à história e suas formas de

relacionamento nos diferentes momentos. Constatou-se que a concepção de

família historicamente foi sendo construída pela trajetória de sua existência na

sociedade e para se abordar o tema família hoje, é preciso considerar os diferentes

arranjos familiares, suas condições históricas e as mudanças sociais que

determinam/determinaram a forma como ela vem se organizando, para cumprir sua

função social.

É necessário que a escola repense sobre como essas famílias estão

enfrentando os desafios postos pela atualidade, e como elas estão encarando o

processo de transformações, sociais e a evolução legislativa quanto ao conceito de

família e os arranjos familiares. Constata-se, nesse ponto que há uma grande

ruptura entre o modelo familiar tradicional e o modelo familiar contemporâneo.

Enquanto o primeiro estava fundamentado nos laços de sangue, família biológica,

constituída pelo casal e por seus filhos residentes em um mesmo domicílio, o

segundo fundamenta-se nos vínculos sociais. Deste modo entende-se que a família

pode ser pensada sob diferentes aspectos:

Art.226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. §3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. §4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos

igualmente pelo homem e pela mulher (BRASIL, 2002, p.184-185).

Levando em conta as palavras acima, verifica-se que o modelo de família

atual não é mais apenas aquele moldado sobre a instituição do casamento, pois a

própria Constituição Federal de 1988, no Art. 226, ampliou o conceito de família,

protegendo também como entidade familiar a relação advinda da união estável

aquelas constituídas por qualquer dos pais e seus descendentes, chamada de

família monoparental. “As famílias monoparentais, geralmente são chefiadas por

mulheres, constituem um grupo cada vez mais expressivo em nossa sociedade”,

(YUNES, et al., 2007, p. 445). Esse tipo de família, geralmente, administrada pela

mulher, mãe solteira ou divorciada. É ela também que assume a guarda e educação

dos filhos, quando isso não recai para os avós.

Outro fator importante, é o conceito de infância, pois, percebeu-se que a

visão de infância sempre esteve atrelada ao contexto histórico de cada época, sendo

que existe um valor social atribuído a esta fase da vida do ser humano no decorrer

da história, ou seja, “a ideia de infância não existiu sempre e da mesma maneira”

(KRAMER, 2007, p. 14). A criança e o sentimento sobre a infância sofreram

mudanças significativas no que diz respeito a seus próprios sentidos e significados

sociais. Entre os estudos sobre uma concepção de infância como fase distinta da

vida adulta, ganha destaque o historiador francês Ariès. Ele analisa diferentes

significados atribuído à infância, em especial nos séculos XVII e XVIII. Segundo

Áries (1981), a concepção da infância enquanto uma etapa da trajetória humana não

existiu. A análise histórica do autor refere-se ao comportamento cotidiano de famílias

desde a Idade Média ocidental, nesse período, ele constatou que a criança medieval

não se distinguia do adulto.

O autor pôde observar em seus estudos, que houve progressivas mudanças

no tratamento para com as crianças, principalmente entre os séculos XVI e XIX, uma

vez que, de início elas eram tidas como um “não-ser-adulto”, dependente e

gradualmente passaram a ser observadas socialmente merecendo vestimentas

próprias, brinquedos e brincadeiras adequadas, o que levou ao reconhecimento de

que a infância é um período da vida, que necessita de cuidados e proteção. Nesse

sentido, Kramer (2007, p. 14) diz:

Ao longo do século XX, cresceu o esforço pelo conhecimento da criança, em vários campos do conhecimento. Desde que o historiador francês Philippe Ariés publicou, nos anos 1970, seu estudo sobre a história social da criança e da família, analisando o surgimento da noção de infância na sociedade moderna, sabemos que as visões de infância são construídas social e historicamente..

A partir das considerações de Ariès (1981), entende-se que os significados da

infância são construídos socialmente e as modificações ocorrem por determinações

culturais, e mudanças estruturais na sociedade. Segundo Freitas e Kuhlmann Jr.,

(2002, p. 07), "[...] podemos compreender a infância como a concepção ou a

representação que os adultos fazem sobre o período inicial da vida, ou como o

próprio período vivido pela criança, o sujeito real que vive essa fase da vida".

Nessa perspectiva, observa-se que o conceito de infância sofreu

transformações historicamente, o que se evidencia tanto na literatura pedagógica,

quanto na legislação e nos debates educacionais, em especial a partir da década de

1980 no Brasil. Os debates políticos em torno da constituição de 1988 e os estudos

de diversas áreas do conhecimento contribuíram para o questionamento da

concepção de naturalização das desigualdades sociais e educacionais, até então

predominantes, para o reconhecimento, de que as condições de desigualdade das

crianças fossem determinadas por fatores econômicos, culturais e sociais. Ficou

evidente que a elaboração das políticas públicas para a infância e adolescência no

Brasil sofre transformações constantes.

Se no passado a criança era passiva e excluída, hoje ganha espaço e tem

seus direitos garantidos. Nesse contexto, considerou-se a diversidade dos arranjos

familiares, pois não há como padronizar a forma como estas tratam a formação da

identidade / educação dos filhos. Da mesma forma, que o sentimento de infância

não é o mesmo em todos os lugares.

A família é uma mediadora entre o indivíduo e o mundo, na tradução de objetos e relações, e atribuição de valores. Essa mediação é fundamental para organizar o universo do indivíduo, e, mesmo que sua intensidade se reduza durante o crescimento, as figuras de referência sempre vão exercer o papel de apresentar algo e dar-lhe um significado inicial, que será posteriormente elaborado pelo indivíduo. Assim, é tarefa da família dar

significado à escola, à educação, com vistas às ações do indivíduo na relação com esses elementos. (BRILLINGER e SUDBRACK, 2012, p.247).

Pelas palavras acima se compreende que os arranjos familiares de uma

forma ou outra retratam a família contemporânea, e diante disso, a escola precisa ter

claro que o modelo idealizado de família: pai, mãe e seus filhos, embora exista, já

não é predominante. A partir disso, é necessário conhecer a sua realidade de forma

a caracterizar as famílias, com as quais se busca trabalhar, a fim de ajustar o que se

pretende e o que é possível atingir, considerando que os pais pouco, ou quase nada

sabem sobre o desenvolvimento cognitivo, afetivo, moral e social, ou como se dá a

aprendizagem, tendo assim, dificuldade em participar da vida escolar dos filhos.

2. A EDUCAÇÃO ESCOLAR COMO DIREITO DA CRIANÇA: APRESENTAÇÃO

DAS DETERMINANTES LEGAIS

Nesse tópico busca-se discutir sobre a educação escolar como direito da

criança e do adolescente, para isso é preciso reportar-se aos determinantes legais

da criança como sujeito de direitos. Nessa perspectiva, Szymansky (2011), nos

ajuda a entender que: “um passo importante para a construção de uma parceria

entre escola e pais é considerá-los também como educadores, que tem o que

transmitir e o que aprender”. (SZYMANSKI, 2011, p. 15). Pesquisas apontam que a

educação é uma prática social presente em diferentes espaços e momentos da

produção da vida social.

Para Saviani, na sociedade atual já não é mais possível compreender a

educação sem a escola, porque a escola é a forma principal de educação. Segundo

o autor, a escola deve se ocupar dos conteúdos científicos, o saber metódico,

elaborado e sistematizado. A escola existe para transmitir o conhecimento científico

e não o senso comum ou opiniões, “ [...] a educação é o ato de produzir, em cada

indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo

conjunto dos homens”. (SAVIANI 2003, p. 13). Ainda segundo ele a educação é

concebida como produção do saber. O ensino como parte da ação educativa é vista

como processo, no qual o professor é o "produtor" do saber e o aluno "consumidor"

do saber. A aula seria produzida pelo professor e consumida pelos alunos.

A escola tem uma função especificamente educativa, propriamente pedagógica, ligada a questão do conhecimento; é preciso, pois resgatar a importância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levando em conta o problema do saber sistematizado, a partir do qual se define a especificidade da educação escolar. (SAVIANI 2003, p. 98)

O autor diz que a partir da compreensão sobre a função da escola que é

especificamente educativa e pedagógica, torna-se necessário reorganizar o trabalho

educativo e estabelecer vínculo com as famílias para que ambas cumpram com sua

função de modo a garantir o direito à educação da criança e do adolescente.

Atualmente, muitos são os obstáculos que a escola enfrenta, entre eles

salienta-se a dificuldade que os pais encontram de acompanhar o rendimento

escolar dos filhos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de1948,

estabelece, em seu Artigo 26: "Toda pessoa tem direito à educação. A instrução

será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais". (DECLARAÇÃO

UNIVERSAL, 2013). Assim sendo, nota-se que a educação passa a ser o

instrumento para a realização de quase todos os demais direitos humanos. A

garantia do direito público subjetivo do direito a educação básica, nos termos do Art.

205 da Constituição Federal de 1988, é de responsabilidade da família, da

sociedade e do Estado. Mas, para que isso se torne real, compreende-se que a

escola deve exercer sua função educativa junto aos pais, informando, orientando

sobre diferentes assuntos, pois educação é um dos direitos humanos e está

reconhecida no art. 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL, 2013).

Pelo dito acima, verifica-se que os direitos humanos foram construídos com

base na ideia de dignidade da pessoa humana, de que todo ser humano,

independente de sua condição pessoal, deve ser igualmente reconhecido e

respeitado, não podendo ser tratado como instrumento de poucos, mas sim como

fim de toda organização social e política. “A educação, além de sua importância

como direito humano que possibilita à pessoa desenvolver-se plenamente e

continuar aprendendo ao longo da vida, é um bem público da sociedade, na medida

em que possibilita o acesso aos demais direitos” (RIZZI, 2011, p. 19). Sobre a

educação nas normas internacionais de direitos humanos, a autora faz referência

que cada país tem autonomia para definir como oferecerá à população o acesso à

educação e ao ensino.

A Constituição Federal de 1988 estabelece que crianças, incluindo nessa

categoria aquelas que possuírem até 12 anos incompletos, e adolescentes, de 12 a

18 anos, passaram a ser titulares de direitos fundamentais: Art. 227, CF.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 2002, p. 185).

O artigo esclarece que é obrigação da família, do Estado e da sociedade,

conjuntamente, assegurar os direitos relativos à educação e resguardar as crianças

e adolescentes de toda forma de violência e discriminação no âmbito escolar,

conforme consta no Art. 205 da Constituição Federal, “A educação, direito de todos

e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 2002, p. 173).

Cabe ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA, Art. 53, reforça o

que diz a constituição.

A obrigatoriedade do ensino impõe, também, aos pais e responsáveis o dever

de matricular os filhos na rede regular de ensino (ECA, art. 55), e o artigo, 129,

inciso V do ECA prevê que os pais, além da matrícula, têm o dever de acompanhar

a frequência e o aproveitamento escolar do filho, e constitui crime de abandono

intelectual, punido com detenção de 15 dias a um mês, ou multa,deixar, sem justa

causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar (BRASIL, 1940)

Portanto, o simples fato de colocar o filho na escola não garante que os pais

estarão cumprindo com seus deveres, é necessário sim, garantir a permanência,

acompanhar o desenvolvimento e participar da vida escolar, mostrando-se

interessados pelos estudos dos filhos. Com a criação do Estatuto da Criança e do

Adolescente, estes passaram oficialmente a ser respeitados pela lei como sujeitos

de direitos. Porém, Para cumprir as diretrizes estabelecidas no artigo 227 da

Constituição Brasileira de 1988, foi criado o Conselho Tutelar – órgão permanente e

autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento

dos direitos das crianças e dos adolescentes, em seu artigo 131 da Lei Federal nº.

8.069, de 13 de julho de 1990.

Assim sendo, a finalidade do Conselho Tutelar é zelar,para que as crianças e

adolescentes tenham acesso efetivo aos seus direitos. Ao direito de cada criança e

adolescente, corresponderá um dever da família, da sociedade e do Poder Público,

que deverão ser fiscalizados pelo Conselho Tutelar.

O Artigo 136 da Lei nº. 8.069/90 – ECA estabelece as Atribuições do

Conselho Tutelar: “I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas

nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e

aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a

VII”. (BRASIL, 2006, p. 42 - 43). O Artigo 129 do ECA, trata das Medidas Pertinentes

aos Pais ou Responsável:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado; VII - advertência; VIII - perda da guarda; IX - destituição da tutela;X - suspensão ou destituição do pátrio poder. (BRASIL, 2006, p.41)

Sabe-se, porém que embora a legislação seja ampla, no que se refere à

inclusão familiar no contexto escolar, e os pais estejam mais conscientes da

importância de estarem mais próximos da vida escolar dos filhos, a legislação ainda

não têm sido suficiente para suprir as dificuldades encontradas na escola e garantir

os direitos à educação das crianças e adolescentes. Pois os desafios enfrentados

pelos professores não tem sua origem apenas no contexto escolar, mas também no

contexto familiar e social. Por isso procurou-se conhecer a realidade concreta das

famílias por meio da pesquisa, sobre a função especifica das instituições escola e

família e propor ações para a aproximação entre ambas, em parceria com o

Conselho Tutelar. Nesse sentido, Cury (2012), ressalta a importância da parceria

entre escola e Conselho Tutelar,

[...] a participação do Conselho Tutelar junto ao sistema educacional significa igualdade de oportunidades que possibilitam transformações sociais, concretizadas na adoção de novos comportamentos e valores, na reorganização da sociedade, no pleno desenvolvimento humano e na perspectiva de mudança do presente e do futuro. (CURY, 2012, p. 7).

Pelo visto, compreende-se que a escola não funciona isolada, é preciso que

cada um, dentro da sua função, trabalhe buscando atingir uma construção coletiva.

Paro, quando se refere a participação da comunidade na escola, aponta que:

“Não basta , entretanto, ter presente a necessidade de participação da população na

escola. É preciso verificar em que condições essa participação pode tornar-se

realidade”. (PARO, 2000, p. 40). Ainda conforme o autor, a participação democrática

não acontece espontaneamente, é um processo histórico de construção coletiva,

portanto, é preciso proporcionar mecanismos institucionais que incentivem práticas

participativas dentro da escola.

De outro modo, diante de tantas mudanças nos arranjos familiares, percebe-

se a necessidade da escola atualizar-se no que diz respeito a família “vivida”,

conforme Szymanski (2011, p. 62), “A família vivida refere-se aos modos de agir

habituais dos membros de uma família. É o que aparece no agir concreto do

cotidiano e que poderá ou não estar de acordo com a família pensada”.

Nesse sentido, percebe-se que a escola, além de cumprir com sua função,

também deve buscar e oferecer estratégias que promovam o vínculo com as famílias

para que estas se sintam parte do processo.

3. ESCOLA, FAMÍLIA E CONSELHO TUTELAR: MEDIAÇÕES POSSÍVEIS.

Pelos estudos realizados observou-se que, pelo fato de uma grande maioria

dos pais trabalharem fora, não conseguem dar atendimento às necessidades

afetivas e escolares dos filhos, isso deixa uma lacuna em suas vidas, porém, vale

ressaltar, que isso não se refere à inversão de papéis entre família-escola, ou seja, o

ensino de conteúdos, conhecimentos científicos, é tarefa da escola-professor, mas

apoio, acompanhamento, imposição de limites e responsabilidade para com a

aprendizagem e frequência na escola, é tarefa dos pais.

Infelizmente, o cotidiano escolar mostra que poucos pais fazem este tipo de

acompanhamento por vontade própria, a maioria acaba fazendo por intervenção e

cobrança da escola e outros órgãos externos da família, como o Conselho Tutelar.

Cabe enfatizar que, na atualidade, a ausência dos pais não é só na escola, mas

também em casa. Logo, quem acaba assumindo essa função, geralmente são os

avôs, tios, empregados ou outros. Diante disso, percebe-se que a escola está sendo

um referencial importante de educação para a criança.

O papel do conselho tutelar

O envolvimento do conselho tutelar na presente pesquisa ocorreu com a

finalidade de se conhecer as ações que esse órgão desenvolve com as famílias e

alunos, para posteriormente elaborar e desenvolver propostas que visem possibilitar

aproximação e participação positiva dessa entidade na vida escolar dos filhos-

alunos.

Pelo resultado dos questionamentos realizados com os conselheiros,

constatou-se que o tipo de negligência mais comum por parte das famílias é não ter

tempo, ou não achar tempo, para acompanhar a vida escolar do filho, logo, a falta

de comunicação com a escola acontece e prejudica a vida do aluno. Já em relação

às ações, que os membros do conselho desenvolvem nas escolas, quando

convidados, constituem-se, apenas, em participar de reuniões com professores e

pais, proferindo palestras conforme a solicitação da escola. Quanto ao trabalho com

as famílias, se restringe a dar informação e orientação sobre as consequências da

negligência, encaminhamento para Medidas de Proteção com a Equipe

Multidisciplinar no CREAS3 e orientações e encaminhamentos a Rede de Proteção.

Os conselheiros afirmam ter um bom relacionamento com a escola, e ressaltam a

importância da parceria entre as instituições de ensino e o Conselho Tutelar.

O que pensam os pais

3 Centro de Referência Especializado de Assistência Social. O Creas é a unidade pública de

abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos

e famílias que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou

contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial. Art. 6º- C, §

1º. (BRASIL, 1993, p. 4)

Para conhecer a concepção dos pais a respeito da escola, e promover sua

participação no processo educativo, as atividades foram organizadas em dois

momentos. O primeiro, por meio de pesquisa e como instrumento utilizou-se o

questionário, aplicado aos pais/responsáveis de alunos do 6º e 7º ano. Foram

distribuídos noventa e seis questionários, mas somente quarenta e nove

responderam. O segundo momento foi na implementação do projeto de intervenção

na escola, encontros a partir de grupos de estudos com pais, professores, direção,

equipe pedagógica e conselheiros tutelares.

A pesquisa mostrou que os pais dos alunos menores, são mais participativos,

Esses dados confirmam as hipóteses levantadas que geralmente quando a criança

inicia a vida escolar, educação infantil até ensino fundamental, 6º ano, os pais

frequentam mais a escola. Nesse sentido Fraiman, (1997), faz a seguinte afirmação:

No começo do processo educativo, quando a criança ainda é pequena, o interesse pelo novo desperta uma aproximação natural. Não existem notas ainda e vir à escola é gostoso, além de ser uma oportunidade de conseguir uma orientação para as ansiedades desses mesmos pais-recentes. (FRAIMAN, 1997, p. 27).

O exposto acima reafirma o que foi dito a respeito da participação dos pais,

inclusive a maior frequência das mães, verificou-se ainda que destas, 74%

trabalham fora, e delegam os cuidados dos filhos a outras pessoas. Verificou-se

também que a profissão dos pesquisados é bastante diversificada, a renda mensal

média é de um salário mínimo e menos de 5% possui o ensino médio.

Cabe destacar, que os resultados respondem muitos dos questionamentos no

que diz respeito aos alunos que faltam às aulas, não fazem as tarefas de casa, não

estudam para as avaliações, demonstram atitudes negativas com o estudo.

Constatou-se que número de pais que “às vezes ou nunca”, acompanha o

rendimento trimestral de seus filhos, é significativo e preocupante, atingindo 61%

dos entrevistados. Ao considerar que o processo de mediação para um

relacionamento significativo escola e família, esse deveria ter como ponto de partida

a própria escola.

Já na questão que investiga, em que momento os pais vão à escola, dois

aspectos merecem destaque: primeiro, 33% dos pesquisados dizem que vão à

escola somente quando há reunião, nesse ponto percebeu-se a necessidade de

uma reorganização da escola, quanto ao número de reuniões que são realizadas no

ano letivo. Segundo, 36% disseram que vão à escola somente quando são

convocados, esse é outro assunto que deve ser revisto pela equipe pedagógica.

Terceiro item, somente 20% dos pais conhecem todos os professores, os demais

responderam “não conheço e conheço alguns”, verifica-se que esse aspecto oferece

interpretações: a primeira, que os pais não vêm a escola a não ser quando

convocados, e não participam de reuniões. Por último que, quando os pais

comparecem as reuniões, nem todos os professores estão presentes, isso dificulta

o relacionamento entre pais e educadores.

Na questão que discorre sobre a disponibilidade dos pais para

acompanhamento do cotidiano escolar dos filhos, constatou-se que podem ser vistas

como um aspecto positivo, pois 50% dos pais disponibilizam uma hora por dia para

acompanhar as atividades escolares. Já os pais que não responderam,

supostamente, revelaram não ter assumido compromisso com a escola e

aprendizagem do filho, e/ou talvez possam se encaixar no grupo dos que

responderam não ter tempo.

Pelas respostas apresentadas, o relacionamento /interação da escola com as

famílias é bom, no entanto, sugerem que a escola desenvolva mais atividades,

envolvendo as famílias e alunos. Ao se analisar quantitativamente o conceito ”bom”,

verifica-se que é estar na média, e nesse sentido, constata-se que há necessidade

da escola reavaliar sua forma de interação. E como se pode observar

nas sugestões, os pais expressam o desejo de um maior contato com a escola, e

deixam claro que desejariam sentir-se parte da mesma. Há também aqueles que

revelam o que gostariam que a escola fizesse por seus filhos, pois se consideram

incapazes de lidar com situações de conflitos e depositam confiança na escola.

Nesse aspecto percebe-se que não é uma ”transferência” de função, mas dizem

isso, porque acreditam que a escola tem mais informações para pode atender as

necessidades dos alunos.

Outro item a destacar é que 59% das famílias não têm conhecimento da

função do Conselho Tutelar, porém, demonstram interesse em conhecer, percebeu-

se que há necessidade desse órgão desenvolver um trabalho junto a estas, no

sentido de esclarecer suas atribuições, no que diz respeito ao atendimento as

crianças e adolescentes, bem como repensar sua atuação junto a escola, de modo

a firmar parcerias que sirvam para garantir que os direitos e deveres dos alunos

sejam cumpridos e garantidos .

Na questão que investiga o trabalho do Conselho Tutelar, notou-se que

apesar de 42% dos pais considerar bom, o trabalho exercido pelos conselheiros,

ainda é a insatisfatório, 22% delas dizem ser bom em partes, afirmam que o trabalho

depende da dedicação e empenho do conselheiro. Constatou-se que esse é um

aspecto importante na análise da pesquisa, pois da mesma forma que a escola,

professores e Conselho Tutelar, igualmente demonstram insatisfação quanto à falta

de comprometimento e ausência dos pais na escola, estes também apontam

aspectos que gostariam que fossem melhorados.

Nesse sentido, fica evidente que, tanto a escola como o Conselho Tutelar

devem promover encontros, reuniões com as famílias e desenvolver um trabalho de

informação sobre a real função dos conselheiros, bem como do Estatuto da Criança

e do Adolescente – ECA, em que somente 24% das famílias disseram que

conhecem o básico.

As sugestões de temas a serem desenvolvidos pela escola são interessantes,

evidenciando a necessidade de orientação e formação quanto a aspectos relevantes

na educação dos filhos. Reforçam que a escola promova palestras para pais e filhos

juntos, principalmente em relação ao comportamento dos jovens e adolescentes na

atualidade.

Após análise quantitativa e qualitativa dos dados, observou-se que as famílias

não estão alheias aos problemas educacionais, somente, na maioria das vezes, não

sabem como lidar com eles.

O que dizem os professores

A pesquisa com professores teve como objetivo conhecer a concepção que

estes têm das famílias em relação ao acompanhamento da vida escolar do

filho/aluno. Foram entregues vinte e três questionários e houve retorno de doze. Na

questão que investiga os possíveis fatores para a falta de comprometimento dos

alunos em relação aos estudos, os professores fazem os seguintes apontamentos:

desestruturação das famílias, banalização da educação, desinteresse, falta de

apoio-acompanhamento e cobrança dos pais nas tarefas, uso da excessivo da

internet e redes sociais.

Em relação aos problemas apresentados pelos alunos de 6º e 7º ano, na as

maiores dificuldades estão relacionadas a interpretação de texto, ortografia,

defasagem de conteúdos e falta de concentração. Já em relação ao comportamento,

as principais queixas são a falta de limite, desrespeito com o professor, não ter

hábito de estudar e de fazer as tarefas diárias, pais ausentes em casa e na escola, e

na maioria das vezes não sabendo orientar seus filhos. 50% dos professores

avaliam a participação das famílias em relação ao desempenho dos alunos como

insatisfatória, principalmente dos problemáticos. Segundo eles há desinteresse, falta

de comprometimento, transferência de obrigações e deveres. 33% apontam que a

participação da família na escola é fundamental, porém, nem sempre é feita por

todos. Entretanto, 17% dizem que o descomprometimento e o descaso de alguns

alunos com os trabalhos escolares ocorre porque os alunos não são incentivados

pela família para valorizar o estudo. A fala dos professores expressa, o desejo de

que escola e a família serem parceiras na aprendizagem e educação.

Ao serem questionados sobre as ações que consideram necessárias para

estabelecer vínculo com as famílias, os professores sugeriram temas como: reuniões

mais frequentes, conversas individuais, projetos que envolvam pais e filhos na

escola.

Para os professores a ausência dos pais na escola se deve pela falta de

interesse e informação, falta de tempo por questões de trabalho. Nota-se, portanto,

que a atitude da família em relação desempenho escolar influencia as crianças e

adolescentes, independente de sua classe social. Em entrevista ao Jornal A Tribuna,

Tânia Zagury fala sobre os desafios dos pais.

Um outro desafio importante dos pais, é exatamente arranjar tempo para viver junto com o filho, mesmo que trabalhe fora.Não precisa ser o dia todo, hoje as mulheres conseguiram um espaço muito importante no mercado de trabalho, mas isso não impede que diariamente tenha pelo menos uma hora ou duas com o filho para dizer o que ele fez, como foi o seu dia, sem que torne isso uma entrevista ou interrogatório. (ZAGURY, 2010, p. 18)

As palavras acima complementam a ideia das respostas dadas pelos

professores. Eles também retomam e reafirmam o trabalho dos conselheiros

tutelares junto à escola, dizem que é necessário essa parceria, desde que bem

interpretada e encaminhada.

Percebeu-se que 83% dos entrevistados se dizem conhecedores básicos do

Estatuto da Criança e do Adolescente, e consideram importante o trabalho do

Conselho Tutelar, porém acredita-se ser necessário a participação desse órgão

junto à escola. Outro apontamento que acreditam eles ser fundamental é o

acompanhamento do conselho tutelar em relação às famílias, cujos alunos são

encaminhados com a ficha “FICA4”.

Para concluir as considerações expostas o professor Juca Gil, faz uma

importante reflexão em relação ao conhecimento do ECA, por parte dos profissionais

da educação, para ele:

[...] a falta de conhecimento do ECA ainda é uma realidade. Poucos gestores educacionais dominam seus conteúdos. A maioria tem apenas impressões genéricas, construídas em situações complicadas - como a exigência de matrícula, as constantes faltas de um aluno, a família que nunca comparece à escola, o estudante muito indisciplinado ou a presença de drogas na escola. (GIL, 2010).

A citação confirma os dados da pesquisa, sendo que 17% dos pesquisados

disseram não ter conhecimento do ECA, acredita-se ser este um ponto negativo

para o professor, o qual muitas vezes age erroneamente por falta de conhecimento,

pode-se dizer até de postura, diante situações cotidianas em relação ao

comportamento do aluno em sala de aula.

4. OFICINAS NA ESCOLA MOMENTO DE REFLEXÃO

Neste espaço, serão expostos os dados apresentados pelas reflexões

realizadas acerca da análise da pesquisa com pais e responsáveis, professores e

conselho tutelar, bem como as atividades propostas na Produção Didático

Pedagógica, desenvolvidas nas oficinas. Destaca-se também, que tais discussões

serviram para que fossem repensadas e elaboradas ações a serem efetivadas pela

comunidade escolar, com o objetivo de aproximação das instituições básicas, no

caso escola-família.

Essa atividade possibilitou uma reflexão do grupo sobre as situações

vivenciada em sala de aula principalmente pela questão dos alunos não terem

interesse pelos estudos, pelas atividades desenvolvidas em sala de aula e em casa,

a falta de limites, o confronto do dia a dia professor/aluno, bem como uma análise da

realidade das famílias.

4 FICA (Ficha de Comunicação do Aluno Ausente). Tal instrumento teve e tem como objetivo

acompanhar os casos de evasão de todos os alunos a partir do momento em que apresentem ausência de 5 dias consecutivos e 7 dias alternados. (PARANÁ, 2009, p. 6)

Algumas implementações manifestaram-se positivas de imediato, já outras,

entende-se que demandam articulações com o coletivo, de tempo e de muita

persistência. Nesse sentido, percebe-se que direção e equipe pedagógica devem

repensar a maneira de como as ações são desenvolvidas. Constatou-se que a

função da escola é buscar parceria, aproximação dos pais e comunidade, porém

antes, isso deve acontecer dentro da própria instituição, onde trabalho coletivo

precisa ser permanente, para que os resultados sejam satisfatórios.

Pode-se concluir, dizendo que o tema proporcionou momentos essenciais de

estudo e reflexão, pois a análise dos dados revelou a realidade das famílias,

infelizmente ainda é desconhecida pela a escola. Após os debates observou-se

uma mudança significativa em relação a visão de quem participou dos encontros, no

tocante aos alunos, e consequentemente ao compromisso com eles e suas famílias.

Os dados apresentados, e as questões para discussão, foram consideradas

pelo grupo relevantes para a organização do trabalho educativo na escola. Com

isso foi possível compreender alguns motivos, pelos quais tantos alunos não fazem

tarefas, não se organizam e fracassam. Salienta-se que essa comparação foi

importante para que o grupo pudesse amadurecer e perceber que não existe o

modelo ideal de aluno, e que assim sendo é preciso se preparar, para trabalhar com

o aluno real e suas limitações.

Ressalta-se ainda que a análise dos dados - pesquisa com pais, professores

e Conselho Tutelar proporcionou para que o grupo pudesse repensar ações

possíveis na escola, como: Fortalecer as instâncias colegiadas dentro da escola;

Conhecer a realidade dos alunos - família, pois atualmente, as modificações nos

arranjos familiares exige que se mude a forma de conceber o aluno e sua família.

Assim sendo, constatou-se que é extremamente importante que haja nas escolas a

formação de grupos de estudos para os pais, Conselho Tutelar – que se desenvolva

trabalhos de orientação com as famílias e alunos e informações sobre o ECA. Em

relação ao acompanhamento dos pais, Di Santo (2008, p. 14), aponta que:

É preciso ter clareza do que cabe a cada uma das instituições. A escola precisa compreender que a família mudou e vice-versa. Há que se abrir espaços de formação aos pais e aos educadores, ora em conjunto, ora para cada grupo, com análise de filmes, estudos de casos reais, diálogos com profissionais que possam colaborar, não apenas para a solução de problemas, mas com o crescimento de todos os envolvidos.

Pelo exposto acima, acredita-se que para os professores o caminho inicial

para essa aproximação entre a escola e comunidade, é o conhecimento da própria

comunidade por parte da escola. Pois, conhecer a realidade dos alunos - família e

propor formação de grupos de estudos, com a proposta de situações-atividades

possibilitando a parceria e melhorando o relacionamento família-escola.

Pode-se dizer que no início dos encontros com familiares, o número de

participantes foi inferior ao esperado, porém, a cada encontro ia aumentando. A

presença de familiares de alunos do 6º ano foi superior aos de 7º ano, assim como

a participação das mães em relação aos pais. Porém, aqueles que participaram nas

rodas de estudos a discussão foi importante, pois os pais puderam perceber o

quanto a família é imprescindível na parceria com a escola para a formação de seus

filhos. Ficou claro para as famílias e para os profissionais da escola que cada um

deve cumprir seu papel.

Ressalta-se que a relação entre a escola e a família é indispensável ao

progresso da criança em todos os níveis do seu crescimento.

Nessa direção Heloisa Szymanski, ressalta que:

O movimento para aproximação das famílias deve ser da escola. As famílias principalmente das classes trabalhadoras, não conseguem vencer essas barreiras mais fortes e mais sutis, porque também são egressas da escola, porque também sofreram humilhação, primeiro como alunos, depois como pais. (SZYMANSKI, 2009)

Nessa mesma linha de pensamento, Polônia e Dessen (2005, p. 306), fazem

a seguinte afirmação:

os pais de baixo nível socioeconômico têm dificuldades ou se sentem inseguros ao participarem do currículo escolar. Os conflitos e limitações na sua participação podem ser produtos de sua imagem negativa como pais, de sua própria experiência escolar ou de um sentimento de inadequação em relação à aprendizagem.

Assim sendo, verifica-se que as citações acima, contribuíram para que os

professores participantes do Grupo de Estudos – Implementação do Projeto de

Intervenção na escola, pudessem se conscientizar, ainda mais, sobre a relevância

de se propor parcerias em prol da qualidade de ensino.

Nessa perspectiva, pode-se dizer que a contribuição dos professores foi

relevante no sentido de entender o quanto a escola precisa rever suas ações de

forma a proporcionar às famílias momentos de orientação e estudos, mediados por

assuntos de caráter formativo e de valorização. Outro aspecto que merece destaque

diz respeito a possibilidade de conhecer a realidade concreta dos alunos e sua

família, situações também discutidas no grupo de estudo com os professores na

análise dos gráficos da pesquisa com as famílias. Os dados acima são confirmados

por Castro e Regattieri, (2009), quando dizem que:

Quando a escola melhora seu conhecimento e compreensão sobre os alunos, sua capacidade de comunicação e adequação das estratégias didáticas aumenta e, em conseqüência, aumenta as chances de um trabalho escolar bem sucedido. (CASTRO e REGATTIERI, 2009, p. 7)

Assim, evidenciou-se que interação escola-família é necessária, para que

ambas conheçam suas realidades, suas limitações e busquem caminhos que e

facilitem o diálogo entre si, para o sucesso do filho-aluno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar as atividades propostas compreende-se que teoria e prática se

completam e são extremamente importantes para garantir o êxito das ações

planejadas. A partir da literatura e com base na pesquisa constatou-se que com

todas as modificações nos arranjos familiares, reforçam a ideia de que a escola

enquanto instituição formadora precisa mudar a forma de pensar e conceber o

aluno e sua família, e entendendo que sua função, vai além do repasse de

conhecimentos.

Portanto, o desenvolvimento deste trabalho possibilitou reconhecer a

importância e a necessidade de um maior aprofundamento e conhecimento por parte

da comunidade escolar, no que se refere a realidade concreta do aluno, e seu

contexto familiar. Com o desenvolvimento de cada etapa da implementação do

projeto de intervenção percebeu-se o quanto é necessário que todos os envolvidos

nesse processo tenham momentos para dialogar sobre os problemas enfrentados e

juntos proporem ações. A aliança formada entre as três entidades, escola, conselho

tutelar e família é muito importante para que se avance no processo educativo. A

formação constante de grupos de estudos para as famílias foi uma das ações mais

discutidas. Para tanto, é imprescindível que cada um faça a sua parte.

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