os desafios da escola pÚblica paranaense … o rumor da língua, encontramos uma passagem bastante...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

DIÁLOGO COM AS FÁBULAS:

UMA PERSPECTIVA PARA A APRENDIZAGEM DA LEITURA

Roseméri Fernandes Ferreira

Bruno B. A. Dallari

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo desenvolver o processo de ensino e aprendizagem de leitura, tendo o gênero textual fábula como gerador de processos de aquisição e fixação de conhecimentos, no 6º ano do ensino fundamental. Justifica-se a realização do presente projeto de intervenção na escola pela percepção das dificuldades encontradas em sala de aula pelos professores de Língua Portuguesa, bem como pela constante queixa dos professores das demais disciplinas sobre o fato de que os alunos não leem. O recorte foi feito em relação ao 6º ano do Ensino Fundamental. O projeto propõe como objeto de pesquisa um texto acessível e instigante para a faixa etária correspondente, mas que tenha o condão de romper naturalmente a resistência oferecida por esses alunos. Um texto assim é a fábula, pelo poder de síntese, pelo imaginário coletivo e, por que não dizer, mitológico; mas também pelos valores éticos abrangentes que congrega. Por valer-se de informações prospectadas em materiais já produzidos sobre o assunto, este estudo se constitui em uma Revisão Bibliográfica, além disso, caracteriza-se como pesquisa descritiva. Os resultados dão conta que foi possível alcançar os objetivos preconizados no projeto: incentivou-se nos alunos o gosto pela leitura; os alunos compreenderam a importância da leitura como meio de interação e participação social e envolveram-se em práticas de letramento e leitura conscientes e refletidas, capazes de construir hipóteses, de fazer inferências, de recorrer a conhecimentos prévios, de exteriorizar juízos valorativos; e, por fim, contribuiu-se para os processos de aquisição e fixação de conhecimentos no ensino fundamental. Palavras-chave: Ensino. Aprendizagem. Leitura. Fábulas.

1 INTRODUÇÃO

Considerando que a leitura é fundamental para o desenvolvimento do ser

humano e constatado que os alunos em geral não trazem de casa o gosto pela

leitura, visto que seus pais também não adquiriram tal hábito, a escola tem a

obrigação de proporcionar a seus alunos o acesso à leitura e ao mundo letrado.

Esse acesso, contudo, não significa apenas disponibilizar livros na biblioteca, mas

trazê-los para a sala de aula e ali dar-lhes vida, fazendo com que sua vibração

envolva os alunos, vibração essa que, no caso das fábulas, atravessou séculos,

prova máxima de sua força. Sendo assim, este projeto envolvendo fábulas pode

representar decisivamente o despertar do interesse pela leitura, pois possibilita a

utilização da escrita em vários contextos e a inserção da criança no mundo do saber,

e assim, no mundo letrado.

Diante deste contexto, é possível, neste processo de aprendizagem, ampliar

as possibilidades dos alunos quanto à leitura e à escrita, considerando que as

fábulas são composições literárias em que os personagens são geralmente animais

que apresentam características humanas, tais como, dentre outras, fala e costumes.

Neste sentido, funcionam como arquétipos, mitos de natureza simbólica e sintética

que proporcionam distração, mas, concomitantemente, levam à reflexão. Estas

histórias são geralmente feitas para crianças ou para um público amplo, mas que

também envolve as crianças, e invariavelmente terminam com um ensinamento

moral de caráter instrutivo. Eis o porquê de serem ideais para serem trabalhadas na

escola de forma lúdica e prazerosa, que enseja um encaminhamento metodológico

que privilegie leituras e releituras, consentindo um diálogo com o narrador, o que

facilita o trabalho nas escolas.

O gênero textual fábula propicia o desenvolvimento de uma atitude crítica,

porque leva o aluno a pensar, refletir, comentar, trocar opiniões, posicionar-se,

enfim, exercer desde cedo a cidadania, por isso terá uma boa recepção por parte do

mesmo. Assim, percebe-se a importância deste gênero na formação escolar, pois

que possibilita desenvolver no aluno a habilidade e o interesse em produzir textos,

favorecendo o desenvolvimento criativo dos alunos por meio de diferentes

expressões, tais como: desenhos, contação de histórias, produções de textos e

dramatizações, propiciando reflexão e análise de aspectos da língua e da

linguagem, reconhecendo que os mesmos elementos de uma palavra falada ou

escrita podem ter significados diferentes, a depender do contexto em que estão

inseridos, valorizando os conhecimentos prévios do aluno, encorajando-o e

capacitando-o a expressar ideias, sentimentos e opiniões.

A fábula pode eventualmente ser trabalhada em outras faixas etárias,

especialmente se considerarmos as fábulas antigas, como as de Esopo, o que

permitiria um eventual desdobramento futuro do projeto. Mesmo assim, cabe

ressaltar, no presente projeto trabalhou-se com fábulas de Esopo, Monteiro Lobato e

La Fontaine.

A proposta de trabalho com fábulas representa um recurso significativo para

estimular os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental a entrarem em contato com a

leitura e a escrita nas fábulas selecionadas, e assim trabalhá-las numa perspectiva

interacionista e dialógica.

O objetivo do projeto de intervenção na escola concentra-se em desenvolver

o processo de ensino e aprendizagem de leitura, tendo o gênero textual fábula como

gerador de processos de aquisição e fixação de conhecimentos, no 6º ano do ensino

fundamental.

Justifica-se a sua realização pela percepção das dificuldades encontradas em

sala de aula pelos professores de Língua Portuguesa, bem como pela constante

queixa dos professores das demais disciplinas sobre o fato de que os alunos não

leem.

Assim, pode-se formular a pergunta norteadora deste estudo: Como despertar

no aluno o gosto pela leitura?

2 A FÁBULA NUMA ABORDAGEM DIALÓGICA

Neste projeto, o aluno teve a oportunidade de desenvolver as habilidades de

leitura: fazendo inferências e levando em consideração o conhecimento prévio que

tinha sobre o assunto.

Para Barthes (1988), a prática da leitura seria o momento em que o leitor

dialoga com o texto, buscando inferências em leituras já praticadas. Em O rumor da

Língua, encontramos uma passagem bastante elucidativa neste sentido:

Nunca lhe aconteceu, ao ler um livro, interromper a leitura, não por desinteresse, mas ao contrário, por afluxo de ideias, excitações, associações? Numa palavra, nunca lhe aconteceu ter levantado a cabeça? É essa leitura, ao mesmo tempo irrespeitosa, pois que corta o texto, e apaixonada, pois a ele volta e dele se nutre, que tentei escrever. (BARTHES, 1988, p. 40).

Para Bakhtin (2003, p. 106) “a leitura é um encontro de dois textos, aquele

que está sendo lido e aquele que o leitor elabora à medida que lê”. Nesta citação de

Bakhtin, há uma enorme convergência com o pensamento de Barthes exposto

acima.

Bakhtin aborda outro importante aspecto da leitura, relativo à compreensão

dos textos, e que no caso específico deste projeto de leituras de fábulas pode ser

profícua fonte de análise. Essa atenção para o contexto, histórico e político, por

exemplo, pode revelar leituras diversas e talvez menos ingênuas.

O sentido da palavra é totalmente determinado por seu contexto. De fato, há tantas significações possíveis quanto contextos possíveis. No entanto, nem por isso deixa de ser una. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida. (BAKHTIN, 1997, p. 95).

Os discursos são reproduzidos como vozes incorporadas. A fábula, por

trabalhar com arquétipos, personificações das diversas qualidades humanas, não

tem discurso novo, mas, ao contrário, mais que outros textos, vai valer-se do lugar-

comum, da alteridade.

Nossos enunciados emergem – como respostas ativas que são no diálogo social – da multidão de vozes interiorizadas. Eles são, assim, heterogêneos. Desse ponto de vista, nossos enunciados são sempre discurso citado, embora nem sempre percebido como tal, já que são tantas as vozes incorporadas que muitas delas são ativas em nós sem que percebamos sua alteridade (na figura Bakhtiniana, são palavras que perderam as aspas). (FARACO, 2009, p.85).

Essas vozes, contudo, nem sempre são confluentes, antes ao contrário. Fiorin

(2008, p. 25), aponta para o fato de que “[...] os enunciados são sempre o espaço de

luta entre vozes sociais, o que significa que são inevitavelmente o lugar de

contradição”. Disto segue-se que as vozes incorporam outras do seu segmento

social, mas antagonizam as de outros segmentos.

A fábula é um gênero discursivo constituído por narrativas curtas que se

relacionam com o cotidiano, possibilitando a interação dos alunos com o texto

escrito, na medida em que os mesmos se posicionam quanto à sua moral, levando o

leitor a uma reflexão. Segundo Dallari (2010, p. 120), “quanto mais intensa a

interação em torno de um tema, ou de uma peça de mídia (um texto no sentido geral

do termo), maior a sua realidade no espaço público”.

A leitura é, antes de tudo, um diálogo. Um diálogo entre o autor e o leitor, é

um diálogo do leitor com as próprias experiências suscitadas pela leitura, como

aponta Barthes (1988, p. 40). Um diálogo com o próprio “afluxo de ideias,

excitações, associações”, propostos pelo texto. Esse dialogismo, por assim dizer,

nutre o texto que nos pomos a ler.

A palavra diálogo deve ser compreendida num sentido mais amplo, como toda a comunicação verbal, de qualquer tipo que seja, nesse sentido: Para haver relações dialógicas, é preciso que qualquer material linguístico (ou de qualquer outra materialidade semiótica) tenha entrado na esfera do discurso, tenha sido transformada num enunciado, tenha fixado a posição de um sujeito social. Só assim é possível responder (em sentido amplo e não apenas empírico do termo), isto é, fazer réplicas ao dito, confrontar posições, dar acolhida fervorosa à palavra do outro, confirmá-la ou rejeitá-la, buscar-lhe um sentido profundo, ampliá-la. Em suma, estabelecer com a palavra de outrem relações de sentido de determinada espécie, isto é, relações que geram significação responsivamente a partir do encontro de posições avaliativas. (FARACO, 2009, p. 66).

Outro aspecto a ser trabalhado teoricamente na leitura é o conceito de mito

que Barthes propõe em Mitologias. Claro está que se ele julga que tudo pode ser

mito, a fábula, por ser um gênero literário que proveio do conto popular, composta

por narrativas alegóricas em prosa ou verso, mais que qualquer outro texto, poderá

neste sentido ser explorado.

[...] o mito é um sistema de comunicação, uma mensagem... ele é um modo de significação, uma forma... o mito é uma fala, tudo pode constituir um mito, desde que seja suscetível de ser julgado por um discurso. [...] O mito não se define pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como a profere: o mito tem limites formais, mas não substanciais. Logo, tudo pode ser mito? Sim, julgo que sim. (BARTHES, 2007, p. 199-200).

O impulso inicial desse projeto foi, como dito anteriormente, a intenção de

desenvolver a leitura e o gosto pela leitura, bem como introduzir o aluno no mundo

letrado. A razão para isso parece evidente, mas Gnerre, em Linguagem, escrita e

poder, a elabora de uma maneira bastante sintética e assertiva:

[…] segundo princípios democráticos nenhuma discriminação dos indivíduos tem razão de ser, com base em critérios de raça, religião, credo político, a única brecha deixada aberta para a discriminação é aquela que se baseia nos critérios da linguagem e da educação. (GNERRE, 2009, p. 25).

Por isso, importa trabalhar a fábula dando aos alunos a liberdade de criação,

ao mesmo tempo que não se pode lhes negar o acesso ao mundo letrado, da

variante culta da língua, não se pode tolher outras possibilidades, inclusive a de

propor, por exemplo, a adaptação para o texto em versos, histórias em quadrinhos,

fazer ilustrações, outros. Conforme ressalta Magda Soares:

Um ensino da língua materna comprometido com a luta contra as desigualdades sociais e econômicas reconhece, no quadro dessas relações entre a escola e a sociedade, o direito que têm as camadas populares de apropriar-se do dialeto de prestígio, e fixa-se como objetivo levar os alunos pertencentes a essas camadas a dominá-lo, não para que se adaptem à uma sociedade que divide e discrimina, mas para que adquiram um instrumento fundamental para a participação política e a luta contra as desigualdades sociais. (SOARES, 1986, p. 78).

As inferências construídas são resultado da integração dos conhecimentos

prévios do leitor. Portanto, a fábula, por sua linguagem simples, narrativa curta, e

elementos comuns referentes ao cotidiano das pessoas, enseja um diálogo com o

narrador, produzindo novos significados, estimulando no aluno a capacidade de

criação, de reflexão, de participação e de ação.

3 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

O presente projeto foi implementado no período de fevereiro a abril de 2014,

no Colégio Estadual Eurides Brandão, para o 6º ano do Ensino Fundamental, do

período vespertino, que conta com aproximadamente 26 (vinte e seis) alunos.

Com o objetivo de melhorar a qualidade de ensino, buscou-se desenvolver as

estratégias de leitura contemplando a proposta apresentada por Solé (1988),

considerando o antes, o durante e o depois da leitura. As estratégias fundamentais

utilizadas foram:

• Antes da leitura:

- Antecipação do tema ou ideia principal a partir de elementos paratextuais,

como título, subtítulo, do exame de imagens, de saliências gráficas, outros;

- Levantamento do conhecimento prévio sobre o assunto;

- Expectativas em função do suporte;

- Expectativas em função da formatação do gênero;

- Expectativas em função do autor ou instituição responsável pela publicação.

• Durante a leitura:

- Confirmação, rejeição ou retificação das antecipações ou expectativas

criadas antes da leitura;

- Localização ou construção do tema ou ideia principal;

- Esclarecimentos de palavras desconhecidas a partir da inferência ou

consulta ao dicionário;

- Formulação de conclusões implícitas no texto, com base em outras leituras;

- Experiências de vida, crenças, valores;

- Formulação de hipóteses a respeito da sequência do enredo;

- Busca de informações complementares;

- Construção do sentido global do texto;

- Relação de novas informações ao conhecimento prévio;

- Identificação de referências a outros textos.

• Depois da leitura:

- Utilização do registro escrito para melhor compreensão;

- Troca de impressões a respeito do texto lido;

- Relação de informações para tirar conclusões;

- Avaliação das informações ou opiniões emitidas no texto;

- Avaliação crítica do texto.

Essas estratégias foram desenvolvidas por meio das seguintes atividades:

textos impressos, interpretações, comparações, produção de textos e

dramatizações.

4 AÇÕES DESENVOLVIDAS

O local programado para a implementação deste Projeto era o Colégio

Estadual Professora Marli Queiroz de Azevedo, mas resultou implementado no

Colégio Estadual Eurídes Brandão.

A mudança do local de implementação não interferiu no desempenho deste

trabalho, pois as fábulas são ideais para explorar questões de interesse da língua

com os estudantes do Ensino Fundamental, independentemente do local onde a

escola está inserida.

Em uma reunião prévia apresentei o Projeto de Intervenção Pedagógica na

Escola aos professores, equipe Pedagógica e direção.

Ao iniciar a implementação, apresentei a proposta de trabalho aos alunos,

procurei explicar que o mesmo tem como objetivo incentivar o gosto e o hábito da

leitura, bem como mostrar a importância da leitura para a aprendizagem. Nesse

primeiro momento, pôde-se notar que os alunos estavam atentos e bastante

receptivos à proposta. Posteriormente, falei sobre o gênero textual fábula, com

questionamentos que visavam levantar o conhecimento prévio que eles tinham

sobre esse gênero literário. Depois, fizemos a leitura do texto A coruja e a águia, e a

estratégia utilizada foi a de levar os alunos a ampliarem a compreensão do texto por

meio de questionamentos. O interesse e participação foi vívido e geral, pois todos

tinham uma história para relatar. Uma das questões levantadas referia-se ao modo

como as pessoas veem umas às outras.

Trabalhamos a estrutura narrativa que as fábulas apresentam, mostrando aos

educandos que a fábula é objetiva, abstêm-se das descrições em favor dos diálogos,

apresentados em discurso direto.

Posteriormente, explanou-se sobre a dicotomia entre discurso direto e indireto

e então foram realizados exercícios, identificando os tipos de discursos.

A implementação prosseguiu com a leitura e interpretação do texto A cigarra e

a formiga, de La Fontaine. À medida que trabalhávamos as questões de

interpretação e o vocabulário do texto, os alunos iam ampliando sua percepção

sobre as fábulas, entendendo a moral da história e vendo como os textos

apresentados falavam diretamente das experiências cotidianas do ser humano e do

mundo.

No estudo desse texto, os alunos questionaram sobre vários temas, como:

trabalho, alunos que não aproveitam o tempo na escola para estudar, pessoas que

usam dinheiro dos avós para sustentar vícios, e houve muita reflexão sobre os

valores que são transmitidos através das fábulas.

Nesta atividade os alunos perceberam que os provérbios podem encerrar a

moral da história. Relacionamos os provérbios pesquisados no quadro de giz, eles

escolheram um e, a partir daí, produziram uma fábula e fizeram a leitura para a

turma.

Houve empolgação e os mesmos tiveram a oportunidade de ler para os

colegas diferentes fábulas, possibilitando uma leitura descontraída, onde a maioria

compreendeu que se pode explorar, a partir das fábulas, outro gênero textual: os

provérbios populares.

Segue exemplo de texto produzido pelos alunos a partir das pesquisas sobre

provérbios populares:

Depois, em dupla ou individualmente, eles escolheram uma das fábulas

estudadas para transformar em história em quadrinhos. A seguir, alguns exemplos:

Durante os debates, os alunos exploravam muito a moral da história, fazendo

uma reflexão e comparando com os fatos vivenciados por eles no dia-a-dia.

Foi possível verificar que os alunos aprenderam através da leitura e pesquisa

de palavras no dicionário, novas palavras que passaram a fazer parte do léxico

ativo, pois já era notório o uso na sua linguagem cotidiana.

Algumas dificuldades encontradas foram, por exemplo, no texto O lobo e o

cordeiro: os alunos não tinham ideia de como era a imagem do cordeiro, então

fomos ao laboratório de informática pesquisar.

No texto A raposa e as uvas, os alunos não sabiam o que significava a

palavra parreira. Então, após pesquisa no dicionário, fomos ao laboratório de

informática para que os mesmos pesquisassem imagens com parreiras de uvas.

A seguir, elenco alguns comentários dos alunos sobre as atividades:

- Gostei muito de aprender sobre as fábulas, já pedi para a minha mãe comprar um livro com fábulas para eu ler. - As fábulas são textos gostosos para ler e é muito legal representá-los. - Achei que este estudo com as fábulas foi muito importante, pois trabalhamos várias coisas, como: o significado das palavras, discurso direto e indireto, escrever fábulas... - Professora, eu achei muito legal estes trabalhos com fábulas e gostaria que isso fosse feito mais vezes.

5 GRUPO DE TRABALHO EM REDE - GTR

Constitui-se numa atividade do Programa de Desenvolvimento Educacional -

PDE, que se caracteriza pela interação virtual entre os professores PDE e os demais

professores da Rede Pública Estadual.

O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) contou com 17 (dezessete) professores

da Rede Estadual de Educação.

Neste GTR, onde tratou-se de três Temáticas (Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola, Produção Didático-pedagógica e também as questões

específicas sobre a Implementação Pedagógica na Escola), com o intuito de

socializar as produções realizadas durante o programa, foi possível apresentar meu

Projeto e trocar ideias e experiências com professores da Rede Pública Estadual de

diversas regiões do Paraná, os quais foram bem receptivos a esta proposta de

trabalho com fábulas, e também foram unânimes sobre o fato de que o mesmo é

viável para aplicação em qualquer realidade escolar, registrando os seguintes

comentários: “Maravilhoso seu Projeto... Muito pertinente, visto que visa o despertar

do gosto da leitura nos alunos”; “Seu projeto relata de forma simples e inteligente

estratégias de como sensibilizar o aluno para entender e apreciar a leitura. Gosto de

trabalhar o gênero fábula, narrativas curtas geralmente relacionadas ao cotidiano

estabelecem uma interação com os alunos através de diversos pontos como os

animais, a moral entre outros. Considero viável sua aplicação, inclusive em outras

séries como incentivo à leitura e também explorando outras questões”.

No Fórum 2, sobre a Produção Didático-pedagógica, os professores fizeram

os seguintes apontamentos: “As atividades propostas na Produção Didático-

pedagógica, podem contribuir, e muito, para o letramento literário dos alunos, pois

abrange a leitura, a compreensão de texto, a interpretação das entrelinhas, o

conhecimento de mundo, a troca de saberes entre o grupo e a produção textual,

além de se constituir em atividades diferenciadas e envolventes, que estimulam os

alunos ao prazer da leitura e do aprendizado”; “Acredito que seu Projeto tem tudo

para dar certo e contribuir muito para a nossa prática em sala de aula, pois são

atividades bem diversificadas e a escolha dos escritores e das fábulas foram

excelentes”. Não é possível relacionar todas aqui, mas todos compartilharam

experiências e interagiram sobre a aplicabilidade desta proposta pedagógica na

prática escolar. No Fórum 3, sobre a Implementação Pedagógica na Escola,

conforme eu ia relatando os avanços da implementação, os colegas acrescentavam

alguma informação, trocavam ideias e incentivavam muito o meu trabalho.

No Fórum Vivenciando a Prática, surgiram vários trabalhos maravilhosos. A

partir das fábulas apresentadas, os professores aplicaram em suas salas, pois

trabalhavam em modalidades de ensino diversificadas e surgiram os seguintes

títulos: Interagindo com as fábulas, Confabulando com a turma da Mônica, A fábula

na sala de apoio, Trabalhando fábula na EJA. Em A fábula no ensino superior, a

professora trabalhou com acadêmicos do curso de Pedagogia. Durante esta

Temática, foi possível constatar a criatividade e empenho destes colegas que atuam

nas Escolas Públicas do Estado do Paraná.

6 RESULTADOS ALCANÇADOS

Com as atividades realizadas os alunos ampliaram a capacidade de

relacionar texto e ilustração de forma surpreendente, perceberam também que a

história em quadrinhos estabelece uma comunicação mais imediata entre os

personagens e o leitor, já que o texto é integrado à imagem.

Ainda, foi possível constatar o alcance dos objetivos preconizados no projeto:

incentivou-se nos alunos o gosto pela leitura; os alunos compreenderam a

importância da leitura como meio de interação e participação social; os alunos

envolveram-se em práticas de letramento e leitura conscientes e refletidas, capazes

de construir hipóteses, de fazer inferências, de recorrer a conhecimentos prévios, de

exteriorizar juízos valorativos; contribuiu-se para os processos de aquisição e

fixação de conhecimentos no ensino fundamental.

Foi uma experiência gratificante, que me proporcionou a oportunidade de

perceber que os alunos gostam de inovação, pois até os mais tímidos se

apresentaram, se divertiram e disseram que gostariam que esse tipo de atividade

fosse realizada com mais frequência, pois traz motivação para aprender.

Os resultados obtidos até o momento com este trabalho centrado na leitura

estão sendo compensadores, pois há participação, colaboração e muita interação

dos alunos para apresentar as atividades propostas. Foi possível perceber que os

alunos se envolvem em atividades de leitura, desde que esses assuntos estejam

relacionados à realidade que os cerca.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contexto do mundo atual e os avanços tecnológicos impõem um grande

desafio aos professores, qual seja, motivar no aluno o interesse pela leitura. Dessa

forma, o trabalho com a leitura exige uma metodologia diferenciada, que propicie o

diálogo e a interação com o texto lido. Para isso, o educador deve, por um lado,

buscar recursos que estão no cotidiano e utilizá-los em sala de aula, e assim

despertar o gosto pela leitura e ao mesmo tempo criar um ambiente favorável à

aprendizagem, contribuindo para a inserção do aluno no mundo letrado. Por outro

lado, o professor, devidamente preparado, pode, ao perceber como o texto é

recebido pelos alunos, ir além, e conduzir o processo com maior ciência.

O trabalho com fábulas é de fundamental importância para o ensino de

Língua Portuguesa nas escolas públicas do estado do Paraná. Esse gênero textual

pode ser desenvolvido em qualquer sala de aula, pois é adaptável a qualquer

realidade, independente das características da comunidade da qual a escola faz

parte.

Sabe-se que ler assiduamente é essencial para se formar leitores habituais e

cidadãos bem formados e informados. Nesse contexto, a fábula, na sua estrutura,

mistura realidade e fantasia, e, por lidar com arquétipos facilmente identificáveis,

como, por exemplo, o lobo cruel e implacável e o cordeiro indefeso, permite que o

leitor vivencie seus próprios problemas de modo simbólico e aí veja despertado o

seu interesse.

Enfim, valer-se de bons textos com o intuito de despertar as emoções, a

sensibilidade e a reflexão nos leitores pode representar uma grande contribuição

para a construção de uma sociedade mais justa e um mundo melhor. Encantar,

seduzir, viajar, sonhar e constatar que, a partir dessas vivências, o leitor pode

construir a sua própria experiência.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Ática, 2003.

BARTHES, Roland. O rumor da língua. Trad.: Mário Laranjeira, São Paulo: Brasiliense, 1988.

_____. Mitologias. Trad.: Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Jawowitzer. 3. ed. DIFEL, 2007.

DALLARI, Bruno B.A. Mídia, cidadania e as novas práticas de letramento. 2010.

FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008.

GNERRE, Maurízio. Linguagem, escrita e poder. 5. ed. São Paulo: WNF Martins Fontes, 2009. SOARES, Magda. Linguagem e escola. Uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986.

SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.