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EIKE BATISTA O DA QUESTÃO X

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E i k E B at i s ta O da q u e s t ã OX

Dedico esta obra a Thor e Olin.

SUMÁRIO

Prefácio, 9Introdução, 19Capítulo 1 Primeiros passos, 21Capítulo 2 A descoberta do primeiro talento, 26Capítulo 3 O líder é alguém capaz de vender suas ideias, 29Capítulo 4 Além das palavras, 31Capítulo 5 No meio do caminho havia outras pedras, 35Capítulo 6 Em busca do ouro, 37Capítulo 7 Alta Floresta e o rei do garimpo, 41Capítulo 8 A vida é mais valiosa que o ouro de Alta Floresta, 43Capítulo 9 Com as bênçãos de Cortés e de Pizarro, 45Capítulo 10 A perfeição é uma utopia, 49Capítulo 11 Rolam as pedras, 51Capítulo 12 O porquê do sucesso com ouro, 55Capítulo 13 Pedra sobre pedra, 59Capítulo 14 Visão 360 graus, 63Capítulo 15 Luz, câmera, ação!, 69Capítulo 16 Chile a 360 graus, 73Capítulo 17 O capital é covarde, 77

Capítulo 18 O estresse separa os homens dos meninos, 81Capítulo 19 Não existe toque de Midas, 84Capítulo 20 A hora de interromper as perdas, 86Capítulo 21 Há que endurecer, mas sem perder a ternura, 89Capítulo 22 Oportunidade de ouro, 93Capítulo 23 A solidão de quem decide, 97Capítulo 24 O sentido de partir do zero, 103Capítulo 25 A família X não para de crescer, 107Capítulo 26 Negócios integrados, custos reduzidos, 113Capítulo 27 Superporto do Açu, uma parceria com o Brasil, 115Capítulo 28 A monetização de um sonho, 119Capítulo 29 O melhor negócio do mundo, 121Capítulo 30 Surge a Embraer dos mares, 127Capítulo 31 Execução se escreve com “x”, 130Capítulo 32 Bilhões de dólares não nascem em árvores, 132Capítulo 33 O Brasil no mapa dos negócios, 136Capítulo 34 A cartilha da ética, 139Capítulo 35 Os olhos da águia, 141Capítulo 36 O erro como professor, 144Capítulo 37 O coração na curva de um rio, 147Capítulo 38 Uma paixão como negócio, 150Capítulo 39 A descoberta das mídias sociais, 153Capítulo 40 A Copa do Mundo dos negócios, 155Capítulo 41 Felicidade não se escreve com “x”, 158

PREFÁCIO

Em O mercador de Veneza, uma de suas obras seminais, William Shakespeare definiu o sábio como o homem que conhece o

próprio filho. Não sou exatamente o que se pode chamar de sábio, mas, sem querer contradizer o bardo, afirmo que conheço muito bem cada um de meus sete rebentos. E, quanto mais o tempo per-corre seu caminho e cumpre sua missão, maiores são meu orgulho, minha admiração e meu encantamento por estes pedaços de mim.

É por demais dificultoso para qualquer pai falar publicamente de seu filho. É como se andássemos sobre um fio de cabelo estica-do ao longo de um penhasco. De um lado, o risco da demasiada adulação; do outro, a ameaça de uma completa degeneração do senso crítico, ambos resultado da cegueira imposta pelo véu do afeto. Para os pais, o filho é a soma de todas as virtudes.

Desde já, peço aos leitores um waiver por eventuais desvios e proponho um deságio sobre os inevitáveis elogios que pontuarão este relato. Até onde o amor e o enlevo permitirem, procurarei equilibrar-me no centro da linha e desempenhar com a maior dose possível de discernimento a honrosa tarefa de prefaciar a presente

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obra, que relata a saga de um dos maiores empreendedores da his-tória do Brasil. Não sou eu que o digo; apenas me remeto à isenção dos fatos.

O primeiro grande acerto de Eike Batista foi não cometer o erro de negar sua própria natureza. Estava escrito havia 40 mil anos que Eike seria um entrepreneur puro-sangue. Ainda na adolescência, ir-romperam os primeiros sinais de que ele jamais se refestelaria em uma rede ou se contentaria com desafios rasos. Desde cedo, nunca se deixou seduzir pelo atalho das falsas facilidades. Uma boa forma de ir além do possível é marchar na direção do impossível.

Atribuo esta característica de Eike Batista à criação que ele e seus irmãos receberam. E, neste caso, todos os méritos devem ser creditados, com juros, correção monetária e, se possível, CDI e mais 6% ao ano, na conta de sua saudosa e inesquecível mãe, Jut-ta Batista. Durante toda a minha vida, não fui mais do que um engenheiro, um cumpridor de missões. Quando assumi a área in-ternacional da Vale, fomos todos morar na Europa. Passamos por Genebra, Dusseldorf e Bruxelas, mas, por força do ofício, minha verdadeira casa era a poltrona de um avião. Na condição de masca-te do minério brasileiro, que, àquela altura, praticamente inexistia no mapa da siderurgia mundial, corri por diversas longitudes e latitudes na tentativa de buscar novos mercados para a Vale e para o país. Somente ao Japão fiz mais de 170 viagens. Talvez fosse mais simples vender enciclopédias em Plutão.

Forçosamente, passava longas temporadas longe de casa. Em-bora procurasse sugar todo o pólen de cada instante ao lado de mi-nha família, lamentavelmente me ausentei mais do que gostaria. Reconheço, sem qualquer rubor, que, em vários momentos, inevi-

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tavelmente fui uma lacuna sentida por meus filhos. Mas agradeço ao destino por ter encontrado uma companheira exponencial. Jut-ta foi mãe ao quadrado e, quando necessário, pai ao cubo. Sempre fez de tudo para que nossos filhos sofressem o mínimo possível as ausências deste caixeiro viajante da mineração.

Poucas vezes na vida vi uma mulher capaz de promover uma simbiose tão harmônica entre a disciplina, o rigor, a ternura e a ca-pacidade de compreensão. Quando precisaram de rigor e limites, meus filhos os tiveram; quando clamaram por um colo de veludo, este nunca lhes faltou.

Assim como de seus irmãos, a educação e o caráter de Eike foram forjados a partir desta valiosa combinação materna. Da mãe, herdou a pertinácia, o arrojo, o destemor e, sobretudo, a paixão pelo Brasil, atributos marcantes não apenas da sua traje-tória de vida, mas de sua saga como empreendedor. Desconfio que alguns dos projetos da EBX começaram a ser formulados nos tenebrosos invernos de Genebra, entre um e outro ensinamento de coragem e persistência que Eike apreendeu de sua mãe.

De fato, Eike foi abençoado pela genética. Seus avós, tanto paternos quantos maternos, eram pessoas extremamente fortes e saudáveis. A dificuldade é a mãe do vigor. Meus pais e os pais de Jutta – estes principalmente por conta da Segunda Guerra Mun-dial – sofreram grandes privações na vida. Nada, no entanto, ca-paz de abalar sua capacidade de trabalho, determinação, caráter e ética inquebrantáveis.

Dizia Immanuel Kant que o homem não é nada além daquilo que a educação fez dele. Nesse sentido, Eike recebeu a melhor das heranças que podem caber a uma pessoa. Para onde quer que

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olhasse, sempre enxergava um exemplo de integridade e firmeza moral entre os seus. Esta foi a sua educação, da qual me orgulho de ter sido partícipe. No entanto, nenhuma dessas virtudes germi-naria se não encontrasse pela frente um campo fértil. Seu caráter e sua retidão de postura foram os alicerces sobre os quais se ergue-ram o homem e o realizador chamado Eike Batista.

Desde jovem, Eike demonstrou um apetite voraz por conheci-mento. Esta característica sempre me fez enxergar em meu filho a imagem de meu pai, que compensou a reduzida educação formal com um inigualável interesse pelo saber. Nada o detinha na busca pelo novo.

Essa avidez pelo conhecimento foi determinante para gerar o espírito empreendedor de Eike. Meu filho levou ao extremo o afo-rismo de Fernando Pessoa. O homem é do tamanho de seu sonho e, desde que começou a sonhar, Eike nunca mais parou de crescer.

O rio seguiu seu curso naturalmente. O jovem que ainda na faculdade começou a vender diamantes na Europa embrenhou-se como um bandeirante do século XX na Amazônia em busca de ouro; contra todos os prognósticos, comprou o risco de um inves-timento malogrado como a mina de La Coipa, localizada a quatro mil metros de altitude no deserto do Atacama, e o transformou em um dos grandes projetos da mineração no Chile; foi acionista de uma das mais importantes produtoras de ouro do mundo e simplesmente se tornou o idealizador de um dos maiores empre-endimentos da área de infraestrutura da história deste país. A EBX é um Brasil dentro de um novo Brasil.

Não cabe aqui incorrer no pecado da redundância e destrinchar os inúmeros projetos desenvolvidos pela EBX e por suas subsidiá-

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rias, os quais os leitores poderão conhecer um pouco melhor ao longo desta obra. Mas não posso deixar de destacar alguns pontos fulcrais do que talvez seja o maior e mais diversificado conjunto de investimentos já feitos simultaneamente por um grupo privado neste país. São inúmeras as contribuições dos empreendimentos da EBX para o Brasil. Eles permitirão a um só tempo ampliar ainda mais a inserção do minério brasileiro no exterior e sua industrializa-ção no próprio país, além de equacionar uma parcela considerável do notório gap que enfrentamos na área de logística. São também, desde o nascedouro, um ponto de atração de investimentos e em-presas estrangeiras para o Brasil, vide o cinturão de indústrias que estão se instalando no complexo do Superporto do Açu.

Acrescente-se ainda o fato de que o Açu se constitui no melhor sítio para a instalação de indústrias brasileiras tanto com vistas às exportações quanto à distribuição a grande parte do mercado interno. Ressalte-se que 80% da nossa economia está concentrada em áreas localizadas até 200 quilômetros da costa.

Igualmente relevante é a visão sistêmico-holística que faz das empresas do Grupo EBX um mosaico de peças que se integram e se complementam. Todas as suas obras seguem este modelo. Eike tem o dom dos grandes empreendedores de enxergar a parte pelo todo e imaginar seus negócios como um amálgama, o que permite resultados de escala e economicidade muito maiores.

Não obstante toda a importância per se dos projetos, é abso-lutamente imperativo ressaltar seu valor simbólico. Todos são re-sultado da confiança de um empresário em seu país. O impacto dos empreendimentos da EBX vai muito além das fronteiras do grupo. Na visão de Eike, todos estes projetos não pertencem exclu-

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sivamente a um empresário, aos acionistas minoritários ou a um grupo de executivos. São investimentos do Brasil. Eike é movido pela obsessão de gerar e distribuir riquezas em seu próprio país, algo que só faz aumentar a admiração de um pai por um filho.

Deve-se realçar também o compromisso de Eike com o meio ambiente e a sociedade em geral. Todos os empreendimentos da EBX estão alinhados com o que há de mais sofisticado na área da responsabilidade sociocorporativa. Eles seguem o modelo de Ges-tão Integrada do Território, uma evolução da espécie em relação ao conceito precípuo do desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma concepção muito mais abrangente e, portanto, com resulta-dos mais eficazes para a empresa e para a comunidade. A Gestão Integrada do Território não contempla apenas o perímetro ocupa-do por determinado empreendimento, mas todo o seu entorno. Os limites se expandem.

O modelo de Gestão Integrada do Território incorpora à ideia de sustentabilidade a variável cultural. Neste novo contexto, a cul-tura local passa a ter um efeito de transversalidade sobre as variá-veis que sempre guiaram o conceito de desenvolvimento sustentá-vel: econômica, social e ambiental.

Além da sua notória capacidade de empreender, enxergar ri-quezas onde muitos só veem risco e, principalmente, de atrair in-vestidores para seus projetos, Eike Batista age como um empre-sário moderno, absolutamente comprometido com a sociedade. Além da geração e distribuição de renda, Eike pensa na perenidade de seus negócios e das comunidades em que eles estão inseridos. O modelo de Gestão Integrada do Território adotado em suas em-presas certamente servirá de paradigma para outros empreendi-

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mentos tanto no Brasil quanto no exterior. Um dos aspectos mais fantásticos sobre esta nova forma de se enxergar o desenvolvimen-to sustentável é a certificação do território, que faz parte de todos os projetos da EBX e em muito pouco tempo inegavelmente será adotado por outros grupos nacionais e estrangeiros. Esta medida permite à empresa e à sociedade entender de forma gestáltica a ges-tão do território, com base em padrões e indicadores sociais, am-bientais, econômicos e culturais, previamente estabelecidos. Mais do que uma revolução, trata-se de uma evolução em nome da lon-gevidade econômica, social, ambiental e cultural de uma nação.

Todos os projetos de Eike são resultado da audácia de um empresário de iniciativa, mas, acima de tudo, guiado pelo saber. Todas as suas decisões são tomadas em cima do conhecimento. Além disso, Eike tem a humildade de se cercar em todas as áreas em que atua de profissionais altamente talentosos e experientes. Desde cedo, ele aprendeu que saber ouvir é um dos atributos do empresário de sucesso.

Pelo porte e diversidade de seus investimentos, o empresário Eike Batista já é um personagem familiar a boa parte dos brasi-leiros. No entanto, poucos conhecem o homem por trás do em-preendedor. Ao contrário do que possa ser a ideia comum a seu respeito, trata-se de uma pessoa extremamente simples, que leva uma vida relativamente modesta vis-à-vis seu patrimônio.

Não é meu objetivo cometer inconfidências, mas, em nome do meu afeto e da minha admiração, não posso esconder o orgulho que tenho pelo caráter e pelo sentimento altruísta de meu filho. Eike é extremamente generoso. Além do empreendedor que tem criado milhares de empregos, gerado renda e contribuído para a mudança

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de vida de tantas famílias, Eike ainda ajuda diversas pessoas e enti-dades sem permitir que se dê qualquer visibilidade ao fato. É impos-sível gostar do Brasil sem, antes, gostar dos brasileiros.

Espero que este livro cumpra duas missões: permitir que os leito-res conheçam mais amiúde as fartas doses de esforço, dedicação, ousa-dia e competência por trás das realizações de Eike Batista e, se possível, transformar esta trajetória em estímulo para as próximas gerações.

De minha parte, o carinho, o afeto e a admiração se unem a um forte aplauso. Não sou grande o suficiente para abrigar o orgulho que tenho ao assistir a meu filho liderar uma das maiores sagas empresariais da história recente do Brasil. Nesta sinuosa conta-bilidade da vida, um pai só pode publicar o seu balanço após a divulgação das demonstrações de seu filho.

São as conquistas do filho que atestam o êxito do pai.Jutta tinha uma forma bastante especial de motivar nossos fi-

lhos. Ela dizia que todos deveriam ser melhores do que o pai. Não obstante o personagem escolhido como paradigma não ser lá essas coisas, tenho certeza de que o ensinamento se introjetou de tal for-ma que todos os meus filhos toparam o desafio. E hoje posso dizer com desmedido orgulho: todos me superaram nas realizações, nas ideias, na rigidez de caráter e na generosidade. Ter sido ultrapassa-do por eles é a maior conquista, a peça mais valiosa em minha sala de troféus. Nas páginas seguintes, a trajetória de Eike Batista, que não me deixa mentir.

Eliezer Batista

INTRODUÇÃO

Meu nome completo é Eike Fuhrken Batista. Sou o se gundo filho de uma família de sete irmãos. Nasci em Governador

Valadares, Minas Gerais, em 3 de novembro de 1956. Fui forjado pela perseverança e pelos exemplos de meus pais, Jutta Fuhrken e Eliezer Batista. Morei em Vitória, Genebra, Dusseldorf e Bruxelas. Escolhi o Rio de Janeiro para viver. Estudei engenharia metalúr-gica na Universidade de Aachen, na Alemanha. Rodei o mundo. Falo cinco idiomas. Sou engenheiro por formação, ainda que não tenha completado a graduação. Fui vendedor de seguros. Sou ob-cecado por economia física. Meu número da sorte é 63. Casei em 1991 e me separei em 2004. Tenho dois fi lhos, Thor e Olin, meus diamantes mais valiosos.

Gosto de praticar esportes, correr, nadar. Sou apaixonado pela velocidade, por carros e lanchas. Fui campeão brasileiro, ameri-cano e mundial de offshore. Em 2006, concluí a travessia das 220 milhas náuticas entre Santos e Rio de Janeiro em 3h01min47s, recorde mundial até hoje não superado.

Essas são duas ou três coisas que você precisa saber sobre minha

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vida privada. A ideia neste livro não é falar da minha in timidade. Minha vida pessoal, laços familiares, pequenas histó rias serão ob-jeto de uma obra cuja elaboração já está em curso.

O objetivo aqui é oferecer aos leitores um pequeno esboço de minha trajetória como empreendedor – e, se possível, inspirar novos empreendedores, pequenos, médios e grandes, em suas in-cursões pela atividade empresarial.

Não é minha pretensão apontar caminhos, mas ficarei feliz em saber que, um dia, minha caminhada inspirou alguém na condu-ção dos seus próprios negócios.

O texto deste livro é fruto de algumas horas de conversa com o jornalista e amigo de sempre Roberto D’Avila no Rio de Ja neiro e em viagens internacionais por cidades como Nova York, Pequim, Paris, Londres...

CAPÍTULO 1

PRIMEIROS PASSOS

Meus primeiros passos e os de minha família seguiram a tri-lha dos deslocamentos permanentes de meu pai por conta

de suas obrigações profissionais. A infância nômade me impediu de fincar raízes e estabelecer

laços de relacionamento mais duradouros com pessoas ou lugares, mas me proporcionou o contato com outras línguas e culturas e estimulou um autoconhecimento e uma autonomia que, anos de-pois, se revelariam decisivos na minha trajetória empresarial.

Entre uma cidade europeia e outra, minha família se fixou no Rio de Janeiro até perto de meu 12º aniversário. Morávamos em Ipanema. Estudei na Escola Cruzeiro, na Lapa. Ali aprendi a falar alemão, o que mais tarde também me ajudaria muito no mundo dos negócios.

Do Rio fomos morar na Suíça. Ficamos um ano por lá. Eu não falava uma palavra de francês e, ainda assim, fui colocado num semi--internato. Meus irmãos e eu fomos “jogados aos leões”. O choque foi enorme. Eu entrava na sala de aula e não entendia nada.

Por sorte, a parada seguinte foi Dusseldorf, quando a Vale In-

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ternacional, comandada por meu pai, se instalou na Alema nha. Ficamos quatro anos na cidade e depois seguimos para Bruxelas.

Minha vida era do colégio interno para casa. Quase não saía. Meus companheiros eram meus irmãos. Sentia falta do Brasil, do Rio de Janeiro. Era onde queria estar, e este sentimento de amor pela minha pátria se fortaleceu nos anos em que vivi no exterior. Muita gente foi obrigada a viver fora de seu país por motivos políticos. Meu exílio era de outra natureza, mas nem por isso deixei de sentir sempre uma enorme saudade do Rio e do Brasil.

Uma convicção se forjou em mim desde muito cedo: a de que você cresce com as dificuldades. Ou “estresses”, como prefiro chamar.

A asma foi o primeiro de uma série. Ela se manifestou por volta de meus 11 anos. É uma doença que provoca falta de ar e causa ansiedade terrível. Minha mãe entendeu que a cura esta-ria em me colocar dentro de uma piscina. Acho que continua a ser o mais recomendável. Comecei então a nadar aos 12 anos e, em menos de um ano, estava curado. Já fora do Brasil, eu nadava no frio. A piscina era aquecida, mas aberta. Era difícil. Por outro lado, foi também um exercício de disciplina e auto-controle. Minha mãe me inspirou essa força de vontade. Talvez o dom estivesse dentro de mim, mas não sei se seria aprimorado e levado ao limite sem uma voz de comando ao mesmo tempo forte e estimuladora.

Minha mãe era uma mulher de fibra, obstinada como poucos. Pela capacidade de caminhar pelos extremos sem jamais perder seu centro, foi o ponto de equilíbrio de nossa família. Aliava rigor e delicadeza. Endurecia sem deixar de oferecer um ombro amigo ou

Eliezer Batista e seus filhos Dietrich, Eike, Monika, Werner,

Helmut e Harald em Genebra, Suíça.

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afago caso alguma coisa não saísse conforme o planejado. Devo a ela não apenas a disciplina e a força de vontade, mas também uma visão de mundo inspirada pela for mação germânica. Minha mãe enxergava no mundo um lugar muito bom de viver, mas palco também de uma prova de resistência que precisava ser vencida com tenacidade ferrenha e obstinação que jamais fariam desistir ao pri-meiro obstáculo. Com ela, aprendi que ninguém é feliz sozinho.

Anos mais tarde, quando me deparei com regiões de fronteira inóspitas e, em muitos casos, com situações francamente hostis, minha reação foi sempre a de procurar entender qual seria meu próximo mergulho. Um mergulho que foi literal no caso da asma. Um mergulho simbólico, de cabeça, do mais alto trampolim na vida de empreendedor.

A asma foi a primeira pedra no caminho. Felizmente, outras apareceriam, feitas de matéria bastante diferente.

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