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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Universidade Federal do Paraná (2013); dentre outros tomados como referência, além de leis e documentos oficiais que regulam

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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MINIMIZAÇÃO DO CONSUMO DE DROGAS ENTRE ADOLESCENTES PELA PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS

Rosilene Jambiski Mendes1

Fabio Mucio Stinghen2 RESUMO

No presente artigo estão sintetizadas as principais atividades da intervenção

realizada na disciplina de Educação Física, junto a alunos do 6º e 7º anos do Colégio Estadual Zacarias Cardoso de Cristo, dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) - edição 2013/2014, realizado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR). A presente proposta foi desenvolvida na perspectiva de uma articulação entre a Educação Física e o resgate social de alunos do período noturno envolvidos com drogas, com o objetivo capacitá-los, durante as aulas da disciplina, para a prática de esportes de acordo com suas habilidades e escolha, preparando-os para o protagonismo social junto a colegas que estudam durante o dia. A estratégia visa à ocupação do tempo ocioso e o resgate social, e as atividades foram selecionadas para preparar esses alunos para superar seus limites físicos e despertar para os benefícios de ter a mente e o corpo sãos, dispondo da escola durante o dia para, de acordo com suas habilidades, treinar e trabalhar com alunos menores. Os resultados dessa intervenção mostram que com medidas pautadas na integração e na elevação da autoestima, torna-se possível proporcionar aos alunos com dependência química, condições de vivenciar situações diferenciadas em sua rotina e de construir valores necessários à vida em comunidade e ao exercício da cidadania.

Palavras-chave: Atividade física. Adolescentes. Minimização do uso de drogas.

1 INTRODUÇÃO

O envolvimento de alunos com drogas é uma situação comum em muitas

escolas; e, muitas vezes, os esforços por parte da família e dos professores não

resultam em sucesso, porque a causa para esse problema, geralmente, está fora

dos muros desses espaços: nas ruas. A questão se mostra ainda mais crítica

quando o local de moradia ou de convivência desses alunos oferece riscos e

oportunidades de aproximação, consumo e, em alguns casos, de ingresso no mundo

do tráfico. E essa é a realidade de muitas das comunidades atendidas pelo Colégio

1 Professora de Educação Física no Colégio Estadual Zacarias Cardoso de Cristo, da Secretaria de

Estado do Paraná (SEED-PR). 2014. e-mails: ander.lene@hotmail,.com

2 Professor Orientador do PDE, edição 2013/2104 da UTFPR- Curitiba. e-mail: [email protected]

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Estadual Zacarias Cardoso de Cristo (CEZCC), localizado na Vila São Pedro, na

periferia de Rio Branco do Sul, Região Metropolitana de Curitiba, que conta hoje

com cerca de 600 alunos vindo de bairros carentes como Nossa Senhora de Fátima,

Jardim Paraíso, Madre, Jardim Abrahão e Papanduva, dentre outros localizados nos

arredores da escola.

Nessas comunidades a renda familiar é baixa, assim como o nível de

escolaridade de suas populações: 20% são analfabetos, 65% possuem o ensino

fundamental incompleto e apenas 15% completaram o Ensino Médio (CEZCC-PPP,

2012); sendo que parte significativa da população não possui emprego fixo; as

condições de moradia, lazer e cultura são precários e tráfico e o consumo de drogas

é uma prática crescente, inclusive ao redor da escola e na escola, um problema que

preocupa gestores e professores.

Os estudos desenvolvidos pela instituição de ensino para a elaboração do

Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual Zacarias Cardoso de Cristo

(CEZCC-PPP, 2012), mostram que muitos alunos do ensino fundamental (período

noturno) fazem uso de entorpecentes e vêm para a escola ainda sob a influência

dessas substâncias. A análise da realidade das comunidades atendidas pela escola

mostra que esses adolescentes, em sua maioria, vêm de famílias desestruturadas e,

não raro, os pais também apresentam alguma forma de dependência química. O

perfil desses alunos aponta para indivíduos que têm mais de 14 anos de idade, com

baixo aproveitamento escolar e déficit de aprendizagem devido à falta de

concentração, agressividade, euforia, ou total desinteresse que pelo que acontece

na sala, sintomas característicos da drogadição e que acarretam déficit à

aprendizagem, além de tumultuarem o andamento das aulas, o que prejudica o

aproveitamento dos demais alunos.

Para compreender essa realidade é preciso contextualizar aspectos sobre o

Vale do Ribeira, território onde se localiza o Município de Rio Branco do Sul, e sobre

sua especificidade socioeconômica. Nesse sentido, os estudos sobre a realidade

dos municípios que integram o Vale do Ribeira se mostram importantes para

caracterizar uma forte tendência à exclusão social e à vulnerabilidade de crianças e

adolescentes, notadamente porque “[...] na região, a renda familiar baixa e a falta de

perspectivas e de oportunidades de negócios, vem favorecendo o aparecimento de

bolsões de pobreza [...]” (UFPR, 2013).

Por outro lado, o Atlas da Exclusão Social no Brasil (PROCHMANN,

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AMORIN, 2007, p. 180) mostra Rio Branco do Sul na posição 2.716 do ranking

nacional de situação social; e aponta os seguintes índices municipais: pobreza,

0,577; vulnerabilidade juvenil, 0,566; alfabetização, 0,792; escolaridade, 0,416;

emprego formal, 0,128; violência, 0,818; desigualdade, 0,061; e exclusão social,

0,438. Esses índices demonstram a colocação do município relativamente aos

demais municípios do Brasil, a partir da melhor posição; metodologia essa que

também é adotada para calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no

qual Rio Branco do Sul aparece com 0, 702 pontos no ano de 2000 (IPARDES,

2012, p. 25).

A literatura levantada para este estudo mostra que os problemas

relacionados às drogas – como os observados no CEZCC – são comuns à maioria

das escolas, assim como as dificuldades no seu enfrentamento, assumindo por isso

os contornos de um fenômeno que exige medidas pontuais e abordagem constante,

ou seja, tratado sem receios (SUDBRACK et al., 2005)

Assim, partindo da máxima do poeta romano Juvenal: “mens sana in

corpore sano” (apud MENDES, 2006, p. 1), entende-se que, para que obtenha êxito,

toda e qualquer estratégia de enfrentamento às drogas no ambiente escolar deve

estar atrelada ao propósito de oferecer aos alunos, oportunidades pautadas na

valorização, na experimentação dos limites físicos e mentais de forma saudável; nas

conquistas pessoais e no reconhecimento, e o melhor caminho para alcançar esses

objetivos está na prática de atividades físicas e na promoção do Protagonismo

Juvenil Social (PJS).

Para promover esse resgate social tendo como eixo a disciplina de

Educação Física, o tema foi submetido à Coordenação do PDE, visando estruturar

uma proposta para minimizar o uso de drogas no ambiente escolar por meio de

estratégias articuladas à prática de atividades físicas para tirar os alunos das ruas e

trazê-los à escola nos horários em que não estiverem estudando, oferecendo-lhes,

assim, uma oportunidade de ocupação saudável e digna.

Nesse sentido, no primeiro semestre de 2013 o projeto de pesquisa foi

elaborado sob a orientação do professor Fabio Mucio Stinghen, e no segundo

semestre do mesmo ano deu-se a seleção dos conteúdos e a organização das

atividades, na forma de um Caderno Temático, tendo como objetivo da proposta de

intervenção, capacitar, durante as aulas de Educação Física, os alunos do 6° e 7°

anos do Ensino Fundamental para a prática de esportes de acordo com suas

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habilidades e escolha; preparando-os para uma atuação em termos de PJS junto a

alunos que estudam durante o dia, numa perspectiva de ocupação do tempo ocioso

e de resgate social.

A apresentação projeto à equipe pedagógica, gestores e aos professores do

CEZCC aconteceu durante as atividades da Semana Pedagógica de início do ano

letivo, em fevereiro de 2014. A acolhida à proposta foi animadora, pois a

comunidade escolar, ciente do problema, há muito formas de ajudar esses alunos,

sem grande sucesso, principalmente essas estratégias isoladas não são suficientes

para fazer frente ao assédio de alunos – e mesmo de terceiros – envolvidos com o

consumo/tráfico de drogas, os quais, muitas vezes, vivem e atuam em locais muito

próximos da escola. Devido à escola não ter turma de 6º ano no periodo noturno o

projeto adequou-se para o 8ª ano.

A aceitação à proposta também foi muito boa por parte dos colegas

professores de Educação Física que participaram do GTR - Grupo de Trabalho em

Rede. Professores de escolas de diferentes localidades do Paraná manifestaram em

apoio às medidas propostas, destacando sua impotância no atual contexto em que

as drogas praticamente invadiram a escola; e ressaltou que o diferencial, neste

caso, é o chamamento desses alunos a participar do processo de desenvolvimento

dos colegas, estratégia que desperta o senso de responsabilidade e promove a

valorização dos sujeitos, o que se mostra altametne favorável, pois ajuda a elevar a

autoestima.

2 METODOLOGIA

A metodologia de trabalho adotada para a intervenção pedagógica na

disciplina de Educação Física junto a alunos do 7º anos do Colégio Estadual

Zacarias Cardoso de Cristo, compreendeu uma pesquisa de campo feita com esse

público alvo, necessária para conhecer os interesses e habilidades - latentes ou já

desenvolvidas – desses alunos em termos de atividades físicas.

A base teórica do estudo foi construída a partir de pesquisa bibliográfica feita

em fontes primárias e secundárias (MARCONI, LAKATOS, 2009). As buscas foram

realizadas em bibliotecas físicas e virtuais, especialmente em repositórios de artigos

científicos como Google Acadêmico, SciELO), tendo como descritores as seguintes

palavras: “atividade física”; “adolescentes”; “minimização do uso de drogas”;

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presentes no título e/ou no corpo do texto de livros, artigos científicos e/ou matérias

publicadas em revistas técnicas, dentre outros.

Nesse processo foram identificadas 12 obras de autores Arantes Porto

(2007); Assis Silva (2013); Ferreira (2012); Gevaerd et al. (2004); IPARDES (2013);

Mendes, (2006); Mialick et al., (2010; Prochmann, Amorin, (2007); Sociedade

Beneficente Israelita Brasileira – SBIB (2009); Sudbrack et al., (2005); UFPR.

Universidade Federal do Paraná (2013); dentre outros tomados como referência,

além de leis e documentos oficiais que regulam o ensino de Educação Física e as

abordagens transversais sobre a questão das drogas na sociedade contemporânea

e o papel da escola no processo de sensibilização dos alunos para os riscos dessa

prática.

Depois de passarem por leitura seletiva, essas publicações tiveram seus

conteúdos, conceitos e/ou informações incorporados ao texto do projeto e da PDP,

na forma de citações diretas e paráfrases. Todas as obras utilizadas foram

referenciadas em observância às recomendações da Coordenação do PDE quanto à

garantia aos direitos autorais e para conferir o caráter científico ao trabalho.

A proposta de intervenção – compreendida pelo projeto de pesquisa e pelo

material didático-pedagógico – se pauta pela realização de um trabalho de interação

social que contempla a utilização de técnicas de trabalho coletivo e de

experimentação de atividades físicas planejadas e dotada de um propósito, que é

resgatar esses alunos, inserindo-os na rotina escola, para dessa forma, afastá-lo das

ruas.

Com a aplicação do projeto houve-se a necessidade de adaptação de

algumas atividades e um trabalho de conscientização para a devida participação dos

envolvidos, no início foi desenvolvido técnicas para que acontecesse a participação

conforme proposto como: vir até a escola para assistir eventos e jogos da fase

municipal. Após conhecer a proposta os alunos tiveram interesse devido a

possibilidade de estar no colégio em outro período.

Como já é sabido os alunos são adeptos aos esportes de quadra, assim

após as atividades dirigidas, havia um jogo entre eles.

Em certo momento já estavam adaptados e reconhecendo a importância de

se estar ali e participar dos eventos extras, podendo ser um auxiliador em todas as

áreas, não havendo a necessidade de convencimento quanto ao não uso de certas

drogas, pois já estavam por um determinado tempo longe delas.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO - PROTAGONISMO JUVENIL SOCIAL COM

BASE NA ATIVIDADE FÍSICA PARA O RESGATE DE ALUNOS ENVOLVIDOS

COM DROGAS: A EXPERIÊNCIA DO COLÉGIO ESTADUAL ZACARIAS

CARDOSO DE CRISTO

Para compreender a necessidade de uma intervenção dessa natureza, é

preciso enfatizar que as drogas estão presentes na vida dos jovens. E que qualquer

substância natural ou sintética, administrada por qualquer via no organismo, afeta

sua estrutura ou função.

A drogadição é uma doença fatal que se caracteriza por uma anormalidade

metabólica decorrente do consumo excessivo de substâncias psicoativas que atuam

no físico e no psicológico dos usuários, aspecto que justifica a crescente

preocupação com o aumento no uso de drogas, principalmente entre os jovens,

notadamente em função das consequências à saúde do indivíduo drogadito e da

inclinação dos dependentes à criminalidade na busca de recursos para atender as

exigências de sua condição (GEVAERD et al., 2004).

A fase da adolescência é conturbada devido às mudanças biofisiológicas

que se impõe à revelia do indivíduo. Trata-se de um processo natural, mas marcado

por conflitos e, exatamente por isso, é de grande vulnerabilidade, vez que traz como

consequência, sensações de insegurança, timidez e problemas com a autoestima e,

na busca por um reforço, muitos acabam entrando em contato com drogas, o que

parecer ser, à primeira vista para esses jovens, a solução disto tudo; mas, ao invés

disso, estão colocando risco a sua integridade (ASSIS SILVA, 2013); pois, como

bem observa Ferreira (2012), os efeitos das drogas no organismo dos indivíduos

acarretam os prejuízos graves, que podem ser irreversíveis.

Sudbrack et al. (2005, p. 5) consideram que o problema das drogas nas

escolas é um fato incontestável, que precisa ser abordado sem receios, a partir de

propostas que envolvam a escola, a família e o aluno, numa perspectiva sistêmica

na qual cada segmento assume seu papel levando em consideração “o potencial de

ação de cada um no enfrentamento das dificuldades que se apresentam no cotidiano

e no ambiente escolar” (ibidem). Mas, para isso, é preciso que a escola ofereça

“canais para que o jovem possa dar vazão à sua necessidade de viver experiências

significativas e de partilhá-las com seu grupo” (ASSIS SILVA, 2013).

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O caminho que reúne todas essas possibilidades é a articulação da

Educação Física com o protagonismo social – linha de ação escolhida para a

proposta de intervenção junto aos alunos do Ensino Fundamental do Colégio

Estadual Zacarias Cardoso de Cristo, que teve lugar no primeiro semestre deste ano

de 2014 e cujos resultados são detalhados neste capítulo.

No que concerne aos interesses dos alunos em relação às modalidades

esportivas, a pesquisa de campo, proposta na Atividade 1, mostrou que a maioria

optou por futebol de salão, voleibol, handebol e basquete; portanto, as atividades

foram organizadas de maneira a relacionar essa demanda implícita para garantir a

permanência dos alunos no projeto; estratégia essa que se alinha aos preceitos

defendidos por Assis Silva (2013), quando enfatiza o papel estratégico da Educação

Física na recuperação de dependentes químicos – a qual, diferentemente da

repressão, além de promover a saúde, concorre positivamente para a qualidade dos

relacionamentos e das interações com os diferentes grupos, como amigos, colegas,

familiares. Contribuindo, inclusive, para uma auto avaliação positiva e para o sentir-

se útil, como bem observa Mialick (2013), para quem as perdas progressivas da

capacidade de adaptar-se, de responder a uma sobrecarga física ou mental,

favorecem ao isolamento e ao distanciamento da realidade comum aos demais.

Para a implementação do projeto, foram estabelecidas parcerias com a

comunidade que disponibilizaram palestrantes, como o SESI – Serviço Social da

Indústria, que promoveu a realização da Oficina Em ContraMão do Arranjo

Educativo Local. Nestas atividades os alunos participaram de dinâmicas e palestras

pelos educadores do Sesi durante o mês de abril nas sextas-feiras período da tarde.

Assim, a atividade 2 voltou-se à sensibilizar os alunos que são o público-alvo

do projeto quanto aos princípios que devem nortear o trabalho de PJS, preparando-

os para essa atuação e para refletir sobre sua própria realidade.

Os alunos passaram a ter aulas específicas e palestras preparatórias para

as atividades de PJS junto a alunos das turmas do período diurno. A Foto 1, abaixo,

mostra momento de uma dessas palestras.

FIGURA 1 – FOTO: PALESTRA DE ORIENTAÇÃO

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FONTE: MENDES (2014)

Em seguida, os alunos debateram sobre os temas abordados e assuntos

relacionados, como: vida saudável; autoestima; motivação; atividade física e sua

importância para o bem estar físico e mental; protagonismo juvenil; e, ainda, sobre o

uso de drogas nos esportes.

Também realizaram diversas buscas na internet, (feitas no laboratório da

escola) por conteúdos versando sobre as consequências do sedentarismo para a

saúde física e mental; a forma como os alunos percebem a relação vida saudável x

prática de atividades físicas; maneiras de favorecer a prática de atividade física em

grupos de alunos habituados a uma rotina de sedentarismo; a responsabilidade de

cada um na construção de um mundo melhor para todos; os principais problemas

sociais existentes no entorno da escola e o que o aluno pode fazer para transformar

essa realidade, sua vida e a de outrem. A prática de esportes e o uso de drogas foi o

tema final desse conjunto discussões, momento em que os alunos mencionaram os

atletas que utilizaram entorpecentes e tiveram problemas, e também sobre grandes

atletas que se destacaram no esporte e nunca utilizaram drogas.

As discussões foram amplas e possibilitaram a reflexão dos alunos sobre

questões pessoais. Mas, o foco das considerações foi o protagonismo juvenil e a

relevância de proporcionar aos alunos do diurno, que ainda são menores e precisam

de orientações, condições de compreender sobre os riscos causados pelas drogas e

a importância da atividade física para uma vida mais saudável. Ao final, os alunos

registraram sua percepção pessoal sobre o assunto na forma de sínteses (trabalhos

individuais e/ou coletivos).

Os objetivos dessa abordagem se alinham aos conceitos defendidos por

Aratangy (apud ASSIS SILVA, 2013), para quem, as atividades que mobilizam

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emoções proporcionam ao adolescente a oportunidade de viver a sensação de

pertença, de estar identificado com um grupo; ao passo que oferecem um canal

adequado para extravasar emoções. E quanto à construção de valores o autor

destaca que a prática de esportes coletivos enseja a construção de um clima de

companheirismo e espírito de equipe, assim como a assimilação e internalização de

normas de convivência e regras de jogo, levando o indivíduo a compreender a

necessidade de obedecer e de ceder em determinados aspectos, sem que para isso

seja necessária a imposição, a constante argumentação acerca de comportamento e

respeito, ou mesmo o confronto e, nesse caso, principalmente, a prática de

atividades se por oferecer um campo para a discussão e o confronto de ideias.

A atividade mais extensa compreendeu orientações ao grupo sobre o

que/como trabalhar com as turmas do período da tarde. Os alunos foram orientados

sobre a necessidade de, antes de cada atividade, realizar um aquecimento,

preferencialmente ao som de música mais agitada, para favorecer a descontração e

preparar o corpo para as exigências que se apresentarem. Para essa atividade os

alunos utilizaram-se da playlist3 constante do material didático-pedagógico.

Também foram debatidas questões como a importância da atividade física

dentro e fora da escola para uma visa saudável e a percepção do grupo sobre o

assunto; formas de combater o sedentarismo; os benefícios da prática de atividade

física para a saúde física e mental, para a satisfação pessoal e para a autoestima;

os riscos do uso de substâncias ilícitas para o desempenho físico, a saúde e os

3 Playlist:

Feel This Moment - Pitbull Ft Christina Aguilera: http://musicas.top10mais.org/videos/feel-this-moment

That Power - Will.i.am Ft Justin Bieber: http://musicas.top10mais.org/videos/that-power

Va Va Voom - Nicki Minaj: http://musicas.top10mais.org/videos/va-va-voom

Suit & Tie Justin Timberlake: http://musicas.top10mais.org/videos/suit-tie

I Could Be The One - Avicii ft Nicky Romero: http://musicas.top10mais.org/videos/i-could-be-the-one-nicktim

Get Up (rattle) - Bingo Players Ft Far East Movement: http://musicas.top10mais.org/videos/get-up-rattle

Sweet Nothing - Calvin Harris ft Florence Welch: http://musicas.top10mais.org/videos/calvin-harris-ft-florence-welch-sweet-nothing

Play Hard - David GUetta Feat Ne-Yo and Akon: http://musicas.top10mais.org/videos/play-hard

Dont You Worry Child - Swedish House Mafia Ft John Martin: http://musicas.top10mais.org/videos/dont-you-worry-child

Get Lucky - Daft Punk: http://musicas.top10mais.org/videos/get-lucky

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relacionamentos; e os exemplos de atletas que utilizaram entorpecentes4, 5, 6, 7, 8,

tiveram problemas e foram banidos do esporte, e também sobre grandes atletas que

se destacaram no esporte e nunca utilizaram drogas.

As atividades também bastante dinâmicas se mostraram mais distantes das

brincadeiras tradicionais. Isso animou o grupo, que demonstra maior disposição e

interesse no aprendizado das tarefas e sobre como orientar os colegas da tarde de

maneira a alcançar os resultados esperados.

Mas, o principal resultado foi a transformação dos alunos quanto à melhoria

na sua qualidade de vida – conquistada pela prática de atividades físicas e pelo

protagonismo social ante seus iguais (Figura 2, abaixo).

FIGURA 2 – FOTO: ALUNO DO PROJETO ARBITRANDO O JOGO

FONTE: MENDES (2014)

A foto da Figura 2 mostra um dos alunos do grupo, que foi destacado para

auxiliar o professor de Educação Física nas aulas da tarde, devido às habilidades

4 Jogadores de futebol que se envolveram com as drogas. Disponível em http://www.x-

tudo.net/2011/06/jogadores-de-futebol-que-se-envolveram.html 5 Veja atletas que tiveram seus nomes envolvidos com cocaína e outras drogas. Disponível em

http://esportes.terra.com.br/futebol/veja-atletas-que-tiveram-nomes-envolvidos-com-cocaina-e-outras-drogas,9f0034e90b58e310VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html 6 O fantasma da maconha e da cocaína entre os atletas. Disponível em

http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/atletas-que-admitiram-usar-drogas-proibidas 7 Lista de atletas dopados (1997 a 2013). Disponível em http://drosmar.band.uol.com.br/dopping/lista-de-

atletas-dopados-1997-ate-2010/ 8 10 casos de atletas punidos por doping. Disponível em http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/10-

atletas-punidos-por-doping-ou-uso-de-drogas

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demonstradas. Resultados como esse comprovam que com a orientação correta e a

partir da delegação de atividades de relevância que promovem, inclusive, a projeção

social entre seus iguais, a autoestima desses jovens se eleva, induzindo a reflexões

sobre os benefícios da atividade física e de optar por uma vida mais saudável, longe

das drogas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O consumo de das drogas não é um problema da escola, mas um fenômeno

social que adentra aos portões da instituição e sobre o qual são se tem controle,

mas que precisa ser enfrentado nesse ambiente de forma a proporcionar aos alunos

envolvidos, oportunidades de superação e desenvolvimento educacional, social e

afetivo.

Por isso, quando da escolha do tema para estudar e desenvolver dentro do

Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, edição 2013/2014, da Secretaria

de Estado da Educação do Paraná – SEED, procurei articular os objetivos de ensino

da Educação Física - minha área de atuação – às demandas observadas no Colégio

Estadual Zacarias Cardoso de Cristo - CEZCC, aonde o problema das drogas vem

demonstrando crescimento, devido à proximidade das instalações da escola com

bairros e pontos de consumo e distribuição de entorpecentes. Trata-se de um fato

contra o qual a escola precisa lutar com as armas de que dispões: a educação, a

orientação e o auxílio a esses jovens na construção de valores e hábitos que

possam contribuir para uma vida mais saudável e segura, longe das drogas.

Por essa razão, o projeto de intervenção para o CEZCC compreendeu uma

articulação entre a Educação Física e o resgate social de alunos do período noturno

envolvidos com drogas, com o objetivo capacitá-los, durante as aulas da disciplina,

para a prática de esportes de acordo com suas habilidades e escolha, preparando-

os para o protagonismo social junto a colegas que estudam durante o dia.

Os objetivos do estudo compreenderam: descrever a questão das drogas

nas escolas e seus impactos na aprendizagem dos alunos, na violência escolar e na

sociedade; analisar as características socioeconômicas e culturais do público

atendido pelo CEZCC, apontando os fatores que concorrem para a disseminação

das drogas nos alunos oriundos desses meios sociais; identificar estratégias de

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intervenção adotadas por professores e escolas articulando a prática de atividades

físicas e o resgate social de alunos envolvidos com drogas; e apresentar proposta

de intervenção pautada na prática de atividades de acordo com a habilidade e

escolha dos alunos, e na promoção do protagonismo social desses alunos pela

multiplicação de seus conhecimentos de técnicas desenvolvida junto a alunos que

estudam durante o dia, ensinando atividades direcionadas.

A estratégia adotada visou à ocupação do tempo ocioso e o resgate social

dos alunos do Ensino Fundamental – do período noturno que estão expostos ao uso

de drogas na comunidade. As atividades foram selecionadas e organizadas de

forma a prepará-los para superar seus limites físicos e despertar para os benefícios

de ter a mente e o corpo sãos, dispondo da escola durante o dia, para, de acordo

com suas habilidades, treinar e trabalhar com alunos menores e desenvolver

atividades esportivas e culturais direcionadas pelo corpo docente da escola.

Como resultado da intervenção, o projeto tomou uma proporção maior do

que a inicialmente, pois o aproveitamento e o interesse dos alunos se mostrou tão

grande e significativo que alguns passaram a participavam como árbitros nos jogos e

mini-campeonatos internos realizados pelos professores de Educação Física. Houve

também o desdobramento para o início de uma escolinha de futsal nos horários

intermediários contando com 30 alunos entre 10 e 14 anos fazendo com que a

proposta se estenda para os próximos anos.

Como se pode observar, com medidas pautadas na integração e na

elevação da autoestima, e com o apoio da comunidade, torna-se possível à escola

proporcionar aos alunos com dependência química, condições de vivenciar

situações diferenciadas em sua rotina e de construir valores necessários à vida em

sociedade e ao exercício da cidadania; e que os caminhos escolhidos para tal

devem contemplar uma articulação com a disciplina de Educação Física, cujas

características permitem a adequação do conteúdo ao grupo social em que será

trabalhada, e confere uma maior liberdade de trabalho e de avaliação por parte do

professor sobre o aproveitamento do grupo e do indivíduo, aspecto altamente

benéfico ao processo geral educacional do aluno e ao seu desenvolvimento social.

Como sugestão para futuras pesquisas - propostas essas que inclusive

também foram manifestadas pelos colegas do GTR, estão: desenvolver estratégias

de prevenção de longo prazo com o apoio da escola, da família e da comunidade,

associadas às instituições governamentais; estender a abordagem para os alunos

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do ensino regular que estão entre os 12 e 13 anos de idade - em plena

adolescência, momento em que os conflitos internos são maiores, ditados pelas

transformações para a vida adulta, numa perspectiva de prevenção ao uso de

drogas para sentir-se parte de um grupo ou para minimizar as dificuldades que

caracteriza essa fase da vida, uma vez que depois que os adolescentes tiverem

contato com as drogas, torna-se mais difícil controlar e de obter respostas positivas

e duradouras nesse sentido.

REFERÊNCIAS

ARANTES PORTO, Fausto. Benefícios da Atividade Física. Publicado em 2007; disponível em http://7dinamico.blogspot.com.br/2007/09/benefcios-da-atividade-fsica.html. Acesso em 07 jun.2013.

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