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  • Verso On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

    OS DESAFIOS DA ESCOLA PBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

    Artigos

  • A HISTRIA DA FRICA NA SALA DE AULA

    Rosa Aparecida Pelgia1

    Jos Henrique Rollo Gonalves2

    RESUMO

    Esse trabalho teve por finalidade incentivar professores e alunos na busca de conhecimentos sobre Histria da frica, por se tratar de uma temtica com pouca nfase nos materiais didticos a serem trabalhados em sala de aula. O grande objetivo criar mecanismos que geram interesses na busca de saberes sobre o continente africano, pois durante muito tempo a Histria da frica foi velada por preconceitos, ou seja, considerava se que sociedade sem escrita no produzia histria, visto que, somos uma sociedade que resultou de um encontro de raas, tornando se mestios ou pluri tnico em especial afro descendentes, ou seja, abrir possibilidades de estudos aprimorando a aprendizagem e reflexo sobre a Histria da frica e consequentemente a Histria do Brasil, contemplando a Lei 10.639/03 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educao Nacional, a incluir no currculo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temtica Histria e Cultura Afro Brasileira e Africana. Assim sendo, o presente trabalho teve como tema central a Escravido entre os prprios Africanos, com o intuito de desmistificar a ideia de que a escravido fruto dos portugueses, cujo, processo de escravizar j existia desde a antiguidade entre os prprios africanos. Portanto esse tipo de negociao no iniciou com a vinda de africanos para o Brasil. Assim sendo, espera-se que com o conhecimento mais construdo haja maior conscientizao e diminuio do preconceito e da discriminao racial , arraigada na mentalidade da sociedade brasileira, que vem se arrastando por vrios sculos.

    Palavras-chave: Histria da frica. Escravos. Escravido. Racismo.

    1 Licenciatura em Histria, especializao em Administrao, Superviso e Orientao Educacional, Histria da Arte e educao de Jovens e Adultos. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Docente, Colgio Estadual Vercindes Gerotto dos Reis Ensino Mdio, Paiandu, PR, Brasil. [email protected] Orientador, graduao em Histria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Histria pela Universidade Federal do Paran e doutorado em Histria Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013). Trabalha na Universidade Estadual de Maring. Desenvolve estudos sobre Histria da frica e Histria das Sociedades Muulmanas, em particular do Oriente Mdio e da sia Central. [email protected].

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • 1. INTRODUO

    Ao se tratar do assunto frica, percebe se lacunas sobre os contedos

    aplicados na educao, principalmente no ensino fundamental e mdio.

    A frica um Continente visto como primitivo, povoado por tribos em imensas

    florestas, imagens construdas pelos meios de comunicaes e pelos prprios livros

    didticos

    Embora as razes tnicas do Brasil sejam em larga escala africanas, o

    desconhecimento em relao ao Continente Africano faz com que proliferam vises

    estereotipadas e preconceituosas sobre ele. A falta de conhecimento em relao

    Histria Antiga dos negros, as diferenas culturais, os preconceitos tnicos entre

    duas raas que se confrontam pela primeira vez, e as necessidades econmicas de

    explorao predispuseram o esprito europeu a desfigurar a personalidade moral dos

    negros e suas aptides intelectuais, onde so considerados primitivos, inferior, com

    mentalidade pr-lgica.

    A complexidade das relaes raciais na sociedade brasileira foi construda

    com base no processo de escravizao de africanos. Isso foi o que criou ao longo de

    sculos de histria, tanto no escravizado quanto no escravocrata, representaes

    sociais e experincias de subalternidade que so do ponto de vista individual de

    uma profundidade simblica e que produzem na tica social um engessamento de

    lugares e de hegemonia, resultando numa negociao, em demarcao de lugares

    sociais.

    Os povos que foram escravizados e trazidos em grandes contingentes para o

    Brasil, aqui se tornaram africanos, ganhando junto outras identificaes, como:

    negro, escravo, produzindo uma fuso de significados considerados de inferioridade,

    gerando preconceito, discriminao.

    A prpria histria mostra no seu percurso, a importncia de transmitir

    conhecimento de uma gerao outra, como garantia de nossa sobrevivncia

    enquanto espcie. Para isso, as sociedades, nos diversos momentos de suas

    trajetrias, criaram formas de garantir essas passagens.

    A escolha dos contedos curriculares, tanto dos conceituais e temticos,

    como os de valores morais, passa por essas relaes. J o currculo vivenciado

    pelos alunos vai alm dos contedos escolhidos para serem ministrados pelos

  • professores, na experincia escolar existe um currculo oculto ao lado do oficial,

    principalmente sobre a Histria da frica.

    Nesse sentido, ressaltamos que necessrio incluir assuntos sobre a frica,

    onde possibilita ao aluno conhecimento sobre o desenvolvimento dessa sociedade,

    entender que o processo escravizar j existia na Antiguidade entre os prprios

    africanos. Perceber que esse tipo de negociao no iniciou com a vinda de

    africanos para o Brasil.

    A Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que estabelece as Diretrizes e Bases

    da Educao Nacional, a incluir no currculo oficial da rede de ensino a

    obrigatoriedade da temtica Histria e Cultura Afro Brasileira, oportunizou novas

    aberturas em busca de conhecimentos sobre o mundo africano, embora essa Lei

    visa ampliar o foco da matriz civilizatria de nosso pas, considerando a contribuio

    do povo afrodescendente na construo da sociedade brasileira, ressinificando sua

    presena na formao e desenvolvimento da Histria do Brasil, nada impede que

    buscamos outros assuntos que envolvam a sociedade africana, possibilitando mais

    entendimento, compreenso, esclarecimento sobre questes pertinentes , que no

    esto contidas em livros didticos, e muitas vezes se apresentam repletos de

    esteretipos, onde o negro caracterizado de primitivo, de povo escravizado, de

    vtima de castigos terrveis, como coitado, miservel , derrotados. Portanto ao se

    tratar da Histria da frica, o professor precisa fazer abordagens positivas, buscar

    assuntos da frica antes da dispora, percebendo os seus conhecimentos, as

    arquiteturas, suas navegaes, e muitas outras habilidades existentes no povo

    africano, potencializar a beleza de cada etnia, a riqueza da diversidade de tipos

    humanos. Assim sendo, o preconceito, a discriminao, o racismo esto muito

    presentes na mentalidade dos brasileiros. Sabemos que esse territrio chamado

    Brasil resultou de um encontro de raas, tornando se mestio ou pluri tnico. Desse

    encontro somos quase todos de uma maneira ou de outra afrodescendentes ou afro

    brasileiros. Durante muito tempo a Histria da frica foi velada por preconceitos, ou

    seja, considerava se que sociedade sem escrita no produzia histria.

    Partindo desse pressuposto, o tema escolhido para trabalhar nesta pesquisa

    conhecer A escravido praticada dentro da frica. Essa escolha se justifica pela

    nfase dada ao termo escravido no Brasil e suas consequncias geradas na

    mentalidade da sociedade brasileira desde a colonizao portuguesa, possibilitando

    o conhecimento ao aluno de que dentro da prpria frica havia a prtica de

  • escravizar, isso acontecia de uma regio para outra, e que esse modelo de comrcio

    foi se expandindo para outros Continentes, principalmente a Europa. Porm, saber

    que a forma de escravizar dentro da frica era bem diferente de como os negros

    foram escravizados pelos europeus na Amrica.

    2. A ESCRAVIDO NA FRICA

    O comrcio de escravos existiu na frica desde a Antiguidade, por volta do

    sculo II a. C., porm o nmero de escravos acentuou-se na Idade Moderna, com o

    trfico negreiro europeu. Segundo a historiadora Marina de Melo e Souza:

    Desde os tempos mais antigos, alguns homens escravizaram outros homens no eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos e inferiores. As fontes de escravos sempre foram s guerras, com os prisioneiros sendo posto para trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como a condenao por transgresso e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dvidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. A escravido existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus comearem a traficar escravos pelo Oceano Atlntico (SOUZA, 2006 p. 47 apud MOCELLIN; CAMARGO, 2010, p. 17).

    Segundo os historiadores, a escravido esteve presente no Continente

    Africano muito antes do incio do comrcio com os europeus, escravizavam-se entre

    si, e durante os sculos VII a XV, o comrcio de escravos foi largamente praticado,

    principalmente pelos rabes atravs do Saara.

    2.1 AS VRIAS MANEIRAS DE ESCRAVIZAR NA FRICA

    Os africanos escravizavam-se uns aos outros por questes de identidade

    cultural. Eles no se conheciam como africanos, pois se identificavam de diversas

    maneiras como: pela famlia, cl, tribo, etnia, lngua, religio, pas ou Estado. Essa