hegemonia, representação e populismo: reflexões a of... · 1 hegemonia, representação e...
Post on 18-Sep-2018
213 views
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
1
Hegemonia, representao e populismo: reflexes a partir da teoria
de Laclau e Mouffe
Diane Southier1
RESUMO: O objetivo do artigo trabalhar com a teoria da hegemonia de Ernesto Laclau e Chantal
Mouffe, apontando o percurso de sua construo, suas principais bases tericas e conceitos,
privilegiando sua referncia em Gramsci. Essa parte necessria para analisar a concepo de
representao a colocada e entender a lgica do populismo apresentada por Laclau, ambas
ancoradas num duplo movimento de constituio de identidades, entre representante e
representados(as). Num segundo momento, pretende-se apresentar a teoria do subeleitorado,
desenvolvida por Benjamin Bishin, a partir da qual possvel estabelecer uma interessante analogia
com a noo de representao de Laclau. Bishin explica que polticos recorrem a grupos com
identidades j ativadas ou ainda latentes para obterem benefcios, de maneira que respondem a
demandas ao mesmo tempo em que so partcipes na elaborao dessas demandas, ou seja, o
duplo movimento da representao, que Bishin apresenta com sua teoria, complementando e dando
validade noo laclauniana. A partir disso, e articulando o que j tenha sido discutido, a inteno
introduzir a relao entre Laclau e Hannah F. Pitkin, abordando, primeiramente, o conceito de
representao substantiva desenvolvido por essa autora. Pitkin tambm sistematiza diversas vises
sobre representao, entre as quais, num segundo momento, abordaremos a de representao
simblica, importante para a discusso sobre o populismo. Com todos esses elementos tericos em
mos, podemos analisar e entender a lgica poltica do populismo exposta por Laclau e, por ltimo,
apresentar o debate dele com Pitkin. Esta autora considera que a representao simblica algo que
faz parte do populismo, segundo Laclau corresponde a um processo de manipulao por parte do
lder sobre seus seguidores, mas Laclau pondera que a prevalncia do lder no necessariamente
uma regra e que necessrio distinguir entre o que seria uma relao manipulativa e o que seria um
processo de constituio de vontades. Isto algo que diz respeito aos processos de participao
poltica e de atuao das vontades dos representados sobre os representantes, sendo que estes no
podem desligar-se inteiramente dos primeiros sem que se rompa o prprio processo de
representao. Dessa forma, podemos entender como o conceito de representao como
constituio de identidades se relaciona anlise sobre o populismo e como o populismo tambm
diz algo sobre a lgica da representao. Laclau utiliza o termo populismo como uma lgica de
construo poltica, afastando-se das valoraes pejorativas sobre esse essa construo, pois o
populismo , em ltima instncia, o momento da cristalizao de um smbolo e da nomeao de um
lder, mas tambm o resultado da articulao de demandas polticas com profundas razes sociais.
Palavras-chave: Hegemonia, Representao Poltica, Poltica do Subeleitorado, Representao
Simblica, Populismo.
Hegemona, Representacin y Populismo: reflexiones desde la teora de Laclau Y Mouffe
RESUMEN: El propsito del artculo es trabajar con la teora de la hegemona de Ernesto Laclau y
Chantal Mouffe, mirando el curso de su construccin, sus principales bases y conceptos, sobretodo
lo que toca a Gramsci. Eso se hace necesario para entender la concepcin de representacin y para
1 Licenciada em Cincias Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil, Santa Catarina,
Florianpolis, 2013. Cursando mestrado em Sociologia Poltica na mesma instituio.
E-mail: diane.southier@gmail.com.
Congresso Latinoamericano de Teora Social. MESA 6 | La teora de la Hegemona: Planteos y desafos
contemporneos.
2
mejor comprensin de la lgica del populismo presentada por Laclau, ambas fijadas en un doble
movimiento de constitucin de identidades, entre los representantes y representados. En otro
momento la intencin es presentar la teora del sub electorado, desarrollada por Benjamin Bishin, de
la cual es posible conectar una analoga interesante con la idea de representacin de Laclau. Bishin
habla que los polticos buscan grupos con identidades ya activadas o pulsantes para tener
beneficios, del modo que se le produzcan respuestas a las demandas al mismo tiempo en que los
polticos hacen parte de la elaboracin de esas demandas, o sea, este es el doble movimiento de la
representacin que se lo presenta Bishin con su teora, as a complementar y dar validez a la nocin
laclauniana. A partir de eso se introduce la relacin entre Laclau e Hannah F. Pitkin, trayendo el
concepto de representacin substantiva desarrollado por ella. Pitkin adems sintetiza muchas
visiones a respecto de las representaciones, entre ellas, la representacin simblica, con su
importancia para el debate de lo populismo. Con todos estos elementos tericos en las manos, es
posible analizar y comprender la lgica poltica del populismo expuesta por Laclau y, despus,
presentar el debate con Pitkin. La autora cree que la representacin simblica algo que forma
parte del populismo, segn Laclau es como un proceso de manipulacin del lder poltico hecho
sobre los que le siguen, pero Laclau pesa que el predominio del lder no necesita ser sobretodo una
regla: es preciso hacer la diferenciacin entre una relacin manipulativa y un proceso donde
voluntades son constituidas. Esto nos cuenta algo sobre los procesos de participacin poltica y el
desempeo de las voluntades de los representados en los representantes, que no se pueden alejarse
por completo de los primeros sin que se lo rompa el proceso mismo de la representacin. As por
tanto, podemos tener idea de cmo el concepto de representacin como construccin de identidades
est relacionado con el anlisis del populismo y cmo el populismo tambin dice algo acerca de la
lgica de la representacin. Laclau utiliza el termo populismo como una lgica de la construccin
poltica, alejando las valoraciones peyorativas a respecto de esa construccin, pues el populismo es,
en su ltima instancia, el tiempo de cristalizacin de un smbolo y el nombramiento de un lder,
pero tambin es el resultado de la articulacin de demandas polticas con profundas races sociales.
Palabras claves: Hegemona, Representacin Poltica, Poltica del Sub Electorado, Representacin
Simblica, Populismo.
Introduo
O objetivo do artigo trabalhar com a teoria da hegemonia de Ernesto Laclau e Chantal
Mouffe, apontando o percurso de sua construo, suas principais bases tericas e conceitos,
privilegiando sua referncia em Gramsci. Essa parte necessria para analisar a concepo de
representao a colocada e entender a lgica do populismo apresentada por Laclau, ambas
ancoradas num duplo movimento de constituio de identidades, entre representante e
representados(as).
Num segundo momento, pretende-se apresentar a teoria do subeleitorado, desenvolvida
por Benjamin Bishin, a partir da qual possvel estabelecer uma interessante analogia com a noo
de representao de Laclau. Bishin explica que representantes polticos recorrem a grupos com
identidades j ativadas ou ainda latentes para obterem benefcios, de maneira que respondem a
demandas ao mesmo tempo em que so partcipes na elaborao das demandas, nos termos
3
laclaunianos, ou seja, o duplo movimento da representao.
A partir disso, e articulando o que j tenha sido discutido, a inteno introduzir a
relao entre Laclau e Hannah F. Pitkin, abordando, primeiramente, o conceito de representao
substantiva desenvolvido por essa autora. Pitkin tambm sistematiza diversas vises sobre
representao, entre as quais, num segundo momento, abordaremos a de representao simblica,
importante para a discusso sobre o populismo.
Com todos esses elementos tericos em mos, podemos analisar e entender a lgica
poltica do populismo exposta por Laclau e, por ltimo, apresentar o debate dele com Pitkin, e
apreender como o conceito de representao como constituio de identidades se relaciona anlise
sobre o populismo e como o populismo tambm diz algo sobre a lgica da representao.
Construo terica de Laclau e Mouffe em torno do conceito de hegemonia
Para comear, importante localizar o surgimento da teorizao de Laclau e Mouffe no
seio da crise do marxismo a partir da dcada de 1970. Havia uma crescente dificuldade de adequar
as categorias tericas marxistas s transformaes do capitalismo, frente, por exemplo,
fragmentao das classes sociais e consequente dificuldade de articulao poltica entre os agentes.
Diferente das vises ortodoxas de parte dos tericos marxistas naquela poca, Laclau e Mouffe
(2001[1985]), conforme explicam no prefcio segunda edio de Hegemony and Socialist Strategy2,
procederam em direo a uma reativao que mostrasse a contingncia original da sntese que as
categorias marxianas tentaram estabelecer (LACLAU; MOUFFE, 2001, p.viii). Nesse sentido, no
lugar de lidar com noes como classe, por exemplo, eles questionaram sua continuidade ou
descontinuidade no capitalismo contemporneo; as categorias centrais da teoria marxista teriam que
ser desconstrudas luz de novos problemas.
Muitas questes e antagonismos sociais contemporneos pertencem a campos de
discursividade que so externos ao marxismo, no podendo ser conceituados nos termos de suas
categorias, alm de que a prpria presena desses antagonismos questiona o marxismo como um