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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2014

Título: UMA CIDADE ILUMINISTA: A CONSTITUIÇÃO FEDERAL NA VIDA DOS JOVENS.

Autor: Rafael de Jesus Andrade de Almeida.

Disciplina/Área: História.

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Professor Júlio Szymanski. Rua São Vicente de Paulo, 76 – Centro.

Município da escola: Araucária.

Núcleo Regional de Educação: Área Metropolitana Sul.

Professora Orientadora: Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt.

Instituição de Ensino Superior: Universidade Federal do Paraná.

Relação Interdisciplinar: Sociologia, Filosofia, Geografia, Arte e Língua Portuguesa.

Resumo:

Após auscultar as ideias prévias dos jovens protagonistas do projeto, por meio de um

questionário aplicado no primeiro semestre de 2014, o material didático foi elaborado com o

objetivo de ampliar qualitativamente a literacia histórica dos mesmos sobre a historicidade da

Constituição brasileira. A partir dos apontamentos didáticos da teoria da consciência histórica

e suas tipologias expressas por meio de narrativas, especialmente através dos usos

praxiológicos feitos pelas pesquisas em Educação Histórica, o material didático foi pensado

para que os jovens tenham a oportunidade de desenvolverem uma consciência histórica mais

sofisticada sobre o tema em questão.

Palavras-chave: Constituição Federal; Jovens; Consciência Histórica.

Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico.

Público: Jovens do 3º ano do Ensino Médio.

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APRESENTAÇÃO:

A produção didático-pedagógica que a colega professora ou professor acaba de acessar,

pretende contribuir na formação de uma consciência histórica mais sofisticada dos jovens, sobre

a historicidade da Constituição brasileira.

Essa produção foi elaborada após o professor Rafael auscultar as ideias prévias dos jovens

educandos do 2º D do Colégio Estadual Professor Júlio Szymanski, que no primeiro semestre

de 2014 responderam a um questionário com 11 questões sobre os seguintes tópicos: conceito

de Constituição, Constituição brasileira, História das Constituições e, seus significados e usos

para as nossas vidas.

A categorização das ideias prévias dos jovens, feita a partir de um questionário (instrumento de

estudo exploratório), deram os subsídios necessários para que o professor elaborasse uma

Estrutura Histórica Utilizável, que poderá ser conferida de forma breve logo após a capa do

material didático.

A unidade 1 pretende promover uma discussão inicial sobre os significados da Constituição

brasileira em nossas vidas, especialmente a partir de pontos de vista conflitantes dos sujeitos

do nosso tempo. A unidade 2 pode ser entendida como uma parada providencial em aspectos

conceituais fundamentais para o entendimento do fenômeno constitucionalista. A unidade 3

procura ajudar na compreensão da história da humanidade como uma luta pela construção das

importantes noções de direitos civis, políticos, sociais e principalmente da importante noção de

direitos humanos. A unidade 4 traz em traços breves uma abordagem possível, do ponto de vista

didático, da história das constituições brasileiras anteriores à Carta de 1988, dando enfoque

especial às vivências de alguns sujeitos históricos imersos nos períodos estudados. A unidade

5 traz um enfoque especial à elaboração da Constituição brasileira em vigor, procurando

promover a emersão dos conflitos latentes na Constituinte de 1987-1988, e que, se fazem

fortemente presentes na história da sociedade brasileira no tempo presente. A unidade 6 faz

uma retomada de aspectos estudados em todo o material didático, e principalmente, procura

aprofundar o debate proposto na primeira unidade a partir do estudo da Constituição na vida

dos Jovens.

Ao remeter para os Jovens, protagonistas do projeto, a responsabilidade na apresentação dos

conteúdos históricos e elaboração das atividades das unidades 4, 5 e 6, o material didático

pretende promover o entendimento dos mesmos sobre a forma como a escrita da História é

produzida, recorrendo aos recursos das aulas-oficina. Nesse sentido o material didático vincula-

se aos princípios e finalidades da Cognição Histórica Situada na racionalidade epistemológica

da ciência da História.

A última Recuperação Paralela do trimestre é pensada para promover entre todos os Jovens

(mesmo que a recuperação seja considerada contingencial) a elaboração de metanarrativas

sobre a historicidade da Constituição Federal, a partir da reelaboração da Estrutura Histórica

Utilizável proposta pelo professor autor do material didático.

Como conclusão do projeto, o material didático propõe a realização de um Fórum Escolar

sobre um aspecto polêmico na atualidade a respeito da Constituição Federal de 1988. Por isso

a escolha do tema: Plebiscito Constituinte: desafios, riscos e perspectivas.

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UMA CIDADE

ILUMINISTA:

A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL NA VIDA

DOS JOVENS. Autoria: Rafael de Jesus Andrade de Almeida.

Orientação: Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt. Secretaria de Estado de Educação do Paraná – Universidade Federal do Paraná.

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ESTRUTURA HISTÓRICA UTILIZÁVEL.

Unidade I – O que falam sobre a Carta de 1988: uma cidade de ideias.

Unidade II – Cartas numa mão, dicionários na outra: uma cidade conceitual.

Unidade III – Cartas à liberdade: uma cidade de declarações.

Unidade IV – Brasil, Cartas rasgadas: uma cidade arbitrária.

- A Carta do Império: uma cidade como senzala.

- Carta para o Coronel: uma cidade oligárquica.

- Cartas para Vargas: uma cidade caudilhista.

- Carta à redemocratização: uma cidade que parecia próxima.

- Carta ou Cartas de chumbo? Uma cidade sitiada.

Unidade V – Como a Carta de 1988 foi escrita: uma cidade em assembleia.

Unidade VI – Os Jovens e a Carta de 1988: uma cidade nas ruas.

Cronograma sugerido para um semestre inteiro, num colégio com organização trimestral.

- Unidade I – 3 aulas (2 aulas de explicação e 1 aula para atividades).

- Unidade II – 3 aulas (2 aulas de explicação e 1 aula para atividades).

- Unidade III – 8 aulas (6 aulas de explicação e 2 aulas para atividades).

Recuperação Paralela em Sala: 3 aulas (2 aulas expositivas e 1 aula para a organização

das atividades que serão elaboradas em casa).

- Elaboração das explicações e atividades pelos Jovens protagonistas do projeto: 3 aulas.

- Apresentações dos jovens: 7 aulas (1 aula por equipe; sendo 5 equipes para a Unidade

IV, 1 equipe para a Unidade V e 1 equipe para a Unidade VI. A sétima e última equipe

será composta por um representante de cada uma das equipes anteriores).

- Todas as atividades elaboradas pelas equipes serão entregues juntas na aula seguinte

após a última apresentação.

Recuperação Paralela em Sala: 5 aulas (4 aulas expositivas do professor e 1 ala para

organização da meta-narrativa que será produzida em casa).

- Total: 32 aulas de trabalhos efetivos com o material didático

- Fórum Escolar – 4 aulas.

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Unidade I

O QUE FALAM SOBRE A CARTA DE 1988: uma cidade de ideias. Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- A Constituição de 1988: significados pessoais;

- Divergências de opiniões sobre a Carta de 1988.

Debates sobre os conteúdos e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade do professor Rafael.

FONTE 1: artigo da revista Veja, publicada em 05 de outubro de 2013:

MARCO DA REDEMOCRATIZAÇÃO, CONSTITUIÇÃO FAZ 25 ANOS

Reportagem de VEJA mostra como a Carta Magna fez do Brasil um país democrático, mas suas fraquezas

intrínsecas impedem que ela desfrute, ao completar 25 anos, da aura de outras Cartas, como a americana.

[...] Não há dúvida de que a democracia avançou no Brasil no último quarto de século e de que a Constituição teve

um papel essencial nesse processo. Mas é significativo que na miríade de cartazes levados às ruas durante as

manifestações de junho, e na enxurrada de mensagens postadas nas redes sociais, a Carta raramente tenha sido

mencionada como um ponto de referência simbólico. Quando ela se tornou assunto, foi de modo negativo: em

resposta àqueles que expressavam na rua o seu repúdio à corrupção e à classe política, o governo sugeriu, de

maneira funesta, que se reformasse o sistema político por meio de uma “Constituinte específica”. Entre o

esquecimento dos manifestantes e o perigoso arroubo do Executivo, fica claro que a Constituição promulgada em

5 de outubro de 1988 não desfruta, em seu 25º aniversário, da aura quase sagrada de que se reveste, por exemplo,

a Carta dos Estados Unidos. Por que isso aconteceu? Em grande parte, devido às suas fraquezas intrínsecas. O que

não significa que ela não deva ser, para além de respeitada, defendida.

Em todas as 341 sessões consumidas na redação da Carta Magna, o fantasma do regime militar permaneceu na

assembleia ao lado dos constituintes. Isso deixou uma marca profunda no texto final, que não se limita a elencar

alguns direitos fundamentais. Para assegurar que os abusos da ditadura não se repetissem, os constituintes crivaram

o texto de dispositivos “garantistas”. Pelas mesmas razões, o ambiente era propício para que todas as vozes e todos

os pleitos que gozassem de alguma representatividade - e tivessem sido calados nos anos anteriores - fossem

acolhidos. Hoje senador, Paulo Paim (PT-RS) admite que se esforçou para incluir no texto o máximo de

dispositivos trabalhistas: “Eu tinha clareza de que tudo aquilo que ficasse gravado, só com uma emenda à

Constituição, que exige três quintos dos votos, poderia ser retirado. Por isso, trabalhei muito para que o tratamento

do tema fosse o mais amplo possível”, diz ele. A declaração de Paim reflete bem o espírito com que os constituintes

abordaram sua tarefa e explica por que a Constituição pode ser descrita como prolixa (a décima mais extensa do

mundo), segundo dados do projeto Comparative Constitutions (CCP), paternalista (apenas dez fixam mais direitos)

e quase surrealmente detalhista: ela incluiu até mesmo um parágrafo dedicado à administração do Colégio Pedro

II, no Rio de Janeiro. Como muitos direitos previstos necessitam de leis para se materializar, criou-se um enorme

ônus de regulamentação: ainda hoje, 112 dispositivos aguardam nessa fila.

Os mais graves pecados foram cometidos na área econômica. O exemplo notório é o artigo 192, do capítulo que

trata da ordem financeira. Ele fixou em 12% o teto da taxa de juros no Brasil. “Foi um desastre”, lembra o

economista Maílson da Nóbrega, que era ministro da Fazenda em 1988. “A Constituição reforçou o dirigismo um

ano antes da queda do Muro de Berlim e incorporou preconceitos infantis contra o capital estrangeiro, a empresa

privada e os direitos de propriedade.” Nos anos que se seguiram à promulgação, os artigos sobre economia e

tributação se chocaram continuamente com a realidade. E o pragmatismo, felizmente, acabou prevalecendo sobre

o pensamento mágico. A maior parte das 74 emendas aprovadas desde 1988 tem a ver com esses dois temas. No

começo dos anos 90, por exemplo, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, os dispositivos

que limitavam a entrada de capital estrangeiro foram derrubados, permitindo revoluções como a da telefonia.

Segundo um estudo recente realizado pelo gabinete do constituinte e atual senador Francisco Dornelles (PP-RJ),

a lógica tributária instituída pela Carta de 1988 foi totalmente desmontada nos últimos 25 anos. Ah, sim: o artigo

sobre os juros de 12% foi expurgado em 2003.

Seja pela necessidade de desfazer o que não faz sentido, seja pela necessidade de regulamentar o que foi deixado

em aberto, o fato é que a Constituição brasileira nunca atingiu a plena eficácia em seus próprios termos. É

instrutivo, mais uma vez, o paralelo com a Constituição americana - exemplo máximo de Carta “sintética”.

Promulgada em 1789 [o ano é 1787], ela cuidou unicamente de fixar um sistema de governo, criando pesos e

contrapesos para a atuação de cada um dos três poderes, e de estabelecer os limites da atuação do governo central,

assegurando a autonomia dos estados. A famosa Bill of Rights (Carta de Direitos), coleção de dez emendas que

tratam das garantias individuais, só veio à luz em 1791 - e mesmo assim depois de muito debate sobre a

conveniência de incluir ou não regras desse tipo na Constituição. O desenho austero faz com que a Constituição

americana mantenha seu vigor, apesar dos mais de dois séculos de vida.

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[...]

A Constituição não é perfeita. Mas também é verdade que redigir uma Constituição é trabalho para momentos

históricos especiais - aqueles em que uma sociedade passa por ruptura ou transição. Fora dessas circunstâncias, o

trabalho de uma Assembleia Constituinte, em vez de expressar uma vontade comum, construída em meio ao ruído

e a duras penas, pode expressar tão somente a vontade do grupo político momentaneamente mais forte. “Soa

aventureiro e até mesmo irresponsável clamar por uma Constituinte ou querer colocar um termo nesta

Constituição”, diz o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. A Carta de 1988 é o marco da

redemocratização do país, e nem seus críticos questionam sua legitimidade. Bem ou mal, o texto proporcionou o

mais longo período ininterrupto de democracia que o país já atravessou. Não é o caso, portanto, de ceder à tentação

de reformá-la em grandes blocos, muito menos de deitar abaixo o edifício inteiro. É o caso de depurá-la, segundo

os mecanismos que ela mesma prevê. O especialista em direito comparado americano Tom Ginsburg, um dos

mentores do CCP, lembra que a Carta de 1988 já nasceu sob críticas. “Alguns estudiosos previam que ela não

duraria nem cinco anos”, diz. “Ao contrário, ela tem ajudado o país a construir uma base de governança e pelo

menos parcialmente motivou iniciativas para tornar a sociedade mais justa. Há um longo caminho pela frente, mas,

por ser flexível e contar com mecanismos para a sua reforma, o Brasil pode seguir com ela nessa caminhada.”

(CASTRO, Gabriel; JELIN, Daniel. Marco da redemocratização, Constituição faz 25 anos. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/o-povo-diante-da-lei - Acessado em 09/09/2014).

FONTE 2: fragmentos do discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proferido no Conselho

Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em Brasília, em 01/10/2013, por ocasião das comemorações dos

25 anos da promulgação da Constituição de 1988. Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, é

político, ex-sindicalista e ex-metalúrgico. Foi o trigésimo quinto presidente da República Federativa do

Brasil, cargo que exerceu por dois mandatos, de 1º de janeiro de 2003 a 1º de janeiro de 2011. Foi sucedido

na presidência pela candidata da situação Dilma Rousseff, que, sempre contando com o apoio do ex-

presidente, foi reeleita em outubro de 2014 para um segundo mandato. Lula nasceu em Garanhuns – PE,

1945, aos 7 anos ele, sua mãe e seus outros sete irmãos migraram para o litoral paulista, onde seu pai vivia

com outra família, com a qual chegou a ter mais dez filhos. Começou a trabalhar ainda criança como

vendedor ambulante, tintureiro, engraxate, auxiliar de escritório, etc. Aos 14 anos, teve sua carteira

assinada pela primeira vez, aos 15 torna-se torneiro mecânico. Tornou-se sindicalista no final dos anos 60,

sendo eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1975. Em

1978 liderou a primeira grande greve dos operários do ABC paulista em pleno regime militar. Em 1980

Lula foi preso, cassado como dirigente sindical e processado com base na Lei de Segurança Nacional. No

mesmo ano alia-se a outros líderes sindicais, intelectuais, representantes de movimentos sociais e católicos

militantes da teologia da libertação para fundar o Partido dos Trabalhadores – PT. Em 1982 concorreu à

eleição para o governo de São Paulo, perdeu. Em 1983 tem papel fundamental na fundação da Central Única

dos Trabalhadores – CUT. Entre 1983 e 1984 teve participação importante no movimento Diretas Já,

liderando comícios famosos pelo entusiasmo e grande número de participantes. A campanha acaba quando

a emenda constitucional Dante de Oliveira é rejeitada no Congresso, em abril de 1984 por falta de quórum.

Em 1986 foi eleito Deputado Federal Constituinte pelo estado de São Paulo, sendo o deputado federal mais

votado da história até então. Foi candidato derrotado à presidência em 1989, 1994 e 1998. Na primeira vez

foi derrotado por Fernando Collor de Mello, e nas outras duas vezes por Fernando Henrique Cardoso. Em

27 de outubro de 2002, Lula foi eleito presidente do Brasil, derrotando o candidato da situação, José Serra

do PSDB. No seu discurso de diplomação Lula, em lágrimas, afirmou: "E eu, que durante tantas vezes fui

acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República

do meu país." Em 29 de outubro de 2006, Lula foi reeleito no segundo turno, vencendo Paulo Geraldo

Alckmin do PSDB, com mais de 60% dos votos válidos.

[...] Nós não precisamos inventar, é só ler a Constituição que lá está dito o que a gente deve fazer. E aquilo que

não foi regulamentado temos coragem de regulamentar, porque ela previu, na verdade, várias soluções do século

XXI.

[...]

Recordar o processo da Assembleia Nacional Constituinte, é reverenciar o movimento histórico que transcorreu

sob o primado da política em seu mais nobre sentido. Os partidos e os movimentos exerceram atividade política

até o limite das suas possibilidades, todas as lideranças, sem distinção, representativas, estiveram envolvidas no

processo. Eu duvido que houve algum momento na história desse país, em que a sociedade interferiu tanto na

participação do Congresso Nacional como na Assembleia Nacional Constituinte.

[...]

Queríamos aprovar um texto [...] mais avançado, que contemplasse a reforma agrária, a estabilidade no emprego,

o imposto sobre fortunas, a criação imediata do Ministério da Defesa, dentre outras pautas [...]. Por isso votamos

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contra o texto final, mas assinamos e assumimos a nova carta, pois o PT sempre teve responsabilidade com o

processo social e político no país.

[...]

Precisamos atualizar a legislação partidária e eleitoral, tornar mais simples a proposição de projetos de iniciativa

popular e, aprimorar os mecanismos de participação social. Podemos tornar mais efetiva e democrática o acesso à

informação e aos meios de comunicação, ampliar a transparência e a fiscalização das instituições, assim estaremos

fortalecendo a democracia. [...]

A Constituição que se abre para a participação social e prevê vida digna para as camadas mais amplas da população

será sempre respeitada e amada pelo povo.

(Transcrição feita pelo professor Rafael a partir do áudio disponível no seguinte endereço eletrônico:

https://soundcloud.com/institutolula/discurso-na-oab-25-anos-da - Acessado em: 19/10/2014 às 13:57. Demais

informações disponíveis em: http://www.institutolula.org/para-lula-assembleia-nacional-constituinte-mostrou-o-

primado-da-politica/ - Acessado em: 19/10/2014 às 14:03).

FONTE 3: artigo veiculado pelo jornal Folha de São Paulo em 05 de outubro de 2013, do ex-prefeito de São

Paulo, ex-governador do estado, ministro da Saúde do governo FHC e, duas vezes candidato à presidência

do Brasil pelo PSDB, derrotado em 2002 por Luiz Inácio Lula da Silva e em 2010 por Dilma Rousseff. José

Serra foi integrante da Assembleia Nacional Constituinte, sendo deputado federal eleito pelo estado de São

Paulo.

Defeitos da Constituição foram obra do atraso

Nos 25 anos da Constituição que Ulysses Guimarães classificou de “cidadã”, alinho-me com aqueles que avaliam

que uma das virtudes da Carta é sua vocação garantidora de direitos. Foi, nesse caso, o bom uso que se fez de

circunstâncias que não eram da nossa escolha. Explico-me: finda a ditadura militar, a nossa Lei Maior procurou

expressar o seu repúdio ao autoritarismo, precavendo-se de tentações golpistas e da agressão a direitos individuais.

Mas também é preciso dizer que fizemos uma carta excessivamente marcada por contingências, com o olhar,

muitas vezes, posto no retrovisor. Seus defeitos, curiosamente, não foram obra nem da esquerda nem da direita,

mas do atraso. No Brasil, infelizmente, os direitistas costumam deixar de lado o conservadorismo virtuoso, e os

esquerdistas, o igualitarismo generoso.

Poucos parecem divergir, a esta altura, da constatação de que o principal mérito da Constituição de 1988 é a

consagração das liberdades democráticas – de opinião, manifestação e organização – e das garantias individuais:

a criminalização inequívoca do racismo, a abolição do banimento e da pena de morte, o livre exercício dos cultos

religiosos, o repúdio à tortura e a tratamentos desumanos ou degradantes dos cidadãos etc. Isso tudo ficou

condensado no artigo 5º, o mais extenso da Carta, com quatro parágrafos e 78 incisos.

À parte o capítulo das liberdades públicas e individuais, destaco, em planos distintos, como os maiores avanços da

Carta de 1988 a concepção do SUS; a criação de um fundo (posteriormente chamado FAT) que reuniu as

contribuições do PIS/Pasep para tornar viável o seguro-desemprego e, ao mesmo tempo, financiar investimentos;

o dispositivo que definiu o salário mínimo como o piso dos benefícios previdenciários de prestação continuada;

os capítulos que lidam com finanças públicas e controle externo ao Executivo e ao Legislativo — os Tribunais de

Contas, por exemplo, foram extremamente fortalecidos nas suas atribuições; novos marcos para a política

ambiental; fortalecimento do Ministério Público e a instituição do segundo turno na eleição para presidente,

governadores e prefeitos em cidades com mais de 200 mil eleitores.

Mas há também alguns defeitos severos, que apontei e combati quando deputado constituinte –muitas das críticas

foram expressas em artigos semanais para esta Folha: a prolixidade; as concessões de natureza corporativa; a

prodigalidade fiscal; a falta de um regime geral de previdência mais homogêneo e adequado ao longo prazo; o

atrelamento dos sindicatos ao Estado e a falta de inovação em matéria de sistema político e eleitoral. Deixo de

mencionar aqui algumas aberrações aprovadas a respeito da ordem econômico-financeira, removidas nos 15 anos

seguintes por intermédio de emendas constitucionais. Tomei a iniciativa, como senador, de escoimar da carta os

absurdos na área financeira. Contei com o apoio, faça-se justiça aos fatos, do então líder do PT no Senado, José

Eduardo Dutra.

A prolixidade não precisa ser provada; é autoevidente: 250 artigos e 70 disposições transitórias, com numerosos

parágrafos e incisos, muitos deles típicos de leis ordinárias, decretos, portarias ou simples declarações de intenção

em discursos parlamentares.

Querem um exemplo quase pitoresco? A constitucionalização da existência da Justiça Desportiva e a garantia de

“proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional”, o que, por óbvio, deixou de fora o futebol,

o vôlei e o basquete…

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Ao contrário do que se pensa, os interesses corporativos principais cravados na Constituição não foram os do setor

privado, mas os da área da administração pública, de que é exemplo escancarado a estabilidade para os servidores

não concursados de órgãos públicos que estavam empregados havia mais de cinco anos, considerando-se como

referência a data de promulgação da Carta. Abriu-se caminho ainda para toda sorte de isonomias salariais,

permanente e poderoso mecanismo gerador de despesas.

Esse aspecto corporativista da Constituição representou um fator decisivo na chamada prodigalidade fiscal. Outro

foi a forte redistribuição federativa de receitas tributárias sem que houvesse, paralelamente, nenhuma

descentralização de encargos — feroz e eficazmente combatida pelas corporações de funcionários e clientes dos

setores envolvidos.

Se a força e a amplitude dos direitos e garantias fundamentais deveram-se à ruptura com um regime de força –

tratava-se de esconjurar o passado –, os defeitos da Carta de 1988 estão relacionados a contingências políticas e

às falsas expectativas que gerou. Afinal, a Assembleia Nacional Constituinte tinha sido uma bandeira da oposição

ao regime militar desde a segunda metade da década de 1970. Não era vista apenas como o umbral da liberdade,

mas também da prosperidade e da justiça social. Como se sabe, por mais que leis maiores e menores sejam boas e

generosas, elas não geram, por si, a riqueza que pretendem distribuir nos prazos que são desejados.

Havia uma expectativa de elevação imediata do bem-estar social, o que havia sido proporcionado, note-se, pelo

Plano Cruzado, na sua fase bem-sucedida, o que rendeu muitos votos ao PMDB. Ocorre que a agonia do plano

coincidiu com o início dos trabalhos da Constituinte, no começo de 1987. A inflação de dois dígitos mensais, fator

de profunda perturbação e instabilidade social, fez sombra na Assembleia até o fim.

Parlamentares e partidos se moviam freneticamente para mostrar serviço aos eleitores e para responder a demandas

da opinião pública, procurando mitigar insatisfações com a criação de preceitos constitucionais. Ou por outra: uma

Carta Constitucional, que é feita, por definição, para durar e para estar acima de contingências, transformava-se

em fator de ajuste de tensões sociais e conflitos distributivos corriqueiros.

O colapso da estabilidade econômica enfraqueceu rapidamente o governo Sarney e ampliou a distância entre o

mandatário e o PMDB, partido ao qual se filiara exclusivamente para assumir a condição de vice na chapa

encabeçada por Tancredo Neves. O setor mais influente do partido deu início aos trabalhos para redigir a nova

Carta procurando diferenciar-se do governo. Ganhou força a ideia de uma Assembleia que editasse atos

constitucionais de governo que se sobrepusessem ao Executivo. Isso acabou não acontecendo, mas inaugurou um

tipo de conflito que se manteria até o fim do processo constituinte.

O confronto mais relevante teve como objeto a duração do mandato de Sarney, que tinha sido eleito com Tancredo

para governar por seis anos, mas aceitava cinco. O então líder da bancada do PMDB, Mário Covas, defendia quatro

e emplacou esse número numa primeira versão da Constituição, vindo da Comissão de Sistematização, em meados

de 1987, junto com a aprovação do parlamentarismo.

O presidente Sarney propôs um acordo: apoiaria o parlamentarismo se lhe dessem cinco anos e o direito de indicar

um primeiro-ministro com estabilidade inicial de dez meses, se a memória não me falha. O PMDB recusou a

oferta. O governo não mediu esforços para garantir os cinco anos, recorreu a todas as armas da fisiologia, para

dizer o mínimo, e saiu vitorioso. O trágico é que o parlamentarismo acabou sendo tragado pela voragem.

A impopularidade e a insegurança do governo, determinadas pela inflação galopante e pelos conflitos com a

Assembleia, retiraram do governo a capacidade de assumir um papel relevante na formação do texto constitucional.

Na verdade, o Planalto se omitiu, especialmente em relação aos gastos – chegou a apoiar medidas nesse sentido.

O chamado Centrão, um agrupamento de parlamentares mais ligados ao governo, só tinha compromisso com os

cinco anos e o presidencialismo. No mais, dispôs de plena autonomia para defender suas propostas.

É preciso destacar ainda as condições difíceis em que atuou o PMDB, o maior partido do Congresso. Era já uma

força extremamente heterogênea, cindida por interesses regionais. Chegou à Constituinte sem uma concepção

sobre a Carta ou a forma de organizar o trabalho. Além disso, ficou politicamente dividido entre suas duas figuras

principais, ambos aspirantes à Presidência nas eleições seguintes: Ulysses Guimarães e Mário Covas. O primeiro

era o presidente da Assembleia; o segundo, líder do partido, eleito contra o candidato de Ulysses.

Alguns analistas se confundem ao procurar entender o texto constitucional a partir da dinâmica de conflitos entre

“esquerda” e “direita”. A chamada direita, no Brasil, não se expressa pelo conservadorismo, mas pelo atraso. Nem

remotamente é austera. O texto substitutivo do Centrão era mais gastador e prolixo, mais recheado de casuísmos,

privilégios corporativos, vinculações e isonomias do que o já pródigo projeto que fora por ele derrubado, da

Comissão de Sistematização, este sim comandado pela fatia do PMDB que se afastara do governo.

Mesmo o Centrão, note-se, manteve no seu projeto todas as garantias democráticas do relatório que conseguiu

derrubar. Estas não foram objeto de nenhum confronto significativo no desenrolar de todo o processo. E só por

curiosidade, foi do Centrão, do deputado Gastone Righi, a defesa do abono de férias para todos os assalariados…

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O que se poderia chamar “esquerda”, à época, era dominada pela concepção do Estado varguista e pelas ideias das

décadas de 50 e 60, alienadas das mudanças que já estavam acontecendo no mundo e que só começariam a tornar-

se mais transparentes no Brasil depois da queda do Muro de Berlim. Para ela, eram exóticas as preocupações com

inflação, quadro fiscal, travas ao investimento privado e paternalismo estatal, sem mencionar a confusão

permanente e até a contradição entre benefícios para corporações restritas e os interesses sociais mais amplos.

Os dois lados exibiram seu antagonismo – o que politicamente convinha a ambos – com farta cobertura da

imprensa. O tema foi a reforma agrária, e o confronto se deu em torno da função social da propriedade e da

possibilidade de desapropriar propriedades produtivas. Tudo acabou resolvido em dois artigos. Noves fora as

diferentes formas de lidar com o MST e com a inconstitucional violência rural, nenhum governo posterior procurou

mexer no texto desses artigos nem deixou de levar adiante o caríssimo processo da reforma agrária.

Não por acaso, os dois lados, com a cumplicidade de sucessivos governos, foram e continuam sendo integrantes

ativos do mais consolidado de todos os partidos brasileiros: a Fuce – Frente Única Contra o Erário e a favor das

corporações de interesses especiais. Ninguém é mais falsamente de esquerda do que ela. Ninguém é mais

falsamente de direita do que ela. Ninguém, como ela, é tão objetivamente contra os interesses do Brasil e dos

brasileiros.

(SERRA, José. Defeitos da Constituição foram obra do atraso. Folha de São Paulo, 05/10/2013. Disponível em:

http://acervo.folha.com.br/fsp/2013/10/05/49/ - Acessado em: 04/11/2014 às 21:20).

FONTE 4: explicação do movimento Plebiscito Constituinte, criado em setembro de 2013 pela Plenária

Nacional dos Movimentos Sociais:

O QUE É O PLEBISCITO PELA CONSTITUINTE? O que é um Plebiscito Popular? Um Plebiscito é uma consulta na qual os cidadãos e cidadãs votam para aprovar ou não uma questão. De acordo

com as leis brasileiras somente o Congresso Nacional pode convocar um Plebiscito.

Apesar disso, desde o ano 2000, os Movimentos Sociais brasileiros começaram a organizar Plebiscitos

Populares sobre temas diversos, em que qualquer pessoa, independente do sexo, da idade ou da religião, pode

trabalhar para que ele seja realizado, organizando grupos em seus bairros, escolas, universidades, igrejas,

sindicatos, aonde quer que seja, para dialogar com a população sobre um determinado tema e coletar votos.

O Plebiscito Popular permite que milhões de brasileiros expressem a sua vontade política e pressionem os poderes

públicos a seguir a vontade da maioria do povo.

O que é uma Constituinte? É a realização de uma assembleia de deputados eleitos pelo povo para modificar a economia e a política do País e

definir as regras, instituições e o funcionamento das instituições de um Estado como o governo, o Congresso e o

Judiciário, por exemplo. Suas decisões resultam em uma Constituição. A do Brasil é de 1988.

Porque uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político? Nos meses de Junho e Julho de 2013 milhões de jovens brasileiros foram às ruas para lutar por melhores condições

de vida, inicialmente contra o aumento das tarifas do transporte, mas rapidamente a luta por mais direitos sociais

estava presente nas mobilizações, pedia-se mais saúde, mais educação, mais democracia. Nos cartazes, faixas e

rostos pintados também diziam que a política atual não representa essa juventude, que quer mudanças profundas

na sociedade brasileira.

As mobilizações das ruas obtiveram conquistas em todo o país, principalmente com as revogações dos aumentos

das tarifas dos transportes ou até diminuição da tarifa em algumas cidades, o que nos demonstrou que é com luta

que a vida muda! Mas a grande maioria das reivindicações não foram atendidas pelos poderes públicos.

Não foram atendidas porque a estrutura do poder político no Brasil e suas “regras de funcionamento” não permitem

que se avance para mudanças profundas. Apesar de termos conquistado o voto direto nas eleições, existe uma

complexa teia de elementos que são usados nas Campanhas Eleitorais que “ajudam” a garantir a vitória de

determinados candidatos.

A cada dois anos assistimos e ficamos enojados com a lógica do nosso sistema político. Vemos, por exemplo, que

os candidatos eleitos têm um gasto de Campanha muito maior que os não eleitos, demonstrando um dos fatores do

poder econômico nas eleições. Também vemos que o dinheiro usado nas Campanhas tem origem, na sua maior

parte, de empresas privadas, que financiam os candidatos para depois obter vantagens nas decisões políticas, ou

seja, é uma forma clara e direta de chantagem. Assim, o ditado popular “Quem paga a banda, escolhe a música”

se torna a melhor forma de falar do poder econômico nas eleições.

Além disso, ao olharmos para a composição do nosso Congresso Nacional vemos que é um Congresso de

deputados e senadores que fazem parte da minoria da População Brasileira. Olhemos mais de perto a sua

composição:

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mais de 70% de fazendeiros e empresários (da educação, da saúde, industriais, etc.) sendo que maioria

da população é composta de trabalhadores e camponeses.

9% de Mulheres, sendo que as mulheres são mais da metade da população brasileira.

8,5% de Negros, sendo que 51% dos brasileiros se autodeclaram negros.

Menos de 3% de Jovens, sendo que os Jovens (de 16 a 35 anos) representam 40% do eleitorado do Brasil.

Olhando para esses dados, é praticamente impossível não chegar à conclusão de que “Esse Congresso não nos

representa!!!” e que eles não resolverão os problemas que o povo brasileiro, em especial a juventude, levou às

ruas em 2013.

E para solucionar todos esses problemas fundamentais da nossa sociedade (educação, saúde, moradia, transporte,

terra, trabalho, etc.) chegamos à conclusão de que não basta mudarmos “as pessoas” que estão no Congresso.

Precisamos mudar “as regras do jogo”, mudar o Sistema Político Brasileiro. E isso só será possível se a voz dos

milhões que foram as ruas em 2013 for ouvida. Como não esperamos que esse Congresso “abra seus ouvidos”

partimos para a ação, organizando um Plebiscito Popular que luta por uma Assembleia Constituinte, que será

exclusivamente eleita e terá poder soberano para mudar o Sistema Político Brasileiro, pois somente através dessa

mudança será possível alcançarmos a resolução de tantos outros problemas que afligem nosso povo.

(PLEBISCITO CONSTITUINTE. O que é o plebiscito constituinte? Disponível em:

http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/o-que-%C3%A9-o-plebiscito-pela-constituinte – Acessado em:

20/10/2014 às 18:45).

FONTE 5: site da revista Veja com vídeo e multimídia sobre a Constituição brasileira

http://veja.abril.com.br/multimidia/infograficos/100-visoes-da-

constituicao-de-1988 Acessado em 02/10/2014 às 19:10.

FONTE 6: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988, disponível no

seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm Acessado em 13/11/2014 às 16:36.

ATIVIDADES

1- Leia com muita atenção o artigo da revista Veja (FONTE 1) e responda: a) De acordo com o artigo, quais seriam as fragilidades da Carta de 1988?

b) Segundo o artigo, de que forma o contexto histórico à época da Constituinte teria influenciado na

formulação dos pontos falhos da Constituição?

c) Ainda de acordo com o artigo, quais seriam os aspectos positivos da Constituição brasileira?

d) Os autores do artigo parecem entender que há, em matéria constitucional, um modelo a ser seguido. Qual

seria esse modelo? Quais sãos os argumentos históricos usados pelos mesmos a favor da sua forma de entender

essa questão?

e) Qual é a posição dos autores do artigo com relação a ideia do Plebiscito Constituinte?

2- Leia com muita atenção o discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (FONTE 2) e responda:

a) Onde encontrava-se o ex-presidente quando fez o discurso? O que estava sendo comemorado? Na sua

opinião, por que o teriam convidado?

b) De acordo com o então constituinte Luiz Inácio Lula da Silva (constituinte originário entre 1987-1988),

qual era a proposta do seu partido PT à época da formulação da nossa Carta Magna?

c) Para Lula serão necessárias mudanças na Constituição. Quais são essas mudanças? E por quê?

3- Leia com muita atenção o artigo (FONTE 3) do ex-governador de São Paulo, José Serra, veiculado pelo jornal Folha de São Paulo, e responda:

a) Segundo José Serra, quais são as maiores virtudes da Carta de 1988?

b) Para Serra, quais são os maiores defeitos da nossa Carta?

c) Segundo o ex-governador, quem seriam os grandes responsáveis pelos defeitos da nossa Constituição?

d) De acordo com Serra, quais interesses estavam em jogo ao formularem determinados pontos falhos na

Constituição?

4- Leia com muita atenção a explicação do Movimento Plebiscito Constituinte (FONTE 4) e responda: a) O que exatamente o Movimento Plebiscito Constituinte defende?

b) Contra quem ou o que lutam?

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c) Quais são os principais argumentos utilizados pelos promotores do Movimento a favor das suas

reinvindicações?

5- Agora releia as fontes 1, 2, 3 e 4 e complete o quadro síntese com as seguintes informações: a) Aspectos sobre a Constituição de 1988 que concordam, nas células acima dos XXXXXXX, marcadas

com a letra A;

b) Aspectos sobre a Constituição de 1988 que discordam, nas células abaixo dos XXXXXXX, marcadas

com a letra B.

Autores Gabriel Castro Daniel Jelin

Lula Serra Plebiscito Constituinte

Gabriel Castro Daniel Jelin

XXXXXXX A A A

Lula B XXXXXXX A A

Serra B B XXXXXXX A

Plebiscito Constituinte

B B B XXXXXXX

ATIVIDADES PARA CASA.

6- O que a Constituição significa para você? Quando estávamos às vésperas de comemorarmos 25 anos de vigência da nossa Carta Magna, em 05 de outubro de 2013, o site da revista VEJA fez essa pergunta a políticos, empresários, intelectuais, artistas e profissionais das mais diversas áreas. O resultado é um grande painel das impressões que a Carta de 1988 causa nos brasileiros. Como primeiro DESAFIO PARA CASA propomos que você acesse ao site indicado acima (FONTE 5), assista ao vídeo, clique nas fotos para ler os depoimentos e responda as questões a seguir:

a) Dentre as impressões das personalidades questionadas pela revista Veja, escolha pelo menos 3 que você

tenha considerado mais plausível e próxima à sua opinião sobre o tema. Transcreva-as e justifique as suas escolhas

a partir da sua experiência pessoal.

b) Dentre as impressões das personalidades questionadas pela revista Veja, escolha pelo menos uma que

você tenha considerado menos plausível e contrária à sua opinião pessoal sobre o tema. Transcreva-a e justifique

sua escolha a partir da sua experiência pessoal.

7- ESTUDANDO A CONSTITUIÇÃO. Nas quatro primeiras fontes estudadas temos por parte dos seus autores julgamentos em relação à Constituição Federal, esses julgamentos estão ligados a determinados artigos, parágrafos e incisos da Carta Magna. Na tabela abaixo, transcreva um julgamento de valor ou mérito para cada uma das quatro primeiras fontes, pesquise na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (FONTE 6) um artigo, parágrafo ou inciso, relacionados a esse julgamento e transcreva-o na mesma tabela, ao lado do seu respectivo julgamento de valor ou mérito.

Autores Artigos, parágrafos ou incisos Julgamento de Valor ou mérito

Gabriel Castro Daniel Jelin

Lula

Serra

Plebiscito Constituinte

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Unidade II

CARTAS NUMA MÃO, DICIONÁRIOS NA OUTRA: uma cidade

conceitual.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Constituição: aspectos conceituais;

- Usos e abusos dos conceitos.

Debate dos conteúdos e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade do professor Rafael.

IDADANIA:

Fonte 1: explicação do historiador e professor da Universidade de São Paulo Jaime Pinski:

Afinal, o que é ser cidadão?

Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo ter direitos

civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e

políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo

na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho ao salário justo, à saúde, à uma velhice tranquila. Exercer a

cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais. [...]

Cidadania não é uma definição estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu significado varia no

tempo e no espaço. É muito diferente ser cidadão na Alemanha, nos Estados Unidos ou no Brasil (para não falar

dos países em que a palavra é tabu), não apenas pelas regras que definem quem é ou não titular da cidadania (por

direito territorial ou sangue), mas também pelos direitos e deveres distintos que caracterizam o cidadão em cada

um dos Estados-nacionais contemporâneos. Mesmo dentro de cada Estado-nacional o conceito e a prática da

cidadania vêm se alterando ao longo dos últimos duzentos ou trezentos anos. Isso ocorre tanto em relação a uma

abertura maior ou menor do estatuto de cidadão para sua população (por exemplo, pela maior ou menor

incorporação dos imigrantes à cidadania), ao grau de participação política de diferentes grupos (o voto da

mulher, dos analfabetos), quanto aos direitos sociais, à proteção social oferecida pelo Estado aos que dela

necessitam.

A aceleração do tempo histórico nos últimos séculos e a consequente rapidez das mudanças faz com que aquilo

que num momento podia ser considerado subversão perigosa da ordem, no seguinte seja algo corriqueiro,

“natural” (de fato, não é nada natural, é perfeitamente social). Não há democracia ocidental em que a mulher não

tenha, hoje, direito ao voto, mas isso já foi considerado absurdo, até muito pouco tempo atrás, mesmo em países

tão desenvolvidos da Europa como a Suíça. Esse mesmo direito ao voto já esteve vinculado à propriedade de

bens, à titularidade de cargos ou funções, ao fato de pertencer ou não a determinada etnia etc. Ainda há países

em que os candidatos a presidente devem pertencer a determinada religião (Carlos Menem se converteu ao

catolicismo para poder governar a Argentina), outros em que nem filho de imigrante tem direito ao voto e por aí

a fora. A ideia de que o poder público deve garantir um mínimo de renda a todos os cidadãos e acesso a bens

coletivos como saúde, educação e previdência deixa ainda muita gente arrepiada, pois se confunde facilmente o

simples assistencialismo com dever do Estado.

Não se pode, portanto, imaginar uma sequência única, determinista e necessária para a evolução da cidadania em

todos os países (a grande nação alemã não instituiu o trabalho escravo, a partir de segregação racial do Estado,

em pleno século XX, na Europa?). Isso não nos permite, contudo, dizer que inexiste um processo de evolução

em que marcha da ausência de direitos para a sua ampliação, ao longo da história.

A cidadania instaura-se a partir dos processos de lutas que culminaram na Independência dos Estados Unidos da

América do Norte e na Revolução Francesa. Esses dois eventos romperam o princípio de legitimidade que vigia

até então, baseado nos deveres dos súditos, e passaram a estruturá-lo a partir dos direitos dos cidadãos. Desse

momento em diante todos os tipos de lutas foram travados para que se ampliasse o conceito e a prática de

cidadania e o mundo ocidental o estendesse para mulheres, crianças, minorias nacionais, étnicas, sexuais, etárias.

Nesse sentido pode-se afirmar que, na sua acepção mais ampla, cidadania é a expressão concreta do exercício da

cidadania.

(PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (organização). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003,

pp. 9-10).

ONSTITUIÇÃO:

Fonte 2: explicação de professores de História das redes pública e particular de ensino do estado

de São Paulo, em livro didático do 9º ano de autoria dos mesmos

C

C

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Chamada também de Carta Magna, a Constituição é o conjunto de leis fundamentais que estruturam o Estado

nacional, delimitando as ações dos governos. Estabelece organização, procedimentos e poderes do governo, assim

como direitos e garantias dos cidadãos. É importante ressaltar que a Constituição é a lei maior de um país, à qual

todo governante e a população devem se submeter. Quando um governante infringe a Constituição, ele deve ser

submetido às penalidades previstas em cada caso. No caso brasileiro, além da Constituição federal, existem

também as constituições estaduais, que não podem estar em desacordo com a lei maior.

(MONTELLATO, Andrea; CABRINI, Conceição; CATELLI JUNIOR; Roberto. Projeto Velear: história. Vol.

4, São Paulo: Scipione, 2012, p. 18).

Fonte 3: explicação da professora de Metodologia e Prática de Ensino de História da Universidade Federal

do Paraná, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, em livro didático da 5º série publicado pela

mesma:

Constituição é a lei fundamental de uma nação. Ela estabelece as normas essenciais de um governo, de uma

população. As outras leis têm sua origem a partir dessa lei inicial. Ela tanto pode ser escrita (elaborada a partir de

uma realidade atual), como também pode seguir uma tradição de costumes de determinado povo [...].

(SCHMIDT, Dora. Historiar: fazendo, contando e narrando a História, 5ª série. São Paulo: Editora Scipione,

2007, p. 20).

Fonte 4: explicação do jurista brasileiro Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da Faculdade de Direito

da Universidade de São Paulo e professor catedrático da UNESCO:

Numa conclusão preliminar, pode-se dizer que do ponto de vista jurídico a Constituição é um conjunto de normas

básicas de organização da sociedade e de comportamento social, estabelecidas pelo povo e impostas à obediência

de todos. Não se pode perder de vista que essas normas de comportamento, na sua maioria estabelecidas e

reiteradas durante muito tempo por todo um povo, por sua livre escolha e não mediante coação, refletem valores,

necessidades e possibilidades desse mesmo povo, não devendo ser o produto de escolhas puramente racionais ou

emocionais. Além disso, a reiteração prolongada reflete a convicção de que o respeito a essas normas é necessário

ou muito conveniente para o conjunto do povo, razão pela qual tais normas devem ser obrigatórias para todos. A

consideração desses dados é fundamental para que a Constituição reconhecida como lei superior, dotada de

máxima eficácia jurídica, tenha legitimidade e autoridade e seja efetivamente praticada.

(DALLARI, Dalmo de Abreu. A Constituição na vida dos povos. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 44).

EMOCRACIA:

Fonte 5: explicação do escritor inglês Roger Osborne, geólogo, ex-editor de revistas científicas e

técnicas, atualmente se dedica a investigação da história científica e cultural:

Transições pacíficas de poder, governo mediante consentimento, eleições livres e justas, sufrágio universal – todos

são elementos da democracia, porém, quando tentamos encontrar uma definição exata, nos vemos procurando

agulha em palheiro. O problema é que, toda vez que nos aproximamos de uma definição ou compilamos uma lista

de condições que qualquer democracia deve cumprir, encontramos exemplos de democracia em pleno

funcionamento que não a satisfazem, ou de sociedades que não são consideradas democráticas, mas que atendem

alguns dos critérios. Além disso, qualquer democracia que já tenha existido foi diferente de todas as outras e,

quanto mais as conhecemos, mais percebemos que é impossível defini-las.

[...] A democracia, apesar dos esforços de filósofos e cientistas políticos, despreza teorias, arregaça as mangas e

enfrenta a tarefa diante de si. Ela não busca a perfeição, e nos momentos em que seus seguidores o fazem – seja

por meio de Constituições rígidas ou leis imutáveis –, é comum que precipitem seu fim. Em vez disso, ela

permanece em contínua adaptação. A verdade de que não existe um diagrama da democracia pode causar

consternação a alguns especialistas e consultores políticos, mas deveria nos encher de alegria.

Nos jornais, nos programas de TV e rádio, nas conversas do dia a dia, assim como nos livros e nas revistas

acadêmicas, o significado de democracia gera discussões sem fim. E acabamos percebendo que a natureza infinita

do debate dá uma pista para sua própria conclusão. A democracia está sempre mudando, sempre se adaptando, e

não pode ser explicada por fórmulas justamente porque sua função principal é sustentar sociedades em que a

mudança e a adaptação possam ocorrer livremente. As democracias – tanto a instituição de governos como a prática

de governar de forma democrática – existem numa relação simbiótica com a sociedade em que estão inseridas.

Quando as sociedades resistem às mudanças, as políticas democráticas não podem agir. Quando as instituições e

práticas democráticas são petrificadas, a sociedade se fossiliza.

(OSBORNE, Roger. Do povo para o povo: uma nova história da democracia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

2013, pp. 8-10)

FONTE 6: artigos do professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Souza Santos, originalmente

publicados na revista semanal portuguesa Visão:

O futuro da democracia

D

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Analisada globalmente a democracia oferece-nos duas imagens muito contrastantes. Por um lado, na forma de

democracia representativa, ela é hoje considerada internacionalmente o único regime político legítimo. Investem-

se milhões de euros e dólares em programas de promoção da democracia, em missões de fiscalização de processos

eleitorais e, quando algum país do chamado terceiro Mundo manifesta renitência em adotar o regime democrático,

as agências financeiras internacionais têm meios de o pressionar através das condições de concessão de

empréstimos. Por outro lado, começam a proliferar os sinais de que os regimes democráticos instaurados nos

últimos trinta ou vinte anos traíram as expectativas dos grupos sociais excluídos, dos trabalhadores cada vez mais

ameaçados nos seus direitos e das classes médias empobrecidas. Inquéritos recentes feitos na América Latina

revelam que em alguns países a maioria do povo preferiria uma ditadura desde que lhes garantisse algum bem-

estar social. Acresce que as revelações, cada vez mais frequentes, de corrupção levam à conclusão de que os

governantes legitimamente eleitos usam o seu mandato para enriquecer à custa do povo e dos contribuintes. Por

sua vez, o desrespeito dos partidos, uma vez eleitos, pelos seus programas eleitorais parece nunca ter sido tão

grande. De modo que os cidadãos se sentem cada vez menos representados pelos seus representantes e acham que

as decisões mais importantes dos seus governos escapam à sua participação democrática.

O contraste entre estas duas imagens oculta um outro, entre as democracias reais e o ideal democrático. Rousseau

foi quem melhor definiu este ideal: uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa

comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém. Segundo este critério, estamos ainda

longe da democracia. Os desafios que são postos à democracia no nosso tempo são os seguintes. Primeiro, se

continuarem a aumentar as desigualdades sociais entre ricos e pobres ao ritmo das três últimas décadas, em breve,

a igualdade jurídico-política entre os cidadãos deixará de ser um ideal republicano para se tornar uma hipocrisia

social constitucionalizada. Segundo, a democracia atual não está preparada para reconhecer a diversidade cultural,

para lutar eficazmente contra o racismo, o colonialismo e o sexismo e as discriminações em que eles se traduzem.

Isto é tanto mais grave quanto é certo que as sociedades nacionais foram-no e são cada vez mais multiculturais e

multiétnicas. Terceiro, as imposições econômicas e militares dos países dominantes são cada vez mais drásticas e

menos democráticas. Assim sucede, em particular, quando vitórias eleitorais são transformadas pelo chefe da

diplomacia norte-americana em ameaças à democracia, sejam elas as vitórias do Hamas, de Hugo Cháves ou de

Evo Morales. Finalmente, o quarto desafio diz respeito às condições da participação democrática dos cidadãos.

São três as principais condições: ser garantida a sobrevivência: quem não tem com que se alimentar e à sua família

tem prioridades mais altas que votar; não estar ameaçado: quem vive ameaçado pela violência no espaço público,

na empresa ou em casa, não é livre, qualquer que seja o regime político em que vive; estar informado: quem não

dispõe da informação necessária a uma participação esclarecida, equivoca-se quer quando participa, quer quando

não participa.

Pode dizer-se com segurança que a promoção da democracia não ocorreu de par com a promoção das condições

de participação democrática. Se esta tendência continuar, o futuro da democracia, tal como a conhecemos, é

problemático. (Visão, 31 de agosto de 2006).

Democracia ou capitalismo

A relação entre democracia e capitalismo foi sempre uma relação tensa, senão mesmo de contradição. O

capitalismo só se sente seguro se governado por quem tem capital ou se identifica com as suas “necessidades”,

enquanto a democracia é o governo das maiorias que nem têm capital nem razões para se identificar com as

“necessidades” do capitalismo, bem pelo contrário. O conflito é distributivo: a pulsão para a acumulação e

concentração da riqueza por parte dos capitalistas e a reivindicação da distribuição da riqueza por parte dos

trabalhadores e suas famílias. A burguesia teve sempre pavor de que as maiorias pobres tomassem o poder e usou

o poder político que as revoluções do século XIX lhe concederam para impedir que tal ocorresse. Concebeu a

democracia liberal de modo a garantir isso mesmo através de medidas que mudaram no tempo mas mantiveram o

objetivo: restrições ao sufrágio, primazia absoluta do direito de propriedade individual, sistema político e eleitoral

com múltiplas válvulas de segurança, repressão violenta de atividade política fora das instituições, corrupção dos

políticos, legalização dos lobbies. E sempre que a democracia se mostrou disfuncional, manteve-se aberta a

possibilidade do recurso à ditadura, o que aconteceu muitas vezes.

No imediato pós-guerra muito poucos países tinham democracia, vastas regiões do mundo estavam sujeitas ao

colonialismo europeu que servira para consolidar o capitalismo euro-norte-americano, a Europa estava devastada

por mais uma guerra provocada pela supremacia alemã, e no Leste consolidava-se o regime comunista que se via

como alternativa ao capitalismo e a democracia liberal. Foi neste contexto que surgiu o chamado capitalismo

democrático, um sistema assente na ideia de que, para ser compatível com a democracia, o capitalismo deveria ser

altamente regulado, o que implicava a nacionalização de setores-chave da economia, a tributação progressiva, a

imposição da negociação coletiva e até, como aconteceu na então Alemanha Ocidental, a participação dos

trabalhadores na gestão das empresas. No plano científico, Keynes representava então a ortodoxia econômica, e

Hayek, a dissidência. No plano político, os direitos econômicos e sociais foram o instrumento privilegiado para

estabilizar as expectativas dos cidadãos e as defender das flutuações constantes e imprevisíveis dos “sinais dos

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mercados”. Esta mudança alterava os termos do conflito distributivo mas não o eliminava. Pelo contrário, tinha

todas as condições para o acirrar logo que abrandasse o crescimento econômico que se seguiu nas três décadas

seguintes. E assim sucedeu.

Desde 1970, os Estados centrais têm vindo a gerir o conflito entre as exigências dos cidadãos e as exigências do

capital, recorrendo a um conjunto de soluções que gradualmente foram dando mais poder ao capital. Primeiro, foi

a inflação, depois, a luta contra a inflação acompanhada do aumento do desemprego e do ataque ao poder dos

sindicatos, a seguir, o endividamento do Estado em resultado da luta do capital contra a tributação, da estagnação

econômica e do aumento das despesas sociais decorrentes do aumento do desemprego e, finalmente, o

endividamento das famílias, seduzidas pelas facilidades de crédito concedidas por um setor financeiro finalmente

livre de regulações estatais, para iludir o colapso das expectativas a respeito do consumo, educação e habitação.

Até que a engenharia das soluções fictícias chegou ao fim com a crise de 2008 e se tornou claro quem tinha ganho

o conflito distributivo: o capital. Prova disso: o disparar das desigualdades sociais e o assalto final às expectativas

de vida digna da maioria (os cidadãos) para garantir as expectativas de rentabilidade da minoria (o capital

financeiro). A democracia perdeu a batalha e só não perderá a guerra se as maiorias perderem o medo, se

revoltarem dentro e fora das instituições e forçarem o capital a voltar a ter medo, como sucedeu há sessenta anos.

(Visão, 30 de maio de 2013).

(SANTOS, Boaventura de Souza. A cor do tempo quando foge: uma história do presente: Crônicas 1986-

2013. São Paulo: Cortez, 2014, pp. 477-8; 680-1).

IREITOS CIVIS:

Fonte 7: explicação do cientista político e historiador brasileiro José Murilo de Carvalho, membro

da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências, é professor da Universidade

Federal de Minas Gerais, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e da

Universidade Federal do Rio de Janeiro:

Direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se

desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se de ter

respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e

de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular. São direitos cuja garantia se baseia na

existência de uma justiça independente, eficiente, barata e acessível a todos. São eles que garantem as relações

civilizadas entre as pessoas e a própria existência da sociedade civil surgida com o desenvolvimento do

capitalismo. Sua pedra de toque é a liberdade individual.

(CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2012, p. 9).

IREITOS POLÍTICOS:

Estes se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da

população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de

ser votado. Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver

direitos civis sem direitos políticos, o contrário não é viável. Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião

e organização, os direitos políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente mas ficam esvaziados de

conteúdo e servem antes para justificar governos do que para representar cidadãos. Os direitos políticos têm como

instituição principal os partidos e um parlamento livre e representativo. São eles que conferem legitimidade à

organização política da sociedade. Sua essência é a ideia de autogoverno.

(Ibid., p. 10).

IREITOS SOCIAIS:

[...] os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao

trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. A garantia da sua vigência depende da existência de

uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo. Em tese eles podem existir sem os direitos civis e

certamente sem os direitos políticos. Podem mesmo ser usados em substituição aos direitos políticos. Mas, na

ausência de direitos civis e políticos, seu conteúdo e alcance tendem a ser arbitrários. Os direitos sociais permitem

às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e

garantir um mínimo de bem-estar para todos. A ideia central em que se baseiam é a justiça social.

(Ibid., p. 10).

STADO:

Fonte 8: explicação do historiador espanhol Josep Fontana:

O que é um Estado? Um estudo do Banco Mundial o definiu assim: Estado, refere-se, em seu sentido mais

amplo, a um conjunto de instituições que possuem os meios de coerção legítima, exercendo-os em um território

definido e sobre sua população. O Estado monopoliza a fixação de regras em seu território por meio de um governo

organizado.

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Uma definição mais acadêmica distingue três características fundamentais:

1. uma população que vive em um território definido e que reconhece um órgão supremo de governo que

lhe é comum.

2. este órgão é servido por pessoal especializado: funcionários civis para executar as decisões e forças

militares que as fazem cumprir, se necessário, e que protegem aos membros desta associação de outras

semelhantes.

3. esta entidade é reconhecida por outras, constituídas de forma similar, como independente no que se refere

a sua atuação sobre a população que vive em seus território, isto é, sobre seus súditos. Este reconhecimento

representa sua “soberania” internacional.

(FONTANA, Josep. Introdução ao estudo da história geral. Bauru, SP: EDUSC, 2000, pp. 237-8).

Fonte 9: explicação elaborada por Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, instrutores da Escola de

Administração Fazendária do Ministério da Fazenda (ESAF), professores de Direito Constitucional, Direito

Administrativo e Tributário, respectivamente, em cursos preparatórios para concursos públicos, em obra

voltada para concurseiros.

O Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos elementos povo, território e governo soberano. Esses

três elementos são indissociáveis e indispensáveis para a noção de um Estado independente: o povo, em um

território, organizado segundo sua livre e soberana vontade.

O Estado é um ente personalizado (pessoa jurídica de direito público, nos termos dos arts. 40 e 41 do nosso Código

Civil), apresentando-se – tanto nas relações internacionais, no convívio com outros Estados soberanos, quanto

internamente – como sujeito capaz de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem jurídica.

A organização do Estado é matéria de cunho constitucional, especialmente no tocante à divisão política do seu

território, à organização de seus Poderes, à forma de governo adotada e ao modo de aquisição do poder pelos

governantes.

(ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO; Vicente. Direito administrativo descomplicado. 18. Edição. Rio de

Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2010, p.13).

OVERNO:

Fonte 10: verbete de um dicionário de política:

Numa primeira aproximação e com base num dos significados que o termo tem na linguagem política

corrente, pode-se definir Governo como o conjunto de pessoas que exercem o poder político e que determinam a

orientação política de uma determinada sociedade. É preciso, porém, acrescentar que o poder de Governo, sendo

habitualmente institucionalizado, sobretudo na sociedade moderna, está normalmente associado à noção de Estado.

Por consequência, pela expressão “governantes” se entende o conjunto de pessoas que governam o Estado e pela

de “governados”, o grupo de pessoas que estão sujeitas ao poder de Governo na esfera estatal. Só em casos

excepcionais, quando as instituições estão em crise, o Governo tem caráter carismático e sua eficácia depende do

prestígio, do ascendente e das qualidades pessoais do chefe de Governo.

Existe uma segunda acepção do termo Governo mais próxima da realidade do Estado moderno, a qual não indica

apenas o conjunto de pessoas que detêm o poder de Governo, mas o complexo dos órgãos que institucionalmente

têm o exercício do poder. Neste sentido, o Governo constitui um aspecto do Estado. Na verdade, entre as

instituições que organizam a política da sociedade e que, em seu conjunto, constituem o que habitualmente é

definido como regime político as que têm a missão de exprimir a orientação política do Estado são os órgãos do

governo.

[LEVI, Lucio. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco (organizadores).

Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 13ª edição, 2010, p. 987].

AÇÃO:

Fonte 11: explicação do socialdemocrata austríaco Otto Bauer (1881-1931), foi um dos principais

pensadores socialista da corrente que ficou conhecida como austromarxista (marxismo austríaco):

[...] a nação pode ser definida como uma comunhão de caráter que brota de uma comunhão de destino, e não de

uma mera semelhança de destino. Essa é também a importância da língua para a nação. Crio uma língua comum

com as pessoas com quem mantenho a comunicação mais estreita; e, com as pessoas com quem compartilho uma

língua comum, mantenho a comunicação mais estreita.

Descobrimos duas maneiras pelas quais as causas efetivas, as condições da luta humana pela vida unem as pessoas

numa comunhão de destino. A primeira delas é a herança natural. A nação, nesse caso, é uma comunhão de

descendência: é mantida pelo sangue, como diz a expressão popular, ou por uma comunhão do idioplasma, como

ensina a ciência. Mas os membros ligados pela herança comum só se mantêm como nação enquanto permanecem

numa comunidade de comunicação entre si e enquanto mantêm seu sangue comum através do casamento. Quando

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cessa a ligação sexual entre os membros da nação, surge de imediato a tendência a que a população anteriormente

uniforme se desdobre em comunhões de caráter novas e mutuamente distintas. Para dar continuidade à nação como

comunidade natural é preciso não apenas a comunhão do sangue, através da descendência comum, mas também a

manutenção dessa comunhão através de uma mistura permanente do sangue.

Mas o caráter do indivíduo nunca é a simples totalidade das propriedades hereditárias; é sempre determinada

também pela cultura que lhe é transmitida e que atua sobre ele: pela educação de que ele goza, pela legislação a

que está sujeito, pelos costumes segundo os quais vive, pelas ideias que lhe são transmitidas sobre Deus e o mundo,

sobre o que é adequado e inadequado, bonito e feio. Pela religião, filosofia, ciência, arte e política que surtem

efeitos nele. Acima de tudo o caráter é determinado por aquilo que rege todos esses fenômenos, ou seja, pelo modo

como, em meio a seus compatriotas, o indivíduo conduz sua luta pela vida e garante suas necessidades de

sobrevivência. Chegamos assim ao segundo grande meio pelo qual a luta pela vida determina o indivíduo: pela

transmissão oral dos bens culturais.

[...] quando um indivíduo participa de maneira igual ou quase igual da cultura de duas ou mais nações. Há também

indivíduos desse tipo, em número nada insignificante, nas regiões de fronteira e em zonas em que diversas nações

vivem lado a lado. Desde a infância, eles falam a língua de duas nações: são quase influenciados pelos destinos e

as peculiaridades culturais de ambas.

[...] o efeito cultural de diversas culturas nacionais num mesmo indivíduo acontece apenas como um fenômeno

isolado, e não de massa. Mesmo a adoção maciça de elementos culturais estrangeiros por uma nação inteira nunca

abole por completo o caráter nacional; quando muito, reduz suas diferenças. É que os elementos estrangeiros nunca

atuam nos indivíduos com a mesma força que a cultura nacional original. Nunca são adotadas sem alteração. No

próprio processo de adoção, sofrem uma mudança e uma adaptação à cultura nacional existente. [...]

[BAUER, Otto. A nação. In: BALAKRISHNAN, Gopal (org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro:

Contraponto, 2000, pp. 58-61].

FONTE 12: explicação da antropóloga e professora da Universidade de São Paulo Lilia Katri Moritz

Schwarcz:

A História de um país é, de certa maneira, sua carteira de identidade, em processo. Se toda nação constrói sua

memória de maneira a garantir diferenças e resgatar singularidades, também não deixa de anotar sua trajetória

pátria vinculando-a a um concerto mais universal. O processo de construção de uma história nacional é feito, pois,

por um elenco de aspectos partilhados, mas também pela seleção de uma série de efeitos particulares, devidamente

destacados. Afinal, se a história é fundamental para a criação de identidades, seu fermento é o diverso, o vário,

aquilo que se quer especial.

[SCHWARCZ, Lilia Moritz. Introdução à coleção. In: SILVA, Alberto da Costa e (coordenação). Crise colonial

e independência: 1808 – 1830. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 14 – Coleção: História do Brasil Nação: 1808

– 2010, volume 1 de 5].

AÍS:

Fonte 13: explicação do jornalista, escritor e editor Maurício Horta à revista Superinteressante, nº

295, setembro de 2011:

Afinal, o que é um país?

O mundo acabou de receber uma nova nação - o Sudão do Sul. E em setembro a Palestina pode ser o segundo país

a emergir no mapa neste ano. Mas espere um pouco: até que ponto a ideia de país faz sentido?

O que define se um país é ou não é um país? O povo que mora nele? Não exatamente. Se fosse isso, países como

China, Índia, Indonésia, Nigéria e Rússia se desmantelariam em milhares de grupos com língua, religião e história

próprias - e só nesses 5 países teríamos a metade da humanidade em convulsão. A resposta oficial para a pergunta

está na definição dada na Convenção Internacional de Montevidéu de 1933. Segundo ela, o Estado é uma entidade

com "uma população permanente, território definido, governo e a capacidade de entrar em relação com outros

Estados".

Parece simples, mas tem uma pegadinha aí. E ela está no 4º ponto. Essa capacidade depende não apenas de quem

quer ser reconhecido, mas também daqueles que querem reconhecê-lo. Ou seja, a definição não é técnica, mas,

sim, política. País é aquilo que outros países aceitarem como país.

Para entender como isso funciona, primeiro é preciso levar em consideração que o planeta não tem um governo

central. A Terra é uma verdadeira anarquia em que os Estados são atores que decidem sobre seu próprio destino,

já que não há um poder executivo nem uma polícia planetária. A ONU é o palco onde esses atores se reúnem. Mas

para entrar nesse elenco o país precisa ser aprovado pelos colegas, com dois terços dos votos da Assembleia Geral

da ONU e a aprovação do Conselho de Segurança (CS), composto por EUA, França, Reino Unido, Rússia e China.

É nessa regra que surge o limbo dos países que não existem. O exemplo mais clássico é o da República Popular

da China contra a República da China. Em 1949, o nacionalista Chiang Kaishek perdeu para o comunista Mao

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Tsé-tung a Guerra Civil Chinesa. Com isso, o governo chinês deposto se refugiou na ilha de Taiwan, enquanto

Mao ganhou Pequim. Só que desde a fundação da ONU o assento chinês era do governo refugiado em Taiwan.

Então, embora a ilha tivesse apenas uma fração da população chinesa, permaneceu como a verdadeira China até

1971, quando a ONU concedeu a cadeira ao governo de Pequim. Hoje Taiwan tem 23 milhões de habitantes, um

PIB per capita igual ao da Alemanha e o 18º maior orçamento militar do mundo - mas continua não reconhecida,

nem mesmo pelos parceiros comerciais. Oficialmente não é um país.

Algo ainda mais impressionante acontece na Somália. Desde 1991 o país não tem um governo capaz de controlar

seu território, e grande parte do sul está nas mãos de uma milícia ligada à Al Qaeda. Enquanto isso, no noroeste

do país fica a Somalilândia - um país com governo central operante e moeda própria. A Somália, que não consegue

governar seu próprio território, tem um assento na ONU. A Somalilândia não.

Agora é a vez de a Palestina tentar sair desse limbo. Hoje ela é um quebra-cabeça territorial, com áreas sob controle

palestino, áreas de controle israelense e outras sob controle civil palestino e controle militar israelense. Depois de

18 anos de negociações com Israel que não levaram à criação de seu Estado, o plano palestino é apresentar à

Assembleia da ONU em setembro o pedido de entrada como membro. Mesmo já tendo a aprovação de quase 130

dos 193 países-membros, esse plano precisa passar pelo Conselho de Segurança, em que os EUA têm - e

provavelmente exercerão - poder de veto.

Já se o pedido emplacar, o novo país teria direitos de qualquer Estado de verdade. Engraçado é que até

Liechtenstein tem, embora não tenha um exército e sua população caiba toda num estádio de futebol. San Marino

também é país. E não consta que alguém no mundo fale "san marinês"... Nem "monegasco", embora Mônaco

também tenha sua cadeira cativa na sede da ONU, desde 1993.

E quais são esses direitos de um Estado de verdade? Antes de mais nada, o novo país garantiria o monopólio do

uso da força legítima em seu território, e ninguém poderia interferir, sob pena de ficar malvisto pela comunidade

internacional - o que pode trazer embargos comerciais, por exemplo, contra quem violar a soberania de um país

reconhecido.

Até outro dia, porém, essa história de país parecia estar ficando obsoleta, com a União Europeia liderando a

formação de blocos econômicos sem fronteiras internas. Era o primeiro passo para a utopia de um governo

planetário. Mas agora, com a crise e o desfacelamento do euro, essa estrada virou rua sem saída - a começar com

a Dinamarca, que voltou a controlar sua fronteira. Por enquanto, a única certeza é que a anarquia vai continuar

sendo o sistema internacional de governo.

(HORTA, Maurício. Afinal, o que é um país? In: Superinteressante, nº 295, setembro de 2011. Disponível em:

http://super.abril.com.br/cotidiano/afinal-pais-641013.shtml - Acessado em: 05/10/21014 às 10:41).

Fonte 14: Wikipédia:

Um país é uma região geográfica considerada o território físico de um Estado soberano, ou de uma menor ou

antiga divisão política dentro de uma região geográfica. Geralmente, mas nem sempre, um país coincide com um

território soberano e está associado a um Estado, nação ou governo. Comumente, o termo é usado para se referir

tanto para nações quanto para Estados, com diferentes definições. O termo também é usado para se referir a outras

entidades políticas, enquanto que em algumas ocasiões só se refere aos Estados. Não é incomum informações

gerais ou publicações estatísticas adotarem a definição mais ampla do termo para fins de ilustração e comparação.

Algumas entidades geográficas ou linguísticas, que anteriormente eram Estados soberanos, são geralmente

consideradas e referidas ainda como países, como é o caso da Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales –

no Reino Unido, em França no caso do antigo País de Oc, do ainda atual País de Gex, ou do caso hispano-francês

do País Basco.

Historicamente, os países da antiga União Soviética e Iugoslávia eram independentes. Ex-Estados, como

a Baviera (hoje parte da Alemanha) e Piemonte (agora parte da Itália) não seriam normalmente referidos como

"países" atualmente.

O grau de autonomia dos países não-estatais é muito variável. Alguns são possessões de Estados, como as várias

dependências estatais ultramarinas no exterior (como as Ilhas Virgens Britânicas (GBR) e Saint Pierre e

Miquelon (FRA)), com território e cidadãos distintos dos seus Estados. Tais territórios dependentes são, por vezes,

listados junto com os estados independentes nas listas de países e podem ser tratados como um "país de origem"

no comércio internacional, como é o caso de Hong Kong.

(Adaptado pelo professor Rafael. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADs – Acessado em:

06/11/2014 às 11:07).

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OVO:

Fonte 15: verbete de um dicionário de política:

[...]

Foi só com a redescoberta romântica do Povo, já em coincidência com a visão política nacional, que identificava

o Estado com a nação e, portanto, dava novo e maior valor a tudo o que compunha a realidade nacional, que se

começou outra vez a ser sentido como possível sujeito de vida política. Mas a sua revelação havia de estar

concretamente ligada aos grandes processos de transformação econômico-social iniciados com a era industrial no

século XIX e com a consequente formação de grandes partidos políticos populares.

[COLLIVA, Paulo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco (organizadores).

Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 13ª edição, 2010, p. 987].

Fonte 16: explicação da filósofa política alemã, de origem judia, Hannah Arendt (1906-1975). Perseguida

pelos nazistas Arendt radicou-se nos Estados Unidos:

Sem dúvida, os homens que moravam na fronteira americana também pertenciam ao povo para o qual se concebera

e se constituía o novo corpo político, mas nem eles, nem os que estavam povoando as regiões colonizadas jamais

se tornaram elementos singulares para os fundadores. A palavra “povo” conservava para eles o significado de

multiplicidade, de variedade infindável de uma multidão cuja grandeza residia em sua própria pluralidade. Assim,

a oposição à opinião pública, a saber, à potencial unanimidade de todos, era uma das várias coisas com que os

homens da Revolução Americana estavam de pleno acordo; eles sabiam que a esfera pública numa república era

constituída pela troca de opiniões entre iguais, e que essa esfera simplesmente desapareceria no instante em que

essa troca se tornasse supérflua, se viesse a ocorrer que todos os iguais fossem da mesma opinião. Eles nunca se

referiam à opinião pública em seus debates, ao contrário do que invariavelmente faziam Robespierre e os homens

da Revolução Francesa, para aumentar o peso das próprias opiniões; aos olhos dos homens da Revolução

Americana, o domínio da opinião pública era uma forma de tirania. De fato, o conceito americano de povo se

identificava a tal ponto com uma multiplicidade de vozes e interesses que Jefferson pôde estabelecer como

princípio “converter-nos numa nação para assuntos externos e manter-nos distintos nos assuntos internos” [...].

[...] Não é de maneira nenhuma um mero equívoco teórico que o conceito francês de le peuple trouxesse desde o

começo a conotação de um monstro de muitas cabeças, uma massa que se move como um só corpo e age como

que possuída por uma só vontade; e se essa noção se difundiu pelos quatro cantos da Terra, não foi por causa de

nenhuma influência teórica abstrata, mas devido à sua óbvia plausibilidade em condições de miséria extrema. O

problema político sempre presente na miséria do povo é que a multiplicidade pode realmente assumir a aparência

de unidade, que o sofrimento de fato alimenta emoções, disposições e atitudes que se assemelham à solidariedade

a ponto de se confundir com ela, e que – não menos importante – a piedade por muitos se confunde facilmente

com a compaixão por um, quando “o zelo compassivo” (le zèle compatissant) se aplica a um objeto cuja identidade

unitária parece preencher os pré-requisitos da compaixão, ao passo que sua imensidão, ao mesmo tempo,

corresponde ao caráter ilimitado da pura emoção. Certa vez Robespierre comparou a nação a um oceano; com

efeito, o oceano da miséria e os sentimentos oceânicos assim despertados se uniram para afogar os fundamentos

da liberdade.

(ARENDT, Hannah. Sobre a Revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, pp. 132-4).

FONTE 17: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988, disponível no

seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm Acessado em 13/11/2014 às 16:36.

ATIVIDADES

EM SALA

1- Leia as fontes 15 e 16 sobre o conceito de Povo e responda. Por que dizemos que uma determinada pessoa

pertence ao povo alemão ou brasileiro. Que critérios usamos para identificá-los e portanto diferenciá-las?

2- Leia das Fontes 8 a 14, sobre os conceitos de Estado, Governo, Nação e País. Perceba que esses conceitos

em determinados momentos se confundem. Como diferenciá-los? Faça-o de forma escrita.

3- Leia com muita atenção todos os conceitos propostos para darmos sequência aos nossos estudos sobre

Constituição. Após a leitura você será desafiado a elaborar um Mapa Conceitual. Mapa Conceitual é uma técnica

pedagógica que nos permite visualizar graficamente as relações entre determinados conceitos. Além de nos ajudar

a organizar didaticamente o nosso conhecimento sobre Constituição, o Mapa Conceitual também pode nos auxiliar

a visualizar melhor a estrutura do nosso pensamento sobre o tema em questão. Mais fascinante ainda é, após a

elaboração do nosso mapa conceitual, termos a oportunidade de conhecermos o Mapa Conceitual dos nossos

colegas. É o que faremos na próxima aula. Por hora vamos à elaboração dos nossos Mapas Conceituais.

a) Conceitos que serão trabalhados: Constituição, Democracia, Cidadania, Povo, País, Estado, Nação,

Governo, Direitos Civis, Direitos Políticos e Direitos Sociais.

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b) Organize os conceitos numa espécie de tabela da seguinte forma: no alto você deverá colocar os conceitos

mais inclusivos, mais gerais. Quanto mais inclusivo, mais geral, mais alto. Quanto mais específico mais abaixo.

c) Faça uma outra tabela separando os conceitos em grupos: procure criar conjuntos, ou melhor, equipes de

conceitos que compartilham semelhanças.

d) Agora você tem duas tabelas. A primeira tabela trará uma visualização vertical. A segunda uma

visualização horizontal. Acontece que esses conceitos formarão um mapa com uma visão bidimensional, onde as

duas visualizações gráficas se intercalam, sendo que, aqueles que apresentam características semelhantes irão viver

próximos uns dos outros e, onde os conceitos mais inclusivos tendem a ficar mais no alto ou, em muitos casos, nas

regiões centrais do mapa.

e) Conecte os conceitos com linhas e as rotule com uma ou mais palavras-chave que explicitem a relação

entre os conceitos. Os conceitos e as palavras-chave devem sugerir uma proposição que expresse o significado da

relação;

f) Setas podem ser usadas quando se quer dar um sentido a uma relação. No entanto, o uso de muitas setas

acaba por transformar o mapa conceitual em um diagrama de fluxo de dados (DFD);

g) Evite palavras que apenas indiquem relações triviais entre os conceitos. Busque relações horizontais e

cruzadas;

h) Exemplos podem ser agregados ao mapa;

i) Lembre-se que não há um único modo de traçar um mapa conceitual. À medida que muda sua

compreensão sobre as relações entre os conceitos, ou à medida que você aprende, seu mapa também muda. Um

mapa conceitual é um instrumento dinâmico, refletindo a compreensão de quem o faz no momento em que o faz.

j) Compartilhe seu mapa com colegas e examine os mapas deles. Pergunte o que significam as relações,

questione a localização de certos conceitos bem como a inclusão de alguns que não lhe parecem relevantes.

* Os passos acima indicados foram adaptados pelo professor Rafael, a partir dos apontamentos feitos pela

Secretaria de Estado de Educação do Paraná sobre o artigo de Marco Antônio Moreira, intitulado: Mapas

Conceituais e Aprendizagem Significativa, disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf - Acessado em 10/11/2014 às 20:53.

O exemplo abaixo de Mapa Conceitual foi elaborado pela SEED-PR:

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PARA CASA

4- Leia as seguintes fontes e realize as questões propostas: Fonte 7 sobre Direitos Civis, Políticos e Sociais;

Fonte 1 sobre Cidadania e Fontes 5-6 sobre Democracia:

a) Pesquise na internet, jornais, revistas ou outros meios de comunicação, fatos noticiados que

representariam riscos ou avanços ao pleno exercício dos brasileiros dos direitos civis, políticos e sociais.

Transcreva-as de forma resumida.

b) Justifique de que forma esses fatos noticiados representam avanços ou riscos à democracia e ao pleno

exercício da cidadania.

5- Leia as Fontes 2, 3 e 4 sobre o Conceito de Constituição, pesquise a Constituição da República Federativa

do Brasil (FONTE 17) e transcreva um artigo, parágrafo ou inciso da Constituição que esteja relacionada aos

demais conceitos expressos na Unidade 2 preenchendo o quadro abaixo:

Conceitos Artigos, parágrafos ou incisos relacionados aos conceitos

Cidadania

Democracia

Direitos Civis

Direitos Políticos

Direitos Sociais

Estado

Governo

Nação

País

Povo

Endereço eletrônico oficial do Palácio do Planalto com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm Acessado em 13/11/2014 às 16:10.

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Unidade III

CARTAS DA LIBERDADE: uma cidade de declarações.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- História dos Direitos Humanos;

- Significados de determinados documentos históricos para a formação do nosso ordenamento jurídico.

Debate dos conteúdos e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade do professor Rafael.

FONTE 1: narrativa elaborada pela organização

internacional sem fins lucrativos “Unidos pelos Direitos

Humanos”, mais conhecida como United for Human Rigths,

dedicada à implementação da Declaração

Universal dos Direitos Humanos a nível local,

regional, nacional e internacional. É composta por

indivíduos e grupos em todo o mundo que estão

ativamente dedicados a transmitir o conhecimento

e a proteção dos direitos humanos por e para toda

a Humanidade. O seu propósito é disponibilizar

recursos e atividades educacionais que informam,

apoiam e unem os indivíduos, educadores,

organizações e organismos governamentais na

difusão e adoção da Declaração Universal dos

Direitos Humanos em todos os níveis da sociedade.

Unidos pelos Direitos Humanos foi fundada no

sexagésimo aniversário da Declaração, em face de

abusos contínuos em todo o mundo que violam o

espírito, a intenção, e os Artigos desta carta de

direitos humanos, o primeiro documento do gênero

que jamais foi ratificada pela comunidade das

nações. Sondagens descobriram que a maior parte

das pessoas têm apenas uma compreensão limitada

dos direitos humanos. A Declaração contém os

trinta direitos que, juntos formam a base para uma

civilização na qual as pessoas podem desfrutar de

todas as liberdades a que têm direito e as nações

possam viver em paz. (Adaptado de:

http://www.humanrights.com/about-us/what-is-

united-for-human-rights.html - Acessado em

13/11/2014 às 18:42).

UMA BREVE HISTÓRIA DOS DIREITOS

HUMANOS Declaração de Independência

dos Estados Unidos (1776)

A 4 de julho de 1776, o Congresso dos Estados Unidos

aprovou a Declaração de Independência. O seu

principal autor, Thomas Jefferson, escreveu a

Declaração como uma explicação formal do porquê o

Congresso ter votado no dia 2 de julho para declarar a

independência da Grã–Bretanha, mais de um ano

depois de irromper a Guerra Revolucionária

Americana, e como uma declaração que anunciava que

as treze Colónias Americanas não faziam mais parte do

Império Britânico. O Congresso publicou a Declaração

de Independência de várias formas. No começo foi

publicada como uma folha de papel impressa de grande

formato que foi largamente distribuída e lida pelo

público.

Em 1776, Thomas Jefferson redigiu a Declaração de

Independência dos Estados Unidos da América.

Filosoficamente, a Declaração acentuou dois temas: os

direitos individuais e o direito de revolução. Estas

ideias tornaram–se largamente apoiadas pelos

americanos e também se difundiram

internacionalmente, influenciando em particular a

Revolução Francesa.

A Constituição dos Estados

Unidos da América (1787) e a

Declaração dos Direitos (1791)

A Declaração dos Direitos da Constituição dos EUA

protege as liberdades fundamentais dos cidadãos dos

Estados Unidos.

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Escrita durante o verão de 1787 em Filadélfia, a

Constituição dos Estados Unidos da América é a lei

fundamental do sistema federal do governo dos Estados

Unidos e o documento de referência do mundo

Ocidental. Esta é a mais antiga constituição nacional

escrita que está em uso e que define os órgãos

principais de governo e suas jurisdições e os direitos

básicos dos cidadãos.

As dez primeiras emendas da Constituição, a

Declaração dos Direitos, entraram em vigor no dia 15

de dezembro de 1791, limitando os poderes do governo

federal dos Estados Unidos e para proteger os direitos

de todos os cidadãos, residentes e visitantes no

território americano.

A Declaração dos Direitos protege a liberdade de

expressão, a liberdade de religião, o direito de guardar

e usar armas, a liberdade de assembleia e a liberdade de

petição. Esta também proíbe a busca e a apreensão sem

razão alguma, o castigo cruel e insólito e a auto–

inculpação forçada. Entre as proteções legais que

proporciona, a Declaração dos Direitos proíbe que o

Congresso faça qualquer lei em relação ao

estabelecimento de religião e proíbe o governo federal

de privar qualquer pessoa da vida, da liberdade ou da

propriedade sem os devidos processos da lei. Em casos

de crime federal é requerida uma acusação formal por

um júri de instrução para qualquer ofensa capital, ou

crime infame, e a garantia de um julgamento público

rápido com um júri imparcial no distrito em que o crime

ocorreu, e proíbe um duplo julgamento.

(Disponível em:

http://www.humanrights.com/pt/what-are-human-

rights/brief-history/declaration-of-independence.html -

Acessado em: 02/10/2014 às 08:50

FONTE 2: Declaração de Independência dos Estados Unidos, 1776

NO CONGRESSO, 4 de julho de 1776.

A Declaração unânime dos treze Estados Unidos da América.

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, torna-se necessário que um povo dissolva os laços políticos que

o ligam a outro e assuma entre as potências da Terra a posição separada e igual que lhe dão direito as leis da

Natureza e do Deus da Natureza, um respeito descente pelas opiniões da humanidade requer que ele declare as

causas que o impelem à separação.

Consideramos essas verdades autoevidentes: que todos os homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de

certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade. – Que para assegurar

esses direitos, Governos são instituídos entre os Homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos

governados. – Que, sempre que qualquer Forma de Governo se torne destrutiva desses fins, é Direito do Povo

alterá-la ou aboli-la, e instituir novo Governo, assentando sua fundação nesses princípios e organizando os seus

poderes da forma que lhe pareça mais conveniente para a realização da sua Segurança e Felicidade. A prudência,

de fato, dita que os Governos estabelecidos há muito tempo não devem ser mudados por causas superficiais e

transitórias; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que a humanidade está mais disposta a sofrer, enquanto

os males são suportáveis, do que a se desagravar abolindo as formas a que está acostumada. Mas quando uma

longa sequência de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo Objeto, revela o desígnio de

reduzir o povo a um Despotismo absoluto, é seu direito, é seu dever, derrubar tal Governo, e providenciar novos

Guardiões para sua futura segurança. – Tal rem sido a tolerância paciente destas Colônias; e tal é agora a

necessidade que as força a alterar os Sistemas anteriores de Governo. [...]

[Fonte: Paul Leicester Ford, ed., The Writhings of Thomas Jefferson, 10 vols. (Nova York: G. P. Putnam’s Sons,

1892-9), vol. 2, pp. 42-58; www.archive.gov/national-archives-experience/chartes/declaration_transcript.html.

Apud: HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das letras, 2009,

pp. 219-220].

FONTE 3: narrativa elaborada pela organização

Unidos pelos Direitos Humanos.

A Declaração dos Direitos do

Homem e do Cidadão (1789).

Em 1789 o povo de França levou a cabo a abolição da

monarquia absoluta e o estabelecimento da primeira

República Francesa. Somente seis semanas depois do

assalto à Bastilha, e apenas três semanas depois da

abolição do feudalismo, a Declaração dos Direitos do

Homem e do Cidadão (francês: Déclaration des Droits

de l'Homme et du Citoyen) foi adotada pela

Assembleia Constituinte Nacional como o primeiro

passo para o escrito de uma constituição para a

República da França.

A Declaração proclama que todos os cidadãos devem

ter garantidos os direitos de “liberdade, propriedade,

segurança, e resistência à opressão”. Isto argumenta

que a necessidade da lei provém do facto que “… o

exercício dos direitos naturais de cada homem tem só

aquelas fronteiras que asseguram a outros membros da

sociedade o desfrutar destes mesmos direitos”.

Portanto, a Declaração vê a lei como “uma expressão

da vontade geral”, que tem a intenção de promover

esta igualdade de direitos e proibir “só acções

prejudiciais para a sociedade”.

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Após a Revolução Francesa em 1789, a Declaração

dos Direitos do Homem e do Cidadão concedeu

liberdades específicas da opressão, como uma

“expressão da vontade geral”.

A Primeira Convenção de

Genebra (1864)

Em 1864, dezesseis países europeus e vários estados

americanos assistiram a uma conferência em Genebra,

a convite do Conselho Suíço Federal, com a iniciativa

do Comité de Genebra. A conferência diplomática foi

celebrada com o objectivo de adotar uma convenção

para o tratamento de soldados feridos em combate.

Os princípios fundamentais foram estabelecidos na

Convenção e foram mantidos pelas Convenções

posteriores de Genebra especificando a obrigação de

ampliar o cuidado, sem discriminação, ao pessoal

militar ferido ou doente, mantendo o respeito para

com eles e com a marca de transportes de pessoal

médico e equipa distinguidos pela cruz vermelha sobre

um fundo branco.

O documento original da primeira Convenção de

Genebra, em 1864, estipulava o cuidado de soldados

feridos.

(Disponível em:

http://www.humanrights.com/pt/what-are-human-

rights/brief-history/declaration-of-human-rights.html -

Acessado em: 02/10/2014 às 08:53).

FONTE 4: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 26 de agosto de 1789

“Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia Nacional, considerando que a ignorância, o

esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos

governos, resolveram expor, em declaração solene, os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim

de que essa declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lembre-lhes permanentemente

seus direitos e seus deveres ; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser

comparados a qualquer momento com a finalidade de qualquer instituição política, sejam mais respeitados; a fim

de que as reivindicações dos cidadãos, fundadas doravante em princípios simples e incontestáveis, dirijam-se

sempre à conservação da Constituição e à felicidade de todos. Consequentemente, a Assembleia Nacional

reconhece e declara, na presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do

cidadão:

Artigo 1º – Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais podem se fundar

apenas na utilidade comum.

2 – O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem.

Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.

3 – O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode

exercer autoridade que não emane expressamente dela.

4 – A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos

naturais de cada homem não tem outros limites além daquele que asseguram aos outros membros da sociedade o

gozo desses mesmos direitos. Esses limites só podem ser determinados pela lei.

5 – A lei tem o direito de proibir apenas as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é proibido pela lei não pode

ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

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6 – A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer pessoalmente ou por

intermédio de mandatários a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir.

Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, cargos e empregos

públicos, segundo sua capacidade e sem outra distinção que não seja a de suas virtudes e de seus talentos.

7 – Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas

prescritas por ela. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser

punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, senão

torna-se culpado de resistência.

8 – A lei deve estabelecer somente penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão

pela força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.

9 – Todo homem é considerado inocente até que seja declarado culpado e, se julgado indispensável prendê-lo,

todo rigor desnecessário à garantia de sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei.

10 – Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, inclusive opiniões religiosas, desde que sua manifestação

não perturbe a ordem estabelecida pela lei.

11 – A livre comunicação de pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; portanto, todo

cidadão pode falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos dessa liberdade nos casos

determinados pela lei.

12 – A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; essa força é instituída para o

bem de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.

13 – Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição

comum; esta deve ser dividida entre os cidadãos, de acordo com suas possibilidades.

14 – Todos os cidadãos têm o direito de constatar, por si mesmos ou por seus representantes, a necessidade da

contribuição pública, de consenti-la livremente, de acompanhar seu emprego e de determinar sua quota, coleta,

cobrança e duração.

15 – A sociedade tem direito de pedir satisfação a todo agente público por sua administração.

16 – A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes

não tem Constituição.

17 – Sendo a propriedade um direito inviolável e sagrado, ninguém pode ser privado dela, a não ser quando a

necessidade pública legalmente constatada assim exigir e desde que haja justa e prévia indenização.”

(Fonte: citado em Christine Faure, Les déclarations des droits de I’ homme de 1789, Paris, Payot, 1988, p. 11-3.

Apud: VOVELLE, Michel. A revolução francesa, 1789-1799. São Paulo: Editora Unespe, 2012, pp. 70-3).

Fonte 5: narrativa elaborada pela Unidos

pelos Direitos Humanos.

As Nações Unidas (1945)

Em 1945, cinquenta nações reuniram–se em San

Francisco e formaram a Organização das Nações

Unidas para proteger e promover a paz.

A Segunda Guerra Mundial tinha alastrado de 1939

até 1945, e à medida que o final se aproximava,

cidades por toda a Europa e Ásia estendiam–se em

ruínas e chamas. Milhões de pessoas estavam mortas,

milhões mais estavam sem lar ou a passar fome. As

forças russas estavam a cercar o remanescente da

resistência alemã na bombardeada capital alemã de

Berlim. No Oceano Pacífico, os fuzileiros

estadunidenses ainda combatiam firmemente as forças

japonesas entrincheiradas em ilhas tais como

Okinawa.

Em abril de 1945, delegados de cinquenta países

reuniram–se em San Francisco cheios de optimismo e

esperança. O objectivo da Conferência das Nações

Unidas na Organização Internacional era formar um

corpo internacional para promover a paz e prevenir

futuras guerras. Os ideais da organização foram

declarados no preâmbulo da sua carta de proposta:

“Nós os povos das Nações Unidas estamos

determinados a salvar as gerações futuras do flagelo

da guerra, que por duas vezes na nossa vida trouxe

incalculável sofrimento à Humanidade”.

A Carta da nova organização das Nações Unidas

entrou em efeito no dia 24 de outubro de 1945, uma

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data que é comemorada todos os anos como o Dia das

Nações Unidas.

A Declaração Universal dos

Direitos Humanos (1948)

Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos das

Nações Unidas tinha captado a atenção mundial. Sob a

presidência dinâmica de Eleanor Roosevelt, a viúva do

presidente Franklin Roosevelt, uma defensora dos

direitos humanos por direito próprio e delegada dos

Estados Unidos nas Nações Unidas, a Comissão

elaborou o rascunho do documento que viria a

converter–se na Declaração Universal dos Direitos

Humanos. Roosevelt, creditada com a sua inspiração,

referiu–se à Declaração como a Carta Magna

internacional para toda a Humanidade. Foi adotada

pelas Nações Unidas no dia 10 de dezembro de 1948.

No seu preâmbulo e no Artigo 1.º, a Declaração

proclama inequivocamente os direitos inerentes de

todos os seres humanos: “O desconhecimento e o

desprezo dos direitos humanos conduziram a atos de

barbárie que revoltam a consciência da Humanidade, e

o advento de um mundo em que os seres humanos

sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da

miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração

do Homem... Todos os seres humanos nascem livres e

iguais em dignidade e em direitos.”

Os Estados Membros das Nações Unidas

comprometeram–se a trabalhar uns com os outros para

promover os trinta artigos de direitos humanos que,

pela primeira vez na história, tinham sido reunidos e

codificados num único documento. Em consequência,

muitos destes direitos, de várias formas, são hoje parte

das leis constitucionais das nações democráticas.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem tem

inspirado um número de outras leis e tratados de

direitos humanos em todo o mundo.

(Disponível em:

http://www.humanrights.com/pt/what-are-human-

rights/brief-history/the-united-nations.html - Acessado

em: 02/10/2014 às 08:55).

FONTE 6: Declaração Universal dos Direitos Humanos: [Adotada pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Embora não seja legalmente

obrigatória, A Declaração tem sido amplamente citada por estudiosos, juristas e cortes constitucionais, como

fundamento referencial na proteção dos direitos civis, políticos, sociais e culturais de todas as pessoas do

mundo].

PREÂMBULO

Visto que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Visto que o desrespeito e o desprezo pelos direitos humanos têm resultado em atos bárbaros que ofenderam a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos tenham liberdade de expressão e crença e a liberdade de viver sem medo e privações foi proclamado como a aspiração mais elevada do homem comum,

Visto que é essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo estado de direito, para que o homem não seja compelido a recorrer, em última instância, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Visto que é essencial promover o desenvolvimento das relações amistosas entre as nações,

Visto que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores padrões de vida e maior liberdade,

Visto que os Estados-membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e o cumprimento desses direitos e liberdades,

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Visto que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da maior importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

A ASSEMBLEIA GERAL proclama ESTA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS como um ideal comum a ser alcançado por todos os povos e todas as nações, para que todo indivíduo e todo órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, procure, pelo ensinamento e pela educação, promover o respeito a esses direitos e liberdades e, por medidas progressivas de caráter nacional e internacional, assegurar o seu reconhecimento e cumprimento universais e efetivos, tanto os povos dos próprios Estados-membros como entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns para com os outros num espírito de fraternidade.

Artigo 2º. Todo ser humano pode fruir de todos os direitos e liberdades apresentados nesta Declaração, sem distinção de qualquer sorte, como raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra ordem, origem nacional ou social, bens, nascimento ou qualquer outro status. Além disso, nenhuma distinção deve ser feita com base no status político, jurisdicional ou internacional do país ou território a que uma pessoa pertence, seja ele território independente, sob tutela, não autônomo ou com qualquer outra limtação de soberania.

Artigo 3º. Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade, e à segurança pessoal.

Artigo 4º. Ninguém pode ser mantido em escravidão ou servidão: a escravidão e o tráfico de escravos devem ser proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5º. Ninguém deve ser submetido à tortura ou a um tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante.

Artigo 6º. Todo ser humano tem o direito de ser reconhecido, por toda parte, como uma pessoa perante a lei.

Artigo 7º. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a uma proteção igual da lei. Todos têm direito a uma proteção igual contra qualquer discriminação que viole esta Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8º. Todo ser humano tem direito a receber, dos tribunais nacionais competentes, uma reparação efetiva para atos que violem os direitos fundamentais a ele concedido pela constituição ou pela lei.

Artigo 9º. Ninguém deve ser submetido à prisão, à detenção ou ao exílio arbitrário.

Artigo 10. Todo ser humano tem direito, em total igualdade, a uma audiência justa e pública, por parte de um tribunal independente e imparcial, para a determinação de seus direitos e deveres e de qualquer acusação criminal contra a sua pessoa.

Artigo 11. ( 1 ) Todo ser humano acusado de um delito tem direito à presunção da inocência até que seja provada a sua culpa de acordo com a lei, num julgamento público em que lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias para a sua defesa. ( 2 ) Ninguém deve ser considerado culpado por qualquer ato ou omissão que não constituía delito perante a lei nacional ou internacional na época em que foi cometido. Tampouco deve ser imposta uma pena mais pesada do que a aplicável na época em que o delito foi cometido.

Artigo 12. Ninguém deve ser sujeito a interferências arbitrárias na sua privacidade, família, lar ou correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo 13. ( 1 ) Todo ser humano tem o direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. ( 2 ) Todo ser humano tem o direito de sair de qualquer país, inclusive do seu próprio, e de retornar ao seu país.

Artigo 14. ( 1 )Todo ser humano vítima de perseguição tem o direito de procurar e receber asilo em outros países. ( 2 ) Esse direito não pode ser invocado no caso de uma perseguição legitimamente motivada por crimes não políticos ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

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Artigo 15. ( 1 ) Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade. ( 2 ) Ninguém deve ser arbitrariamente destituído de sua nacionalidade, nem lhe será negado o direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16. ( 1 ) Os homens e mulheres adultos, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de casar e fundar uma família, fazendo jus a direitos iguais em relação ao casamento, durante o casamento e na sua dissolução. ( 2 ) O casamento deve ser realizado somente com o livre e pleno consentimento dos futuros cônjuges. ( 3 ) A família é a unidade de grupo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo 17. ( 1 ) Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. ( 2 ) Ninguém deve ser arbitrariamente destituído de sua propriedade.

Artigo 18. Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença, e a liberdade de manifestar a sua religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, sozinho ou em comunidade com outros, em público ou em privado.

Artigo 19. Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de ter opiniões sem quaisquer interferências e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por qualquer meio de comunicação e independentemente de fronteiras.

Artigo 20. ( 1 ) Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. ( 2 ) Ninguém pode ser obrigado a pertencer a uma associação.

Artigo 21. ( 1 ) Todo ser humano tem o direito de participar do governo de seu país, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos. ( 2 ) Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público no seu país. ( 3 ) A vontade do povo deve ser a base da autoridade do governo; esta vontade deve ser expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal e igual, realizadas por voto secreto ou por procedimento equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo 22. Todo ser humano, como membro da sociedade, tem o direito à segurança social e à realização, por meio de esforço nacional e cooperação internacional e de acordo com a organização e os recursos do Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo 23. ( 1 ) Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. ( 2 ) Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a pagamento igual para trabalho igual. ( 3 ) Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que assegure para si mesmo e para sua família uma existência à altura da dignidade humana, suplementada, se necessário, por outros meios de proteção social. ( 4 ) Todo ser humano tem o direito de organizar sindicatos e deles participar para a proteção de seus interesses.

Artigo 24. Todo ser humano tem direito ao descanso e ao lazer, inclusive a uma limitação razoável das horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.

Artigo 25. ( 1 ) Todo ser humano tem direito a um padrão de vida que lhe assegure, para si mesmo e para sua família, saúde e bem-estar, incluindo alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, bem como o direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. ( 2 ) A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do casamento, devem ter a mesma proteção social.

Artigo 26. ( 1 ) Todo ser humano tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, ao menos nos estágios elementares e fundamentais. A educação elementar deve ser obrigatória. A educação técnica e profissional deve ser colocada à disposição de todos, e a educação superior deve ser igualmente acessível a todos com base no mérito.

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( 2 ) A educação deve ser orientada para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e para o fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Deve promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e deve fomentar as atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. ( 3 ) Os pais têm o direito prioritário de escolher o tipo de educação que será dado ao seus filho..

Artigo 27. ( 1 ) Todo ser humano tem o direito de participar livremente na vida cultural da comunidade, apreciar as artes e participar do progresso científico e seus benefícios. ( 2 ) Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais que resultem de qualquer produção científica, literária ou artística de sua autoria.

Artigo 28. Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos nesta Declaração possam se plenamente realizados.

Artigo 29. ( 1 ) Todo ser humano tem deveres para com a comunidade em que o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade é possível. ( 2 ) No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano deve estar sujeito apenas às limitações determinadas pela lei exclusivamente com o propósito de assegurar o devido reconhecimento e respeito pelo direitos e liberdades dos outros e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar geral de uma sociedade democrática. ( 3 ) Estes direitos e liberdades não podem ser exercidos, em hipótese alguma, contra os propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30. Nada nesta Declaração pode ser interpretada de maneira a implicar que qualquer Estado, grupo ou pessoa tem o direito de se envolver em qualquer atividade ou executar qualquer ato destinado à destruição de qualquer um dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

[Fonte: Mary Ann Glendon, A World Made New: Eleanor Roosevelt and the Universal Declaration of human

Rights (Nova York: Randon House, 2001), pp. 310-4; www.un.org/Overview/-rights.html. Apud: HUNT, Lynn.

A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das letras, 2009, pp. 229-236].

FONTE 7: vídeo produzido pela Unidos pelos Direitos Humanos, disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://www.humanrights.com/pt/what-are-human-rights/brief-

history/declaration-of-human-rights.html Acessado em 15/10/2014 às 08:55.

FONTE 8: caricatura criada por um autor desconhecido no início do século XIX, essa charge na França é

chamada por alguns de A Carta e a tortura de um Ultra no submundo. Na legenda é possível ler O suplício

de um Ultra no inferno. Quanto a placa na parede, no canto direito da iconografia, é possível ler o artigo

primeiro da Constituição francesa que aparentemente estava em vigor: “Os franceses são iguais perante a

lei.”

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(Disponível em: http://revolution-francaise.net/images/reichardt/22.jpg - Acessado em: 15/10/2014 às 10:41).

FONTE 9 (à direita): charge do

cartunista Ernani Diniz Lucas, mais

conhecido como Nani, criador da

tirinha Vereda Tropical.

(Disponível em:

http://politicaedireitoshumanos.files.wor

dpress.com/2011/10/direitoshumanos.jpg

- Acessado em: 25/10/2014 às 11:17).

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FONTE 10: narrativa e explicação histórico-

filosófica do filósofo brasileiro Renato Janine

Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da

USP, em artigo veiculado pelo Jornal Folha de

São Paulo em 3 de dezembro de 1998.

UMA IDÉIA QUE NASCEU HÁ 300 ANOS Não havia direitos humanos na Grécia. Isso pode

soar estranho, até porque Atenas ainda hoje aparece

como um momento alto, insuperado, do regime

político democrático. Mas o fato é que a

democracia, pelo menos entre os Antigos, não

incluía o que chamamos direitos humanos - e que são uma invenção moderna. A Inglaterra, hoje sinônimo de

calma resolução dos conflitos, já se viu tomada por guerras civis; e foi por ocasião de uma delas, entre 1640 e

1660, que se tornou comum a alusão aos direitos do "freeborn englishman", o inglês nascido livre ou livre por

nascença. Haveria uma série de direitos que todo inglês teria, só por nascer. Insistamos na questão do nascimento:

é o que explica o termo "direitos naturais". Natural é o que temos por nascença. Direitos naturais são os que temos

antes de qualquer decisão governamental ou política - sem precisarmos da boa vontade do Estado ou de quem quer

que seja.

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Os direitos humanos surgem, na modernidade, como direitos naturais. Basta o inglês nascer para tê-los. Essa é

uma das grandes inovações dos revolucionários ingleses de 1640. Entre tais direitos estava o de não ser obrigado

a acusar a si próprio, o de não pagar impostos que não fossem votados por seus deputados, o de ter voz na política.

O arremate da Revolução Inglesa iniciada em 1640 se dá em 1688, quando é deposto o rei Jaime 2º. Guilherme e

Maria, que sucedem a ele, aceitam o "Bill of Rights", que é o nome inglês do que conhecemos, nas línguas latinas,

como "declaração de direitos".

"Bill", em inglês, é mais ou menos o que chamamos um projeto de lei - antes, portanto, de ser sancionado pelo

Poder Executivo. No caso, recebe esse nome por ser um texto legal plenamente válido, mas cuja validade não

deriva da assinatura do rei. Isso quer dizer que os direitos existem e vigoram, não porque um rei (ou mesmo uma

assembleia) assim o quis, mas porque naturalmente todos os humanos têm tais direitos. A assembleia, seja ela a

francesa de 1789 ou a da ONU de 1948, apenas declara os direitos, ela não os cria.

A Constituição brasileira de 1988, tão difamada pelos autoritários, segue essa (boa) lição: pela primeira vez em

nossa história, os direitos humanos precedem o funcionamento dos poderes de Estado. Ela ensina que o Estado

está a serviço dos cidadãos, que nas Cartas anteriores apareciam depois dos três poderes, como um detalhe ou

mesmo estorvo. (Aliás, essa questão é interessante: em que larga medida a cidadania aparece como um estorvo, a

um poder fechado sobre si mesmo, exercido pelas elites?). E exatamente por essa convicção democrática a

Constituição de 1988 deu caráter pétreo aos artigos sobre os direitos: se a Constituinte apenas os declarou, se não

os criou (porque estão acima da vontade humana), isso implica que eles não podem ser abolidos.

Mas voltemos à história. Em 1689, a Inglaterra promulga seu "Bill of Rights". Vai passar um século antes de

surgirem dois outros. Em 1789, nos inícios da Revolução Francesa, a Assembleia, que acaba de se declarar

Constituinte, vota a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Mas não são mais os direitos de um único

povo, e sim os da humanidade inteira.

DIREITOS PASSAM A UNIVERSAIS.

Esta, aliás, é a grande característica da Revolução Francesa de 1789, nisso mais audaz que a Inglesa de 1688 ou

mesmo a Americana de 1776: nenhum direito é invocado pelos franceses como sendo apenas nacional. Todos os

direitos são do cidadão e do homem como universais. Valem para qualquer povo. E mesmo que a própria França

demore para estendê-los, por exemplo, aos negros escravos, uma dinâmica se instaura que terminará suscitando

suas revoltas (por exemplo, no Haiti) e sua liberdade.

Em 1791, os Estados Unidos aprovam sua declaração. Os constituintes de 1787, liderados pelos federalistas,

haviam dado maior importância à mecânica dos três poderes do que aos direitos humanos. Mas Thomas Jefferson,

mais democrático que eles, propôs que a adesão à Carta viesse junto com uma série de emendas reconhecendo

direitos aos indivíduos. São as dez primeiras emendas à Constituição americana, conhecidas como "Bill of Rights".

Quando estudamos os direitos humanos, são estes os três textos clássicos e iniciais, aos quais se soma, em 1948, a

Declaração da Assembleia Geral da ONU. Vemos que eles se foram expandindo, a partir porém de uma ideia

inicial e decisiva. Esta era (e é) que os direitos humanos estão acima de qualquer poder de Estado. Por isso, é uma

ideia antipositivista.

Positivismo, em direito, não significa a mesma coisa que nas ciências. Chama-se de "positivismo jurídico" a tese

de que uma lei vale porque foi decretada (ou posta, ou afirmada) pela autoridade legítima. Só haveria direitos ou

obrigações com base num poder. Mas a tese dos direitos humanos supõe, justamente, que acima de qualquer poder

existente já vigem direitos inegáveis, irredutíveis.

Este é o cerne da ideia de direitos humanos, e vê-se qual a sua conclusão lógica: que os governos não podem violar

tais direitos impunemente, e -se o fizerem- devem pagar por isso. Cedo ou tarde, precisaremos assim ter uma

jurisdição supranacional que julgue e puna criminosos que só têm em seu favor, como Pinochet ou Saddam

Hussein, o fato de terem cometido crimes em tão larga escala que escapam -por um tempo- ao castigo merecido.

As declarações clássicas são, porém, acusadas frequentemente de dar força demais aos direitos do indivíduo -e do

proprietário- e de desprezar os grupos de trabalhadores sem propriedade. É verdade. Nelas, a ênfase está na defesa,

contra o poder estatal, da propriedade, numa definição de direitos civis e políticos que não tem condições de

abranger toda a humanidade. A declaração inglesa exclui dos direitos os estrangeiros, a americana os escravos. Já

a francesa (a mais universalizante) encontra um de seus limites na recusa, em 1791, de uma declaração dos direitos

das mulheres: Olympe de Gouges, sua proponente, foi guilhotinada em 1793.

Mas o importante não são as limitações dessas declarações - e sim suas potencialidades. Nos últimos três séculos,

uma consciência de direitos aumentou, limitando o Poder. Os direitos se ampliaram, incluindo os direitos sociais,

que se distinguem da "primeira geração" de direitos por beneficiarem grupos e não indivíduos, trabalhadores e não

proprietários.

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E recentemente surgiram os direitos difusos, dos quais o grande exemplo são os relativos ao meio ambiente, que

não têm titulares precisos, perfeitamente definidos, mas beneficiam a todos. Isso é irônico, porque o direito ao ar

puro protege até os próprios poluidores, porque eles precisam, para viver, da mesma atmosfera que estão

degradando...

Talvez o grande salto por se dar seja para os direitos dos animais ou da natureza em geral. Esta questão é curiosa.

A tradição jurídica ocidental moderna entende que direitos pertencem a seres humanos. Se assim for, a razão de

se preservar a Mata Atlântica ou o mico-leão dourado estaria no interesse (ou direito) dos homens a um ambiente

equilibrado, biodiversificado etc.

Mas basta isso? Quando defendo uma espécie em extinção, o fundamento de minha ação estará em meus interesses

-ou no direito dessa própria espécie a viver? Não haverá um direito da árvore, ou daquela espécie arbórea, do

indivíduo ou da espécie do mico-leão, a viver? Cada vez mais filósofos, juristas -e praticamente todos os

ecologistas- entendem dessa última forma. E assim pode ser que o arremate dos direitos humanos seja, para além

do homem, uma declaração de direitos dos animais e até da natureza. Haverá melhor sinal de que essa ideia, 300

anos depois de irromper, continua fecunda e revolucionária?

(RIBEIRO, Renato Janine. In: Folha de São Paulo de 3 de dezembro de 1998. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj03129802.htm - Acessado em 06/11/2014 às 10:28).

FONTE 11: artigo do jornal The New York Times sobre a influência da Constituição dos Estados Unidos

no mundo, de 17 de fevereiro de 2012, traduzido e publicado no jornal Gazeta do Povo, Curitiba - PR:

CONSTITUIÇÃO AMERICANA PERDE INFLUÊNCIA NO EXTERIOR

Falta de atualizações e garantia de poucos direitos fazem com que documento deixe de ser modelo

principal para o restante do mundo.

A Constituição dos Estados Unidos já viu dias melhores. O documento fundador e texto sagrado para a nação

norte-americana é a mais antiga Constituição ainda em vigor em qualquer lugar do mundo. Mas sua influência tem

minguado. Em 1987, no bicentenário da Constituição, a revista Time calculou que “dos 170 países que existem

hoje, mais de 160 escreveram cartas de direitos tendo a versão dos EUA direta ou indiretamente como modelo”.

Um quarto de século depois, o quadro geral parece ser bem diferente.

“A Constituição dos EUA parece estar perdendo seu apelo como modelo para os redatores constitucionais no

restante do mundo”, segundo um novo estudo conduzido por David S. Law, da Universidade de Washington em

St. Louis, e Mila Versteeg, da Universidade da Virgínia. A pesquisa, que será publicada em junho no periódico

New York University Law Review, fervilha de dados. Seus autores codificaram e analisaram as provisões de 729

constituições adotadas por 188 países entre 1946 e 2006, e consideraram 237 variáveis no que diz respeito a vários

direitos e modos de aplicá-los.

“Entre as democracias do mundo”, concluíram, “a similaridade constitucional à dos Estados Unidos tem entrado

claramente em queda livre.” Durante os anos de 1960 e 1970, as constituições democráticas como um todo se

tornaram mais semelhantes à Constituição dos EUA, para depois seguirem o caminho contrário durante os anos

de 1980 e 1990.

“A virada para o século 21, no entanto, viu o começo de uma queda brusca que continua até durante os anos mais

recentes dos quais temos dados, chegando ao ponto de que as constituições das democracias do mundo são, em

média, menos semelhantes à Constituição dos EUA agora do que eram no final da Segunda Guerra Mundial.”

Motivos Há muitas razões possíveis. A Constituição dos Estados Unidos é concisa e antiga, e garante relativamente poucos

direitos. A influência minguante do documento também pode ser parte de um declínio geral do poder e prestígio

dos EUA.

Em entrevista, Law identificou um motivo central para essa tendência: a disponibilidade de sistemas operacionais

mais novos e mais atraentes no mercado constitucional. “Ninguém quer copiar o Windows 3.1”, ele disse.

Numa entrevista para a televisão durante uma visita ao Egito na semana passada, a juíza da Suprema Corte Ruth

Bader Ginsburg parecia concordar. “Eu não prestaria muita atenção na constituição dos Estados Unidos se eu

estivesse elaborando uma constituição no ano de 2012”, ela disse. Em vez disso, ela recomendou a Constituição

da África do Sul, a Carta Canadense de Direitos e Liberdades ou a Convenção de Direitos Humanos europeia.

Carta não recebeu reformas significativas ao longo de 200 anos Os direitos garantidos pela Constituição dos EUA são parcimoniosos para os padrões internacionais e estão

congelados no tempo. Como escreveu Sanford Levinson em 2006 em seu texto Nossa Constituição

Antidemocrática, “a Constituição dos EUA é a mais difícil de se emendar de todas as Constituições atualmente

existentes no mundo de hoje” (a Iugoslávia costumava ter esse título, mas ela não deu certo).

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Outras nações rotineiramente fazem completas mudanças em suas constituições, substituindo-as a cada 19 anos,

em média. Por uma estranha coincidência, Thomas Jefferson, numa carta de 1789 a James Madison, disse que

todas as constituições “expiram naturalmente ao fim de seus 19 anos” porque “a terra pertence sempre à geração

vivente”.

Atualmente, a coincidência entre os direitos garantidos pela Constituição e os direitos mais populares no mundo

está irregular. Reconhecemos direitos que não são amplamente protegidos, inclusive o direito a um julgamento

rápido e público, e estamos sozinhos na proibição do estabelecimento governamental de religião.

Mas a Constituição está fora de ritmo com o restante do mundo ao fracassar em proteger, pelo menos com tantas

palavras, o direito de ir e vir, a presunção de inocência e o direito à alimentação, educação e cuidados de saúde.

Além disso, apenas 2% das constituições do mundo protegem, como a Segunda Ementa da Constituição americana,

o direito de portar armas (casos semelhantes ocorrem na Guatemala e México).

A estatura global minguante da Constituição é consistente com a influência reduzida da Suprema Corte, que “perde

o papel central que já teve entre as cortes de democracias modernas”, segundo escreve Aharon Barak, o então

presidente da Suprema Corte de Israel, no periódico Harvard Law Review, em 2002.

Muitos juízes estrangeiros afirmam terem se tornado menos propensos a citar decisões da Suprema Corte dos EUA,

em parte por conta daquilo que consideram ser paroquialismo. “Os EUA correm o perigo, creio, de se tornarem

algo como um fóssil vivo no que diz respeito às suas leis”, disse o juiz da Suprema Corte australiana Michael

Kirby numa entrevista de 2001. Ele disse que preferia observar a Índia, a África do Sul e a Nova Zelândia.

(Tradução: Adriano Scandolara. Disponível em:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1224409 – Acessado em: 29/10/2014 às

17:39).

ATIVIDADES 1- Observe, descreva e interprete a charge da FONTE 9, observando os seguintes elementos:

a) Quais sujeitos são representados? Qual a relação entre eles?

b) Que tipo de vestimentas eles utilizam? Quais são as condições sociais dos sujeitos?

c) O que as expressões faciais dos sujeitos procuram representar? Por quê?

2- Leia com muita atenção o artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (FONTE

5), leia o enunciado da FONTE 1, retorne à charge da FONTE 9 e responda as seguintes questões:

a) Existe alguma contradição entre o posto na Declaração e a vida dos sujeitos representados na

charge? Elabore uma explicação. De que forma esses aspectos estão relacionados às questões

debatidas pelo professor Boaventura de Souza Santos na Unidade 1?

b) De que forma os aspectos sociais apresentados pela FONTE 9 justificam a criação de organizações

como a Unidos pelos Direitos Humanos. Relendo os artigos de Boaventura de Souza Santos na

Unidade 2, a criação de organizações como a citada serão suficientes para garantir a plena

efetivação dos direitos humanos na vida de todos os seres humanos? Justifique sua resposta?

3- Leia com muita atenção as fontes 1, 3, 5 e 10 e elabore uma linha do tempo com o seguinte título: Uma

História dos Direitos Humanos. Procure identificar os possíveis avanços e retrocessos no

reconhecimento dos direitos humanos. Para tornar a sua linha mais completa, retorne à Unidade 2,

releia a definição de Cidadania elaborada pelo historiador Jaime Pinski e inclua as informações que

julgar importantes na sua linha do tempo.

4- Leia com muita atenção a FONTE 2 e responda as seguintes questões:

a) O que são direitos inalienáveis?

b) De acordo com o documento, por que existem governos? Quando esse governo é considerado

justo? Quando o povo pode mudar o governo?

5- Leia com muita atenção as FONTES 4 e 6, compare-as e responda:

a) Com relação aos direitos civis, identifique a abordagem dada pelos dois documentos. Explique suas

conclusões.

b) Com relação aos direitos políticos, identifique a abordagem dadas pelos dois documentos. Explique

suas conclusões.

c) Com relação aos direitos sociais, identifique a abordagem dada pelos dois documentos. Explique

suas conclusões.

6- Interpretando a FONTE 8:

a) Descreva-a em seus mínimos detalhes, considerando os seguintes aspectos: o ambiente em que

estão inseridos, os sujeitos partícipes da cena, ações que se desenrolam, objetos presentes na cena

que chamam a atenção.

b) A que classe social aparenta pertencer o homem sentado. Por que ele está usando um chapéu e

lendo o cartaz na parede?

c) Por que os homens ao fundo da cena estão envoltos em chamas?

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7- Leia com muita atenção a FONTE 11 e procure identificar as possíveis limitações apontadas pelos

especialistas em relação à Constituição dos Estados Unidos da América. Transcreva-as.

PARA CASA:

8- Releia a FONTE 4. Escolha três artigos, pesquise na Constituição brasileira (1988) como esses aspectos

são tratados em alguns dos seus artigos, parágrafos e incisos, Transcreva-os um ao lado do outro para

fins de comparação, numa tabela conforme o modelo abaixo:

Declarações dos Direitos do Homem e do

Cidadão, 1789.

Constituição da República Federativa do Brasil,

1988.

9- Releia a FONTE 6. Escolha 5 artigos, pesquise na Constituição federal (1988) como esses aspectos são

tratados em alguns dos seus artigos, parágrafos e incisos. Transcreva-os um ao lado do outro para fins

de comparação, numa tabela conforme o modelo abaixo:

Declaração Universal dos Direitos Humanos,

1948.

Constituição da República Federativa do Brasil,

1988.

Endereço eletrônico do Palácio do Planalto com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acessado em: 17/11/2014 às 08:14.

ORGANIZAÇÃO NECESSÁRIA ÀS PRÓXIMAS AULAS. A partir das próximas aulas vocês jovens educandos se tornarão os grandes protagonistas do projeto. A nossa turma

será dividida em 6 equipes e o professor fará o sorteio da equipe à qual vocês farão parte, a saber:

ABOLICIONISTAS, SUFRAGISTAS, SINDICALISTAS, SOCIAIS DEMOCRATAS, HUMANISTAS e

NOVOS HUMANISTAS. Teremos ainda uma sétima equipe, denominada FUTUROS CONSTITUINTES, sendo

que, ao final da apresentação da equipe Novos Humanistas, faremos uma eleição dentro de cada equipe para

escolhermos um representante de cada grupo para essa nova equipe.

Todas as equipes serão responsáveis pela apresentação e debate dos conteúdos tratados e pela elaboração das

Atividades, a partir das fontes sugeridas pelo professor ou, se for o caso, de outras fontes que considerem mais

adequadas as nossas necessidades. Após a realização da última Recuperação Paralela do trimestre, o professor e

toda a turma serão responsáveis pela realização de um Fórum sobre o seguinte tema: PLEBISCITO

CONSTITUINTE: DESAFIOS, RISCOS E PERSPECTIVAS. As orientações para a elaboração do Fórum

estão no final da Unidade VI.

Para a preparação da apresentação e debate dos conteúdos tratados na sala de aula, as equipes contarão com as

orientações do professor Rafael e com as sugestões dos professores da Secretaria de Estado da Educação do Paraná,

partícipes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) de 2015, no curso Uma Cidade Iluminista: a Constituição

Federal na aprendizagem histórica dos jovens. Serão dedicadas quatro aulas dos trabalhos em sala de aula para

o estudo do material, pesquisa e elaboração da apresentação e debate dos conteúdos tratados, além da elaboração

das atividades que deverão ser realizadas pelos demais colegas em casa. O professor Rafael ficará responsável por

recolher, corrigir e fazer a devida devolutiva das atividades para os educandos.

No caso da apresentação e debate dos conteúdos tratados, serão dedicadas 2 aulas para cada equipe, sendo que, ao

final da segunda aula, a equipe responsável terá que entregar, para os demais colegas, as atividades que deverão

ser realizadas pelos mesmos em casa. Os demais colegas deverão entregar essas atividades devidamente realizadas

(respondidas) logo na aula seguinte. Sendo que os possíveis atrasos na entrega das atividades serão analisados pelo

professor Rafael.

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Caso considerem necessário ou conveniente, as equipes podem incluir outras fontes ou mesmo substituí-las por

outras, desde que seja previamente combinado com o professor Rafael, mediante justificativa fundamentada.

Todas as equipes, ao elaborarem as atividades que serão realizadas (respondidas) pelos seus colegas, deverão

propor algumas questões que levem os colegas a investigarem a Constituição de 1988 e, no caso das equipes que

trabalharão a unidade IV, também a Constituição ou as Constituições do período tratado. Por exemplo, a equipe

Sindicalistas deverá propor questões que estabeleçam relações entre a Era Vargas e a Constituição de 1988, e que,

levem os colegas a investigarem diretamente as Constituições de 1934 e 1937, além do estudo das próprias fontes

sugeridas, é claro.

Devido a organização trimestral adotada pelo Colégio Estadual Professor Júlio Szymanski, a formação da nota

ficará organizada da seguinte forma:

- Atividades da Unidade 1: 0,7 pontos

- Atividades da Unidade 2: 0,7 pontos.

- Atividades da Unidade 3: 0,7 pontos.

- Apresentação e debates dos conteúdos: 2,5 pontos.

- Elaboração das Atividades para os demais colegas: 1,2 pontos.

- Realização das Atividades elaboradas pelos colegas: 4,2 pontos (sendo que cada atividade valerá 0,7).

A persecução da nota de recuperação paralela será possível a partir dos seguintes passos:

- Para quem não realizou alguma atividade, realizará as mesmas dentro do novo prazo estipulado, valendo 0,7 para

cada atividade;

- Para quem realizou a atividade, porém não teve um bom desempenho (com mais de 60% de aproveitamento),

reelaborará as mesmas dentro do novo prazo estipulado, valendo o mesmo 0,7 por atividade.

- Para quem não teve um bom desempenho na apresentação, debates de conteúdos e na formulação das Atividades

para os demais colegas, irá elaborar, ao final das apresentações, uma metanarrativa, valendo 3,7 pontos, sobre

todos os conteúdos estudados com o seguinte tema: A Constituição Federal na Vida dos Jovens: aspectos históricos

e políticos.

O que vamos estudar nas próximas unidades.

Unidade Conteúdos tratados Títulos Equipes responsáveis

IV Constituição de 1824 e

Brasil Império

1- A Carta imperial: uma cidade como

senzala.

2- ABOLICIONISTAS

IV Constituição de 1891 e

República Velha

3- Carta para o coronel: uma cidade

oligárquica.

4- SUFRAGISTAS

IV Constituições de 1934,

1937 e Era Vargas

5- Cartas para Vargas: uma cidade

caudilhista.

6- SINDICALISTAS

IV Constituição de 1946 e

República Populista

7- Carta à redemocratização: uma cidade que

parecia próxima.

8- SOCIAIS

DEMOCRATAS

IV Constituição de 1967 e

Ditadura Militar

9- Carta de chumbo: uma cidade sitiada. 10- HUMANISTAS

V Constituição de 1988 e

Nova República

Como a Carta de 1988 foi escrita: uma

cidade em assembleia.

11- NOVOS

HUMANISTAS

VI A Constituição e a vida

dos Jovens

Os jovens e a Carta: uma cidade nas ruas. 12- FUTUROS

CONSTITUINTES

Como o fórum será realizado em junho de 2015, a nota do mesmo será computada para o segundo trimestre,

valendo 4,0. A recuperação paralela para quem não tenha um bom desempenho no processo de organização e

realização do fórum, será possível a partir da realização de uma prova escrita sobre os conteúdos tratados no

fórum, valendo os mesmos 4, 0 pontos.

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Unidade IV

BRASIL, CARTAS RASGADAS: uma cidade arbitrária.

A CARTA IMPERIAL: UMA CIDADE COMO SENZALA.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Constituição de 1824;

- Brasil Império.

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

ABOLICIONISTAS.

FONTE 1: pano de boca, tela pintada que separa o palco da plateia, feito em 1822 à representação

extraordinária no Teatro da Corte, por ocasião da coroação do imperador do Brasil D. Pedro I:

[DEBRET, Jean Baptiste (1768-1848). In: Voyage pittoresque et historique au Brèsil. Tomo III, gravura 49.

Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em:

http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon393054/icon393054_182.jpg - Acessado em:

10/11/2014 às 23:01].

FONTE 2: artigo com explicação e narrativa histórica da historiadora Elaine Dias à revista Nossa

História, (revista extinta que circulou entre novembro de 2003 e dezembro de 2006) sobre a Fonte 2:

Com o aumento da importância política e artística do Teatro São João, decidiu-se que em 1822 o imperador d.

Pedro I seria também consagrado naquele palco. Para homenageá-lo, Debret foi encarregado da produção de

um pano de boca que representasse o Império brasileiro e ajudasse a construir a nova imagem do Brasil.

A ideia inicial de Debret aprovada pelo ministro José Bonifácio de Andrada e Silva, mostrava “a fidelidade

geral da população brasileira ao governo imperial sentado em um trono coberto por uma rica tapeçaria”,

conforme descreveu o pintor ao reproduzir o pano de boca em sua Viagem pitoresca e histórica ao Brasil.

Bonifácio, porém, exigiu uma modificação: que fossem retiradas as palmeiras que sustentavam o dossel sobre

o trono, as quais podiam sugerir um estado selvagem no Brasil, algo que se opunha à ideia de um Império

Constitucional. Para solucionar o problema, Debret colocou o trono sob uma cúpula sustentada por colunas

douradas com formas femininas chamadas cariátides. As palmeiras não desapareceram completamente, mas

foram deslocadas para o fundo da tela.

[...] no pano de boca, o trono era ocupado por uma figura feminina alegórica, representando o governo

imperial, coroada e caracterizada com as novas cores do Império. Em suas mãos estavam as tábuas da

Constituição, que seria promulgada somente em 1824. A alegoria substituía o retrato do príncipe no centro do

pano de boca, reforçando um novo governo baseado nas leis e não mais na figura absoluta do monarca.

Identificava-se também a Independência do Brasil perante Portugal ao mostrar uma esfera celeste com a inicial

“P” do novo soberano d. Pedro, coroada e sustentada por gênios alados.

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Os gênios alados, a figura do governo imperial e as cariátides eram influências próximas de uma arte baseada

nos princípios clássicos, as quais compartilham o espaço com a rica vegetação brasileira composta de algumas

palmeiras ao fundo, frutas tropicais e produtos símbolos do comércio, como o café e a cana-de-açúcar. A

natureza, com seus frutos e sua vegetação particular, compõe o cenário real deste novo Brasil independente.

Debret aproveita para esboçar uma primeira imagem do que seria o “povo brasileiro”. Brancos, negros e índios

mostram-se unidos e armados com seus machados, foices e armas de fogo na defesa da nova terra. Os índios,

que na história do Brasil sempre resistiram às conquistas da terra, estão unidos aos soldados brasileiros. De

desbravadores a civilizados, aliam-se aos negros prontos para a colheita e para a derrubada das matas,

promessas de desenvolvimento urbano. Ao mesmo tempo, a presença das crianças simboliza o futuro e a

mestiçagem no Brasil. Essa ideia de uma nação aglutinada pelas raças era defendida por José Bonifácio, que

acreditava na unidade através da formação de um povo homogêneo e civilizado por meio da mistura das raças.

[...] Em sua composição, uniu a realidade cotidiana brasileira à idealização da pátria, construindo a imagem de

um Brasil novo, ao mesmo tempo digno de suas raças e de seu soberano que, simbolizado pela alegoria sentada

ao trono, representa um Brasil unido e apoiado nas tábuas das leis. Esta era a imagem atualizada que deveria

ser passada ao público naquele momento político inteiramente novo.

[...]

(DIAS, Elaine. Pano de boca para a Coroação de D. Pedro I, de Jean-Baptiste Debret. In: Nossa História. Ano

1, nº 11, setembro de 2004. São Paulo: Editora Vera Cruz, pp. 24-7).

FONTE 3: narrativa da historiadora Keila Grinberg, professora da UNIRIO.

Assembleia Constituinte:

“É hoje o dia maior que o Brasil tem tido; dia em que pela primeira vez começa a mostrar ao mundo que é Império,

e Império livre.” Foi com tais palavras que D. Pedro I saudou os “dignos representantes da nação”, inaugurando

os trabalhos da Assembleia Constituinte, reunida no dia 3 de maio de 1823 para dar início à tarefa de redação da

Constituição do país independente. Do lado de fora, a população demostrava sua alegria nas ruas atapetadas com

folhagens e flores e nos balcões e janelas decoradas com colchas de damasco e cetim.

Apesar do clima de festa, as reuniões da Assembleia foram marcadas por grande tensão. Seus membros, entre os

quais magistrados, bacharéis, religiosos, militares, proprietários rurais, médicos e funcionários públicos, dividiam-

se entre dois partidos: o Português, partidário da reunião com Portugal, e o Brasileiro, defensor do sistema

monárquico-constitucional. Já na cerimônia inicial, discutiu-se se o imperador devia sentar-se ao centro da mesa

e se, estando na Assembleia, devia usar a coroa. A decisão foi negativa, e a resposta de D. Pedro foi rápida,

declarando, na Fala do Trono, que defenderia “a pátria, a nação, a Constituição, se fosse digna do Brasil e de mim”.

Apresentado em setembro de 1823, o projeto de Constituição, elaborado pela comissão composta, entre outros,

por Antônio Carlos de Andrada, José Bonifácio, Araújo Lima e Muniz Tavares, versava sobre o limite do papel

dos portugueses e do próprio imperador, que não poderia ser governante de outro reino, não poderia dissolver o

Parlamento, nem para comandar as forças armadas, e recebia ordens apenas do poder Legislativo. Além disso, o

projeto, que ficou conhecido como projeto Antônio Carlos, exprimia de forma geral os interesses dos membros da

Assembleia, instituindo o sistema eleitoral indireto e censitário, através da exigência de renda mínima anual

equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca. Seu conteúdo, no entanto, mal chegou a ser analisado pelos

deputados. Dos 272 artigos, apenas 24 foram aprovados antes que a Câmara fosse dissolvida. Entre eles, os artigos

20 e 21, que versavam sobre a inviolabilidade do direito de propriedade – salvo apenas a conveniência pública,

que previa indenização para expropriação de bens –, foram referendados sem qualquer polêmica. Outros, no

entanto, provocaram grandes discussões, por tratarem de temas sobre os quais não havia qualquer consenso à

época, como o abordado no artigo 5º, que definia quem eram os brasileiros e, dentre esses, quem seria considerado

cidadão. [...]

Mas a principal marca da Assembleia Constituinte foi mesmo a desconfiança em relação às intenções do

imperador, demonstrado pelos conflitos entre D. Pedro e os membros do Partido Brasileiro, a exemplo da

discussão sobre a necessidade de sanção de leis por parte do imperador. Alguns constituintes, como Antônio Carlos

de Andrada e Silva, para garantir a integridade da futura constituição, defendiam que “não cabia ao Poder

Executivo a sanção das leis de uma Assembleia constituinte” – o que foi “a última gota sobre a impaciência de D.

Pedro”, que demitiu o “ministério dos Andradas”. Tais disputas vinham se acirrando desde que José Bonifácio

apresentou à Assembleia representação acerca da questão da escravidão no Brasil. No texto, tornado célebre por

ter sido o primeiro a criticar a escravidão no Império, Bonifácio defendeu em 32 artigos a extinção gradual da

escravidão, através do fim do tráfico atlântico e da mediação das relações senhor-escravo pelo Estado, que deveria

zelar, entre outros pontos, pelo tratamento adequado dispensado aos cativos e suas condições de trabalho. Alguns

historiadores consideram as posições de Bonifácio acerca da escravidão o principal motivo da queda de seu

gabinete, na medida em que perdeu o apoio dos grandes proprietários integrantes da facção aristocrata do Partido

Brasileiro. Sua substituição por membros do Partido Português teria sido feita com o aval de boa parte dos

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deputados, provocando a passagem dos irmãos Andrada para a oposição ao governo de D. Pedro I. Tais conflitos

ecoavam na imprensa, sobretudo em O Tamoio e A Sentinela da Liberdade, que faziam oposição ao governo,

criticando a admissão de portugueses nas forças armadas e outras tentativas de reaproximação com Portugal. O

auge da crise ocorreu com a notícia publicada no Sentinela assinado por um “Brasileiro Resoluto” – contendo

acusação de traição a dois oficiais lusos, encarregados de vigiar um dos emissários de D. João VI, que doente,

havia conseguido permissão de desembarcar no Rio de Janeiro. Resolvidos a punir o autor do artigo, portugueses

surraram por engano, na noite de 5 de novembro de 1823, o farmacêutico Daniel Pamplona Corte Real que, na

verdade, não era brasileiro de nascimento. O episódio foi o estopim da crise da Constituinte, pois inúmeros

tumultos se seguiram, com a exigência de vingança por parte da população, liderada por Antônio Carlos e Martim

Francisco, e a ameaça dos deputados de recorrer às tropas para salvaguardar sua defesa. Diante disso, os oficiais

portugueses de todas as guarnições protestaram, junto ao imperador, contra os insultos que lhes faziam os

jornalistas e deputados. Na madrugada de 12 de novembro, conhecida mais tarde como “Noite da Agonia”, os

debates forram interrompidos pela divulgação do decreto do imperador, declarando que havia convocado a

assembleia “a fim de salvar o Brasil dos perigos que lhe estavam iminentes”, mas dadas as discórdias entre

portugueses e brasileiros, decidira convocar outra assembleia para sancionar o projeto de Constituição que ele iria

apresentar. Projeto, a seu ver, “duplicadamente mais liberal do que a extinta assembleia acaba de fazer”.

E assim dissolveu a Assembleia Constituinte de 1823.

Mais tarde, D. Pedro I justificou o golpe, alegando ter sido a única alternativa para as instituições políticas

imperiais, e mandou prender e exilar os irmãos Andrada. Esta medida, no entanto, não alijou os membros da

Assembleia Constituinte dos principais cargos políticos do Império: dos 80 deputados que tomaram posse, 33

viriam a ser senadores, 28 ministros, sete foram conselheiros de Estado, quatro foram regentes e 18 chegaram a

presidentes de província.

(GRINBERG, Keila. Assembleia Constituinte. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Imperial.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, pp. 58-60).

Constituição:

Outorgada por D. Pedro I no início de 1824, a Constituição Imperial ficou em vigor durante todo o período

imperial, até ser substituída, em 1891, pela primeira constituição republicana. Combinando ideias das constituições

francesa (1791) e espanhola (1812), a Constituição de 1824 estabeleceu as bases da estrutura política e do

funcionamento do Império brasileiro e de suas principais instituições, como a adoção da forma de governo

monárquica, hereditária e constitucional, a divisão político-administrativa do território em províncias e a separação

do poder político em quatro instâncias – Poder Executivo, exercido pelo imperador e seus ministros de Estado;

Poder Legislativo, composto por senadores e deputados gerais e provinciais; Poder Judiciário, formado por juízes

e tribunais, dos quais o mais alto grau era o Supremo tribunal de Justiça; e Poder Moderador, “chave-mestra de

toda organização política”, exercido pelo imperador –, além da instituição do catolicismo como religião oficial

regulada pelo Antigo Regime de padroado, que, no entanto, não proibia o exercício privado de outras religiões,

com o protestantismo e o judaísmo – consideradas heresias no período colonial, ao menos até meados do século

XVIII.

Convocado no próprio decreto de dissolução da Assembleia Constituinte de 1823, o grupo que elaborou a

Constituição era presidido por D. Pedro I e composto pelo Conselho de Estado, formado por seis ministros e mais

quatro membros, todos brasileiros natos. A primeira versão foi publicada em dezembro de 1823 e seguiu para as

câmaras municipais para que apresentassem observações a seu conteúdo, mas quase nenhuma as fez. De fato,

apesar da instituição do poder Moderador, que dotou o texto constitucional de características centralizadoras e

absolutistas, a Constituição jurada em 25 de março de 1824 na catedral do Rio de Janeiro tinha muito em comum

com o projeto anterior, a exemplo dos títulos relativos a direitos individuais, civis e políticos, definidos nos 35

parágrafos do artigo 179, abrangendo todas as liberdades posteriormente enumeradas pelas constituições

republicanas, sendo que também a religiosa doravante não sofreria qualquer tipo de restrição. Apesar de reconhecer

os direitos civis de todos os cidadãos brasileiros, estes foram diferenciados do ponto de vista dos direitos políticos,

por meio de critérios censitários para definir quem seria cidadão passivo, cidadão ativo votante e cidadão ativo

eleitor e elegível.

Mesmos assim, diferenças essenciais foram introduzidas: a Constituição de 1824 considerou como brasileiro todos

os portugueses que tivessem permanecido no país após a Independência e que tivessem aderido à “causa do Brasil”,

ao contrário do projeto de 1823, que excluía os portugueses da cidadania brasileira. Além disso, também à

diferença do texto da Assembleia Constituinte, que previa a futura “emancipação lenta dos negros” e reconhecia

os “contratos entre senhores e escravos”, A Constituição de 1824 fez apenas duas menções – indiretas – à existência

da escravidão no país. A primeira quanto ao estabelecimento do nascimento no Brasil como critério de cidadania,

“que sejam ingênuos [nascidos livres] ou libertos – e nesse ponto a versão outorgada instituiu importante diferença

em relação ao projeto, no qual se fixou que seriam brasileiros apenas os homens livres nascidos no país; e outra

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menção residiu na definição dos eleitores, frisando que não poderiam ser libertos, mesmo se atendessem às

exigências de renda mínima.

A forma como a Constituição foi colocada em vigor, inclusive com o levantamento de suspeitas contra todos os

que se negassem a jurá-la publicamente ou deixassem de gritar vivas em sua comemoração, desencadeou grande

oposição ao reinado de D. Pedro I, principalmente nas províncias do norte e nordeste, onde o descontentamento

com o projeto centralizador do Império era maior. Mesmo assim, salvo modificações realizadas durante a Regência

– através do Ato Adicional de 1834, reformulado posteriormente na Lei de Interpretação do Ato adicional de 1840

– e de mudanças introduzidas no processo eleitoral ao longo do Império, a Constituição de 1824 atravessou o

Império sem grandes alterações fundamentais. (Ibid., pp. 170-1).

FONTE 4: recurso apresentado em 1874 à Relação do Maranhão, por Raimundo José Lamagner Viana

por intermédio de seu advogado Francisco de Melo Coutinho Vilhena, publicado em O Direito, 1875, nº

7, pp. 341-354.

O escravo é um ente privado dos direitos civis; não tem o de propriedade, o de liberdade individual, o de honra

e reputação; todo o seu direito como criatura humana reduz-se ao da conservação da vida e da integridade do

seu corpo; e só quando o senhor atenta contra esse direito é que incorre em crime punível. Não há crime sem

violação de um direito. [Citado por: NEQUETE, Lenine. O escravo na jurisprudência brasileira – magistratura e ideologia no Segundo Reinado. Porto Alegre:

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, 1988. Apud: CASTRO, Hebe M. Mattos de. Laços de família e direitos no final da escravidão. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (org.). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p.

338].

FONTE 5: explicação do historiador Sidney Chalhoub, professor titular de História do Brasil na

Universidade de Campinas, em fragmento de artigo publicado na revista História Viva Temas

Brasileiros:

Ao ler a primeira Constituição brasileira, de 1824, a única a vigorar durante todo o período monárquico, talvez

surpreenda o fato de que não há nela, sequer uma vez, a palavra “escravo”. Na verdade, por ser a Constituição

o pacto fundamental entre os cidadãos do novo país independente, não poderia mesmo haver nela referências a

pessoas reduzidas à condição de “cousa”, de propriedade, tidas e havidas como “legalmente mortas” e

desprovidas de qualquer direito. As pessoas reduzidas ao cativeiro não pertenciam à massa de cidadãos em

qualquer sentido social ou político, não tinham lugar na vida pública. Num país construído sobre os ombros de

trabalhadores escravos, a presença deles no texto constitucional ficava subentendido no artigo que firmava o

compromisso do Estado imperial em reconhecer e defender as formas de propriedade privada existentes na

sociedade. Podiam ser comprados, alugados, hipotecados, leiloados, herdados. Nos inventários dos

proprietários falecidos, os escravos eram classificados como “bens semoventes”, ao lado de vacas, porcos e

outros animais, e em contraste com bens imóveis, como casas, fazendas.

(CHALHOUB, Sidney. Exclusão e cidadania. In: História Viva Temas Brasileiros, nº 3, São Paulo: Duetto,

p. 38).

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FONTE 6: documento iconográfico.

“ATO DA COROAÇÃO DE SUA MAJESTADE O IMPERADOR”. François René Moreaux. Óleo sobre tela. 1842. 2,380 x 3,100m A Sagração e Coroação de d. Pedro II ocorreu em 18 de julho de 1841, na Capela Imperial, no Rio de

Janeiro.

(Disponível em: http://www.museuimperial.gov.br/mi-museologia/409-julho.html - Acessado em:

07/10/2014 às 16:18).

FONTE 7: Juramento pelo Imperador D. Pedro II em 23 de julho de 1840.

Auto de Juramento Saibam quantos este público instrumento virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de

1840, 19º. Da Independência e do Império do Brasil, aos 23 dias do mês de julho, nesta Leal e Heróica

Cidade do Rio de Janeiro, no paço do Senado, onde se reuniram as duas câmaras legislativas, estando

presentes 33 Senadores e 84 Deputados, sob a presidência do Exmo. Sr. Marquês de Paranaguá, para o fim

de se dar execução ao Art. 103 da Constituição, estando presente S.M.I. o Senhor d. Pedro de Alcântara

João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael

Gonzaga, segundo Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, filho legítimo e primeiro varão existente do

falecido senhor d. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo, que foi do Brasil, e da falecida Senhora

D. Maria Leopoldina Josefa Carolina, Imperatriz, sua mulher, Arquiduquesa da Áustria, lhe foi apresentado

pelo Exmo. Presidente o missal, em que o mesmo augusto Senhor pôs a sua mão direita; e, sendo por mim

lida a fórmula determinada no Art. 103 da Constituição, pronunciou S.M.I., em alta voz, o seguinte

juramento: “Juro manter a religião católica apostólica romana, a integridade e indivisibilidade do Império,

observar e fazer observar a Constituição política da nação brasileira, e mais leis do império, e prover o bem

geral do Brasil, quanto em mim couber.

E para perpétua memória se lavrou este auto em duplicata, que vai assinado pelo mesmo augusto Senhor,

pelo Presidente e dois primeiros secretários de uma e outra câmara.

E eu Luis José de Oliveira, 1º. Secretário do Senado, a escrevi.

D. PEDRO SEGUNDO

(Disponível em: http://www.museuimperial.gov.br/mi-museologia/409-julho.html - Acessado em:

07/10/2014 às 16:18).

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FONTE 8: documento iconográfico

Juramento da Princesa Isabel

Disponível nos seguintes endereços:

http://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2013/07/Victor-Meirelles_-Juramento-da-Princesa-Isabel.jpg

- Acessado em: 07/10/2014 às 18:09

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao16268/Museu-Imperial-(Petr%C3%B3polis,-RJ – Acessado

em: 07/10/2014 às 18:32.

Juramento ao Senado da Constituição pela Princesa Isabel como Regente do Império do Brasil. Autor: Victor Meirelles, óleo sobre tela, 177 x 260 cm, 1875, Museu Imperial, Petrópolis, RJ. O autor fixou o acontecimento em que a Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança, ou simplesmente Princesa Isabel, se tornou Regente pela primeira vez, em 20 de maio de 1871, prestando juramento no Senado, com a mão sobre a Constituição. Na sua frente, de pé, o presidente da Casa, Visconde de Abaeté. O então Senado do Império funcionava onde hoje se encontra a Faculdade Nacional de Direito. Meireles conferiu à solenidade um equilíbrio de composição e representou realisticamente numerosos personagens históricos. A atenção e aparente veneração do artista pela oligarquia monarquista lhe valeu, após a Proclamação da República (1889), ácidas críticas e perseguições por parte dos adversários do antigo regime.

Texto adaptado por Rafael de Jesus Andrade de Almeida das seguintes fontes:

http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/galeria/juramento_da_princesa_isabel.html - Acessado em:

07/10/2014 às 17:35.

http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=20&evento= - Acessado em:

07/10/2014 às 18:45.

http://www.conselhodeminerva.org.br/fotos/homenagem-faculdade-nacional-de-direito/ - Acessado em:

07/10/2014 às 18:58.

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FONTE 9: gravura de Domingos Antônio de Sequeira, 1826. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de

Janeiro.

(Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon558248.jpg - Acessado em:

31/10/2014 às 21:55).

Pai de dous povos, em dous mundos Grande.

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Na representação Dom Pedro I empunha com a mão direita uma espada. O Defensor Perpétuo do Brasil apoia

essa espada sobre a Carta Constitucional do Império Brasileiro, outorgada por ele mesmo em 1824. Ao seu

lado encontra-se a sua primeira filha, a princesa Maria da Glória, até então, herdeira dos tronos de Portugal e

Brasil. A jovem princesa, e herdeira, traz nas mãos a Constituição Portuguesa, outorgada em 1826 – adivinhem

por quem - pelo próprio Dom Pedro IV, isso mesmo, Dom Pedro IV em Portugal é o nosso D. Pedro I no Brasil.

FONTE 10: charges do cartunista César Lobo e

narrativa de Carlos Eduardo Novais.

Oito meses depois da Independência, em três de

maio de 1823, instala-se uma Assembleia

Constituinte, convocada por d. Pedro e formada

por 80 representantes das províncias (antigas

capitanias) para elaborar a ... primeira Constituição

do Brasil! (rufam os tambores).

[...]

No Rio de Janeiro a Assembleia Constituinte e o

Imperador não se entendem. Os Constituintes

querem limitar os poderes de d. Pedro, que

dissolve a Assembleia em novembro de 1823,

prende e exila vários de seus representantes, entre

eles José Bonifácio, que se bandeara para a

oposição. D. Pedro então reúne dez pessoas de sua

confiança e encomenda uma Lei Magna, que fica

pronta em 16 dias. Em março de 1824 o Imperador

jura obedecer a Constituição que outorga ao Brasil.

Os 179 artigos da Constituição confirmam a

monarquia e o catolicismo como religião oficial,

dividem os poderes por quatro (Executivo,

Legislativo, Judiciário e Moderador), organizam o

sistema eleitoral e – creiam – mantêm a

escravidão. Essa Constituição irá vigorar por 65

anos.

A Constituição estabelece eleições indiretas, voto

aberto (o secreto, só será instituído em 1932) e

mandato vitalício para os senadores. O voto também

é censitário, exigindo uma renda mínima de 100 mil-

réis anuais para o cidadão se candidatar a ... eleitor!

(Fonte: NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César.

História do Brasil para principiantes: de Cabral

a Cardoso, 500 anos de novela. São Paulo: Editora

Ática, 1997, pp. 147, 150-1).

FONTE 11: Constituição Política do Império do Brasil, elaborada por um Conselho de Estado e

outorgada pelo Imperador D. Pedro I, em 25.03.1824. Disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao24.htm Acessado em: 24/11/2014.

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Unidade IV

BRASIL, CARTAS RASGADAS: uma cidade arbitrária.

CARTA PARA O CORONEL: uma cidade oligárquica.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Constituição de 1891;

- República Velha.

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

SUFRAGISTAS.

FONTE 1: quadro Juramento Constitucional de 1891, do escultor, pintor, desenhista, caricaturista e escritor

brasileiro Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1856-1916), mais conhecido como Aurélio de Figueiredo.

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PÁGINA ANTERIOR: Posse do

primeiro presidente da República dos

Estados Unidos do Brazil, em 26 de

fevereiro de 1891, dois dias depois de

promulgada a Constituição de 1891. No

quadro acima se encontram representados

os próximos dois presidentes do país.

Disponível nos seguintes endereços

eletrônicos:

http://www.projetomemoria.art.br/RuiBar

bosa/fotografias/deodoro.htm - Acessado

em 24/10/2014 às 19:21.

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:

CF_-_1891.jpg – Acessado em 24/10/2014

às 19:22.

__________________________________

FONTE 2 (à direita): charge de

1919 de SETH (1891-1949),

pseudônimo de Álvaro Marins, que

foi um dos mais importantes

caricaturistas da primeira metade

do século XX.

Fonte de imagem e informações:

http://www.maxwell.vrac.puc-

rio.br/9437/9437_8.PDF - Acessado em:

13/10/2014 às 22:57

http://www.maxwell.vrac.puc-

rio.br/9437/9437_2.PDF - Acessado em:

13/10/2014 às 23:10.

FONTE 3: narrativa do historiador Marco Antônio Villa, professor aposentado da Universidade de São

Carlos (UFSCar), comentarista do Jornal da Cultura (TV Cultura).

Em junho de 1890, o Governo Provisório convocou

para setembro as eleições para a Assembleia

Constituinte, que deveria ser instalada no primeiro

aniversário da Proclamação da República. No mesmo

decreto (510) foi divulgada a proposta do governo para

a nova Constituição. Era, inegavelmente, uma

interferência indevida do Executivo nos trabalhos da

futura Constituinte. Para piorar, o governo determinou

que sua proposta entraria em vigor imediatamente, até

a promulgação da Constituição a ser elaborada. Além

disso, impôs aos constituintes a obrigação de

primeiramente apreciar o projeto do governo. Entre

outras propostas, indicava que o mandato presidencial

seria de seis anos. Pior: eleito indiretamente por um

colégio eleitoral. E mais um conjunto de medidas que

acabaram sendo ignoradas pelos constituintes. Durou

pouco: quatro meses depois, pelo decreto 914, governo

revogou a Constituição anterior e apresentou outra

Carta, que também ignorava a futura Constituinte, que

se reuniria no mês seguinte.

[...]

Demonstrando a orientação laica (e com algum viés

positivista), a Constituição de 1891 iniciava-se sem

fazer referência a Deus ou, como na de 1824, à

Santíssima Trindade. Os constituintes optaram pela

forma “representantes do povo brasileiro”. No artigo 3.º

foi determinado que a União demarcaria uma área de

14.400 quilômetros quadrados – é curiosa a precisão da

extensão da demarcação – no Planalto Central, para

“nela estabelecer-se a futura Capital Federal”.

Seguindo a velha prática nacional, de sempre deixar

para o dia seguinte, a futura capital só seria transferida

69 anos depois.

Um mérito da Constituição é a sua concisão,

especialmente para os nossos padrões, marcados pela

prolixidade. São 91 artigos e mais oito disposições

transitórias. É a Carta mais enxuta da nossa história.

Parte disso deve ser creditada à brevidade da

Assembleia Constituinte. Instalada em 15 de

novembro, teve 58 dias de sessões. Uma comissão com

21 constituintes – cada um representando um estado –

em duas semanas já apresentou a primeira versão do

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texto constitucional. E em fevereiro o plenário aprovou

a nova Carta. Em grande parte, a celeridade decorreu

da ameaça de um surto de febre amarela na Capital

Federal, o que assustou os constituintes.

Pela primeira vez um artigo constitucional declarou que

as Forças Armadas são permanentes e estabeleceu os

limites de obediência. O artigo 14 dispôs que “as forças

de terra e mar são instituições nacionais permanentes,

destinadas à defesa da pátria no exterior e à manutenção

das leis no interior”. Não foi acidental: um quarto dos

constituintes eram militares. Não perderam a

oportunidade para defender os seus interesses

corporativos. O artigo 77 garantiu que “os militares de

terra e mar terão foro especial nos delitos militares”.

Não pode ser esquecida a polêmica envolvendo

militares e governo entre 1886 e 1889, nem as supostas

ameaças de extinção do Exército ou de criação de novas

forças militares. O civilismo do Império era odiado

pelos militares. Queriam ter autonomia e não mais

aceitavam ser comandados “pelos casacas”: dois terços

dos ministros das pastas militares, durante o Segundo

Reinado, foram civis.

[...]Um ponto importante da Constituição – e que será

muito utilizado pela oposição, nem sempre com

sucesso – foi o instituto do habeas corpus, que não

estava presente na Constituição imperial, mas sim no

Código de Processo Criminal de 1832.

Nem todos eram eleitores. Era preciso ter mais de 21

anos e ser brasileiro. Da lista obrigatória de eleitores

estavam excluídos os analfabetos (diversamente da

Constituição de 1824), os mendigos, os praças de pré e

os religiosos “de ordens monásticas, companhias,

congregações ou comunidades de qualquer

denominação sujeitas a voto de obediência, regra ou

estatuto que importe a renúncia da liberdade

individual”. Ao excluir os analfabetos, a ampla maioria

dos cidadãos acima de 21 anos era mera espectadora

nas eleições. Entre os negros a situação era muito pior.

Pelos dados de 1872, quando ainda havia escravidão,

dos 1.509.403 cativos, apenas 1.403 eram

alfabetizados.

Os juízes e militares poderiam ser eleitores e eleitos

para qualquer cargo. Isso gerou um sem-número de

problemas. Partidarizava as Forças Armadas e o Poder

Judiciário, e colocava em risco constantemente a lisura

das eleições, especialmente nos estados onde os

coronéis exerciam enorme poder político. No caso dos

militares, excetuando os estados politicamente mais

importantes (São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do

Sul), tiveram papel político relevante como

governadores. Curiosamente, impunha-se à força, aos

estrangeiros que estavam morando aqui, a cidadania

brasileira: “os estrangeiros, que, achando-se no Brasil

aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro

de seis meses depois de entrar em vigor a Constituição,

o ânimo de conservar a nacionalidade de origem”. O

silêncio ou o desconhecimento da norma constitucional

transformavam centenas de milhares de estrangeiros

em brasileiros. Isso no momento da grande imigração,

especialmente para o sul do país. O imigrante, como

seria de esperar, desconhecia a língua e as leis do

Brasil. Contudo, virava brasileiro sem saber, pela força.

E o voto das mulheres? Em 1891, em nenhum país da

Europa as mulheres tinham direitos políticos. O

primeiro seria a Noruega, somente em 1913. Portanto,

não causa admiração que a maioria dos constituintes

foram opositores radicais do projeto que igualava os

direitos políticos dos homens aos das mulheres. Para

Lauro Sodré, a proposta era “anárquica, desastrada,

fatal”. Para Barbosa Lima, o voto feminino seria mais

trágico: “Demos o direito de voto à mulher. Pois bem,

seja uma família que tenha, além da mãe, duas ou três

filhas maiores, sogra, tia, enfim, diversas senhoras e

diversos parentes. Dá-se uma eleição. Nós estamos em

verdadeira anarquia moral e mental: na eleição

municipal, discordam; na eleição regional, discordam;

na eleição provincial, discordam; na eleição geral,

discordam também. Que poderia acontecer? O

seguinte: a mulher, em lugar de estar entregue a esse

grande problema, para o qual todos os momentos são

poucos – a educação dos filhos –, está acentuando as

dissenções, ficando assim de lado a única base da

estabilidade, da harmonia e do progresso sociais”. Para

o pintor Pedro Américo, dos célebres quadros A

batalha do Avaí e Independência ou morte, deputado

pela Paraíba, “a missão da mulher é mais doméstica do

que pública, mais moral do que política. Demais, a

mulher, não direi ideal e perfeita, mas simplesmente

normal e típica, não é a que vai ao foro nem à praça

pública, nem às assembleias políticas defender os

interesses da coletividade; mas a que fica no lar

doméstico, exercendo as virtudes feminis, base da

tranquilidade da família e, por consequência, da

felicidade social”. Fez voz quase solitária o deputado

baiano César Zama: “Para mim é uma questão de

direito, que tarde ou cedo será resolvida em favor das

mulheres. Bastará que qualquer país importante da

Europa confira-lhes direitos políticos, e nós o

imitaremos. Temos o nosso fraco pela imitação”. Com

tantos opositores, a proposta acabou derrotada por larga

margem de votos.

Mas o voto feminino teve entre seus apoiadores o maior

escritor brasileiro, Machado de Assis. Em 1894, na sua

crônica semanal, escreveu: “Elevemos a mulher ao

eleitorado; é mais discreta que o homem, mais zelosa,

mais desinteressada. Em vez de a conservarmos nesta

injusta minoridade, convidemo-la a colaborar com o

homem na oficina da política”. [...]

[...]

O artigo 42 foi violado nove meses depois da

promulgação da Constituição. Tratava da vacância da

Presidência da República: “Se no caso de vaga, por

qualquer causa, da presidência ou vice-presidência, não

houverem ainda decorrido dois anos do mandato do

período presidencial, proceder-se-á a nova eleição”. A

eleição de Deodoro da Fonseca, em 25 de fevereiro de

1891, no dia posterior à promulgação da Constituição,

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já tinha sido problemática. Temendo perder o pleito no

Congresso – a primeira eleição presidencial foi indireta

– para Prudente de Morais, os partidários do marechal

pressionaram os parlamentares. O Congresso estava

ocupado por soldados à paisana e policiais. Os

constituintes militares estavam armados no interior do

recinto de votação. O Clube Naval divulgou uma nota

afirmando que “seria agradável à Marinha a eleição do

marechal Deodoro da Fonseca”. À boca pequena, os

militares espalhavam que uma derrota do marechal

levaria ao fechamento do Congresso e à imposição de

uma ditadura. Deodoro acabou recebendo 129 votos,

contra 97 de Prudente.

Nove meses depois, em novembro, pressionado pela

oposição, que ameaçou entrar com um processo de

impedimento, acusando o governo de corrupção,

Deodoro fechou o Congresso. O primeiro presidente

era uma pessoa simples, correta, honesta, mas

absolutamente despreparada para o cargo. Não entendia

o funcionamento dos poderes. Era manipulado pelo

sobrinho ou pelos ministros influentes, como o Barão

de Lucena. O desconhecimento legal era tão acentuado

que imaginou que seria necessário um decreto do

Executivo para sancionar a Constituição. Chegou a

assiná-lo, porém Lopes Trovão, na Imprensa Oficial,

viu o documento e impediu a publicação no Diário

Oficial.

O golpe deodorista durou pouco. Vinte dias depois foi

obrigado a renunciar, por causa da rebelião de forças do

Exército e da Marinha. O poder foi entregue ao vice-

presidente, o também marechal Floriano Peixoto. A

Constituição era clara: seria necessário convocar nova

eleição. Floriano, nosso primeiro “jurista de espada”,

interpretou que não, que o disposto não seria aplicável

à primeira eleição, só aos seus sucessores. Os

desgostosos ainda recorreram ao Supremo Tribunal,

mas de nada adiantou. A força das armas mais uma vez

se impôs. Joaquim Nabuco, monarquista, em carta ao

amigo Aníbal Falcão, republicano, em outubro de 1891,

definiu bem o momento: “Vocês, republicanos,

substituíram a monarquia pelo militarismo sabendo o

que faziam, e estão convencidos de que a mudança foi

um bem. Eu […] pensei sempre que seria mais fácil

embarcar uma família do que licenciar um exército”.

O governo Floriano foi marcado por revoltas e

rebeliões. O marechal de ferro foi o primeiro a dividir

o mundo intelectual. Uns, como Raul Pompeia, autor

de O Ateneu, o amavam: “Conquistou para o seu vulto,

na imortalidade, ao mesmo tempo, a coroa da vitória e

a coroa do martírio”.17 Já para Lima Barreto, “com

uma ausência de qualidades intelectuais, havia no

caráter do marechal Floriano uma qualidade

predominante: tibieza de ânimo; e no seu

temperamento, muita preguiça”.18 O mártir ou o

preguiçoso, dependendo do ponto de vista, deveria

fazer a primeira transferência constitucional de poder.

Contudo, Floriano nem sequer esperou que Prudente de

Morais fosse ao Palácio Itamaraty, sede do governo.

Logo cedo, foi embora para sua casa. Rodrigo Octávio,

secretário de Prudente de Morais, registrou o momento:

“Vi, porém, que nas escadas do palácio havia muita

gente, que muita gente estava entrando. Dirigi-me para

a porta. Não havia sentinela, e, como os outros estavam

entrando, entrei também. Lá em cima, o grande casarão,

abertas as portas de todas as salas, regurgitava de gente

que circulava por todo ele, alegre e barulhenta. Não

havia a menor fiscalização, o menor serviço de ordem.

Compreendi, e custei a compreendê-lo, que a casa havia

sido abandonada e entregue à discrição do público”.

A Carta tratou de temas importantes para a sociedade.

Um debate intenso no fim do Império foi sobre o

casamento civil. A primeira Constituição republicana

reconheceu “o casamento civil, cuja celebração será

gratuita”.20 Antes, em junho de 1890, já tinha sido

realizado o primeiro. O Visconde de Taunay tinha

apresentado um projeto sobre o tema, que se arrastou

durante anos no Congresso do Império, sem decisão

final. Taunay fez questão de assistir ao primeiro

casamento civil, ao qual compareceu também o tribuno

da Abolição, José do Patrocínio, muito conhecido pelos

longos discursos. Patrocínio, claro, quis aproveitar o

momento para discursar, mas foi contido prontamente

por Taunay: “Isto aqui não é pagode”.

(VILLA, Marco Antonio. A história das constituições

brasileiras. São Paulo: Leya, 2011, pp. 30-9).

FONTE 4: narrativa das colunistas Elizama Almeida e Laura Klemz para o blog do Instituto Moreira

Salles:

Em 1914, a Constituição da República Federativa do Brasil era uma jovem de 23 anos. Promulgada em 24 de

fevereiro de 1891, instituíra a igualdade entre todos perante a lei, mas ainda parecia desconhecida ou

incompreendida.

Caricaturistas utilizavam o personagem Zé Povo, sob diversas formas, para representar a população brasileira

diante dos acontecimentos políticos e sociais nas revistas da época. Pesquisa no farto conjunto de periódicos da

coleção José Ramos Tinhorão, sob a guarda do Instituto Moreira Salles, recuperou algumas charges e textos

publicados n'O Malho e na Careta do carnaval de 1914.

[...]

O Brasil, sob comando do presidente Hermes da Fonseca, em seu último ano de governo, vivia a "política

salvacionista" - destituição das oligarquias tradicionais, substituindo-as pelos aliados militares, principalmente nos

estados do Norte e Nordeste -, com a justificativa de eliminar a corrupção. O cenário era de revoluções, tomadas

de poder, bombardeios nas cidades do interior, desemprego, problemas de saúde e ordem pública, miséria, seca e

muitos boatos relacionados ao governo.

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[...]

O aniversário da Constituição caiu exatamente na "terça-feira gorda" de Carnaval. Momo venceu a disputa pela

atenção popular e, como não podia deixar de ser, o aniversário da lei ficou em segundo plano. O texto abaixo,

publicado na edição de 21 de fevereiro de 1914 da revista Careta, é exemplo disso:

A vida elegante Estoura nas ruas, formidável, o rumoroso zé-pereira do Carnaval. [...]

A vida elegante, nestes tumultuosos dias carnavalescos, transborda dos salões em que a alimenta a aristocracia

e vem palpitar nas ruas, em contato com as classes populares.

O Carnaval, parodiando a nossa Constituição, que assegura serem todos iguais perante a lei, soberanamente

iguala a todos perante o prazer, que por todas as classes reparte sem desigualdade.

Graças ao poder nivelador do Carnaval, a nossa Constituição, cujo aniversário coincide com a terça-feira gorda,

será simbolicamente executada num dos seus artigos.

[...]

Na mesma edição da revista Careta, o assunto é retratado em poesia assinada por ninguém menos que... Pierrot:

O Carnaval e a Constituição

Os povos têm governos que merecem,

Assim predisse um sábio com firmeza;

Há povos igualmente que se esquecem

De usar dos seus direitos de defesa.

Todos avacalhados desvanecem,

Procurando esconder toda a dureza

D'um cruel despotismo em que fenecem

As forças, ante a rígida torpeza.

Felizmente entre nós, tudo é folia,

O povo é divertido sem igual,

Ultrapassa os heróis da fantasia!

Não há no mundo povo mais feliz,

Pois no dia maior do Carnaval

Festeja a mãe das leis do seu país.

Ainda que os problemas de cunho político e social se repitam um século depois, está aí o Carnaval, cuja única

lei é a alegria.

(Fonte: Elizama Almeida e Laura Klemz. Disponível em: http://www.blogdoims.com.br/ims/a-causa-comum-da-

alegria-por-elizama-almeida-e-laura-klemz - Acessado em: 24/10/2014 às 21:39).

FONTE 5: Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 24 de fevereiro de

1891. Disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao91.htm Acessado em: 24/11/2014 às 08:24

Page 50: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ...€¦ · Os mais graves pecados foram cometidos na área econômica. O exemplo notório é o artigo 192, do capítulo

FONTE 6: caricaturas da revista O Malho de 21/02/1914 do caricaturista e chargista Aryosto Duncan (1890-

1960). Filho de ingleses Aryosto teve seus trabalhos publicados nas revistas O Malho, Fon-Fon, Tagarela,

entre outras revista e jornais. Explicações das colunistas Elizama Almeida e Laura Klemz para o blog do

Instituto Moreira Salles:

Zé Povo travestido de Pierrot conversa com a tristonha Constituição de 1891 | O Malho, 21.2.1914, Aryosto

Duncan.

Page 51: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ...€¦ · Os mais graves pecados foram cometidos na área econômica. O exemplo notório é o artigo 192, do capítulo

Alguns personagens importantes do Carnaval de 1914 na capa d'O Malho: em destaque, o marechal Hermes da

Fonseca ao volante, a Constituição de vermelho e o Zé Povo representado como um burro | O Malho, 21.2.1914,

(Alfredo Storni).

(Disponível em: http://www.blogdoims.com.br/ims/a-causa-comum-da-alegria-por-elizama-almeida-e-laura-

klemz - Acessado em: 24/10/2014 às 21:50).

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Unidade IV

BRASIL, CARTAS RASGADAS: uma cidade arbitrária.

CARTAS PARA GETÚLIO: uma cidade caudilhista.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Constituições de 1934 e 1937;

- Era Vargas.

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

SINDICALISTAS.

FONTE 1: literatura, terceiro livro da trilogia O tempo e o vento: O arquipélago, volume 3, de Érico Lopes

Veríssimo (1905-1975). Foi um dos escritores brasileiros mais populares do século XX. A citada trilogia foi

a sua obra prima, que já foi adaptada para a novela homônima de 1967-1968 da TV Excelsior (último

tomo de O Arquipélago), para a minissérie da TV Globo de 1985 (O Continente) e o filme O Tempo e o

Vento de 2013, sob a direção de Jaime Monjardim. Essa obra-prima da literatura brasileira se divide em

três partes: O Continente, O Retrato e O Arquipélago. Boa leitura!

– Só não posso compreender – fala agora Terêncio –

como é que Getúlio, depois de derrotar São Paulo,

consentiu na convocação duma Constituinte que nunca

desejou.

– Ora... – diz Rodrigo – quem explicou o fenômeno

com uma clareza cristalina foi o Aranha. Quando um

tenente o interpelou a respeito do Assunto, respondeu

que o país estava diante dum dilema: ditadura ou

Constituição. A ditadura administrativa sem a

revolução política é a antecâmara da Constituição.

Toda a ditadura que não é revolução será caminho do

regime legal. Os “carcomidos”, que tinham ainda uma

grande força, não deixavam Getúlio fazer a revolução.

Logo...

Floriano torna a sentar-se.

– A Constituição de 1934 – diz Rodrigo –, a carta pela

qual vocês democratas tanto suspiravam, não passou

dum aborto, um monstrengo híbrido. Aqui

esquerdizante, mais adiante fascistizante (para

acompanhar a moda), e ainda mais além reacionária,

recebeu no fim uma leve e vistosa camada de açúcar

cristalizado do liberalismo. Não tinha unidade

doutrinária nem técnica. Ora parecia uma Constituição

feita para povos verdadeiramente civilizados, como os

escandinavos, ora dava a impressão dum estatuto

destinado a reger uma comunidade colonial de

botocudos. Uma verdadeira salada mista.... e com

azeite rançoso! Como bem disse o Getúlio, a nova carta

deixava o presidente da República sem recursos para

defender-se diante da desenfreada disputa dos estados.

Terêncio ergue a mão em cujo anular brilha também um

rubi:

– A coisa é mais simples. O Getúlio não sabia mais

administrar dentro dum regime legal. Estava viciado

em governar por decretos.

Rodrigo sorri. Depois, mexendo com o indicador nos

cubos de gelo que boiam na cerveja de seu copo, diz:

– Eu me lembro muito bem do dia em que foram contar

ao presidente que a nova carta tinha sido promulgada.

Ele ficou impassível e depois me olhou, sorriu, e disse:

“Tenho o palpite de que eu vou ser o primeiro

revisionista dessa Constituição”.

– Revisionista? – repete Tio Bicho. – Que colossal

eufemismo!

– E vocês vão concordar comigo – prossegue Rodrigo

–, aqueles três anos em que Getúlio governou o país

como presidente eleito pela Constituinte foram dos

mais agitados. Um minuano trágico varria o mundo:

golpes de Estado, sabotagens, assassinatos políticos,

fermentações de toda ordem... A chamada democracia

liberal perdia terreno assustadoramente. Os regimes

totalitários se fortaleciam. Os campos estavam

divididos nitidamente em esquerda e direita. E vocês

sabem que o Brasil não vivia dentro de nenhuma

redoma invulnerável.... Fundou-se a Ação Integralista

Brasileira, que fez a primeira parada com camisas-

verdes em 1933, e começou logo a ganhar adeptos... Por

sua vez, os comunistas se articulavam à sombra da

Aliança Nacional Libertadora. E não preciso lembrar-

lhes o que foi a brutalidade daqueles levantes

vermelhos de 1935...

(VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento, parte III: O

arquipélago, vol. 3. São Paulo: Companhia das Letras,

2004, pp. 143-4).

FONTE 2: narrativa do senhor Abel, transcrita por Ecléa Bossi no livro Memoria e sociedade:

Lembranças de velhos.

A Revolução de 32, esta sim! Ela não perdeu, ela apenas ensarilhou suas armas. Porque o Getúlio tinha rasgado a

Carta Magna, depois de ter sido deputado e ministro do Washington Luís. Ele enganava os trabalhadores:

“Trabalhadores do Brasil! Nós precisamos mais pão! Precisamos ganhar mais! Os outros não dão nada a vocês!”

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E o povo todo: “Nós queremos Getúlio! Nós queremos Getúlio! Nós queremos Getúlio!”. Foi assim que ele se

perpetuou quinze anos no poder, rasgando a Constituição, desrespeitando a Carta Magna.

Mas a revolução não perdeu, ela deixou de lutar quando nós já tínhamos obtido o que queríamos, o fim já tinha

chegado, o ideal era aquele, a Constituição. E Getúlio ficou com medo e retirou-se.

(Fonte: senhor Abel, nascido em 27 de setembro de 1903, In: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembranças

de velhos. 12ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 199-200).

FONTE 3: narrativa do cientista político e historiador brasileiro José Murilo de Carvalho, membro da

Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências, é professor da Universidade Federal

de Minas Gerais, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e da Universidade

Federal do Rio de Janeiro:

A revolta paulista, chamada Revolução Constitucionalista, durou três meses e foi a mais importante guerra civil

brasileira do século XX. Os paulistas pediam o fim do governo ditatorial e a convocação de eleições para escolher

uma assembleia constituinte. Sua causa era aparentemente inatacável: a restauração da legalidade, do governo

constitucional. Mas seu espírito era conservador: buscava-se parar o carro das reformas, deter o tenentismo,

restabelecer o controle do governo federal pelos estados. Aos paulistas aliaram-se outros descontentes, inclusive

oficiais superiores das forças armadas, insatisfeitos coma inversão hierárquica causada pelos “tenentes”. Outros

estados, como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, hesitaram sobre a posição a tomar. Decidiram-se, finalmente,

pelo apoio ao governo federal, talvez por receio de que uma vitória paulista resultasse em poder excessivo para

São Paulo. Bastava que um dos dois grandes estados apoiasse os paulistas para que a vitória se tornasse uma

possibilidade concreta.

[...]

Os paulistas perderam a guerra no campo de batalha, mas a ganharam no campo da política. O governo federal

concordou em convocar eleições para a assembleia constituinte que deveria eleger também o presidente da

República. As eleições se deram em 1933, sob novas regras eleitorais que representavam já grande progresso em

relação à Primeira República. Para reduzir as fraudes, foi introduzido o voto secreto e criada uma justiça eleitoral.

O voto secreto protegia o eleitor das pressões dos caciques políticos; a justiça eleitoral colocava nas mãos de juízes

profissionais a fiscalização do alistamento, da votação, da apuração dos votos e o reconhecimento dos eleitos. O

voto secreto e a justiça eleitoral foram conquistas democráticas. Houve também avanços na cidadania política.

Pela primeira vez, as mulheres ganharam direito ao voto.

Outra inovação do código eleitoral foi a introdução da representação classista, isto é, a eleição de deputados não

pelos eleitores em geral mas por delegados escolhidos pelos sindicatos. Foram eleitos 40 deputados classistas, 17

representando os empregadores, 18 os empregados, três os profissionais liberais e dois os funcionários públicos.

A inovação foi objeto de grandes debates. Era uma tentativa a mais do governo de reduzir a influência dos donos

de terra e, portanto, das oligarquias estaduais, no Congresso nacional.

A constituinte confirmou Getúlio Vargas na presidência e elaborou uma constituição, inspirada na de Weimar, em

que pela primeira vez constava um capítulo sobre a ordem econômica e social. Fora esse capítulo, era uma

constituição ortodoxamente liberal, logo atacada pelo governo como destoante das correntes políticas dominantes

no Brasil e no mundo. Segundo essa crítica, o liberalismo estava em crise, em vias de desaparecer. Os novos

tempos pediam governos fortes como os da Itália, da Alemanha, da união Soviética, ou mesmo do New Deal norte-

americano. Os reformistas autoritários viam no liberalismo uma simples estratégia para evitar as mudanças e

preservar o domínio oligárquico.

Após a constitucionalização do país, a luta política recrudesceu. Formara-se dois grandes movimentos políticos,

um à esquerda, outro à direita. O primeiro chamou-se Aliança Nacional Libertadora (ANL), e era liderado por Luís

Carlos Prestes, sob a orientação da Terceira Internacional. O outro foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), de

orientação fascista, dirigida por Plínio Salgado. Embora a inspiração externa estivesse presente em ambos os

movimentos, eles apresentavam a originalidade, para o Brasil, de terem alcance nacional e serem organizações de

massa. Não eram partidos de estados-maiores, como os do Império, nem partidos estaduais, como os da Primeira

República.

(CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2012, pp.100-2).

FONTE 4: narrativa do historiador e cientista político Boris Fausto, professor da USP. É autor de artigos

para vários periódicos, como a Folha de São Paulo, e de estudos considerados clássicos sobre a Revolução

de 1930 e a Era Vargas. O livro citado é um dos mais indicados para vestibulandos.

Após meses de debates, a Constituinte promulgou a Constituição, a 14 de julho de 1934. Ela se assemelhava à de

1891 ao estabelecer uma República federativa, mas apresentava vários novos aspectos, como reflexo das mudanças

ocorridas no país. O modelo inspirador era a Constituição de Weimar, ou seja da República que existiu na

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Alemanha entre o fim da Primeira Guerra Mundial e a ascensão do nazismo. Três títulos inexistentes nas

Constituições anteriores tratavam da ordem econômica e social; da família, educação e cultura; e da segurança

nacional. O primeiro deles tinha intenções nacionalistas na parte referente à economia. Previa a nacionalização

progressiva das minas, jazidas minerais e quedas-d’água, julgadas básicas ou essenciais à defesa econômica ou

militar do país. Os dispositivos de caráter social asseguravam a pluralidade e a autonomia dos sindicatos, dispondo

também sobre a legislação trabalhista. Esta deveria prever no mínimo: proibição de diferença de salários para um

mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; salário mínimo; regulamentação do

trabalho das mulheres e dos menores; descanso semanal; férias remuneradas, indenização na despedida sem justa

causa.

No título referente a família, educação e cultura, a Constituição estabelecia o princípio do ensino primário gratuito

e de frequência obrigatória. O ensino religioso seria de frequência facultativa nas escolas públicas, sendo aberto a

todas as confissões e não apenas católica.

Aparecia pela primeira vez o tema da segurança nacional. Todas as questões referentes a ela seriam examinadas

pelo Conselho Superior de Segurança Nacional, presidido pelo presidente da República e integrado pelos ministros

e os chefes dos estados maiores do Exército e da Marinha. O serviço militar foi considerado obrigatório, uma

norma já existente na Primeira República mas que pouco funcionara na prática.

A 15 de novembro de 1934, pelo voto indireto da Assembleia nacional Constituinte, Getúlio Vargas foi eleito

presidente da República, devendo exercer o mandato até 3 de maio de 1938. Daí para frente, haveria eleições

diretas para presidente.

(FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002, pp. 351-2).

FONTE 5: livro didático da FTD, cuja edição foi publicada entre 1937 e 1939, sendo a primeira edição de

1925.

Em 1937, a luta eleitoral para a futura presidência foi muito agitada; três candidatos disputavam-se os sufrágios.

Como os dissídios partidários ameaçassem degenerar em guerra civil e a infiltração comunista se avolumasse por

causa de tal agitação eleitoral, o presidente, a 10 de novembro de 1937, promulgou nova Constituição a bem da

paz, restabeleceu o poder ditatorial, até que tempos mais calmos permitam voltar à normalidade constitucional.

A exaltação dos ânimos cessou de repente. O país inteiro agora vai continuando a trabalhar e a progredir na paz e

no bem-estar.

Dotado de calma, e meiguice, admirável bom senso e tino administrativo, e com grande amor pelo Brasil, o

presidente usa dos seus poderes discricionários para o bem da nação: reprime rapidamente e com energia o que

não está de acôrdo com o bem geral, sem oprimir liberdades úteis, nem lesar os direitos individuais.

(FTD. Elementos de História do Brasil: para uso dos Ginásios. Rio de Janeiro: Editora Paulo de Azevedo, s.d.,

p. 557).

A datação da edição do livro didático foi obtida pela leitura do mesmo, que se comprometia a tratar da História do

Brasil até os dias atuais, sendo que o último conteúdo histórico tratado foi a promulgação da Constituição de 1937

e instauração do Estado Novo. Na contracapa do livro é possível observar uma assinatura datada em 06/07/1939.

De acordo com a pesquisadora Kênia Hilda Moreira, da Universidade Estadual Paulista-Araraquara esse livro já

vinha sendo publicado, com a autoria da FTD, desde 1925. (Informações sobre livros didáticos de História no

contexto republicano brasileiro do século XX, consultar: MOREIRA, Kênia Hilda. Pesquisa em história da

educação: localização e seleção de livros didáticos de História republicanos. Disponível em:

http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe5/pdf/367.pdf - Acessado em: 14/10/2014 às 17:07.

FONTE 6: narrativa do historiador e cientista político Boris Fausto, professor da USP. É autor de artigos

para vários periódicos, como a Folha de São Paulo, e de estudos considerados clássicos sobre a Revolução

de 1930 e a Era Vargas. O livro citado é um dos mais indicados para vestibulandos. Vargas não necessitou de muitos esforços para desfechar o golpe de Estado, em 10 de novembro de 1937. Os

vários setores da classe dominante ansiavam pela ordem e vinham sendo atendidos pelo governo; o aparelho

militar e civil, depurado dos que poderiam fazer oposição, formava um bloco homogêneo; a grande maioria da

elite política preferia a ditadura ou se conformava com ela; a frágil organização independente dos trabalhadores

desaparecera, enquanto crescia nos meios populares o prestígio de Vargas; a esquerda, para a qual a ditadura

começara em 1935, fora praticamente arrasada. Restavam apenas os liberais, cuja fraqueza mais uma vez se

revelou: Armando Salles de Oliveira fez um dramático apelo às Forças Armadas para que impedissem o golpe,

sem obter qualquer resultado. O caminho dos políticos liberais seria o do exílio.

Pela primeira vez, instalara-se no Brasil um regime ditatorial. Na noite de 10 de novembro, ele anunciou o

advento do Estado Novo e a entrada em vigor de uma Carta constitucional, elaborada pelo político mineiro

Francisco Campos, que, por muitos anos, ocuparia o Ministério da Justiça. A oposição apelidou a Carta de 1937

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de “polaca”, não só porque tinha semelhanças com a Constituição da Polônia, decretada por Josef Pilsudski,

como também porque “polaca” era então um termo depreciativo aplicado às prostitutas provenientes da Europa

do leste.

(FAUSTO, Boris. A vida política. In: GOMES, Angela de Castro (coordenação). Olhando para dentro: 1930 –

1964. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013, pp. 100-1 – Coleção: História do Brasil Nação: 1808-2010, volume 4 de

5).

FONTE 7: Fonte 1: narrativa do historiador Marco Antônio Villa, professor aposentado da Universidade

de São Carlos (UFSCar), comentarista do Jornal da Cultura (TV Cultura).

Outro áulico fez um longo livro para elogiá-la. Fez questão de dizer que “nossa” Constituição era muito melhor

que a da Polônia, usando até um quadro comparativo. O Departamento de Imprensa e Propaganda patrocinou

várias edições da Carta e de livros para divulgação, como o livro O Estado nacional e a Constituição de

novembro de 1937, que tinha um subtítulo: “para uso da juventude brasileira”.

(VILLA, Marco Antonio. A história das constituições brasileiras. São Paulo: Leya, 2011, p. 77).

O livro, citado pelo professor e pesquisador Marco Antonio Villa, tem as seguintes referências: BERFORD,

Álvaro Bittencourt. O estado nacional e a Constituição de novembro de 1937: para uso da juventude

brasileira. Rio de Janeiro: DIP, 1944.

FONTE 8: Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 16 de julho de 1934.

Disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao34.htm Acessado em: 24/11/2014.

FONTE 9: Constituição dos Estados Unidos do Brasil, outorgada pelo presidente Getúlio Vargas em 10 de

novembro de 1937. Disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao37.htm Acessado em: 24/11/2014 às 08:37.

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Unidade IV

BRASIL, CARTAS RASGADAS: uma cidade arbitrária.

CARTA À REDEMOCRATIZAÇÃO: uma cidade que parecia próxima.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Constituição de 1946;

- República Populista.

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

SOCIAIS DEMOCRATAS.

FONTE 1: charge de José Carlos de Brito

e Cunha (1884 -1950), publicada no ano da

sua morte. Conhecido com J. Carlos, foi

chargista, ilustrador, escultor, autor de

teatro de revista, letrista de

samba e designer gráfico brasileiro.

QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS PERMITEM

- Moço, moço, este bonde passa na Rua da Constituição? - Às vezes.

A trajetória política de Getúlio Vargas foi

ambígua, combinando momentos de reformas

sociais e atitudes francamente ditatoriais. A

charge ao lado, de J. Carlos, foi publicada em

1950, quando Vargas tentava voltar à

Presidência pelo voto popular.

(REVISTA DE HISTÓRIA DA

BIBLIOTECA NACIONAL. Ano 2, nº 18,

março de 2007, p. 89).

FONTE 2: narrativa do senhor Amadeu, transcrita por Ecléa Bosi no livro Memória e sociedade:

lembranças de velhos, em 1979.

A primeira eleição foi no tempo da Constituição. Foi feita depois de muito tempo que não se votava mais. Foi

uma dificuldade conseguir o título. As filas eram tão enormes que era preciso pular a parede. Votei no Dutra. Em

50, votei no Getúlio, Em 55, votei no Juscelino. Em 60, votei no Jânio. O Jânio esteve na oficina. Eu estive com

ele na estamparia. Ele veio encomendar o tostãozinho com o slogan: “O Tostão contra o Milhão”. Mandou fazer

um pedido de 200 mil distintivos. Foi quando ele ganhou do Adhemar. A oficina toda votou no Jânio. Parece que

nós votamos também no Jango. Era o JJ. Para o Carvalho Pinto nós fizemos 2 milhões de pintinhos.

[...]

Em 64 foi aquele negócio de Lar-Pátria-Família. Foi quando fizeram a Revolução, a revolução de mentira, feita

na secretaria. E conseguiram pôr uma lei diferente.

(Fonte: senhor Amadeu, nascido em 30 de novembro de 1906, In: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade:

Lembranças de velhos. 12ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pp. 146; 148).

FONTE 3: narrativa do senhor Ariosto, transcrita por Ecléa Bosi no livro Memória e sociedade:

lembranças de velhos, em 1979.

Quando soube da morte do Getúlio fiquei muito triste. Eu não acredito que ele se suicidou, um dos capangas que

viviam em roda deu uns tiros nele. Ele estava melhorando o país. A gente estava ganhando o salário, havia leis

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do trabalho, todo mundo ficou muito triste, especialmente os operários. Até hoje os trabalhadores vivem falando

nele.

[...]

Quando houve eleição para presidente da República, um amigo me aconselhou a votar no Dutra. Depois votei no

Getúlio, é claro. Ninguém votou no brigadeiro, porque em 24 ele mandou bombardear o Brás, os italianos que

eram contra o governo; por isso o Getúlio ganhou estourado aqui em São Paulo. Ele não aumentou o preço de

nada, a gente ia na feira com dez mil-réis: a laranja-baía custava quatrocentos réis a dúzia; a banana, um tostão;

um frango, oitocentos réis... Depois votei para o Juscelino que passou a capital para Brasília e também não

aumentou muito o preço das coisas. Quando votei no Jânio me enganei muito: ele deu nossa maior comenda para

o irmão do Fidel Castro. Os militares não gostaram e chutaram ele. Desde aí a vida ficou muito cara e o povo

anda triste.

[...]

Quando era moço os patrões eram ruins, carrascos, não consideravam a gente e trabalhávamos de graça. Nunca

pensei que viesse um Getúlio proteger os trabalhadores. Quando em 31 de março de 1964 derrubaram o

presidente Jango não gostei, porque as coisas encareceram muito. Só anda alegre os que vão assistir futebol. O

povo anda triste. Sábado, domingo, leio jornal que o barbeiro traz; fico conversando com os outros velhinhos e

assim passando o tempo. Mas eu não gosto de passar esse tempo.

(Fonte: senhor Ariosto, nascido em 1900, In: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembranças de velhos. 12ª

edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, pp 170; 174-5).

FONTE 4: narrativa do historiador e cientista político Boris Fausto, professor da USP. Autor de artigos

para vários periódicos, como a Folha de São Paulo, e de estudos considerados clássicos sobre a Revolução

de 1930 e a Era Vargas. O livro citado é um dos mais indicados para vestibulandos. No fim de janeiro de 1946, Dutra tomou posse e começaram os trabalhos da Constituinte. Os acalorados debates

travados no curso daquele ano tiveram o mérito de girar, com frequência, em torno de questões fundamentais. A

18 de setembro, era promulgada a nova Constituição brasileira.

Sem dúvida, a Constituição se afastava da Carta de 1937, optando pelo figurino liberal-democrático. Em alguns

pontos, entretanto, abria caminho para a continuidade do modelo corporativo. O Brasil foi definido como uma

República federativa, estabelecendo-se as atribuições da União, Estados e municípios. Fixaram-se também as

atribuições dos três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O Poder Executivo seria exercido pelo

presidente da República, eleito por voto direto e secreto para um período de cinco anos. O exercício do Poder

Legislativo caberia ao Congresso Nacional, composto de Câmara dos Deputados e Senado. A eleição para a

Câmara deveria ser realizada segundo o princípio da representação proporcional; ou seja, os deputados seriam

eleitos na proporção dos votos dados a eles no âmbito de cada partido a que pertenciam. A eleição para o Senado

obedeceria ao princípio majoritário, isto é, seriam considerados eleitos os candidatos que obtivessem o maior

número de votos, sem se considerar o partido. Estabeleceu-se um número fixo de senadores: três para cada

Estado e para o Distrito Federal. Esse critério favorecia os Estados menos significativos em termos

populacionais, que teriam o mesmo número de senadores representantes dos Estados maiores. O favorecimento

ocorreu também com relação à Câmara dos Deputados. A Constituição de 1946 reproduziu um artigo da

Constituição de 1934, em que determinava que o número de deputados seria fixado em lei, de acordo com a

seguinte proporção: um para cada 150 mil habitantes até 20 deputados e, além desse limite, um para cada 250

mil habitantes. A razão desse critério não se encontrava no desejo desinteressado de favorecer as unidades

menores. Como nelas o clientelismo imperava com mais força, a intenção da maioria dos constituintes foi de dar

maior peso aos redutos eleitorais controlados pelas oligarquias locais, sobretudo no Nordeste. Por outro lado, a

Constituição de 1946 suprimiu a representação profissional, prevista na Constituição de 1934, que trazia a marca

do corporativismo de inspiração fascista.

No capítulo referente à cidadania, o direito e a obrigação de votar foram conferidos aos brasileiros alfabetizados,

maiores de dezoito anos, de ambos os sexos. Completou-se assim, no plano dos direitos políticos, a igualdade

entre homens e mulheres. A Constituição de 1934 determinava a obrigatoriedade do voto apenas para as

mulheres que exercessem função pública.

O capítulo sobre a ordem social e econômica estabeleceu, na parte econômica, critérios de aproveitamento dos

recursos minerais e de energia elétrica. Na parte social, enumeraram-se os benefícios mínimos que a legislação

deveria assegurar, muito semelhantes aos previstos na Constituição de 1934. Como novidade previa-se a

participação dos trabalhadores no lucro das empresas, “nos termos e pela forma que a lei determinar”. O direito

ao benefício se tornou letra morta porque não se aprovou nenhuma lei a esse respeito, nos anos de vigência da

Constituição.

O capítulo sobre a família deu origem a longos e acalorados debates entre partidários e adversários do divórcio.

Prevaleceu afinal a pressão da Igreja Católica e a opinião dos mais conservadores. Ficou estabelecido que a

família se constituía pelo casamento de vínculo indissolúvel.

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Foi na parte referente à organização dos trabalhadores que os constituintes revelaram seu apego ao sistema

corporativista do Estado Novo. Legislou-se esmiuçadamente sobre muitas coisas, mas não se suprimiu o imposto

sindical, suporte principal dos “pelegos”. Uma fórmula ambígua estabeleceu a liberdade de associação sindical

ou profissional, “sendo-lhe regulada por lei a forma de constituição, a representação legal nos contratos coletivos

de trabalho e o exercício de funções delegadas pelo poder público”, O texto, em si mesmo, traduz a ideia de

sindicato como órgão de colaboração com o Estado. Além disso, como a lei não foi alterada, o princípio de

unidade sindical ficou mantido, assim como o poder do Estado para intervir na vida sindical. Por caminhos

diversos, mas fascinados pelo que se tem chamado de “ideologia de Estado”, os comunistas e a maioria dos

liberais acabaram concordando com a fórmula constitucional. Por sua vez, ao acolher o direito de greve, a

Constituição de 1946 utilizou uma expressão sucinta que acabaria por prejudicar os trabalhadores: “É

reconhecido o direito de greve, cujo exercício a lei regulará”.

(Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,

2002, pp. 399-401).

FONTE 5: argumentação do filósofo estadunidense de tendência marxista Marshall Berman (1940-2013),

que se envolveu num polêmico debate com Oscar Ribeiro Teomar de Almeida Niemeyer Soares Filho

(1907-2012), sobre a construção de Brasília e a importância da comunicação e do diálogo para a vivência

efetiva da democracia.

O projeto de Brasília talvez fizesse sentido para a capital de uma ditadura militar, comandada por generais que

quisessem manter a população a certa distância, isolada e controlada. Como capital de uma democracia, porém, é

um escândalo. Para que o Brasil possa continuar democrático, declarei em debates públicos e aos meios de

comunicação, ele precisa de espaços públicos democráticos aonde pessoas vindas dos quatro cantos do país

possam convergir e reunir-se livremente, conversar umas com as outras e dirigir-se aos seus governantes –

porque numa democracia, afinal de contas, o governo pertence às pessoas – para discutir suas necessidades e

desejos, e para manifestar sua vontade.

(BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:

Companhia das Letras, 2007, p.13).

FONTE 6: imagem criada por meio de software por Eric Gaba da Praça dos Três Poderes em Brasília,

disponível na Wikipédia, no endereço eletrônico abaixo:

(Disponível em:

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pra%C3%A7a_3_Poderes_Bras%C3%ADlia_panorama.jpg –

Acessado em: 24/11/2014 às 10:43).

FONTE 7: Constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de setembro de 1946. Disponível

no seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao46.htm Acessado em 24/11/2014 à 20:41.

Page 59: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ...€¦ · Os mais graves pecados foram cometidos na área econômica. O exemplo notório é o artigo 192, do capítulo

Unidade IV

BRASIL, CARTAS RASGADAS: uma cidade arbitrária.

CARTA OU CARTAS DE CHUMBO? uma cidade sitiada.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Constituição de 1967;

- Ditadura Militar;

- Início da luta pela redemocratização.

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

HUMANISTAS.

FONTE 1: capa da revista Veja do dia 18 de dezembro de 1968, na foto o presidente e ditador, Costa e

Silva parece estar à vontade no plenário vazio do Congresso Nacional, que havia sido fechado pelo AI-5

numa sexta-feira 13, era o final de 1968, o ano que não terminou. Notem que a foto está sem chamada. A

seta na parte de baixo da foto, à direita, não fazia parte da capa original.

(Disponível em: http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx -Acessado em: 24/11/2014 às 21:11).

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FONTE 2: nota do Centro de Comunicação Social do Exército de 18 de outubro de 2004

Íntegra da primeira nota 1. Desde meados da década de 60 até início dos anos 70 ocorreu no Brasil um movimento subversivo, que

atuando a mando de conhecidos centros de irradiação do movimento comunista internacional, pretendia derrubar,

pela força, o governo brasileiro legalmente constituído.

À época, o Exército Brasileiro, obedecendo ao clamor popular, integrou, juntamente com as demais Forças

Armadas, a Polícia Federal e as polícias militares e civis estaduais, uma força de pacificação, que logrou retomar

o Brasil à normalidade. As medidas tomadas pelas forças legais foram uma legítima resposta à violência dos que

recusaram o diálogo, optaram pelo radicalismo e pela ilegalidade e tomaram a iniciativa de pegar em armas e

desencadear ações criminosas.

Dentro dessas medidas, sentiu-se a necessidade da criação de uma estrutura, com vistas a apoiar, em operação e

inteligência, as atividades necessárias para desestruturar os movimentos radicais e ilegais.

O movimento de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a construção de um novo

Brasil, em ambiente de paz e segurança. Fortaleceu a economia, promoveu fantástica expansão e integração da

estrutura produtiva e fomentou mecanismos de proteção e qualificação social. Nesse novo ambiente de

amadurecimento político, a estrutura criada tornou-se obsoleta e desnecessária na atual ordem vigente. Dessa

forma, e dentro da política de atualização doutrinária da força terrestre, no Exército brasileiro não existe

nenhuma estrutura que tenha herdado as funções daqueles órgãos.

2. Quanto às mortes que teriam ocorrido durante as operações, o Ministério da Defesa tem, insistentemente,

enfatizado que não há documentos históricos que as comprovem, tendo em vista que os registros operacionais e

da atividade de inteligência da época foram destruídos em virtude de determinação legal. Tal fato é amparado

pela vigência, até 8 de janeiro de 1991, do antigo Regulamento para a Salvaguarda de Assuntos Sigilosos

(RSAS), que permitia que qualquer documento sigiloso, após acurada análise, fosse destruído por ordem da

autoridade que o produzira caso fosse julgado que já tinha cumprido sua finalidade.

Depoimentos divulgados pela mídia, de terceiros ou documentos porventura guardados em arquivos pessoais não

são de responsabilidade das Forças Armadas.

3. Coerente com seu posicionamento, e cioso de seus deveres constitucionais, o Exército brasileiro, bem como as

Forças coirmãs, vêm demonstrando total identidade com o espírito da Lei da Anistia, cujo objetivo foi

proporcionar ao nosso país um ambiente pacífico e ordeiro, propício para a consolidação da democracia e ao

nosso desenvolvimento, livre de ressentimentos e capaz de inibir a reabertura de feridas que precisam ser,

definitivamente, cicatrizadas. Por esse motivo considera os fatos como parte da História do Brasil. Mesmo sem

qualquer mudança de posicionamento e de convicções em relação ao que aconteceu naquele período histórico,

considera ação pequena reavivar revanchismos ou estimular discussões estéreis sobre conjunturas passadas, que

a nada conduzem.

(Disponível nos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/roteiropedagogico/publicacao/2745_APC_Notas_do_Exercito_sob

re_Herzog.pdf - Acessado em: 16/10/2014 às 10:51.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR67052-6009,00.html – Acessado em: 16/10/2014 às 10:52).

FONTE 3: retratação assinada pelo general do exército Francisco Roberto de Albuquerque, em 19 de

outubro de 2004. Atualmente o ex-comandante do Exército Brasileiro é conselheiro da Petrobrás.

Íntegra da segunda nota O Exército Brasileiro é uma Instituição que prima pela consolidação do poder da democracia brasileira.

O Exército lamenta a morte do jornalista Wladimir Herzog. Cumpre relembrar que, à época, este fato foi um dos

motivadores do afastamento do comandante militar da área, por determinação do presidente Geisel.

Portanto, para o bem da democracia e comprometido com as leis do nosso país, o Exército não quer ficar

reavivando fatos de um passado trágico que ocorreram no Brasil.

Entendo que a forma pela qual esse assunto foi abordado não foi apropriada, e que somente a ausência de uma

discussão interna mais profunda sobre o tema pôde fazer com que uma nota do Centro de Comunicação Social

do Exército não condizente com o momento histórico atual fosse publicada.

Reitero ao Senhor Presidente da República e ao Senhor Ministro da Defesa a convicção de que o Exército não

foge aos seus compromissos de fortalecimento da democracia brasileira.

Disponível nos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/roteiropedagogico/publicacao/2745_APC_Notas_do_Exercito_sob

re_Herzog.pdf – Acessado em: 16/10/2014 às 10:46.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR67052-6009,00.html – Acessado em: 16/10/2014 às 1056.

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FONTE 4: explicação do historiador Marcos Francisco Napolitano de Eugênio, professor da USP, sobre as

fontes 1 e 2.

Em 2004, ainda no começo do governo Lula, explodiu a questão da abertura dos arquivos da repressão. O Correio

Brasiliense publicou supostas fotos inéditas da Vladimir Herzog ainda vivo na prisão. De fato, a foto mostrava

uma pessoa nua, de lado, com as mãos cobrindo o rosto, semelhante a Herzog. Posteriormente a foto foi

oficialmente declarada como não sendo do jornalista assassinado em 1975, e sim de um padre canadense (Leopold

D’Astous).

Provocado por essa reportagem, o Centro de Comunicação Social do Exército reagiu de maneira dura, reiterando

o discurso oficial da época do regime. Vale a pena a longa citação:

[...]

O episódio provocou um mal-estar entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os militares, que foram obrigados

a se retratar. Um dia depois da primeira nota (19 de outubro de 2004), uma curta retratação assinada pelo general

de Exército Francisco Roberto de Albuquerque, atenuou a crise:

[...]

Entre as duas notas, é patente a dificuldade do próprio Exército em se posicionar, oficialmente, sobre o período.

O debate que se seguiu tocou no problema central da memória e da verdade: o acesso aos documentos, pois a foto

foi descoberta em meio a um conjunto documental, entregue por um cabo do Exército que trabalhava no setor de

inteligência à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, nunca divulgado ou analisado. Em que pesem os avanços

desde então, os arquivos dos serviços de inteligência das três armas ainda continuam praticamente inacessíveis.

Em 2007, foi lançado um livro produzido pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (subordinada à

Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência) intitulado Direito à memória e à verdade. Este, talvez,

possa ser visto como um esboço de uma história oficial, posto que era uma publicação do governo da época em

nome do Estado, e seus textos sobre a conjuntura histórica se aproximam muito da referida “memória hegemônica”

sobre o regime, com um toque a mais de esquerda. A Comissão contava com um representante dos militares que

frequentemente discordavam do mérito e do resultado do julgamento das revisões e responsabilidades e se

afirmavam como parte do “exercício do contraditório”, ou seja, a posição das Forças Armadas. Aliás, esta

expressão utilizada pelos militares é interessante, pois revela uma corrente minoritária de opinião e, portanto, de

construção da memória em jogo.

[...]

Dento desse clima, no qual uma política de memória convive com debates sobre as responsabilidades das esquerdas

nas tragédias de 1964 e 1968, foi instalada a Comissão Nacional da Verdade (CNV) em maio de 2012. Ela tem

como missão esclarecer o paradeiro dos desaparecidos e as cadeias de responsabilidades nos casos de violações de

direitos humanos entre 1946 e 1988, embora na prática esteja se concentrando no período do regime militar.

Oficialmente, a data expandida foi proposta na lei como forma de diminuir a resistência das Forças Armadas. A

comissão é composta de sete integrantes escolhidos entre vários setores da sociedade civil, sem poder de punição,

embora seu relatório final possa embaçar futuras ações na justiça. [...]

[...]

Com a instalação da CNV, alguns focos militares se agitaram, sobretudo entre os oficiais da reserva, fazendo eco

em algumas vozes civis da direita, ainda minoritárias no debate. A principal argumentação é que a “Comissão” é

revanchista e parcial, focando apenas as violências dos agentes do Estado e esquecendo a dos guerrilheiros de

esquerda. Diga-se, um argumento frágil, pois, independentemente de qualquer consideração de ordem ideológica,

o fato é que a maioria dos guerrilheiros foi de alguma forma punida, com prisão, exílio, tortura e morte. Já os

agentes do Estado que participaram de atos ilícitos e crimes de lesa-humanidade sequer foram nominados ou

intimados oficialmente pela justiça.

(NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014, pp. 328-

332).

FONTE 5: narrativa do historiador e cientista político Boris Fausto, professor da USP. Autor de artigos

para vários periódicos, como a Folha de São Paulo, e de estudos considerados clássicos sobre a Revolução

de 1930 e a Era Vargas. O livro citado é um dos mais indicados para vestibulandos. O governo Castelo completou as mudanças nas instituições do país, fazendo aprovar pelo Congresso uma nova

Constituição em janeiro de 1967. A expressão “fazendo aprovar” deve ser tomada em sentido literal. Submetido a

novas cassações, o Congresso fora fechado por um mês em outubro de 1966 e reconvocado pelo AI-4 para se

reunir extraordinariamente a fim de aprovar o novo texto constitucional. A Constituição de 1967 incorporou a

legislação que ampliara os poderes conferidos ao Executivo, especialmente em matéria de segurança nacional, mas

não manteve os dispositivos excepcionais que permitiram novas cassações de mandatos, perda de direitos políticos

etc.

[...]

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O AI-5 foi o instrumento de uma revolução dentro da revolução ou, se quiserem, de uma contrarrevolução dentro

da contrarrevolução. Ao contrário dos atos anteriores, não tinha prazo de vigência e não era, pois, uma medida

excepcional transitória. Ele durou até o início de 1979.

O presidente da República voltou a ter poderes para fechar provisoriamente o Congresso. Podia além disso intervir

nos Estados e municípios, nomeando interventores. Restabeleciam-se os poderes presidenciais para casar mandatos

e suspender direitos políticos, assim como demitir ou aposentar servidores públicos.

Desde o AI-2, tribunais militares vinham julgando civis acusados da prática de crimes contra a segurança nacional.

Pelo AI-5, ficou suspensa a garantia de habeas corpus aos acusados desses crimes e das infrações contra a ordem

econômica e social e a economia popular.

A partir do AI-5, o núcleo militar do poder concentrou-se na chamada comunidade de informações, isto é, naquelas

figuras que estavam no comando dos órgãos de vigilância e repressão. Abriu-se um novo ciclo de cassação de

mandatos, perda de direitos políticos e expurgos no funcionalismo, abrangendo muitos professores universitários.

Estabeleceu-se na prática a censura aos meios de comunicação; a tortura passou a fazer parte integrante dos

métodos de governo.

Um dos aspectos trágicos do AI-5 consistiu no fato de que reforçou a tese dos grupos de luta armada. O regime

parecia incapaz de ceder a pressões sociais e de se reformar. Pelo contrário, seguia cada vez mais o curso de uma

ditadura brutal. A partir de 1969, as ações armadas se multiplicaram. Já em janeiro daquele ano, o capitão Carlos

Lamarca, à frente de um grupo de militares, assaltou um depósito de armas do Exército, em Quitaúna, perto de

São Paulo. Lamarca – um oficial que até recentemente estivera nas páginas das revistas ensinando bancários a

atirar contra subversivos assaltantes de bancos – era na realidade membro da VPR.

Em agosto de 1969, Costa e Silva foi vítima de um derrame que o deixou paralisado. Os ministros militares

decidiram substituí-lo, violando a regra constitucional que apontava como substituto o vice-presidente Pedro

Aleixo. Além de ser civil, Pedro Aleixo tinha o grave defeito de ter-se oposto ao AI-5. Desse modo, através de

mais um Ato institucional (AI-12, de 31 de agosto de 1969), os ministros Lira Tavares, do Exército, Augusto

Rademaker, da Marinha, e Márcio de Souza e Melo, da Aeronáutica, assumiram temporariamente o poder.

A junta militar respondeu com várias medidas formais de repressão, além da tortura, à escalada da esquerda radical.

Esta começou a sequestrar membros do corpo diplomático estrangeiro para trocá-los por prisioneiros políticos. A

ação de maior ressonância foi o sequestro do embaixador dos Estados Unidos, realizado no Rio de Janeiro pela

ALN e o MR-8, apenas quatro dias após a junta militar ter-se instalado no poder. Os grupos armados conseguiram

a libertação de quinze presos políticos, que foram transportados para o México, em troca da liberdade do

embaixador Elbrick.

Através do AI-13, a junta criou a pena de banimento do território nacional, aplicável a todo brasileiro que “se

torna-se inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional”. Os primeiros banidos foram os prisioneiros

trocados pelo embaixador americano. Os primeiros banidos forma os prisioneiros trocados pelo embaixador

americano. Estabeleceu-se também pelo AI-14 a pena de morte para os casos de “guerra externa, psicológica

adversa, ou revolucionária ou subversiva”.

A pena de morte nunca foi aplicada formalmente, preferindo-se a ela as execuções sumárias ou no correr de

torturas, apresentadas como resultantes de choques entre subversivos e as forças da ordem ou como

desaparecimentos misteriosos.

Até 1969, o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) foi o órgão mais em evidência como responsável pela

utilização da tortura. A partir daquele ano, surgiu em São Paulo a Operação Bandeirantes (Oban), vinculada ao II

Exército, cujo raio de ação se concentrou no eixo São Paulo-Rio. A OBAN deu lugar ao DOI-CODI, siglas do

Destacamento de Operações e Informações e do Centro de Operações de Defesa Interna. Os DOI-CODI se

estenderam a vários Estados e foram os principais centros de tortura do regime militar.

(Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002,

pp. 475; 480-1).

FONTE 6: narrativa do historiador brasileiro Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal

Fluminense. No final da década de 1960 participou da luta armada contra a Ditadura Militar, inclusive fez

parte do grupo que decidiu pelo sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil Charles Burke

Elbrick (1908-1983).

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Houve ali o projeto de institucionaliza a ditadura, formulando moldura autoritária, mas juridicamente definida,

para o novo governo de Costa e Silva, já eleito pelo Congresso Nacional em 3 de outubro do ano anterior?

Resgatou-se assim, o compromisso de 1964 com a ordem jurídica e constitucional? Não faltam defensores desse

ponto de vista, que apresentam Castelo Branco como um militar democrata, dilacerado entre propósitos liberais e

a força das direitas que o teriam obrigado a aceitar a radicalização da ditadura e, no limite, a candidatura e a

eleição de Costa e Silva. Esta interpretação seria consolidada mais tarde pela virulência dos governos

subsequentes, em face dos quais o período de Castelo Branco tem sido reconstruído como singularmente brando.

(Fonte: REIS, Daniel Aarão. A vida política, In: REIS, Daniel Aarão (coordenação) Modernização, ditadura e

democracia: 1964-2010, volume 5. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014, p. 89. Coleção: História do Brasil Nação:

1808-2010; volume 5 de 5).

FONTE 7: fragmentos do poema Os Estatutos do

Homem, do poeta amazonense Thiago de Mello,

publicado em 1977. Nascido em Barreirinha em

30 de março de 1926, onde atualmente reside,

Thiago de Mello foi preso durante a Ditadura

Militar, e por isso, exilou-se no Chile, onde

tornou-se amigo e colaborador de Pablo Neruda.

No exílio também viveu na Argentina, Portugal,

França e Alemanha.

Os Estatutos do Homem

(Ato Institucional Permanente)

Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade.

agora vale a vida,

e de mãos dadas,

marcharemos todos pela vida verdadeira.

[...]

Artigo V Fica decretado que os homens

estão livres do jugo da mentira.

Nunca mais será preciso usar

a couraça do silêncio

nem a armadura de palavras.

O homem se sentará à mesa

com seu olhar limpo

porque a verdade passará a ser servida

antes da sobremesa.

[...]

Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido

o reinado permanente da justiça e da claridade,

e a alegria será uma bandeira generosa

para sempre desfraldada na alma do povo.

[...]

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:

amar sem amor.

[...]

(MELLO, Thiago de. Os Estatutos do Homem.

Disponível no endereço eletrônico:

http://www.dhnet.org.br/desejos/textos/thmelo.htm -

Acessado em: 18/10/2014 às 13:09).

FONTE 8: Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 e emendas posteriores. Disponível no

seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao67.htm Acessado em: 24/11/2014 às 21:29.

Page 64: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ...€¦ · Os mais graves pecados foram cometidos na área econômica. O exemplo notório é o artigo 192, do capítulo

Unidade V

COMO A CARTA DE 1988 FOI ESCRITA: uma cidade em

Assembleia.

Conteúdos que serão tratados, estudados e debatidos:

- Constituição de 1988;

- Nova República;

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

NOVOS HUMANISTAS.

FONTE 1: fragmento do livro A história de Mora, de Jorge Moreno Bastos, com as memórias de Ida

Maiani de Almeida, esposa de Ulysses Guimarães. Dona Mora faleceu em 12/10/2014, junto com o marido,

em acidente aéreo de helicóptero em Angra dos Reis.

Ainda não saí de 1988 porque ele foi um dos anos mais marcantes da nossa história. Não apenas por causa da

crise social motivada pelas greves que paralisaram o país, [...] mas, principalmente, por ser o ano da

promulgação da “Constituição Cidadã”, a obra-prima do meu marido, originada de uma Constituinte livre e

soberana. Foi o momento dos grandes embates entre Ulysses e Sarney. Como nas novelas, os dois se revezavam

no pódio da disputa a cada capítulo votado pela Constituinte – um dia era da caça e outro, do caçador.

Era Ulysses, como se quisesse se vingar dos compromissos de Tancredo não cumpridos por Sarney, e o

presidente da República, como se estivesse dando o troco pelo fato de ser refém do PMDB. Mesmo não cabendo,

no caso, rotular o “mocinho” e o “vilão” da história, posso garantir, mesmo na suspeitável condição de mulher

do “Senhor Constituinte”, que, nessa briga, meu marido tinha a torcida da sociedade brasileira. Então, para uma

maior compreensão dos fatos, pegue a “mocinha” da novela a que você, eventualmente, esteja assistindo e dê a

ela o nome de Ulysses Guimarães, por favor.

[...] Basicamente, Sarney, com a responsabilidade de presidente da República, questionava os custos para a

União dos direitos sociais da Constituinte. E, por isso, acusava a Constituinte de Ulysses de estar tornando o país

ingovernável. E meu marido era obrigado, docemente constrangido, a responder que ingovernável já era o

próprio governo Sarney.

E assim fomos levados até a promulgação da Constituição. E o país, [...] pegando fogo nos campos e nas cidades.

Experimentávamos na democracia o mesmo cacoeta da ditadura, diante dos movimentos sociais: “A oposição

que um cadáver.” Às vésperas das eleições municipais daquele ano, o confronto entre Exército e manifestantes

deu três mortos, em Volta Redonda. E três dias antes do Natal, para fechar o ano, Chico Mendes foi assassinado.

O sangue evitado na transição da ditadura para a democracia respingou na festa da consolidação do Estado de

Direito e democrático, atingindo duramente a imagem do país no exterior. Desconheço outro fato acontecido já

na democracia que tenha prejudicado tanto a imagem do Brasil como a morte de Chico Mendes.

(MORENO, Jorge Bastos. A história de Mora: A saga de Ulysses Guimarães. Rio de Janeiro: Rocco, 2013,

pp. 305-6).

FONTE 2: fragmentos do discurso de José Sarney de Araújo Costa, sobre os 25 anos da Constituição,

proferido no Congresso Nacional em 29 de outubro de 2013. Nascido José de Ribamar Ferreira de Araújo

Costa, Sarney foi o 31º presidente do Brasil, entre 1985-1990, foi o político brasileiro com mais longa

carreira no nível nacional, com 59 anos de atuação, sob 3, ou melhor, 4 Constituições, a saber: 1946, 1967,

1969 e 1988. O advogado José Sarney foi professor universitário, jornalista, deputado federal, senador,

governador e escritor, sendo que, desde 1980, é membro da Academia Brasileira de Letras. A família do ex-

presidente possuí uma das maiores fortunas do Maranhão, sendo proprietária de um império de

comunicação que começou a ser construído ainda na Ditadura Militar.

Ao olhar, neste momento, o vídeo que aqui passou, a minha memória recorda o dia 5 de outubro de 1988. E os

presentes tiveram a oportunidade de ver um detalhe: as minhas mãos tremiam ao jurar a Constituição da República.

Eu sabia a carga histórica que estávamos vivendo naquele momento. Terminávamos uma longa caminhada da

idealização, da luta pela Constituinte, da realização da Constituinte e da promulgação da Constituição. Hoje,

comemoramos 25 anos da sua existência.

[...]

Ulysses Guimarães, aquele grande guerreiro que vinha das suas caminhadas históricas no comando da luta em

favor da redemocratização do Brasil. Ulysses tinha, no nome de Ulysses, do herói homérico, certamente aquele

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verso do poeta da Pléiade, que era Du Bellay, em que dizia: ‘Heureux qui comme Ulysse a fait un beau voyage’

— felizes quem, como Ulysses, fez uma boa viagem. Ele se referia àqueles que saíram, enfrentaram tempestades

e chegaram ao fim da sua viagem para rever a sua Penélope. Ulysses não gostava que fosse chamado politicamente

por sua representação do herói homérico, tanto assim que, na sua biografia, escrita por Luiz Gutemberg, preferiu

usar o nome de Moisés, aquele que tinha conduzido o povo de Deus à terra prometida.

[...]

Com a tragédia da morte de Tancredo, coube-me exercer a Presidência da República. E, se assumi a Presidência,

em caráter interino, em março, já em junho eu convocava a Constituinte, cumprindo o compromisso da Aliança

Democrática. Talvez a mais rápida convocação de uma Constituinte para restauração de um regime constitucional.

[...]

E coloquei como lema: Tudo pelo Social.

[...]

(Disponível em: http://www.josesarney.org/blog/sarney-discursa-durante-celebracao-de-25-anos-da-constituicao-

de-1988 – Acessado em: 20/10/2014 às 21:18).

FONTE 3: charge do cartunista Novais, Sir Ney: Que Rei fui eu?, 1988. Nas palavras do próprio Novais, que

se apresenta da seguinte forma: “Caricaturista, ilustrador, cartunista, artista plástico, paulistano, budista,

pisciano no zodíaco e cavalo no horóscopo chinês. Sou filho de chargista, o Otávio, que trabalhou no jornal

Última Hora [...]. Comecei no extinto jornal Notícias Populares em 1973. Em 1976 meu primeiro registro

em carteira, na Folha da Tarde, que mudou seu nome para Agora. Saí em 1991 e tive uma rápida passagem

pelo Jornal da Tarde. No mesmo ano fui para a Gazeta Mercantil que encerrou suas atividades em 2009.

Paralelamente publicava charges no Jornal do Brasil até 2008 e uma página de humor na revista Forbes

Brasil. Ganhei o prêmio HQMix com um álbum de charges em forma de tiras diárias, chamado SIR NEY,

que conta a história do mandato do presidente Sarney. No mesmo ano,1991, ganhei o prêmio Ângelo

Agostini como melhor roteirista de tira cômica, pelo mesmo personagem e, em 2011, fui homenageado pela

AQC recebendo a medalha Jayme Cortez como mestre do quadrinho nacional.” (Disponível em:

http://novacharges.wordpress.com/about/ - Acessado em: 14/11/2104 às 17:55).

(Disponível em:

http://www.redes.unb.br/salaodehumor/cartunistas/novaes/5.%20sir%20ney1%20(9%20e%2010).jpg – Acessado

em: 18/10/2014 às 19:02).

FONTE 4: documento escrito da Fundação Ulysses Guimarães.

“Política não se faz com ódio, pois não é função hepática. É filha da consciência, irmã do caráter, hóspede do

coração. Eventualmente, pode até ser açoitada pela mesma cólera com que Jesus Cristo, o político da Paz e da

Justiça, expulsou os vendilhões do Templo. Nunca com a raiva dos invejosos, maledicentes, frustrados ou

ressentidos. Sejamos fiéis ao evangelho de Santo Agostinho: ódio ao pecado, amor ao pecador. Quem não se

interessa pela política, não se interessa pela vida.”

(Ulysses Guimarães - 4 de março de 1985. Disponível em:

http://www.fundacaoulysses.org.br/institucional/ulysses-guimares - Acessado em: 14/10/2014 às 20:22).

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FONTE 5: narrativa biográfica de Ulysses Guimarães, elaborada pelo Almanaque Abril:

Ulisses Silveira Magalhães (6/10/1916- 12/10/1992) nasce em Rio Claro. Preside a União Nacional dos

Estudantes (UNE) em 1940, quando se forma em direito. Deputado estadual pelo Partido Social Democrático

(PSD) em 1947, ajuda a elaborar a Constituição paulista. Cumpre 11 mandatos como deputado federal eleito,

sendo quatro pelo PSD (de 1950 a 1962), cinco pelo MDB (1966-1982) e dois pelo PMDB (1986-1990). Em

1961 ocupa o Ministério da Indústria e do Comércio no governo parlamentarista de João Goulart. Apoia o

regime militar de 1964, mas logo entra para a oposição, filiando-se ao Movimento democrático Brasileiro

(MDB). Tem papel de destaque na oposição ao regime militar, presidindo o MDB, a partir de 1971, e a seguir o

PMDB, até morrer. Em 1974 apresenta-se como “anticandidato” do Congresso à Presidência, mas perde para o

general Ernesto Geisel por 400 votos a 76. É um dos principais líderes da campanha das Diretas Já, em 1984, e, a

seguir, no colégio eleitoral, da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República. Em fevereiro de 1987

é eleito presidente do Congresso Constituinte. Em 1989 é candidato derrotado à Presidência da República pelo

PMDB. Participa, em 1992, das articulações do impeachment do presidente Fernando Collor e da campanha pela

adoção do parlamentarismo. Exerceu interinamente a Presidência da República por 19 vezes. Morre em desastre

de helicóptero na região de Parati, litoral sul do Rio de Janeiro. Seu corpo nunca foi localizado.

“Sou louco pelo poder, seduzido pelo poder e é para isso que eu vivo.” (Deputado Federal, no Programa Sílvia

Popovic, julho de 1990).

“Não existe no mundo de hoje, salvo em alguns países emergentes da África, sociedade que seja tão cruel com

os trabalhadores.” (Discurso de abertura da Assembleia Nacional Constituinte, 11 de fevereiro de 1987).

“Os partidos políticos existem para alcançar o poder.” (Veja, junho de 1971, durante o regime de

bipartidarismo).

“Ela não é a Constituição das mansões nem dos poderosos. É uma Constituição com cheiro de povo, cor de

povo, gosto de povo e cara de povo.” (Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, na finalização dos

trabalhos, agosto de 1988).

(ALMANAQUE ABRIL: QUEM É QUEM NA HISTÓRIA DO BRASIL. São Paulo: Abril Multimídia,

2000, pp. 249-9).

FONTE 6: depoimento do professor e jurista Dalmo de Abreu Dallari, prestado aos autores do livro

História do Brasil: uma interpretação de Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota, em 15/02/2007. Dalmo

de Abreu é professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e professor

catedrático da UNESCO. Dentre seus livros destacamos: A Constituição na vida dos povos, Editora

Saraiva.

[...] a Campanha pela Constituinte foi extremamente importante para despertar a consciência cívica dos

brasileiros e estimular a organização da sociedade, criando ambiente propicio à manifestação objetiva e clara da

vontade do povo quanto a pontos essenciais da organização política e social.

[...]

Eu fui dos muitos que percorreram o Brasil explicando o que era a Constituinte e falando de sua importância

para todo o povo brasileiro. Em diversos lugares, pude sentir que havia esperança e confiança, com o sentimento

generalizado de que a ditadura tinha terminado, o governo já não inspirava temor e os constituintes ouviriam o

povo. Assim, por exemplo, falando em Montes Claros, no norte de Minas Gerais, cidade em que nasceu Darcy

Ribeiro, recebi de uma associação de mulheres um documento, muito bem elaborado, contendo propostas

objetivas e absolutamente razoáveis, com o pedido de que eu o encaminhasse à Constituinte. Eis um exemplo de

participação popular consciente e racional, mostrando que o povo está preparado para manifestar opiniões e quer

participação, não tutela.

(LOPES, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. 3ª ed. São Paulo: Editora

Senac São Paulo, 2012, pp. 907-8).

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FONTE 7: documento iconográfico, fotografia do arquivo da Agência Brasil.

Brasília – 1º de Fevereiro de 1987, Constituinte instalada, o povo lota a Esplanada dos Ministérios.

(Fonte: Agência Brasil - Disponível no endereço eletrônico:

http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2013-10-04/constituicao-de-1988-completa-25-anos - Acessado

em 14/10/2014).

FONTE 8: documento iconográfico, fotografia do arquivo da Agência Brasil.

Sob o comando do "Senhor Diretas" ou "o Grande Timoneiro", o presidente da Assembleia Nacional

Constituinte, Ulysses Guimarães, promulgou a "Constituição Cidadã", como ele a chamou, em 05/10/1988, com

as seguintes palavras: “Declaro promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do

Brasil”. O Brasil rompia de vez com a Constituição de 1967, elaborada pela ditadura civil militar e que governou

o país de 1964 até 1985.

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(Fontes: Arquivo Agência Brasil, 1988, disponível no endereço eletrônico: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2013-10-

04/constituicao-de-1988-completa-25-anos - Acessado em: 14/10/2014 às 21:57; Álbum de fotos do Grupo Abril Constituição do Brasil

completa 20 anos, disponível em: http://www.abril.com.br/fotos/constituicao-brasileira-20-anos/ - Acessado em: 14/11/2014 às 16:48).

FONTE 9: fragmentos de narrativas e explicações históricas elaborada por Marcos Magalhães para o

Salão de Humor da Constituinte, por ocasião da comemoração dos 20 anos da Constituinte.

O Salão de Humor da Constituinte reúne charges e ilustrações publicadas em vários periódicos nacionais durante

o período da Assembleia Nacional Constituinte. A iniciativa encontra respaldo no esforço que o Senado Federal,

em colaboração com o Centro de Memória Digital, empreendeu na execução de várias ações de documentação e

divulgação da memória histórica da Constituinte nas comemorações dos seus 20 anos. Manifestação de arte mais

afeita ao mundo político, a charge constitui documento histórico singular, pois documenta de uma outra

perspectiva, o mundo do humor.

[...]

(Marcos Magalhães – Consultor Legislativo do Senado Federal. Disponível em:

http://www.redes.unb.br/salaodehumor/introducao.php - Acessado em: 18/10/2014 às 17:38).

Até superar a fase inicial, das Subcomissões e Comissões, os trabalhos legislativos da Constituinte de 1987-88 não

entravam com facilidade na pauta dos chargistas. A conclusão do primeiro projeto da Comissão de Sistematização

e a apresentação das emendas populares representaram importantes momentos de inflexão. A partir daí, o povo

tomou gosto pela Constituinte e o imaginário político apropriou-se dela. Aos poucos, os temas tratados no

Legislativo transformaram-se em matéria cotidiana dos brasileiros e a sociedade organizou-se para pressionar o

Legislativo.

Os chargistas povoaram o Congresso com a criação de personagens e situações que testemunhavam este

movimento de apropriação. Nos seus traços, o mundo político diversificou-se e novos atores foram incorporados.

Excelente viés para se avaliar esta maturação a quente da representação da Constituinte no imaginário popular, a

charge documentou, com sua linguagem de inversão e desordem, os vários momentos de impasses e crises

experimentados pela Assembleia.

Contrastando com a fria recepção do período inicial, as charges produzidas nos momentos próximos da

Promulgação da Constituição (5 de outubro de 1988) –reunidas nesta seção do livro, dedicada à recepção da

Constituição -evidenciaram a percepção popular da importância do evento histórico. Naturalmente ácidas e

venenosas, nesse momento assumiram a atmosfera coletiva de esperança e expectativa de mudanças. O tom e o

repertório alteraram-se. Havia, inclusive, um sentido de homenagem e de reconhecimento do trabalho legislativo

bastante positivo.

As representações da Constituinte presentes nestas charges -a travessia perigosa, a disputa de risco e de velocidade,

a festa transgressora –as imagens coletivas dos quadros parlamentares e, até mesmo, a recuperação de citações da

iconografia popular –o dragão da maldade contra o santo guerreiro -reforçavam o repertório que caracteriza a

Promulgação da Constituição como evento fundador. Estas expectativas de mudança, contudo, foram também

satirizadas.

Ao apresentar o mundo de ponta-cabeça, fazendo uso da linguagem do humor, a charge testemunhou este

movimento de apropriação popular da Constituinte. Longo tempo permaneceu nas barricadas da resistência ao

regime militar. Experimentava, no instável período de transição, o reencontro com a sociedade civil. A

Constituinte, com seu sentido de utopia, deu asas à imaginação dos desenhistas e chargistas. Eles não perderam a

oportunidade.

(Disponível em: http://www.redes.unb.br/salaodehumor/constituicao.php - Acessado em: 18/10/2014 às 17:29).

A Constituinte instalou-se e desenvolveu-se em contexto marcado por forte crise econômica. Teve início com a

crise de um plano econômico, desenvolveu-se durante a tentativa de aplicação de outro plano (Bresser) e terminou

com um novo ensaio (Mailson). A troca suscitava algum otimismo, ainda baseado no sucesso, também efêmero,

do Plano Cruzado. Os insucessos econômicos, contudo, marcaram o período. Cada novo plano econômico era

recebido com ceticismo e surpresa. Eram os temidos pacotes –como visualmente exprimiam os chargistas –com

seus desenlaces sempre dolorosos.

A charge do período decantou em imagens a percepção popular da crise econômica. Os personagens símbolo da

crise foram criados e estigmatizados. Desfilavam, nos traços dos artistas, o dragão da inflação, a carestia, a família

de flagelados, o congelamento de preços, os indexadores econômicos, o pacote, a cozinha dos economistas. A crise

econômica e seu universo simbólico singular eram um dos temas preferidos dos chargistas.

(Disponível em: http://www.redes.unb.br/salaodehumor/conjuntura.php - Acessado em: 18/10/2014 às 17:41.

A Constituinte foi marcada pela discussão de temas polêmicos e fortes debates. Algumas vezes, estes temas

misturavam-se com aspectos da conjuntura política e econômica. Com a afirmação da soberania da Assembleia,

estes elementos externos – política e economia – impactavam na discussão dos temas polêmicos, que assumiam

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dramaticidade. Algumas vezes, transformavam-se em buracos negros, expressão que designava impasse de

votação em Plenário por ausência de maioria para aprovação da matéria.

A discussão da duração do mandato presidencial –entretecida no debate sobre sistemas de governo –era destas

questões polêmicas, cuja definição conheceu várias mudanças. Cogitou-se, inclusive, manter a duração do mandato

prevista na legislação contemporânea (6 anos), mas o primeiro momento (anteprojeto da Comissão de

Sistematização) assistiu a fixação do mandato em 4 anos. A decisão foi revertida na crise que resultou do

surgimento do Centrão. Quando a matéria foi a voto em Plenário, a duração do mandato estabelecida em cinco

anos alcançou confortável maioria.

Este debate impactava diretamente na duração do governo Sarney, associação muito explorada pelos chargistas, e

foi uma das fontes constantes de crise na Constituinte. A indefinição da questão e os partidos e interesses em

choque eram temas em destaque nas charges. Algumas imagens desse debate político –o uso de mãos para

representar a duração de mandato, o design gráfico dos numerais 4, 5, e 6 para expressar as tensões políticas -

foram apropriadas e desenvolvidas.

(Disponível em: http://www.redes.unb.br/salaodehumor/mandato.php - Acessado em: 18/10/2014 às 17:44.

FONTE 10: charge de Claudius, publicada na Folha de São Paulo em 1985.Claudius Ceccon é arquiteto,

designer, cartunista, escritor e ilustrador. Foi chargista de inúmeros jornais, como O Estado de São Paulo,

Jornal do Brasil, Folha de são Paulo, O Globo; de revistas, como Manchete e O Pasquim, dentre tantos

outros periódicos. Na década de 1970 por discordar do regime vigente se impôs um exílio voluntário em

Genebra. Muitos dos seus amigos do Pasquim acabaram presos nessa época. Foi amigo de Paulo Freire e

desde netão tem se dedicado a vários projetos educacionais que visam a democratização da informação.

Muitos desses projetos já foram premiados.

(Disponível em: http://www.redes.unb.br/salaodehumor/cartunistas/claudius/4.Digitalizar0016.1985.jpg -

Acessado em: 18/10/2014 às 18:03).

FONTE 11: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 1988, disponível no

seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm Acessado em 13/11/2014 às 16:36.

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FONTE 12: charge do jornalista ilustrador, cartunista e artista plástico Kacio, Correio Brasiliense,

17/05/2014.

(Disponível em: http://www.redes.unb.br/salaodehumor/cartunistas/kacio/16.17-05-88-2%20tratada.jpg –

Acessado em: 18/10/2014 às 18:44). Você poderá conferir outras obras do artista no seguinte endereço eletrônico:

http://kacio.art.br/ - Acessado em 14/11/2014 às 17:44.

FONTE 13: charge do cartunista, artista

plástico e jornalista Henrique Gougon,

Traçando a Carta, 1988. Gougon executou

muitos mosaicos em Brasília, com painéis

que retratam personalidades da História do

Brasil.

(Disponível em:

http://www.redes.unb.br/salaodehumor/cartun

istas/gougon/2.00000060%20edit.jpg –

Acessado em: 18/10/2014 às 18:29).

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Unidade VI

OS JOVENS E A CARTA: uma cidade nas ruas.

Conteúdos tratados, estudados e debatidos:

- Os jovens e a participação política;

- A Constituição na vida dos Jovens: perspectivas e desafios;

Debate dos conteúdos, elaboração e orientações à realização das atividades sob a responsabilidade da Equipe

FUTUROS CONSTITUINTES.

FONTE 1: iconografia do ilustrador Gaetano, servidor do Senado Federal, publicada no Jornal da

Constituinte entre 27/07 e 02/08 de 1987.

(Disponível em: http://www.redes.unb.br/salaodehumor/cartunistas/gaetano/n9.Pag08x09.jpg - Acessado em:

18/10/2014 às 18:13).

FONTE 2: pintura La Libérte guidant le peuple. Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1798-1863) é

considerado o mais importante representante do romantismo francês. Embora o próprio pintor não se

reconhecesse assim, esse involuntário campeão da modernidade e do romantismo foi magnificamente

descrito por Charles Baudelaire (1821-1867) com o seguinte jogo de palavras: “Delacroix estava

apaixonadamente enamorado da paixão, mas friamente decidido a expressar a paixão com a maior clareza

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possível.” Em 1830 pintou o quadro A liberdade guiando o povo por se sentir culpado por sua pequena

participação na Revolução de Julho de 1830, ocorrida nos dias 27, 28 e 29 e que ficaram conhecidos como

Os Três Gloriosos. Em apenas três dias os franceses levantaram mais de 6 mil barricadas e derrubaram o

rei que tentava restabelecer o absolutismo na França, Carlos X. Em uma carta enviada para seu irmão

Delacroix afirmou: “ainda que eu não tenha lutado pelo meu país, no mínimo terei pintado por ele.

Comprado pelo governo francês em 1831, a mais conhecida obra do pintor foi, por muito tempo, poucas

vezes exibida ao público por ser considerada panfletária demais. Ficava claro às autoridades o quão

impressionante era, e ainda é, para seus expectadores. O quadro encontrasse exposto no Museu do Louvre

desde 1874. A pintura inspirou a Estátua da Liberdade dos Estados Unidos (1876) em Nova York e a Efígie

da República, presente nas nossas notas de Real. Notem que a Marianne é uma figura alegórica feminina, e

que ao ostentar o barrete frígio personifica os ideais do iluminismo expressos pela Revolução Francesa

(1789-1799): Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Agora saquem aquela nota de Cem Reais intimamente

agarrada as suas carteiras e procurem identificar o barrete frígio. O barrete também pode ser encontrado

estampado em muitos Brasões e Bandeiras do municípios e Estados brasileiros, como se no horizonte

bradássemos ao mundo o nosso desejo de construirmos um Estado-Nação formado por inúmeras Cidades

Iluministas.

(Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Eug%C3%A8ne_Delacroix_-

_La_libert%C3%A9_guidant_le_peuple.jpg – Acessado em: 28/01/2014 às 17:36).

Explicação e narrativa histórica elaborada pelo professor Rafael a partir das seguintes fontes: LIVROS: - AZEVEDO, Gislaine Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento: do século XIX aos nossos dias: ensino médio. São Paulo: Ática, 2010, pp. 14-15. - LYNTON, Norbert. Arte Moderna. Coleção: O Mundo da Arte: enciclopédia das artes plásticas em todos os tempos. Rio de Janeiro: Livrarai José Olympio Editora Expressão e Cultura, 1966, p. 13-14;

INTERNET, a partir dos seguintes endereços: - http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_Guiando_o_Povo - Acessado em: 14/11/2014 às 20:11. - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ef%C3%ADgie_da_Rep%C3%BAblica – Acessado em 14/11/2104 às 20:14. - http://www.belasartes.br/revistabelasartes/downloads/artigos/9/charles-baudelaire-e-a-analise-da-obra-romantica-de-eugene-delacroix.pdf - Acessado em: 14/11/2014 às 20:16. - http://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Delacroix – Acessado em: 14/2014 às 20:17.

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FONTE 3: charge do carioca Miguel Paiva para o jornal O Estado de São Paulo, publicada em 05/10/1988,

data da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil. Miguel Paiva é cartunista,

diretor de arte, escritor, autor de teatro, ilustrador, publicitário, roteirista de cinema, comentarista de

televisão e jornalista. Dentre os inúmeros periódicos para os quais colaborou, podemos destacar O

Pasquim, um semanário alternativo editado entre 1969 e 1991, que se destacou na luta contra a Ditadura

Militar. No início dos anos 80 bancas que vendiam jornais alternativos como O Pasquim passaram a ser

alvo de atentados planejados e executados pela dita Linha Dura da Ditadura Militar (sem trocadilhos).

Miguel Paiva viveu na Itália entre 1974 e 1980, é casado com a atriz Ângela Vieira. Dentre suas várias

publicações destacamos cinco livros em parceria com Luis Fernando Verissimo, escritor, filho de Érico

Verissimo.

(PAIVA, Miguel. O Estado de São Paulo, 05/10/1988 – edição histórica. Disponível em:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=40984 – Acessado em 13/10/2014 às

23:16).

FONTE 4: explicação e reflexões do historiador e filósofo Jörn Rüsen, professor emérito da Universidade

de Witten, estado alemão da Renânia Norte-Vestefália.

[...] o pensamento histórico não pode ser aprendido independentemente da política. Ele sempre é permeado e

determinado por elementos políticos. Isso pode acontecer de maneira imperceptível, como, por exemplo, quando

as estruturas de poder da vida política ganham validade nos processos de socialização dos indivíduos e se

reproduzem: o sistema de domínio em que o processo de educação ocorre sempre se inscreve por meio desse

processo também na subjetividade das alunas e dos alunos. Mas também pode ocorrer na forma de reguladores

explícitos: a estrutura de regras curriculares, seguidas pelo ensino e às quais os livros didáticos têm que responder,

também é uma forma política; nela se manifestam as pretensões de legitimação do Estado. Mas não apenas o

Estado se afirma politicamente no aprendizado histórico. As alunas e os alunos trazem consigo uma demanda por

reconhecimento para a sala de aula [...]. Eles projetam mentalmente seus status como potenciais cidadãs e cidadãos

na coisa pública. E lês têm que ser levados a sério. O saber histórico torna-se político na orientação pedagógica.

Ele sempre funciona (também) como meio da socialização política e esta função não se esgota na dimensão pura

do saber da consciência histórica.

(RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W. A. Editores, 2012, 172-3).

[...] os direitos humanos e civis podem surgir no horizonte de crianças e jovens como princípios abstratos de

Constituições modernas que parecem razoáveis e certamente valem como consenso e encontram confirmação de

todos. Contudo, neles parece faltar vida no horizonte temporal no qual alunos e alunas dirigem suas próprias vidas.

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Os direitos humanos e civis decaem como que num abismo entre, de um lado, princípios legais abstratos de

Constituições modernas e concepções e convicções políticas pessoais de outro.

Claramente, não é somente a falta de uma didática de direitos humanos adaptada em alguns materiais, e também

não é necessariamente essa falta que carrega a culpa por esse abismo, por mais lamentável que essa falta seja,

sobretudo na didática de História. Esse abismo se baseia muito mais, e talvez principalmente, na experiência atual

de que há uma contradição entre normas constitucionais de direitos humanos e a realidade política. A maioria dos

estados, nos quais os direitos humanos são sistematicamente desrespeitados devido à manutenção do poder, têm

uma Constituição com catálogos de direitos humanos e civis. A teoria constitucional e a realidade política divergem

entre si, e isso é percebido como ruptura e contradição de maneira tão intensa quanto as regras de direito

constitucional são fundamental e detalhadamente formuladas e codificadas. Essa contradição tem que ser superada

se o tema da História quiser ser mais do que um pedaço de decorada retórica política de fundamentos

constitucionais; se quiser, portanto, ser parte integrante da capacidade de julgamento político e da lembrança

histórica ativa na vida prática dos jovens. Como isso seria possível?

(Ibid., 195-6).

FONTE 5: narrativa e explicação histórica da historiadora norte-americana, nascida no Panamá, Lynn

Hunt, professora de História da Europa na Universidade da Califórnia:

[...] A longa lacuna na história dos direitos humanos, de sua formulação inicial nas revoluções americana e francesa

até a Declaração Universal das Nações Unidas em 1948, faz qualquer parar para pensar. Os direitos não

desapareceram nem no pensamento nem na ação, mas as discussões e os decretos agora ocorriam quase

exclusivamente dentro de estruturas nacionais específicas. A noção de vários tipos de direitos garantidos pela

Constituição – os direitos políticos dos trabalhadores, das minorias religiosas e das mulheres, por exemplo –

continuou a ganhar terreno nos séculos XIX e XX, mas os debates sobre direitos naturais universalmente aplicáveis

diminuíram. Os trabalhadores, por exemplo, ganharam direitos como trabalhadores britânicos, franceses, alemães

ou americanos. O nacionalista italiano do século XIX Giuseppe Mazzini captou o novo foco sobre a nação quando

fez a pergunta retórica: “O que é um País [...] senão o lugar em que os nossos direitos individuais estão mais

seguros?”. Foram necessárias duas guerras mundiais devastadoras para estilhaçar essa confiança na nação.

(HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, pp.

177-8).

Como seus predecessores do século XVIII, a Declaração Universal explicava num preâmbulo por que esse

pronunciamento formal tinha se tornado necessário. “O desrespeito e o desprezo pelos direitos humanos têm

resultado em atos bárbaros que ofenderam a consciência da humanidade”, afirmava. A variação em relação à

linguagem da Declaração francesa original de 1789 é reveladora. Em 1789, os franceses tinham insistido que “a

ignorância, a negligência ou o menosprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da

corrupção governamental”. A “ignorância” e até a simples “negligência” já não eram possíveis. Em 1948 todos

sabiam, presumivelmente, qual era o significado dos direitos humanos. Além disso, a expressão “males públicos”

de 1789 não captava a magnitude dos acontecimentos recentemente experimentados. O desrespeito e o desprezo

propositais pelos direitos humanos tinham produzido atos de uma brutalidade quase inimaginável.

A Declaração Universal não reafirmava simplesmente as noções de direitos individuais do século XVIII, tais como

igualdade perante a lei, a liberdade de expressão, a liberdade de religião, o direito de participar do governo, a

proteção da propriedade e a rejeição da tortura e da punição cruel. Ela também proibia expressamente a escravidão

e providenciava o sufrágio universal e igual por votação secreta. Além disso, requeria a liberdade de ir e vir, o

direito a uma nacionalidade, o direito de casar e, com mais controvérsia, o direito à segurança social; o direito de

trabalhar com pagamento igual para trabalho igual, tendo por base um salário de subsistência; o direito ao descanso

e ao lazer; e o direito à educação, que devia ser grátis nos níveis elementares. Numa época de endurecimento das

linhas de conflito da Guerra Fria, a Declaração Universal expressava um conjunto de aspirações em vez de uma

realidade prontamente alcançável. Delineava um conjunto de obrigações morais para a comunidade mundial, mas

não tinha nenhum mecanismo de imposição. Se tivesse incluído um mecanismo para impor as obrigações morais,

nunca teria sido aprovada. Entretanto, apesar de todas as suas deficiências, o documento teria efeitos não de todo

diferentes daqueles causados pelos seus predecessores do século XVIII. Por mais de cinquenta anos ele tem

estabelecido o padrão para a discussão e ação internacionais sobre os direitos humanos.

(Ibid., pp.205-6).

FONTE 6: fragmento do artigo O povo inventando o povo? publicado na revista Humanidades, às vésperas

do início dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988. O artigo é de autoria de João

Almino, diplomata e escritor brasileiro, autor de romances e escritos de história e filosofia política.

A mudança entendida como obra dos próprios homens, a capacidade que eles imaginam ter de substituir uma

ordem por outra, de realizar a constituição política ou fazer a revolução partem de condições que são próprias à

época moderna: o conhecimento de que a divisão social não é inevitável, conhecimento difundido pela Revolução

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Americana; a convicção da igualdade entre os homens vinda do nascimento e o surgimento da democracia e do

conceito de soberania do povo.

[...]

Mas é com a Revolução Francesa que constituinte e revolução passam a cristalizar historicamente o significado

que chega a nossos dias: num caso, fundação de uma ordem jurídica contrariando o sentido inglês da constituição

como o que já existe pela formação mesma do povo, da sociedade, da nação; no outro, fundação de uma nova

ordem política e social.

Embora a ideia de revolução entre no vocabulário político bem antes, é a experiência da Revolução Francesa que

vai fixar o conceito com o sentido que os grandes teóricos da revolução no século XIX vão mais tarde aprofundar.

Basta dizer que no início da Revolução Francesa, a palavra “revolução” é ainda utilizada para exprimir o caráter

cíclico e restaurador com o que o termo era usado na Idade Média, originalmente na linguagem astronômica. Como

lembra Hannah Arendt, fala-se, às vezes, para exprimir o que está acontecendo, em “contrarrevolução”.

A constituinte e a revolução passam a representar-se, assim, no mundo moderno, e sobretudo após a Revolução

Francesa, como os atos fundadores por excelência, em que se pretende que o próprio povo, através da mediação

de representantes eleitos ou de uma direção esclarecida, substitua ou possa substituir uma ordem por outra, um

sistema por outro. Supere a crise que deu origem ao desejo de mudança. Ou, como será dito mais tarde, realize ou

possa realizar a mudança estrutural.

É mais que coincidência que os casos exemplares da Revolução Burguesa e da Revolução Proletária tenham tido

um contato íntimo com a experiência da constituinte.

A tal ponto essa afirmação se aplica à Revolução Francesa, que o jovem Marx chegou a pensar que esta havia sido

obra da constituinte.

Na Revolução Francesa, a constituinte precedeu a revolução. Na Revolução Russa, a revolução antecipou-se à

constituinte. Rosa Luxemburgo defendeu que a revolução, mesmo que não desejasse aquela constituinte já

convocada, deveria convocar outra, pois só a constituinte, assim como a manutenção das liberdades de expressão

e de imprensa, legitimaria a revolução.

Não vamos, contudo, concluir que havendo constituinte, há revolução, ou vice-versa. Nem que constituinte e

revolução sejam a mesma coisa ou dois caminhos necessariamente divergentes de uma mesma necessidade

histórica.

Um e outro são feitos para realizar a grande mudança, para superar uma ordem (política, jurídica ou social),

estabelecendo outra, dividir claramente o tempo entre um passado identificado com o mal e um futuro instaurado

pelo bem, inaugurar o novo.

Num caso, a fundação se faz pelo direito. No outro, pela violência.

O tema do contrato social, que desde o século XVII deu suporte teórico aos movimentos revolucionários, tem hoje

em dia apenas a expressão empírica da constituição. O Estado é uma associação legal. É produto da ação de seus

membros em fazer uma constituição (seja esta sedimentada ao longo de uma linha de tempo ou elaborada num

ponto do tempo). A constituição de um Estado são os artigos de um contrato social ou político que constitui o

Estado.

Os movimentos revolucionários são também constitutivos de uma nova ordem, embora o instrumento da mudança

não seja visto como o direito, mas sim a força, a violência. Toda revolução se utiliza de instrumentos violentos

para alcançar o poder. À pratica da violência, se associa a violação da lei e da ordem. Marx chegou a dizer que

seria preferível realizar revoluções não-violentas, concluindo, porém, sobrea a sua impossibilidade. Engels, por

sua vez, define a revolução como o instrumento violento por excelência. Não é por acaso, assim, que os

movimentos revolucionários estejam associados à experiência do terror. Sob o despotismo da igualdade e da

liberdade de todos, interpretada pelos dirigentes, essa experiência esteve presente tanto na Revolução Francesa

quanto na Revolução de Outubro. O terrorismo contemporâneo, o que existiu no Brasil na década de sessenta, é

herdeiro de uma tradição revolucionária.

Revolução só é possível onde se pensa o Estado, pois ela necessita a referência ao poder estatal. Ela precisa passar

pela ideia de que o lugar simbólico do poder é conquistável e é o lugar da unidade e da identidade nacionais. [...]

Na concepção marxista, a revolução socialista seria única e instauradora de uma ordem definitiva. Daí se explica

a impossibilidade conceitual de uma revolução pós-revolucionária. Os movimentos sociais com características

revolucionárias que ocorrem onde se instalou a ideia da revolução socialista são necessariamente definidos como

contrarrevolucionários, pouco importando se são ou não movimentos populares ou até mesmo proletários. É o que

demostra, por exemplo, a experiência húngara de 1956.

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Na revolução, existe a ideia do novo e do início, a da ruptura com a tradição. Pressupõe também a igualdade entre

os homens, pois é esta que permite a subversão de uma ordem, e é esta que surge como meta a ser alcançada. A

liberdade é, ademais, ao mesmo tempo base para a ação revolucionária e objetivo dessa ação, já que as revoluções

se fazem visando à liberação do homem e ao estabelecimento de uma ordem livre.

(ALMINO, João. O povo inventando o povo? In: HUMANIDADES, ano 3, número 11, novembro/janeiro –

1986/1987, pp. 6-7).

FONTE 7: artigo do jornalista e professor da Universidade São Judas Tadeu, Francisco Moacir

Assunção Filho, para a revista História Viva. Moacir Assunção tem pós graduação em Ciências Sociais.

Especialista em História militar e movimentos sociais, colabora com diversas publicações com

reportagens nestas áreas, sendo que já publicou várias matérias nos jornais Estado de São Paulo e

Diário Popular (atual Diário de S. Paulo) e, nas revistas Isto É, Já e Problemas Brasileiros dentre

outros periódicos. Dentre seus livros destacamos Ficha Limpa – a Lei da Cidadania – Manual para Brasileiros Conscientes, Editora Realejo.

O povo no poder

Graças à mobilização da sociedade civil na década de 1980, o Brasil se tornou um dos poucos países no mundo

onde a população pode legislar diretamente

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos

desta Constituição.” – Parágrafo único do artigo 1o da Constituição de 1988

“A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para

todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular.” – Artigo 14 da

Constituição de 1988

A Constituição brasileira de 1988 é uma das poucas no mundo que garantem aos cidadãos a possibilidade

de exercer o poder político por conta própria, criando leis em benefício da coletividade sem depender da ação

de deputados e senadores [...]. No entanto, quase 23 anos após a promulgação da carta constitucional, o país

ainda está longe de praticar a democracia direta. O que prevaleceu até hoje foi a democracia representativa, na

qual os eleitores se limitam a eleger seus representantes – presidente, governador, senadores, deputados federais

e estaduais e vereadores –, delegando-lhes o enorme poder de legislar e governá-los, abrindo mão de participar

ativamente dos grandes debates políticos do país.

Toda regra, porém, tem sua exceção. A aprovação, em 2010, da Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar

135/2010), que proíbe a candidatura de políticos com problemas na Justiça, se tornou um dos raros exemplos

de legislação nascida da iniciativa popular que vingou. O outro caso de sucesso é o da Lei 9.840, aprovada em

1999, que pune com a cassação do mandato os políticos acusados de compra de votos.

As duas leis de iniciativa popular com caráter de depuração da política nacional têm produzido várias

mudanças para melhor na vida institucional do país: nas eleições do ano passado, a Lei da Ficha Limpa impediu

a candidatura de personagens de peso, como o ex-ministro Jáder Barbalho (PMDB-PA) e o ex-governador do

Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC-DF), entre muitos outros, acusados de malversação de recursos públicos.

E, desde que foi aprovada, a Lei 9.840 já levou à cassação de mais de mil administradores públicos, entre os

quais governadores e prefeitos. “As leis de iniciativa popular são um dos poucos momentos nos quais o

Congresso, que se concede aumentos de salários e legisla em causa própria, é obrigado a ouvir a sociedade”,

explica o cientista político Rubens Figueiredo.

Existem ainda outras duas normas legais que tiveram origem na mobilização da sociedade – a lei que cria o

Sistema Nacional de Habitação Popular (Lei 11.124/05) e uma legislação que pune mais severamente os crimes

hediondos (Lei 8.930/94) –, mas os processos de aprovação dessas medidas não representaram casos genuínos

de democracia direta. A primeira levou 17 anos para tramitar no Congresso, até a sua promulgação, totalmente

desfigurada, em 2005. A segunda foi adotada pelo governo, que enviou uma proposta de legislação sobre o

assunto ao Legislativo diante da comoção nacional gerada pelo assassinato da atriz Daniella Perez, filha da

autora de telenovelas Glória Perez, em 1992.

Anos de luta O pouco uso que a população faz hoje do direito de legislar em causa própria contrasta com a intensa

mobilização política que marcou a luta pela aprovação da legislação que criava as leis de iniciativa popular em

meados da década de 1980. Nos idos de 1983, quando se começava a discutir a nova Constituição, a sociedade

teve de fazer uma enorme pressão sobre os parlamentares para conseguir a inclusão do dispositivo no

ordenamento jurídico do país. “Era um tempo de grande efervescência política nos estertores da ditadura.

Havíamos tido os movimentos pelas eleições diretas para presidente pouco antes, e se via uma grande ânsia por

mudanças no ânimo popular”, relembra Chico Whitaker, ativista político e um dos principais líderes do

Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), rede de 50 organizações não governamentais que criou

a Lei 9.840 e a Ficha Limpa.

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A luta em prol da participação popular na Constituição foi lançada por dois grupos de ativistas, um em São

Paulo e outro no Rio de Janeiro, que se mobilizaram, no início do governo do então presidente José Sarney

(PMDB), para conseguir a eleição de uma Assembleia Nacional Constituinte com o objetivo de aprovar a

Constituição em lugar do Congresso. Os movimentos eram formados por grande parte dos militantes que haviam

lutado pelas Diretas-Já, em 1984, e pela aprovação da Lei da Anistia em 1979, e constituídos por intelectuais,

gente ligada à Igreja Católica, sindicalistas e estudantes.

Em São Paulo, o grupo autobatizado de Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte era integrado por

Whitaker, pelo jurista Fábio Konder Comparato e pelo senador Eduardo Suplicy (PT), entre outros. O grupo do

Rio era liderado pelo então bispo de Duque de Caxias, Dom Mauro Morelli, e pelo sociólogo Hebert de Souza,

o Betinho, irmão do cartunista Henfil e diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e-Econômicas (Ibase).

Logo, os dois núcleos se fundiram em uma frente única de luta pela participação popular na política do país.

A ideia da Constituinte exclusiva para a nova carta acabou não vingando, mas o movimento conseguiu a

aprovação de uma emenda ao regimento interno da Constituinte, assinada pelos então deputados Mário Covas

(PMDB), Plínio de Arruda Sampaio (PT) e Brandão Monteiro (PDT), que permitia a apresentação de emendas

populares, desde que elas fossem subscritas por 30 mil eleitores. Na luta em prol da constituinte exclusiva, as

ONGs haviam conseguido o apoio do deputado peemedebista Flávio Bierrenbach, indicado relator da proposta

de Constituição, que acabou sendo derrotado na votação. Pouco antes, Sarney havia criado uma comissão de 50

notáveis para redigir um projeto de Constituição. Indicado como um dos integrantes, Comparato se negou,

solenemente, a integrar a comissão, em protesto contra a proposta.

Os grupos organizados lançaram, então, a frase de efeito criada por publicitários paulistas: “Constituinte

sem povo não cria nada de novo”, para indicar a necessidade imperiosa da participação popular na elaboração

da Constituição. “Queríamos a Constituinte exclusiva, mas, já que havíamos sido derrotados, nos restou

pressionar os deputados, para fazer com que eles deixassem a porta aberta para a efetiva participação popular”,

afirma Whitaker. E foi isso que as entidades fizeram. Em pouco tempo, todo o país fervilhava com a criação de

entidades locais voltadas para a redação de emendas.

A pressão sobre o Congresso começava a dar resultados. Henfil e outros cartunistas publicavam charges nos

jornais e revistas mostrando a população organizada na Praça dos Três Poderes entregando emendas. Um

desenho feito especialmente para a campanha pró-participação popular na Constituinte mostrava três pessoas

empunhando uma caneta como se fosse um aríete para derrubar as portas do Congresso, simbolizando a luta

pela participação da sociedade. “Cada entrega de emenda era uma grande festa, com milhares de pessoas no

Congresso. A ideia era criar um clima de pressão sobre o Legislativo e demonstrar que a nação inteira vigiava

os deputados para ver o que sairia da Constituição”, conta Whitaker.

Na data marcada para a entrega das emendas, para a surpresa dos parlamentares, foram apresentadas 122

propostas, com mais de 12 milhões de assinaturas. As emendas versavam sobre os temas mais variados

possíveis. A que previa a participação popular chegou com 400 mil assinaturas.

A apresentação, no entanto, ainda não garantia nada. Em 5 de outubro de 1988, seria aprovada a nova carta,

que foi chamada pelo presidente da Assembleia, Ulysses Guimarães, de “Constituição Cidadã”. A

regulamentação da participação popular, no entanto, ainda demoraria dez anos para sair e só viria em 1998, com

a aprovação da Lei 9.709, que foi relatada pelo então deputado Almino Affonso (PSDB). O parlamentar, ex-

ministro do governo João Goulart, ainda se lembra do dia em que o projeto foi referendado pelo Congresso.

“Este foi, sem dúvida, o mais importante momento da minha vida parlamentar, nos quatro mandatos que exerci.

O projeto foi aprovado de forma unânime, com aplausos de todos os parlamentares.”

A lei que regulamentou a iniciativa popular na política criou três instrumentos para a população participar

diretamente dos debates legislativos do país: o plebiscito, no qual a sociedade é ouvida em consulta pública

sobre determinado assunto que, se aprovado, virá lei; o referendo, no qual os cidadãos são chamados a se

posicionar sobre uma lei já aprovada pelos parlamentares; e as leis de iniciativa popular. As duas primeiras

medidas precisam ser autorizadas pelo Congresso. A terceira, não. Até hoje, o Brasil usou o referendo para

discutir a questão da proibição ou não da venda de armas de fogo, em 2005 – com a vitória do não –, e o

plebiscito para decidir qual deveria ser o regime político adotado, com a vitória da república presidencialista

sobre a monarquia parlamentar, em 1993.

Vigilância permanente A regulamentação, no entanto, estabeleceu algumas normas difíceis de ser cumpridas para a aprovação de

uma lei de iniciativa popular, como a exigência da assinatura de 1% do eleitorado em cinco estados. Por isso, o

processo de elaboração, tramitação e aprovação de uma norma do gênero exige grande mobilização do grupo

interessado, para evitar que a iniciativa seja desvirtuada ou acabe esquecida em alguma gaveta obscura em

Brasília.

[...]

O que são leis de iniciativa popular Definidas no artigo 14 da Constituição e explicadas em detalhes no 61, as leis de iniciativa popular são

propostas de legislação feitas pela população organizada ou por entidades de classe que, se estiverem dentro

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dos parâmetros da legislação, devem ser acatadas pelo Congresso. Para propor uma lei de iniciativa popular, os

interessados devem coletar assinaturas de 1% do total do eleitorado brasileiro (hoje por volta de 1,6 milhão)

residente em pelo menos cinco estados, com porcentuais de 0,3% dos eleitores de cada região. Além das

assinaturas, os abaixo-assinados devem ter o número do título de eleitor da pessoa que os firmou.

Depois de apresentadas as primeiras leis desse tipo, o Congresso se deu conta de que não tem condições de

verificar as assinaturas dos abaixo-assinados. Assim, algumas das primeiras leis foram “adotadas” por

parlamentares, como forma de garantir sua tramitação, de iniciativa parlamentar. Em 2001, a Câmara criou a

Comissão de Legislação Participativa (CLP), órgão do próprio Legislativo que permite que eleitores e entidades

apresentem propostas de projetos de lei que, se aprovados pela maioria dos seus 18 membros, são levados

adiante pela Câmara.

Em 1999, a deputada federal Luíza Erundina (PSB-SP) apresentou a PEC 2/99, que facilita o exercício da

iniciativa popular ao autorizar que as propostas possam ser apresentadas por meio de texto subscrito por 0,5%

do eleitorado nacional, por confederação sindical, entidade de classe ou associação. Assim, a assinatura dos

trabalhadores em uma assembleia, por exemplo, valeria como prova de apoio a uma proposta de iniciativa

popular. “O nível de exigência para apresentar proposta atualmente é muito grande, o que desestimula a

participação”, afirma a parlamentar. Na opinião da socialista, a Câmara é resistente ao exercício direto da

democracia. “Muitos deputados encaram a democracia direta como uma ameaça”, acrescenta. Apesar de

apresentada há mais de 11 anos, até hoje a PEC não foi discutida porque os partidos não indicaram seus

representantes.

Como é em outros países As leis de iniciativa popular já integram a rotina institucional de países como Suíça, França e Estados

Unidos. Na Suíça, dois cantões (o equivalente a estados no Brasil) praticam o que se convencionou chamar de

democracia semidireta, em que a população discute nas praças os seus problemas. Na Alemanha, a participação

popular também é uma realidade.

Na América Latina, além do Brasil, vários outros países como Colômbia, Argentina, Bolívia, Costa Rica,

Equador, Nicarágua, Peru, Uruguai e Venezuela têm em suas constituições mecanismos de democracia direta,

como plebiscitos, referendos e leis de iniciativa popular.

(Disponível em: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/o_povo_no_poder.html - Acessado em:

05/09/2014 às 11:20).

FONTE 8: depoimento do professor e jurista Dalmo de Abreu Dallari, prestado aos autores do livro

História do Brasil: uma interpretação de Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota, em 15/02/2007. Dalmo

de Abreu Dallari é professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e professor

catedrático da UNESCO. Dentre seus livros destacamos: A Constituição na vida dos povos, Editora

Saraiva.

A alegação de que ela é demasiado longa e minuciosa esconde, na realidade, a resistência dos que não querem

perder privilégios tradicionais e dos que desejam eliminar da Constituição os direitos econômicos, sociais e

culturais, pois tais direitos exigem do Estado um papel positivo, de planejador e realizador, de, mero garantidor

deixando para trás o Estado-Polícia, mero garantidor de privilégios, antes protegidos como direitos. Quanto às

minúcias, elas eram e são necessárias para impedir que, sob pretexto da necessidade de esperar por leis

regulamentadoras, muitos direitos fiquem apenas na declaração formal, sem efetividade.

(LOPES, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. 3ª ed. São Paulo:

Editora Senac São Paulo, 2012, p. 912).

FONTE 9: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de 05/10/1988, disponível no

seguinte endereço eletrônico:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm Acessado em 13/11/2014 às 16:36.

FONTE 10: reportagem da Agência Brasil veiculando a opinião do então presidente do Supremo

Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, sobre a Constituição Federal, às vésperas da Carta Magna

completar seus 25 anos. Joaquim Benedito Barbosa Gomes é jurista e professor da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, foi advogado, procurador da República e ministro do Supremo Tribunal

Federal (STF), corte da qual foi presidente entre 2012 e 2014. Foi capa da revista Veja em 10 de outubro

de 2012, que trazia na capa a sua foto aos 14 anos, com a seguinte chamada: O Menino Pobre que Mudou

o Brasil (Edição 2290, ano 45, nº 41). Em 2013 foi incluído em uma lista de 10 brasileiros que foram

notícia no mundo em 2013, elaborada pela BBC Brasil. No mesmo ano foi eleito pela Revista Time como

uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Em setembro de 2013 uma foto falsa de Joaquim

Barbosa rasgando a Constituição Federal circulou amplamente pela internet. Para os mal intencionados,

ou mal informados que divulgaram a fotomontagem, o suposto ato de desrespeito ao Estado Democrático

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de Direito, teria sido motivado pela indignação do então presidente do STF com a impunidade dos

envolvidos no caso do Mensalão. Para dar maior credibilidade ao embuste, seus idealizadores chegaram

a criar a seguinte fala, supostamente proferida pelo ministro: “Somos o único caso de democracia no

mundo em que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram. Somos o único caso

de democracia no mundo em que as decisões do Supremo Tribunal podem ser mudadas por condenados.

Somos o único caso de democracia no mundo em que deputados, após condenados, assumem cargos e

afrontam o judiciário. Somos o único caso de democracia no mundo em que é possível que, condenados,

façam seus habeas corpus, ou legislem para mudar a lei e serem libertos.”

Barbosa diz que Constituição trouxe estabilidade institucional ao Brasil - 02/10/2013 - 22h15

André Richter - Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, disse hoje (2) que a Constituição

Federal, promulgada no dia 5 de outubro de 1988, trouxe estabilidade institucional para o Brasil. [...]

Na avaliação de Barbosa, a Constituição precisa ser aprimorada, pois algumas regras definidas em 1988 tornaram-

se obsoletas. “Daí a necessidade de mudança constante. O mais importante é que esta Constituição trouxe a

estabilidade institucional para o Brasil. É o mais longo período de estabilidade política. E mais, estabilidade com

plena democracia.”, disse o presidente do STF.

De acordo com o Joaquim Barbosa, a concretização dos direitos fundamentais previstos na Constituição ainda está

em processo. “A concretização da Constituição depende de uma série de fatores. Dentre esses fatores figura o jogo

das relações sociais. Há grupos sociais detentores de meios e poderes, recursos, de armas, fazem com que seus

direitos sejam de assegurados de maneira mais eficaz em relação a outros. Mas isso faz parte do processo histórico.

Com o tempo vamos aperfeiçoando isso e o ideal de garantia de direito de todos paulatinamente vai se concretizar”,

declarou.

[...]

Edição: Aécio Amado (Fonte: Arquivo Agência Brasil – Disponível no endereço eletrônico:

http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-10-02/barbosa-diz-que-constituicao-trouxe-estabilidade-

institucional-ao-brasil - Acessado em 14/10/2014 às 22:10).

FONTE 11: fotografia de manifestantes em junho de 2013, que protestavam em frente ao Congresso

Nacional contra a corrupção, os gastos com a Copa do Mundo e por maiores investimentos na Educação,

Saúde e Mobilidade Urbana.

(CAMPANATO, Valter. Brasília - Manifestantes protestam no Congresso Nacional contra gastos na Copa,

corrupção e por melhorias no transporte, na saúde e educação, 17/06/2013. Brasília: Agência Brasil.

Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2013-06-17/manifestantes-protestam-no-

congresso-nacional - Acessado em: 25/11/2014 às 22:34).

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VIVENCIANDO A HISTÓRIA.

Fórum escolar: PLEBISCITO CONSTITUINTE: DESAFIOS, RISCOS E

PERSPECTIVAS.

Realização: Junho de 2015.

1- Preparação do Fórum:

a) Marque o dia e o local.

b) Convide pessoas para apresentar propostas no Fórum Escolar, sugerimos:

- Alunos, funcionários e professores do colégio estadual professor Júlio Szymanski;

- Professores e estudantes de instituições do ensino superior;

- Integrantes do movimento Plebiscito Constituinte;

- Representantes de todos os partidos políticos atuantes em Araucária e Região;

- Representantes da Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED-PR);

- Representantes da APP – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná;

- Representantes da Secretaria Municipal de Educação de Araucária (SMED);

- Representantes do SISMMAR – Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de

Araucária.

- Representantes do Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica (LAPEDUH-UFPR);

- Representantes do NESEF;

- Representantes da Câmara Municipal de Araucária.

c) Convide pessoas para assistir aos debates, sugerimos:

- Alunos, funcionários e professores do Colégio;

- Pais ou outros responsáveis pelos alunos.

d) Nomeie um grupo de pessoas para fazer parte da mesa coordenadora dos Debates.

2- Realização do Fórum:

a) Cada pessoa convidada deverá levar, por escrito, a sua proposta ou a de seu grupo.

b) A cada participante será reservado um tempo para apresentar a sua proposta.

c) A plateia poderá fazer intervenções após a apresentação dos participantes.

d) Caberá à mesa coordenadora organizar e controlar o tempo das intervenções.

e) O conjunto dos participantes indicará uma comissão para elaborar um documento com

o conjunto das propostas. Este documento deverá ser lido, discutido e aprovado por todos que

participarem do Fórum.

3- Conclusões do Fórum:

O documento elaborado e aprovado durante o Fórum deverá ser divulgado a todos os membros

das instituições participantes, através da internet e de carta aberta.

* As orientações para a realização do fórum foram adaptadas a partir do livro didático da

professora Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, como poderá ser conferido nas

seguintes referências: SCHMIDT, Dora. Historiar: fazendo, contando e narrando a

História, 7ª série. São Paulo: Editora Scipione, 2007, p. 63.

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REFERÊNCIAS:

ALBUQUERQUE, Francisco Roberto de. Nota do centro de comunicação social do exército, 19/10/2004.

Disponível nos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/roteiropedagogico/publicacao/2745_APC_Notas_do_Exercito_sob

re_Herzog.pdf – Acessado em: 16/10/2014 às 10:46; http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR67052-

6009,00.html – Acessado em: 16/10/2014 às 1056.

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