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JANAINA APARECIDA DE MATTOS ALMEIDA OS CONSELHOS ESCOLARES E O PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÂO: HISTÓRIA, AVANÇOS E LIMITAÇÕES CURITIBA 2006 Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version

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  • JANAINA APARECIDA DE MATTOS ALMEIDA

    OS CONSELHOS ESCOLARES E O PROCESSO DE DEMOCRATIZAO:

    HISTRIA, AVANOS E LIMITAES

    CURITIBA2006

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  • JANAINA APARECIDA DE MATTOS ALMEIDA

    OS CONSELHOS ESCOLARES E O PROCESSO DE DEMOCRATIZAO:

    HISTRIA, AVANOS E LIMITAES

    Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno de grau de Mestre.Programa de Ps-Graduao em Educao.Setor de Educao. Universidade Federal doParan.

    Orientadora: Prof Dr Maria Dativa de SallesGonalves.

    CURITIBA2006

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  • AGRADECIMENTOS

    A

    Marcelo, meu querido companheiro,Pela presena em todos os momentos.

    Guilherme, meu filho, que desde cedo participa da minha vida acadmica.

    Madselva, minha querida amiga, companheira de todas as horas e das mais difceis.Meu ponto de partida para realizao desse trabalho.

    Madureira, meu amigo, aquele que guardo com carinho do lado esquerdo do peito.

    Meus amigos e familiares que compreenderam minha falta e, cada qual ao seumodo, contriburam para que esse trabalho de fato se efetivasse, especialmente,Sara, Victor, Gabriela, Ieda, Amandio, Csar, Irene, Euclides, Vov, Elio, Pedro,Joo, Gabriela (pequena), Mrcia Cristina, Gacho, Nancy, Medeiros, Loloi, Antonio,Ana, Adriana, Mrcia, Luciane, Loriane, Marcelo.

    Meus colegas e amigos da Universidade: Sebastio, Fernando, Conceio, Denise,Geraldo, Maridelma, Silvana, Samuel, Tmara, Cristiane, Regina, Jane, Fabiano,Maria Helena, Alessandra, Rodrigo, Renata.Um agradecimento especial aos Professores Fernando e Sebastio pelo incentivodesde o processo de seleo do mestrado.

    Meus alunos, que fazem parte da minha histria profissional e acadmica, agradeocom carinho a todos nas pessoas de Roberta Martins e Ubirema Lobo (curso dePedagogia) e Silvio Borges da Silva Jr. (curso de Letras).

    Professores do Mestrado: Regina, Jussara, Faria, Accia, Tais, Dativa.

    Professoras, ngela Hidalgo e Tais Tavares que aceitaram participar comoexaminadoras desse trabalho e a fazer parte dessa histria.

    Colegas do programa: Janete, Lice, Luzia, Paixo, Mrcia, Aparecida, Rubia,Manoel, especialmente Sandra pelos laos de amizade que se formaram.

    Um agradecimento especial a Lice, Luzia e Manoel que contriburam com a pesquisadesse trabalho com materiais e documentos histricos.

    Maria Dativa de Salles Gonalves, minha querida orientadora que acreditou napossibilidade desse trabalho contribuir para avanar nas discusses da perspectivada administrao colegiada na escola pblica.Agradeo pelas orientaes incansveis a esse trabalho sem as quais seriaimpossvel a sua realizao. Agradeo com carinho, sua firmeza e suacompreenso, principalmente, quanto aos meus limites histricos.

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  • A continuao da luta contra oburocratismo uma condio vital enecessria para xito da edificaosocialista.

    Lnin

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  • RESUMO

    Esta proposta de estudo tomou como objeto de estudo os conselhos escolares narede estadual de ensino paranaense. A anlise parte da proposio dostrabalhadores em educao desde a dcada de 80, no processo deredemocratizao do pas.Analisou-se criticamente a poltica de implantao e o modo de funcionamento dosconselhos escolares na rede estadual paranaense referente ao perodo de 1991-2006. Seu intento foi contribuir para compreenso de quanto esse rgo colegiadono estado do Paran possibilitou de fato a constituio de uma gesto escolarbaseada na perspectiva da democratizao das relaes de poder e deconhecimento no interior da escola, com a participao da comunidade escolar noprocesso de deciso das questes nucleares da escola.Procurou-se compreender as orientaes e os desdobramentos da gernciaempresarial na gesto da escola e as implicaes sofridas na escola pblicaparanaense em relao ao Conselho Escolar e a Associao de Pais e Mestres,principalmente na segunda metade da dcada de 90, em que h umareconfiguraao desses em consonncia com as novas determinaes do capital.Buscou-se levantar e discutir em linhas gerais as orientaes e os encaminhamentospresentes nas diretrizes das polticas educacionais nos atuais governos em nvelfederal e em nvel estadual em relao ao Conselho Escolar e a Associao de Paise Mestres.

    Palavras chave: conselhos escolares; gesto democrtica; administrao

    colegiada na escola pblica; participao da comunidade na escola.

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  • ABSTRACT

    The object of this study is to critically analyze the implantation politics and the functioningway of the school councils in the education state net in Parana, from 1991 to 2006. Itsintention was to contribute to understanding how much this collegiate agency in the state ofParana really made possible the constitution of a school management based in the perspectiveof democratization of power and knowledge relations in the school, with the schoolcommunity participation in the process of decision about its nuclear questions.

    It was intended to understand the orientations and the development of the enterprisemanagement at the school conduct and the implications suffered by the public school inParana, in respect to the school council and the Parent-teacher Association, mainly in thesecond half of the 90s decade, when there is a "reconfiguration" of these in accord with thenew capital determination.

    It was also tried to raise and argue, in general lines, the orientations and the directions presentin the direction lines in educational politics of the current governments, on federal and statelevels, in respect to school council and the Parent-teacher Association.

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  • LISTA DE SIGLAS

    APEOESP: Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de So PauloAPM: Associao de Pais e MestresAPMF: Associao de Pais, Mestres e FuncionriosAPP: Sindicato dos Trabalhadores da Educao Pblica ParanaenseAREI: Assessoria de Relaes Externas e InterinstitucionaisBM: Banco MundialBIRD: Banco Interamericano de DesenvolvimentoCADEP: Coordenao de Apoio a Direo e Equipe PedaggicaCBEs: Conferencias Brasileiras de EducaoCE: Conselho EscolarCEE/Pr: Conselho Estadual de Educao do ParanCF/88: Constituio da Repblica Federativa do BrasilCNE: Conselho Nacional de EducaoCNTE: Conselho Nacional dos Trabalhadores em EducaoCONSED: Conselho Nacional de Secretrios de Estado da EducaoECA: Estatuto da Criana e do AdolescenteFHC: Fernando Henrique CardosoFUNDEPAR: Fundao Educacional do ParanFUNDEF: Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e deValorizao do MagistrioFR: Fundo RotativoIAE/ SP: Instituies Auxiliares na Escola no Estado de So PauloINEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas EducacionaisLDBEN: Lei de Diretrizes e Bases da Educao NacionalMEC: Ministrio da Educao e do DesportoPCN: Parmetros Curriculares NacionaisPMDB: Partido Movimento Democrtico BrasileiroPNA: Programa Alimentao EscolarPNE: Plano Nacional de EducaoPNUD: Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPNDDE: Programa Nacional Dinheiro Direto na EscolaPPP: Projeto Poltico PedaggicoPROEM: Programa de Expanso, Melhoria e Inovao no Ensino MdioPSDB: Partido da Social Democracia BrasileiraPQE: Projeto Qualidade no Ensino Pblico do ParanREU: Regimento Escolar nicoREI: Regimento Escolar InternoSEED/PR: Secretaria Estadual de Educao do ParanSRD: Suprimento de Recursos DescentralizadosUDEMO: Sindicato de Educao do Magistrio Oficial de So PauloUFMG: Universidade Federal de Minas GeraisUNDIME: Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de EducaoUNESCO: Organizao das Naes Unidas para EducaoUNICEF: Fundo das Naes Unidas para Infncia

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  • SUMRIO

    INTRODUO .........................................................................................................11

    CAPTULO 1 A PERSPECTIVA DA ADMINISTRAO COLEGIADA NA ESCOLA

    PBLICA..............................................................................................................25

    1.1 Consideraes Iniciais ........................................................................................25

    1.2 O contexto de Implantao dos Conselhos Escolares no Brasil na Dcada de 80:

    Questes preliminares ........................................................................................26

    1.3 A Participao da Comunidade na Escola. Que participao? ..........................43

    1.4 Paulistas e Mineiros Experimentam a Administrao Colegiada. Em que Medida?

    .............................................................................................................................51

    1.4.1 O governo de So Paulo: a perspectiva da gesto colegiada na rede estadual e

    na rede municipal de ensino ...............................................................................53

    1.4.2 O jeito mineiro de discutir a administrao escolar colegiada: propostas e

    diretrizes .............................................................................................................62

    CAPITULO 2 O GOVERNO DO PARAN E O PROCESSO DE IMPLANTAO

    DOS CONSELHOS DE ESCOLA .......................................................................67

    2.1 Algumas Observaes .......................................................................................67

    2.2 As Faces de um Governo Contraditrio: uma Administrao Colegiada ou uma

    Administrao Administrada? ..............................................................................69

    2.2.1 A incoerncia materializada: regimentos escolares .........................................79

    2.3 Os Conselhos Escolares sob o Foco de duas Vises ........................................92

    2.4 Avanos, Limites e Possibilidade: uma Anlise da Implantao dos Conselhos

    Escolares na Rede estadual de Ensino Paranaense sob Diferentes Pontos de

    Vista ..................................................................................................................101

    2.5 O Papel de Coadjuvante: Atribuies do Conselho Escolar no Regimento Escolar

    nico..................................................................................................................107

    CAPTULO 3 A RECONFIGURAO DOS CONSELHOS ESCOLARES NA

    POLTICA DO GOVERNO LERNER .................................................................112

    3.1 Explicaes Necessrias ..................................................................................112

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  • 3.2 A Gerncia Empresarial na Escola Pblica Paranaense: a Obscura Poltica de

    Privatizao .......................................................................................................114

    3.3 Estratgias na Construo de um Lder: os Super-poderes do dirigente escolar e

    da Associao de Pais e Mestres ......................................................................126

    3.3.1. Guia da gesto escolar: orientaes prticas para o dia-a-dia da escola pblica

    ............................................................................................................... 135

    3.4. A poltica de fortalecimento das APMs escolares em detrimento aos Conselhos

    Escolares.Qual a lgica? ...................................................................................138

    3.5 Construindo uma gesto participativa: objetivos de uma APM .........................153

    3.6. A Deliberao 016/99: a legitimao da lgica da privatizao na escola pblica

    paranaense...................................................................................................... 159

    CAPTULO 4: CONSELHOS ESCOLARES E AS NOVAS DIRETRIZES

    GOVERNAMENTAIS (2003-2006) .................................................................. 171

    4.1. No Brasil e no Paran: indicaes e tendncias nos limites histricos ............171

    4.2. Programa nacional de fortalecimento dos conselhos escolares ......................174

    4.2.1. Conselhos escolares: democratizao da escola e construo da cidadania:

    primeiro caderno ............................................................................................... 176

    4.2.1.1. Funo social da escola pblica e conselhos escolares: a participao como

    tema gerador .................................................................................................. 176

    4.2.2. Conselhos escolares e legislao educacional ........................................... 182

    4.2.3. Atribuies e o funcionamento dos conselhos escolares ............................. 186

    4.3. Conselho escolar e a aprendizagem na escola: segundo caderno ................. 189

    4.4. Conselho escolar e o respeito e a valorizao do saber e da cultura do

    estudante e da comunidade: terceiro caderno .................................................. 197

    4.4.1. Que conhecimento deve ser trabalhado na escola? .....................................198

    4.5. Conselho escolar e o aproveitamento significativo do tempo: quarto caderno.

    ............................................................................................................................204

    4.5.1. Educao de qualidade e a organizao da escola .................................... 205

    4.5.2. De que forma a escola organiza as atividades escolares? ........................ 207

    4.5.3. Conselho escolar e o tempo pedaggico ......................................................209

    4.6. Conselho escolar, gesto democrtica da educao e escolha do diretor: quinto

    caderno ............................................................................................................. 211

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  • 4.6.1. O papel do conselho escolar na escolha dos dirigentes escolares .............. 212

    4.6.1.1. Gesto democrtica: a participao cidad na escola: a gesto democrtica

    na legislao ................................................................................................. 212

    4.6.1.2. A gesto democrtica: aprendizagem e exerccio de participao. Por que a

    gesto democrtica um processo de aprendizado coletivo? ...................... 213

    4.6.1.3. Gesto democrtica e a escolha de diretor ............................................... 215

    4.7. A retomada dos conselhos escolares nas diretrizes educacionais do governo

    paranaense: segundo governo Requio ........................................................ 218

    4.7.1. Contexto inicial: .................................................. ...................................... 218

    4.7.2. Estatuto do conselho escolar: encaminhamentos ....................................... 220

    4.7.3. Da natureza e dos fins do conselho escolar ................................................ 227

    4.7.4. Conselho escolar e associao de pais e mestres: novos caminhos? Algumas

    indicaes ................................................................................................. 233

    4.7.4.1. Uma primeira avaliao ..................................................................... 235

    4.7.4.2. Atualizao dos estatutos: o que muda? .......................................... 238

    CONIDERAES FINAIS ............................................................................. 241

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 256

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  • INTRODUO

    A proposio dos movimentos que defendem a escola pblica desde

    os anos 80 marcada pelo princpio da administrao escolar colegiada. Tal

    princpio est fundamentado na perspectiva da tomada coletiva de deciso, com uma

    nova postura e organizao do trabalho na escola tendo como pressuposto a gesto

    democrtica da educao.

    Essa perspectiva impe que o trabalho escolar deva ser pensado,

    discutido, organizado, desenvolvidos e sistematizados coletivamente, tendo como

    horizonte, a superao dos processos burocrticos, hierrquicos, centralizadores,

    antidemocrticos, nos quais, a diviso do trabalho significa a diviso entre o pensar e

    o fazer, dos dirigentes e dos dirigidos.

    Tais pressupostos buscam contrapor-se a uma sociedade que se

    organiza sob o modo de produo capitalista, e que tem como fim a acumulao da

    riqueza, com base na extrao e da mais valia e na explorao dos trabalhadores.

    Assim, pensar na forma coletiva de deciso extrapola os muros da escola, quando

    se tem como horizonte a construo do socialismo.

    Nesse sentido, a organizao da educao, seus objetivos e suas

    relaes de trabalho devem ser direcionados para a construo do homem que se

    considere como membro da coletividade, constituda pela classe trabalhadora em

    luta contra o atual regime que escraviza o homem em todos os aspectos, por um

    novo regime societal. Essa condio s ser possvel se cada membro da

    sociedade compreender o que preciso construir (PISTRAK, 2002.p.41). Tarefa

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  • nada fcil em uma sociedade e numa escola construda e edificada sob uma prxis

    burocratizada.

    A prxis burocratizada analisada por Vsquez (1977) o trao do

    Estado opressor que tem estreita relao com a explorao de todas as formas de

    trabalho e se constitui como fenmeno prprio de um sistema de governo no qual o

    Estado exclui qualquer participao popular. Quando concede ao povo a sua

    participao para legitimar as decises tomadas no interior dos gabinetes. Nessa

    condio o burocratismo se contrape democracia. Invade todos os organismos

    sociais e utiliza o que Chau (2000) chama de discurso competente1 para se

    sobrepor nas relaes entre os homens, na tentativa de impor a nica condio que

    entende ser possvel: adaptar-se s exigncias de um regime social determinado.

    Entretanto, mesmo nos limites da sociedade capitalista que impede a realizao

    efetiva da democracia possvel avanar no processo democrtico, para a

    superao desse regime.

    E, como apontou Marx, as necessidades histricas criam tambm a

    necessidade de criar novas formas que se contraponham s existentes. Se com as

    mos o homem aprendeu a vencer a resistncia das coisas e comeou a deixar

    marcas na natureza, pode no s vencer a resistncia das coisas, mas, modific-las,

    constru-las sob outro princpio, adquirindo um significado verdadeiramente humano.

    No caso especifico da educao escolar, a implantao do conselho

    escolar deliberativo, nas redes pblicas de ensino, deflagrada na dcada de 80

    conseqncia de um contexto poltico de luta pela (re) democratizao do pas e,

    indicava na sua origem a possibilidade de avanar dentro da escola, no seu espao

    1 De acordo com CHAUI, o poder burocrtico fundado na hierarquia, no segredo do cargo e narotina, em prticas antidemocrticas. A democracia segundo a autora se funda na igualdade contra a

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  • de contradio, na direo de uma administrao escolar antagnica centralizao

    de poder na figura do diretor escolar, e sem subordinao acrtica s diretrizes

    governamentais e aos processos fundamentados na natureza tcnica e burocrtica

    das polticas educacionais.

    Neste perodo, a realizao das Conferncias Brasileiras de

    Educao (CBEs) expressava o processo de organizao do movimento dos

    educadores e os temas em torno dos quais se delineava o debate educacional.

    Sendo que, a questo da democratizao da gesto da escola pblica ganhava cada

    vez mais expresso, inclusive, sendo incorporada essa diretriz em alguns programas

    de governo que disputaram o pleito de 1982, como o caso do Estado de Minas

    Gerais.

    O conselho escolar tem sido apontado nas ltimas dcadas por

    vrios autores como, Rodrigues (1993); Wachowicz (1992); Gonalves (1994); Prais

    (1996); Paro (2001); Antunes (2002); Santos (2004) e pelos trabalhadores da

    educao que defendem a escola pblica, ao lado de outras prticas, como por

    exemplo a eleio direta dos dirigentes escolares, como um espao fundamental

    para o processo de democratizao da escola pblica brasileira, pela socializao do

    poder do Estado e para a organizao do trabalho da escola na direo de

    democratizao do conhecimento.

    O conselho escolar entendido nesse estudo e defendido pelos

    autores acima citados, o rgo colegiado mximo e deliberativo de direo escolar.

    Constitudo e representado por meio de eleies diretas pelos seus pares, como um

    instrumento de democratizao no espao escolar. Representao que no se

    hierarquia, no direito informao contra o segredo e na inveno de novos direitos segundo novascircunstncias, ou seja, contra qualquer forma de rotinizaao, de simples adaptao.

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  • esgota no ato de eleger os representantes, ao contrrio, suas atribuies e a tomada

    de deciso e ao so estabelecidas de acordo com o Projeto Poltico Pedaggico.

    Este projeto deve ser tomado como expresso da construo

    coletiva dos trabalhadores em educao e da comunidade escolar. Um projeto

    organicamente articulado com os interesses da classe trabalhadora, ou seja, com a

    possibilidade da superao de uma escola dual constituda ao longo da histria da

    educao brasileira. Uma escola apoiada no princpio educativo do trabalho e no

    uma escola para o trabalho, para o mercado. Um projeto poltico pedaggico que

    toma a centralidade do conhecimento como atualizao histrica do homem.

    Sendo assim, um projeto de sociedade, de educao, de currculo,

    de contedo, de avaliao, de administrao escolar e de trabalho pedaggico, de

    mtodo de produo do conhecimento cientfico, como apontou Frigotto (1994) no

    pode estar desarticulado da luta mais ampla da classe trabalhadora.

    Deste modo, o conselho escolar tendo como horizonte a

    consolidao de um projeto poltico pedaggico que tenha como pressuposto esses

    elementos constitutivos, se organiza num movimento dialtico, inserido numa

    realidade histrica concreta, com limites reais, mas podendo, ao mesmo tempo,

    constituir-se em possibilidade, em fora material e de ao poltico - prtica

    enquanto avano na perspectiva da gesto democrtica da escola.

    Segundo Oliveira (2002), a gesto democrtica da educao

    reivindicada na dcada de 80 significava e continua a significar aps 25 anos de

    lutas e resistncias, a defesa de formas mais coletivas de deciso com a

    participao de toda a comunidade escolar em todo o processo educativo.

    Contrape-se, inclusive, segundo Spsito (1993) s formas que foram sendo

    historicamente constitudas de participao dos pais e da comunidade na escola.

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  • A democracia e a educao de acordo com Semeraro (2002) no

    podem ser plenamente entendidas sem reconhecer nelas as dimenses pblicas e

    socializadoras que foram se estabelecendo ao longo da histria poltica e

    educacional pelas classes populares. De modo que, ao lado de outras foras scio-

    polticas-culturais, a luta por uma escola pblica, universal e de qualidade

    empreendida pelos educadores brasileiros pode, tambm, se tornar uma poderosa

    contribuio para o processo de democratizao do pas.

    Segundo Semeraro (2002); Fvero (2002); Coutinho (1994;2000;

    2002); Chau (1989); Neves (2002); Saviani (1997); Snyders (1974); Gramsci

    (1989); Vsquez (1977), Manacorda (1996) um projeto de sociedade e de educao

    coerente e consistente, fruto de uma ao poltica concreta, de uma prxis que

    no se limita transmisso do conhecimento, mas, funda sua ao pedaggica no

    ato poltico, que se posiciona na defesa do carter pblico da escola; reivindica os

    direitos polticos e sociais para todos igualmente sem o que impossvel pensar

    num projeto de sociedade livre.

    De acordo com estes autores, uma prxis educacional s capaz de

    avanar se considerar o contexto sociopoltico local, mas, sem perder de vista a

    dimenso global, suas contradies e disputas hegemnicas e as novas

    possibilidades que se projetam, enfim, se tem como referncia a totalidade.

    Especificamente em Snyders (1974), Manacorda (1996) e Gramsci

    (1989) fica explicitado que a relao educativa s pode existir se estiver ligada

    vida, aos gostos e aspiraes e preocupaes dos alunos. Porm, sem se perder

    nos limites de suas experincias. A relao educativa no se d entre indivduos

    singulares, mas sempre entre indivduos que representam um complexo social. Alm

    disso, preciso faz-lo ir mais longe, ampliando seu horizonte de conhecimento.

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  • Firmar o envolvimento da educao com esse horizonte implica

    avanar nas discusses de propostas que carreguem em seu ncleo o combate

    manipulao e excluso. Propostas que contribuam enquanto processo de

    superao de formas antidemocrticas por processos de aprendizagem de prticas

    democrticas.

    Conforme apontou Coutinho (2002) a democracia deve ser entendida

    como um processo e no como um estado. Sendo assim, a democratizao tomada

    como um valor universal adquire formas concretas em determinados contextos

    sociais e histricos. Formas essas sempre renovveis, sempre passiveis de

    aprofundamento.

    Democracia, segundo Saes (1993) tambm um regime poltico. E

    como tal, ela consiste na configurao da cena poltica correlata forma

    democrtica de Estado (Saes, 1993, p. 22).

    Entende-se, a partir das contribuies de Coutinho (1994) e Saes

    (1993) que, para chamarmos de democrtico um sistema educacional, a educao

    tem que se tornar efetivamente um direito universal, para que toda populao se

    aproprie da cultura e do conhecimento produzido pela humanidade; ao mesmo

    tempo em que se garante a especificidade da educao devem ser assegurados

    espaos de expresso, de livre confronto de idias, para que a sociedade civil possa

    participar, no de discusses meramente tcnicas, financeiras e burocrticas, mas,

    na tomada de decises das linhas mais gerais do sistema educacional.

    Em Saes (1993) fica explicitado que para um Estado assumir sua

    forma democrtica2, necessrio que os membros da classe explorada possam

    exprimir abertamente sua inteno de participar atravs de um rgo de

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  • representao direta, do processo de definio e execuo da poltica do Estado,

    imprimir uma certa direo poltica do Estado. Mas que no se resume a isto. Ou

    seja, no basta que o Estado abrigue uma assemblia, onde se renam todos os

    membros da classe explorada ou os seus delegados para que haja democracia. Se

    tal assemblia no for capaz de intervir efetivamente no processo decisrio, e se

    estiver reduzida ao desempenho de um papel decorativo, a forma assumida pelo

    Estado no democracia (Saes, 1993, p. 23).

    Esta proposta de estudo tomou como objeto os conselhos escolares

    na rede estadual de ensino paranaense, foi feita a partir do entendimento de que os

    mesmos se constituem como uma das possibilidades de avanar no processo de

    democratizao e da socializao poltica do poder, para alm de um rgo

    decorativo no interior das escolas pblicas.

    O estudo em pauta fez-se, na abordagem terica metodolgica do

    materialismo histrico dialtico que considera as mltiplas determinaes dos

    fenmenos, sempre como expresso em ltima instncia da apropriao privada da

    riqueza humana e dos mecanismos de poder, no entendimento que a perspectiva

    pela qual se luta, choca-se com a permanncia de um Estado apropriado

    restritamente por um pequeno grupo de pessoas, por membros da classe

    economicamente dominante ou por uma restrita burocracia a seu servio

    (COUTINHO, 2002, p,17). E, muitas vezes esses mecanismos de poder se

    estabelecem via polticas educacionais, na gesto dos sistemas, na organizao do

    trabalho pedaggico e na administrao da escola.

    Concorda-se com Semeraro (2002) da necessidade cada vez mais

    urgente de voltar as atenes para as questes centrais do nosso tempo, saber

    2 De acordo com Saes (1993) em qualquer tipo de Estado (escravista, asitico, feudal, burgus) a democracia sse efetiva se houver a interveno efetiva do rgo de representao direta da classe exploradora no processo de

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  • perceber os rumos da democracia popular e as inmeras experincias educacionais

    presentes nos movimentos sociais que no se deixam subjugar por projetos

    impostos de fora e de cima, que no se deixam instrumentalizar pelo mercado, mas

    que se fazem portadores de uma concepo de democracia que institui sujeitos

    polticos ativos.

    O estudo que ora apresentado tem como principal objetivo analisar

    criticamente a poltica de implantao e o modo de funcionamento dos conselhos

    escolares na rede estadual de ensino paranaense referente ao perodo de 1991-

    2006.

    Desta forma, visa-se contribuir para a compreenso de quanto os

    conselhos escolares no Estado do Paran vem possibilitando de fato, a constituio

    de uma gesto escolar fundamentada na perspectiva da democratizao das

    relaes de poder e do conhecimento no interior da escola, com a participao real e

    substantiva de toda a comunidade escolar na tomada de deciso, naquilo que

    funo social da escola.

    Da mesma forma, intenta-se analisar se esse rgo colegiado atuou

    como mecanismo de resistncia ao autoritarismo e tica burocratizante presente

    em alguns governos, na medida em que vo se criando novas formas de

    organizao, de relaes de trabalho e prticas escolares, enquanto aes

    fundamentais para a construo de um processo emancipatrio. Ou, se por outro

    lado, foi se adequando, se modelando, se reconfigurando, numa forma extrada da

    anterior, na manuteno da ordem, da submisso e do controle. Aplicada

    mecanicamente a um novo processo, com uma nova roupagem servindo como

    instrumento legitimador da ordem neoliberal do capital.

    implantao da poltica de Estado.

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  • Para tanto, a presente dissertao est estruturada em quatro

    captulos. No primeiro, busca-se examinar brevemente, a partir da reviso

    bibliogrfica e emprica a proposio dos conselhos escolares deliberativos no Brasil,

    na dcada de 80. Toma-se como referncia histrica de implantao os conselhos

    escolares nos Estados de Minas Gerais e de So Paulo. Tal abordagem se justifica

    porque os primeiros movimentos de organizao de conselhos escolares

    deliberativos estiveram presentes nas diretrizes das polticas educacionais dos

    estados em questo e se materializaram por dois caminhos diferentes, mas com a

    perspectiva comum de democratizar e desburocratizar o processo de poder no

    interior das escolas.

    No segundo, a anlise decorre do teor da proposta de implantao

    dos conselhos escolares na rede estadual de ensino paranaense no inicio da dcada

    de 90, enquanto proposio dos educadores oriundos das discusses suscitadas na

    dcada de 80; verifica-se a sistematizao dessa proposta nas diretrizes

    educacionais, por meio de dois documentos, mas que apresentam perspectivas e

    entendimentos diferentes de como os conselhos escolares seriam naquele momento

    constitudos, representados e materializados na gesto da escola pblica: a

    Deliberao 020/91 do Conselho Estadual de Educao do Paran e a Resoluo

    Secretarial 2000/91 da Secretaria de Estado da Educao do Paran. Tal anlise se

    fez necessria para compreenso mais detalhada do processo de implantao desse

    rgo colegiado na rede estadual de ensino, os embates ocorridos, sua trajetria,

    seus encaminhamentos nas polticas educacionais, suas possibilidades e seus

    limites de avanar no processo democrtico da gesto da escola.

    Para entender melhor esse momento histrico buscou-se, alm dos

    dois documentos citados, analisar o material enviado a todos os professores da rede

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  • estadual intitulada Escola Cidad (1992) no qual foram sistematizadas as principais

    linhas de ao do primeiro governo Requio para a educao; bem como, a

    contribuio terica de autores que contriburam com a anlise do contexto poltico,

    econmico e social no estado do Paran desde a dcada de 80, inclusive com

    alguns indicativos do processo de implantao dos conselhos escolares. Entre os

    autores, Gonalves (1994); Wachowicz (1992); Evangelista e Schmidt (1992); Santos

    (1998); Silva (2001). Buscou-se tambm, considerar a Avaliao das polticas

    educacionais do Paran, (1991-1994) sistematizada pelo Frum em Defesa da

    Escola Pblica (1994) o que representa uma avaliao, pelo menos em parte, dos

    trabalhadores em educao do primeiro governo Requio. Procurou-se tambm, por

    meio do exame das Atas3 de reunies do conselho escolar compreender a natureza

    dos contedos discutidos no interior do conselho escolar, o processo de implantao

    e representao dos conselheiros e de que forma o conselho escolar ampliou a

    participao da comunidade na escola, no processo de deciso das questes

    substantivas da escola. Para a construo desse trabalho contou-se com a

    contribuio de diferentes posicionamentos daqueles que participaram desse

    momento histrico, por meio de entrevistas semi-estruturadas, como representantes

    da comunidade escolar (pais, alunos), trabalhadores da educao (professores,

    funcionrios, equipe pedaggica e dirigente escolar) representantes do Ncleo

    Regional de Educao da Regio Oeste, do Conselho Estadual de Educao do

    Paran, do Sindicato dos Trabalhadores em Educao e do Frum Paranaense da

    Escola Pblica, num total de vinte e trs entrevistas

    3 Para anlise das Atas de Reunies do Conselho Escolar (Cap. II e III) foi selecionada uma escola darede estadual de ensino, da regio oeste do estado, de grande porte que, nas suas caractersticasgerais, apresenta-se como uma escola que entre os anos 1995-2002 se contraps a algumasorientaes das polticas educacionais, do governo estadual, principalmente ao continuar a ofertarensino profissionalizante em nvel mdio e pelo fato de ser uma escola em que permaneceu a maiorparte dos professores no quadro dos governos pesquisados.

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  • Tais entrevistas possibilitaram compreender melhor as ocorrncias

    derivadas das diretrizes educacionais do primeiro governo Requio, no que diz

    respeito proposta de implantao dos conselhos escolares na rede estadual de

    ensino e seus desdobramentos nas diretrizes das polticas educacionais no governo

    Lerner, (1995-2002) que foi analisado no terceiro captulo bem como, os atuais

    encaminhamentos e orientaes presentes no segundo governo Requio,

    explicitados no quarto captulo desse trabalho.

    No terceiro captulo, busca-se apontar as orientaes e as

    conseqncias da gerncia empresarial que se tentou aplicar na escola pblica

    paranaense entre os anos de 1995-2002, em relao ao Conselho Escolar e

    Associao de Pais e Mestres, principalmente, aps a Deliberao 016/99 do

    Conselho Estadual de Educao que normatiza as mudanas dos Regimentos

    Escolares nas escolas da rede estadual de ensino pblico. A questo central desse

    captulo se estabelece ao tentar explicitar o movimento de reconfigurao dos

    conselhos escolares na rede pblica paranaense, a partir da segunda metade da

    dcada de 90, precisamente nas duas gestes do governo Lerner. Procurou-se

    investigar os reais motivos que levaram a Secretaria de Estado da Educao, a uma

    hiper valorizao das APMs em detrimento do Conselho Escolar, um rgo

    colegiado que na sua origem histrica tem como pressuposto a democratizao

    poltica da gesto da escola, examinando-se os mecanismos, instrumentos,

    estratgias na implantao das diretrizes do governo em questo.

    Constitui-se em moldura dessa anlise o contexto mais geral de

    reformas empreendidas em mbito nacional, desde a Conferncia Mundial de

    Educao para Todos em Jomtien (Tailndia, 1990) que acabaram por influenciar as

    proposies e encaminhamentos das diretrizes educacionais no estado do Paran.

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  • Para construo desse texto, alm da reviso bibliogrfica sobre o

    tema em mbito nacional e estadual, entre eles: Bruno (2002); Oliveira (2000);

    Azevedo (2000); Cunha (1995); Hidalgo (1998); Souza (2001); Gonalves (2002);

    Tavares (2004) e entrevistas semi-estruturadas, foram estudados os documentos

    especficos das diretrizes poltico educacionais no governo Lerner, especialmente os

    que tratam especificamente da gesto escolar e dos rgos colegiados, no intuito de

    organizar e entender as orientaes, encaminhamentos e a sistematizao desses

    na escola pblica, a partir, da realidade concreta e dos embates travados pelos

    trabalhadores em educao no interior das escolas e nas suas instncias

    representativas.

    A retomada nas diretrizes poltico-educacionais da proposio dos

    conselhos escolares, tanto em nvel nacional pela Unio, por meio do Ministrio da

    Educao e da Cultura, como em nvel estadual, nas orientaes e

    encaminhamentos feitos pela Secretaria de Estado da Educao paranaense

    resultante da mudana das foras polticas, a partir do pleito eleitoral de 2002, e

    provocou a necessidade de construir um captulo, que mesmo de forma ainda

    limitada, pudesse j suscitar uma discusso a respeito desta retomada,

    especialmente a direo poltica dada aos conselhos escolares em nvel nacional

    que, historicamente uma primeira sistematizao de diretrizes nacionais e, no

    segundo governo Requio que, historicamente implantouos conselhos escolares na

    rede estadual paranaense no inicio da dcada de 90.

    Para construo desse captulo foram selecionados dois documentos

    oficiais relativos s diretrizes e orientaes para a administrao colegiada por meio

    dos conselhos escolares: em nvel nacional, os Cadernos que embasam o

    Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, organizados e

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  • distribudos s escolas pblicas em 2004 pelo Ministrio da Educao e da Cultura

    (MEC); para o estudo especifico no Estado do Paran, as orientaes

    encaminhadas pela Secretaria de Estado da Educao para mudana no Estatuto do

    Conselho Escolar verso 2004; e o Estatuto do Conselho Escolar reformulado em

    2005.

    Ao final, so apresentadas algumas concluses que as reflexes permitiram.

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  • CAPITULO I

    O CONSELHO ESCOLAR: A PERSPECTIVA DA ADMINISTRAO COLEGIADA

    NA ESCOLA PBLICA

    1.1. CONSIDERAES INICIAIS:

    Neste captulo, estuda-se a perspectiva da administrao colegiada

    na escola pblica, a partir da tomada dos conselhos escolares como uma proposta

    de democratizao das decises na educao brasileira.

    Importa neste texto levantar questes que possibilitem a compreenso dos

    fundamentos nos quais est alicerada a gnese dos conselhos escolares, em suas

    mltiplas determinaes e contradies, numa sociedade dividida em classes.

    Analisam-se as relaes sociais e histricas que levaram a constituio dos

    Conselhos Escolares no cenrio educacional brasileiro, no incio da dcada de 80,

    tendo como horizonte, naquele momento histrico, a possibilidade de superao da

    ordem preestabelecida, num contexto poltico ditatorial.

    Tentando compreender os primeiros movimentos de organizao de conselhos

    escolares, na rede estadual de ensino, a primeira parte do Captulo I focaliza dois

    Estados brasileiros nos qual a proposio de implantao do Conselho de Escola

    esteve presente nas diretrizes governamentais, o Estado de Minas Gerais, sendo o

    precursor dessa proposta, seguido pelo Estado de So Paulo.

    A segunda parte do primeiro captulo busca visualizar o incio da

    participao da comunidade na escola brasileira; analisando como os pais e a

    comunidade escolar eram convidados a participar da escola desde a dcada de 30,

    e em que medida a Lei Federal 5692/71 ampliou esta participao. Considera-se

    ainda a possibilidade de que a bandeira defendida no que concerne implantao

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  • dos Conselhos Escolares na dcada de 80 significasse, alm da democratizao das

    decises, um avano quanto s formas anteriores de participao da comunidade na

    escola.

    1.2. O CONTEXTO DE IMPLANTAO DOS CONSELHOS ESCOLARES NO

    BRASIL NA DCADA DE 80: QUESTES PRELIMINARES.

    A satisfao das necessidades elementares cria necessidades novas

    e a criao de necessidades novas constitui o primeiro ato da histria4. a partir da

    necessidade histrica de combater, superar e se contrapor gesto autoritria do

    Estado, presente em todas as instncias da vida poltica e social, aps o golpe de

    Estado em 64 e, conseqentemente, presente na administrao escolar, que as

    propostas de eleio dos dirigentes escolares e de implantao dos Conselhos

    Escolares se tornam fortes proposies dos educadores e profissionais da educao

    no mbito das diretrizes polticas educacionais dos anos 80.

    Os conselhos escolares surgem de fato no cenrio educacional

    brasileiro no incio da dcada de 80, embalados pelo movimento de

    redemocratizao do pas. Isso foi resultado da reorganizao da sociedade civil que

    buscava no limite da sociedade capitalista, construir e ampliar espaos de

    organizao e participao popular em todos os setores da sociedade, no caso, da

    busca de uma nova organizao de trabalho e de administrao das escolas

    pblicas brasileiras, especialmente nos estados que elegeram governadores

    considerados de oposio (MDB) ao governo central (Cunha, 2001).

    4 Karl Marx. A Ideologia Alem. Introduo. P. XXV. Trad. Luiz Cludio de Castro e Costa. So Paulo:Martins Fontes, 2002.

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  • Essa nova organizao popular se alicerava na perspectiva da

    democracia como processo, ou seja, processualmente a sociedade buscava formas

    de participao e representao direta, tendo como horizonte a derrubada de um

    poder centralizador e autoritrio. Segundo Lima (2004), a dcada de 80 representou

    uma reorganizao de diversos setores sociais e de diferentes formas, como a

    organizao de conselhos populares, movimentos sociais, comunidade,

    manifestaes de rua. Na escola, foram reativados, pelo menos na forma de lei, os

    grmios estudantis livres5 ; conquistou-se a eleio de diretores, implantadas em

    alguns Estados, como o caso do Paran; e os Conselhos Escolares, que passaram

    em alguns Estados a compor o organograma da escola como instncia deliberativa,

    (como o caso de Minas Gerais e So Paulo). Foi um marco nessa questo, os

    conselhos escolares (colegiados) que at ento eram instncias consultivas6 (ou

    seja, no tinham poder de deciso, apenas de colaborao quando solicitados pela

    direo da escola).

    Tal mudana na natureza dos Conselhos Escolares, de consultivo para deliberativo,

    pde mudar substancialmente a sua especificidade, mesmo entendendo-se que por

    si s a mudana de natureza dos conselhos escolares no muda a concepo e o

    princpio de uma educao e de uma sociedade no democrtica, fundada num

    outro modo de produo social gerador de excluso. Concorda-se com a afirmao

    de Wachowicz (1992) que no se pode perder de vista, que a democratizao da

    escola se realiza no contexto de democratizao da sociedade, ela ao mesmo

    tempo produto e produtora da democratizao social.

    5 De acordo com a pesquisa do autor, os grmios estudantis como qualquer outra manifestaoliderada pelo movimento dos estudantes ficou proibida com o golpe de 64. A expresso livre refere-se possibilidade de organizao estudantil, aps 21 anos na clandestinidade, a partir, de 1985.6 A denominao Conselho Escolar surge nas Escolas da Rede Estadual de Ensino de So Paulopelo Decreto n. 11.625/78, com carter consultivo.

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  • Deste modo, os conselhos escolares podem indicar uma

    possibilidade de avanar no debate de construir uma escola realmente

    comprometida com a classe trabalhadora, como se pretende apontar no decorrer do

    trabalho.

    Assim sendo, os movimentos de democratizao social no

    aconteceram de forma mecnica ou consensual. Tratou-se de um processo de

    avanos e recuos, ganhos e perdas, nas interfaces das faces burguesas que ora

    defendiam a descentralizao do poder do Estado, ora uma abertura lenta e

    gradual(Cunha, 2001) na defesa dos seus interesses privatistas e particulares. Os

    avanos e conquistas polticas nesse perodo foram sendo ampliados pelos

    movimentos da sociedade civil, em especial pela mobilizao da classe trabalhadora.

    No campo educacional, os embates se deram em torno da defesa da

    escola pblica, gratuita e laica, bandeira ainda presente nas lutas e resistncias de

    que possvel construir uma escola comprometida socialmente com a classe

    trabalhadora. Pode-se afirmar, a partir de Rodrigues (1993) que, na educao os

    anos 80 ficaram marcados pela consigna do acesso, da permanncia e da qualidade

    do ensino na escola pblica para a maioria da populao. Na perspectiva das

    polticas educacionais, a discusso da democratizao no se deu de forma

    homognea. Uma das possibilidades de democratizao dos espaos escolares e

    conseqentemente, de garantir o acesso, a qualidade, a permanncia, foi a

    implantao da administrao colegiada, atravs dos conselhos escolares.

    De acordo com Paro (2001), os conselhos escolares provocaram

    muitas esperanas de instalao de uma verdadeira democratizao das relaes no

    interior da escola pblica. Embora essas esperanas ainda estejam longe de se

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  • concretizarem, no h como negar que, a partir da existncia dos conselhos,

    espaos foram sendo conquistados pela comunidade escolar,

    Quando comecei a trabalhar na escola pblica municipal em1993, escutava meus colegas professores comentarem que naescola estadual existia conselho escolar que contava com aparticipao da comunidade escolar; que tudo era discutido noconselho e que a diretora acabava aceitando as sugestes dogrupo, mesmo quando no concordava. Parece que era umafora dentro da escola. Hoje no sei se existe ainda conselhode escola na rede estadual, sei que existe a APM. Na redemunicipal no existe esse rgo colegiado (referindo-se aoconselho escolar), mas, tenho a impresso que seria umaexperincia positiva (Professora da rede municipal de ensino 1).

    Entretanto, os conselhos escolares no trouxeram s esperana e

    possibilidades. Trouxeram tambm temores, dvidas, receios, especialmente por

    parte dos diretores escolares, que sentiam a possibilidade de ver sua autoridade

    questionada. Esses temores apresentados pelos dirigentes escolares quanto

    constituio dos conselhos escolares estavam relacionados forma pela qual a

    escola se estrutura internamente, em termos da distribuio do poder e da

    autoridade na gesto do trabalho e das relaes que a se do,

    A esse respeito, ganha destaque o papel reservado ao diretor, comoautoridade mxima na instituio escolar. Na teia de relaes e normas quese estabelecem para o exerccio de suas atribuies e competncias, nodeixa de ser das mais importantes a maneira como esse profissional investido de suas funes na chefia da escola ( PARO,2003, p. 07).

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  • Neste sentido, os receios apresentados pelos diretores escolares

    estavam relacionados perda da autoridade, do controle da escola, ou melhor, da

    sua escola, dos seus professores, dos seus funcionrios, da sua

    administrao, do seu mando, inclusive, por no estarem preparados para uma nova

    organizao escolar diferente dos moldes at os momentos estabelecidos. No se

    pode esquecer da existncia de uma cultura de poder imperial da histria brasileira.

    Que se acha enraizada em nossa prtica cotidiana e que atribui sempre ao chefe o

    poder de deciso (RODRIGUES, 1993).

    nessa cultura que est alicerado o trabalho do diretor escolar e

    que foi sendo constitudo dentro dos princpios tericos da gerncia cientfica, que

    serviu de padro para a administrao educacional na dcada de 70, que por sua

    vez no estava descolada da situao geral do contexto brasileiro.

    A administrao escolar produto da construo histrica,

    fundamentada nos princpios da Administrao Geral, que na sua origem a

    utilizao racional de recursos para fins determinados e necessrios vida do

    homem, mas que, no modo de produo capitalista, assume, nas suas contradies

    sociais, o marco dos interesses polticos, econmicos e sociais decorrentes dos fins

    determinados por esse modelo de organizao social. No contexto dessa concepo

    hegemnica que est fundamentada a heterogesto7 (KUENZER, 2002).

    Sendo assim, a teoria geral da administrao, fundamentada na

    heterogesto, pressupe a diviso do trabalho, o aumento de produtividade,

    barateamento do custo da produo, como estratgia para consolidar maior lucro e

    maior acmulo de capital. Segundo esse modelo, a organizao do trabalho nas

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  • empresas, desenvolveu-se com base na diviso do trabalho, na especializao das

    funes, monopolizando o saber sobre o trabalho pela cpula da gerncia, restando

    ao trabalhador, apenas as habilidades tcnicas, dissociando assim, o pensar e o

    fazer, o trabalho intelectual do trabalho manual.

    No contexto dessa teoria, a administrao escolar no Brasil foi sendo

    constituda, tentando incorporar os mesmos procedimentos, tcnicas, mtodos e

    posturas aplicados na administrao de empresas, como se a natureza do trabalho

    escolar e da empresa fosse absolutamente igual e que a simples transposio dos

    mecanismos administrativos utilizados na empresa, enquanto gerncia pudessem

    ser adotados na escola, como se o cho da fbrica , fosse o cho da escola. Isto,

    segundo Paro (2000), deve-se ao fato de que, na Teoria Administrativa Escolar, a

    administrao encarada como um problema puramente tcnico, e que os

    problemas da escola so decorrentes apenas da m administrao escolar.

    Na realidade concreta, difundem-se a eficincia e a racionalidade na

    obteno dos objetivos; no nvel da ao, acabam por prevalecer os mecanismos

    puramente gerenciais, relacionados ao controle do trabalhador, ao contedo tcnico

    do trabalho; esses, por sua vez, no cotidiano da escola acabam por burocratizar os

    meios, rotinizam as atividades, promovem a automatizao das tarefas e esvaziam

    os contedos, comprometendo a realizao do fim educativo.

    Nesse contexto, a escola, como mostra Enguita (1989), passa a ser

    um lugar de ordem, autoridade e submisso. Os alunos vem-se assim inseridos nas

    relaes de autoridade e hierarquia, tal como devero faz-lo quando se incorporar

    7 KUENZER, A. Define o conceito de heterogesto como forma de controlar o trabalho do outro. Ocontrole do taylorismo, que encontra na gerncia a necessidade absoluta de impor ao trabalhador amaneira rigorosa pela qual deve ser executada.

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  • ao mundo do trabalho. Os professores subordinados aos ditames do dirigente

    escolar, por sua vez, utilizam a hierarquia contra seus alunos na sala de aula.

    Se, na indstria a desqualificao do trabalhador se deu pela diviso

    pormenorizada do trabalho, na escola o processo de expropriao do trabalho deu-

    se na medida em que a classe detentora dos poderes econmicos e polticos

    estabelece para a escola do trabalhador, de um lado, o mnimo -no que se refere

    organizao curricular, ao investimento e no financiamento dos recursos pblicos, na

    valorizao profissional, na garantia da qualidade de ensino, na democratizao nos

    processos de deciso e,de outro, o mximo - na dualidade do ensino, na

    centralizao das decises nas instncias executivas, no sistema de avaliao, na

    descentralizao do financiamento, na captao de recursos junto a comunidade

    local, na ausncia de uma poltica pblica com investimentos no campo educacional,

    no desenvolvimento de estratgias para instigar a competio em consonncia com

    as diretrizes dos organismos multilaterais.

    No que diz respeito administrao da escola, so desenvolvidos

    mecanismos de administrao enquanto gerncia do controle do trabalho alheio,

    com poder hierrquico, cada vez mais centralizado, em que o diretor assume o topo

    dessa hierarquia,como o representante da Lei e da Ordem, respondendo como

    preposto aos interesses do Estado, com o objetivo de resolver os problemas,

    gerenciar as dificuldades, encontrar solues para a manuteno da escola.

    Aos poucos, a funo do diretor escolar se resume a envolver-se em

    questes puramente burocrticas, determinadas pelos rgos superiores, vendo a

    sua autoridade legitimada pela habilidade de manusear tcnicas de gesto.

    Distancia-se assim do seu papel de educador, comprometido politicamente com a

    escola enquanto espao pblico, mantendo o compromisso administrativo-

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  • pedaggico, com o ensino-aprendizagem, onde dividir a autoridade implica formas

    de exerccio da direo que podem ser democraticamente organizadas por

    instncias de discusso que lhe d legitimidade e fora, como afirma Oliveira,

    Melhorar a qualidade da educao implica, antes de tudo, criar novasformas de organizao do trabalho na escola, que no apenas secontraponham s formas contemporneas de organizao e exerccio depoder, mas que constituam alternativas prticas possveis de sedesenvolverem e de se generalizarem, pautadas no pela hierarquia, maspor formas coletivas de trabalho, instituindo uma lgica inovadora no mbitodas relaes sociais (OLIVEIRA, 1998, p. 44).

    Partilhando dessa premissa, Frigotto (2002) estabelece que pensar a

    educao nessa perspectiva implica, a longo prazo, na ruptura com o sistema

    capitalista e a construo do socialismo. No plano imediato, uma sociedade

    participativa, reforando os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos polticos

    organicamente vinculados s lutas e s defesas dos direitos dos trabalhadores. Na

    prtica educativa, no cho da escola, implica compreender que os alunos e seus

    pais produzem vidas em seu bairro, na sua cidade, em seu pas e este em relao

    ao mundo. Entendendo que os processos educativos, escolares se constituem em

    prticas sociais mediadoras e constituintes da sociedade em que vivemos e,

    portanto, no so prticas sociais neutras e que, deste modo, podem se constituir

    em instrumentos de crtica s relaes sociais vigentes e tambm, promotores de

    uma nova sociedade que afirme o ser humano como medida de todas as coisas e os

    bens do mundo como bens de uso de todos os seres humanos.

    Neste sentido, a proposta de implantao de conselhos escolares

    uma possibilidade de criar dentro da escola, no seu espao de contradio, uma

    administrao exatamente antagnica centralizao de poder no indivduo, no

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  • chefe, no diretor e, sobretudo na superao dos processos fundamentados em

    natureza tcnico-burocrtica e no na sua especificidade de ao educativa. .

    O entendimento de uma administrao colegiada apoia-se na

    perspectiva coletiva de deciso, de participao e atuao e na perspectiva da

    escola como unidade coletiva de trabalho (CURY, 2000).

    Isto impe que o trabalho deve ser pensado coletivamente num

    horizonte comum, em que a diviso social do trabalho no significa a diviso do

    pensar e do fazer, dos dirigentes e dos dirigidos; todos contribuem para um resultado

    que nenhum homem isolado poderia produzir. Entretanto, o conselho escolar nessa

    perspectiva, ainda encontra srias dificuldades, no s na sua implantao, mas

    principalmente, entre a direo da escola e a comunidade escolar naquilo que

    realmente substantivo na ao dos conselheiros, na sua participao efetiva na

    tomada de decises.

    Segundo Marx, na mesma direo que o trabalho coletivo avana e

    com isso a organizao dos trabalhadores, avana na mesma medida a presso do

    capital para dominar a organizao e a resistncia dos trabalhadores. Isso decorre

    da forma em que exercida a direo pelo capitalista para dominar essa resistncia;

    deriva da natureza do processo de trabalho social e peculiar a esse processo na

    qual se destina a explorar um processo de trabalho social, e, por isso, tem por

    condio, o antagonismo inevitvel entre o explorador e a matria-prima de sua

    explorao,. Se se a direo capitalista dplice em seu contedo, em virtude da

    dupla natureza do processo de dirigir que, ao mesmo tempo, processo de trabalho

    social para produzir um produto e processo de produzir mais-valia ela , quanto

    forma, desptica. (KARL MARX. O Capital, p. 385).

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  • Esse despotismo pode assumir formas peculiares. Mas, seu

    pressuposto est fundamentado na subordinao dos trabalhadores ao processo de

    deciso estabelecido pela cpula, pela gerncia.

    Desta forma e como apontou Gonalves (1994), o carter pblico da

    escola, mantida pelo Estado, somente ser assegurado pela sua gesto democrtica

    que tem pressupostos antagnicos ao despotismo, tirania. Gesto democrtica

    entendida como a socializao do poder de deciso. Portanto, supe na escola,

    rgos colegiados, compostos por todos os segmentos organizados da comunidade

    escolar8 e representantes da sociedade civil comprometidos com a escola pblica.

    Pressupe que esses representantes tm compromisso com a maioria da populao,

    que se encontra desapropriada dos saberes e da produo historicamente

    desenvolvida pela humanidade.

    Neste sentido, rejeitam-se as apelativas e paliativas medidas

    adotadas nas diretrizes das polticas educacionais9 de comprometer a sociedade civil

    atravs campanhas publicitrias como amigo da escola, adote um aluno, seja um

    voluntrio entre outros que, atrelados ao iderio neoliberal que tem como parmetro

    as relaes de mercado, comprometem-se apenas com a manuteno de uma

    sociedade dividida em classes e com a ampliao do capital. Rejeita-se abrir o

    espao escolar para as relaes mercantis: de competio, de racionalizao, de

    desumanizao, nas quais as pessoas humanas so coisificadas e ajustadas a uma

    nova lgica mundial.

    8 Entende-se por comunidade escolar: a participao efetiva dos pais, alunos, funcionrios eprofessores.9 De acordo com Frigotto (2002)Diretrizes que assumem a centralidade a partir da segunda metadeda dcada de 90. In: Revista da III Conferncia Estadual de Educao. APP/ Sindicato. Estado doParan, 2002.p.22.

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  • De acordo com Paro (2001), um dos maiores problemas existentes

    que o conselho escolar tem sido tomado como um rgo isolado no interior da

    escola, descolado de uma poltica mais ampla e sria de democratizao dos

    espaos escolares, evidenciando muito mais a face burocrtica do que a sua

    inspirao democrtica (Paro, 2001, p.80). Pode-se dizer que a face burocrtica fica

    evidente quando o Conselho escolar convocado para avalizar a administrao do

    diretor, seja na prestao de contas, seja nos problemas disciplinares dos alunos.

    Isso significa que quando o administrador escolar precisa de um aval, de uma ajuda

    tcnica, o colegiado escolar cumpre o seu papel como mero ratificador do processo.

    Essa anlise traz elementos para a compreenso dos colegiados

    escolares, pois indicam que a institucionalizao dos conselhos por si s, pode

    causar fortes amarras e limites para atuao dos mesmos, dependendo dos

    princpios em que se estabelecem (LIMA, 2004) e que muitas vezes, em nome da

    legitimidade representativa, afastam a participao direta dos envolvidos.

    importante apontar que, no espectro maior, os Conselhos Escolares,

    diferentemente das proposies dos educadores, foram sendo constitudos como um

    apndice do diretor, em um contexto histrico de organizao escolar estruturada a

    partir dos princpios de uma sociedade dividida em classes; ou seja, em uma

    sociedade capitalista que procura em ltima instncia a manuteno das relaes

    sociais de produo, conforme sinalizou Hora (2002), com tendncia a perpetu-las

    e acentu-las,

    Soube que meu nome estava relacionado como membro doconselho escolar, quando fui chamada, juntamente com outros

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  • funcionrios da escola, pela diretora para assinar uma Ata decompra de materiais, no lembro que tipo de materiais, maslembro que a diretora falou que aquilo era uma questoburocrtica. Ningum questionou a diretora, apenas assinamos a Ata. Esempre foi assim, assinvamos as Atas sem questionar, nem ao menos lero que estava sendo assinado. A diretora tinha controle sobre tudo eachvamos isso natural. Todos os professores tinham medo de questionarqualquer coisa, criar caso, porque era transferido para outra escola e ficavamarcado na outra escola, inclusive pelos colegas. Hoje se eu estivesse naescola seria diferente (Relato - professora 2 -aposentada da rede deensino estadual paranaense )

    O relato da professora entrevistada demonstra que muitas vezes a

    proposta de conselho escolar ficou atrelada a questes puramente burocrticas,

    deixando as decises na mo e na confiana do dirigente escolar, assinando Atas

    das pseudoreunies do conselho escolar, sem participar de qualquer forma de

    discusso, nem entre os conselheiros e muito menos com o segmento que

    representa. Evidencia uma das formas despticas dentro do espao educativo que,

    aparentemente a diretora escolar nesse contexto apresentado pela professora

    entrevistada tinha boa inteno de (des)burocratizar o processo de compra, mas,

    que mascara a autoridade incondicional sobre os sujeitos ao transform-los em

    simples membros de um mecanismo a qual pertencem.

    Esse fato revela como as propostas de administrao escolar foram

    sendo constitudas e apresentadas no cenrio educacional fortemente marcado pela

    centralizao de poder de deciso na figura do diretor escolar, quando incluem a

    presena de Conselhos ou Colegiados, estes, na verdade, no se constituem em

    rgos de deciso superior ao diretor e sim, rgos que o assessoram ou colaboram

    na gesto da escola (GONALVES, 1994,p.103).

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  • Sem dvida, esse o grande desafio, a superao do colegiado subordinado aos

    ditames do diretor,

    A tomada de decises concernentes ao Projeto Poltico Pedaggico daescola, a definio das posies mais amplas, bem como o controle dasmesmas a grande funo deste rgo colegiado que deve reivindicarpoder poltico efetivo; que no pretende tirar do Estado as tarefas e, sim, asdecises (o poder). Portanto, somente um rgo colegiado comrepresentatividade, subordinando tambm o diretor (seu presidente) tercondies na escola de exercer o controle sobre o Estado, cobrando deleseus deveres e no o substituindo nas suasresponsabilidades(GONALVES, 1994,p.104).

    Desse modo, o efetivo funcionamento do colegiado escolar implica

    no somente a participao poltica, como tambm a socializao do poder,

    A democracia s se realiza plenamente na medida em que combina asocializao da participao poltica com a socializao do poder, quesignifica que a plena realizao da democracia implica a superao daordem social capitalista, da apropriao privada no s dos meios deproduo, mas tambm do poder de Estado, com a conseqente construode uma nova ordem social, de uma nova ordem socialista (COUTINHO,2002, p. 27).

    Socializao do poder que precisa ser construda porque no est

    dada, no est pronta, um aprendizado. uma prtica que se constri pela base,

    pela organizao e mobilizao dos seus sujeitos, professores, pais, alunos.

    A socializao de poder s se efetiva de forma direta e, quando

    delegada a funo aos representantes, esses representam um segmento e no

    representam a si mesmos. Pauta-se nessa perspectiva, o contedo da Indicao

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  • anexada Deliberao 020/91 que trata da Elaborao de Regimentos Escolares

    dos Estabelecimentos de Ensino de primeiro e segundo graus, do Sistema Estadual

    de Ensino do Paran, apresentada pelo Conselho Estadual de Educao do Paran

    em 1991,

    O conceito de gesto colegiada fundamenta-se na participao de todos ossegmentos da comunidade escolar, de forma representativa. A forma democrtica ecolegiada da gesto escolar tem encontrado sua expresso mais freqenteno Conselho de Escola, proposto como rgo mximo de direo, eresponsvel pelo projeto poltico-pedaggico da instituio. Fundamenta-setal proposta no conceito chave da teoria da democracia: a participao ondecada segmento da comunidade escolar, tenha seu espao institucionalassegurado, no somente para eleger seus representantes, mas tambmpara tomar suas decises e elaborar suas proposies (CEE/Pr Indicaon.001/91 fl.05).

    A Indicao acima afirma que a Instituio Escolar tem um carter

    social e pblico que no pode reduzir-se aos ditames de um segmento em

    particular, mas sim atender a interesses amplos, necessrios e definidos pelo

    coletivo da escola, no caso da escola pblica, tais interesses devem ser orientados

    pela direo que lhe der a maioria; esta pertence classe social expropriada da

    riqueza que cria o conhecimento que socialmente produzido do e qual pertence

    sociedade, na forma do saber sistematizado.(CEE/Pr, 1991).

    No documento organizado e distribudo pela rede municipal de

    educao do municpio de So Paulo em 1990, Em Defesa da Escola Pblica de

    Qualidade, encontram-se tambm alguns pressupostos de como deve funcionar um

    Conselho Escolar, com bases no coletivo,

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  • A escola deve ser um local de deliberaes coletivas, que expresse osantagonismos vigentes em nossa sociedade. S assim auxiliar o exerccioda cidadania e a construo da democracia. (...) Cada membro do Conselhodeve expressar no sua opinio individual sobre os temas tratados (comoem geral acontece), mas a de seus pares os temas do coletivo. Assim, osprojetos de Escola vo sendo definidos por todos num Plano Escolar,cabendo coordenao a tarefa de organizar as reunies, os debates e oconfronto de posies e interesses do conjunto dos participantes. ( Aceitaum Conselho? Secretaria Municipal de Educao-Prefeitura do Municpio deSo Paulo, abril de 1990)

    As referncias citadas acima revelam que ao mesmo tempo as

    discusses encaminhadas nos Estados de So Paulo e Paran tinham como

    horizonte a construo de uma esfera escolar mais prxima da (des)centralizao de

    poder das mos de poucos, para a centralizao das decises nos interesses da

    maioria.

    Encontra-se na Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    promulgada em 1988, no captulo referente Educao, os princpios em que ser

    ministrado o ensino. Destaca-se o princpio contido no inciso VI, do Art. 206, gesto

    democrtica do ensino pblico, na forma de lei igualmente foi retomado na Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional (9394/96) e na Lei 10.072/2001 que

    estabelece o Plano Nacional de Educao.

    A referncia gesto democrtica como princpio, institudo pela

    Carta Constitucional, resultado do movimento dos educadores pela

    democratizao da educao fortemente marcada na dcada de 80, seja no aspecto

    da gesto (eleio direta dos dirigentes escolares e instituio de rgos

    colegiados), da qualidade do ensino, do acesso e permanncia dos alunos na escola

    pblica, expanso da oferta em todos os nveis de ensino. Movimento que tambm

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  • reivindicava uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional e um Plano

    Nacional de Educao.

    Entretanto, quando aprovada a Lei 9394/96 e o prprio Plano

    Nacional de Educao frente a uma nova conjuntura poltica, ideolgica, foi

    desconsiderada toda a discusso, o debate e o envolvimento da sociedade civil,

    numa manobra poltica de aprovao de Leis articuladas e atreladas aos interesses

    dos organismos multilaterais, que tm como fim o setor produtivo e econmico,

    Os debates dos educadores durante uma dcada e suas formulaes e propostaspara a Lei de Diretrizes e Bases da Educao e, posteriormente, para o PlanoNacional de Educao, no eram compatveis com a ideologia e as polticas doajuste e, por isso, foram duramente combatveis e rejeitadas. (...) Todas as decisesfundamentais foram sendo tomadas em dose, nem sempre homeopticas, pelo poderexecutivo mediante a medidas provisrias, decretos leis e portarias. Podemosafirmar, sem risco de grave erro, que a LDB se constitui num ex-post que nopoderia afrontar ou dificultar as decises j tomadas. Coerentemente, ento, comoevidencia Saviani (1996) deveria ser uma LDB minimalista e, portanto, emconsonncia com a proposta de desregulamentao, de flexibilizao, dedescentralizao e de privatizao (FRIGOTTO, 2002, p. 23)

    Deste modo, o que est garantido na forma da lei, o princpio da

    gesto democrtica na escola, no garante de que forma ser instituda a gesto

    democrtica no interior da escola pblica e, principalmente, o que os arquitetos

    intelectuais das reformas educacionais compreendem como gesto democrtica.

    Pode-se afirmar que na contracorrente, experincias significativas na perspectiva de

    superao do autoritarismo no interior da escola, foram sendo constitudos em

    alguns Estados e municpios brasileiros, mesmo anteriormente a Promulgao da

    Constituio Federal 88, como so os casos do Estado de Minas Gerais e de So

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  • Paulo no incio da dcada de 80 que, consequentemente, dilataram a discusso no

    interior de outros Estados brasileiros.

    Historicamente, as polticas estimuladoras da participao da

    comunidade na escola pblica, antecedem s proposies de implantao dos

    conselhos escolares. Importa analisar em que medida se efetivava essa participao

    e de que forma os Conselhos Escolares ampliaram substantivamente a participao

    da comunidade na escola ou no.

    1.3. A PARTICIPAO DA COMUNIDADE NA ESCOLA. QUE PARTICIPAO?

    A participao da comunidade na escola no idia nova. Os

    reformistas educacionais no Brasil, a partir da dcada de 20 defenderam em grande

    parte a abertura da escola comunidade escolar. Proposta essa como apontou

    Spsito (1993), voltada ao ensino elementar das massas populares.

    Tal abertura de participao dos pais na escola teve como propsito

    a educao moral e cvica; ou seja, da moralizao dos costumes e na contribuio

    financeira dos pais na escola, atravs da caixa escolar10. A Caixa Escolar foi

    instituda em alguns Estados Brasileiros, como o caso de Minas Gerais, aps a

    promulgao da Constituio Federal de 1937. No caso especfico do Estado de

    10 Os estudos de Abranches (2003) apontam que a Caixa Escolar datada do final do sculopassado, como uma Instituiao organizada com a finalidade de integrar escola e comunidade,obedecendo ao principio assistencialista. Na Constituio Federal de 1937, a Caixa Escolar referidacomo sendo uma forma de solidariedade aos mais necessitados, O ensino primrio obrigatrio egratuito. A gratuidade, no exclui o dever e a solidariedade dos menos com os mais necessitados;assim, por ocasio da matricula, ser exigida aos que no alegarem, ou notoriamente no puderem

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  • Minas, a caixa escolar foi criada obrigatoriamente nos Estabelecimentos de Ensino

    Primrio, subordinada Secretaria de Estado da Educao pelo Decreto-Lei n. 734

    de 19 de setembro de 1940 e, nos Estabelecimentos Estaduais, atravs da

    Resoluo Secretarial n. 2289/77, com as principais finalidades:

    Fornecer merenda, roupas e calados aos alunos pobres doestabelecimeto; adquirir e distribuir livros didticos e materiais escolaresentre os alunos e conferir prmios escolares (aos alunos destaque); prestarassistncia mdica, farmacutica e dentria aos alunos carentes derecursos (Resoluo Secretarial n. 2289/77).

    Estas finalidades denunciam o carter assistencialista s crianas

    pobres, nas suas necessidades imediatas, supridas pela escola, atravs da

    contribuio dos demais pais, da comunidade em geral e de recursos repassados

    pelo poder pblico. A Caixa Escolar era constituda como uma sociedade civil com

    personalidade jurdica e de direito privado, regida por um Estatuto prprio e

    designada pelo nome da unidade a qual pertencia ou pela denominao escolhida

    na Assemblia Geral de sua constituio.

    Os recursos destinados Caixa Escolar at 1971 (depois disso,

    foram sendo introduzidos outros mecanismos de repasse financeiro escola, como

    veremos) pelo poder pblico eram contabilizados de acordo com o nmero de alunos

    de cada estabelecimento, sob a forma de suprimento, como pronto pagamento para

    pequenas despesas, reparos na escola e assistncia aos mais necessitados. O

    valor era calculado com base em nmeros de alunos em sala de aula, de cada

    estabelecimento de ensino.

    alegar, escassez de recursos, uma contribuio mdica e mensal ao caixa escolar.(Art. 130- CF de1937).

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  • De acordo com os dados da Secretaria de Estado da Educao de

    Minas Gerais11, de 1971 a 1977, a Caixa Escolar funcionava praticamente com os

    recursos arrecadados com a comunidade escolar, atravs de movimentos

    coordenados pelos prprios estabelecimentos de ensino. Conforme o Art. 9 da

    Portaria Secretarial n. 434/68, todo o produto arrecadado pela escola em qualquer

    caso deveria reverter-se integralmente para a Caixa Escolar, sendo necessrio fazer

    uma prestao de Contas por meio de balancete anual Secretaria de Estado da

    Educao. Aps esse balancete, os bens adquiridos pela Caixa Escolar se

    incorporavam ao patrimnio pblico estadual, sob a guarda e a responsabilidade do

    Diretor de cada estabelecimento de ensino.

    Concomitantemente s caixas escolares, foram sendo criados outros

    mecanismos para que os pais participassem das atividades escolares. Uma das

    formas foi a criao de Associaes de Pais e Mestres nas escolas pblicas no inicio

    da dcada de 30.

    O momento histrico da constituio do papel da Associao de Pais

    e Mestres, resgatado por Bueno (1987)12, como uma proposta apresentada pelo

    ento Diretor do Ensino do Estado de So Paulo, Loureno Filho13 em 1931. Tal

    proposta estava envolvida pelo iderio da escola nova com o objetivo central de

    despertar o interesse dos pais pelos trabalhos escolares dos seus filhos, o que

    significava um cunho mais voltado ao pedaggico e com carter facultativo, ou seja,

    a instituio da APM nas unidades escolares no era obrigatria. A partir da sada de

    11 Secretaria de Estado da Educao. Diretoria de Suprimento Escolar: criao da Caixa Escolar.Orientaes. S/d 09 p. Governo de Minas Gerais.12 Pesquisa realizada por Belmira Bueno em 1987, sobre as APMs no Estado de So Paulo.13 Loureno Filho teve participao ativa no manifesto dos pioneiros em 1932, em defesa daampliao da escola pblica. O Manifesto dos Pioneiros assinado por 26 representantes deeducadores, representou um primeiro movimento de organizao de um sistema de ensino no Brasil.

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  • Loureno Filho, da diretoria do ensino do Estado de So Paulo em 1934, mudanas

    foram sendo implementadas.

    De acordo com a pesquisa da autora acima citada, uma das

    primeiras providncias foi estabelecer o Estatuto padro para as APMs, deslocando

    a nfase da participao dos pais nas atividades escolares para o funcionamento

    administrativo e financeiro da escola pblica, na constituio e preservao do

    patrimnio da escola.

    Na avaliao de Sposito (1993), a transformao das Associaes

    de Pais e Mestres em entidades de existncia obrigatria na rede de ensino pblico

    exprime, assim, de um lado, Mais uma das modalidades que articulam o ethos

    autoritrio sobre a concepo da participao poltica da sociedade: ela entendida

    mais como um dever do que um direito, de uma cidadania tutelada e, portanto,

    submetida a regras burocrticas que disciplinam e recriam as estratgias de

    dominao. (SPOSITO, 1993, p.164).

    Essa forma de participao foi considerada to importante para o

    regime autoritrio que, na dcada de 70 a Associao dos Pais e Mestres assume

    carter obrigatrio em todos os estabelecimentos de ensino pblico. Esse canal aos

    poucos acabou tutelado por regras burocrticas, seja sob a tica do controle, seja

    sob as orientaes polticas extremamente conservadoras e centralizadoras. Neste

    sentido, a participao dos pais na escola estava limitada pelas aes pr-

    determinadas pela direo da escola que, por sua vez, estavam subordinadas s

    polticas governamentais.

    A partir da Lei Federal 5692/71, as APMs assumem carter

    obrigatrio dentro dos estabelecimentos de ensino pblico, e comeam a deslocar a

    sua nfase para a administrao escolar,

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  • Art. 62. Cada sistema de ensino compreender, obrigatoriamente, alm deservios de assistncia educacional que assegurem aos alunosnecessitados, condies de eficincia escolar entidades que congreguemprofessores e pais de alunos, com o objetivo de colaborar para o eficientefuncionamento dos estabelecimentos de ensino. (Lei Federal 5692/71, Art.62)

    Nos pargrafos primeiro e segundo do Art. 62, a referida Lei

    Federal, estabelece o cumprimento das determinaes legais,

    Pargrafo 1 .Os servios de assistnciaeducacional de que trata este Artigo destinar-se-o: de preferncia, a de garantir ocumprimento da obrigatoriedade escolar eincluiro auxlios para aquisio de materialescolar, transporte, vesturio, alimentao,tratamento mdico e dentrio e outras formasde assistencialismo (Lei Federal 5692/71)

    Pargrafo 2 . O poder Pblico estimular aorganizao de entidades locais de assistnciaeducacional, constitudas de pessoas decomprovada idoneidade, devotadas aosproblemas scio-educacionais que, emcolaborao com a comunidade, possamincumbir-se da execuo total ou parcial dosservios de que trata este artigo, assim comoda adjudicao de bolsas de estudo (LeiFederal 5692/71).

    De acordo com a Exposio dos Motivos n. 273, de maro de 1971,

    apresentada pelo ento Ministro da Educao e Cultura, Jarbas Passarinho, quanto

    Lei Federal 5692/71, que fixava diretrizes e bases para o ensino de primeiro e

    segundo graus, a educao era parte de uma grande reforma encetada pelo governo

    a partir, de 64. Os motivos estariam vinculados s transformaes profundas que se

    operavam na vida nacional brasileira. Nas palavras do Ministro,

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  • A educao tem figurado em posio de especial relevo. Firma-se, por fim, e torna-se cada vez mais ntida, a convico de que precisamente na escola, tomada emsentido amplo, se faz sntese do econmico e do social para a configurao de umdesenvolvimento centrado no homem e para ele dirigido. (...) o equilbrio estaria, empromover em cada momento, em qualidade e quantidade uma escolarizaocompatvel com o grau alcanado de progresso material, e vice-versa, de tal modoque a educao, sempre estivesse a corresponder mais desenvolvimento e,reciprocamente, do maior desenvolvimento sempre resultasse mais e melhoreducao (Jarbas Passarinho Exposio dos Motivos a Lei Federal 5692/71).

    Em relao participao da comunidade na escola, o entendimento

    do Ministro da Educao mostrava-se atrelado manuteno do ensino em parceria

    com a sociedade, enquanto responsabilidade compartilhada, rumo ao

    desenvolvimento do pas,

    A manuteno do ensino caracterizada comodever comum no s da Unio, dos Estados, doDistrito Federal e dos municpios como de paisou responsveis e empregadores. Ora, numpas que decidiu planejar-se, tambm naEducao a palavra de ordem ter de ser aracionalizao dos investimentos para que elaprpria venha a constituir o investimento nobre,por excelncia, por sobre o qual h deassentar-se o processo de desenvolvimento(Exposio de Motivos Lei Federal 5692/71).

    V-se aqui um clarssimo movimento (talvez inicial) de

    desresponsabilizao do Estado, quanto ao seu dever com a oferta do ensino

    pblico. Em vrios momentos, o Senhor Ministro faz referncia urgncia de

    reformar a educao para adequar as novas expectativas do pas em pleno

    desenvolvimento industrial, para um mercado de trabalho que necessitava de mo-

    de-obra especializada. Nas palavras do Ministro, em termos de escola, a dura

    verdade que devemos ser todos iguais, mas no o somos. Apenas, no h como

    enganar-nos , pretendendo que desde j, em todos os pontos do territrio nacional,

    se entre a praticar artificialmente a mesma escolarizao. assumido o

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  • entendimento de que existiro qualidades diferenciadas de educao: neste sentido,

    uma educao dual o pressuposto.

    De acordo com Kuenzer (2002), a Lei Federal 5692/71, assim como

    a 4.024/61, Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, obedeceram as

    transformaes havidas no mundo do trabalho, determinadas pelo crescente

    desenvolvimento industrial decorrente do modelo de substituio de importaes. A

    reforma do ensino props um ajuste nova etapa de desenvolvimento, marcada pela

    intensificao da internacionalizao do capital e pela superao da substituio de

    importaes pela hegemonia do capital financeiro.

    A reforma do ensino, sugerida na indicao da Lei 5692/71, quanto

    sugesto de estimular a organizao de entidades de Assistncia social e a

    manuteno do ensino pblico como co-responsabilidade dos pais e responsveis,

    desvelava as polticas sociais encaminhadas pelo poder pblico. Polticas sociais,

    essas, vinculadas acumulao do capital, cujas razes se encontram no mundo da

    produo, que no cotidiano das lutas polticas, o governo vai fixando a orientao da

    poltica econmica e da poltica social (VIEIRA, 1992), no tendo como

    compromisso a superao do sistema capitalista. Acumulao essa que vai

    determinar a relao entre educao e o desenvolvimento das foras produtivas e a

    relao entre educao e trabalho.

    Neste sentido, a Associao de Pais e Mestres, quando surge na escola, aps

    5692/71, j parece estar comprometida, enquanto princpio, com a privatizao da

    forma pblica. Enquanto a primeira proposta de Instituio das APMs nas escolas

    pblicas brasileiras na dcada de 30 estava vinculada participao dos pais na

    escola, com um cunho pedaggico, a segunda, j estava comeando a vincular-se

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  • com a manuteno estrutural e financeira da escola pblica, comprometida em

    ltima anlise com os interesses e com a manuteno do sistema capitalista.

    Um dos pontos apresentados nas discusses quanto implantao

    dos Conselhos Escolares nos anos 80 era exatamente da horizontalidade nos

    processos decisrios e das relaes de poder, alm de resgatar o sentido

    pedaggico da participao da comunidade na escola