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OS CONCEITOS DE ÁREA E VOLUME PRESENTES NA FABRICAÇÃO DE
UM ROUPEIRO, POR MEIO DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Rosana Maria Ferro1
Angela Sacamoto2
RESUMO
Esta artigo relata uma implementação realizada durante a participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), proposto pela Secretaria Estadual de Educação (SEED), como parte integrante da formação continuada aos professores da rede estadual de ensino, que se propõe integrar o pensamento encontrado na formação acadêmica e as experiências dos professores em sala de aula. As atividades elaboradas foram implementadas no Colégio Estadual “Antonio Garcez Novaes” da cidade de Arapongas no segundo semestre do ano de 2011. A Resolução de Problemas foi a estratégia metodológica utilizada para o estudo de conceitos presentes na realidade socioeconômica do município e que trazidas para sala de aula foram fundamentadas a partir dos conceitos de área e volume. Utilizar esta estratégia metodológica implica no trabalho de forma diferenciada do que estamos habitualmente acostumados. Aos alunos foram oportunizadas situações de trabalho em grupo, elaboração de estratégias de resolução, formulação de conjecturas possibilitando a construção de suas próprias conclusões. Esta estratégia proporcionou, também, a reflexão, o envolvimento e a participação dos alunos e contribuiu para que os conceitos de área e volume fossem construídos de forma gradativa e envolvente.
Palavras-chave: Resolução de Problemas; área; volume; produção de rouperios.
1 INTRODUÇÃO
O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) consta de
importante ferramenta implementada pela Secretaria de Estado da Educação
1 Professora PDE 20102 Professora do Departamento de Matemática – UEL – Londrina - PR
1
(SEED) na formação continuada de professores, pedagogos e gestores da
educação pública paranaense. Integrando a educação básica e a educação
superior, por meio de parceria com as Instituições Públicas de Ensino Superior
(IES), o programa prevê entre outras ações, a elaboração e implementação de
atividades em sala de aula como forma de pesquisa, análise e aperfeiçoamento
da qualidade do ensino e da aprendizagem paranaense orientadas por um
professor da educação superior.
Nesta proposta, o projeto de intervenção utilizou como material didático
um caderno pedagógico composto de seis tarefas elaboradas pela professora
em conjunto com a orientadora da IES, que permitiram a integração entre a
Matemática de sala de aula e a aplicação destes conteúdos na vivência
cotidiana dos alunos.
A busca pela qualidade do ensino de Matemática tem proporcionado
estudos e experiências enriquecedoras. Dentre elas, destacam-se as que
propõem o envolvimento do aluno no processo de ensino e aprendizagem.
Ainda neste sentido, um dos problemas enfrentados diariamente por
educadores da área é a compreensão dos conteúdos matemáticos e de sua
aplicação na vida cotidiana do aluno. Situação que se intensifica quando
lidamos com o ensino médio.
Uma das metodologias que vem de encontro com o anseio de tornar
dinâmico e envolvente o processo educacional matemático é encontrada na
Educação Matemática, por meio da estratégia metodológica da Resolução de
Problemas, tendência que entende o aluno como colaborador e construtor do
ensino e aprendizagem.
Neste sentido, a experiência descrita neste trabalho partiu do
pressuposto de aliar conteúdo matemático de sala de aula e a realidade em
que o estabelecimento de ensino encontra-se localizado.
Tratamos os conceitos de área e volume com alunos da primeira série
do ensino médio, a partir da atividade industrial da produção de roupeiros na
cidade de Arapongas – PR., onde se encontra localizado o maior polo
moveleiro do Paraná.
Composto por pesquisas sobre o objeto de estudo e possibilidades
encontradas na atividade o trabalho se mostrou envolvente e dinâmico, o que
trouxe interesse aos alunos.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
A Matemática constitui uma importante área do conhecimento humano,
sendo ensinada no mundo todo.
Apesar de ser constituída por conteúdos presentes nos mais diversos
ramos da atividade humana, por muitas vezes é vista como um grande repetir
de formas, fórmulas, procedimentos e apontada como desconexa causando,
em alguns casos, repulsa por parte dos alunos.
Na busca por novas estratégias e metodologias que propiciem a
interpretação, a construção de instrumentos próprios na busca de soluções, o
desenvolvimento do raciocínio lógico e o estabelecimento de conexões com as
situações análogas vivenciadas no dia a dia, encontramos a Educação
Matemática, que engloba inúmeros saberes e fatores que influenciam os
processos de ensino e aprendizagem, além de investigar como se dá o
processo de compreensão e apropriação da Matemática pelo aluno. Busca um
ensino que “possibilite aos estudantes análises, conjecturas, apropriação e
formulação de conceitos.” (PARANÁ, 2008)
(...) podemos dizer que a educação matemática é uma área de estudos e pesquisas que possui solidas bases na Educação e na Matemática, mas que também esta contextualizada em ambientes interdisciplinares. Por esse motivo, caracteriza-se como um campo de pesquisa amplo, que busca a melhoria do processo ensino-aprendizagem de Matemática (FLEMMING, 2005, p.13)
Trabalhando pela melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem, a
Educação Matemática mantém pesquisas constantes sobre formas de ensinar
e aprender a mesma. Neste trabalho surgiram as Tendências em Educação
Matemática que são estratégias com os quais os conteúdos podem ser
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abordados de maneira mais significativa, com objetivo voltado para o
envolvimento e crescimento do aluno no que diz respeito ao ensino de
Matemática. Uma dessas estratégias metodológicas é a Resolução de
Problemas.
Podemos entender a estratégia metodológica Resolução de Problemas
como parte integrante do ser humano. Somos habituados a resolver problemas
de diferentes ordem e contexto. Para Polya (2006), a capacidade de resolver
problemas é o que difere o homem dotado de inteligência e capacidade de
contornar situações dos demais animais.
No contexto escolar a disciplina considerada responsável por resolver
problemas é a Matemática. Desde seus primórdios, a Matemática se mostrou
eficiente na arte de resolver os mais variados problemas enfrentados pela
humanidade. Sua contribuição na própria evolução humana e nas verdades
que hoje aceitamos é incontestável.
Os problemas sempre foram utilizados, em Matemática, como estratégia
de aprendizagem. Durante décadas fomos habituados a encontrar livros
didáticos e materiais de apoio recheados de problemas a serem utilizados
como norteadores das estratégias propostas para o início de um novo
conteúdo, ou fixadores desses conceitos e conteúdos. O que percebemos
ainda é que muitas vezes esses problemas são expostos sem a preocupação
com seu significado para os alunos e que na verdade, trata-se de um grande
número de exercícios de repetição de algoritmos e fórmulas.
A Resolução de Problemas, enquanto estratégia metodológica proposta
pela Educação Matemática possui um caráter mais abrangente e propõe, por
meio de sua utilização a compreensão de conceitos matemáticos, via
construção e contextualização das situações apresentadas. Essa estratégia
tem se consolidado como importante e poderosa ferramenta pedagógica no
ensino de Matemática, como fomentadora da autonomia, da interpretação e
compreensão, da elaboração de estratégias de resolução e da análise dos
resultados encontrados.
Para que o trabalho com a estratégia metodológica Resolução de
Problemas, proposto pela Educação Matemática aconteça é necessário uma
inversão na sequência cronológica desenvolvida na grande parte das aulas de
Matemática: definição, exemplos, exercícios, exercícios de fixação, situações-
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problemas. Os conteúdos são abordados conforme forem necessários para a
resolução da situação proposta. Nessa perspectiva, a ideia inicial e importante
para o trabalho é a escolha de um bom problema.
Um bom problema é aquele que suscita no aluno o gosto e a curiosidade
pela descoberta. Pode fazer com que o aluno se interesse pela Matemática,
aprimore o raciocínio e amplie seus conhecimentos. Não significa que um bom
problema seja inédito, exclusivo, elaborado com termos técnicos e científicos.
O bom problema é aquele cuja solução não é evidente ou direta, mas coloca o
aluno na posição de investigador. Não deve ser confundido com um desafio ou
com uma charada. Butts (1997) classifica os diferentes tipos de problemas: os
exercícios de reconhecimento, utilizado para recordar ou reconhecer um
teorema; exercícios algoritmos, que podem ser resolvidos a partir de
procedimentos algébricos; problemas de aplicação: “o traço característico
desses problemas é que seu enunciado contém uma estratégia para resolvê-
los” (BUTTS, 1997, p.35); problemas de pesquisa aberta: aqueles que não
apresentam em seu enunciado, dicas de resolução e situações problemas:
caracterizados por não se tratar de um enunciado tipicamente matemático, mas
numa situação em que os alunos são levados a pensar.
Para Polya (2006, p. 5), “O problema deve ser bem escolhido, nem muito
difícil nem muito fácil, natural e interessante, e certo tempo deve ser dedicado à
sua apresentação natural e interessante”.
O trabalho com a estratégia metodológica Resolução de Problemas não
é fácil, tão pouco simples. Requer persistência, conhecimento e envolvimento
dos sujeitos englobados, especialmente do professor, o grande direcionador e
incentivador do trabalho. Se o aluno não se sentir motivado a resolver um
problema, a estratégia terá perdido sua validade.
A missão dos educadores é preparar as novas gerações para o mundo em que terão que viver. Isto quer dizer proporcionar-lhes o ensino necessário para que adquiram as destrezas e habilidades que vão necessitar para o seu desempenho, com comodidade e eficiência, no seio da sociedade que enfrentarão ao concluir sua escolaridade. (SANTALÓ, 2001, p.11)
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O professor que deseja elaborar suas aulas pautadas na estratégia
metodológica Resolução de Problemas deve ter ciência de que estas devem
ser preparadas com dedicação e antecedência.
O professor que deseja trabalhar com a resolução de problemas deve, antes de apresentar a proposta aos alunos, se preparar bem para enfrentar desafios. Deve preparar os problemas que serão utilizados considerando o “poder” que ele pode proporcionar, se questionar sobre a validade do mesmo, quais aspectos e conteúdos serão abordados, que questionamentos poderão surgir e quais ele deverá propor para que o trabalho possa produzir o esperado. O professor deve ser um bom questionador. Porém deve lembrar que “este método” de questionar não é rígido. E ainda bem, pois nestes assuntos qualquer procedimento rígido, mecânico, pedante, será forcosamente prejudicial. O nosso método permite uma certa elasticidade e variação, admite abordagens diversas, pode e deve ser aplicado de tal maneira que as questões apresentadas pelo professor possam ter ocorrido ao próprio aluno. Polya (2006, p. 5)
O professor deve proporcionar aos alunos autonomia e incentivar suas
próprias descobertas. É notório que os alunos não são habituados com essa
situação, no entanto, para que possam verdadeiramente experimentar a
matemática por si é preciso que avancem na elaboração de estratégias para a
resolução de um problema.
Neste dado momento, onde as dúvidas começarem a emergir, é
necessário que o professor esteja preparado para as dificuldades que os
alunos possam encontrar. Quando isso acontecer, é preciso parar e colocar-se
no lugar do aluno, procurar “enxergar a situação com os olhos do aluno” e
buscar na sua própria experiência de resolvedor de problemas a habilidade e a
perseverança para lidar com os desafios, ou mesmo com o silêncio
constrangedor dos alunos, e dar continuidade ao trabalho formulando a
pergunta certa, na medida certa, para que o interesse do aluno possa ser
retomado e renovado. O professor pode estragar toda a estratégia se responde
aos questionamentos direcionando a resolução.
Outro aspecto que se deve levar em consideração é a resposta
encontrada para o problema. Os alunos não estão acostumados a questionar
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ou analisar a resposta encontrada. É muito comum encontrarmos resposta
negativa para uma medida de superfície ou capacidade e assim por diante. O
professor deve incentivar e valorizar o questionamento e a validade da
resposta encontrada.
Quando uma abordagem é elaborada, norteada pela estratégia
metodológica Resolução de Problemas, o professor deve estar ciente de que o
“caminho” a ser percorrido pelos alunos na busca pela solução pode não ser
linear e o auxílio vindo de conteúdos, previamente trabalhados ou não, pode
ser indispensável.
3 AS ATIVIDADES E A IMPLEMENTAÇÃO
As atividades da implementação foram elaboradas com base na
estratégia metodológica Resolução de Problemas e aplicadas em uma turma
de primeira série do Ensino Médio do Colégio Estadual Antonio Garcez Novaes
de Arapongas, com objetivo de aprofundar os conhecimentos de área e volume
a partir da realidade socioeconômica do município de Arapongas – PR., que
concentra um grande número de empresas do ramo moveleiro, responsáveis
por milhares de empregos que são gerados direta ou indiretamente. Nesse
contexto, as atividades encontram-se fundamentadas na fabricação de um
roupeiro, de modelo pré-definido, produzido nas indústrias do município.
Foram elaboradas seis atividades inéditas, que contemplam o processo
industrial de fabricação de um roupeiro desde a produção de matéria prima até
o descarte do lixo de produção.
Para iniciar a implementação os alunos foram informados sobre todo o
processo de desenvolvimento da proposta, os objetivos que levaram a ela, a
forma de trabalho a ser desenvolvida e os objetivos que se propõe alcançar e,
de maneira espontânea, dezesseis alunos aderiram ao projeto. A aqueles que
decidiram participar, foi apresentado o contrato didático que previa todas as
ações a serem desenvolvidas e as responsabilidades de cada integrante da
implementação. Os participantes se dividiram em grupos de quatro alunos, de
acordo com as afinidades de trabalho já existentes entre eles. O grupo se
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reuniu em horário de contra turno nas dependências do estabelecimento de
ensino já mencionado, uma vez por semana, durante uma aula de cinquenta
minutos. Além do tempo pré estabelecido no projeto de implementação, foram
necessários encontros extras para que as atividades mais extensas fossem
concluídas dentro do prazo previsto.
A seguir serão apresentadas três das atividades elaboradas e aplicadas,
sendo a que se refere a apresentação do parque moveleiro aos alunos, a que
estuda a produção de matéria prima destinada a atividade industrial em
questão e a que se refere, propriamente dita, à fase de produção dos
roupeiros, bem como as considerações tidas como importantes, que ocorreram
com o grupo.
Atividade 1: Conhecendo o parque Industrial de Arapongas
Reconhecido nacional e internacionalmente, o parque moveleiro de
Arapongas é o segundo maior pólo do sul do país e o primeiro maior do
Paraná. Sua trajetória de desenvolvimento teve início na década de 60 com a
implantação das primeiras indústrias. De lá para cá é considerável o
crescimento conquistado pelas empresas do ramo.
Hoje estão instaladas no município 162 indústrias que geram milhares
de empregos diretos e indiretos e que fabricam móveis destinados às classes
C e D da economia interna brasileira, bem como de países do Mercosul.
Muitas famílias são atraídas para município em função da grande oferta
de empregos e renda gerados pelo parque industrial moveleiro. Em
decorrência deste fato, o crescimento populacional de Arapongas ficou acima
da média Nacional e Paranaense.
É muito comum encontrar, em nosso município, pessoas que se
encontram ligadas ao setor.
Esta atividade não constitui-se, propriamente dita, como tarefa da
estratégia metodológica Resolução de Problemas, mas sua inserção foi
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considerada importante por proporcionar um primeiro contato com o trabalho e,
de forma tranquila tomar ciência do envolvimento do grupo com a atividade
industrial proposta.
Notou-se bastante surpresa, por parte do grupo, com as informações
sobre a implantação, desenvolvimento e dados atuais do parque moveleiro do
município. Conforme sugerido, os grupos elaboraram um pequeno texto onde
descreveram a ligação com o tema. Em todos os grupos formados haviam
integrantes cuja atividade industrial estava presente em sua realidade familiar.
Ao finalizar a atividade foi pedido que os grupos expusessem suas
conclusões por meio das quais percebeu-se que alguns pais são chefes de
sessão nas empresas, outros são pequenos empresários que prestam serviços
ou fornecem materiais para as empresas moveleiras. Outros ainda possuíam
familiares ou pessoas próximas que trabalham diretamente na produção
moveleira. O que chamou a atenção é que alguns alunos do grupo são
aprendizes nos cursos desenvolvidos pelo SESI/SENAIC na cidade de
Arapongas. A atividade foi muito envolvente e todos queriam contar suas
experiências.
Atividade 2: Origem da Matéria Prima Utilizada
Os números que expressam os dados do setor moveleiro do parque
industrial de Arapongas são surpreendentes. Não somos apenas o maior pólo
moveleiro do Paraná, mas também o que mais utiliza painéis de madeira –
chapas de aglomerado – no país. No ano de 2010, segundo o Sindicato da
Indústria Moveleira de Arapongas (SIMA), foram consumidos 1 267 604 m³ de
chapas aglomeradas. Madeira essa advinda de fontes renováveis e
ambientalmente corretas, principalmente das espécies pinus e eucalipto.
O setor mantém, através de parceira entre alguns empresários do ramo,
um projeto de reflorestamento denominado Projeto SIMFLOR, que
compreende uma área onde são plantadas 2 000 000 de mudas dessas
espécies.
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De acordo com as empresas relacionadas à extração da madeira e
fabricação dos painéis de madeira, a cada 1,43 m³ de árvores cortadas,
produz-se 1 m³ de painéis e, ainda que “ em boas condições de clima, solo e
cultivo, o eucalipto pode produzir, aos 6 anos de idade, 240 m³ de madeira por
hectare [...].” (GONDIM, 2011, s.p)
a) Estabeleça a relação entre o número de árvores cortadas para geração da
metragem consumida durante o ano de 2010.
b) Sabe-se que numa área de reflorestamento, cuja madeira seja destinada à
produção de chapas aglomeradas, o plantio das mudas é realizado com
espaçamento 3m x 2m de distância entre elas. Que superfície de terra é
necessária para a manutenção de um ano de produção moveleira em
Arapongas?
c) Que espaço é ocupado pelo projeto SIMFLOR? As árvores cultivadas nesse
projeto são suficientes para abastecer nosso parque industrial?
A tarefa foi distribuída e o enunciado foi lido por um integrante de um
dos grupos formados. Ao iniciarem os trabalhos, os grupos se depararam com
informações que provocaram dúvidas e em alguns grupos a discussão ficou
bastante intensa. Algumas dúvidas foram sanadas, porém os grupos não
conseguiam dimensionar o significado de medidas como o metro quadrado,
metro cúbico e hectare, então foi sugerido que fosse construídas tais medidas.
Em papelão grosso, construíram as medidas “metro quadrado” e “metro
cúbico”. Todos participaram da construção e vibraram muito quando
conseguiram dimensioná-las. Um dos alunos comentou que apesar de já ter
aprendido a calcular áreas de figuras planas como o quadrado e o retângulo e
saber que a unidade de medida da área é o metro quadrado, não tinha “noção”
de seu “tamanho” real. Fizeram muitas comparações especialmente com o da
sala de aula ocupada por eles.
A construção do metro cúbico causou ainda mais animação e desafio. O
corte do material e a montagem das peças foi um momento bastante
construtivo. Além de trabalharem de modo cooperativo, muitas conjecturas
matemáticas iam sendo naturalmente elaboradas: “É preciso cortar todas as
partes do mesmo tamanho”, disse uma aluna e o momento foi aproveitado para
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nominar esses elementos de maneira correta, de acordo com a geometria.
Termos como congruentes, perpendiculares e simétricos foram conceituados.
Para o conceito de hectare os grupos foram convidados a irem até o
laboratório de informática da escola e pesquisar seu significado. A partir desta
pesquisa eles compreenderam que a medida representa dez mil metros
quadrados de área e muitos compartilharam ideias sobre áreas rurais grandes
e pequenas, quando conceituadas a partir o hectare.
Voltando aos cálculos propostos, alguns grupos tiveram dificuldades em
calcular a metragem correspondente a árvores consumidas durante o ano de
2010 pelo setor moveleiro em Arapongas. As dificuldades continuaram quando
esta medida tornou-se o elemento principal do cálculo da área ocupada por
elas. Quando os grupos deram a tarefa por concluída e foi solicitado que
expusessem para o grande grupo o resultado, muitas discrepâncias foram
notadas. Numa discussão bastante produtiva os alunos perceberam pequenos
enganos de cálculos e interpretações.
Quando chegaram às conclusões devidamente corretas foi sugerido a
volta ao laboratório de informática. Desta vez o objetivo era comparar a medida
de área utilizada para o plantio de árvores suficientes para atender a demanda
do parque industrial com outras áreas conhecidas. Foi a partir daí que o
interesse ficou ainda maior.
Um dos grupos conjecturou sobre a área necessária para manter a
atividade já que o tempo mínimo necessário para o primeiro corte das árvores
se dá aos seis anos após o plantio. Outro grupo destacou o consumo de água
provocado por tal atividade, tendo em vista que as árvores utilizadas não são
nativas do nosso país. Enquanto isso outro grupo esforçava-se por descobrir
uma área conhecida com a qual pudessem comparar a área utilizada pelo
parque moveleiro araponguense, no período de um ano. De repente, um dos
alunos, praticamente gritando, disse ao grupo que a área ocupada pelas
árvores era maior que o estado de Sergipe. O espanto foi geral e o aluno
explicou que este estado possui área, aproximada, de 22.000 km2 e que as
árvores ocupariam mais de 31.000 km2. Outra discussão estava instaurada.
Alguns não compreendiam o que foi que ele fez para encontrar tal medida.
Eufórico, ele explicou que ouviu o pai dizer que o alqueire paulista é uma
medida utilizada para dimensionar áreas rurais e que corresponde a 24.000 m2,
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ou seja, 2,4 hectares. E que para encontrar o parâmetro utilizado, dividiu a
quantidade de hectares (75.530) por 2,4 o que resultou em 31.470km2.
O conhecimento prévio que esse aluno trazia aliado ao interesse
provocado pela atividade fez com que ele se tornasse o “personagem central”
desta fase da implementação. Sua autoconfiança e de seu grupo foi notória.
Atividade 3: O Corte das Chapas
Os painéis de madeiras – chapas aglomeradas – utilizados para a
fabricação de roupeiros possuem tamanho e espessura variados, de acordo
com a solicitação da indústria.
Consideraremos três dessas dimensões, que se encontram entre as
mais utilizadas, que são:
• Chapas de 12 mm: 2,75 m x 1,85 m x 12mm – utilizadas para corte de
laterais, divisórias internas e gavetas.
• Chapas de 15 mm: 2,75 m X 2,20 m x 15 mm – utilizadas para corte de
portas, rodapés e roda tetos.
• Chapas de 2,5 mm: 2,44 m x 1,90 m x 2,5 mm – utilizadas para corte de
fundo.
Nos esquemas abaixo são apresentados dois modelos de roupeiros
fabricados em uma de nossas indústrias.
Roupeiro de Solteiro 3 portas – 2 gavetas
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Legenda de Peças de Madeira para o Roupeiro de Solteiro
nº peça medida (mm) Qde11 Base B11 285 x 450 x 12 0138 Chapéu C7 805 x 450 x 12 0148 Divisória 1665 x 450 x 12 0182 Lateral direita L2 1840 x 450 x 12 0189 Lateral esquerda L2 1840 x 450 x 12 01102 Moldura M8 830 x 53 x 15 01125 Prateleira do gaveteiro 532 x 450 x 12 01133 Prateleira P7 260 x 430 x 12 02150 Porta P 13 1678 x 268 x 15 01
151.4 Porta P37 1308 x 268 x 18 02159 Rodapé frontal R6 805 x 100 x 15 01173 Rodapé traseiro R6 805 x 100 x 15 01212 Vista frontal menor 532 x 70 x 15 01
Fundo do roupeiro 263 x 1695 x 2,5 02Fundo do roupeiro 272 x 1695 x 2,5 01
196.4 Contra fundo da gaveta 480 x 80 x 12 02201.2 Fundo da gaveta 380 x 505 x 12 02203 Frente da gaveta 540 x 157 x 15 02206 Lateral da gaveta 370 x 110 x 12 04
Roupeiro de Casal - 6 portas – 4 gavetas
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Legenda de Peças de Madeira para o Roupeiro de Casal
peça descrição Medida (mm) Qde1 Base rodapé 610 x 450 x 12 012 Base prateleira / chapéu 1695 x 450 x 12 013 Divisória 1877 x 450 x 12 024 Fundo 571 x 1900 x 2,5 035 Lateral direita 2050 x 450 x 12 016 Lateral esquerda 2050 x 450 x 12 017 Moldura 1720 x 53 x 15 018 Prateleira (1 lado) 557 x 425 x 12 029 Prateleira (1 lado) 557 x 450 x 12 0310 Porta central 1887 x 281 x 15 0211 Porta lateral 1512 x 281 x 15 0412 Rodapé frontal 1695 x 100 x 15 0113 Rodapé traseiro 1695 x 100 x 15 0114 Trava do rodapé 419 x 100 x 15 0115 Vista frontal 557 x 70 x 15 0216 Frente da gaveta 566 x 157 x 15 0417 Lateral da gaveta 370 x 100 x 12 0818 Contra fundo da gaveta 508 x 80 x 12 0419 Fundo da gaveta 380 x 533 x 2,5 04
Fonte: ARAPLAC – Ind. E Com. de Móveis Ltda
A partir da observação destes dois modelos, desenvolva o solicitado
abaixo:
a) Elabore um esquema de corte das chapas para a fabricação dos
roupeiros esquematizados acima, obedecendo as mesmas
especificações de utilização de chapas que as empresas.
b) Análise:
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- Quantas chapas você utilizou?
- Quanto de material você desperdiçou?
- O que você levou em consideração para elaborar o esquema de corte?
- É possível melhorar seu projeto com o intuito de aprimorar o custo X
benefício no momento do corte?
c) Em relação ao transporte,
- de que forma compilaria as peças para que o roupeiro não sofra nenhuma
avaria?
- que tipo de embalagem utilizaria?
- qual o volume ocupado pelo roupeiro que você elaborou?
Esta atividade sofreu uma adequação para que o tempo de
implementação fosse respeitado. Os grupos trabalharam em duas frentes
diferenciadas: dois grupos trabalharam com o roupeiro de solteiro e dois grupos
com o roupeiro de casal e as dificuldades já começaram junto com a leitura do
enunciado e da visualização das imagens que a tarefa continha.
Para começar as medidas apresentadas nas tabelas eram originais e
para montar as maquetes foi preciso fazer as conversões das medidas, as
dúvidas foram gerais. Havia grupos que não conseguiam sequer começar a
trabalhar, outros acharam que o material apresentado não seria suficiente para
a montagem solicitada e o que mais chamou a atenção é que um dos grupos
resolveu simplificar o serviço e começou a riscar as peças de montagem tendo
como molde as figuras apresentadas. Um grupo utilizou alguns livros de
matemática do ensino fundamental que se encontravam no local onde estavam
e começaram a converter as medidas, tendo a calculadora como ferramenta
até que uma aluna percebeu que poderia realizá-los sem dificuldades, mesmo
sem a presença desta ferramenta. A informação foi repassada aos demais
grupos com muito entusiasmo.
A etapa de construção das peças também trouxe consigo insegurança
por parte dos alunos. Comentavam os riscos de construir uma peça torta, o que
segundo eles traria complicações no momento da montagem. Outros sugeriam
utilizar o canto da cartolina, que estava sendo utilizada como parâmetro de
construção. Depois de muitas conjecturas e pouco progresso, comentou-se
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sobre os instrumentos geométricos e dentre eles enfatizou-se a utilização dos
esquadros. Estes foram apresentados aos alunos como ferramenta para
construção de ângulos e formas corretas. A atividade precisou ser
temporariamente interrompida para que o uso do instrumento fosse orientado.
Alguns alunos comentavam, enquanto isso, que há muito tempo não utilizavam
os esquadros, outros que nunca o haviam usado. O fato é que este
procedimento trouxe crescimento e algumas conjecturas como o fato de muitos
construtores que mesmo sem conhecimento científico adequado utilizam
conceitos geométricos com precisão.
A partir daí, a construção das peças prosseguiu de maneira tranquila e
de forma bastante ágil. Os integrantes se dividiram entre as funções de
construção e corte, observando que nenhum retalho de material fosse
descartado. Um dos grupos continuava a defender a ideia de que o processo
mais simples era o de utilizar as figuras apresentadas no enunciado como
moldes. Hipótese que foi contestada logo no início da montagem da maquete.
Peças não se encaixaram, ângulos não se complementaram e o
desapontamento foi perceptível. Um dos integrantes, porém sugeriu que o
trabalho fosse refeito e sugeriu que o fizessem durante o período de intervalo
entre os encontros. A sugestão foi acatada e o resultado foi bastante
satisfatório. No próximo encontro a maquete não só estava pronta como os
cálculos de material utilizado, desperdício provocado e volume da maquete
foram corretamente apresentados.
Um dos alunos participante das aulas ofertadas pelo SESI/SENAI trouxe
a informação de que o desperdício que eles encontraram durante a construção
da maquete seria muito maior do que o que efetivamente ocorre na produção
moveleira. Isso se dá pelo fato de que as empresas possuem equipamentos
sofisticados de programação de corte das chapas e ainda, que é muito
diferente cortar um roupeiro ou milhares de roupeiros. Uma chapa seria
utilizada para determinadas partes, outra para outras e assim sucessivamente.
Essa etapa foi muito gratificante. Os próprios alunos comentavam a
satisfação em ver pronto o resultado de um trabalho tão árduo como o dos
últimos encontros. Uma pequena exposição das maquetes foi realizada no
estabelecimento de ensino e a sensação de realização era notória entre os
participantes da implementação.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciar um trabalho matemático fugindo do que conhecemos como
cotidiano é bastante desafiador, pois requer a desconstrução de conceitos,
métodos e postura enquanto educador.
Mas, nos permitir tamanho desafio é um exercício bastante construtivo.
Acreditar numa nova metodologia, como nesta implementação, exige
conhecimento e preparo prévio bem como uma dose de ousadia e segurança.
A estratégia metodológica Resolução de Problemas, tendência que
norteou esta implementação, quando trabalhada de acordo com seus
pressupostos demonstra-se importante ferramenta no auxílio da aprendizagem
matemática, aproximando professor e alunos e tornando as aulas mais
dinâmicas e envolventes.
Ao professor cabe assumir postura de orientador da aprendizagem e não
meramente de transmissor de informações.
Ao elaborar esta implementação um de seus objetivos era estabelecer
relação entre a matemática da sala de aula e a matemática cotidiana
vivenciada no dia a dia do aluno. Para isso, escolheu-se um tema bastante
presente na realidade social destes sujeitos.
Durante sua aplicação pode-se perceber que quando ao aluno é
permitido conjecturar, levantar hipóteses, rever conceitos e testar resultados,
tendo como pano de fundo um assunto que lhe proporcione interesse, seu
envolvimento e aprendizado são notórios.
As tarefas que mais provocaram interesse foram justamente aquelas que
traziam mais dificuldades iniciais, como um conceito ainda não compreendido,
os enunciados não entendidos e o costume de ter as explicações que
praticamente indicam os passos de resolução, que com o trabalho a partir da
estratégia metodológica Resolução de Problemas não acontece. Notou-se
também que a integração entre os alunos pertencentes a um mesmo grupo de
trabalho e entre todos, de forma geral, ampliou-se gradativamente durante o
desenvolvimento do trabalho.
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Deve-se também levar em consideração que a implementação foi
realizada com dezesseis alunos que participaram de forma espontânea e não
objetivavam nota. Isso pode ter contribuído para o grande envolvimento e tão
satisfatório resultado encontrado.
Ao final, ficou o sentimento de que é possível mudar, melhorar e tornar a
matemática tão atrativa e empolgante para os alunos quanto é para o
professor.
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