os anos 60 e a gestação de uma nova mentalidade

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Escola Secundaria Caldas das Taipas 3. Alterações na estrutura social e nos comportamentos 3.1. A terciarização da sociedade A expansão económica dos “trinta gloriosos” repercutiu-se na estrutura da população ativa Nos Países capitalistas liberais, habituados a importar alimentos no período em que aconteceu a Segunda Guerra mundial, a situação inverteu-se. A mecanização, a pesquisa económica e zoológica, a utilização cada vez maior de adubos e as práticas de irrigação conduziram a uma produtividade sem precedente dos solos, que impediu elevadas exportações. Os progressos tecnológicos verificados tornaram, entretanto, desnecessários muitos dos agricultores. O setor primário recuou de tal modo que se anunciou “A morte do campesinato”. (Anexo 1) A aceleração do êxodo rural foi uma inevitabilidade e conduziu ao aumento da população urbana. Nos países desenvolvidos, as massas rurais e os imigrantes encontraram emprego na indústria, a atividade responsável pela criação do maior número de riqueza, em virtude de uma intensificação do ritmo de trabalho. No entretanto, os trabalhadores empregues no setor secundário não registaram um aumento significativo. Automação dos processos de fabrico seria responsável pela deslocação da população ativa para o setor terciário. A terciarização é, com efeito, a característica mais relevante a assinalar na evolução social do mundo desenvolvido, durante três décadas de prosperidade. Em 1973, os colarinhos brancos dos EUA equivaliam a 65% da população ativa. A explosão do terciário relacionou-se com a subida de quantificação das massas trabalhadoras, devida ao aumento de escolaridade. Naquele setor em expansão, que contava cada vez mais com o universo feminino nas suas fileiras, os empregados encontravam emprego como funcionários do Estado, como quadros técnicos e empregados de escritório das mesas industriais, como trabalhadores do comércio, da publicidade, dos transportes, dos média, dos bancos ou ainda dos setores ligados a educação, à saúde e ao lazer. Sara Vanessa Machado Silva

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3. Alterações na estrutura social e nos comportamentos

3.1. A terciarização da sociedade

A expansão económica dos “trinta gloriosos” repercutiu-se na estrutura da população ativa

Nos Países capitalistas liberais, habituados a importar alimentos no período em que aconteceu a Segunda Guerra mundial, a situação inverteu-se. A mecanização, a pesquisa económica e zoológica, a utilização cada vez maior de adubos e as práticas de irrigação conduziram a uma produtividade sem precedente dos solos, que impediu elevadas exportações. Os progressos tecnológicos verificados tornaram, entretanto, desnecessários muitos dos agricultores. O setor primário recuou de tal modo que se anunciou “A morte do campesinato”. (Anexo 1)

A aceleração do êxodo rural foi uma inevitabilidade e conduziu ao aumento da população urbana. Nos países desenvolvidos, as massas rurais e os imigrantes encontraram emprego na indústria, a atividade responsável pela criação do maior número de riqueza, em virtude de uma intensificação do ritmo de trabalho.

No entretanto, os trabalhadores empregues no setor secundário não registaram um aumento significativo. Automação dos processos de fabrico seria responsável pela deslocação da população ativa para o setor terciário.

A terciarização é, com efeito, a característica mais relevante a assinalar na evolução social do mundo desenvolvido, durante três décadas de prosperidade. Em 1973, os colarinhos brancos dos EUA equivaliam a 65% da população ativa.

A explosão do terciário relacionou-se com a subida de quantificação das massas trabalhadoras, devida ao aumento de escolaridade. Naquele setor em expansão, que contava cada vez mais com o universo feminino nas suas fileiras, os empregados encontravam emprego como funcionários do Estado, como quadros técnicos e empregados de escritório das mesas industriais, como trabalhadores do comércio, da publicidade, dos transportes, dos média, dos bancos ou ainda dos setores ligados a educação, à saúde e ao lazer.

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3.2. Os anos 60 e a gestação de uma nova mentalidade

Procura de novos referentes ideológicos

Movimentos contraditórios atravessam a civilização ocidental nos anos 60.Por um lado, elogia-se a prosperidade, o bem-estar e o consumismo das sociedades desenvolvidas. Por outro lado, critica-se o individualismo, a desumanização e o materialismo do capitalismo e aponta-se o dedo às insuficiências da democracia. No ar paira o medo de um conflito nuclear, que nunca esteve tao próximo como em 1962, aquando a crise dos misseis de Cuba

O ecumenismo

Muitos são os que buscam uma resposta para os descontentamentos e as inquietações.A igreja católica procura adaptar-se aos novos tempos. O Consílio Vaticano II (1962-1965)(anexo 2), reunido sob a iniciática de João XXIII e terminando sob o pontificado de Paulo VI, aborda questões relacionadas com a Guerra Fria, a promoção de paz, a desigualdade entre os homens e povos, a par de assuntos especificamente religiosos, com o celibato dos padres, a celebração da missa nas línguas nacionais e o diálogo com as várias religiões cristas.

O ecumenismo ficou como uma das heranças do Consílio e, desde então, reconhecem-se os esforços para esbater os dissídios e procurar a concórdia entre a família crista, considerada primordial no processo de entendimento entre os homens

Todavia, os resultados do Consílio ficaram aquém das expectativas. Em matéria de costumes e moral (como os relacionados com a contraceção) e de dogmas (como o celibato), a igreja Católica manteve-se conservadora, não conseguindo deter a vaga de descristianização.

Nos anos 60, com efeito, outras bandeiras, que não as da religião, e outros referentes ideológicos motivaram a Humanidade. A proteção da Natureza, a igualdade de direitos entre os bancos e povos de cor e entre homens e mulheres, o pacifismo, a reforma do sistema educativo e a liberdade sexual pareciam mobilizar com mais ímpeto os grandes combates da época.

A ecologia

Depressa a comunidade científica e os leigos se aperceberam do alto preço a pagar pelos progressos tecnológicos. Acidentes em centrais atómicas, contaminações químicas mortais, que punham em risco o Homem e o ecossistema, o superpovoamento do planeta, alertaram para a necessidade de redução das experiencias nucleares e para o problema da poluição e do esgotamento dos recursos naturais

Um conjunto de organizações (“ Amigos da Terra”, a “Greenpeace”) e de iniciativas que sucederam, desde os anos 60, com o objetivo de controlar

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o crescimento económico e de garantir a proteção ambiental. Assim nasce a ecologia.

A contestação juvenil

O baby-boom do pós-guerra determina, nos anos 60, a existência, nu mundo ocidental, de um excedente considerável de jovens. Nos EUA, por exemplo, mais de metade da população tinha, a meio da década, idade inferior a 30 anos.

Procurando um estilo de vida alternativo ao dos progenitores, que se haviam acomodado aos padrões burgueses, os jovens protagonizam um poderoso movimento de contestação. O protesto teve as suas origens em universidades americanas e europeias, onde os estudantes punham em causa um sistema de ensino que consideravam caduco e apenas apto para “fabricar empregos” que perpetuavam a burocracia e a tecnologia do capitalismo.

Nos EUA, as universidades de Berkeley, em São Francisco, e de Columbia, em Nova Iorque, foram ocupadas, em 1964, pelos estudantes, que exigiam mudanças radicais no funcionamento dos cursos.

Para além das suas revindicações específicas, os estudantes americanos mostravam-se atentos aos grandes problemas que os cercavam. Apoiavam ativamente a luta dos negros pela conquista dos direitos cívicos1, a emancipação da mulher e viriam a envolver-se no vasto movimento pacifista2 que se insurgiu contra a participação dos EUA na guerra do Vietname (1964-1973)

Em finais dos anos 60, as manifestações contra a guerra do Vietname mobilizavam multidões e muito especialmente os estudantes, fosse na América ou em Tóquio, em Londres, Roma ou Paris. Em 1968, Paris tornou-se o epicentro de uma revolta estudantil sem procedentes que atingiu a Europa

Conhecida pelo nome de “maio de 68”, a revolta estudantil parisiense iniciou-se na Universidade de Nanterre, e logo atingiu a Sorbonne, no subúrbio, junto a um bairro de lata, onde eram patentes as injustiças sociais. O Quartier Latin transformou-se num verdadeiro campo de batalha entre os estudantes barricados e as forças de ordem.

Dinamizados por uma minoria politizada de extrema-esquerda, cujos referentes eram as figuras revolucionarias de Fidel Castro, Che Guevara e Mao tsé-Tung, os estudantes denunciavam a falta de condições das universidades, onde os professores e as instalações escasseavam face ao boom de inscrições; simultaneamente, chamavam contra a guerra do Vietname, o imperialismo americano e o totalitarismo soviético

A crise, que começou por ser um problema estudantil, ganhou rapidamente foros de revolta social e política, quando, a 13 de maio, 1 A luta pelos direitos cívicos dos negros devia-se a segregação de que eram alvo em muitos dos estados sulistas dos EUA. Depois da Marcha dobre Washington, que reuniu 200 mil pessoas, o Congresso votou a Lei dos Direitos Civis, que aboliu a discriminação racial nos lugares públicos, e a Lei do Direito ao Voto, que permitiu a inscrição nos cadernos de voto a 3 milhões de negros.2 Conjunto de ações como manifestações, marchas, protagonizadas por estudantes com repúdio ao envolvimento dos EUA na guerra do Vietname e ao clima de insegurança que pairava no mundo

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explodiram as greves e ocupações de fábricas, e posteriormente, o residente de De Gaulle ameaçou demitir-se.

Apesar do fracasso, pela reposição de ordem, o “maio de 68” tornar-se-ia o símbolo de um combate em que se amalgamaram o conflito de gerações, o descontentamento social e a reação do autoritarismo. Por isso, as suas repercussões extravasaram o Ocidente democrático e capitalista, para também se fazerem sentir na cidade de Praga que, nesse momento ano de 1968, se revoltou contra a invasão soviética

Uma outra faceta da contestação juvenil fez-se sentir na revolução de costumes desencadeada pelo movimento hippie, que teve o seu coração nas cidades de Los Angeles e São Francisco na Califórnia. Abandonando os lares paternos, os jovens lavavam uma vida alternativa em comunas. Adeptos da liberdade sexual, do amor livre e amantes da paz (“make love, not war”3 foi o seu slogan preferido), os hippies evidenciavam total despojamento e despreocupação, visíveis no vestuário leve, colorido e florido, nos cabelos soltos e compridos, nos pés frequentemente descalços, no consumo de drogas alucinogénias que os “libertavam” da Terra e conduziam ao “paraíso”…

Grandiosas confraternizações e festivais de música ao ar livre reuniam, periodicamente, essas multidões de jovens, que se assumiam como protagonistas de uma contracultura.

3 Em português, significa “fazer amor e não guerra”.

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Anexos

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