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Os 100 anos de Theodor Adorno e a filosofia depois de Auschwitz Drª Márcia Tiburi ano 2 - nº 11 - 2004 - 1679-0316

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Os 100 anos de Theodor Adorno

e a filosofia depois de Auschwitz

Drª Márcia Tiburi

ano 2 - nº 11 - 2004 - 1679-0316

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

ReitorAloysio Bohnen, SJ

Vice-reitorMarcelo Fernandes de Aquino, SJ

Centro de Ciências HumanasDiretor

José Ivo Follmann, SJ

Instituto Humanitas UnisinosCoordenador

Inácio Neutzling, SJ

Cadernos IHU IdéiasAno 2 – Nº 11 – 2004

ISSN 1679-0316

EditorInácio Neutzling, SJ

Conselho EditorialDárnis Corbellini, Laurício Neumann,

Rosa Maria Serra Bavaresco e Vera Regina Schmitz

Responsável técnicoTelmo Adams

Editoração EletrônicaRafael Tarcísio Forneck

RevisãoMardilê Friedrich Fabre

ImpressãoImpressos Portão

Universidade do Vale do Rio dos SinosInstituto Humanitas Unisinos

Av. Unisinos, 950, 93022-000 São Leopoldo RS BrasilTel.: 51.5908223 – Fax: 51.5908467

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OS 100 ANOS DE THEODOR ADORNOE A FILOSOFIA DEPOIS DE AUSCHWITZ

Márcia Tiburi1

Nestas poucas considerações, queremos mostrar aspec-tos fundamentais da obra desse pensador que viveu e morreusob o espírito do século XX, deixando uma obra marcada em ter-mos conceituais pelo sofrimento e pela esperança, pela expe-riência da violência e pela necessidade de uma transformaçãoda sociedade. O reconhecimento dos mecanismos de fundoconstitutivos da sociedade, das relações de poder baseadas nomedo e na força, no irracional e arcaico, são os tópicos que colo-cam essa obra na urgência de nossas reflexões. O diagnósticoda barbárie que acompanha os seus escritos, tornou-se a provade que seus textos eram, infelizmente, sob muitos aspectos,prognósticos. As publicações de Theodor Adorno, diante des-ses enfrentamentos que as constituíram, colocam ao tempo pre-sente a questão de uma tarefa da filosofia. Se o pensar é uma ta-refa, a filosofia é uma prática. A prática do esclarecimento, doquestionamento, da negação do dado, do que está aceito, doque é pré-concebido. O diálogo entre o pensar e o agir, a ponteentre os mundos da ação e da teoria são palavras de ordem naobra, cujos aspectos fundamentais nos propomos apresentaraqui.

Falar de Theodor Adorno sem fazer dele um filósofo damoda pode mesmo ser uma tarefa no ano de seu centenário denascimento. Tentar expor a importância da obra sem superesti-má-la ou, ao contrário, subestimá-la, é a intenção normal dosque a ela se dedicam. Nossa opção aqui, não pode esquivar-sede alguns poucos esclarecimentos – naturalmente interpretati-vos como cabe à filosofia – que possam trazer alguma luz aopresente da discussão, ao tempo que apresentam, em resumo,

1 Márcia Tiburi é mestre em Filosofia pela PUCRS e doutora em Filosofia pelaUFRGS, com tese que se transaformou no livro intitulado Metamorfoses do Con-ceito: Adorno e a Dialética Negativa, Ed. da UFRGS, no prelo. Além de ser gradua-da em Filosofia, Márcia também o é em Artes Plásticas. A professora é autora dolivro Crítica da Razão e Mímesis no pensamento de Th. W. Adorno. Porto Alegre:EDPUCRS, 1995 e Uma Outra História da Razão. Ed. UNISINOS, 2003.

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aspectos da produção de Adorno para aqueles que não se es-pecializaram nela.

1. Em primeiro lugar, é preciso enfrentar a ques-tão da Escola de Frankfurt da qual Theodor Adorno par-ticipou. Uma escola pode ser uma farsa; temos que to-mar a expressão sempre em sua mais exata medida paraque não abafe potencialidades de um pensamento. Wal-ter Benjamin, por exemplo , um filósofo que influenciouamplamente Adorno é, muitas vezes, tratado como “frank-furtiano” na acepção de pertença à Escola. Ele não tevesuficientes ligações formais com essa Escola, tornou-seum ilustre marginal, e esse fato – gratuito, histórico, polí-tico, burocrático – garante também o caráter autônomo, emsentido amplo, de suas idéias e da postura ética e ontológi-ca de seu pensamento. Horkheimer e Marcuse tambémsão pensadores muito ricos e é, no mínimo, complexodizer que sejam da Escola de Frankfurt, que serve parauma localização geográfica e histórica, e, embora tente-mos, não podemos passar da geografia à afinidade dasidéias, sem muitas mediações. Mais do que buscar pro-var que não podemos configurar uma escola, o quenem caberia nesse curto espaço, queremos apenasalertar para que se tome cuidado com essa designação.

2. Por sua vez, muitos da Escola de Frankfurtque foram alunos de Adorno não são defensores da“teoria crítica”. A idéia de uma “teoria crítica” é, toda-via, preferível, pois permite pensar a possibilidade deum núcleo aglutinador em torno de uma idéia e não aperformance geográfica e burocrática de um grupo quetinha semelhanças e diferenças. Mas ainda “teoria críti-ca” é uma expressão, se não controversa, no mínimo di-fícil. Adorno, como seus concidadãos e colegas e atéamigos, não é facilmente classificável, mesmo sob essapoderosa designação, porque, em muitos momentos, oseu pensamento extrapola vários dos preceitos da cha-mada “teoria crítica”. Se todas as suas análises sobrequaisquer temas se ocupam com uma crítica socialcompreendida no fundo de todo objeto, por outro lado,nem tudo se encaminha para a construção de uma trans-formação da sociedade no sentido de uma confirmaçãodo marxismo. Essa idéia, a mais cara – a nosso ver – auma teoria crítica, precisa de muitas mediações parapoder valer em todas as suas dimensões. Adorno foi umpensador da mediação, ou seja, da reflexão exaustivasobre seus objetos e elevou essa posição a método. Ateoria crítica foi uma defesa feita por seu amigo MaxHorkheimer, e não por ele, no famoso artigo intituladoTeoria Tradicional e Teoria Crítica, no qual defende as

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virtudes de um pensamento pós-cartesiano, capaz deromper com o método matemático e instaurar-se navida, engajando-se na transformação da sociedade.Adorno trabalhou em muitos projetos com seu amigoHorkheimer e chegou a falar, em escritos isolados, so-bre a afinidade intelectual que o unia ao amigo. Apesardisso tudo, talvez a teoria crítica fosse por demais configu-rada, segundo um modelo de transformação da socieda-de que, para Adorno, passava também por muitas media-ções. Ele participou da teoria crítica, como grande contex-to teórico e moral que inspirava sua filosofia, mas ultra-passou muitos de seus preceitos. Inclusive forjou umamoção de metafísica negativa de forte inspiração benja-miniana (embora crítica em relação ao aspecto teológicoque presidia as idéias de Benjamin). A metafísica nega-tiva trata da imanência do mundo, do fato de que a es-perança deve ser materializada, de que o mundo deveser modificado sem que declaremos qual a face perfeitadessa transformação. A única defesa é a de um mundono qual o sofrimento seja eliminado. Mas não é possívelcriar normas de felicidade ou estabelecer a face real deum paraíso. Nesse sentido, a filosofia de Adorno vive ametafísica como seu próprio coração. A metafísica é ateoria da mediação, da ponte entre transcendental eempírico e, como tal, procura a transição entre pensa-mento e prática. Essa reunião, por sua vez, tem umaelaboração em uma versão corajosa da dialética – a ne-gativa.

3. Tal dialética funda-se como crítica da filosofia.Crítica da dialética, crítica do método. A crítica, por suavez, como postura básica a ser assumida pela filosofia,não é uma crítica externa, mas imanente. Uma crítica quedeve desmontar, desmoronar o espaço e o objeto de suainvestigação. Não se trata de uma pura e simples destrui-ção, como seria de pensar quando empregamos a assus-tadora palavra crítica. Ela vem sempre acompanhada deum aspecto negativo. A questão para entender a crítica di-alética é que a negação não é negativa de modo absolu-to, mas mediada na positividade. Esta, por sua vez, pre-cisa ser mediada pela negação, do contrário se trans-forma em positividade vazia.

4. Por isso, a crítica ao modo classificatório deoperar do pensamento – se essa ação é inevitável –deve ter em conta, sempre, a utopia do pensamentocontra a sua satisfação cartesiana com a matemática, aregra e a ordem e a vinculação a uma instituição, mes-mo sendo ela o Instituto de Pesquisa Social, em tornodo qual, tanto na Alemanha quanto nos EUA, reuni-

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ram-se os intelectuais exilados de Frankfurt. Insistimosnesse ponto, pois nos parece que, hoje, o posiciona-mento de uma obra em uma escola ou corrente podeapagar a recepção de traços específicos de muitos pen-sadores. Apenas a leitura atenta e sem pré-conceitospode deixar nascer as filigranas dos textos literários oufilosóficos, bem como o texto do mundo em suas múlti-plas tramas. A filosofia não pode ser feita sem um estu-do atento da tradição, mas a tradição só se modificapela crítica, e o pensamento – como arma negativa se-gundo a posição coerente de Hegel – só avança parachegar à verdade ou à interpretação, caminhando pelamão da contradição.

5. Se, todavia, os motivos e impulsos dessespensadores da Teoria Crítica ou da Escola de Frankfurtainda não foram compreendidos (sendo tempo de dia-logar com eles, pois seus temas são, ainda, os temasdo nosso tempo), um dos motivos mais importantes doque Adorno diz quanto a uma tarefa do pensar revela-sena instauração da utopia que rompe com o status atualdo pensamento. A questão da utopia, assim como a daesperança, é fundamental para o pensamento de Ador-no. A mediação significa, nesse aspecto, que o pensa-mento precisa abismar-se em seu outro, abrir-se ao es-tranho, reconhecer a alteridade. A utopia do pensamen-to, mais do que a construção de um modelo de socieda-de ideal é a atenção que o pensamento dá às coisas. Anoção de uma primazia do objeto na relação de conhe-cimento em que o sujeito não dá sentido ao objeto, mastorna-se passivo do objeto – o que é uma contradição,em Adorno, frutífera – diz respeito a essa utopia. Só as-sim o pensamento se realiza como pensamento, no ins-tante em que se entrega sem medos e medidas à buscada verdade, compreendendo que a verdade é o que seencontra na relação entre sujeito e objeto, como um de-senho interno das coisas que o sujeito deverá desco-brir. A verdade não está no sujeito, nem está simples-mente, no objeto elevado à condição de “coisa em si”. Averdade é o que o filósofo deve procurar expressar di-ante de um mundo mudo e de uma linguagem filosóficaque, em sua lógica é, ela mesma, muda. O filósofo éaquele que busca a expressão, mais do que a comuni-cação, busca a linguagem como fala das coisas. A filo-sofia é, para Adorno, a tentativa de falar sobre o que nãose pode falar. A impossibilidade do discurso se devetanto à insuficiência da linguagem conceitual própria dafilosofia, quanto do emudecimento resultante do traumahistórico, ou seja, das experiências traumáticas, aque-

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las que, provocando uma ferida no sujeito, têm para eleo valor de morte. Mas a filosofia, à revelia da dor e do so-frimento ou, antes, por solidariedade com o que sofre,deve fazer-se como “dor que se eleva a conceito”, ouseja, como “expressão do sofrimento”.

6. A conseqüência dessa postura é que a filoso-fia associa-se, cada vez mais, à arte, não como novosistema em que obras e artistas configuram um novomercado, mas como linguagem que tenta tocar o fundodas coisas, compreendendo-as desde sua superfície,desde o visível e o invisível que nele mora ou por meiodele se sustenta. Nesse sentido, como outros autoresque o influenciaram, como Nietzsche, Adorno faz uma“filosofia da arte”. Não como mera análise do fenômenodas artes ou como pensamento que tenta fazer a refle-xão histórica sobre as obras de arte, mas como método.A filosofia mimetiza-se com a arte para aprender seusmovimentos, seus caminhos, seu processo. Assim, a ta-refa da filosofia, em relação às artes, é a de trazer para oconceito a verdade (o conteúdo de verdade, seu fundo,na expressão de Adorno) imanente à obra de arte. Ador-no não defendeu um nominalismo da arte ou formas deessencialismo que pudessem definir o que é arte. Nes-se contexto permaneceu fiel ao pensamento histórico,mais precisamente ao materialismo histórico que pensaque o mundo humano, a cultura, é um produto que seforja no tempo chamado história. A obra de arte ensinaà filosofia, enquanto esta ensina à arte. O encontro dasduas produz, em seu significado mais produtivo, a “filo-sofia da arte” ou, sinonimamente, a estética como teoriaque reúne imagem e conceito, mais precisamente, quemancha o conceito na arte e faz a experiência estéticaintensificar a filosofia. Adorno dirá que a tarefa de reunirrazão e sensibilidade é própria da filosofia. Ora, a estéti-ca é a teoria onde essa ponte é privilegiada. A filosofiada arte é a filosofia construída pela atenção à verdade daobra, mas é também, como estética, uma filosofia dasensibilidade no que diz respeito ao corpo como lugardo sofrimento. A filosofia da arte e a estética são filosofiaspolíticas. A reunião entre estética e materialismo obriga-rá a pensar o corpo como foco do sofrimento, da produ-ção do conhecimento como arte.

7. A obra de Adorno é extensa, e é preciso, hoje,rememorá-lo como pensador da ética e da política quetrabalha com a vocação prática do pensamento, com aproposta de uma teoria que tem a intenção de, avan-çando para além dos limites do pensamento tout court,ser capaz de melhorar as condições materiais e concre-

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tas da vida das pessoas em sociedade. Isso significaque a teoria é, para Adorno, uma forma de prática e, en-quanto tal, transformadora. Ela providencia a reflexão ea interpretação da realidade com vistas à eliminação dosofrimento. Adorno foi muito conhecido por sua estéti-ca, parte fundamental de sua obra, mormente sua teoriamusicológica (além de seus estudos sobre música, eleera compositor, ou seja, mais do que crítico, um artista).Além disso, ele foi um pensador da ética e da política,do conhecimento e, inclusive, da metafísica. Suspeita-mos que a atenção demasiada à sua estética tenha sedado porque seu livro Teoria Estética tenha ficado ina-cabado, com a sua morte em 1969, também porque, tal-vez, esta seja a última grande estética da história da filo-sofia e, certamente, a única grande estética do séculoXX, segundo o espírito e a letra desse século de tantas erápidas transformações e da sempre crescente eviden-ciação do nonsense da sociedade. Apesar da grandio-sidade teórica da Teoria Estética, ainda é preciso levan-tar a questão sobre essa atenção demasiada, se elaameniza ou desvia a força e a acidez de seu pensamen-to para outros campos aparentemente menos políticos.Não queremos, com isso, dizer que a estética seja me-nos relevante, mas foi isso o que a tradição da filosofianos fez pensar, abafando o poder metafísico, ético e po-lítico das questões estéticas. Basta olhar os currículos eprogramas dos cursos de filosofia para vermos as con-seqüências práticas dessa postura. Adorno anuncia opoder da estética para os nossos tempos, e se não ti-vesse cancelado por morte a sua produção, não seriade estranhar que acabasse discutindo as questões deética e política que dela derivam. A estética é importan-tíssima na obra de Adorno, segundo o lugar político queuma teoria sobre a arte pode ocupar no campo da fun-damentação do conhecimento e da ação. A arte é lugarde abismamento, de crítica, de contraposição não ape-nas a um tipo de razão, mas sobretudo a um modo devida. É preciso não esquecer que a estética de Adorno,apesar da extrema importância que dá às artes, tam-bém é uma teoria sobre o corpo e o sofrimento, e issoaltera sua interpretação. O entrelaçamento entre estéti-ca e política dá novas formas à filosofia.

8. Pensar é utópico ainda nesse sentido, mas asua tradução exata é a política. Pensar é político. A uto-pia é reabilitada, em Adorno, segundo uma posição crí-tica que a define como o elemento formal do pensa-mento – não apenas conteúdo – que o dispõe em suavocação prática, apesar de seu nascedouro teórico.

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Que não se esqueça: o pensamento é uma ação; a teo-ria é uma forma de prática. O pensamento é utópico,não porque inventa mundos ou sugere faces perfeitaspara uma sociedade a construir, mas porque se lançaao território da transformação da sociedade, e tem nes-sa ação que lhe é constitutiva, o seu mote mais exato, opolítico. A arte pode ensinar-lhe, enquanto, ao mesmotempo, é a filosofia que pode mostrar seus conteúdos eformas. O trabalho do intelectual, desse modo, possui arelevância da construção de um projeto de transforma-ção do mundo em que sejam produzidas relações boase verdadeiras. A base dessas relações orienta-se para asolução ou eliminação da miséria material e da violênciacomo forma de miséria, ou seja, para os grandes tópi-cos da revolução marxista. A idéia de que o pensamen-to é ação, é análoga à idéia de que o sofrimento é físicoe de que o corpo é espírito. É preciso salvar o corpo,não apenas da ideologia enlameada do pecado no qualele se afogou durante séculos, deixando espaço para aconstrução de uma razão sem limites que redundou emuma metafísica criticada por Kant e novamente reprodu-zida sob o escamoteamento do transcendental comopensamento sem corpo, mas salvar o corpo pela de-monstração de seu lugar político a partir de uma análisede seu lugar estético e do posicionamento que ele ocu-pa na história da metafísica. Nesse sentido, o materialis-mo converge com a metafísica, ou mesmo com a teolo-gia, ou seja, a construção de um mundo sem violênciase faz como promessa constitutiva das duas perspecti-vas. A questão é produzir uma teoria que dê conta daação, sendo ela mesma ação. Se a metafísica é, toda-via, a guardiã da verdade na filosofia, como grande teo-ria, como a perspectiva que fundamenta o ser, ela é, emAdorno, uma análise da micrologia, do menor e do maisinsignificante para a filosofia, o cotidiano e, dentro dele,o que escapa, o que, na aparência, não tem relevância.Por isso, em Minima Moralia, Adorno escreve aforismossobre a vida que ali ele qualifica como “danificada”. Avida que deixou de ser vida. A metafísica não é, portan-to, a teoria para dar conta dos primeiros e últimos princí-pios que regem o ser, mas a teoria que procura as pon-tes entre o mundo do micrológico e do universal, dascoisas insignificantes e a totalidade social. O não- idên-tico, termo que constitui um dos tópicos básicos da dia-lética negativa, diz respeito a esses elementos particula-res que escapam das grandes teorias e que, todavia,constituem a morada da verdade buscada nas metafísi-cas. Por isso, não é sem propósito dizer que a análise

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da sociedade em todos os seus aspectos é, em Adorno,metafísica. A própria análise da indústria cultural insere-senessa discussão.

9. Theodor Adorno tornou-se um filósofo famosono centenário de sua morte. Não o foi apenas por suasidéias, nem pela força crítica de seu pensamento. Ogrande crítico da indústria cultural tornou-se – ele mes-mo – objeto dessa indústria. Na Alemanha, biografiasrecém-lançadas desse homem morto em 1969 inves-tem mais em desvendar aspectos obscuros de sua vidapessoal do que em entender o conteúdo de suas idéias.É suspeito, entretanto, que a indústria cultural faça deseu maior crítico (que cunhou junto a Horkheimer essaexpressão conhecida e pela primeira vez analisou o fe-nômeno), uma figura curiosa, um gênio mimado e con-troverso, um burguês como o que ele criticava. Eis ummodo de enfraquecer sua imagem (que pouco nosdeve interessar a não ser quando conectada com seuspensamentos) e, assim, o interesse coletivo em suasidéias. Adorno sempre foi suficientemente intragável aomundo intelectual que o transformou, de um modo ge-ral, num filósofo pessimista, hábito comum dos desa-costumados à leitura e saciados em clichês. A filosofiaque deveria ser o questionamento dos clichês, muitasvezes, os repete. Nem Habermas, famoso aluno e erudi-to filósofo, foi capaz de lê-lo até o fim e dialogar com ele.Não poderia ser de outro modo para um filósofo difícilem sua forma e conteúdo e entregue, hoje, a uma ironiado destino: nasceu em 11 de setembro de 1903, emFrankfurt, a data que, décadas depois, se tornaria cáus-tica da identidade capitalista que ele tanto criticou. Asorte do nosso analisado nunca esteve de pior modolançada. Por isso, Adorno, também ele, virou objeto daindústria cultural, a qual caça os fatos como os que en-volveram a sua vida e realiza, dessa forma, sua nature-za, seu conceito e sua definição. Ela usa um objetoapreendido em sua superfície e investe na divulgaçãopara as massas dos aspectos mais imediatos de suapercepção, o que só é possível pelo desvio do conceitoque o constitui. A indústria cultural lê os objetos por forae de modo instrumental, como fios de linha para a tramado poder. Se ela parece, com isso, simplificar as coisas,por outro lado, essa facilidade rende, mais do que osevidentes lucros econômicos, lucros políticos: a aliena-ção como uma forma de ignorância sobre as leis que re-gem o mercado e que permitem o manejo do poder. Po-der, em Adorno, é, na base, dominação, que assumevárias formas, e a troca está envolvida em todas elas.

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Mercado é apenas o nome da sociedade, quando regi-da pela lei da troca que submete tudo. Mas a indústriacultural apenas atualiza elementos arcaicos da relaçãoentre o homem e a natureza e o sagrado e, assim comoo mito se converte em iluminismo e este em mito, se-gundo a famosa formulação que aparece em Dialéticado Esclarecimento, a indústria cultural passa a ser amistificação das massas. Como nova retórica, podería-mos dizer que a indústria cultural substitui a pólis pelomercado, sempre apostando em convencer a sensibili-dade de seu projeto de construção da realidade, mas aindústria cultural é só a casca de um mecanismo quetem vigência histórica e pré-histórica: ela é a forma su-blimada no mundo da cultura e da informação da auto-conservação devoradora e predatória que irmana natu-reza e cultura. Em aliança clara com a razão da totalida-de social, todavia, a indústria cultural tem a aparênciade algo natural, comum, sem exigências, do tom da or-dem do mundo. Ela é mimética à ordem do mundo:nada de estranho parece estar acontecendo (nos meiosde comunicação em geral), quando a sociedade saciaseus anseios ligados à experiência estética por meio deobjetos culturais facilmente consumíveis. É como se sa-ciasse seus desejos artísticos ao não saciá-los, no em-botamento de seus sentidos. Estes poderiam, todavia,permitir outras experiências estéticas com a vida. A ex-periência empobreceu, o viver transformou-se em mero“sobreviver”. “O fetichismo da música e a regressão daaudição”, título de um dos conhecidos textos de Ador-no, comuns em nossa sociedade, são aspectos dessaindústria cultural que coloniza e escraviza os sentidos e,assim, faz parte de nossas vidas, constitui a ideologiacomo “situação falsa”, dando-nos um modo específicode sermos sujeitos e produzirmos história. É certo que aindústria cultural apenas poderia ser combatida poruma reformulação da educação que incluísse a com-preensão das tramas de poder nela envolvidas e umanova produção de experiência estética. A psicanálise setorna, para Adorno, um dos elementos que podem tra-zer luz para a obscuridade das relações. Ela pode aju-dar a responder a uma pergunta de cunho emancipató-rio: Como alguém chegou a ser o que é? Essa reflexãosobre a experiência começa pela crítica das bases dasociedade e uma dessas bases questionadas é a razão.

10. Não é a crítica cáustica e externa que interes-sa a Adorno, quando investe suas forças argumentati-vas na análise da razão. Conhecedor dos usos do con-ceito de crítica de seus antepassados, ele reconhece o

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mérito da kantiana crítica da razão e tenta levar seu pro-pósito novamente adiante, bem como a atenção ao sig-nificado da crítica imanente em Hegel. Seu interesse éexaminar a constituição ontológica da razão, mais doque compreender a possível contaminação que essa fa-culdade – capaz de tornar os homens senhores de seudestino (segundo o fundo kantiano e hegeliano quesubjaz à sua filosofia) – sofre, quando molha suas man-gas nas águas sujas do irracional. A separação entre ra-cional e irracional, em Adorno, serve à exposição deuma dialética, por ele denominada “negativa”. Ela se re-solve na polaridade e, mais do que definir o avanço dahistória ou do pensamento, trabalha com a mediaçãoentre pensamento e sociedade, arte e política, metafísi-ca e estética, corpo e espírito, sustentados em seu lugarhistórico e social. A síntese entre opostos dialéticos,como tese e antítese, deixa de ser uma questão, se a to-mamos em seu sentido hegeliano, pois a atenção à antí-tese, assim como à tese, torna uma irredutível à outra.Nem é possível tratar o novo evento histórico ou o resul-tado de um embate de forças como uma síntese quepudesse guardar a verdade do momento anterior, sejaele histórico ou gnosiológico. A dialética negativa definemuito mais do que uma teoria que procura resolver pro-blemas lógicos ou transcendentais, ela procura com-preender a relação entre mundo da teoria e da prática,entre transcendental e empírico, universal e particular,mundo do pensamento e da ação. Se a questão da sín-tese precisar permanecer na cena, significa que ela setorna o giro entre as duas faces de Janus, cuja unidadese caracteriza na complexidade da cabeça de duas fa-ces. A dialética negativa, todavia, é um dos últimos mo-mentos de um processo de constituição de teoria, cujoselementos se desenvolviam muito antes, já esboçandoseu sentido em outras abordagens da dialética.

11. Adorno ficou muito conhecido com sua Dialé-tica do Esclarecimento de 1947, livro escrito junto com oamigo Max Horkheimer logo depois da II Guerra Mun-dial. Nessa obra, ele elabora o conceito de indústria cul-tural e as pertinentes análises sobre a dominação da na-tureza, da razão instrumental, da convertibilidade entremito e iluminismo, a fundação da subjetividade moder-na nos tempos homéricos, as semelhanças entre Sadee Kant e reafirma um programa filosófico que iniciarapelos menos 15 anos antes e mais tarde (mais precisa-mente em 1966) receberia esse nome, para muitos as-sustador, de Dialética negativa. O livro de 1947 é umaanálise da burguesia e da sociedade moderna que re-

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cria, a cada momento, a sua contradição máxima: a bar-bárie que deveria ter sido superada pela civilização. Abarbárie é o nome da violência jamais deixada ou supe-rada pela civilização. O teor complexo da crítica elabo-rada no trabalho levou um famoso leitor, ex-aluno deAdorno (Habermas), mas que infelizmente não enten-deu bem a sua obra, a chamá-lo de “livro negro” e a im-putar-lhe teses absurdas, tais como a da crítica total queesfacela a razão e acaba com a chance de um futuropara a cultura e a humanidade. O livro é cruel com a ra-zão, mas essa não seria a qualidade do pensamentoque se leva até as últimas conseqüências? Seria possí-vel buscar a verdade sem assumir suas conseqüênciasou usar a razão, acobertando os caminhos que elapode seguir na busca pela verdade? Qual o sentido dafilosofia quando ela se confronta consigo mesma? Esta-mos diante de uma filosofia que se questionou a si mes-ma e à tradição. Não seria essa a tarefa de todos os quese envolvem com os campos do conhecimento e daação em qualquer de suas modalidades? Essa obraque se pensa em termos de responsabilidade éticapode ser entendida apenas como uma visão de mundopessimista ou otimista. Adorno realmente foi um pessi-mista, mas não apenas isso. E esse pessimismo eramais do que uma visão de mundo.

12. O pessimismo da obra de Adorno é outro ele-mento bem conhecido em sua filosofia, mas pouco dis-cutido, e serve como baluarte dos preconceitos contraseu pensamento. Contudo, o conceito que o organiza émais sofisticado do que a apreensão vulgar da palavrapessimismo: refere-se ao passado, não ao futuro, e aofato inexorável de que o sofrimento vivido não poderáser reparado. Os mortos não podem ser ressuscitados:para esses, não haverá justiça. Essa é uma verdade quea filosofia não pode deixar de encarar. Trata-se de umaverdade inexorável. Porém, esse pessimismo não se re-fere ao futuro: como diz o próprio Adorno em outra pu-blicação, Minima Moralia, o fracasso da cultura até ago-ra não é motivo para que incentivemos o seu contínuofracasso, o fracasso futuro da cultura. A constatação dopassado não é a lei de um futuro que deve, enquantoaberto, ser construído. É nesse ponto que a filosofia deAdorno é uma filosofia da transformação. Ele é crítico,mas não nostálgico de um passado bom, nem “sim-plesmente” pessimista de um futuro ou um presentemaus. Antes, é um filósofo disposto a encarar os fatosda história e pensar a reconstrução do ideal da humani-dade, segundo um argumento semelhante: a destrui-

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ção do ideal da humanidade não é motivo para que osfilósofos se afastem dele. A crítica vem em boa hora,não apenas como desmoronamento dos edifícios dascrenças e preconceitos, mas como reconstrução da vo-cação prática do pensamento: os filósofos têm a tarefada reflexão e o compromisso ético e metafísico com odevir.

13. Adorno morreu em 1969, e seu pensamentoainda não foi compreendido e assimilado. Uma das ba-ses de seu pensamento, a idéia do recalcamento de ori-gem tanto schopenhaueriana quanto nietzscheana emais tarde freudiana, pode ser bem aplicada a sua pró-pria obra. A história recalca certos livros. Outros pensa-dores de nosso século, mesmo tendo uma produçãomenor, são bem mais conhecidos, e isso se deve aoconteúdo e forma como escreveram. Pensamos queesse desconhecimento ou abandono se deva ao teorcáustico de sua retórica e de suas idéias. Para citar umadelas, quem sabe a mais insuportável para a filosofia:nem todo pensador será capaz de achar viável provarque, se a vida fosse melhor, a filosofia seria inútil de quetambém a filosofia participa do princípio de autoconser-vação que impede a solidariedade e que torna a vidamá. Adorno não é um filósofo que romantiza a filosofiaapesar de apostar em seu potencial. Ele diz, lembrandoMarx em sua famosa 11ª tese sobre Feurbach, que a fi-losofia só continua existindo porque deixou passar omomento de sua realização, e isso significa que o mun-do não foi modificado, mas ainda precisa sê-lo, e essatransformação deve começar pela própria autocrítica dateoria. E, em Adorno, essa autocrítica é levada até suasúltimas conseqüências, reconhecendo a precariedadee o limite do pensamento, assim como sua coragem eousadia. Estamos diante de uma dialética do pensa-mento entre sua necessidade e um mundo justo ondeele se torna inútil. A filosofia é, nesse sentido, uma lutacontra a queda, uma tentativa de superar a condição dedesgraça que atinge a humanidade desde seus primór-dios. Apenas a filosofia poderá mostrar ou provar queexiste futuro.

14. Assim, a relevância do pensamento de Ador-no se mostra, sobretudo para a atualidade, política,mesmo considerando o fato de que sua recepção tenhase dado mais pelo campo da estética. Adorno é autorda famosa frase “Não é possível fazer poesia depois deAuschwitz”, que ele mesmo corrigiu ao dizer que talvezisso fosse falso diante de outra questão menos cultural:se é possível continuar vivendo depois de escapar de

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um assassinato legal (a sua experiência de intelectualmeio judeu que foge do nazismo, exilando-se em outropaís). A questão que está posta e que a nosso ver definea novidade ética na filosofia de Adorno diz respeito ao es-tatuto dessa sobrevivência, do malogro da vida. Adornofoi um filósofo do testemunho, alguém marcado pelacondição judaica no período do nazismo alemão e peloexílio nos EUA. Dessa perspectiva, é possível entendernão apenas o dito de Nietzsche, de que a filosofia ésempre uma auto-exposição de seu autor, mas tambéma importância da questão do sofrimento e do conceitode experiência em sua filosofia. Adorno entendeu a filo-sofia como tarefa de eliminação do sofrimento, comosolidariedade do intelectual com a vida daqueles quesofrem e, tudo isso, em um registro materialista que im-plica encontrar a explicação histórica para o passado ea promessa ética de um mundo justo e humano a cons-truir. Nesse sentido, a utopia e a metafísica negativaspretendem compreender a ontologia (a teoria do ser) dacondição falsa, da vida em seus limites e transformá-la.A questão da vida danificada é fundamental, pois, pormeio dela, Adorno discute o significado atual da vida,como conceito que ultrapassa a biologia e atinge a polí-tica. Por outro lado, a questão da experiência o aproxi-ma de seu amigo Walter Benjamin (morto por suicídioem 1940, quando fugia dos nazistas), no fato e no texto,ao ponderar o sentido e a sensibilidade fundadoras damemória, da capacidade de comunicação e expressãoe da oportunidade de se contar o vivido como algo queescapa da trama histórica com a guerra e o sofrimento.

15. A experiência com as guerras é central para afilosofia do século XX. Eric Hobsbawm afirma que esseséculo começa com a primeira guerra e termina com aqueda do muro de Berlim. Auschwitz representou, paraAdorno, o próprio lugar do nonsense da civilização que,em seu ápice, se entrega à barbárie. Como seria possí-vel para ele aceitar que, numa Alemanha que estava notopo da ciência, das artes, da literatura, da filosofia, ogenocídio se gestasse sob argumentos e ações racio-nais? Para ele, tratava-se de uma traição da razão a simesma e da demonstração de que o progresso prome-tido pelo Iluminismo não previra suas próprias conse-qüências, pois não soubera avaliar seu próprio proces-so e ponderar a questão de um inconsciente, de um lu-gar do recalcado da história. Desse modo, Auschwitzvale como metáfora de uma civilização que destrói a simesma com a ajuda da razão. Não se trata, como seriafácil pensar, de que Adorno, como meio judeu, fizesse

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uso retórico desse evento funesto a fim de contabilizaruma culpa histórica, mas interessa-lhe o momento dadecisão racional do extermínio, do genocídio pensado eprojetado em tempos em que a humanidade deveria tertudo para realizar a promessa de uma sociedade feliz.

16. É curioso que Adorno tenha vivido nos EUA eescrito um trabalho intitulado A Personalidade Autoritá-ria, que analisa o potencial fascista americano por meiode uma formulação chamada “escala F” que se consti-tui no eixo da pesquisa que pretendia medir o carátersadomasoquista (o gosto em submeter os mais fracos eendeusar os mais fortes como característica do com-portamento que revela o caráter moral de uma pessoa)dos americanos. Mais tarde, em um texto também bas-tante conhecido, chamado Educação após Auschwitz,ele afirmou que o nazismo sobrevive, sendo uma cons-tante da civilização como desejo de destruir o mais fra-co que se inscreve na cultura nos termos da relação ain-da não resolvida entre razão e afeto, entre capacidadede decisão e ódio. Se o mais fraco deve ser destruído,contudo, o mais forte vale como um deus, vide o casode Hitler. O que lhe interessava nesses textos era pen-sar o lugar da violência na estrutura da sociedade, umaviolência disposta em todos os espaços e que não nosabandona como espécie, que se confirma nas macro emicroestruturas da sociedade. A análise do arcaico, doque em Freud é o inconsciente, em Nietzsche são aspulsões, como a sobrevivência da natureza recalcadana razão, não explica, por inteiro, o problema da violên-cia como questão de ordem moral e política. A discus-são deveria ser levada ao campo da passagem entrenatureza e cultura. Nesse ponto, a atualidade da filoso-fia de Adorno se revela com sua máxima força. A violên-cia e o horror – que marcaram Auschwitz e tantos outrostempos e espaços na história humana – ainda não en-contraram respostas que os fizessem desaparecer, masuma análise das relações entre natureza e cultura quepossa questionar a fundação de nossos laços sociais ea constituição de nossos espaços políticos, podem tra-zer luz ao lado obscuro de nossa história.

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Bibliografia

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Observações sobre o Pensamento Filosófico. In: Palavras e Sinais. Mo-delos Críticos 2. Petrópolis: Vozes, 1995.

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Sobre Sujeito e Objeto. In: Palavras e Sinais. Petrópolis: Vozes, 1995.

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Textos sobre Theodor W. Adorno

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VALLS, Álvaro. Estudos de Estética e Filosofia da Arte. Porto Alegre: Edi-tora da UFRGS, 2002.

16 Márcia Tiburi

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DEBATE APÓS APRESENTAÇÃO DO TEMA NOIHU IDÉAIS DO DIA 18.09.2003

Marco, estudante de Filosofia – O corpo não tem nada a ver como psíquico, ou não tem psíquico no corpo? Poderia explicar umpouquinho melhor?

Márcia Tiburi – Eu não quis dizer que não tem o psíquico no cor-po. Disse que o conceito de sofrimento de Adorno diz respeitoao físico. Ele é um filósofo materialista, no sentido de ter umcomprometimento com a carne. Então, o sofrimento psíquico,além de tudo, pode ser um sofrimento... Bom, talvez ele nemexista, talvez nem exista o sofrimento psíquico, porque o psíqui-co já é o físico nesse caso. Não quero fazer uma separação entreessas duas coisas. Mas é muito contundente o modo como elediz que o sofrimento é físico. Isso porque seria um sofrimento donosso desejo, um sofrimento em algum lugar desse tipo, masque não está fora de nosso corpo, nem tem outra origem. Quetodo sofrimento seja físico refere-se ao posicionamento de um fí-lósofo materialista, comprometido com o corpo. Por outro lado,Adorno também é um filósofo da teoria crítica, que se compro-mete com as transformações das condições materiais da exis-tência. Logo, se trata de acabar com a fome, com o sofrimentono sentido de acabar com a dor do sofrimento que é imposto aocorpo por motivos políticos, e não por motivos naturais. Mas osignificado do que é natural e do que é político, é algo que dariao que pensar nas obras do Adorno, do Marcuse, do Horkheimere nos levaria, certamente, a uma discussão sobre a biopolíticana tentativa de responder sobre a relação entre o corpo, a meta-física e o universo da ação.

Marco – Mais ou menos que as manifestações físicas existissem,o que não existe é o corpo, ou seja, esse conceito do corpo.

Márcia Tiburi – Existe, mas ele é materialista. Então não temalma, não tem mente. É corpo, nós só podemos falar porque so-mos corpo.

André, estudante de Jornalismo e Filosofia – Sobre a sua últimafala, com que encerrou, colocando a filosofia como negativa: seesse mundo fosse bom, ela não precisaria existir. Nesse caso,nós poderíamos concluir que a filosofia pretende e tem esperan-

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ça de tornar o mundo melhor? Dentro disso, como é que ficaria arelação entre a teoria e a prática? Porque, se ela quer tornar omundo melhor, alguém tem que praticar para esse mundo ficarmelhor. Parece que uma das coisas criticadas em Adorno, achoque no fim da vida dele, foi que ele renegava a prática, e pareceque alguns estudantes, porque sua teoria era crítica, esperavamque ele praticasse alguma coisa, mas ele fazia questão de nãopraticar.

Márcia Tiburi – É um dos momentos bem importantes da teoriadele, ele vai morrer, aliás, por causa disso, eu acho. Ele morrepor causa desse evento triste com as estudantes em Frankfurt, ofamoso evento em que elas entram e abrem a roupa, fazendoum escândalo. Adorno tinha sido eleito para ser o teórico do mo-vimento estudantil e ele se negou a isso, porque pensava que aprática dos estudantes era cega. Adorno tem um texto sobre aquestão “teoria e prática” “Notas marginais sobre teoria e práti-ca”, do livro Palavras e Sinais. O título em alemão significa pala-vras pontiagudas. A questão do Adorno é muito sutil. Não se tra-ta de fazer uma teoria que oriente a prática. A teoria nunca podesimplesmente orientar a prática, porque ela já é um forma deprática, não é algo diferente dela. O intelectual, nesse sentido,tem um papel social e ativo: fazer teoria. Não é nada fácil, não énada simples. Se quisermos medir isso com aquilo que nós jul-gamos no sentido mais vulgar como a prática, podemos pergun-tar: O que é mais prático? Ler um livro, escrever um texto, pen-sar, sentar, conversar, resolver questões que dizem respeito aosconceitos e às idéias ou ficar varrendo o chão, fazendo comida,enfim, vendendo objetos, trabalhando na burocracia? Sem dúvi-da, a vida é prática, mas que espécie de prática? Separar a teoriade prática é improfícuo, a prática transformadora só se dá medi-ada pela teoria e vice-versa. O tempo inteiro estamos, tantoquanto no sentido mais simples da prática, fazendo teoria. A filo-sofia é só a teoria refletida. As teorias não refletidas são aquelasem que o sujeito não reflete sobre sua ação de pensar. A cadaexplicação do mundo feita por nós ou por outros, a cada tentati-va de explicar o cotidiano, todos nós temos recortes conceituaisda realidade por mínimos que sejam. Então, a filosofia só faz es-pecializar essa questão. E isso pode ser bem ideológico ouemancipatório. Se a filosofia se coloca como a teoria especiali-zada no sentido de algo não prático é para que o universo que agente diz que é universo prático possa se dar ou continuar se-guindo seu caminho cego, aí estamos no pensamento que pre-tende falsear a realidade, esquecer que a filosofia tem uma voca-ção prática desde seu surgimento. A questão é decidir o que fa-zer com essa capacidade. Não escapamos da decisão. ParaAdorno, a teoria é uma forma de prática. Escrever, pensar, ler, in-vestigar, debater-se com os conceitos, tudo isso é muito árduo.

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É como quebrar pedra. Alguém já disse que o escritor, assimcomo o filósofo, é alguém que quebra pedra na cantaria, ele éum canteiro. Em Minima Moralia, Adorno diz que o intelectual sesolidariza com o sofrimento humano. Mas é uma questão tam-bém de tarefa. Outra coisa, em relação a esse contexto, é queAdorno foi mesmo um filósofo pessimista. O pessimismo nos fa-ria, como sociedade, menos prepotentes. O pessimismo precisaser visto segundo a sutileza que está contida no seu conceito:ele significa pensar que o passado é a própria forma declaradadaquilo que nós não conseguimos ser. Em relação ao futuro, po-demos ser até muito otimistas e fazer tudo para tentar melhorar.Mas em relação ao passado, não há escapatória. O pessimismoseria a medida da nossa humildade, como seres humanos. Aquipodemos até derivar por uma discussão sobre o sentido trágicoda existência.

Ricardo, estudante de Filosofia – Márcia, tu disseste que a filo-sofia do Adorno se propõe a ser guardiã de tudo aquilo que estáescrito na história, que não aparece nem como vencedor nemcomo vencido, que está sendo o próprio lixo da história, aquiloque está fora, que não está colocado, que não é falado. Mas, aomesmo tempo o músico preferido dele é o Schoenberg que ape-nas os iniciados compreendem; os que têm os ouvidos treina-dos. A filosofia dele é uma filosofia, tu mesma já disseste, de difí-cil compreensão, ou seja, uma filosofia para poucos. Isso me pa-rece paradoxal, porque, ao mesmo tempo que ele quer incluir osexcluídos, ele está excluindo uma série de pessoas que não teriamcompreensão para entender o que ele está querendo dizer. Comopoderia compreender isso?

Márcia Tiburi – Ele foi um crítico da comunicação, assim comoWalter Benjamin. São críticos da idéia de que a linguagem sejasó comunicação. Para eles a linguagem é expressão. Os textosdo Adorno são difíceis também por isso. Para ele não é possívelque, sem o esforço do pensamento, se alcance a verdade, emAdorno, é muito parecida com a concepção que W. Benjamintem dela, tem a ver com fulguração, epifania, choque, susto, ad-miração, como nos gregos. A verdade é algo que se vai encon-trar numa experiência que se tem com a vida como encontro. Elasitua-se na relação entre sujeito e objeto, sem ser intencional, ouseja, produzida pelo sujeito, sem ser também, uma simplespressuposição do objeto e da adequação do intelecto à coisa. É,sobretudo, penso eu, um modo de encontro. Esse encontro nãose produz em uma notícia de jornal, ali falta a passagem, a admi-ração, o taumas de que falavam Platão e Aristóteles. Falta o en-contro com a beleza e o horror da vida que significam sua expe-riência. Eu diria assim: Adorno vai ser contra a vida mastigada, avida tratada como algo barato, como algo que se encontra em

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qualquer esquina. A experiência da vida, como em Walter Benja-min, é fazer uma “viagem” com as coisas. Eu posso bem passaro resto da minha vida diante desse copo sem pensar nada sobreele, mas se eu quiser fazer a experiência do copo, eu tenho queparar, pensar e treinar o meu sentido de admiração, o taumasdos gregos. De outro modo, posso ser tomado por isso se estoucom minha atenção pronta. Nisso tudo, a filosofia não é comuni-cação apenas, é mais expressão. A filosofia não é uma didática.A filosofia tem um aspecto retórico sem dúvida, mas este aspec-to retórico, que, sem dúvida, diz respeito não à comunicação e àfacilitação de conteúdos, e sim à promoção de experiências. A fi-losofia é, segundo a melhor definição que Adorno apresenta so-bre ela, no livro Terminologia filosófica, o encontro de um estu-dante de medicina que, pela primeira vez, vai para a aula de ana-tomia, e se depara com um cadáver. Então, encontrar-se com afilosofia, é encontrar-se com um cadáver numa aula de anato-mia. Essa metáfora significa muitas coisas: do conhecimento so-bre procedimentos de investigação de tecidos e órgãos, termi-nologia e taxonomia dos tecidos, dos ossos, enfim do corpocomo tal, até o reconhecimento de que a história e a não-históriaestão ali presentes. O fato de que aquele cadáver de um indigen-te que não tem nome, não tem história, mas que deveria ter tido,não deve passar despercebido. Enfim, a filosofia é, certamente,um encontro com o morto, e encontro com aquilo que não temsentido, com a morte.

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O tema deste caderno foi apresentado noIHU Idéias, dia 18 de setembro de 2003.

TEMA DOS ÚLTIMOS CADERNOS IHU IDÉIAS:

N. 01 – A teoria da justiça de John Rawls – Dr. José Nedel.

N. 02 – O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produ-ções teóricas – Dra. Edla Eggert.O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em SãoLeopoldo – MS Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas Ane-marie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss.

N. 03 – O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Glo-bo – Jornalista Sonia Montaño.

N. 04 – Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular –Prof. Dr. Luiz Gilberto Kronbauer.

N. 05 – O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Dr. ManfredZeuch.

N. 06 – BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo– Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro.

N. 07 – Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Profa.Dra. Suzana Kilpp.

N. 08 – Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Profa. Dra.Márcia Lopes Duarte.

N. 09 – Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e asbarreiras à entrada – Prof. Dr. Valério Cruz Brittos.

N. 10 – Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir deum jogo – Prof. Dr. Édison Luis Gastaldo.

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