os 10 melhores do rock gaúcho

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especial F oram 50 personalidades consultadas, entre músi- cos, críticos, jornalistas e produtores. No total, mais de 80 títulos citados. Tudo para descobrir quais são os melhores discos da história do rock gaúcho. Cada votante convidado por APLAUSO indicou os cinco melhores álbuns, em ordem de preferência. O melhor de cada um recebeu cinco pontos. O segundo melhor, quatro. E assim por diante, até o quinto melhor, que recebeu um ponto. A seguir, estão destacados os dez discos com a melhor pontuação. O resultado trouxe diversas surpresas, a começar pelo vencedor. A Sétima Efervescência, de Júpiter Maçã, lançado em 1996 pelo selo Antídoto/ACIT, não só amealhou mais pon- tos como foi o disco mais citado – 26 vezes. Além disso, com 73 pontos, garantiu distância folgada do segundo colocado, Por Favor, Sucesso (1969), da lendária Liverpool, que somou 51 pontos. Primeira grande banda de rock do RS, o Liverpool teve declarada influência (o nome já sugere) dos Beatles. Na década de 70, os mesmos integrantes formariam outro gru- po que, com um som influenciado pelo rock progressivo, tam- bém fez história – e aparece no ranking: Bixo da Seda. Porém, a expressão “rock gaúcho” – polêmica, por sinal – começou a fazer sentido mesmo só nos anos 80, época do boom do rock nacional. As coletâneas Rock Garagem (1984) e Rock Grande do Sul (1986) apresentaram a primeira gera- ção propriamente dita de bandas locais. Os Engenheiros do Hawaii (e o Nenhum de Nós, de forma passageira) consegui- ram sucesso no país, enquanto as demais tiveram apenas incursões além do Mampituba, e até hoje a pergunta perma- nece: o que há de gaúcho no rock gaúcho? A resposta está em alguns registros dessa geração que figuram no ranking, como Replicantes,TNT, Cascavelletes e De Falla. Foi essa mesma turma que montou a cultuada Graforréia Xilarmônica, que estreou em disco nos anos 90, com o hino Amigo Punk – e que também aparece entre os dez mais. Na segunda metade dessa década, surgiu uma nova leva de bandas, como Bidê ou Balde e Cachorro Grande. Mas é a Ultramen, com uma sonoridade que foge do que se espera- ria de uma banda “gaúcha”, a única delas a figurar no ranking, com um disco lançado no sintomático ano 2000. Apesar de também recente, o título vencedor é assinado por um músico de longa ficha corrida no rock gaúcho. Júpiter Maçã é como prefere ser chamado Flavio Basso, ex-TNT e Cascavelletes. A Sétima Efervescência foi seu primeiro trabalho solo (em 2007, ele deve lançar o quarto, Uma Tarde na Fruteira, que já tem faixas circulando nas rádios e na internet). A impor- tância do álbum está na sonoridade e no visual sessentistas, que praticamente deram o tom do rock gaúcho desde então, influenciando até o modo de os músicos se vestirem. Confira, nas próximas páginas, detalhes e curiosidades sobre os discos, além de descobrir quais são os piores álbuns na opinião do júri e como foi a votação do júri popular, em enquete realizada em parceria com a rádio Ipanema FM. GAUCHO A pedido de APLAUSO, 50 músicos e especialistas elegem os álbuns mais importantes e influentes já realizados no Rio Grande do Sul, em um ranking repleto de surpresas. Confira quem ganhou e quem ficou de fora FÁBIO PRIKLADNICKI [email protected] Os 10 melhores discos do CRISTIANO BASTOS jornalista, co-autor de Gauleses Irredutíveis – Causos e Atitudes do Rock Gaúcho ROCK ´ 26 83_rock-final.pmd 3/13/2007, 7:55 PM 26

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Matéria de capa da revista Aplauso que escolheu, entre uma lista de 50 especialistas, os 10 melhores álbuns gravados.

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especial

F oram 50 personalidades consultadas, entre músi-

cos, críticos, jornalistas e produtores. No total, mais

de 80 títulos citados. Tudo para descobrir quais são

os melhores discos da história do rock gaúcho. Cada votante

convidado por APLAUSO indicou os cinco melhores álbuns,

em ordem de preferência. O melhor de cada um recebeu

cinco pontos. O segundo melhor, quatro. E assim por diante,

até o quinto melhor, que recebeu um ponto. A seguir, estão

destacados os dez discos com a melhor pontuação.

O resultado trouxe diversas surpresas, a começar pelo

vencedor. A Sétima Efervescência, de Júpiter Maçã, lançado

em 1996 pelo selo Antídoto/ACIT, não só amealhou mais pon-

tos como foi o disco mais citado – 26 vezes. Além disso, com

73 pontos, garantiu distância folgada do segundo colocado,

Por Favor, Sucesso (1969), da lendária Liverpool, que somou

51 pontos. Primeira grande banda de rock do RS, o Liverpool

teve declarada influência (o nome já sugere) dos Beatles. Na

década de 70, os mesmos integrantes formariam outro gru-

po que, com um som influenciado pelo rock progressivo, tam-

bém fez história – e aparece no ranking: Bixo da Seda.

Porém, a expressão “rock gaúcho” – polêmica, por sinal –

começou a fazer sentido mesmo só nos anos 80, época do

boom do rock nacional. As coletâneas Rock Garagem (1984)

e Rock Grande do Sul (1986) apresentaram a primeira gera-

ção propriamente dita de bandas locais. Os Engenheiros do

Hawaii (e o Nenhum de Nós, de forma passageira) consegui-

ram sucesso no país, enquanto as demais tiveram apenas

incursões além do Mampituba, e até hoje a pergunta perma-

nece: o que há de gaúcho no rock gaúcho? A resposta está

em alguns registros dessa geração que figuram no ranking,

como Replicantes,TNT, Cascavelletes e De Falla.

Foi essa mesma turma que montou a cultuada Graforréia

Xilarmônica, que estreou em disco nos anos 90, com o hino

Amigo Punk – e que também aparece entre os dez mais. Na

segunda metade dessa década, surgiu uma nova leva de

bandas, como Bidê ou Balde e Cachorro Grande. Mas é a

Ultramen, com uma sonoridade que foge do que se espera-

ria de uma banda “gaúcha”, a única delas a figurar no ranking,

com um disco lançado no sintomático ano 2000.

Apesar de também recente, o título vencedor é assinado

por um músico de longa ficha corrida no rock gaúcho. Júpiter

Maçã é como prefere ser chamado Flavio Basso, ex-TNT e

Cascavelletes. A Sétima Efervescência foi seu primeiro trabalho

solo (em 2007, ele deve lançar o quarto, Uma Tarde na Fruteira,

que já tem faixas circulando nas rádios e na internet). A impor-

tância do álbum está na sonoridade e no visual sessentistas,

que praticamente deram o tom do rock gaúcho desde então,

influenciando até o modo de os músicos se vestirem.

Confira, nas próximas páginas, detalhes e curiosidades

sobre os discos, além de descobrir quais são os piores álbuns

na opinião do júri e como foi a votação do júri popular, em

enquete realizada em parceria com a rádio Ipanema FM.

GAUCHOA pedido de APLAUSO, 50 músicos e especialistas elegem os

álbuns mais importantes e influentes já realizados no Rio

Grande do Sul, em um ranking repleto de surpresas.

Confira quem ganhou e quem ficou de fora

FÁBIO PRIKLADNICKI

[email protected]

Os 10 melhores discos do

CRISTIANO BASTOS

jornalista, co-autor de Gauleses Irredutíveis – Causos e Atitudes do Rock Gaúcho

ROCK´

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A SÉTIMA EFERVESCÊNCIA(1996) – JÚPITER MAÇÃ

No regresso de uma jornada relâmpago pelo folk dylanesco,

no começo da década de 90, como Woody Apple, o compo-

sitor Flavio Basso (ex-Cascavelletes e TNT) inaugurou sua

fase elétrico-psicodélica ao empunhar novamente a guitar-

ra e assumir a alcunha de Júpiter Maçã. Montou a banda

Júpiter Maçã & os Pereiras Azuiz e gravou a fita demo Ao

Vivo na Brasil 2000 FM, de 1995, que já antecipava parte

das músicas que entrariam no repertório de A Sétima Efer-

vescência, lançado pelo selo Antídoto/ACIT.

No estúdio, a lisergia das canções originais foi valoriza-

da com sofisticadas orquestrações arranjadas pelo músico

Marcelo Birck e partipações especiais de Frank Jorge (ex-

Graforréia Xilarmônica e Cascavelletes) e do produtor Thomas

Dreher. O clima de psicodelia e ousadia experimental está

presente em todas as faixas do disco: em Pictures and

Paintings, Querida Superhist x Mr Frog e The Feaking Alice

(Hippie Undergroove), a consciência perturbadora de Syd

Barrett influencia diretamente o artista. No encarte do dis-

co, cuja produção é de Egisto dal Santo, Júpiter faz uma

deferência aos gnomos de estúdio “que mexiam nos con-

troles, sem autorização, para melhores resultados”.

Na visão do jornalista Fernando Rosa, A Sétima Efer-

vescência, além de ser um grande disco, sintetiza todo o

chamado “rock gaúcho”: “Ali está a paixão gaudéria pela

década de 60, a psicodelia intravenal de Syd Barrett e a

#01

Jovem Guarda – em menor escala, mas também presente”.

Um dos grandes predicados do álbum, comenta, é que

amalgama ingredientes dos demais discos indicados pelo

júri na votação – da psicodelia-tropicalista do Liverpool ao

punk minimalista dos Replicantes, em direção ao pós-tudo

da Graforréia Xilarmônica.

Em Porto Alegre, o impacto de A Sétima Efervescência

extrapolou as esferas musicais e passou a ditar mudanças

de caráter visual: desde então, as ruas da capital (e do

bairro Bom Fim em especial) foram tomadas de assalto por

um esquadrão de jovens metidos em terninhos de brechó e

penteados beatle. Muitos formaram bandas que emulam

as referências mod resgatadas do túnel do tempo por

Júpiter Maçã. Mas a influência também foi sonora: o hino

Lugar do Caralho foi gravado por Wander Wildner e Miss

Lexotan 6mg Garota ganhou uma versão da banda Ira!

O ex-Replicantes Carlos Gerbase considera A Sétima

Efervescência um disco clássico porque está ligado a uma

tradição estética que Júpiter Maçã foi capaz de superar, ou

até negar, para que pudesse existir plenamente: “As idéias

musicais do Flavio – ou do Júpiter, como queiram – são

radicalmente novas”. Além disso, ele completa, foi gravado

com excelente qualidade técnica e, muito mais importante,

registrou o momento de exceção de um artista, “o que

significa que ele terá vida muito longa”.

73 PONTOS

JÚPITER MAÇÃCom A Sétima

Efervescência, ele definiu

a direção do rock feito no

Rio Grande do Sul

Arte s

obre

foto

de D

anie

l Feix

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QUEM VOTOUEM QUEM

1º LUGAR 2º LUGAR 3º LUGAR 4º LUGAR 5º LUGARAlemão Ronaldo (Bandaliera) Ao Vivo (1991) – Bandaliera Rock Garagem (1984) – Vários TNT 1 (1987) – TNT Pista Livre (2005) – Cachorro Grande Bandaliera 15 Anos (1997) – BandalieraAlexandre Matias (jornalista, O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes A Revolta dos Dândis (1987) A Sétima Efervescência (1996) 90o (2000) – Walverdes Carteira Nacional de Apaixonado colaborador Bizz, Folha de S. Paulo) – Engenheiros do Hawaii – Júpiter Maçã (2000) – Frank JorgeAndrio Maquenzi (Superguidis, Amnésia Global (2003) Histórias de Sexo e Violência Coisa de Louco II (1995) Playback (2005) – Walverdes A Sétima Efervescência (1996) vocalista e guitarrista) – Plato Divorak e Frank Jorge (1987) – Replicantes – Graforréia Xilarmônica – Júpiter MaçãArthur de Faria (músico, pesquisador, Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Saracura (1982) – Musical Saracura A Sétima Efervescência (1996) Fita demo (1993) Julio Reny e Expresso Oriente (1990) radialista da Pop Rock) – Júpiter Maçã – Aristhóteles de Ananias Jr. – Julio Reny e Expresso OrienteBeto Bruno (Cachorro Grande, De Falla 2 (1988) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) As Próximas Horas Serão muito Boas O Futuro É Vórtex (1986) Rock Grande do Sul (1986) – Vários vocalista) – Júpiter Maçã (2004) – Cachorro Grande – ReplicantesBiba Meira (ex-De Falla, baterista) De Falla 2 (1988) – De Falla Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes TNT 1 (1987) – TNT O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Nenhum de Nós (1987) – Nenhum de NósCarlinhos Carneiro (Bidê ou Balde, A Sétima Efervescência (1996) De Falla 1 (1987) – De Falla Amnésia Global (2003) Os Cascavelletes (1988) O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes vocalista) – Júpiter Maçã – Plato Divorak e Frank Jorge – CascavelletesCarlo Pianta (Graforréia Xilarmônica, Demo da Vórtex (1987) Último Verão (1983) – Julio Reny Ao Vivo na Brasil 2000 FM (1995) O Futuro É Vórtex (1986) Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda baixista e guitarrista) – Cascavelletes – Júpiter Maçã & Os Pereiras Azuiz – ReplicantesCarlos Branco (produtor, grav. Barulhinho) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Julio Reny e Expresso Oriente (1990) De Falla 1 (1987) – De Falla Introdução (1988) – Colarinhos CaóticosCarlos Eduardo Miranda Demo da Vórtex (1987) Fita demo Com Amor Muito Carinho Último Verão (1983) – Julio Reny A Sétima Efervescência (1996) Histórias de Sexo e Violência (1987) (produtor, ex-gravadora Trama) – Cascavelletes (1988) – Graforréia Xilarmônica – Júpiter Maçã – ReplicantesCarlos Gerbase (ex-Replicantes, baterista) A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes De Falla 1 (1987) – De Falla Último Verão (1983) – Julio Reny TNT 1 (1987) – TNTClaudinho Pereira (DJ, radialista) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Ao Vivo Acústico (2004) –Papas da Língua Rock Grande do Sul (1986) – VáriosCláudio Cunha (radialista, Rock Grande do Sul (1986) – Vários Rock Garagem (1984) – Vários Longe Demais das Capitais (1986) Kingzobullshitbackinfulleffect92 A Sétima Efervescência (1996) Ipanema FM) – Engenheiros do Hawaii (1992) – De Falla – Júpiter MaçãDiego Medina (ex-Video Hits, Marcelo Birck (2000) – Marcelo Birck A Sétima Efervescência (1996) Aristhóteles de Ananias Jr. (1996) Fita demo de Carteira Nacional de Em Amplitude Modulada (2000) vocalista e guitarrista) – Júpiter Maçã – Aristhóteles de Ananias Jr. Apaixonado (1998) – Frank Jorge – Os AtonaisDuca Leindecker (Cidadão Quem, Xeque-Mate (2002) – Fughetti Luz Cheiro de Vida (1984) – Cheiro de Vida Totalmente Rock (1985) – Taranatiriça Longe Demais das Capitais (1986) Ao Vivo (1991) – Bandaliera vocalista e guitarrista) – Engenheiros do HawaiiEdinho Espíndola (ex-Liverpool TNT 1 (1987) – TNT Olelê (2000) – Ultramen Armazém de Mantimentos (2002) Lory F. Band (1996) – Lory F. Band Pata de Elefante (2004) e Bixo da Seda, baterista) – Bataclã FC – Pata de ElefanteEduardo Santos (radistalista, Kingzobullshitbackinfulleffect92 A Sétima Efervescência (1996) Demo da Vórtex (1987) O Incrível Caso da Música Que Pista Livre (2005) – Cachorro Grande Ipanema FM) (1992) – De Falla – Júpiter Maçã – Cascavelletes Encolheu... (2002) – UltramenEdu K (De Falla, Último Verão (1983) – Julio Reny Calendário da Imaginação (1988) Demo da Vórtex (1987) Coisa de Louco II (1995) Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda vocalista) – Plato Divorak – Cascavelletes – Graforréia XilarmônicaEgisto Dal Santo (músico e produtor) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda De Falla 1 (1987) – De Falla Ao Vivo (2001) – Bebeco Garcia A Sétima Efervescência (1996) – J. MaçãEron Dalmolin (radialista, Me Chamam Curto Circuito (1999) Cachorro Grande (2001) Olelê (2000) – Ultramen TNT 1 (1987) – TNT Acústico MTV (2004) Atlântida FM) – Bebeco Garcia – Cachorro Grande – Engenheiros do HawaiiFabrício Nobre (diretor grav. independ. A Sétima Efervescência (1996) Anticontrole (2002) – Walverdes Outubro ou Nada! (2002) Pata de Elefante (2004) Carteira Nacional de Apaixonado Monstro Discos, prod. festivais) – Júpiter Maçã – Bidê Ou Balde – Pata de Elefante (2000) – Frank JorgeFernando Rosa (jornalista, criador Fita demo Com Amor Muito Carinho Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Almôndegas (1975) – Almôndegas O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes A Sétima Efervescência (1996) editor do site Senhor F) (1988) – Graforréia Xilarmônica – Júpiter MaçãFrank Jorge (músico e compositor) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Pata de Elefante (2004) – P. Elefante De Falla 1 (1987) – De FallaGilmar Eitelwein (jornalista, Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Olelê (2000) – Ultramen Carecas da Jamaica (1987) Me Chamam Curto Circuito (1999) – TNT 1 (1987) – TNT pesquisador) – Nei Lisboa Bebeco GarciaGustavo “Mini” Bittencourt (Walverdes) Rock Grande do Sul (1986) – Vários De Falla 2 (1988) – De Falla Buenos Dias! (1999) – Wander Wildner A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Olelê (2000) – UltramenGustavo Telles (Pata de Elefante, A Sétima Efervescência (1996) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool As Próximas Horas Serão muito Boas Chapinhas de Ouro (1998) Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda baterista) – Júpiter Maçã (2004) – Cachorro Grande – Graforréia XilarmônicaJimi Joe (músico e jornalista) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Alhos com Bugalhos (1977) – Almôndegas De Falla 1 (1987) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Baladas Sangrentas (1996)–Wander WildnerJuarez Fonseca (jornalista) Alívio Imediato (1989) – Eng. Hawaii Olelê (2000) – Ultramen Kingzobullshit...92 (1992) – De Falla Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool TNT 1 (1987) – TNTJulio Fürst (produtor, radialista Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Longe Demais das Capitais (1986) O Futuro É Vórtex (1986) TNT 1 (1987) – TNT Totalmente Rock (1985) – Taranatiriça da Itapema FM) – Engenheiros do Hawaii – ReplicantesJulio Reny (músico e compositor) TNT 2 (1988) – TNT A Revolta do Dândis (1987) – Eng. Hawaii Baladas Sangrentas (1996) – W. Wildner A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Ao Vivo (2001) – Bebeco GarciaKátia Suman (radialista da Uma Tarde na Fruteira (2006) As Próximas Horas Serão muito Boas TNT 2 (1988) – TNT De Falla 2 (1988) – De Falla Ao Vivo (2001) – Bebeco Garcia Ipanema FM) – Júpiter Maçã (2004) – Cachorro Grande & O Bando dos CiganosLéo Henkin (Papas da Língua) TNT 2 (1988) – TNT O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Olelê (2000) – Ultramen Buena Onda (2000)–Sombrero Luminoso Broncas Legais (1999) – Comun. Nin-JitsuLuciano Marsiglia (editor revista Bizz) Kingzobullshit...92 (1992) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) J. Maçã Coisa de Louco II (1995) – G. Xilarmônica O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes 90o (2000) – WalverdesLuis Porsche (programador Unisinos FM) De Falla 2 (1988) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes De Falla 1 (1987) – De Falla Os The Darma Lóvers (2000)Marcelo Birck (músico e compositor, Marcelo Birck (2000) – Marcelo Birck Coisa de Louco II (1995) Aristhóteles de Ananias Jr. (1996) Calendário da Imaginação (1988) Registro Sonoro Oficial (2001) ex-Graforréia Xilarmônica) – Graforréia Xilarmonica – Aristhóteles de Ananias Jr. – Plato Divorak – Video HitsMarcelo Ferla (jornalista, De Falla 1 (1987) – De Falla O Futuro É Vórtex (1986) Longe Demais das Capitais (1986) A Sétima Efervescência (1996) Carteira Nacional de Apaixonado crítico musical) – Replicantes – Engenheiros do Hawaii – Júpiter Maçã (2000) – Frank JorgeMarcio Petracco (músico, ex-TNT) Saracura (1982) – Musical Saracura O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Coisa de Louco II (1995) – G. Xilarmônica Deluxe (2001) – Cowboys Espirituais Pata de Elefante (2004)Mery Mezzari (radialista da De Falla 2 (1988) – De Falla Ultramen (1998) – Ultramen TNT 1 (1987) – TNT Pra Viajar no Cosmos não Precisa Ramilonga (1997) – Vitor Ramil Ipanema FM) Gasolina (1983) – Nei LisboaMauro Borba (radialista da Pop Rock) Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool De Falla 1 (1987) – De Falla Longe D. Capitais (1986) – Eng.Hawaii Rock’A’ula (1989) – Cascavelletes Ao Vivo (1991) – BandalieraMutuca (músico e compositor) TNT 1 (1987) – TNT Totalmente Rock (1985) – Taranatiriça Garotos da Rua (1986) – Garotos da Rua Julio Reny & Expresso Oriente (1990) Cowboys Espirituais (1998)Pedro Verissimo (Tom Bloch, Doces, Refrescos e Tratamentos De Falla 1 (1987) – De Falla 90o (2000) – Walverdes Compacto duplo (1985) – Replicantes Coisa de Louco II (1995) vocalista) Dentários (2000) – Video Hits – Graforréia XilarmônicaPlato Divorak Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool De Falla 1 (1987) – De Falla Último Verão (1983) – Julio Reny Calendário da Imaginação (1988) A Sétima Efervescência (músico e compositor) – Plato Divorak (1996) – Júpiter MaçãRafael Malenotti (Acústicos & Demo da Vórtex (1987) TNT 1 (1987) – TNT Acústico, ao Vivo e a Cores (2006) Coisa de Louco II (1995) As Próximas Horas Serão muito Valvulados, vocalista e guitarrista) – Cascavelletes – Acústicos & Valvulados – Graforréia Xilarmônica Boas (2004) – Cachorro GrandeRaul Albornoz (produtor, De Falla 1 (1987) – De Falla TNT 1 (1987) – TNT Os Cascavelletes (1988) Coisa de Louco II (1995) Pra Viajar no Cosmos não Precisa gravadora ACIT) – Cascavelletes – Graforréia Xilarmônica Gasolina (1983) – Nei LisboaRicardo Barão (produtor) Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Rock Garagem (1984) – Vários TNT 1 (1987) – TNT Longe D. Capitais (1986) – Eng.Hawaii Cheiro de Vida (1984)Silvio Essinger (jornalista, A Revolta dos Dândis (1987) De Falla 1 (1987) – De Falla Coisa de Louco II (1995) A Sétima Efervescência (1996) Por Favor, Sucesso (1969) escritor, produtor carioca) – Engenheiros do Hawaii – Graforréia Xilarmônica – Júpiter Maçã – LiverpoolThedy Corrêa (Nenhum de Nós, Aqui (1975) – Almôndegas Saracura (1982) – Musical Saracura De Falla 1 (1987) – De Falla O Papa É Pop (1990) Histórias Reais, Seres Imaginários vocalista) – Engenheiros do Hawaii (2001) – Nenhum de NósThomas Dreher 2 Violão e 1 Balde (2003) Fita demo Com Amor Muito Carinho A Sétima Efervescência (1996) Calendário da Imaginação (1988) O Futuro É Vórtex (1986) (produtor, músico) – Irmãos Panarotto (1988) – Graforréia Xilarmônica – Júpiter Maçã – Plato Divorak – ReplicantesTonho Crocco (Ultramen, De Falla 2 (1988) – De Falla Histórias de Sexo e Violência Hein?! (1988) – Nei Lisboa A Sétima Efervescência (1996) Pata de Elefante (2004) vocalista) (1987) – Replicantes – Júpiter Maçã – Pata de ElefanteWander Wildner (músico, ex-Replicantes) Saudade do Futuro (2005) – Jimi Joe Coisa de Louco II (1995)–G. Xilarmônica De Falla 1 (1987) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Barata Oriental (1988) – Barata Oriental

>>Todos os jurados tiveram liberdade para votar em qualquer disco, gravado e distribuído em qualquer formato, seja em fita demo, cassete, vinil, CD ou pela internet. Os votos foram computados entre janeiro e março de 2007.>>>O único trabalho a receber voto tanto para sua fita demo quanto para o disco propriamente dito foi Carteira Nacional de Apaixonado, de Frank Jorge. Nesse caso, os votos foram unificados.

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especial

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Com todas as facilidades para se lançar um disco hoje em

dia, pelo caminho da independência ou não, é absurdo que

o cultuado álbum Por Favor, Sucesso, uma gema perdida

no abismo do rock nacional, permaneça sem reedição bra-

sileira no formato digital. Enquanto ninguém realiza a em-

preitada por aqui, o selo alemão Shadoks Music, que já

reeditou títulos raros nacionais (Spectrum, Módulo 1000),

está anunciando no seu site o lançamento do único álbum

do Liverpool. A história dessa peça rara está ligada à era

dos festivais de música popular brasileira que, nos anos 60

e 70, tinham para os artistas o valor de um passaporte ao

reconhecimento. Depois de o Liverpool – que por sinal

inaugurou o rock no Rio Grande do Sul juntamente com as

bandas Os Cleans e Os Brasas – vencer o 2º Festival Uni-

versitário da Música Popular Brasileira, em Porto Alegre, o

tema Por Favor, Sucesso (de autoria de Carlinhos Hartlieb)

foi classificado para as eliminatórias do 4º Festival Inter-

nacional da Canção, no Rio de Janeiro, em setembro de

1969. A banda não arrebatou prêmio algum, mas ganhou

um contrato com a gravadora Equipe, para produzir o seu

primeiro – e único – LP, o homônimo Por Favor, Sucesso.

O disco, com sua combinação de harmonias ousadas,

distorções fuzz no talo e acidez verde-amarela, mergulha

na fonte do rock inglês e americano, levando bossa-rock,

folk e boogie-woogie em estrondosa colisão com a

tropicália. Composições como Olhai os Lírios do Campo, Im-

pressões Digitais, Voando e Cabelos Varridos são retratos

expressivos da juventude da época. Segundo o crítico

musical e colunista de APLAUSO Juarez Fonseca, participar

de um festival universitário, e vencê-lo, motivou ainda mais

a banda do bairro IAPI que, no começo, só tocava Rolling

Stones, mas que já começava a mostrar músicas próprias

no programa que o disc-jockey Glênio Reis tinha na TV

Gaúcha. Por Favor, Sucesso não vendeu quase nada. Mas se

tornou objeto de culto – até mesmo fora do Brasil – graças

à receita de música brasileira moderna e jovem feita por

quatro cabeludos carismáticos e muito bons músicos: “O

disco colocou o Liverpool em pé de igualdade com os

Mutantes e, logo depois, com os Novos Baianos, como

definidor de uma nova linguagem, para além da ingenuida-

de banal da Jovem Guarda”, completa Juarez Fonseca.

O primeiro disco do De Falla, lançado em plena efervescência

do rock nacional, é o típico caso de um fenômeno que se

passa, até hoje, com promessas locais: a banda é agracia-

da pela crítica, mas não chega a lograr reconhecimento do

público de fora do RS. Em meio ao oba-oba do rock brasilei-

ro dos anos 80, o título foi uma das apostas do selo Plug da

gravadora RCA, junto com as bandas cariocas Picassos Fal-

sos e Hojerizah. O disco fez a cabeça dos jovens que fuçavam

as lojas em busca de novidades, e a crítica especializada

se rendeu ao álbum – e ao De Falla –, incensando-o como

uma das propostas mais criativas surgidas no rock nacio-

nal. O repertório do disco, com canções que vão da decla-

ração de desamor de Não Me Mande Flores à perversão de

Sodomia e à desilusão gótica de Sobre Amanhã, antecipa-

va a sonoridade caótica que a banda assumiria em traba-

lhos posteriores. Ou seja, um flerte desvairado entre pós-

punk, microfonias, colagens, ruídos e outros elementos.

Para o jornalista e crítico musical Marcelo Ferla, o primeiro

disco do De Falla foi um retrato perfeito de época: “É a pós-

modernidade do Bom Fim, o lugar de Porto Alegre naquele

momento, transposta para o disco”.

POR FAVOR, SUCESSO(1969) – LIVERPOOL

#0251 PONTOS

DE FALLA 1 (1987)– DE FALLA

#0350 PONTOS

LIVERPOOL

A banda sessentista

foi uma das grandes

precursoras do rock

no Rio Grande do Sul

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83_rock-final.pmd 3/13/2007, 8:07 PM29

O primeiro LP dos Replicantes, O Futuro É Vórtex (nome de

uma máquina de pinball que mostrava um futuro perigoso),

foi lançado com o estigma da censura federal, que vetou a

execução pública de três músicas: Choque, Mulher Enrustida

e Porque Não. A alegação era de que continham “palavras

de baixo calão”. Deliberadamente, a gravadora RCA picotou

Porque Não, que tinha a frase “Eu quero que o Caetano vá

pra puta que o pariu!”. A imprecação foi banida da faixa,

como se o vocalista Wander Wildner emudecesse repenti-

namente no refrão. O então baterista Carlos Gerbase lem-

bra que a justificativa da RCA para a solução tosca é que

não ficava bem atacar um artista de outra gravadora. O

disco, que tem as clássicas Surfista Calhorda, Hippie-Punk-

Rajneesh e Censor, destoa do padrão de punk feito no

Brasil, na época, marcado pelas letras de protesto. Para o

jornalista Luciano Marsiglia, os Replicantes desafiaram o

cânone paulista, cujo movimento professava sério

compromisso político: “Eles tinham uma preocupação esté-

tica que passou longe do punk brasileiro. O fato de os

Replicantes serem do Sul favoreceu a liberdade e a

criatividade da banda”.

O FUTURO É VÓRTEX(1986) – REPLICANTES

#0442 PONTOS

Tornou-se conhecida a comparação do músico Julio Reny,

segundo a qual os garotos do TNT seriam “os Beatles do Rio

Grande do Sul”, enquanto os Cascavelletes seriam a versão

local dos Rolling Stones, pela postura mais ousada. Se o

segundo LP da banda, de 1988, ganha por pontos, por cau-

sa da maturidade, esse primeiro registro ganha por nocau-

te, com a faixa Cachorro Loco (assim mesmo, sem o “u”),

que virou, desde então, hino de iniciação para qualquer

jovem roqueiro local. E não apenas isso, como testemunha

TNT 1 (1987) – TNT

#0537 PONTOS

o músico Mutuca: “Era passar numa rua e verificar: se havia

um grupo reunido em volta de um tocador de violão, não

estaria tocando samba nem pop, mas sim TNT”.

É que o grupo liderado por Charles Master apresentava,

também nesse disco, outras pérolas que entraram rapida-

mente no repertório das bandas cover locais (e nacionais):

Ana Banana, Oh! Deby e Entra Nessa, que um ano antes,

em 1986, havia aparecido no histórico álbum Rock Grande

do Sul junto a faixas de Engenheiros do Hawaii, Replicantes,

De Falla e Garotos da Rua.

Nas letras do TNT, os problemas de jovens rapazes

urbanos com as mulheres (ou sem elas) e a angústia com

suas próprias identidades. Quanto ao som, puro rock’ n’roll.

Com algumas particularidades, claro: guitarras distorcidas

sem exagero, base baixo-bateria afiada e um vocal que

deixa transparecer um inegável timbre juvenil. No caso de-

les, a primeira impressão foi a que ficou.

Os rapazes do Liverpool voltaram anos depois de Por Favor,

Sucesso com novo nome: Bixo da Seda. O som também era

outro. Estava mais pesado, somando ao rock’n’roll a influên-

cia do rock progressivo, com mudanças de andamento e

harmonias complexas. O quinteto formado por Renato La-

deira, Marcos Lessa, Mimi Lessa, Edinho Espíndola e Fughetti

Luz estava em sua melhor forma. Chegavam a ensaiar du-

rante oito horas por dia e adquiriram rapidamente a fama

de “destruir” qualquer show ou festival em que estivessem

– freqüentemente tinham de fazer sessões extra para con-

tentar a gurizada que tinha ficado do lado de fora.

Em 1976, lançaram este que é seu único LP (relançado em

CD em 2002 pela Warner). Apesar da ressalva de fãs de que o

registro não retrataria a banda na plena energia que demons-

trava no palco, o álbum desperta interesse até hoje, com

letras que ainda respiravam um ar meio hippie, como em É

como Teria Que Ser (“Não adianta perguntar / Porque tudo

existe dentro de você”), e de transgressão, como na faixa-hino

que leva o nome da banda, com um jogo de palavras venenoso

entre “bixo da seda” e “bicho, dá a seda”. “Eles tinham o

verdadeiro espírito do rock, que nasceu nos subúrbios de

famílias operárias – eles eram do IAPI, em Porto Alegre. O

resto era rock de burguês”, afirma o produtor Ricardo Barão.

BIXO DA SEDA (1976)- BIXO DA SEDA

#0634 PONTOS

especial

30

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O segundo disco do De Falla, apelidado pelo líder e vocalista

Edu K de It's Fuckin’ Borin’ to Death (o que é controverso, pois

o nome só é perceptível na lombada do vinil), é o último

álbum da banda pelo selo Plug da major BMG. Cercados pela

crítica, que aguardava da banda novo sopro de criatividade, o

De Falla não frustrou as expectativas: do pós-punk do primo-

gênito LP, a banda partiu para o crossover maluco de rap,

funk e heavy metal, em 1988 – o que prova que estavam de

ouvidos atentos às últimas tendências estrangeiras que, há

quase 20 anos, recém saíam do berço. São notáveis as influên-

cias de Run-DMC, Beastie Boys e Red Hot Chili Peppers, sem

que a banda perdesse de vista microfonias, vinhetas absur-

das e letras fundindo português e inglês (como em I Have to

Sing a Song). Também não fizeram concessões à peculiar

obssessão por temas sobre sexo e violência.

O disco é um dos pioneiros do uso do sampler no Brasil.

Entre outras colagens, quem prestar atenção, pode sacar

uma fala do ator Dennis Hopper no clássico filme Veludo

Azul, do diretor David Lynch. Logo na abertura, a versão

DE FALLA 2 (1988)– DE FALLA

#0731 PONTOS

upgrade de Como Vovó Já Dizia, de Raul Seixas, numa versão

rap com muitos escratch e batidona arrasa quarteirão. Na

opinião do guitarrista Gustavo “Mini” Bittencourt, da banda

Walverdes, o disco sintetiza uma parte importante do espí-

rito do rock gaúcho, que é estar extremamente conectado

ao que está rolando, mas, ao mesmo tempo, cultivar certa

atitude de “não tô nem aí para nada”: “Nesse disco, a mis-

tura de pop, hip-hop, rock, pós-punk e funk soa incrivel-

mente chinela e sofisticada ao mesmo tempo”.

A insanidade prossegue faixa após faixa, como na ver-

são desconstruída de Revolution (que inicialmente era para

ser uma versão dos Beatles, mas, como não ficou nada

semelhante à original, virou música do De Falla mesmo) e

Repelente, hit absoluto da banda. O “lado B” inicia-se com

a clássica It’s Fuckin’ Borin’ to Death, uma balada cuja letra

cita o filme Nascido para Matar, de Stanley Kubrick, e pros-

segue com o groove demoníaco de Satã (É Coisa do Diabo).

Tonho Crocco, da Ultramen, atesta a diversão: “Gastei o vinil

e a fita cassete de tanto ouvir!”.

DE FALLA

Liderada por Edu K

(de óculos), foi a

única banda a

figurar com dois

discos entre os

dez mais

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nio

Meira

31

83_rock-final.pmd 3/12/2007, 5:11 PM31

Vanguarda, regionalismo, rock, dodecafonia, atonalismo,

multiplicidade temática, Jovem Guarda. Todas essas verten-

tes sonoras – e muitas outras – definem o debut em disco da

Graforréia Xilarmônica, que teve como base a famosa fita

demo Com Amor Muito Carinho (Vórtex, 1988). Produzido por

Carlos Eduardo Miranda, foi uma aposta da finada Banguela

Records. Na época, Miranda mostrou Coisa de Louco II para

o produtor grunge Jack Andino (Nirvana, Titãs), que se mos-

trou encantado com as peripécias musicais dos gaúchos.

Os hits Eu e Nunca Diga foram gravados pelo Pato Fu, o

que ajudou a difundir a banda. A milonga-rock Amigo Punk

rompeu fronteiras e hoje é cantada em coro em redutos

alternativos de todo o Brasil, graças à movimentação do rock

independente e à participação da Graforréia em festivais de

rock do país. Mas é com o nonsense irresistível das letras

que a banda continua arrebanhando novos fãs. Uma das

discussões da época era sobre o português ser um idioma

complicado para cantar rock. “Como não tínhamos a inten-

ção de compor em inglês, partimos para a espontaneidade:

letras sem a menor pretensão de fazer sentido e, na maioria

das vezes, criadas de improvisos”, diz Marcelo Birck, que com-

pôs com Frank Jorge a maior parte das músicas do álbum.

COISA DE LOUCO II(1995) – GRAFORRÉIAXILARMÔNICA

#08

27 PONTOS

Não teve jeito: os Engenheiros do Hawaiiviram confirmada sua fama de banda amadapor muitos e odiada por outros muitos.Quase entraram na lista dos dez melhorescom seu primeiro álbum, Longe Demais dasCapitais (1986), além de ter obtido boavotação com A Revolta dos Dândis (1987).Mas O Papa É Pop (1990) foi escolhido opior do rock gaúcho, com cinco votos deum total de 21 (os demais 29 votantespreferiram se abster nesta categoria).No disco do trio Gessinger, Licks eMaltz, sucessos estrondosos como Era umGaroto Que, Como Eu, Amava os Beatles eos Rolling Stones e O Exército de umHomem Só I. O título não foi por acaso:esse é, até hoje, um dos álbuns mais pope de fácil audição da banda. Daí paraobter o desprezo de parte da crítica edo meio musical foi apenas um passo.

Logo atrás, com quatro votos, aparece o obscuro álbumAgradeça ao Senhor (1993), da banda Atahualpa Y UsPanquis – trocadilho bem ao gosto do rock local com onome do payador argentino Atahualpa Yupanqui. Não hádúvida de que os Atahualpa foram “a mais chinelona dasbandas gaúchas”, como já escreveu o músico Jimi Joe,que por sinal liderou a chinelagem. Conta o produtorCarlos Eduardo Miranda que tudo começou quando eleganhou 40 horas em um estúdio de gravação: “Aí compra-mos uns engradados de cerveja, um conhaque Dreher euma lata de cola Dun Dun e fomos gravar. Fizemos todasas músicas na hora, com a velha intenção de Atahualpa:ser o mais horrível possível. Conseguimos”.Loopcínio (2004), de Thedy Corrêa, ganhou três votos –embora não se trate exatamente de um disco de rock. Oálbum presta homenagem a Lupicínio Rodrigues comversões modernas de suas músicas, abusando de recursoseletrônicos. Lupi, que sabia transformar em poesiasuas desilusões, poderia muito bem consolar Thedy: nãose pode agradar a todos, afinal.

OS

PIORES

Não é sempre que especialistas e públicoentram em acordo, mas os melhores discosdo rock gaúcho, conforme enquete popular,têm muitos pontos de contato com a listados 50 integrantes do júri oficial. Duranteum mês, leitores de APLAUSO e ouvintes daIpanema FM enviaram seus votos para aredação da revista e para os apresentadoresda emissora. O disco mais lembrado foiCoisa de Louco II, da Graforréia Xilarmô-nica (46 votos), seguido por A SétimaEfervescência, de Júpiter Maçã (42 votos),e O Futuro É Vórtex, dos Replicantes(36 votos). Os Cascavelletes aparecem duasvezes entre os mais votados, com o EPhomônimo de 1988 (32 votos) e comRock’A’Ula (26 votos) – sinal de que osdiscos oficiais da banda estão mais vivosna memória do público que a cultuada fitademo da Vórtex, de 1987. Também em comumcom a lista dos especialistas, foram bemlembrados Olelê, da Ultramen (32 votos),e os primeiros discos do TNT (29 votos)e do De Falla (17 votos). Bixo da Seda(12 votos) foi o único registro anterior àdécada de 80 na memória do público, quetambém laureou Longe Demais das Capitais,dos Engenheiros (25 votos), Pra Viajar noCosmos não Precisa Gasolina, de Nei Lisboa(17 votos) e Baladas Sangrentas, de WanderWildner (12 votos). Cachorro Grande (com odisco homônimo), Tequila Baby (com Sangue,Ouro e Pólvora) e O Incrível Caso da MúsicaQue Encolheu e Outras Histórias, daUltramen, receberam 11 votos cada.

O VEREDITO

POPULAR

especial

32

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Depois de deixarem o TNT, Flavio Basso e Nei Van Soria se

juntaram a Frank Jorge e Alexandre Barea para fazer tudo

que não podiam fazer na banda anterior. Assim nasceram os

Cascavelletes, que, apesar de terem lançado três registros

oficiais (um EP, um LP e um single com duas faixas), são mais

cultuados por essa sua primeira e rara fita demo, gravada no

estúdio Isaec (na época um dos mais bem equipados de Porto

Alegre), em 1986, e lançada no ano seguinte pelo selo inde-

pendente Vórtex, com tiragem inicial de 500 cópias. As faixas

circulam hoje pela internet e em gravações em CD-R, inclusive

vendidas em lojas de disco mais antenadas. Com uma mistura

de rock’n’roll, rockabilly e punk, as composições tratam de

sexo, sexo e mais sexo – sempre no limite entre o escrachado

e o ingênuo. “Era um som extremamente envolvente, picante,

com uma energia juvenil que influenciou uma geração do

rock, categoria na qual eu me incluo”, diz Rafael Malenotti,

dos Acústicos & Valvulados. Entre as faixas, clássicos como

Menstruada (“mas mesmo assim eu vou transar”, diz a letra),

Morte por Tesão e O Dotadão Deve Morrer (regravada pelos

Ratos de Porão). Além da primeira versão de seu maior su-

cesso, Nega Bom Bom, que em 1990 entrou para a trilha da

novela global Top Model. Nessa época, no entanto, a banda já

tinha outra formação e um som mais trabalhado.

DEMO VÓRTEX (1987) –CASCAVELLETES

#0925 PONTOS

OS CASCAVELLETES

Nei Van Soria, Frank Jorge, Alexandre Barea

e Flavio Basso (ou Júpiter Maçã), numa das

mais clássicas (e bagaceiras) formações do

rock gaúcho. Anos 80, é claro

Arte s

obre

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de E

urico S

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Apenas alguns pontos atrás do décimocolocado, alguns álbuns merecem mençãohonrosa. É o caso de Longe Demais dasCapitais (1986), disco de estréia dosEngenheiros do Hawaii (o segundo,A Revolta dos Dândis, de 1987, tambémaparece bem colocado), a mais bem-sucedida banda gaúcha em vendageme popularidade. Abrindo o álbum, oprimeiro grande hit, Toda Forma dePoder, que já apontava um dosdiferenciais do (então) trio lideradopor Humberto Gessinger: qualidademusical e letras inteligentes, repletasde uma discreta ironia. O disco somou 17pontos no ranking de APLAUSO, empatadocom Último Verão, de Julio Reny, lançadooficialmente em fita cassete, em 1983,e relançado posteriormente em CD, comdestaque para a faixa-título. Com apenasoito músicas, o trabalho ainda é a maiorreferência do hoje veterano roqueiro,que já chegou a ser chamado de “Lou Reeddos pampas” e é responsável por bandasfundamentais da cena local como ExpressoOriente e Cowboys Espirituais. Como senão bastasse ter emplacado dois entre osdez mais, o De Falla quase emplacou umterceiro, com 15 pontos: o álbum de nomebizarro Kingzobullshitbackinfulleffect92(1992), com 24 músicas de títulos nãomenos incompreensíveis, finalizando comuma versão de Sossego, de Tim Maia.O ranking também reservou outrassurpresas. As bandas das gerações maisrecentes ficaram bem representadas,como a Cachorro Grande, com três discoslembrados – As Próximas Horas Serãomuito Boas (2004), que teve quatrocitações, Pista Livre (2005) e oprimeiro disco, homônimo (2001) –,a Walverdes, também com três álbuns –90º (2000), Anticontrole (2002) ePlayback (2005) –, e o trio instrumentalPata de Elefante, que em 2004 lançou seuprimeiro disco homônimo lembrado porcinco votantes. As históricas coletâneasRock Garagem (1984) e Rock Grande do Sul(1986), ambas com 12 pontos, quasefiguraram entre os dez mais, massurpreendentemente ficaram de fora.

A Ultramen se projetou no final da década de 90, em meio

ao estouro de uma nova geração de bandas, com uma

proposta que fugia de todos os estereótipos que se possa

ter do “rock gaúcho”. O som é um amálgama vigoroso de

funk, hip hop, reggae e o que mais viesse pela frente – uma

postura de reverência à diversidade que está também na

própria formação da banda (são oito integrantes, incluindo

dois percussionistas e um DJ) e nas letras, que aspiram a

uma certa preocupação social. Olelê, o segundo disco da

trupe (que lançou, este ano, seu quarto trabalho), é o ama-

durecimento dessa proposta. A verdade é que poucas ban-

das surgidas no Rio Grande do Sul se levaram tão a sério

quanto a Ultramen – mesmo que o grande hit do disco,

Dívida, tocado exaustivamente nas rádios, possa enganar

com sua aparente despretensão. “É uma banda que pode-

ria estar no centro do país. Eles têm uma linguagem univer-

sal, madura”, afirma Edinho Espíndola, veterano baterista

das bandas Liverpool e Bixo da Seda. Esse É o Meu Compro-

misso é um elogio ao ofício da rima em um hip hop pesado,

a faixa-título fala de problemas da cidade em ritmo funkeiro

e Peleia coloca em pauta a questão da identidade gaúcha,

com o bordão da milonga sobre uma base de rap.

OLELÊ (2000)– ULTRAMEN

#1019 PONTOS

ELES QUASE CONSEGUIRAM

especial

ULTRAMEN

Apenas dois pontos à frente de

Julio Reny e Engenheiros, acabou

sendo a única banda da geração

anos 90 entre as dez mais

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