Ídolos do judô gaúcho #1

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João Derly A vida e as histórias do único judoca brasileiro BICAMPEÃO MUNDIAL

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Revista oficial da Federação Gaúcha de Judô.

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João DerlyA vida e as histórias do único judocabrasileiro BICAMPEÃO MUNDIAL

Expediente:Federação Gaúcha de JudôPresidente: Luiz Alcides MaduroVice-presidentes: Carlos Eurico da Luz Pereira e Henry MaggiRevista Ídolos do Judô Gaúcho, edição 1 Jornalista responsável: Tiago Medina / Reg. profissional: 14.238 MTB/RSColaboradores: Ana Maria Bicca e Pedro DreherFotos: Fotocom.net, Vipcomm, COB, Arquivo Pessoal e Divulgação Sogipa

Quando ouviu do médico a reco-mendação de que precisaria prati-car um esporte para melhorar da asma que o afetava, o pequeno João Derly não sabia, mas estava dando uma guinada na sua vida. E também na do judô brasileiro.

O ano era 1988 – o mesmo do primeiro ouro olímpico do judô do Brasil, com Aurélio Miguel – e João vestiu quimono e iniciou a prática da arte marcial, já tendo Antônio Carlos Pereira, o Kiko, como profes-sor, no colégio. O sensei logo per-cebeu o potencial naquele guri e o levou para treinar na Sogipa, onde também dava aulas. Aí começou uma carreira de sucesso.

De categoria em categoria, João foi vencendo adversários e somando títulos. A Seleção Brasileira tornou-se uma rotina. Em 2000, na Tuní-sia, João Derly conquistou o Mun-dial sub-20. Levar o Brasil ao pódio mundo afora passou a ser algo cos-tumeiro para esse gaúcho de 1,64m de altura.

Cinco anos mais tarde Derly es-creveu para sempre seu nome na história do esporte brasileiro. Em uma campanha memorável, chegou

à final do Campeonato Mundial de 2005. O rival era de se temer: Masato Uchishiba, ouro em Ate-nas-2004. O currículo, porém, não pesou e o gaúcho – que começou no judô para vencer a asma – aplicou um ippon e sagrou-se o primeiro brasileiro campeão mundial. A fa-çanha lhe rendeu o reconhecimento do COB, que o elegeu o melhor atle-ta daquele inesquecível ano.

Tal qual como sugere o hino de seu time de coração, Derly seguiu sua senda de vitórias. No ano seguinte, protagonizou outra con-quista inédita para o judô brasileiro: o ouro na super copa do mundo de Paris. Se o desempenho até aí es-tava bom, melhorou ainda mais em 2007. Num espaço de três meses, Derly conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos e o bimundial, am-bos no Rio.

A sonhada medalha olímpica, em 2008, não se tornou uma realidade. Mas nada de tristeza. Meses depois, Derly faturou o título Pan-America-no de 2009. As lesões, entretanto, começaram a se tornar cada vez mais frequentes e impediram novos títulos.

Da asma ao ouro

“O João é um grande atleta e uma pessoa extraordinária. Venceu no tatame e na vida sempre buscando fazer seu melhor”, KIKO, técnico de judô.

EditorialContinuando o processo iniciado

na gestão do presidente Carlos Eurico, a Federação Gaúcha de Judô alcança mais um sonho, o de ter a sua própria publicação, exaltando atletas e histórias que fizeram o nosso esporte ser reconhecido em nível nacional e internacional. Muitos personagens foram importantes para chegarmos onde estamos. O judô gaúcho deve muito a professores, treinadores e dirigentes abnegados que dedicaram muita energia para atingirmos o que temos hoje.

Vários poderiam ser destaque des-ta edição inicial. A escolha por João Derly se deu em função tanto de seu currículo esportivo ímpar, quanto por sua admirável conduta fora dos

tatames ao longo desses anos. Derly é um exemplo a ser seguido, respal-dado pelo seu bonito trabalho social e dedicação em levar o judô àqueles que não têm condições de frequentar um clube.

Esta revista que está em suas mãos é mais uma homenagem a esse grande atleta, assim como um recon-hecimento a todos que se dedicaram ao engrandecimento do judô no nos-so Estado. Nos próximos números estaremos enfocando outros que merecem destaque e procuraremos realizar um necessário res-gate histórico. Uma ótima leitura a todos.

Luiz Maduro, presidente da FGJ

Um campeão além dos tatamesDe nada adiantaria ser um ídolo, um

bicampeão mundial no esporte que prati-ca, se não houvesse um legado. Pensando nisso que João Derly fundou em 2005 o Instituto Pódium, que leva judô gratuita-mente a crianças de baixa renda.

“Achei que difundir o judô, um es-porte que deu tudo o que tenho na minha vida, seria a maneira mais adequada de retribuir a felicidade que senti nos princi-pais momentos da minha carreira”, conta Derly. “Sou bicampeão do mundo, mas tenho que pensar no que deixo para os outros.”

Em 2008, o projeto recebeu um grande incentivo e chegou a ter mais de 100 crianças participantes. Hoje, 20 de-las ainda seguem no Pódium e buscam até o alto rendimento. “O Pódium já con-quistou títulos estaduais, além de boas participações em eventos nacionais”, re-lata o professor Daniel Pires.

Mas o legado de João Derly vai muito além dos tatames. Desde sempre ele, sem-pre que pôde, participou de outras ações

“O João sempre foi bastante preocupado com as crian-ças do Instituto. Mas não com os resultados e sim com o re-torno social”, Daniel Pires, professor do Instituto Pódium.

“Derly é um jovem de muitas qualidades, um bicampeão mun-dial que mantém a humildade do guri simples. Um batalhador”, Manuela D’Ávila, ex-presidente da Frente Parlamentar do esporte.

sociais, como visitas a hospitais e institu-ições de caridade. “É algo que aprendi na igreja que frequento desde que sou cri-ança”, conta.

A igreja, por sinal, é uma estrutura im-portante na vida de Derly. “Foram diver-sos valores que aprendi e adquiri, junto com o esporte. Só me fortaleceu durante as competições para lidar com a parte emocional, assim como contagiar com alegria a vida do próximo. Deus represen-ta tudo na minha vida. Sem Ele, nada do que eu tenho teria valor.”

Derly sempre buscou ajudar enti-dades beneficentes, como foi o caso da campanha que participou gratuitamente para a Kinder, em 2010. “Me faz um bem enorme. Poucas coisas são mais recom-pensadoras que receber o sorriso de uma criança ou o afago de um idoso cheio de histórias pra contar.” Ao longo dos últi-mos anos, o judoca esteve diversas vezes em hospitais de Porto Alegre, levando, além de alegria, solidariedade e fé aos enfermos.2005: Derly é recebido por multidão em POA Koka! Derly é bicampeão do mundo em 2007

Tornar-se um ícone do judô mun-dial não fez de João Derly uma pessoa diferente. O guri simples e brincalhão que cresceu treinando na Sogipa não mudou por causa das conquistas.

Desde sempre, foi atencioso com todos, sejam funcionários do clube, fãs ou políticos que o vinham cumprimen-tar. “Nunca quis criar uma distância”, conta Derly. “De que adianta se trans-formar um ídolo no esporte e não dar exemplo como pessoa, ser humano”, completa.

Sempre antenado em novas tec-nologias, João Derly aproveitou redes sociais para aproximar-se ainda mais dos fãs. Só no ano passado criou uma conta no Twitter (@joaoderly) e dois perfis no Facebook – um deles lotou em pouco tempo.

“A internet é uma forma muito boa para se aproximar das pessoas, trocar e debater ideias sobre todos os assun-tos”, justifica. “Admito que comecei meio receoso nessas redes sociais, mas hoje já posso me considerar um fanático”, brinca ele.

E Derly é ativo no Facebook e no Twitter. “Ele passa muito tempo mes-mo”, entrega a esposa Gabriela Pisoni.

Ainda assim, Derly não dispensa o contato pessoal. “Todo mundo tem uma experiência para passar, uma ener-gia única. Para o atleta de alto rendi-mento, isso é fundamental”, conta. “Em 2007, no Mundial do Rio, lutei a de-cisão com o joelho lesionado. Cheguei a pensar em desistir, mas a torcida es-tava linda e me apoiando. Não devia decepcioná-los. No fim, deu certo.”

http://on.fb.me/xWx1vjhttp://on.fb.me/xEOFm6

“Fanático por internet”, João interage com fãs

Antenado e conectado

“O João é um divisor de águas do judô do Brasil. Ajudou muito na visibilidade do nosso esporte e entrou para o hall dos grandes da história”. Paulo Wanderley, presidente da CBJ.

Família é a baseÉ preciso se dedicar para chegar ao auge. Mais que isso. É preciso se su-perar, ir além das expectativas. Assim, e tendo a fé e a família consigo, que João Derly alcançou o topo do mundo duas vezes. Confira na entrevista.

Pergunta básica: um momento mar-cante da sua carreira?Antes do Mundial de 2005 estava ma-chucado no abdomem e ia fazer a fi-nal da seletiva com o Leandro Cunha. Lembro-me que orei e me veio uma palavra: “O cavalo se prepara para a batalha, mas vitória vem do Senhor”. Mesmo lesionado, eu senti uma paz imensa. Venci e essa história acabou no título no Egito. Para quem quiser ler, é Provérbios 21: 31 na Bíblia.Menos mal que essas dores termi-naram antes do Mundial, pelo jeito.Nesse sim. Mas vou contar um peque-no segredo: 2007 foi um ano compli-cado. Tanto nos Jogos Pan-America-nos, quanto no Mundial daquele ano lutei com o ligamento cruzado anterior do joelho rompido. Segurei o tranco na musculatura. Foi sem dúvida a maior prova de superação da minha vida. Ao menos deu tudo certo (risos).

Qual é a sua maior conquis-ta na carreira?Claro que o bi-c a m p e o n a t o do mundo foi a maior conquista de resultados. Mas paralelo a isso, hoje me sinto feliz por todas as amizades que fiz e, por conta disso, poder con-tribuir em outras áreas e não apenas no esporte. Você é um cara muito família? Sim e acho que vem de berço. Sou de família grande e acostumada a grandes reuniões. Gosto desse contato entre as pessoas, através de um chimarrão ou de um bom churrasco (risos). A família é e sempre foi a base de tudo, mas talvez esse conceito tenha se perdido um pouco nos dias de hoje. E como é a relação com os fãs?É ótimo ver teu trabalho ser reconhe-cido através de palavras ou de uma foto, por isso sempre procuro atender quem vem falar comigo, porque pode ser a única impressão de que as pes-soas podem ter de quem eu sou de ver-dade. Já tive e tenho meus ídolos e sei como esse momento pode ser especial.

Siga João Derly

@joaoderly

“João Derly é, e sempre será, referência como judoca bra-sileiro de sucesso. Sempre lembrado na história da nossa modalidade.” Ney Wilson, coordenador técnico da Seleção.

JOÃO DERLY

Decacampeão gaúchoAtleta da década da FGJ

Prêmio Brasil Olímpico 2005Cinco títulos continentais

Ouro nos Jogos Pan-America-nos do Rio-2007

Campeão mundial sub-2017 medalhas no

circuito internacionalBicampeão mundial

(2005/2007)