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3 + 4 Março 2016 quinta, 21:00h / sexta, 19:00h Grande Auditório Orquestra Gulbenkian Jukka-Pekka Saraste Waltraud Meier waltraud meier © dr

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3 + 4 Março 2016quinta, 21:00h / sexta, 19:00hGrande Auditório

Orquestra GulbenkianJukka-Pekka SarasteWaltraud Meier

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MUSICA.GULBENKIAN.PT

mecenasgrandes intérpretes

mecenascoro gulbenkian

mecenasciclo piano

mecenasconcertos de domingo

mecenasmúsica de câmara

mecenasrising stars

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Duração total prevista: c. 2h 15 min.Intervalo de 20 min.

quinta 3 Março 201621:00h — Grande Auditório

sexta 4 Março 201619:00h — Grande Auditório

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Richard Wagner Lohengrin: Abertura do 1.º Ato

Wesendonck Lieder

Der EngelStehe still!Im TreibhausSchmerzenTräume

intervalo

Anton BrucknerSinfonia n.º 3, em Ré menor (1877)

Gemäßigt, mehr bewegt, misteriosoAndante: Bewegt, feierlich, quasi AdagioScherzo: Ziemlich schnellFinale: Allegro

Orquestra GulbenkianJukka-Pekka Saraste maestro

Waltraud Meier meio-soprano

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Richard Wagnerleipzig, 22 de maio de 1813veneza, 13 de fevereiro de 1883

Houve poucos compositores tão controversos quanto Richard Wagner. A sua visão artística, as suas inovações dramatúrgicas, a sua vida pessoal, as suas posições políticas e o seu antissemitismo marcaram profundamente as artes do final do século XIX. O forte impacto dos seus pensamentos e obras foi irradiado a partir dos territórios germânicos para toda a Europa. Wagner ficou sobretudo conhecido pela conceção inovadora do espetáculo cénico, defendendo o drama musical como a forma de exprimir a subjetividade do poeta e do compositor românticos (neste caso fundidos na mesma pessoa). Criticou a ópera da altura e reformulou os géneros musico-dramáticos numa perspetiva sinfónica e, nesse processo, inspirou-se na tragédia grega e nos romances medievais germânicos. Contudo, os primeiros contactos de muitos europeus com a música de Wagner deu-se em salas de concerto. Tendo em conta os constrangimentos inerentes à produção operática de grandes dimensões e à dominância de companhias italianas por toda a Europa, as suas óperas foram tardiamente apresentadas na íntegra. Assim, a interpretação de seleções de dramas

musicais em salas de concerto foi primordial para essa difusão. Desse repertório destacam-se os prelúdios e interlúdios orquestraisdas óperas.Lohengrin baseia-se num romance medieval alemão protagonizado pelo filho de Parsifal, um dos Cavaleiros do Santo Graal. Esta ópera foi composta entre 1846 e 1848 e estreada em Weimar a 28 de agosto de 1850, sob a direção de Franz Liszt. Wagner ficou impossibilitado de assistir à estreia, pois encontrava-seexilado na Suíça após a supressão da revolução de Dresden, na qual participou. Este facto, porém, não impediu o sucesso de Lohengrin, o primeiro grande êxito operático do compositor. De forma a introduzir a ação cénica, representando o misticismo do Graal e a sua descida à Terra, Wagner recorre aos tremolos nas cordas agudas, criando uma textura estática. Nessa textura começa a tomar forma o tema principal, que será retomado ao longo da ópera. Essa atmosfera para-religiosa é mantida através do diferimento das resoluções tonais e intensificada com a entrada progressiva de outros instrumentose com o recurso a texturas de fanfarra.

Lohengrin: Abertura do 1.º Ato

Wesendonck Lieder

composição: 1846-48estreia: weimar, 28 de agosto de 1850duração: c. 10’

composição: 1857-58duração: c. 30’

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Os Wesendonck Lieder foram escritos para voz e piano a partir dos poemas de Mathilde Wesendonck. Compostos entre 1857 e 1858, em parte surgiram também como estudos para o que viria a ser o drama musical Tristão e Isolda. São frequentemente apresentados em versão orquestral, sendo que Wagner orquestrou apenas Träume. Os outros Lieder foram orquestradas pelo maestro Felix Mottl (1856-1911), contemporâneo de Wagner.Os Wesendonck Lieder foram escritos no exílio suíço da família Wagner e devem o seu título à autora dos poemas. Mathilde Wesendonck era casada com um grande mecenas do compositor, um comerciante de sedas que apoiou Wagner num período difícil da sua vida, cedendo-lhe, inclusivamente, uma casa. Contudo, um romance despontou entre Wagner e Mathilde, o qual veio a ser sublimado pela escrita das canções e, posteriormente, pela composição de Tristãoe Isolda. A linguagem diatónica de Der Engel remete para algumas passagens de O Ouro do Reno, a primeira ópera da tetralogia O Anel do Nibelungo. A atmosfera ilustra o poema, que evoca a descida arriscada dos anjos à Terra

de forma a elevar os espíritos terrestres aos céus. O início turbulento de Stehe still! dálugar a uma atmosfera estática, refletindoa mudança de conteúdo do poema. Na primeira parte é evocada a marcha inexorável do tempo, dando lugar a uma contemplação do Ser, que poderá remeter para o pensamento de Schopenhauer, filósofo que Wagner valorizava nesse período criativo. Essa influênciatorna-se mais evidente em Im Treibhaus,uma contemplação metafísica sobre o vazio da existência. Alguns elementos desta canção são utilizados no prelúdio do terceiro ato de Tristão e Isolda. Schmerzen valoriza a dor de existir do Romantismo, apresentando-a como uma fonte de alegria. Träume é outro estudo para Tristão, em que pontificam o cromatismo da linguagem e o diferimento das resoluções harmónicas. O recurso ao sonho como elemento romântico e refúgio do mundo real prefigura o desenvolvimento da psicanálise do final do século XIX, um movimento de forte influência schopenhaueriana. Num mundo conduzido pelos impulsos destrutivos da Vontade, o onírico apresenta-se assim como um refúgio.

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Wesendonck LiederPoemas de Mathilde Wesendonck

Der Engel

In der Kindheit frühen TagenHört' ich oft von Engeln sagen,Die des Himmels hehre WonneTauschen mit der Erdensonne,

Dass, wo bang ein Herz in SorgenSchmachtet vor der Welt verborgen,Dass, wo still es will verbluten,Und vergehn in Tränenfluten,

Dass, wo brünstig sein GebetEinzig um Erlösung fleht,Da der Engel nieder schwebt,Und es sanft gen Himmel hebt.

Ja, es stieg auch mir ein Engel nieder,Und auf leuchtendem GefiederFührt er, ferne jedem Schmerz,Meinen Geist nun himmelwärts!

Stehe still!

Sausendes, brausendes Rad der Zeit,Messer du der Ewigkeit;Leuchtende Sphären im weiten All,Die ihr umringt den Weltenball;Urewige Schöpfung, halte doch ein,Genug des Werdens, lass mich sein!

Halte an dich, zeugende Kraft,Urgedanke, der ewig schafft!Hemmet den Atem, stillet den Drang,Schweigend nur eine Sekunde lang!Schwellende Pulse, fesselt den Schlag;Dass in selig süßem VergessenIch mög alle Wonnen ermessen!

O Anjo

Muitas vezes na infância,Ouvi falar de anjos,Que trocam os sublimes prazeres do céuPelo sol da terra,

E que, quando um coração doloridoSe oculta do mundo,Onde se cala, sangrando,E desfazendo-se em lágrimas,

Onde a sua prece fervorosaImplora apenas a sua redenção,Então o anjo desce,Para suavemente o elevar ao Céu.

Sim, também sobre mim desceu um anjo,Que ergue agora, nas suas asas luminosas,Longe de todo o sofrimento,O meu espírito para as alturas!

Pára!

Roda o tempo, que ruges e murmuras,Medidora da eternidade;Esferas luzentes no vasto todo,Que rodeais o mundo;Criação eterna, pára,Basta de devir, deixa-me ser!

Sustém-te, força geradora,Ideia original, criador eterno!Detém a respiração, cala o teu impulso,Fica em silêncio só por um minuto!Pulsos inchados, reprimi as pancadas;Acaba, eterno dia do querer!Para que em doce e abençoado esquecimentoEu possa apreciar toda a felicidade!

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Wenn Aug' in Auge wonnig trinken,Seele ganz in Seele versinken;Wesen in Wesen sich wieder findet,Und alles Hoffens Ende sich kündet;Die Lippe verstummt in staunendem Schweigen,Keinen Wunsch mehr will das Innre zeugen:Erkennt der Mensch des Ew‘gen Spur,Und löst dein Rätsel, heil'ge Natur!

Im Treibhaus

Hochgewölbte Blätterkronen,Baldachine von Smaragd,Kinder ihr aus fernen Zonen,Saget mir, warum ihr klagt?

Schweigend neiget ihr die Zweige,Malet Zeichen in die Luft,Und, der Leiden stummer Zeuge,Steiget aufwärts süßer Duft.

Weit in sehnendem VerlangenBreitet ihr die Arme aus,Und umschlinget wahnbefangenÖder Leere nicht‘gen Graus.

Wohl, ich weiss es, arme Pflanze:Ein Geschicke teilen wir,Ob umstrahlt von Licht und Glanze,Unsre Heimat ist nicht hier!

Und wie froh die Sonne scheidetVon des Tages leerem Schein,Hüllet der, der wahrhaft leidetSich in Schweigens Dunkel ein.

Stille wird's, ein säuselnd WebenFüllet bang den dunkeln Raum:Schwere Tropfen seh ich schwebenAn der Blätter grünem Saum.

Quando os olhos nos olhos bebem docemente,E a alma se afunda completamente na alma;Quando o ser no ser se reencontra,E se anuncia o fim de toda a esperança;Os lábios emudecidos num silêncio maravilhado,E o mundo interior nada mais deseja:O homem reconhece o sinal da eternidade,E descobre o teu enigma, ó santa natureza!

Na Estufa

Coroas de folhagem em elevadas abóbadas,Baldaquins de esmeraldas,Filhos de remotas zonas,Dizei-me, porque vos lamentais?

Inclinais os ramos em silêncio,Pintais desenhos no ar e,Mudas testemunhas do sofrimento,Espalhais um doce perfume.

Largamente, em nostálgica inquietação,Estendeis os vossos braços,E abraçais, iludidas,O horror do vácuo ermo.

Bem o sei, pobres plantas:Repartimos um destino idêntico,Embora rodeados de luz e de esplendor,Não é esta a nossa pátria!

E como o sol se despede jubilosoDa claridade vazia do dia,Também aquele que verdadeiramente sofreSe envolve nas trevas do silêncio.

Vem a inquietação, uma oscilação sussurranteEnche, trémula, o espaço escuro:Vejo pesadas gotas vacilaremNa orla verde da folhagem.

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Schmerzen

Sonne, weinest jeden AbendDir die schönen Augen rot,Wenn im Meeresspiegel badendDich erreicht der frühe Tod;Doch erstehst in alter Pracht,Glorie der düstren Welt,Du am Morgen neu erwacht,Wie ein stolzer Siegesheld!

Ach, wie sollte ich da klagen,Wie, mein Herz, so schwer dich sehn,Muss die Sonne selbst verzagen,Muss die Sonne untergehn?

Und gebieret Tod nur Leben,Geben Schmerzen Wonnen nur:O wie dank' ich dass gegebenSolche Schmerzen mir Natur!

Träume

Sag', welch wunderbare TräumeHalten meinen Sinn umfangen,Dass sie nicht wie leere SchäumeSind in ödes Nichts vergangen?

Träume, die in jeder Stunde,Jedem Tage schöner blühn,Und mit ihrer HimmelskundeSelig durchs Gemüte ziehn!

Träume, die wie hehre StrahlenIn die Seele sich versenken,Dort ein ewig Bild zu malen:Allvergessen, Eingedenken!

Sofrimento

Sol, choras todas as tardesAté os teus belos olhos ficarem vermelhos,Quando, mergulhando no espelho do mar,Te alcança a morte prematura;Renasces, porém, com o antigo esplendor,Glória do mundo sombrio,Despertando de manhã, novamente,Como um herói triunfante e orgulhoso!

Ah, como poderia lastimar-te,Como, coração, ver-te tão oprimido,Se o próprio sol conhece o desalento,Se ele próprio se extingue?

E se só a morte gera a vida,Só os sofrimentos dão prazer:Oh, quanta gratidão devo à naturezaPor todo este penar!

Sonhos

Diz, que maravilhosos sonhosTe exaltam o espírito,Sem se desfazerem como espuma vaziaNo desolado nada?

Sonhos que, em cada hora em cada dia,Florescem mais belos e que,Com a sua mensagem divinaMe atravessam a mente como bênçãos!

Sonhos que, como raios celestiais,Me penetram a alma,Para nela pintarem uma imagem eterna:Tudo esquecer, um só lembrar!

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Sonhos que, como o sol primaveril,Beijam as flores libertas da neve e,Entre delícias insuspeitas,Lhes dão as saudações do novo dia,

As fazem crescer, desabrochar, espalhar,Sonhando a sua fragrância,Murchar suavemente no teu peito,E descer, depois, à sepultura.

tradução de adriana latino

Träume, wie wenn FrühlingssonneAus dem Schnee die Blüten küsst,Dass zu nie geahnter WonneDie der neue Tag begrüßt,

Daß sie wachsen, dass sie blühen,Träumend spenden ihren Duft,Sanft an deiner Brust verglühen,Und dann sinken in die Gruft.

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Anton Bruckneransfelden, 4 de setembro de 1824viena, 11 de outubro de 1896

O papel atribuído à orquestra nos dramas musicais de Richard Wagner influenciou muitos compositores do final do Romantismo. A valorização da instrumentação como mecanismo expressivo, conciliando-a com uma narrativa dramática, é um aspeto central para o conceito de “obra de arte total” proposto por Wagner. Assim, a linguagem musical wagneriana foi emulada e adaptada por diversos compositores na segunda metade do século XIX. Nesse processo destaca-se a figura de Anton Bruckner, um dos grandes sinfonistas do final do Romantismo.Apesar de uma formação conservadora no contexto da música sacra católica, Bruckner desenvolveu um grande fascínio por Wagner, que conheceu aquando da estreia de Tristão e Isolda. Em 1873, Bruckner perguntou a Wagner qual das suas sinfonias preferiaque lhe fosse dedicada, a Sinfonia n.º 2 oua Sinfonia n.º 3. Wagner escolheu a última,a qual foi várias vezes designada por Sinfonia Wagner. Esta obra é considerada a primeira sinfonia de maturidade de Bruckner, tendo aberto o caminho para a monumentalidadeno género. Contudo, a influência wagneriana era tida como perniciosa por alguns críticos

vienenses, como Eduard Hanslick. Assim, a música de Bruckner foi mal recebida pela imprensa da época. Por esse motivo, a Sinfonia n.º 3 sofreu várias revisões, originando três versões completas em que os cortes foram significativos. Contudo, esta prática de revisão é frequente nas sinfoniasde Bruckner.A primeira versão da Sinfonia n.º 3 data de 1873 e foi revista no ano seguinte. A segunda versão, que será hoje interpretada, foi escrita entre 1876 e 1877, tendo sido estreada em Viena, a 16 de dezembro de 1877. A terceira versão foi produzida entre 1887 e 1889, e contou com a ajuda de Joseph Schalk, um dos seus alunos. A estreia da segunda versão foi um fiasco e um evento traumático para o compositor. Bruckner era um professor de composição reconhecido em Viena, mas a sua obra orquestral era relativamente pouco conhecida. Até então, o público conhecia principalmente a sua música sacra coral. A Sinfonia n.º 3 tinha sido rejeitada várias vezes pela Orquestra Filarmónica de Viena, e só com a pressão exercida por Johann Herbeck, diretor da Musikverein, é que a obra foi estreada. Herbeck seria o diretor

Sinfonia n.º 3, em Ré menor (1877)

composição: 1873 / 1877 / 1889estreia: viena, 16 de dezembro de 1877duração: c. 65’

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desse concerto, mas morreu em outubro desse ano. Assim, Bruckner teve que assumir a direção de orquestra, papel no qual não se sentia confortável. O público foi saindo progressivamente e parte da crítica foi demolidora. No entanto, o editor Theodor Rättig encontrava-se presente e aceitou publicar a partitura, o que não impediu Bruckner de abandonar temporariamentea composição.A Sinfonia n.º 3 começa com um andamento em forma-sonata, em que o primeiro grupo temático é introduzido por um solo de trompete apoiado pelo estatismo das cordas. O segundo grupo temático é altamente contrastante e de caráter lírico. Antecipando o desenvolvimento, Bruckner introduz um coral extraído da sua Missa em ré menor.O desenvolvimento concentra-se na exploração do tema inicialmente interpretado pelo trompete, abordando-o numa perspetiva sinfónica de caráter narrativo. A reexposição retoma a atmosfera da exposição, conduzindo a uma coda orquestral. O Andante introduz uma atmosfera para-religiosa, como a do prelúdio de Lohengrin. Numa forma tripartida, as secções extremas remetem

para os hinos católicos praticados no Império Austro-Húngaro na altura, repertório como qual Bruckner estava familiarizado, sendo também um dos principais cultores. Esta atmosfera de lirismo sacro é interpoladapor uma secção mais cinética, retornandoà solenidade vertical da música religiosa.No Scherzo o pathos é enfatizado pela orquestra, cedendo lugar à simplicidadee leveza rústicas de uma dança popular no Trio. A sinfonia termina com um andamento em forma-sonata em que o primeiro grupo temático assenta numa textura de fanfarra sobre o movimento perpétuo das cordas. Contrastando com este, o segundo grupo temático remete para a dança popular.Após um intenso desenvolvimento e reexposição, o tema apresentado pelo trompete no primeiro andamento é retomado, conduzindo a coda a uma cadência em modo maior. Desta forma, a maleabilidade das formas e o tratamento flexível do sistema tonal associado ao drama musical wagneriano são traduzidos para a sala de concertos por Bruckner, fundindo esses elementos com um estilo pessoal em que pontificam as texturas da música religiosa.

notas de joão silva

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Coleção de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian ( 14)

Hein Semke (Hamburgo, 1899 – Lisboa, 1995)Sem título, 1980Óleo sobre telaAguarela, tinta heliográfica e tinta-da-china sobre cartolina101 x 70 cmColeção CAM – Fundação Calouste GulbenkianInv. 13DP3804

Esta obra pode ser vista na exposição “Hein Semke: um Alemão em Lisboa”,até 13 de junho de 2016, no Piso -1 do Centro de Arte Moderna.

Pintura da série realizada sobre as ilhas Lofoten, na Noruega, o último grande ciclo temático da obra de Hein Semke. O artista ficará preso ao encantamento desta paisagem “apenas habitável por super-homens ou gigantes e marinheiros”, como refere, escrevendo ainda “À noite, o sol

brilhava vermelho – o céu ardia em tons de vermelho-roxo – os montes, as paisagens revestiam-se de tons laranja – as ilhas eram silhuetas escuras. No mar surgiam centenas de triângulos flutuantes […] Era o simples desenrolar dos acontecimentos desde os primórdios do tempo.”

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Notas Biográficas

Jukka-Pekka Saraste nasceu em Heinola, na Finlândia. Iniciou a sua carreira artística como violinista, tendo-se formado posteriormente em direção de orquestra com Jorma Panula na Academia Sibelius, em Helsínquia. Maestro de excecional versatilidade, demonstra no entanto uma especial afinidade com o estilo da música romântica tardia. Mantém também uma forte ligação com a música do nosso tempo, interpretando com regularidade as obras de compositores como Henri Dutilleux, Magnus Lindberg, Esa-Pekka Salonen ou Kaija Saariaho. Dirigiu recentemente a estreia mundial do Triplo Concerto de Wolfgang Rihm e a estreia alemã da obra Transitus, do mesmo compositor, na Philharmonie de Berlim. Anteriormente dirigiu também as estreias mundiais de Drei Orchesterstücke de Friedrich Cerha, do Concerto para Violino de Pascal Dusapin, de Songs from Esstal I-III de Philippe Schoeller e de Reflets de l’Ombre de Carmine Emanuele Cella. Desde 2010, Jukka-Pekka Saraste é o Maestro Principal da Orquestra Sinfónica WDR, em Colónia.

É também Maestro Laureado da Filarmónica de Oslo, onde foi Diretor Artístico e Maestro Principal entre 2006 e 2013. Anteriormente, desempenhou funções idênticas na Orquestra de Câmara Escocesa, na Sinfónica da Rádio Finlandesa (com a qual se apresentou na Fundação Calouste Gulbenkian em 1997 e 2000) e na Sinfónica de Toronto. Foi Maestro Convidado Principal da Sinfónica da BBC e consultor artístico da Sinfónica de Lahti. Fundou a Orquestra de Câmara Finlandesa e a orquestra do Festival de Tammisaari, da qual é diretor artístico. Todas as temporadas, a sua agenda inclui a direção de outras importantes orquestras nos mais prestigiados palco mundiais. Em fevereiro de 2014, dirigiu a Orquestra Gulbenkian e o pianista Jorge Luis Prats no Grande Auditório Gulbenkian. Jukka-Pekka Saraste recebeu o Prémio Pro Finlandia, a Medalha Sibelius e o Prémio para a Música do Estado Finlandês. Recebeu também doutoramentos honorários da York University, em Toronto, e da Academia Sibelius.

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meio-sopranoWaltraud Meier

Waltraud Meier nasceu em Würzburg, na Alemanha. A sua carreira lírica profissional iniciou-se em 1976, quando se estreou na Ópera de Würzburg, no papel de Lola, em Cavalleria Rusticana de Mascagni. Nos anos seguintes, o seu repertório foi sendo sucessivamente alargado, em função das atuações em Mannheim (1978-1980), Dortmund (1980-1983), Hanôver (1983-1984) e Estugarda (1985-1988). Estreou-se internacionalmente em 1980 no Teatro Colón de Buenos Aires, no papel de Fricka, em A Valquíria. O grande sucesso obtido com a interpretação de Kundry, em Parsifal de Wagner, no Festival de Bayreuth de 1983, forneceu um novo impulso à sua carreira, sucedendo-se atuações na Royal Opera House, em Londres, na Metropolitan Opera de Nova Iorque, no Scala de Milão, na Ópera Nacional de Paris, na Ópera Estadual de Viena e na Ópera Estadual da Baviera, em Munique.No início dos anos noventa, Waltraud Meier impressionou profundamente o público de Bayreuth com a sua interpretação de Isolda (Tristão e Isolda), sob a direção de Daniel

Barenboim, passando a incluir no seu repertório papéis para soprano dramático. Ainda em Bayreuth, no festival "Millennium Ring" (2000), interpretou Sieglinde(A Valquíria), sob a direção de Giuseppe Sinopoli. Reconhecida como uma das mais significativas intérpretes wagnerianas dos nossos dias, Waltraud Meier aborda também os repertórios italiano e francês, com destaque para o seu desempenho no papel de Santuzza (Cavalleria Rusticana) sob a direção de Ricardo Muti. Uma relação artística de grande proximidade com o maestro Daniel Barenboim e a Berliner Staatsoper Unter den Linden, permitiu-lhe realizar várias digressões ao Japão, onde figurou nos elencos de A Valquíria, Wozzeck, Tristão e Isolda e Fidelio. Estreou-se no Festival de Ópera de Munique no papel de Didon, em Les Troyens de Berlioz, e na Ópera de Chicago como Leonore, em Fidelio de Beethoven. Ao longo da sua carreira, Waltraud Meier foi distinguida com muitos prémios, com destaque para o título Kammersängerin, atribuído pela Ópera Estadual da Bavierae pela Ópera Estadual de Viena.

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Orquestra Gulbenkian

Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Na temporada 2012-2013, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) celebrou 50 anos de atividade, período ao longo do qual foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de sessenta e seis instrumentistas que pode ser pontualmente expandido de acordo com as exigências dos programas executados. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian a abordagem interpretativa de um amplo repertório, desde o Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas tradicionais, nomeadamente a produção orquestral de Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Mendelssohn ou Schumann podem ser dadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora interior.Em cada temporada, a orquestra realiza

uma série regular de concertos no Grande Auditório Gulbenkian, em Lisboa, em cujo âmbito tem tido ocasião de colaborar com alguns dos maiores nomes do mundo da música (maestros e solistas). Atuando igualmente em diversas localidades do país, tem cumprido desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, por sua vez, a Orquestra Gulbenkian tem vindo a ampliar gradualmente a sua atividade, tendo até agora efetuado digressões na Europa, Ásia, África e Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida desde muito cedo com diversos prémios internacionais de grande prestígio.Paul McCreesh é o atual Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sendo Susanna Mälkki a Maestrina Convidada Principal e Joana Carneiro e Pedro Neves os Maestros Convidados. Claudio Scimone, titular entre 1979 e 1986, é Maestro Honorário, e Lawrence Foster, titular entre 2002 e 2013, foi nomeado Maestro Emérito.

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primeiros violinosErik Heide Concertino principal *Bin Chao 2º Concertino AuxiliarPaula Carneiro 2º Concertino Auxiliar *Pedro Meireles 2º Concertino AuxiliarVasco BrocoAntónio José MirandaAntónio Veiga LopesPedro PachecoAlla JavoronkovaDavid WanhonAna Beatriz ManzanillaElena RyabovaMaria BalbiMaria José LaginhaZofia Pajak *Flávia Marques *João Vieira de Andrade *João Castro * segundos violinosAlexandra Mendes 1º SolistaJordi Rodriguez 1º SolistaCecília Branco 2º SolistaMaria Leonor MoreiraStephanie AbsonJorge TeixeiraTera ShimizuStefan SchreiberOtto PereiraLuciana Cruz *Catarina Silva Bastos *Félix Duarte *Miguel Simões *Mafalda Vilan Pires * violasSamuel Barsegian 1º SolistaLu Zheng 1º SolistaIsabel Pimentel 2º SolistaAndré CameronPatrick EisingerLeonor Braga SantosChristopher HooleyMaia Kouznetsova

Cátia Santos *Augusta Romaskeviciute *Ricardo Mateus *Artur Mouradian * violoncelosVaroujan Bartikian 1º SolistaMarco Pereira 1º SolistaMartin Henneken 2º SolistaLevon MouradianJeremy LakeRaquel ReisMariana Ottosson *Pedro Afonso Silva *Nelson Ferreira *Fernando Costa * contrabaixosMarc Ramirez 1º SolistaPedro Vares de Azevedo 1º SolistaManuel Rêgo 2º SolistaMarine TrioletMaja PlüdemannAlexandre Santos *Romeu Santos *Álvaro Rosso *Margarida Ferreira *Emanuel Oliveira * flautasSophie Perrier 1º SolistaCristina Ánchel 1º Solista AuxiliarAmália Tortajada 2º Solista oboésPedro Ribeiro 1º SolistaNelson Alves 1º Solista AuxiliarAlice Caplow-Sparks 2º Solista Corne inglês clarinetesEsther Georgie 1º SolistaJosé María Mosqueda 2º Solista Clarinete baixoSamuel Marques 2º Solista *Bruno Graça 2º Solista *

fagotesRicardo Ramos 1º SolistaVera Dias 1º Solista AuxiliarJosé Coronado 2º Solista Contrafagote trompasGabriele Amarù 1º SolistaKenneth Best 1º SolistaEric Murphy 2º SolistaDarcy Edmundson-Andrade 2º SolistaGabriel Correia 2º Solista * trompetesStephen Mason 1º SolistaPaulo Carmo 1º Solista Auxiliar *David Burt 2º Solista trombonesJordi Rico 1º SolistaAndré Conde 1º Solista *Rui Fernandes 2º SolistaPedro Canhoto 2º Solista tubaAmilcar Gameiro 1º Solista timbalesRui Sul Gomes 1º Solista percussãoAbel Cardoso 2º Solista

* Instrumentistas Convidados

Paul McCreesh maestro titularSusanna Mälkki maestrina convidada principalJoana Carneiro maestrina convidadaPedro Neves maestro convidadoLawrence Foster maestro eméritoClaudio Scimone maestro honorário

coordenaçãoAntónio Lopes Gonçalves

produçãoAmérico MartinsMarta AndradeInês RosárioFrancisco Tavares

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musica.gulbenkian.pt

10 + 11 Marçoquinta, 21:00h / sexta, 19:00h — M/6

FundAção CAlouSte GulbenkiAn

mecenasgrandes intérpretes

mecenascoro gulbenkian

mecenasciclo piano

mecenasconcertos de domingo

mecenasmúsica de câmara

mecenasrising stars

Coro e OrquestraGulbenkian h

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Hannu Lintu maestro

* Estreia mundial

sexta, 18:00h — Zona de Congressos / Entrada livre

Conhecer uma obra — Guia de audiçãoRavel – Daphnis et Chloé por Pedro Amaral

jamie man — Play *ravel

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direção criativaIan Andersondesign e direção de arteThe Designers Republicdesign gráficoAh–hA

Pedimos que desliguem os telemóveis durante o espetáculo. A iluminação dos ecrãs pode igualmente perturbar a concentração dos artistas e do público. Não é permitido tirar fotografias nem fazer gravações sonoras ou filmagens duranteos espetáculos. Programas e elencos sujeitos a alteraçãosem aviso prévio.

tiragem500 exemplarespreço2Lisboa, Março 2016

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MUSICA.GULBENKIAN.PT

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN