“origem da vida: abiogénese ou biogénese?” data: ficha nº4-a c.t.v. – 10º ano ficha...

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1 Ficha nº4-A C.T.V. 10º ANO FICHA informativa: “Origem da Vida: Abiogénese ou Biogénese?” 1. A GERAÇÃO ESPONTÂNEA DOS SERES VIVOS - As ideias da Antiguidade Para os nossos antepassados, não havia quaisquer dúvidas: a vida tinha a sua origem no mundo inanimado. Em qualquer parte onde existissem matérias orgânicas em decomposição ou matérias minerais colocadas em certas condições, poder-se-ia observar a formação espontânea de organismos vivos. Aristóteles (384 – 322 a.C.), filósofo grego, utilizou muito do que antes dele havia sido dito e escrito, e reuniu-o numa vasta síntese cuja profunda influência se tem feito sentir ao longo dos tempos. Segundo ele, os animais proviriam geralmente de organismos idênticos, mas podiam igualmente originar-se a partir de matéria inerte. Eis alguns dos casos de geração espontânea por ele descritos: de moscas e de mosquitos, a partir da lama dos poços, do terriço ou do estrume; de lagostins, de enguias, de moluscos ou de peixes, a partir da vasa ou de algas em decomposição; de ratos, a partir da terra húmida; e até mesmo de animais superiores, apresentando-se, originariamente, sob a “forma” de vermes. A que teoria poderiam ligar-se tais fenómenos? Seria a teoria da Geração Espontânea . Segundo Aristóteles existiria em todas as coisas um “princípio passivo” que é a matéria e um “princípio activo” que é a forma. Tudo quanto existe resultaria da conjugação, sempre que se verificassem condições favoráveis, destes dois princípios. O princípio activo “informaria” a matéria, dar-lhe-ia forma. Por exemplo, um ovo de peixe conteria um princípio activo, princípio este que não seria uma substância mas uma “capacidade” para organizar a matéria do ovo no sentido da formação de um peixe. Estes conceitos de Aristóteles, transmitidos através dos séculos por uma longa linha de pensadores, só começam a ser verdadeiramente discutidos a partir do século XVII. Nome: ____________________ Data: _____________________ in www.unf.edu/classes/freshmancore/ halsall/core2-01.htm

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Page 1: “Origem da Vida: Abiogénese ou Biogénese?” Data: Ficha nº4-A C.T.V. – 10º ANO FICHA informativa: “Origem da Vida: Abiogénese ou Biogénese?” 1. A GERAÇÃO ESPONTÂNEA

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Ficha nº4-A

C.T.V. – 10º ANO

FICHA informativa:

“Origem da Vida: Abiogénese ou Biogénese?”

1. A GERAÇÃO ESPONTÂNEA DOS SERES VIVOS

- As ideias da Antiguidade

Para os nossos antepassados, não havia quaisquer dúvidas: a vida tinha a sua origem no

mundo inanimado. Em qualquer parte onde existissem matérias orgânicas em

decomposição ou matérias minerais colocadas em certas condições, poder-se-ia observar

a formação espontânea de organismos vivos.

Aristóteles (384 – 322 a.C.), filósofo grego, utilizou muito do

que antes dele havia sido dito e escrito, e reuniu-o numa vasta

síntese cuja profunda influência se tem feito sentir ao longo dos

tempos.

Segundo ele, os animais proviriam geralmente de organismos

idênticos, mas podiam igualmente originar-se a partir de matéria inerte. Eis alguns dos

casos de geração espontânea por ele descritos: de moscas e de mosquitos, a partir da

lama dos poços, do terriço ou do estrume; de lagostins, de enguias, de moluscos ou de

peixes, a partir da vasa ou de algas em decomposição; de ratos, a partir da terra húmida;

e até mesmo de animais superiores, apresentando-se, originariamente, sob a “forma” de

vermes. A que teoria poderiam ligar-se tais fenómenos? Seria a teoria da GGeerraaççããoo

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Segundo Aristóteles existiria em todas as coisas um “princípio passivo” que é a matéria e

um “princípio activo” que é a forma. Tudo quanto existe resultaria da conjugação, sempre

que se verificassem condições favoráveis, destes dois princípios. O princípio activo

“informaria” a matéria, dar-lhe-ia forma. Por exemplo, um ovo de peixe conteria um

princípio activo, princípio este que não seria uma substância mas uma “capacidade” para

organizar a matéria do ovo no sentido da formação de um peixe.

Estes conceitos de Aristóteles, transmitidos através dos séculos por uma longa linha de

pensadores, só começam a ser verdadeiramente discutidos a partir do século XVII.

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Ficha nº4-A

C.T.V. – 10º ANO

- A Idade Média

Durante o longo período de obscurantismo científico que foi a Idade Média, os mais

eminentes pensadores acreditaram na geração espontânea. Numa época em que a Ciência

e a Filosofia se encontravam sob o controlo e mesmo sob a censura directa da Igreja, era

manifestamente imprudente contestar o ensino de homens como Aristóteles, Santo

Agostinho ou São Tomás de Aquino.

- O início da era científica

Só por volta da Segunda metade do século XVI, e, sobretudo, a partir do século XVII, é

que a aplicação do espírito crítico e do método experimental à observação dos factos da

natureza veio impulsionar de maneira decisiva o desenvolvimento das chamadas ciências

exactas.

Nessa época, Copérnico e, sobretudo, Galileu (cuja morte ocorreu em 1642) derrubam o

velho conceito do geocentrismo herdado dos gregos. Fazendo gravitar a Terra em lugar

do “céu”, eles deixam o espírito do Homem submetido à angustiante presença de um

espaço infinito.

Sábios e filósofos dos mais ilustres como William Harvey, célebre pelas sua pesquisas

sobre a circulação do sangue, René Descartes ou Isaac Newton, continuam a aceitar, sem

grandes objecções, a teoria da geração espontânea.

Jean Baptiste Van Helmont (1577 – 1644), médico de

Bruxelas, chega mesmo ao ponto de fornecer uma receita para

fabricar ratos em 21 dias com grãos de trigo e uma camisa suja

dentro de uma caixa. O suor humano que impregnava a camisa

desempenhava o papel de “princípio vital”.

in Jácume, M.G. & Lourenço, M.H. (1999)

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Ficha nº4-A

C.T.V. – 10º ANO

2. O DECLÍNIO DA TEORIA DA GERAÇÃO ESPONTÂNEA

- Uma viragem: as primeiras experiências

De etapa em etapa, o edifício da geração espontânea começa a abrir fendas.

Francesco Redi (1626 – 1697), médico e biólogo de

Florença, não crê na teoria oficial. Pelo contrário, ele pensa que

“a Terra depois de no começo ter engendrado os animais e as

plantas por ordem do Supremo e Omnnipotente Criador, não

deu origem a nenhuma espécie de planta ou de animal, perfeito

ou imperfeito”.

Para ele, a vida só poderia surgir a partir de uma vida

preexistente – TTeeoorriiaa ddaa BBiiooggéénneessee. Assim, os “vermes” que se vêem “nascer” nas

matérias em putrefacção são, na realidade, o resultado de uma “inseminação” (reprodução

sexuada).

No sentido de apoiar a sua hipótese, Redi decide, em 1866, submetê-la a

verificação experimental. Demonstrou assim que a crença na geração espontânea de

larvas nas matérias em decomposição, não era senão uma consequência de um

grosseiro erro de observação.

Contudo, a persistência das ideias recebidas é por vezes tão forte que ele continuou a

acreditar, por rotina, na possibilidade de certos tipos de geração espontânea. Aliás, como

se vai ver, foi preciso bem pouco para ressuscitar uma ideia que faz apelo a tantos dados

subjectivos.

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in Cristo, J.C.A. & Galhardo, M.L. (1993)

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Ficha nº4-A

C.T.V. – 10º ANO

- A exploração do infinitamente pequeno e a descoberta do mundo da vida

invisível

O primeiro microscópio óptico foi desenvolvido em 1590 pelos holandeses Francis e

Zachary Janssen, apresentando um poder de ampliação muito reduzido.

Até ao desenvolvimento do microscópio óptico por Antony

Van Leeuwenhoek (1632 – 1723), a experiência de Redi

parecia refutar a hipótese da geração espontânea.

Mas a partir desta importante descoberta,

munidos deste instrumento, todos podiam

observar microorganismos em qualquer parte

onde existissem matérias em putrefacção ou em decomposição. Todavia,

ninguém queria admitir que organismos de tão pequenas dimensões, tão

simples e tão numerosos, pudessem nascer por reprodução sexuada.

Era mais que evidente: formavam-se por GGeerraaççããoo EEssppoonnttâânneeaa!!

No entanto, Luis Joblot (1645 - 1723), reconhecido como o primeiro microscopista

francês, tentou demonstrar a inexistência de Geração Espontânea, através da realização

da seguinte experiência:

Utilizou uma infusão de plantas fervida durante 15

minutos que depois colocou em dois recipientes

separados. Um deles ficou exposto ao ar, enquanto

o outro foi selado antes de arrefecer. O

recipiente fechado não desenvolveu bactérias,

enquanto que o aberto continha numerosos

microorganismos.

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Ficha nº4-A

C.T.V. – 10º ANO

Poderíamos pensar que os trabalhos deste investigador eram suficientes para provar a

inexistência de Geração Espontânea e a existência de BBiiooggéénneessee, no entanto a polémica

estava longe de ter terminado.

- As lutas finais

Nos fins do século XVIII uma áspera controvérsia iria travar-se entre dois padres

naturalistas: o escocês John Needham e o italiano Lazzaro Spallanzani.

Needham (1713-1781), amigo de Buffon, pretende demonstrar por uma série de

experiências a possibilidade da Geração Espontânea. Apesar de todas as “precauções

possíveis” (aquecimento prolongado dos líquidos, frascos de gargalo estreito

hermeticamente fechados) em todas as experiências aparecem miríades de

microrganismos.

Spallanzani (1729-1799) objecta que Needham não aquecera

suficientemente os frascos de modo a que ficassem

esterilizados. Needham responde por sua vez que Spallanzani

destrói o “princípio vital” e modifica as “qualidades do ar” ao

submeter os líquidos a um tratamento demasiado severo.

Spallanzani retoma ponto por ponto as objecções de Needham

numa nova série de brilhantes experiências com o intuito de

provar a Hipótese da Biogénese... mas não consegue, apesar de tudo, modificar a opinião

mais generalizada.

Com efeito, numerosos investigadores continuavam a obter resultados idênticos aos de

Needham por não trabalharem com suficiente cuidado, contaminando, sem se darem conta

disso, os líquidos de que se serviam ou os recipientes que os continham.

Para mais informação consultar:

Cristo, Anaia; Galhardo, Luísa (1993); Biologia 12º ano volume 1; Editora Replicação, LX

Lahav, Noam (1999); Biogenesis – theories of life’s origins; Oxford University Press; NW

Jácome, Maria (1999); Lourenço, Maria Helena; Da Terra e da Vida; Lisboa Editora; LX

Rosnay, Joel (1977); As origens da Vida do átomo à célula; Livraria Almedina; Coimbra

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