orientações para professores

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4 Introdução Desde o início do sistema de ensino existiram várias discussões a respeito do que se deveria ensinar, da forma como se deveria ensinar, e de como deveria ser o comportamento de professores e alunos, enquanto mestres e aprendizes, em alguns conceitos de educação mais antigos, ou enquanto construtores do conhecimento, em conceitos mais atuais. Uma das preocupações referentes ao ensino é quanto à relação professor-aluno, se diferentes relações entre docentes e dicentes influenciam de formas diferentes no processo de ensino-aprendizagem. Baseados em alguns autores, expomos algumas idéias a respeito da relação professor-aluno existentes na atualidade e a forma que estas relações podem afetar o ensino e a aprendizagem. As relações professor-aluno: fator determinante do ensino-aprendizagem A escola tem, atualmente, como função primordial, a formação de pessoas críticas e aptas para o exercício da cidadania, conscientes de suas obrigações e de seus direitos. Para que os alunos possam chegar a esta formação, é necessário que passem por uma série de aprendizagens (não serão avaliados aqui os conteúdos e a validade destas aprendizagens, da forma com que são estruturadas atualmente, o aspecto abordado será somente acerca do ensino-aprendizagem), e precisam contar com um orientador durante estas aprendizagens, representado pelo professor. A orientação dada pelo professor é o que caracteriza o ensino, conceituado por Saint- Onge (1999) como sendo “a organização de métodos de intervenção que permitam ao aluno construir seu saber com base no modelo do saber das diversas disciplinas escolares”, e que tem por função, ainda de acordo com Saint-Onge, ativar e guiar o processo de aprendizagem, o que deixa explícito que não existe ensino onde não há aprendizagem. Para que isto ocorra, é necessário que o professor tenha plena consciência do seu papel enquanto orientador. O ensino não se baseia apenas na ação de enunciar aquilo que se sabe, se produz em uma relação muito mais complexa do que isto. O ensino deve se basear em uma relação psicopedagógica, uma relação que ativa o processo de aprendizagem no aluno. 1 Saint-Onge aponta também a associação entre as emoções e a aprendizagem. Geralmente, as informações que são guardadas na memória são aquelas às quais damos alguma importância, aquelas que, de alguma forma, nos comovem. As informações às quais somos indiferentes dificilmente serão gurdadas, o que leva a concluir que existe uma informação subjetiva associada às informações que nos são transmitidas. Assim, o professor pode influenciar a percepção da importância atribuída pelos alunos ao conteúdo que está ensinando. O entusiasmo do professor é determinante para o julgamento dos alunos sobre o valor do conteúdo a ser aprendido, assim como o seu humor, pois não se pode ensinar com indiferença, sem que isso tenha algum efeito negativo no processo de ensino aprendizagem. (SAINT-ONGE, 1999). As relações entre o professor e o aluno sempre foram um assunto presente nas concepções de ensino e das tendências pedagógicas, ainda que em algumas delas, estas relações fossem quase inexistentes, figurando o professor como a figura máxima de poder dentro da sala de aula, enquanto os alunos figuravam apenas como receptáculo de todo o saber enunciado pelo professor, não existindo nenhuma relação mais pessoal entre o mestre e o

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Page 1: Orientações Para Professores

4

Introdução

Desde o início do sistema de ensino existiram várias discussões a respeito do que se deveria ensinar, da forma como

se deveria ensinar, e de como deveria ser o comportamento de professores e alunos, enquanto mestres e aprendizes,

em alguns conceitos de educação mais antigos, ou enquanto construtores do conhecimento, em conceitos mais atuais.

Uma das preocupações referentes ao ensino é quanto à relação professor-aluno, se diferentes relações entre docentes

e dicentes influenciam de formas diferentes no processo de ensino-aprendizagem. Baseados em alguns autores,

expomos algumas idéias a respeito da relação professor-aluno existentes na atualidade e a forma que estas relações

podem afetar o ensino e a aprendizagem.

As relações professor-aluno: fator determinante do ensino-aprendizagem

A escola tem, atualmente, como função primordial, a formação de pessoas críticas e aptas para o exercício da

cidadania, conscientes de suas obrigações e de seus direitos. Para que os alunos possam chegar a esta formação, é

necessário que passem por uma série de aprendizagens (não serão avaliados aqui os conteúdos e a validade destas

aprendizagens, da forma com que são estruturadas atualmente, o aspecto abordado será somente acerca do ensino-

aprendizagem), e precisam contar com um orientador durante estas aprendizagens, representado pelo professor.

A orientação dada pelo professor é o que caracteriza o ensino, conceituado por Saint-Onge (1999) como sendo “a

organização de métodos de intervenção que permitam ao aluno construir seu saber com base no modelo do saber das

diversas disciplinas escolares”, e que tem por função, ainda de acordo com Saint-Onge, ativar e guiar o processo de

aprendizagem, o que deixa explícito que não existe ensino onde não há aprendizagem.

Para que isto ocorra, é necessário que o professor tenha plena consciência do seu papel enquanto orientador. O

ensino não se baseia apenas na ação de enunciar aquilo que se sabe, se produz em uma relação muito mais complexa

do que isto. O ensino deve se basear em uma relação psicopedagógica, uma relação que ativa o processo de

aprendizagem no aluno. 1

Saint-Onge aponta também a associação entre as emoções e a aprendizagem. Geralmente, as informações que são

guardadas na memória são aquelas às quais damos alguma importância, aquelas que, de alguma forma, nos

comovem. As informações às quais somos indiferentes dificilmente serão gurdadas, o que leva a concluir que existe

uma informação subjetiva associada às informações que nos são transmitidas. Assim, o professor pode influenciar a

percepção da importância atribuída pelos alunos ao conteúdo que está ensinando. O entusiasmo do professor é

determinante para o julgamento dos alunos sobre o valor do conteúdo a ser aprendido, assim como o seu humor, pois

não se pode ensinar com indiferença, sem que isso tenha algum efeito negativo no processo de ensino aprendizagem.

(SAINT-ONGE, 1999).

As relações entre o professor e o aluno sempre foram um assunto presente nas concepções de ensino e das

tendências pedagógicas, ainda que em algumas delas, estas relações fossem quase inexistentes, figurando o

professor como a figura máxima de poder dentro da sala de aula, enquanto os alunos figuravam apenas como

receptáculo de todo o saber enunciado pelo professor, não existindo nenhuma relação mais pessoal entre o mestre e o

aprendiz. Nos dias de hoje, há grande preocupação com o efeito que as relações afetivas entre o professor e o aluno

causam no processo de ensino-aprendizagem. Têm-se dado ênfase às interações sociais, visto que a escola também é

um espaço social, e destaca-se o papel determinante do outro da construção do desenvolvimento do indivíduo, e deixa

de existir somente a preocupação com “o que” se ensina, e surge a grande preocupação de “como” se ensina.2

O comportamento do professor com cada aluno em particular e com sua turma, em geral, define, muitas vezes, o

comportamento dos alunos e a sua capacidade de efetivação da aprendizagem, da construção do seu próprio

conhecimento através da orientação do professor. Atualmente, o descaso pelo ato de lecionar e também pelo ato de

aprender tornou-se um problema cada vez mais notável nas salas de aula. Neste contexto, tomando como referência

Page 2: Orientações Para Professores

alguns comportamento comuns a muitos professores, alguns autores classificam os professores em algumas

categorias, estabelecendo relações comparativas. Hamilton Werneck (1995), por exemplo, classifica os tipos de

professores em diversos animais, comparando suas características (como por exemplo, o professor abelha, que

trabalha com muita persistência e determinação, ou o professor macaco, que costuma transformar sua aula em uma

grande brincadeira e não perde a oportunidade de transformar alguma resposta errada dos seus alunos em motivo de

chacota). Por sua vez, Gabriel Chalita define onze “tipos” de professores, conforme suas atitudes. É claro que, assim

como qualquer profissional ou qualquer pessoa, cada professor tem características próprias, sejam boas ou ruins, é

único. Porém, os “estereótipos” propostos por Chalita reúnem as características mais comuns observadas em certos

professores. A seguir, serão apresentados os tipos de professores e uma discussão acerca de cada um deles.

O professor arrogante

Características: é o professor que acredita ser o detento do saber, e costuma colocar os alunos em um patamar de

inferioridade. Defende-se de qualquer questionamento dos alunos argumentando sobre o seu grau de instrução,

questionando sobre o número de graduações que o aluno possui, ou se possui alguma publicação importante, para se

mostrar superior. Não gosta de ser interrompido, e não permite que os alunos manifestem suas idéias.

Relação professor-aluno: quase inexistente, e, quando existe, trata-se de uma relação de subordinação por parte do

aluno pelo professor.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: os alunos do professor arrogante

dificilmente darão alguma importância subjetiva aos conteúdos enunciados por este professor, e provavelmente, não

guardarão as informações transmitidas por ele. Como não há a construção de uma relação de confiança entre

professor e aluno, toda vez que os alunos não compreenderem o assunto, não terão coragem de fazer perguntas, e a

aprendizagem não se efetivará, o que, consequentemente, faz com que não haja ensino.

O professor inseguro

Características: tem medo dos alunos, teme ser rejeitado e de não conseguir fazer um bom trabalho. Mesmo

preparando a aula, não sabe por onde começar a ensinar a sua matéria. Pensa que talvez seu método não esteja

adequado, ou que talvez os alunos não vão concordar com o seu método de avaliação. Receia que os pais dos alunos

não gostem da relação que ele mantém com seus filhos, ou que talvez a direção da escola reprove o seu trabalho,

assim como tem medo das críticas dos outros professores. Diante de tantos receios e temores, se vê paralisado e tem

o seu potencial educador anulado.

Relação professor-aluno: talvez este professor tenta construir uma boa relação com os seus alunos, mas, ao contrário

do professor arrogante, ele é que acaba tomando uma posição de subordinação com relação aos alunos.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: além de não conseguir crescer

profissionalmente e nem trabalhar em parceria com outros professores e com a escola onde trabalha, o professor

inseguro torna-se motivo de piadas entre os alunos e tem sua credibilidade posta em cheque em sala de aula, visto

que ele mesmo demonstra que não tem confiança em si mesmo, desmotivando os seus alunos a confiarem no seu

ensino. Assim, também o ensino é prejudicado, visto que muitos alunos não irão dar real importância para o

aprendizado.

O professor lamuriante

Características: este professor reclama o tempo todo. Reclama do seu baixo salário, da situação atual do país, da

escola, dos alunos, da falta de estrutura e de materiais da escola, do pouco tempo que dispõe para ministrar sua

matéria, de sua vida pessoal. Sempre passa a impressão de que está arrasado e de que não está feliz com seu

trabalho. Muitas vezes se aproveita da condição de professor e usa seus alunos para fazer terapia.

Page 3: Orientações Para Professores

Relação professor-aluno: este professor cria com seus alunos a mesma relação que cria com seu cabeleireiro, usando

seus alunos para descarregar seu cansaço, sua irritação com problemas diários. Talvez assim até consiga criar algum

tipo de relação mais pessoal, mas dificilmente esta relação irá auxiliar o processo de ensino aprendizagem.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: o professor lamuriante mostra aos

seus alunos apenas o lado ruim da educação, do ensino, da aprendizagem, enfim, de qualquer aspecto que possa

fazer ou vir a fazer parte da vida de seus alunos, desmotivando-os no processo de ensino aprendizagem. Sem

motivação, é muito difícil que um aluno consiga se interessar pelo aprendizado, inutilizando o ensino.

O professor ditador

Características: este professor não respeita a autonomia do aluno, e trabalha como se fosse um comandante em

batalha. Exige disciplina o tempo todo, às custas de gritos e ameaças. Não permite nenhum barulho, e impõe horários

rígidos para tudo: ninguém chega mais tarde ou sai mais cedo, e ninguém vai ao banheiro a não ser no horário do

intervalo. Em dia de prova, observa aluno por aluno, proíbe empréstimo de material e ameaça quem ousar olhar para o

lado.

Relação professor-aluno: a relação existente entre o professor ditador e o aluno existe mais na cabeça do professor do

que dos seus alunos, sendo uma relação de subordinação e obediência por parte dos alunos para com o professor.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento:o respeito é algo que precisa ser

conquistado, e não imposto. Ninguém gosta de ser forçado a fazer algo. Portanto, não haverá prazer no aprendizado, e

talvez, realmente não haja aprendizado. Também, na sala de aula do professor ditador, não haverá a possibilidade de

interação entre os alunos, e, portanto, a possibilidade de construção conjunta do conhecimento será vetada. Talvez os

alunos saibam a hora de fazer silêncio ou de ir ao banheiro, mas dificilmente saberão se comportar durante o processo

de ensino-aprendizagem. Na verdade, este processo será muito prejudicado, pois grande parte dos professores

ditadores faz com que os alunos decorem sua matéria, e não auxilia na aprendizagem efetiva. Portanto, muitas vezes

pode não haver ensino, no seu sentido pleno.

O professor bonzinho

Características: ao contrário do professor ditador, este professor força a amizade com os alunos, sempre reforçando a

idéia de que gosta dos seus alunos, trazendo presentes e dando notas altas indiscriminadamente. Deixa que seus

alunos decidam quais serão os métodos de avaliação, e, durante a prova, responde questões para os alunos para que

eles não fiquem tristes ou não tirem notas baixas.

Relação professor-aluno: a relação pessoal entre o professor bonzinho e os alunos é geralmente boa, mas a relação

profissional é praticamente anulada. Da mesma forma que o professor ditador, este professor precisa entender que o

respeito é algo a ser conquistado, e não implorado por ações que acabam por prejudicar o aluno.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: este professor é um dos que mais

prejudicam o processo de aprendizagem dos alunos. Pode-se considerar que neste caso, pode sim existir o processo

de ensino-aprendizagem, mas ele é prejudicado pela falta de importância que o aluno dará ao aprendizado, pois ele

saberá que, na prova, o professor dará as respostas, então ele não precisa saber o conteúdo neste momento (e este

fato remete a dois grandes problemas da educação: a prova como o único método de avaliação e a idéia errônea que

os alunos têm de que eles só precisam aprender para reproduzir na prova, não sendo necessário aprender para a

vida).

O professor desorganizado

Características: o professor desorganizado entra na sua sala sem ter a menor idéia do que vai ensinar. Não prepara

aula, não estuda o conteúdo. Como não sabe ao certo a sua matéria, se põe a enrolar seus alunos com conversas e

banalidades, e inventa atividades aleatórias, para os quais os alunos não tiveram nenhuma preparação e não dispõem

Page 4: Orientações Para Professores

de subsídio. Ao contrário do professor bonzinho, que tenta forçar uma imagem de respeito exagerado pelos alunos,

este professor não tem respeito pelo seu próprio trabalho e nem pelos seus alunos.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: para que haja aprendizado, é

necessário que o aluno seja preparado gradativamente, que ele tenha subsídios ensinados anteriormente para que

possa construir novos aprendizados. Sem preparação, o aluno não irá desenvolver um novo aprendizado. Portanto, o

professor deve planejar sua aula, desenvolver e seguir um planejamento que leve aos seus alunos a desenvolver-se

durante os seus aprendizados.

O professor oba-oba

Características: este tipo de professor adora dinâmicas de sala de aula, passa muitos filmes e reportagens, transforma

qualquer aula em um passeio para que os alunos observem os fenômenos fora da sala de aula.

Relação professor-aluno: este professor consegue manter boas relações com os alunos, porém peca na falta de

objetividade do seu ensino.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento:toda aula dinâmica ou diferente das

mesmas aulas repetitivas usando-se quadro e giz, sem que os alunos possam observar os conteúdos sendo aplicados

é uma carta na manga para chamar a atenção dos alunos e conseguir efetivar o aprendizado. Porém, quando se usa

filmes, dinâmicas de grupo ou aulas-passeios sem que haja uma reflexão sobre o objetivo deste método, sem uma

discussão sobre os conteúdos envolvidos e sem que o objetivo que permeia estas atividades sejam deixados bem

claros para os alunos, estas atividades são inutilizadas e só servem para passar o tempo na sala de aula, e não

enriquecem o processo de ensino-aprendizagem da forma que poderiam e deveriam enriquecer.

O professor livresco

Características: este professor tem uma vasta cultura, possui um profundo conhecimento de sua matéria, mas não

consegue relacioná-la com a vida, como o seu próprio dia-a-dia ou com o dos seus alunos. Ele entende de livros, sabe

indicar referências bibliográficas para qualquer assunto, mas não entende nada do cotidiano. Ele não utiliza outro

método pedagógico a não ser o livro. Não se interessa se os alunos conseguem ou não acompanhar o seu raciocínio,

apenas passa tudo aquilo que preparou para ser falado durante a aula. Se algum aluno faz uma pergunta, consulta no

livro para responder; enquanto prepara a sua aula, consulta livros e mais livros e considera como relevante à sua aula

apenas o que vê escrito neles.

Relação professor-aluno: o mediador entre este professor e o aluno é o livro. A relação entre o professor e o aluno é

muito prejudicada, pois o professor livresco ignora qualquer tentativa de associação do aluno entre o conteúdo e o seu

dia-a-dia, e também resolve qualquer questão levantada indicando livros que devem ser lidos para sanar qualquer

dúvida.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento:este professor acredita que seu

trabalho como orientador do conhecimento possa ser facilmente substituído pela leitura de alguns livros. Assim, ele

anula a sua função e os seus alunos sofrem com a falta da figura de um mediador, que os ajude a aprender os

conteúdos e, principalmente, que mostre a importância dos conteúdos aprendidos, indicando várias situações

cotidianas onde estes conteúdos poderiam ser aplicados e mostre o quanto sua disciplina está presente no dia-a-dia

dos alunos, e, portanto, quanto é importante que os alunos tenham estes conhecimentos.

O professor “tô fora”

Características: ele não se compromete com a comunidade acadêmica, não participa de reuniões, de preparação de

projetos conjuntos, não participa de nenhum evento que ocorra na escola. Simplesmente dá a sua aula e vai embora.

É, muitas vezes, um bom professor, mas não evolui social e nem profissionalmente, pois não convive com as outras

pessoas que trabalham na escola e não evolui seu conteúdo interdisciplinar, pois não está presente. Alguns são

Page 5: Orientações Para Professores

arrogantes a ponto de acreditar que não têm mais nada a aprender, e, portanto, não vão ficar discutindo sobre o que

consideram “bobagens”. Outros não participam de nenhuma outra atividade que não seja a sua aula propriamente dita

por não estarem recebendo para isto.

Relação professor-aluno: a relação estabelecida entre este professor e os seus alunos é muito restrita à sala de aula.

Pode ser que estas atitudes do professor não venham a prejudicar o processo de ensino-aprendizagem, porém, os

alunos jamais o verão como um professor amigo e participativo, e o professor perde a oportunidade de construir uma

relação mais amistosa e de confiança entre seus alunos e também com seus colegas de trabalho.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: como este professor não

compreende os aspectos interdisciplinares da educação, ele não saberá relacionar sua disciplina com as demais, e o

ensino de sua disciplina será fragmentado, pois ele não estabelecerá pontes entre as disciplinas aprendidas por seus

alunos em outras aulas. Além disso, ele não saberá aproveitar as oportunidades do trabalho em conjunto com outros

professores, o que poderia enriquecer muito o aprendizado dos seus alunos.

O professor dez questões

Características: reduz toda a matéria que ministrou durante o bimestre a um determinado número de questões. Pode

ser que o número de questões seja maior ou menor que dez, mas não importa, o objetivo é sempre o mesmo. Se

utilizar o livro didático, manda que os alunos leiam o livro, façam um resumo do capítulo e respondam às questões.

Geralmente, suas questões não são relacionais, nem críticas. Se for um professor de ciências exatas, geralmente os

alunos devem decorar fórmulas para resolver suas questões. No final do bimestre, para comprovar sua generosidade,

apresenta algumas questões que devem ser decoradas para prova.

Relação professor-aluno: muito dificultada. Se o professor resume a sua matéria a algumas questões, seus alunos se

sentem torturados decorando questões.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: o trabalho de um professor não pode

ser resumido a simplesmente passar matéria no quadro, ou ainda indicar capítulos de um livro, para depois resumir

tudo isto em algumas questões que não exigem um mínimo de reflexão e que não possuem nenhuma correlação.

Novamente, não pode haver aprendizado em decorar respostas, e, assim, também não há ensino. Com tantos

métodos alternativos de ensino, que exigem talvez um mínimo de criatividade, esforço e algum conhecimento

tecnológico, é inadmissível que um professor se utilize ainda somente neste velho método de questionários.

O professor tiozinho

Características: a denominação “tiozinho” tem aqui um sentido pejorativo. Este tipo de professor gasta suas aulas mais

para conversar e dar conselhos aos seus alunos do que para ensinar sua disciplina. Trata-os como se fossem da sua

própria família, e se incomoda com suas vidas pessoais, suas atitudes em relação a todos os aspectos particulares: o

que fazem em casa, que lugares costumam frequentar etc. Emite opiniões sobre todos estes aspectos e costuma

diagnosticar todos os problemas dos alunos somente pelos comentários feitos por eles.

Relação professor-aluno: tem uma relação com seus alunos mais familiar do que educacional.

Problemas prováveis no ensino-aprendizagem decorrentes deste comportamento: conselhos não funcionam com os

alunos, assim como não funcionam com familiares nesta faixa etária. Geralmente, conselhos só são bem aceitos

quando o professor tem uma relação de confiança com os alunos suficiente para fazer com que o aluno procure o

professor para contar seus problemas. Enquanto o professor se incomoda com a vida particular dos seus alunos, deixa

de lado a sua função primordial, que é de ensinar.

Apesar de todos os perfis destacados e considerados mais comuns por Chalita, é claro que não se pode desconsiderar

a existência de muitos professores que exercem a sua profissão com amor e dedicação. Existem muitos professores

que se preocupam com a relação que mantêm com seus alunos, não a ponto de interferir nas suas vidas pessoais ou

Page 6: Orientações Para Professores

de se tornar o alvo de piadas por parte dos alunos, mas tornando o processo de ensino-aprendizagem significativo e

agradável, tanto para seus alunos como para si mesmo. O professor deve ser o educador, o orientador, o construtor do

conhecimento juntamente com os seus alunos, em uma relação de bom senso, que permite ao aluno se desenvolver

com autonomia, trabalhando com entusiasmo, comemorando junto com os alunos suas conquistas, apoiando na

correção dos fracassos, tratando seus alunos com igualdade, não discriminando ninguém por suas capacidades e

habilidades, e participando ativamente de todo o processo de ensino-aprendizagem, melhorando-o a cada dia.

Considerações finais

A partir desta reflexão a respeito das atitudes e do comportamento dos professores para com seus alunos,

estabelecendo, assim, algumas formas de relação que podem ser criadas entre mestres e educandos, pode-se

perceber que estas atitudes geralmente são determinantes para a construção da relação professor-aluno, e podem

afetar diretamente o processo de ensino-aprendizagem.

Muitas vezes, uma boa relação, de confiança e de afeto entre o professor e o aluno pode facilitar muito o processo,

tornando a aprendizagem mais significativa e prazerosa, e, assim, facilitando muito o ensino, que se torna também

mais gratificante para o professor. Por outro lado, relações mal estabelecidas ou relações em que um dos envolvidos é

colocado em uma posição de inferioridade geralmente tornam o ensino-aprendizagem um fardo, difícil de ser efetivado

tanto para o professor, que não encontra realização pessoal e profissional em seu trabalho, enquanto recebe apenas a

hostilidade de seus alunos. Os alunos, por sua vez, não encontram prazer na aprendizagem, e não conseguem dar a

ela um sentido.

Referências

1 SAINT-ONGE, Michel. O ensino na escola: O que é? Como se faz? São Paulo: Edições Loyola, 1999.

2 LEITE, Sérgio Antônio da Silva; TASSONI, Elvira Cristina Martins. A afetividade em sala de aula: As condições de

ensino e a mediação do professor. Disponível em http://www.fe.unicamp.br/alle/textos/SASL-

AAfetividadeemSaladeAula.pdf, acesso em 26/04/10.

WERNECK, Hamilton. Prova, provão, camisa de força da educação. 6ª ed. Petrópolis: Vozes,1995.

CHALITA, Gabriel. Professor. Revista Profissão Mestre, abril/2002, pag. 19 - 22.