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ÍNDICE ÓRGÃOS POLÍTICOS E CLASSE POLÍTICA NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA Albertina Maria de Sousa Gonçalves Henriques INTRODUÇÃO I - METODOLOGIA II - SISTEMA POLÍTICO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA file:///E|/pdf/livros/28/01.htm (1 of 3)02/02/2005 12:36:53

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ÍNDICE

ÓRGÃOS POLÍTICOS E CLASSE POLÍTICA

NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

Albertina Maria de Sousa Gonçalves Henriques

INTRODUÇÃOI - METODOLOGIA

II - SISTEMA POLÍTICO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

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ÍNDICE

1 – Os Partidos Políticos

2 – Os Sistemas Partidários

3 – Os Sistemas Eleitorais

4 – As Características Gerais do Sistema Político da Madeira

5 – O Partido Dominante

6 – O Partido Dominante e Hegemónico

III - LIDERANÇA CARISMÁTICAIV – MINISTRO DA REPÚBLICA

V - PARLAMENTO

1 - A Importância do Parlamento

2 – O Parlamento Madeirense

3 – A Partidarização do Parlamento Madeirense

4 – A Parlamentarização Partidária do Parlamento Madeirense

VI - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 – Os Grupos Parlamentares

2 – O Mandato Individual

3 – A Imagem

VII - O LUGAR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 – As Funções da Assembleia Legislativa Regional

2 – A Actividade Legislativa

3 – As Competências de Fiscalização

4 – O Papel da Maioria no Controlo do Governo Regional

5 – O Papel da Oposição no Controlo do Governo Regional

VIII - ELITE POLÍTICA MADEIRENSE – OS DEPUTADOS À ASSEM-BLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 - A Teoria das Elites

2 - A Versão Clássica da Teoria das Elites

3 - A Versão Pluralista da Teoria das Elites

4 – As Características da Elite Política Madeirense

4.1-Divisão por sexo

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ÍNDICE

4.2-Divisão por classe etária

4.3-Divisão por habilitação literária

4.4-Divisão por profissão

5 – A Evolução no tempo. Aproximação ao núcleo duro.

IX – ALGUMAS CONCLUSÕES BIBLIOGRAFIA

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ÓRGÃOS POLÍTICOS E CLASSE POLÍTICA

NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

Albertina Maria de Sousa Gonçalves Henriques

INTRODUÇÃOI - METODOLOGIA

II - SISTEMA POLÍTICO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA

1 – Os Partidos Políticos

2 – Os Sistemas Partidários

3 – Os Sistemas Eleitorais

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4 – As Características Gerais do Sistema Político da Madeira

5 – O Partido Dominante

6 – O Partido Dominante e Hegemónico

III - LIDERANÇA CARISMÁTICA IV – MINISTRO DA REPÚBLICA

V - PARLAMENTO

1 - A Importância do Parlamento

2 – O Parlamento Madeirense

3 – A Partidarização do Parlamento Madeirense

4 – A Parlamentarização Partidária do Parlamento Madeirense

VI - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 – Os Grupos Parlamentares

2 – O Mandato Individual

3 – A Imagem

VII - O LUGAR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 – As Funções da Assembleia Legislativa Regional

2 – A Actividade Legislativa

3 – As Competências de Fiscalização

4 – O Papel da Maioria no Controlo do Governo Regional

5 – O Papel da Oposição no Controlo do Governo Regional

VIII - ELITE POLÍTICA MADEIRENSE – OS DEPUTADOS À ASSEM-BLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 - A Teoria das Elites

2 - A Versão Clássica da Teoria das Elites

3 - A Versão Pluralista da Teoria das Elites

4 – As Características da Elite Política Madeirense

4.1-Divisão por sexo

4.2-Divisão por classe etária

4.3-Divisão por habilitação literária

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ÍNDICE

4.4-Divisão por profissão

5 – A Evolução no tempo. Aproximação ao núcleo duro.

IX – ALGUMAS CONCLUSÕES BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Em Cavalli, «classe política» [1] deve ser entendida no sentido de que é formada por um grupo social, cuja função principal é a de agir como «mecanismo de regulação do sistema

político» [2]. Para tal, é necessário ter em conta a realidade e a situação que prevalece, pelo que, se atender-mos à complexidade da sociedade actual, em que a vida social se foi politizando de uma forma cada vez mais acentuada, o conceito de classe política deve abranger ainda segundo o mesmo autor «os dirigentes dos grupos de interesse e de outras estruturas de representação

sectorial ou não política, no sentido clássico, como os sindicatos patronais, etc, » [3]. Outros investigadores por seu lado, falam-nos de classe política em sentido lato e em sentido estrito. Neste caso encontra-se Birnbaum que explica aquele primeiro ponto como compreendendo não só o «pessoal político stricto sensu» (como seja os parlamentares e os ministros), mas também todos os membros que fazem parte da «alta administração» que desempenhando funções nos gabinetes ministeriais, participam de uma forma directa na

«execução das decisões do Estado» [4]. É sabido que a acção política se desenvolve através de um complicado processo de alianças e compromissos, que são resultado de alargadas negociações entre as diversas organizações que interagem na sociedade. Daqui vão surgir aqueles que terão a seu cargo a organização política da sociedade. Mesmo que seja difícil à observação aperceber-se da forma como estes surgem e se tornam muitas vezes políticos profissionais formando um grupo mais ou menos coeso, a verdade é que a sua existência é indiscutível, defendendo LaPalombara este ponto de vista ao afirmar «seja ela distinguível pela riqueza, num país; pela casta, noutro país - o facto é que sabemos que a classe existe. Seus contornos podem ser algo vagos, menos precisos

do que os do Monte Everest, mas existe e está bem presente» [5]. No que diz respeito à definição de elites, Norberto Bobbio afirma que «em toda a sociedade existe, sempre e apenas uma minoria que, por várias formas, é detentora do poder, em

contraposição a uma maioria que dela está privada» [6]. Uma vez que, e apesar das diversas formas de poder, a teoria das elites deu especial atenção ao estudo das elites políticas, Bobbio redefine aquela como sendo «a teoria segundo a qual, em cada sociedade, o poder político pertence sempre a um restrito círculo de pessoas, que tem o poder de tomar e de impor decisões válidas para todos os membros do grupo, mesmo que tenha de recorrer à força, em última

instância» [7]. Guy Rocher fala-nos da elite como compreendendo «as pessoas e os grupos que, graças ao poder que detêm ou à influência que exercem, contribuem para a acção histórica de uma

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INTRODUÇÃO

colectividade, seja pelas decisões tomadas, seja pelas ideias, sentimentos ou emoções que

exprimem ou simbolizam» [8]. O autor apoiando-se nos modelos de autoridade Weberiana (tradicional, racional-legal e carismática) considera que é possível distinguir seis tipos de elites, nomeadamente: tradicionais; tecnocráticas; proprietárias; carismáticas; ideológicas e simbólicas [9]. De focar também a definição de elites adoptada por Bettencourt da Câmara que afirma: «Elites são grupos ou agregados sociais que, por deterem o Poder e/ou Autoridade, exercem influência, criando, conservando, modificando ou extinguindo, condutas socialmente relevantes,

e/ou alterando as suas posições relativas no sistema de Poder em que participam» [10]. De acordo com este conceito as elites não têm que necessariamente ser grupos onde predominam os laços de solidariedade e pertença de grupo. Neste sentido quando Guy Rocher fala de elites simbólicas como os «desportistas profissionais, fragmentados por competições ou

conflitos» [11] está a referir-se não a um grupo mas sim a um agregado social. Verifica-se assim, que no conceito apresentado por Bettencourt da Câmara, predomina o critério do poder e/ou autoridade, bem como o da influência que daqui pode resultar. Ainda segundo este autor, é possível falar-se de elites políticas e não políticas, incluindo as primeiras elites governantes e não governantes. Estas últimas distinguem-se pelo facto de uma deter o poder e a outra não. Se tivermos em conta que a distinção entre poder e autoridade assenta no facto de o primeiro dispor de capacidade em obrigar outrem por meio de sanções, enquanto a segunda baseia-se na capacidade de influênciar comportamentos sem impor sanções, podemos então dizer que:

- «A elite governante, detém sempre o poder político mas nem sempre a autoridade.- A elite política não governante, tem sempre autoridade mas não detém o poder

político» [12]. Borges de Macedo por seu lado, fala-nos da existência de elites em todas as classes sociais e dos conflitos que se estabelecem entre elas, afirmando que «uma das mais importantes funções do Estado reside no estabelecimento da conciliação possível entre as diferentes

elites» [13]. Esta linha de análise foi sempre criticada quer por marxistas, quer pelos defensores fundamentalistas das ideologias democráticas. Para estes últimos a simples aceitação da elite política tornava-se uma afronta aos princípios democráticos, principalmente ao da igualdade visto ser difícil lutar e defender a igualdade de todos os cidadãos reconhecendo ao mesmo tempo que o poder se concentrava nas mãos de uma minoria. O igualitarismo e o poder do povo parecia estar posto em causa, o que de facto não acontece. Na realidade, a incompatibilidade entre a democracia e as elites é inexistente, já que esta legitima a elite política eleita pelo povo através do voto.

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INTRODUÇÃO

Todavia, a crescente investigação das sociedades faz com que não mais seja possível ignorar-se a existência de uma pluralidade de elites mesmo nos sistemas democráticos, e que é desta que emana uma parte substancial de iniciativa e coordenação das massas. Por outro lado, as diferenças entre a chamada teoria clássica e pluralista não são tão marcantes quanto julgamos. Da elite vão continuar a fazer parte os que tomam ou influenciam decisões tidas fundamentais para a sociedade. Vai continuar a privilegiar-se tal como Mosca já havia defendido os membros que pertencem ao grupo de conhecidos, os amigos e os familiares. O estudo, análise e investigação das minorias dominantes vai permitir que se actue no sentido de obter uma sociedade mais equilibrada, aonde as liberdades e a participação de todos estejam garantidas. Para tal, temos necessidade de manter sociedades civis fortes, ou seja, aquilo a que Mosca designou como «defesa jurídica». Isto é, segundo o autor «o mais elevado grau da defesa jurídica, o maior respeito pela lei e pela moral por parte daqueles que estão no poder, só pode ser obtido por meio da participação de muitas forças políticas no governo e através do

contrapeso que umas impõem às outras» [14]. À parte a importância que as elites possam ter na sociedade, há que ter em conta que os acontecimentos mais relevantes não são realizados somente por estas. A interacção elites/massas é incessante, não podendo nenhuma delas por si só agir isoladamente. A existência de uma pressupõe a outra.

[1] Alessandro Cavalli, «Classe», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e

Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, pp. 169-175. Ver ainda: A. Lima de Carvalho, «Classe», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado,vol. 1º, Lisboa, Verbo, 1983, pp. 890-895. [2]

Neste campo temos José Miguel Júdice, «Classe Política», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1º, Lisboa, Verbo, 1983, pp. 895-900.[3]

Idem, ibidem.[4]

Cf. Pierre Birnbaum, Les Sommets de L’État-Essai sur L’Élite du Pouvoir en France, Paris, Seuil, 1977. [5]

Joseph LaPalombara, A Política no Interior das Nações, Brasília, Universidade de Brasília, 1982, p. 434.

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INTRODUÇÃO

[6] Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola

Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 385.[7]

Idem, ibidem.[8]

Guy Rocher, Sociologia Geral, - mudança social e acção histórica, vol. III, Lisboa, Presença, 1989, p. 104.[9]

Idem, pp. 105-109.[10]

Conceito operacional criado pelo autor a partir da definição de elite de Adriano Moreira, cit. por Hermano Carmo, Os Dirigentes da Administração Pública em Portugal-contributo para o seu estudo, Separata da Revista Estudos Políticos e Sociais, vol. XV, nº 3-4, Lisboa, ISCSP, 1987, p. 220. Ver ainda: António Marques Bessa, que estudou incisivamente este problema na sua tese Quem Governa? Uma análise Hintórico-Social do tema Elite, Lisboa, ISCSP, 1992.[11]

Guy Rocher, Sociologia Geral – mudança social e acção histórica, op. cit., pp.108-109.[12]

Hermano Carmo, Os Dirigentes da Administração Pública em Portugal – contributo para o seu estudo, op. cit., p. 221.[13]

J. Borges de Macedo, «Elite», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 2º, Lisboa, Verbo, 1983, p. 906.[14]

Gaetano Mosca, The Ruling Class – Elementi di Scienza Politica, Wetport, Connecticut GreenWood Press, 1980, p. 244.

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II

I

METODOLOGIA

«É quando se examina o fenómeno no lumino-so resistindo ao esquematismo, lutando contra a intuição primeira, provocando razões de pluralismo experimental, que se chega a pensamentos que rectificam pensamentos e experiências que rectificam observações». Gaston Bachelard, O Novo Espírito Científico, Lisboa, Edições 70, 1986, p. 57.

Este trabalho tem por objecto delimitar, tanto quanto possível, a classe política madeirense, que se desenvolveu no âmbito do processo autonómico. Torna-se necessário estudar as instituições em que se encontra para melhor a compreender.Para isso, a discussão do conceito é indispensável. O termo provém de Mosca que nos fala de

classe política dirigente e classe política não dirigente [15] constituindo assim, a teoria da minoria dirigente a qual existe em todas as sociedades, independentemente do seu grau de desenvolvimento.De salientar que para Mosca o poder político não se centra num só homem, na medida em que um homem por si só não consegue comandar um grupo só o fazendo se for apoiado por «uma

minoria dentro do grupo» [16]. Com isto, Mosca não quer dizer que um ou mais indivíduos que formam a minoria, não se possam destacar e assumir protagonismo, nomeadamente o monarca, o tirano, o ditador.À volta do dirigente máximo vamos encontrar um conjunto de colaboradores directos que para além de participarem nas decisões têm como função canalizar hierarquicamente as orientações superiores, que se concretizam materialmente na classe dirigida.Na teoria defendida por Mosca vamos encontrar dois aspectos fundamentais: a organização com toda a sua influência e poder e a fórmula política que vai permitir o exercício do poder numa dimensão temporal mais ou menos longa.Relativamente ao primeiro aspecto, é precisamente a organização que leva a que a minoria se constitua minoria e que prevaleça sobre a maioria que apesar de ser muito mais numerosa não se impõe àquela por se encontar inorganizada .No que diz respeito ao segundo ponto, há todo um conjunto de factores que atinge os diferentes estratos da sociedade e que se baseiam nos princípios, crenças e mitos. Este todo faz com que a eficácia e desempenho político esteja em consonância com os sentimentos da massa. Desta

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II

maneira a fórmula política acaba por ser um processo dinâmico e variável, pelo qual a classe política justifica o seu poder.O termo classe política tem equivalência em Pareto, que nos apresenta a elite governante e a elite

não governante [17]. Da primeira faz parte os que directa ou indirectamente participam de forma notável no governo, os restantes integram-se na elite não governante.Para Pareto, as elites vão constituir um factor de equilíbrio na sociedade, sendo também fundamentais na transformação da história. A minoria encontra-se em todos os sectores de

actividade [18].Na elite governante vamos deparar-nos com diferentes classes residuais dominantes que lutam entre si pelo controlo do poder. Isto faz com que os dirigentes sejam substituídos com certa frequência uns pelos outros, que poderão nem sequer ter as mesmas orientações. Estamos perante a circulação das elites, consequência da minoria dirigente não conseguir manter o poder pelo desgaste a que está sujeita. Assim, a elite política governante enfraquece e é substituída por uma outra que entretanto se foi fortalecendo. O processo político desenvolve-se em redor destas duas minorias, cuja luta segue a linha de diferentes resíduos e interesses.Michels, por seu lado, vai também referir a existência de uma minoria política nos partidos

políticos [19], que conduz à oligarquia. O partido por tal facto deixa de ser instrumento de mudança, o que permite a estabilização de dominâncias instauradas. A sua contribuição assentou na organização, que segundo Michels é fundamental para que os grupos e sociedades possam atingir os seus objectivos. E é precisamente deste facto (organização) a que ninguém pode fugir que surge o poder da minoria dirigente por um lado e, por outro, a maioria dirigida.A complexidade dos serviços, a especialização e a necessidade de tomar decisões, conduz inevitavelmente ao fenómeno da oligarquia. É a lei de ferro da minoria «quem diz organização

diz oligarquia» [20]. A organização torna-se um fim em si mesmo.O comportamento da massa e a aceitação da oligarquia por esta, é explicado pelas suas tendências psicológicas e desinteresse pelas coisas públicas.Dentro da oligarquia, nas organizações partidárias, a luta pela hegemonia é constante o que conduz à necessidade de destaque e, por outro lado, à busca de apoio nas massas para adquirir sucesso. Até porque como diz Michels «não foram as massas que devoraram os chefes: foram os

próprios chefes que, ajudados pelas massas, se entredevoraram» [21].Em Ostrogorski, vamos de igual forma encontrar a ideia de organização que se centra na máquina

partidária [22] e que tem como objectivo manipular o eleitorado a favor do partido, muito embora transmita a ideia de que apenas visa ajudar a população. A máquina partidária adquire cada vez maior importância face a candidatos que se apresentam isolados bem como perante a massa desorganizada.O monopólio da política é alcançado pelas organizações que chamam a si a direcção principal. A

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II

máquina mais não é do que «um agregado de indivíduos dispondo-se hierarquicamente de cima

para baixo, ligados uns aos outros por uma particular devoção mercenária» [23]. Isto quer dizer que a organização rígida e eficaz só será ultrapassada por uma outra máquina/organização semelhante mas oposta.A convicção da existência de uma tendência geral e praticamente inevitável da relação estabelecida entre dirigentes e dirigidos, à parte o grau de desenvolvimento das sociedades, também se encontra nos pensadores modernos, que apesar de apresentarem diferenças entre si nem por isso renegam a valiosa contribuição dos clássicos na problemática da elite.Entre os vários estudiosos actuais temos Schumpeter que ultrapassou os contornos da economia,

dedicando-se ao estudo da direcção das sociedades [24].Para Schumpeter, a complexidade crescente da sociedade faz com que nos deparemos com duas

novas categorias que integram a classe dirigente: os intelectuais e os políticos profissionais [25]. Os primeiros, pelos seus conhecimentos, educação, dom de escrever e falar entre outras particularidades, são não raras vezes responsáveis por um conjunto de ideias, promessas e decisões superiores que se repercutem na sociedade, condicionando o seu destino.Estes, os intelectuais, tanto servem o poder como o criticam. Ou seja, as massas não organizadas e ineficientes seguem os grupos organizados que as guiam, quer estes constituam os intelectuais

ou os políticos profissionais [26]. O grupo dirigente é activo, dinâmico e, quer por meio de acção, quer pela palavra actua a cobro da obediência pacífica dos dominados.Na fórmula democrática, são as máquinas, isto é, os partidos que trabalham na promoção dos que concorrem aos lugares chave da estrutura política. A massa constitui o meio através do qual os candidatos formam o corpo governante já que a decisão final está a cargo dela. Assim, a massa em certas alturas confia ou penaliza aqueles que se lhe deparam.Em Schumpeter, verifica-se a ideia de uma elite democrática, aberta, altamente competitiva. Por outro tal, a classe política dirigente é maioritariamente composta por profissionais que se dedicam exclusivamente à luta pela aquisição e conservação do poder. Os políticos profissionais para além dos interesses colectivos que se liga directamente com a profissão, dispõem ainda de interesses individuais que tendem a orientar por forma a obter o maior êxito possível.James Burnham, à semelhança de outros autores, deu o seu contributo relativamente à minoria, à

elite [27]. Nos sistemas modernos da economia pública e privada, face à sua cada vez mais acentuada complexidade, os meios de produção passaram para as mãos de uma categoria profissional cujo objectivo é a gestão destes.Assim, os especialistas da gestão da produção vão ter sob a sua alçada todo o processo produtivo, o que implica a tomada de decisões fundamentais neste campo e que tendem a alargar-se aos

restantes. Para Burnham, a nova classe dirigente é constituida pelos gestores [28], os quais conseguem manipular os meios de produção face à proximidade que mantêm com estes e, por tal, têm acesso ao poder, dominando.

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II

A nova classe dominante reside nos gestores, que ocupam o cimo da estrutura socio-económica. Estes organizam a produção e tudo o que lhe está subjacente, nomeadamente a sua distribuição e financiamento.Atendendo às particularidades desta nova classe dominante, as grandes decisões políticas não se efectuam no Parlamento, mas nas comissões, direcções e instituições administrativas.O processo político desenvolve-se através das relações estabelecidas entre as elites e a massa, apoiando-se aquelas nesta a fim de conservarem a sua posição.A liberdade e benefícios das massas vão estar na luta existente entre as fracções da elite que acusando-se mutuamente, estão atentas aos temas que permitem obter votos. As massas pelo facto de estarem enfraquecidas por falta de organização por um lado e, por outro, limitadas no pensamento com carências diversas, dificilmente terão relevância no pronunciar-se e na direcção de decisões públicas.Tal como tivemos oportunidade de referir, para além destes, outros tantos autores deram o seu contributo no estudo da relação que se estabelece entre a classe dirigente e a classe dirigida sempre composta pela maioria, nomeadamente: Harold Lasswel; Wright Mills; Raymond Aron; Jurgen Habermas, assunto que desenvolvemos de forma mais alargada no Capítulo VIII, ponto 3 –Versão pluralista da teoria das elites.Independentemente de onde é colocada a tónica principal, parece predominar a tese de que já não é possível falar-se de uma só elite. A aceitação da democracia e nesta integrar-se o conceito de elite, obriga a que este assente na pluralidade de forças que se digladiam umas às outras por forma a deter o poder. Nestas forças, a entrada far-se-á com maior ou menor dificuldade consoante as características do grupo dirigente, e não propriamente com base na igualdade de oportunidades de acesso ao poder uma vez que esta em termos práticos se situa distante da discussão teórica.Minoria e maioria são palavras constantes das obras de diferentes estudiosos. Quer seja na sociedade como um todo, quer nas diferentes partes que a compõem, a minoria dirigente parece, segundo Julien Freund, um fenómeno inevitável. Dirigindo bem ou mal, é inegável a existência

de dois grandes grupos: um que manda e outro que é mandado [29]. Com a elaboração deste trabalho que teve por base a Região Autónoma da Madeira, propusemo-nos estudar uma parte daqueles que detêm o poder político e, que por tal, tomam e impõem decisões para a maioria. São os que fazem parte da elite política governante no modelo de Pareto e que dispõem, não tanto de autoridade, mas sobretudo de poder legitimado. Só a partir de 1976 é que o Arquipélago da Madeira adquiriu autonomia política plena, passando assim, a dispor de Estatuto de Região Autónoma. Para a Assembleia Legislativa Regional realizaram-se já por seis vezes eleições regionais, e apesar de se manter o mesmo sistema eleitoral que no resto do país, já originou diferenças marcantes no sistema partidário português, na Madeira nunca se registaram alterações significativas em termos partidários e, consequentemente, políticos. Todavia, esta situação só aumenta o interesse de uma análise política do fenómeno existente, que desde 1976 é praticamente o mesmo.

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II

Tendo conhecimento que o campo dos que detêm o poder é vasto e embora ao longo da pesquisa efectuada fossemos muitas das vezes tentados a abarcar o máximo possível daquele, por forma a dar uma ideia rigorosa e, fundamentalmente científica da vida política regional, acabamos por cingir-nos à classe política madeirense, mais concretamente os deputados à Assembleia Legislativa desde 1976 até ao presente. Considerou-se de interesse verificar a evolução que esta classe política sofreu no decorrer de vinte anos de autonomia político-administrativa. Quem são, o que fazem, e que idade têm. Uma vez delimitado o objecto de estudo, procedeu-se à sua análise não só quantitativamente, mas também qualitativamente. O facto de termos procedido à decomposição de um todo através do método quantitativo não teve por objectivo a simplificação excessiva do

fenómeno a estudar [30].Segundo Pitirim Sorokin, a adopção do método para atingir o objecto proposto a alcançar, deve

ser equilibrado evitando cair no uso exclusivo dos números e da estatística [31]. O método não é de forma alguma algo rígido que nos espartilhe, não permitindo uma adaptação à realidade do estudo a efectuar o que não implica que não tenha que haver o rigor que concede a qualquer estudo o carácter científico. Não podemos é aceitar a desadequação por vezes total entre a

investigação teórica e a empírica [32]. A conjugação e complementaridade de vários métodos como ensina Gusdorf, vai permitir reunificar o pressuposto da especialização que deve dar lugar ao pressuposto da convergência [33].Se é verdade que neste estudo em certas partes o método aplicado é o quantitativo, nem por isso se deixou de acompanhar com o método qualitativo. Aliás, no todo, a metodologia seguida é fundamentalmente qualitativa. Em relação à adopção de um ou outro método e no que respeita aos que consideram que o conhecimento quantitativo é mais correcto e objectivo que o

qualitativo, Bachelard [34] refere que aquele não escapa muitas das vezes aos perigos que este contém em si mesmo. Em conjunto com a escolha do método adequado, houve a preocupação de num estudo deste género deixarmos de lado a exposição e explicação meramente intuitiva ou mesmo descritiva, a criação de juízos de valor que acabariam por distorcer a realidade. Neste âmbito seguimos o conselho de Daniel-Louis Seiler «Para além das dificuldades inerentes a toda a prática científica, as ciências do homem vêem-se confrontadas com um obstáculo suplementar: a

armadilha do considerável bom senso ou, mais doutamente, a ilusão do saber imediato» [35]. Tentamos, pois, ser o mais objectivo possível enquadrando qualquer ponto analisado

numa base teórica de cariz científica [36], até porque como afirma Bachelard «um conhecimento

imediato é, em si mesmo, subjectivo» [37]. Evidentemente que não ignoramos a dificuldade de total isenção por parte do investigador, sabendo que há sempre por mínimo que seja uma certa

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influência das características pessoais de quem procede à investigação [38]. Num estudo desta natureza e tendo conhecido e vivido a realidade da Madeira antes e depois do 25 de Abril de 1974, frequentemente nos deparamos por um lado, com o receio de não sermos nem conseguirmos separar-nos do conhecimento e experiência madeirense, por outro lado, por força de querermos ser de tal forma objectivos e livrarmo-nos de influências, acabarmos por obter resultados insípidos. A orientação, aqui, do Professor Marques Bessa foi preciosa. Tendo elaborado este trabalho utilizando os métodos já referidos, contamos de igual forma com a ajuda das diferentes técnicas que melhor se adaptavam a cada capítulo e assunto tratado neste. Assim, para além da pesquisa bibliográfica recorremos à análise de documentos escritos, integrando-se não só os que fazem parte dos intervenientes directos no processo de decisão política, mas também os que «não sendo emitidos por intervenientes no processo de

decisão, testemunham a actividade do poder político de forma intencional ou acidental» [39]. As fontes orais e entrevistas informais foram utilizadas com particular incidência, uma vez que neste estudo muitas das declarações só se realizaram porque não havia «nada escrito». Notícias e artigos de opinião nos vários órgãos de comunicação escrita foram de igual forma outro tipo de documentação a que se recorreu. Evidentemente que nesta investigação e como não podia deixar de ser, utilizamos

conceitos operacionais [40] que contribuiram para sistemati-zar a realidade observável [41],

tendo sido estes adoptados em função das necessidades do objecto e do método [42]. Em termos de sistematização e embora tivessemos definido como objecto de estudo a classe política madeirense, nem por isso deixamos de abordar certas questões que nos pareceram pertinentes por forma a entender melhor o sistema político madeirense. Assim, em todos os capítulos e a título de enquadramento apoiamo-nos numa introdução teórica documentada que nos permite o posterior desenvolvimento do proposto. Apresentamos de igual forma, no final de cada um destes, as respectivas conclusões. Pelo exposto e para além de tentarmos saber quem são e o que fazem os deputados à Assembleia Legislativa, tentamos também analisar até que ponto o PSD pelo facto de ao longo de vinte anos ter obtido largas maiorias poder ser considerado partido dominante e hegemónico. a) Desta forma, primeiramente referimos os partidos políticos e sistemas eleitorais, tentando estabelecer uma relação entre estes e a si- tuação partidária na Madeira. b) No capítulo seguinte e na sequência do anterior, analisamos o fenómeno da liderança carismática, integrando neste Alberto João Jardim, líder do PSD/M e presidente do Governo Regional da Madeira há cerca de vinte anos consecutivos. c) De seguida referimos o Ministro da República que embora previsto na Constituição Portuguesa como órgão político, não deixa, contudo, de ser uma figura que pelas suas competências, funções e características gera controvérsia a todos os níveis na política regional. d) Posteriormente analisamos a importância do Parlamento em geral e, particularmente do Parlamento madeirense, da sua estrutura e função.

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e) Pelas características do sistema político madeirense, demos especial atenção às relações estabelecidas entre as diferentes forças partidárias com representação na Assembleia Legislativa e entre estas e o Parlamento como principal órgão político da Região Autónoma da Madeira. De igual forma referimos não só as funções da Assembleia Regional bem como o papel da maioria e minoria partidária no controlo do Governo Regional, tido o segundo órgão de governo próprio da Região. De salientar que nestes capítulos em termos metodológicos socorremo-nos fundamentalmente de fontes orais e escritas através de contactos directos estabelecidos não só junto dos serviços de documentação da Assembleia Legislativa, mas dos próprios Grupos Parlamentares que forneçeram todo o apoio necessário à estruturação e análise dos vários itens destes capítulos. f) Por fim, no último capítulo, debruçamo-nos sobre as características da elite política madeirense, mais concretamente os deputados à Assembleia Legislativa Regional. A partir daqui tentamos estabelecer a evolução no tempo dos que consideramos que fazem parte do chamado núcleo duro. Para além do enquadramento teórico científico, através de um conjunto de quadros e gráficos mostramos quem são, que idade e habilitações literárias têm e o que fazem os deputados que foram eleitos representantes do povo ao Parlamento madeirense bem como a taxa de permanência em função, o que nos oferece a continuidade da elite. Para que pudessemos transmitir estes dados foi necessário um longo, profundo e moroso trabalho de investigação. Tendo de início a ideia de analisar não só os deputados eleitos, mas também os substitutos destes quando, por qualquer motivo pediam a suspensão do mandato, o presente estudo acabou por ficar-se unicamente pelos candidatos efectivos eleitos sem ter em conta as respectivas substituições mesmo dos que foram chamados a desempenhar funções governamentais. Esta situação ficou a dever-se em grande parte ao facto de os dados não estarem informatizados por um lado e, por outro, infelizmente grande parte das fichas biográficas não conterem o motivo da suspensão do mandato, a duração do mesmo e por quem foi substituído. É evidente que podiamos recorrer aos diários do Parlamento, uma vez que o deputado substituído tem que obrigatoriamente apresentar requerimento solicitando a suspensão do seu mandato em conjunto com requerimento do respectivo partido indicando o substituto, os quais posteriormente são alvo do parecer da Comissão de Verificação de Poderes (actualmente designada por Regimento e Mandatos) que de acordo com o Regimento da Assembleia Legislativa Regional e tendo em conta "a observância das normas processuais das candidaturas e eleição e das regras materiais de elegibilidade", se pronuncia sobre o pedido de substituição e sobre a proposta do candidato substituto com publicação no diário da Assembleia Legislativa. Uma outra forma seria a de recorrer aos Grupos Parlamentares ou mesmo aos partidos políticos. Contudo, e contrariamente ao esperado, esta tarefa é fácil relativamente ao PS, UDP, CDS e PCP mas não ao PSD que não tem estes dados organizados, apesar de ser o partido que maior número de substituições tem. Podiamos ainda ter em conta as fichas biográficas dos substitutos, mas por incrível que

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pareça estas não focam o substituído. Por outro lado, e através de contacto directo estabelecido com um daqueles, o mesmo já não se lembrava quem tinha substituído. A agravar a situação surgem-nos casos em que os substitutos também pediram a suspensão do mandato, passando assim, ao papel de substituídos. Por todas as razões expostas e embora reconhecendo o quanto seria interessante integrar neste estudo a análise dos substitutos, a verdade é que tal não se nos afigurou possível não deixando, contudo, de ter em conta a possibilidade de aproveitar o tema para um outro trabalho. A metodologia adoptada na elaboração deste capítulo, tal como já tivemos oportunidade de referir, baseou-se fundamentalmente na consulta das fichas biográficas dos deputados, e quando necessário no contacto directo com os Grupos Parlamentares. Caso estes não dispusessem dos elementos solicitados fomos de encontro aos deputados em causa. Para além dos quadros e respectivos gráficos, correspondentes ao sexo, idade, profissão e habilitação literária, achou-se por bem elaborar tabelas para cada partido que focam não só os mesmos dados que os quadros e gráficos, mas também, os nomes dos deputados. Isto é, estas tabelas têm como objectivo principal mostrar por partido o caminho percorrido pelos deputados, uma vez que verificamos que um mesmo deputado fez parte de várias legislaturas. Nas tabelas referidas os deputados foram organizados por ordem alfabética consoante o número de vezes eleitos para a Assembleia Legislativa Regional e não por lugar que ocupavam na lista de candidatos a deputados. Isto é, teve-se em conta primeiro os que fizeram parte de uma só legislatura e organizou-se-os por ordem alfabética, de seguida os que fizeram parte dessa legislatura e da seguinte dispondo-os novamente por ordem alfabética, posteriormente os que integraram a primeira, segunda e terceira legislatura, tendo novamente em conta a ordem alfabética, e assim sucessivamente. De referir que antes de proceder à análise dos quadros e gráficos, as tabelas que constam como anexo devem ser vistas com atenção.

Com este trabalho não tivemos como objectivo chegar a conclusões absolutas [43] sobre a natureza do fenómeno político vivido na Madeira nem tão pouco abranger toda a sua realidade, mas como já referimos apenas uma parte dela que consideramos de particular interesse. Neste

sentido Robert Dahl [44] refere que toda e qualquer investigação no âmbito do fenómeno político apenas contribui para a compreensão de uma pequena parcela da realidade deste. Por outro lado, desde que delimitamos o objecto de estudo, sabiamos que o mesmo não era de todo fácil não só devido à inexistência de bibliografia científica sobre este, mas também pelo facto da dimensão temporal não ser tão significativa a ponto de permitir uma análise livre de sentimentos, emoções, receios, medos que conduzissem a eventuais distorções quer por parte dos que contactamos e nos transmitiram informações, quer mesmo da nossa parte. Neste campo não podemos esquecer o Professor Adriano Moreira quando afirma que há todo um conjunto de elementos que contribuem «para tornar extremamente precária a base factual da ciência política» acrescentando, no entanto, que «é esta que principalmente assume o encargo não apenas de lutar contra essas barreiras, mas ainda de, por outro lado, seriar e

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racionalizar o caudal de informações» [45]. Temos plena noção de que este trabalho é apenas um pequeno contributo no estudo da história da Madeira e da luta pela Autonomia. A verdadeira análise, interpretação e explicação de toda a sua história far-se-á daqui por alguns anos, quando o tempo permitir que se olhe para ela de frente e com base na interdisciplinaridade se proceda à criação de uma obra, por forma a se entender fundamentalmente aquilo a que a Ciência Política se propõe, ou seja, «compreender esse fenómeno constante e maquiavélico do afastamento entre o que o Poder proclama e aquilo que o

Poder faz» [46].

[15] Gaetano Mosca, The Ruling Class, op. cit., pp. 50 e segs.

[16] Idem, ibidem, p. 53.

[17] Cf. Raymond Aron, «Vilfredo Pareto», in Études Politiques, Paris, Gallimard, 1972, pp. 125-145.

[18] Cf. Joseph A. Schumpeter, «Vilfredo Pareto», in Joseph A. Schumpeter, Diez Grandes Economistas, Madrid, Alianza, 1971.

[19] Cf. Alessandro Campi, «Michels en su Cincuentenario», in Razón Española, Setembro-Outubro, 1987, nº 25, Madrid.

[20] Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, Brasília, Universidade de Brasília, 1982, p. 238.

[21] Idem, ibidem, p. 96.

[22] Cf. Moisei Ostrogorski, La démocratie et les Partis Politiques – présentation de Pierre Rosanvallon, Paris, Seuil, 1979.

[23] Cf. Mosei Ostrogorski, Democracy and the Organization of Political Parties, 2 vols., Nova Iorque, Haskell House Publishers, 1970, p. 371.

[24] Cf. Jean-Jose Quiles, Schumpeter et L’Évolution Économique, Paris, Nathan,1997.

[25] Cf. Joseph A. Schumpeter, Capitalisme, Socialisme et Démocratie, Paris, Payot, 1972.

[26] Idem, ibidem, p. 324.

[27] Cf. James Burnham, Suicide of the West: An Essay on the Meaning and Destiny of Liberalism, Londres, Regnery Gateway, 1985.

[28] Cf. James Burnham, The Managerial Revolution, What is Happening in the World, Westport, Greenwood Press, 1972.

[29] Cf. Julien Freund, Des Elites pour quoi faire?, Paris, Grece, 1976.

[30] Sobre a mensuração e os problemas desta existentes em qualquer análise empírica no campo das ciências sociais, Cf. Roger Pinto e Madeleine

Gravitz, Méthodes des Sciences Sociales, Dalloz, 1967[31]

Pitirim Sorokin, Tendances et Deboires de la Sociologie Américaine, Paris, Aubier, 1959, pp. 130 e segs. Ver ainda: Gunnar Myrdal, A Objectividade nas Ciências Sociais, Assírio e Alvim, Lisboa, 1976, pp. 11 e segs.; Jacques Chevallier, Éléments d’analyse politique, Paris, PUF, 1985, pp. 49 e segs.; Georges Burdeau, Traité de Science Politique, tomo I, Paris, Librairie Generale du Droit et Jurisprudence, 6 tomos, 1980/87, p. 26; Cf. ainda: Maurice Duverger, Ciência Política, Teoria e Métodos, Rio de Janeiro, Zahar, 1981; Wright Mills, The Sociological Imagination, Penguin Books, Harmondsworth, 1973.[32]

Cf. Raymond Boudon, Pierre de Bie, Stein Rokkan, Eric Trist, Corrientes de la Investigación en las Ciencias Sociales - aspectos interdisciplinares, vol. 1º, Madrid, Tecnos, 1981.[33]

Cf. Georges Gusdorf, Da História das Ciências à História do Pensamento, Lisboa, Pensamento 1988, p. 44.

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[34] Cf. Gaston Bachelard, La Formation et L'Esprit Scientifique - Contribution a une Psych- analyse de la Connaissance Objective, Paris,

Librairie Philosophique, J. Vrim, 1972.[35]

Daniel-Louis Seiler, Partis et Familles Politiques, Paris, PUF, 1980, p. 30.[36]

Neste aspecto identificamo-nos com Melanson quando afirma que a inexistência de enquadramento teórico consistente só conduzirá a um modelo descritivo, não sendo possível proceder a explicações. Cf. Philip Melanson, Political Science and Political Knowledge, Washington D.C., Public Affairs Press, 1975.[37]

Gaston Bachelard, La Formation et L’Esprit Scientifique – Contribution a une Psychanalyse de la Connaissance Objective, op. cit., p. 211.[38]

Cf. David Ricci que na sua obra The Tragedy of Political Science, Politics, Scholarship and Democracy, New Haven, Yale University Press, 1984, chama a atenção para o facto de que as influências pessoais conduzem por vezes a juízos de valor e ideias pré-concebidas que não ajudam nada ao estudo da realidade, antes a distorcendo.[39]

Adriano Moreira, Ideologias Políticas (Introdução à história das teorias políticas - ano lectivo de 1963/64), Lisboa, ISCSP, 1964, p.57.[40]

Adriano Moreira refere-nos conceitos nominais e operacionais, em que os primeiros «organizando grupos de características directamente observáveis [são] puramente descritivos», os segundos são fundamentais pela «utilidade para as operações de classificar, comparar e quantificar», logo conduzem à compreensão do fenómeno do ponto de vista científico. Ver Ciência Política, Coimbra, Almedina, 1989, pp. 113-115. De referir ainda as duas correntes (Sigmund Freud e Schattschneider) salientadas pelo autor em «Conceitos Operacionais», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1º, Lisboa, Verbo, 1983, p.1064.[41]

Adriano Moreira, «Conceitos Operacionais», op. cit., p. 1063.[42]

Idem, p. 1064.[43]

Cf. Anthony Galt e Larry Smith, Models and the Study of Social Change, New York, John Wiley and Sons, 1976.[44]

Cf. Robert Dahl, Modern Political Analysis, Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice-Hall, 1964.[45]

Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit.; p. 127.[46]

Idem, p. 11.

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SISTEMA POLÍTICO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA 1 - OS PARTIDOS POLÍTICOS

«Os partidos são instrumentos de formação das vontades, mas não nas mãos do público e sim daqueles que mandam no aparelho do partido».

Jurgen Habermas, Mudança Estrutural da Esfera Pública, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984, p. 238.

O principal objectivo do partido político consiste precisamente na conquista, manutenção e exercício do poder dentro de uma sociedade política [47].

São muitas as definições de partido político [48] sendo possivelmente a mais completa a de LaPalombara e Weiner [49] que consideram que os partidos políticos distinguem-se de outros grupos (grupos de pressão, interesse; facções; ligas) pela existência de quatro requisitos fundamentais, nomeadamente: «- organização completa que permite relações a nível nacional e local; - regular manutenção de laços entre a cúpula e as unidades, diferenciando-se desta maneira do simples grupo parlamentar;- vontade expressa por parte dos dirigentes nacionais e locais na conquista do poder e posterior manutenção, não se limitando apenas a exercer influência sobre o poder, - conquista de apoio popular militante ou eleitoral tão acentuado quanto possível».

Até 1951 ano em que Maurice Duverger apresenta a sua obra [50] sobre os partidos políticos, poucos foram os autores que se dedicaram ao estudo destes. Podemos apenas citar os nomes de Moisei Ostrogorski e mais tarde Robert Michels, cujas obras alcançaram grande sucesso mantendo-se, apesar do tempo já passado, actuais. Duverger no seu estudo fala-nos de partidos criados a partir do interior, isto é, daqueles que nasceram da relação mantida com o ambiente parlamentar e partidos de criação exterior cuja origem reside nas relações estabelecidas fora do meio parlamentar (sindicatos; agrupamentos profissionais, industriais e financeiros; associações de antigos combatentes, etc.). Com base neste modelo vários autores (Kenneth Janda, Joseph LaPalombara e Myron Weiner) vão dedicar-se ao estudo de partidos políticos em diversos países concluindo que grande parte dos casos estudados não obedece às categorias definidas por Duverger. Desta forma «o modelo institucionalista de Maurice Duverger

parece aplicar-se especialmente ao caso particular dos países europeus ou norte-americanos que fizeram a sua unidade nacional» [51]. No que respeita à classificação de partidos, Duverger apresenta duas categorias: partidos de quadros e partidos de massas. Alvo de críticas acentuadas esta tipologia foi acusada de ser uma análise que «privilegiava a reflexão estrutural» em detrimento da análise funcional como foi o caso de Sigmund Neuman que «fundou uma tipologia sobre a análise das funções». De igual forma Georges Lavau «contestou globalmente o interesse de uma abordagem tipológica» chamando a atenção para

o facto de que o fenómeno dos partidos políticos «devem ser estudados no quadro das suas determinações, históricas, culturais, económicas» [52]. Ao longo do tempo o partido político sofreu evolução adaptando-se às exigências colocadas pela sociedade em constante mutação que ampliava o corpo eleitoral. Do ponto de vista histórico aquele surge na Europa e Estados Unidos em pleno século XIX. Período fértil em contestações, assiste-se por um lado à afirmação de poder por parte da classe burguesa e, por outro, à difusão ou constituição de instituições parlamentares. Na Inglaterra a reforma eleitoral de 1832 que ampliou o sufrágio aos industriais e comerciantes permitindo que estes tivessem um papel mais activo nos negócios públicos, é tida um marco no aparecimento dos partidos políticos. As estruturas organizativas tornam-se uma constante funcionando localmente e apenas durante os períodos eleitorais. Compostos por reduzido número de pessoas, estes partidos eram liderados por notáveis locais, aristocratas ou burgueses da alta sociedade que tinham como objectivo escolher os candidatos e financiar a actividade eleitoral seu fim não é de forma alguma alcançar grande número de filiados, sobrepondo-se a qualidade à

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quantidade porque os eleitores eram poucos [53].O financiamento do partido não se faz por meio de quotas, ficando este a cargo da elite. Com base na actividade parlamentar os deputados vão lançar os comités de apoio que posteriormente transformam-se em comités eleitorais tendo em vista a sua recondução. A disciplina de voto não existe. A organização é fraca e descentralizada, apresentando este tipo de partido uma estrutura flexível e não rígida. Esta descrição coloca-nos perante o «partido de quadros» de Duverger que se opõe pelas suas características ao «partido de massas» também citado pelo mesmo autor.

De salientar que, se de início, o autor não fez distinção no interior dos partidos de quadros, mais tarde [54] adopta posição diferente categorizando já partidos de quadros flexíveis e rígidos. Esta distinção é feita com base na maior ou menor predominância de centralização orgânica e disciplina de voto no parlamento. Assim, contrariamente aos primeiros, os segundos apresentam como característica a disciplina de voto e uma maior centralização. Apesar de tudo, a maioria dos partidos de quadros são flexíveis, fornecendo a Grã-Bretanha o exemplo mais nítido de partidos de quadros rígidos (quer conservadores quer liberais). No que diz respeito aos partidos de massas estes diferenciam-se dos partidos atrás citados pelo facto de apresentarem uma rígida estrutura, em que do ponto de

vista interno a organização apresenta-se hierarquizada com uma classe dirigente poderosa, fechada e oligárquica [55]. De igual forma a existência de uma direcção institucionalizada, complexa hierarquia e disciplina rígida vai levar a que os deputados eleitos pelo partido deixem

de exercer livremente a actividade parlamentar pelo que, o mandato imperativo, a disciplina de voto passa a ser uma constante [56].As diferenças entre os partidos citados surgem na sequência das mutações a que as sociedades foram sujeitas. Nos finais do século XIX devido ao processo de industrialização as profundas transformações económicas e sociais sucedem-se umas às outras, conduzindo a contestações, reivindicações e movimentos espontâneos por parte do operariado. As reformas eleitorais seguem-se umas às outras e junto com estas a extensão do direito de voto torna-se uma realidade.

São muitos os sectores da sociedade civil que reclamam uma maior participação na vida política do país [57]. Esta torna-se um ponto de luta por parte das diversa classes sociais, sobretudo do operariado. O partido é tido o elo de ligação entre os ideais de uma classe lutando para atingir o poder de modo a modificar a

estrutura política e social predominante. Os partidos transformam-se assim, em «modos de expressão das diferentes classes sociais» [58]. A partir de então a função do partido ultrapassa a actuação apenas por altura das eleições, mantendo uma acção política contínua onde procura abranger todo o vasto campo social dos trabalhadores. O movimento socialista intensifica-se e adquire força. A necessida-de de educar os trabalhadores requer elementos a tempo inteiro. Por outro lado, o financiamento por quotas passa a ser utilizado.

A partir do momento em que a «máquina», conceito de Ostrogorski [59], está montada o conflito conservadores/liberais que até então predominava é substituído pelo conflito capitalistas/socialistas. Isto é, a oposição patente dos partidos de quadros entre si é relegada para segundo plano e passa a ser entre partidos de quadros - identificados com a direita - e partidos de massas - identificados com a esquerda -. Vimos assim que os partidos de massas exigem uma estrutura organizativa totalmente diferente da dos partidos de quadros. E, para Duverger, é precisamente

aqui, na estrutura, que reside a diferença entre partidos de quadros e partidos de massas [60].

O aparecimento e desenvolvimento dos partidos «associado à democracia, isto é, à extensão do sufrágio popular e das prerrogativas parlamentares» [61] não é apenas aceite por Duverger mas, por muitos outros autores. Epstein na sua obra Political Parties in Western Democracies afirma que «existem todas as razões para crer que os modernos partidos políticos emergiram com a

extensão do voto a uma faixa mais alargada da população» [62]. Esta mesma ideia encontra-se em Marcelo Rebelo de Sousa [63] que diz «o alargamento do sufrágio a camadas crescentes do povo, por força da adaptação do Estado Liberal a novas condições sócio económicas, constituiria um facto determinante da transformação dos comités eleitorais em partidos políticos».

De igual forma Anna Oppo [64] considera que a génese dos partidos políticos está ligada à questão da maior participação por parte das diversas classes sociais da sociedade na tomada das decisões políticas. Outro aspecto da análise consiste em enquadrar o partido de quadros na época do sufrágio restrito, enquanto o de massas no do sufrágio universal.

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Schwartzenberg [65] é de opinião que «o nascimento e o auge dos partidos de quadros situam-se nas origens da democracia, na época do abandono do sufrágio restrito ou da instituição do sufrágio universal (...) Historicamente, por consequência, os partidos modernos nascem de promoção do parlamento e da extensão do direito de voto». Em oposição ao modelo de Duverger, acusado de não ter em conta a realidade dos países subdesenvolvidos e desenvolvidos surgiram outros conceitos que vão completar a tipologia apresentada por aquele. Assim, Otto Kirchheimer fala-nos do partido «atracção», Giovanni Sartori apresenta uma tipologia ternária (em vez da binária proposta por Duverger), em que distingue o partido parlamentar-eleitoral, o partido de organização de massas - situam-se perto do partido de quadros e do partido de massas - e, por último, o partido de massas eleitoral. Finalmente, Jean Charlot propõe a tipologia baseada em partido de notáveis, partido de militantes e

partido de eleitores [66]. De referir que estas tipologias propostas pelos vários autores surgiram face às alterações que as sociedades sofreram. Temos assim, que a classe operária com o passar do tempo viu as suas condições sócio-económicas melhorarem de forma substancial. A mudança qualitativa operada levou a que as disparidades entre as

classes se atenuassem, pelo que se assiste a uma certa passividade, segundo Giovanni Sartori, nas «lutas pelos ideais da classe operária» [67]. Para que o partido consiga alcançar o poder é necessário obter o máximo de votos o que leva a que o objectivo seja o de adquirir maior número de eleitores possível. Assim, o discurso já não pode ser feito apenas para uma classe mas, dirigido a um público difuso que engloba elementos de várias classes sociais que no todo

daquele encontram algo com que se identificam, como refere Habermas [68]. Desta forma, de acordo com Max Weber, o eleitor torna-se apenas importante para o partido no momento das eleições, mantendo-se posteriormente afastado de

toda a actividade política, dando lugar aos «homens políticos profissionais» [69], o que a linha neomaqueavelista não cessa de afirmar, tal como já tivemos oportunidade

de verificar com Schumpeter [70]. O facto de terem sido propostas novas tipologias de partidos não quer dizer que os partidos de quadros ou de massas pura e simplesmente tivessem desaparecido. É necessário ter em conta que num mesmo sistema deparamo-nos com a existência de diversos partidos, não sendo por isso possível tentar estabelecer ao longo da

história uma «teoria determinista da evolução» destes tal como segundo Aaron Wildavsky [71] Maurice Duverger tentou fazer quando elaborou o seu modelo em que previa a queda dos partidos de quadros visto considerar o de massas como sendo o único partido que podia adaptar-se ao mundo moderno. Relativamente à premissa de Duverger, a história tem demonstrado que a mesma não se confirma. Por outro lado, há que ter em conta o todo complexo do qual os partidos fazem parte pelo que, não é possível falar-se de tipologias «estanques». De referir que todos os partidos independentemente das características que lhes são específicas procuram ao mesmo tempo dispor de notáveis, militantes e eleitores. 2 – OS SISTEMAS PARTIDÁRIOS A classificação dos diversos sistemas de partidos que distingue partido único, bipartidarismo e multipartidarismo, foi adoptada por Arthur N. Holcombe, Maurice Duverger e Epstein. Para além da tipologia tradicional que assenta numa tríade, vários autores apresentam uma outra classificação de modo a adequá-la melhor à

realidade dos sistemas partidários [72]. O critério numérico apesar de contestado é utilizado por diversos autores que vêem neste um indicador de numerosos factores num sistema político. Este é por exemplo o caso de Giovanni Sartori que considera que o número de partidos vai indicar o grau de «fragmentação ou concentração do poder político», a estratégia a

adoptar pelos partidos em competição e ainda as «correntes de uma interacção» que ocorre a nível eleitoral, parlamentar e governamental [73]. Embora considerando o número de partidos importante, o autor chama, no entanto, a atenção para o facto de que o critério numérico de classificação não permite apreender o que realmente importa pelo que se «torna necessário fixar «normas para contar». Assim, Sartori destaca a importância dos partidos em função de integrarem ou não governos formando, desta maneira, maiorias de governantes. Isto é, há que

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verificar o «potencial de governo» referindo o próprio autor: «o que realmente pesa na balança do multipartidarismo é a proporção em que um partido pode ser necessário para uma coligação, para uma ou mais das possíveis maiorias governamentais. Um partido pode ser pequeno, mas ter um forte potencial de negociação.

Inversamente, ele pode ser forte e não dispor dessa capacidade» [74]. Aliado ao «potencial de governo» Sartori destaca um outro elemento fundamental que consiste «no poder de intimidação ou mais exactamente, no potencial de

chantagem» [75]. Por potencial de chantagem o autor entende que são todos os partidos que apesar de não disporem de «potencial de governo» (não contam para a formação de maiorias) não podem, contudo, ser ignorados pois dispõem de «poder de veto» no parlamento adquirindo, por tal, importância. Como exemplo refere os partidos comunistas de Itália e França nos últimos vinte e cinco anos, tornando-se mais abrangente quando fala dos partidos contrários e em permanente oposição ao sistema (a noção de potencial de chantagem liga-se com a de partido anti-sistema). Para além destes «critérios» Giovanni Sartori expõe ainda outros como as classes (contagem inteligente) e a ideologia. Assim, e resumida-mente podemos dizer que o mesmo tendo em conta diferentes critérios apresenta-nos a seguinte taxinomia: partido único, partido hegemónico, partido predominante, bipartidarismo, pluralismo limitado, pluralismo extremo e atomização (por este compreende-se a situação em que nenhum partido tem influência suficientemente perceptível em nenhum outro partido. Isto é, a partir de um limite o número de partidos existentes não faz muita diferença). No que diz respeito ao pluralismo limitado (sistema de 3/5 partidos) e extremo (sistema de 6/8 partidos) deparamo-nos com a fragmentação do sistema partidário (fala-se nesta a partir de 5 partidos) que pode indicar uma situação de segmentação ou, pelo contrário, uma situação de polarização (distância ideológica). Assim, e com base no critério da «distância ideológica» o pluralismo limitado corresponde a um pluralismo moderado (conduz-nos a uma competição centrípeta e a uma distância ideológica média). Por seu lado, o pluralismo extremo vai corresponder ao pluralismo polarizado (competição centrífuga, muita fragmentação e acentuada distância ideológica entre os partidos). Sartori ao falar da dispersão do poder para além do multipartidarismo distingue ainda: - unipartidarismo em que a estrutura de poder assenta no monopólio; - existência de um partido que conta mais do que os restantes e que conduz, por um lado, ao sistema de partido hegemónico (embora se caracterizando pelo monopólio este não é tão rígido como o atrás citado) ou, por outro, ao sistema de partido predominante (o partido governa sem alteração no poder sendo a conquista da maioria absoluta uma constante); - bipartidarismo caracterizado por uma alternância no poder. A maioria absoluta à partida não está apenas ao alcance de um partido, mas sim de ambos. A estrutura do poder baseia-se numa concentração equilibrada. Sobre a teoria de Giovanni Sartori podemos acrescentar que esta, embora apresentando aspectos não tão claros quanto seria de desejar (o autor parece-nos não ter em conta a importância que a força de outros fenómenos podem ter no processo de decisão política como, por exemplo, grupos de pressão, movimentos sociais, outros orgãos de soberania que não o governo propriamente dito, que de uma forma ou outra desempenham papel específico), a verdade é que a mesma permitiu ultrapassar o critério exclusivamente numérico das «leis de Duverger», tendo de igual forma chamado a atenção para outros factores que sobre o tema permitem discussão mais profunda. Em substituição da tipologia ternária LaPalombara e Weiner apresentam uma classificação binária que assenta na existência ou não da competição partidária. Isto é, a oposição dá-se entre sistemas competitivos e sistemas não competitivos, podendo-se falar nos primeiros da existência de situações de hegemonia e situações de

alternância [76]. Schwartzenberg por seu lado, considera nos sistemas competitivos o elemento fundamental como sendo o «critério concorrência» bem como a «escala de regressão da concorrência». A partir destes critérios é possível distinguir os sistemas multipartidários, os sistemas bipartidários e os sistemas de partido dominante

(note-se que a escala de concorrência vai decrescendo do primeiro até ao último sistema partidário) [77]. Pormenorizando a sua teoria, o autor tendo em conta o «encerramento do mercado político no sentido crescente» constata a existência de duas sub-categorias englobadas em cada um dos sistemas citados. Assim, nos sistemas competitivos e não esquecendo a escala de regressão da concorrência, surgem: - sistemas multipartidários que se dividem em multipartidarismo integral e temperado; - sistemas bipartidários que se dividem em bipartidarismo imperfeito e perfeito;

- sistemas de partido dominante que se dividem em partido dominante e partido ultradominante [78].

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3 - OS SISTEMAS ELEITORAIS

As leis sociológicas de Duverger vão estar na base da relação estabelecida entre sistemas eleitorais e sistemas partidários [79]. Assim, para este o escrutínio maioritário em duas voltas bem como a representação proporcional tendem ao multipartidarismo. O contrário se passa com o escrutínio maioritário a uma volta que

tende ao dualismo de partidos, isto é, ao bipartidarismo [80]. Os efeitos dos sistemas eleitorais sobre os partidários, em particular a diferença das consequências do escrutínio maioritário em duas voltas e a representação proporcional são focados em outras obras: «Os efeitos do escrutínio maioritário a duas voltas são intermediá-rios. Ele é menos favorável aos grandes partidos e favorece a polarização entre eles. Mas o seu efeito é mais limitado nestes dois casos do que o escrutínio maioritário a uma volta. Decididamente, esta diferença é mais nítida com a representação proporcional e a sua originalidade essencial refere-se às alianças eleitorais: escrutínio de coligação por excelência, o regime a duas voltas pode ainda permitir a formação de um dualismo

de alianças, introduzindo uma espécie de bipartidarismo através do multipartidarismo» [81]. As críticas às leis Duverger não se fizeram esperar, baseando-se algumas no facto de que não é possível estabelecer qualquer relação automática entre os sistemas eleitorais e partidários, isto porque o tipo de escrutínio não pode ser visto de forma isolada. Este é apenas um elemento a ter em conta não sendo possível esquecer os

diversos factores que influenciam a vida política do país [82]. O sistema eleitoral não é apenas a fórmula de consenso de votos em mandatos como defendido por

Vicente Barreto [83] que refere que «Os sistemas eleitorais consistem no conjunto de normas legais que estabelece a relação entre os votos da população e o número de representantes». Esta definição só teria razão de ser se estas «normas legais» tivessem em conta todos os factores que influenciam a fórmula matemática de conversão de votos em mandatos, entre eles a repartição em círculos eleitorais.

Douglas W. Rae [84], por seu lado, fundamenta a crítica na metodologia utilizada por Duverger considerando que não é possível estabelecer-se leis perante o reduzido número de casos estudados pelo autor. A principal contribuição de Rae consistiu em ter chamado a atenção para a dimensão dos círculos eleitorais que pode condicionar a proporcionalidade. Isto é, a lei Duverger no que respeita à relação entre «sistemas eleitorais proporcionais» e «sistemas multipartidários» é posta em causa uma vez que fórmulas diferentes podem conduzir a índices de proporcionalidade semelhantes, ou seja, uma fórmula maioritária e uma fórmula proporcional pode levar a índices próximos de proporcionali-dade, na medida em que quanto maior for a circunscrição, isto é, quanto maior for o número de deputados a eleger, tanto mais proporcional será o resultado ao contrário

do que se passa nas circunscrições mais pequenas, em que o índice de proporcionalidade é reduzido quase conduzindo a uma fórmula maioritária [85]. Por outro lado, Richard Rose ao proceder à comparação de índices de proporcionalidade de vários sistemas eleitorais concluiu que existem sistemas ditos de

representação proporcional que acabam por ser menos proporcionais que os sistemas de representação maioritária [86]. Considerando o sistema eleitoral como um todo há que ter em conta que a proporcionalidade é resultado de inúmeros factores que compõem esse todo e não

apenas uma fórmula matemática que pode ser aplicada sem que o sistema seja proporcional [87]. Isto é, no sistema eleitoral deve ter-se também em conta, como refere

Jean-Claude Masclet, o chamado «direito eleitoral» (droit électoral) [88]. Segundo Carreras e Vallés a definição de sistema eleitoral deve ser ampla, ou seja, um «conjunto de normas, instituições e práticas que configuram os processos

eleitorais de uma dada sociedade» [89]. Face ao exposto e, como tal, não tendo apenas em conta a simples relação número de votos/número de mandatos, podemos estar perante uma classificação cuja importância será significativa nos sistemas proporcionais ou maioritários. Evidentemente que se esta classificação for feita tendo em conta o resultado final (isto é, o conjunto de vários elementos) podemos deparar-nos com duas hipóteses: ou se verifica a proporção entre os votos e os lugares obtidos ou, então, avança-se para que o grau de desproporcionalidade aumente até que se atinja um resultado semelhante ao de uma fórmula matemática maioritária. Assim, é possível acontecer que uma fórmula matemática proporcional conduza a um sistema maioritário.

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Apesar do exposto, é conveniente salientar que todos os sistemas eleitorais segundo Arend Lijphart [90], acabam por revelar uma proporcionalidade mais baixa do que aquela que matematicamente é possível. Por tudo aquilo que aqui temos vindo a referir parece não haver dúvidas de que a «causa principal» da desproporcionalidade no princípio proporcional reside na delimitação das circunscrições eleitorais. Ideia esta corroborada por Dieter Nohlen ao afirmar que «até agora

temos prestado pouca atenção à circunscrição eleitoral como elemento configurador dos sistemas eleitorais» [91]. No entanto, esta situação tem vindo a alterar-se chegando mesmo a colocar-se em causa até que ponto a multiplicidade de pequenos círculos eleitorais permite que a representação proporcional expresse as potencialidades representativas destes. Apesar de todas as críticas feitas à teoria de Duverger, a verdade é que esta levou à abertura de um debate em torno do facto do sistema eleitoral determinar o sistema partidário, que se revelou de grande utilidade na Ciência Política.

4 – AS CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SISTEMA POLÍTICO DA MADEIRA

A partir de 1976 o Arquipélago da Madeira adquiriu autonomia política plena passando assim, a dispor de Estatuto de Região Autónoma dotado de orgãos de governo próprio. Tendo-se já realizado por seis vezes eleições para a Assembleia Legislativa Regional, tentaremos demonstrar até que ponto o PSD/M pode ser considerado partido dominante, baseando-nos nas teses defendidas por Giovanni Sartori e Schwartzenberg. Consideremos desde já o quadro 1.

QUADRO 1

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONALDEPUTADOS ELEITOS PELOS PARTIDOS

FORÇA

1976-19801ª

1980-19842ª

1984-19883ª

1988-19924ª

1992-19965ª

1996-20006ª

TOTAL

POLÍTICA Nº DEPUTADOS

Nº DEPUTADOS

Nº DEPUTADOS

Nº DEPUTADOS

Nº DEPUTADOS

Nº DEPUTADOS

PPD/PSD 29 35 40 41 39 41 225 PS 8 5 6 7 12 13 51

UDP 2 2 2 3 2 1 12 CDS 2 1 1 2 2 2 10 PCP* - 1 1 - 1 2 5

PCTP/MRPP - - - - - - - UDA/PDA - - - - - - -

PSN - - - - 1 - 1 TOTAL 41 44 50 53 57 59 304

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* Nas eleições realizadas em1976 o PCP concorreu como FEPU.

Em 1980, 1984 concorreu como APU e 1988, 1992, 1996 como CDU. Fonte: Comissão Nacional de Eleições Por aqui se vê que dos oito partidos concorrentes à Assembleia Legislativa Regional, o PSN surge apenas na V [E1]Legislatura tendo os restantes concorrido desde o início da 1ª. Destes, os únicos que não conseguiram eleger deputados são o PCTP/MRPP e o partido da UDA/PDA (Partido Democrata do Atlântico). Relativamente ao PCP este concorreu em 1976 como FEPU (Frente Eleitoral Povo Unido) coligado com o MDP/CDE (Movimen-to Democrático Português) e com a FSP (Frente Socialista Popular). Nas eleições realizadas em 1980 e 1984 concorre como APU (Aliança Povo Unido) em coligação com o MDP/CDE e com o apoio do PEV (Partido Ecologista Verde). Em 1988; 1992 e 1996 apresenta-se como CDU (Coli-gação Democrática Unitária) coligado com o PEV. O peso partidário no Parlamento regional é-nos dado pelos gráficos 1 e 2, onde se verifica que a força política que maior número e percentagem de deputados conseguiu em relação ao total das seis Legislaturas foi o PSD com 225 (74%), destacando-se de forma acentuada dos restantes partidos políticos que apenas conseguiram 51 (17%) PS; 12 (4%) UDP; 10 (3%) CDS e 5 deputados (2%) PCP. O PSN apenas consegue eleger 1 deputado na legislativa de 1992, não o conseguindo na actual e, desta forma, fica sem representação política.

GRÁFICO 1

EVOLUÇÃO DEPUTADOS POR PARTIDO E LEGISLATURA

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GRÁFICO 2

PERCENTAGEM TOTAL DEPUTADOS ELEITOS PELOS

PARTIDOS NAS LEGISLATIVAS

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Esta diferença não se dá somente no cômputo geral mas também como é evidente, por Legislatura como podemos verificar pelos gráficos 3 e 4. Assim, a percentagem mais elevada para o PSD é atingida na II e III Legislaturas com 80% (35/40 deputados), correspondendo às Legislaturas em que o PSD tem os aumentos mais significativos.

GRÁFICO 3

PERCENTAGEM TOTAL DEPUTADOS POR PARTIDO E LEGISLATURA

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A proporção mais baixa é alcançada na V Legislatura com 67% do total deputados (39), tendo nesta se dado a redução mais expressiva deste partido o que nem por isso colocou em causa a sua supremacia relativamente às restantes forças, na medida em que que continuou a manter larga maioria absoluta, como se verifica pelo quadro

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1 e gráfico 4, mantendo-se nas restantes com percentagens que variam entre 70/77%. Na Legislatura actual mantém 70% (gráfico 4), denotando um acréscimo de 3% relativamente à Legislatura anterior (5ª). No que diz respeito às outras forças políticas e, particularmente, ao PS a sua maior percentagem situa-se na VI Legislatura onde obtém 22% sobre o total deputados, com 13 em 59 eleitos (quadro 1 e gráfico 4). O acréscimo mais revelador que o PS adquiriu ao longo de vinte anos de

GRÁFICO 4 PERCENTAGEM TOTAL DEPUTADOS POR PARTIDO E LEGISLATURA

autonomia verificou-se na V Legislatura onde adquire 21% do todo com 12 deputados em 57. Nesta Legislatura o PS vê o seu Grupo Parlamentar aumentar de 7 para 12 deputados. Note-se que o PSD perde 2 elementos, tendo de igual forma surgido dois partidos políticos com representação na Assembleia Legislativa, nomeadamente o PCP e PSN ambos com 1 deputado.Ainda em relação ao PS, a sua percentagem mais baixa dá-se na II Legislatura com 11%, 5 deputados de um conjunto de 44 (gráfico 3). De salientar que foi apenas nesta Legislatura que o PS perdeu deputados, ficando em relação à 1ª com menos 3 (8/5) apesar do acréscimo total de deputados: 41/44. Nas restantes legislativas esta força política aumenta sempre o seu número de deputados muito embora este não seja significativo uma vez que a soma de deputados é também ampliada, com excepção da

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V Legislatura que tal como já foi referido o PS obtém o melhor resultado em valores absolutos (quadro 1). Os restantes partidos políticos, nomeadamente UDP e CDS não têm demonstrado alterações profundas, mantendo quer em termos absolutos, quer percentuais sensivelmente os mesmos valores. O PCP, por seu lado, apenas na II; III; V e VI [E2]Legislaturas consegue dispor de representação política com 1 deputado, tendo pela primeira vez atingido 2 na actual Legislatura (quadro 1, gráficos 3 e 4) o que representa a maior percenta-gem de sempre, ou seja, 3%. 5 – O PARTIDO DOMINANTE

Embora possa não existir um critério operacional para que um partido seja classificado de dominante existe, contudo, uma ideia clara e concisa sobre a sua existência. Assim, Giovanni Sartori diz que «sempre que encontramos, numa formação política, um partido que supera de longe todos os outros, esse partido é dominante,

por ser significativamente mais forte do que os outros» [92]. Contudo, esta definição por si só parece não ser suficiente uma vez que o partido dominante, analisado sem ter em conta outros factores, tende a ser confundido com o sistema partidário, o que acaba por não ser correcto na medida em que através de estudos realizados se verifica que em certos países existem partidos dominantes

e, nem por isso, têm sistemas de partidos dominantes [93]. Numa segunda fase, digamos assim, e tendo em conta não só a noção de partido dominante que se alia a outros critérios, Sartori vai mencionar o «tipo de sistema

partidário» que designa predominante, onde substitui a palavra dominante por predominante, expressão que vai usar em contraposição a hegemonia [94]. No sistema de partido dominante o importante não é o critério assente no número de partidos, mas sim, a forma de distribuição de poder entre os partidos. Isto quer dizer que aquele pode ter a sua origem num bipartidarismo quando de facto não se verifica alternativa no poder durante um longo tempo ou no multipartidarismo [95] não se confundindo assim, com o partido único, porque há eleições competitivas. Desta forma, «um sistema de partido predominante existe enquanto o principal partido é apoiado de maneira constante por uma maioria vencedora (a

maioria absoluta de cadeiras) dos eleitores» [96]. Para podermos falar de um sistema de partido predominante é necessário de acordo com o autor citado, verificarem-se certas condições como: - existência de um eleitorado estabilizado; - três maiorias absolutas consecutivas; - o limite da maioria absoluta tem que ser claramente superado (o intervalo entre o primeiro e o segundo partido terá que ser amplo). Perante o exposto, não nos parece difícil enquadrar a situação política na Região Autónoma da Madeira, no sistema de partido predominante na terminologia de Sartori, cuja origem assenta no multipartidarismo. Os critérios apontados pelo autor, por forma a que possamos estabelecer esta classificação, estão todos eles presentes na vida política regional. Assim, o PSD como partido predominante não só conseguiu três maiorias absolutas consecutivas como tem ao longo das seis legislativas alcançado ampla maioria, mantendo distância acentuada em relação ao segundo partido, registando-se o menor afastamento na V Legislatura que decorreu de 1992 a 1996, em que o PSD ficou a 46 pontos percentuais do PS que obteve 21%. Nas restantes Legislaturas a diferença percentual entre o partido mais votado e o segundo partido é ainda mais marcante, não restando desta forma qualquer dúvida em relação aos limites atingidos pela força política mais votada em relação às restantes forças políticas.

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No que diz respeito ao «potencial de governo», nunca nos deparamos com tal posição face aos resultados obtidos pela maioria. Isto é, a necessidade de coligação não se verificou em nenhuma eleição legislativa regional, tendo o PSD desde sempre concorrido sozinho e adquirido, permanentemente, bons resultados. O «potencial de ligação» relativamente aos partidos que estão na oposição, isto é, PS, CDS e UDP, forças que sempre conseguiram representação política na Assembleia Legislativa não se tem constatado, devido em parte à distância ideológica existente entre eles, o que não admite o grau suficiente de combinação, o suficiente entendimento por forma a criar um bloco partidário que faça frente às maiorias obtidas ininterruptamente pelo PSD. Aliás o desentendimento entre os partidos da oposição é de tal forma evidente que a criação de uma só força anterior ou posterior às eleições está completamente afastada, como nos tem sido demonstrado ao longo de vinte anos de autonomia com seis legislativas. Julgamos mesmo que, para o largo predomínio do PSD (aliado a outros factores, claro está) tem contribuido o facto de cada partido político fazer um caminho pessoal, não considerando a existência de um só inimigo (o PSD), mas vários, o que permite um aproveitamento por parte da força partidária maioritária que é beneficiada com todas estas lutas interpartidárias. A par do «potencial de coligação» podemos ainda referir um outro aspecto para o qual Sartori chama a atenção e que consiste no «potencial de chantagem». Neste âmbito e se tivermos em conta os dados estatísticos já referidos, onde se verifica a larga primazia do PSD, podemos dizer que não possuindo nenhum partido da oposição possibilidade de participação na formação de maioria governamental poderiam, eventualmente, possuir «potencial de intimidação». Contudo, os resultados obtidos pelas diversas forças opositoras em comparação com os adquiridos pelo PSD são tão desiguais que não lhes permite dispor de «poder de veto». Antes pelo contrário, na vida política regional vive-se quase em ignorância dos partidos políticos na oposição. Assim, por todo o exposto e adoptando a teoria de Giovanni Sartori, julgamos não haver dificuldade em decifrar que estamos perante uma situação política em que há um partido que conta muito mais do que os outros, o que conduz ao sistema de partido predominante. Isto é, estamos na presença de um partido que governa sem alternação no poder e em que a conquista da maioria absoluta é uma constante. Não nos parece de todo correcto falar-se de uma situação de partido hegemónico na Região, visto que Sartori ao aludir a este integra-o nos sistemas partidários não competitivos onde, apesar de existirem vários partidos políticos, os mesmos acabam por serem tidos como «satélites» subordinados ao partido hegemónico. Por outro lado, a estrutura de poder hierárquica assenta num monopólio menos rígido do que o monopólio total, contrariamente ao partido predominante cuja estrutura de

poder assenta numa concentração unimodal (isto é, sem alternação no poder), mas com a devida abertura à competição pelo voto popular [97]. Embora o PSD se mantenha no poder há vinte anos consecutivos, não é possível, por outro lado, ignorar a existência de vários partidos cuja actuação é exercida num quadro legal e legítimo. A competição interpartidária bem como toda uma oposição ao partido predominante é realidade vivida na Madeira. Mesmo em relação ao PCP, partido que nem sempre consegue representação política na Assembleia Legislativa Regional, este não deixa de desenvolver toda uma acção contra o Governo Regional e oposição, pretendendo desta forma chamar a atenção para a sua existência e adquirir votos que lhe permita assento no Parlamento. Pode-se ainda acrescentar que o facto de mais um ou dois deputados de outras forças, se não é significativo relativamente ao partido que está no poder, nem por isso deixa de ser oposição que representa uma parcela da população e dispõe de voz activa no Parlamento madeirense. 6 – O PARTIDO DOMINANTE E HEGEMÓNICO Em Schwartzenberg também se encontra o partido dominante quando este com base numa «escala de regressão da concorrência» nos apresenta os sistemas partidários. Adoptando o critério da dimensão absoluta e relativa considera que o partido dominante se define em função da sua dimensão. Para tal fixa um limite entre 30/35% dos sufrágios expressos a ser obtido pelo partido para que possa ser designado dominante. Ora os limites fixados pelo autor encontram-se no PSD, como nos mostra o quadro 1 com os elementos estatísticos, verificando-se ainda que este partido ultrapassou com clareza, em todos os sufrágios, os valores percentuais de 30/35%, o que leva a que esta força partidária possa ser designada por dominante. Devido à fragmentação dos partidos da oposição e à inviabilidade de entendimento entre eles, o PSD, como partido dominante, acaba por adquirir e manter

posição hegemónica. Esta hegemonia não se deve a um monopólio baseado «na proibição de outras formações» [98], o que é impos-sível legalmente, tal como acontece com o partido único, acrescendo ainda que a V Legislatura, que decorreu de 1992 a 1996, a Assembleia Legislativa contou com a representação de um novo partido

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político, o PSN. Independentemente do surgimento de novas forças políticas, não nos parece que na Madeira o PSD perca a natureza de partido dominante. Para que isto se viesse a verificar o PS como segundo maior partido tinha que adquirir credibilidade como força alternativa ao partido do poder, o que se nos afigura difícil na medida em que o grande adversário do partido dominante e hegemónico encontra-se na abstenção que tem vindo a crescer e, como se sabe, o fenómeno da abstenção não pode apenas ser analisado do ponto de vista do partido que está no Governo, mas também da oposição, já que acaba por ser indicador de que esta não é suficientemente credível que leve o eleitor a alterar o seu sentido de voto. Após ter referido o partido dominante, Schwartzenberg vai fazer uma «subdivisão» em que pretende «distinguir partidos dominantes e partidos

«ultradominantes» [99]. A diferença, segundo este, baseia-se funda-mentalmente «na dimensão, na superfície eleitoral e parlamentar dos partidos» [100]. Isto é, para o autor a distinção está em que o partido dominante raramente obtém a maioria parlamentar sozinho, mesmo quando atinge ou ultrapassa o limite dos 30/35% dos votos. O partido ultradominante, por seu lado, conquista de modo geral a maioria absoluta sem ser necessário juntar-se a outro partido. Nesta âmbito, face à preponderância constante do PSD sobre os restantes partidos que com ele competem, e não se tendo vislumbrado uma qualquer tentativa de coligação com outro partido por parte da força maioritária em vez de falarmos de situação política de partido dominante na Região Autónoma da Madeira, vamos enquadrar o fenómeno partidário do PSD em partido ultradominante. Isto é, não se coloca em causa o sistema competitivo, a existência de vários partidos políticos que disputam as eleições de forma livre na Madeira. Estamos é na presença de várias formações partidárias em que uma destas se destaca e consegue só por ela de forma permanente a maioria absoluta. Por parte dos partidos da oposição não há crença de que o PSD venha alguma vez a deixar o poder e no exercício deste aquele acaba por agir e dispor com grande liberdade do poder político. A par de uma estabilidade governamental proporcionada pelo facto de não estarmos na presença de coligações das quais depende o governo, tal como assistimos no continente em que durante longo período passaram governos efémeros, podemos, no entanto, chamar a atenção para algumas consequências da concentração de poder durante vinte anos na mesma sede. Pode-se, eventualmente, falar de certo imobilismo na medida em que não se verifica concorrência e fiscalização às actividades desenvolvidas pelo Governo Regional. Com isto não queremos dizer que não existe desenvolvimento a vários níveis. Julgamos que a questão não se coloca aqui, visto não ser possível negar o progresso económico e social . O que na realidade se passa é que o PSD, como partido que está no poder desde o início do processo autonómico, não tendo a Madeira conhecido qualquer outra experiência a nível de exercício de poder, aquele e o Governo Regional na sua hegemonia acabou por chamar a si o progresso dos vários sectores, tomou uma atitude paternalista, de orientação, criando hiperenquadramento e uma dependência por intermédio dos subsídios.

Ainda sobre o partido dominante a teoria de Jean Charlot [101] revela-se bastante interessante. Para este a única forma de compreender a existência do partido dominante é falar em «mercado político», isto é, não existe mercado sem concorrência e, como tal, a «posição ocupada por cada firma é definida em relação às das outras». A questão não se coloca na «dimensão absoluta» do partido mas sim na «dimensão relativa em relação às outras forças partidárias do país».

Neste quadro, na Madeira, contrariamente ao defendido por Charlot quando afirma que o «partido dominante não se confunde com o partido maioritário» [102], o PSD não só ocupa a posição de partido dominante como também apresenta vocação maioritária, quer pela força no plano eleitoral, quer parlamentar, como tivemos oportunidade de verificar pelo quadro 1 e respectivos gráficos.As consequências desta predominância, nomeadamente a estabilida-de governamental numa região onde as divisões económicas e sociais eram patentes e, por outro lado, a representação convergente dos diferentes segmentos políticos do sistema, constituem realidades vividas e sentidas na Madeira.A maioria do eleitorado madeirense demonstrou ao longo de seis eleições regionais uma nítida preferência pela eficácia e estabilidade do poder, recusando frágeis maiorias que advêm de acordos interpartidários. Isto é, o partido dominante pela sua particularidade consegue ultrapassar «obstáculos políticos» o que faz com que «a

satisfação do regime compense, aos olhos dos eleitores, muitas decepções políticas» [103].Perante esta situação, os partidos da oposição face à postura quase inexpugnável do PSD, canalizam a sua actuação para a exploração dos erros do Governo Regional. A sua participação consiste em chamar a atenção «no terreno» para um conjunto de carências sociais, muitas das quais são satisfeitas num curto/médio prazo pelo executivo regional e, mesmo, pelas autarquias (também dominadas pelo PSD) com o apoio deste. Neste momento a oposição madeirense é encarada por grande parte da população como o trampolim, o chamariz a partir do qual parte das suas exigências são atendidas. Na realidade, os partidos da oposição conseguem através da mobilização dos cidadãos despertar os detentores do poder para a necessidade de colmatar certas situações. Mas, se estes sentem apoio considerável da população nas reivindicações, a verdade é que têm dificuldade em levá-la a depositar o voto em si.

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Perante a intervenção e actuação dos diferentes membros do executivo regional, autarcas e, não raras vezes, do próprio presidente do governo madeirense, os cidadãos continuam a acreditar que quem trabalha é o governo , e no plano partidário isto traduz-se no PSD.Nesta luta, quase inglória, a oposição acaba, de forma manifesta ou latente, por contribuir para a manutenção da primazia do PSD no poder. Ela mostra-se credível em incitar e levar à contestação, mas não mais do que isso. A compensação de todo este trabalho vem do Governo Regional que realiza, executa, não se limita a ouvir as exigências dos cidadãos, actua, trabalha no sentido de as satisfazer. Por altura das eleições o governo e o partido maioritário mostram obra feita e a população não esquece quem fez. Os diferentes partidos políticos que se encontram na oposição são tidos como meios para atingir fins realizados pelo PSD.

[47] Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p. 171. Ver ainda: Alan R. Ball, Modern Politics and Government, Londres, Macmillan Press Ltd, 1993, p.79. O autor refere «Political parties may be principally defined by their common aim. They seek

political power either singly or in co-operation with other political parties»; Jean-Louis Quermonne, Les Regimes Politiques Occidentaux, Paris, Seuil, 1986, pp. 203-211.[48]

H. Meireles, Mª José Ribeiro, M. Reis Marques, Vital Moreira, Notas de Estudo para Ciência Política, polic., Coimbra, 1976/77, pp. 151-154. Estes autores focam várias definições de partidos políticos por diversos autores bem como os elementos que lhes são comuns.[49]

J. LaPalombara, M. Weimer, Political Parties and Political Development, New Jersey, Princeton, University Press, 1966, p. 6.[50]

Cf. Maurice Duverger, Les Partis Politiques , Paris, Armand Colin, 1976.[51]

Jean Charlot, Os Partidos Políticos, Brasília, Universidade de Brasília, 1982, p. 9.[52]

Jean-Marie Denquin, Science Politique, Paris, PUF, 1991, p. 9.[53]

Ver Maurice Duverger, Institutions Politiques et Droit Constitutionnel - Les Grands Systémes Politiques, vol. 1º, Paris, PUF, 1988, p. 100, que afirma: «Les partis de cadres visent à reunir des notables: la qualité leur importe plus que la quantité». Ter ainda em atenção a bibliografia apresentada nas pp. 111-112.[54]

Maurice Duverger, «Sociologia dos Partidos Políticos», in Georges Gurvitch, Tratado de Sociologia, Lisboa, Liv. Figueirinhas, vol 2º, pp. 37-51. O autor afirma que «a distinção entre partidos de quadros e partidos de massa, formulada em 1951, é hoje geralmente aceite. Porém, é preciso não lhe exagerar a importância: Há vários tipos intermédios entre essas duas categorias principais, como os chamados partidos «indirectos».[55]

Sobre o funcionamento interno dos partidos clássicos ver Moisei Ostrogorski, La Democratie et les Partis Politiques, op. cit., bem como Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., pp. 61-69; 219 e segs.[56]

É evidente que nesta fase os partidos políticos passaram já a simples actuação no plano meramente parlamentar, adquirindo desta forma o próprio parlamento uma outra posição visto que «A ideia de um parlamento que legisla e de um governo que executa as leis ou administra é ilusória, porque por detrás da legislação e da administração se encontra a política e o problema fundamental é o de saber quem faz as escolhas políticas (...) a pouco e pouco (...) o deputado e o próprio membro do governo dependem acentuadamente do partido e dificilmente podem votar contra as suas orientações. As maiorias parlamentares e quantas vezes os próprios governos (...) deixam de deliberar autonomamente para se limitarem a formalizar o que foi decidido pelos orgãos competentes dos partidos ou o que foi acordado entre eles». Ver Miguel Galvão Teles, in Prof. Marcelo Caetano, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I, Coimbra, Almedina, 1986, pp. 205-206. [57]

Neste sentido ver Jorge Miranda, «Representação Política», op. cit., pp. 398-413. Relativamente à participação o autor refere que «nos dois últimos séculos, porém, a tendência (...) primeiro europeia e americana, depois universal (...) tem sido o de converter os subditos em cidadãos completos ou activos, o de elevar os homens na cidade de simples sujeitos ao poder a verdadeiros sujeitos do poder, a de fazer participar cada vez mais os governados nas tarefas da vida pública. Não se trata de banir a distinção entre governantes e governados. Trata-se, antes, de estabelecer uma relação permanente entre uns e outros».[58]

Roger-Gerard Schwartzenberg, Sociologia Política-Elementos de Ciência Política, Rio de Janeiro, Difel, 1979, p. 504. Ver ainda: Giovanni Sartori, Partidos e Sistema Partidários, Brasília, Universidade de Brasília, 1982, pp. 48-49, que afirma que os partidos são «canais de expressão» na medida em que «transmitem reivindicações apoiadas por pressões». Isto é, estes sentem-se obrigados a reivindicar em função dos interesses daqueles que defendem e, como tal, colocam toda sua força nas reivindicações de modo a obter o maior sucesso possível.[59]

Moisei Ostrogorski, Democracy and the Organization of Political Parties, op. cit.; p. 370 e segs.[60]

Maurice Duverger, Les Partis Politiques, op. cit., pp. 40 e segs. De referir que o autor mais tarde ao aperfeiçoar a sua inicial classificação de partidos, passa a definir quatro tipos de partidos cuja organização assenta num elemento base específico. Assim, para o partido de quadros fala-nos do comité; a secção para o partido de massas socialista; a célula para o partido de massas totalitário comunista e a milícia para o partido de massas totalitário fascista.[61]

Joaquim Aguiar, Democracia Pluralista, Partidos Políticos e Relação de Representação, in Análise Social, vol. XXIV, nº 100, Lisboa, ISCTE, 1988, pp. 59-76.[62]

Leon D. Epstein, Political Parties in Western Democracies, New Brunswick (USA) and London (U.K.), Transaction Publishers, 1993, p. 19.[63]

Marcelo Rebelo de Sousa, Os Partidos Políticos no Direito Constitucional Português, Braga, Liv. Cruz, p.25. Ver particularmente o I Capítulo onde o autor descreve a relação existente entre a evolução do Estado e os partidos políticos, afirmando que o liberalismo caracterizou-se por uma fase «durante a qual o Estado como que ignora juridicamente a realidade» (p. 27), contrariamente ao Estado Social onde se assiste ao «movimento de legalização expressa dos partidos políticos» (p. 33), e mais tarde no Estado Social Contemporâneo em que o partido é tido «como elemento nuclear» (p. 50). Do mesmo autor veja-se ainda: «Partidos Políticos», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol 4º, Lisboa, Verbo, 1983, pp. 99-101.

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II

[64] Anna Oppo, «Partidos Políticos», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, pp. 898-905.

[65] Roger-Gerard Schwartzenberg, Sociologia Política - Elementos de Ciência Política, op. cit., pp. 490-510.

[66] Cf. Jean Charlot, Le phénomène Gaulliste, Paris, A. Fayard, 1970.

[67] Ver Giovanni Sartori, Teoria de la Democracia, vol. II, Madrid, Alianza, 1988, pp. 583 e segs.

[68] Neste sentido ver Jurgen Habermas, Mudança Estrutural da Esfera Pública, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1984, pp. 250-251. O autor refere que «cada partido procura esgotar, tanto quanto possível, o reservatório dos «indecisos» não através do

esclarecimento, mas através da adequação à posição do consumidor apolítico, muito difundida especialmente nessa camada».[69]

Pierre Birnbaum, Le Pouvoir Politique - Textes et Commentaires de Science Politique, Dalloz, s.d., pp. 84 e segs. Ver ainda: Daniel Gaxie, Les Profissionnels de la Politique, Paris, PUF, 1973.[70]

Joseph A. Schumpeter, Capitalisme, Socialisme, et Démocratie, op. cit.; pp. 200 e segs.[71]

Joseph A. Schlesinger, «Partidos Políticos», in Enciclopédia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. VII, Madrid, Aguilar, pp. 636 e segs.[72]

Neste sentido ver: Giovanni Sartori, Partidos e Sistemas Partidários, op. cit. Segundo este «quase todos os autores apresentam um esquema próprio» predominando a «confusão e profusão de termos [que] parece ser a norma», referindo inclusivamente o exemplo de James Jupp que apresenta oito classes contendo a maioria destas «grupos estranhos» (p.154); Philippe Lauvaux, Le Parlementarisme, Paris, PUF, 1987. O autor propõe uma 3ª categoria, o «Tripartisme», pois segundo este «IL s'agit rarement d'une configuration permanente, car elle est susceptible d'évoluer tantôt vers le bipartisme de fait (Australie, Portugal), tantôt vers le multipartisme (Belgique, RFA, Irlande).L'exemple le plus intéressant est celui de la RFA da 1961 à 1983 (...) L'Irlande était aussi, globalement, en situation de tripartisme (...) Quant à l'Australie, elle connaît un tripartisme d'apparence, le Parti agrarien étant quasiment intégré au Parti libéral, face au Parti travailliste», pp. 101-102. Ter ainda em conta as referências ou propostas de tipologias ou sistemas de partido noutros autores, nomeadamente: Paulo Bonavides, Ciência Política, Rio de Janeiro, Forense, 1988; Daniel-Louis Seiler, La Politique Comparée, Paris, Armand Colin, 1982; Jean-Marie Denquin, Science Politique, op. cit.; Joaquim Aguiar, A Ilusão do Poder, Lisboa, D. Quixote, 1983; Arend Lijphart, As Democracias Contemporâneas, Lisboa, Gradiva, 1989; Harry Eckstein, Partidos Políticos - el partido en cuanto parte de un sistema, in Enciclopedia Internacional de Las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills,vol.VII, Madrid, Aguilar, s.d.; António de Sousa Lara, Elementos de Ciência Política, Lisboa, Universidade Lusíada, 1990. [73]

Giovanni Sartori, Partidos e Sistemas Partidários, op. cit., p.144. Sobre a teoria de Sartori ver Gianfranco Pasquino, «Sistemas de Partido», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Mateucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, pp.1168-1174.[74]

Giovanni Sartori, Partidos e Sistemas Partidários, op. cit., p. 146.[75]

Idem, p. 147.[76]

J. LaPalombara, M. Weimer, Political Parties and Political Development, op. cit.; pp. 21 e segs.[77]

Roger-Gerard Schwartzenberg, Sociologia Política - Elementos de Ciência Política, op. cit., pp. 556 e segs. [78]

Idem, ibidem.[79]

Segundo Duverger foi em 1945 no artigo intitulado «les partis politiques et la democratie», publicado em La vie intellectuelle d'octobre, que focou pela primeira vez «Les lois sociologiques définissante les relations entre les systémes électoraux et les partis politiques». Ver Maurice Duverger, Institutions Politiques et Droit Constitutionnel-les grands systémes politiques, op. cit.Torna a fazê-lo em 1950 na obra «L'influence des systémes electoraux sur la vie politique» e no ano de 1951 em «Les Partis Politiques», tendo nesta afirmado que «il n'est pas inutile de rappeler que les descriptions contenues dans ce livre conservent un caractére provisoire et hippothétique, étant souvent pour engendrer des résultats rigoreux» (p.551). De igual forma na obra Institutions Politiques et Droit Constitutionnel - Les Grands Sytémes Politiques, op. cit., publicada em 1951 vai também focar esta questão. Ver ainda: Bernard Grofman e Arend Lijphart (ed.), Electoral Laws and Their Political Consequences, Nova Iorque, Agathon Press, 1986.[80]

Maurice Duverger, Les Partis Politiques, op. cit. O autor relativamente ao escrutínio maioritário a duas voltas refere que: «Les influences de l'un et de l'autre ne sont pas absolument identiques, celle du regime à deux tours étant la plus difficile à preciser» (p. 331). No que diz respeito ao segundo tipo de escrutínio afirma: «De tous les schémas qu'on a définis dans ce livre, ce dernier est sans doute le plus proche d'une véritable loi sociologique. On relève une coincidence à peu près générale entre le scrutin majoritaire à un tour et le bipartisme: les pays dualistes sont majoritaires et les pays majoritaires sont dualistes (p. 306).[81]

Maurice Duverger, Institutions Politiques et Droit Constitutionnel - Les Grands Systémes Politiques, op. cit., p. 147.[82]

Cf. Richard Rose, «Electoral Systems: A Question of Degree or of Principle?», in Arend Lijphart e Bernard Grofman , «Choosing an Electoral System: Issues and Alternatives», Nova Iorque, Praeger, 1984.[83]

Vicente Barreto, Voto e Representação, in Curso de Introdução à Ciência Política - Voto e Representação Política, (7 unidades), unidade IV, Brasília, Universidade de Brasília, 1984, p. 43.[84]

Douglas W. Rae, The Political Consequences of Electoral Laws, Yale University Press, New Haven and London, 1971. O autor refere ainda que «that the influence of electoral laws upon legislative party systems is usually less important than the many forces expressed in election outcomes», p. 96. [85]

Cf. Jean-Marie Cotteret e Claude Emeri, Les Systèmes Électoraux, Paris, PUF, 1983.[86]

Richard Rose, En Torno de las Opociones en los Sistemas Electorales:Alternativas Politicas y Tecnicas, in Revista de Estudios Politicos, Madrid, Centros de Estudios Constitucionales, nº 34, Julho-Agosto, 1983, pp. 86 e segs.[87]

Ver Dieter Nohlen, Sistemas Electorales del Mundo, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1981. Nesta mesma obra (p. 49) o autor cita J. F. Ross que afirma: «to call it (the proportional representation) a system, or a method, or an institutions, is to misunderstand the basic facts of the situation and to confuse all the issues that arise from it. Such slipshod terminology is bound to lead to slipshod thinking, and that, is all too often outcome».[88]

Ver Jean-Claude Masclet, Droit Electoral, Paris, PUF, 1989. O autor chama a atenção para vários aspectos que devem ser tidos em conta, nomeadamente a apresentação de candidaturas, os candidatos em si, o financiamento das campanhas eleitorais, o recenseamento eleitoral, os círculos eleitorais, etc., pp. 165 e segs.

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[89] Cf. Francesc de Carreras e Joseph M. Vallés, Las Elecciones, Barcelona, Blume, 1977.

[90] Bernard Grofman e Arend Lijphart, Electoral Laws and their Political Consequences, op. cit., pp. 170-179.

[91] Dieter Nohlen, Sistemas Electorales del Mundo, op. cit., p. 96.

[92] Giovanni Sartori, Partidos e Sistemas Partidários, op. cit., p. 222.

[93] Idem, p. 224. O autor foca «a democracia cristã italiana, o Mapai israelense ou mesmo os social-democratas dinamarqueses como partidos dominantes, não se caracterizando a Itália, Israel e Dinamarca como países com «sistemas» de partidos

dominantes».[94]

Ver quando o autor fala da dispersão do poder, supra, Capítulo II, ponto 2.[95]

Sartori refere-se a um «formato amplamente fragmentado» dando como exemplo o caso do Partido do Congresso Indiano (Partidos e Sistemas Partidários, op. cit., p. 229, nota 130).[96]

Idem, p. 225.[97]

Idem, pp. 148 e segs.[98]

Roger-Gerard Schwartzenberg, Sociologia Política - Elementos de Ciência Política, op. cit., p. 577.[99]

Idem, p. 591.[100]

Idem, ibidem.[101]

Jean Charlot, Os Partidos Políticos, op. cit., p. 200.[102]

Idem, ibidem.[103]

Idem, p. 204.

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

III

LIDERANÇA CARISMÁTICA

«Todos os líderes são também lidera-dos; na maioria dos casos, o líder é es-cravo dos seus escravos».

Georg Simmel, The Sociology of Georg Simmel, Nova Iorque, Free Press, s.d., p. 158.

O poder é um fenómeno que se verifica no espaço social de animais e homens. Pode-se dizer que nas sociedades humanas o poder emerge como uma relação, na medida em que nesta o homem não se limita a ser, como refere Mario Stoppino, apenas sujeito do poder mas é também

objecto de poder [104], o que levou Galbraith a afirmar que «poucos são os que mantêm uma

conversa sem referência ao poder» [105]. Se não é de todo fácil definir-se poder, face às diversas ópticas, a ideia operacional predominante, segundo David Beetham, fá-lo consistir na capacidade de alguém de modo intencional fazer com que o comportamento de pessoas ou grupos se altere e concretize no sentido

pretendido, através de um conjunto de meios de que dispõe e lhe permite tal instrumentação [106]. O estudo do poder, no campo da política, adquiriu maior importância a partir da análise

elaborada por Max Weber [107]. Segundo este autor a existência de relações baseadas por um lado, no mandar e, por outro, no obedecer, características do exercício político, ultrapassam o simples costume de obediência que os subordinados têm. Isto é, tais relações assentam fundamentalmente no princípio de legitimidade: «O conceito de dominação legítima de Max Weber chama a atenção para a correlação entre a crença na legitimidade das decisões e o seu

potencial de justificação por um lado, e a sua efectiva validade por outro» [108]. A partir do poder legítimo, Weber apresenta uma tipologia que é decifrável em «três

tipos puros: tradicional; carismático e legal» [109]. Com base nestes três tipos de domínio de poder é possível segundo Weber caracterizar a relação estabelecida entre os dirigentes e dirigidos. Assim, o poder legal é característico da sociedade moderna, sendo a lei fonte de poder à qual estão sujeitos não apenas os cidadãos, os que são mandados, mas de igual forma os que detêm o poder, ou seja, os que mandam. O poder tradicional, por seu lado, assenta fundamentalmente na

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

tradição, no costume, que faz com que os súbditos aceitem as ordens dadas pelo senhor. O poder carismático, baseia-se nas características do líder, que o distingue de todos os restantes, transformando-se os seguidores em discípulos, na medida em que encaram o chefe como alguém que possui dons para além dos normais. A propósito da tipologia apresentada, reconheciam os autores da antologia sobre Weber que este «defendia que nenhuma das categorias referidas existe na forma pura. O sistema Britânico pode servir de exemplo de uma mistura de autoridade assente no poder tradicional e legal-burocrático. As presidências america-nas combinam frequentemente a

autoridade carismática com a legal-burocrática» [110]. Na análise que temos vindo a elaborar sobre a vida política regional, em que tal como já referimos, a mesma apresenta a particularidade de há vinte anos manter no poder o mesmo partido político e à sua frente o mesmo homem, o tipo de dominação Weberiano que nos interessa é o teoricamente «carismático» associado ao «legal-burocrático». De Julho de 1976 a Março de 1978, Alberto João Jardim desempenhou as funções de líder do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia Legislativa Regional, passando posteriormente a exercer o cargo de presidente do Governo Regional até ao presente. Isto é, durante seis eleições regionais consecutivas este homem e o seu partido conseguiram impor-se e dominar de forma esmagadora toda a política. Se, logo após a revolução de 25 de Abril de 1974, podíamos falar em fenómeno ideológico partidário na medida em que a adesão ao partido se fazia em função daquilo que aquele em si representava, a partir de certa altura o componente ideológico acabou por esbater-se e, não é de forma alguma significativo, ao ponto de permitir que um mesmo partido se mantenha no poder durante vinte anos ininterruptos, confirmando sempre a supremacia. As características do líder do partido maioritário bem como a sua forma de actuação e

discurso são elementos fundamentais na explicação da situação madeirense [111].

Adoptando como fórmula política o populismo [112], ou seja, tendo como «fonte principal

de inspiração e termo constante de referência o povo» [113] Alberto João elaborou temas como a autonomia, colonialismo, ministro da república, exploração, costumes e tradições madeirenses e içou tudo isto como a bandeira do PSD regional. Era necessário lutar por estes ideais de todas as formas e feitios de modo a que a Madeira marcasse posição no todo nacional, essencialmente em relação a Lisboa, ao Terreiro do Paço, ao poder central, tido como responsável pelo atraso a diversos níveis da região. Para conseguir os seus objectivos o partido tinha que se afirmar a tal ponto no terreno que não permitisse contestação. O apoio da Igreja, diálogo directo com a população e o discurso baseado sempre na defesa dos interesses objectivos ou subjectivos da Madeira é encetado. A

«comunicação política [tida] como «sistema nervoso» de toda a unidade política» [114] como refere Angelo Panebianco, começa a ser feita de forma eficiente sem intermediários, já que é o próprio líder do partido juntamente com outros elementos do aparelho partidário, em camisa e de mangas arregaçadas que se desloca não apenas às zonas urbanas, mas também ao interior da ilha,

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locais menos favorecidos para manter contacto face a face com os homens e mulheres simples do povo. Neste estabelecer de relações pessoais directas não é permitida a linguagem difícil, não acessível à população, pelo que Jardim com o seu incontestável dom de bem/mal falar consegue perfeitamente e sem dificuldade fazer passar a mensagem pretendida ao homem comum integrado no seu contexto social. O presidente do partido vai-se apresentando como o político que consegue levar a cabo as aspirações da população e faz crer a esta que tudo o que consegue realizar a ela se deve. O

líder carismático [115] começa a sobrepor-se ao partido e grande parte da população já não consegue dissociar a força política do seu líder, dando a ideia de que partido e Alberto João são apenas um. É tal como refere Lasswel: «o político projecta seus motivos internos em objectos públicos e racionaliza essa projecção em termos de vantagens colectivas. Quando esse ajustamento emocional e simbólico ocorre, combinado com facilidade na aquisição de habilidade

manipuladora, surge um verdadeiro político» [116]. A estratégia adoptada por este homem e seu partido sempre com o aberto apoio da Igreja leva a que, na prática, e com base no voto livre e universal que no pensamento de Domenico Fisichiella é tido «momento imprescindível no processo democrático das decisões

políticas» [117], o PSD e o seu responsável adquirissem uma legitimidade no governo da Região difícil de pôr em causa. Os resultados obtidos pelas diferentes forças políticas nas legislativas iniciais e seguintes levou à total concentração de poder nas mãos de um só partido e, nesta conjuntura que acabámos de descrever, de uma só pessoa. A supremacia adquirida nas primeiras eleições regionais não foi motivo para que o líder regional descurasse e abandonasse o diálogo constante e directo com o povo, com as bases, pelo contrário, na qualidade de presidente do Governo Regional não perde a oportunidade de estar presente nas inaugurações, solicitando a intervenção dos populares para trabalhos tão simbólicos como cortar a fita, ligar o botão ou retirar a cancela, quer quando se trata da abertura de uma nova escola ou outro edifício, do fornecimento de energia eléctrica e telecomunicações, abastecimento de água ou mesmo de uma nova via rodoviária (independentemente destas obras poderem servir um grande aglomerado populacional ou apenas retirar do isolamento meia dúzia de cidadãos) [118]. Nestas inaugurações, ao longo das várias Legislaturas, o presidente do executivo madeirense personaliza as obras feitas com um discurso político de obra realizada como consequência da conquista autonómica protagonizada por ele e pelo seu partido num combate constante com o poder central. Estes discursos realizados num tom regionalista atingem o seu auge num ambiente de típico arraial madeirense, onde não falta a espetada, o copo de vinho e o despique em que Jardim é um dos intervenientes directos. Com a exaltação das qualidades do povo madeirense e não deixando espaço político para a existência de um partido com ideais ultraregionalistas e mesmo de eventual carácter

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

independentista, já que a luta por estes e pela conquista e aprofundamento da autonomia estavam a cargo do líder do partido maioritário, este surge aos olhos de parte do povo como um mito político, carregado de forte simbolismo, sobretudo a nível da linguagem verbal e gestual, ligado não de forma «analítica mas emotiva, a determinadas situações reais e destinadas a instituir

formas privilegiadas de acção» [119]. A este propósito, o autor, Tiziano Bonazzi, refere que o «surgimento do Mito político depende do aparecimento da política como função central da sociedade e instrumento de mudança social e da consequente formação ao redor dela de fortes

impulsos emotivos» [120]. Detentor de um poder considerado legítimo não só pelos votos e consequente número de lugares no Parlamento, mas também por uma oposição impotente e desorganizada para lhe fazer frente, o líder do PSD assume-se como alguém que tem uma tarefa a cumprir e que consiste precisamente em recuperar a Madeira do atraso a que tinha sido submetida, isto é, o desenvolvimento da Região Autónoma fica única e exclusivamente a cargo de um homem e de um partido. Assim, e de acordo com Burdeau assistimos de forma clara à «metamorfose moderna da sacralização do Poder [em que] a legitimidade laiciza o seu fundamento sem lhe enfraquecer a

solidez, visto que substitui a investidura divina pela consagração jurídica» [121]. Sentindo amplo apoio das bases, Alberto João assume o papel central e empreende em todos os sectores de actividade iniciativas de desenvolvimento e progresso nunca vistas até então. As reivindicações sociais ajustam-se ao que considera ser o melhor para a situação em si. A mão deste encontra-se em todo o lado e o controle social torna-se também por outro lado mais apertado. Como diz o autor Franco Garelli, o controle social adquire maior peso quando «confiado, em particular, às intervenções do Estado assistencial, que visa realizar uma situação generalizada de

bem-estar social» [122]. Neste aspecto, a forte intervenção no sector público, leva a uma menor participação dos cidadãos na vida social, já que se sentem protegidos. Os objectivos do controle social tornam-se justificados por parte do Governo Regional e do partido que o apoia, pois através deste vão delinear-se os mecanismos que garantem o consenso para se atingir o bem estar da população. Opinião diferente tem a oposição que defende que com aquele o Governo madeirense mais não pretende do que retirar ao cidadão qualquer possibilidade de contestação, tendo-o sempre «na mão». Com o passar dos anos o discurso do governante madeirense endurece já não tanto e somente contra os comunistas, mas relativamente a todos aqueles que são contra a autonomia e que querem desacreditá-la. A luta não é apenas de âmbito regional, mas nacional, mesmo se tratando de elementos do partido a que pertence. O slogan «primeiro a Madeira e a defesa

desta» [123] torna-se constante, sendo permanentemente repetido e passando a fazer parte da prática política. Mais uma vez este político consegue ver reforçado o seu poder como líder não só de partido mas da própria Região. A Madeira quase que se revê em Alberto João Jardim e a mensagem para fora dos limites geográficos da ilha assenta na personalização do poder pessoal. É relevante observar que a opinião pública madeirense, quando confrontada com

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problemas de relevo, tem apenas duas hipóteses: ou é a favor e coloca-se ao lado do líder e do partido, ou é contra e, neste caso, é comunista ou fascista, não apoiando a autonomia, só a prejudicando. A situação política regional não permite tomadas de posição intermédias. Estabelece-se uma relação de quase, diríamos, «amor e ódio» que não aceita meios termos. Mantendo «a continuidade de uma relação de Autoridade fundada sobre a legitimidade

democrática» [124], o responsável pelo PSD consegue controlar e anular qualquer tentativa de oposição dentro do próprio partido, já que embora contando sempre com a máquina partidária na organização e mobilização da população, a verdade é que com o seu carisma dificilmente se encontra alternativa com idênticas características no levar ao rubro o povo. Apesar de considerarmos a existência de uma contra-elite no interior do PSD, esta tem poucas oportunidades de se evidenciar, pelo que não há contestação directa ao líder, sendo a mesma feita de forma subtil. Em oito Congressos Regionais, a liderança do partido nunca foi posta em causa e as críticas feitas foram dirigidas aos que se encontravam em redor de Jardim, acusados de aconselharem mal o líder e presidente do Governo e de se aproveitarem deste na obtenção de

privilégios. Nunca ao homem em si [125]. Com um domínio de poder tão acentuado, controle parcial da economia e reduzidas perspectivas de alternância de partido no governo, presenciou-se a criação de uma rede de relações de clientela que Alfio Mastopaolo vê normalmente «vinculada à difusão da organização política

moderna, especialmente dos partidos de massa» [126]. Assim, à semelhança do que acontecia com o clientelismo tradicional, o objectivo desta malha baseia-se fundamentalmente na fidelidade pessoal em troca do acesso «aos recursos estatais» e mesmo pela «apropriação de recursos «civis» autónomos». Neste âmbito, Seligman refere a «liderança executiva que se institucionalizou» pelo facto dos «seus múltiplos deveres serem executados, em grande medida, por outros em seu nome», o que leva à criação de um grupo de «colaboradores íntimos que se pode denominar por

elite executiva» [127]. Como escreve Mario Stoppino para que «a relação de Autoridade possa prosseguir (...) de

tempos a tempos [tem que ser] reafirmada ostensivamente a qualidade da fonte do poder» [128]. Ora Alberto João Jardim não encontrou dificuldade nesta premissa em que vê corroborado o seu poder e confiança depositada por parte da população, na medida em que os partidos da oposição aos olhos do povo não se mostram capazes de derrubar o governo e consequentemente o poder político. O presidente do executivo madeirense, continua pois, e de forma intensa a desfrutar de uma esfera de poder especial, considerando que as instituições representativas estão num plano meramente secundário. As decisões tomam-se de cima para baixo não sendo permitido grande participação ou consenso dos que se encontram numa posição hierár-quica subordinada ao líder. O princípio hierárquico é inerente à forma de actuação de Jardim que através dele tenta

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

impor uma ordem social. Para tal, muitas das vezes este adopta a forma autoritária de modo a

atingir os seus objectivos. Juan Linz [129] clarifica o conceito ao mostrar que ele assenta em alguns vectores, nomeadamente: 1 - existência de um pluralismo político mas moderado muito mais consentido do que propriamente reconhecido pelo líder do partido maioritário; 2 - reduzida intervenção da população nos organismos políti-cos e parapolíticos, o que não quer dizer que em determinadas alturas a mobilização daquela não seja intensa. Esta velha forma de governo autoritária integra-se, de acordo com Almond e Powel, no que se designa por regimes autoritários em vias de modernização. Nestes, o poder político tende a ser forte e enérgico por forma a ultrapassar os impasses que surgem no caminho do desenvolvimento político, já que este tipo de autoritarismo surge em sociedades cujo grau de progresso e modernização é baixo, sendo este difícil de se ultrapassar face aos graves problemas sociais

existentes [130]. Num estudo efectuado pelo Serviço Regional de Estatística da Madeira, em Maio de 1988, intitulado «Dez anos de Autonomia e Desenvolvimento», são apontados alguns indicadores gerais

significativos referentes à situação sócio-económica da Região [131]. Assim:

QUADRO 2

ALGUNS INDICADORES SIGNIFICATIVOS 1976 1 53

Número de enfermeiros (por 1000 habitantes) 1986 3 15

1976 1 805

Número de emigrantes saídos no ano 1986 333

1977 321

Total de estabelecimentos de ensino 1987 413

1976 86

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

Instalações desportivas 1988* 331

1976 14

Número de bibliotecas 1986 49

1976 4 080

Número de aparelhos de televisão licenciados 1986 12 273

1976 17 156

Número de telefones 1986 33 152

1976 265 582

Turismo – número de hóspedes 1986 413 064

1976 1 947 611

Turismo – número de dormidas 1986 2 854 411

1976 97 490

Produção de energia (10 kwh) 1986 219 345

1976 6 538

Consumo total de água (1 000m) 1986 12 132

1976 372

Extensão de estradas regionais (km) 1988 507

1976 160

Extensão de estradas municipais (km) 1988 428

1976 48

Extensão de caminhos municipais (km) 1988 992

* Diz respeito ao mês de Maio Perante o exposto e com base numa forte liderança carismática, o líder regional, não encontra inconveniente em adoptar qualquer tipo de mecanismo que conduza ao maior desenvolvimento da Região, independentemente deste se revestir de características autoritárias. Para este homem a democracia e o exercício do autoritarismo são compatíveis. A orientação e organização é fundamental para que se consiga atingir os objectivos, pelo que se justifica que a estabilidade seja alcançada através do exercício do poder, que por vezes, pode parecer um tanto ou quanto arbitrário. Não é conveniente esquecer que muitas das vezes o

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

colocar em diversas mãos a tomada de decisões pode conduzir ao desvirtuar do bom

funcionamento das instituições. Até porque como afirma Petracca [132] sobre a liderança «No Princípe Maquiavel, propõe um conceito de «virtude» política tão flexível que pode ser lido na linguagem da ciência moderna como apenas uma variável do contexto em que se realize o papel de

líder» [133]. Podemos pois afirmar que liderar no tempo e no espaço implica sempre um certo grau e forma de autoridade, o que leva a que a liderança se relacione de forma clara e directa com a situação, o contexto em que é exercida, e com a personalidade do líder. Assim e contrariamente ao que acontece no PS como segundo partido mais votado, no PSD estamos na presença de um tipo de liderança real, efectiva, e não somente perante um «mero

prestígio» [134]. Um dos grandes trunfos de Alberto João consiste precisamente no facto do PS ser destituído de um tipo de liderança concreta. A crise por que sempre passou o PS, permite-nos

afirmar na sequência do defendido por Lasswel e Kaplan [135], que nos deparamos neste partido na Madeira com uma «autoridade formal, não uma liderança». O poder exercido pelos diferentes líderes do PS tem-se sedimentado na perspectiva de uma autoridade leve, branda, quase inexistente. Normalmente existe um grupo de socialistas que está em permanente contestação à legitimidade do líder e à sua fonte de poder independentemente de quem quer que seja. O hábito de a refutar de forma pública por intermédio dos órgãos de comunicação social, está de tal forma introduzido no PS que qualquer líder que surja terá sempre dificuldade em se afirmar e consequentemente em corresponder às expectativas dos militantes e simpatizantes. A agravar tudo isto, o partido passa por uma situação política que consideramos única no país e que consiste no confronto directo e aberto entre o líder da bancada socialista, Fernão Freitas, e o líder partidário Mota Torres. Na prática, fala-se em dois PSs: um PS/grupo parlamentar e um PS/partido, cada um deles com a sua liderança (ver infra, Capítulo VI, ponto 2). Sabendo que toda a força e estatuto de qualquer líder reside no interior do grupo e não fora

dele, como defende David Greenstone [136], quem quer que vier a assumir a liderança no PS tem que o fazer primeiro no interior do partido e, posteriormente, fora deste. Para que tal aconteça o PS teria que crescer em credibilidade eleitoral e estabelecer a sua alternativa de forma indubitável. Só desta maneira é que o PS poderá passar a sua mensagem, mostrar-se digno de crédito e deixar de ser a eterna alternativa não credível e, portanto, fazer frente ao partido maioritário que se encontra no poder há vinte anos consecutivos, não permitindo que este tire partido e se aproveite da sua fraqueza e ineficácia. O líder partidário madeirense tem afirmado que irá abandonar o poder no ano 2000. Se tal vier a concretizar-se talvez a situação política na Madeira sofra alteração e quando estivermos perante novas eleições regionais, poderemos aguardar pelos resultados eleitorais sem que estes continuem a transformar-se em «novidades sem novidades». Neste momento o grande opositor do líder carismático reside na abstenção, que tem vindo a aumentar, nomeadamente:

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

QUADRO 3

PERCENTAGEM DE ABSTENÇÃO

1976 25%1980 17%1984 27%1988 31%1992 32%1996 35%

Fonte: Comissão Nacional de Eleições

Aqui, é possível afirmar que esta é uma forma de penalizar o desempenho político. Contudo, se isto não é favorável para o partido em causa, também não o é para a oposição já que não se assiste a uma deslocação significativa de voto para outro partido político. As relações entre líderes e liderados, isto é, o porquê alguém segue outro, torna-se fundamental para a compreensão de certas situações políticas existentes. As meras formulações referentes a tais situações não nos permitem encontrar respostas plausíveis para certos comportamentos individuais e colectivos que se geram em torno dos líderes e que em sistemas democráticos são por vezes difíceis de aceitar. Neste âmbito Michels é peremptório ao afirmar que tal «como obedecemos ao médico» pelos conhecimentos dele também «o paciente político deve submeter seus assuntos ao chefe do partido, o qual possui a competência que ele não tem». Assim, somos obrigados a «admitir um certo grau de despotismo e, por consequência, um certo desvio dos

princípios da democracia pura» [137]. Desta forma, ao analisarmos determinadas questões são mais as que ficam sem resposta do que aquelas que as obtêm e, em termos democráticos, «é talvez

um mal, mas um mal necessário» como defende Robert Michels [138]. O presidente do governo criou e cultivou uma imagem política, afirmando-se mais «amigo

do povo do que chefe deste» [139]. Sente-se traído e injustiçado pela população sobretudo com as

«manifestações vindas de onde julgávamos ter encontrado solidariedade estes anos todos» [140]. A falta de apoio e a contestação são entendidas como manipulação. Tal como os políticos carismáticos que durante longo tempo se mantêm no poder, recusa a aceitar-se prisioneiro da teia que ele próprio ajudou a criar e da qual se tornou dependente. Se é certo que assumiu o governo da Madeira com 34 anos de idade, mantendo-se ainda aos 54 à sua frente sem nunca se ter sentido minimamente ameaçado por qualquer força política

opositora, continuando a «jogar» e adaptar-se aos diferentes governos centrais [141], é de igual forma certo que «todos os líderes são também liderados; na maioria dos casos, o líder é escravo

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

dos seus escravos» [142]. À parte tudo isto e se sempre se concretizar o abandono do poder por Alberto João Jardim no ano 2000, apesar de todas as críticas que lhe são dirigidas e da acusação de ser uma «pessoa

para quem a democracia é um mal menor» [143], este homem terá sido aquele líder que não se limitou a ficar apenas com a fotografia no gabinete da residência oficial do presidente do Governo Regional. A ver vamos se o seu sucessor terá força suficiente para acabar com o período Jardinista e com todas as consequências deste, por forma a se afirmar por si só, sem se tornar um governante que governa à sombra de um fantasma. Julgamos que se não será de todo fácil, também não o será difícil perante toda uma juventude que dispõe de uma autonomia visível e real, mas que apenas conhece a luta por esta através do que os mais velhos contam; que demonstra cansaço pelo discurso e linguagem política e que não revela grande interesse em participar de forma activa na vida política regional; que está a ser alvo da crise do desemprego. A Madeira depara-se com uma nova conjuntura económica e social que obriga a uma forma de governar diferente da que tem sido feita até então. Este será um desafio que o líder do PSD e toda a classe política terá que ultrapassar. Se a geração que o acompanhou lutou pela autonomia, viu nascer as estradas, as escolas, a água e electricidade em toda a ilha, a extinção da

colonia [144] e a terra a quem trabalha, a habitação e a obtenção de emprego sem dificuldade na medida em que perante a nova organização política era necessário um quadro de pessoal a todos os níveis por forma a que a administração pública regional funcionasse, os filhos dessa geração faces às novas exigências com que se deparam requerem outras respostas, reclamam outro tipo de actuação, que se traduz num combate tão feroz e difícil como foi o primeiro período vivido após a aquisição de estatuto político administrativo pela Madeira.

[104] Mario Stoppino, «Poder», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteuci e

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4-LIDERANÇA CARISMÁTICA

Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 933.[105]

John Kennth Galbraith, Anatomia do Poder, Lisboa, Difel, s.d., p. 17.[106]

David Beetham, The Legitimation of Power, Londres, Macmillan, 1992, pp. 64 e segs; [107]

David Beetham, Max Weber y la Teoria Politica Moderna, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1979, pp. 15 e segs.Ver ainda: Robert A. Dahl, «Poder», in Enciclopédia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. VIII, Madrid, Aguilar, s.d. O autor refere que «Al aproximarse al estudio de la política a través del análisis del poder se da por supuesto, al menos mínimamente, que las relaciones de poder figuran entre los aspectos significativos de un sistema político» (p. 293).[108]

Jurgen Habermas, Raison et Légitimité - Problèmes de légitimation dans le capitalisme avncé, Paris, Payot, 1978, p. 134.[109]

Max Weber, Essays in Sociology, org. e introdução de H. H. Gerth e C. Wright Mills, Londres, Routledge & Kegan Paul, s.d., pp. 77 e segs. Ver ainda: Reinhard Bendix, «Max Weber», in Enciclopédia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. X, Madrid, Aguilar, s.d., pp. 724-726.[110]

Alan R. Ball, Modern Politics and Government, op. cit., p. 30.[111]

Cf. Fred I. Greenstein, «Personality and Politics», in Fred I. Greenstein e Nelson W. Polsby (org.), Handbook of Political Science, Reading, Mass, Addison-Wesley, vol. II, 1975.[112]

Ludovico Incisa, «Populismo», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 980.[113]

Idem, ibidem.[114]

Angelo Panebianco, «Comunicação Política», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 200.[115]

Sobre o carisma ver Italo de Sandre, «Carisma», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p.149.[116]

Harold Lasswel, Política: Quem ganha o que, quando, como, Brasília, Universidade de Brasília, 1984, p. 120.[117]

Domenico Fisichiella, «Comportamento Eleitoral», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 189.[118]

Cf. David O. Sears, «Political Socialization», in Fred I. Greenstein e Nelson W. Polsby (org.), Handbook of Political Science, Reading, Mass, Addison-Wesley, vol. II, 1975.[119]

Tiziano Bonnazi,«Mito Político», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 759.

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[120] Idem, p. 761. Cf. Sociologia da Política, Gaston Bouthoul, Lisboa, Liv. Bertrand, s.d..

[121] Georges Burdeau, O Estado, Lisboa, Europa América, s.d., p. 51.

[122] Franco Garelli, «Controle Social», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola

Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, p. 285.[123]

Ainda recentemente Jardim afirmava ter a «consciência do dever cumprido. A certeza de sempre ter colocado a Madeira e os madeirenses à frente de todos os outros interesses, nomeadamente os partidários, que sempre releguei para segundo plano». Ver Diário de Notícias - Madeira, 17 de Junho de 1997.[124]

Mario Stoppino, «Autoridade», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 88 e segs.[125]

Diário de Notícias - Madeira, 25 e 26 de Novembro de 1995 (cobertura do VIII Congresso Regional do PSD/M).[126]

Alfio Mastopaolo, «Clientelismo», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p. 178.[127]

Lester G. Seligman, «Liderazgo:Aspectos políticos», in Enciclopédia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. VI, Madrid, Aguilar, s.d., p. 604.[128]

Mario Stoppino, «Autoridade», op. cit., p. 90.[129]

Cf. Juan Linz, «Totalitariam and Authoritariam Regimes», in Fred I. Greenstein e Nelson W. Polsby (org.), Handbook of Political Science, Reading, Mass, Addison-Wesly, vol. III, 1975. [130]

Cf. A. Gabriel Almond e G. Bingham Powell, Comparative Politics, Boston, Little, Brown and Company, 1978. Nesta mesma linha de pensamento encontra-se Charles Lindholm, Carisma – êxtase e perda de identidade na veneração ao líder, Rio de Janeiro, Zahar, 1990, p. 9. O autor afirma que o fenómeno carismático é «característico das sociedades que estão sofrendo mudanças sociais rápidas e desordenadas».[131]

Região Autónoma da Madeira, Dez Anos de Autonomia e Desenvolvimento, Funchal, Governo Regional da Madeira – SRP -, Maio, 1988. [132]

Orazio M. Petracca, «Liderança», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, p.713 e segs.[133]

Idem, p. 714.[134]

Idem, p. 716.[135]

Lasswel e Kaplan, cit. por Orazio M. Petracca, «Liderança», in Dicionário de Política, op. cit., p. 716.[136]

CF. J. David Greenstone, «Group Theories», in Fred I. Greenstein e Nelson W. Polsby (org.),

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Handbook of Political Science, Reading, Mass, Addison-Wesley, vol. II, 1975.[137]

Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., p. 57.[138]

Idem, ibidem.[139]

Entrevista à Revista Visão, 28 de Maio de 1997.[140]

Mensagem a apresentar às Comunidades Madeirenses na Venezuela, in Diário de Notícias - Madeira, 17 de Junho de 1997.[141]

Neste âmbito Paulo Martinho, líder da União Democrática Popular considerou que Alberto João Jardim tem recebido ajuda dos próprios ministros do governo central, o que produz intensos embaraços ao PS regional, já que «o desfile de ministros e de secretários de Estado que [vêm] para a Madeira gratuita e irresponsavelmente dizer que a RAM é um paraíso na terra». Ver Diário de Notícias - Madeira, 25 de Maio de 1997.[142]

Georg Simmel, The Sociology of Georg Simmel, Nova Iorque, Free Press, p. 158.[143]

Afirmação feita por Paulo Martinho ao Diário de Notícias em 25 de Maio de 1997. Neste âmbito ver: Karl R. Popper, A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, 2 vols., Lisboa, Fragmentos, 1993; Randolph Lucas, Democracia e Participação, Brasília, Universidade de Brasília, 1985. O autor considera que «o termo democracia não tem significado. Trata-se de um título honorífico que cada país atribui a si mesmo [ é ] um conceito fraco a ponto de comunistas e capitalistas, liberais e socialistas, republicanos e maoístas poderem considerar-se democratas», p. 3.[144]

O contrato de colonia é específico da Região Autónoma da Madeira, tendo a sua origem já há séculos, numa altura em que havia muita terra a arrotear e os donatários do arquipélago obtiveram a colaboração de colonos com o aliciante de as benfeitorias lhes ficarem a pertencer. Este contrato consiste num terreno pertencente a uma pessoa – senhorio – que é dado a cultivar a outra – colono -, sendo este o proprietário das benfeitorias rústicas ou urbanas desse terreno. Ver: Decreto Regional nº 13/77/M (extinção do regime de colonia)

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MINISTRO DA REPÚBLICA

«A inexistência de um representante residente do Estado nas Regiões seria incompatível com a natureza unitária do mesmo Estado (...)». Carlos Blanco de Morais, O Ministro da República – digressão sobre as Figuras Comis-sariais do Estado em Regiões Autónomas, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, s.d., p. 153. «A razão de nos encontrarmos é combater as forças colonizadoras que ainda existem (...) Não se trata de estar contra a unidade nacional, mas defender, acima de tudo, as autonomias». Jaime Ramos, Diário de Notícias – Madeira, 12 de Maio de 1994.

A extinção progressiva das fronteiras nacionais impostas pelas instituições da Comunidade Económica Europeia, ou seja, os chamados poderes supranacionais juntamente com a tendência cada vez mais premente das regiões se afirmarem perante o poder central, são

desafios que hoje se colocam com maior acuidade ao Estado-Nação [145]. Embora a descentralização possa não ser a solução de todos os problemas e questões que se colocam ao nível abaixo do poder central, podendo mesmo dar-se uma centralização regional em relação às restantes entidades que lhe estão adstritas, «estas lutas, tal como são, respondem à exigência inscrita na lógica da democracia» como defendem François Chatelet e Pisier-Kouchner [146]. A descentralização do Estado pressupõe um maior desenvolvimento e valorização das zonas mais pobres, não podendo esta consistir na divisão arbitrária do território, mas antes na necessidade de dar resposta a todo um conjunto de questões que se coloca, estando implícito neste quadro a consciência de pertencer a uma dada comunidade, a uma dada região e a componente humana visto que nenhuma região subsiste se for criada numa base puramente

racional [147]. Neste âmbito, Batista Machado, ao referir a descentralização territorial considera

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que esta implica três condições, sendo a primeira destas precisamente «o reconhecimento pelo Estado de colectividades humanas baseadas numa solidariedade de interesses», defendendo ainda que «quando essa realidade sociológica (sócio-económica) não exista, a lei só por si não lhe pode

dar vida» [148].

Desta maneira, a autonomia regional nos seus múltiplos aspectos [149] não surge por surgir, mas sim como forma de responder ao país em constante evolução onde através do princípio de solidariedade se procura ultrapassar e eliminar desequilíbrios económicos e sociais existentes entre as diversas parcelas que compõem o todo nacional. A este propósito e uma vez que a regionalização não pode ser vista como um simples processo de divisão espacial e administrativa, ideia defendida por Freitas do Amaral quando refere que «a divisão do território é uma questão complexa, que tem que ser vista à luz de inúmeros factores - históricos, geográficos,

económicos, sociais, políticos, etc.» [150], o mais importante será, então, segundo Carlos Robalo resolver «o tipo e grau de descentralização que se estabeleça como meta de todo o

processo» [151], visto estarmos perante «um verdadeiro processo de organização e de

reestruturação da sociedade» como escreveu Simões Lopes [152]. Ainda de acordo com este autor, não se pode descurar o facto da regionalização ser

«resultado de lutas e palco de poder social» [153], sendo esta mesma ideia corroborada por Amâncio Ferreira quando refere que a «região é instrumento privilegiado para a conquista de

poder através da periferia» [154]. Neste âmbito destaca-se a tendência da estrutura política reclamar maior descentralização de poderes quando se encontra na oposição, situação que se

altera quando se encontra no governo e detém posição maioritária [155]. Ainda que se possa distinguir regiões económicas, culturais, turísticas e políticas, não é possível considerar cada uma destas em compartimentos estanques, já que, com frequência

interpenetram-se e influênciam-se umas às outras como defende Manuel Figueiredo [156]. Quando se fala em regionalização temos presente os conceitos de desconcentração e descentralização de poderes. Assim, segundo o Professor Marcelo Caetano estaríamos perante a desconcentração quando «na gestão dos interesses locais prevaleça a hierarquia dos serviços e das competências de tal modo que os serviços locais e as respectivas chefias estejam sempre subordinadas aos serviços e às chefias centrais». Por outro lado, a descentralização verifica-se quando pessoas colectivas territoriais dispõem de órgãos dotados de autonomia que no seu desempenho estão «apenas sujeitos a fiscalização da legalidade dos seus actos pelos

tribunais» [157]. Para Freitas do Amaral, a designação de descentralização deve ser aplicada «apenas para

o caso da chamada descentralização territorial» [158], defendendo Mário Esteves de Oliveira que

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esta é concebida «como instrumento destinado a fazer vingar e actuar a própria

democracia» [159], na medida em que permite aos cidadãos maior participação na tomada de decisões tidas fundamentais para a região em particular. Isto é, a distância entre o poder central e os cidadãos reduz-se o que permite o envolvimento da população nos diferentes níveis de organização territorial. De modo geral podemos afirmar que é aceite a ideia de que a descentralização implica fundamentalmente a transferência de certos poderes para outros entes que até então eram da exclusiva responsabilidade do Estado. Aliás, Karl Lowenstein defende que a descentralização na sua essência só se revela quando as populações das colectividades descentralizadas têm liberdade

efectiva para eleger os titulares dos órgãos autonómicos [160]. Com o 25 de Abril de 1974, Portugal assistiu a uma nova divisão política do território, sendo na Constituição Portuguesa de 1976 definido como Estado unitário, consagrando o sistema

de autonomia político-administratva [161], permitindo que a Madeira e Açores adquirissem o estatuto de Região Autónoma dotadas de órgãos próprios, nomeadamente Assembleia Legislativa Regional e Governo Regional. Foi ainda estipulado que a representação da soberania da República nas Regiões da Madeira e Açores ficasse a cargo de um Ministro da República, nomeado pelo Presidente da República, sob proposta do Primeiro Ministro, ouvido o Conselho da Revolução e com a extinção deste o Conselho de Estado. As competências deste baseavam-se na coordenação da actividade dos serviços centrais do Estado no que dizia respeito a assuntos de interesse para a Região, pelo que dispunha de assento no Conselho de Ministros. De igual forma superintendia as funções administrativas exercidas pelo Estado na Região, servindo de elo de ligação entre estas e as

exercidas pela própria Região [162] . Sobre o Ministro da República e seu desempenho para além do estudo efectuado pelo

Professor Blanco Morais pouco mais existe [163]. Desde sempre esta figura despoletou grande controvérsia sobretudo a nível regional, visto que no plano nacional pouco ou nada se fala acerca da existência deste, sendo tal um dado adquirido que parece não ser necessário sofrer qualquer alteração independentemente da evolução que a autonomia conheceu. Nas formas de Estado onde se verifica descentralização de poderes seja esta em maior ou menor grau, a existência de «um ponto de referência superior» é algo real, quer este assuma

carácter temporário ou permanente no território autonómico [164]. Este ponto de referência a que Blanco Morais designa como comissário pode, consoante o grau de autonomia, actuar não apenas por conta do Estado, mas pode também em nome próprio exercer poderes políticos e de controle de legitimidade, sendo este o exemplo do caso português. Em Itália e Espanha este comissário é tido unicamente como mero agente do governo central. Em sentido amplo, o autor citado define comissário residente «como toda a autoridade fixada em permanência em um território autónomo, nomeado pelo poder político estadual e que

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exerce por conta deste um conjunto de competências de interesse unitário» [165]. Em Novembro de 1974, o projecto de «Bases do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores», elaborado pela Comissão Organizadora do núcleo do PSD de Ponta Delgada, referia a existência de um «Governador, como representante, na região da soberania de Portugal». Posteriormente em 1975 com o projecto de revisão constitucional do PPD, o termo «Governador» foi substituído por «Comissário da República», acabando por prevalecer no texto constitucional a terminologia «Ministro da República». Pelo exposto, verifica-se que a existência de uma figura independentemente do nome que se atribua, representante da soberania do Estado na Região, esteve sempre presente aquando da elaboração do modelo de estatuto para os Açores, bem como nos trabalhos desenvolvidos pela Constituinte. Uma outra ideia permanente foi a de que esta seria uma instituição residente na arquipélago dotada de poderes com vista à orientação da administração estatal periférica; de faculdades de promulgação dos diplomas legislativos regionais; de coordenação das administrações estatal e autonómica e de promoção e controlo da constitucionalidade de normas dos órgãos regionais. Parece, segundo Blanco Morais, não haver dúvidas de que o projecto de estatuto da Junta

dos Açores foi a sede que mais contribuiu «no regime jurídico da figura» [166] do Ministro da República e das suas funções e competências. O Ministro da República, pelas suas características inéditas por um lado e, por outro, devido a semelhanças com outras estruturas comissariais integradas em regiões de Estados unitários, é tido um resultado heterógeneo e de acordo com Jorge Miranda não tem antecedentes

no direito português [167]. Gomes Canotilho e Vital Moreira afirmaram que os Ministros da

República são «das figuras constitucionais de mais difícil definição» [168]. Como órgão político encontra-se numa posição de dupla responsabilidade entre o Chefe de Estado e o Governo pelos interesses públicos que representa; pelas funções que desempenha; pelo processo de nomeação e exoneração. É um órgão de estatuto bifrontal. A má aceitação deste órgão político a nível da Madeira por parte do PSD de modo geral e, particularmente por Alberto João, não constitui novidade para ninguém. Aliás, a existência não desta figura, mas do próprio cargo em si é tido o «cavalo de batalha» desta força política desde 1976. De então até ao presente pela Região Autónoma da Madeira passaram já três Ministros da República, tendo sido o primeiro o general Lino Miguel que desempenhou funções de Setembro de 1976 a Outubro de 1991. Foi o Ministro da República que mais tempo esteve como representante da soberania na Madeira. Posteriormente seguiu-se o vice-almirante Rodrigues Consolado que tomou posse a 31 de Outubro de 1991, mantendo-se seis anos no cargo. Por fim, em Outubro de 1997, Monteiro Diniz, juiz do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal de Justiça tomou posse como Ministro da República para a Madeira. A postura dos Ministros da República tem-se pautado por um desempenho público um tanto ou quanto discreto, contrária à adoptada pelo partido maioritário na Região, sobretudo

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quando é exercido o veto do Ministro relativamente a diplomas do Governo. Se as competências deste revestem carácter eminentemente político, as atitudes dos partidos políticos na Madeira em relação ao órgão são, de igual forma, estritamente políticas. Nos primeiros anos após 1974 os partidos da oposição, nomeada-mente PS; UDP; CDS e PCP, defendiam a existência deste como forma de garantir a integridade e unidade do país, mas sobretudo como meio para travar os excessos de ideias eventualmente independentistas e a acção desenvolvida pelo então PPD que acusavam de não respeitar a democracia. O Ministro da República sempre foi acusado pelo PPD/PSD de ser um órgão de inspiração colonial através do qual Lisboa, o Terreiro do Paço, continuava a considerar a Madeira como uma província, como uma colónia. No discurso efectuado no dia da Cidade, nos Paços do Concelho, Jardim referindo-se às relações estabelecidas com o general Lino Miguel, então Ministro da República, considerou inaceitável «a permanência de instituições que, para além da sua comprovada desnecessidade ou obstáculo ao normal e eficiente funcionamento do Estado Democrático e das Autonomias», consistia num «autêntico desrespeito pelas liberdades e direitos

cívicos do Povo Madeirense» [169]. Apesar das relações tensas entre Lino Miguel e Alberto João, nem por isso este deixou de por várias vezes elogiar aquele de forma pública, ressalvando o facto de «não estar em causa a

pessoa quando defendia a eliminação do cargo» [170]. A este Ministro os partidos da oposição recorreram com frequência de modo a contestar o «défice democrático» que afirmavam existir na Madeira, o que nem por isso invalidou que de igual forma o tivessem acusado de «conivência

com o poder laranja regional» [171]. A posição do presidente do Governo Regional sobre a existência do cargo vai, ao longo dos tempos manter-se, mesmo quando Correia de Jesus, militante do PSD regional e a desempenhar o cargo de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas desde 1987, é apontado como substituto de Lino Miguel. Perante esta nova situação o líder do PSD, bem como o partido em si continuam a manifestar-se contra o cargo independentemente de quem o ocupe. Aliás, para Jardim a «solução encontrada pelo Governo de Lisboa procurava dividir o PSD-

Madeira» [172]. Lino Miguel ao participar numa palestra no Rotary Clube do Funchal, subordinada ao tema da regionalização salientou «as situações algo conturbadas experimentadas com a descentralização do poder político e na procura de uma maior participação da Madeira». Para este a instabilidade política vivida a nível nacional foi «a responsável pela situação algo complicada da regionalização». Num ambiente de constante substituição de governo, o Ministro da República definiu-se como «caixeiro viajante» com sucessivas deslocações aos vários ministérios: «Quando acabava essa ronda, esse governo já tinha caído (...) tendo sido neste ambiente que se pensou fazer as primeiras transferências de competências (...) não havia uma ideia global do que a

regionalização seria (...) e só aos poucos o processo foi tomando corpo» [173]. Aquando da sua saída e ao comentar as críticas e importância do cargo afirmou que o

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mesmo «está na Constituição e não vale a pena discutir a não ser nas revisões constitucionais (...) concordo com o quadro constitucional e considero que foi uma boa solução o modelo de

Autonomia existente em Portugal» [174]. No que se refere ao facto do cargo do Ministro da República ser tido de inspiração

colonial, Blanco Morais [175] enumera um conjunto de premissas que demonstram não existir semelhanças daquele cargo com o de governador de uma província do antigo Ultramar Português. Assim, e apesar de ambos representarem a soberania do Estado, o Ministro da República fá-lo como um todo, não sendo possível confundir as suas funções com as do presidente do Governo Regional. O Governador do Ultramar por seu lado, exercia funções duplas, ou seja, na qualidade de representante do Governo e de Chefe do executivo do território. Um outro aspecto reside na nomeação e exoneração do Ministro da República. Enquanto este dispõe de dupla responsabilidade perante o Chefe de Estado e Governo pelo facto de ser nomeado pelo Presidente da República, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho de Estado, em relação ao Governador esta função ficava unicamente a cargo do Governo, o que implicava uma elevada dependência a este. Relativamente ao Ministro do Ultramar a analogia com a figura do Ministro da República é ainda menor, já que este tem assento em Conselho de Ministros apenas quando são discutidos assuntos respeitantes à Região. Por outro lado, o Ministro da República não dispõe de poderes legislativos, sendo um órgão residente e dispondo de competências somente referente ao território onde reside. O Ministro do Ultramar era membro de pleno direito do Governo, não residia nos territórios ultramarinos, a sua competência abrangia as diversas parcelas do Ultramar e dispunha de poder legislativo quando presente em um dos seus territórios. Apesar de salientadas estas diferenças, nem por isso deixa de predo-minar a ideia em Alberto João e no PSD regional de que a presença e manutenção do Ministro da República na Madeira é «factor de desestabilização institucional» já que «lança um manto de suspeição sobre

as Autonomias» [176]. O conflito institucional entre a Madeira e o Ministro da República assume por vezes proporções acentuadas sobretudo quando este coloca em prática algumas das suas

competências, como seja o veto de diplomas [177], quando requer a apreciação preventiva da

constitucionalidade de algum decreto regional [178], quando ouve as preocupações da oposição [179], quando é acusado de imiscuir-se na vida partidária madeirense, bem como em actos

meramente regionais [180]. O exercer das competências conduz a atitudes de manifesto e público desagrado por parte de alguns deputados do PSD, como seja o de recusar--se a participar num jantar oferecido pelo presidente da Assembleia Legislativa Regional à Comissão de Defesa Nacional e que

contava com a presença do Ministro da República [181]. Esta atitude foi adoptada por João

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Cunha e Silva que justificou a sua opção no sentido de não «fazer figura de parvo» visto que nos Açores tinha respeitado uma «directriz do Grupo Parlamentar do PSD no sentido de não

participar em jantares do Ministro da República» [182]. Assim, não se justificava mudar de opinião e postura. No mês anterior a esta situação, ou seja, em Abril de 1994 aquando da deslocação de uma representação parlamentar aos Açores no âmbito das jornadas parlamentares Açores-Canárias-Madeira, Jaime Ramos, líder do Grupo Parlamentar do PSD considera «insulto ao PSD/M» a presença de Mário Pinto, Ministro da República nos Açores, pelo que os deputados não aceitam

«participar em qualquer beija-mão a Ministros da República» [183]. A posição dos deputados do PSD/M com destaque para a de Jaime Ramos, foi largamente noticiada na imprensa açoreana que a considerou «falta de delicadeza» e de «estar abaixo dos

valores que caracterizam a sociedade açoreana» [184]. Em resposta, e no seu papel de irredutível crítico do cargo, o líder dos deputados madeirenses reafirma não prestar em parte alguma «vassalagem ao Ministro da República», pelo que não tem razão de ser estar presente num jantar a convite de uma «figura precisamente contra a qual os deputados insulares devem concertar posições nas jornadas a decorrer (...) no sentido de acabar com esse cargo colonialista em todo o sentido», afirmando o mesmo não se tratar de uma atitude de «estar contra a unidade nacional,

mas de defender, acima de tudo, as autonomias» [185]. Tudo isto se passou no tempo em que Rodrigues Consolado era o Ministro da República.

Em Novembro de 1992 Cavaco Silva abandonou a sua posição de certa neutralidade [186] relativamente ao assunto da extinção do cargo de Ministro da República, pronunciando-se de forma clara a favor da representação deste. As ideias do PSD/M no que respeita a um eventual apoio do partido a nível nacional no sentido de eliminar definitivamente a figura do Ministro da República aquando da revisão constitucional são postas de lado. Jardim vê, assim, defraudadas as esperanças do PSD nacional avançar com uma proposta neste sentido, já que, segundo o mesmo não é possível contar com o apoio do PS nesta matéria face ao seu «espírito colonialista» que

serve de «barragem às transformações pretendi-das pelas Regiões Autónomas» [187]. Quando da saída do general Lino Miguel e indigitação do vice-almirante Rodrigues Consolado, Alberto João referiu que este correspondia ao que «se pretende dos Ministros da República: não concordamos com a instituição, mas a existir preferimos sempre um militar, pelas suas caracte-rísticas de independência». Contudo, se as relações estabelecidas com Lino Miguel foram tensas, acusado de ter dificultado o desenvolvimento de um conjunto de obras da responsabilidade do Governo central

devido à falta de «uma simples assinatura» [188]; de ter congelado verbas destinadas à Madeira [189]; de ter alterado legislação importante para o futuro da Região [190] e de modo geral ter dificultado o andamento da vários assuntos pendentes relacionados com o arquipélago, situação

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que parece não ter sido do agrado de Cavaco Silva [191] perante informações dos membros do Governo, as com o Ministro que se lhe seguiu Rodrigues Consolado, não foram melhores. Antes pelo contrário, nos seis anos em que este ocupou o cargo foram vários os episódios de conflito público e directo entre o Governo, o Parlamento, o Ministro e o PSD. Um ano após a tomada de posse do segundo Ministro da República, o Diário de Notícias da Madeira noticia desentendimento entre Jardim e Consolado no que se refere à interpretação

sobre os direitos protocolares deste na sessão solene de abertura parlamentar [192]. Enquanto que o Ministro da República considerava-se no direito de presidir ao acto, o responsável pelo executivo entendia que tal não era da responsabilidade daquele, pelo que a sua presença só apenas como convidado. Como desfecho desta quezília quando o presidente da Assembleia Legislativa Regional formaliza o convite a Rodrigues Consolado, o mesmo manifesta indisponibilidade para comparecer. Contrariamente ao Estatuto da Região Autónoma dos Açores que estipula ao Ministro da República a competência para abrir em representa-ção do Presidente da República a primeira sessão de cada legislatura da Assembleia, o da Madeira nada prevê neste campo, pelo que, ao longo dos mandatos dos dois primeiros Ministros da República esta situação acabou por tornar-se um ponto de discórdia entre os vários órgãos políticos. Paralelamente o mesmo se verificou nas cerimónias referente ao dia da Região, 1 de Julho, em que algumas contou com a presença da

figura do Ministro [193] e noutras tantas, em número superior às primeiras, tal não se constatou [194]. Neste âmbito, e mais concretamente no ano de 1994, a recusa de Rodrigues Consolado assentou numa «atitude de coerência» na medida em que a justificação baseou-se no facto de que sendo «quem representa o Presidente da República» devia de igual forma «presidir à

cerimónia» [195], ideia contrária à partilhada pelo presidente da Assembleia Legislativa Regional, pelo presidente do Governo Regional e PSD. No sentido oposto ao que se passa nas Regiões Autónomas italianas e espanholas é ao Ministro da República e não ao presidente do Governo Regional que compete a mais alta

representação do Estado no território. Embora não exista legislação protocolar aplicável [196], ao Ministro da República é conferida precedência protocolar sobre os titulares dos órgãos autonómicos e da administração estatal periférica em todas as cerimónias oficiais com relevância estadual. Neste mesmo campo, surge aquilo a que Blanco Morais designa «magistratura de

influências» [197]. Ou seja, esta permite através de contactos informais estabelecer um conjunto de relações com vista a ultrapassar eventuais conflitos políticos e funcionais entre Estado-Regiões, bem como uma actuação tida fundamental para o interesse público de modo geral. Pelo que temos vindo a assistir ao longo de vinte anos de autonomia político-administrativa, não nos parece que as relações entre o Ministro da República e os restantes órgãos políticos da Região Autónoma da Madeira sofram alteração significativa, até porque esta é uma

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forma de demonstrar descontentamento pela existência do cargo. Como tal, a questão protocolar será sempre um meio através do qual os órgãos envolvidos tenderão a se afirmar e «medir forças» no plano prático. Mas se o aspecto protocolar parece não ter solução, realidade que não é possível ignorar é a cerimónia de posse do Governo Regional ser realizada no Palácio de S. Lourenço, residência oficial do Ministro da República, e ser presidida por este. Tendo em conta os resultados eleitorais

o Ministro nomeia o presidente do Governo madeirense [198], aspecto que se assemelha à nomeação do Primeiro Ministro pelo Presidente da República. À semelhança de outras situações esta é uma prática que perdurará enquanto se mantiver o cargo de Ministro da República e para alguns órgãos de comunicação social é a «vingança» do Ministro à qual Alberto João não

encontra possibilidade de fugir ou contestar [199]. Em Julho de 1992, quando da inauguração do Tribunal do Porto Santo por parte de Cavaco Silva, o presidente do executivo regional demonstra mais uma vez o seu desagrado em relação a atitudes tomadas por Consolado. Neste caso específico a contestação de Jardim reside no silêncio do Ministro da República sobre a questão do tão propagado «défice democrático» que

foi alvo de debate nacional [200]. Segundo Alberto João este tinha o dever «de tomar posição pública» esclarecendo se, como «fiscal da Constituição», detectara qualquer acto contrário a esta,

ou mesmo se tinha «recebido queixa nessa matéria» [201]. De salientar que a questão do «défice democrático» existente na Madeira atingiu proporções alarmantes nos diferentes órgãos de comunicação social, tendo esta carácter muito mais teórico do que prático, até porque o Ministro da República ao não se ter pronunciado, demonstrou que nunca esteve em causa os princípios constitucionais da unidade e solidariedade nacional. Contrariamente ao que era habitual, Consolado vai na sequência de uma série de acusações por parte do Secretário Regional de Educação, do presidente do Governo e de alguns dirigentes do PSD, reagir publicamente por intermédio de comunicado aos órgãos de comunicação social. Todo este processo se desencadeou após o veto de quatro diplomas regionais, entre eles o referente à «Carreira de docentes portadores de habilitação suficiente e vinculados à referida secretaria». Apesar de estarmos em plena época estival e os governantes em causa de férias, nem por isso o Ministro da República deixou de ser alvo de profundas críticas. Assim, Francisco Santos ao referir-se às funções de fiscalização de legalidade e constitucionalidade de actos normativos de Rodrigues Consolado, afirmou que este fazia parte dos «saudosistas do passado e do velho Regime que Abril de 74 derrotou e que 1976 enterrou definitivamen-te na

Região» [202], tendo afirmado ainda que o cargo constitui uma «afronta à própria essência da Democracia» e que «assume foros de perversidade requintada, de fazer inveja aos modelos

organizacionais de todos os sistemas colonialistas» [203].

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Jardim por seu lado, considerou que o Ministro tem exagerado, criando graves

dificuldades ao Governo Regional e à Madeira [204] o que faz «perigar (...) a solidariedade

nacional» pelo que «deve demitir-se» [205]. É em redor de toda esta conflitualidade aberta e directa que Rodri-gues Consolado a 20 de Agosto de 1993, perante a comunicação social recorda que «a autonomia político-administrativa das Regiões exerce-se no quadro da Constituição e visa a promoção e defesa dos interesses regionais, o reforço da unidade nacional e dos laços de solidariedade entre todos os

portugueses» [206]. Assim, para este é «um desacerto afirmar que a existência do órgão Ministro

da República atenta contra a Autonomia Regional» [207]. Segundo Consolado o ataque institucional e pessoal do Governo Regional ao apelidar constantemente o cargo e o Ministro de colonialista designando-o como «símbolo do passado (...) de país colonialista (...) distorce o

modelo organizativo do Estado e os princípios que o orientam» [208]. Os partidos da oposição, tal como já tivemos oportunidade de referir, se de início apoiavam a existência do cargo vão mais tarde pronunciar-se desfavoravelmente sobre este. Parece, assim, haver consenso entre os partidos políticos na Madeira de na próxima revisão constitucional já não existir o cargo de Ministro da República. Para o CDS/PP neste momento o

manter-se do cargo já «não tem muito sentido» [209] até porque é uma «figura ambígua (...) um mal-amado por todos, com funções complexas. É o único ministro que não tem uma pasta

definida, mas tem uma área territorial sob o seu cuidado, com as pastas dos outros todos» [210]. Este partido vai mais longe ao exigir um referendo regional sobre os Ministros da República. Para este as «populações insulares têm o direito de serem directamente e genuinamente ouvidas sobre

o tema ministro» [211]. O PS, por seu lado, vai referir que «as atribuições que o Ministro da República tem actualmente, não fazem sentido, numa fase em que a Autonomia é um dado adquirido»,

salientando que a extinção do cargo não é tarefa fácil nem será pacífica [212]. A tónica principal reside em saber para quem transitará as competências do Ministro e neste campo os diferentes quadrantes políticos dispõem de opinião diversa. Quando o PS a nível nacional ganha as eleições o Ministro da República vai novamente ser alvo de polémica na Região. Isto é, Mota Torres, líder do PS/M, defende que o vice-almirante Rodrigues Consolado devia colocar o seu lugar à disposição, deixando à consideração do

Primeiro-Ministro e do Presidente da República «a sua manutenção ou substituição» [213]. Gregório Gouveia deputado do PS ao Parlamento madeirense e o próprio PSD/M discordam de Mota Torres, pois conside-ram que o defendido por este só devia acontecer na «mudança da

Presidência da República e não no Governo» [214].

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Neste campo e uma vez que a Constituição não estipula um tempo de mandato, o Ministro da República pode manter-se indefinidamente no cargo até que haja consenso quanto à sua substituição. Isto é, o titular do órgão não cessa as suas funções com a demissão do Governo ou a exoneração do Primeiro Ministro. Exemplo do citado deu-se com o Ministro da República Lino Miguel que ocupou o cargo durante quinze anos, de 1976 a 1991, e que assistiu à tomada de posse de inúmeros Governos e, consequentemente, diferentes chefes de Governo. Por outro lado, não há que esquecer o facto de que embora só o Governo possa iniciar o processo não apenas de nomeação, mas também de exoneração, sem o voto presidencial favorável num e noutro caso não é possível qualquer nomeação ou exoneração. Isto significa que nem o Presidente da República nem o Governo podem nomear ou demitir unilateralmente o Ministro da República. A saída de Lino Miguel e Rodrigues Consolado deu-se sempre com a concordância quer do Presidente da República, quer do Primeiro-Ministro, muito embora em relação ao primeiro houvesse indícios, que nunca se chegaram a esclarecer devidamente, de uma certa perda de confiança por parte de Cavaco Silva. Verdade ou não, o processo de nomeação dos três Ministros que a Madeira conheceu e exoneração dos dois primeiros não foi alvo de conflito ou sequer opinião discordante entre o titular da presidência da República e o do Governo central. Mantendo-se até final do mandato de Mário Soares, situação que muito agradou ao

Ministro na Madeira [215], novo descontentamento vão, as diferentes forças políticas, com destaque para o PSD e PP, demonstrar perante as notícias de que António Guterres pretendia

estender aos Ministros da República estatuto e competências idênticas aos demais ministros [216]. Para o PP não era de forma alguma possível concordar com o que fora noticiado, já que tinha sido o partido o primeiro a defender um referendo de modo a que as populações insulares se pudessem pronunciar sobre a existência do cargo. Ainda segundo esta força partidária «nunca defenderam a extinção pura e simples do cargo (...) mas sim a substituição por uma outra figura

constitucional (...) com funções de ligação entre a Região e o Estado» [217]. Tal cargo não pode nunca ser «contra-poder» como permite a actual Constituição «mas sim um cargo de

fiscalização» [218]. Na linha do que o PSD sempre defendeu, posição radical vai este partido demonstrar perante as novas competências dos Ministros da República. Assim, mais uma vez a extinção do cargo vem ao de cima, considerando o vice-presidente do partido que a manutenção deste é uma ideia contrária «ao aprofundamento da Autonomia». Tudo se resume ao cargo e não às competências as quais têm que existir de modo a permitir «a ligação Região/Estado», mas de forma diferente, apontando como solução que aquelas deviam ser transferidas «eventualmente

para o próprio Presidente da República» [219]. Miguel Sousa, refere mesmo, que apesar de não contarem com o apoio do partido a nível nacional a ideia da extinção do cargo nunca será posta de parte, pelo que está fora de questão qualquer «negociação intermédia. Não recuamos um

milímetro da nossa posição» [220].

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Em 1997 Rodrigues Consolado deixa o cargo que ocupou durante seis anos. À saída pouco se pronunciou sobre o seu mandato, mantendo a postura de discrição que caracterizou o tempo durante o qual desempenhou funções. Não nos parece de todo correcto o facto de Blanco Morais referir que os Ministros da República na Região Autónoma da Madeira «refugiaram-se em práticas de inércia» relativamente aos mecanismos de controlo sobre os actos legislativos «como modo de atenuar uma

conflitualidade política latente» [221], na medida em que por diversas vezes quer Lino Miguel, quer Rodrigues Consolado, exerceram a sua competên-cia tendo em conta não só as particularidades da Região, mas sobretudo o facto desta fazer parte de um todo, garantindo sempre a unidade do Estado. A este propósito o primeiro Ministro da República, general Lino Miguel, quando da sua saída comentou: «saio da Madeira com a noção de que cumpri a missão que me propus quando aqui cheguei e para a qual fui nomeado (...) fiz aquilo que me foi

possível» [222]. O vice-almirante, por seu lado, não perdia a oportunidade, quando esta se lhe deparava, de justificar as suas funções no sentido «de compatibilizar os interesses específicos da

Região Autónoma com o interesse nacional» [223]. Como se vê, não se confirma a tese de Blanco Morais e mesmo que tal tenha acontecido não o foi com o fim de favorecer a Madeira em detrimento da unidade e coesão nacional, que tal como referimos esteve sempre presente nos Ministros da República que passaram pela Região. Aliás, ainda neste âmbito, seria interessante efectuar um estudo que permitisse verificar até que ponto houve ou não dificuldades por parte dos respectivos Ministros em sensibilizar o poder central no sentido de adoptar certas medidas que melhor se adaptavam à realidade insular e que devido à descontinuidade geográfica nem sempre são do conhecimento dos governantes nacionais. Monteiro Diniz, actual Ministro da República na Madeira, não se encontra ligado a nenhum ramo das Forças Armadas como até então era hábito. Ocupando o cargo de juiz do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal de Justiça, tomou posse no início de Outubro de 1997. No Palácio de Belém não contou com a presença de nenhum órgão de governo próprio da Região Autónoma. Pelo PS/M apenas dois elementos ali compareceram. Afirmando que gostaria de ter visto Alberto João na tomada de posse, nem por isso se sentiu «desacompanhado», referindo desconhecer a ausência daquele e que tal era assunto pessoal

de Jardim [224]. Numa entrevista ao Diário de Notícias da Madeira defendeu a imparcialidade dos

Ministros da República pelo facto de não serem «membros do Governo da República» [225], tendo ainda comentado que as alterações introduzidas na revisão constitucional contribuiram para uma maior «transparência e definição do cargo em si» na medida em que o essencial da figura manteve-se. Contrariamente aos seus antecessores não se diz representante da soberania, mas do Estado o qual «representar-se-á sempre com maior ou menor dimensão». Em relação à existência do cargo e à necessidade deste defende que independentemente

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da terminologia que o mesmo tenha, este é um órgão de Estado previsto na Constituição e que a sua importância reside no facto de «servir como elo de ligação» entre a «República e os órgãos de governo regional». Quanto à tão usada designação de «colonialista» que apenas, julgamos nós, desaparecerá somente com a extinção do cargo, Monteiro Diniz não lhe atribui grande importância apesar da «carga forte» que a expressão contém. Considera, mesmo, que esta «traduz uma determinada imagem» que vale somente aquilo que Jardim «quis que valesse, uma vez que o

cargo está reconhecido na Constituição» [226]. O novo titular do cargo afirmou que iria pautar a sua acção por uma «conduta discreta e

reservada, tranquila e serena» [227], mas no sentido oposto ao dos seus antecessores tem adoptado um comportamento aberto, não fugindo à comunicação social nem à vida social não só no âmbito de convites do presidente do Governo Regional, mas de igual forma a nível particular. Em relação à realidade madeirense este Ministro parece ser mais sensível, indo ao ponto de considerar que «alguns dos serviços que se mantêm no âmbito da República» podiam ser regionalizados com excepção dos que «impliquem princípios estruturantes do próprio

Estado» [228]. Não se tendo ainda verificado qualquer tipo de desentendimento entre o actual Ministro da República e os órgãos de governo da Região Autónoma da Madeira, não se sabe até que ponto vão as relações harmoniosas manter-se. Alberto João continua a discordar que os Ministros «tenham competência de vetar e devolver diplomas aprovados nas Assembleias Regionais, por

deputados eleitos mediante sufrágio directo, universal e secreto» [229]. Afinal de contas, aqueles não são órgãos de soberania, não se dando a existência destes através do voto directo e livre da população. Neste campo, Monteiro Diniz, vai referir que as «instituições políti-cas não são eternas (...) As instituições que a democracia possa gerar dependem de circunstâncias históricas,

políticas, culturais, sociais e económicas» [230]. Para este, num plano teórico a extinção do cargo poderá vir a dar-se, criando-se uma «estrutura e arquitectura autonómica sem a presença do

Ministro da República» [231]. No entanto, destaca a importância que esta figura desempenha no todo político sobretudo quando há conhecimento prático da especificidade e realidade regional. Aliás, o Ministro reconhece que a experiência que adquiriu desde que ocupa o cargo permite-lhe

«um posicionamento e um afrontamento da teoria com a realidade» [232].

Monteiro Diniz exerceu já as suas competências de veto [233], tendo Miguel Mendonça, presidente da Assembleia Legislativa Regional, afirmado tratar-se de procedimento normal previsto na Constituição. A ver vamos se as declarações deste sofrerão ou não alteração, mesmo quando o Ministro refere que pela posição que ocupa tem «obrigação de ter uma solidariedade

institucional permanente com os órgãos de governo próprio da Região» [234].

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É certo que a conflitualidade entre o Ministro da República e os órgãos regionais depende em parte da maneira de ser, da sensibilidade, da personalidade do Ministro e, por outro lado, da forma como as diferentes forças sociais e políticas encaram não só o cargo em si, mas também a própria figura que o ocupa. Tendo a sua formação e criação sido feita num contexto político extremamente difícil e complexa em que as regiões pretendiam afirmar-se e criar identidade regional, o cargo de Ministro da República nunca foi bem aceite e logo à partida foi adoptada uma postura de hostilidade e contestação muito mais na classe política do que propriamente na população, até porque não sendo prática comum o aparecimento em público deste a população acaba por tomar conhecimento da sua existência somente nas situações de quase ou total conflito com órgãos regionais. À semelhança do que se verificou nos Açores em que foi efectuada uma sondagem à opinião pública sobre a necessidade de tal cargo, seria também interessante conhecer não apenas do ponto de vista empírico aquilo que os cidadãos madeirenses pensam sobre a figura do Ministro da República, visto que a da classe política é sobejamente conhecida. A formação do actual Ministro permite-lhe adoptar um tipo de relação não só no âmbito institucional que poderá ser útil e aproveitado ao máximo para o desenvolvimento da Região. Por outro lado, Monteiro Diniz com o seu conhecimento e experiência parece disposto a levar a cabo a cooperação Estado/Região, a servir de canal de comunicação entre a administração central e a regional.

[145] Cf. François Chatelet e E. Pisier-Kouchner, Las Concepciones Politicas del Siglo XX, Madrid, Espasa Calpe, 1986.

[146] Idem, p. 583.

[147] Cf. Paul Claval, Espaço e Poder, Rio de Janeiro, Zahar, 1979.

[148] Ver J. Batista Machado, Participação e Descentralização, Democratização e Neutralidade na Constituição de 1976, Coimbra, Almedina,

1982, p. 72.[149]

Cf. Alessandro Catelani, L’Autonomia Pubblica delle Regioni, Padova, CEDAM, 1989. Para o autor ainda que a autonomia implique um estatuto jurídico diferente, este insere-se no todo de um quadro orgânico que se define no interesse da regionalização, não colocando em causa a sua essência.[150]

Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, vol. I, Coimbra, Almedina, 1990, p. 397.[151]

Carlos Robalo e alii, Regionalização - Ensaios, Lisboa, Instituto Fontes Pereira de Melo, 1982, p. 30.[152]

António Simões Lopes, Regionalização e Desenvolvimento, in Movimento Cultural, ano VII, nº 7, Junho de 1991, Associação de Municípios do Distrito de Setúbal.[153]

António Simões Lopes, Desenvolvimento Regional - Problemática, Teoria, Modelos, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1978, pp. 31-45.[154]

Fernando Amâncio Ferreira, As Regiões Autónomas na Constituição Portuguesa, Coimbra, Almedina, 1980, p.27.[155]

Cf. Charles Debbasch, La Décentralisation pour la Renovation de L’État, Paris, PUF, 1976.

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[156] António Manuel Figueiredo, Autonomia Regional e Descentralização, in Revista de Acção Regional e Local, nº 40/41, Jan/Abril, 1987, p.

14. [157]

Marcelo Caetano, Manual de Direito Administrativo, Tomo I, Coimbra, Almedina, 1982, p. 245.[158]

Diogo Freitas do Amaral, op. cit., p. 690.[159]

Mário Esteves de Oliveira, Direito Administrativo, vol. I, Lisboa, Almedina, 1980, pp. 181 e segs.[160]

Karl Lowenstein, Teoria de La Constitucion, Barcelona, Ariel, pp. 38 e segs.[161]

O primeiro Estatuto provisório da Região Autónoma da Madeira foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 318-B/76[162]

Constituição da República Portuguesa - As três versões após o 25 de Abril (1989/1982/1976), Porto, s.d.[163]

Cf. Carlos Blanco de Morais, O Ministro da República - digressão sobre as Figuras Comissariais do Estado em Regiões Autónomas, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, s.d.[164]

Idem, pp. 22-28.[165]

Idem, p. 27.[166]

Idem, p.88.[167]

Jorge Miranda, «O Ministro da República», in Dicionário Jurídico da Administração Pública, vol. V, 1993, p. 601. [168]

Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Coim-bra, Coimbra, 1993, p. 869.[169]

Diário de Notícias - Madeira, 24 de Agosto de 1991.[170]

Diário de Notícias - Madeira, 29 de Outubro de 1991.[171]

Idem, ibidem.[172]

Diário de Notícias - Madeira, 26 de Agosto de 1991.[173]

Diário de Notícias - Madeira, 12 de Setembro de 1990.[174]

Diário de Notícias - Madeira, 30 de Outubro de 1991.[175]

Carlos Blanco de Morais, O Ministro da República, op. cit., pp. 90-92. Ver ainda Jorge Miranda «O Ministro da República», op.cit., pp. 601-603.[176]

Diário de Notícias - Madeira, 11 de Novembro de 1992.[177]

Diário de Notícias - Madeira, 10 de Maio e 6 de Novembro de 1990 e 1 de Julho de 1993.[178]

Diário de Notícias - Madeira, 17 de Agosto de 1993 e 19 de Maio de 1994.[179]

Diário de Notícias - Madeira, 11 de Janeiro de 1990 e 27 de Abril de 1994.[180]

Diário de Notícias - Madeira, 23 de Julho de 1990; 12 de Novembro de 1992 e 16 de Julho de 1996.[181]

Diário de Notícias - Madeira, 24 de Maio de 1994.[182]

Diário de Notícias - Madeira, 17 de Abril de 1994.[183]

Idem, ibidem.[184]

Diário de Notícias - Madeira, 12 de Maio de 1994.[185]

Idem, ibidem.[186]

Diário de Notícias - Madeira, 11 de Novembro de 1992.

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IV

[187] Diário de Notícias - Madeira, 24 de Janeiro de 1994.

[188] Diário de Notícias - Madeira, 9 de Novembro de 1991.

[189] Diário de Notícias - Madeira, 16 de Julho de 1990.

[190] Diário de Notícias - Madeira, 14 de Novembro de 1991.

[191] Diário de Notícias - Madeira, 9 de Novembro de 1991.

[192] Diário de Notícias - Madeira, 11 de Novembro de 1992.

[193] Diário de Notícias - Madeira, 19 de Junho de 1991.

[194] Diário de Notícias - Madeira, 28 de Junho de 1993.

[195] Diário de Notícias - Madeira, 28 de Junho de 1994.

[196] Carlos Blanco de Morais, O Ministro da República, op. cit., p. 106, nota 177.

[197] Idem, p. 107.

[198] Constituição da República Portuguesa, art. 233, nº 3.

[199] Diário de Notícias - Madeira, 14 de Novembro de 1992.

[200] Diário de Notícias - Madeira, 16 de Julho de 1992.

[201] Idem, ibidem.

[202] Diário de Notícias - Madeira, 17 de Agosto de 1993.

[203] Idem, ibidem.

[204] Diário de Notícias - Madeira, 22 de Agosto de 1993.

[205] Diário de Notícias - Madeira, 19 de Agosto de 1993.

[206] Diário de Notícias - Madeira, 20 de Agosto de 1993.

[207] Idem, ibidem.

[208] Idem, ibidem.

[209] Diário de Notícias - Madeira, 2 de Fevereiro de 1994.

[210] Idem, ibidem.

[211] Diário de Notícias - Madeira, 8 de Julho de 1994.

[212] Diário de Notícias - Madeira, 2 de Fevereiro de 1994.

[213] Diário de Notícias - Madeira, 10 de Outubro de 1995.

[214] Diário de Notícias - Madeira, 12 de Outubro de 1995.

[215] Diário de Notícias - Madeira, 13 e 18 de Outubro de 1995.

[216] Diário de Notícias - Madeira, 9 de Dezembro de 1995.

[217] Idem, ibidem.

[218] Idem, ibidem.

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[219] Idem, ibidem.

[220] Idem, ibidem.

[221] Carlos Blanco de Morais, O Ministro da República, op. cit., p. 154.

[222] Diário de Notícias - Madeira, 30 de Outubro de 1991.

[223] Diário de Notícias - Madeira, 5 de Outubro de 1997.

[224] Diário de Notícias - Madeira, 8 de Outubro de 1997.

[225] Diário de Notícias - Madeira, 11 de Setembro de 1997.

[226] Idem, ibidem.

[227] Idem, ibidem.

[228] Diário de Notícias - Madeira, 12 de Julho de 1998.

[229] Diário de Notícias - Madeira, 5 de Outubro de 1997.

[230] Diário de Notícias - Madeira, 12 de Julho de 1998.

[231] Idem, ibidem.

[232] Idem, ibidem.

[233] Diário de Notícias - Madeira, 15 de Julho de 1998.

[234] Diário de Notícias - Madeira, 12 de Julho de 1998.

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5-PARLAMENTO

V

PARLAMENTO 1 - A IMPORTÂNCIA DO PARLAMENTO

«Quando vejo conceder o direito e a faculdade de tudo fazer a um qualquer poder, quer se chame povo ou rei, Democracia ou Aristocracia, quer se exerça numa Monarquia ou numa República, digo: Lá está o germen da tirania».

Alexis de Tocqueville, Da Democracia na América, Porto, Rés, s.d., p. 103.

A existência dos Parlamentos é tida como uma garantia contra o autoritarismo bem como instrumento que controla o exercício do poder, sendo a expressão máxima da democracia representativa. A importância destes não invalida, contudo, um certo declínio na medida em que, frequentemente, os sistemas parlamentares ou mistos parlamentar/presi-denciais acabaram por se

converter de acordo com Adriano Moreira [235], em «sistemas de predominância governamental» ou de «presidencialismo de primeiro-ministro». A reforçar este declínio não é possível ignorar a hegemonia do executivo. Pode-se verificar que o Parlamento ao longo dos tempos perdeu importância perante o

governo, o partido político e o seu líder [236]. O facto das discussões referentes a certos problemas que se colocam ao país, se realizarem nos organismos de concertação social e grupos de interesse e não no Parlamento faz com que este fique longe de preencher as suas funções mais destacadas [237]. A este propósito Boudant refere que a descentralização é tido um «factor de crise no

Parlamento » [238]. Assim, teoricamente, atribui-se ao Parlamento uma «mera função de legitimação de

decisões políticas tomadas noutras instâncias» como refere Ramón Garcia Cotarelo [239]. Independentemente da importância que se possa atribuir ou tenha efectivamente o Parlamento [240], dele não se pode separar o princípio da representação política, que tem como suporte eleições concorrenciais e directas. É ponto assente que a passagem do sufrágio censitário a universal e de modo geral o alargamento do direito de voto veio dar-lhe uma importância decisiva, quer a nível simbólico, quer real na manutenção do sistema democrático.

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5-PARLAMENTO

No que diz respeito às funções do Parlamento [241] e entendendo-se estas como a representativa, legitimação, legislativa e controle político do executivo, não podemos descurar a função de debate e apresentação de alternativas, encontrando-se aqui o lugar de exercício de direitos da própria oposição. De salientar que a importância do poder legislativo atribuida ao Parlamento foi, à medida que o governo interveio com maior acuidade nos diversos e variados sectores da sociedade, ficando

restringida ou limitada à chamada «elaboração de normas gerais» [242] como defende Maurizio Cotta. Isto porque o executivo, cuja função é governar, actua de igual forma no campo da legislação.

Daqui podermos afirmar que hoje se governa em larga medida legislando [243]. Neste âmbito e a par da maior intervenção do poder executivo na sociedade e, consequentemente, a fuga dos grandes debates políticos para fora do Parlamento, há que ter em conta a alteração do estatuto de deputado. Isto é, do político livre, independente, que estava estritamente ligado ao círculo que o elegia, passou-se para um outro tipo de deputado sujeito a uma rígida disciplina partidária, dependente do partido por onde concorre e respectivo Grupo Parlamentar. Por outras palavras, os deputados que representam o partido político no Parlamento «estão dependentes dos seus partidos de múltiplas facções e encontram-se subordinados senão a uma

disciplina de voto, pelo menos a uma estrita solidariedade » como analisou Friedrich Koja [244]. A partir daqui os Parlamentos passaram a ficar «dependentes» dos Grupos Parlamentares que

se tornaram em autênticos «órgãos parlamentares» [245]. A este propósito referem Gomes Canotilho e Vital Moreira que os grupos «não são uma simples forma de organização dos deputados sem poderes parlamentares autónomos. São verdadeiras entidades parlamentares, com poderes

parlamentares próprios» [246]. Para Adriano Moreira «O grupo parlamentar deixou de ser a expressão de uma opinião individual (...) para ser com frequência a expressão do acordo que as negociações entre os partidos, fora do Parlamento, conduziram (...) a disciplina de voto pode ser rígida ou flexível, mas é

geral» [247]. A dependência dos deputados não permite negar a tendência para o mandato imperativo de partido. Serão os responsáveis pelo Grupo Parlamentar que vão deixar que os representantes do povo possam intervir de forma mais ou menos acentuada. A realidade e o poder dos Grupos Parlamentares nos Parlamentos vão colocar-nos perante «a existência de deputados «empresários» e deputados «peões (...) senhores e vassalos» no dizer de Maria Rosa Rippollés

Serrano [248]. Por tudo isto, o Governo tem grande poder no sentido de subalternizar o Parlamento, dando origem à governamentalização do sistema político, através do qual encontra suporte estável na justificação dos seus actos.

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5-PARLAMENTO

2 – O PARLAMENTO MADEIRENSE

O sistema de representação proporcional [249] foi o adoptado pela Assembleia Constituinte em 1975, sendo estipulado pela Constituição como fórmula matemática a utilizar o método da média mais alta de Hondt assente na divisão do país em distritos. A apresentação de candidaturas cabe aos partidos políticos, aos quais foi atribuida a competência exclusiva de elaboração das listas bem como a sua coordenação. A nossa Constituição não refere a possibilidade de qualquer intervenção do eleitor neste campo. Em Portugal e apesar de continuar a manter-se o mesmo sistema eleitoral registaram-se já diferenças acentuadas no sistema partidário português, o mesmo não se podendo dizer relativamente à Região Autónoma da Madeira, que com igual sistema eleitoral não se verificou alterações profundas, mantendo-se praticamente a mesma situação política de há vinte anos. O poder, a disputa deste e o seu exercício, apesar de patente na Assembleia Legislativa Regional, coloca-nos perante a questão de sabermos se esta é ou não na realidade a sede do poder ou, se pelo contrário, esta sede se encontra noutro órgão, limitando-se a Assembleia Regional a um plano meramente teórico e defensivo do outro órgão de governo próprio da Região Autónoma que é o Governo Regional. A legitimidade do poder não se limita unicamente ao respeito pelas regras que permitem o acesso ao poder, mas também tem em conta o modo como este é exercido, o respeito pelas minorias e pela alternância de poder. Mesmo sabendo quando estamos perante eleições legislativas regionais, que mais que uma Assembleia vamos eleger um nome para presidente do executivo madeirense (de salientar que esta ideia não se limita apenas ao âmbito regional ), a verdade é que o Parlamento é o lugar privilegiado do exercício do poder, visto ser neste que se efectua o seu controle, emerge e se desenvolve a alternância. A relação existente entre os vários órgãos de poder é por vezes dúbia e se na teoria é possível estabelecer, de forma algo precisa, os limites de cada um destes, na prática tal não se apresenta com a mesma facilidade, até porque a candidatura de partidos, que substituiu a individual, a personalização do líder partidário, a disciplina partidária dos membros do Parlamento, entre outros aspectos, originou consequências profundas no funcionamento do sistema, na determinação da sede do poder. A esta situação já Ostrogorski fazia referência em 1902 destacando o «tempo em que o líder do partido (...) passou a surgir transformado em general comandante em chefe de uma

armada» [250]. Posto isto, e existindo a supremacia absoluta do PSD no Parlamento Regional ao longo de vinte anos seguidos, questiona-se até que ponto é possível falarmos em autonomia parlamentar, não esquecendo todavia que «na maioria das democracias europeias, a actividade parlamentar é em

grande medida, dominada pelo Governo» como refere Joaquim Aguiar [251]. Os resultados eleitorais dificilmente permitiram que a autonomia e democracia na Madeira

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5-PARLAMENTO

fossem compreendidas como sendo algo legitimado por todos os partidos políticos com base num consenso. Antes pelo contrário, o facto de nunca se ter vislumbrado a necessidade de fazer uma coligação por forma a obter maioria parlamentar, criou a ideia em certos quadrantes de que se deve apenas ao PSD, isto é, ao partido que sempre adquiriu larga maioria absoluta, e com enorme protagonismo na luta, primeiro, pelo estabelecimento da autonomia e, posteriormente, pelo seu aprofundamento. O exercício da democracia acabou, assim, por desenvolver-se com base numa total identificação com a maioria, limitando-se os restantes partidos políticos a fazer número e pouco mais. A necessidade de governar e legislar com o apoio da maioria tornou-se suficiente, levando a que o papel das minorias no processo político regional fosse completamente marginal à tomada de decisões, independentemente da importância destas. Toda a estruturação e funcionamento do Parlamento regional fez-se e continua a fazer-se em redor da representação parlamentar do PSD, o que em termos práticos leva a que a relação estabelecida entre os partidos políticos seja realizada numa base muito mais conflitual do que propriamente consensual. A diferença entre o PSD como detentor do poder e PS, como segundo maior partido, é de tal forma tão acentuada que «não se justifica sequer falar de dualização do sistema partidário, pois a superioridade relativa do PS em relação ao CDS e «Outros» não tem relevância perante a distância

em que está do PSD» [252]. Mas isso não isentou de uma grande conflitualidade entre os partidos.A predominância do conflito interpartidário no Parlamento madeirense foi ajudado pelo facto de um dos aspectos da política regional residir na acção desenvolvida pelos partidos políticos, entre 1976 a 1988, isto é, nas três primeiras Legislaturas, se circunscrever à actividade parlamentar, descurando o contacto directo com a população, as conferências e debates com os eleitores. De salientar que este comportamento foi manifesto sobretudo no CDS e PS, que só recentemente deixaram os gabinetes adoptando a táctica da «rua» com deslocações a diversos locais de modo a denunciar e chamar a atenção para determinadas situações de vida da população. No que diz respeito à UDP e PCP, o primeiro para além da intensa actividade parlamentar actua fundamentalmente por intermédio dos sindicatos o mesmo acontecendo com o PCP, embora este pelo facto de nem sempre ter conseguido eleger deputados dê maior atenção a outros tipos de intervenção que não apenas à actividade parlamentar. O PSD, por seu lado, e contrariamente aos outros partidos políticos, desde sempre adoptou como estratégia o contacto directo com a população com destaque para as zonas rurais, mantendo um ambiente de quase democracia directa onde os comícios se transformam em arraiais e os discursos em despiques sendo os protagonistas constituídos pelo homem simples, rural, trabalhador e, por outro lado, o presidente do Governo Regional e líder do PSD desde 1976. Face à permanente e constante conflitualidade no Parlamento madeirense é possível

classificá-lo na terminologia de Polsby [253] como um «Parlamento arena» (arenas-legislatures). Isto é, a actuação em plenário é tida a mais importante, contribuindo ainda para esta classificação muitos outros factores, nomeadamente o sistema partidário, a elaboração das listas concorrentes às eleições, a organização forte dos partidos políticos, o papel dos grupos de pressão, a maior ou menor

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5-PARLAMENTO

tradição parlamentar. A análise interna dos Parlamentos jovens que fazem parte dos sistemas não presidenciais ou com partidos fortes não pode deixar de lado o estudo do envolvimento externo a que aqueles estão sujeitos. Em oposição ao Parlamento arena, Polsby aponta a existência de Parlamento transformador (transformative legislature), que se caracteriza pelo fortalecimento da estrutura interna. Este tipo de Parlamento tende a ser favorecido por partidos cuja estrutura é fraca, onde o debate oral embora importante não é de todo o que mais se destaca, mas sim o trabalho realizado pelas comissões, os

próprios processos de designação, operações de regimentos internos, etc. [254].

Neste âmbito e, apesar de apresentar duas tipologias de Parlamento, Maurizio Cotta [255] defendeu que o estudo dos Parlamentos de formação recente não deve «descurar a parlamentarização dos partidos que operam no seio desses parlamentos». Isto significa que a partidarização parlamentar não impede uma parlamentarização partidária.

3 – A PARTIDARIZAÇÃO DO PARLAMENTO MADEIRENSE Na Região Autónoma da Madeira à semelhança do que ocorre nas democracias europeias, é evidente a clara supremacia dos partidos políticos na formação parlamentar regional. A partidocracia vai, por um lado, manifestar-se através da sobrerepresentação parlamentar.Com a ampla dependência do deputado face ao partido, assistiu-se na prática à substituição do exercício livre do mandato por um mandato imperativo de partido não é, portanto, de estranhar o predomínio dos partidos nos Parlamentos. A tão propagada relação eleito/eleitor situa-se cada vez mais distante a partir do momento em que os eleitores nada mais fazem do que confirmar a escolha de candidatos a deputados, feita única e exclusivamente pelos órgãos centrais do partido, que muitas das vezes não têm em conta a escolha das estruturas locais, acabando por predominar um centralismo dito democrático dentro do próprio partido. Estamos assim, perante um acto altamente selectivo e prévio que se assemelha à entidade

num «jardim secreto» (secret garden) [256] e na maioria das vezes conduz a conflitos intrapartidários. Esta situação tende a verificar-se nos partidos com alto grau de centralização do ponto de vista organizacional e no sistema eleitoral de representação proporcional com círculos amplos. O caso, a nível regional, é característico do PSD, não apenas pelo segundo aspecto acima mencionado mas fundamentalmente pelo facto de existir uma acentuada centralização do partido nas mãos do seu líder. É que as escolhas de deputados têm que ter a sua concordância mesmo perante a contestação dos órgãos locais e sob pena de total inviabilização dos elementos apresentados pelas bases como foi o caso, nas últimas eleições, que decorreram em 1996, com os candidatos

apresentados pelo círculo de Santa Cruz, Camacha, Ribeira Brava [257]. No PS, se esta marca não se encontrava presente nos primeiros tempos, o mesmo já não se

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pode dizer em relação às últimas eleições regionais, em que houve discordância na inclusão de candidatos a deputados, tendo no entanto prevalecido a decisão final da direcção central do partido.

Aqui ressalva-se, contudo, que não estamos perante um fenómeno de centralização [258] da organização partidária, até porque uma das causas de desaire eleitoral desta força política reside precisamente na falta de organização interna do partido, na permanente contestação ao líder partidário, no não acatamento das normas impostas por este. Julgamos tratar-se mais da luta pelo lugar de deputado face ao reduzido número de eleitos, o que leva a que a luta intrapartidária seja forte e acentuada. Em relação às restantes forças políticas esta situação não se coloca tanto, até porque durante as seis eleições regionais já realizadas estes partidos ficam-se pela eleição de um/dois deputados, no máximo três e, todos eles, pelo círculo do Funchal, com excepção da UDP que nas quatro primeiras Legislaturas (1976 a 1988) conseguiu eleger um deputado pelo círculo de Machico, o qual posteriormente passou a integrar as listas do PS na qualidade de independente. Regressando à questão inicialmente posta dos deputados estarem submetidos aos partidos políticos, podemos ainda referir que uma vez dependendo a reeleição do deputado e o lugar que vai ocupar no partido em que está inserido e do seu Grupo Parlamentar, torna-se mais do que evidente que dificilmente o deputado agirá em nome individual, tendo sempre presente que a relação dirigentes/deputados será tanto mais intensa quanto mais fraca for, de igual forma, a relação eleito/eleitor. Com a possibilidade exclusiva de apresentação de candidaturas, de elaboração das listas e sua ordenação, os partidos conseguem um controlo e subordinação total por parte dos deputados, sobretudo no que respeita ao comportamento de voto através de uma rígida disciplina partidária imposta primeiro pelo partido e em segunda instância pelo respectivo Grupo Parlamentar. Neste sentido, o Parlamento em certa medida mais não é do que uma câmara de eco dos partidos por intermédio do grupo parlamentar e em que «o deputado (...) não vai procurar soluções, vai apoiar

soluções pré-estabelecidas» como referido por Rogério Soares [259]. Os Grupos Parlamentares têm vindo a adquirir importância crescente nos modernos parlamentos da Europa, estando constitucionalmente consagrados em alguns países como é o caso de Portugal, e que segundo o autor Manuel Ramirez, a Constituição Portuguesa de 1976 neste âmbito é a que maior atenção dá a este aspecto na medida em que é «sem dúvida a que mais

pormenorizadamente regula a figura do grupo parlamentar» [260]. Desta forma, o Grupo Parlamentar, embora possa estar consagrado na Constituição Portuguesa como sendo simultaneamente órgão do Parlamento e órgão do partido, face à partidocracia aquele mais não é do que instrumento dos partidos políticos, sendo a sua autonomia mais teórica do que prática apesar de estipulada nos estatutos de alguns partidos. Isto quer dizer que o Grupo Parlamentar ao estar submetido ao partido vai acabar por ser mais a voz parlamentar do partido do que propriamente a expressão partidária do Parlamento. Daqui resulta uma dupla subordinação do deputado ao Grupo e ao partido, já que é difícil e não se consegue dissociar um do outro. No Parlamento regional e, tendo em conta o exposto, a regra é seguida à risca para todos os

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partidos com representação parlamentar, ainda mais acentuadamente pelo facto de na política regional os partidos desenvolverem uma acção voltada fundamentalmente para o Parlamento, o que leva a considerar que os partidos praticamente não existem para além do Parlamento madeirense. Esta situação agrava-se no PSD uma vez que, ao ser o partido que está no Governo, a identificação não se faz apenas no âmbito parlamentar, mas também no executivo. Assim, partido/parlamento/ governo regional, acabam quase que por fundir-se numa só entidade política. De salientar que em relação aos partidos que não o PSD, o Parlamento é o mais importante, visto não terem nunca conseguido acesso a qualquer outro órgão. No que diz respeito ao PSD já não será tanto o Parlamento mas o Governo Regional que é tido por órgão mais importante no qual se realizam os grandes acordos e se tomam as principais decisões, limitando-se o Parlamento a confirmar e apoiar estas posteriormente.

Assim, no desempenho da sua função de coordenação [261] dos deputados, isto é, dos membros do partido no Parlamento e, por outro lado, na função de representação do partido nos diferentes serviços da Assembleia, mais uma vez tudo se conjuga no sentido da interdependência partido/grupo parlamentar. Também aqui a situação se torna mais evidente para o PSD, que actua no estrito sentido de orientações provenientes do executivo, sendo precisamente para este que se concentram as maiores atitudes e reflexos dos deputados. No Parlamento regional, os Grupos Parlamentares na sua maioria seguem as orientações políticas emanadas pelas direcções partidárias, o mesmo acontecendo com o PSD, muito embora aqui se possa ressalvar o facto de tais orientações serem mais ditadas individualmente por Alberto João do que propriamente pelo conjunto dos elementos que compõem a direcção partidária. Com isto não queremos dizer que o grupo que constitui esta não tenha força ou importância na tomada de decisões. No entanto, pelas características centralizadoras do líder do PSD, tais orientações tendem a tomar carácter singular, apesar de apresentadas como saindo do partido. Por outro lado, as principais discussões para-legislativas não se realizam tanto na sede partidária social-democrata mas, como já o referimos, no executivo regional. Relativamente ao PS, apenas recentemente esta regra sofreu alteração, prevalecendo nalgumas matérias a tendência do grupo em detrimento das orientações emanadas pela Comissão Política (ver infra, Capítulo VI, ponto 2.)

4 - A PARLAMENTARIZAÇÃO PARTIDÁRIA DO PARLA- MENTO MADEIRENSE

A partidocracia predominante no Parlamento regional implica uma reduzida autonomia e, consequentemente, uma instituição um tanto ou quanto débil que nos coloca perante um parlamento

«mínimo» na terminologia de Mezey [262], o que nem por isso impede que se assista de igual forma à parlamentarização dos partidos com representação política. Isto é «A relação entre os partidos e

os grupos parlamentares não se dá somente num sentido» [263], defendendo Klaus Von Beyme a existência de factores que levam ao reforço simultâneo quer do partido quer do Grupo Parlamentar.

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Na Assembleia Legislativa e perante o facto dos partidos políticos desenvolverem um trabalho voltado fundamentalmente para a actividade parlamentar, podemos referir que houve uma adaptação dos partidos à coerência parlamentar o que fez com que a direcção destes tendesse a deslocar-se para o Parlamento, demonstrando desta forma certa parlamentarização dos partidos com lugar no Parlamento regional. A parlamentarização partidária no âmbito regional tem sido feita mais no sentido de um percurso político do que propriamente como ponto de partida de carreira política fora do Parlamento. Queremos com isto dizer que o Parlamento madeirense não é tido como fonte de recruta-mento para funções de governo e administração regional ou mesmo local, antes pelo contrário, tem sido mais o local daqueles que foram substituídos nos cargos do executivo regional e que irão acabar a sua carreira política no Parlamento. Podemos pois concluir que a Assembleia Regional não tem sido a prancha, o trampolim para o Governo. No que diz respeito à saída de deputados para ocuparem cargos nas Câmaras Municipais, esta situação verificou-se em 1980 com o deputado do PSD eleito pelo círculo de São Vicente, que ao ganhar a presidência da Câmara solicitou a suspensão do mandato, tendo regressado posteriormente em 1996. O mesmo sucedeu em 1989 em que o deputado da UDP, padre Martins, deixa a Assembleia para se dedicar à Câmara de Machico, mantendo-se até ao presente (em 1992 o padre Martins concorreu ao município machiquense pelo PS na qualidade de independente). A terceira situação refere-se a Miguel Albuquerque, que desempenhava o cargo de vice-presidente da Assembleia Legislativa e em 1992 concorreu à Câmara do Funchal em segundo lugar, vindo a ocupar a sua presidência em Outubro de 1993, quando o então presidente Virgílio Pereira, em conflito com o líder do PSD e presidente do executivo madeirense, se demite. Desta forma, o vice-presidente do Parlamento madeirense passou simultaneamente a ser o responsável pela maior Câmara da Região Autónoma, e só nas legislativas de 1996 optou pela dedicação exclusiva à respectiva autarquia, deixando a Assembleia. Face ao exposto, o Parlamento madeirense continua a funcionar mais como um local em que se procura prestígio e onde se adquire estatuto social que permite uma carreira fora da política muito embora ajudada por esta em função dos contactos adquiridos e o fácil acesso aos que detêm o poder. O facto dos partidos também estarem dominados pela lógica parlamentar, vai-se manifestar a outros tantos níveis nomeadamente através da maior profissionalização parlamentar dos deputados, bem como numa especialização mais profunda e ainda na reeleição destes, grupo etário, tipo de

recrutamento adoptado, etc. [264]. Isto é, a parlamentarização partidária será tanto mais acentuada quanto mais, em termos ideológicos, a democracia parlamentar não for um mero instrumento nas mãos dos partidos políticos. Será tanto maior quanto mais os partidos desenvolverem uma acção tendo em conta os objectivos parlamentares, quanto mais a direcção do partido se deslocar para o interior do Parlamento e quanto mais e maior importância o Grupo Parlamentar tiver no partido. A parlamentarização dar-se-á, embora de forma lenta, quanto mais for tido em conta o Parlamento em si mesmo, mas isso exige uma grande dose de abstracção ou cultura política, que brilha pela ausência. A nível regional esta parlamentarização já é evidente, acentuando-se mais pelo facto dos

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dirigentes partidários serem ao mesmo tempo líderes do Grupo Parlamentar. Aliás esta é uma característica também presente na Assembleia da República. Por outro lado, e sobretudo no que se refere aos partidos da oposição, face à sua dificuldade de implantação fora do Parlamento, estes tendem a se submeter aos mecanismos da actividade parlamentar nos seus diferentes graus, pois só assim conseguem chegar à população e fazer frente ao partido que está no poder há vinte anos. Do que se observa até ao momento é de concluir que as tendências referidas não se excluem uma à outra, indo no sentido de se complementarem. Consideramos que os partidos políticos continuarão a desenvolver intensa actividade no Parlamento, até porque o facto dos que estão na oposição não disporem de hipóteses de participar em qualquer outro órgão, leva-os a aproveitar ao máximo as oportunidades fornecidas pela representação parlamentar. Por outro lado, pelo estudo efectuado e à semelhança do que ocorre noutros Parlamentos, a relação deputado/grupo parlamentar/partido dificilmente sofrerá alteração. Tal como tivemos oportunidade de verificar este aspecto não invalida de forma alguma que, em simultâneo, se assista à parlamentariza-ção partidária, até por a Assembleia Regional não ser um meio através do qual os deputados possam posteriormente exercer funções governativas, leva a que estes se dediquem e especializem em certos assuntos, assumindo protagonismo no meio parlamentar. Constata-se, pois, que há um todo interligado, não sendo possível individualizar o fenómeno da partidarização do parlamento madeirense e da parlamentarização partidária deste. Existe uma nítida relação de complementaridade entre estas duas tendências.

[235] Adriano Moreira, «O Regime: Presidencialismo de Primeiro-Ministro», in Mário Batista Coelho

(coord.), Portugal - O Sistema Político e Constitucional, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, pp. 31-37.[236]

Ver Jurgen Habermas, Mudança Estrutural da Esfera Pública, op. cit., pp. 233 e segs.[237]

Fernando Santaolalla, El Parlamento en la Encrucijada, Madrid, Eudema, Ediciones de la Universidad Complutense, 1989, pp. 13-35. Ver ainda Maurizio Cotta, «Representação Política», in Curso de Introdução à Ciência Política-Voto e Representação Política, (7 unidades), IV unidade, Brasília, Universidade de

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Brasília, 1984. O autor refere que o debate político efectua-se fora da esfera parlamentar, nomeadamente «entre partidos, organizações sindicais, forças económicas e entre canais de comunicação fornecidos pelos «mass media», pp. 5-13.[238]

Cf. Joel Boudant, «La Crise Identitaire du Parlement Français», in Revue du Droit et de la Science Politique en France et à L'Étranger, Paris, Librairie Générale du Droit et de la Jurisprudence, nº 5, 1992.[239]

Cf. Ramón Garcia Cotarelo, Del Estado del Bienestar al Estado del Malestar, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1986.[240]

Sobre a evolução histórica dos Parlamentos ver Maria L. Abrantes Amaral, «Parlamento», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 4º, Lisboa, Verbo, 1983, pp. 975-982. [241]

Ver Maurizio Cotta, «Parlamento», in Dicionário de Política, dir. por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, pp. 877-888.[242]

Idem, p. 884.[243]

Vicente Barreto, Voto e Representação in Curso de Introdução à Ciência Política – Voto e Representação Política, op. cit., pp. 15 e segs.[244]

Friedrich Koja, «Existe-il une Crise du Parlementarisme?», in Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra, Universidade de Coimbra, vol. LIX, 1983, p. 49. Ver também Max Weber, «Essays in Sociology, op. cit., onde o autor afirma que o sufrágio universal permitiu que o poder dos notáveis locais se transferisse para as máquinas partidárias que actuam numa base nacional (pp. 159 e segs.). Neste âmbito e com esta base de actuação mais abrangente, passa a ser adoptado o marketing no campo da política e o esclarecimento acaba por ser substituido pelo espectáculo, pela diferênciação de mensagens e adequação às posições do consumidor apolítico «(...) A cena pública é portanto monopolizada por um actor político, que transforma os cidadãos em espectadores, e os militantes em figurantes». Roger-Gerard Schwartzenberg, O Estado Espectáculo, Rio de Janeiro, Difel, 1978, p. 330.[245]

Manuel Garcia-Pelayo, El Estado de Partidos, Madrid, Alianza, 1986, p. 36.[246]

J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, op. cit., p. 723.[247]

Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p.177.[248]

Maria Rosa Rippollés Serrano, «Mayorias - Minorias en la Construccion Europea», in Revista de Las Cortes Generales, Madrid, ed. Cortes Generales, nº 24, 3º quadrimestre, 1991, p. 47.[249]

A este propósito é de referir Arend Lijphart, Sistemas Electorales y Sistemas de Partidos, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1995, p. 29, onde o autor escreve: «Como se elige a estos representantes?. Esta tarea indispensable de las democracias representativas es llevada a cabo por el sistema electoral, esto es, el conjunto de métodos para traducir los votos de los ciudadanos en escanõs de representantes. De este modo, el sistema electoral es el elemento más importante de la democracia representataiva».[250]

Moisei Ostrogorski, La Démocratie et les Partis Politiques-présentation de Pierre Rosanvalon, op. cit.,

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pp. 78-79.[251]

Joaquim Aguiar, «Sobre a Democracia em Portugal - Eleições, Parlamento, Partidos», in Análise Social, Instituto de Ciências Sociais, nº 100, 3ª série, vol. XXIV, 1988, p.83.[252]

Joaquim Aguiar, Partidos, Eleições, Dinâmica Política, in Análise Social, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, nº 125/126, 4ª série, vol. XXIX, 1994, 1º - 2º, p. 223.[253]

Nelson W. Polsby, «Legislatures», in Fred I. Greenstein e Nelson W. Polsby (org.), Handbook of Political Science, Reading, Mass., Addison-Wesley, vol. V, 1975, pp. 257-319.[254]

Idem, pp.257 e segs.[255]

Maurizio Cotta, Classe Política e Parlamento in italia, 1946-1976, Bolonha, II Mulino, 1979, p. 290, cit. por Manuel Braga da Cruz, «Sobre o Parlamento Português, partidarização parlamentar e parlamentarização partidária», in Análise Social, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, nº 100, 3ª série, vol. XXIV, 1988, 1º, p. 105.[256]

Michael Gallagher e Michael Marsh, Candidate Selection in Comparative Perspective. The Secret Garden of Politics, Londres, Sage Publications, 1988, p. IX.[257]

Diário de Notícias - Madeira, 3 de Agosto de 1996. [258]

Diário de Notícias - Madeira, 5 e 19 de Agosto de 1996.[259]

Rogério Soares, «Sentido e Limites da Função Legislativa no Estado Contemporâneo», in J. Miranda e Marcelo Rebelo de Sousa (coords.), A Feitura das Leis, vol. II, Lisboa, INA, 1986, p. 440.[260]

Manuel Ramirez, «Teoria y Practica del Grupo Parlamentario», in Revista de Estudios Politicos, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, nº 11, Setembro-Outubro, 1979. O autor refere que o facto da nossa Constituição fixar as competências e os direitos dos grupos, como seja o de dispor de locais de trabalho com pessoal de sua confiança «es realmente insólito en un texto constitucional», p. 9. [261]

CF. Jean Claude Colliard, Les Régimes Parlementaires Contemporains, Paris, Presses de la Fondation Nationale de Sciences Politiques, 1978.[262]

Michael L. Mezey, «The Functions of a Minimal Legislature: Role Perceptions Among Thai Legislators», in Western Political Quarterly, nº 25, 1972, pp. 686-701, cit. por Jr. Walter C. Opello, «O Parlamento Português: análise organizacional da actividade legislativa», in Análise Social, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, nº 100, 3ª série, vol. XXIV, 1988, 1º, p. 128.[263]

Klaus Von Beyme, «Governments, Parliaments and the Structure of Power in Political Parties», in Hans Daalder & Peter Mair, Western European Party Systems. Continuity and Change, Londres, Sage, 1983, p. 361.[264]

Alguns destes elementos são focados de forma pormenorizada no Capítulo VIII.

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VI

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL 1 – OS GRUPOS PARLAMENTARES

«O mercado da política é, sem dúvida, um dos menos livres que existem (...) São muitos na verdade, os instrumentos de redução da competência social dos representados». Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico, Lisboa, Difel, p. 166.

De acordo com a Constituição Portuguesa «os deputados eleitos por cada partido ou coligação podem constituir-se em grupo parlamentar» pelo que não é obrigatória a formação dos deputados em grupo, sendo apenas uma faculdade que estes têm ao seu alcance. Apesar do que acabamos de expor o não integrar-se no respectivo Grupo Parlamentar não é situação comum nem tão pouco beneficia o deputado do ponto de vista individual. Aliás, nos Parlamentos modernos, os grupos são considerados como a espinha dorsal do seu funcionamento e muito embora nos possamos deparar com situações diferentes, não impede o consenso de que na vida parlamentar o deputado em si mesmo deu lugar ao «sujeito

colectivo grupo parlamentar» [265]. Neste âmbito o autor Juan Aguilar fala em «mais rotundo protagonismo dos Grupos», acrescentando que «os grupos absorvem e canalizam implicitamente cem por cento das energias individuais dos deputados, por imperativo aliás, da ordem

parlamentar » [266].

O facto de Jorge Miranda [267] ter afirmado que a «Constituição de um Grupo Parlamentar é uma faculdade, não uma necessidade», acaba por ter razão unicamente do ponto de vista formal perante todo o conjunto de direitos constitucionais de que gozam os Grupos Parlamentares. Esta situação comum não só em Portugal, faz com que todos os partidos que apenas tenham conseguido eleger um deputado tentem obter direitos idênticos ao do grupo, o que demonstra até que ponto o Grupo Parlamentar é importante no funcionamento do Parlamento e

foi na realidade o que substituiu o deputado em si [268]. Neste sentido Jean Laport e Marie-Jose Tulard que estudaram este problema chegam a aferir que a luta partidária é no sentido «de obter

um número de eleitos ao menos suficiente para poder constituir-se grupo em assembleia» [269].

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Na Assembleia Legislativa, o CDS, PCP, PSN e UDP foram os únicos partidos que apenas conseguiram eleger um deputado em determinadas legislativas. Assim, e em relação ao primeiro partido tal verificou-se na II e III Legislaturas (1980/1984; 1984/1988), o mesmo se passando com o PCP que para além destas vive igual situação na V Legislatura, já que na 4ª não conseguiu eleger nenhum (de salientar que na Legislatura que decorre esta força política elegeu dois deputados). Em relação ao PSN, partido que concorreu pela primeira vez em 1992 (V Legislatura) o mesmo conseguiu somente um deputado. Por fim e no que diz respeito à UDP, na Legislatura que decorre (1996/2000) apenas conseguiu um deputado, já que nas restantes ficou-se por dois/três. Estes deputados, apesar das reivindicações no sentido de adquirirem maiores direitos e tempos para intervir, acabaram por se submeter ao estipulado no Regimento da Assembleia Legislativa Regional. Embora não constituindo grupo, de acordo com o artigo 21º do citado Regimento, foi atribuído a cada deputado o direito de «dispor de local de trabalho na sede da Assembleia (...) bem como de pessoal técnico e administrativo de sua confiança». A este propósito é de referir a polémica que se estabeleceu entre o PCP e o presidente da Assembleia Regional, no sentido de que este partido, pelo facto de ter eleito dois deputados exigia as instalações da UDP que a despeito de apenas ter eleito só um deputado continuava a manter as mesmas instalações que anteriormente. Em termos físicos este espaço apresenta melhores condições do que o atribuído ao deputado do PCP. Não obstante as reclamações apresentadas não se constatou qualquer alteração. 2 – O MANDATO INDIVIDUAL A supremacia do partido primeiro, e do Grupo Parlamentar depois, leva inevitavelmente à

diminuição de poderes do deputado sendo esta uma opinião partilhada por muitos autores [270]. António Barreto ao falar sobre o caso português refere mesmo que «A prevalência dos partidos sobre o deputado individual, ou até sobre o Grupo Parlamentar, atinge em Portugal dimensões

praticamente inéditas» [271]. Mesmo quando do ponto de vista jurídico são apontados aspectos para valorizar o mandato individual, que permitiriam colocar de lado a afirmação de que os Grupos Parlamentares

e partidos «substituiram por inteiro o papel próprio de cada Deputado» [272] como defende

Marcelo Rebelo de Sousa chamando a atenção para um conjunto de factores de valorização [273], a verdade é que se tal é aceitável em termos formais, o mesmo já não se verifica quando se analisa realmente o que se passa na prática. E o que temos vindo a assistir é, sem margem para dúvidas, a primazia do partido e Grupo Parlamentar em detrimento da actividade individual do

deputado. Se é correcto, como defende Gomes Canotilho [274], que a «titularidade dos mandatos é individual, compondo-se o parlamento de deputados e não de grupos», não podemos, por outro

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lado, ignorar, que esta situação só se assume de facto quando existem situações de ruptura entre o deputado e o partido, em que a lealdade, o compromisso partidário pura e simplesmente acaba. Em vinte anos de autonomia político-administrativa, no Parlamento madeirense, com um total de trezentos e quatro deputados, ao longo de seis Legislaturas, apenas se constatou duas situações em que um dos deputados de duas forças políticas romperam com a disciplina partidária, não tendo contudo abandonado o partido para permitir a sua substituição. O primeiro destes casos deu-se com a UDP na Legislatura que decorreu de 1988 a 1992 (IV Legislatura), isto é, precisamente naquela em que este partido conseguiu pela primeira e

única vez eleger três deputados à Assembleia. Um deles, o deputado Artur Andrade [275], após conflitos com a direcção do partido, solicita e adquire o estatuto de independente em 12/11/91 até final da Legislatura, a partir da qual abandona o partido, ligando-se mais tarde ao PCP. O segundo destes, verificou-se no PSD na penúltima Legislatura (5ª - 1992/1996), com o deputado Fausto Pereira, que desde 1976 fazia parte do Parlamento regional, ou seja, este elemento desde sempre concorreu pelo círculo eleitoral de Câmara de Lobos, tendo ocupado o primeiro lugar na lista de candidatos do PSD e, como tal, a garantia de eleição. De salientar que Fausto Pereira juntamente com Alberto João Jardim e Nélio Mendonça são os únicos deputados que fazem parte do Parlamento madeirense desde a I Legislatura. Em Novembro de 1995 na sequência de afirmações efectuadas por Jaime Ramos (líder da bancada PSD), mais concretamente de que «se estava a marimbar para a Assembleia da

República» e para «Portugal» [276] (a Procuradoria-Geral da República não considerou haver fundamento para considerar crime tais declarações, pelo que a abertura de inquérito não se

chegou a realizar) [277], Fausto Pereira escreveu ao líder do partido maioritário, referindo que já é «tempo de dizer basta». A partir daqui as relações estabelecidas entre o deputado, o líder do Grupo Parlamentar (Jaime Ramos) e o presidente do partido tornam-se tensas, agravando-se quando, um mês mais tarde, em Dezembro, no hemiciclo, o referido deputado utiliza o tempo de intervenção de antes da ordem do dia, pertencente a um deputado socialista, nomeadamente ao

líder do Grupo Parlamentar do PS, Fernão Freitas [278]. Neste período de antes da ordem do dia, Fausto Pereira repete o discurso que tinha feito no VIII Congresso Regional do PSD, o qual se baseava em fortes críticas à actuação de Alberto

João, chamando a atenção para a necessidade imperiosa de «uma limpeza» [279] à volta de Jardim daqueles que apenas o prejudicavam bem como ao próprio partido.

Fausto Pereira é acusado de «estar feito» [280] com os socialistas e torna-se persona non

grata, não conseguindo apoios para a existência de «um PSD/M puro» [281]. Apesar de lhe ter sido retirada a confiança, o deputado em causa mantém-se até final do mandato, tendo nas eleições legislativas regionais de 1996 concorrido pelo CDS/PP no círculo eleitoral de Câmara de Lobos, não tendo contudo, sido eleito.

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Nos restantes partidos com representação no Parlamento, a quebra de disciplina partidária nunca se verificou e, apesar de no PS, UDP e PCP, nos depararmos com deputados cujo estatuto é de independente, a verdade é que não assistimos ao exercício independente do mandato, o que significa que estes integraram-se no Grupo Parlamentar não manifestando iniciativas e posições individuais, submetendo-se de igual forma à disciplina partidária. Apesar do referido, há, no entanto, que destacar a situação por que passa o PS no momento, que como já tivemos oportunidade de referir, assume contornos invulgares e que consiste no confronto entre o líder parlamentar do maior partido na oposição Fernão Freitas e o líder do respectivo partido Mota Torres.Este último é acusado do desaire eleitoral em que o partido se encontra, pelo que no dizer da facção representada pelo Grupo Parlamentar a demissão daquele é inevitável, baseando-se no

facto de que a «continentalização» [282] de Mota Torres e sua equipa não permitir o PS ganhar as eleições ao PSD.A instauração de processos disciplinares a alguns deputados e ao próprio líder da bancada na sequência de declarações públicas contra Mota Torres não se fizeram esperar, bem como o anúncio da retirada de confiança a Fernão Freitas.Contudo, apesar das cartas enviadas a diversas instâncias, entre elas Assembleia Legislativa e Governo Regional, dando a conhecer a falta de confiança do presidente do PS no responsável pelos deputados no Parlamento madeirense, a verdade é que na sequência do voto de confiança dado a Fernão Freitas por estes, com excepção de André Escórcio, o líder do Grupo Parlamentar continua nas suas funções de orientação e liderança deste Grupo.Como consequência, na prática, deparamo-nos com duas facções em que à frente de uma delas continua Mota Torres que afirma de forma vincada existir apenas um partido pelo qual é responsável e não dois Partidos Socialistas como é defendido. Por outro lado, deparamo-nos com uma outra facção, constituida pela maioria dos deputados ao Parlamento regional (com excepção de um como referido) e que segue as orientações emanadas pelo, julgamos, ainda líder do Grupo Parlamentar.Esta situação atingiu níveis de tal ordem, que frequentemente assistimos a iniciativas marcadas por ambos os líderes em locais diferentes mas à mesma hora, cada um acompanhado dos seus apoiantes. Desta forma, nos órgãos de comunicação social a actividade do PS não raras vezes, aparece referida em duas vias.À parte tudo isto, há que salientar a linguagem extremamente agressiva adoptada entre os membros das duas facções. Num artigo recentemente publicado no Diário de Notícias - Madeira, Duarte Caldeira presidente da Comissão Política Regional do PS, ao ser apelidado de «mentalidade oca»; «medíocre» e «reformado», referia que a estabilidade no partido está longe de se atingir e que as brigas só iriam terminar nas próximas eleições regionais: «escolhendo bem um

Grupo Parlamentar, pessoas que respeitem os estatutos do PS» [283].Por todo o exposto, e contrariamente ao que se passou no PSD e UDP, em que se verificou uma nítida ruptura com a disciplina partidária que levou posteriormente à saída dos deputados em

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causa dos respectivos partidos e ingresso noutros, no PS embora estejamos perante a quebra de disciplina partidária esta não se limita ao deputado/partido do ponto de vista puramente individual, mas a algo mais abrangente que visa única e exclusivamente a destituição de uma liderança e consequente aquisição e manutenção da mesma por uma outra facção e, por outro lado, a manutenção de liderança ganha em Congresso.Por parte dos vários deputados envolvidos neste todo, nunca se colocou em questão a sua saída e abandono do partido por força de desrespeito pelos Estatutos do partido.

Ainda neste âmbito, Maurizio Cotta [284] defende que é precisamente a dependência dos deputados relativamente aos órgãos partidários que vai repercutir-se, de forma profunda, em todo o jogo político, fazendo com que a oposição tradicional entre legislativo e executivo dê lugar a um conflito entre governo e maioria parlamentar por um lado, e oposição por outro. Ninguém dúvida de que é à oposição que cabe o controlo do executivo que não consegue ser feito pela maioria parlamentar, refere Giuseppe De Vergottini que: «a máxima garantia resulta do controlo exercido pelo legislativo sobre o executivo que se transformou naquela segurança do

controlo exercido pela minoria da oposição sobre a maioria» [285]. Este fenómeno verifica-se de modo geral, na maioria dos Parlamentos modernos,

podendo-se todavia considerar que em Portugal o Estado de Partidos [286] tem efeitos não apenas «no quase monopólio de facto da representação política» mas coloca-nos também perante um «quase monopólio de direito» como referido por Gomes Canotilho e Vital

Moreira [287]. A sede de facto do poder neste tipo de Estado reside no Governo, bem como no partido que conta com a estrita colaboração da maioria parlamentar, já que é impensável que esta maioria não apoie o Governo e seja ela própria a fiscalizar o segundo poder, isto é, o poder executivo. Muito embora a restrição individual do deputado exista em todos os partidos políticos, esta tende a ser talvez mais visível no partido que dispõe de maioria pois a esse interessa-lhe manter e garantir a solidariedade partidária para com o Governo. Claro que se esta questão se torna mais evidente no PSD como maioria parlamentar, em que o presidente do Governo Regional é o líder incontestável do partido e, logo da maioria que está no Parlamento, o que faz com que esta maioria se funda no Governo para efeitos de decisão

política [288], não ignoramos que o fenómeno ilustrado por Klaus Von Beyme, «a relação dos deputados com o Grupo Parlamentar compara-se com a do cão de Pavlov, que executa as suas acções por reflexo de determinados sons, que no Parlamento não são senão o som das campainhas

que anunciam a votação», [289] atinge todos os partidos independentemente de constituirem a maioria ou minoria parlamentar. Esta ideia é ilustrada por Manuel Garcia-Pelayo quando refere que «tendo sido o deputado eleito em virtude do seu carácter de membro de um partido, considera-se uma obrigação natural daquele sob este: os seus critérios pessoais vão ceder perante os critérios do partido, sob pena de

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abandonar e destruir a sua carreira política» [290]. 3 – A IMAGEM Com os resultados eleitorais obtidos pelas diferentes forças políticas representadas na Assembleia Legislativa, coloca-se a questão de saber até que ponto os deputados respeitam as regras do jogo parlamentar; até que ponto as normas de convivência entre os deputados se estabelecem, são aceites e aprofundadas, até que ponto aqueles resultados permitem que se viole a disciplina de voto partidária. Em relação a este último ponto tivemos já oportunidade de verificar que no Parlamento madeirense se assistiu apenas por duas vezes a um confronto directo com o Grupo Parlamentar, vindo este da UDP e PSD. O PSN não sabemos até que ponto podemos considerar violação de

disciplina [291] se bem que tenha havido conflito entre o único deputado deste partido com a direcção, tal acabou por ter carácter mais pessoal do que constituir um confronto com tomadas de decisão no âmbito do estabelecimento de políticas a nível regional. No que diz respeito aos outros aspectos, face ao reduzido grau de autonomia do Parlamento, as normas de comportamento universalista traduzem um nível pouco elevado. Se tivermos em conta que a nomeação para os diferentes cargos obedece mais a critérios partidários, do que de valor, mérito ou especialização, a tomada de decisões universalista torna-se difícil de alcançar. Por outro lado, se a actividade interna da Assembleia permite uma certa coexistência entre os diferentes partidos políticos, esta não é suficientemente forte para fazer frente às orientações dos Grupos Parlamentares das respectivas forças políticas. A nível regional, o permanente consenso registado a todos os níveis provocado pela mesma maioria parlamentar pertencente há vinte anos ao PSD, não permite que o Parlamento adquira grande importância no processo de tomadas de decisão consideradas fundamentais para o desenvolvimento da região, o que se acaba por traduzir no apagamento do seu papel político. A lealdade dos deputados não se regista para com ele, mas sim para com o partido. Isto não quer dizer que o Parlamento regional não tenha a sua própria forma de funcionamento e que os partidos não o valorizam, simplesmente há um domínio na sua organização por parte daqueles e, neste caso, particularmente do PSD. O Parlamento é valorizado sem dúvida alguma, caso contrário não fazia sentido os líderes dos Grupos Parlamentares serem frequentemente os dirigentes partidários ou situarem-se logo a seguir a estes, situação vivida pela UDP e CDS em que desde sempre o líder do partido foi de igual forma do Grupo Parlamentar. No PS, apenas na presidência de Emanuel Jardim Fernandes se verificou o mesmo líder em ambos os órgãos e, mesmo assim, por um período de oito anos, quando este durante treze anos seguidos ocupou a presidência do partido. Em relação ao PSD o que acontece é que pelo facto de deter um controlo de toda a actividade parlamentar, a Assembleia perde em parte a sua autonomia face ao exterior, sobretudo no que se refere à formulação de políticas, limitando-se a ter uma função de legitimação das

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acções desenvolvidas pelo Governo Regional. É apenas neste sentido que dissemos que o Parlamento regional não desempenha papel importante no processo de decisão política pois, como se sabe, por muito que se fale da primazia dos partidos no Parlamento não se concebe a actividade parlamentar sem a intervenção fundamental dos partidos políticos, o que aliás não é só característico no Parlamento madeirense, mas na generalidade das democracias contemporâneas. Um outro ponto a destacar tem a ver com a falta de educação, de cortesia entre os deputados no âmbito das intervenções realizadas, isto é, o «clima de simpatia» que Polsby fala, não existe de todo na Assembleia Legislativa, onde os insultos, a troça, a gozação, se sobrepõe muitas das vezes ao debate sério e útil que qualquer assunto em apreciação exige de pessoas interessadas nas coisas públicas. A Assembleia Regional coloca-nos perante um Parlamento extremamente rude e cruel, sendo este comportamento mais visível nos deputados da maioria parlamentar, em que alguns parecem tornar um ponto de honra o uso de palavras fortes e expressões provocatórias, o que se compreende tendo em conta os condicionalismos do parlamento e a relação de poder. Se é um facto que qualquer partido que obtenha maioria parlamentar tenta dominar toda a actividade parlamentar e extra-parlamentar, parece-nos contudo, que no Parlamento regional a maioria mais que absoluta conseguida pelo PSD de forma ininterrupta traduz-se fundamentalmente numa hegemonia que se reflecte em termos práticos no desrespeito pela oposição, diríamos mesmo num quase desprezo pela sua existência, em que esta é apresentada como o «bobo da corte». Nunca tendo o PSD conhecido o sabor da derrota ou, sequer estado à beira dela, os seus deputados apresentam uma postura prepotente e arrogante, própria de quem sabe que à partida todas as lutas, independentemente do seu grau de dificuldade, estão ganhas. Neste aspecto, a questão que se coloca em relação à população reside precisamente no

facto desta considerar que a maioria dos deputados vive da política e não para a política [292], que o trabalho desempenhado na Assembleia Legislativa não é sério, mantendo-se a ideia de pouco rigor, bisbilhotice e uma má imagem na generalidade, que em nada abona a favor dos

representantes do povo e do Parlamento em geral [293]. Esta imagem poderia ser mudada, mas como o tempo nos tem mostrado face às particularidades do predomínio de um partido sobre os restantes, tal não se nos afigura de todo viável.

[265] Ver Maria Rosa Ripolles Serrano, «Mayorias - Minorias en la Construccion Europea», op. cit., p.

38.[266]

Juan Fernando López Aguilar, La Oposicion Parlamentaria y el Orden Constitucional- Análisis del Estatuto de la Oposición en España, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1980, p. 206.

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[267] Jorge Miranda, «Grupo Parlamentar», in Polis, Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol.

3º, Lisboa, Verbo, 1985, p. 134.[268]

Relativamente a esta situação Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, op. cit., p. 723, vão referir o seguinte: «Na prática parlamentar da AR, o papel dos GPs é de tal modo importante e tende a secundarizar, de tal modo o papel individual dos deputados, que, em certo sentido, a AR funciona muito mais como um conjunto de GPs do que como um conjunto de deputados». [269]

Jean Laporte e Marie-Jose Tulard, Le Droit Parlementaire, Paris, PUF, 1986, p. 52.[270]

Neste âmbito ver: Bernard Chantebout, Droit Constitucionnel et Science Politique, Paris, Armand Colin, 1983, p. 661; Jacqques Leruez, Gouvernement et Politique en Grande-Bretagne, Paris, Presses de la Fondation Nationale de Science Politique, Dalloz, 1989, pp. 48 e segs.; Jurgen Habermas, Mudança Estrutural da Esfera Pública, op. cit., p. 238; Juan Fernando López Aguilar, La Oposición Parlamentaria y el Orden Constitucional – Análisis del Estatuto de la Oposición en España, op. cit., pp. 72 e segs.[271]

António Barreto, «Assembleia da República: uma instituição subalternizada», in Risco, Lisboa, Fragmentos, nº 13, Primavera, 1990, p.102.[272]

Marcelo Rebelo de Sousa, Os Partidos Políticos no Direito Constitucional Português, op. cit., p.514.[273]

Idem, p. 514. Segundo o autor estes factores são «a inclusão de candidatos independentes nas listas partidárias relativas às eleições parlamentares (...) consagração constitucional da figura do Deputado independente (...) e que não possa perder o seu mandato (...) manutenção de uma zona de poderes parlamentares específicos dos Deputados individualmente considerados (...) a separação de poderes e a clivagem de posições entre os partidos políticos e os respectivos Grupos Parlamentares.[274]

J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional, 5ª ed., Coimbra, Almedina, 1991, p. 743 e segs.[275]

Fonte: Assembleia Legislativa Regional e Grupo Parlamentar da UDP.[276]

Diário de Notícias - Madeira, 19 de Novembro de 1995.[277]

Diário de Notícias - Madeira, 24 de Novembro de 1995.[278]

Diário de Notícias - Madeira, 14 de Dezembro de 1995.[279]

Diário de Notícias - Madeira, 24 de Novembro de 1995.[280]

Diário de Notícias - Madeira, 14 de Dezembro de 1995.[281]

Diário de Notícias - Madeira, 22 de Abril de 1995.[282]

Diário de Notícias - Madeira, 28 de Fevereiro de 1998.[283]

Diário de Notícias - Madeira, 5 de Junho de 1998.

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[284] Maurizio Cotta, «Parlamento», op. cit., p. 883.

[285] Giuseppe De Vergottini, Diritto Costituzionale Comparato, 2ª ed., Pádua, CEDAM. 1987, p. 430.

[286] Georges Burdeau, O Estado, op. cit., p. 107. O autor elabora uma distinção entre Estado partidário e

Estado de partidos, em que o primeiro é instrumento do partido único e o segundo existe «no regime de poder aberto que corresponde ao que se convencionou chamar democracias ocidentais». Neste âmbito ver ainda: Manuel Garcia-Pelayo, El Estado de Partidos, op. cit., p. 85 e segs.[287]

Ver J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Fundamentos da Constituição, Coimbra, Coimbra, 1991, p. 196.[288]

Arend Lijphart, As Democracias Contemporâneas, op. cit., pp. 99 e segs. O autor destaca que «um outro processo de realçar as diferenças existentes entre o presidencialismo e o parlamentarismo consiste em estabelecer um confronto entre separação dos poderes executivo e legislativo e fusão destes dois domínios».[289]

Klaus Von Beyme, Los Partidos Politicos en las Democracias Occidentales, Madrid, Centro de Investigaciones Sociologicas, Siglo XXI de España (ed.), 1982, p. 399.[290]

Manuel Garcia-Pelayo, El Estado de Partidos, op. cit., p.36. .[291]

Diário de Notícias - Madeira, 22 de Maio de 1995 e 6 de Setembro de 1995.[292]

Sobre este tema ver Max Weber, O Político e o Cientista, Lisboa, Presença, 1979.[293]

Ver: Maria José Stock, A imagem dos partidos e a consolidação democrática em Portugal – resultados dum inquérito, in Análise Social, Instituto de Ciências Sociais, nº 100, 3ª série, vol. XXIV, 1988, pp. 151-161. A autora com base num inquérito apresenta um quadro interessante sobre a imagem que os cidadãos portugueses têm das formações políticas.

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VII

O LUGAR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL 1 – AS FUNÇÕES DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

«A técnica da representação terá sido tão decisiva para o desenvolvimento político do Ocidente como foi para o desenvolvimento técnico da humanidade a invenção do vapor, da electricidade, do motor de explosão ou de força atómica». Karl Lowenstein, Teoria de la Constitución, Barcelona, Ariel, p. 60, s.d.

Quando falamos do Parlamento, a função que em primeiro lugar lhe atribuimos é a de representação do povo, já que todos aqueles que lá estão foram eleitos através de uma eleição directa. Estamos assim, perante um órgão onde encontramos uma facção que apoia o poder e uma oposição que lhe faz frente. Qualquer Parlamento de uma ou outra forma é tido como elo de ligação

entre o povo e o Governo [294]. Aos Parlamentos cabe a definição de políticas, sendo neste que se efectua todo o processo de decisão, independentemente de estarmos perante um Parlamento com maior ou menor influência [295]. Para além desta função existe ainda a de limitação do poder e controlo do seu exercício, o que se torna essencial no funcionamento das instituições democráticas. Em relação ao controlo é de

referir que nesta função, consoante os autores, são inseridas mais ou menos competências [296]. 2 – A ACTIVIDADE LEGISLATIVA A função legislativa do Parlamento constitui em si a função parlamentar por excelência e o facto desta competência ser partilhada pelo Governo não retira à Assembleia o seu mérito, afirmando Gomes Canotilho que «ainda hoje, a função de fazer leis e o papel que ocupa nesse quadro confere à Assembleia da República do ponto de vista estritamente jurídico, a posição de

órgão legislativo por excelência» [297]. Opinião semelhante tem Eduardo Espín Templado «A função legislativa representa em princípio, o núcleo duro do poder político, tanto que é a fonte de produção das normas superiores, pelas quais se rege a comunidade política e é, portanto, lógico que seja o órgão que representa directamente o povo, titular da soberania, quem ostente a titularidade

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da função legislativa (...) Na essência, a função legislativa é precisamente sua razão de ser primária:

trata-se, na terminologia clássica, do poder legislativo» [298]. Pela Constituição Portuguesa foi concedido às Regiões Autónomas poder legislativo «em matérias de interesse específico para as regiões que não estejam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania», podendo ainda legislar sob autorização da Assembleia da República nas matérias que sejam tidas de interesse para a Região e não se encontrem na exclusiva competência

dos órgãos de soberania [299]. Na segunda revisão constitucional, a denominação da Assembleia Regional como órgão de governo próprio foi alterada, passando a designar-se «Assembleia Legislativa Regional», sublinhando-se desta forma o aspecto de órgão legislativo relativamente ao

órgão administrativo da Região: a Assembleia Regional [300]. O primado legislativo mesmo que condicionado às matérias de interesse específico da Região faz com que a competência legislativa da Assembleia seja a mais importante função do Parlamento madeirense. A questão que se coloca quando se trata de fazer uma análise ao funcionamento do Parlamento regional tem a ver com as relações que se estabelecem entre o governo, a maioria parlamentar, a oposição. A tónica principal não assenta na colaboração e articulação entre a Assembleia Legislativa Regional e o Governo Regional, na medida em que aquela deve existir por forma a que o executivo consiga pôr em prática o seu programa. O aspecto principal reside

precisamente «na intensidade de que se reveste (...) a participação-colaboração» [301]. Tendo em conta a representação política na Assembleia e o consequente predomínio do PSD, o tipo de relação que se institui entre Parlamento/Governo é de crucial importância, ainda mais quando ao Governo Regional lhe é confiada a adopção e aplicação de políticas regionais, mas em que a Assembleia Legislativa Regional tem também papel importante na adopção e aplicação de tais políticas. Isto é, o Parlamento regional não se limita à intervenção somente através da legitimação dos actos do Governo Regional, mas intervém de igual forma por intermédio da actividade legislativa. A perda de centralidade verificada em função do acordo efectuado fora do Parlamento madeirense, ou seja, no âmbito partido/governo/asso-ciações, ou mesmo dentro do Parlamento, através da maioria parlamentar/partido/governo, não se constata do ponto de vista jurídico, situando-se mais ao nível prático, ao nível dos factos, isto porque em termos formais as competências do Parlamento Regional são importantes e decisivas na tomada de qualquer decisão. A ampla maioria obtida desde sempre pelo PSD nem por isso leva a que o Governo madeirense deixe de recorrer ao «voto preventivo de investidura fiduciária (...) previamente à apresentação do programa». Este voto adquire importância vital na medida em que assume o papel

«de um acto de confiança primário e condicionante do futuro comportamento do governo» [302]. No parlamento madeirense o aumento das iniciativas legislativas verificou-se ao longo das Legislaturas, o que significa que o Parlamento foi procurado como meio de apresentação de propostas políticas. Isto implicou não só um acréscimo do trabalho parlamentar, que se repercutiu no

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maior grau de competitividade e conflitualidade entre os partidos políticos, tendo-se acentuado aquelas fricções quando Alberto João Jardim, em 1978, assumiu a presidência do Governo Regional. Nesta mesma data as relações entre Parlamento e executivo regional sofreram alterações profundas. O conflito e a competição assumiram níveis de maior qualidade, mas também de maior agressividade, sendo o Parlamento regional o órgão escolhido para, por um lado, funcionar como apoio permanente ao presidente do Governo, através da maioria e, por outro, como o local onde toda a oposição ao PSD e ao executivo se desenrola. Com Jardim à frente do Governo, a liderança forte e o papel activo que desempenhou enquanto deputado e líder do Grupo Parlamentar do PSD vai continuar a manter-se e, a tendência dos parlamentos contemporâneos faz-se sentir na Assembleia Legislativa Regional, reconhecendo-se «o indiscutível protagonismo do Governo no processo legislativo formal» como já escreveu Cesareo

Aguilera de Prat [303]. Desta forma toda a prática da actividade legislativa vai ficar condicionada ao exercício do poder legislativo que se faz na sua maioria pela iniciativa e influência do executivo regional, mesmo quando é o Parlamento a exercer o poder legislativo. Isto significa que para além do papel decisivo

do Governo Regional [304] e da maioria parlamentar existe uma mesma sede de poder que é precisamente a direcção do partido maioritário.

A iniciativa em termos legislativos do executivo regional [305] nas duas sessões iniciais da I Legislatura ficou-se pelos 27/35% de Decretos Regulamentares Regionais, vai na terceira sessão sofrer alteração na ordem dos 40%, já que passou para 78% e 65% na quarta e última sessão da Legislatura, que decorreu de 1976 a 1980. Este aumento significativo coincidiu com a saída de Alberto João do Parlamento para o Governo, o que nos permite concluir a importância que este político teve como líder do Grupo Parlamentar e que em grande medida as iniciativas legislativas apresentadas pelo PSD se ficaram a dever àquele deputado. A I Legislatura constitui um marco histórico pois permitiu desenhar toda a estrutura política que caracterizou a Madeira. Nos dois primeiros anos e pelo facto da autonomia ter permitido a existência de órgãos de governo próprio, os partidos sentiram necessidade de construir a identidade regional. Por um lado, o PSD, que assentava o seu discurso na defesa e autonomia da Madeira perante a exploração colonialista de que esta havia sido alvo durante anos alertava que era fundamental a demarcação relativamente aos «cubanos de Lisboa». Nos discursos e debates o principal consistia em lembrar aos madeirenses o quanto eram gozados pelo modo como falavam, o atraso a que estavam submetidos e a necessidade de se afirmarem do ponto de vista socio-cultural. Não havia que ter medo nem vergonha de ser madeirense. Foi um discurso com o qual grande parte dos madeirenses se identificavam e ainda hoje se sentem ligados, embora talvez de forma não tão exacerbada. Em relação aos chamados partidos de esquerda, sobretudo o PS, era adoptado um discurso suave, de distanciamento quer em relação ao PCP (que consideravam não ser problema) e fundamentalmente ao PSD. Nada de regionalismo, de independência. O discurso era elitista, destinado a uma certa camada da população, ao estrato social médio/médio alto. A figura do Ministro da República, neste tempo, era necessária já que era o garante da democracia na Madeira.

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Não tinha que existir rivalidades com Lisboa. Desenvolvia-se uma política de gabinete, totalmente contrária à que o PSD, UDP e PCP efectuavam que se baseava fundamentalmente no terreno, no contacto directo com a população. Nas Legislaturas seguintes os partidos da oposição vão aumentar o número de iniciativas e se tivermos em conta a dimensão dos Grupos Parlamentares, o trabalho desenvolvido por estes é extraordinário. O debate e a crítica vai muitas das vezes obrigar o governo e a maioria que o apoia a apresentar iniciativas que versam sobre a mesma matéria. Os partidos da oposição cumprem, assim, uma função tribunícia. A primazia do Governo Regional faz-se sentir de maneira mais intensa, ocasionando simultaneamente a governamentalização da função legislativa. A escassez de iniciativa do Grupo Parlamentar do PSD ao longo das Legislaturas tornou-se de tal forma evidente

(69/19/39/16/36, valores absolutos, Decretos Legislativos Regionais) [306] em favor das iniciativas

legislativas do executivo regional (103/90/101/114, Decretos Regulamentares Regio-nais) [307], que nos permite concordar com Joan Morera que estuda o problema para Espanha quando afirma que não é mais possível ignorar «um excessivo grau de predomínio do Governo sobre o Grupo

Parlamentar» [308]. A par desta diminuição deparamo-nos com a permanente recusa de aprovação das iniciativas apresentadas pela oposição ou, por outro lado, ao adiamento sistemático das mesmas, sobretudo quando de algum modo são polémicas, evitando assim, a discussão e crítica que iriam originar. 3 – AS COMPETÊNCIAS DE FISCALIZAÇÃO Do ponto de vista estritamente jurídico, o Parlamento madeirense é o «órgão legislativo

primário» [309], sendo neste que se encontra o conjunto de deputados que representam diversas opções políticas para além de que é o único órgão que permite a participação de todas as forças políticas na elaboração de normas. Daqui decorre a importância do Parlamento, a qual se reveste de «características de contradição, publicidade e livre deliberação que lhe são próprias e que o

diferenciam substancialmente do procedimento de elaboração normativa governamental» [310]. A questão prin-cipal para além de residir na eleição directa do Parlamento assenta também na pluralidade de diferentes escolhas políticas que vão permitir um amplo e vasto debate na tomada de decisões. A representação está assegurada pelo que o tão falado défice democrático não assenta nas eleições, mas possivelmente no défice de cultura política do eleitor, que poderá não fazer a escolha certa, questão que não é simples de analisar. A Assembleia Legislativa Regional é o órgão com o qual o Governo Regional mantém uma estreita ligação, ficando a sobrevivência deste dependente da confiança daquela. Esta relação fiduciária é fundamentalmente de cariz político e, no caso madeirense, tendo em conta a superioridade do PSD no Parlamento regional, a de confiança ao executivo madeirense nunca se colocou e, a manter-se tal supremacia, dificilmente alguma vez se assistirá a semelhante acto. São as competências parlamentares de fiscalização ao Governo que vão conduzir ao melhor funcionamento e organização do poder político em si. É evidente que esta função adquire maior

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valor, face ao aprofundamento da partilha das competências legislativas entre os Parlamentos e Governos. Na análise que vamos efectuar em relação às competências de fiscalização da Assembleia Legislativa, não entraremos nos diferentes pontos de vista entre função de fiscalização e função de controlo, englobando aqui toda a actividade desenvolvida no sentido de exigir maior rigor no desempenho do executivo regional. Aliás apesar da distinção feita por alguns autores existe, no entanto, consenso em que «o controlo parlamentar supõe a principal função de toda a assembleia

legislativa» [311]. Ainda neste âmbito é de concordar com o defendido por Maria Martinez quando refere «todas as actividades parlamentares, todas as suas competências estão dirigidas directa ou

indirectamente a ser uma forma de controlo» [312]. Assim sendo, e tendo em conta a importância da função fiscalizadora no chamado Estado de Partidos e, ainda mais, quando nos deparamos com a maioria absoluta por parte do PSD ao longo de seis Legislaturas, a questão é de todo pertinente quando levantada a propósito do Parlamento regional. 4 – O PAPEL DA MAIORIA NO CONTROLO DO GOVERNO REGIONAL Face às particularidades do Parlamento regional, em que os partidos políticos apresentam diferenças tão acentuadas em termos de assentos parlamentares, podemos concluir que na vigilância do poder, a actividade desenvolvida pela Assembleia acaba por ser limitada pelo facto de estar praticamente nas mãos de quem achamos dever ser alvo de vigilância, ou seja, nas mãos daqueles que estão dependentes da entidade que à partida é objecto de controlo. A partir do momento que o presidente do Governo é o líder do partido que detém a maioria na Assembleia, acabando também por ser o líder dos deputados da maioria, a função de controlo fica desvirtuada na sua essência.

É interessante a observação de De Vergottini [313] quando afirma que a consonância de políticas existente entre o Governo e maioria parlamentar retirou todo o significado tradicional ao conceito de controlo parlamentar, que assentava na concepção Parlamento/Governo. Este esvaziamento foi de tal forma que o controlo real passou a ser levado a cabo pela oposição. O PSD como Grupo Parlamentar maioritário vai assumir-se como representante do Governo Regional, mantendo como tarefa a aprovação das propostas apresentadas por aquele. O centro de acção política deste grupo não é de forma alguma a Assembleia Legislativa Regional, a qual é utilizada pelos deputados como forma de se situarem no PSD, no interior do próprio partido, o que torna impensável a não aprovação das medidas apontadas pelo executivo regional. Muito menos a crítica. Já se viu o que acontece aos críticos do partido. A disciplina do partido maioritário tem-se mantido ao longo de vinte anos de autonomia [314] e, mesmo, defendendo que um deputado da maioria tem vários papeis a desempenhar, a verdade é que na prática é muito difícil definir qual deles é prioritário, pelo que o apoio ao Governo

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é decisivo e não se coloca em questão nos deputados da maioria, o que faz com que estes mais não sejam, nas palavras de António Barreto, de que «oficiais de partido, bem contrário ao espírito

de representante do povo» [315]. Para os deputados, independentemente do partido a que pertençam, a disciplina partidária ou de voto é praticada e assumida como algo natural, sem sequer ser imposta, sendo este facto mais visível nos deputados que constituem a maioria, já que nunca se assistiu a qualquer tipo de contestação pelo menos pública às propostas apresentadas pelo executivo regional. Pode suspeitar-se mesmo de que há uma interiorização da norma. Entrar em desacordo, contestar o que quer que seja, significa um confronto directo com o presidente do Governo, que é simultaneamente o líder do partido, que por sua vez deu aval e autorização para que aqueles deputados ali estivessem e ali se mantenham nas próximas Legislaturas. Nunca no Grupo Parlamentar do PSD se assistiu, por parte de qualquer deputado, à suspensão do mandato por discordar das políticas adoptadas, à ausência do hemiciclo aquando da votação, à passagem a independente, o que implica uma rígida disciplina de voto submetida ao Grupo Parlamentar e partido político. A lealdade ao partido prevalece sobre a consciência individual e a subalternização do deputado tornou-se um facto incontestável. Ao Grupo Parlamentar da maioria cabe-lhe defender as atitudes e desempenho do executivo madeirense. As críticas relevantes a este e ao homem que se encontra à sua frente não se verificam, antes até são substituídas por elogios. As justificações estão garantidas e surgem sempre a tempo e horas. O grupo maioritário adopta uma atitude de passividade perante o presidente do Governo Regional e da sua equipa, que acabam por desempenhar a função política principal, estando nestes a concentração de todo o poder. O papel de controlo do executivo cabe afinal única e exclusivamente, na prática, aos partidos da oposição e não à Assembleia Legislativa Regional no seu todo, como órgão de poder legislativo e fiscalizador. Na vida política regional o facto de no órgão fiscalizador se encontrar sempre a mesma força política que no órgão fiscalizado, leva ao estabelecimento de uma relação de contornos promíscuos entre a Assembleia e o Governo, situação em que a maioria absoluta do PSD nem se preocupa em investigar minimamente o papel desenvolvido pelo executivo. Esta atitude já se tornou costume, algo de aparentemente natural porque regular, a que não parece possível fugir. A concentração evidente de poder nas mãos do executivo regional e a supremacia de propostas apresentadas e aprovadas na Assembleia implica uma nítida governamentalização do Parlamento que se vai repercutir, não no esmorecer da capacidade de iniciativa legislativa por parte da oposição, mas sim no apagamento do partido que dá cobertura ao Governo e que mais não constitui do que um apoio público às iniciativas deste. Ao PSD como partido político com representação no Parlamento regional desde o início da implantação de autonomia político-administrativa na Região, não se colocou nunca a questão de ser necessário salvaguardar, mesmo que a nível simbólico os poderes de cada órgão de soberania, o

que nos leva a concordar com Isidre Molás [316] quando fala do «mandato enquadrado» em substituição de mandato representativo.

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5 – O PAPEL DA OPOSIÇÃO NO CONTROLO DO GOVERNO REGIONAL Num Estado de partidos e em que predomina uma maioria parlamentar absoluta, a função de fiscalização exercida pela Assembleia Legislativa Regional é, tal como já referimos, de importância vital no sistema político. Como referem José R. Montero Gibert e Joaquín Garcia Morillo «o controlo parlamentar constitui o núcleo essencial das relações entre o legislativo e o executivo, ao mesmo tempo (...) uma das peças básicas do edifício teórico e constitucional do

parlamentarismo» [317]. Para que o controlo parlamentar fosse « por natureza (...) responsabilidade

da maioria parlamentar» [318] era necessário que os deputados que fazem parte dela não estivessem sujeitos a forte disciplina de grupo e de partido, podendo actuar de forma livre, não sujeita a pressões de qualquer tipo. Isto é, a maioria teria que dispor de direitos, que de resto do ponto de vista jurídico existem e nada impede a sua aplicação. Porém, na prática esses direitos não são exercidos, conduzindo a uma acentuada discrepância entre o aspecto jurídico e o campo dos factos. Integrar os Grupos Parlamentares, como escreve Jurgen Habermas, reflecte de forma nítida a

«alteração de status do deputado» [319] que se vai repercutir no desempenho, na actuação através da submissão incontestável à disciplina partidária. Desta forma, prestando o Grupo Parlamentar do PSD um amplo, sólido e disciplinado apoio parlamentar ao executivo regional, não é de estranhar que a crítica e fiscalização desenvolvida pela Assembleia Legislativa sejam realizadas pelas minorias [320], ou seja, pelos partidos políticos que se encontram na oposição. É evidente que muitos dos meios que estão ao alcance das minorias tornam-se manifestamente ineficazes no controlo prático do executivo regional pelo facto de serem permanentemente bloqueados e estarem dependentes do arbítrio da maioria parlamentar. A oposição política, tal como a maioria, constituem a essência de qualquer Parlamento e o reconhecimento dos direitos, liberdades e garantias daquela devem ser aceites e respeitados na relação mantida com o poder. O Parlamento é para a oposição o local onde exprime a contestação e não aprovação ao Governo, sendo também neste que é demonstrado o querer e poder ser alternativa ao partido que se encontra no poder, já que as forças opositoras não integram o elenco governativo. Assim na vida política regional, todas as forças políticas que se encontram na oposição são

«o contrapeso do poder da maioria» [321], até porque como temos vindo a referir não se espera que seja esta a actuar no sentido de favorecer o Governo Regional e a servir de seu alibi. Segundo os autores Justin Daniel e Claude Emeri pela natureza das relações firmes e estáveis mantidas entre a maioria e o Governo é natural que a função legislar não esteja a cargo das minorias oposicionistas: «não é função da oposição legislar, esta missão – este mandato – foi confiado pelo corpo eleitoral ao

binómio Governo/maioria» [322]. O fenómeno parlamentar acaba por não trazer na maioria das vezes novidades, sabendo-se antecipadamente o papel a desempenhar quer pela oposição, quer pela maioria.

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No Parlamento madeirense à semelhança do que ocorre noutros Parlamentos, a oposição partidária consciente de que não consegue influenciar as decisões tidas por fundamentais tem adoptado uma função de tribuna como forma de controlo do Governo Regional. A iniciativa legislativa tem, ao longo das Legislaturas aumentado, sobretudo no PS (31/32/36/61/112 – projectos

de lei) [323], o mesmo acontecendo no CDS, UDP e PCP, que apesar de terem diferença significativa relativamente ao segundo maior partido (PS) nem por isso deixam de apresentar um número razoável de projectos de lei, atendendo à sua dimensão e meios que dispõem. É certo e sabido que a maioria dos projectos apresentados pelas força políticas que estão na oposição não são aprovados, contrariamente ao que acontece com o PSD como força maioritária. Contudo, muita da iniciativa da oposição não tem como objectivo a aprovação, mas visa fundamentalmente provocar o debate, a crítica às actividades do Governo Regional, chamando ainda a atenção para o facto de demonstrar que é possível legislar de outra forma, que existe alternativa ao partido que se encontra no poder há vinte anos. A Assembleia Legislativa Regional para a oposição madeirense funciona essencialmente como órgão privilegiado de tribuna, face à permanente impossibilidade de ver aprovada a maior parte das suas iniciativas o que revela, por um lado, a incapacidade das minorias participarem na elaboração e definição de políticas relevantes do Governo e, por outro lado, a redução do Parlamento madeirense ao papel de mera tribuna. À parte o controlo parlamentar do executivo efectuado pela Assembleia Legislativa por intermédio da oposição, baseado essencialmente no campo tribunício, esta dispõe de outros direitos juridicamente consagrados que lhe permite desempenhar a função fiscalizadora. Todavia, aqui mais uma vez nos deparamos com o desajustamento entre o campo normativo e o campo real. No que diz respeito às comissões de inquérito e apesar de serem tidas por um dos mais importantes mecanismos de controlo do executivo regional, não é prática corrente na Região ficando-se tal a dever à inviabilização de quase todos os pedidos de inquérito por parte da maioria PSD. Com vinte anos de autonomia e cinco Legislaturas já realizadas, estando a decorrer a 6ª, apenas

funcionaram quatro comissões de inquérito [324] nomeadamente na I Legislatura (1976/1980) que teve como alvo a Empresa de Electricidade da Madeira, duas na Legislatura que decorreu de 1980 a 1984, isto é, II Legislatura. Uma delas tinha como fim esclarecer a agressão a um deputado da UDP, não tendo obtido resultados conclusivos. A outra visava o Sindicato das Bordadeiras de Machico, mas não chegou a ser constituida. Na penúltima Legislatura (1992/1996) constituiu-se uma outra comissão com o fim de fiscalizar a Universidade da Madeira, tendo o resultado final concluído pelo papel positivo que a Universidade tem desempenhado. Em matéria de requerimentos ao Governo Regional como forma de controlo, tal como em relação às comissões de inquérito, não tem muita aplicabilidade e a pouca existente tende a diminuir

face ao número de perguntas que ficam sem resposta por parte do executivo [325]. Relativamente às interpelações, no decorrer de cinco Legislaturas registaram-se dez. Uma na 2ª, originada pela UDP, duas na Legislatura seguinte solicitadas pelo PS e UDP; três na 4ª suscitadas por cada um dos partidos da oposição e quatro na penúltima Legislatura (1992/1996), pertencendo duas ao CDS e as restantes divididas pelo PS e UDP. Embora não tendo expressão

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significativa, as interpelações têm vindo a ser utilizadas com maior frequência. As sessões de perguntas, em termos de uso são comparáveis aos mecanismos de controlo referidos. Apenas se verificaram duas sessões na I Legislatura, o que denota que este tipo de procedimento não é produtivo, não obtendo o impacto desejado na opinião pública, uma vez que o Governo tem hipótese de escolher as perguntas a que quer responder, retirando qualquer possibilidade da oposição atingir o seu objectivo quando pretende chamar a atenção para questões que considera importante e que o executivo se recusa responder. Nesta matéria, em termos práticos, temos uma desvalorização objectiva do debate e, mesmo quando De Vergottini refere que «o objectivo real da pergunta não é obter resposta, mas obter

publicidade sobre o caso, sobre a actuação governamental» [326], a oposição regional não adere à colocação de perguntas como forma de controlar o executivo madeirense. Dos mecanismos de controlo, a moção de censura é o mais importante só utilizada em dadas situações e quando aprovada permite a queda do Governo. Na Assembleia Legislativa Regional,

este tipo de controlo foi posto em prática apenas uma vez, na II Legislatura, pela UDP [327] e, mais do que a queda inviável do Governo, visava essencialmente chamar a atenção para a actividade desenvolvida por este, pretendendo de igual forma obter impacto na opinião pública que considerava «adormecida». Todavia, os objectivos deste partido não se concretizaram na medida em que o executivo regional apresentou ao Parlamento madeirense uma moção de confiança, que seria discutida conjuntamente com a moção de censura, efectuando-se a votação em primeiro lugar. Pelo exposto a UDP acabou por retirar a moção que tinha apresentado. Esta é uma situação comum quando os Governos dispõem no Parlamento de maioria absoluta, o que garante à partida a rejeição de qualquer moção de censura ou de falta de confiança apresentada pela oposição, estando igualmente garantido, por outro lado, o voto de confiança ao Governo por parte dos que predominam no Parlamento. Neste âmbito, certos autores, entre eles David O. Sears, defendem que a sanção do Parlamento pelo facto de não poder ser efectuada pela oposição desloca-se para o «corpo eleitoral»

através de um «processo de socialização» [328]. O controlo parlamentar ao Governo Regional não é eficaz na Assembleia Legislativa Regional, face à unanimidade de interesses entre o executivo e a maioria PSD, o que implica que as reais possibilidades de controlo não se encontram ao alcance da oposição, existindo uma acentuada desigualdade de meios para poder chegar ao poder e fiscalizá-lo. É difícil perante uma maioria parlamentar tão esmagadora que serve de suporte ao executivo, a oposição ser levada a sério nos seus intentos de controlo parlamentar, mesmo sabendo de antemão que a intervenção através dos

seus direitos vai contribuir para «uma democracia activa» no Parlamento [329] . Não se pode dizer que as relações estabelecidas entre a oposição e a sociedade civil sejam tais que permita àquela sentir-se apoiada e motivada no exercício da sua função fiscalizadora. Possivelmente já nada se espera de diferente em termos de formação partidária no Parlamento regional. A pouca valorização deste como órgão que garante a democracia, deve-se em parte à ideia de que naquele apenas se discute e de forma incorrecta. A ideia predominante é a de

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que o poder de decidir, de fazer algo não se encontra nas mãos dos deputados mas sim em Alberto João Jardim que surge como o governante prático, funcional, que trabalha sem perder tempo com discussões inúteis. A par disto junta-se o facto do presidente do Governo Regional de vez em quando ser pouco abonatório ao trabalho desenvolvido pela Assembleia e seus deputados. Perante a ideia de que o executivo madeirense não necessita de colaborar com os partidos que dispõem de representação na Assembleia, esta é vista muito mais como um órgão onde coexistem diferentes políticas que se dividem em oposição e maioria em permanente conflito, onde não parece ser possível estabelecer-se uma relação de cooperação entre os dois órgãos de poder político que são o garante do estatuto de Região Autónoma dotada de poder político-administrativo. Pelo contrário, os órgãos de governo próprio da Região Autónoma da Madeira surgem aos olhos da maioria como algo onde o consenso não parece ser possível de alcançar como é desejado e inseparável num Estado Social de Direito Democrático.

[294] Neste sentido ver Norberto Bobbio, O Futuro da Democracia, Lisboa, D. Quixote, 1988, pp. 30 e segs.

Segundo o autor «nos estados democráticos (...) os sujeitos politicamente relevantes passaram a ser cada vez menos os indivíduos e cada vez mais os grupos (...) são os grupos e não os indivíduos os protagonistas da vida política numa sociedade democrática (...) como consequência (...) a rejeição do mandato imperativo transformou-se numa regra constante de todas as constituições de democracia representativa. Contudo, a (...) relação que se tem vindo a instaurar na maior parte dos estados democráticos europeus é entre os grandes grupos de interesse contrapostos e o parlamento».[295]

Ver: Maria Assuncion Garcia Martinez, «La Actividad Legislativa del Parlamento como Mecanismo de Control Político», in Revista de Las Cortes Generales, Madrid, Cortes Generales, nº 14, 2º quadrimestre de 1988. Sobre o Parlamento o autor refere que «Es el máximo órgano representativo, es el órgano que dentro del complejo institucional del Estado tiene asignada la función de realizar la conexion entre la Sociedad y el Estado, y este carácter de órgano (y en su grado máximo) se proyecta en toda la actividad parlamentaria», p. 65.[296]

Neste âmbito Maria A. Garcia Martinez, «La Actividad Legislativa del Parlamento como Mecanismo de Control Politico, op. cit., afirma que «todas las actividades parlamentarias, todas sus competencias estan dirigidas directa o indirectamente a ser una forma de control» (p. 66). Cf. ainda os seguintes autores que utilizam de forma diversa o conceito de controlo parlamentar: Jose Ramon Montero Gibert e Joaquim Garcia Morillo, El Control Parlamenta-rio, Madrid, Tecnos, 1983; Luis López Guerra, «La Función de Control de

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los Parlamentos: Problemes Actuales», in Angel Garrorena Morales, El Parlamento e sus Transformaciones Actuales, Madrid, Tecnos, 1990; Joaquin Garcia Morillo, «Alguns Aspectos del Control Parlamentario», in Angel Garrorena Morales, op. cit.; Eduard Espin Templado, «El Control de la Actividad Normativa del Gobierno», in Angel Garrorena Morales, op. cit. [297]

J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional, op. cit., p. 750.[298]

Eduardo Espin Templado, «El Control de la Actividad Normativa del Gobierno», op. cit., p. 255.[299]

Sobre os poderes legislativos concedidos às Regiões Autónomas Cf. J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional, op. cit.; António Vitorino, «Os poderes Legislativos das Rgiões Autónomas na segunda revisão constitucional», in Legislação - Cadernos de Ciência e Legislação, Lisboa, INA, nº 3, Janeiro/Março, 1992; José Magalhães, Dicionário da Revisão Constitucional, Mem Martins, Publicações Europa América, 1989; J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, op. cit.[300]

Em relação à Assembleia Regional, o professor Jorge Miranda propôs que à definição desta fosse acrescido «a competência legislativa», por forma a salientar a sua mais importante função. Ver Um Projecto de Revisão Constitucional, Coimbra, Coimbra, 1980, p. 118.[301]

M. M. Cristina Queiroz, Os Actos Políticos no Estado de Direito - O Problema do Controlo Jurídico dos Actos do Poder, Coimbra, Almedina, 1990, p. 152.[302]

Giuseppe De Vergottini, Diritto Costituzionale Comparato, op. cit., p.431. [303]

Cesareo R. Aguilera de Prat, «Problemas de la Democracia y de los Partidos en el Estado Social», in Revista de Estudios Políticos, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, nº 67, Janeiro-Março, 1990, p. 99. [304]

Manuel Aragón, «La Función Legislativa de los Parlamentos y sus Problemas Actuales», in Angel Garrorena Morales, El Parlamento e sus Transformaciones Actuales, Madrid, Tecnos, 1990, p. 137. O autor faz referencia ao facto de que sendo o Governo quem dirige o programa legislativo, devem-se à sua iniciativa, nos regimes parlamentares a grande maioria das leis.[305]

Fonte: Assembleia Legislativa Regional e Grupo Parlamentar do PSD.[306]

Fonte: Grupo Parlamentar do PSD.[307]

Não foram fornecidos dados referente à iniciativa legislativa do Governo Regional na V Legislatura, embora empiricamente e pelos resultados anteriores, julgamos que esta foi sempre em maior número do que as apresentadas pelo Grupo Parlamentar do PSD.[308]

Joan Marcet I Morera, «La Posicion de la Mayoria en las Relaciones entre las Cortes Generales y el Gobierno», in Revista de las Cortes Generales, Madrid, Cortes Generales, nº 22, 1º quadrimestre, 1991, p. 14.[309]

J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional, op. cit., p. 750.[310]

Manuel Aragon, «La Funcion Legislativa de los Parlamentos y sus Problemas Actuales», op. cit., p.136.[311]

José Ramon Montero Gibert e Joaquin Garcia Morillo, El Control Parlamentario, op. cit, pp. 17-18.

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[312] Maria Assuncion Garcia Martinez, «La Actividad Legislativa del Parlamento como Mecanismo de

Control Político», op. cit., p. 66.[313]

Giuseppe De Vergottini, Diritto Costituzionale Comparato, op. cit., pp. 428 e segs.[314]

O único caso de quebra de disciplina partidária verificou-se com Fausto Pereira. Ver Capítulo VI, ponto 2.[315]

António Barreto, «Assembleia da República: uma Instituição Subalternizada», op. cit., p. 103. Neste âmbito Karl R. Popper na sua obra Em Busca de um Mundo Melhor, Lisboa, Fragmentos, 1992, p. 227, refere que «o processo pelo qual [o deputado] foi eleito retira-lhe responsabilidade pessoal, transformando-o mais em máquina de votar, do que em pessoa dotada de pensamento e sentimentos próprios».[316]

Isidre Molás, «La Oposición en el Parlamentarismo Mayoritario», in Revista del Centro de Estudios Constitucionales, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, nº 2, Janeiro-Abril, 1989, p. 57.[317]

José Ramón Montero Gibert e Joaquín Garcia Morillo, El Control Parlamentario, op. cit., pp. 17 e segs.[318]

António Embid Irujo, «El Control Parlamentario del Gobierno y el Principio de la Mayoria Parlamentaria - algunas reflexiones», in Revista de las Cortes Generales, Madrid, Cortes Generales, nº 25, 1º quadrimestre, 1992, p. 11.[319]

Jurgen Habermas, Mudança Estrutural de Esfera Pública, op. cit., p. 238.[320]

Giuseppe De Vergottini, Diritto Costituzionale Compararto, op. cit., pp. 426-436. Ver ainda Manuel Garcia-Pelayo, El Estado de Partidos, op. cit., p. 112; J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, op. cit., p. 527. Os autores referem a consagração do direito de oposição como um princípio estruturador, sem o qual não teriamos Parlamento nos termos em que é definido, não existiria a luta concorrencial pelo poder bem como todo o conjunto de direitos fundamentais constitucionalmente consagrados.[321]

J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, op. cit., p. 527.[322]

Justin Daniel e Claude Emeri, «L'Assemblée Nationale et son Devenir», in Revue du Droit Public et de la Science Politique en France et à L'Étranger, Paris, Librairie Générale du Droit et Jurisprudence, nº 5, 1989, p. 1264.[323]

Fonte: Grupo Parlamentar do PS.[324]

Fonte: Grupo Parlamentar do PS; UDP; e CDS/PP.[325]

Fonte: Grupo Parlamentar da UDP.[326]

Giuseppe De Vergottini, Diritto Costituzionale Comparato, op. cit., pp. 439-441.[327]

Fonte: Grupo Parlamentar da UDP.[328]

Neste âmbito David O. Sears, Political Socialization, op. cit., pp. 93 e segs.; Norman H. Nie e

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Sidney Verba, Political Participation, in Fred I. Greenstein e Nelson W. Polsby (org.), Handbook of Political Science, Reading, Mass, Addison-Wesley, vol. IV, 1975, pp. 1 e segs.[329]

Friedrich Koja, «Existe-t-il une Crise du Parlementarisme?», op. cit., p.59.

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VIII

ELITE POLÍTICA MADEIRENSE – OS DEPUTADOS À ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

1 - A TEORIA DAS ELITES

«As sociedades são caracterizadas pela natureza das suas elites e sobretudo das suas elites governantes». Raymond Aron, As Etapas do Pensamento Sociológico, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1991, p. 440.

A teoria das elites é um tema central da Ciência Política. O fenómeno político que durante longo tempo foi encarado não como um conflito de interesses mas somente como uma exigência do bem comum, sofreu profunda alteração nos finais do século XIX. Segundo o Professor Adriano Moreira, embora o liberalismo tivesse já introduzido a ideia de competição e conflito de interesses como aspecto principal do poder, foi, no entanto, «o marxismo que definitivamente introduziu a ideia de

conflito de interesses classistas como sendo o fenómeno social básico» [330]. A partir daqui este passa a predominar na análise do fenómeno político.A questão principal que se coloca é a de saber onde reside a sede do poder efectivo, isto é, quem é

que realmente detém o poder [331]. A procura desta resposta adquire significado nos teóricos da sociedade ideal por um lado e, por outro, no campo científico da realidade.No estudo da estrutura do poder, os diferentes autores tendem por vezes a colocar as suas crenças e ideologias em destaque o que por vezes dificulta a realização de um estudo credível à parte o facto

de nem todos acreditarem que a elite seja um conceito importante na análise da sociedade [332].Todavia, o reconhecimento da existência e influência de minorias na sociedade nos mais variados campos fez com que o tema da elite se viesse a desenvolver e adquirisse lugar chave na teoria do poder, como aliás refere Adriano Moreira: «a teoria da estrutura do poder, nos analistas anda porém

relacionada apenas com três conceitos operacionais: classes, grupos, elites» [333]. Nesta mesma linha encontramos karl Deutsch que não hesita em considerar que as elites dispõem de papel

fundamental no plano político pelo que se dedicou à análise do conceito e sua aplicação [334].A distinção tradicional entre massas e elites apresentada pelos clássicos continua válida, associando-se a esta «outras minorias identificáveis que exercem influência (...) nos campos especiais em que

decorre a acção dos homens» como defende o Professor António Marques Bessa [335].Independentemente da linha seguida na análise e interpretação do fenómeno do poder e seu

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funcionamento, o importante é que o tema da elite mantém-se cada vez mais vivo no pensamento científico, permitindo a constante questionação sobre o campo da história do poder e seus detentores.Ora, como precursores da teoria das elites consideram-se Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Roberto

Michels [336]. Aquando da sua formação embora tivessem como pretensão «valer como teoria

cientifica, ou melhor, ainda, como primeira teoria cientifica no campo da política» [337], também não é menos verdade que apareceram como uma clara alternativa à teoria marxista.

Adriano Moreira [338] é dos que partilham esta opinião quando diz que «a teoria elitista derivou de uma confrontação com a teoria marxista das classes». O mesmo acrescenta que aquela «foi sobretudo uma doutrina italiana» uma vez que as desilusões com o parlamentarismo liberal, foram ali mais sentidas do que noutros lugares. De igual forma, Jean-Pierre Cot e Jean-Pierre Mounier, consideram que «No século XIX, em reacção contra a ideologia democrática e a teoria marxista, Pareto, Mosca e Michels dão-lhe novo impulso. A partir de então, grande número de sociólogos, tanto nos Estados Unidos (Burnham, Mills, Dahl, etc.) como em França (Aron, por exemplo) muito embora não subscrevessem todas as

conclusões desses primeiros autores, situaram-se na sua perspectiva [339]. Habermas defende que «em reacção à crítica marxista da democracia burguesa, Mosca, Pareto e Michels, introduziram a teoria elitista, da dominação como antídoto real e científico ao

idealismo do direito natural» [340].

Norberto Bobbio [341], por seu lado, assinala que «a futura teoria das elites, ao nascer, (...) surgiu como uma fortíssima carga polémica anti-democrática e anti-socialista, que reflectia bem o «grande medo» das classes dirigentes dos países onde os conflitos sociais eram ou estavam para se tornar mais intensos. Do ponto de vista ideológico, esta teoria, especialmente na exposição paretiana, que politicamente foi a mais divulgada, foi uma das muitas expressões através das quais se manifestou, no final do século [a ideia de que] o ideal do democratismo igualitário teve de sustentar o choque com a dura e áspera lição do darwinismo social, que defendia, na selecção através da luta, as impiedosas mas necessárias condições de evolução». Em Schwartzenberg também se encontra a ideia de que a teoria das elites se formou em oposição ao marxismo. O autor ao falar sobre Pareto encontra como aspecto principal «a recusa da concepção marxista da luta de classes» e a sua substituição pela «teoria da «circulação das elites» que explica a história como a contínua substituição de um escol por outro». Para Pareto esta é uma característica de todas as sociedades, sendo fundamental a distinção entre a «massa e a elite, que é

sempre uma restrita minoria» [342].Maurice Duverger refere que: «Os conceitos de «elites» e de «circulação de elites» foram elaborados por teóricos liberais para se oporem ao conceito marxista de classes». Segundo o autor, estes tinham apenas como objectivo «mostrar que as sociedades capitalistas, não conhecem verdadeiras classes de carácter vitalício ou hereditário, mas somente estratos nos quais se ingressa e dos quais se sai

bastante facilmente» [343].

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De salientar que também Wright Mills contesta a teoria marxista quando afirma que «A expressão «classe dominante» tem um conteúdo demasiado carregado», isto porque, segundo o autor «Classe» é um termo económico, «dominante» um termo político. Portanto a expressão «classe dominante» encerra a ideia de que uma classe económica é politicamente dominante (...) nós não aceitamos a ideia simplista segundo a qual os grandes homens económicos tomam unilateralmente todas as decisões de importância nacional. Afirmamos que a esta ideia simples do «determinismo

económico» é necessário acrescentar o «determinismo político» e o «determinismo militar» [344]. Se, por um lado, a teoria marxista foi contestada pelos teóricos e defensores das «teorias das elites» ou de «classe política», estas sofreram também fortes críticas por parte dos que defendiam o marxismo. Deste grupo fazem parte, entre outros, figuras como Ralph Miliband, Nicos Poulantzas e António Gramsci. Em relação ao primeiro autor, o mesmo admite e reconhece a existência de uma pluralidade de elites tendo, contudo, presente que aquelas pertencem sempre à classe dominante: «Este «pluralismo de elites» não impede contudo que cada elite da sociedade capitalista constitua uma

classe económica dominante» [345]. Na sua obra, estuda em especial a «elite económica» e a «elite de estado» bem como a igualdade de oportunidades de acesso que considera no plano não teórico praticamente inexistente: «os indivíduos recrutados nas classes subordinadas nunca constituiram mais que uma minoria ao pé daqueles que (...) lograram atingir os escalões políticos mais elevados: a grande maioria tem sempre pertencido, quer por origem social quer por cargos anteriormente ocupados, às classes

médias e superiores» [346]. Esta ideia ilustra-a de uma forma corrente com exemplos a vários níveis, nomeadamente na posse e controlo de propriedades, administração e gestão de empresas; acesso ao ensino superior; forças armadas; poder judicial; etc., chegando mesmo a dada altura a afirmar «há provas concludentes que em termos de origem social, educação e situação de classe, os indivíduos que têm ocupado todas as posições de comando no sistema são na maioria, em muitos casos na esmagadora maioria, oriundos do círculo do negócio e da propriedade , ou das profissões liberais. Neste, como noutros campos, homens e mulheres oriundos das classes subordinadas, que constituem a vasta

maioria da população, têm cumprido o seu destino de desfavorecidos» [347].

A este propósito Maurice Duverger [348] cita estudos comparativos feitos por Miller, em 1960 que conclui: «Enfim, em nenhum dos catorze países estudados se encontra um movimento sensível das camadas manuais da população em direcção às camadas superiores. As investigações sociológicas só confirmam, portanto, de maneira muito restrita, a teoria da circulação das elites»

Poulantzas [349] por seu lado, ao contrário de Ralph Miliband recusa a tese da pluralidade das elites, pois considera que esta tem por fim esconder a luta das classes por um lado, e por outro, desvia a atenção do poder da classe dominante. Dedicando especial atenção à tese de Wright Mills, afirma que não existe dúvidas no facto da

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classe política dirigente se identificar necessariamente com a classe economicamente dominante. Note-se que Mills faz uma severa crítica à expressão classe dominante, uma vez que tal como já atrás foi referido, considera que o poder se centra na instituição política, económica e militar. Por outro lado, Gramsci, ao analisar a obra de Mosca, afirma que não é possível entender-se de uma forma concisa o que aquele entende por classe política, uma vez que a noção «é elástica e ondulante. Algumas vezes parece que por classe política deve-se entender a classe média, outras, o conjunto das classes possuidoras, outras mais, o que se denomina a «parte culta» da sociedade, ou o «pessoal político» (sector parlamentar) do Estado. Algumas vezes parece que a burocracia, inclusivé no seu estrato superior, está excluida da classe política na medida exacta em que deve ser controlada

e guiada pela classe política» [350]. 2 – A VERSÃO CLÁSSICA DA TEORIA DAS ELITES MOSCA E PARETO A importância deste reside no facto de na sua obra Elementi di Scienza Politica publicada em 1896 ter afirmado que «em todas as sociedades – desde as sociedades menos desenvolvidas até às mais avançadas – existem duas classes de pessoas – a classe que manda e a que é mandada. A primeira é sempre a menos numerosa (...) a Segunda mais numerosa, é controlada de forma directa

pela primeira» [351]. A existência de uma classe política é apresentada por Mosca não apenas no campo ideológico, mas como algo que existe na realidade. Isto é «elevou-a a lei constante e certa de toda a

sociedade política, primitiva ou evoluida, antiga ou moderna» [352]. A partir da teoria da classe política Mosca considera que todos os governos são oligárquicos. E se à primeira vista pode parecer difícil aceitar o facto de uma minoria dirigir permanentemente a maioria, na prática tudo se torna mais fácil, uma vez que aquela baseia a sua existência na organização. Isto é, os membros que formam a classe política dispõem de interesses comuns, levando-os a formar um grupo homogéneo que actua de uma forma organizada sobre a maioria inorganizada que por tal acaba por ser encarada individualmente. «A minoria é organizada exactamente por ser uma minoria», por outro lado, «(...) quanto maior a comunidade, tanto menor será a proporção da minoria governante em relação à maioria governada, e tanto mais difícil será para a maioria organizar-se em

reacção à minoria» [353]. Desta forma a organização desempenha um papel fundamental já que é ela que permite a formação da minoria governante. Isto é, aquela é utilizada como um instrumento. Mais tarde em 1923, aquando da 2ª edição da obra Elementi di Scienza Política, elaborada

com a ajuda de Michels, [354] Mosca passa a distinguir dois modos de formação das classes políticas:

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- uma que dá origem aos regimes aristocráticos onde o poder se transmite por herança;

- outra, que pelo facto de apoiar-se permanentemente nas classes inferiores origina os regimes democráticos.

No que respeita à organização de tais classes, Mosca refere-nos dois modos diferentes: - um em que o poder desce do alto e dá lugar aos regimes autocráticos;

- outro cujo poder provém de baixo, surgindo a partir daqui os regimes designados de liberais.

De salientar que Mosca ao designar os regimes de liberais podia também chamar de democráticos, entendendo-se, no entanto, que democracia se opõe à forma autocrática e não aristocrática. A partir daqui «a diferença entre regimes aristocráticos e autocráticos por um lado, e regimes liberais e democráticos, por outro», não mais deve assentar na existência de uma classe política (uma vez que a existência desta é um dado assumido e indiscutível) mas no facto de que:

- Nos regimes aristocráticos e autocráticos as elites são fechadas e restritas;

- Nos regimes liberais e democráticos as elites são abertas e amplas. Embora Gaetano Mosca tivesse sido o primeiro a preocupar-se com as questões elitistas é, no entanto, a Pareto que se deve a consolidação da teoria das elites a nível internacional. Elite é definida por Pareto como a classe constituida pelos que possuem «os índices mais

elevados no ramo da sua actividade» [355]. Isto é, uma vez que a sociedade não é homogénea, os

indivíduos são física, moral e intelectualmente diferentes» [356]. Na sua obra Tratado de Sociologia Geral Pareto defende que «a noção principal do termo elite é a de superioridade (...) em sentido amplo, entendo por elite de uma sociedade as pessoas que possuem em grau elevado as qualidades de inteligência, de carácter, de perícia, de capacidade de

todas as espécies» [357]. Os homens, por serem desiguais colocam-se em vários níveis que vão do superior ao inferior. Do estatuto inferior faz parte a «não elite» que pouca ou nenhuma influência tem no governo. No superior encontra-se a elite que se divide em dois:

- elite governante «compreende os indivíduos que directa ou indirectamente participam de

forma considerável no governo» [358];

- elite não governante «compreendendo os demais» [359]. Os estudos de Pareto centram-se fundamentalmente sobre «os indivíduos que, ocupando os

graus superiores da riqueza e do poder, constituem a elite política ou aristocracia» [360]. Distinguindo diversos tipos de elite considera como principais as elites políticas, económicas e intelectuais. Ao teorizar o equilíbrio social, (no qual o estado de facto e não o de direito é que tem maior

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importância) afirma que este é fundado na maneira como as várias classes de elite se relacionam, se

integram, se combinam [361]. Para ele as aristocracias não são eternas. Há uma permanente circulação de elites que se

baseia na substituição contínua de uma por outra [362] o que leva Pareto a afirmar que a «história é um cemitério de aristocracias». A velocidade de circulação daquelas depende de um conjunto de factores aos quais a elite no poder não pode fugir: esta encontra-se «num estado de contínua e lenta

transformação» [363]. Bottomore ao analisar a tese de Mosca e Pareto, defende que este último «tende a acentuar mais a divisão entre a elite governante e a não-elite, e é Mosca quem examina de forma mais minuciosa a composição da própria elite, especialmente nas modernas sociedades

democráticas» [364]. No entanto, em ambos é comum a ideia de que em toda a sociedade a existência de uma minoria que controla a massa é inevitável, não podendo nunca deixar de se constatar tal, já que, é inerente à própria natureza humana. Mesmo quando se dão movimentos sociais ou revoluções que tendem a derrubar os governos, as massas são conduzidas por uma elite, isto é, uma contra-elite em relação à anterior. Uma outra noção comum a Pareto e Mosca reside no facto de que a circulação das elites dá-se através do recrutamento individual de novos membros bem como pela incorporação de novos grupos sociais e ainda pela sua substituição total por uma contra-elite.

Raymond Aron [365] por seu lado, ao analisar Pareto considera que no pensamento deste podemos distinguir elementos que permite «considerá-lo como um precursor do fascismo, embora no momento em que Mussolini chegou ao poder só tivesse por ele uma medíocre simpatia». ROBERT MICHELS Nascido em Colonia, faz os seus estudos em diversos países Europeus. Sofrendo a influência de Mosca e Pareto, publica uma obra intitulada La sociologia del partito politico nella democrazia

moderna [366] onde defende a existência do mesmo fenómeno que Mosca tinha encontrado na sociedade em geral, nos grandes partidos de massa. Dedicando-se especialmente ao estudo do Partido Social-Democrata Alemão, constata que o poder se encontra nas mãos de um grupo restrito de pessoas a que deu o nome de oligarquia, considerando inevitável a sua existência. No estudo realizado sobre os partidos políticos, Michels afirma que «é a hipótese de que em toda a organização, consagrada a realização dos ideais democráticos surgem, inevitavelmente, fortes tendências oligárquicas que apresentam sérios, se não

insuperáveis obstáculos à dita realização» [367]. Para o autor a existência de uma oligarquia é uma realidade incontestável, não só no Governo (uma vez que o governo directo das massas não é possível), mas também nos partidos [368] e sindicatos, verificando-se tal, independentemente do regime político que vigora.

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Segundo Michels a necessidade de tomar decisões rápidas, o crescimento da organização, a divisão do trabalho bem como a cada vez maior dificuldade de comunicação com os membros, faz com que os dirigentes se tornem estáveis e, consequentemente, se profissionalizem, adquirindo desta forma, consciência do seu próprio poder. Tudo isto conduz indiscutivelmente à oligarquia. Michels refere ainda o facto dos dirigentes se aproveitarem dos poucos conhecimentos dos

seus seguidores «para afirmarem-se no poder e converter-se de facto em oligarquia» [369]. Tal fica a dever-se por um lado, à apatia e ignorância do eleitorado - incompetência de massas - e, por outro, à falta de vontade dos líderes em ultrapassar esta passividade. Ao analisar a ideologia do partido, afirma que a única coisa que leva um partido a desviar-se da sua ideologia é a oligarquia que tem por base a organização. Aliás, é precisamente a organização permanentemente patente na sociedade que leva à formação de grupos oligárquicos. É daqui que surge a famosa lei de bronze da oligarquia à qual está presa toda e qualquer sociedade «a organização é a fonte de onde nasce a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os delegantes. Quem

diz organização, diz oligarquia» [370]. De salientar que a organização é um factor fundamental, quer da teoria de Mosca, quer de Michels. Contudo, enquanto para o primeiro aquela é utilizada como instrumento para a formação da minoria governamental, para Michels a existência dos grupos oligárquicos é uma consequência da

organização [371]. 3 – A VERSÃO PLURALISTA DA TEORIA DAS ELITES A teoria das elites vai também desenvolver-se nos Estados Unidos, tendo em Harold

Lasswell [372] o seu primeiro fundador. Na sua conhecida obra Politics, who gets what, when, how, o autor afirma que «as pessoas influentes são as que se apropriam da maior parte do que é apropriável. Os valores à disposição são: deferência, renda e segurança. Os que recebem esses valores em maior quantidade pertencem à «Elite», os demais são a «Massa». Com Lasswell, a teoria das elites vai ocupar um lugar de destaque na Ciência Política, tendo este apontado que: «o estudo da política é o estudo da influência e de quem é influente. A

ciência política propõe condições» [373]. Mais tarde em 1950 num livro escrito em colaboração com Abraham Kaplan Power and society, Lasswell ao referir o conceito de elite distingue a:

- verdadeira elite que é constituida por todos os que na sociedade detêm o maior poder;

- elite média constituida pelos que têm um poder inferior;- massa que engloba os que dispõem de menor poder.

Como não pode deixar de ser «os membros da elite são ordinariamente menos numerosos

que os da massa» [374]. De igual forma considera que na sociedade existem vários tipos de elites que controlam o poder, surgindo-nos assim, a elite de funcionários, de nobres, de tecnocratas, de

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especialistas, etc. Para Lasswell, o funcionamento do regime democrático não depende da existência ou não das elites, mas sim, da forma como a elite é recrutada e do modo como exerce o seu poder. Isto é, a maior ou menor democraticidade vai depender das relações decorrentes entre a elite e a massa, pelo que a «coabitação» de ambas é possível e a existência de uma (democracia) não invalida a da outra (elites). Apesar da importância de Harold Lasswell, a teoria das elites vai adquirir uma maior projecção a partir da publicação das obras de James Burnham A Revolução dos Administradores e C. Wright Mills A Elite do Poder. Para o primeiro a revolução social a que se assiste e que se prevê, consiste precisamente na passagem do poder de uma classe dominante (burgueses-capitalistas) para uma outra que é a dos administradores. Os «managers» não tendo nas suas mãos os meios de produção, constituem, contudo, um grupo que se move pelo desejo do bom salário e do poder, baseando-se para tal numa agressividade assente na competência técnica. Relativamente a Wright Mills, através do seu trabalho A Elite do Poder, o mesmo demonstra que a América na vida real não é o paraíso para todos os homens. Este afirma que o homem comum «dispõe de um poder de influência limitado pelo quotidiano» sendo aquele movido por «forças que não consegue compreender ou controlar». Por outro lado, a elite do poder é composta por homens que ocupam lugares fora do comum, que tomando decisões em conjunto fazem com que os

«homens comuns sejam de uma forma acentuada, atingidos por aquelas decisões» [375].

Na sociedade americana o poder [376] encontra-se no domínio econó-mico, político e militar. A elite comanda assim, as grandes companhias, a organização militar, ocupa as principais hierarquias e organizações da sociedade. Encontrando-se aqui os reais meios de poder, riqueza e celebridade, todos os que têm acesso a tal (que é uma minoria) constituem a elite do poder. O autor refere ainda o facto daquela não ter necessariamente que ser formada por tipos superiores é, muitas vezes, acessorada por conselheiros, consultores, porta-vozes e promotores de

opinião «que lhes modificam os conceitos e criam deles imagens públicas» [377]. Na América, a elite é formada pelos líderes dos três domínios do poder - económico, político e militar - o que faz com que este grupo tenha o máximo que se pode ter, ou seja, «dinheiro, poder e prestígio». Contudo, há que ter em conta que não é o facto de alguns disporem desse máximo que lhes permite pertencer à elite. É necessário, fundamental mesmo, que detenham posições de destaque, de comando nas grandes instituições que são como já atrás foi referido as políticas e militares: «os meios são factos mais ou menos controlados pelos homens. É por isso que todos os meios de poder tendem a se tornar fim para a elite que os comanda. E é por isso que podemos definir a elite do poder em termos dos meios de poder - como sendo os que ocupam os postos de

comando» [378]. No pequeno grupo que compõe a elite é possível distinguir aspectos de identidade, relações pessoais, sociais, psicológicos e de afinidade entre os seus membros. Desta forma a interdependência das instituições desenvolve-se, facilitando a circulação dos dirigentes. No sistema americano a elite não é composta por uma classe ou grupo de individualidades.

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Ela é formada por um todo diferenciado mas que dispõe de um interesse comum que consiste no domínio da sociedade civil em que estão inseridos. A Power Elite, segundo Wright Mills, é determinada pela existência de grupos que dominam e mantêm o poder, constituindo-se estes nos três tipos já focados, nomeadamente o económico, o político e o militar. Apesar da existência de elites sectoriais, da diversificação só estamos perante a verdadeira elite, ou seja, a elite do poder quando há unificação de interesses. Desta forma, a elite do

poder vai formar-se pela intercepção das elites sectoriais que possuem interesses convergentes [379]. Face a alterações conjunturais e estruturais o grupo minoritário é substituído por outros grupos também minoritários. Dá-se uma circulação mas em que a estrutura não sofre alteração, mantendo-se a união de interesses, a articulação e coerência. A elite continua a ocupar o comando de todo o país, dispondo de privilégios, vantagens e deveres que se relacionam com a posição ocupada. Os filhos desta elite dispõem de condições que lhes permite num futuro ocupar os lugares vagos nos topos hierárquicos e consequentemente disfrutar das suas vantagens.

A elite militar em Mills assume importância vital [380]. Na América, face ao incremento de poder, prestígio e influência, consequência do período pós guerra e da divisão do mundo em dois blocos, os militares adquirem status cada vez maior e a preponderância nas decisões de foro militar tornam-se realidade. A ascensão daqueles ao nível da elite do poder acentua-se. O facto da elite militar pela alteração institucional e conjuntural na sociedade americana ter prevalecido sobre as elites económica e política, nem por isso deixou de articular os seus interesses com os destas. As ideias de Wright Mills foram contestadas quer por liberais, quer por marxistas, tendo os primeiros se recusado a aceitar que o poder na sociedade se encontre nas mãos de um grupo monolítico. Esta mesma ideia é defendida por Carl Friedrich que não nega a existência de elites, mas sim que a elite do poder seja monolítica. Isto é, o autor afirma que «os dirigentes não formam absolutamente um todo coeso ou unido (...) mas sim um conglomerado de círculos encadeados, cada um preocupado, antes de mais nada, com a sua própria profissão e especialidade (...) não constituem uma única instituição, mas uma cadeia de instituições com poucas conexões. As fricções e o equilíbrio entre os diferentes circuitos constituem o supremo guardião da democracia. Nenhum

indivíduo pode manter-se no centro, pois não existe um centro» [381].

Nesta mesma linha de pensamento podemos ainda referir Riesman [382] que ao analisar os Estados Unidos em vez de mencionar uma classe dirigente, chama a atenção para a pluralidade de grupos de interesse e de pressão que faz com que não exista uma sede de poder bem definida, mas antes, que as decisões provenham dos grupos interessados que agem de acordo com as condições do momento.

De igual forma Robert A. Dahl [383] faz parte dos que à tese monolí-tica contrapõe a pluralística ou poliárquica, isto é, considera que a sociedade americana ao ser tão complexa e conflituosa como é, torna-se difícil aceitar a existência de apenas uma elite. Aquela caracteriza-se por uma verdadeira poliarquia onde predomina o compromisso e a negociação entre os vários grupos

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existentes, rivais entre si e que tentam obter o máximo para cada, mesmo que para tal tenham que anular-se uns aos outros. A teoria das elites apresenta assim, uma versão pluralista não apenas nos Estados Unidos mas também na Europa cujo adepto se encontra em Raymond Aron, afirmando este que nas sociedades modernas para além da elite, podemos ainda encontrar mais cinco categorias de elites dirigentes, nomeadamente: - detentores do poder espiritual; - chefes das forças militarizadas; - gestores dos meios de produção; - dirigentes das massas; - detentores do poder administrativo.

Segundo este autor [384] numa sociedade de tipo soviético deparamo-nos com uma elite unificada, que conduz a uma oligarquia unificada num partido único, ao contrário do que se passa numa sociedade de tipo ocidental, em que a elite surge dividida o que faz com que nos surja uma oligarquia desintegrada.

A este propósito é de referir um estudo feito por vários autores [385] que chama a atenção para o facto da distinção entre o modelo pluralista da teoria das elites e o modelo da elite de poder ou elite dominante, basear-se fundamentalmente no facto da teoria pluralista dar maior atenção à diversidade de elites e aos conflitos e concorrência que se gera entre elas em detrimento da relação entre as elites e a sociedade inorganizada. Por seu lado, a teoria da elite de poder ou dominante põe em destaque o facto do poder político se encontrar concentrado num «grupo social particularmente estreito, dotado de uma maior ou menor coesão interna, partilhando origens sociais, status económicos e educação comuns». Por outro lado, as diferenças e conflitos internos da elite são desvalorizados, acentuando-se a oposição, a relação entre a elite e a não elite, isto é, a sociedade inorganizada. Com a versão pluralista da teoria das elites a democracia passa a entender-se como um método político cujo fim é o de conseguir os votos do povo de modo a designar quem toma as decisões políticas. Aron, afirma mesmo que a elite monolítica ao ser criticada, acabou por fazer com que a democracia fosse encarada de uma forma mais realista e desmistificada, tendo sido recentemente baptizado com o nome de «elitismo democrático», podendo notar-se como características por um lado, a «concorrência das elites políticas» e, por outro, o facto de que «estas devem dar conta da sua acção periódica, junto aos eleitores e sejam diversamente acessíveis aos

pedidos que vêm das classes inferiores» [386]. Aderindo à teoria de que é compatível a existência de elites num regime democrático também se encontra Joseph Schumpeter. Para este «aquilo que caracteriza o regime democrático é o método e, mais exactamente o método que permite a cada indivíduo ou grupos rivais lutar pela conquista do poder em concorrência entre si, através de uma competição, que tem por objectivo o voto popular». O autor afirma ainda que, «classicamente, a democracia era definida como um método de gestão das decisões políticas que prossegue o bem comum de toda a sociedade, encarregando o próprio povo de determinar as decisões elegendo indivíduos que se reúnem de

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seguida para cumprir a sua vontade; mas que esta doutrina sobreviveu no «coração dos homens e nas

declarações oficiais dos governantes», apesar de ser «manifestamente contrária às realidades» [387]. De igual forma Jurgen Habermas refere o êxito do «rumo» que a teoria das elites está a tomar. Para este «Uma nova geração de francos teóricos das elites encontra-se já para lá do cinismo e da auto-compaixão; ela adopta Tocqueville, que considera um precursor a honrar, e recomenda com a melhor consciência um novo elitismo como uma maneira simples de escapar à morte do totalitarismo (...) Peter Bachrach pôs em evidência na Teoria da Dominação Democrática da Elite, tal como foi representada por Kornhauser, Lipset, Truman e Dahrendorf, um processo interessante de abdicação. A democracia não é mais definida pelo conteúdo de uma forma de vida que exprime os interesses universalizáveis de todos os indivíduos; ela não é senão considerada como um método para escolher os dirigentes e suportes do aparelho de direcção. Não se compreende mais por democracia as condições que permitam satisfazer todos os interesses legítimos pela via da realização do interesse fundamental para a participação e a autodeterminação. Ela, agora não designa senão um código de distribuição de compensações conformes ao sistema, dito de outra forma, um regulador

para a satisfação de interesses privados» [388].

Particularizando William Kornhauser [389], o mesmo defende na sua obra The Politics of Mass Society - 1960 que a relação elite/massa é possível, não sendo necessariamente contrária uma à outra, como advoga e destaca a teoria marxista.

Nesta mesma linha de pensamento surge Ralf Dahrendorf [390] que no seu livro intitulado Classes e Conflitos de Classes na Sociedade Industrial, defende os teóricos da teoria das elites, criticando os marxistas, ao afirmar que é a autoridade e não a propriedade o poder de comando. Isto é, aquela é que consegue a obediência estando também na base da formação das classes sociais, desigualdades e conflitos. De salientar que a tese marxista interpreta a sociedade como baseando-se nas relações entre dominantes e dominados, isto é, toda a sociedade movimenta-se em redor de apenas duas classes

sociais: os detentores dos instrumentos de produção e o proletariado [391]. Em relação às ideias defendidas por Wright Mills, os marxistas contestam o facto da elite do poder se encontrar articulada nos três sectores citados por aquele mas, apenas numa só classe dominante, que é precisamente a composta pelos detentores do poder económico que dispõem dos instrumentos de produção. Como se vê com a versão pluralista da teoria das elites, o poder não deixa de estar concentrado nas mãos de um grupo restrito e homogéneo. Sendo a sociedade um sistema complexo como é, os diversos interesses bem como as várias correntes de opinião são uma constante, conduzindo ao aparecimento de muitas organizações que com o fim de atingirem os seus objectivos têm que necessariamente interagir umas com as outras, mantendo uma rede de compromissos e alianças. A existência de um grupo social único que prevalece perante os outros já não é uma realidade. Surgem sim, vários grupos e em cada um destes a sua própria elite. A elite geral vai formar-se pela integração das várias elites, necessitando de uma base de apoio ampla, a qual será

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tanto maior quanto mais pluralista for a sociedade. A oligarquia não vai desaparecer, havendo mesmo a tendência de manter-se o máximo possível. Contudo, o total isolamento da elite com a base torna-se mais difícil de manter, uma vez que a democracia com os seus mecanismos tende a impedir tal. A elite do poder transforma-se assim, num grupo aberto, onde a entrada é condicionada pelas qualidades pessoais dos seus membros, não esquecendo, contudo, que na prática a situação não é tão linear quanto se apresenta. É sempre conveniente ter presente que uma posição social já elevada, um certo grau de instrução e o conhecer e possuir relações com os meios dirigentes, torna mais fácil o acesso à elite, ou seja estar nos partidos e nos órgãos.

[330] Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p. 238. Ver ainda: Norberto Bobbio, Ciência Política, in Dicionário de Política, dir. por Norberto

Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, Brasília, Universidade de Brasília, 1986, pp. 164-169; W. Makenzie, A Ciência Política, Lisboa, Liv. Bertrand; Marcelo Rebelo de Sousa, Ciência Política, (lições ministradas ao Curso de Direito), Lisboa, 1984.[331]

Jean-Pierre Cot e Jean-Pierre Mounier, Para uma Sociologia Política, Lisboa, Bertrand, s.d., pp. 366-367. Os autores afirmam que «existe desde há muito uma escola de pensamento político que considera essencial a oposição entre a minoria que detém o poder e a massa daqueles que são governados. Maquiavel é igualmente considerado o fundador desta escola».[332]

Cf. Daniel Bell, The End of Ideology, Harvard University Press, Cambridge, Mass, 1988.[333]

Adriano Moreira, Ciência Política, op., cit., p. 239.[334]

Karl Deutsch, Política y Gobierno, México, Fondo de Cultura Económica, 1976, pp. 57 e segs. [335]

António Marques Bessa, A Arte de Governar – Ensaios sobre a Classe Dirigente e Fórmula Política, Lisboa, ISCSP, 1996, p. 282.[336]

De salientar que «En la antiguedade griega ya se habia consolidado [com] Platón [que] presentaba el elitismo como estando en la naturaleza de la realidad biológica». Ver Irving Louis Horowitz, Fundamentos de Sociologia Política, México, Fondo de Cultura Económica, 1977, p. 143. Ter ainda em atenção Aristóteles que refere «pode observar que em todo Estado grego, quer aristocrático, quer democrático, existia sempre uma pessoa, ou mais de uma que possuia influencia preponderante». Ver Gaetano Mosca, «A Classe Dirigente», in Amaury de Sousa (org.), Sociologia Política, Rio de Janeiro, Zahar, 1966, p. 51.[337]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», in Dicionário de Política, op. cit., p. 386.[338]

Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p. 240.[339]

Jean-Pierre Cot e Jean-Pierre Mounier, Para uma Sociologia Política, op. cit., p. 367.[340]

Jurgen Habermas, Raison et Légitimité - Problémes de Légitimation dans le Capitalisme Avancé, op. cit., p. 168.[341]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», op. cit., p. 386.[342]

Roger-Gerard Schwartzenberg, Sociologia Política - Elementos de Ciência Política, op. cit., p. 226. A tese de Pareto como oposição ao pensamento de Marx encontra-se em outros tantos autores, nomeadamente: Jean-Marie Denquin, Science Politique, op.cit., pp. 202-205; Gaston Bouthoul, Sociologia da Política, op.cit., pp. 67 e segs.[343]

Maurice Duverger, Sociologia da Política - Elementos de Ciência Política, Coimbra, Alme-dina, 1983, p. 190.[344]

C. Wright Mills, A Elite do Poder, Rio de Janeiro, Zahar, 1975 pp. 200 e segs. Esta ideia é defendida pelo autor que faz uma abordagem institucional do poder nos Estados Unidos. Ou seja, para este o poder encontra-se nas mãos da instituição política, económica e militar. As grandes decisões são tomadas pelo que se designou de «Triângulo do Poder»: «Por elite do poder entendemos os círculos políticos, económicos e militares que, num conjunto complexo de «capelinhas» entrecruzadas, partilham pelo menos as decisões de importância nacional. Na medida em que os acontecimentos nacionais são o objecto de decisões, a elite do poder é o conjunto das pessoas que tomam essas decisões» (p. 23).[345]

Ralph Miliband, O Estado na Sociedade Capitalista, vol. I, Lisboa, Presença, p. 79.

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8-ELITE POLÍTICA MADEIRENSE - DEPUTADOS À ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

[346] Idem, p. 103.

[347] Idem, p. 104.

[348] Maurice Duverger, Sociologia da Política - Elementos de Ciência Política, op. cit., p. 194.

[349] Cf. Nicos Poulantzas, Poder Político e Classes Sociais, Porto, Portucalense, 1971.

[350] António Gramsci, Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988, p. 158. Sobre o autor veja-se: Maria-

Antonietta Macciocchi, Pour Gramsci, Paris, Seuil, 1974, James Joll, As ideias de Gramsci, Cultrix, São Paulo, 1979; Umberto Cerroni, O Pensamento Político - das origens aos nossos dias, Lisboa, Estampa, 1975.[351]

Gaetano Mosca, The Ruling Class - Elementi di Scienza Politica, p. 50.[352]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», op. cit., p. 385.[353]

Gaetano Mosca, «A Classe Dirigente», op. cit., p. 54.[354]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», op. cit., p. 387.[355]

Giovanni Sartori, Teoria de la Democracia, vol. I, Madrid, Alianza, 1988, p. 184, nota 29. O autor ao falar sobre Mosca e Pareto afirma «La diferencia básica entre Mosca y Pareto consiste en que la clase politica de Mosca es un concepto politico referido al problema de la organización y del ejercicio del poder politico; las élites de Pareto son un concepto de la dinamica social (con un alcance mucho mayor) centrado en las cualidades necesarias para formar parte de esa clase (la teoria de los residuos) y en las causas de su origen y decadencia (la teoria de la circulacion de las elites).[356]

Manuel Braga da Cruz, Teorias Sociológicas, vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, pp. 499 e segs.[357]

Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p. 241. Sobre a obra de Pareto ver ainda Raymond Aron, As Etapas do Pensamento Sociológico, Lisboa, D. Quixote, 1991, pp. 395-472, bem como bibliografia citada na pp. 473-474.[358]

Vilfredo Pareto, «As elites e o uso da força na sociedade», in Amaury de Sousa (org.), Sociologia Política, Rio de Janeiro, Zahar, 1966, p. 71.[359]

Idem, Ibidem.[360]

Norberto Bobbio, «Teoria das elites», op. cit., p. 386.[361]

Talcott Parsons, «Vilfredo Pareto», in Enciclopedia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. VII, Madrid, Aguilar, s.d., pp. 613 e segs. Cf. G. H. Bousquet, Pareto, le savant et l´homme, Lausanne, Payot, 1960, pp. 188-197.[362]

Ver Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p. 241, que afirma «Esta substituição cíclica implica uma constante luta, na qual o maquiavelismo tem o seu lugar».[363]

Manuel Braga da Cruz, Teorias Sociológicas, op. cit., p. 457.[364]

T. B. Bottomore, As Elites e a Sociedade, Rio de Janeiro, Zahar, 1974, p. 11.[365]

Raymond Aron, Novos Temas da Sociologia Contemporânea, Lisboa, D. Quixote, 1964, p. 278. Sobre o mesmo autor Cf. En Defensa de la Libertad, Barcelona, Argos-Vergara, 1977.[366]

Sobre Michels ver a sua obra Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., Giovanni Sartori, Teoria de la Democracia, vol I, op. cit., pp. 191 e segs. O autor foca que apesar de Michels ter afirmado que «la democracia es impossible (...) las conclusiones que pueden deducirse de sus análisis son cruciales para la democracia en si, por dos razones. La primera es que un sistema democratico es en gran medida, en su funcionamento real, un sistema de partidos (...) La segunda razón es que (...) también los partidos surgen como asociaciones voluntarias y constituyen de hecho, su típica expresión politica en las comunidades politicas democraticas de grandes dimensiones. Desde este punto de vista, los partidos son el tipo de organismo politico que más se parece, o deberia parecerse, al arquetipo de toda democracia politica auténtica». Ver ainda: Maria Conceição Pequito Teixeira, Robert Michels: Democracia, Liderança e Oligarquia, in António Marques Bessa (coord.), Elites e Poder – Estudos, ISCSP, Lisboa, 1997, pp. 110-155.[367]

Juan J. Linz, «Robert Michels», in Enciclopedia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. VII, Madrid, Aguilar, s.d., p. 87.[368]

Esta situação verifica-se não só no partido que se encontra no governo, mas também nos que estão na oposição que, aliás, têm por objectivo a conquista do poder: «todas as forças do partido da oposição se destinam a desalojar do governo o partido que se encontra actualmente nele, e a tomar o seu lugar (...) antes ou depois, esta luta de concorrência que se desenrola entre as várias cliques das classes dominantes encerra-se sempre com uma conciliação, a que chegam com o objectivo instintivo de conservar desse modo o senhorio sobre as massas, repartindo-o entre si», in Manuel Braga da

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8-ELITE POLÍTICA MADEIRENSE - DEPUTADOS À ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

Cruz, Teorias Sociológicas, vol. I, op. cit., pp. 487. Neste âmbito ver ainda: António Gramsci, Obras Escolhidas, vol. I, Lisboa, Estampa, 1974, pp. 279 e segs.[369]

Juan J. Linz, «Robert Michels», op. cit., p. 88. De salientar que já Ostrogorski defendia a mesma ideia, afirmando que quer os funcionários dos partidos, quer os candidatos eleitos têm interesses específicos, pelo que se aproveitam da sua condição no partido para seu próprio proveito. Ver: Moisei Ostrogorski, La Démocratie et les Parties Politiques - présentation de Pierre Rosanvalon, op. cit.; Seymour M. Lipset, «Moisei Ostrogorski», in Enciclopedia Internacional de las Ciencias Sociales, dir. por David L. Sills, vol. VII, Madrid, Aguilar, s.d., pp. 536-539.[370]

Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., p. 238.[371]

Veja-se os interessantes aspectos distintos do comportamento político a que Michels aplica o termo oligarquia, podendo ou não aqueles coexistir nas organizações, partidos e sindicatos. Ao todo apresenta dez aspectos sendo alguns deles: aparecimento do líder; líder profissional e estável; formação de burocracia; centralização da autoridade; crescente rigidez ideológica; diferença cada vez mais acentuada entre os pontos de vista dos líderes e dos membros; diminuição de oportunidades dos membros em participar nas decisões políticas; cooptação dos líderes da oposição nascente pelos confirmados, etc., Juan J. Linz, «Robert Michels», op. cit., p. 89.[372]

Harold Lasswel, Quem ganha o quê, quando, como, op. cit., pp. 15 e segs.[373]

Idem, Ibidem. [374]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», op. cit., p. 388.[375]

Wright Mills, A Elite do Poder, op. cit., p. 11.[376]

Idem, pp. 12-14.[377]

Idem, p. 24.[378]

Idem, p. 34.[379]

Cf. Wright Mills, Poder, Política, Pueblo, México, Fondo de Cultura Económica, 1981.[380]

Ver Joaquim Croca Caeiro, «Wright Mills: A Elite Militar», in António Marques Bessa, Elites e Poder, op. cit., pp. 195 e segs.[381]

T. B. Bottomore, As Elites e a Sociedade, op. cit., pp. 32-33.[382]

Ver: Roger-Gerard Schwartzenberg, Sociologia Política - Elementos de Ciencia Politica, op. cit., pp. 679-680.[383]

Ver: Anthony Arblaster, A democracia, Lisboa, Estampa, 1988, pp. 87-88.[384]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», op. cit., p. 389. Ver ainda: Adriano Moreira, Ciência Política, op. cit., p. 247; Anthony Giddens, The class structure of the advanced societies, Londres, Hutchinson, 1983, pp. 118 e segs. O autor estabelece uma interessante tipologia de formação de elite, focando também toda a problemática terminológica que se gerou em seu redor.[385]

H. Meireles, Maria José Ribeiro, M. Reis Marques e Vital Moreira, Notas de Estudo para Ciência Política, op. cit., p. 111.[386]

Norberto Bobbio, «Teoria das Elites», op. cit., p. 389.[387]

Joseph Schumpeter, Capitalisme, Socialisme et Démocratie, op. cit., p. 349.[388]

Jurgen Habermas, Raison et Légitimité - Problèmes de Légitimation dans le Capitalisme Avancé, op. cit., pp. 168-169.[389]

Norberto Bobbio, «A teoria das elites», op. cit., p. 390.[390]

Cf. Ralf Dahrendorf, Class and Class Conflict in Industrial Society, Stanford, Stanford University Press, 1959.[391]

Ver Maurice Duverger, Institutions Politiques et Droit Constitutionnel - Les Grands Systémes Politiques, op. cit., p. 489, que ao estudar o modelo socialista cita o Manifeste Communiste de 1848, o qual refere «L'histoire de toute société jusqu'à nous jours n'a été que l'histoire de la lutte des classes». Isto é, «cette lute des classes est le moteur de l'histoire: tous les autres conflits en découlent, et toutes les attitudes et comportements des hommes se définissent par raport à elle». Ver ainda: Raymond Aron, «Politique et Économie dans la Doctrine Marxiste», in Études Politiques, Paris, Gallimard, 1972, pp. 85-103.

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO. APROXIMAÇÃO AO NÚCLEO DURO

Com base no estudo estatístico efectuado tentaremos analisar aquilo que designamos por núcleo duro, ou seja, quais os que constituem a minoria dentro do partido que apoia o líder do PSD, já que conforme afirma Michels, o líder mantém-

se como tal porque se apoia num pequeno grupo [392]. Esta é uma abordagem empírica uma vez que não estudamos a vida interna do partido, situação que nos permitiria apontar de forma mais directa e segura aqueles que na realidade

constituem o núcleo duro [393].Numa primeira fase podemos, eventualmente, dividir a questão do apoio ao líder em duas partes. Assim, de meados de 1978, altura em que assume a presidência do executivo madeirense até 1988, ano em que é criada a primeira e única vice-presidência do Governo Regional ocupada por Miguel de Sousa, é possível afirmar a existência de um apoio quase total e incondicional àquele.É conveniente ter presente as condições sociais e económicas em que a Madeira se encontrava e todo o trabalho desenvolvido por Alberto João e sua equipa. Foi, digamos, o auge do PSD no sentido de se afirmar do ponto de vista ideológico-partidário e, em termos práticos, ter empreendido um conjunto de acções nos diferentes campos, melhorando de forma substancial a qualidade de vida da população. Neste todo e pelo muito que havia a fazer não existia espaço para quezílias internas sobretudo relacionadas com a sucessão de Jardim, não esquecendo, evidentemente, a posição cada vez mais vincada deste não só no plano interno mas principalmente no plano externo face às maiorias obtidas.Neste âmbito verificamos claramente o que Michels designou como «O Partido Sou Eu». Ou seja, a identificação do partido e do chefe era já uma realidade, não

existindo condições que permitissem a contestação [394].

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

Por outro lado, na sequência da nova organização política geográfica, foram criados novos postos, novas funções e logo ocupadas por homens de confiança do partido e fundamentalmente do líder. Alberto João ao escolher aqueles que considerou mais capazes acabou por formar uma espécie de cartell, fazendo parte deste os

merecedores de sua confiança e estima [395]. Desta forma, todos os que se encontram em lugares de destaque se não eram populares e conhecidos, a Máquina de Ostrogorski encarregou-se disso, e em troca exigiu obediência e fidelidade [396]. Mas esta obediência, se foi indispensável em relação à organização do partido, foi-o sobretudo ao homem que reúne em si os poderes da máquina, isto é,

ao boss [397].Assim sendo, os tentáculos da máquina estendem-se a toda a área. Nenhuma actividade, quer seja pública, política, económica ou qualquer outra, escapa á penetração do partido. O controlo da gestão é efectuado pelos que foram seleccionados. Estes tornam-se dependentes da organização e, por outro lado, pela aquisição de conhecimentos, de domínio de assuntos específicos, pela manutenção do controlo da empresa, do serviço e dos trabalhadores, vão de igual forma tornar-se, para o partido, «insubstituíveis ou, melhor ainda, dificilmente

substituíveis» [398].Ao longo destas duas décadas de autonomia político-administrativa assistimos a alterações na minoria escolhida por Jardim, que lhe serve da base, de suporte, sendo exemplo disso os nomes de António Gil, Egídio Pita, Fausto Pereira, Rui Fontes, e outros (ver tabela 1 em anexo).Por terem contestado de forma directa o líder regional ou, pelo simples facto de já não disporem de confiança deste, deixaram de fazer parte do chamado núcleo duro e da própria elite.Estamos perante a luta contra o inimigo interno, isto é, aquele que coloca em causa

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

não apenas o líder partidário mas o próprio partido. A unidade e conservação da organização partidária tem que ser mantida a todo o custo e Alberto João ao identificar-se de forma completa com o PSD, considera que toda a ofensa, crítica e censura pessoal, é dirigida não a ele mas ao partido em si. Para que os interesses do partido sejam mantidos Jardim não hesita em marginalizar politicamente todos os que considera estarem a prejudicar o PSD, ao afastarem-se das suas ideias centrais, criando obstáculos à sua dinâmica. Neste quadro político, citando Robert Michels, estamos perante um autoritarismo que mais não é do que «condição necessária de toda organização fortemente

constituida» [399].Esta prática, estudada pelo autor, é comum não apenas nos partidos políticos, mas também nos sindicatos e no próprio governo, em que os responsáveis por estes defendem que os descrentes deviam «sacudir a poeira de suas solas e ir embora» e que se torna necessário «acabar de uma vez por todas com os eternos descontentes e os eternos criadores de caso no partido (...); quem não aprova a forma de agir da

direcção, deve ser eliminado do partido» [400].Regressando à questão do núcleo duro no PSD se, por um lado, assistimos à saída de alguns membros do partido como foi o caso de Egídio Pita e Fausto Pereira, outros pura e simplesmente perderam a força que detinham não tendo, contudo, abandonado o partido.Presentemente e tendo em conta não apenas a tabela 1 em anexo – Deputados á Assembleia Legislativa Regional - como núcleo duro no interior do PSD podemos, possivelmente, apontar:

QUADRO 8 POSSÍVEL NÚCLEO DURO DO PSD

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

*António F. Candelária Jorge Nélio Mendonça**Carlos Machado José A. Pereira de Gouveia***Correia de Jesus José A. Coito Pita

Eduardo Brazão de Castro José Miguel MendonçaFilipe Malheiro José Paulo Batista Fontes

Francisco Abreu Santos Luís DantasGabriel D. Esmeraldo Luís Santos Costa***Guilherme Silva Manuel J. Bazenga

Marques***Hugo Velosa Miguel AlbuquerqueJaime V. Ramos Miguel J. Sousa

João Carlos Abreu Paulo Rocha da SilvaJoão Cunha e Silva Rui Adriano Freitas

Jorge Jardim Fernandes Virgílio Higino Pereira

*Funcionário do partido **Adjunto do Presidente do Governo Regional.***Deputados à Assembleia da República.

A este grupo de deputados há que acrescentar membros do partido, que embora não desempenhem funções de deputados ou no executivo madeirense, ocupam cargos em empresas públicas ou semi-públicas. De igual forma destacamos funcionários do partido que apesar de ocuparem posições de pouco relevo, o contacto directo com o líder concede-lhes estatuto privilegiado, nomeadamente a reputação

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

adquirida de uma certa intangibilidade.De salientar que embora apresentando estes elementos como constituindo o núcleo duro do PSD, Luís Dantas e Jaime Ramos, constituem o chamado «braço direito» de Jardim. O primeiro no âmbito do executivo regional, desempenhando as funções de chefe de gabinete, o segundo, a nível partidário, como líder do grupo parlamentar. Evidentemente, que de todos os mencionados no quadro 8, uns haverá que dispõem de maior confiança por parte do líder do que outros, sendo precisamente aqueles com quem Jardim pode contar a toda a hora.A organização, devido a um conjunto de factores, nomeadamente a especialização técnica, a divisão do trabalho, a necessidade de hierarquia, entre outros aspectos, tende a dividir todo e qualquer partido em dois grupos: uma minoria dirigente e uma maioria dirigida. Para que a organização seja forte e se afirme exige uma direcção igualmente forte. A disciplina e a centralização vão ser a garantia da rapidez das resoluções que são tomadas por um líder que dispõe de capacidade oratória, que luta pelos ideais, que acredita poder melhorar a sociedade e que dispõe de qualidades superiores à média.Tudo isto leva a que o cargo ocupado, em vez de ter duração limitada, acabe por ser quase, senão mesmo, para o resto da vida. A apatia das massas leva a que a supremacia do líder esteja assegurada.O trabalho desenvolvido por Alberto João é reconhecido pela maioria da população madeirense, traduzindo-se este de acordo com Michels na «renovação indefinida do mandato». É a «eterna gratidão» pelos «serviços prestados ao partido» e à Madeira

de modo geral [401].Uma vez que as massas não parecem ser capazes de dominar os vários campos da

vida política, como defende Michels [402], está encontrada a justificação teórica e prática, julgamos nós, para a dominação efectiva de Jardim há vinte anos consecutivos na Madeira.

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

Mas se tal é realidade, não se julgue que no interior do PSD regional não existe um grupo oposicionista à espera de poder aceder ao poder máximo. De salientar que não se poderá falar de contra-elite no sentido estrito, na medida em que não se observa um conjunto de pessoas influentes fora e mesmo dentro do chamado núcleo duro dispostas a lutar de forma clara e pública pela liderança do partido. Isto é, contrariamente ao que se tem vindo a verificar no partido a nível nacional, onde a Professora Maria José Stock, através do estudo efectuado, conseguiu identificar conflito intra-partidário, sobressaindo neste «diversos agrupamentos (...) ao nível das elites do partido» que tinham em vista uma «acção comum», resultando desta

«a produção ou o acréscimo da conflitualidade intra-partidário» [403], no PSD regional nunca se assistiu a semelhante situação.Pelas características e aspectos que ao longo deste trabalho salientamos, o PSD não sentiu necessidade de estabelecer alianças entre facções que permitissem ultrapassar conflitos intra-partidários. Se o fêz, fê-lo de modo subtil, evitando que o assunto ultrapassasse as portas do partido e assumisse publicamente proporções significativas. Muito menos em tempo algum na vida desta força política regional «pela existência e funcionamento das facções passaram acordos inter-partidários» à semelhança do

que sucedeu com o partido no plano nacional [404]. Talvez pelo facto desta necessidade não se ter feito sentir no decorrer de seis eleições legislativas regionais face às amplas maiorias obtidas, as facções que eventualmente se tenham formado ou pretendiam formar-se não encontraram espaço e apoio para se afirmarem e expandirem .Tivemos já oportunidade de referir que até 1988 a contenda não era muito acentuada, pelo menos publicamente. Contudo, o facto de Miguel Sousa ter ocupado a vice-presidência do Governo Regional de 1988 a 1992 somado ao facto de Jardim dizer que se sentia cansado e estava na hora de começar a pensar na

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

saída, despoletou movimentos no interior do partido e do núcleo duro. Não se fala ainda de forma aberta e directa, mas começa-se a falar muito mais do que até então. Já não se trata somente de criticar mas de uma luta hábil pela aquisição e manutenção do poder.Esta guerra é entre aqueles que são tidos como melhor posicionados para substituir Alberto João no governo da Madeira e, possivelmente, na liderança do partido. São os chamados «Delfins» e a atitude de alguns destes não tem nada a ver com os que sairam do partido devido a confronto directo com o líder ou, pura e simplesmente, perderam a sua confiança e consideração. Estes são tidos por elementos cujo afastamento não é perda grave para o PSD.Em 1996 no discurso de tomada de posse como presidente do Governo Regional, pela sexta vez consecutiva, Jardim proferiu um discurso humanista tendo

afirmado que este seria o seu último mandato [405]. De então até ao presente seis nomes têm surgido com frequência como sendo os escolhidos por este, nomeadamente: QUADRO 9 EVENTUAIS SUCESSORES DE ALBERTO JOÃO

Guilherme SilvaJoão Cunha e SilvaJosé A. Coito Pita

José Paulo Batista FontesMiguel Albuquerque

Miguel J. Sousa

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

A ordem destes não indica superioridade de uns sobre outros, tendo sido adoptada a alfabética. Qual destes o melhor posicionado para assumir a presidência do executivo madeirense e do próprio PSD? É difícil responder a esta questão, dividindo-se as opiniões. Por outro lado, nunca qualquer destes elementos se assumiu de forma pública como o sucessor. Nas diferentes entrevistas aos órgãos de comunicação social todos negam ser o escolhido. Qual a razão para esta atitude?Para Michels a existência de líderes em todas as formas da vida social é um fenómeno ao qual não é possível fugir. Nesta sequência, os líderes nos partidos

políticos acabam por tornar-se «estáveis» e «inamovíveis» [406]. A oligarquia assume forma, contribuindo para tal a experiência dos responsáveis máximos pela organização, uma explicação psicológica que atinge os diferentes elementos do partido ao longo da sua vida, a necessidade de consolidação de «um agregado

político disciplinado» [407].Posto isto, a resistência à dominação dos líderes não é tarefa fácil mesmo quando se quer impor tal por intermédio das leis, pois como refere Michels «não são os

chefes, mas as leis, que terminam por sucumbir e ceder» [408]. Esta resistência torna-se ainda mais difícil quando o movimento oposicionista está perante um líder que tem a seu favor a superioridade numérica dos votos, quando justifica a sua permanência para não permitir que a coesão do partido se quebre, quando actua com base na legalidade que se opõe à rebeldia e prepotência, aos olhos das massas, daqueles que lutam para adquirir o poder, quando luta contra a inveja, o ciúme e ambição da fracção designada por «outsider».Esta é a situação que os delfins de Alberto João encontram no PSD, sendo-lhes extremamente difícil pronunciar-se sobre o facto de serem apontados como substitutos deste. Por outro lado, não podemos ignorar a posição dúbia do líder madeirense, ou seja, da mesma forma que anuncia o seu desejo de afastar-se

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5 – A EVOLUÇÃO NO TEMPO

pretendendo dar lugar ao mais novos, pedindo aos madeirenses que não se preocupem com o seu futuro e neste aspecto adopta o discurso Peronista «Don´t cry

for me» madeirenses [409], com a mesma facilidade afirma que caso seja necessário não irá embora.A atitude de Jardim se faz desesperar os sucessores não é novidade para a oposição regional. Em Abril de 1998 este referia que se a «oposição de esquerda regional» continuasse a «pegar comigo» pediria ao «povo madeirense mais quatro anos, só

para castigá-los» [410].Evidentemente que para os partidos opositores e, neste caso para o PS, as palavras do líder partidário mais não são do que «floreados pueris» visto este ao não ter «para onde ir, com o temperamento que tem, com o feitio e com a visibilidade que

tem» [411], não lhe restar nada mais do que manter-se no local que ocupa há vinte anos.Para o PP/M «não é a primeira vez que o presidente do Governo Regional e do PSD/M anuncia a sua retirada destas funções e, depois, acaba por voltar atrás». José Manuel Rodrigues, líder desta força política, vai mais longe quando afirma «encarar as declarações de Jardim mais como um recado para dentro do

PSD» [412].Esta mesma opinião é partilhada por Paulo Martinho, UDP, que enviou uma carta para a Quinta Vigía, residência oficial do presidente do Governo, com alguns «conselhos de Páscoa». Nesta, aquele aconselha Jardim a não falar mais da questão da sucessão, já que ao não conseguir «chegar ao cargo de Presidente da República ou de primeiro-ministro» face «à opinião pública negativa que tem gerado no resto País», a única hipótese é a de continuar na vida política regional. Para este líder a ameaça do abandono do poder é usada por Alberto João como «uma arma contra os delfins do seu próprio partido» uma vez que «obriga-os, qual bom caçador, a

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sairem da sua toca e, quando eles começam a ganhar a sua própria dinâmica arruma-os». Para Paulo Martinho a táctica deste tem unicamente por fim criar uma «armadilha» a todos os que no interior do PSD se mostram disponíveis para a luta

pela sucessão [413].Mas se tudo isto é verdade e justifica a posição de silêncio dos cinco nomes apontados como os mais prováveis substitutos de Jardim, nem por isso se deixa de assistir à troca de palavras entre os delfins sempre ultrapassada com a intervenção

de Alberto João [414] o que leva a que a harmonia entre estes se restabeleça pelo menos aparentemente. De todo o exposto e seguindo o raciocínio de Michels, a posição de Alberto João não se encontra ameaçada no PSD e no executivo por imposição das massas até porque citando o autor não são estas que «devoram» os líderes são os «próprios

chefes que ajudados pelas massas, se entredevoraram» [415]. Isto é, sempre que o poder do líder se encontra ameaçado trata-se na realidade de uma tentativa por parte da contra-elite de junto da população descredibilizar o líder, procurando inculcar novas ideias contrárias à do velho dirigente partidário.Neste âmbito, na Madeira não há, excepto na oposição qualquer tentativa dos protagonistas da alternativa a Jardim, no interior do núcleo duro, de persuadir a população no sentido de apoiar um outro membro partidário que não seja este. Esta seria uma tarefa inútil e só prejudicaria quem quer que adoptasse tal postura. Nestes casos a posição do líder é a de fazer com que os oposicionistas passem por incompetentes, demagogos, ingratos e aproveitadores do partido, ideia já defendida

por Michels [416]. Nesta situação específica os madeirenses tiveram oportunidade de verificar tal em relação aos que sairam do partido, nomeadamente Egídio Pita, Fausto Pereira e outros.Não se julgue que este comportamento autoritário por parte de Jardim se associa

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somente ao poder pelo poder e ao egoísmo sem limites. Esta é uma característica comum a todos os líderes quando ameaçados e como defende Robert Michels «o despotismo dos chefes» advém também da «consciência do seu próprio valor e dos

serviços que prestaram à causa comum» [417]. Ora, não só o líder do partido maioritário tem plena noção e convicção do seu valor e do que fez em relação à Madeira, como a maioria da população madeirense o reconhece.Numa sondagem publicada pelo Diário de Notícias da Madeira, 54,1% dos inquiridos considera que Jardim deve ficar na liderança do PSD e na chefia

do Governo Regional enquanto 38,2% demonstra opinião contrária [418].Como se vê, ou realmente Alberto João deixa o partido por sua livre vontade ou, dificilmente os mencionados sucessores ou outros que venham a aumentar a lista atingirão os seus objectivos. A benevolência da massa não parece dar grandes indícios em facilitar a vida a qualquer um dos delfins. A questão que aqui se coloca não está no desapoio total a um destes que um dia virá, mas quando Jardim decidir. Não nos esqueçamos que este continua a manter contacto directo com a opinião e sentimentos da população o que lhe permite apoio e solidariedade desta nas horas difíceis.Por outro lado, não podemos descurar o grau de abstenção que tem vindo a aumentar o que pode ser indício de cansaço, de desgaste, de apatia por resultados que à partida já se conhece. Tudo isto se dirige e se aplica ao líder de sempre, ao partido ou aos dois?De qualquer forma a supremacia de Jardim no PSD não invalida a luta entre os ins e os outs, ou seja, existem sucessores prontos a suplantar a oligarquia prevalecente

«sem esperar a sua morte natural» [419]. É a luta tão comum nos diferentes organismos da vida social e, como tal, no PSD. É a luta que se trava entre os que estão do lado de dentro e os que esperam do lado de fora.

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A solução para os sucessores não está em rebater de forma clara, mas em se juntarem ao triunfo e vitórias do líder. Só desta maneira os escolhidos conseguem continuar a manter o seu estatuto e pela via indirecta tentar realizar os seus projectos. Afinal são apontados como fazendo parte da elite do PSD.Alberto João, por seu lado, manterá a intenção de restringir tanto quanto possível os excessos dos delfins. Para a sua missão vai contar com os que lhe são mais chegados, integrando-se nestes, por ordem alfabética, Gabriel D. Esmeraldo, Guilherme Silva, Jaime Ramos, João Cunha e Silva e Luís Dantas, fazendo passar a mensagem de que o momento não é ainda propício à mudança pela salvaguarda da integridade e unidade do partido. Antes que esta minoria possa exprimir e fazer prevalecer a sua opinião tem que se submeter ao que Michels designou de «longa

quarentena» [420].Nesta luta de carácter interno para evitar que o PSD caia na «desgraça» não devido aos resultados eleitorais obtidos pela oposição mas pela perda do líder carismático, à semelhança do que sucedeu com o PS, PSD nacional e açoreano aquando da saída de Mário Soares, da morte de Sá Carneiro e abandono de Cavaco Silva e Mota Amaral, tenderá a terminar «mais numa fusão do que numa circulação das

elites» [421].A amálgama entre o líder e os candidatos a sucessor assume forma, conteúdo. Estes continuarão a ocupar cargos de destaque, a integrar a elite. Em contrapartida simulam obediência ao líder, aceitam as circunstâncias sem nunca perder de vista os seus interesses e verdadeiras ambições. De um lado e do outro todos os meios são bons e devem ser usados quer para conservar, quer para conquistar o poder.Uma coisa é certa e consiste precisamente no facto de o PPD/PSD no plano regional não se ter mostrado, em caso algum, «como o produto das respectivas facções» e a nível da actuação a mesma não ter decorrido «da existência e da dinâmica por elas desencadeadas» como aconteceu a nível nacional entre 1974 e

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1985, conforme defendido por Maria José Stock [422].

[392] Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., pp. 45 e segs.

[393] Neste âmbito destaca-se o trabalho efectuado por Maria José Stock, Elites, Facções e Conflito Intra-

Partidário – O PPD/PSD e o processo político português de 1974 a 1985, Universidade de Évora, 1989.[394]

Idem, p. 129.[395]

Idem, p. 66.[396]

Cf. Moisei Ostrogorski, Democracy and the Organization of Political Parties, op. cit., pp. 378 e segs.[397]

Idem, ibidem.[398]

Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., p. 65.[399]

Idem, p. 129.[400]

Idem, ibidem.[401]

Idem, pp. 39-40.[402]

Idem, p. 56.[403]

Maria José Stock, Elites, Facções e Conflito Intra-Partidário, op. cit., p. 929.[404]

Idem, p. 931.[405]

Diário de Notícias - Madeira, 11 de Novembro de 1996.[406]

Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., p. 237.[407]

Idem, p. 238.[408]

Idem, p. 241.

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[409] Diário de Notícias - Madeira, 17 de Março de 1998 (entrevista pelos vinte anos na presidên-cia).

[410] Diário de Notícias - Madeira, 9 de Abril de 1998.

[411] Idem, ibidem.

[412] Idem, ibidem.

[413] Idem, ibidem.

[414] Diário de Notícias - Madeira, 24, 28 e 29 de Maio de 1998. Tudo se ficou a dever à passagem do rali

Santa Cruz no Parque Ecológico considerado reserva natural que desencadeou certo atrito entre Miguel Albuquerque e Paulo Fontes, secretário regional do Planeamento e Finanças. Embora possamos falar de confronto entre o poder local e o regional, sendo este acusado de ingerência naquele, não podemos ignorar que foi também uma medida de afirmação de Miguel Albuquerque, tentando marcar pontos no sentido de demonstrar independência, salientando que quem manda na Câmara é ele. Esta questão acabou por ser ultrapassada com a chegada de Jardim que se encontrava fora da Região. [415]

Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, op. cit., p. 96.[416]

Idem, p. 99.[417]

Idem, p. 30.[418]

Diário de Notícias - Madeira, 18 de Julho de 1998.[419]

Robert Michels, Sociologia dos Partidos Políticos, p. 97.[420]

Idem, p. 98.[421]

Idem, p. 100.[422]

Maria José Stock, Elites, Facções e Conflito Intra-Partidário, op. cit., p. 931. Para a autora as facções no PPD/PSD não operaram, assim, apenas no quadro interno do partido; extravasaram as suas fronteiras e cruzaram-se com facções de outros partidos, com vista a serem alcançados objectivos específicos, ou seja, em função dos interesses das elites envolvidas nessas facções. O PPD/PSD mostrou-se, efectivamente, como o produto das respectivas facções e a actuação do partido no sistema global decorreu, em larga medida, da existência e da dinâmica por elas desencadeadas».

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CONCLUSÃO

IX

ALGUMAS CONCLUSÕES Tese 1 – Tese da influência no sistema eleitoral Não parece haver dúvidas de que em Portugal o sistema partidário influenciou o sistema eleitoral, resultado de um compromisso assumido pelos vários partidos políticos. Mas também é certo que o sistema eleitoral apesar de ser o mesmo para todo o território português, conduziu já a diferentes quadros no sistema partidário continental. Na Região Autónoma da Madeira não se verificaram alterações de vulto, mantendo-se a mesma situação política durante longo período. De facto os resultados produzidos ao longo de seis eleições legislativas regionais não foram significativos a ponto de falarmos em mudanças substanciais. Tese 2 – Tese do partido dominante O número de assentos obtidos de forma permanente e contínua pelo PSD no Parlamento madeirense, permite-nos falar de uma situação de partido predominante cuja estrutura assenta numa concentração unimodal como defende Sartori e partido ultradominante e hegemónico como referido por Schwartzenberg. A existência de acordo entre os partidos da oposição que levasse a um maior equilíbrio na Assembleia Legislativa e consequentemente em todo o tecido político regional parece difícil de atingir-se, mesmo quando no Parlamento surgem novas forças políticas. Aliás cada partido ao longo de vinte anos de autonomia tem feito um percurso individual, não tendo em conta um só inimigo (PSD), mas vários o que conduz ao aproveita-mento por parte da força partidária que detém o poder que se vê beneficiada com todas as lutas interpartidárias. Tese 3 – Tese da liderança carismática Para o domínio absoluto do PSD contribui um conjunto de factores com destaque para a figura de um líder carismático, de um partido altamente organizado sob controlo directo de Jaime Ramos responsável pelo Grupo Parlamentar e pelo líder Alberto João Jardim, que face ao vasto apoio não só das bases mas de grande parte da população consegue alcançar os seus intentos. Adoptando como fórmula política o populismo, Jardim é visto por um conjunto significativo de cidadãos como o responsável pelo desenvol-vimento da Madeira. O slogan «Primeiro a Madeira e a defesa desta» perfilhado pelo líder regional, fez com que este encetasse uma luta não apenas de âmbito regional contra todos os que se opõem à autonomia, mas de igual forma a nível nacional, mesmo se tratando de elementos do partido a que pertence. Assim, para este político não existe inconveniente em adoptar qualquer tipo de

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CONCLUSÃO

mecanismo que permita maior desenvolvimento à Região independentemente deste se revestir de características autoritárias ou não. A par do citado é de referir a desorganização da oposição, sobretudo a do segundo maior partido (PS) cujas características são fundamental-mente o conflito constante e público, a intriga, indisciplina e crítica destrutiva permanente. O PS é destituído de uma cultura e crença de poder, o que ainda torna mais difícil transmitir ao eleitorado a mensagem de que pode ser alternativa ao PSD, situação agravada pelo facto de no interior do próprio partido contarem-se os que acreditam na possibilidade de tal. Tese 4 – Tese da oligarquia No sistema político madeirense o fenómeno oligárquico não é apenas característico do PSD, estendendo-se este a outras formações partidárias, nomeadamente à UDP que em vinte anos não conheceu outro líder a não ser o actual, que parece dar mostras de querer se retirar unicamente devido a motivos de saúde, apontando como alternativa a forma colegial. Tese 5 – Tese do Ministro da República Parece não haver dúvidas de que a existência de uma figura que representasse a soberania do Estado na Região esteve sempre patente nos trabalhos que a Constituinte desenvolveu, bem como na elaboração do modelo de estatuto para os Açores.Contudo, esta figura que dá pelo nome de Ministro da República, foi sempre tida como indesejável pelo PSD sobretudo para o seu líder Alberto João. Relativamente aos restantes partidos, embora não de forma tão exacerbada como o partido maioritário, defendem, presentemente, já que a sua opinião sobre este tema nem sempre foi a mesma, a extinção daquele perante a consolidação da autonomia e democracia na Região.A essência da questão não reside na pessoa que ocupa o cargo em si, mas na existência deste que consideram como afronta à Madeira, defendendo que o mesmo é de inspiração colonialista. Pelas atitudes adoptadas, durante estes vinte anos, julgamos que este será sempre um assunto prioritário não só no sentido do seu apagamento, mas da própria abolição. Como defende Jaime Ramos, líder do Grupo Parlamentar do PSD, a luta que se tem desenvolvido não é contra a unidade nacional mas sim a favor da autonomia.Face às características do cargo, este só será alvo de profundas alterações ou mesmo extinção através de revisão constitucional. Tal parece difícil de se atingir pelo debate que temos vindo a assistir em seu redor aquando das alterações à Constituição, que não evidência qualquer apoio a nível nacional por parte das diferentes formações políticas. Parece, pois, que esta questão tida ponto de honra no aprofunda-mento da autonomia não terá a curto/médio prazo solução, o que nos permite pensar que toda a controvérsia e contestação em torno da figura do Ministro da República vai por longo tempo continuar a manter-se.

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Tese 6 – Tese do parlamento-arena O Parlamento madeirense à semelhança do que acontece na Assembleia da República, pela sua reduzida idade apresenta características nítidas de «Parlamento-arena». Face às constantes maiorias obtidas pelo PSD, a relação entre este e os restantes partidos políticos faz-se numa base muito mais conflitual do que consensual.A partidocracia é um fenómeno patente na Assembleia Legislativa Regional o que implica uma elevada partidarização parlamentar. Todavia, e simultaneamente é crescente a parlamentarização partidária. Ou seja, a adaptação dos partidos ao Parlamento madeirense é também uma realidade, sujeitando-se estes a toda uma lógica parlamentar que se manifesta não somente no facto das direcções daqueles se deslocarem para o Parlamento, mas de igual forma na maior profissionalização parlamentar dos deputados.Na Assembleia Legislativa Regional o fenómeno da partidarização do Parlamento e parlamentarização partidária complementa-se, não sendo possível proceder à individualização de cada uma destas tendências Tese 7 – Tese da desvalorização do deputado Face à forte disciplina imposta pelos partidos políticos e respectivos Grupos Parlamentares aos deputados é difícil falar-se em autonomia destes perante aqueles e, logo, relativamente ao executivo mais concretamente ao presidente do Governo Regional, no que se refere aos deputados que constituem a maioria parlamentar. Se tal se verifica em relação aos deputados da maioria o mesmo se constata no que diz respeito aos partidos da oposição, embora esta relação possa apresentar contornos menos visíveis pelo facto destes partidos não terem tido nunca acesso aos centros de decisão. A dependência ao partido e ao Grupo Parlamentar faz com que na Madeira a oposição passe a ser entre governo/maioria parlamentar por um lado, e oposição por outro. Mesmo existindo nas forças políticas opositoras deputados cujo estatuto é o de independente, a verdade é que não assistimos a iniciativas e posições individuais por parte destes que se submetem à disciplina partidária. A substituição do exercício livre do mandato por um mandato imperativo de partido é prática no Parlamento regional, mantendo-se também aqui a analogia com a maioria dos Parlamentos modernos. Tese 8 – Tese de ascensão do Grupo Parlamentar

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CONCLUSÃO

Foi o Grupo Parlamentar que substituiu o deputado em si e é este que impõe a disciplina de voto emanada pelo partido, fazendo com que na Assembleia seja mantida a linha de pensamento deste. No Parlamento madeirense pelo facto do Grupo Parlamentar estar submetido ao partido, este acaba por ser a sua voz e apesar desta situação verificar-se em todas as forças políticas (exceptuando-se a situação presente entre o Grupo Parlamentar do PS e o respectivo partido) a relação estabelecida entre o Grupo Parlamentar maioritário, o partido e o executivo atingem dimensões mais elevadas e evidentes. Sendo o Grupo Parlamentar e o partido a sede de facto do poder, torna-se impensável que os deputados individualmente e o Grupo Parla-mentar no seu todo não apoie o executivo regional e o fiscalize Em vinte anos de autonomia político-administrativa, apenas se assistiu publicamente por duas vezes ao rompimento da disciplina de voto, nomeadamente na UDP e PSD, atingindo um elemento de cada uma destas formações partidárias, o que confirma a regra da disciplina de voto que prevalece em todos os partidos políticos com representação parlamentar. Tese 9 – Tese da oposição ao Governo Regional Face à representação política na Assembleia Legislativa e o consequente predomínio do PSD cuja acção se baseia praticamente em prestar apoio parlamentar ao Governo Regional, a crítica e fiscalização a este é levada a efeito pelos partidos da oposição e não pela Assembleia no seu todo como órgão de poder com funções legislativas e fiscalizadoras. O Parlamento regional funciona para a oposição essencialmente como órgão de tribuna, de controlo do Governo madeirense. Aliás, a oposição na Região Autónoma é encarada por parte da população como o chamariz a partir do qual as suas exigências são atendidas. Isto é, as forças partidárias opositoras conseguem mobilizar os cidadãos, despertando os detentores do poder para a necessidade de ultrapassar certas situações, não conseguindo, contudo, levá-los a depositar o voto em si. Mais uma vez à semelhança de outros Parlamentos, também na Madeira o fenómeno parlamentar na maior parte das vezes não constitui novidade o que leva a que de antemão se saiba o papel a desempenhar quer pela maioria, quer pela minoria. Tese 10 – Tese da dominância da elite governante No que diz respeito à análise dos que integram a classe política madeirense, concretamente os deputados à Assembleia Legislativa Regional, verifica-se o predomínio da elite do partido social democrata perante as restantes elites partidárias, não só por Legislatura mas também no conjunto destas. Tese 11- Tese da participação das mulheres

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CONCLUSÃO

A baixa percentagem de mulheres na actividade política é de igual forma um dado evidente, fazendo prevalecer uma elite masculina em relação à feminina. Mesmo assim, a elite social democrata foi a única que desde a I Legislatura contou com elementos femininos, verificando-se o mesmo nas restantes (PS e UDP) bastante mais tarde e em menor número. A questão que aqui se coloca não será tanto a existência de mulheres na lista de candidatos a deputados por parte dos partidos, mas sim o lugar ocupado nestas que não lhes permite serem eleitas para o Parlamento regional. Também aqui e tendo em conta o número de mulheres deputadas na Assembleia Legislativa, não é de esperar mudanças substanciais pelo que a elite masculina tende sempre a predominar sobre a feminina. Tese 12 – Tese da ascensão dos jovens No que respeita à idade dos deputados eleitos ao Parlamento e, no cômputo geral, temos uma elite jovem o mesmo se verificando no plano individual em que todas as elites se integram em maior número no grupo etário dos 31-40 logo seguido dos 41-50 anos, distanciando-se de forma visível das restantes classes etárias. De referir que esta tendência é para manter-se, na medida em que tem sido comum os deputados de uma Legislatura serem reeleitos na seguinte, permitindo assim, o continuar no mesmo escalão ou deslocar-se para o seguinte. Por outro lado, não tem sido prática comum a entrada de novos deputados que não se integrem nos escalões 31-40 e 41-50 anos.

Tese 13 – Tese da predominância das habilitações literárias e qualificações

Em termos de habilitações literárias predominam as elites superiores e técnicas, existindo certa homogeneidade ao longo das Legislaturas no que se refere às elites PS, UDP, CDS e PCP. A elite social democrata por seu lado, relativamente ao grau de ensino é heterogénea tendo sido inclusivamente a única que englobou deputados com o ensino primário. Apesar de tudo a licenciatura tem-se sobreposto aos outros graus de habilitação literária o que representa uma maior qualificação dos deputados. Relativamente à profissão, a elite das profissões liberais com destaque para os advogados, médicos, economistas e, por outro lado, professores de diferentes graus de ensino apresentam percentagens significativas. Tal com se constata em relação às habilitações literárias, as profissões são de igual modo mais homogéneas nas elites PS, UDP, CDS e PCP do que na PSD. O PSD foi a única força política que abarcou todos os sectores de actividade, tendo inclusivamente na I e II Legislaturas um deputado cuja profissão era pescador e agricultor. Tese 14 – Tese da sucessão

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Não é possível referirmos a existência de uma contra elite no PSD disposta a lutar contra a actual liderança e apresentar-se como alternativa a Jardim. Isto não invalida que um reduzido grupo aspire aceder ao poder máximo. Enquanto tal não se torna possível, os apontados como sucessores vão, pela via indirecta, tentando marcar pontos num jogo que pelas características de que se rodeia tende a terminar apenas quando Alberto João o quiser.

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26 de Agosto de 1991 – 172. 30 de Outubro de 1991 – 174, 222. 9 de Novembro de 1991 – 188, 191. 14 de Novembro de 1991 – 190. 16 de Julho de 1992 – 200, 201. 11 de Novembro de 1992 – 176, 186, 192 12 de Novembro de 1992 – 180. 14 de Novembro de 1992 – 199. 28 de Junho de 1993 – 194. 28 de Junho de 1993 – 195. 1 de Julho de 1993 – 177. 17 de Agosto de 1993 - 178, 202, 203. 19 de Agosto de 1993 – 205. 20 de Agosto de 1993 – 206, 207, 208. 22 de Agosto de 1993 – 204. 24 de Janeiro de 1994 – 187. 2 de Fevereiro de 1994 – 209, 210, 212. 17 de Abril de 1994 – 182, 183.

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27 de Abril de 1994 – 179. 12 de Maio de 1994 – 184, 185. 19 de Maio de 1994 - 178. 24 de Maio de 1994 – 181. 8 de Julho de 1994 – 211. 10 de Outubro de 1994 – 213. 22 de Abril de 1995 – 281. 22 de Maio de 1995 – 291. 6 de Setembro de 1995 – 291. 12 de Outubro de 1995 – 214. 13 de Outubro de 1995 – 215. 18 de Outubro de 1995 – 215. 19 de Novembro de 1995 – 276. 24 de Novembro de 1995 – 277, 279. 25 de Novembro de 1995 – 125. 26 de Novembro de 1995 – 125. 9 de Dezembro de 1995 – 216, 217, 218, 219, 220. 14 de Dezembro de 1995 – 278, 280. 16 de Julho de 1996 – 180.

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3 de Agosto de 1996 – 257. 5 de Agosto de 1996 – 258. 19 de Agosto de 1996 – 258. 11 de Novembro de 1996 – 405. 25 de Maio de 1997 - 141, 143. 28 de Maio de 1997 – 139. 17 de Junho de 1997 – 123. 11 de Setembro de 1997 – 225, 226, 227. 5 de Outubro de 1997 - 223, 229. 8 de Outubro de 1997 – 224. 28 de Fevereiro de 1998 – 282. 17 de Março de 1998 – 409. 9 de Abril de 1998 – 410, 411, 412, 413. 24 de Maio de 1998 – 414. 28 de Maio de 1998 – 414. 29 de Maio de 1998 – 414. 5 de Junho de 1998 – 283. 12 de Julho de 1998 – 228, 230, 231, 232, 234.

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15 de Julho de 1998 – 233. 18 de Julho de 1998 – 418. FONTES INFORMATIVAS:

Assembleia Legislativa Regional – 275.

Assembleia Legislativa Regional – 305. Grupo Parlamentar do PSD – 305, 306. Grupo Parlamentar do PS – 323, 324. Grupo Parlamentar da UDP – 275, 324, 325, 327. Grupo Parlamentar do PP – 324.

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BIBLIOGRAFIA

MATRIZ DAS EPÍGRAFES DOS CAPÍTULOS

As fontes estão mencionadas por ordem de capítulo e inserção. BACHELARD, Gaston, O Novo Espírito Científico, Lisboa, Edições 70, 1986. HABERMAS, Jurgen, Mudança Estrutural da Esfera Pública, Rio de Janeiro,Tempo Brasileiro,1984.

SIMMEL, Georg, The Sociology of Georg Simmel, Nova Iorque, Free Press, s.d. MORAIS, Carlos Blanco de, O Ministro da República – digressão sobre as Figuras Comissariais do Estado em Regiões Autónomas, Lisboa, Imprensa Regional Casa da Moeda, s.d. RAMOS, Jaime, in Diário de Notícias – Madeira, 12 de Maio de 1994. TOCQUEVILLE, Alexis de, Da Democracia na América, Porto, Rés, s.d. BOURDIEU, Pierre, O Poder Simbólico, Lisboa, Difel, s.d. LOWENSTEIN, Karl, Teoria de la Constitución, Barcelona, Ariel, s.d.

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ARON, Raymond, As Etapas do Pensamento Sociológico, Lisboa, D. Quixote, 1991. ANEXOS

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