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  • Organizadores

    Eliane Medeiros BorgesLaura Assis

    Marina Furtado TerraMayanna Auxiliadora Martins Santos

    CASOS DE GESTOPolticas e situaes do cotidiano educacional

    1 Edio

    Projeto CAEd - FADEPE/JF

    2017

  • CONSELHO EDITORIAL

    Alexandre Chibebe Nicolella (USP)

    Ftima Alves (PUC-RJ)

    Lina Ktia Mesquita de Oliveira (CAEd)

    Manuel Palcios da Cunha e Melo (CAEd/UFJF)

    Marcelo Tadeu Baumann Burgos (PUC-RJ)

    Marcos Tanure Sanbio (UFJF)

    Nigel Brooke (UFMG)

    Tufi Machado (UFJF)

    Robert Verhine (UFBA)

    PROJETO CAEd-FADEPE /JF

    Rua Eugnio do Nascimento, n. 620

    CEP: 36038-330 - Juiz de Fora MG

    Telefone: (32) 4009-9310

    Email: [email protected]

    REVISO DE TEXTO E NORMALIZAO

    Carolina Garcia de Carvalho Silva

    FICHA CATALOGRFICA

    Casos de gesto: polticas e situaes do cotidiano educacional / organizadores Eliane Medeiros Borges ... [et al.]. -- Juiz de Fora : Projeto CAEd - FADEPE/JF, 2017.

    706 p. : il. . -- (Casos de gesto educacional, v.4)

    ISBN 978-85-68184-12-7

    1. Administrao da educao. 2. Polticas pblicas - Educao. 3. Avaliao educacional. I. Borges, Eliane Medeiros. II. Ttulo. III. Srie.

    CDU 37.014.5

  • Sumrio

    APRESENTAO ....................................................................................................................................................... 13

    SEO 1 - Gesto Escolar ................................................................................. 15

    QUAL O PAPEL DA GESTO ESCOLAR DIANTE DOS DESAFIOS E POTENCIAIS DAS E NAS ESCOLAS DE HOJE? .................................................................................................................................................................... 17

    Jane do Carmo Machado (PPGE/UCP)

    POR QUE ALGUNS ALUNOS CHEGAM AO 6 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SEM SABER LER E ESCREVER? ................................................................................................................................................................. 27

    Andra de Oliveira Costa (PPGP/CAEd/UFJF)

    Ilka Schapper Santos (PPGP/CAEd/UFJF)

    Mnica da Motta Salles Barreto Henriques (CAEd/UFJF)

    A PRODUO DA INDISCIPLINA ESCOLAR: UMA ANLISE DO PROJETO BOA CONDUTA ............. 35

    Deiwson Silveira Fagundes (PPGP/CAEd/UFJF)

    Vtor Fonseca Figueiredo (CAEd/UFJF)

    Andr Bocchetti (PPGP/CAEd/UFJF)

    O PROCESSO DE INCORPORAO DAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA NA ESCOLA A DA SUPERINTENDNCIA REGIONAL DE ENSINO DE ARAUA (MG) ............................................................ 46

    Eliabe Rodrigues Arajo (PPGP/CAEd/UFJF)

    Patrcia Rafaela Otoni Ribeiro (UEA)

    Nbia Aparecida Schaper Santos (PPGP/CAEd/UFJF)

    PROPOSTAS PARA UMA EDUCAO INCLUSIVA NO ENSINO REGULAR EM UMA ESCOLA DO CAMPO ........................................................................................................................................................................ 58

    Gessinea Raydan Evangelista (PPGP/CAEd/UFJF)

    Mnica da Motta Salles Barreto Henriques (CAEd/UFJF)

    Ana Rosa Picano Moreira (PPGP/CAEd/UFJF)

    AVALIAO INSTITUCIONAL: ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE ITABIRA-MG ....68

    Marcelo Pinto Coelho Moura (PPGP/CAEd/UFJF)

    Priscila Campos Cunha (CAEd/UFJF)

    Victor Cludio Paradela Ferreira (PPGP/CAEd/UFJF)

  • O DESAFIO DA RETENO DE PROFESSORES EM ESCOLA DE DISTRITO: O CASO DA ESCOLA ESTADUAL JOS FRANCO, EM CALDAS MG ................................................................................................ 81

    Rita Izabel do Carmo Goveia (PPGP/CAEd/UFJF)

    Michelle Gonalves Rodrigues (UEMG)

    Vctor Cludio Paradela Ferreira (PPGP/CAEd/UFJF)

    DEFASAGEM NA LEITURA E ESCRITA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM CASO DE GESTO NUMA ESCOLA DA REDE PBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS ................................. 92

    Robson de Souza Rocha (PPGP/CAEd/UFJF)

    Mnica da Motta Salles Barreto Henriques (CAEd/UFJF)

    Ilka Schapper Santos (PPGP/CAEd/UFJF)

    EDUCAO DE SURDOS EM UMA ESCOLA DA REDE ESTADUAL DE MANAUS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES .....................................................................................................................................................102

    Raika Sampaio de Macedo Costa (PPGP/CAEd/UFJF)

    Juliana Alves Magaldi (CAEd/UFJF)

    Carolina Alves Magaldi (PPGP/CAEd/UFJF)

    SEO 2 - Gesto Democrtica ......................................................................113

    GESTO DEMOCRTICA NAS ESCOLAS BRASILEIRAS: DO ESTABELECIDO LEGALMENTE AO OBSERVADO NO COTIDIANO ............................................................................................................................115

    Luiz Carlos Gesqui (PPGE/UNIARA)

    DIFICULDADES NA IMPLEMENTAO DA GESTO PARTICIPATIVA EM UMA ESCOLA DA ZONA DA MATA MINEIRA ........................................................................................................................................................ 124

    Cristina Mara Moreira (PPGP/CAEd/UFJF)

    Andr Bocchetti (PPGP/CAEd/UFJF)

    Camila Gonalves Silva Figueiredo (PPGHis/UFJF)

    O CONSELHO DE CLASSE NA ESCOLA CAMPESTRE: POSSIBILIDADES PARA A GESTO PEDAGGICA COM BASE EM EVIDNCIAS ..................................................................................................138

    Waldirene Rodrigues Silva e Silva (PPGP/CAEd/UFJF)

    Helena Rivelli (CAEd/UFJF)

    Manuel Fernando Palcios da Cunha e Melo (PPGP/CAEd/UFJF)

  • PARA ONDE FORAM OS ALUNOS? AUSNCIA PROLONGADA DE ESTUDANTES DA EJA SEMIPRESENCIAL: ESTUDO DE CASO DO CESEC JLIO MARTINS FERREIRA DE UNA/MG .......148

    Roselda Aparecida de Sousa (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amlia Thamer (CAEd/UFJF)

    Fernando Gaudereto Lamas (PPGP/CAEd/UFJF)

    FUNCIONAMENTO EFETIVO DO CONSELHO ESCOLAR: DESAFIOS DE UMA ESCOLA ESTADUAL DE MANAUS/ AM ................................................................................................................................................... 162

    Mrcia Pereira de Almeida Souza (PPGP/CAEd/UFJF)

    Mayanna Auxiliadora Martins Santos (CAEd/UFJF)

    Alexsandra Zanetti (PPGP/CAEd/UFJF)

    SEO 3 - Gesto Educacional Regional .....................................................173

    INSTITUIES: PAPEL, AGENTES E MUDANA NO AMBIENTE EDUCACIONAL BRASILEIRO ......175

    Maria Cristina Drumond e Castro (MPGE/UFRRJ/ITR)

    A GESTO DA INFORMAO E A GESTO DO CONHECIMENTO NOS SETORES DE PAGAMENTO DA SUPERINTENDENICAS REGIONAIS DE ENSINO DE MINAS GERAIS ...............................................189

    Andresa Oliveira Eulalio (PPGP/CAEd/UFJF)

    Leonardo Ostwald Vilardi (CAEd/UFJF)

    Marcos Tanure Sanabio (PPGP/CAEd/UFJF)

    A GESTO INFORMACIONAL PARA O SISTEMA DE ADMINISTRAO DE PESSOAL DA SUPERINTENDNCIA REGIONAL DE ENSINO DE UB/MG .....................................................................203

    Fabiano Vieira Tito (PPGP/CAEd/UFJF)

    Leonardo Ostwald Vilardi (CAEd/UFJF)

    Eduardo Magrone (PPGP/CAEd/UFJF)

    AS DIFICULDADES RELATIVAS ATUAO DO ANALISTA EDUCACIONAL (ANE) NO SETOR PEDAGGICO DA REGIONAL TEFILO OTONI ............................................................................................216

    Rosilene Gresse Dias Costa (PPGP/CAEd/UFJF)

    Juliana Alves Magaldi (CAEd/UFJF)

    Lourival Batista de Oliveira Junior (PPGP/CAEd/UFJF)

    ENTRE VISITAS E DISCUSSES NO WHATSAPP: DESAFIOS AUTONOMIA PEDAGGICA NOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAO INFANTIL DE TERESINA/PI .....................................................225

    Cleuma Magalhes e Sousa (PPGP/CAEd/UFJF)

    Vtor Fonseca Figueiredo (CAEd/UFJF)

    Andr Bocchetti (PPGP/CAEd/UFJF)

  • O QUE FAZER DA EDUCAO AMBIENTAL EM CONTEXTOS ESCOLARES: UM PROCESSO DE RESSIGNIFICAO DE SENTIDOS E SABERES NA CONSTRUO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS ................................................................................................................................................ 238

    Fernanda Antunes Spolaor (PPGP/CAEd/UFJF)

    Lusa Vilardi (CAEd/UFJF)

    Anglica Cosenza (PPGP/CAEd/UFJF)

    A ATUAO DO NCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL DE CARATINGA JUNTO S ESCOLAS ESTADUAIS DE SUA CIRCUNSCRIO ............................................................................................................249

    Delcio Fernando da Rocha (PPGP/CAEd/UFJF)

    Diovana Paula de Jesus Bertolotti (CAEd/UFJF)

    Eliane Medeiros Borges (PPGP/CAEd/UFJF)

    SEO 4 - Ensino Mdio .................................................................................256

    O ENSINO MDIO VISTO A PARTIR DO CHO DA ESCOLA .....................................................................267

    Geraldo Leo (PPGE/FaE/UFMG)

    FLUXO ESCOLAR: OS DESAFIOS DA NICA ESCOLA DE ENSINO MDIO EM CIDADE MINEIRA DE PEQUENO PORTE ................................................................................................................................................... 276

    Cristiano Nvio de Moraes (PPGP/CAEd/UFJF)

    Beatriz de Basto Teixeira (PPGP/CAEd/UFJF)

    POSSVEIS INFLUNCIAS DOS PROJETOS DE INTERVENO REALIZADOS NA ESCOLA ESTADUAL ANTNIO MARTINS DO ESPRITO SANTO NAS TAXAS DE ABANDONO DO ENSINO MDIO .....288

    Lilian Aparecida Franco da Silva (PPGP/CAEd/UFJF)

    Helena Rivelli (CAEd/UFJF)

    Tufi Machado Soares (PPGP/CAEd/UFJF)

    REPROVAO NO 1 ANO DO ENSINO MDIO EM UMA ESCOLA DE CONTAGEM MINAS GERAIS: DESAFIOS DA GESTO ......................................................................................................................................... 298

    Creusa Rosria Fernandes (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amlia Gabriela T. M. Ramos de Paiva (CAEd/UFJF)

    Fernando Gaudereto Lamas (PPGP/CAEd/UFJF)

  • UTILIZAO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS: UM DESAFIO NA ESCOLA ...................................................................................................................................................................... 313

    Lcia Elisa Galvo de Oliveira Alves (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amanda Sangy Quiossa (CAEd/UFJF)

    Elisabeth Gonalves de Souza (PPGP/CAEd/UFJF)

    EDUCAO INCLUSIVA NO MUNICPIO DE BARBACENA: REFLEXES E PERSPECTIVAS ............326

    Maria Thereza Antunes Fortes Menezes Frois (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amanda Sangy Quiossa (CAEd/UFJF)

    Carolina Alves Magaldi (PPGP/CAEd/UFJF)

    A CONSTITUIO DE GRMIOS ESTUDANTIS NAS ESCOLAS DE ENSINO MDIO DA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE MINAS GERAIS NO CONTEXTO DA VIRADA DA EDUCAO MINAS GERAIS ....................................................................................................................................................................... 344

    Andra Botelho de Abreu (PPGP/CAEd/UFJF)

    Luciana Vernica Silva Moreira (SEE-MG)

    Maria Isabel da Silva Azevedo Alvim (PPGP/CAEd/UFJF)

    SEO 5 - Ensino Superior .............................................................................359

    Expandir para incluir e incluir para democratizar: reflexes sobre as atuais transformaes da universidade pblica brasileira ....................................................................................................................................................... 361

    Rodrigo Chaves de Mello (UVA)

    O FLUXO DE PROCESSOS NA COORDENAO DE CONTRATOS DA UFJF: UM ESTUDO SOBRE OS MAIORES DESAFIOS PARA A OTIMIZAO DOS TRABALHOS ................................................................368

    Karine de Paula Barros (PPGP/CAEd/UFJF)

    Carla Silva Machado (PUC-Rio)

    Marcos Tanure Sanbio (PPGP/CAEd/UFJF)

    SISTEMA DE GESTO DE CONTRATOS CONTINUADOS: UMA ANLISE DAS LIMITAES ENFRENTADAS NA GESTO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA ..................................378

    Gilda Firmino Alvares Pereira (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amlia Gabriela T. M. Ramos de Paiva (CAEd/UFJF)

    Marcus Vincius David (PPGP/CAEd/UFJF)

  • OS ENTRAVES NA PACTUAO DAS METAS DO PROADES NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA .................................................................................................................................................................... 393

    Maurcio Policiano Pereira (PPGP/CAEd/UFJF)

    Camila Gonalves Silva Figueiredo (PPGHis/UFJF)

    Paulo Monteiro Vieira Braga Barone (PPGP/CAEd/UFJF)

    RELAO EMPRESA/INSTITUIO: UM ESTUDO SOBRE O ESTGIO DESENVOLVIDO NO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUO DA UFJF ..................................................................................................406

    Antnio Svio Teixeira Carneiro (PPGP/CAEd/UFJF)

    Leonardo Augusto Felipe de Mattos (CEI)

    Marco Aurlio Kistemann Jr. (PPGP/CAEd/UFJF)

    POLTICA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: OPORTUNIDADE DE APRIMORAMENTO DO PROJETO PEDAGGICO DO CURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITRIA DA UFJF ..................................................................................................................................................................... 420

    Snia Maria Ferreira Azalim (PPGP/CAEd/UFJF)

    Laura Assis (CAEd/UFJF)

    Lourival Batista de Oliveira Jnior (PPGP/CAEd/UFJF)

    A GESTO DE PROCESSOS DO ENSINO DE GRADUAO: ESTUDO SOBRE AS DEMANDAS DE TRABALHOS DE CAMPO E VISITAS TCNICAS E NA UFJF ........................................................................431

    Edilvana Mara da Silva Lopes (PPGP/CAEd/UFJF)

    Paola Lili Lucena (SEE-MG)

    Cassiano Caon Amorim (PPGP/CAEd/UFJF)

    O PROCESSO INCLUSIVO NO QUE TANGE AOS SERVIDORES PBLICOS: ANLISE REFLEXIVA NO MBITO DA UFJF .................................................................................................................................................... 443

    Renata Miranda de Freitas Alencar (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amanda Sangy Quiossa (CAEd/UFJF)

    Carolina Alves Magaldi (PPGP/CAEd/UFJF)

    A INCLUSO DOS SERVIDORES COM DEFICINCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA ......................................................................................................................................................................... 463

    Thais Quinto Ferreira do Valle (PPGP/CAEd/UFJF)

    Daniel Eveling da Silva (CAEd/UFJF)

    Rosngela Veiga Jlio Ferreira (PPGP/CAEd/UFJF)

  • SEO 6 - Polticas Educacionais ..................................................................477

    AS POLTICAS EDUCATIVAS E A ESCOLA: PARADOXOS, TENSES E MATERIALIDADES NA CONSTRUO DO ESPAO PBLICO DA EDUCAO .............................................................................479

    Teresa N. R. Gonalves (PPGE/UFRJ)

    O PROJETO DE ESCOLAS EM TEMPO INTEGRAL: DESAFIOS DE IMPLEMENTAO EM UMA ESCOLA DA REDE ESTADUAL DO AMAZONAS ............................................................................................489

    Genivaldo Batista Rodrigues (PPGP/CAEd/UFJF)

    Diovana Paula de Jesus Bertolotti (CAEd/UFJF)

    Tarcsio Jorge Santos Pinto (PPGP/CAEd/UFJF)

    POLTICA ESTADUAL DE EDUCAO INTEGRAL PARA O ENSINO MDIO: A IMPLEMENTAO DO TEMPO INTEGRAL EM UMA ESCOLA DE MANAUS - AM ..........................................................................503

    Sirlei Adriani dos Santos Baima Elisirio (PPGP/CAEd/UFJF)

    Thamyres Wan de Pol Fernandes (Colgio Tiradentes-MG)

    Roberto Perobelli Oliveira (PPGP/CAEd/UFJF)

    A IMPLEMENTAO DO PROJETO DE EDUCAO INTEGRAL EM UMA ESCOLA ESTADUAL MINEIRA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES .........................................................................................................519

    Natlia Fernanda Lobato de Abreu (PPGP/CAEd/UFJF)

    Priscila Fernandes SantAnna (PJF-MG)

    Roberto Perobelli de Oliveira (PPGP/CAEd/UFJF)

    O TERRITRIO ETNOEDUCACIONAL DO RIO NEGRO COMO POLTICA PBLICA DE RECONHECIMENTO DA EDUCAO ESCOLAR INDGENA .....................................................................532

    Alva Rosa Lana Vieira (PPGP/CAEd/UFJF)

    Lusa Vilardi (CAEd/UFJF)

    Anglica Cosenza (PPGP/CAEd/UFJF)

    A atuao DA COORDENAdOria regional de educao nA implementao do Programa Ensino Mdio Inovador eM Coari-AM ........................................................................................................................................... 546

    Irlene Coelho Eloi da Silva (PPGP/CAEd/UFJF)

    Juliana de Carvalho Barros (SEE-MG)

    Alexandre Chibebe Nicolella (PPGP/CAEd/UFJF)

  • SEO 7 - Sistemas Educacionais e Avaliao Externa ............................561

    A AVALIAO EXTERNA SOB A PERSPECTIVA DOS PROCESSOS EDUCACIONAIS ..........................563

    Ana Cristina Ghisleni (PPGE/Unisinos)

    O USO PEDAGGICO DOS DADOS DO SPAECE PELA GESTO DE UMA ESCOLA DO CEAR ......572

    Ana Paula Pequeno Matos (PPGP/CAEd/UFJF)

    Lusa Vilardi (CAEd/UFJF)

    Marco Aurlio Kistemann Jr. (PPGP/CAEd/UFJF)

    A INFLUNCIA DAS PRTICAS DE GESTO ESCOLAR NOS RESULTADOS DAS AVALIAES EXTERNAS: O CASO DA ESCOLA ESTADUAL PRESIDENTE KENNEDY .................................................583

    Marlia Costa de Souza (PPGP/CAEd/UFJF)

    Debora Cristina Alexandre B. e M. Carvalho (PPGHis/UFJF)

    Victor Cludio Paradela Ferreira (PPGP/CAEd/UFJF)

    AVANOS NOS RESULTADOS DO PROALFA: ESTUDO DE CASO DAS AES DESENVOLVIDAS EM UMA ESCOLA DE GOVERNADOR VALADARES ............................................................................................598

    Ndia Ramos Grisson de Oliveira (PPGP/CAEd/UFJF)

    Priscila Campos Cunha (CAEd/UFJF)

    Fernando Tavares Jnior (PPGP/CAEd/UFJF)

    APROPRIAO DE RESULTADOS E IMPLEMENTAO DE AES PEDAGGICAS EM DUAS COORDENADORIAS DISTRITAIS DE EDUCAO DO ESTADO DO AMAZONAS ..............................612

    Keylah Adriana R. A. Dolzanes (PPGP/CAEd/UFJF)

    Gisele Zaquini Lopes Faria (PJF-MG)

    Marcelo Cmara dos Santos (PPGP/CAEd/UFJF)

    SISTEMA DE AVALIAO DO DESEMPENHO EDUCACIONAL DO AMAZONAS (SADEAM): O CASO DE DUAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICPIO DE UARINI- AM .........................624

    Moiss dos Santos Cordeiro (PPGP/CAEd/UFJF)

    Luciana da Silva de Oliveira (IFMG-Bambu)

    Marcelo Cmara dos Santos (PPGP/CAEd/UFJF)

  • SEO 8 - Formao de Professores e Gestores .......................................637

    FORMAO DE GESTORES E PROFESSORES ...............................................................................................639

    Maria Elizabete Souza Couto (PPGE/UESC)

    Snia Fonseca (PPGE/UESC)

    CURRCULO DA FORMAO DE GESTORES: EXPERINCIAS NO CAED/UFJF ..................................650

    Maria Tereza Garcia Teixeira (PPGP/CAEd/UFJF)

    Marina Furtado Terra (CAEd/UFJF)

    Beatriz de Basto Teixeira (PPGP/CAEd/UFJF)

    O PROCESSO DE FORMAO DO GESTOR EM MINAS GERAIS: POSSIBILIDADES E LIMITES .....662

    Eduardo Santos Arajo (PPGP/CAEd/UFJF)

    Daniel Eveling da Silva (CAEd/UFJF)

    Victor Cludio Paradela Ferreira (PPGP/CAEd/UFJF)

    CONTRIBUIES PARA A CAPACITAO DA EQUIPE DE CAMPO DO CAED QUE ATUA NA APLICAO DAS AVALIAES EXTERNAS .....................................................................................................677

    Daniele Aparecida Silva Dias (PPGP/CAEd/UFJF)

    Carla da Conceio de Lima (PPGE/PUC-Rio)

    Ana Rosa Costa Picano Moreira (PPGP/CAEd/UFJF)

    A POLTICA DE FORMAO CONTINUADA DA SEDUC-AM: POSSIBILIDADES E DESAFIOS ........687

    Estrela Dinamar Vinente Santarm (PPGP/CAEd/UFJF)

    Juliana Alves Magaldi (CAEd/UFJF)

    Elisabeth Gonalves de Souza (PPGP/CAEd/UFJF)

    Amanda Sangy Quiossa (CAEd/UFJF)

    FORMAO CONTINUADA PARA OS COORDENADORES DE REA DO CETI UREA PINHEIRO BRAGA MANAUS/AM......................................................................................................................................... 696

    Renata do Monte Rodrigues (PPGP/CAEd/UFJF)

    Michelle Gonalves Rodrigues (UEMG)

    Wilson Alviano Jnior (PPGP/CAEd/UFJF)

  • 13

    CASOS DE GESTO|APRESENTAO

    APRESENTAO

    A srie Casos de Gesto Educacional uma produo anual do Ncleo de Dissertao do Programa de Ps-graduao Profissional em Gesto e Avaliao da Educao Pblica do Centro de Polticas Pblicas e Avaliao da Educao da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGP/CAEd/UFJF). Os 54 casos que compem esse quarto volume da srie foram selecionados da turma 2015/2017 do Mestrado Profissional, composta por 138 alunos vinculados aos convnios dos estados do Amazonas, Minas Gerais, Rio de Janeiro; dos municpios de Recife e Teresina; e da FADEPE/UFJF.

    A dissertao do PPGP composta por trs captulos. No primeiro apresentada a descrio do caso de gesto a ser investigado, bem como as evidncias que o sustentam. O segundo captulo dedica-se anlise do caso com base em referenciais tericos relacionados discusso do caso e, por fim, no terceiro captulo apresentado um Plano de Ao Educacional cujo objetivo propor aes para os problemas encontrados na pesquisa. Tal formato busca cumprir com o objetivo do programa, qual seja, gerar uma prtica reflexiva nos profissionais que atuam junto aos sistemas educacionais. Os textos ora selecionados dizem respeito ao primeiro captulo da dissertao. A escrita dos textos foi realizada pelos mestrandos junto equipe de orientao institucional.

    A orientao institucional se desenvolve sob um processo de corresponsabilizao entre professores orientadores e suporte de orientao. Os professores orientadores se responsabilizam pela fundamentao analtica e bibliogrfica da pesquisa. Os analistas do Ncleo de Dissertao assessoram diariamente pela plataforma o processo de pesquisa e escrita e a adequao dos captulos estrutura da dissertao do Programa. Esse fato explica a coautoria dos artigos pelos mestrandos, analistas e professores orientadores.

    Ao longo desse volume, vocs encontraro oito sees temticas, a saber: Gesto Escolar, Gesto Democrtica, Gesto Educacional Regional, Ensino Mdio, Ensino Superior, Polticas Educacionais, Sistemas Educacionais e Avaliao Externa, e Formao de Professores e Gestores. Cada uma delas precedida de um texto de abertura escrito por pesquisadores de instituies de ensino superior cujas

  • 14

    CASOS DE GESTO|APRESENTAO

    pesquisas dialogam com as temticas das sees. Apesar de os textos que compem as sees assumirem temticas semelhantes, eles buscam apresentar discusses que agregam diferentes realidades e contextos institucionais.

    O objetivo deste livro que as propostas de estudo de caso sejam publicizadas e possam subsidiar as discusses sobre os problemas que so encontrados nas redes de educao em diferentes contextos.

    As organizadoras.

  • SEO 1Gesto Escolar

  • 17

    QUAL O PAPEL DA GESTO ESCOLAR DIANTE DOS DESAFIOS E POTENCIAIS DAS E NAS ESCOLAS DE HOJE?

    CASOS DE GESTO|SEO 1

    QUAL O PAPEL DA GESTO ESCOLAR DIANTE DOS DESAFIOS E POTENCIAIS DAS E NAS ESCOLAS DE HOJE?

    Jane do Carmo Machado*

    Os artigos que compem a presente obra so decorrentes de pesquisas realizadas no mbito do Programa de Ps-graduao em Gesto e Avaliao da Educao (PPGP) do Centro de Polticas Pblicas e Avaliao da Educao da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF). Todos os artigos tratam de temas relacionados gesto escolar nas suas diversas dimenses.

    No seu conjunto, os trabalhos apresentam uma coerncia semntica capaz de interlig-los do ponto de vista epistemolgico, trazendo pressupostos tericos que sustentam a discusso sobre os diversos desafios e potenciais das e nas escolas de hoje para o trabalho do gestor escolar.

    Primeiramente, antes de passar para a apresentao de cada um dos oito trabalhos desenvolvidos no contexto do Mestrado Profissional em Gesto e Avaliao da Educao (PPGP), convido a cada um para fazer esta leitura a partir da perspectiva de Vygostky (1999) quando traz o conceito crtica de leitor. Nessa linha, o autor, em seu trabalho intitulado A Tragdia de Hamlet, Prncipe da Dinamarca, faz uma crtica subjetiva, de impresso artstica imediata, obra de Shakespeare, em que assume que a obra de arte, aps sua criao, separa-se de seu autor e recriada pelo leitor a partir da multiplicidade polissmica apresentada, o que possibilita ao crtico fazer revelaes que o prprio autor nem sequer havia pensado quando da criao de sua obra.

    Assim, a riqueza da obra no est na interpretao que o autor faz de sua obra, mas na diversidade de interpretaes que essa pode provocar e, a sua, uma dentre muitas outras possveis. Dessa forma, os trabalhos aqui apresentados trazem as interpretaes de seus autores, a partir de seus conhecimentos, experincias, referncias e perspectivas, e, portanto, no se fecham em si mesmos, mas, esto abertos a outras interpretaes possveis.

    * Doutora em Educao pela Universidade Federal Fluminense. Orientadora escolar na Educao Bsica da Prefeitura Municipal de Petrpolis e Professora do Programa de Ps-graduao em Educao da Universidade Catlica de Petrpolis.

  • 18

    QUAL O PAPEL DA GESTO ESCOLAR DIANTE DOS DESAFIOS E POTENCIAIS DAS E NAS ESCOLAS DE HOJE?

    CASOS DE GESTO|SEO 1

    Para tanto, buscando enriquecer as discusses levantadas sobre a gesto, inicio trazendo algumas tenses, fragilidades e potenciais que perpassam a temtica do conceito prtica desenvolvida nas escolas de Educao Bsica.

    O conceito de gesto escolar pode refletir diversas concepes, dependendo do modo como so assumidas as posies polticas, o papel da escola e da formao humana na sociedade (LIBNEO, 2015). Sendo assim, a escola vai se organizar e se estruturar tendo como ponto de partida a concepo adotada.

    Nesse sentido, considera-se, primeiramente, importante retomar o conceito de gesto escolar na perspectiva democrtico-participativa, que parte da superao da viso de gesto que pressupe uma forma de dominao e subordinao das pessoas e avana na medida em que defende ser essencial a realizao de um trabalho participativo e coletivo, cujos aspectos sociais, polticos e ideolgicos so observados, so privilegiadas as decises coletivas, implicando a responsabilidade individual, reafirmada pela importncia do papel de cada sujeito nesse processo (LIBNEO, 2015).

    As escolas brasileiras possuem trs formas de provimento da funo de gestor escolar: por meio de nomeao que ocorre por indicao poltica, por concurso de ttulos e provas, que leva em conta a formao, a imparcialidade e objetividade do processo seletivo, e por eleio da comunidade escolar, que defende como pressuposto a democratizao do processo. Em pesquisa realizada por Paro (2011), os dados revelaram que os participantes, em sua maioria, acreditam que a eleio do gestor pela comunidade escolar a melhor opo, no sentido de esse profissional poder representar com mais legitimidade os demais profissionais que o elegeram e, portanto, ser capaz de traduzir em aes os anseios, as expectativas, as necessidades, dentre outros aspectos daquele grupo especificamente.

    As formas de provimento da funo de gestor podem definir os modos de participao dos sujeitos, revelar suas concepes e suas intencionalidades, orientar as decises e os caminhos a seguir. importante que toda comunidade escolar esteja de acordo com a forma como essa funo foi ocupada, ou, pelo menos, tenha clareza que, independentemente do modo de ocupao, a escola deve ser pensada democrtica e coletivamente.

    Partindo dessa pesquisa e da concepo de gesto escolar na vertente democrtico-participava, possvel pensar no papel, nas inmeras atribuies, nos desafios e

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    tenses presentes na prtica gestora, como, por exemplo, a democratizao do ensino, que, para alm de criar oportunidades de acesso escola pblica, tambm levantou questes relativas qualidade dessa escola, de seus professores, de sua infraestrutura, dentre outros muitos aspectos, os quais, sob pena de perder o rumo da histria, no podem ser ignorados.

    Para Paro (2016), a preocupao com um ensino de qualidade que considere os interesses dos usurios precisa envolv-los em um processo de avaliao do desempenho da escola pelo fato de esses serem os mais diretos beneficirios de uma educao de qualidade. Dessa forma, a promoo da participao de todos, da escolha do gestor at a promoo de um ensino de qualidade, em um processo que implica escolhas, posicionamentos, planejamento e avaliao, dentre outros aspectos, um desafio para a gesto democrtico-participativa que pretende uma educao de qualidade para todos.

    Assim, considerando essa educao de qualidade para todos, no cotidiano das escolas, os gestores escolares deparam-se com muitas questes que precisam ser tratadas e assumidas coletivamente por todos os sujeitos da escola e que s vezes se revelam como obstculos, outras como potencialidades, entretanto, sempre exigem um conhecimento tcnico, pedaggico e poltico referente prtica escolar e administrativa.

    A conduo de um projeto de escola coletivamente pensado, movido pela participao, faz parte de uma das atribuies da funo do gestor que no se revela to simples de ser colocada em ao. Para que possa se tornar concreta, o gestor vai precisar investir e acreditar de fato que tal participao coletiva significativa e essencial, no recuando diante dos primeiros obstculos encontrados, pois, essa participao da comunidade na gesto da escola pblica (PARO, 2016), por exemplo, caracteriza-se como um desafio que precisa ser superado para que se possa pensar o processo educacional coletivamente, tendo em vista educao de qualidade que possa atender aos interesses dos principais protagonistas.

    Sendo assim, os gestores escolares tm que enfrentar diversos desafios colocados pelo caminho para poderem instituir uma cultura democrtica no contexto escolar e para atuar de forma a atenderem s necessidades do contexto e dos sujeitos, cujos problemas ultrapassam os muros da escola, assim como, o tempo vivido, j que muitas aes no presente definem concepes, polticas e aes futuras,

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    superando uma viso reducionista sobre o papel social da escola e assumindo toda complexidade presente na ao educativa.

    Essa dimenso que coloca a atividade educacional com implicaes que ultrapassam os muros da escola leva a pensar tambm sobre a complexidade da atividade gestora que, segundo Lck et al. (2005), exige que esses profissionais tenham uma viso de conjunto e de futuro sobre o trabalho educacional e o papel da escola na comunidade; conhecimento de poltica e da legislao educacional; habilidade de planejamento e compreenso do seu papel na orientao do trabalho conjunto; habilidade de manejo e controle do oramento; habilidade de organizao do trabalho educacional; habilidade de acompanhamento e monitoramento de programas, projetos e aes; habilidade de avaliao diagnstica, formativa e somativa; habilidade de tomar decises eficazmente; habilidade de resolver problemas criativamente e de emprego de grande variedade de tcnicas. Todos esses aspectos da atividade gestora ganham outros sentidos quando acontecem em uma ao conjunta com os outros sujeitos, alunos e professores, j que a escola s pode ser considerada de qualidade ao buscar intencional e sistematicamente atender s necessidades e s expectativas de todos os envolvidos.

    Desse modo, a escola de qualidade que defende a perspectiva democrtico-participativa precisa considerar, como aponta Paro (2005), que a dimenso histrica perpassa a atividade administrativa, que no ocorre em um vazio, e que a educao escolar encontra-se intimamente ligada a interesses e foras sociais presentes em dada situao histrica. Sendo assim, torna-se cada vez mais importante trazer para o centro das discusses pesquisas, que tm como pano de fundo a gesto escolar, como os casos de gesto aqui apresentados, que se aproximam do campo de trabalho dos gestores, a escola, e que, de uma forma ou de outra, possibilitam um mergulho, a partir do conceito crtica de leitor, nas questes que atravessam o cotidiano de trabalho desses profissionais e que no podem ser desconsideradas, mas, alm disso, tm implicaes na construo de uma escola que possa atender a todos, alunos e professores.

    Importa destacar que estes estudos permitem ainda outras interpretaes sobre a mesma questo, o que contribui para o fortalecimento do campo e dos sujeitos nele envolvidos. A reflexo sobre o conceito de gesto escolar e a prtica do gestor no seu campo de trabalho, a escola, enriquece no s a discusso, mas possibilita

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    fundamentar a argumentao em situaes histricas concretas vividas pelos sujeitos gestores, professores, alunos, que, ao experimentarem essas situaes, so levados a assumirem determinadas posies reveladoras de suas opes ideolgicas, educacionais, culturais, econmicas, polticas e sociais.

    O primeiro captulo do livro apresenta um caso que trata dos problemas relacionados defasagem na aquisio inicial da leitura e da escrita identificada em alunos do 6 ano do ensino fundamental em uma escola pblica estadual em Divinpolis, Minas Gerais, a partir da pesquisa realizada por Andra de Oliveira Costa, em parceria com a Professora Doutora Ilka Schapper Santos, orientadora, e Mnica da Motta Salles Barreto Henriques, assistente de orientao. O caso de gesto foi motivado pela percepo da mestranda, que professora de Lngua Portuguesa no 6 ano, de que alguns alunos chegavam a essa etapa de escolarizao com srias dificuldades na leitura e na escrita. Assim, ao se deparar com tal cenrio, a autora da pesquisa apresenta uma proposta de interveno que se fundamenta na indissociabilidade do processo de alfabetizao e de letramento.

    O segundo caso analisou o Projeto Boa Conduta, indicando as dificuldades da gesto escolar em uma instituio de ensino fundamental e mdio do interior de Minas Gerais para lidar com a indisciplina e em realizar intervenes que no se pautem em um vis simplesmente punitivo. O referido estudo foi realizado por Deiwson Silveira Fagundes, Professor da Escola Estadual Professora Herona Torres e um dos responsveis pela criao do Projeto Boa Conduta, e contou com a parceria de Vtor Fonseca Figueiredo, Doutor em Histria pela UFJF e Analista de Formao em Educao Distncia do PPGP, e Andr Bocchetti, Doutor em Educao pela USP, orientador da dissertao. O caso de gesto aqui apresentado tem como contexto a Escola Estadual Professora Herona Torres, localizada em Coluna/MG, nica na sede do municpio que oferece os anos finais do ensino fundamental e o ensino mdio, atendendo, portanto, a maior parcela da populao da regio. Em 2016, a escola possua 943 alunos distribudos em 16 turmas dos anos finais do ensino fundamental e 10 do ensino mdio. A gesto escolar da escola e o corpo docente apontam a quantidade de educandos por turma como uma dificuldade para o desenvolvimento do trabalho pedaggico e a manuteno da disciplina. Para tratar de tal problemtica, foi criado, em 2009, o Projeto Boa Conduta que teve a participao da gesto escolar, professores e alunos. A iniciativa previa criar e implementar algumas aes e intervenes no contexto escolar e tambm fora

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    desse para reduzir o quantitativo de ocorrncias por indisciplina; entretanto, no decorrer dos anos seguintes, a proposta inicial foi tendo que se adaptar s condies financeiras da escola, s concepes dos professsores e da prpria gesto sobre as finalidades desse Projeto para a melhoria da prtica educativa segundo uma viso mais formativa e muito menos punitiva. Assim, foi possvel inferir que a alterao e no compreenso da proposta inicial resultou no s em sua desqualificao, mas apontou que a escola e toda comunidade escolar gesto escolar, corpo docente e discente, pais precisam assumir juntos os desafios que impedem o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem capaz de superar as adversidades e revelar as potencialidades de todos os envolvidos.

    O terceiro caso aqui apresentado discute a incorporao do uso das tecnologias no cotidiano de uma escola pblica da rede de ensino da Superintendncia Regional de Ensino SRE-Araua/Minas Gerais, a partir da percepo da gestora da Escola A de que os recursos tecnolgicos disponveis so pouco utilizados pelos docentes durante sua prtica pedaggica, e decorrente da pesquisa de Eliabe Rodrigues Arajo, que neste estudo contou com a parceria de Patrcia Rafaela Otoni Ribeiro, Doutora em Lingustica, e da orientadora Professora Doutora Nbia Aparecida Schaper Santos. Essa escola atende a alunos matriculados no Ensino Fundamental anos finais, no Projeto Escola Integral e na Educao de Jovens e Adultos. Possui diversos equipamentos tecnolgicos, porm, esses recursos so muito pouco usados pelos professores, o que evidencia que essa unidade escolar est na contramo das polticas educacionais voltadas incluso tecnolgica. Tal situao, alm de causar desconforto, impede tambm que muitos alunos possam usufruir das vantagens da implementao da tecnologia, como mais um recurso didtico-pedaggico, na promoo de um processo de ensino-aprendizagem capaz de atender s necessidades dos alunos de hoje, fazendo com que a gesto escolar, por meio da pesquisa realizada, possa desenvolver aes que promovam a incorporao das novas tecnologias nas prticas docentes em sala de aula.

    O quarto caso, elaborado na pesquisa de Gessinea Raydan Evangelista, gestora da escola cenrio do caso apresentado, foi escrito em parceria com a assistente de orientao Mnica da Motta Salles Barreto Henriques e com a orientadora Professora Doutora Ilka Schapper Santos. Aborda a questo da incluso de alunos com deficincia em uma escola regular no interior do estado de Minas Gerais, em que, apesar de a escola possuir uma sistemtica organizada para o atendimento

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    desses alunos tanto na sala de aula regular como na sala de recursos multifuncionais, h rudos e dissonncias nesses atendimentos, que evidenciam a necessidade de promoo de aes e de intervenes pensadas em conjunto pelos professores das salas regulares e da sala multifuncional, bem como pela gesto escolar, se a pretenso contribuir para a aprendizagem desses alunos a partir do reconhecimento e do respeito s suas fragilidades e do fortalecimento de seus potenciais.

    O quinto caso, apresentado por Marcelo Pinto Coelho Moura, em parceria com Priscila Campos Cunha, analista de formao em EaD do Programa Profissional em Gesto e Avaliao da Educao Pblica, Mestre Psicologia Social, juntamente com o orientador Professor Victor Cludio Paradela Ferreira, Doutor em Administrao pela Fundao Getlio Vargas, analisa as contribuies e os desafios vividos na implementao de uma avaliao institucional empreendida pela equipe gestora, em 2014, na Escola Estadual Professora Palmira Morais na cidade de Itabira em Minas Gerais. Os resultados revelaram que essa unidade escolar, a partir de sua Proposta Pedaggica, tem como um de seus objetivos a Avaliao Institucional. Essa ao est impregnada de fragilidades no que diz respeito sua compreenso pelos sujeitos envolvidos na prtica escolar, gestores, professores e alunos, como tambm em relao s condies materiais e temporais para a sua realizao. Considerando que a Avaliao Institucional atendeu, parcialmente, s orientaes para a realizao de uma ao dessa envergadura, contitui-se um desafio apresentado gesto escolar o uso dos dados obtidos para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e das aes administrativo-pedaggicas.

    O sexto caso trata os impactos gerados pela rotatividade de professores na Escola Estadual Jos Franco, localizada no distrito de So Pedro de Caldas, municpio de Caldas Minas Gerais, e foi elaborado por Rita Izabel do Carmo Goveia, em parceria com a Professora Michelle Gonalves Rodrigues, Doutora em Antropologia, e com o orientador Professor Doutor Vctor Cludio Paradela Ferreira. Apresenta como hiptese que a queda na qualidade do processo ensino-aprendizagem na unidade escolar est relacionada reteno de conhecimento provocada por essa rotatividade docente, baixos resultados nas avaliaes internas e externas e fragilidade no Projeto Poltico Pedaggico da escola. A atuao e interveno feitas pela equipe gestora so apontadas como um caminho potencial para a transformao dessa realidade. Assim, coloca-se como um desafio a ser superado pela equipe gestora a implementao de aes coletivas que precisam partir da realidade existente em

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    que muitos dos entraves encontrados no competem escola resolver, mas, a partir deles, o que a escola pode fazer para melhorar o processo de ensino-aprendizagem levado a cabo, partindo do pressuposto que os alunos no podem estar sujeitos a uma proposta educacional aligeirada por conta de fragilidades de outras ordens.

    No caso sete, de autoria de Robson de Souza Rocha, escrito em parceria com a assistente de orientao Mnica da Motta Salles Barreto Henriques e com a orientadora Professora Doutora Ilka Schapper Santos, discute a defasagem na leitura e na escrita de um nmero significativo de alunos que ingressam nos anos finais do ensino fundamental em uma escola da rede pblica estadual do municpio de Alusio Azevedo, na regio Centro-Oeste do estado de Minas Gerais. Tal problemtica torna-se mais evidente a partir dos resultados insatisfatrios obtidos nas ltimas avaliaes externas, bem como nas internas, especialmente nas turmas de 6 ano, em que h nveis elevados de reprovao, distoro idade-srie e evaso. Considerando o contexto escolar, os alunos, a prtica pedaggica dos professores e as intervenes j realizadas durante o percurso escolar dos alunos, e o desafio de levar os alunos a superarem suas fragilidades em relao aquisio de prticas de leitura e escrita mais significativas, apresenta-se um Plano de Ao Educacional que pretende contribuir com a gesto escolar e toda comunidade escolar para que possam mudar tal realidade.

    O oitavo caso apresenta um estudo fruto da pesquisa sobre o ensino oferecido para surdos de uma escola da rede estadual de Manaus, que tem como documentos norteadores desse atendimento o Projeto Poltico Pedaggico, o Regimento e a proposta curricular bilngue, de Raika Sampaio de Macedo Costa, escrito em parceria com a orientadora Professora Doutora Carolina Alves Magaldi. A partir das observaes iniciais e da anlise de alguns documentos da escola, foi possvel inferir que por falta de capacitao de alguns professores, em lngua de sinais, e a inexistncia de um sistema de avaliao eficaz, a concepo de educao bilngue, por parte dos atores envolvidos no processo educacional mostrou-se bastante frgil, distanciando-se do que proposto nos documentos que embasam o trabalho pedaggico da escola. Diante da realidade apresentada, o Projeto de Ao Educacional tem como foco aes que possam qualificar uma educao de surdos com base em uma perspectiva bilngue.

    Dentre as diversas questes apresentadas nos casos de gesto que interferem diretamente na educao oferecida aos alunos e tambm na qualidade do trabalho

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    dos professores, destaca-se a importncia do gestor escolar como profissional responsvel pela gesto de polticas, propostas e concepes no mbito das escolas, o que pode significar a necessidade de investimento na formao e atuao profissional desse sujeito especialmente quando se parte da concepo que a escola se constitui como espao pblico, no neutro, ideolgico, democrtico e dialgico.

    Assim, preciso pensar como as relaes de participao acontecem no interior da escola com vistas a alcanar os objetivos educacionais propostos at para que se possa defender que, a partir das novas alternativas de administrao da escola bsica, preciso contemplar maneiras de conceber a direo escolar que transcendam a forma usual de concentr-la nas mos de apenas um indivduo que se constitui o chefe geral de todos (PARO, 2016). Nessa perspectiva, a gesto democrtico-participativa surge como contribuio essencial para que o espao escolar possa ser pensado comprometida e coletivamente, em que cada sujeito, a partir do lugar que ocupa, tem responsabilidades individual e coletiva.

    Desse modo, torna-se relevante registrar que os textos aqui apresentados, considerando serem obras abertas, no esgotam a discusso sobre os temas propostos, pelo contrrio, tm a pretenso de instigar outros estudos de modo a ampliarem e a aprofundarem o conhecimento j legitimado sobre o tema, e desafiam outros pesquisadores a focarem seu olhar em outras direes possveis.

    Assim, a partir da gesto escolar como tema central, pode-se viabilizar a construo de outras perspectivas, de outras possibilidades sobre a atuao do gestor escolar, que se encontra atravessada por desafios, tenses, rupturas, potenciais, j que acontece em um momento histrico com sujeitos concretos que precisam significar a escola e o processo educacional de uma perspectiva no mais ingnua, mas problematizadora e emancipadora e que defende que a participao propriamente dita, como sustenta Paro (2016), a partilha do poder, a participao na tomada de decises, sendo um caminho que se faz ao caminhar, porm, pressupe um processo reflexivo sobre os obstculos e as potencialidades que a realidade oferece para a concretizao das aes pensadas nesse coletivo.

    Nessa perspectiva que defende uma gesto democrtico-participava, todos esses casos de gesto apresentados levam a pensar na escola necessria para os novos tempos, especialmente uma escola de qualidade que, na perspectiva de Libneo (2015), aquela que inclui, que se posiciona contra a excluso econmica, poltica, cultural e pedaggica.

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    Referncias

    LIBNEO, J. C. Organizao e gesto da escola: teoria e prtica. 6 ed. rev. e ampl. So Paulo: Heccus Editora, 2015.

    LCK, H. et alii. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Petrpolis, RJ: Vozes, 2005.

    PARO, V. H. Administrao Escolar - introduo crtica. 9 ed. So Paulo: Cortez, 2005.

    . Escolha e formao do diretor escolar. Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional. Curitiba, v. 6, n. 14, p. 36-50, set./dez. 2011. ISSN 1980-9700.

    . Gesto Democrtica da escola pblica. 4 ed. So Paulo: Cortez, 2016.

    VYGOTSKY, L. S. A. Tragdia de Hamlet, Prncipe da Dinamarca. So Paulo: Martins Fontes, 1999.

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    POR QUE ALGUNS ALUNOS CHEGAM AO 6 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SEM SABER LER E ESCREVER?

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    POR QUE ALGUNS ALUNOS CHEGAM AO 6 ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SEM SABER LER E ESCREVER?

    Andra de Oliveira Costa*Ilka Schapper Santos**

    Mnica da Motta Salles Barreto Henriques***

    Este texto tem como proposio apresentar o caso de gesto que deu subsdios pesquisa de Andra de Oliveira Costa, aluna do Mestrado Profissional em Gesto e Avaliao da Educao Pblica e professora de uma escola estadual em um municpio do interior de Minas Gerais, espao em que a dissertao se insere. O trabalho conta ainda com a autoria da professora doutora Ilka Schapper Santos, orientadora da referida investigao, e da assistente de orientao Mnica da Motta Salles Barreto Henriques.

    Muito se tem discutido, principalmente no meio educacional, por meio de revistas de circulao nacional, sites como CAEd, QEdu, Todos Pela Educao, entre outros, o grande nmero de alunos que chegam aos anos finais do Ensino Fundamental com significativa defasagem no campo das aprendizagens, em especial dificuldades na aquisio inicial da leitura e da escrita. Isso aparece nos baixos resultados de proficincia em Portugus e Matemtica, expressos nos resultados das avaliaes externas como SAEB, PROEB, SIMAVE, ANA, PISA, entre outros.

    Como foi mencionado acima, as avaliaes em larga escala mostram a defasagem em que se encontram muitos dos alunos que esto nos corredores escolares. Mas quem so esses alunos? Quais so suas histrias de vida e de escolaridade? Quantos deles conseguem sucesso na superao de suas dificuldades de aprendizagem e quantos so reprovados ano a ano?

    Assim, diante do quadro em que se inscrevem o quantitativo de alunos que no aprendem no cotidiano escolar, a pergunta de pesquisa que deu subsdios a este caso de gesto se delineou com a seguinte interrogao: por que alguns alunos chegam ao 6 ano do Ensino Fundamental sem saber ler e escrever?

    * Mestranda PPGP/CAEd/UFJF. Professora de Lngua Portuguesa em uma escola estadual no interior de MG.** Orientadora do PPGP/CAEd/UFJF. Professora do PPGP CAEd/UFJF. Professora da Faculdade de Educao UFJF. Doutora em Lingustica (PUC-SP).*** Membro do Ncleo de Dissertao do PPGP/CAEd/UFJF. Mestre em Educao (UFJF). Doutoranda em Educao (UFJF).

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    Para darmos conta da pergunta de pesquisa, o presente caso de gesto se inscreve no cenrio de analfabetismo dos alunos da Escola Estadual Paraso1, municpio Divinpolis, do Estado de MG instituio em que a mestranda trabalha como professora de lngua materna que esto no 6 ano do Ensino Fundamental e que no foram alfabetizados na idade certa, como prev as resolues estaduais e a Constituio Federal.

    A Escola Paraso est situada em uma cidade de mais de 230 mil habitantes, no estado de Minas Gerais. Segundo o Censo Escolar de 2015 (a escola no teve nenhum crescimento em 2016), a instituio atende crianas do 1 ao 5 ano no turno da tarde; 6 ao 3 do E. M. no turno da manh.

    Alm disso, no turno da noite, oferece a modalidade EJA e Projeto de Acelerao, criado em 2016 visando a acabar com a distoro idade-srie para alunos que esto do 6 ao 9 ano e que tenham idade superior a 14 anos. Em todos os turnos a referida escola tem um total de 1.427 alunos e 105 funcionrios entre professores e administrativos.

    Todos os professores que atuam na instituio so graduados na sua rea e cerca da metade tem ps-graduao. A atual gestora est na escola h, pelo menos, 16 anos consecutivos e tem reconhecimento da comunidade escolar pela administrao que exerce.

    O interesse do estudo est focado nos estudantes que esto matriculados no 6 ano do Ensino Fundamental, uma mdia de 105 alunos em toda a escola, divididos em quatro turmas. Dessas quatro turmas, a pesquisadora atua como professora desde o ms de fevereiro de 2016 em duas turmas. Chamaremos de Turma A aquela em que detectamos quatro alunos que no esto alfabetizados.

    No incio do ano, a mestranda trabalhava como Auxiliar Tcnico da Educao Bsica (ATB) em outra escola, no turno da noite, e de manh como professora na escola Paraso. Para poder desenvolver a pesquisa de campo na escola Paraso, a pesquisadora decidiu transferir o cargo de ATB para a instituio investigada e trabalha, agora, em outro turno em que pode desenvolver a pesquisa.

    A escola conta com duas professoras efetivas eventuais nomeadas por meio de concurso (no nomeadas como eventual, a gesto que escolhe em comum acordo

    1 Escola com nome fictcio para preservar sua identidade.

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    com o corpo docente). Elas trabalham no mesmo turno dos alunos, retirando-os da sala de aula, em horrios pr-determinados, fazendo um trabalho de interveno pedaggica voltado para a alfabetizao, porque esto defasados na leitura e escrita. O perodo da interveno de 50 minutos. Essas professoras tm um mtodo diferenciado para cada aluno, as intervenes so individualizadas, cada sesso para um aluno apenas. Assim que terminam os 50 minutos, vem outro (a) aluno (a) para uma sala especfica e reiniciado o trabalho, sempre individual. Contudo, infelizmente, esse trabalho s feito para os alunos que chegaram ao terceiro ano e no esto alfabetizados. No oferecido para outros alunos dos outros anos, mesmo que estejam com defasagem na leitura e escrita. O governo do estado de Minas Gerais somente autoriza professores eventuais para os anos iniciais do Ensino Fundamental.

    Apesar de o trabalho ter como foco os alunos do 6 ano, traremos, como ilustrao, uma situao que ocorreu com uma aluna no terceiro ano do Ensino Fundamental. Isso porque queremos mostrar ao leitor que apesar de a situao da no aprendizagem da leitura e da escrita se agravar com os alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental, na maioria das vezes, ela j identificada no final do ciclo de alfabetizao.

    No incio do ms de novembro de 2016, foi aplicada a Avaliao Nacional da Alfabetizao (ANA) que dirigida para os 3 anos do Ensino Fundamental. Vieram aplicadores escolhidos fora da escola, os professores das turmas no podem aplicar essa prova. Como a pesquisadora professora da instituio, foi chamada pela direo para, junto ao aplicador, que ficava somente como fiscal, ajudar uma aluna a fazer a prova oral, porque no sabe ler e nem escrever. Nesse dia foi aplicada a prova de Lngua Portuguesa. A funo da professora era ler os textos e as perguntas e a discente falaria a resposta qual a resposta. A aluna conseguiu acertar todas as questes.

    A discente conseguiu fazer inferncia, detectar o locutor e o interlocutor, os tipos de gneros textuais, mas no sabe ler e escrever. Na ltima questo, ela deveria escrever o nome embaixo de dois desenhos que estavam na folha: caneta e aranha. A palavra caneta ela conseguiu escrever, pois so slabas simples, mas a expresso aranha ela no conseguiu. A grafia de aranha ficou assim: araria, ou seja, a aluna demonstrou desconhecimento dos encontros consonantais e dgrafos. Abaixo das

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    palavras ela teria que escrever uma redao que contasse algum problema ou alguma coisa interessante que ela via no recreio. Ela tentou desenhar um aluno caindo e se machucando. No conseguiu expressar atravs do desenho o que ela queria contar. Essa aluna tem oito anos.

    No dia seguinte foi a avaliao de Matemtica, que tambm foi bastante problemtica para a aluna citada. Ela s sabia contar nmeros. Quando a professora-pesquisadora lia para ela o problema em que deveria fazer uma operao de dividir, no conseguia fazer, mesmo que tivesse explicando para ela a questo proposta. Por exemplo: havia um problema em que ela deveria descobrir a idade do av que era 12 anos mais velho que a av, e a av tinha 65 anos. Ela somente entendia que o av tinha 12 anos e por achar errado, no conseguia sair desse raciocnio. Pode-se observar, portanto, que a aluna no foi alfabetizada em Portugus e tem enormes dificuldades de raciocnio matemtico.

    No exemplo acima, como j dissemos, a dificuldade da aluna est circunscrita no final do ciclo de alfabetizao. Isso evidncia de que o problema com a aquisio da leitura e da escrita se instaura j nos anos iniciais da alfabetizao. No entanto, como nosso caso de gesto se insere nas dificuldades apontadas por quatro alunos do 6 ano do Ensino fundamental, retomaremos as questes apontadas nos alunos desse segmento.

    Os quatro alunos que dissemos que seriam os sujeitos da pesquisa, que esto no 6 ano do Ensino Fundamental, so os casos mais intrigantes, uma vez que, de acordo com as legislaes j estudadas, deveriam estar alfabetizados at o ano anterior, ou seja, o quinto ano.

    Aps anlise de avaliaes diagnsticas de leitura e escrita, foram observadas algumas caractersticas similares desse grupo de alunos: leitura de palavras de forma imprecisa, lenta e com esforo. Todos leem palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, advinham palavras e tm dificuldade em soletr-las; dificuldade em compreender o sentido do que lido (incompreenso da sequncia, dificuldades em estabelecer inferncias e os sentidos mais profundos do que lido); dificuldades na ortografia; dificuldade com a expresso escrita; pulam ou mal fazem partes de palavras longas ou multissilbicas; confundem palavras semelhantes sonoramente e compreendem muito pouco, ou quase nada do que leem, escrita insatisfatria e recusa em fazer a leitura em voz alta e possuem hipossegmentao (no colocam os espaos entre as palavras).

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    Em uma das turmas do 6 ano da escola investigada, aplicamos as avaliaes diagnsticas no incio do ano de 2016 e notamos que alguns alunos no conseguiram responder adequadamente as perguntas propostas. Iniciamos, ento, uma busca minuciosa para sabermos o porqu desse problema to grave: haver alunos no 6 ano analfabetos. Surgiu, assim, esta questo: como resolver esse problema antes que eles sejam reprovados sem terem o direito a aprendizagem adequada? Iniciamos nossa pesquisa pela situao da escola perante as avaliaes internas, o IDEB e as avaliaes externas, uma vez que, esses alunos estavam nos anos iniciais e fizeram a avaliao do quinto ano. No incio do ano letivo de 2016 aplicamos a avaliao diagnstica baseada na matriz de referncia do SAEB (descrita mais abaixo) e em alguns poucos documentos que a escola nos forneceu sobre o plano de curso dos professores do 5 ano de 2015. Aps as correes constatamos que, num total de 67 alunos, 15% esto deficientes quanto ao processo de leitura, 2,5% apresentaram dificuldades na escrita e muitos erros ortogrficos e 8% no souberam ler e escrever totalmente.

    Para evidenciar o que foi detectado na avaliao diagnstica da escola, aplicada pela pesquisadora, trouxemos alguns problemas que esto acontecendo aos quatro alunos analfabetos do 6 ano.

    Figura 1. Escrita de aluno do 6 ano que no foi alfabetizado

    Fonte: Avaliao diagnstica - 1 bimestre. Elaborada pela autora.

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    Pode-se observar que eles escrevem sem nexo e sem critrio nenhum. evidente a falta de sincronia entre as letras e palavras, respostas desconexas das perguntas e hipossegmentao (escrita em que no se separa uma palavra da outra com espaos).

    Trazemos alguns exemplos de erros cometidos por outros alunos do mesmo 6 ano para ficar ilustrar a falta de estrutura que eles esto chegando nesse nvel de ensino.

    Quadro 1. Avaliao diagnstica

    Total de alunos

    Avaliados pela diagnstica

    Alunos com erros

    ortogrficos

    Alunos que no sabem

    separar slabas

    Alunos que no sabem

    interpretar o texto

    Alunos que sabem interpretar

    razoavelmente

    Casos graves em que no esto

    enquadrados em nada

    58 27 34 27 24 07

    Fonte: Avaliao diagnstica escolar. Elaborada pela autora.

    Quadro 2. Acertos x Erros

    ESCRITA CORRETA ESCRITA ERRADA ESCRITA CORRETA ESCRITA ERRADA

    Guarda Garda Implorou Inplorol

    Enganar Eganar Disse Disse

    Areia Arelha Desconfiar Decoviar

    Persistiu Percentil Policial Policial

    Lambreta Lampreta Voltava Voutava

    Carrega Carega Fiscal Viscau

    Quando Coando Havia Avia

    Verdade Fredade Areia Arenha

    Fala Fala Malandragem Malandraje

    Conseguiu Conciguiu coitado Quoitado

    Surpresa Surbresa

    Fonte: Avaliao diagnstica escolar. Elaborada pela autora.

    Como vimos ao longo da exposio, estamos diante de um significativo problema de defasagem na aprendizagem da leitura e da escrita dos alunos que ingressam no 6 ano do Ensino Fundamental.

    Portanto, para trabalhar a questo proposta nesta investigao preciso interrogar como se d o processo de aquisio da leitura e da escrita por meio de levantamento bibliogrfico acerca da alfabetizao e o letramento e, tambm, realizar uma pesquisa qualitativa com alunos do 6 ano que se encontram no quadro investigado. Para isso, alm do levantamento bibliogrfico, para a realizao

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    da pesquisa, sero realizados encontros com os alunos para investigar no s o nvel em que se encontram na alfabetizao, como tambm suas vivncias com as diferentes prticas socioculturais de leitura e escrita. Isso posto, ser proposto um Plano de Ao Educacional no intuito de estabelecer propostas pedaggicas numa tentativa de propiciar aos alunos a superao das defasagens de aprendizagem identificadas.

    importante dizer que diante do quadro, traremos como referencial terico as categorias de alfabetizao e letramento. Acreditamos, tendo como respaldo Soares (2003), que dissociar alfabetizao e letramento um equvoco porque, no quadro das atuais concepes psicolgicas, lingusticas e psicolingusticas de leitura e escrita, a entrada da criana (e tambm do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisio do sistema convencional de escrita a alfabetizao e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas prticas sociais que envolvem a lngua escrita o letramento. Assim, nossa aposta a de que se faz necessrio um trabalho concomitante entre o ensino da codificao e da decodificao da palavra e do texto que seria um investimento dos profissionais da educao na alfabetizao , aliado a um trabalho que d relevo as vivncias e experincias socioculturais que nossos alunos tm cotidianamente com a leitura e escrita. Dito de outro modo, sua vivncia com as prticas de letramento. Apostamos na importncia de um trabalho que d protagonismo a esses dois processos.

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    Referncias

    BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria Executiva. Avaliao Nacional da Alfabetizao ANA. Documento Bsico. Braslia, DF, 2013. Disponvel em: . Acesso em: 1 mar. 2017.

    MINAS GERAIS. Resoluo SEE n 2.741 de 20 de janeiro de 2015. Estabelece normas para a organizao do quadro de pessoal das Escolas Estaduais. . Acesso em: 4 dez. 2016.

    QEDU, Portal. Aprendizado dos alunos: Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 8 nov. 2016.

    TODOS PELA EDUCAO, Portal. Disponvel em: . Acesso em: 3 mar. 2017.

    SIMAVE. Sistema Mineiro de Avaliao e Equidade da Educao Pblica. PROEB Resultado por Escola. Disponvel em:

    Acesso em: 1 mar. 2017.

    . PROALFA Resultado por Escola. Disponvel em: http://www.simave.caedufjf.net/proalfa/resultado-por-escola/> Acesso em: 1 mar. 2017.

    SOARES, M. Letramento e alfabetizao: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educao, n. 25, 2003. Disponvel em: . Acesso em: 3 mar. 2017.

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    A PRODUO DA INDISCIPLINA ESCOLAR: UMA ANLISE DO PROJETO BOA CONDUTA

    Deiwson Silveira Fagundes*Vtor Fonseca Figueiredo**

    Andr Bocchetti***

    O caso de gesto apresentado neste captulo aborda a implementao de um Projeto para a promoo da disciplina discente em uma instituio de Ensino Fundamental e Mdio do interior de Minas Gerais. A anlise do Projeto Boa Conduta indica as dificuldades da gesto escolar em lidar com a indisciplina e em realizar intervenes que no se pautem num vis simplesmente punitivo. Este captulo foi escrito a partir da dissertao de Deiwson Silveira Fagundes, Professor da Escola Estadual Professora Herona Torres, e um dos responsveis pela criao do Projeto Boa Conduta. A autoria do captulo contou ainda com a parceria de Vtor Fonseca Figueiredo, Doutor em Histria pela UFJF e Analista de Formao em Educao Distncia do PPGP, e com a do orientador da dissertao, Andr Bocchetti, Doutor em Educao pela USP e professor da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    A Escola Estadual Professora Herona Torres est localizada em Coluna/MG. Esse municpio possui uma populao formada por cerca de 9.024 habitantes (IBGE, 2010). A economia da regio se baseia na pecuria de leite e na prestao de servios. A escola a nica na sede do municpio que oferece os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Mdio. Assim, a instituio atende a maior parcela da populao da regio. Em 2016, a escola possua 943 alunos distribudos em 16 turmas dos anos finais do Ensino Fundamental e 10 do Ensino Mdio. A quantidade mdia de alunos por sala no Ensino Fundamental era de aproximadamente 32,5 discentes e, no Mdio, de 42,3 (EEPHT, 2016a). A quantidade de educandos por turma considerada elevada, o que causa preocupao na gesto escolar e insatisfao no corpo docente. Os professores alegam que o alto nmero de discentes dificulta o trabalho pedaggico e a manuteno da disciplina.

    * Mestrando do PPGP/CAEd/UFJF. Gestor Escolar da Escola Estadual Professora Herona Torres.** Assistente de orientao no Ncleo de Dissertao do PPGP/CAEd/UFJF. Especialista em Educao a Distncia e Doutor em Histria (UFJF).*** Professor/orientador do PPGP/CAEd/UFJF. Professor Adjunto do Departamento de Administrao Escolar da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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    Em face desse contexto, uma ao escolar foi idealizada no ano de 2009, mais especificamente em uma reunio pedaggica realizada no ms de fevereiro; trata-se do Projeto Boa Conduta. Sua implementao foi uma iniciativa da equipe de gesto escolar para solucionar diversos problemas relatados pelos professores. Quando surgiu a ideia, os docentes reclamavam da falta de disciplina dos alunos, que adentravam na escola sem uniforme, atrasados ou no realizavam as atividades em sala de aula, permanecendo ociosos e sendo, eventualmente, desrespeitosos e agressivos.

    Na viso dos professores da escola, a indisciplina o desrespeito a qualquer norma previamente estabelecida com os alunos. Por essa percepo, a indisciplina seria o rompimento do contrato estabelecido com o professor por meio do comportamento inadequado do discente; estaria, portanto, relacionada ao aspecto comportamental, demandando a necessidade de coibir os comportamentos discentes tidos como inadequados.

    No incio de maro de 2009, foi decidido que, para dar legitimidade construo do Projeto, haveria a necessidade de envolver os alunos em sua construo. Os estudantes foram, ento, convidados a participar da criao da proposta, e assim definir o que seria o ato indisciplinar e a sua gravidade. Em uma primeira oportunidade, os alunos se reuniram nas salas de aula com os professores para discutir a proposta. Os docentes foram orientados pela direo a conversar com os discentes sobre a importncia da disciplina escolar, da convivncia pacfica e do respeito aos colegas. Nessa oportunidade eles definiram o que seria um ato indisciplinar e o classificaram em trs categorias: faltas graves, mdias e leves. Ainda no ms de maro, em uma assembleia no ptio da instituio, alunos e professores consolidaram em um documento os debates feitos em cada turma. Na assembleia, por meio de votao, foram estabelecidos diversos atos indisciplinares e sua gravidade. A ttulo de exemplo, o atraso no incio do turno passou a ser uma falta leve, e uma agresso fsica ao colega, uma falta grave.

    importante salientar que os professores, durante a construo do Projeto, afirmavam que a indisciplina era o maior entrave efetivao do processo de ensino-aprendizagem. Diante dessa alegada dificuldade, a equipe pedaggica e os professores se empenharam para que o Projeto tivesse sucesso. O objetivo inicial do Boa Conduta era identificar os alunos portadores de algum problema, mediante

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    o estudo dos relatrios do Projeto, para subsidiar a proposio de alternativas pedaggicas. Diante da observao de casos reiterados de desrespeito s regras estabelecidas, o aluno seria avaliado pela equipe pedaggica para definio de um plano de interveno.

    O trabalho de acompanhamento dos alunos vigorou at 2015. Este consistia, inicialmente, em uma entrevista e no preenchimento de uma planilha sobre a condio socioeconmica do estudante. Tais procedimentos eram realizados pela equipe pedaggica. Diante do diagnstico, procediam-se visitas s famlias e direcionamento para especialistas, como psiclogos, mdicos oftalmologistas e assistentes sociais. Nesse primeiro momento houve tambm a participao do Conselho Tutelar Municipal e do Centro de Referncia em Assistncia Social (CRAS). Deste modo, os alunos identificados como tendo algum problema foram alvos de investigao nas reunies pedaggicas semanais, com a presena de todos os professores de sua turma. Nessas reunies trocavam-se ideias sobre possveis intervenes a serem realizadas em sala de aula. Como resultado, no primeiro ano do Projeto 82 alunos receberam este tipo de tratamento (EEPHT, 2016b).

    Contudo, o trabalho de acompanhamento dos alunos, tal como previsto na proposta inicial, tornou-se invivel. Com o passar do tempo, o nmero de alunos a serem monitorados aumentou de forma exponencial, o que dificultou o atendimento pela equipe pedaggica, que contava com trs pedagogos, dois vice-diretores e um diretor. Como este tipo de trabalho de interveno exige disponibilidade e deve ser conciliado com as atividades de rotina da instituio escolar, o aumento da quantidade de estudantes inviabilizou o processo. Na tabela 1 podemos observar a evoluo da quantidade de estudantes em interveno no ano de 2009.

    Tabela 1. Alunos atendidos pela interveno do Projeto Boa Conduta (2009)

    Ms Alunos

    Maio 2

    Junho 6

    Agosto 13

    Setembro 24

    Novembro 37

    Fonte: Elaborada pelos autores com base nas informaes do Banco de Dados do Projeto Boa Conduta (EEPHT, 2016b)

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    Apesar das dificuldades em realizar o acompanhamento dos alunos considerados com mais problemas, o Projeto no foi abandonado; pelo contrrio, para estimular a participao, a iniciativa premiava as turmas com melhor desempenho disciplinar. A premiao consistia na realizao de uma confraternizao envolvendo tais grupos, realizada todos os meses. Alm disso, no final de cada semestre a turma com melhor desempenho participava de excurses cujas despesas eram pagas pela escola. A definio da turma com melhor desempenho era apurada pelas informaes disponveis no banco de dados do Projeto, que possua as ocorrncias classificadas conforme o peso definido para cada tipo: as faltas leves possuam peso 1, as mdias, 2 e as graves, 3.

    Os resultados parciais das turmas eram divulgados semanalmente, por meio de informativos afixados no quadro de avisos. O objetivo era informar aos alunos o desempenho da sua turma, o que propiciava uma possibilidade de correo de rumos, caso necessrio. Aps o incio do Projeto verificou-se que algumas turmas sempre obtinham melhor desempenho, o que foi lido como um indicativo de falhas no processo de enturmao (distribuio dos alunos pelas turmas). A partir dessa constatao, passou-se a premiar as turmas com melhor ndice mdio, de forma a alternar as turmas vencedoras do Projeto.

    As turmas passaram a fazer uma acirrada disputa pelo ttulo de mais disciplinada. Os alunos passaram a cobrar dos colegas uma postura mais rigorosa quanto disciplina e, eventualmente, se observava discusses acaloradas quando algum aluno era advertido com uma ocorrncia. Esse ambiente de disputa facilitou o trabalho da gesto, pois quem exigia o cumprimento das regras no eram os professores, mas os prprios estudantes. A partir de ento, observou-se uma reduo do nmero de ocorrncias, principalmente as motivadas pela falta de uniforme, conforme se pode observar pelos dados da tabela 2.

    Tabela 2. Ocorrncias registradas por falta de uniforme (2009-2013)

    Ano Quantidade

    2009 1935

    2010 635

    2011 424

    2012 589

    2013 378

    Fonte: Elaborada pelos autores com base nas informaes do Banco de Dados do Projeto Boa Conduta (EEPHT, 2016b)

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    Alm na melhora dos dados relativos ao no uso do uniforme, tambm foi identificada melhoria com relao ao atraso dos alunos s aulas, conforme possvel observar nos dados dispostos na tabela 3.

    Tabela 3. Nmero de ocorrncias de atrasos na entrada do turno (2009-2012)

    Ano Quantidade

    2009 935

    2010 531

    2011 372

    2012 381

    FONTE: Elaborado pelos autores com base nas informaes do Banco de Dados do Projeto Boa Conduta (EEPHT, 2016b)

    De 2009 a 2012, a quantidade de ocorrncias registradas em funo do atraso s aulas teve uma reduo de 59,2%, percentual um pouco inferior ao relativo reduo de depredao de carteiras. No ano de 2014, por exemplo, em funo do alto ndice de depredao de carteiras escolares, foi emitido um relatrio especfico desse tipo de ocorrncia. O objetivo da gesto era traar o perfil dos alunos envolvidos com esse tipo de infrao. Por meio do documento, foi possvel identificar as turmas em que tal ato era mais recorrente, e, assim, traar um plano de ao para minimizar o problema. Nessa oportunidade, outro projeto foi criado, desta vez com o objetivo de trabalhar a noo de conservao dos bens pblicos. Embora o problema no tenha sido resolvido plenamente, houve uma reduo de 62,8% dos casos de depredao ao mobilirio de 2014 a 2015. Esse exemplo pressupe que o Projeto Boa Conduta pode ser utilizado como ferramenta para melhoria da gesto; por meio dele, pode-se identificar uma srie de problemas existentes no ambiente escolar nem todos necessariamente relacionados indisciplina, embora a percepo de alguns profissionais da educao assim o classifique.

    A premiao das turmas com melhor desempenho foi uma importante iniciativa do Projeto para envolver os alunos; entretanto, a escassez de recursos obrigou reduo das confraternizaes e a extino das excurses. Apesar disso, a premiao das turmas com melhor desempenho disciplinar permitiu observar as reaes dos alunos frente ao clima de disputa. As pontuaes das turmas eram divulgadas semanalmente, para que os alunos pudessem acompanhar e realizar correes de rumo em suas posturas. As turmas com pontuaes altas na primeira semana, e com fortes possibilidades de vencer, tornavam-se mais disciplinadas a cada semana.

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    Turmas com pontuaes baixas na primeira semana, e com poucas possibilidades de vitria, tendiam a permanecer com comportamento disciplinar inalterado.

    Para tornar a disputa mais equilibrada, e assim possibilitar o envolvimento do maior nmero de alunos, percebeu-se a necessidade de que as turmas fossem formadas de forma mais heterognea. Nos anos seguintes a 2009, embora houvesse alguma alternncia nas turmas de melhor desempenho, com a modificao do processo de enturmao, algumas salas se mostravam com desempenho inferior s vencedoras. Essa situao era um problema, pois a recorrncia de maus resultados era um fator desmotivador para os alunos destas turmas, que passaram a no cooperar. Essa falha nos critrios de premiao fragilizava o que era ento uma das principais estratgias do Projeto.

    O Boa Conduta, porm, funcionou como planejado, apesar das intervenes pedaggicas no proporcionarem resultados imediatos. Os primeiros resultados puderam ser identificados no final de 2009. Nesse momento houve entusiasmo do corpo docente pelo trabalho, mas com o passar do tempo, e aps cerca de seis meses, o quadro de indisciplina no mais se alterava substancialmente; os professores foram perdendo o entusiasmo e, em geral, resignaram-se atribuio da culpa s possveis causas da indisciplina escolar.

    Aproximadamente doze meses aps a criao do Projeto, em maro de 2010, alguns professores questionaram a participao dos alunos tidos como problema nas iniciativas extraclasse promovidas pela escola. Em reunio pedaggica, alguns professores sugeriram a excluso desses alunos de viagens e excurses, e que a escola fizesse mais eventos em que eles no pudessem participar o que seria uma forma de punir os estudantes considerados como problemas.

    A sugesto dos professores foi acatada; no entanto, a aceitao de um vis punitivo para o Projeto Boa Conduta foge aos princpios norteadores da Proposta Pedaggica da Escola. Segundo o PPP, os seus princpios so: de reconhecimento dos direitos e deveres de cidadania, de respeito ao bem comum e preservao do regime democrtico e dos recursos ambientais; da busca da equidade e da exigncia de diversidade de tratamento para assegurar a igualdade de direitos entre os alunos que apresentam diferentes necessidades (EEPHT, 2016a, p. 10, grifo nosso).

    A incluso de um vis punitivo no Projeto Boa Conduta lana suspeitas no somente quanto formalidade do PPP, mas tambm sobre algumas concepes educacionais

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    postas em prtica por profissionais da instituio. A aceitao de um projeto com cunho punitivo contraria as concepes pedaggicas que fundamentam a prtica escolar. Antes da participao dos alunos nos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), por exemplo que aconteceu no incio do ano letivo de 2016 , um Relatrio com os alunos com mais de cinco ocorrncias disciplinares foi divulgado. Esses alunos foram impedidos de participar nos Jogos. Nesse momento se configurou o vis punitivo do Projeto.

    O JEMG apenas um dos eventos escolares em que a participao dos alunos indisciplinados foi restringida. Outros eventos tambm so utilizados para punir os alunos considerados transgressores das regras da Escola, como as gincanas, jogos escolares internos, quadrilha de festa junina, entre outros. A situao se tornou mais grave pelo fato de os professores, para garantir a ateno dos alunos, fazerem uso em vrias circunstncias da possibilidade de registrar ocorrncias contra os discentes, apesar da orientao da equipe pedaggica sobre o cuidado que se deveria ter na emisso das ocorrncias disciplinares. No ano de 2009, por exemplo, das 6.186 ocorrncias, 309 (5%) foram dadas por perturbao em sala de aula, e 400 (6,5%), por ociosidade (EEPHT, 2016).

    A utilizao de um vis punitivo no Projeto contraria os princpios polticos de equidade quando trata os alunos de forma igual, sem considerar a sua diversidade. Questiona-se, assim, a motivao para esta incluso. Os profissionais da escola utilizam o PPP como princpio norteador da prtica pedaggica? Se utilizam, qual a fundamentao terica para agregar o vis punitivo? Neste sentido, h indcios que o PPP da Escola uma mera formalidade. Mediante esse contexto, a pergunta norteadora desse caso de gesto : como o projeto disciplinar Boa Conduta pode se tornar uma ferramenta gesto pedaggica para lidar com a questo da indisciplina? Pautado nesse questionamento, o objetivo deste caso analisar o desenvolvimento e o funcionamento do projeto, verificando os desafios impostos a equipe gestora e propor um plano de interveno para a sua adequao.

    A hiptese ora defendida a de que um estudo sobre o Projeto pode indicar que os problemas de indisciplina na sala de aula, que motivaram sua criao, esto mais relacionados fragilidade da proposta pedaggica da escola do que a um ambiente de desrespeito ou violncia. H indcios de que a criao do Projeto, permeada pela representao dos professores sobre o conceito de indisciplina, produto da

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    fragilidade da proposta pedaggica. Entre esses indcios est a indefinio de uma concepo pedaggica que oriente o trabalho dos professores.

    Outra explicao para a estabilizao dos nveis de indisciplina na escola seria a falta de envolvimento dos alunos na construo do Projeto. Quando o Boa Conduta foi discutido, em 2009, houve a participao efetiva de todos os alunos da escola, que definiram o que seria ato indisciplinar e sua gravidade. Aqueles alunos j no esto mais presentes na instituio. Desde ento, muitos discentes chegaram e no foram integrados ao desenvolvimento do Projeto; ou seja, para estes alunos a iniciativa no possui o mesmo grau de legitimidade.

    Para analisar o Projeto Boa Conduta, utilizar-se- como referencial terico as reflexes de Foucault. Para esse estudioso, as relaes de poder existem em qualquer lugar: [...] o poder est em toda parte; no porque englobe tudo, e sim, porque provm de todos os lugares (FOUCAULT, 1988, p. 103). O autor defende que essa disperso das correlaes de fora que, continuamente, induz a estados de poder sempre localizados e instveis. Desta forma, a escola tambm um ambiente sensvel a tais lutas, claramente manifestas, no caso, no mbito do Projeto Boa Conduta.

    Ainda levando-se em considerao a perspectiva foucaultiana, parece possvel afirmar que o Projeto Boa Conduta possui uma arquitetura que em muito se assemelha ao panptico, analisado na obra do autor francs, e no qual a vigilncia aqui inclusa a autovigilncia possui papel fundamental. Tal aspecto visvel, exemplarmente, no prprio processo de registro das situaes de indisciplina. Ao infringir uma das regras constantes do Projeto, o aluno recebe uma guia de ocorrncia disciplinar, que preenchida, assinada, arquivada e inserida num banco de dados digital. A guia de ocorrncia possui a data, o nome e a assinatura do aluno, o motivo da advertncia e o nome do emissor. Este pode ser qualquer servidor da escola, professor, membro da equipes gestora ou pedaggica, ou mesmo funcionrios da instituio. O aluno possui garantia de recurso, quando se achar injustiado. O Projeto possui uma Comisso de Recursos, que possibilita a reviso ou extino da advertncia. A comisso formada pelo diretor e por dois vice-diretores e possui o objetivo de evitar possveis abusos de autoridade por parte do emissor. Embora a comisso exista, desde a criao do Projeto, nenhum recurso foi

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    encaminhado para julgamento. Aps a insero da ocorrncia no banco de dados do Projeto, a ocorrncia passa a fazer parte das estatsticas de indisciplina escolar.

    Como metodologia desta pesquisa, ser utilizada a pesquisa qualitativa, empregando amostragem no probabilstica e tendo como mtodo de investigao o estudo de caso, no qual sero usados instrumentos de coleta de dados como: entrevistas com o gestor e com os professores, e a formao de um grupo focal com os alunos. Tambm sero coletadas informaes por meio de pesquisa nos documentos escolares relativos ao Projeto, em especial os registros de ocorrncia. O banco de dados do Projeto permite a anlise de relatrios com a identificao das ocorrncias disciplinares mais frequentes, os perodos mais crticos ou seja, com maior nmero de advertncias e os alunos mais indisciplinados. Bimestralmente, os relatrios so enviados para o diretor escolar, que os avalia junto equipe pedaggica. Esses relatrios acompanham os professores quando da reunio de pais, que ocorre a cada bimestre; durante esses encontros, tais registros so repassados aos responsveis, junto com as notas bimestrais dos estudantes.

    O Projeto ser analisado em, pelo menos, outros trs aspectos. O Boa Conduta possui um carter de aferio da realidade escolar, com a capacidade de registro dos atos considerados indisciplinados. Essa capacidade de medio proporciona diagnsticos que possibilitam intervenes no ambiente escolar. A capacidade do Projeto em fazer levantamentos pode ser utilizada como ferramenta de gesto, e ser estudada na pesquisa.

    O segundo aspecto do Projeto a ser analisado diz respeito premiao das turmas mais disciplinadas. A premiao das turmas com melhor desempenho disciplinar um artifcio para promover a disciplina na escola, visto que so os prprios alunos que se tornam vigilantes no cumprimento das regras. O inconveniente de tal estratgia est no fortalecimento do sentimento de disputa dentro da escola, em detrimento do esprito de solidariedade. H de se destacar a importncia de trabalhar com turmas mais heterogneas para possibilitar uma disputa mais justa entre as turmas.

    O terceiro aspecto do Projeto diz respeito ao vis punitivo. A utilizao do Projeto como forma de vigiar e punir cabe reflexo, pois gera nos atores envolvidos sentidos de disciplina e de indisciplina diversos. Significativo o fato de que, na ltima reunio de pais do ano, os alunos que no apresentam ocorrncias disciplinares durante o ano letivo recebem um Certificado de Boa Conduta, que

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    so entregues aos responsveis pelos professores. O certificado possui impacto na comunidade escolar; alguns pais chegam a emoldurar o documento emitido pela escola. A compreenso da receptividade do Projeto pelos pais expe fragilidades e comunica muito sobre a comunidade atendida pela escola.

    O Certificado de Boa Conduta um documento emitido pela escola e entregue aos pais no final do ano letivo. O documento possui o nome do aluno e a assinatura do Diretor da instituio, certificando a boa conduta do aluno dentro do ambiente escolar. Essa boa conduta se refere ao respeito s normas da escola estabelecidas por meio do Projeto. O primeiro Certificado, entregue em uma reunio bimestral, gerou grande impacto na comunidade, especialmente para os pais. Na ocasio, alguns deles saram insatisfeitos por no receberem o certificado, e outros solicitaram dos filhos uma postura mais austera quanto ao respeito s regras da escola. Essa insatisfao, que deve ser levantada em pesquisa de campo, era aparentemente motivada pela vaidade de no ser agraciado diante de seus pares. A equipe pedaggica, percebendo o interesse dos pais pelo Certificado, passou a utilizar o documento, em todas as reunies bimestrais. Entretanto, com o objetivo de valorizar tal certificao, a partir de 2011, a Escola passou a emiti-la apenas na ltima reunio do ano. Segundo a avaliao da equipe pedaggica, a oferta limitada do Certificado elevaria o interesse dos pais pelo documento, e consequentemente, levaria a um acompanhamento mais adequado da vida escolar dos filhos.

    A equipe pedaggica da escola certificou-se do interesse dos pais pelo Certificado, quando em uma visita a casa de um aluno, um membro da equipe notou o certificado emoldurado e afixado a uma das paredes da sala. A valorizao do documento pela famlia, de baixa condio socioeconmica, motivou a equipe a utilizar o documento como forma de premiar os alunos e os pais que zelavam pelo bom comportamento dos filhos. A iniciativa de valorizao do aluno considerado disciplinado passou a ser uma constante em toda reunio de final de ano.

    A persistncia do Certificado de Boa Conduta revela a valorizao da comunidade escolar pelo documento. A sua manuteno d indcios de como pensam os membros a respeito da indisciplina escolar. A viso dos profissionais da educao sobre o Certificado, que deve ser fruto de investigao de campo, pode revelar como esses profissionais enxergam a disciplina.

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    A viso dos alunos considerados disciplinados, acerca do Certificado de Boa Conduta, de certa forma harmoniza com a viso da maior parte da comunidade escolar. Esses alunos aprovam o projeto e acreditam que a sua existncia melhora a organizao da escola e favorece o aprendizado. Entretanto, a viso dos estudantes considerados indisciplinados diverge do restante da comunidade escolar. Os efeitos punitivos do Projeto e a excluso destes alunos de atividades extraclasse certamente influenciam nesta viso. No seria, sob este aspecto, o Projeto Boa Conduta uma ao excludente? A deciso chancelada pela equipe gestora de afastar os alunos considerados problema das atividades extraclasse no traz mais dificuldades do que solues? Essas atividades no deveriam ser compreendidas pela gesto escolar como oportunidades para que os alunos se integrarem ao ambiente escolar e desenvolvessem a capacidade de convivncia e tolerncia?

    Referncias

    EEPHT. Escola Estadual Professora Herona Torres. Arquivo Escolar: Projeto Poltico Pedaggico. Coluna, 2016a.

    . Arquivo Escolar: Banco de Dados Projeto Boa Conduta (BDPBC). Coluna, 2