organizadoras e elaboradoras módulo · 2009-12-31 · diante dessa realidade, e com o objetivo de...

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Organizadoras e elaboradoras Katia Maria Abud Raquel Glezer Nome do aluno 1 módulo módulo Fazer a História História

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Organizadoras e elaboradorasKatia Maria AbudRaquel Glezer

Nome do aluno

1módulomódulo

Fazer a História

História

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Governador: Geraldo Alckmin

Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP

Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Reitor: Adolpho José Melfi

Pró-Reitora de Graduação

Sonia Teresinha de Sousa Penin

Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária

Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE

Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta

Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho

Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO

Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis

Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar

Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área

Biologia:

Paulo Takeo Sano – Lyria Mori

Física:

Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta

Geografia:

Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins

História:

Kátia Maria Abud – Raquel Glezer

Língua Inglesa:

Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór

Língua Portuguesa:

Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto

Matemática:

Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro

Química:

Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan

Produção Editorial

Dreampix Comunicação

Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro

Cartas aoAluno

Caro aluno,

Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantese de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado daEducação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.

Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das naçõese freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentosde forma sistemática e de se preparar para uma profissão.

Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejode tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidadespúblicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particularesde reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de altocusto e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.

O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentarcom melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais daprogramação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientadapor objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimentopessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própriaformação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquersituação de vida e de trabalho.

Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames emnovembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitorese os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estãose dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.

Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigorpara o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.

Pró-Reitora de Graduação.

Carta daPró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,

Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da redeestadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm seinserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.

Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovadosnos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova aqualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguaistêm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapada educação básica.

Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamarde formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitosdemandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria deEstado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programadenominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceirasérie do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que buscaampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentose conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção nomundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentesdisciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmenteconstruído para esse fim.

O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participardo exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera seconstituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio ea universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificadoem subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuirpara o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva

Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

Carta daSecretaria de Estado da Educação

Apresentação

Fazer a História

Durante sua vida escolar, você já estudou História em várias séries. Então,você sabe que essa disciplina estuda as ações humanas ocorridas no tempo,em diferentes lugares.

Também já percebeu que existem muitas referências a fatos históricos emomentos significativos em diversas formas de comunicação, como séries detelevisão, f ilmes, músicas, propagandas, livros, roupas etc.

Isto é uma característica da sociedade ocidental – ter o passado comoparte formativa e informativa de sua cultura, para que qualquer pessoa quenela viva, em qualquer lugar, possa se localizar no tempo, entender as refe-rências e compreender o momento em que vive.

Você deve ter observado que o programa de História solicitado para osexames vestibulares é longo – das origens dos seres humanos até os diasatuais. Nos seis módulos em que a disciplina História vai se apresentar, não háa intenção de percorrer todos os momentos históricos, nem a de seguir umaseqüência no tempo. A intenção é mostrar como o mundo que nos cerca con-tém referências históricas e como estas podem ser lidas e entendidas, por meioda exploração de fontes históricas.

Compreender como a nossa sociedade vê a História é importante, porqueestamos em uma sociedade histórica, que constantemente se interroga sobreseu passado.

Vamos procurar mostrar como o historiador trabalha com o material queseleciona para sua pesquisa, o conhecimento que resulta dessa pesquisa ecomo você pode fazer alguns exercícios que permitem o entendimento dostextos e das afirmações sobre os momentos históricos.

Incluímos indicações de alguns filmes, livros e sítios na internet, paracomplementação dos itens desenvolvidos, para que você perceba como a His-tória é parte fundamental da cultura na sociedade ocidental, da qual a socie-dade brasileira faz parte e na qual todos nós estamos mergulhados.

da área

Para que o estudo de História se realize, o historiador, aquele que pesquisaos fatos históricos, faz uso de muitos materiais, os quais contêm vestígios,registros, resíduos, sinais da sociedade que estuda. Tais materiais são conheci-dos como fontes históricas.

As fontes históricas podem ser escritas (manuscritas ou impressas),iconográficas (imagens contidas em fotos, pinturas, esculturas, filmes, vídeos,DVDs, CDs, impressas em veículos de comunicação, cartazes, panfletos, fo-lhetos, etc.), materiais (objetos concretos, produzidos pelo homem para usosocial, como vestuário, enfeites e jóias, móveis, construções, veículos de trans-porte, meios de comunicação), fontes expressas de forma oral.

Neste módulo, que inicia esta fase de seus estudos pretendemos estudaralguns fatos históricos, incluídos nos programas de História para o vestibular,que contam com fontes orais para sua compreensão. A utilização desse tipode fonte é recente, na pesquisa histórica e, por isso, os fatos que se baseiamnesse tipo de pesquisa, são também próximos temporalmente.

As fontes orais transmitem uma versão de um participante de um fato ou odepoente conta uma história que lhe foi transmitida por outra pessoa, alguémde sua família, um amigo, por exemplo. Os depoimentos orais são escritospara serem analisados pelos pesquisadores, mas também se analisam a inflexãoda voz e as emoções que são expressas por quem conta a história. São con-frontados com outras fontes, para que comparando informações, o fato histó-rico fique mais compreensível.

Neste módulo, vamos trabalhar com fontes orais relatadas por participantesdiretos dos fatos que são narrados e procuraremos também colocar ao lado,explicações construídas por historiadores para os fatos que são narrados.

Há algumas atividades que deverão ser realizadas, com a finalidade deajudá-lo a analisar as narrativas para compreender o fato histórico e perceberpor que sua compreensão pode auxiliá-lo a tomar atitudes e elaborar sua pró-pria vida cotidiana.

Apresentaçãodo módulo

sul-americanas

Unidade 1

Introdução

Nesta unidade, vamos desenvolver alguns trabalhos para perceber comoas fontes nos contam a História, quando a elas dirigimos perguntas:

Começaremos por estudar como as fontes orais podem ser exploradas.Leia com muita atenção o pequeno texto abaixo. É a transcrição de um depoi-mento oral, colhido por um historiador. O narrador participa, expressando suamemória, que pode decorrer do fato dele mesmo ter vivido a experiência nar-rada ou dela ter sido contada a ele por alguém. Vamos buscar nesse texto asrespostas para as perguntas listadas acima (O que é? Quem produziu? Paraquê? Por quê? Quando? Onde?) para colher informações sobre o fato históri-co que é o seu assunto principal. Este é um depoimento de alguém que partici-pou diretamente do fato que narra.

nas décadas de 1960 e 1970ElaboradorasKatia Maria Abud

Raquel Glezer

Porque minha prisão foi uma prisão incomunicável, ninguém, nem meupai nem minha mãe puderam me localizar, saíram à minha procura emcima de seis dias que ninguém sabia do meu paradeiro. Não só a minhafamília, como também a família de muitos companheiros. Inclusive quemmais sofreu é a família dos prisioneiros é que as mãezinhas, quantas mãe-zinhas que tiveram suas crises, caíram por dentro de casa ou nas ruas deataque e quantas foram hospitalizadas e quantas mãezinhas morreram coma prisão dos seus esposos, com a prisão dos seus filhos. O silêncio dominavao campo, e o silêncio dominava dentro das fábricas e o silêncio dominavadiante dos companheiros...”

Antonio Torres Montenegro. “História oral, caminhos e descaminhos”.Revista Brasileira de História, v. 13, n. 25-26

Antonio Torres Montenegro é o historiador de história oral que colheu estedepoimento na cidade do Recife, Pernambuco, na década de 1980.

As ditaduras

O que é? Quem produziu?

Para quê? Por quê?

Quando? Onde?

O documento

O que é?É um depoimento oral transcrito, que foi feito por José de Aguiar, um

homem de idade avançada, militante comunista e católico praticante, que contasua prisão logo após o golpe militar de 1964.

Quem produziu?O historiador Antonio Torres Montenegro, que o colheu, transcreveu e

publicou em seu artigo “História oral, caminhos e descaminhos”, publicadona Revista Brasileira de História, vol. 13, n. 25-26.

Para quê?Para preservar a memória de militantes políticos que foram perseguidos

após o golpe militar de 1964.

Por quê?Os participantes de um momento histórico guardam na memória elementos

significativos do acontecimento e com ele constroem a sua versão da história.

Quando?O fato histórico referencial ocorreu em 1964. O depoimento foi gravado

mais de 20 anos depois, no final da década de 1980.

Onde?Na cidade de Recife, Pernambuco.

O que o documento conta?Que pessoas foram perseguidas e aprisionadas sem apoio legal e f icavam

isoladas, sem que suas famílias pudessem localizá-las. Em tom emocional, onarrador enfatiza o sofrimento das mulheres, mães e esposas dos prisioneiros.

Dele se extraem informações sobre as relações familiares característicasdaquele momento na sociedade brasileira. Conforme se depreende do texto: aestrutura familiar era forte e o núcleo central das relações, como se pode obser-var na preocupação de mães e esposas dos presos políticos.

Transmite também informações sobre um fato classificado em históriapolítica : fala das prisões de militantes políticos pró-reformas de base, queocorreram após o golpe militar de 1964. Refere-se às condições de prisão, àincomunicabilidade dos presos e ao desrespeito aos direitos individuais, comoliberdade de expressão, liberdade de opinião política, direito à informação edireito de defesa perante os organismos legalmente constituídos. Está implíci-ta a questão da violência, que não é citada claramente.

Este não é um fato único e singular, que tenha acontecido somente emRecife, somente na década de 1960 e somente no Brasil. Em todos os paísesem que houve Ditadura ocorreram fatos semelhantes e existem documentossemelhantes.

Lembre-se de que:

Em março de 1964 o Presidente João Goulart foi deposto por um golpedirigido por militares e políticos conservadores, descontentes com as políticasde reforma de base que estavam sendo propostas e defendidas pela esquerdabrasileira. Esta era composta por católicos progressistas, membros dos Parti-dos Comunistas e de outras organizações políticas de orientação marxista queforam perseguidos logo após a tomada de poder pelos militares.

João Goulart foi presidente do Brasil no período de 1961 a 1964. Em 1960foi eleito vice-presidente de Jânio Quadros, que renunciou em 25 de agostode 1961. A renúncia provocou uma grave crise política, pois as forças conser-vadoras se recusavam a aceitar Goulart como presidente.

Embora pertencesse a uma famíliade grandes proprietários e criadores degado do Rio Grande do Sul, Jango –como era conhecido – era um políticoligado ao trabalhismo, já fora Ministrodo Trabalho do governo de GetúlioVargas (1950-1954), no qual sua atitu-de mais polêmica tinha sido, em 1954,reajustar em 100% o salário mínimo,que não sofria reajustes desde 1947.

As posições políticas do então vice-presidente eram contestadas pelos políticos e militares conservadores, que preten-diam impedir sua posse como presidente. Partidários de Jango reagiram e, numaproposta conciliatória, instalou-se no Brasil o sistema parlamentarista, o qual, apósum plebiscito em janeiro de 1963, foi revogado, tornando-se o país, novamente,uma República presidencialista.

De janeiro a junho de 1963, Celso Furtado, Ministro do Desenvolvimento,elaborou um plano trienal para o país, com medidas que implicavam profun-das mudanças na organização econômica.

Esse projeto, reformista e nacionalista, tinha apoio de várias organizações, entreas quais se destacavam as Ligas Camponesas, que lutavam pela reforma agrária eatuavam principalmente nos estados do Nordeste. Também os sindicatos, o movi-mento estudantil e uma ala progressista da Igreja Católica (representada pela Juven-tude Estudantil Católica (JEC), Juventude Operária Católica (JOC) e Juventude Uni-versitária Católica (JUC)) cerraram fileiras ao lado do governo federal. Em oposiçãoao projeto, os grupos conservadores (políticos, empresários, militares, o clero con-

I Congresso Nacional de Lavr adores e Trabalhadores Agrícolas. B elo Horizonte, 1961. Fonte: Re-vista Nossa História, v. 5, p. 29.

Presidente João Goulart, suaesp osa d. Maria Tereza,Darcy Ribeiro, chefe da CasaCivil e Oswaldo Pacheco,presidente da Confedera-ção Geral dos Trabalhadores.Fonte: Nossa História, n. 5,p. 32

servador da Igreja Católica) se articularam em organizações como o Instituto Brasi-leiro de Ação Democrática (IBAD), o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais(IPES), cujo porta-voz era Carlos Lacerda, então governador do Estado da Guanabara(hoje município do Rio de Janeiro). Os Estados Unidos da América do Norte temi-am a expansão de regimes comunistas na América Latina, principalmente depois darevolução vitoriosa em Cuba. Assim, a oposição a Jango contava com seu apoio.

• a reforma agrária, com a desapropriação deterras improdutivas, mediante pagamento emtítulos públicos;

• extensão de voto aos analfabetos; extensãodo direito de votos aos praças de pré (solda-dos rasos);

• reforma universitária;

• extensão de poderes legislativos aos presi-dentes da República e realização de plebis-cito para aprovação das reformas.

As propostas de reforma assustavam as ca-madas conservadoras da população, o cresci-mento da inflação aumentava o custo de vida,e juntos criavam um clima de radicalizaçãoentre as forças oponentes. Comícios e passea-tas aumentavam a instabilidade. Em 13 de mar-ço de 1964 realizou-se um grande comício nocentro do Rio de Janeiro, junto à Estação Cen-tral do Brasil. Nele o Presidente João Goulartanunciou o Plano de Reformas de Base:

Comício de 13 de março de 1964. Fonte: RevistaNossa História, n. 5, p. 35.

Cartaz do comício da Central. Fon-te: Re v. Nossa História, n. 5, p. 33.

A crise política agravou-se até que, na madruga-da de primeiro de abril, as forças militares se mobi-lizaram, comandadas pelo general Mourão Filho, apartir de Minas Gerais e depuseram o presidente elei-to constitucionalmente, que se exilou no Uruguai.

Como uma resposta ao “Comício da Central”, a direita organizou grandesmanifestações de rua contra aquilo que considerava uma ameaça comunista.Deste modo, nesse mesmo mês, nas grandes cidades brasileiras, realizaram-seas passeatas da “Marcha de Família, com Deus, pela Liberdade”, com umagrande participação das mulheres da classe média.

Até dezembro de 1968, apesar da edição de qua-tro atos institucionais que cassaram políticos ligadosao governo deposto, tornaram indiretas as eleiçõespara o presidente do Brasil e para os governadoresdos Estados e de prisões de aliados do governo deposto,não havia sido imposta ainda uma censura férrea àimprensa e às manifestações de pensamento. Algunsdireitos dos cidadãos, passados os primeiros diasdo golpe, de alguma forma, eram preservados. Oteatro, a música popular e o cinema manifestavamsua oposição ao governo militar e o movimento estu-dantil teve momentos de maior efervescência, apoia-do por alguns segmentos da população civil.

Logo após o golpe, assumiu a presidência omarechal (então general) Humberto de AlencarCastelo Branco, dando início à série dos presiden-tes militares. A ele se seguiram: general Artur daCosta e Silva (substituído por uma junta militar, emdecorrência de um acidente vascular cerebral), ge-neral Emílio Garrastazu Médici, general ErnestoGeisel e general João Baptista de Figueiredo.

Imagem da “Marcha de Família,com Deus, pela Liberdade.”Fonte: Rev. Nossa História, n. 5,p. 43.

O comunista Gregório Bezerra,de 64 anos. Fonte: Elio Gaspari.A Ditadura Envergonhada.S. Paulo: Cia. das Letras, 2002.

Como reação à reorganização das forças de esquerda, em 13 de dezem-bro de 1968, no governo Costa e Silva, foi editado o Ato Institucional n. 5,que cassava as liberdades individuais no Brasil. Com a ausência de habeascorpus (instituto de Direito que garante a liberdade de quem ainda não temculpa formada), as prisões incomunicáveis, a cassação de deputados e sena-dores, a aposentadoria compulsória de funcionários públicos (entre eles, deprofessores universitários) e, sobretudo, com a institucionalização da tortura,a ditadura militar se consolidou e vigorou até 1980.

Auxiliaram na preservação do regime militaraté a década de 1980, medidas que provocaramcrescimento econômico, aumento de emprego, acriação de um sistema de habitação popular e uni-ficação do sistema previdenciário. Além disso, em1970, o Brasil ganhou o tricampeonato mundialde futebol, recebendo como prêmio a posse daTaça Jules Rimet. Este fato foi também assumidopelo governo como uma de suas realizações.

Se estas medidas tiveram o poder de tornar oregime militar aprovado pela população, outras medi-das foram impopulares, como o fim da estabilidadeno emprego – substituída pelo FGTS –, o controledos sindicatos, proibição dos direitos civis, (inclusi-ve o direito de greve), a censura prévia imposta aosmeios de comunicação e a repressão aos movimen-tos sociais organizados. Impopular se tornou tam-bém a imposição de um sistema bi-partidário, noqual conviviam um partido de apoio ao governo (aArena, Aliança Renovadora Nacional) e um partidode oposição consentida (o MDB, Movimento De-mocrático Brasileiro).

Apesar do investimento econômico (responsável pela dívida externa comos organismos internacionais – FMI, Banco Mundial) para a abertura de frontei-ra agrícola e modernização de estradas, da expansão das telecomunicações eformação de numerosas empresas estatais, o período dos governos militares élembrado pela repressão aos movimentos populares, pelo desrespeito aos direi-tos humanos e civis e à liberdade de pensamento e expressão. O governo militaré lembrado também pela dívida externa, deixada como herança aos governosdemocráticos que o sucederam.

Os dois primeiros presidentes.Fonte: Elio Gas pari. A DitaduraEnvergonhada. São Paulo: Cia. dasLetras, 2002.

Para saber mais sobreo golpe de 1964:

Leia na Revista HistóriaViva, ano 1, n. 5, mar. de2004, os artigos:

• “Crônica de um golp eanunciado”, de Lucíliade Almeida Neves Del-gado (p. 26-32);

• “O c omício revisto”, deJorge Ferreira (p. 32-39);

Consulte os sítios:

• www.universiabrasil.net

• www.bibvirt.futuro.usp.br

• www.historianet.com.br

• www.br.dir.yaho o.com/Ciencia/Ciencias Huma-nas/Historia/Historiado Brasil/

• www.culturabrasil.pro.br/historiabras

• www.tvcultura.com.br/aloescola/historia

Veja os filmes:

• O Bom Burguês

• Cabra Marcado paraMorrer

• Comício Diretas

• Imagens do Brasil Re-pública (1946-1984)

• Em Nome da Seguran-ça Nacional

• Folha Conta 70 anos deBrasil

• Que Bom te Ver Viva

• Lamarca

• Pra frente Brasil

• O Que É Isso, Compa-nheiro?

Responda agora, depois da leitura do texto:

1 Descreva a situação política do Brasil, no período entre 1961-1964.

2. Qual a função dos Atos Institucionais editados entre 1964 e 1968, inclusive?

3. Durante o regime militar houve investimentos econômicos e crescimentodo país, como resultado de empréstimos internacionais. Tais empréstimos setornaram um problema para o Brasil atual. Pondere os fatos que considerapositivos e os que considera negativos para a sociedade brasileira.

4. Assinale as alternativas corretas:

( ) João Goulart era muito respeitado pelas forças conservadoras, no início dadécada de 1960, a ponto de ser considerado o candidato das Forças Arma-das à Presidência do Brasil, em 1965.

( ) O dinheiro para os investimentos nas empresas estatais e para a abertura deestradas, durante o regime militar, era proveniente de empréstimos de orga-nismos internacionais.

( ) Às vésperas do golpe de 1964, a Igreja Católica estava profundamentedividida entre aqueles que apoiavam as reformas de base e o clero conserva-dor, que via na sua implantação a chegada do comunismo ao Brasil.

( ) As camadas médias brasileiras se manifestaram em apoio à RevoluçãoCubana, liderada por Fidel Castro e por isso temiam que o governo JoãoGoulart transformasse o Brasil num país comunista.

( ) A edição do AI-5, em dezembro de 1968, foi “um golpe dentro do golpe”:acabou com o hábeas corpus, o que permitiu que pessoas fossem presas eficassem incomunicáveis sem julgamento prévio.

Lembre-se

de que, na década de 1970, no chamado Cone Sul (o Sul da América do Sul) instalaram-sevárias ditaduras, como por exemplo no Chile, Argentina e Uruguai. Leia o texto a seguirextraído do sítio:

www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria11/terceiromundo–america1/htm, paraentender o que aconteceu com os três países vizinhos.

Chile

Os anos 70 foram extremamente difíceis também para outros países daAmérica Latina. Muita violência política aconteceu no Chile, onde o presi-dente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 1973.Tanto no Brasil como no Chile, o rumo dos acontecimentos foi acompanhadode perto por Washington. Na visão da Casa Branca, a imposição de ditadurasmilitares nos países latino-americanos fazia parte da luta contra o comunismo.

No Chile, a CIA colaborou com um golpe de estado em 1973 contra opresidente Salvador Allende. Eleito democraticamente em 1970, Allende esta-va realizando a reforma agrária e promovendo uma série de programas soci-ais, como alfabetização e melhoria do sistema de saúde e do saneamento bá-sico. Além disso, estava nacionalizando diversas empresas norte-americanas.

Em conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desesta-bilização estimulada por Washington, que resultou no golpe militar de setem-bro de 1973. Depois de confrontos armados, o presidente foi encontrado mortono Palácio de La Moneda, sede oficial do governo chileno. O poder passou àsmãos de uma junta militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. Num cli-ma de forte repressão, Pinochet dissolveu os partidos políticos e perseguiu osadversários do novo regime. O Estádio Nacional foi transformado em campode concentração, lotado de presos políticos. Muitos deles desapareceram.Pinochet devolveu aos antigos proprietários a maioria das empresas naciona-lizadas por Allende. Governou com poderes absolutos e impôs, em 1980, umanova Carta Magna institucionalizando o regime autoritário. Apesar da repres-são, a ditadura começou a declinar a partir de 1983, com as manifestaçõescontra os planos econômicos recessivos do governo, que comprimiram ossalários, cortaram subsídios à saúde e educação e geraram desemprego. Arepressão policial já não era suficiente para intimidar os manifestantes. Em1988, o general sofreu uma séria derrota política. Num plebiscito sobre suapermanência no poder por mais oito anos, 55% dos votantes disseram não àproposta. O resultado forçou a transição do país para a democracia. As oposi-ções se uniram para eleger à presidência o democrata-cristão Patrício Aylwin,em dezembro de 1989. O general Pinochet, no entanto, assegurou sua perma-nência como chefe das Forças Armadas. Com isso, evitou seu próprio julga-mento e o de militares acusados de tortura e de responsabilidade na morte demais de 2.200 presos políticos durante o regime militar. Em março de 1998,Pinochet deixou o cargo e tornou-se membro vitalício do Senado, em meio afortes protestos de políticos e de setores da opinião pública chilena.

Argentina

Na primeira metade da década de 1970, Brasil e Chile eram os principaispaíses da América do Sul onde vigoravam ditaduras. Em 1976, no entanto, aArgentina passaria a integrar o grupo. Durante sete anos, os argentinos vive-ram sob um regime militar repressivo que passaria à história como o períododa “guerra suja” empreendida pela ditadura contra os seus opositores. Nofinal dos anos 60, a Argentina vivia uma crise política e um período demobilização popular contra o governo do general Juan Carlos Onganía. Em1970, Onganía foi deposto. Vários militares se sucederam no poder até que,em 1973, novas eleições livres foram convocadas.

O novo presidente, Hector Câmpora, permaneceria apenas 3 meses no car-go. Em junho de 1973, renunciou à presidência para permitir a eleição de Perón,um líder carismático e populista que voltava à Argentina depois de um longoexílio na Espanha. Perón havia sido presidente de 1946 a 1952, quando foientão deposto em meio a acusações de corrupção. Nesse período, alcançougrande prestígio popular com a ajuda da esposa, Evita.

Eleito novamente em setembro de 1973, com mais de 60% dos votos,Perón não conseguiu pacificar o país. Seu próprio partido, o Justicialista, divi-diu-se em duas facções antagônicas que recorreram à violência para resolversuas divergências. Com a morte de Perón, em julho de 1974, sua segundamulher, a vice-presidente Isabelita, assumiu a chefia do governo e ampliou oespaço dos políticos conservadores do Partido Justicialista. Em conseqüência,os grupos guerrilheiros intensificaram a luta contra o governo.

Guerra suja e Malvinas

Isabelita foi deposta em março de 76 por um golpe liderado pelo generalJorge Rafael Videla. Uma junta militar passou a dirigir o país. Fechou o Con-gresso, dissolveu os partidos políticos e iniciou a chamada “guerra suja” con-tra os oposicionistas. Até o fim da ditadura, em 83, desapareceriam mais de30 mil pessoas na Argentina.

Em 1982, o regime militar argentino enfrentava dificuldades políticasprovocadas por uma forte crise econômica. Para desviar a atenção e apelar aonacionalismo dos argentinos, o presidente, general Leopoldo Galtieri, orde-nou a invasão das Ilhas Malvinas, ou Falkland, um território britânico situadono Oceano Atlântico a sudeste da Argentina.

Inicialmente, a decisão de Galtieri atingiu seu objetivo. Milhares de argen-tinos foram às ruas para apoiar a ocupação das Malvinas. A ação militar, noentanto, não teve apoio internacional. Além disso, Galtieri precisou enfrentaro poderio bélico da Grã-Bretanha, que possui uma das frotas navais mais so-fisticadas do mundo. Os conflitos armados entre Argentina e Grã-Bretanhapela posse das Ilhas Malvinas, um arquipélago com cerca de duzentas ilhassob domínio britânico desde o século XIX, duraram apenas dois meses, doinício de abril a meados de junho de 1982.

Anos 80: Argentina livreCom a derrota, o general Galtieri foi forçado a renunciar. Em seu lugar

assumiu o general Reynaldo Bignone, que iniciou as negociações para devol-ver o poder aos civis. Em dezembro de 1983, o candidato da União CívicaRadical, Raul Alfonsín, venceria as eleições, pondo fim à ditadura na Argen-tina. Em 1984, os ex-presidentes militares foram presos. Uma comissão lide-rada pelo escritor Ernesto Sábato constatou a existência de campos de prisio-neiros, onde quase 9 mil opositores do regime militar foram comprovadamentemortos entre 1976 e 1982.

Uruguai

Também o Uruguai ficou sob regime ditatorial, entre 1973 e 1985. Em 7 dejunho de 1973, o presidente uruguaio Juan María Bordaberry, com apoio dosmilitares, deu um golpe de estado no país. Em cadeia de rádio e televisão foidivulgado o decreto presidencial, dissolvendo o Congresso e substituindo-o porum Conselho de Estado, formado por dez militares e dez civis. Bordaberry, eleitodemocraticamente, dera plenos poderes para que os militares combatessem osguerrilheiros tupamaros logo que assumiu, no início de março do mesmo ano. Ostupamaros eram um grupo de guerrilheiros de esquerda que lutavam para trans-formar o Uruguai num país socialista. A repressão foi tão brutal quanto a da Ar-gentina e do Chile, deixando um grande número de militantes mortos e desapare-cidos, além de provocar o exílio de grande número de oponentes do regime.

Há também inúmeros relatos de pessoas que viveram sob a repressão dasditaduras dos países vizinhos. Veja os textos a seguir:

Em 28 de novembro de 1975, por volta das 5h da madrugada, quando meencontrava em minha residência, (...) em companhia de minha esposa e deminha filha de 5 anos, minha casa foi invadida por um grupo de agentes daDINA, cerca de 10, 12 pessoas, vestidas à paisana e armadas de pistolas emetralhadoras (...).

Uma vez dentro de minha casa, os agentes começaram a golpear-me, mealgemaram e também à minha mulher. Logo trataram de invadir os outroscômodos, quebrando e roubando tudo que era de seu interesse.Em seguida nos levaram para fora e nos colocaram nos veículos que esta-vam mais próximos. Fui colocado na parte traseira de uma caminhonete.Minha esposa e minha filha foram colocadas em outro veículo. Ao iniciar omovimento do carro, colocaram fita adesiva nos olhos, que também foramcobertos com óculos. Fizeram o mesmo com minha mulher e minha filha,no outro veículo.

Os carros se dirigiram a leste de Santiago e depois de atravessar o Canal SanCarlos começaram a me bater para que eu perdesse o sentido de orienta-ção. Eu supunha que estavam me levando a um lugar conhecido como VilaGrimaldi, que eu só conhecia por ter ouvido falar. Depois de um longo traje-to, o veículo em que era conduzido entrou em um lugar, depois de abrir-seum portão metálico que produzia um ruído característico. Um toque debuzina foi a senha para que o portão se abrisse. Uma vez dentro, fui tirado docarro e conduzido imediatamente a uma das dependências (...) eu supunhaque minha milher e minha filha também estivessem nesse lugar.

Depoimento do chileno Oscar Patricio Orellana Figueroa, publicado no sitewww.memoriaviva.com/testimonios – traduzido e adaptado para este material.

Você acabou de ler um breve histórico das ditaduras militares em países daAmérica do Sul e dois depoimentos de presos políticos que caíram nas malhasda repressão no Chile e na Argentina. Agora, resolva as atividades a seguir:

1. Analise as semelhanças e diferenças entre o Brasil, o Chile e a Argentina,nos momentos que precederam os respectivos golpes militares.

2. Embora também tenha passado por um período ditatorial, o Uruguai apre-senta diferenças em relação à instalação da ditadura. Qual a mais importantedessas diferenças?

3. Quais os elementos comuns nos dois depoimentos de militantes presos?

4. Quais indicações podem ser extraídas dos textos sobre o respeito aos direi-tos humanos, no Chile e na Argentina, durante o período em que estes paísesestiveram sob a ditadura militar?

Fui sequestrada por um grupo fortemente armado na noite de 19 de abrilde 1977, em minha residência, estando eu em repouso, por ordens médi-cas, devido ao estado de gravidez em que me encontrava. Desde essa dataaté novembro de 1977, permaneci no campo de concentração chamadoVesúvio. Meu seqüestro estava relacionado com o seqüestro de meu com-panheiro, que vivia no mesmo endereço que eu. Meu seqüestro está rela-cionado com o dele, que tinha ocorrido no mesmo dia, numa rua de BuenosAires. Hoje, ele é um dos desaparecidos. Aproximadamente à meia-noite,irrompeu em minha casa um grupo fortemente armado. Tiraram-me dacama e me levaram para o piso inferior, debaixo de pancadas e insultos.Reviraram a casa toda, roubando tudo que lhes apeteceu. Dizendo que iamme levar para encontrar meu companheiro, fui violentamente jogada nochão de um carro. Durante o trajeto taparam meus olhos com fita adesiva.Quando cheguei ao Vesúvio, fizeram-me assistir as torturas a que estavamsubmetendo meu companheiro. Eu mesma fui torturada com choques elé-tricos e com ameaças de morte para o meu filho.

Em várias oportunidades me permitiram ver meu companheiro, até que em23 de maio houve um traslado de 16 prisioneiros. Em um comunicado oficial,comunicou-se à população que “em um tiroteio, foram mortos no dia 24 demaio de 1977, 16 delinqüentes subversivos”. Ao aviso seguiu-se uma lista como nome dos 16 prisioneiros que haviam sido retirados do campo.

Depoimento da argentina Elena Alfaro, publicado no sitewww.desaparecidos.org./arg/testimonios – traduzido e adaptado para este material.

5. Explique por que se afirma que a Guerra das Malvinas foi um dos fatoresmais importantes para o fim da ditadura militar na Argentina, esclarecendo:

a) quais foram os países envolvidos na guerra;

b) quais motivos levaram o governo argentino a promover o conflito;

c) a reação da população argentina ao final da Guerra das Malvinas.

6. Pode-se afirmar que nos anos 70, os mais importantes países da América doSul eram governados por regimes ditatoriais. Isso significava que:

( ) Na Bolívia, México, Venezuela e Argentina não se respeitavam os direitoshumanos.

( ) No Brasil, Argentina, Peru e Venezuela vivia-se sob um regime constitucional.( ) No Uruguai e Paraguai estava reunida uma assembléia constituinte, da

qual resultaria uma Constituição para os dois países.( ) No Brasil, Argentina, Chile e Uruguai havia ditaduras que não respeitavam

os direitos dos cidadãos.( ) No Brasil, Argentina, Chile e Uruguai estava se formando o Mercosul, que

para produzir necessitava de regimes fortes.

Para saber mais arespeito do que es-tava acontecendono Cone Sul:

Leia:

• Osvaldo Coggiola. Gover-nos militares na AméricaLatina. São Paulo: Contex-to, 2001.

Veja os filmes:

• Chove Sobre Santiago

• Desaparecido: Um Gran-de Mistério

• A Casa dos Espíritos

• A História Oficial

Em algumas situações especiais, documentos orais foram anotados, transcri-tos e são divulgados impressos, mas mantêm características de fontes orais.

Os trechos apresentados a seguir pertencem ao documento conhecido como“O que ocorre com a Terra recairá sobre os filhos da Terra. Há uma ligação emtudo”, que é uma anotação de um discurso de um chefe indígena norte-ameri-cano, datado de 1887, anotado pelo dr. Henry Smith, que publicou o primeiroregistro dele no jornal Seattle Sunday Star.

O chefe citado é conhecido como Chefe Seattle, dos índios Duwamish, quehabitavam o extremo noroeste dos Estados Unidos – fronteira com o Canadá, hojeestado de Washington. O chefe indígena se expressa com muita emoção, no mo-mento em que estava sendo deslocado de suas terras para uma reserva federal e queo governo norte-americano se propunha a pagar pelas terras que sua gente ocupava.

Este documento também é conhecido como “o discurso do Chefe Seattle”e possui diversas versões, pois é muito utilizado em nossos dias. Talvez vocêjá tenham tomado conhecimento dele nas suas aulas de História.

Os indígenasUnidade 2

e a ocupação do territórioamericano

O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa, ogrande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto égentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.

Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, ohomem branco virá com armas e tomará nossa terra...

Minha palavra é como as estrelas – elas não empalidecem.

Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha.Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como entãopodes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo...

A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homemvermelho...Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmosaceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terracomo se fossem seus irmãos...

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homemmorreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aosanimais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si...

De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que perten-ce a terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangueque une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra,agride os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele émeramente um fio da mesma. O que ele fizer à trama, a si próprio fará.

Texto extraído e adaptado do site www.morcegolivre.v et.br

ElaboradorasKatia Maria Abud

Raquel Glezer

Lembre-se

Para ler um texto de his-tória é necessário res-ponder:

• O que é?

• Quem produziu?

• Para quê?

• Por quê?

• Quando?

• Onde?

Nos trechos apresentados na página anterior há algumas informações so-bre a situação vivida pela tribo do Chefe Seattle. Leia atentamente o texto eresponda as questões:

1. Explique o sentido das palavras que aparecem no texto:

Grande chefe

Homem branco

Homem vermelho

2. Em que local foi publicado?

3. Em que ano foi o discurso do Chefe Seattle anotado e por quem?

4. Qual a percepção do Chefe Seattle na relação com o governo norte-americano?

5. O Chefe Seattle respeitava as atitudes dos homens brancos?

6. Como o Chefe Seattle entendia a relação do homem com a terra?

7. Relacione as idéias do Chefe Seattle com as do movimento de preservaçãodo meio ambiente.

8. Assinale as informações corretas:

( ) o Chefe estava vendendo as terras tribais por espontânea vontade;

( ) o governo federal norte-americano estava forçando a tribo Duwamish avender suas terras e a viver em reserva federal;

( ) os motivos do governo federal norte-americano para forçar o Chefe Seattlea vender as terras eram de ordem religiosa;

( ) os brancos sabiam explorar melhor a terra que os índios Duwamish;

( ) a relação dos índios norte-americanos com a terra era uma relação de or-dem econômica.

O país que hoje conhecemos como Estados Unidos da América do Norte foicolonizado por ingleses, que no século XVII foram obrigados a se afastar daInglaterra, porque eram vítimas de perseguição política e religiosa. O processode colonização no norte do continente americano é denominado de coloniza-ção para povoamento, o que significa que nele ocorreu o deslocamento de fa-mílias e grupos familiares para as áreas escolhidas, para dar início a um novosistema administrativo e religioso, independente da Coroa da Inglaterra. Manti-nham, porém, os traços considerados relevantes dos sistemas administrativo,jurídico e educacional de seu pais de origem. De início, formaram-se 13 colôniasautônomas e independentes entre si na Costa Leste. Foram essas colônias que,ao se tornarem independentes no século XVIII, deram origem aos Estados Uni-dos da América do Norte.

Um exemplo de relação amistosa foi como os primeiros colonizadores,chamados de pioneiros, foram recebidos na Costa Leste, por indígenas quecederam alimentos até a primeira colheita, o que é até hoje comemorado nomaior feriado nacional nos Estados Unidos – o Dia de Ação de Graças. Con-tudo, na expansão da ocupação de terras pelos colonizadores surgiram váriosconflitos, que tiveram continuidade nos séculos XVIII e XIX.

No século XIX, no processo de expansão da ocupação das terras da CostaLeste para o Meio-Oeste e Costa do Pacífico, houve um momento destacado:a corrida para o Oeste, que teve como objetivos:

• abertura para a exploração de terras férteis nos vales dos grandes rios,para o cultivo de gêneros alimentícios;

• ocupação de terras em grande extensão para criação de gado;

• busca de peles de animais silvestres;

• exploração do ouro.

Para facilitar a posse da terra, foi feito o Homestead Act, ato legal que davadireito à propriedade de até 160 acres àqueles que permanecessem na posse daterra por cinco anos e nela fizessem benfeitorias (casas, estábulos, poços etc.).Assim, muitos se arriscaram a partir para o Oeste, buscando sua própria terra.Simultaneamente, as estradas de ferro começaram a cortar o continente de Lestea Oeste, acelerando o processo de expansão e de integração econômica com avenda de produtos industrializados no Oeste e de gêneros alimentícios no Leste.

Os primeiros ingleses que se trans-feriram para a América se localizaramem regiões de clima temperado, o quefacilitava uma produção diversificada,tendo como finalidade atender o merca-do interno, produzindo similares dosprodutos europeus. A produção era ba-seada na pequena propriedade, napolicultura e no trabalho livre.

No processo de conquista e coloni-zação de parte do continente norte-ame-ricano, na área que hoje correspondeaos Estados Unidos da América doNorte, a relação com a população indí-gena foi variável: amistosa em algunsmomentos, agressiva em outros, do sé-culo XVII em diante.

As 13 colônias. Fonte: Régis Benichi et al .Histoire: Heritages Européens. Paris: Hachette,1981. p. 116.

Todo esse processo de conquista e ocupação foi violento: as tribos indígenasforam destruídas; manadas de bisões foram dizimadas; as disputas pela terra eramresolvidas a bala; populações de outras origens foram subjugadas, quer por com-pra – como aos franceses da Louisiania –, quer por guerra – com os espanhóis naFlórida –, ou por derrotas militares – como a dos mexicanos no Oeste.

Expansão ter ritorial dos Estados Unidos. Fonte: Jean Monnier.Histoire. Paris: Nathan, 1960.

Só nos anos 80 do século XX é que foram sendo apresentadas outras visõesdo processo, principalmente a partir da recuperação da história dos grupos indí-genas norte-americanos, que formaram movimentos para recuperar suas terras,seus direitos, sua história.

Encontramos na literatura, no cinema – especialmente no gênero faroeste –,nas histórias em quadrinhos e nos mais variados meios de comunicação asvárias posições sobre o processo de ocupação das terras e destruição das comu-nidades indígenas na América do Norte, que até nossos dias são questõespolêmicas na sociedade norte-americana.

O processo de colo-nização da Costa Leste,os conflitos com os gru-pos indígenas na penetra-ção para o interior, a ocu-pação do Meio-Oeste e acorrida para o Oeste, asconquistas de territóriosde outros grupos – comoFlórida, Louisiania, osatuais estados de NovoMéxico, Texas, Arizona,Nevada, Califórnia e A-laska – se tornaram ele-mentos de identidade na-cional: fatos heróicos decriação da Nação.

À direita: imigrantes indo para a região do Nebraska. À esquerda: Ilustração de funcionários dacompanhia de tr em caçando búfalos, para que o trem pudesse passar. Fonte: J ean-BaptisteDuroselle. Histoire. Paris: Nathan, 1961.

Você deve ler com atenção os textos acima, antes de resolver as questõesa seguir:

1. Conforme o texto acima, associe os termos com as atividades econômicascorrespondentes:

• extração de peles __________________________________________

• criação de gado ___________________________________________

• urso ____________________________________________________

• estrada de ferro ___________________________________________

• rio _____________________________________________________

• planície _________________________________________________

• montanha ________________________________________________

• extração de ouro __________________________________________

• plantação de milho ________________________________________

2. Comente a frase, que aparece nos filmes e histórias em quadrinhos maisantigos: “Índio bom é índio morto”.

3. Nos filmes e seriados de televisão, de origem norte-americana, como osíndios são apresentados em geral?

4. Relacione, nas linhas a seguir, os games, as histórias em quadrinhos, asséries de televisão, os f ilmes e os livros que conhece sobre o assunto.

Para saber mais a res-peito dos EstadosUnidos:

Leia:

• Leandro Karnal. EstadosUnidos da Colônia àIndependência. S. Pau-lo: Contexto, 1996.

Leandro Karnal. EstadosUnidos: a Formação daNação. São Paulo Con-texto, 2001.

Mary A. Junqueira. Esta-dos Unidos: a Consoli-dação da Nação . SãoPaulo: Contexto, 2001.

Consulte os sítios:

• www.universiabrasil.net

• www.bibvirt.futuro.usp.br

• www.historianet.com.br

• www.br.dir.yaho o.com/Ciencia/Ciencias Huma-nas/Historia

• www.tvcultura.com.br/aloescola

Veja os filmes:

• Álamo

• Dança com Lobos

• Enterrem meu Coraçãona Curva do Rio

• ...E o Vento Levou

• Jerônimo

• Pequeno Grande Homem

• O Último dos Moicanos

Ao contrário do que ocorreu nas colônias inglesas, que eram de povoamen-to, nas ilhas do Caribe, na área sul da parte norte e na central do continenteamericano, e no sul, o processo de colonização criou colônias de exploração,dependentes diretamente das Coroas ibéricas – espanhola ou portuguesa. Comocolônias de exploração, mais homens sozinhos do que com famílias se dirigi-ram para tais espaços, buscando formas de enriquecimento e retorno rápidopara a terra natal.

Não foi apenas no norte do continente americano que existiram popula-ções com organizações sociais estruturadas antes da chegada do homem branco.Os castelhanos (espanhóis) começaram o processo de ocupação e exploraçãodas novas áreas encontradas a partir de 1492, por Cristóvão Colombo, pelasilhas no mar do Caribe, buscando metais preciosos.

Encontraram duas sociedades complexas, que ainda hoje são objetos deestudo, quer pela organização social e econômica, quer pela riqueza arqui-tetônica e cultural. No atual México existiam os astecas e, no atual Peru, osquíchuas, conhecidos como incas. Essas duas sociedades possuíam complexaorganização social, econômica e política e realizaram grandes obras públicas:sistema de irrigação, assim como palácios e templos, tanto na Mesoamérica(América Central) – onde se encontravam os Astecas –, como no AltiplanoAndino – onde se desenvolveu o Império Inca.

Os astecas desenvolveram um sistema de plan-tio baseado nos “jardins flutuantes”, em região pan-tanosa que passou então a servir para a produção.As comunidades camponesas conservavam umapequena parcela de terra para uso familiar, mas amaior parte das terras pertencia a sacerdotes e eliteslocais. Entre os incas, a terra era divida em: Terra doEstado, Terra dos sacerdotes e Terra comunitária, nasquais cada família possuía um lote para cultivo pró-prio, onde produziria após trabalhar as terras do im-perador e dos sacerdotes. A exploração do trabalhodos camponeses pelo Estado ainda era realizada pormeio da mita, ou seja, toda comunidade estava obri-gada a fornecer homens para as obras públicas oupara o trabalho nas minas. Os incas desenvolveramde fato um império centralizado e teocrático, onde oimperador, chamado Sapa Inca, era considerado umdeus, descendente direto do sol, supremo legisladore comandante do exército, suplantando a antiga uni-dade social, o Ayllu (clã).

Na região do México, em uma ilha do LagoTexcoco, os mexicas ou astecas construíram umagrande cidade, capital do Império – TENOCHTI-TLAN – onde havia palácios, templos, mercados ecanais de irrigação, demonstrando grande desen-volvimento. Sobre as ruínas dessa cidade, os espa-nhóis construíram a Cidade do México, atual capi-tal do país do mesmo nome.

Fonte: A.G. Manr y. Documentsd´histoire. Paris: Delagrave,1971. p. 153.

Tanto entre astecas como entre incas havia uma elite de sacerdotes, militarese artíf ices do Estado e uma grande massa de camponeses, que era responsávelpelo trabalho. A religiosidade caracterizava-se pela crença em vários deuses,normalmente vinculados a elementos da natureza, como sol, chuva ou fertilida-de, influenciando suas manifestações artísticas, principalmente a construção degrandes templos. Os povos da Mesoamérica (América Central e parte da atualAmérica do Norte) realizaram obras arquitetônicas colossais, representadas portemplos e palácios em terraços com forma piramidal; também produziram obje-tos com caráter decorativo, obras de ourivesaria de prata, ouro e pedras precio-sas dos astecas, utilizadas para decorar palácios e templos.

No Altiplano Andino, os incas realizaram imponentes construções em blo-cos de pedras, com poucos elementos decorativos, cujos restos demonstramum domínio da técnica de construção, caracterizada ainda por uma grandefrieza expressiva. Eram também exímios na fabricação de armas, no artesana-to têxtil e na cerâmica. Nessa última atividade, dedicaram-se à produção depeças pequenas e estatuetas antropomórficas.

O México foi conquistado por Cortez e o Império Inca por Pizarro. Após aconquista, representantes da coroa espanhola, agindo de modo violento, dizi-maram a nobreza dirigente e auxiliaram as ordens religiosas no processo decristianização da população, modificando importantes aspectos das culturasindígenas. O contato com o europeu provocou um processo de deculturação,acelerado pela violenta diminuição da população nativa, provocada pela vio-lência da conquista, por doenças que até então eram desconhecidas e pelosistema de trabalho compulsório. Este era aplicado mediante o sistema demitas e encomiendas, trabalho obrigatório nas minas e nas fazendas, o quelevou a uma reordenação espacial das comunidades indígenas, formando no-vos povoados de acordo com os interesses do colonizador.

A tradição oral dos povos da Mesoamérica passou por gerações e guardou amemória da conquista e destruição, provocada pelo choque entre os povos na-tivos e os conquistadores da América, num canto registrado pelo pesquisadorM. Leon-Portilla. Leia trechos do “canto” que registra a visão dos conquistados:

(...)

E tudo isso sucedeu conosco

Nós os vimos perplexos

Pelos caminhos jazem as flechas partidas

Os cabelos espalhados

As casas estão destelhadas

Os muros calcinados

As paredes estão salpicadas de miolos

Vermes enxameiam as ruas e as praças

As águas estão rubras, tingidas de sangue e

Tem gosto de salitre.

(....)

Nos puseram preço: preço de jovem,preço de sacerdote

De criança e de donzela

Basta: o preço de um pobre

Era um punhado de milho

Dez tortas podres era nosso preço

Vinte tortas de grama salitrosa

Colhido por Miguel Léon Portillo, in RIBEIRO,Darcy. As Américas e a Civilização. Estudosde Antropologia da Civilização. Petrópolis:Vozes, 1979, p. 123.

Para assegurar a posse de tanta terra e garantir a exploração de suas rique-zas, os castelhanos criaram o Código de Índias – uma legislação especial, paraas áreas de colonização e exploração fora do continente europeu; testaram for-mas de organização administrativa e construíram cidades reais, com planeja-mento urbano, planejamento este que ainda não existia no continente europeu.

Os portugueses optaram por outra estratégia, definindo os territórios con-quistados como domínios de ultramar, mantendo de modo geral o mesmosistema de leis e uma forma de administração que ligava cada um dos pontosde colonização ao sistema metropolitano.

1. Compare a colonização ibérica – castelhana e portuguesa – com a inglesa,na Costa Leste dos Estados Unidos.

2. Apresente as características da conquista espanhola.

3. Interprete as partes do poema colhido por Leon Portillo, indicando:

• quem é o autor;

• qual é o tema principal;

• de que ocorrências o texto trata;

• qual a visão do poeta sobre o assunto que aborda.

Para saber mais a res-peito da colonizaçãoespanhola:

Leia também:

• Mustafá Yazbeck. A Con-quista do México. SãoPaulo: Ática, 1998.

• Leandro Karnal. A Con-quista do México. SãoPaulo: FTD, 1996.

Consulte os sítios:

• www.universiabrasil.net

• www.bibvirt.futuro.usp.br

• www.historianet.com.br

• www.br.dir.yahoo.com/Ciencia/Ciencias Huma-nas/Historia

• www.tvcultura.com.br/aloescola

Veja os filmes:

• 1942

• Aguirre, a Cólera dosDeuses

• O Capitão Castela

• Cristóvão Colombo