oração a santa rita de cássia - yves klein

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Oração a Santa Rita Yves Klein, fevereiro de 1961 Santa Rita de Cássia, te peço interceder junto a Deus- Pai-Todo-Poderoso para que ele me conceda sempre, em nome de Jesus Cristo, do Espírito Santo e da Santa Virgem Maria, a graça estar em minhas obras, e que elas se tornem sempre mais belas; e me conceda ainda a graça de descobrir sempre, continuamente e regularmente sempre novas coisas na arte, cada vez mais belas mesmo que eu não seja sempre digno de ser um instrumento a construir e criar a Grande Beleza. Que tudo que venha de mim seja belo. Assim seja. Sob a guarda terrestre de Santa Rita de Cássia: a sensibilidade pictórica, os monocromos, os I.K.B, as esculturas-esponja, positivos, negativos em movimento, os sudários, as fontes de fogo, a água e o fogo – a arquitetura do ar, o urbanismo do ar, a climatização dos espaços geográficos transformados em édens constantes encontrados na superfície de nosso planeta – o Vazio. O teatro do vazio – todas as variações particulares à margem de minha obra – as Cosmogonias – meu céu azul – todas as minhas teorias, em geral – que meus inimigos se tornem meus amigos, e assim seja impossível que tudo que possam tentar contra mim resulte em qualquer coisa.

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Oração escrita pelo artista Yves Klein a Santa Rita de Cássia.

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Page 1: Oração a Santa Rita de Cássia - Yves Klein

Oração a Santa Rita

Yves Klein, fevereiro de 1961

Santa Rita de Cássia, te peço interceder junto a Deus-Pai-Todo-Poderoso para que ele

me conceda sempre, em nome de Jesus Cristo, do Espírito Santo e da Santa Virgem

Maria, a graça estar em minhas obras, e que elas se tornem sempre mais belas; e me

conceda ainda a graça de descobrir sempre, continuamente e regularmente sempre

novas coisas na arte, cada vez mais belas mesmo que eu não seja sempre digno de ser

um instrumento a construir e criar a Grande Beleza. Que tudo que venha de mim seja

belo. Assim seja.

Sob a guarda terrestre de Santa Rita de Cássia: a sensibilidade pictórica, os

monocromos, os I.K.B, as esculturas-esponja, positivos, negativos em movimento, os

sudários, as fontes de fogo, a água e o fogo – a arquitetura do ar, o urbanismo do ar, a

climatização dos espaços geográficos transformados em édens constantes encontrados

na superfície de nosso planeta – o Vazio. O teatro do vazio – todas as variações

particulares à margem de minha obra – as Cosmogonias – meu céu azul – todas as

minhas teorias, em geral – que meus inimigos se tornem meus amigos, e assim seja

impossível que tudo que possam tentar contra mim resulte em qualquer coisa.

Conceda a mim, a mim e a todas as minhas obras, a invulnerabilidade. Assim seja.

Santa Rita de Cássia, santa das causas impossíveis e desesperadas, obrigado por toda

ajuda poderosa, decisiva e maravilhosa que me destes até agora – um obrigado

infinito – mesmo se eu não sou uma pessoa digna, me conceda sua ajuda agora e

sempre em minha arte, e proteja sempre tudo aquilo que criei para que, mesmo apesar

de mim, seja sempre a grande beleza.

O manuscrito dessa “Prece a Santa Rita” foi cuidadosamente colocado em um ex-

voto oferecido por Yves Klein no convento de Santa Rita de Cássia, na província da

Úmbria, Itália, no fim de fevereiro de 1961.