klein cap 5

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5 MELANIE KLEIN. AFANTASIA INCONSCIENTE COMO CENÁRIO DA VIDA PSíQUICA APRESENTAÇÃO 1. Introdução A obra de Melanie Klein se estende desde 1919, data em que publicou seu primeiro trabalho, "A novela familiar em statu nascendi", até sua mor- te, em 1960. Ela é, sem dúvida, uma das grandes figuras da psicanálise contemporâ- nea. Seus escritos, coloridos, às vezes contraditórios, apresentam uma per- manente riqueza de idéias originais. Neles, o interesse principal não está cen- trado em obter precisões teóricas que permitam construir um conjunto com- pletamente coerente de hipóteses. O que transmitem, em compensação, é uma preocupação em descrever o mundo rico de fantasias e vivências que os pacientes em tratamento apresentam. As hipóteses de Klein procuram explicar os fatos que surgem, a partir de novos contextos terapêuticos e de novas observações. O ponto de partida"f se!Dpre o !!!ª-Ís exatamenteL-()_ deji!;J:!.yolyimÇltto da sessão. Assim como em Freud observamos um esforço por tormular teorias da mente, com base em modelos científicos de sua época: físico-químicos, neurofisiológicos etc., ou, em Lacan, os pontos de partida para suas formu- lações são os postulados filosóficos de Hegel, a lingüística de Saussure e a antropologia estrutural, Klein quer explicar os eventos que acontecem no consultório e no vínculo interpessoal entre paciente e analista. Observa que o paciente se compromete emocionalmente no tratamento, que inclui o tera- peuta em suas fantasias, que desenrola um universo cheio de acontecimen- tos e associações, mas sobretudo com fortes sentimentos e angústias. A Psicanálise depois de Freud I 79

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Page 1: klein cap 5

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MELANIE KLEIN AFANTASIA INCONSCIENTE COMO CENAacuteRIO DA

VIDA PSiacuteQUICA APRESENTACcedilAtildeO

1 Introduccedilatildeo

A obra de Melanie Klein se estende desde 1919 data em que publicou seu primeiro trabalho A novela familiar em statu nascendi ateacute sua morshyte em 1960

Ela eacute sem duacutevida uma das grandes figuras da psicanaacutelise contemporacircshynea Seus escritos coloridos agraves vezes contraditoacuterios apresentam uma pershymanente riqueza de ideacuteias originais Neles o interesse principal natildeo estaacute censhytrado em obter precisotildees teoacutericas que permitam construir um conjunto comshypletamente coerente de hipoacuteteses O que transmitem em compensaccedilatildeo eacute uma preocupaccedilatildeo em descrever o mundo rico de fantasias e vivecircncias que os pacientes em tratamento apresentam As hipoacuteteses de Klein procuram explicar os fatos que surgem a partir de novos contextos terapecircuticos e de novas observaccedilotildees O ponto de partidaf seDpre o tordfteacuteIIl~DJordmlJ1ordfliacutetico~ ordf-Iacutes exatamenteL-()_dejiJyolyimCcedilltto da sessatildeo

Assim como em Freud observamos um esforccedilo por tormular teorias da mente com base em modelos cientiacuteficos de sua eacutepoca fiacutesico-quiacutemicos neurofisioloacutegicos etc ou em Lacan os pontos de partida para suas formushylaccedilotildees satildeo os postulados filosoacuteficos de Hegel a linguumliacutestica de Saussure e a antropologia estrutural Klein quer explicar os eventos que acontecem no consultoacuterio e no viacutenculo interpessoal entre paciente e analista Observa que o paciente se compromete emocionalmente no tratamento que inclui o terashypeuta em suas fantasias que desenrola um universo cheio de acontecimenshytos e associaccedilotildees mas sobretudo com fortes sentimentos e anguacutestias

A Psicanaacutelise depois de Freud I 79

Esta linha de compreensatildeo define uma de suas hipoacuteteses principais Q p~~quismo se2rigina~ yiacuteI1culo intersubjetiY9J em primeiro hlampordfr areshyleacute1Qo de objeto do bebecirc e sua mordf~ Ela estuda as caracteriacutesticas emocionais deste viacutenculo em que procura descobrir qual eacute a ordfD~sJia predominante e as fantasias constitutivas

Klein eacute indubitavelmente a pioneira de toda a corrente psicanaliacutetica contemporacircnea que enfatiza a existecircncia de relaccedilotildees de objeto precoces coshymo fundadoras do desenvolvimento psiacutequico e da personalidade Uma granshyde parte dos autores que revisaram os sucessivos capiacutetulos deste livro nushytrem-se a este respeito de suas ideacuteias renovadoras

Eacute importante incluir aqui um fato significativo Klein comeccedilou trabashylhando em anaacutelise com crianccedilas iniciou uma praacutetica original ao introduzir a teacutecnica do jogo infantil para ter acesso aos conflitos e fantasias de uma maneira mais direta e faacutecil do que a comunicaccedilatildeo verbal Insistiu em que seus pequenos pacientes deviam ser analisados do mesmo modo que os adulshytos explorando os conflitos inconscientes e abstendo-se de qualquer medishyda reeducativa ou de apoio Isto lhe permitiu observar que as crianccedilas deshysenvolvem uma neurose de transferecircncia anaacuteloga a dos adultos Desta mashyneira pocircde delimitar um campo de observaccedilatildeo feacuteril para uma grande parshyte de suas descobertas posteriores complexo de Edipo precoce superego precoce mecanismos de defesa primitivos organizados em torno de uma anguacutetia principal e uma relaccedilatildeo de objeto

Disto partiu outra importante hipoacutetese a anguacutestia existe desde o comeshyccedilo da vida eacute o motor essencial que potildee em marcha o desenvolvimento psiacuteshyquico e ao mesmo tempo eacute a orw~m de toda a patologia mental Na cliacutenishyca seraacute o eixo de cOrlpree~~odas fanta~iase lto~fli=-()s que se desenrolam durante o tratamento Sobre isso versaraacute o ponto de urgecircncia da interpretaccedilatildeo

Esta noccedilatildeo estaacute ligada agrave grande importacircncia que no pensamento kleishyniano tem o problema da agressividade como causa de anguacutestia as pulsotildees saacutedicas e agressivas se inscrevem em uacuteltima instacircncia na pulsatildeo de morte que atua no indiviacuteduo desde os primeiros momentos do desenvolvimento A frustraccedilatildeo provocada pelos ogtietos seraacute m~l~men~ordm cQordfmYy_antJ maJ1 natildeo causal nem definitoacuterio para tais pulsotildeesEampr~ssiyas_

Klein esecttaacutejnteressada em descrever Qdesemrolvimento pslquieQpreCQshyce principalmente no primeiro anO de vidiP9jsordm_consjdg[ordfoJundam~shyto de todo o desenvolvimento psiacutequico poslerior E embora tome como ponto de partida as propostas baacutesicas de Freud e Abraham suas observashyccedilotildees e hipoacuteteses a levam a inventar uma teoria original do desenvolvimenshyto e da estrutura da mente a ideacuteia do mundo dos objetos internos Eacute um espaccedilo mental povoado de objetos que interagem entre si produzindo signishyficados e motivaccedilotildees descreve as fantasias inconscientes como os elementos baacutesicos desse mundo interno ou realidade psiacutequica A ideacuteia de conflito menshytal se modifica natildeo eacuteuma lutordf-~ltr~~__plllsatildeo~xtlaleag~f~ordf1 ou coIllil estrutura que impede sua descargordfLll~ __~tr~ seItimentos de amQ~~~

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cou a exIsten~ flamados criacuteti~

) ildWque se enfrentam no viacutenculo com os objetos A vida psiacutequica se orgashyniza tanto em sua evoluccedilatildeo como em seu funcionamento em volta de duas posiccedilotildees fundamentais esquizo-paraJlQide e depressiYa A posiccedilatildeo deshys pressiva eacute para Klein o ponto cruciats0~clesenY9Jyimento~~~2~bel~~ bases para o equiliacutebrio psiacutequico e o contrQle das anguacutestias psicoacuteticas

a A inveja primaacuteria outra hipoacutetese fundamental retoma sua ideacuteia de que a agressatildeo se origina desde o comeccedilo da vida tendo uma base constitushycional Este postulado final da obra de Klein (1957) reforccedila suas propostas G sobre a hierarquia dos fatores inatos as pulsotildees tanto agressivas como libishydinais natildeo satildeo descritas a partir de uma especulaccedilatildeo bioloacutegica ou filosoacutefishyca (Freud 1920) mas como expressotildees concretas das fo]Sas mentais em lushyta que satildeo manifestadas na psicopatologia e nas diferentes sit1accedilOtildees obsershyr vatildedas na cliacutenicaa

e O desenvolvimento psicanaliacutetico iniciado por Melanie Klein deu lugar - agrave criaccedilatildeo de um movimento chamado de escola kleiniana teve seu epicenshy- tro em Londres e se estendeu a diversos paiacuteses europeus e americanos No

Meacutexico Joseacute Luis Gonzaacuteles foi sem duacutevida seu pioneiro teve uma atividashy1- de apaixonada na difusatildeo e ensino da obra de Klein Formou muitos disciacutepushy- los e haacute mais de vinte e cinco anos realiza seminaacuterios de estudos sobre estes ) enfoques a O movimento inspirado em Melanie Klein se originou nos anos 40 alshy

canccedilando seu apogeu nas deacutecadas de 50 e 60 Unificou um corpo teoacuterico e ~ teacutecnico que o individualizou claramente de outros esquemas da psicanaacutelise 1- contemporacircnea

Resumiremos agora um perfil biograacutefico de Melanie Klein que ampliashylshyraacute a compreensatildeo de alguns aspectos de sua obra Nasceu em 1880 filhan de uma famiacutelia centro-europeacuteia de origem judaica Quando jovem quis estushy

lshy dar medicina mas natildeo pocircde realizar este propoacutesito devido a seu noivado s com Arthur Klein aos dezessete anos com quem casou aos vinte e um e teshy ve trecircs filhos em um curto espaccedilo de tempo Durante a eacutepoca da Primeira

I

Guerra Mundial daacute-se sua aproximaccedilatildeo com a psicanaacutelise atraveacutes da leitushyra da obra de Freud Deste momento em diante nunca abandonou sua deshy

I

sect voccedilatildeo a Freud (com quem jamais teve um contato direto) e a dedicaccedilatildeo peshy

shy la psicanaacutelise Seu desenvolvimento foi protegido por trecircs grandes figuras lshy muito proacuteximas de Freud Ferenczi com quem comeccedila sua primeira anaacutelishyo se em 1919 que a estimula a se introduzir na anaacutelise infantil Abraham lshy que a convida em 1921 a mudar-se para Berlim apoiando seus novos conshyIshy ceitos teoacutericos Com ele inicia sua segunda experiecircncia analiacutetica nesse ano n que eacute interrompida pela morte prematura do mestre Finalmente Emest Joshyi- nes que em 1926 convence-a a ir morar em Londres onde ela permanece IS ateacute sua morte em 1960 lshy Melanie Klein sempre foi uma figura polecircmica na psicanaacutelise Provoshya cou a existecircncia de apaixonados colaboradores e adeptos e tambeacutem de inshye flamados criacutetiGOS e opositores Teve trecircs grandes enfrentamentos ao longo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 81

de sua carreira cientiacutefica em 1927 com Anna Freud em redor da anaacutelise infantil e o desenvolvimento da transferecircncia em 1943-44 as Controversial Issues (Temas polecircmicos) dentro da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica quanshydo Glover propocircs a expulsatildeo de Klein e seu grupo acusando-a de afastarshyse dos prinaacutepios baacutesicos da psicanaacutelise claacutessica finalmente nos uacuteltimos anos de sua vida a teori4 da inveja primaacuteria que apoacuteia decididamente a base constitucional da agressatildeo humana provocou a discrepacircncia definitishyva com membros de sua escola (Paula Heimann separa-se do grupo) e com outros autores que compartilham com Klein a teoria das relaccedilotildees de objeshyto precoces mas divergem quanto agrave gecircnese da agressatildeo e do sintoma (Winshynicott e Guntrip entre eles) Estas trecircs polecircmicas tiveram consequumlecircncias pesshysoais teoacutericas e para o movimento Quanto ao pessoal a maioria dos autoshyres concordam que seu enfrentamento total com Anna Freud e a Escola de Viena foi responsaacutevel em parte de que Freud nunca aceitasse nem apoiasshyse sua obra apesar dela se proclamar fiel disaacutepula e continuadora de suas ideacuteias As discussotildees de 1943-44 provocaram a dolorosa ruptura definitiva com sua filha Melitta Schmideberg que apoiou Glover em sua postura e ao fracassar mudou-se definitivamente para os Estados Unidos

Quanto agrave teoria os artigos apresentados por Klein e seus colaboradoshyres nas polecircmicas da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica permitiram reelaboshyrar as ideacuteias de fantasia inconsciente desenvolvimento emocional do lactenshyte mecanismos primitivos do psiquismo e outras em uma seacuterie de hipoacuteteshyses mais coerentes e unificadas culminando finalmente na teoria das posiccedilotildees

A leitura dos textos de Klein apresenta ao leitor uma mistura de deslumshybramento perplexidade e confusatildeo conceptual Suas descriccedilotildees cliacutenicas esshytatildeo cheias de finas observaccedilotildees Satildeo desenvolvimentos dramaacuteticos que refleshytem o mundo de fantasias e vivecircncias que constituem a base do funcionashymento psiacutequico Em quase todos os seus artigos propotildee ideacuteias inovadoras mas ao mesmo tempo vai forccedilando a teoria com a intenccedilatildeo de incluir suas descobertas dentro dos postulados freudianos Haacute hipoacuteteses que apareshycem em um momento de sua obra como resposta a determinados probleshymas e depois satildeo deixadas de lado sem que faccedila uma referecircncia expliacutecita a isto por exemplo a ideacuteia da pulsatildeo epistemofiacutelica Conceitos psicanaliacutetishycos anteriores satildeo redefinidos ao inclui-los com novo sentido em outro contexto teoacuterico isto ocorre com as pulsotildees freudianas de vida e morte agraves quais outorga uma significaccedilatildeo diferente Haacute afirmativas que faz de forshyma rotunda e cujos fundamentos natildeo satildeo suficientemente claros para o leishytor Outros conceitos originais como identificaccedilatildeo projetiva casal parental combinado posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide e depressiva devem ser compreendishydos tanto no desenvolvimento durante sua obra como no contexto total de sua teoria Alguns temas claacutessicos como resistecircncia ou teoria do narcisisshymo tambeacutem passam a um segundo plano ou submergem em outra teoria mais abrangente

ias de am2r_ gaccedilatildeo da dor cuidado dos mento psiacutequico e dramaacutetico que daacute

Para que raremos descrever de Melanie Klein e

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e Melanie Klein natildeo fez revisotildees perioacutedicas de sua obra The Psychoshyal Analysis of Children foi uma tentativa de sistematizaccedilatildeo em 1932 Depois1- teorizou de maneira desordenada confusa repetitiva Isto toma mais aacuterishyrshy da e laboriosa sua leitura Mas quem tiver paciecircncia e insistir poderaacute descoshy)s brir em seus trabalhos um meacutetodo rico e apaixonante de abordagem da vishya da mental cheio de criatividade

1- Ao estudar o conjunto da produccedilatildeo k1einiana haacute autores que enfatishym zam como ela proacuteprio o fez a continuidade com as ideacuteias freudianas Asshyeshy sim por exemplo o conceito de introjeccedilatildeo de objeto que Freud desenvolshynshy ve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da ideacuteia sshy de objeto interno k1einiano ou a dualidade pulsional de Aleacutem do princiacutepio oshy do prazer (1920t como o ponto inicial que Klein considerou para teorizar le sobre as pulsotildees agressivas e libidinais ISshy Outros autores pelo contraacuterio acentuam que haacute uma ruptura entre as Freud e Klein Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamenshyia to mental e do desenvolvimento psiacutequico AJQeacuteia_Qo conflito freuqiano coshye mo luta entr~_~_IDlJsatilde(Leacefesa(Jsupstituiacuteda pela de conflito entre deseshy

jos de amQre oacutedio Na mente lutama JlssooaacuteCcedilagraveuuml-eacuteoacutema integraccedilatildeo a-neshyo- gaccedilatildeo da dor psiacutequica por um lado e a toleracircncia a esta dor junto com o 0- cuidado dos objetos por outro A emocionalidade seria a base do funcionashynshy mento psiacutequico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento eshy dramaacutetico que daacute significaccedilatildeo permanente ao suceder mental $ Para que cada leitor possa tomar sua proacutepria decisatildeo a respeito procushynshy raremos descrever com certa ordem cronoloacutegica as sucessivas descobertas Sshy de Melanie Klein e ao mesmo tempo avaliaacute-las no contexto total de sua teoria leshyashyIS

lir 2 Panorama geral de sua obra (1)

eshy Sua produccedilatildeo teoacuterica costuma ser dividida em trecircs etapas leshy a) Periacuteodo de 1919 a 1932 neste periacuteodo produz uma grande quantishyta dade de artigos com seus achados teoacutericos e cliacutenicos Inicia a teacutecnica do joshytishy

go para a anaacutelise infantil e a aplica originalmente em crianccedilas pequenas ro Suas descobertas destacam a importacircncia da agressatildeo no desenvolvimento agraves mental As hipoacuteteses principais versam sobre a neurose de transferecircncia comshylrshypleta na anaacutelise infantil o complexo de Eacutedipo precoce e a formaccedilatildeo de eishyum superego precoce al

b) Periacuteodo de 1932 a 1946 em 1932 escreve The Psycho-Analysis ofiishyChildren onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psiacutequica al infantil Neste periacuteodo formula o essencial de sua teoria a ideacuteia de posiccedilatildeo isshydepressiva como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935 1940) eia de posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (1946) Formalizam-se os aspectos essenciais da metapsicologia k1einiana com a descriccedilatildeo da mente como um espaccedilo povoado por objetos internos que interagem com os externos atraveacutes dos

A Psicanaacutelise depois de Freud 83

processos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O mecanismo da identificaccedilatildeo projetishyva seraacute a partir de 1946 e durante os seguintes trinta anos um dos temas principais da investigaccedilatildeo kleiniana Daacute acesso ao tratamento de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes e agrave exploraccedilatildeo daquilo que mais tarde Bion (1957) chamaraacute de aspectos psicoacuteticos da personalidade O destaque que Klein tishynha posto na agressatildeo no periacuteodo anterior eacute agora modulado em boa parshyte pela ideacuteia de uma luta pulsional entre sentimentos de amor e oacutedio

c Periacuteodo de 1946 a 1960 o ponto teoacuterico principal eacute a inveja primaacuteshyria que Klein formula em 1957 Reforccedila-se assim o aspecto constitucionalisshyta de sua teoria Sua obra poacutestuma Narrative oE a Child AnaJysis (1961) em que reconstroacutei o caso Richard a quem atendeu na eacutepoca da Segunda Guerra Mundial novamente abre o campo polecircmico em tomo dos fundashymentos da teacutecnica kleiniana anaacutelise das fantasias centrada nas anguacutestias predominantes da sessatildeo acesso ao material profundo inconsciente atraveacutes da interpretaccedilatildeo da transferecircncia positiva e negativa manifesta e latente interpretaccedilatildeo sistemaacutetica das relaccedilotildees de objeto que se vatildeo expressando na sessatildeo atraveacutes do jogo e das associaccedilotildees livres dos pequenos pacientes

Periacuteodo 1919-1932 Sobre as primeiras descobertas A teacutecnica do jogo e a anaacutelise de crianccedilas

Nesta etapa Klein estabelece algumas hipoacuteteses que foram a origem de suas teorias posteriores O ponto de partida eacute o que ela denomina de teacutecshynica psicanaliacutetica do jogo infantil Para analisar crianccedilas aceita seus jogos dramatizaccedilotildees expressotildees verbais e sonhos como material igualmente sigshynificativo Atraveacutes deles explora sistematicamente as fantasias conscientes e inconscientes das crianccedilas

A proposta eacute inovadora em relaccedilatildeo aos antecedentes da anaacutelise infanshytil Eles foram o caso do pequeno Hans (1909) analisado indiretamente por Freud (que recolhia os dados por intermeacutedio do pai do menino) e os trabashylhos de Hugh Helmuth que desde 1917 tratava de crianccedilas em psicoterashypia implementando o jogo infantil com um criteacuterio didaacutetico e de reeducashyccedilatildeo Em compensaccedilatildeo Klein acentua desde o iniacutecio tal como resume em seu artigo The Psycho-analytic play technique its history and significanshyce (1955) que seu objetivo eacute explorar o inconsciente infantil interpretar as fantasias sentimentos anguacutestias e experiecircncias expressadas no jogo e se este estiver inibido explorar as causas desta inibiccedilatildeo As fantasias agresshysivas da crianccedila natildeo devem ser reprimidas mas pelo contraacuterio deve-se deishyxar que as sinta e as exprima assim como aparecem A funccedilatildeo do analista eacute compreender a mente do paciente e transmitir-lhe o que ocorre com ela

Nas crianccedilas que Klein comeccedila a tratar analiticamente com esta teacutecnishyca observa que sofrem intensas anguacutestias persecutoacuterias Pensa ser necessaacuteshy

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rio interpretatildeJ Descreve em bram na

na e a psicolot

terpretar em Destaca a guacutestia e a rial ou de e diretivas

Isto eacute

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abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 85

dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

88

os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

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mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

90

nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

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1)

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

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Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

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94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 2: klein cap 5

Esta linha de compreensatildeo define uma de suas hipoacuteteses principais Q p~~quismo se2rigina~ yiacuteI1culo intersubjetiY9J em primeiro hlampordfr areshyleacute1Qo de objeto do bebecirc e sua mordf~ Ela estuda as caracteriacutesticas emocionais deste viacutenculo em que procura descobrir qual eacute a ordfD~sJia predominante e as fantasias constitutivas

Klein eacute indubitavelmente a pioneira de toda a corrente psicanaliacutetica contemporacircnea que enfatiza a existecircncia de relaccedilotildees de objeto precoces coshymo fundadoras do desenvolvimento psiacutequico e da personalidade Uma granshyde parte dos autores que revisaram os sucessivos capiacutetulos deste livro nushytrem-se a este respeito de suas ideacuteias renovadoras

Eacute importante incluir aqui um fato significativo Klein comeccedilou trabashylhando em anaacutelise com crianccedilas iniciou uma praacutetica original ao introduzir a teacutecnica do jogo infantil para ter acesso aos conflitos e fantasias de uma maneira mais direta e faacutecil do que a comunicaccedilatildeo verbal Insistiu em que seus pequenos pacientes deviam ser analisados do mesmo modo que os adulshytos explorando os conflitos inconscientes e abstendo-se de qualquer medishyda reeducativa ou de apoio Isto lhe permitiu observar que as crianccedilas deshysenvolvem uma neurose de transferecircncia anaacuteloga a dos adultos Desta mashyneira pocircde delimitar um campo de observaccedilatildeo feacuteril para uma grande parshyte de suas descobertas posteriores complexo de Edipo precoce superego precoce mecanismos de defesa primitivos organizados em torno de uma anguacutetia principal e uma relaccedilatildeo de objeto

Disto partiu outra importante hipoacutetese a anguacutestia existe desde o comeshyccedilo da vida eacute o motor essencial que potildee em marcha o desenvolvimento psiacuteshyquico e ao mesmo tempo eacute a orw~m de toda a patologia mental Na cliacutenishyca seraacute o eixo de cOrlpree~~odas fanta~iase lto~fli=-()s que se desenrolam durante o tratamento Sobre isso versaraacute o ponto de urgecircncia da interpretaccedilatildeo

Esta noccedilatildeo estaacute ligada agrave grande importacircncia que no pensamento kleishyniano tem o problema da agressividade como causa de anguacutestia as pulsotildees saacutedicas e agressivas se inscrevem em uacuteltima instacircncia na pulsatildeo de morte que atua no indiviacuteduo desde os primeiros momentos do desenvolvimento A frustraccedilatildeo provocada pelos ogtietos seraacute m~l~men~ordm cQordfmYy_antJ maJ1 natildeo causal nem definitoacuterio para tais pulsotildeesEampr~ssiyas_

Klein esecttaacutejnteressada em descrever Qdesemrolvimento pslquieQpreCQshyce principalmente no primeiro anO de vidiP9jsordm_consjdg[ordfoJundam~shyto de todo o desenvolvimento psiacutequico poslerior E embora tome como ponto de partida as propostas baacutesicas de Freud e Abraham suas observashyccedilotildees e hipoacuteteses a levam a inventar uma teoria original do desenvolvimenshyto e da estrutura da mente a ideacuteia do mundo dos objetos internos Eacute um espaccedilo mental povoado de objetos que interagem entre si produzindo signishyficados e motivaccedilotildees descreve as fantasias inconscientes como os elementos baacutesicos desse mundo interno ou realidade psiacutequica A ideacuteia de conflito menshytal se modifica natildeo eacuteuma lutordf-~ltr~~__plllsatildeo~xtlaleag~f~ordf1 ou coIllil estrutura que impede sua descargordfLll~ __~tr~ seItimentos de amQ~~~

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cou a exIsten~ flamados criacuteti~

) ildWque se enfrentam no viacutenculo com os objetos A vida psiacutequica se orgashyniza tanto em sua evoluccedilatildeo como em seu funcionamento em volta de duas posiccedilotildees fundamentais esquizo-paraJlQide e depressiYa A posiccedilatildeo deshys pressiva eacute para Klein o ponto cruciats0~clesenY9Jyimento~~~2~bel~~ bases para o equiliacutebrio psiacutequico e o contrQle das anguacutestias psicoacuteticas

a A inveja primaacuteria outra hipoacutetese fundamental retoma sua ideacuteia de que a agressatildeo se origina desde o comeccedilo da vida tendo uma base constitushycional Este postulado final da obra de Klein (1957) reforccedila suas propostas G sobre a hierarquia dos fatores inatos as pulsotildees tanto agressivas como libishydinais natildeo satildeo descritas a partir de uma especulaccedilatildeo bioloacutegica ou filosoacutefishyca (Freud 1920) mas como expressotildees concretas das fo]Sas mentais em lushyta que satildeo manifestadas na psicopatologia e nas diferentes sit1accedilOtildees obsershyr vatildedas na cliacutenicaa

e O desenvolvimento psicanaliacutetico iniciado por Melanie Klein deu lugar - agrave criaccedilatildeo de um movimento chamado de escola kleiniana teve seu epicenshy- tro em Londres e se estendeu a diversos paiacuteses europeus e americanos No

Meacutexico Joseacute Luis Gonzaacuteles foi sem duacutevida seu pioneiro teve uma atividashy1- de apaixonada na difusatildeo e ensino da obra de Klein Formou muitos disciacutepushy- los e haacute mais de vinte e cinco anos realiza seminaacuterios de estudos sobre estes ) enfoques a O movimento inspirado em Melanie Klein se originou nos anos 40 alshy

canccedilando seu apogeu nas deacutecadas de 50 e 60 Unificou um corpo teoacuterico e ~ teacutecnico que o individualizou claramente de outros esquemas da psicanaacutelise 1- contemporacircnea

Resumiremos agora um perfil biograacutefico de Melanie Klein que ampliashylshyraacute a compreensatildeo de alguns aspectos de sua obra Nasceu em 1880 filhan de uma famiacutelia centro-europeacuteia de origem judaica Quando jovem quis estushy

lshy dar medicina mas natildeo pocircde realizar este propoacutesito devido a seu noivado s com Arthur Klein aos dezessete anos com quem casou aos vinte e um e teshy ve trecircs filhos em um curto espaccedilo de tempo Durante a eacutepoca da Primeira

I

Guerra Mundial daacute-se sua aproximaccedilatildeo com a psicanaacutelise atraveacutes da leitushyra da obra de Freud Deste momento em diante nunca abandonou sua deshy

I

sect voccedilatildeo a Freud (com quem jamais teve um contato direto) e a dedicaccedilatildeo peshy

shy la psicanaacutelise Seu desenvolvimento foi protegido por trecircs grandes figuras lshy muito proacuteximas de Freud Ferenczi com quem comeccedila sua primeira anaacutelishyo se em 1919 que a estimula a se introduzir na anaacutelise infantil Abraham lshy que a convida em 1921 a mudar-se para Berlim apoiando seus novos conshyIshy ceitos teoacutericos Com ele inicia sua segunda experiecircncia analiacutetica nesse ano n que eacute interrompida pela morte prematura do mestre Finalmente Emest Joshyi- nes que em 1926 convence-a a ir morar em Londres onde ela permanece IS ateacute sua morte em 1960 lshy Melanie Klein sempre foi uma figura polecircmica na psicanaacutelise Provoshya cou a existecircncia de apaixonados colaboradores e adeptos e tambeacutem de inshye flamados criacutetiGOS e opositores Teve trecircs grandes enfrentamentos ao longo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 81

de sua carreira cientiacutefica em 1927 com Anna Freud em redor da anaacutelise infantil e o desenvolvimento da transferecircncia em 1943-44 as Controversial Issues (Temas polecircmicos) dentro da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica quanshydo Glover propocircs a expulsatildeo de Klein e seu grupo acusando-a de afastarshyse dos prinaacutepios baacutesicos da psicanaacutelise claacutessica finalmente nos uacuteltimos anos de sua vida a teori4 da inveja primaacuteria que apoacuteia decididamente a base constitucional da agressatildeo humana provocou a discrepacircncia definitishyva com membros de sua escola (Paula Heimann separa-se do grupo) e com outros autores que compartilham com Klein a teoria das relaccedilotildees de objeshyto precoces mas divergem quanto agrave gecircnese da agressatildeo e do sintoma (Winshynicott e Guntrip entre eles) Estas trecircs polecircmicas tiveram consequumlecircncias pesshysoais teoacutericas e para o movimento Quanto ao pessoal a maioria dos autoshyres concordam que seu enfrentamento total com Anna Freud e a Escola de Viena foi responsaacutevel em parte de que Freud nunca aceitasse nem apoiasshyse sua obra apesar dela se proclamar fiel disaacutepula e continuadora de suas ideacuteias As discussotildees de 1943-44 provocaram a dolorosa ruptura definitiva com sua filha Melitta Schmideberg que apoiou Glover em sua postura e ao fracassar mudou-se definitivamente para os Estados Unidos

Quanto agrave teoria os artigos apresentados por Klein e seus colaboradoshyres nas polecircmicas da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica permitiram reelaboshyrar as ideacuteias de fantasia inconsciente desenvolvimento emocional do lactenshyte mecanismos primitivos do psiquismo e outras em uma seacuterie de hipoacuteteshyses mais coerentes e unificadas culminando finalmente na teoria das posiccedilotildees

A leitura dos textos de Klein apresenta ao leitor uma mistura de deslumshybramento perplexidade e confusatildeo conceptual Suas descriccedilotildees cliacutenicas esshytatildeo cheias de finas observaccedilotildees Satildeo desenvolvimentos dramaacuteticos que refleshytem o mundo de fantasias e vivecircncias que constituem a base do funcionashymento psiacutequico Em quase todos os seus artigos propotildee ideacuteias inovadoras mas ao mesmo tempo vai forccedilando a teoria com a intenccedilatildeo de incluir suas descobertas dentro dos postulados freudianos Haacute hipoacuteteses que apareshycem em um momento de sua obra como resposta a determinados probleshymas e depois satildeo deixadas de lado sem que faccedila uma referecircncia expliacutecita a isto por exemplo a ideacuteia da pulsatildeo epistemofiacutelica Conceitos psicanaliacutetishycos anteriores satildeo redefinidos ao inclui-los com novo sentido em outro contexto teoacuterico isto ocorre com as pulsotildees freudianas de vida e morte agraves quais outorga uma significaccedilatildeo diferente Haacute afirmativas que faz de forshyma rotunda e cujos fundamentos natildeo satildeo suficientemente claros para o leishytor Outros conceitos originais como identificaccedilatildeo projetiva casal parental combinado posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide e depressiva devem ser compreendishydos tanto no desenvolvimento durante sua obra como no contexto total de sua teoria Alguns temas claacutessicos como resistecircncia ou teoria do narcisisshymo tambeacutem passam a um segundo plano ou submergem em outra teoria mais abrangente

ias de am2r_ gaccedilatildeo da dor cuidado dos mento psiacutequico e dramaacutetico que daacute

Para que raremos descrever de Melanie Klein e

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e Melanie Klein natildeo fez revisotildees perioacutedicas de sua obra The Psychoshyal Analysis of Children foi uma tentativa de sistematizaccedilatildeo em 1932 Depois1- teorizou de maneira desordenada confusa repetitiva Isto toma mais aacuterishyrshy da e laboriosa sua leitura Mas quem tiver paciecircncia e insistir poderaacute descoshy)s brir em seus trabalhos um meacutetodo rico e apaixonante de abordagem da vishya da mental cheio de criatividade

1- Ao estudar o conjunto da produccedilatildeo k1einiana haacute autores que enfatishym zam como ela proacuteprio o fez a continuidade com as ideacuteias freudianas Asshyeshy sim por exemplo o conceito de introjeccedilatildeo de objeto que Freud desenvolshynshy ve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da ideacuteia sshy de objeto interno k1einiano ou a dualidade pulsional de Aleacutem do princiacutepio oshy do prazer (1920t como o ponto inicial que Klein considerou para teorizar le sobre as pulsotildees agressivas e libidinais ISshy Outros autores pelo contraacuterio acentuam que haacute uma ruptura entre as Freud e Klein Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamenshyia to mental e do desenvolvimento psiacutequico AJQeacuteia_Qo conflito freuqiano coshye mo luta entr~_~_IDlJsatilde(Leacefesa(Jsupstituiacuteda pela de conflito entre deseshy

jos de amQre oacutedio Na mente lutama JlssooaacuteCcedilagraveuuml-eacuteoacutema integraccedilatildeo a-neshyo- gaccedilatildeo da dor psiacutequica por um lado e a toleracircncia a esta dor junto com o 0- cuidado dos objetos por outro A emocionalidade seria a base do funcionashynshy mento psiacutequico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento eshy dramaacutetico que daacute significaccedilatildeo permanente ao suceder mental $ Para que cada leitor possa tomar sua proacutepria decisatildeo a respeito procushynshy raremos descrever com certa ordem cronoloacutegica as sucessivas descobertas Sshy de Melanie Klein e ao mesmo tempo avaliaacute-las no contexto total de sua teoria leshyashyIS

lir 2 Panorama geral de sua obra (1)

eshy Sua produccedilatildeo teoacuterica costuma ser dividida em trecircs etapas leshy a) Periacuteodo de 1919 a 1932 neste periacuteodo produz uma grande quantishyta dade de artigos com seus achados teoacutericos e cliacutenicos Inicia a teacutecnica do joshytishy

go para a anaacutelise infantil e a aplica originalmente em crianccedilas pequenas ro Suas descobertas destacam a importacircncia da agressatildeo no desenvolvimento agraves mental As hipoacuteteses principais versam sobre a neurose de transferecircncia comshylrshypleta na anaacutelise infantil o complexo de Eacutedipo precoce e a formaccedilatildeo de eishyum superego precoce al

b) Periacuteodo de 1932 a 1946 em 1932 escreve The Psycho-Analysis ofiishyChildren onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psiacutequica al infantil Neste periacuteodo formula o essencial de sua teoria a ideacuteia de posiccedilatildeo isshydepressiva como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935 1940) eia de posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (1946) Formalizam-se os aspectos essenciais da metapsicologia k1einiana com a descriccedilatildeo da mente como um espaccedilo povoado por objetos internos que interagem com os externos atraveacutes dos

A Psicanaacutelise depois de Freud 83

processos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O mecanismo da identificaccedilatildeo projetishyva seraacute a partir de 1946 e durante os seguintes trinta anos um dos temas principais da investigaccedilatildeo kleiniana Daacute acesso ao tratamento de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes e agrave exploraccedilatildeo daquilo que mais tarde Bion (1957) chamaraacute de aspectos psicoacuteticos da personalidade O destaque que Klein tishynha posto na agressatildeo no periacuteodo anterior eacute agora modulado em boa parshyte pela ideacuteia de uma luta pulsional entre sentimentos de amor e oacutedio

c Periacuteodo de 1946 a 1960 o ponto teoacuterico principal eacute a inveja primaacuteshyria que Klein formula em 1957 Reforccedila-se assim o aspecto constitucionalisshyta de sua teoria Sua obra poacutestuma Narrative oE a Child AnaJysis (1961) em que reconstroacutei o caso Richard a quem atendeu na eacutepoca da Segunda Guerra Mundial novamente abre o campo polecircmico em tomo dos fundashymentos da teacutecnica kleiniana anaacutelise das fantasias centrada nas anguacutestias predominantes da sessatildeo acesso ao material profundo inconsciente atraveacutes da interpretaccedilatildeo da transferecircncia positiva e negativa manifesta e latente interpretaccedilatildeo sistemaacutetica das relaccedilotildees de objeto que se vatildeo expressando na sessatildeo atraveacutes do jogo e das associaccedilotildees livres dos pequenos pacientes

Periacuteodo 1919-1932 Sobre as primeiras descobertas A teacutecnica do jogo e a anaacutelise de crianccedilas

Nesta etapa Klein estabelece algumas hipoacuteteses que foram a origem de suas teorias posteriores O ponto de partida eacute o que ela denomina de teacutecshynica psicanaliacutetica do jogo infantil Para analisar crianccedilas aceita seus jogos dramatizaccedilotildees expressotildees verbais e sonhos como material igualmente sigshynificativo Atraveacutes deles explora sistematicamente as fantasias conscientes e inconscientes das crianccedilas

A proposta eacute inovadora em relaccedilatildeo aos antecedentes da anaacutelise infanshytil Eles foram o caso do pequeno Hans (1909) analisado indiretamente por Freud (que recolhia os dados por intermeacutedio do pai do menino) e os trabashylhos de Hugh Helmuth que desde 1917 tratava de crianccedilas em psicoterashypia implementando o jogo infantil com um criteacuterio didaacutetico e de reeducashyccedilatildeo Em compensaccedilatildeo Klein acentua desde o iniacutecio tal como resume em seu artigo The Psycho-analytic play technique its history and significanshyce (1955) que seu objetivo eacute explorar o inconsciente infantil interpretar as fantasias sentimentos anguacutestias e experiecircncias expressadas no jogo e se este estiver inibido explorar as causas desta inibiccedilatildeo As fantasias agresshysivas da crianccedila natildeo devem ser reprimidas mas pelo contraacuterio deve-se deishyxar que as sinta e as exprima assim como aparecem A funccedilatildeo do analista eacute compreender a mente do paciente e transmitir-lhe o que ocorre com ela

Nas crianccedilas que Klein comeccedila a tratar analiticamente com esta teacutecnishyca observa que sofrem intensas anguacutestias persecutoacuterias Pensa ser necessaacuteshy

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rio interpretatildeJ Descreve em bram na

na e a psicolot

terpretar em Destaca a guacutestia e a rial ou de e diretivas

Isto eacute

)jetishy~mas

mtes 957) in tishyparshy

imaacuteshylalisshy~61) roda ndashystias aveacutes ~nte

o na

igem teacutecshytgos sigshy~ntes

lfanshypor

abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 85

dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

88

os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

-t

mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

90

nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

da de seu geJ pertencem agrave l principalmeI1l objeto duranl interessada contribuiraacute

Esta eacute vertidas da arly Eacutedipo

1)

rigina nesta conshycomshyia ecircIacuteishy~nlace tages equeshylificashy

enesis einiashyfinitishymeccedilo 1m de ro de a orishyteoria luranshy)ressishyJ pershylo seshyssiva Tershya elashynum

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~rego

e das lstenshyo ego lina o ontrishy01 Eu etado

nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

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nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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1S mashyintershy

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

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tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 3: klein cap 5

) ildWque se enfrentam no viacutenculo com os objetos A vida psiacutequica se orgashyniza tanto em sua evoluccedilatildeo como em seu funcionamento em volta de duas posiccedilotildees fundamentais esquizo-paraJlQide e depressiYa A posiccedilatildeo deshys pressiva eacute para Klein o ponto cruciats0~clesenY9Jyimento~~~2~bel~~ bases para o equiliacutebrio psiacutequico e o contrQle das anguacutestias psicoacuteticas

a A inveja primaacuteria outra hipoacutetese fundamental retoma sua ideacuteia de que a agressatildeo se origina desde o comeccedilo da vida tendo uma base constitushycional Este postulado final da obra de Klein (1957) reforccedila suas propostas G sobre a hierarquia dos fatores inatos as pulsotildees tanto agressivas como libishydinais natildeo satildeo descritas a partir de uma especulaccedilatildeo bioloacutegica ou filosoacutefishyca (Freud 1920) mas como expressotildees concretas das fo]Sas mentais em lushyta que satildeo manifestadas na psicopatologia e nas diferentes sit1accedilOtildees obsershyr vatildedas na cliacutenicaa

e O desenvolvimento psicanaliacutetico iniciado por Melanie Klein deu lugar - agrave criaccedilatildeo de um movimento chamado de escola kleiniana teve seu epicenshy- tro em Londres e se estendeu a diversos paiacuteses europeus e americanos No

Meacutexico Joseacute Luis Gonzaacuteles foi sem duacutevida seu pioneiro teve uma atividashy1- de apaixonada na difusatildeo e ensino da obra de Klein Formou muitos disciacutepushy- los e haacute mais de vinte e cinco anos realiza seminaacuterios de estudos sobre estes ) enfoques a O movimento inspirado em Melanie Klein se originou nos anos 40 alshy

canccedilando seu apogeu nas deacutecadas de 50 e 60 Unificou um corpo teoacuterico e ~ teacutecnico que o individualizou claramente de outros esquemas da psicanaacutelise 1- contemporacircnea

Resumiremos agora um perfil biograacutefico de Melanie Klein que ampliashylshyraacute a compreensatildeo de alguns aspectos de sua obra Nasceu em 1880 filhan de uma famiacutelia centro-europeacuteia de origem judaica Quando jovem quis estushy

lshy dar medicina mas natildeo pocircde realizar este propoacutesito devido a seu noivado s com Arthur Klein aos dezessete anos com quem casou aos vinte e um e teshy ve trecircs filhos em um curto espaccedilo de tempo Durante a eacutepoca da Primeira

I

Guerra Mundial daacute-se sua aproximaccedilatildeo com a psicanaacutelise atraveacutes da leitushyra da obra de Freud Deste momento em diante nunca abandonou sua deshy

I

sect voccedilatildeo a Freud (com quem jamais teve um contato direto) e a dedicaccedilatildeo peshy

shy la psicanaacutelise Seu desenvolvimento foi protegido por trecircs grandes figuras lshy muito proacuteximas de Freud Ferenczi com quem comeccedila sua primeira anaacutelishyo se em 1919 que a estimula a se introduzir na anaacutelise infantil Abraham lshy que a convida em 1921 a mudar-se para Berlim apoiando seus novos conshyIshy ceitos teoacutericos Com ele inicia sua segunda experiecircncia analiacutetica nesse ano n que eacute interrompida pela morte prematura do mestre Finalmente Emest Joshyi- nes que em 1926 convence-a a ir morar em Londres onde ela permanece IS ateacute sua morte em 1960 lshy Melanie Klein sempre foi uma figura polecircmica na psicanaacutelise Provoshya cou a existecircncia de apaixonados colaboradores e adeptos e tambeacutem de inshye flamados criacutetiGOS e opositores Teve trecircs grandes enfrentamentos ao longo

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de sua carreira cientiacutefica em 1927 com Anna Freud em redor da anaacutelise infantil e o desenvolvimento da transferecircncia em 1943-44 as Controversial Issues (Temas polecircmicos) dentro da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica quanshydo Glover propocircs a expulsatildeo de Klein e seu grupo acusando-a de afastarshyse dos prinaacutepios baacutesicos da psicanaacutelise claacutessica finalmente nos uacuteltimos anos de sua vida a teori4 da inveja primaacuteria que apoacuteia decididamente a base constitucional da agressatildeo humana provocou a discrepacircncia definitishyva com membros de sua escola (Paula Heimann separa-se do grupo) e com outros autores que compartilham com Klein a teoria das relaccedilotildees de objeshyto precoces mas divergem quanto agrave gecircnese da agressatildeo e do sintoma (Winshynicott e Guntrip entre eles) Estas trecircs polecircmicas tiveram consequumlecircncias pesshysoais teoacutericas e para o movimento Quanto ao pessoal a maioria dos autoshyres concordam que seu enfrentamento total com Anna Freud e a Escola de Viena foi responsaacutevel em parte de que Freud nunca aceitasse nem apoiasshyse sua obra apesar dela se proclamar fiel disaacutepula e continuadora de suas ideacuteias As discussotildees de 1943-44 provocaram a dolorosa ruptura definitiva com sua filha Melitta Schmideberg que apoiou Glover em sua postura e ao fracassar mudou-se definitivamente para os Estados Unidos

Quanto agrave teoria os artigos apresentados por Klein e seus colaboradoshyres nas polecircmicas da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica permitiram reelaboshyrar as ideacuteias de fantasia inconsciente desenvolvimento emocional do lactenshyte mecanismos primitivos do psiquismo e outras em uma seacuterie de hipoacuteteshyses mais coerentes e unificadas culminando finalmente na teoria das posiccedilotildees

A leitura dos textos de Klein apresenta ao leitor uma mistura de deslumshybramento perplexidade e confusatildeo conceptual Suas descriccedilotildees cliacutenicas esshytatildeo cheias de finas observaccedilotildees Satildeo desenvolvimentos dramaacuteticos que refleshytem o mundo de fantasias e vivecircncias que constituem a base do funcionashymento psiacutequico Em quase todos os seus artigos propotildee ideacuteias inovadoras mas ao mesmo tempo vai forccedilando a teoria com a intenccedilatildeo de incluir suas descobertas dentro dos postulados freudianos Haacute hipoacuteteses que apareshycem em um momento de sua obra como resposta a determinados probleshymas e depois satildeo deixadas de lado sem que faccedila uma referecircncia expliacutecita a isto por exemplo a ideacuteia da pulsatildeo epistemofiacutelica Conceitos psicanaliacutetishycos anteriores satildeo redefinidos ao inclui-los com novo sentido em outro contexto teoacuterico isto ocorre com as pulsotildees freudianas de vida e morte agraves quais outorga uma significaccedilatildeo diferente Haacute afirmativas que faz de forshyma rotunda e cujos fundamentos natildeo satildeo suficientemente claros para o leishytor Outros conceitos originais como identificaccedilatildeo projetiva casal parental combinado posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide e depressiva devem ser compreendishydos tanto no desenvolvimento durante sua obra como no contexto total de sua teoria Alguns temas claacutessicos como resistecircncia ou teoria do narcisisshymo tambeacutem passam a um segundo plano ou submergem em outra teoria mais abrangente

ias de am2r_ gaccedilatildeo da dor cuidado dos mento psiacutequico e dramaacutetico que daacute

Para que raremos descrever de Melanie Klein e

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e Melanie Klein natildeo fez revisotildees perioacutedicas de sua obra The Psychoshyal Analysis of Children foi uma tentativa de sistematizaccedilatildeo em 1932 Depois1- teorizou de maneira desordenada confusa repetitiva Isto toma mais aacuterishyrshy da e laboriosa sua leitura Mas quem tiver paciecircncia e insistir poderaacute descoshy)s brir em seus trabalhos um meacutetodo rico e apaixonante de abordagem da vishya da mental cheio de criatividade

1- Ao estudar o conjunto da produccedilatildeo k1einiana haacute autores que enfatishym zam como ela proacuteprio o fez a continuidade com as ideacuteias freudianas Asshyeshy sim por exemplo o conceito de introjeccedilatildeo de objeto que Freud desenvolshynshy ve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da ideacuteia sshy de objeto interno k1einiano ou a dualidade pulsional de Aleacutem do princiacutepio oshy do prazer (1920t como o ponto inicial que Klein considerou para teorizar le sobre as pulsotildees agressivas e libidinais ISshy Outros autores pelo contraacuterio acentuam que haacute uma ruptura entre as Freud e Klein Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamenshyia to mental e do desenvolvimento psiacutequico AJQeacuteia_Qo conflito freuqiano coshye mo luta entr~_~_IDlJsatilde(Leacefesa(Jsupstituiacuteda pela de conflito entre deseshy

jos de amQre oacutedio Na mente lutama JlssooaacuteCcedilagraveuuml-eacuteoacutema integraccedilatildeo a-neshyo- gaccedilatildeo da dor psiacutequica por um lado e a toleracircncia a esta dor junto com o 0- cuidado dos objetos por outro A emocionalidade seria a base do funcionashynshy mento psiacutequico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento eshy dramaacutetico que daacute significaccedilatildeo permanente ao suceder mental $ Para que cada leitor possa tomar sua proacutepria decisatildeo a respeito procushynshy raremos descrever com certa ordem cronoloacutegica as sucessivas descobertas Sshy de Melanie Klein e ao mesmo tempo avaliaacute-las no contexto total de sua teoria leshyashyIS

lir 2 Panorama geral de sua obra (1)

eshy Sua produccedilatildeo teoacuterica costuma ser dividida em trecircs etapas leshy a) Periacuteodo de 1919 a 1932 neste periacuteodo produz uma grande quantishyta dade de artigos com seus achados teoacutericos e cliacutenicos Inicia a teacutecnica do joshytishy

go para a anaacutelise infantil e a aplica originalmente em crianccedilas pequenas ro Suas descobertas destacam a importacircncia da agressatildeo no desenvolvimento agraves mental As hipoacuteteses principais versam sobre a neurose de transferecircncia comshylrshypleta na anaacutelise infantil o complexo de Eacutedipo precoce e a formaccedilatildeo de eishyum superego precoce al

b) Periacuteodo de 1932 a 1946 em 1932 escreve The Psycho-Analysis ofiishyChildren onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psiacutequica al infantil Neste periacuteodo formula o essencial de sua teoria a ideacuteia de posiccedilatildeo isshydepressiva como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935 1940) eia de posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (1946) Formalizam-se os aspectos essenciais da metapsicologia k1einiana com a descriccedilatildeo da mente como um espaccedilo povoado por objetos internos que interagem com os externos atraveacutes dos

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processos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O mecanismo da identificaccedilatildeo projetishyva seraacute a partir de 1946 e durante os seguintes trinta anos um dos temas principais da investigaccedilatildeo kleiniana Daacute acesso ao tratamento de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes e agrave exploraccedilatildeo daquilo que mais tarde Bion (1957) chamaraacute de aspectos psicoacuteticos da personalidade O destaque que Klein tishynha posto na agressatildeo no periacuteodo anterior eacute agora modulado em boa parshyte pela ideacuteia de uma luta pulsional entre sentimentos de amor e oacutedio

c Periacuteodo de 1946 a 1960 o ponto teoacuterico principal eacute a inveja primaacuteshyria que Klein formula em 1957 Reforccedila-se assim o aspecto constitucionalisshyta de sua teoria Sua obra poacutestuma Narrative oE a Child AnaJysis (1961) em que reconstroacutei o caso Richard a quem atendeu na eacutepoca da Segunda Guerra Mundial novamente abre o campo polecircmico em tomo dos fundashymentos da teacutecnica kleiniana anaacutelise das fantasias centrada nas anguacutestias predominantes da sessatildeo acesso ao material profundo inconsciente atraveacutes da interpretaccedilatildeo da transferecircncia positiva e negativa manifesta e latente interpretaccedilatildeo sistemaacutetica das relaccedilotildees de objeto que se vatildeo expressando na sessatildeo atraveacutes do jogo e das associaccedilotildees livres dos pequenos pacientes

Periacuteodo 1919-1932 Sobre as primeiras descobertas A teacutecnica do jogo e a anaacutelise de crianccedilas

Nesta etapa Klein estabelece algumas hipoacuteteses que foram a origem de suas teorias posteriores O ponto de partida eacute o que ela denomina de teacutecshynica psicanaliacutetica do jogo infantil Para analisar crianccedilas aceita seus jogos dramatizaccedilotildees expressotildees verbais e sonhos como material igualmente sigshynificativo Atraveacutes deles explora sistematicamente as fantasias conscientes e inconscientes das crianccedilas

A proposta eacute inovadora em relaccedilatildeo aos antecedentes da anaacutelise infanshytil Eles foram o caso do pequeno Hans (1909) analisado indiretamente por Freud (que recolhia os dados por intermeacutedio do pai do menino) e os trabashylhos de Hugh Helmuth que desde 1917 tratava de crianccedilas em psicoterashypia implementando o jogo infantil com um criteacuterio didaacutetico e de reeducashyccedilatildeo Em compensaccedilatildeo Klein acentua desde o iniacutecio tal como resume em seu artigo The Psycho-analytic play technique its history and significanshyce (1955) que seu objetivo eacute explorar o inconsciente infantil interpretar as fantasias sentimentos anguacutestias e experiecircncias expressadas no jogo e se este estiver inibido explorar as causas desta inibiccedilatildeo As fantasias agresshysivas da crianccedila natildeo devem ser reprimidas mas pelo contraacuterio deve-se deishyxar que as sinta e as exprima assim como aparecem A funccedilatildeo do analista eacute compreender a mente do paciente e transmitir-lhe o que ocorre com ela

Nas crianccedilas que Klein comeccedila a tratar analiticamente com esta teacutecnishyca observa que sofrem intensas anguacutestias persecutoacuterias Pensa ser necessaacuteshy

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rio interpretatildeJ Descreve em bram na

na e a psicolot

terpretar em Destaca a guacutestia e a rial ou de e diretivas

Isto eacute

)jetishy~mas

mtes 957) in tishyparshy

imaacuteshylalisshy~61) roda ndashystias aveacutes ~nte

o na

igem teacutecshytgos sigshy~ntes

lfanshypor

abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

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dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

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os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

-t

mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

da de seu geJ pertencem agrave l principalmeI1l objeto duranl interessada contribuiraacute

Esta eacute vertidas da arly Eacutedipo

1)

rigina nesta conshycomshyia ecircIacuteishy~nlace tages equeshylificashy

enesis einiashyfinitishymeccedilo 1m de ro de a orishyteoria luranshy)ressishyJ pershylo seshyssiva Tershya elashynum

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e das lstenshyo ego lina o ontrishy01 Eu etado

nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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1S mashyintershy

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

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tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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de sua carreira cientiacutefica em 1927 com Anna Freud em redor da anaacutelise infantil e o desenvolvimento da transferecircncia em 1943-44 as Controversial Issues (Temas polecircmicos) dentro da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica quanshydo Glover propocircs a expulsatildeo de Klein e seu grupo acusando-a de afastarshyse dos prinaacutepios baacutesicos da psicanaacutelise claacutessica finalmente nos uacuteltimos anos de sua vida a teori4 da inveja primaacuteria que apoacuteia decididamente a base constitucional da agressatildeo humana provocou a discrepacircncia definitishyva com membros de sua escola (Paula Heimann separa-se do grupo) e com outros autores que compartilham com Klein a teoria das relaccedilotildees de objeshyto precoces mas divergem quanto agrave gecircnese da agressatildeo e do sintoma (Winshynicott e Guntrip entre eles) Estas trecircs polecircmicas tiveram consequumlecircncias pesshysoais teoacutericas e para o movimento Quanto ao pessoal a maioria dos autoshyres concordam que seu enfrentamento total com Anna Freud e a Escola de Viena foi responsaacutevel em parte de que Freud nunca aceitasse nem apoiasshyse sua obra apesar dela se proclamar fiel disaacutepula e continuadora de suas ideacuteias As discussotildees de 1943-44 provocaram a dolorosa ruptura definitiva com sua filha Melitta Schmideberg que apoiou Glover em sua postura e ao fracassar mudou-se definitivamente para os Estados Unidos

Quanto agrave teoria os artigos apresentados por Klein e seus colaboradoshyres nas polecircmicas da Sociedade Psicanaliacutetica Britacircnica permitiram reelaboshyrar as ideacuteias de fantasia inconsciente desenvolvimento emocional do lactenshyte mecanismos primitivos do psiquismo e outras em uma seacuterie de hipoacuteteshyses mais coerentes e unificadas culminando finalmente na teoria das posiccedilotildees

A leitura dos textos de Klein apresenta ao leitor uma mistura de deslumshybramento perplexidade e confusatildeo conceptual Suas descriccedilotildees cliacutenicas esshytatildeo cheias de finas observaccedilotildees Satildeo desenvolvimentos dramaacuteticos que refleshytem o mundo de fantasias e vivecircncias que constituem a base do funcionashymento psiacutequico Em quase todos os seus artigos propotildee ideacuteias inovadoras mas ao mesmo tempo vai forccedilando a teoria com a intenccedilatildeo de incluir suas descobertas dentro dos postulados freudianos Haacute hipoacuteteses que apareshycem em um momento de sua obra como resposta a determinados probleshymas e depois satildeo deixadas de lado sem que faccedila uma referecircncia expliacutecita a isto por exemplo a ideacuteia da pulsatildeo epistemofiacutelica Conceitos psicanaliacutetishycos anteriores satildeo redefinidos ao inclui-los com novo sentido em outro contexto teoacuterico isto ocorre com as pulsotildees freudianas de vida e morte agraves quais outorga uma significaccedilatildeo diferente Haacute afirmativas que faz de forshyma rotunda e cujos fundamentos natildeo satildeo suficientemente claros para o leishytor Outros conceitos originais como identificaccedilatildeo projetiva casal parental combinado posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide e depressiva devem ser compreendishydos tanto no desenvolvimento durante sua obra como no contexto total de sua teoria Alguns temas claacutessicos como resistecircncia ou teoria do narcisisshymo tambeacutem passam a um segundo plano ou submergem em outra teoria mais abrangente

ias de am2r_ gaccedilatildeo da dor cuidado dos mento psiacutequico e dramaacutetico que daacute

Para que raremos descrever de Melanie Klein e

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e Melanie Klein natildeo fez revisotildees perioacutedicas de sua obra The Psychoshyal Analysis of Children foi uma tentativa de sistematizaccedilatildeo em 1932 Depois1- teorizou de maneira desordenada confusa repetitiva Isto toma mais aacuterishyrshy da e laboriosa sua leitura Mas quem tiver paciecircncia e insistir poderaacute descoshy)s brir em seus trabalhos um meacutetodo rico e apaixonante de abordagem da vishya da mental cheio de criatividade

1- Ao estudar o conjunto da produccedilatildeo k1einiana haacute autores que enfatishym zam como ela proacuteprio o fez a continuidade com as ideacuteias freudianas Asshyeshy sim por exemplo o conceito de introjeccedilatildeo de objeto que Freud desenvolshynshy ve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da ideacuteia sshy de objeto interno k1einiano ou a dualidade pulsional de Aleacutem do princiacutepio oshy do prazer (1920t como o ponto inicial que Klein considerou para teorizar le sobre as pulsotildees agressivas e libidinais ISshy Outros autores pelo contraacuterio acentuam que haacute uma ruptura entre as Freud e Klein Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamenshyia to mental e do desenvolvimento psiacutequico AJQeacuteia_Qo conflito freuqiano coshye mo luta entr~_~_IDlJsatilde(Leacefesa(Jsupstituiacuteda pela de conflito entre deseshy

jos de amQre oacutedio Na mente lutama JlssooaacuteCcedilagraveuuml-eacuteoacutema integraccedilatildeo a-neshyo- gaccedilatildeo da dor psiacutequica por um lado e a toleracircncia a esta dor junto com o 0- cuidado dos objetos por outro A emocionalidade seria a base do funcionashynshy mento psiacutequico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento eshy dramaacutetico que daacute significaccedilatildeo permanente ao suceder mental $ Para que cada leitor possa tomar sua proacutepria decisatildeo a respeito procushynshy raremos descrever com certa ordem cronoloacutegica as sucessivas descobertas Sshy de Melanie Klein e ao mesmo tempo avaliaacute-las no contexto total de sua teoria leshyashyIS

lir 2 Panorama geral de sua obra (1)

eshy Sua produccedilatildeo teoacuterica costuma ser dividida em trecircs etapas leshy a) Periacuteodo de 1919 a 1932 neste periacuteodo produz uma grande quantishyta dade de artigos com seus achados teoacutericos e cliacutenicos Inicia a teacutecnica do joshytishy

go para a anaacutelise infantil e a aplica originalmente em crianccedilas pequenas ro Suas descobertas destacam a importacircncia da agressatildeo no desenvolvimento agraves mental As hipoacuteteses principais versam sobre a neurose de transferecircncia comshylrshypleta na anaacutelise infantil o complexo de Eacutedipo precoce e a formaccedilatildeo de eishyum superego precoce al

b) Periacuteodo de 1932 a 1946 em 1932 escreve The Psycho-Analysis ofiishyChildren onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psiacutequica al infantil Neste periacuteodo formula o essencial de sua teoria a ideacuteia de posiccedilatildeo isshydepressiva como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935 1940) eia de posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (1946) Formalizam-se os aspectos essenciais da metapsicologia k1einiana com a descriccedilatildeo da mente como um espaccedilo povoado por objetos internos que interagem com os externos atraveacutes dos

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processos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O mecanismo da identificaccedilatildeo projetishyva seraacute a partir de 1946 e durante os seguintes trinta anos um dos temas principais da investigaccedilatildeo kleiniana Daacute acesso ao tratamento de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes e agrave exploraccedilatildeo daquilo que mais tarde Bion (1957) chamaraacute de aspectos psicoacuteticos da personalidade O destaque que Klein tishynha posto na agressatildeo no periacuteodo anterior eacute agora modulado em boa parshyte pela ideacuteia de uma luta pulsional entre sentimentos de amor e oacutedio

c Periacuteodo de 1946 a 1960 o ponto teoacuterico principal eacute a inveja primaacuteshyria que Klein formula em 1957 Reforccedila-se assim o aspecto constitucionalisshyta de sua teoria Sua obra poacutestuma Narrative oE a Child AnaJysis (1961) em que reconstroacutei o caso Richard a quem atendeu na eacutepoca da Segunda Guerra Mundial novamente abre o campo polecircmico em tomo dos fundashymentos da teacutecnica kleiniana anaacutelise das fantasias centrada nas anguacutestias predominantes da sessatildeo acesso ao material profundo inconsciente atraveacutes da interpretaccedilatildeo da transferecircncia positiva e negativa manifesta e latente interpretaccedilatildeo sistemaacutetica das relaccedilotildees de objeto que se vatildeo expressando na sessatildeo atraveacutes do jogo e das associaccedilotildees livres dos pequenos pacientes

Periacuteodo 1919-1932 Sobre as primeiras descobertas A teacutecnica do jogo e a anaacutelise de crianccedilas

Nesta etapa Klein estabelece algumas hipoacuteteses que foram a origem de suas teorias posteriores O ponto de partida eacute o que ela denomina de teacutecshynica psicanaliacutetica do jogo infantil Para analisar crianccedilas aceita seus jogos dramatizaccedilotildees expressotildees verbais e sonhos como material igualmente sigshynificativo Atraveacutes deles explora sistematicamente as fantasias conscientes e inconscientes das crianccedilas

A proposta eacute inovadora em relaccedilatildeo aos antecedentes da anaacutelise infanshytil Eles foram o caso do pequeno Hans (1909) analisado indiretamente por Freud (que recolhia os dados por intermeacutedio do pai do menino) e os trabashylhos de Hugh Helmuth que desde 1917 tratava de crianccedilas em psicoterashypia implementando o jogo infantil com um criteacuterio didaacutetico e de reeducashyccedilatildeo Em compensaccedilatildeo Klein acentua desde o iniacutecio tal como resume em seu artigo The Psycho-analytic play technique its history and significanshyce (1955) que seu objetivo eacute explorar o inconsciente infantil interpretar as fantasias sentimentos anguacutestias e experiecircncias expressadas no jogo e se este estiver inibido explorar as causas desta inibiccedilatildeo As fantasias agresshysivas da crianccedila natildeo devem ser reprimidas mas pelo contraacuterio deve-se deishyxar que as sinta e as exprima assim como aparecem A funccedilatildeo do analista eacute compreender a mente do paciente e transmitir-lhe o que ocorre com ela

Nas crianccedilas que Klein comeccedila a tratar analiticamente com esta teacutecnishyca observa que sofrem intensas anguacutestias persecutoacuterias Pensa ser necessaacuteshy

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rio interpretatildeJ Descreve em bram na

na e a psicolot

terpretar em Destaca a guacutestia e a rial ou de e diretivas

Isto eacute

)jetishy~mas

mtes 957) in tishyparshy

imaacuteshylalisshy~61) roda ndashystias aveacutes ~nte

o na

igem teacutecshytgos sigshy~ntes

lfanshypor

abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

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dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

88

os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

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mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

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94

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 5: klein cap 5

e Melanie Klein natildeo fez revisotildees perioacutedicas de sua obra The Psychoshyal Analysis of Children foi uma tentativa de sistematizaccedilatildeo em 1932 Depois1- teorizou de maneira desordenada confusa repetitiva Isto toma mais aacuterishyrshy da e laboriosa sua leitura Mas quem tiver paciecircncia e insistir poderaacute descoshy)s brir em seus trabalhos um meacutetodo rico e apaixonante de abordagem da vishya da mental cheio de criatividade

1- Ao estudar o conjunto da produccedilatildeo k1einiana haacute autores que enfatishym zam como ela proacuteprio o fez a continuidade com as ideacuteias freudianas Asshyeshy sim por exemplo o conceito de introjeccedilatildeo de objeto que Freud desenvolshynshy ve em Luto e melancolia (1917) pode ser entendido como origem da ideacuteia sshy de objeto interno k1einiano ou a dualidade pulsional de Aleacutem do princiacutepio oshy do prazer (1920t como o ponto inicial que Klein considerou para teorizar le sobre as pulsotildees agressivas e libidinais ISshy Outros autores pelo contraacuterio acentuam que haacute uma ruptura entre as Freud e Klein Afirmam que se trata de uma nova teoria do funcionamenshyia to mental e do desenvolvimento psiacutequico AJQeacuteia_Qo conflito freuqiano coshye mo luta entr~_~_IDlJsatilde(Leacefesa(Jsupstituiacuteda pela de conflito entre deseshy

jos de amQre oacutedio Na mente lutama JlssooaacuteCcedilagraveuuml-eacuteoacutema integraccedilatildeo a-neshyo- gaccedilatildeo da dor psiacutequica por um lado e a toleracircncia a esta dor junto com o 0- cuidado dos objetos por outro A emocionalidade seria a base do funcionashynshy mento psiacutequico e as fantasias inconscientes formam um desenvolvimento eshy dramaacutetico que daacute significaccedilatildeo permanente ao suceder mental $ Para que cada leitor possa tomar sua proacutepria decisatildeo a respeito procushynshy raremos descrever com certa ordem cronoloacutegica as sucessivas descobertas Sshy de Melanie Klein e ao mesmo tempo avaliaacute-las no contexto total de sua teoria leshyashyIS

lir 2 Panorama geral de sua obra (1)

eshy Sua produccedilatildeo teoacuterica costuma ser dividida em trecircs etapas leshy a) Periacuteodo de 1919 a 1932 neste periacuteodo produz uma grande quantishyta dade de artigos com seus achados teoacutericos e cliacutenicos Inicia a teacutecnica do joshytishy

go para a anaacutelise infantil e a aplica originalmente em crianccedilas pequenas ro Suas descobertas destacam a importacircncia da agressatildeo no desenvolvimento agraves mental As hipoacuteteses principais versam sobre a neurose de transferecircncia comshylrshypleta na anaacutelise infantil o complexo de Eacutedipo precoce e a formaccedilatildeo de eishyum superego precoce al

b) Periacuteodo de 1932 a 1946 em 1932 escreve The Psycho-Analysis ofiishyChildren onde procura sistematizar suas descobertas sobre a vida psiacutequica al infantil Neste periacuteodo formula o essencial de sua teoria a ideacuteia de posiccedilatildeo isshydepressiva como ponto crucial do desenvolvimento mental (1935 1940) eia de posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (1946) Formalizam-se os aspectos essenciais da metapsicologia k1einiana com a descriccedilatildeo da mente como um espaccedilo povoado por objetos internos que interagem com os externos atraveacutes dos

A Psicanaacutelise depois de Freud 83

processos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O mecanismo da identificaccedilatildeo projetishyva seraacute a partir de 1946 e durante os seguintes trinta anos um dos temas principais da investigaccedilatildeo kleiniana Daacute acesso ao tratamento de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes e agrave exploraccedilatildeo daquilo que mais tarde Bion (1957) chamaraacute de aspectos psicoacuteticos da personalidade O destaque que Klein tishynha posto na agressatildeo no periacuteodo anterior eacute agora modulado em boa parshyte pela ideacuteia de uma luta pulsional entre sentimentos de amor e oacutedio

c Periacuteodo de 1946 a 1960 o ponto teoacuterico principal eacute a inveja primaacuteshyria que Klein formula em 1957 Reforccedila-se assim o aspecto constitucionalisshyta de sua teoria Sua obra poacutestuma Narrative oE a Child AnaJysis (1961) em que reconstroacutei o caso Richard a quem atendeu na eacutepoca da Segunda Guerra Mundial novamente abre o campo polecircmico em tomo dos fundashymentos da teacutecnica kleiniana anaacutelise das fantasias centrada nas anguacutestias predominantes da sessatildeo acesso ao material profundo inconsciente atraveacutes da interpretaccedilatildeo da transferecircncia positiva e negativa manifesta e latente interpretaccedilatildeo sistemaacutetica das relaccedilotildees de objeto que se vatildeo expressando na sessatildeo atraveacutes do jogo e das associaccedilotildees livres dos pequenos pacientes

Periacuteodo 1919-1932 Sobre as primeiras descobertas A teacutecnica do jogo e a anaacutelise de crianccedilas

Nesta etapa Klein estabelece algumas hipoacuteteses que foram a origem de suas teorias posteriores O ponto de partida eacute o que ela denomina de teacutecshynica psicanaliacutetica do jogo infantil Para analisar crianccedilas aceita seus jogos dramatizaccedilotildees expressotildees verbais e sonhos como material igualmente sigshynificativo Atraveacutes deles explora sistematicamente as fantasias conscientes e inconscientes das crianccedilas

A proposta eacute inovadora em relaccedilatildeo aos antecedentes da anaacutelise infanshytil Eles foram o caso do pequeno Hans (1909) analisado indiretamente por Freud (que recolhia os dados por intermeacutedio do pai do menino) e os trabashylhos de Hugh Helmuth que desde 1917 tratava de crianccedilas em psicoterashypia implementando o jogo infantil com um criteacuterio didaacutetico e de reeducashyccedilatildeo Em compensaccedilatildeo Klein acentua desde o iniacutecio tal como resume em seu artigo The Psycho-analytic play technique its history and significanshyce (1955) que seu objetivo eacute explorar o inconsciente infantil interpretar as fantasias sentimentos anguacutestias e experiecircncias expressadas no jogo e se este estiver inibido explorar as causas desta inibiccedilatildeo As fantasias agresshysivas da crianccedila natildeo devem ser reprimidas mas pelo contraacuterio deve-se deishyxar que as sinta e as exprima assim como aparecem A funccedilatildeo do analista eacute compreender a mente do paciente e transmitir-lhe o que ocorre com ela

Nas crianccedilas que Klein comeccedila a tratar analiticamente com esta teacutecnishyca observa que sofrem intensas anguacutestias persecutoacuterias Pensa ser necessaacuteshy

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rio interpretatildeJ Descreve em bram na

na e a psicolot

terpretar em Destaca a guacutestia e a rial ou de e diretivas

Isto eacute

)jetishy~mas

mtes 957) in tishyparshy

imaacuteshylalisshy~61) roda ndashystias aveacutes ~nte

o na

igem teacutecshytgos sigshy~ntes

lfanshypor

abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

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dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

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os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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I seacuteshynitishyntashy

sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

-t

mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

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1)

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

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O leitor

Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

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94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

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1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

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l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

moshyaccedilatildeo ~das a alshyico lccedilatildeo rem por

~ que cada mreshyom a peso

bull siccedilatildeo laacutelise doloshymo e ta ou ilZ enshy0 exshy19ora ne faz

trecisa antes

Seiam triacuteade dstem sofrer

corno a elashy repashystabeshy

1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 6: klein cap 5

processos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O mecanismo da identificaccedilatildeo projetishyva seraacute a partir de 1946 e durante os seguintes trinta anos um dos temas principais da investigaccedilatildeo kleiniana Daacute acesso ao tratamento de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes e agrave exploraccedilatildeo daquilo que mais tarde Bion (1957) chamaraacute de aspectos psicoacuteticos da personalidade O destaque que Klein tishynha posto na agressatildeo no periacuteodo anterior eacute agora modulado em boa parshyte pela ideacuteia de uma luta pulsional entre sentimentos de amor e oacutedio

c Periacuteodo de 1946 a 1960 o ponto teoacuterico principal eacute a inveja primaacuteshyria que Klein formula em 1957 Reforccedila-se assim o aspecto constitucionalisshyta de sua teoria Sua obra poacutestuma Narrative oE a Child AnaJysis (1961) em que reconstroacutei o caso Richard a quem atendeu na eacutepoca da Segunda Guerra Mundial novamente abre o campo polecircmico em tomo dos fundashymentos da teacutecnica kleiniana anaacutelise das fantasias centrada nas anguacutestias predominantes da sessatildeo acesso ao material profundo inconsciente atraveacutes da interpretaccedilatildeo da transferecircncia positiva e negativa manifesta e latente interpretaccedilatildeo sistemaacutetica das relaccedilotildees de objeto que se vatildeo expressando na sessatildeo atraveacutes do jogo e das associaccedilotildees livres dos pequenos pacientes

Periacuteodo 1919-1932 Sobre as primeiras descobertas A teacutecnica do jogo e a anaacutelise de crianccedilas

Nesta etapa Klein estabelece algumas hipoacuteteses que foram a origem de suas teorias posteriores O ponto de partida eacute o que ela denomina de teacutecshynica psicanaliacutetica do jogo infantil Para analisar crianccedilas aceita seus jogos dramatizaccedilotildees expressotildees verbais e sonhos como material igualmente sigshynificativo Atraveacutes deles explora sistematicamente as fantasias conscientes e inconscientes das crianccedilas

A proposta eacute inovadora em relaccedilatildeo aos antecedentes da anaacutelise infanshytil Eles foram o caso do pequeno Hans (1909) analisado indiretamente por Freud (que recolhia os dados por intermeacutedio do pai do menino) e os trabashylhos de Hugh Helmuth que desde 1917 tratava de crianccedilas em psicoterashypia implementando o jogo infantil com um criteacuterio didaacutetico e de reeducashyccedilatildeo Em compensaccedilatildeo Klein acentua desde o iniacutecio tal como resume em seu artigo The Psycho-analytic play technique its history and significanshyce (1955) que seu objetivo eacute explorar o inconsciente infantil interpretar as fantasias sentimentos anguacutestias e experiecircncias expressadas no jogo e se este estiver inibido explorar as causas desta inibiccedilatildeo As fantasias agresshysivas da crianccedila natildeo devem ser reprimidas mas pelo contraacuterio deve-se deishyxar que as sinta e as exprima assim como aparecem A funccedilatildeo do analista eacute compreender a mente do paciente e transmitir-lhe o que ocorre com ela

Nas crianccedilas que Klein comeccedila a tratar analiticamente com esta teacutecnishyca observa que sofrem intensas anguacutestias persecutoacuterias Pensa ser necessaacuteshy

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rio interpretatildeJ Descreve em bram na

na e a psicolot

terpretar em Destaca a guacutestia e a rial ou de e diretivas

Isto eacute

)jetishy~mas

mtes 957) in tishyparshy

imaacuteshylalisshy~61) roda ndashystias aveacutes ~nte

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igem teacutecshytgos sigshy~ntes

lfanshypor

abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 85

dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

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os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

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mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

da de seu geJ pertencem agrave l principalmeI1l objeto duranl interessada contribuiraacute

Esta eacute vertidas da arly Eacutedipo

1)

rigina nesta conshycomshyia ecircIacuteishy~nlace tages equeshylificashy

enesis einiashyfinitishymeccedilo 1m de ro de a orishyteoria luranshy)ressishyJ pershylo seshyssiva Tershya elashynum

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e das lstenshyo ego lina o ontrishy01 Eu etado

nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

mecanismos projetiva e a significado aos seria definida que os fatores

92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

no pensashyluta entre to psiacutequi-

I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

da matildee e euacutedo bioshy

crianccedila eacute as corposhy~ genitais

ito fantashyca no joshyum objeshy

avamem ~m outra

nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

96

com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 7: klein cap 5

)jetishy~mas

mtes 957) in tishyparshy

imaacuteshylalisshy~61) roda ndashystias aveacutes ~nte

o na

igem teacutecshytgos sigshy~ntes

lfanshypor

abashyerashyucashy~ em canshyetar ) e resshydeishylista la cnishyssaacuteshy

rio interpretaacute-las junto com as defesas que satildeo estabelecidas contra elas Descreve em seus historiais cliacutenicos a sucessatildeo de fantasias que se desdoshybram na sessatildeo atraveacutes de uma situaccedilatildeo dramaacutetica cujos personagens reshypresentam simbolicamente os objetos internos da mente infantil Os prishymeiros trabalhos de Klein satildeo relatoacuterios destes tratamentos com algumas conclusotildees subsequumlentes Com o meacutetodo do jogo vai criando um campo de observaccedilatildeo que lhe permite descobrir fenocircmenos novos e estes por seu turno datildeo-Ihe a possibilidade de conceber hipoacuteteses originais Klein entenshyde a patologia das crianccedilas que analisa como resultado de alteraccedilotildees ou inishybiccedilotildees do desenvolvimento infantil Considera as situaccedilotildees de anguacutestia coshymo o fator principal das perturbaccedilotildees psicoloacutegicas acreditando que as fantashysias agressivas da crianccedila satildeo a causa principal de tal anguacutestia

Em 1927 jaacute residindo em Londres Melanie Klein apresenta ante a Brishytish Psycho-Analytiacutecal Society seu trabalho Simposium of Child-Analyshysis como uma contribuiccedilatildeo agrave discussatildeo do livro de Anna Freud Introducshytion to the Technique of the Analysis of Children publicado em Viena nashyquele ano Neste artigo Klein defende com veemecircncia seus pontos de visshyta sobre a natureza da anaacutelise da crianccedila em uma oposiccedilatildeo frontal agraves ideacuteias de Anna Freud Este eacute o comeccedilo de um grande enfrentamento teoacuterico entre o que logo se chamaraacute de Escola Inglesa e a Escola de Viena Podem-se tamshybeacutem relacionar com estas divergecircncias as origens das discrepacircncias que mais adiante nas deacutecadas de 30 a 50 registrar-se-atildeo entre a escola kleiniashyna e a psicologia do ego Em termos pessoais esta polecircmica com Anna Freud eacute em parte responsaacutevel como jaacute o dissemos por Freud nunca ter apoiashydo nem considerado os desenvolvimentos kJeinianos

Klein crecirc que a anaacutelise de crianccedilas eacute completamente anaacuteloga agrave do adulshyto A neurose de transferecircncia se desenvolve do mesmo modo apenas varianshydo a forma de comunicaccedilatildeo atraveacutes do jogo para ajustaacute-la agraves possibilidashydes de expressatildeo da mente infantil O analista tem a funccedilatildeo exclusiva de inshyterpretar em profundidade todo o material associativo que o paciente traz Destaca a importacircncia de analisar a transferecircncia positiva e negativa a anshyguacutestia e a culpa e os efeitos adversos de interpretar parcialmente o mateshyrial ou de introduzir teacutecnicas natildeo analiacuteticas como atitudes de orientaccedilatildeo e diretivas

Isto eacute completamente o contraacuterio do que Anna Freud afirmava nessa eacutepoca na qual com uma concepccedilatildeo diferente da mente infantil e de sua abordagem no tratamento considerava que na infacircncia as crianccedilas natildeo fashyzem uma neurose de transferecircncia com o terapeuta pois suas transferecircncias estatildeo ligadas diretamente aos pais reais Ela pensava que a relaccedilatildeo com o terapeuta apenas deve reforccedilar os aspectos positivos do viacutenculo em um niacuteshyvel reeducativo e de orientaccedilatildeo

Discreparam tambeacutem quanto agrave estrutura psicoloacutegica que a crianccedila possui Melanie Klein acreditava jaacute nessa eacutepoca na existecircncia de um supeshyrego precoce aos dois ou trecircs anos de idade que se caracteriza por seu sa-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 85

dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

86

que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

88

os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

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mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

90

nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

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1)

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

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Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

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94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 8: klein cap 5

dismo devido ao qual uma das funccedilotildees do tratamento seria a de reduzir sua crueldade excessiva Anna Freud em troca propocircs a necessidade de reshyforccedilar o superego que seria fraco nas crianccedilas

As primeiras hipoacuteteses Superego precoce Complexo de Edipo precoce

As duas hipoacuteteses mais importantes que Klein formulou nesse periacuteodo satildeo a) a existecircncia de um superego precoce que primeiro situa entre os

dois e trecircs anos de idade e depois faz retroceder ateacute o comeccedilo da vida psiacutequica b) a ideacuteia do complexo de Edipo precoce situado nos periacuteodos preacute-geshy

nitais do desenvolvimento Trataremos de explicar sumariamente ambas as hipoacuteteses Para entenshy

der a origem destes conceitos no periacuteodo das primeiras descobertas eacute imshyportante que destaquemos quais foram as ideacuteias teoacutericas sobre as quais trashybalhou nesse momento de sua obra Descrevecirc-las-emos ordenando-as nos pontos seguintes

a) Destacou que a agressatildeo possui um papel central tanto no desenshyvolvimento psiacutequico precoce como durante a vida do sujeito As pulsotildees agressivas tecircm grande importacircncia nos primeiros anos da vida psicoloacutegica principalmente no viacutenculo com a matildee Centrou seu interesse em investigar os periacuteodos preacute-verbais do desenvolvimento aos quais atribuiu uma granshyde riqueza de fantasias inconscientes Klein toma primeiramente o conceishyto de fase de sadismo maacuteximo de seu mestre Abraham supondo que essa acontece aos seis meses dEddade vinQlJada ordf~n~ccedilatildeo e ao desmame Deshypois transfere a agressatildeo para periacuteodos ainda maacuteisprecotildeecirces da viCIa mas a toma independente dos processos bioloacutegicos e a limita ao campo estrito da fantasiltlnconsdeIlte Quer dizer que procura eXplicaccedilotildees em um niacutevel ~~~~~~siccedil91oacutegico

Muitos autores principalmente da psicologia do ego reconhecem em Melanie Klein a grande contribuiccedilatildeo para a psicanaacutelise que significou o desshytaque que ela pocircs na agressatildeo humana principalmente para a compreensatildeo das patologias graves psicoacutetica e borderline Em compensaccedilatildeo natildeo concorshydam como veremos no capiacutetulo de discussatildeo da obra de Klein quando ela considera que a existecircncia das pulsotildees agressivas eacute devida agrave pulsatildeo de morte

b) Freud e Abraham pensavam que a libido evoluiacutesse atraveacutes de passhysos progressivos aos quais chamaram de fases de organizaccedilatildeo libidinal O modelo tem uma indubitaacutevel origem darwiniana tomando como ponto de partida que esta progressatildeo libidinal eacute dirigida pela sucessatildeo de etapas bioloacuteshygicas de maturaccedilatildeo As zonas eroacutegenas oral anal e faacutelico-genital satildeo o censhytro respectivo de cada uma destas fases

Melanie Klein interessada em estudar os periacuteodos preacute-ediacutepicos do deshysenvolvimento mental logo muda o conceito de fases libidinais ao afirmar

que nas genitais que se assim da um sentido

ciuacuteme agressivas para mento kleiniano1 quumlecircncia de tais anguacutestia perselt xual Tambeacutem suas pulsotildees que se produz UI

mulher como no de um complexo ou menor anguacutes ediacutepico posterior

As ideacuteias q tras correntes do

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

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os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

-t

mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

da de seu geJ pertencem agrave l principalmeI1l objeto duranl interessada contribuiraacute

Esta eacute vertidas da arly Eacutedipo

1)

rigina nesta conshycomshyia ecircIacuteishy~nlace tages equeshylificashy

enesis einiashyfinitishymeccedilo 1m de ro de a orishyteoria luranshy)ressishyJ pershylo seshyssiva Tershya elashynum

erego sproshy)s ohshyego e I uma

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~rego

e das lstenshyo ego lina o ontrishy01 Eu etado

nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

mecanismos projetiva e a significado aos seria definida que os fatores

92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

no pensashyluta entre to psiacutequi-

I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

da matildee e euacutedo bioshy

crianccedila eacute as corposhy~ genitais

ito fantashyca no joshyum objeshy

avamem ~m outra

nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

96

com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

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accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

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que nas crianccedilas pequenas observa uma mescla de pulsotildees orais anais e reduzir genitais que se sobrepotildeem a partir das primeiras relaccedilotildees de objeto Afastashye de reshyse assim da ideacuteia de fase libidinal como unidade de desenvolvimento em um sentido cronoloacutegico substituindo-a tempos depois pela ideacuteia de posishyccedilatildeo como um conceito mais dinacircmico e menos preso agrave biologia

Dizer que as pulsotildees orais estatildeo misturadas precocemente com as genishytais tambeacutem implica adiantar a triangulaccedilatildeo ediacutepica a estaacutegios preacute-genitais do desenvolvimento Disto surge a ideacuteia de complexo de Eacutedipo precoce quando a sexualidade conteacutem agressatildeo Isto produz sentimentos de culpa

ldosatildeo As reaccedilotildees de anguacutestia dor e culpa tambeacutem se relacionam com a ideacuteia do ~ntre os superego precoce siacutequicai c) As pulsotildees agressivas - preacute-genitais - expressam-se desde o comeccedilo preacute-geshy da vida atraveacutes de fantasias inconscientes que estatildeo dirigidas para o corshy

po da matildee Este eacute o primeiro espaccedilo que pode ser diferenciado de forma l entenshy primitiva pelo bebecirc e representa para ele o mundo externo A crianccedila tem ) eacute imshy desejos de penetrar neste corpo atacando-o sadicamente Na fantasia infanshylais trashy til satildeo destruiacutedos seus conteuacutedos originando a anguacutestia mais profunda tanshyI-as nos to para a menina como para o varatildeo Klein designa pelo nome de fase femishy

nina a esta etapa pela qual todos os bebecircs passam em seu desenvolvimenshydesenshy to Tanto a anguacutestia de castraccedilatildeo no homem como a ameaccedila de perda de 4shy

pulsotildees amor na mulher satildeo derivados secundaacuterios da anguacutestia persecutoacuteria proveshyloacutegica niente da fase feminina Muda portanto a ideacuteia de Freud de que o conflishyrestigar to ediacutepico (tardio) e a angiacutelstia de castraccedilatildeo sejam o complexo nodular das a granshy neuroses Klein ao supor que na fase feminina a curiosidade sexual estaacute conceishy misturada ao sadismo como conteuacutedo primaacuterio modifica a concepccedilatildeo freushyue essa diana de que a curiosidade eacute movida principalmente pelos desejos libidishy1e Deshy nais e prinaacutepio do prazer A crianccedila quereria penetrar no corpo matemo [a mas para ver seus conteuacutedos (imagina que haacute fezes bebecircs e pecircnis) e ao mesmoestrito tempo quer se apropriar deles roubaacute-los e destruiacute-los Estas pulsotildees satildeo ~fliacutevet

lt

motivadas tanto pelo desejo de conhecer (pulsatildeo epistemofiacutelica) como pelo ciuacuteme destrutivo sendo ao mesmo tempo a expressatildeo direta de pulsotildees

emem agressivas paracom a cena primaacuteria parental ~2) Mais adiante no pensashy10 desshy mento kleiniano estas ideacuteias se fundamentaratildeo na inveja primaacuteria A conseshyeensatildeo quumlecircncia de tais fantasias seraacute quando projetadas ao exterior uma intensa oncorshy anguacutestia persecutoacuteria como ameaccedila de destruiccedilatildeo fiacutesica emocional e seshy1do ela xual Tambeacutem proveacutem do temor de ser castigada de forma retaliativa pormorte suas pulsotildees saacutedicas O nome de fase feminina alude a que Klein considera ~e passhy que se produz uma identifcaccedilatildeo com o corpo feminino atacado tanto nainaI O mulher como no homem E o primeiro passo que leva ao desenvolvimento mto de de um complexo de Eacutedipo direto e invertido em ambos os sexos A maior bioloacuteshy ou menor anguacutestia persecutoacuteria desta etapa define se o desenvolvimento ocenshy ediacutepico posterior seraacute normal ou patoloacutegico

As ideacuteias que acabamos de apresentar satildeo muito combatidas pelas oushydo deshy tras correntes do pensamento psicanaliacutetico que natildeo aceitam atribuir sentishylIacuteirmar

A Psicanaacutelise depois de Freud 87

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

88

os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

~n-

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exo tem eacutes eceshymushynis isatildeo )bre lexo

I seacuteshynitishyntashy

sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

-t

mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

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1)

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

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O leitor

Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

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94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

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1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

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l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

moshyaccedilatildeo ~das a alshyico lccedilatildeo rem por

~ que cada mreshyom a peso

bull siccedilatildeo laacutelise doloshymo e ta ou ilZ enshy0 exshy19ora ne faz

trecisa antes

Seiam triacuteade dstem sofrer

corno a elashy repashystabeshy

1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 10: klein cap 5

mentos e fantasias complexos a periacuteodos precoces do desenvolvimento menshytal nem outorgar agrave agressatildeo um papel essencial primaacuterio e independente das influecircncias ambientais

d) Nos tratamentos de crianccedilas neuroacuteticas e psicoacuteticas Klein descreve uma grande variedade de fantasias inconscientes O jogo infantil eacute uma mashyneira simboacutelica de elaborar fantasias e modificar a anguacutestia A crianccedila proshycura dominar os perigos de seu mundo interno deslocando-os para o exteshyrior e aumentando desta forma a importacircncia dos objetos externos O joshygo eacute como uma ponte entre a fantasia e a realidade uma maneira da crianshy

desejos genitais precoces que a levam a querer receber o pecircnis e os bebecircs O desejo feminino de internalizar o pecircnis paterno e receber os bebecircs preceshyderia invariavelmente o desejo de possuir o pecircnis O desejo faacutelico na mushylher ecirc secundaacuterio a uma busca especificamente feminina A inveja do pecircnis na mulher eacute secundaacuteria agrave anguacutestia por seus oacutergatildeos femininos A revisatildeo que Klein faz (com Jones Karen Horney e outros) das ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina influi grandemente em sua teorizaccedilatildeo do complexo de Eacutedipo precoce

f) Figura combinada dos pais Klein descreve sob este nome uma seacuteshyrie de fantasias precoces sobre a cena primaacuteria em sua versatildeo mais primitishyva por exemplo o pecircnis do pai contido no corpo da matildee A crianccedilajantashy

88

os a novos conhecit Depois de ter

periacuteodos da teoria perego precoce e agrave medida que se tatildeo daremos uma ram na teoria

A ideacuteia de to cronoloacutegico o descreveu como culminar o complext cinco anos de ccedilotildees parentais tor do sexo oposto

Melanie lltleinI dos dois anos de e remorsos Estecirc go mais precoce do vamente saacutedico e ta uma menina de TOse obsessiva superego precoce mais cruel do que muacuteltiplas e sua cas da crianccedila

Recordemos o de sua obra acentLo tecircncia de uma fase coincidindo com o ideacuteias de Abraham to o momento como

ccedila produzir siacutembolos necessaacuterios para o desenvolvimento mentaL Em seu artigo The importance of symbol-formation in the developshy

ment of the ego (1930) Klein considera que a anguacutestia persecutoacuteria do corshypo da matildee e do seu interior por tecirc-lo destruiacutedo com fantasias sacliCeacutel$eacute o que leva o ego a procurar novos objetos no exterior para acalmar a anguacutesshytia Estes objetos para os quais a crianccedila desloca seu interesse adquirem para ela um significado simboacutelico do corpo matemo Satildeo as bases primitishyvas da formaccedilatildeo de siacutembolos e das relaccedilotildees com o mundo externo e a realidade

e) Vejamos agora embora de forma panoracircmica algumas diferenccedilas com as ideacuteias de Freud sobre a sexualidade feminina Melanie Klein consideshyra que desde muito cedo haacute um conhecimento inconsciente da diferenccedila dos sexos tanto nas mulheres como nos homens Afirma que as meninas tecircm sensaccedilotildees vaginais e natildeo apenas clitoridianas que ambos os sexos posshysuem fantasias precoces do coito parental da vagina e do pecircnis com suas funccedilotildees receptivas e de penetraccedilatildeo respectivamente Isto eacute completamente diferente da ideacuteia que Freud tinha sobre a sexualidade infantil para ele tanshyto as mulheres como os homens recusam a diferenccedila entre os sexos como forma de eludir a anguacutestia de castraccedilatildeo Klein crecirc que muito precocemenshyte jaacute na etapa oral os desejos sexuais se dirigem para a matildee e para o pai estabelecendo os aspectos positivos e invertidos do complexo de Eacutedipo precoce

Para Freud a menina se considera castrada e sente inveja do pecircnis Isshyso faz com que se decepcione com a matildee porque natildeo lhe deu um e procushyre como substituto o pecircnis do pai Desta forma introduz-se no complexo de Eacutedipo Klein natildeo concorda com tal concepccedilatildeo Postula que a menina tem

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

I

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mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

90

nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

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Periacuteodo 1

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

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94

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

96

com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

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1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

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sia que seus pais estatildeo unidos de uma forma permanente e interminaacutevel compartilhandoacutesatiacutesfagraveccedilotildees orais anais e genitais O ciuacuteme e a inveja produshyzem desejos de atacar o corpo da matildee que conteacutem o pecircnis do pai sendo formadas por projeccedilatildeo f imagens persecutoacuterias que causam grande anguacutestia Klein as descobriu tanto no jogo infantil como nos pesadelos e terrores noshyturnos A fantasia da matildee faacutelica (Imdher com pecircnis) para ela eacute uma versatildeo desta figurapaienfaacutel combinada A utilidade cliacutenica destes conceitos pode ser obserfatilderlano trabalho de Fanny Blanck de Cereijido (1981) para o estushydo dos transtornos da identidade sexual A autora os utiliza incorporandoshyos a novos conhecimentos provenientes das escolas psicanaliacuteticas atuais

Depois de ter resumido algumas ideacuteias que pertencem aos primeiros periacuteodos da teoria kleiniana eacute uacutetil que nos detenhamos nos conceitos de sushyperego precoce e complexo de Eacutedipo precoce Estes temas foram mudando agrave medida que se integraram de 1935 em diante agrave teoria das posiccedilotildees Enshytatildeo daremos uma siacutentese de seu conteuacutedo principal e a evoluccedilatildeo que sofreshyram na teoria kleiniana

Do superego aterrorizante ao superego benevolente

A ideacuteia de superego precoce se refere em primeiro lugar a um aspecshyto cronoloacutegico comparando-o com o superego da teoria freudiana Freud o descreveu como uma estrutura intrapsiacutequica produzida na crianccedila ao culminar o complexo de Eacutedipo durante a etapa faacutelica infantil entre trecircs e cinco anos de idade Forma-se pela interiorizaccedilatildeo das exigecircncias e proibishyccedilotildees parentais especialmente sobre os desejos incestuosos para com o genishytor do sexo oposto por isso eacute considerado o herdeiro do complexo de Eacutedipo

Melanie Klein comeccedilou a analisar crianccedilas muito pequenas (a partir dos dois anps de idade) e observou que tinham fortes sentimentos de culpa e remorsos Este fato cliacutenico a levou a postular a existecircncia de um supereshygo mais precoce do que o proposto por Freud e a descrevecirc-lo como excessishyvamente saacutedico e cruel Como exemplo desta situaccedilatildeo relata o caso de Rishyta uma menina de dois anos e nove meses que padecia de uma severa neushyrose obsessiva (The psychological principIes of early analysis 1926) O superego precoce que Klein propotildee estaacute situado no segundo ano de vida eacute mais cruel do que o superego tardio de Freud forma-se por identificaccedilotildees muacuteltiplas e sua severidade proveacutem de que nele se projetam as pulsotildees saacutedishyCas da crianccedila

Recordemos o que dissemos anteriormente Klein na primeira etapa de sua obra acentua a importacircncia das pulsotildees agressivas e postula a exisshytecircncia de uma fase de sadismo maacuteximo ao redor dos seis meses de idade coincidindo com o momento da denticcedilatildeo e desmame Assim continua as ideacuteias de Abraham seu mestre e analista Com esta perspectiva muda tanshyto o momento como o mecanismo de formaccedilatildeo do superego Situa-o ainda

A Psicanaacutelise depois de Freud 89

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mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

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92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

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viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

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1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

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I

-t

mais precocemente no primeiro ano de vida acreditando que se origina das primeiras identificaccedilotildees da crianccedila com o objeto matemo que nesta etapa se introjeta canibalisticamente Klein toma-se independente dos conshyceitos freldianos afirmando que o superego natildeo se forma no final d~()ccedilQIlshyplexo de Edipo mas no comeccedilo dele Inverte a relaccedilatildeo entre ambos ao dishyzer que ~o as caracteriacutesticas do superego precoce que definem o desenlac~ ediacutepico assim como o desenvolvimento do ego e do caraacuteter (Eady stages of the Oedipus conflict 1928) A fonte de maior anguacutestia na crianccedila pequeshyna seria a accedilatildeo que este superego precoce exerce sobre o ego (Personificashytion in the play of children 1929)

Em 1935 com a publicaccedilatildeo de liA contribution to the psychogenesis of manic-depressive states produz-se um momento chave na teoria k1einiashyna que tambeacutem influi na conceptualizaccedilatildeo do superego ao separar definitishyvamente sua origem do conflito ediacutepico O superego existe desde o comeccedilo da vida formando-se pela introjeccedilatildeo de dois objetos contraditoacuterios um de qualidades protetoras e benevolentes (objeto parcial idealizado) e outro de caracteIIacutesticas punitivas (objeto parcial persecutoacuterio) Vale dizer que a orishygem do superego precoce se inclui em um contexto mais amplo a teoria das posiccedilotildees Este superego deve sofrer um processo de integraccedilatildeo duranshyte o desenvolvimento o que dependeraacute das vicissitudes da posiccedilatildeo depressishyva O aspecto severo e punitivo do superego proveacutem do objeto parcial pershysecutoacuterio introjetado nas origens enquanto o objeto parcial idealizado seshyria o nuacutecleo do ideal do ego que se constitui durante a posiccedilatildeo depressiva

O caraacuteter dual do superego sempre se manteacutem na teoria k1einiana Tershymina por ser uma estrutura integrada um objeto interno resultado da elashyboraccedilatildeo das anguacutestias depressivas e da uniatildeo dos objetos internos em um objeto total

Eacute enriquecedora para a compreensatildeo cliacutenica a ideacuteia de um superego com estrutura complexa que inclui partes punitivas e tambeacutem aspectos proshytetores para o ego No entanto o leitor pode se perguntar porque certos obshyjetos introjetados desde o comeccedilo da vida formam o nuacutecleo do superego e outros se introjetam no ego Nos trabalhos de Klein natildeo eacute encontrada uma resposta clara

Paula Heimann em seu artigo Algumas funccedilotildees de introjeccedilatildeo e projeshyccedilatildeo na primeira infacircncia (1952 p 127) aborda diretamente este probleshyma sugerindo uma resposta

Entatildeo a ideacuteia de que a formaccedilatildeo tanto do ego como do superego comeccedila na primeira infacircncia e continua de forma interatuante diverge das ideacuteias de Freud apresentando alguns problemas novos Se como noacutes sustenshytamos os objetos introjetados durante a infacircncia constroem tanto o ego da crianccedila como seu superego temos de encontrar o fator que determina o resultado da introjeccedilatildeo e a projeccedilatildeo Quando um ato de introjeccedilatildeo contrishybui para a formaccedilatildeo do ego e quando para a formaccedilatildeo do superego Eu sugeriria que este fator discriminador jaz nos atributos do pai introjetado

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nos quais a Em outras p~ motivo domi objeto Se set

da de seu geJ pertencem agrave l principalmeI1l objeto duranl interessada contribuiraacute

Esta eacute vertidas da arly Eacutedipo

1)

rigina nesta conshycomshyia ecircIacuteishy~nlace tages equeshylificashy

enesis einiashyfinitishymeccedilo 1m de ro de a orishyteoria luranshy)ressishyJ pershylo seshyssiva Tershya elashynum

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~rego

e das lstenshyo ego lina o ontrishy01 Eu etado

nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

mecanismos projetiva e a significado aos seria definida que os fatores

92

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nshyca atildeo o os lflshy

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

94

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

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I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

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ito fantashyca no joshyum objeshy

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nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

96

com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

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1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

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Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 13: klein cap 5

rigina nesta conshycomshyia ecircIacuteishy~nlace tages equeshylificashy

enesis einiashyfinitishymeccedilo 1m de ro de a orishyteoria luranshy)ressishyJ pershylo seshyssiva Tershya elashynum

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e das lstenshyo ego lina o ontrishy01 Eu etado

nos quais a crianccedila estaacute predominantemente interessada no momento Em outras palavras o que decide o resultado de um ato de introjeccedilatildeo eacute o motivo dominante por parte da crianccedila no momento em que introjeta seu objeto Se seu interesse principal no ato de introjeccedilatildeo se centrar na inteligecircnshycia de seu genitor em sua habilidade manipulaccedilatildeo de coisas - funccedilotildees que pertencem agrave esfera intelectual e motora do ego - o objeto introjetado seraacute principalmente incorporado ao ego da crianccedila Se a crianccedila introjetar seu objeto durante um conflito atual entre amor e oacutedio estando especialmente interessada nos atributos eacuteticos de seu objeto entatildeo o objeto introjetado contribuiraacute para a formaccedilatildeo do superego A crianccedila que introjeta sua matildee enquanto ela estaacute realizando determinada accedilatildeo digamos lavando-a aprenshyde por sua vez como se lavar (ou lavar um objeto) ou seja uma habilidashyde Este seria um exemplo de introjeccedilatildeo que fomenta o desenvolvimento do ego

O texto tem a virtude de apresentar claramente o problema e tambeacutem as dificuldades do tema em estudo A diferenccedila entre a introjeccedilatildeo do objeshyto no ego ou no superego aparece na citaccedilatildeo muito ligada a interesses consshycientes da crianccedila para estabelecer uma diferenciaccedilatildeo metapsicoloacutegica adeshyquada

Tampouco fica suficientemente esclarecido na formulaccedilatildeo kIeiniana qual eacute a relaccedilatildeo entre os diferentes objetos internos e as estruturas da menshyte descritas por Freud como id ego e superego Seria o superego um objeshyto passiacutevel de transformaccedilatildeo durante toda a vida segundo as caracteriacutestishycas dos objetos introjetados Poderiacuteamos descrevecirc-lo como um objeto intershyno ou um conjurtto de objetos internos tirando-lhe entatildeo a caracteriacutestica de estrutura permanente e estaacutevel descrita por Freud

Complexo de Eacutedipo precoce

Esta eacute uma das teorias mais originais e ao mesmo tempo mais controshyvertidas da produccedilatildeo kIeiniana Ao apresentaacute-la pela primeira vez em Eshyarly stages of the Oedipus conflict (1928) Klein modifica duas ideacuteias do Eacutedipo claacutessico de Freud

1) Situa-o precocemente entre as fases preacute-genitais do desenvolvimenshyto ao redor do primeiro ano de vida Em outros artigos adianta a data coshy

-iacuteno vimos que ocorre com o superego precoce Em The Oedipus complex in the light of early anxieties (1945) pensa que se estabelece aos trecircs meses em rela~atildeo com a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva

2) E um processo complexo que se estende durante um periacuteodo prolonshygado Klein amplia a gama de fenocircmenos que abrange e o transforma em organizador das pulsotildees genitais durante todo o desenvolvimento infantil

No Eacutedipo desde os primeiros meses de vida as fantasias da crianccedila sobre o coito dos pais satildeo construiacutedas com objetos parciais Natildeo satildeo os

A Psicanaacutelise depois de Freud I 91

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

mecanismos projetiva e a significado aos seria definida que os fatores

92

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

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viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

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I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

no pensashyluta entre to psiacutequi-

I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

da matildee e euacutedo bioshy

crianccedila eacute as corposhy~ genitais

ito fantashyca no joshyum objeshy

avamem ~m outra

nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

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1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

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de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

moshyaccedilatildeo ~das a alshyico lccedilatildeo rem por

~ que cada mreshyom a peso

bull siccedilatildeo laacutelise doloshymo e ta ou ilZ enshy0 exshy19ora ne faz

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corno a elashy repashystabeshy

1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 14: klein cap 5

pais como objetos totais que constituem a cena primaacuteria tal como ocorre na teoria freudiana Para Klein a cena primaacuteria tnmscorre na fantasia da crianccedila dentro do coipo-ocircamiddotrnatildeecirc o bebeurositua o pecircnis do paidentre-ltkrcorshypo matemo

Eacute importante fazer aqui um esclarecimento Quando procuramos penshysar estes processos descritos por Klein de uma perspectiva fenomenoloacutegica ou sobre a base de dados que a crianccedila pequena teria atraveacutes da percepccedilatildeo externa estas hipoacuteteses se tomariam incompreensiacuteveis Em compensaccedilatildeo se os tomarmos independentes de sua posiccedilatildeo cronoloacutegica e os estudarmos como fantasias que podem ser exploradas no inconsciente dos pacientes tanshyto crianccedilas como adultos nosso campo de conpreensatildeo se enriquece muito O leitor poderia nos dizer com toda a razatildeo que Klein situa estes processhysos nos primeiros meses de vida pensamos que este eacute o preccedilo que ela paga por seu enorme interesse em incluir as fantasias e desejos inconscientes que descobre com tanta sagacidade dentro de uma teoria do desenvolvimento Vale a pena fazer esta ressalva para que possamos acompanhar a descriccedilatildeo do mundo fantasmaacutetico que Klein atribui ao Eacutedipo precoce sem ficarmos limitados pelo questionamento realista sobre a impossibilidade de reconheshycer em idades precoces processos complexos como seria a diferenccedila dos sexos ou a cena primaacuteria Veremos no capiacutetulo de criacuteticas agrave teoria kleiniashyna que de fato muitas das que provecircm da psicologia do ego satildeo propostas nestas bases

Voltemos ao Eacutedipo precoce Klein descreve na relaccedilatildeo diaacutedica matildeeshybebecirc fantasias agressivas de tipo oral em que a crianccedila deseja entrar no seio e corpo matemos para morder rasgar roubar seus conteuacutedos e outras de tipo anal onde quer entrar no corpo da matildee para sujar e danificar o que ela tem dentro Dissemos anteriormente que isto constitui a fase feminina com que o desenvolvimento comeccedila tanto na menina como no menino A passagem para a relaccedilatildeo triaacutedica eacute nesta etapa uma fantasia oral de incorshyporar o pecircnis do pai para acalmar a frustraccedilatildeo oralprovocada pela matildee e para buscar um novo objeto que ajude a apaziguar as fantasias persecutoacuteshyrias que sofre por ter danificado o corpo matemo na fase feminina As fanshytasias sobre o coito dos pais seriam sentidas como um intercacircmbio de alishymentos entre eles se as anguacutestias forem predominantemente orais ou coshymo um ato excretoacuterio ou genital segundo o caraacuteter das fantasias que a crianshyccedila introjete nelas O resultado constitui uma situaccedilatildeo complexa produto da oscilaccedilatildeo de pulsotildees orais anais uretrais e genitais que paulatinamenshyte devem levar a um predomiacutenio de fantasias genitais para que o Eacutedipo seshyja resolvido adequadamente Ao mesmo tempo misturam-se desejos agresshysivos e libidinais entrementes se produzem mudanccedilas e interaccedilotildees entre um Eacutedipo positivo e outro negativo tanto na menina como no menino O resultado final destas tendecircncias levaraacute no desenvolvimento normal a uma escolha heterossexual baseada no predomiacutenio de pulsotildees genitais

Em 1945 Kle artigo The Oedip concepccedilotildees do Eacutedi como ponto nodal as frustraccedilotildees orai ediacutepicos Estes SUII va quando as pul do desenvolviment

Quanto ao ltfj o desejodecirclt-~

-Jgt o controle i

nal Natildeo eacute a de castraccedilatildeo ou sivos e de amor seu amor e seu radoras para com para o futuro

O leitor

Periacuteodo 1

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92

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atildeeshyno as ue ina A orshyie e ltOacuteshyanshyalishycoshy

ianshyluto lenshy) seshyresshyntre l O lIma

Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

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I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

no pensashyluta entre to psiacutequi-

I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

da matildee e euacutedo bioshy

crianccedila eacute as corposhy~ genitais

ito fantashyca no joshyum objeshy

avamem ~m outra

nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

102

nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

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1S mashyintershy

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 15: klein cap 5

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Em 1945 Klein reformula suas ideacuteias sobre o Eacutedipo precoce em seu artigo The Oedipus complex in the light of early anxieties Integra suas concepccedilotildees do Eacutedipo precoce com as novas ideacuteias da posiccedilatildeo depressiva como ponto nodal do desenvolvimento infantil Desta perspectiva natildeo satildeo as frustraccedilotildees orais nem as pulsotildees de oacutedio que desencadeiam os desejos ediacutepicos Estes surgem pelo contraacuterio com o comeccedilo da posiccedilatildeo depressishyva quando as pulsotildees de amor para com os pais agem como propulsores do desenvolvimento levando agrave busca de novos objetos

Quanto ao decliacuteni() do Eacutedipo Kleinpensa que eacute o amor pelos pais e o desejo de preservaacute-los juntos e indenesque produz a renuacutencia ediacutepica e o controle dos sentimentos agressivos Esta eacute uma conceptuallzaccedilatildeoorigishyrial Natildeo eacute a cultura que impotildee a renuacutencia pulsional tampouco a ameaccedila de castraccedilatildeo ou a lei mas a luta dentro da mente entre sentimentos agresshysivos e de amor para com os pais Neste esforccedilo da crianccedila para integrar seu amor e seu oacutedio as pulsotildees ediacutepicas permitem expressar fantasias repashyradoras para com o casal de pais o que marca um alvo muito importante para o futuro desenvolvimento sexual do indiviacuteduo

O leitor interessado em ampliar este tema pode consultar o trabalho de Terencio Gioia (1975) HEI complejo de Edipo en la teoria kleiniana Estushydio comparativo con las ideas de Freud

Periacuteodo 1932-1946 Consolidaccedilatildeo da teoria kIeiniana

De 1934 em diante Klein elabora uma nova metapsicologia O ponto de partida eacute a teoria das posiccedilotildees Descreve duas posiccedilotildees a esquizo-parashynoacuteide e a depressiva

As hipoacuteteses baacutesicas que se conjugam em tomo das posiccedilotildees satildeo citashydas abaixo

a) Uma teoria do desenvolvimento precoce A relaccedilatildeo do bebecirc com sua matildee e mais especificamente com o seio da matildee (como primeiro viacutencushylo oral) situa-se no centro deste desenvolvimento O psiquismo se forma atrashyveacutes destas relaccedilotildees de objeto precoces primeiro com a matildee e depois com o pai

b) O conceito de posiccedilatildeo em Klein substitui a ideacuteia de fase do desenshyvolvimento libidinal de Freud e Abraham As pulsotildees estatildeo misturadas e se ordenam em redor das relaccedilotildees de objeto com suas fantasias e anguacutestias

c) Eacute uma teoria interpessoal A relaccedilatildeo com a realidade se estabelece pela interaccedilatildeo complexa entre os objetos do mundo interno e externo Os mecanismos principais que possibilitam o intercacircmbio satildeo a identificaccedilatildeo projetiva e a introjeccedilatildeo Os objetos do mundo interno por projeccedilatildeo datildeo significado aos objetos externos e agrave realidade A existecircncia de uma matildee boa seria definida pela projeccedilatildeo de pulsotildees amorosas do bebecirc por ela Mesmo que os fatores ambientais sejam muito importantes nunca seratildeo tomados como um elemento exclusivo ou definitivo A teoria das posiccedilotildees explica o

A Psiacutecanaacutelise depois de Freud I 93

viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

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Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

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I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

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I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

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ito fantashyca no joshyum objeshy

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nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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viacutenculo com a realidade tanto externa como interna Na posiccedilatildeo esquizoshyparanoacuteide os objetos seratildeo distorcidos e fantaacutesticos como resultado da disshysociaccedilatildeo e da projeccedilatildeo neles de pulsotildees libidinais e tanaacuteticas na posiccedilatildeo deshypressiva os objetos tanto internos como externos estaratildeo integrados e mais de acordo com o princiacutepio de realidade

d) A anguacutestia continua a ser o elemento principal para entender o conshyflito psiacutequico

e) A ideacuteia de pulsotildees de vida e de morte estaacute sempre presente no pensashymento kleiniano E o substrato teoacuterico em que se fundamenta a luta entre pulsotildees de amor e oacutedio que satildeo os elementos definitivos do conflito psiacutequishyco e a origem da anguacutestia

f) A fantasia inconsciente eacute descrita como um acontecimento constanshyte e permanente da mente expressando-se tanto nos fenocircmenos inconscienshytes como nos conscientes Susan Isaacs (1952 p 83) continuando a ideacuteia pulsional de Klein define-a como a expressatildeo mental dos pulsotildees mas paulatinamente o sentido bioloacutegico da noccedilatildeo de pulsatildeo vai perdendo forshyccedila para dar lugar a uma explicaccedilatildeo da fantasia em um niacutevel exclusivamenshyte psicoloacutegico (3) Sob esta perspectiva eacute entendida como uma trama emoshycional que se desenvolve pela interaccedilatildeo dos objetos internos

g) A noccedilatildeo de corpo na teoria kleiniana (interior do corpo da matildee e seus conteuacutedos interior do proacuteprio corpo) tambeacutem perde seu conteuacutedo bioshyloacutegico para se referir exclusivamente a um niacutevel fantasmaacutetico

Como bem o diz Guntrip (1961 p 182) em sua teoria a crianccedila eacute uma pessoa corporal preocupada emocionalmente com pessoas corposhyrais suas fantasias satildeo sobre corpos com relaccedilotildees orais anais e genitais que depois satildeo aplicadas a todos os tipos de relaccedilotildees pessoais

3 Teoria das posiccedilotildees

Posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Desde os primeiros tratamentos de crianccedilas Klein tinha descrito fantashysias persecutoacuterias em idades precoces Tambeacutem observou na cliacutenica no joshygo e nas fantasias infantis que as crianccedilas podiam partir em dois um objeshyto dissociaacute-lo separando um aspecto totalmente bom que projetavam em uma pessoa de um aspecto exclusivamente mau que situavam em outra Denominou-o de mecanismo de splitting ou dissociaccedilatildeo

Em 1946 em seu trabalho Notes on some schizoid mechanisms orgashyniza de uma maneira coerente todos estes processos primitivos ao descreshyver a posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Concebe-a como uma estrutura que orgashyniza a vida mental nos trecircs primeiros meses de vida Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia ser atacado

2 relaccedilatildeo rio que satildeo

3 o ego se sa intensos e a introjeccedilatildeo ea

Klein acreatUl

amente as p~ a partir desse

Klein daacute do psiquismo de devorar o seio mentos Isto gera nado Estaacute se

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I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

no pensashyluta entre to psiacutequi-

I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

da matildee e euacutedo bioshy

crianccedila eacute as corposhy~ genitais

ito fantashyca no joshyum objeshy

avamem ~m outra

nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

102

nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

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1S mashyintershy

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 17: klein cap 5

I esquizoshylo da disshygtsiccedilatildeo deshy~grados e

ler o conshy

no pensashyluta entre to psiacutequi-

I constanshylconscienshylo a ideacuteia 6 mas lendo forshylsivamenshyima emoshy

da matildee e euacutedo bioshy

crianccedila eacute as corposhy~ genitais

ito fantashyca no joshyum objeshy

avamem ~m outra

nsorgashyao descreshyque orgashyilor

1 anguacutestia persecutoacuteria A anguacutestia principal que o ego sente eacute a de ser afacado

2 relaccedilatildeo de objeto parcial com um seio idealizado e outro persecutoacuteshyrio que satildeo percebidos como objetos dissociados e excludentes

3 o ego se protege da anguacutestia persecutoacuteria com mecanismos de defeshy~ intensos e onipotentes Eles satildeo a dissociaccedilatildeo a identificaccedilatildeo projetiva a introjeccedilatildeo e a negaccedilatildeo

Klein acredita existir um ego incipiente desde o nascimento que sente a anguacutestia relaciona-se com um primeiro objeto e realiza mecanismos de defesa primitivos O funcionamento mental dos periacuteodos iniciais da vida natildeo seria totalmente desorganizado caoacutetico ou com uma indiferenciaccedilatildeo ego-objeto Para Klein pelo contraacuterio possui uma organizaccedilatildeo O primitishyvo eacute definido pela qualidade da anguacutestia e as caracteriacutesticas dos mecanisshymos de defesa que como jaacute dissemos satildeo intensos e extremos Ela os consishyderou de natureza psicoacutetica

Aanguacutestia persecutoacuteria eacute experimentada pelo ego como uma ameaccedila ~ forccedilas hostis que o atacam Esta anguacutestia tem uma origem principalmenshy~Jnterna (a pulsatildeo de morte age como uma forccedila destrutiva dentro do indishyviacuteduo) e tambeacutem outra externa a experiecircncia traumaacutetica do parto e todas as situaccedilotildees posteriores que provocam frustraccedilatildeo

A pulsatildeo de morte eacute projetada no primeiro objeto externo o seio da matildee assim comeccedila a relaccedilatildeo entre o ego e o objeto mau externo Simultaneshyamente as pulsotildees libidinais satildeo projetadas no objeto parcial seio bom que a partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutoacuterio

Klein daacute muita importacircncia ao efeito que a agressatildeo produz dentro do psiquismo precoce Expressa-se em fantasias inconscientes oral-saacutedicas de devorar o seio e o corpo matemos e anal-saacutedicas de atacaacute-los com excreshymentos Isto gera no bebecirc temores persecutoacuterios de ser devorado e enveneshynado Estaacute se teorizando sobre um corpo matemo fantasmaacutetico cuja imashygo aparece deformada pelas fantasias do sujeito devido agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees agressivas Fala de objeto em um sentido anatocircmico (as pulsotildees orais se dirigem ao seio e natildeo agrave matildee pois esta natildeo eacute percebida como uma figura completa) e tambeacutem em um sentido dinacircmico (objeto parcial idealizashydo e objeto parcial persecutoacuterio) por um processo primitivo de dissociaccedilatildeo o bebecirc percebe tanto o mundo externo como a si proacuteprio divididos em duas partes absolutamente inconciliaacuteveis um objeto idealizado ao qual atrishybui todas as experiecircncias gratificantes e um objeto persecutoacuterio ao qual atribui todas as frustraccedilotildees

Os mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo permitem a construccedilatildeo de um objeto bom interno e um objeto mau interno ao introjetar os objetos externos bom e mau respectivamente Deste modo se estabelece uma dinacircshymica constante de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo entre os objetos e as situaccedilotildees extershynas e as pulsotildees e fantasias internas que estaratildeo indissoluvelmente misturashydas atilde medida que o desenvolvimento psiacutequico avanccedila produz-se uma evo-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 95

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

96

com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

moshyaccedilatildeo ~das a alshyico lccedilatildeo rem por

~ que cada mreshyom a peso

bull siccedilatildeo laacutelise doloshymo e ta ou ilZ enshy0 exshy19ora ne faz

trecisa antes

Seiam triacuteade dstem sofrer

corno a elashy repashystabeshy

1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 18: klein cap 5

i

luccedilatildeo desta estrutura Por um lado existem momentos de integraccedilatildeo dos objetos dissoagraveados por outro a introjeccedilatildeo do objeto bom forfalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a anguacutestia sem projetaacute-la Portanto diminui progressivamente a anguacutestia persecutoacuteria e isto por sua vez favorece os processos de integraccedilatildeo Assim se produz a passagem para a organizaccedilatildeo seguinte a posiccedilatildeo depressiva

Klein diz em Notes on some schizoid mechanisms uEacute na fantasia que a crianccedila diva o objeto e diva a si proacutepria mas o efeito desta fantasia eacute muito real porque conduz a sentimentos e relaccedilotildees (e depois a processos de pensamento) que em realidade estatildeo separados entre si (1946 p 260)

Queremos discutir aqui um ponto importante desta teorizaccedilatildeo Klein estabelece uma relaccedilatildeo dinacircmica entre as experiecircnagraveas internas e as externas produzida atraveacutes dos mecanismos de projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo O destaque eacute posto indubitavelmente no interno as pulsotildees agressivas e amorosas que lutam na mente primeiro clivadas e depois mais integradas no viacutenculo com os objetos primaacuterios As experiecircncias com os objetos externos satildeo importanshytes como moderadoras da anguacutestia provocada basicamente por causas inshyternas de origem pulsional Assim o manifesta claramente Klein na seguinshyte citaccedilatildeo de Some theoretical condusions regarding the emotional life of the infant

As vivecircncias repetidas de gratificaccedilatildeo e frustraccedilatildeo satildeo estiacutemulos podeshyrosos das pulsotildees libidinais e destrutivas do amor e do oacutedio Desta forshyma a imagem do objeto externa e internalizada eacute distorcida na mente do lactente por suas fantasias ligadas agrave projeccedilatildeo de suas pulsotildees sobre o objeto O seio bom externo e interno chega a ser o protoacutetipo de todos os objetos protetores gratificantes o seio mau o protoacutetipo de todos os objetos perseguidores externos e internos Os diversos fatores que intervecircm na senshysaccedilatildeo do lactente de ser gratificado tal como o aplacamento da fome o prashyzer de mamar a liberaccedilatildeo do incocircmodo e da tensatildeo isto eacute a liberaccedilatildeo de privaccedilotildees e a experiecircnagravea de ser amado satildeo todos atribuiacutedos ao seio bom Inversamente qualquer frustraccedilatildeo e incocircmodo satildeo atribuiacutedos ao seio mau (perseguidor) (1952a pp 178-179)

Klein diz que os fatores externos satildeo muito importantes desde o comeshyccedilo pois toda a experiecircncia boa fortalece a confianccedila no objeto bom extershyno e todo estiacutemulo de temor agrave perseguiccedilatildeo pelo contraacuterio reforccedila os mecashynismos esquizoacuteides perturbando o progresso desta integraccedilatildeo eacute indubitaacuteshyvel no entanto que no conjunto de sua teorizaccedilatildeo daacute mais importacircncia aos fatores intriacutensecos do indiviacuteduo determinados pela luta de suas pulsotildees do que aos de iacutendole externa

Por este motivo autores como Wiacutennicott compartilham de algumas ideacuteias de Klein sobre o desenvolvimento precoce mas se polarizam em um sentido diametralmente oposto a ela quando hieraquizam o papel da matildee como determinante para o desenvolvimento mental da crianccedila Winniacutecott acredita que se a matildee tiver uma boa atitude de sustentaccedilatildeo emoagraveonal para

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com o bebecirc (ho] ceraacute bem e teraacute pensaccedilatildeo que e cas e vorazes no vorado por seu guiccedilatildeo por mai

Acreditamltl natildeo nos deixa c~ que na inadequeacutetl a complexidade

Outro

o desenvohnn~J

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 19: klein cap 5

accedilatildeo dos ce o ego diminui

Vorece os anizaccedilatildeo

1 fantasia a fantasia processos I p 260) atildeo Klein externas lestaque eacute rosas que lculo com importanshycausas inshynaseguinshynallife of

ulospodeshyDesta for-na mente

es sobre o le todos os os objetos ecircrnna senshyme o prashyberaccedilatildeo de seio bom

l seio mau

deocomeshybom extershya os mecashyeacute indubitaacuteshymportacircncia las pulsotildees

de algumas 1am em um lpel da matildee Winnicott donal para

com o bebecirc (holding) alimentando-o e cuidando-o adequadamente ele cresshyceraacute bem e teraacute um bom desenvolvimento psiacutequico Klein pensa em comshypensaccedilatildeo que esta reaccedilatildeo natildeo eacute linear Se o lactente projetar fantasias saacutedishycas e vorazes no seio senti-Io-aacute em seu interior como um objeto interno deshyvorado por seu ataque e por sua vez devorador o que reforccedila sua perseshyguiccedilatildeo por mais adequado que seja o cuidado que a matildee lhe forneccedila

Acreditamos que o peso que Klein daacute ao interno eacute importante pois natildeo nos deixa cair em uma ideacuteia simples da patologia ao pocircr todo o destashyque na inadequaccedilatildeo dos pais e em fatores ambientais adversos eliminando a complexidade de elementos que interagem no desenvolvimento

Outro ponto teoacuterico importante eacute que ela natildeo aceita a ideacuteia de narcisisshymo primaacuterio descrita por Freud Ao estabelecer que existe um ego incipienshyte desde o nascimento capaz de experimentar anguacutestia de sentir um conflishyto entre pulsotildees de amor e de oacutedio no viacutenculo com os objetos primaacuterios e de possuir mecanismos de defesa atribui muitas capacidades a este ego prishymitivo e uma possibilidade de diferenccedilar entre o selE e o objeto Para Klein a relaccedilatildeo narcisista eacute uma relaccedilatildeo com um objeto idealizado interno em que o ego se confunde com este objeto enquanto o objeto persecutoacuterio eacute dissociado e projetado no exterior Esta relaccedilatildeo narcisista eacute provocada por um conflito e inexoravelmente produz anguacutestia embora seja negada ou clishyvada Eacute importante acentuar as ideacuteias kleinianas sobre o narcisismo primaacuteshyrio pois como se veraacute mais adiante haacute outras teorias do desenvolvimenshyto precoce que aceitam as ideacuteias de Freud a respeito Mahler por exemplo fundamenta no narcisismo primaacuterio sua ideacuteia da etapa de simbiose durante o desenvolvimento Tambeacutem Winnicott o aceita quando pensa que o receacutemshynasddo atravessa uma etapa de natildeo diferenciaccedilatildeo ego-natildeo ego

Mecanismos de defesa da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide

Jaacute descrevemos alguns destes mecanismos para explicar a relaccedilatildeo com os objetosparciais e sua constituiccedilatildeo lCcedil1ei~os~a como processos extremos intensos e de caracteriacutesticas onipotent~ S-ordfoJndispensaacuteveis ao mesmo tempo para organizar as primeiras modalidades do funcionamento mental opondo-se agrave anguacutestia persecutoacuteria que eacute insuporwelpara o~fraco ego Denominou-os de mecanismos psicoacuteticos semelhantes aos que ocorrem em estados esquizoacuteides graves e esquizofrecircnicos Pensou que toda crianccedila passa durante seu desenvolvimento por uma psicose infantil etapa norshymal determinada pela presenccedila destes mecanismos e anguacutestias extremos das posiccedilotildees esquizo-paranoacuteide e depressiva

Neste desenvolvimento precoce encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo das perturbaccedilotildees psicoacuteticas posteriores Por um lado Klein faz agora o que acontece com muitas teorias psicanaliacuteticas um criteacuterio psicopatoloacutegico eacute aplicado ao desenvolvimento normal atraveacutes do conceito de pontos de fixa-

A Psicanaacutelise depois de Freud 97

ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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ccedilatildeo Recorde-se que Freud e Abraham utilizaram este criteacuterio quando penshysaram que as zonas eroacutegenas do desenvolvimento libidinal satildeo os pontos de fixaccedilatildeo das diferentes patologias psicoacuteticas e neuroacuteticas quanto mais reshygressivo for o ponto de fixaccedilatildeo mais grave seraacute a patologia originada Klein aplica o mesmo criteacuterio aos processos primitivos do desenvolvimentolntroshyduz um problema conceptal ao atribuir fenocircmenos psicoacuteticos agrave crianccedila peshyquena em sua evoluccedilatildeo normal Muitos autores consideram que a descrishyccedilatildeo destes mecanismos eacute muito uacutetil para compreender os fenocircmenos psicoacutetishycos na cliacutenica mas natildeo concordam em atribui-los ao desenvolvimento norshymaL Klein sempre deu amiddotmaacutexima importacircncia a seu enfoque geneacutetico toshymando-o como uma explicaccedilatildeo concreta de que esta eacute a estrutura psiacutequica do lactente e que sua mente funciona assim

Referindo-se a este problema em 1946 diz NULrimeira infacircncia surgem as anguacutestias caracteriacutesticas dasJsicosesL

que levam o ego a desenvolver mecanismos de defesa especiacuteficos Neste peshyriacuteodo encontram-se os pontos de fixaccedilatildeo de todas as perturbaccedilotildees psicoacutetishycaso Esta hipoacutetese leva certas pessoas a acreditarem que considero que todas as crianccedilas satildeo psicoacuteticas mas jaacute me ocupei suficientemente deste mal-entenshydido em outras oportunidades [ As anguacutestias psicoacuteticas os mecanismos e as defesas do ego da infacircncia exercem uma profunda influecircncia em todos os aspectos do desenvolvimento inclusive do desenvolvimento do ego do superego e das relaccedilotildees de objetor (pp 255-256)

No mesmo artigo esclarece que se os temores persecutoacuterios satildeo demashysiado intensos produz-se um fracasso na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo esquizo-pashyranoacuteide o que leva a um reforccedilo regressivo dos temores persecutoacuterios estashybelecendo-se pontos de fixaccedilatildeo para graves psicoses (grupo das esquizofreshynias) Do mesmo modo as dificuldades surgidas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva estabeleceratildeo o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva

Klein superpotildee assim um criteacuterio psicopatoloacutegico com uma explicashyccedilatildeo estrutural sobre o desenvolvimento normal (teoria das posiccedilotildees) O que confunde na explicaccedilatildeo destes mecanismos e anguacutestias primitivas eacute que ela

natildeo considera estes conceitos como uma representaccedilatildeohipgteacutetkadordf~iyecircnshyotildeas do Tactente inferida a partir da anaacutelise de crianccedilas edeadultos neuroacutetishycos e psicoacuteticos Seu enfoque geneacutetico e sua preocupaccedilatildeo em ~cotildeiisocirclidar uma teoria do desenvolvimento precoce fazem com que os transforme em uma explicaccedilatildeo concreta da estrutura psiacutequica do lactente e de como funcioshyna sua mente A ideacuteia se toma mais forte ainda se possiacutevel quando afirshyma que na transferecircncia satildeo revividosos conflitos reais que ocorreram com o seio Isto faz parte em nosso ponto de vista do mito das origens Coshymo poder comprovar que assim sucedeu realmente na experiecircncia do bebecirc Natildeo haacute campo de observaccedilatildeo capaz de verificar estas hipoacuteteses

As posiccedilotildees podem ser tomadas como uma organizaccedilatildeo cujo centro psicoloacutegico eacute a anguacutestia esta ordena a totalidade da vida psiacutequica em relashyccedilatildeo a um objeto e aos mecanismos de defesa que entram em jogo para se

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oporem a ela A

na cliacutenica a nquezct da posiccedilatildeo esquizltj ra compreender

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 21: klein cap 5

) penshy oporem a ela A fantasia inconsciente combina todos estes elementos em )ontos uma estrutura especiacutefica e ao mesmo tempo mutaacutevel Klein tem necessidashyais reshy de de relativizar a descriccedilatildeo um tanto sistemaacutetica que faz das posiccedilotildees Klein quando diz em Notes on some schizoid mechanisms Introshy Sempre ocorrem algumas flutuaccedilotildees entre a posiccedilatildeo esquizoacuteide e a lccedila peshy depressiva que fazem parte do desenvolvimento normal Portanto natildeo se descrishy pode estabelecer uma divisatildeo exata entre estes dois estados do desenvolvishy)sicoacutetishy mento dado que a modificaccedilatildeo eacute um processo gradual e os fenocircmenos das 0 norshy duas posiccedilotildees permanecem durante algum tempo aacuteteacute certo ponto misturashyco toshy dos e reaacuteprocos No desenvolvimento anormal esta accedilatildeo reaacuteproca influi siacutequica acredito no quadro cliacutenico tanto da esquizofrenia como das perturbaccedilotildees

maniacuteaco-depressivas (1946 p 270) A discriminaccedilatildeo que fazemos toma-se importante para poder avaliar

icoses na cliacutenica a riqueza que nos oferece a descriccedilatildeo dos mecanismos defensivos ~te peshy da posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide (Hinojosa 1R 1988) Podemos usaacute-los pashypsicoacutetishy ra compreender os processos mentais dos pacientes sem que por isso fiqueshye todas mos necessariamente atados agraves propostas geneacuteticas kleinianas Descrevereshyl-entenshy mos brevemente estes mecanismos de defesa primitivos ismos e ~ todos [)issociaccedilatildeo projeccedilatildeo e introjeccedilatildeo Seriam as defesas mais arcaicas ego do os processos fundamentais para a construccedilatildeo dos primeiros objetos extershy

nos e internos ) demashy A projeccedilatildeo aparece primeiramente ligada agrave pulsatildeo de morte cuja lizo-pashy ameaccedila de destruiccedilatildeo interna eacute neutralizada ao ser expulsa para fora do sushy)s estashy jeito Esta projeccedilatildeo de agressatildeo e de libido permite que se constituam os obshyuizofreshy jetos parciais seio bom e seio mau Este conceito de projeccedilatildeo se enriquece posiccedilatildeo com a descriccedilatildeo da identificaccedilatildeo projetiva como mecanismo baacutesico ressiva A dissociaccedilatildeo eacute a resposta do ego diante da anguacutestia persecutoacuteria Pershyexplicashy mite que se efetue uma primeira divisatildeo bom-mau dos objetos externos e inshyI o que ternos satildeo defesas uacuteteis e necessaacuterias para favorecer a organizaccedilatildeo das prishy~ que ela ~eiras estruturas da mente que depois poderatildeo se integrar paulatinamente ~~iyecircnshy Se este processo de dissociaccedilatildeo fracassar produzem-se fenocircmenos de desinshyneuroacutetishy J tegraccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo e um desenvolvimento patoloacutegico da posiccedilatildeo esshynsolidar quizo-paranoacuteide base para doenccedilas psicoacuteticas posteriores )rme em A dissociaccedilatildeo dos objetos eacute acompanhada inexoravelmente de uma ) funcioshy dissociaccedilatildeo dOeg6~iacute~urna defesa necessaacuteria para proteger o ego deacutebil de do afirshy uma anguacutestia persecutoacuteria excessiva Aplica-se aos objetos e tambeacutem a estrushyramcom fUras e fantasias Serve para separar o bom do mau mas tambeacutem o intershyns Coshy no__do externo e a realidade da fantasia A dissociaccedilatildeo do objeto possibilita do bebecirc que Se constitua o primeiro objeto bom interno como o nuacutecleo do ego e

do superego Deve-se poder separar suficientemente o objeto mau para que jo centro o aspecto bom idealizado do objeto e do selE possam estabelecer uma relashyem relashy ccedilatildeo segura dentro do ego Quando as anguacutestias persecutoacuterias decrescem a

) para se dissociaccedilatildeo diminui produzindo-se uma impulsatildeo para a integraccedilatildeo dos ob-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 99

jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

que fez ao

se vincula osprocesshy

~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

~pete

moshyaccedilatildeo ~das a alshyico lccedilatildeo rem por

~ que cada mreshyom a peso

bull siccedilatildeo laacutelise doloshymo e ta ou ilZ enshy0 exshy19ora ne faz

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1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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jetos e do ego Isto constitui a entrada na posiccedilatildeo depressiva O conflito mental fica assim definIdo como uma luta constante entre a possibilidade de dissociar e de integrar os objetos fora e dentro do selE

Esta ideacuteia kleiniana do desenvolvimento mental como um esforccedilo por realizar integraccedilotildees progressivas atraveacutes da elaboraccedilatildeo das anguacutestias e da luta constante do indiviacuteduo entre seus desejos de amor e de oacutedio afasta-se completamente do substrato bioloacutegico que Freud deu agrave sua teoria das pulshysotildees e tambeacutem da ideacuteia de conflito como uma luta entre o desejo de descarshyga pulsional e forccedilas internas e externas que se opotildeem a esta descarga

Nas pulsotildees para dissociar e integrar os objetos haacute para Klein uma intenccedilatildeo inconsciente junto a uma necessidade defensiva Isto faz com que o sujeito sempre tenha uma responsabilidade psiacutequica diante de seus progresshysos e de suas regressotildees Os objetos danificados ou reparados dentro do selE existem como uma realidade concreta em seu psiquismo tendo consequumlecircnshycias fundamentais para a sauacutede mental

Grotstein J (1981) em seu livro Splitting and Projective IdentiEication ocupa-se em examinar amplamente estes mecanismos defensivos em seu aspecto normal isto eacute como instrumentos da organizaccedilatildeo mental primitishyva e tambeacutem em sua participaccedilatildeo nas diferentes patologias Daacute prioridade agrave clivagem com o propoacutesito de reavaliar a importacircncia dos mecanismos dissociativos no desenvolvimento da personalidade

Entende-se que um dos propoacutesitos do tratamento seraacute auxiliar com a interpretaccedilatildeo o paciente para que possa integrar seus aspectos dissociados Esta dissociaccedilatildeo pode se efetuar de muacuteltiplas maneiras O paciente pode por exemplo dissociar como mau o viacutenculo com sua esposa e situar o ideashylizado com seu analista sentiraacute que ningueacutem pode entendecirc-lo tatildeo bem coshymo ele Se se interpretar somente a transferecircncia positiva e natildeo se levarem em consideraccedilatildeo os aspectos dissociados postos no viacutenculo matrimonal estar-se-aacute favorecendo o aumento dos conflitos internos e externos Tambeacutem se pode estabelecer uma dissociaccedilatildeo entre o objeto bom posto no presente e o objeto mau no passado O paciente sentiraacute entatildeo que a culpa de toshydo mal que se passa na vida eacute de seus pais que natildeo o quiseram o suficienshyte (objeto mau dissociado no passado) enquanto procura idealizar a relaccedilatildeo com o analista Toda interpretaccedilatildeo que natildeo faccedila justiccedila a ambos os aspecshytos do objeto dissociado natildeo poderaacute ajudar o paciente no caminho de sua integraccedilatildeo Klein insiste na necessidade de interpretar sistematicamente tanshyto a transferecircncia positiva como a negativa expliacutecita e latente do material da sessatildeo

A introjeccedilatildeo tambeacutem eacute um mecanismo essencial para a constituiccedilatildeo do psiquismo pois eacute por introjeccedilatildeo dos primeiros objetos que $~ccedilonstroshyem os objetos internos Isto permite a formaccedilatildeo do egoacuteecirc~-tambeacutem do supeshyrego Queremos acentuar novamente a ideacuteia kleiniana de que os objetos ~e se introjetam nunca satildeo uma coacutepia fid dos objetosexteJJlos~rn~ estes se encontram deformados por uma projeccedilatildeo das pulsotildees e sen_timent~

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onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

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nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

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sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 23: klein cap 5

onflito do sujeito Klein estaacute descrevendo com sua ideacuteia de mundo interno uma ~~ )ilidade nova concepccedilatildeo da mente Ao mesmo tempo que utiliza a segunda toacutepica de Freud pensa que os objetos introjetados vatildeo para o ego e tambeacutem para

rccedilo por o superego Como natildeo se pronuncia completamente por um dos dois modeshyias e da los ficaria por definir qual eacute a relaccedilatildeo entre o ego o superego e os objetos fasta-se internos ias pulshydescar- Identificaccedilatildeo projetiva Este mecanismo foi descrito por Klein em seu

ga artigo de 1946 e desde entatildeo se transformou em um conceito fundamental in uma para a teoria e a cliacutenica da escola kleiniana 1 mente tem a capacidade onishyom que potente de se liberar de uma parte do selE colocando-a em outro objeto progresshy Oresultado eacute uma confusatildeo da identidade uma perda da diferenccedila real enshy) do sel1 tre sujeito e objeto lsequumlecircnshy - O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmojordm~Iltiticanshy

do-secam o natildeo projetado _a_() objeto por sua vez satildeo atribuidosos aspecshyfication totildespr()Jetados dos quais o_sujeitose desprendeu E~ta seria para Klein em seu Uiila das beacuteses principais dos processos de confusatildeo EPEoduzido por ulIla primitishy motivaccedilatildeo pessoal que procura se livrar de certas partes de si mesmo O leishy

ioridade tor perceberaacute sem duacutevida a diferenccedila com as teorias inclusive as de relashyanismos ccedilotildees objetais que propotildeem uma indiferenciaccedilatildeo sujeito-objeto por deacuteficit

na maturaccedilatildeo Na teoria kleiniana os processos do desenvolvimento nunshyr com a ca satildeo meramente derivados da passagem do tempo e do progresso natural ociados mas obedecem a uma intenccedilatildeo inconsciente do sujeito O bebecirc pode precishyte pode sar para aliviar sua anguacutestia desprender-se de aspectos dolorosos de seu r o ideashy proacuteprio self usando a identificaccedilatildeo projetiva colocando-os em sua matildee Isshybem coshy to pode ser considerado adequado para seu desenvolvimento a partir de levarem um observador externo mas ao livrar-se de sentimentos dolorosos colocanshyimonal do-os em sua matildee esta adquiriraacute inexoravelmente um significado persecutoacuteshyTambeacutem rio para o bebecirc por exemplo a ameaccedila de que volte a inocular-lhe tais emoshypresente ccedilotildees Um paciente pode precisar contar as experiecircncias traumaacuteticas que lhe )a de toshy sucederam e nossa intenccedilatildeo seraacute de escutaacute-lo com compreensatildeo e benevolecircnshysuficienshy cia Mas se o processo de identificaccedilatildeo projetiva for intenso o paciente volshya relaccedilatildeo taraacute na proacutexima sessatildeo com medo de que lhe digamos coisas muito doloroshy)s aspecshy sas sem nenhuma consideraccedilatildeo para com ele Aleacutem de nossas boas intenshyo de sua ccedilotildees ele nos percebe a partir de suas proacuteprias projeccedilotildees e sua subjetividashy~nte tanshy de Klein procura explicar estes processos com o conceito de identificaccedilatildeo material projetiva Explicou-os como um mecanismo que permite desprender-se tanshy

todos aspectos maus como dos bons de algueacutem Neste uacuteltimo caso a motI~ Istituiccedilatildeo vaccedilatildeo pode ser por exemplo situar os aspectos bons fora do selE para preshy_ccedilonstroshy servaacute-los dos aspectos maus internos Uma paciente depressiva tinha a capashydo supeshy cidade diaboacutelica para encontrar um aspecto maravilhoso em cada pessoa ~~jeto~ que se aproximava e ao mesmo tempo isto lhe servia como base de compashy~~~ raccedilatildeo para se sentir denegrida e sem nenhuma qualidade Dissemos que sua ltimento~ capacidade era diaboacutelica porque se saiacutea de feacuterias com uma amiga esta era

A Psicanaacutelise depois de Freud 1101

para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

102

nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

Neste

106

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1S mashyintershy

mporshy~ pode

substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

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tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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para ela a pessoa mais haacutebil em esportes que se poderia encontrar diante da qual se sentia muito inaacutebil se ia a um concerto sentia que algueacutem sabia muitiacutessimo de muacutesica e ela natildeo quando se tratava de uma conversa social o ponto de comparaccedilatildeo era a grande cultura e conhecimentos das pessoas que a rodeavam diante da ignoracircncia que ela se atribuia Sempre havia uma clivagem tanto nela como nos outros que permitia separar qualidashydes que objetivamente natildeo deviam ser nem tatildeo maravilhosas nos outros nem tatildeo deficitaacuterias em si proacutepria Poder-se-aacute deduzir deste exemplo que um problema da transferecircncia era sua necessidade de idealizar intensamenshyte o analista clivando a insatisfaccedilatildeo e as reivindicaccedilotildees~ que sempre ficavam situados em outras situaccedilotildees de sua vida

Uma das consequumlecircncias da identificaccedilatildeo projetiva excessiva eacute que o

~dE n6ide

Jam~ proteger SQCcedilIacuteeacutelCcedilatildeo ja em u sentimer

Bar Melanie mo uma tendecircnci

~sratifi~ ego se debilita ficando submetido a uma dependecircncia extrema das pessoas nas quais se projetaram os aspectos bons para voltar a recebecirc-los delas ou os aspectos maus para controlaacute-los e assim poder se proteger da ameashyccedila de introjeccedilatildeo (4)

Em 1952 Klein propotildee um equiliacutebrio entre os processos de identificashyccedilatildeo projetiva e introjetiva como estruturantes do mundo externo e interno (1952a) Compreende-se que eacute essencial para a normalidade que este equiliacuteshybrio possa ser mantido Em seu belo trabalho sobre a identificaccedilatildeo (1955b) descreve a identificaccedilatildeo projetiva como um fenocircmeno normalLba~_da emshypatia e da possibilidade de comunicaccedilatildeo entre as pessoas eacute nossa capacidatilde~ de de nos colocarmos no lugar do outro que nos permite compr~ncl~-l()~_ Ao mesmo tempo pode ser entendido como um fenocircmeno normal ou pato- loacutegicosegundo sua intensidade e qualidade O essencial para o processo de integraccedilatildeo eacute que predomine o amor e natildeo o oacutedio na dissociaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo projetiva eacute explicada por Klein como a base de muitas situaccedilotildees patoloacutegicas (5) Se o sujeito tem a fantasia de se meter violentamenshyte dentro do objeto e controlaacute-lo sofreraacute um temor pela reintrojeccedilatildeo violenshyta a partir do exterior tanto no corpo como na mente Isto provoca difishyculdades na reintrojeccedilatildeo que levam a alteraccedilotildees no ego e no desenvolvimenshyto sexual podem levar o indiviacuteduo a se isolar em seu mundo interior refushygiando-se em um objeto interno idealizado As anguacutestias persecutoacuterias proshyvocadas pela fantasia de entrar agrave forccedila dentro do objeto satildeo uma das bases da paranoacuteia Se o temor predominante for o de ficar preso dentro do objeshyto pelo desejo de controlaacute-lo o indiviacuteduo sofreraacute de anguacutestias claustrofoacutebishycaso Tambeacutem os sintomas de impotecircncia podem ser entendidos como o teshymor de ficar preso dentro do corpo da matildee

A identificaccedilatildeo projetiva foi o instrumento teoacuterico com que os kleiniashynos abordaram a anaacutelise de pacientes psicoacuteticos e limiacutetrofes Desta maneishyra natildeo modificaram basicamente a teacutecnica da anaacutelise mas aprofundaram a compreensatildeo dos fenocircmenos psicoacuteticos investigando-os na transferecircncia

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nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

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tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

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iakleiniashy

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externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

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i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

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cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

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sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

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c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 25: klein cap 5

nte Idealizaccedilatildeo Eacute um mecanismo caracteriacutestico da posiccedilatildeo esquizo-parashytbia noacuteide Aumentam-se os traccedilos bons e protetores do objeto bom ou acrescenshyial tam-se-Ihe qualidades que natildeo tem Constitui uma defesa do ego para se oas proteger de uma perseguiccedilatildeo excessiva mantendo ao mesmo tempo a disshy

sociaccedilatildeo entre objetos idealizados e persecutoacuterios Portanto sempre que hashylvia ja em um paciente a necessidade de idealizar estaraacute se protegendo de umldashy

ros sentimento de anguacutestia que Baranger (1971) destaca que no seu livro Envidiacutea y gratitud (1957) lenshy Melanie Klein amplia a noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo entendendo-a natildeo apenas coshy

mo uma modalidade defensiva diante da angUstia mas tambeacutem como uma Iam tendecircncia inerente ao ser humano uma necessidade intriacutenseca de procurar a gratificaccedilatildeo perfeita Derivaria do sentimento inato de que haacute um seio exshyle o

soas tremamemte bom o que leva a sentir saudade dele e agrave capacidade de amaacuteshyelas lotilde Baranger hierarquiza esta nova noccedilatildeo de idealizaccedilatildeo nas ideacuteias kleiniashynea- nas pois crecirc que seria a raiz da capacidade humana de criar valores como

um elemento essencial para sua relaccedilatildeo com o mundo social e cultural em que se encontra ficashy

erno O conceito de idealizaccedilatildeo procura explicar certos fenocircmenos mentais que tambeacutem foram explicados em contextos teoacutericos diferentes Assim Lashyiuiliacuteshycan (1949) se ocupa da ordem do imaginaacuterio como uma necessidade inerenshy5b) te ao sujeito de estabelecer viacutenculos narcisistas que lhe produzam uma senshylemshysaccedilatildeo de completeza e de integridade Na teoria de Kohut (19711977 1983) cidashya idealizaccedilatildeo-dos objetos primaacuterios eacute indispensaacutevel para a integraccedilatildeo do lecirc-lo selE Este autor considera que eacute um fenocircmeno adequado e necessaacuterio porpatoshyisso o transfere agrave teacutecnica manifestando que haacute uma etapa do tratamento cesso em que o terapeuta deve fomentar no paciente uma idealizaccedilatildeo do analista como parte de um processo de reestruturaccedilatildeo do selE a fim de criar um viacutenshyluitas

menshy culo melhor do que o teve com seus pais Esta tese natildeo pode ser compartishylhada a partir dos conceitos kleinianos que estamos estudando pois signifishyolenshyca estimular uma dissociaccedilatildeo no paciente que potildee seus sentimentos de ideshy difishy

menshy alizaccedilatildeo na pessoa do analista e seus sentimentos de frustraccedilatildeo e perseguishyccedilatildeo no passado na relaccedilatildeo com os pais Para os kleinianos uma teacutecnicarefushydestas caracteriacutesticas fomenta a dissociaccedilatildeo do paciente e obstrui os processhy proshysos de integraccedilatildeo necessaacuterios para a sauacutede mental bases

Em Klein os problemas que resultam da idealizaccedilatildeo satildeo resolvidos objeshycom a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva Os objetos finalmente natildeo satildeo gtfoacutebishynem tatildeo bons nem tatildeo maus como propotildee o sistema de valores da posiccedilatildeoo teshyesquizo-paranoacuteide A criaccedilatildeo de valores eacute explicada como um processo de identificaccedilatildeo com os bons pais internos e natildeo requer necessariamente a insshyeiniashytauraccedilatildeo do processo de idealizaccedilatildeo Tambeacutem eacute verdade que esta teoria laneishytatildeo atenta aos processos internos do sujeito deteacutem-se pouco em estudar a laram relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e a cultura principalmente no plano dos valores ~ncia sociais ou culturais Talvez algumas ideacuteias lacanianas procurem explicar es-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 103

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

ento e prishylto quanto lexistentes

nizaccedilatildeo da imento e a seu artigo

pressivos poacutes a posishy

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~ se preocu-

Eacuteumaconshyquizo-parashyas mudam ~servar seus a luta consshylOS de defeshylue procura ltro do selE 19ora se reshyintegridade acircncia agrave dor os amados )s pais junshyncompletashy

ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 26: klein cap 5

tes fenocircmenos sob um acircmbito transpessoal enquanto que na teoria kleiniashyna todos os fatos satildeo estudados no terreno interno

Negaccedilatildeo Eacute um mecanismo onipotente pelo qual a mente nega a exisshytecircncia de objetos persecutoacuterios que diva e projeta no exterior Ao mesmo tempo o ego se identifica com os objetos internos idealizados com os quais se contrapotildee agrave ameaccedila persecutoacuteria

A ideacuteia de negaccedilatildeo em Klein descreve um mecanismo violento e prishymitivo negam-se as pulsotildees e fantasias da realidade psiacutequica tanto quanto os objetos que perturbam na realidade externa que se considera inexistentes

Posiccedilatildeo depressiva

Na teoria kleiniana a posiccedilatildeo depressiva eacute uma nova organizaccedilatildeo da vida mental constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade Klein a descreve pela primeira vez em 1935 em seu artigo Uma contribuiccedilatildeo para a psicogecircnese dos estados maniacuteaco-depressivos Pensa que ela se produz entre os trecircs e os seis meses de idade apoacutes a posishyccedilatildeo esquizo-paranoacuteide Eacute constituiacuteda por

1 anguacutestia depressiva o ego sente culpa e teme pelo dano que fez ao objeto amado com suas pulsotildees agressivas

2 relaccedilatildeo com um objeto total a matildee com a qual o ego se vincula tanto em seus aspectos bons como maus Aumentaram portanto os processhysos de integraccedilatildeo

3 o mecanismo de defesa principal eacute a reparaccedilatildeo atender e se preocushypar com o estado do objeto (interno e externo)

Esta nova estrutura natildeo eacute apenas um progresso maturativo Eacuteuma conshyfiguraccedilatildeo diferente onde os interesses narcisistas da posiccedilatildeo esquizo-parashynoacuteide que procuravam proteger o ego das ameaccedilas persecutoacuterias mudam para a preocupaccedilatildeo central que agora o ego tem de cuidar e preservar seus objetos tanto externos como internos O conflito depressivo eacute uma luta consshytante entre os sentimentos de amor e de agressatildeo Os mecanismos de defeshysa perdem sua onipotecircncia O mais importante eacute a reparaccedilatildeo que procura reconstruir os aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do selE Assim como antes os sentimentos agressivos os danificavam agora se reshyquer que o ego lhes decirc amor e cuidado para devolver-lhes a vida e a integridade

Os sentimentos que predominam nesta posiccedilatildeo satildeo a toleracircncia agrave dor psiacutequica e a culpa pelas fantasias agressivas para com os objetos amados Reconhece-se um sentimento de amor e dependecircncia para com os pais junshyto ao desamparo do ego e o ciuacuteme que causa natildeo nos pertencerem completashymente

Durante a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva o viacutenculo com a realidashyde externa se modifica Enquanto na posiccedilatildeo esquizo-paranoacuteide os objetos

104

iakleiniashy

ega a exisshy0 mesmo m os quais

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ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 27: klein cap 5

iakleiniashy

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ma realidashye os objetos

externos satildeo percebidos deformados pelas projeccedilotildees agressivas e libidinais divadas em dois mundos diferentes agora o viacutenculo com o mundo extershyno eacute por assim dizer mais realista pois eacute reconhecido em seus aspectos bons e maus com menos distorccedilotildees Haacute uma maior discriminaccedilatildeo entre fanshytasias e realidade assim como entre realidade externa e interna

Quando Klein descreve em 1935 a posiccedilatildeo depressiva sobrepotildee coshymo jaacute explicamos para o caso da esquizo-paranoacuteide uma teoria do desenshyvolvimento precoce com outra que eacute psicopatoloacutegica nesta uacuteltima a posishyccedilatildeo depressiva eacute o ponto de fixaccedilatildeo da doenccedila maniacuteaco-depressiva Klein pensa que as crianccedilas passam neste periacuteodo por dores e anguacutestias semelhanshytes agraves sofridas pelos adultos quando adoeccedilem de depressatildeo ou de psicose maniacuteaco-depressiva Por issso tambeacutem chama estas anguacutestias de psicoacutetishycaso Aqui se estabelece novamente uma confusatildeo entre o processo normal e o patoloacutegico A dificuldade eacute solucionada em parte quando nossa autoshyra estabelece que satildeo os problemas na elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que constituem um ponto de fixaccedilatildeo para futuras perturbaccedilotildees depressivas do adulto

Em 1940 amplia suas ideacuteias sobre a posiccedilatildeo depressiva ao incluir o luto como um fenocircmeno importante deste processo A hipoacutetese central eacute que a perda de um ente querido reativa a posiccedilatildeo depressiva infantil Eacute a perda da matildee como objeto amado que eacute revi vida em cada perda do adulto A possibilidade que cada indiviacuteduo tem de enfrentar o luto e se recuperar dele depende para Klein de como pocircde resolver a posiccedilatildeo depressiva infantil

O ego desenvolve uma capacidade crescente de controlar suas pulsotildees agressivas Isto eacute resultado natildeo da ameaccedila externa (como ocorre com a anshyguacutestia de castraccedilatildeo de Freud) mas do controle e renuacutencia que os sentimenshytos amorosos lhe exigem Assim por exemplo a resoluccedilatildeo do Eacutedipo precoshyce na posiccedilatildeo depressiva natildeo proveacutem totalmente da censura superegoacuteica dos pais proibindo os desejos incestuosos A proacutepria crianccedila por necessidashyde de preservar a uniatildeo entre os pais e o amor por eles procura controlar seus desejos ediacutepicos

Estas caracteriacutesticas da teoria kleiniana datildeo um valor axioloacutegico a suas premissas mais importantes principalmente as da posiccedilatildeo depressiva Natildeo significa evidentemente que o terapeuta imponha uma escala de valores agraves fantasias e conflitos do paciente Quanto mais se desenvolver o amor aos objetos acima dos desejos narcisistas e egoistas o resultado seraacute uma moral de maior benevolecircncia e generosidade

A saiacuteda do estado narcisista e tambeacutem a resoluccedilatildeo do conflito ediacutepishyco dependem do desenlace que a posiccedilatildeo depressiva tiver A neurose infanshytil compreende todas as estruturas defensivas estabelecidas para elaboraacute-la comeccedilando a se resolver quando as defesas maniacuteacas e obsessivas diminuem

A simbolizaccedilatildeo se relaciona com o processo de luto que permite reshycriar o objeto perdido dentro do selE Assim substitui-se a ausecircncia do objeshyto por um siacutembolo do mesmo implica criar um conceito uma recordaccedilatildeo

A Psicanaacutelise depois de Freud I 105

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 28: klein cap 5

i

uma capacidade de esperar que o objeto volte A posiccedilatildeo depressiva repete o luto precoce pelo seio embora deva ser pensada natildeo soacute como um moshymento evolutivo do desenvolvimento precoce mas como uma configuraccedilatildeo psiacutequica que se repete durante toda a vida diante de situaccedilotildees de perdas tanto externas como internas Mais uma vez deveraacute ser resolvida para alshycanccedilar a harmonia dos objetos internos que permita o bem-estar psiacutequico

Na teoria kleiniana o indiviacuteduo tem opccedilotildees diante de cada situaccedilatildeo Sua possibilidade de escolher dependeraacute da motivaccedilatildeo que prevalecer em seu psiquismo se o amor narcisista por si mesmo ou a preocupaccedilatildeo por seus objetos

Esta concepccedilatildeo daacute um certo otimismo em relaccedilatildeo agrave possibilidade que uma pessoa tem de mudar seu destino mental mas ao preccedilo de que cada sujeito assuma uma responsabilidade psiacutequica por todos seus atos sejam reshyais ou fantasiados Para dizecirc-lo de uma maneira simples de acordo com a teoria da posiccedilatildeo depressiva no mundo interno quem faz paga o peso de cada sentimento ou motivaccedilatildeo seria inexoraacutevel em nossa mente

A integraccedilatildeo dos objetos e dos sentimentos que se realiza na posiccedilatildeo depressiva permite entender o prazer que causa aos pacientes em anaacutelise conhecer mais sua realidade psiacutequica embora provocando sentimentos doloshyrosos Sente-se prazer em descobrir aspectos desconhecidos de si mesmo e juntar partes divadas Natildeo se trata apenas de um problema narcisista ou de superaccedilatildeo da rivalidade infantil Eacute uma experiecircncia vital que produz enshyriquecimento pessoal e um estado de bem-estar interno Uma paciente o exshypressou com simplicidade ao dizer Acabo de me dar conta que agora quando algo me acontece jaacute natildeo ponho a culpa nos outros e isso me faz sentir melhor

As defesas maniacuteacas Quando na posiccedilatildeo depressiva o ego precisa enfrentar sentimentos de culpa e de perda que se tomam acabrunhantes pode recorrer agraves defesas maniacuteacas

Hanna Segal (1964) seguindo as ideacuteias de Klein diz que se baseiam na negaccedilatildeo onipotente da realidade psiacutequica e se caracterizam pela triacuteade de triunfo controle onipotente e desprezo nas relaccedilotildees de objeto Existem fantasias onipotentes de dominar e controlar os objetos para natildeo sofrer por sua perda

Estas defesas satildeo consideradas normais no desenvolvimento como um primeiro passo para enfrentar os sentimentos depressivos Mas se a elashyboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva fracassar e os objetos natildeo puderem ser repashyrados produz-se uma regressatildeo agrave fase esquizo-paranoacuteide ou entatildeo estabeshylece-se um ponto de fixaccedilatildeo para a doenccedila maniacuteaca (6)

Na situaccedilatildeo analiacutetica eacute comum que o paciente manifeste defesas mashyniacuteacas para evitar sentimentos de perda diante do anuacutencio de uma intershyrupccedilatildeo de feacuterias poderaacute dizer que na realidade o tema natildeo eacute muito imporshytante O sentimento de triunfo se manifestaraacute quando acreditar que pode

substituir a al mar que a inl em algo mais gar que a ausecirc riza o objeto pela ferida nar

4 A teoria

Foi desen de onde descI1 becirc sente desdE de danificar os A inveja e a gn malmente no p as caracteriacutestia

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106

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 29: klein cap 5

~pete

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substituir a ausecircncia de sessotildees com atividades mais atraentes ou ao afirshymar que a interrupccedilatildeo vem bem porque assim pode empregar o tempo em algo mais urgente Em qualquer destas situaccedilotildees estaraacute procurando neshygar que a ausecircncia de seu analista pode lhe ser dolorosa Quando se desvaloshyriza o objeto a perda doacutei menos ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado

4 A teoria da inveja

Foi desenvolvida por Klein em 1957 em seu livro Envy and Gratiacutetushyde onde descreve a inveja primaacuteria corno urna pulsatildeo agressiva que o beshybecirc sente desde o comeccedilo da vida dirigida ao seio da matildee com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece A inveja e a gratidatildeo constituem dois fatores dinacircmicos que interagem norshymalmente no psiquismo a partir do nascimento determinando em parte as caracteriacutesticas das relaccedilotildees de objeto precoces

Neste trabalho tatildeo discutido Klein separa inveja de frustraccedilatildeo Natildeo satildeo os elementos frustrantes do objeto matemo ou da situaccedilatildeo ambiental que provocam a pulsatildeo invejosa Pelo contraacuterio esta proveacutem do sujeito eacute endoacutegena e sua finalidade eacute a de atacar o que o objeto tem de bom e valioshyso Afirma que os efeitos inconscientes da inveja interferem intensamente nos processos de gratidatildeo normal Propor que a inveja seja constitucional significa sublinhar o fator interno inato pessoal natildeo eacute originada na situashyccedilatildeo externa que decepciona ou frustra Pelo contraacuterio potildee-se em evidecircncia ou se acentua justamente quando o sujeito sente gratidatildeo Este seria o aspecshyto irracional paradoxal da inveja Aqui a teoria kleiniana volta a romper com a descriccedilatildeo naturalista de corno se sucedem os fenocircmenos que relacioshynam a realidade externa com a interna Se com nosso senso comum tendeshymos a pensar que ante urna situaccedilatildeo gratificante reagimos com bons sentishymentos Klein complica com esta ideacuteia que aponta o processo contraacuterio a inveja ataca o que outro nos oferece porque natildeo podemos tolerar que estas capacidades sejam alheias mesmo que no caso sejamos os beneficiaacuterios delas

No artigo Las teoriacuteas psicoanaliacuteticas de la envidia (1981) Etchegoyen e Rabih fazem urna clara revisatildeo dos antecedentes deste conceito em psicashynaacutelise Em primeiro lugar situam a teoria freudiana da inveja do pecircnis na mulher corno urna forccedila primaacuteria que dirige a evoluccedilatildeo de sua sexualidashyde e do complexo de Eacutedipo Em condiccedilotildees patoloacutegicas leva a urna grande deformaccedilatildeo do caraacuteter e a traccedilos masculinos ou agrave homossexualidade latenshyte ou consumada Freud natildeo se refere a urna pulsatildeo invejosa equivalente no homem Tampouco atribui agrave inveja do pecircnis a qualidade destrutiva qua a inveja kleiniana possui Depois mencionam Abraham e Eisler que falashyram da inveja corno um importante fator da personalidade vinculado a pulsotildees destrutivas na etapa oral do desenvolvimento psicossexual O ante-

A Psicanaacutelise depois de Freud 107

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

108

sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

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~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 30: klein cap 5

cedente que os autores consideram mais significativo para a teoria da inveshyja primaacuteria de Klein eacute o trabalho de Joan Riviere Jealousy as a mechanism of defence (1932) no qual estuda o caso de uma paciente com intensas reshyaccedilotildees de ciuacuteme diante do marido Riviere afirma que o ciuacuteme eacute uma defesa ego-sintocircnica da paciente para ocultar sentimentos invejosos para com ele que consistem na pulsatildeo de se apoderar de coisas que ele possui com intenshyccedilatildeo de tiraacute-las dele Estabelece-se uma comparaccedilatildeo entre o ciuacuteme como exshypressatildeo de uma relaccedilatildeo triangular e a inveja como um viacutenculo diaacutedico desshytrutivo que teria suas raiacutezes na relaccedilatildeo do bebfgt com o seio

Klein tinha mencionado esporadicamente desde os primeiros momenshytos de sua obra a existecircncia de sentimentos invejosos ligados agrave voracidade Satildeo fantasias de roubar esvaziar e destruir o corpo da matildee Em seu trabashylho de 1957 inclui a inveja como um elemento psicoloacutegico muito importanshyte no desenvolvimento precoce Denomina-a de primaacuteria isto eacute voltada para o seio da matildee primeiro objeto com que se vincula a mente do bebecirc Esta eacute uma das ideacuteias mais controvertidas do pensamento kleiniano Messhymo entre os autores que propotildeem a existecircncia de relaccedilotildees objetais desde o comeccedilo da vida a maioria natildeo aceita a inveja como pulsatildeo primaacuteria Nos sucessivos capiacutetulos deste livro veremos que o conceito de inveja eacute tambeacutem muito discutido por aqueles que sustentam a teoria do narcisismo primaacuterio uma etapa em que natildeo se reconhece o objeto externo ou se estaacute psicologicashymente fundido com ele

Esta divergecircncia teoacuterica determinou o afastamento de Paula Heimann do grupo kleiniano e tambeacutem marcou nitidamente as diferenccedilas com os aushytores do grupo britacircnico (Fairbairn Guntrip Winnicott e Balint) que penshysam que a agressatildeo eacute sempre secundaacuteria a uma falha ambiental

Outro aspecto polecircmico eacute que Klein fundamenta a existecircncia da inveshyja como forccedila endoacutegena na accedilatildeo da pulsatildeo de morte sobre o indiviacuteduo Surge agora a acusaccedilatildeo de instintivista que frequumlentemente eacute feita a esta teoria Pensamos que se pode concordar com o conceito de inveja primaacuteria sem que isso implique apoiar a ideacuteia de pulsatildeo de morte e sem que nos proshynunciemos como o faz Klein quanto a estas pulsotildees existirem na mente do receacutem-nascido Esta postura seria apoiada pelo estudo de muitas situashyccedilotildees cliacutenicas como o narcisismo as perversotildees ou a reaccedilatildeo terapecircutica neshygativa Em nossa opiniatildeo fatos desta iacutendole podem ser entendidos com mais riqueza e profundidade quando se considera o papel da inveja nos proshycessos mentais O mesmo ocorreria nos casos de tratamentos interminaacuteveis Algumas situaccedilotildees de transferecircncia negativa na sessatildeo satildeo produzidas peshylo ataque invejoso Eacute o caso em que o analista daacute uma interpretaccedilatildeo que provoca aliacutevio e melhora o acircnimo do paciente mas depois este procura desvalorizaacute-la com criacuteticas destrutivas usando para tanto elementos secunshydaacuterios ou marginais da interpretaccedilatildeo

Jaacute mencionamos em outras paacuteginas deste livro que haacute provavelmenshyte alguma semelhanccedila entre os conceitos kleinianos de inveja e os de Lacan

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sobre a tensatildeo agress tiva de comparaccedilatildeo

Klein destaca a iacute dade como pulsotildees como jaacute manifestam~

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

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mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

112

envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 31: klein cap 5

sobre a tensatildeo agressiva do narcisismo produzidos pela dialeacutetica intersubjeshym tiva de comparaccedilatildeo lugares que cada um ocupa e rivalidade mortiacutefera reshy K1ein destaca a importacircncia de diferenccedilar entre inveja ciuacuteme e voracishy~ dade como pulsotildees que interferem na introjeccedilatildeo do objeto bom A inveja le como jaacute manifestamos eacute um sentimento de oacutedio contra outra pessoa que

re~

possui uma qualidade desejada O ciuacuteme em compensaccedilatildeo existe em uma x- relaccedilatildeo triangular quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o es- rival Hanna Segal (1964) considera que o ciuacuteme eacute uma relaccedilatildeo de objeto

total enquanto a inveja ocorre especialmente com objetos parciais Quanshy

~nshy

do existe para com um objeto total perturba a elaboraccedilatildeo da posiccedilatildeo depres~ de siva A voracidade quer extrair tudo o que de bom o objeto possui E um bashy pulsatildeo insaciaacutevel que sempre exige mais do que o objeto pode ou quer dar anshy Seu objetivo principal natildeo eacute destruir como eacute o caso da inveja Por isso a ida inveja primaacuteria teria um resultado tatildeo prejudicial para o desenvolvimento becirc mental que ao arruinar as capacidades e bondades do objeto destroacutei a proacute~ les~ pria origem da bondade e da criatividade Na cliacutenica agraves vezes observamos eo misturas de ambas as emoccedilotildees Assim os sintomas de voracidade podem -Jos estar ligados a um componente invejoso Uma paciente sofria de ataques eacutem compulsivos de bulimia cada vez que a deixavam a soacutes Eram acompanha~ rio das de fantasias de roubo que devia ser feito agraves escondidas e quando tershyica~ minava de comer exageradamente provocava o vocircmito porque tinha a sen~

saccedilatildeo de que a comida incorporada danificaria seu organismo Isto eacute o ali~ ann mento incorporado tambeacutem era objeto de intensos ataques que o transforshy

m~

mavam em um elemento persecutoacuterio gten- Melanie K1ein integra a inveja a sua teoria das posiccedilotildees Se as pulsotildees

invejosas forem intensas atacam o objeto ideal que eacute o que provoca o senshyweshy timento invejoso alterando o processo de dissociaccedilatildeo normal da posiccedilatildeo luo esquizo-paranoacuteide Isto produz uma confusatildeo entre o bom e o mau natildeo esta se conseguindo dissociar o objeto ideal do persecutoacuterio ficando perturba~ iria dos gravemente os processos de introjeccedilatildeo do objeto bom que satildeo a base proshy para o ecircxito da estabilidade mental Assim fica dificultada a capacidade ente de gozo e criatividade Estabelec~se um ciacuterculo vicioso no qual a inveja im~ tuashy pede uma introjeccedilatildeo adequada e isto por sua vez acentua a inveja Os klei~ l neshy nianos consideram estas dificuldades precoces da introjeccedilatildeo e os processos com de fragmentaccedilatildeo dos objetos como a base de futuros transtornos psicoacuteticos proshy O excesso de inveja tambeacutem pode acentuar a dissociaccedilatildeo entre o objeto ideshyveis alizado e o persecutoacuterio o que impede sua posterior integraccedilatildeo e a elaborashyi pe- ccedilatildeo da posiccedilatildeo depressiva que Ao considerar algumas das defesas contra a inveja K1ein menciona

cura a) os mecanismos precoces de dissociaccedilatildeo onipotecircncia e negaccedilatildeo satildeo cun- reforccedilados pela inveja

b) a confusatildeo eacute muitas vezes usada de maneira defensiva para se opor menshy agrave perseguiccedilatildeo e tambeacutem agrave culpa por ter danificado o objeto bom lcan

au~

A Psicanaacutelise depois de Freud 109

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

114

Page 32: klein cap 5

c) a fuga da matildee para outras pessoas que satildeo idealizadas constitui uma defesa para se afastar das pulsotildees invejosas para com o objeto primaacuteshyrio se estas forem muito intensas ficam perturbadas as relaccedilotildees subsequumlentes

d) a desvalorizaccedilatildeo do objeto para diminuir o ataque invejoso e) a desvalorizaccedilatildeo da proacutepria pessoa como forma de negar a inveja f) procurar despertar inveja em outras pessoas para natildeo sentir a proacuteshy

pria leva a uma incapacidade de gozar com os proacuteprios ecircxitos e temor de danificar os objetos amados

g) sufocar tanto os sentimentos invejosos como os de amor o que se expressa como indiferenccedila muitas vezes estas pessoas procuram se afastar do contato com outras principalmente se lhe forem significativas

h) o acting out eacute empregado agraves vezes para manter a dissociaccedilatildeo evishytando a integraccedilatildeo dos sentimentos invejosos

O artigo De la interpretacioacuten de la envidia de Etchegoyen Loacutepez e Rabih (1985) destaca a importacircncia de detectar e interpretar os sentimentos invejosos no viacutenculo transferencial independentemente das controveacutersias sobre o desenvolvimento psiacutequico precoce ou a teoria pulsional Os autores confirmam a utilidade da teoria da inveja primaacuteria para resolver certos asshypectos da transferecircncia negativa Dizem

Em outras palavras o que se pretende quando se interpreta a inveja primaacuteria eacute que o analisante se decirc conta de que as pulsotildees hostis natildeo depenshydem da frustraccedilatildeo mas da intoleracircncia em receber algo de bom que o outro tem e oferece Se isto ocorrer o analisante aceitaraacute com mais intensidade que seus conflitos natildeo dependem apenas da conduta dos demais mas tamshybeacutem da proacutepria Desta forma a inveja pode gerar frustraccedilatildeo enquanto imshypede receber o que estaacute disponiacutevel Em outras palavras a relaccedilatildeo entre inveshyja e frustraccedilatildeo eacute de via dupla pois a frustraccedilatildeo provoca inveja e a inveja leva agrave frustraccedilatildeo (p 1022)

As pulsotildees invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeccedilatildeo do objeto bom for adequada o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e sua reparaccedilatildeo Klein pensa que a inveja pode ser resolvida em alguma extensatildeo na anaacutelise mas eacute evidente que esta teoria elaborada no uacuteltimo periacuteodo de sua vida apresenta uma importante limitaccedilatildeo agrave possibilishydade de ecircxito da anaacutelise principalmente se levarmos em conta que as pulshysotildees invejosas tambeacutem satildeo dirigidas ao ataque do objeto total da posiccedilatildeo depressiva o que explicaria as grandes dificuldades que agraves vezes surgem no processo de teacutermino de uma anaacutelise Dito de outra forma esta teoria forshynece elementos teacutecnicos que permitem abordar situaccedilotildees difiacuteceis e destrutishyvas no tratamento analiacutetico mas tambeacutem potildee um limite ao excessivo otishymismo terapecircutico que Klein tinha tido nos primeiros periacuteodos de sua obra

5 Algumas (

Se quiserm teremos de afim cia entre seus ac ao inverso com abre a partir de ra de facilitar en tos inconscientes

Desde os pr cas que marcaratildec sar os conflitos bull mente a tran bull J

Como como libidinais eacute supor que no amorosos como te a transferecircnd perto da comprJ dida de apoio pontacircneo de inconscientes va tal como

te atildes vezes tilidade para rias agraves quais libera-se o idealizaccedilatildeo do o analisando compreensatildeo tar-se-aacute a difererl pugnada por culo terapecircutico ciente se sinta Soacute o que pode pecircutico diraacute tias e defesas

110

~

mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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mstitui 5 Algumas consideraccedilotildees sobre a teacutecnica de Melanie Klein primaacuteshyuumlentes Se quisennos definir as caracteriacutesticas da teacutecnica psicanaliacutetica de Klein

teremos de afinnar em primeiro lugar que existe uma completa congruecircnshy inveja cia entre seus achados teoacutericos e as conclusotildees teacutecnicas que implementa E a proacuteshy ao inverso como jaacute manifestamos o campo de descobertas kleinianas se mor de abre a partir de uma teacutecnica inovadora incluir o jogo infantil como maneishy

ra de facilitar em seus pequenos pacientes a expressatildeo de fantasias e conflishyI tos inconscientes que se

Desde os primeiros trabalhos foram estabelecidas algumas caracteriacutestishyafastar cas que marcaratildeo o rumo posterior da teacutecnica kleiniana O objetivo eacute analishysar os conflitos e fantasias inconscientes o meacutetodo eacute explorar sistematicashyatildeo evishymente a transferecircncia

Como Klein sustentou a importacircncia que as fantasias tanto agressivasLoacutepeze como libidinais tecircm no desenvolvimento mental sua consequumlecircncia loacutegica imentos eacute supor que no viacutenculo com o analista produzir-se-atildeo tanto sentimentos oveacutersias amorosos como hostis pelo que seria necessaacuterio interpretar sistematicamenshyautores te a transferecircncia positiva e a negativa para que o paciente possa chegar ~rtos as-perto da compreeensatildeo de sua realidade psiacutequica Klein repele qualquer meshydida de apoio ou conforto que apenas serviria para mascarar o suceder esshya inveja pontacircneo de ocorrecircncias que nos pennitem descobrir o futuro dos eventos ) depenshyinconscientes do paciente Ao interpretar a transferecircncia positiva e negatishyo outro va tal como-aparece na mente do enfenno o analista com sua interpretashynsidade ccedilatildeo ajuda-Io-aacute a integrar os sentimentos ambivalentes em seus viacutenculos dolas tamshypresente e do passado na realidade externa e em seu mundo interno Qualshyanto imshyquer medida teacutecnica que favoreccedila a dissociaccedilatildeo dos sentimentos ajuda-nos tre inveshy

a inveja na integraccedilatildeo que eacute um dos principais objetivos terapecircuticos Eacute necessaacuterio quando se quer obter estes ecircxitos que o terapeuta tolere a transferecircncia neshygativa do paciente quando este a expressa consciente ou inconscientemenshyltrojeccedilatildeo te atildes vezes pode ser tentador por exemplo aceitar o deslocamento da hosshylano dos tilidade para o passado aos viacutenculos do paciente com suas figuras primaacuteshyvida em rias agraves quais ele atribui muitas vezes todos os seus males Desta fonna lrada no libera -se o viacutenculo transferencial de sentimentos hostis e ateacute se propicia a possibilishyidealizaccedilatildeo do terapeuta Isto segundo as ideacuteias de Klein natildeo ajudaria que e as pulshyo analisando avanccedilasse em direccedilatildeo de sua sauacutede mental ou adquirisse uma I posiccedilatildeo compreensatildeo adequada de seu presente e de seu passado Sem duacutevida noshy surgem tar-se-aacute a diferenccedila existente entre esta concepccedilatildeo teacutecnica da anaacutelise e a proshywria for-pugnada por outras correntes Segundo Klein a maneira de assegurar o viacutenshydestrutishyculoterapecircutico desde os primeiros momentos do tratamento eacute que o pashyssivo otishyciente se sinta aliviado em suas anguacutestias e compreendido pelo terapeuta sua obra Soacute o que pode dar ao paciente esta seguranccedila e confianccedila no processo terashypecircutico diraacute Klein eacute que o analista interprete em profundidade as anguacutesshytias e defesas em suas relaccedilotildees de objeto

A Psicanaacutelise depois de Freud 111

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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Page 34: klein cap 5

Klein sempre centrou sua atenccedilatildeo nas anguacutestias do paciente para elas deve se dirigir desde o comeccedilo a interpretaccedilatildeo o que permite que emerjam novas fantasias e anguacutestias de outras camadas do inconsciente Se nossa aushytora daacute uma importacircncia central agrave emotividade e agrave fantasia para compreenshyder o que estaacute ocorrendo com o paciente eacute loacutegico que aplique igual criteacuterio para o caso da transferecircncia O analista estaacute intensamente comprometido com as vivecircncias que o paciente exterioriza sendo portanto o viacutenculo transshyferencial o eixo principal do desenvolvimento da sessatildeo atilde medida que Klein definiu seu novo modelo da estrutura mental centrado na ideacuteia de uma reshyalidade psiacutequica povoada por objetos internos a sessatildeo foi entendida coshymo uma exteriorizaccedilatildeo desta realidade psiacutequica

A ideacuteia de transferecircncia tal como foi descrita por Freud como ocorshyrecircncias conscientes que o paciente tem com a figura do analista detendo o fluxo de suas associaccedilotildees eacute ampliada por Klein com o conceito de transfeshyrecircncia latente O paciente repete com o analista a estrutura de seus viacutenculos de objeto anguacutestias e defesas e isso constitui inexoravelmente o que transshyfere para a sessatildeo e para a pessoa do analista embora natildeo saiba que o estaacute fazendo e natildeo tenha associaccedilotildees concretas com a pessoa do analista Isto marca uma linha teacutecnica muito importante na escola kleiniana A sessatildeo eacute vista como uma situaccedilatildeo total as associaccedilotildees sonhos lapsos etc satildeo entenshydidos no contexto da sessatildeo e particularmente em seu significado com a figura do analista como representante de algum objeto interno do pacienshyte Tambeacutem aqui podemos indicar uma diferenccedila substancial com a anaacutelishyse lacaniana O analista kleiniano natildeo estaacute agrave procura de lapsos sintomas etc como expressotildees privilegiadas do inconsciente Certamente que quanshydo ocorram leva-Ios-aacute em consideraccedilatildeo Poreacutem sua principal funccedilatildeo eacute se deixar envolver pelo ~lima emocional da sessatildeo receber todas as projeccedilotildees que o paciente indefettivelmente faraacute sobre ele ser muito sensiacutevel agraves manishyfestaccedilotildees transferenciais e contra-transferenciais para de todo esse suceder extrair a estrutura baacutesica (anguacutestia que prevalece e mecanismos de defesa caracteriacutesticos da relaccedilatildeo de objeto nesse momento) que marca o ponto de urgecircncia da sessatildeo Isto eacute o que teraacute de interpretar De acordo com Freud o analista propotildee ao paciente estudar e resolver as fantasias e conflitos das relaccedilotildees de objeto entre ambos Seraacute tarefa do paciente usar estes insights para aplicaacute-los na vida quotidiana e em seus viacutenculos

Mencionamos agrave ideacuteia de contra-transferecircncia Eacute importante esclarecer que Klein quase natildeo utilizou este conceito apenas o mencionando em seu trabalho sobre a inveja (1957) Sua formulaccedilatildeo como instrumento de comshypreensatildeo do paciente foi realizada por dois autores posteriores Racker (1948) e Heimann (1950) Klein descreveu em 1946 o mecanismo de identishyficaccedilatildeo projetiva pelo qual o paciente pode onipotentemente dissociar um aspecto de sua mente e projetaacute-lo em outra pessoa por exemplo o anashylista O paciente fica identificado com o natildeo projetado e por sua vez o analista seraacute para ele um aspecto inconsciente de si mesmo Este processo

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envolve intensam uma confusatildeo ent um estado mental mesmo tempo p( uma interpretaccedilatilde ideacuteia de contra-trl prios conflitos ino rios para poder do o que ali

Aqui se co Freud pensam carga pulsional

~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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~las am aushy~enshy

~rio ido msshylein reshycoshy

orshylo o lsfeshyulos ansshyestaacute Isto atildeo eacute ltenshyma ienshynaacutelishymiddotmas uanshyeacute se ccedilotildees lanishy~der ~fesa onto eud das ights

recer I seu omshylcker entishy)ciar anashy~z o esso

envolve intensamente ambos os protagonistas provocando no paciente uma confusatildeo entre realidade externa e interna O analista deve contar com um estado mental adequado de modo a se envolver emocionalmente e ao mesmo tempo poder sair deste compromisso afetivo transformando-o em uma interpretaccedilatildeo que devolva ao paciente os aspectos projetados Eis a ideacuteia de contra-transferecircncia O analista deve conhecer e manejar seus proacuteshyprios conflitos inconscientes como parte dos instrumentos teacutecnicos necessaacuteshyrios para poder analisar bem estas situaccedilotildees que se sucedem na sessatildeo Tushydo o que ali acontece deve se transformar em compreensatildeo

Aqui se apresenta um problema interessante do ponto de vista teacutecnishyco Freud pensava que o conflito era produzido por uma dificuldade na desshycarga pulsional portanto era necessaacuterio interpretar as resistecircncias por seshyrem o testemunho direto dos recalcamentos ou mecanismos defensivos que ao impedir esta descarga provocavam o sintoma ou a perturbaccedilatildeo do caraacuteshyter O conhecimento e elaboraccedilatildeo estatildeo ligados agrave ideacuteia de levantar os recalshycamentos permitindo uma melhor soluccedilatildeo do conflito Para Klein o que importa eacute compreender as anguacutestias que se desenvolvem na relaccedilatildeo de objeshyto e tambeacutem os mecanismos de defesa destinados a dissociar negar projeshytar etc aspectos da personalidade O insight deve permitir o conhecimento e a reintegraccedilatildeo destes aspectos dissociados e projetados do selE Isso permishytiraacute uma compreensatildeo vivencial do conflito e principalmente uma maior integraccedilatildeo da personalidade As mesmas ideacuteias podem ser explicadas em outros termos os processos de introjeccedilatildeo e projeccedilatildeo regem o processo analiacuteshytico graccedilas a isso o paciente mobiliza na sessatildeo suas relaccedilotildees de objeto internas projetando-as no analista este mediante a interpretaccedilatildeo possibilishytaraacute que tais relaccedilotildees de objeto se modifiquem que o paciente possa entatildeo reintrojetaacute-Ias modificadas em sua estrutura

Quando Klein formula a teoria das posiccedilotildees (1946 1952) define-se um objetivo terapecircutico central elaborar a posiccedilatildeo depressiva para obter a integraccedilatildeo do objeto e do ego O insight consistiraacute em juntar emoccedilotildees carishynhosas e hostis em relaccedilatildeo a um mesmo objeto com os consequumlentes sentishymentos de culpa e responsabilidade O ponto crucial natildeo eacute somente compreshyender mas tolerar a dor mental que estes sentimentos produzem

Um dos poucos escritos que Klein dedica a problemas de teacutecnica eacute On the cri teria for the termination of a psycho-analysis (1950) Nele expressa que se chega agrave etapa final de uma anaacutelise quando foram diminuiacutedas suficienshytemente as anguacutestias paranoacuteides e depressivas mediante a elaboraccedilatildeo repetishyda de ambas as posiccedilotildees

Em The origins of tranference (1952b) reafirma que as interpretashyccedilotildees devem explicar tanto as relaccedilotildees de objeto precoces que se reatualizam e evoluem na transferecircncia como as fantasias inconscientes que o paciente tem em sua vida atual Aqui sua perspectiva geneacutetica da transferecircncia proshyblema que jaacute discutimos antes eacute completada pela feliz ideacuteia de situaccedilatildeo to-

A Psicanaacutelise depois de Freud I 113

tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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tal Deve-se interpretar simultaneamente o que ocorre no presente e o que aconteceu no passado

Bibliografia baacutesica Klein M (1928) Estadios tempranos dei complejo de Edipo Obras completas vol 2 pag 179

Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1930) La importancia de la formacioacuten de siacutembolos en el desarrollo dei yo Obras completas vol 2 p 209 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1935) Una contribuicioacuten a la psicogeacutenesis de los estados maniacuteaco-depresivos Obras comshypletas vol 2 p 253 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1946) Notas sobre algunos mecanismos esquizoides Obras completas vol 3 capo 9 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952) AIgunas concusiones teoacutericas sobre la vida emocional dellactante Obras compleshytas vaI 3 capo 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1952a) Los oriacutegenes de la transferenciacutea Obras completas vol 6 p 261 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes 1974 (1957) Envidia ygratitud Obras completas vol 6 Grinberg L Ed Buenos Aires Paidoacutes ]974

Segal H (1964) Introduccioacuten a la obra de Melanie Klein Buenos Aires Paidoacutes 1965

NOTAS

(]) Entre os bons textos gerais sobre a obra kleiniana que podem ser consultados estaacute o de Eisa dei Valle (1979) La obra de Melanie Klein (2) Haacute anos escrevemos com outros colegas dois trabalhos Cuerpo conocimiento y realidad (Etshychegoyen R H et a1 1980) e EI concepto de realidad en Melanie Klein (Etchegoyen R H et ai 1984) em que nos detivemos em estudar os conceitos que acabamos de desenvolver (3) Embora diversos autores concordem que o vocabulaacuterio freudiano foi deformado pelas diversas traduccedilotildees continua-se a utilizar termos como ansiedade instintos impulsos instintivos e cateshyxias entre outros ao inveacutes de anguacutestia pulsotildees moccedilotildees pulsionais e investimentos como se demonstrou ser correto apoacutes muita discussatildeo Propomo-nos nesta e nas demais traduccedilotildees a pashydronizar o vocabulaacuterio psicanaliacutetico valendo-nos do Vocabulaacuterio de psicanaacutelise de Laplanche e Pontalis a quem o leitor pode se remeter sempre que necessaacuterio (Nota do tradutor) (4) Liberman (1956) estudou a incidecircncia da identificaccedilatildeo projetiva no conflito matrimonial (5) Joseph Sandler (1986) discutiu o conceito de identificaccedilatildeo projetiva durante sua visita agrave Associashyccedilatildeo Psicanaliacutetica de Buenos Aires haacute alguns anos Suas ideacuteias foram comentadas por Benito Loacutepez e Jorge Ahumada (6) Joan Riviere uma autora destacada e pioneira do grupo kleiniano na introduccedilatildeo ao livro Deveshylopments in psycho-analysis (1957) tambeacutem enfatiza que o aspecto essencial da defesa maniacuteaca eacute a intenccedilatildeo de enfrentar as anguacutestias depressivas Considera-as em certos aspectos como um passo normal do desenvolvimento

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