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1 Rogate 264 ago/08 OPINIÃO OPINIÃO A Transfiguração como vocação ao serviço Carlos André Câmara N o Brasil o mês de agosto é, por ex- celência, dedicado pela Igreja às vocações. Nesse contexto merece uma atenção muito especial a festa cele- brada em 06 de agosto: a Transfiguração do Senhor. Os evangelhos sinóticos nos re- latam em detalhes este evento. Todavia, o sentido da Transfiguração é bem mais am- plo do que se percebe à primeira vista, e muitas chaves de leitura podem ser utili- zadas em sua compreensão. Nossa abordagem é na ótica vocacional. A partir do relato de Mateus sobre a Trans- figuração, por exemplo, podemos identifi- car elementos vocacionais, que também estão presentes nos textos de Marcos e Lucas. Para a análise exige-se o cuidado de a Transfiguração não ser retirada de seu contexto literário. Ou seja, o texto só tem sentido completo se pensado com as de- mais perícopes que o antecedem e o se- guem. Sendo assim, a Transfiguração não pode ser vista apenas como a manifesta- ção gloriosa do Senhor, pois outros pontos devem ser considerados: o que ela implica e o que exige de cada um. O texto que antecede a perícope da Transfiguração especifica as condições ne- cessárias para se seguir a Cristo. Confor- me Mt 16,24-27, Jesus, ao conversar com seus discípulos, aponta as exigências para o seguimento. O caminho do discipulado exige renúncia de si mesmo, abnegação em tomar a própria cruz, e chega até mesmo ao sacrifício, à doação da própria vida. Cris- to não indica um caminho fácil, de comodi- dades e satisfações pessoais. Essa é a vo- cação do discípulo, é o chamado feito a quem deseja seguir os passos de Cristo e construir o projeto do Pai. Nesse contexto de chamamento voca- cional, a Transfiguração, mais que um mo- mento de prazer ou êxtase, torna-se o ame- nizar da cruz daqueles que aceitam realizar o discipulado. Cruz e glória unem-se. Exi- gência e realização caminham juntas. A vocação comporta momentos de dor e de alegria. Esse é o verdadeiro sentido da Transfiguração de Cristo. Não é um ins- tante de puro intimismo, desprovido de sentido comunitário ou de compromisso. Ao contrário, ela é a recompensa pelo com- prometimento com a causa do Reino, com o assumir o caminho da cruz na vida diá- ria. Assim, é parte essencial no processo de vocação de todo discípulo. Viver a Transfiguração é assumir a vo- cação, assumir a cruz do serviço, confian- te na alegria que o espera. O discípulo fiel é aquele capaz de, tanto no momento da cruz quanto no momento da alegria, recor- dar-se de que sua vida não é só dor nem alegria eterna, mas um serviço constante. Por isso, o chamado de Jesus para que os discípulos desçam do monte após contem- plarem sua glória. Vocacionalmente, a Transfiguração tem seu início e término no chamado ao serviço, ao discipulado, caso contrário poderia levar à alienação. A nós fica sempre o desafio do segui- mento de Jesus Cristo, sabendo que, como ele, também nós, um dia, nos transfigu- raremos.

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1Rogate 264 ago/08

O P I N I Ã OOPINIÃO

A Transfiguração comovocação ao serviço

Carlos André Câmara

No Brasil o mês de agosto é, por ex-celência, dedicado pela Igreja àsvocações. Nesse contexto merece

uma atenção muito especial a festa cele-brada em 06 de agosto: a Transfiguraçãodo Senhor. Os evangelhos sinóticos nos re-latam em detalhes este evento. Todavia, osentido da Transfiguração é bem mais am-plo do que se percebe à primeira vista, emuitas chaves de leitura podem ser utili-zadas em sua compreensão.

Nossa abordagem é na ótica vocacional.A partir do relato de Mateus sobre a Trans-figuração, por exemplo, podemos identifi-car elementos vocacionais, que tambémestão presentes nos textos de Marcos eLucas. Para a análise exige-se o cuidadode a Transfiguração não ser retirada de seucontexto literário. Ou seja, o texto só temsentido completo se pensado com as de-mais perícopes que o antecedem e o se-guem. Sendo assim, a Transfiguração nãopode ser vista apenas como a manifesta-ção gloriosa do Senhor, pois outros pontosdevem ser considerados: o que ela implicae o que exige de cada um.

O texto que antecede a perícope daTransfiguração especifica as condições ne-cessárias para se seguir a Cristo. Confor-me Mt 16,24-27, Jesus, ao conversar comseus discípulos, aponta as exigências parao seguimento. O caminho do discipuladoexige renúncia de si mesmo, abnegação emtomar a própria cruz, e chega até mesmoao sacrifício, à doação da própria vida. Cris-to não indica um caminho fácil, de comodi-dades e satisfações pessoais. Essa é a vo-

cação do discípulo, é o chamado feito aquem deseja seguir os passos de Cristo econstruir o projeto do Pai.

Nesse contexto de chamamento voca-cional, a Transfiguração, mais que um mo-mento de prazer ou êxtase, torna-se o ame-nizar da cruz daqueles que aceitam realizaro discipulado. Cruz e glória unem-se. Exi-gência e realização caminham juntas.

A vocação comporta momentos de dore de alegria. Esse é o verdadeiro sentidoda Transfiguração de Cristo. Não é um ins-tante de puro intimismo, desprovido desentido comunitário ou de compromisso.Ao contrário, ela é a recompensa pelo com-prometimento com a causa do Reino, como assumir o caminho da cruz na vida diá-ria. Assim, é parte essencial no processode vocação de todo discípulo.

Viver a Transfiguração é assumir a vo-cação, assumir a cruz do serviço, confian-te na alegria que o espera. O discípulo fielé aquele capaz de, tanto no momento dacruz quanto no momento da alegria, recor-dar-se de que sua vida não é só dor nemalegria eterna, mas um serviço constante.Por isso, o chamado de Jesus para que osdiscípulos desçam do monte após contem-plarem sua glória. Vocacionalmente, aTransfiguração tem seu início e términono chamado ao serviço, ao discipulado, casocontrário poderia levar à alienação.

A nós fica sempre o desafio do segui-mento de Jesus Cristo, sabendo que, comoele, também nós, um dia, nos transfigu-raremos.

2 Rogate 264 ago/08

NESTA EDIÇÃO

Entrevista“Uma história de serviço à Igreja” 03

EstudoUma vocação à beira do caminho 10

EspecialMês Vocacional reflete e aprofundachamado à vida e missão 14

Animação VocacionalEscravos de si mesmos 17

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoJesus, nosso formador pessoal 24

EDITORIAL

Capa: Cartaz do Mês Vocacional 2008, produzido pelaComissão Pastoral para os Ministérios Ordenados e aVida Consagrada, da CNBB (Conferência Nacional dosBispos do Brasil).

Escuta, aprende e anuncia! Estas ati-tudes do discípulo em missão esta-rão presentes nas reflexões do gran-

de evento deste mês vocacional em nossocontinente. O 3º Congresso MissionárioAmericano, considerado também a oitavaedição do latino-americano (CAM 3 -COMLA 8), acontece em Quito, Equador,de 12 a 17 de agosto, com o tema: “A Igrejaem discipulado missionário”. Escutar ochamado de Deus, através dos sinais dostempos, aprender no cotidiano de nossasvidas a partir dos ensinamentos do mestrede Nazaré, e, finalmente, anunciar o pro-jeto de vida, justiça, paz e amor, eis nossavocação e missão! A Rogate deu destaqueao CAM 3 - COMLA 8 na edição anterior,motivando animadores e animadoras aaprofundarem o texto preparatório na co-munidade. Justamente neste mesmo perí-odo, dias 15 a 17 de agosto, o Instituto dePastoral Vocacional - IPV - estará reunidoem assembléia eletiva e festiva, em SãoPaulo (SP). São 15 anos de serviço à Igre-ja, na área das vocações e ministérios (cf.“Entrevista”).

Que este mês vocacional nos revigoreem nosso chamado à vida e missão, tor-nando-nos uma família, unida pelo mes-mo ideal (cf. “Especial”).

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalA Palavra de Deus nosconvoca a optar pela vida!

ENCARTES

Ano XXVII - nº 264Agosto de 2008

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESArmando Del Mercato (capa), Geraldo Tadeu

Furtado, Osmar Koxne (Triguito),Patrício Sciadini e Vito Domenico Curci

CONSELHO EDITORIALIzabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves daSilva, Dilson Brito Rocha, Maria da Cruz

Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

SEDE CENTRAL/CONTATOSDireção, Editoria, Secretaria e Administração:

Tel./Fax: (11) 3932-1434 / 3931-3162E-mail: [email protected]

Http://www.rogate.org.brRua Comandante Ferreira Carneiro, 99

02926-090 São Paulo SP Brasil

ASSINATURA ANUALNacional: 40 reais (10 edições ao ano)Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares

América - 30 dólaresEuropa - 50 euros

Pagamento por Cheque Nominal, Vale Postal(agência 72.300.159-SP) ou Depósito Bancá-rio - Banco Bradesco, agência 117-1, conta nú-mero 92.423-7, Centro Rogate do Brasil (CNPJ:83.660.225/0004-44). Neste caso, enviar ocomprovante por fax, correio ou e-mail, comnome e endereço completos.

Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

3Rogate 264 ago/08

ENTREVISTAENTREVISTA

“Uma história de serviço à Igreja”

O Instituto de Pastoral Vocacional(IPV) completa 15 anos e, paracelebrar esta trajetória de serviçoàs vocações, a revista Rogateentrevista Pe. Ângelo Mezzari,presidente do conselho superiorda entidade

Religioso rogacionista, padre Ânge-lo Ademir Mezzari tem 51 anos e énatural de Forquilhinha, cidade que

na época de seu nascimento era um distri-to de Criciúma (SC). Em fevereiro de 1969ingressou na Congregação Rogacionista,no Seminário Pio XII, de Criciúma. Apóssua ordenação presbiteral, em 1984, ini-ciou o curso de Jornalismo pela Universi-dade Federal do Paraná e fez mestrado emTeologia Dogmática na Faculdade NossaSenhora da Assunção, da arquidiocese deSão Paulo.

Atuou como formador nas etapas daFilosofia e Teologia dos rogacionistas, e foidiretor do Instituto Rogacionista Aníbal DiFrancia, uma das obras sociais da Congre-gação, na cidade de São Paulo. Participouda diretoria da União Cristã Brasileira deComunicação (UCBC), de 1992 a 1996,como tesoureiro, e presidiu o ConselhoMunicipal de Assistência Social de SãoPaulo, de 2000 a 2002. Foi membro por vá-rios anos do Grupo de Assessoria Voca-cional do então Setor Vocações e Ministé-

rios da Conferência Nacional dos Bisposdo Brasil (CNBB). Atualmente está no se-gundo mandato como Provincial da Con-gregação dos Rogacionistas do Coração deJesus, Província Latino-americana.

Participa ativamente do Instituto de Pas-toral Vocacional (IPV) desde sua fundação,em 1993. Presidiu a diretoria executiva pornove anos (1993-2002) e atualmente, des-de o ano 2002, preside o conselho superior,formado pelos provinciais dos institutos re-ligiosos que compõe a entidade.

Autor de diversos artigos na área voca-cional e da assistência social, Pe. ÂngeloMezzari concedeu entrevista à Rogate erelata um pouco da história da entidadenestes 15 anos a serviço das vocações.

Rogate: Tendo participado da fundaçãodo IPV e sendo presidente do seu conselhosuperior, como avalia o trabalho desenvolvi-do pela entidade?

Ângelo Mezzari: A avaliação é bastan-te positiva. São 15 anos de uma história deserviço à Igreja no campo das vocações e

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4 Rogate 264 ago/08

ENTREVISTA

dos ministérios. Antes de tudo porque sou-be responder a um apelo da Igreja do Bra-sil que chamou as congregações e institu-tos de carisma vocacional para servir opovo de Deus, na dinâmica da evangeliza-ção. Da mesma forma respondeu às exi-gências da vida consagrada, com o apoio eincentivo da Conferência dos Religiosos doBrasil (CRB), na busca da inserção eclesialna riqueza dos próprios carismas. Exigiuainda, dos institutos-membros, unidade,comunhão, partilha, articulação. Houve umgrande progresso, através de um trabalhohumilde, mas consistente, contínuo e pro-gressivo, planejado e condividido.

Rogate: Acredita que a fundação do IPVé fruto de um amadurecimento da consci-ência vocacional na Igreja do Brasil?

Ângelo Mezzari: A fundação do IPV écertamente parte de um processo real dematuridade eclesial. Há uma história quefoi sendo construída, sobretudo a partir doConcílio Vaticano II, e passa pelas Confe-rências Episcopais latino-americanas e as-sembléias gerais dos bispos do Brasil. Temmarco importante no 1º Ano Vocacional em1983 e consolidação nos dois congressosvocacionais de 1999 e 2005. Manifesta tam-bém a maturidade, abertura e generosida-de dos institutos-membros, já que seuscarismas são evangélicos e estão a servi-ço da comunidade. Expressa a dimensãoministerial de toda a Igreja, na diversida-de de dons e carismas dados pelo Espíritopara o bem comum. Exprime a inserção eo serviço da vida consagrada

Rogate: Como vê a participação dosinstitutos-membros no gerenciamento da en-tidade?

Ângelo Mezzari: As congregações eos institutos que compõem o IPV têm uma

participação ativa, compromissada e gene-rosa. Apresenta as dificuldades e limitescompreensíveis na realidade atual, como ade recursos humanos e financeiros. Istoevidentemente incide sobre a disponibili-dade para ampliar os serviços e dar maisqualidade às suas ações. A característicamarcante do IPV é o gerenciamento com-partilhado, onde membros dos vários ins-titutos compõem as instâncias executivase administrativas. Isto é profético, é umsinal próprio da vida consagrada, a parti-lha dos dons, carismas, bens e serviços.As assembléias periódicas de seus mem-bros e dos superiores maiores dos institu-tos que compõem o IPV permitem mantera unidade e a comunhão, na mesma mis-são. Para cada um, o IPV é parte de suamissão na Igreja e no mundo.

Rogate: É possível que haja uma aber-tura para a participação de outras congre-gações com forte atuação no campo vocacio-nal, mas que não tenham carisma especifi-camente vocacional?

Ângelo Mezzari: O IPV se caracte-riza por comportar, entre seus membros,instituições que tenham explicitamenteum carisma vocacional, determinandosua missão na Igreja. Inclusive com umcaráter canônico e jurídico. Toda congre-gação ou instituto que tenha esta identi-dade pode participar, inclusive os Insti-tutos Seculares e Sociedades de VidaApostólica. A estrutura e organização doIPV exigem uma série de compromissos,é uma associação juridicamente consti-tuída e reconhecida eclesial e socialmen-te. Quanto às instituições que não sãoespecificamente de carisma vocacional,podem fazer parte indiretamente, atra-vés de suas atividades, projetos, parce-rias, serviços, produções.

5Rogate 264 ago/08

ENTREVISTA

Rogate: A assembléia do IPV deste mêsde agosto é eletiva. A seu ver, o que seráprioritário para o próximo conselho superi-or e a próxima diretoria executiva?

Ângelo Mezzari: Antes de tudo, man-ter a fidelidade à missão do IPV, seucarisma próprio. O que significa fidelidadeao evangelho e à Igreja. É importante aco-lher, nas dimensões teológi-cas e pastorais, o Documentode Aparecida. Deve buscarsempre, e cada vez mais, o en-volvimento, compromisso eparticipação dos institutos-membros, como também a co-munhão com a Igreja e a vidareligiosa, seu caminho de in-serção e serviço. Do ponto devista mais organizacional eoperativo, a continuidade doplanejamento interno, na mul-tiplicidade de projetos, nosvários setores de atuação. E abusca de parcerias para suasações, com a captação de re-cursos financeiros.

Rogate: A Escola de Pre-paração para Animadores Vo-cacionais (ESPAV), do IPV,nasceu de uma iniciativa deDom Joel Ivo Catapan, quetrouxe a prática da Espanha.Poderia resgatar um pouco desta história?

Ângelo Mezzari: Dom Joel foi um bis-po apaixonado pelas vocações e a elas de-dicou parte de seu ministério. Foi chama-do de o Bispo das Vocações no 1º Congres-so Vocacional (1999), e realmente o é. Fa-leceu alguns meses antes desse evento.Nas primeiras escolas vocacionais, quan-do coordenava e se fazia presente, conta-va que buscava algo significativo para a

animação vocacional. Em suas andançaspelo mundo encontrou o Instituto dos Pa-dres Operários Diocesanos, na Espanha,uma Sociedade de Vida Apostólica, hojemembro do IPV. Ele convidou este insti-tuto para ministrar os primeiros cursospara formação de agentes, na época como apoio do Regional Sul 1 (São Paulo), do

qual era coordenador da áreavocacional. Com o tempo aidéia se alastrou e hoje é umarealidade em todo o Brasil.Após Dom Joel ter confiadoao IPV a gestão da escola vo-cacional, houve uma amplia-ção e mudanças normais,como a atualização de suametodologia e conteúdo, umasistematização por etapas, aacolhida das novas orienta-ções da Igreja do Brasil, umanova forma de condução e ad-ministração, com o envolvi-mento dos membros do IPV,a difusão e parceria com osvários regionais da CNBB eda CRB (Conferência dos Re-ligiosos do Brasil), com no-vas respostas às novas de-mandas dos animadores e for-madores vocacionais.

Rogate: Que outras contri-buições têm sido dadas pelo IPV para o ser-viço de animação vocacional do Brasil?

Ângelo Mezzari: O IPV, desde o seuinício, concentrou sua ação em três seto-res. Um deles tem sido a formação dosanimadores e animadoras vocacionais,como base para um serviço vocacional dequalidade, na perspectiva de uma Igrejaministerial. Isto através dos vários cursos,assessorias, tendo a escola vocacional

A fundaçãodo IPV é

certamenteparte de umprocesso real

de maturidadeeclesial

6 Rogate 264 ago/08

ENTREVISTA

como uma ação específica e completa,abrangendo especialmente as dimensõesteológica, bíblica e pastoral. Outro setor éo de pesquisa, buscando aprofundar as vá-rias dimensões das vocações e do serviçode animação vocacional. Produção de livrose subsídios, contribuição nos conteúdosdos congressos vocacionais e do ano voca-cional são algumas de suas preocupaçõese ações. E, por último, o setor das publica-ções e subsídios, distribuindo e propagan-do os vários materiais existentes, como acoleção “Cadernos Vocacionais”, os filmesvocacionais, caso da trilogia “Além das ilu-sões”, “Agora a decisão é tua” e “Cami-nhos abertos”. A divulgação é feita pormeio impresso e virtual (www.ipv.org.br).Enfim, há uma boa e consistente diversi-dade de serviços prestados.

Rogate: Qual a relação do IPV com ou-tros organismos que também trabalham eestão a serviço da animação vocacional?

Ângelo Mezzari: Pode-se afirmar queo IPV, por estar a serviço, sempre teve umarelação construtiva, eclesial, de fidelidadeao magistério e de colaboração com as vá-rias instâncias responsáveis pela animaçãovocacional. É uma presença de comunhão,unidade, serviço. No Brasil destaca-se a co-laboração e participação no então Setor Vo-

cações e Ministérios da CNBB e na atualComissão Pastoral para os Ministérios Or-denados e a Vida Consagrada (CMOVC).Exemplos concretos são as participaçõesem todas as etapas dos dois congressosvocacionais em âmbito nacional, no anovocacional de 2003, no Grupo de Assesso-ria Vocacional. Contribuição que passa tam-bém pelos inúmeros cursos, escolas, pro-dução de subsídios, livros, vídeos. Esta re-lação é frutuosa na medida em que se vivea comunhão, no respeito das especificida-des e autonomias, não confundindo os pa-péis e responsabilidades. Deve-se lembrartambém que o IPV contribui com a forma-ção de seus próprios institutos-membros,com uma série de ações, como o simpósioanual de estudos e os encontros bienaisdos noviços e junioristas.

Rogate: Celebramos em 2008 o jubileudo 1° Ano Vocacional do Brasil (1983). Oque significou para a Igreja a realizaçãodeste evento?

Ângelo Mezzari: É um marco históri-co na vida da Igreja do Brasil. Praticamen-te neste ano se definem e se impostam asgrandes linhas da animação vocacionalcomo parte da missão da Igreja, expres-sando sua riqueza e diversidade. Tanto istoé verdade que os frutos foram aparecendoprogressivamente, no cuidado de todospara com as vocações, no enfrentamentomais intenso da crise que se manifestava,no envolvimento das comunidades eclesi-ais. Foi a afirmação de uma consciência vo-cacional. A celebração do jubileu permitefazer a justa memória, resgatar seus prin-cípios e valores, perceber o presente evisualizar também o futuro.

Rogate: Diante de um tempo em que sevaloriza o relativismo, em sua opinião, o

O “veme segue-me”serásempreumapelodesafia-dor

7Rogate 264 ago/08

ENTREVISTA

tema do 1° Ano Vocacional, “Vem e Segue-me”, continua mais atual e comprometedordo que nunca?

Ângelo Mezzari: Sob todos os aspec-tos é um apelo eterno, porque vem de Je-sus Cristo. Certamente mudaram as mo-dalidades, as dinâmicas, os espaços, o pú-blico. Mas sempre haverá o convite quevem através de tantas mediações. A res-posta precisa ser de cada um, pessoalmen-te, de quem se sente interpelado e con-vocado. A Igreja, em suas instâncias e ser-viços, será sempre uma mediadora, ne-cessária, fundamental, no acompanha-mento, discernimento e formação. Porqueo mais importante é seguir Jesus, na di-versidade de serviços e ministérios quesurgem, por graça de Deus, na comuni-dade. A sociedade de hoje se sustenta noindividualismo, no relativismo, na buscadesenfreada da satisfação pessoal, no con-sumismo. Os valores fundamentais davida humana e da fé são relegados. O“vem e segue-me” será sempre um ape-lo desafiador.

Rogate: Ingressamos em agosto, perío-do em que a Igreja do Brasil, desde 1981,celebra o Mês Vocacional. O que significoupara o serviço de animação vocacional a ins-tituição desta celebração?

Ângelo Mezzari: O mês vocacionaltem uma história significativa e é parte de-cisiva de um processo que permitiu mobi-lizar a Igreja e chamar a atenção sobre to-das as vocações. Na época fez-se necessá-rio, inseriu-se em um itinerário litúrgico,com a ocorrência de alguns eventos (o diado padre, a família e o dia dos pais, aassunção e a vida consagrada). Sabemosque na prática pastoral alguns tempos for-tes e algumas datas permitem consolidare marcar determinadas coisas. O mês vo-

cacional está arraigado na vida das comu-nidades. Recordo-me que em alguns mo-mentos e encontros de planejamento foilevantada a hipótese de encerrar esta prá-tica. Mesmo que algumas outras indica-ções tenham sido tomadas, e as mudan-ças ocorrem ao longo do tempo, criou-seum hábito que certamente favoreceu, emuito, o serviço da animação vocacional.Evidentemente, do ponto de vista da açãoevangelizadora, não haveria necessidadede meses ou dias temáticos, já que o anolitúrgico permite um processo de vida ede amadurecimento capaz de responder atodas as demandas do povo de Deus, in-cluída a vocacional. Ou seja, a evangeli-zação, sobretudo a partir da liturgia diá-ria e dominical, é vocacional, ministeriale servidora.

Rogate: O fato de cada semana de agos-to valorizar uma vocação específica contri-bui para que todo batizado se reconheça umvocacionado?

Ângelo Mezzari: Neste contexto va-loriza e contribui para que todos os bati-zados se reconheçam como vocacionados,chamados e enviados, na vida e missão daIgreja. Mas é importante ressaltar queeste mês deve estar associado à valoriza-ção e ao incentivo permanente para quetodas as vocações sejam promovidas, a sa-ber, dos ministros ordenados, da vida con-sagrada e religiosa, dos cristãos leigos eleigas, na possibilidade de tantos servi-ços e ministérios na comunidade, e seulugar no meio do mundo. A família é o lu-gar, a escola, a sementeira das vocações.É importante lembrar que o batismo é osacramento-base de toda vocação e mis-são, aquele que nos insere na vida e co-munhão da Trindade, como também navida e comunhão da Igreja.

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Rogate: O Documento de Aparecida res-salta a importância de que os cristãos leigose leigas assumam seu papel na sociedade...

Ângelo Mezzari: É o grande desafioda Igreja e dos próprios cristãos leigos eleigas. A questão do protagonismo laical,na perspectiva do sacerdócio comum de to-dos os fiéis, é o grande serviço a ser pres-tado. É uma vocação própria, única, cha-mados e enviados no meio das realidadese da história. Alimentados pelos sacramen-tos, na vida e prática da fé e no compro-misso da evangelização, os cristãos leigosassumem seu papel de testemunhas e si-nais, capazes de incidir na vida social, po-lítica, econômica, gestar uma nova culturada fé. São chamados a ser sal e luz, a partirdos valores evangélicos. Colocar em prá-tica isto não é simples. Os documentoseclesiais, incluso o de Aparecida, ressal-tam esta dinâmica do discipulado e damissionariedade, que responde a este ape-lo e a este significado da vocação laical, quedeve ser promovida e sustentada como asoutras vocações.

Rogate: Qual sua opinião em se reali-zar um novo Ano Vocacional em 2013?

Ângelo Mezzari: Todo evento, nestaamplitude e dimensão, sempre é positivo.É suficiente lembrar os resultados e fru-tos dos anos vocacionais anteriores (1983e 2003). Não é suficiente, porém, ter even-tos como estes isolados de um processo.

Faz-se necessário dar continuidade ao quese fez e apresentar novidade capaz de ge-rar um novo espírito e um novo coração.Ou seja, devem existir condições favorá-veis, planejar com antecedência, envolvertodas as instâncias e setores eclesiais, fa-zer chegar às bases eclesiais a reflexãoproposta, favorecer a participação e co-res-ponsabilidade. Fundamental é a prepara-ção, o aprofundamento temático, a articu-lação, estabelecimento de prioridades euma programação que incida posterior-mente nos planos das dioceses, dos regio-nais e das comunidades. Quanto ao temapossível, visto ser um evento que abrangea Igreja como um todo, poderia ser em re-lação ao discipulado missionário, decorren-te do batismo.

Rogate: Após celebrar dois congressosvocacionais em âmbito nacional, qual a ex-pectativa do IPV na realização de um ter-ceiro?

Ângelo Mezzari: A expectativa de umterceiro congresso vocacional é positiva,e não é só do IPV, deve ser de todos os queanimam as vocações na Igreja do Brasil.Antes da realização do primeiro congres-so havia uma proposta de ao menos ver apossibilidade de realizar congressos a cadacinco anos. Nesta dinâmica aconteceramdois congressos (1999 e 2005), com um anovocacional intermediário (2003), lembran-do os 20 anos do primeiro ano vocacional.

ENTREVISTA

Missa no Santuário de Aparecidamarca os 15 anos do IPV

De 15 a 17 de agosto acontece a assembléia do Instituto dePastoral Vocacional (IPV), em São Paulo (SP). O encerramen-

to será no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida(SP), no dia 17, domingo, com a celebração eucarística em ação degraças pelos 15 anos de fundação, às 10 horas.

9Rogate 264 ago/08

Se fôssemos pensar na continuidade, o ter-ceiro congresso deveria ser em 2010. E jáse deveria iniciar a preparação neste ano,com ao menos dois anos de antecedência.Há exigências quanto ao conteúdo, aotema, metodologia, participação, texto-base, processo de envolvimento e articu-lação com as dioceses, os regionais.

Rogate: Teria sugestão de tema?Ângelo Mezzari: Penso que seria pos-

sível e bom inserir-se na dinâmica do pro-cesso desencadeado na Conferência deAparecida. Ou seja, o serviço de animaçãovocacional como parte da grande missãocontinental, da grande missão na comuni-dade eclesial, fortalecendo este vínculo,unidade e comunhão, aprofundando aquiloque é próprio dele, chamar, acompanhar ediscernir a vocação dos discípulos missio-nários para o serviço da evangelização,construindo o Reino de Deus. Creio quehaveria uma continuidade com os anterio-res e um aprofundamento do ponto de vis-ta bíblico, teológico e pastoral.

Rogate: De acordo com sua avaliação,as orientações do 2° Congresso Vocacionaldo Brasil, realizado em 2005, têm sido colo-cadas em prática?

Ângelo Mezzari: Antes de tudo, o con-gresso já foi fruto de um processo maisprofundo do serviço de animação vocacio-nal, sua identidade e missão, abrindo-separa a questão da inculturação, da espiri-tualidade, da pedagogia e do planejamentovocacional, do itinerário vocacional. O Do-cumento Final expressou os desafios exis-tentes e as grandes linhas de ação. Creioque está havendo em todos os âmbitos,setores e instâncias, acolhida e aplicação,através de tantos cursos, escolas vocacio-nais, na formação dos agentes, nas diver-

sas assembléias e encontros. Muitasdioceses, regionais e paróquias buscaramresponder aos apelos do congresso. Talveza grande dificuldade tenha sido o não cum-primento pleno daquilo que está no núme-ro 47 do Documento Final, que indica aelaboração de “um planejamento vocacio-nal em âmbito de Brasil”, bem como ou-tras indicações importantes. O pós-congres-so daria uma consistente continuidade e fa-voreceria um planejamento mais amplo e,a médio e longo prazos, de modo mais ar-ticulado. Isto certamente se deve a mui-tos fatores e limites do processo, e nemsempre o responsável tem a solução. É pre-ciso continuar construindo, buscando, esempre é tempo de avançar e planejar, poistodos somos responsáveis e servidores naanimação vocacional.

Rogate: Que mensagem gostaria de ofe-recer aos nossos animadores e animadorasvocacionais?

Ângelo Mezzari: Uma mensagem deconfiança no Senhor da Messe, o Pai, paraque continue enviando operários e operá-rias para a sua messe. A Jesus Cristo, aquem seguimos, pedimos que continuechamando a tantos para servir a Igreja, opovo de Deus, na grande riqueza, multi-plicidade e complementaridade das voca-ções e ministérios. E fidelidade ao Espíri-to Santo, força e fogo, que anima, inspira epurifica a cada um, na sua vida e serviço.Do ponto de vista pastoral creio ser im-portante que todos os animadores vocacio-nais acolham, meditem, aprofundem oDocumento de Aparecida, que nos traz ariqueza e o apelo de sermos discípulos mis-sionários. E a animação vocacional temeste importante serviço de despertar,discernir, cultivar e acompanhar a vocaçãodos discípulos missionários da Igreja.

ENTREVISTA

10 Rogate 264 ago/08

Neste Ano Paulino (28/06/2008 a 29/06/2009) nos propomos a meditarsobre alguns aspectos do itinerá-

rio vocacional deste seguidor de JesusCristo, o qual não pertenceu ao grupo dosDoze, mas nutria plena consciência de suavocação apostólica (cf. Rm 1,1; Gl 1,1). Tam-bém vamos assinalar os traços mais salien-tes da personalidade de Paulo evangeliza-dor, teólogo, fundador e organizador de co-munidades ricas em ministérios e carismassuscitados pelo Espírito (cf. 1Cor 12,4-11).

Paulo, um dos vocacionados mais co-nhecidos do Novo Testamento e do qualtemos muitos dados biográficos, é modelode adesão incondicional a Jesus Cristo, deardor missionário e das mudanças radicaisque podem passar no coração humano. Eleencontrou o Ressuscitado no decorrer docaminho.

Um encontro vocacionala caminho de Damasco

Paulo é sem dúvida um gigante na fé,testemunha do Crucificado-Ressuscitado emodelo de pessoa entregue à causa do evan-gelho. Sua vida passou por uma profundareviravolta depois de um encontro vocacio-nal com Jesus Cristo no caminho de Damas-co (cf. At 9,1-19; 22,3-21: 26,9-18).

Na estrada para Damasco ele fez uma

experiência profunda de encontro com Je-sus Cristo, que transformou a sua vida,mudou seus ideais e seus objetivos. A par-tir desta experiência, Paulo compreendeuque Deus não é apenas o criador do mun-do e o Rei de Israel, mas é o Pai de Jesus ede toda humanidade. O encontro com oSenhor ressuscitado é o início de uma pro-funda mudança na vida deste vocacionado,que passou de perseguidor a apóstolo deJesus Cristo, desenvolvendo sua missãonas cidades colônias do poderoso impérioromano ou nas suas sedes administrativascomo Filipos, Corinto e Éfeso.

Conhecido como perseguidor dos cris-tãos e adversário de Cristo (cf. 1Cor 15,9;Gl 1,13; Fl 3,6), Paulo não conheceu o Je-sus histórico. Mas sua conversão radical ea intensidade com a qual assumiu sua vo-cação de discípulo e missionário do Senhormarcaram profundamente o cristianismo edeterminaram os rumos da evangelizaçãona Igreja nascente.

A centralidadede Jesus Cristo

Ao aproximar-se de Paulo é comumperguntar qual foi o centro da vida e dareflexão deste vocacionado. A resposta, pormais contornos e variantes que receba dosestudiosos, indicará sempre a pessoa de

E S T U D OESTUDO

Uma vocação à beira do caminho

“Paulo, apóstolo - não da parte dos homens nem porintermédio de um homem, mas por Jesus Cristo e Deus Pai

que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1,1)

11Rogate 264 ago/08

Jesus Cristo. Para este antigo fariseu,“hebreu filho de hebreu” (Fl 3,5-6), de ci-dadania romana (cf. At 25,11-12; Rm 13,1-7), natural de Tarso (cf. At 21,29), princi-pal cidade da província romana de Cilícia,localizada no entroncamento do orientecom o mundo ocidental, e famosa pela es-cola filosófica do estoicismo, a vida tem umcentro: Jesus Cristo.

A formação de Paulo, recebida em am-biente farisaico dedicado a zelar e preparara vinda do Salvador mediante uma vida pie-dosa a partir da observância rigorosa da lei,ajuda-nos a compreender sua esperançamessiânica, sua fé na ressurreição e acentralidade de Jesus Cristo em sua vida, aponto de afirmar: “Já não sou eu que vivo,mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).Seguir o Mestre da Galiléia até as últimasconseqüências foi a sua opção vocacional.Anunciá-lo e levar o evangelho por tantoslugares foi sua missão. E desde o encontroinesperado com Cristo no caminho de Da-masco até o último instante de sua vida deutestemunho do crucificado Ressuscitado.

Paulo foi quem descobriu as praçascomo área de missão e valorizou as casascomo lugar de encontro e pólo de irradia-ção do anúncio do evangelho (cf. At 16,40;17,17; 18,7; 20,7-8). Pregou a Boa Nova às

pessoas humildes, bem como à elite inte-lectual de Atenas (cf. At 17,19ss), enfren-tou dificuldades internas nas comunidadescom os “superapóstolos” (2Cor 11,5) eaprendeu a não ter preferências de pesso-as (cf. Rm 2,11). A todos anunciou JesusCristo, morto e ressuscitado, com profun-da convicção e amor.

De vocacionado escritora evangelizador artesão

Autor de sete cartas do Novo Testamen-to, escritas em grego (1Ts, 1 e 2Cor, Rm,Gl, Fl, Fm), e de outras tantas a elededicadas, nas quais refletem seus ensina-mentos, Paulo descobre que o evangelhonão se resume a um corpo doutrinal. Paraele, Jesus Cristo é o evangelho de Deus, oqual torna-se o centro de sua vida, da suavocação e da sua missão evangelizadora.

Convertido, afirma que aprendeu a serpobre (cf. 1Cor 4,12) e renuncia sua posi-ção social de fariseu com cidadania roma-na. Sua vocação e missão são mantidaspelo trabalho manual que realizava comsimplicidade (cf. At 18,3). Recordamosque o serviço artesanal era apreciado noambiente hebraico, que medita o livro deGênesis, onde Deus aparece como um tra-balhador (cf. Gn 1-2) e reconhece a digni-

ESTUDO

12 Rogate 264 ago/08

dade da atividade manual (cf. Jó 28,9-11;Eclo 38,27-32).

Oposta era a concepção do trabalhomanual na cultura grega e romana, a qualprivilegiava a dedicação à formação inte-lectual ou do espírito e considerava o ser-viço manual como uma atividade das pes-soas escravas ou de pouca instrução. Pau-lo, que renunciou a seu status social, tinhaconsciência de pertencer à classe dos pe-quenos e humildes (cf. 2Cor 11,7).

Este seguidor de Jesus Cristo tem ple-na consciência de ser um exemplo paratodos os vocacionados e comunidades (cf.2Tm 3,10). Hebreu da diáspora, conhece-dor da cultura grega e romano-latina, Pau-lo é um modelo de dedicação à causa doevangelho e inspiração a todos os vocacio-nados. Trata-se de um seguidor de JesusCristo que demonstrava uma grande ca-pacidade de trabalho evangelizador. E sa-bia afrontar os desafios e as tensões damissão, apesar de trazer no próprio corpoalguma enfermidade a qual ele mesmo con-siderava “como um espinho na carne”(2Cor 12,7).

Vocacionado culto emissionário humilde

Vocacionado da primeira geração cris-tã, da tribo de Benjamim (cf. Rm 11,1),ex-militante do judaísmo e aluno brilhan-te da escola do mestre Gamaliel (cf. At22,3), Paulo se apresenta como um segui-dor fiel de Jesus Cristo com grande forçaespiritual e profunda consciência de suavocação apostólica (cf. Rm 1,1: Gl 1,1).Tinha uma inteligência especulativa, sin-tética e prática. Com profundidade e luci-dez tratava os temas mais importantes dafé e gostava de usar algumas imagens dacultura grega na sua evangelização (cf.1Cor 9,24; 2Tm 4,7).

ESTUDOAno Paulino

OAno Paulino, anunciado pelo papaBento XVI em 2007, em homenagem

aos 2000 anos do nascimento do apóstoloPaulo de Tarso, começou no dia 28 de ju-nho último e se estenderá até o dia 29 dejulho de 2009. Há um site na Rede Mundialde Computadores (www.annopaolino.org)com informações gerais, incluindo as pos-sibilidades de peregrinações e uma oraçãoao apóstolo homenageado:

Ó glorioso São Paulo,apóstolo repleto de zelo,mártir por amor a Cristo,dai-nos uma profunda fé,uma firme esperança,um ardente amor pelo Senhor,para que possamos dizer convosco:“Já não sou eu que vivo,mas é Cristo que vive em mim”.

Ajudai-nos a sermos apóstolosque servem a Igrejacom uma consciência pura,testemunhas de sua verdade e belezaem meio às obscuridadesde nosso tempo.

Convosco louvamos Deus, nosso Pai,“a ele a glória, na Igreja e em Cristo,por todos os séculos dos séculos”.Amém.

Bento XVI, quando do anúncio do AnoPaulino, na homilia das primeiras vésperasda Solenidade de Pedro e Paulo, realizadana Basílica de São Paulo fora dos muros(28/06/07), lembrou que Paulo passou deviolento perseguidor dos cristãos a apósto-lo de Jesus, e por ele “sofreu e morreu”. Eexclamou: “Como é atual, hoje, o seu exem-plo!”. O nascimento de Paulo é colocadopelos historiadores entre o ano 7 a 10 de-pois de Cristo. O papa indicou, ainda, queRoma será o local privilegiado para a cele-bração do Ano Paulino, pois a cidade con-serva o túmulo de São Paulo.

13Rogate 264 ago/08

Gilson Luiz Maia

Em aproximadamente 15 anos, Paulopercorreu cerca de 10 mil quilômetros apé, a cavalo ou navegando, enfrentando asmais diferentes situações por amor a Je-sus Cristo (cf. 2Cor 11,25). De personali-dade complexa, que suscitava adesão en-tusiasta ao evangelho ou hostilidade e re-jeição, Paulo sabia trabalhar em equipe ecriou uma rede de colaboradores nas co-munidades, dentre os quais podemos ci-tar: João Marcos, Timóteo, Silas, Áquila,Priscila, Erasto, Aristarco e muitos secre-tários, como Tércio e Gaio (cf. Rm 16,22).

Conhecido como “apóstolo dos genti-os”, costumava se dirigir aos vocaciona-dos de Jesus chamando-os de “filhos”, “ir-mãos”, “amados” ou“caríssimos”. Era ter-no, humilde e abertoao diálogo. Mas tam-bém sabia ser duro,agressivo e chegou aexperimentar momen-tos de conflitos comaqueles que não acolhi-am seu trabalho pastoral. Pau-lo nos ensina a seguir JesusCristo e a viver plenamente ochamado de Deus, que nos co-loca na dinâmica da missão edá vida às comunidades dasquais ele se considerava ser-vidor - diácono (cf. 1Cor 3,5;2Cor 4,5).

A evangelizaçãodos povos

Consagrado à causa daevangelização de todos os po-vos, Paulo foi um incansávelmissionário apaixonado porJesus Cristo. Sua vida e voca-ção é o melhor exemplo de

como Jesus Cristo pode transformar a vidae a história de um ser humano. Sua con-versão, seu ardor apostólico e dedicaçãomotivam todos os vocacionados no fiel se-guimento de Jesus Cristo e no trabalhoevangelizador das comunidades.

Quanto ao estado civil de Paulo, as opi-niões são divergentes. Clemente e Oríge-nes afirmam que ele foi casado. Lucas, nolivro dos Atos dos Apóstolos, não faz ne-nhuma declaração a este respeito. Algu-mas cartas insinuam uma vida celibatária,mas os biblistas divergem nas interpreta-ções (cf. 1Cor 7-9) e há quem chegue a fa-lar de uma viuvez precoce (cf. 1Cor 9,5-12). Todas estas hipóteses têm seu grau

de plausibilidade.No contexto do fa-

risaísmo, no qual Pau-lo foi educado, o casa-mento era quase umaobrigação. De outraparte temos notíciasde mestres em Israelque optaram por uma

vida célibe para se dedicaremao estudo da Torá. Havia tam-bém o grupo dos essêniosque escolhiam uma vida celi-batária e o exemplo do pró-prio Jesus. A única certeza éque Paulo, depois do encon-tro com o Ressuscitado na es-trada de Damasco, entregou-se inteiramente à causa doevangelho e por ela derra-mou o próprio sangue emRoma, capital do grande e po-deroso império, onde sofreuo martírio, sendo decapitadona primavera do ano 61.

ESTUDO

Fotos: www.vatican.va

Basílica de São Paulo, forados muros, em Roma, e

imagem ampliada do santo

14 Rogate 264 ago/08

Cartazes e material de divulgação es-tão circulando nas comunidadesneste mês vocacional, produzidos

pela Comissão Pastoral para os MinistériosOrdenados e a Vida Consagrada (CMOVC)da Conferência Nacional dos Bispos do Bra-sil (CNBB). O tema foi escolhido na reu-nião conjunta da CMOVC, realizada em ou-tubro de 2006, em Jundiaí (SP), com o obje-tivo de estar em continuidade com o temade 2007, “Igreja, povo de Deus a serviço davida” (cf. Boletim Convocação, 70-71, jul-dez/06, p. 11-12). Na reunião da CMOVCem Brasília (DF), no mês de abril de 2008,decidiu-se elaborar o material de divulga-ção, com o tema: “Família de Deus: todoschamados à vida e à missão”, e o lema: “Soisconcidadãos dos santos e membros da fa-mília de Deus” (Ef 2,19). Além disso, con-cordou-se em destacar o jubileude prata do primeiro Ano Voca-cional do Brasil (1983-2008),com iniciativas locais (cf. Rogate,263, jun-jul/08, p. 08-11).

O panfleto popular contendo ailustração do cartaz do mês voca-cional traz uma citação do Docu-mento de Aparecida, motivando aotema: “Jesus faz dos discípulos seus

Comissão da CNBB responsável pelo setor das vocaçõesdivulga material com o tema: “Família de Deus: todos

chamados à vida e à missão”, e o lema: “Sois concidadãos dossantos e membros da família de Deus” (Ef 2,19)

ESPECIALESPECIAL

Mês Vocacional reflete e aprofundachamado à vida e missão

familiares, porque compartilha com eles amesma vida que procede do Pai e lhes pede,como discípulos, uma união íntima com ele,obediência à Palavra do Pai, para produzi-rem frutos de amor em abundância” (DA133). A intimidade proposta por Jesus nosleva a dar uma resposta que entre na dinâ-mica do Bom Samaritano, fazendo-nos pró-ximos dos marginalizados.

Uma outra citação do mesmo documen-to recorda que todo discípulo é tambémmissionário, “pois Jesus o faz partícipe desua missão, ao mesmo tempo em que o vin-

Ilust

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15Rogate 264 ago/08

ESPECIAL O cartaz do mês vocacional

Conscientes de nossa pertença à famí-lia de Deus, onde “todos os seus mem-

bros adquirem igual dignidade e participamde diversos ministérios e carismas”, somoschamados a assumir e viver a vocação emissão específicas.

Celebrando os 25 anos do 1º Ano Voca-cional, a Igreja no Brasil nos convida, nestemês de agosto, para que oremos, reflitamose celebremos o chamado e a missão na vidada família, da comunidade e da sociedade.

Os vultos humanos, sem identificaçãoprecisa de gênero, idade ou cultura, unidosnum abraço, representam todo o povo deDeus, verdadeira família chamada à vida emissão. O sol, no canto superior direito, sim-boliza aquele que convoca; é a luz que ilu-mina o caminho. O trigo ou a messe madu-

ra relembra nossamissão de ajudarna colheita, sendoautênticos “operá-rios e operárias”.

Div

ulga

ção

cula a ele como amigo e irmão”. E mais:“Cumprir a missão não é tarefa opcional,mas parte integrante da identidade cristã,porque é a extensão testemunhal da pró-pria vocação” (DA 144).

Conscientes desta pertença à família deDeus, onde seus membros adquirem igualdignidade e participam de diversos minis-térios e carismas, somos chamados a as-sumir e viver a vocação e missão específi-cas. Enfim, o panfleto convida a celebraros 25 anos do primeiro Ano Vocacional,para que “oremos, reflitamos e celebremoso chamado e a missão na vida da família,da comunidade e da sociedade”. Para isso,propõe reflexões para cada uma das sema-nas de agosto, aprofundando as vo-cações específicas desta Igreja, as-sembléia dos chamados: vocaçãopara os ministérios ordenados; paraa vida em família; para a vida consa-grada; e para os ministérios e servi-ços na comunidade e na sociedade,especialmente o de catequista.

1a semana:Vocação para os

ministérios ordenados

O bispo, como sucessor dos após-tolos, coloca-se a serviço do Povo deDeus, conforme o coração de CristoBom Pastor (cf. DA 186).

“O presbítero, à imagem do BomPastor, é chamado a ser homem de miseri-córdia e compaixão, próximo a seu povo eservidor de todos, particularmente dos quesofrem grandes necessidades” (DA 198).

O diácono está a serviço da Palavra, dacaridade e da liturgia, e é chamado a ser-vir de modo especial os mais necessitados,promovendo e acompanhando as açõessociais na comunidade (cf. DA 205; 207).

16 Rogate 264 ago/08

Mês Vocacional recordaos 25 anos do Ano Vocacional

ESPECIAL

A Redação

Em 1983 foi realizado o primeiro Ano Vo-cacional no Brasil, com o tema: “Vem e

segue-me!”. A Rogate trouxe um breve re-lato histórico da iniciativa (cf. n. 259, jan-fev/08, p. 09-11; n. 260, mar/08, p. 07-08).A Comissão Pastoral para os Ministérios Or-denados e a Vida Consagrada, da CNBB,ao motivar as comunidades para a celebra-ção deste mês vocacional, fez menção aeste jubileu.

Interessante observar que a oração doAno Vocacional de 1983 (veja sua reprodu-ção na quarta capa desta edição da Rogate )foi utilizada pelo papa João Paulo II em suamensagem para o Dia Mundial de Oraçãopelas Vocações de 1987, quatro anos apósa realização do evento no Brasil. Algumasalterações foram feitas, mas a essência é amesma, inclusive com a utilização de tre-chos inteiros totalmente iguais.

Outra observação interessante é que amensagem do papa de 1987 faz um acenoao Sínodo dos Bispos daquele ano, cujotema versou sobre “vocação e missão dosleigos na Igreja e no mundo há 20 anos doConcílio Vaticano II”. E também trouxe umareflexão sobre o papel da família na ques-tão vocacional, afirmando, por exemplo, serna família que a maior parte das vezes ger-minam e brotam as vocações sacerdotais ereligiosas. São duas semelhanças com oatual contexto deste mês vocacional: a pro-ximidade com o Sínodo dos Bispos (marca-do para os dias 05 a 26 de outubro de 2008,com o tema: “A Palavra de Deus na vida ena missão da Igreja”); e o tema da famíliacomo reflexão principal.

Vida e missão, vocação e missão, Pala-vra de Deus, Família de Deus... Nesta dis-tância de 25 anos até o Ano Vocacional de1983, ou 21 anos até a mensagem do papapara o Dia Mundial de Oração pelas Voca-ções de 1987, o desafio continua. E pode-mos concluir com o final da oração voca-cional de João Paulo II: “Maria, Mãe da Igre-ja e modelo de toda vocação, ajuda-nos aresponder SIM [...]. Amém.”

2a semana:Vocação para a vida

em família

A família, pequena Igreja, deve ser,junto com a paróquia, o primeiro lugarpara a iniciação cristã das crianças. Elaoferece aos filhos um sentido cristão deexistência e os acompanha na elaboraçãode seu projeto de vida, como discípulosmissionários (cf. DA 302).

3a semana:Vocação para a vida

consagrada

É um caminho de especial seguimentode Cristo, para dedicar-se a ele com cora-ção indiviso e colocar-se, como ele, a ser-viço de Deus e da humanidade, assumindoa forma de vida que Cristo escolheu paravir a este mundo: vida virginal, pobre eobediente. A partir de seu ser, a vida con-sagrada é chamada a ser especialista emcomunhão, no interior da Igreja e da soci-edade (cf. DA 216). Esse modo de seguirJesus Cristo se expressa na vida religiosamonástica, contemplativa e missionária,nos institutos seculares, sociedades devida apostólica e outras novas formas.

4a semana:Vocação para os ministériose serviços na comunidade

Todos os fiéis leigos são “os cristãosque estão incorporados a Cristo pelo ba-tismo”. Pela sua participação no corpo deCristo são chamados a exercer o tríplicemúnus (sacerdotal, profético e régio), pormeio de ministérios, realizando sua mis-são no mundo. Entre os diversos ministé-rios destaca-se o de catequista.

17Rogate 264 ago/08

VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

Escravos de si mesmos

“...sois escravos daquele ao qual servis” (Rm 6,16)

Continuamos, queridos jovens, o im-portante diálogo sobre liberdade.Ela é, antes de tudo, ausência de

toda forma de constrição. Pelo menos esteé o significado mais elementar de liberda-de, ao qual hoje a mentalidade dominanteacredita. No âmbito político e social estaliberdade ou autonomia, em suas váriasformas, é uma das conquistas mais rele-vantes da moderna consciência de liber-dade dos povos, mesmo se nem sempre érespeitada em suas conseqüências práti-cas, com êxitos também dramáticos e vio-lentos, como vemos no noticiário, ou per-sistentes conflitos, que o demonstram.

O discurso não pode deixar de ter, noentanto, uma análise também no aspectopessoal e subjetivo. Aliás, se alguém de-seja verdadeiramente enfrentar o discur-so sobre liberdade, de modo radical, é ne-cessário partir mesmo do ponto de vistada pessoa, pois, em última análise, é elaquem decide se é livre ou não, dependedela se submeter a alguém de fora.

De forma ampla, recorda-nos Frankl, oser humano conserva a liberdade radicalde decidir qual atitude assumir diante dealgo dramático e fatal, sobre o qual ele, aomenos aparentemente, não têm algum po-der. Por outro lado, também em condiçõessociais de regime político e familiar abso-lutamente democrático, podem desenvol-ver-se verdadeiras e próprias situações de

bloqueio interior, de falta de liberdade, queprovém de dentro, de medos e inconsis-tências várias. Enfim, é muito verdadeiro,como diz Bakunin, que “a liberdade não éalgo que se possa impor: qualquer um élivre na medida que ele deseja!”.

Gostaria de atrair a sua atenção sobreeste aspecto da luta cotidiana pela liberda-de, sem nos limitar a dar opiniões sobre aliberdade dos povos, a arrogância da po-tência mundial do momento, a atitude au-toritária e auto-suficiente do vizinho decasa ou que se encontra ao nosso lado, doamigo ou do colega. Além das tantas for-mas de autoridade externa, existem tam-bém formas muito sutis e desleais de auto-imposição, tão sutis e desleais que a pes-soa nem ao menos percebe. E mais, nósnão temos autoridade sobre a autoridadedos outros, enquanto temos, sim, um pou-co de poder sobre nós mesmos, e sobrenossa eventual imaturidade, que nos tor-na medrosos e escravos. O problema écomo descobri-la, para saber em que de-vemos trabalhar.

Maldito vírus!

A imaturidade intrapsíquica funcionacomo o vírus de um moderno computador,ou seja, não somente ataca em geral o nos-so mundo interior, desde o querer o bematé a capacidade de amar, mas também blo-

18 Rogate 264 ago/08

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

queia o próprio sistema de alarme e vigi-lância. Em outras palavras, põe em risco anossa capacidade de reconhecer as incon-sistências pessoais, de defini-las, de sen-ti-las e sofrê-las como contrárias à nossaverdade radical. Resumindo: a imaturida-de nos impede não só de querer o bem,mas também de perceber o nosso sutil ego-ísmo e, portanto, de combatê-lo. Trata-sede um grande problema, então. Pois nãohá pior escravidão do que aquela da qualnão se tem consciência.

Do vírus ao círculo viciosoPara descobrir tal escravidão é neces-

sário conhecer o seu mecanismo de forma-ção, que é como um círculo vicioso, nor-malmente articulado em quatro fases suces-sivas, que se alimentam reciprocamente.

Primeiras concessões levesNo início de uma imaturidade há fre-

qüentemente uma pressão instintiva na-tural, com suas exigências e perspectivasde gratificação igualmente naturais. Pode

ser a necessidadede afeto, de afir-mação do eu, derelação com o ou-tro, com a outra.Nada de mal nis-so. O sujeito achaabsolutamentenatural consentira estas exigênciascom gestos ou ati-tudes correspon-dentes, procuran-do, por exemplo,uma pessoa amigaou um sinal deafeto, ou fazendo

algo relevante para se afirmar e conquistarestima por parte de alguém, ou satisfazen-do, ao menos teoricamente, uma legítimacuriosidade sexual. A pessoa é conscientedestas motivações, vê nelas uma possívelintroversão, mas sabe também, ou pelomenos assim afirma a si mesmo, como parater segurança, que não está fazendo mal aninguém, e que, enfim, são exigências na-turais e não pode viver dizendo-se sempre“não”, sob pena, às vezes, de arranjar umesgotamento nervoso ou até a insônia...

Hábito

E assim as concessões continuam: sem-pre leves, sempre conscientes. Aliás, tor-nam-se sempre mais familiares, um modofreqüente e constante de responder a cer-tas exigências e esperanças do eu. Ou seja,transformam-se em hábitos: gestos sem-pre repetidos que, cada vez mais, tornam-se parte do estilo de vida da pessoa. E ges-tos no qual o indivíduo fará sempre menosesforço para colocar em prática, ou quesentirá sempre mais espontâneo, comotudo que se faz por hábito. Desta forma osujeito continuará a procurar o que lhe dásinais de afeto, ou assumirá sempre maiso estilo necessário para ser o centro deatenção, ou, ainda, navegará mais que o ha-bitual na Internet para satisfazer certas cu-riosidades.

Por um lado, então, nesta segunda fase,começa a diminuir a liberdade da pessoa,cuja decisão é como “antecipada” (ou tor-nada supérflua) pela tendência repetitivado gesto habitual. Mas a consciência dosujeito, acima de tudo, começa a ser ofus-cada, seja em relação à motivação que oimpele a agir daquele modo, seja em refe-rência à consciência de que aquilo o queestá fazendo talvez não represente o má-Foto: Arquivo Rogate

19Rogate 264 ago/08

Personalidades citadasANIMAÇÃO

ximo da autenticidade e maturidade. Sen-do assim, o hábito torna ainda mais forte atendência a justificar o comportamento, eserá sempre mais tendência implícita, nãomotivada (ou motivada pela idéia de quetudo o que é espontâneo é também lícito).

Automatismo

“O hábito, se não for contrariado, logose torna uma necessidade” (S. Agostinho),se não for submetido à análise ou questio-nado em seu mecanismo, prossegue tran-qüilo, aliás, afirma-se progressivamente,reforça-se, impõe-se ao comportamento eà pessoa, transforma-se em automatismo.É um salto de qualidade, pois o automatis-mo indica um mecanismo interior que ex-plode sozinho, em resposta a certos estí-mulos exteriores, sem uma verdadeira eprópria escolha pessoal e uma lúcida cons-ciência do impulso interior que coloca tudoem movimento. E uma vez iniciado, tendea escapar ao controle do sujeito e a resis-tir às tentativas de mudança (“é mais for-te do que eu...”).

A ação automática, então, apresenta nãosomente o estilo da pessoa, mas revelainclusive a sua identidade concreta (nemsempre alinhada com a oficial e conheci-da). Ou seja, revela aquele “eu” que estásendo construído no dia a dia, impelido poresperas e exigências ocultas, orientado tal-vez - sem saber - a uma certa direção exis-tencial, satisfeito apenas por certas condi-ções, que lhe são impostas de forma sem-pre mais inadvertidas.

Dois elementos, entre si coligados,devem ser evidenciados na atitude auto-mática: a progressiva perda de liberda-de; e, no tocante à ação, o aumento pro-gressivo das pretensões impulsivas.Concretamente, se na primeira fase, a

Novamente em seu artigo, AmedeoCencini utiliza frases e referências de

alguns pensadores nem sempre conhecidospor nós. Pesquisamos sobre cada um de-les na Rede Mundial de Computadores eapresentamos alguns dados essenciais.

Viktor Emil Frankl (1905-1997)Foi um médico e psiquiatra austríaco,

fundador da escola da Logoterapia, que ex-plora o sentido existencial da pessoa e adimensão espiritual da existência.

Bakunin (1814-1876)Mikhail Aleksandrovitch Bakunin nasceu

na Rússia, era filósofo e político. Criticavaa filosofia especulativa preferindo a teoriada ação política. Conheceu Karl Marx eProudhon (em Paris). Participou do Con-gresso Eslavo, que tinha em mente o pan-eslavismo (Praga, 1848), e no mesmo anoparticipou da Revolução Proletária em Pa-ris. Afirmava-se um “amante fanático da li-berdade”.

Agostinho (354-430)Nasceu na Tunísia, norte da África. Co-

nhecido também como Agostinho de Hipona,Santo Agostinho foi um bispo católico, teólo-go e filósofo, considerado pelos católicossanto e Doutor da Igreja. O pensamento deAgostinho foi basilar na orientação da visãodo homem medieval sobre a relação entre afé cristã e o estudo da natureza.

De Chateaubriand (1768-1848)François-René de Chateaubriand, tam-

bém conhecido simplesmente como Viscon-de de Chateaubriand, foi um escritor,ensaísta, diplomata e político francês quese imortalizou pela sua obra literária decarácter pré-romântico. Pela força da suaimaginação e o brilho do seu estilo, que uniua eloquência ao colorido das descrições,Chateaubriand exerceu uma profunda influ-ência na literatura romântica de raiz euro-péia, incluindo a lusófona.

20 Rogate 264 ago/08

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

Amedeo Cencini

das concessões iniciais, as exigênciaseram leves, “veniais”, a repetição habi-tual e, enfim, automática, fortaleceu-as,aumentou seu apetite, tornando-as sem-pre mais vorazes; motivo pelo qual nãobastará mais a concessão “inocente” eparcial, necessitará algo mais. Entretan-to, o aumento acontece de um modo gra-dual e se torna imperceptível. A pessoanão se dá conta, talvez nem consiga re-conhecer sua gravidade (também no as-pecto moral), enquanto que o impulsoregularmente gratificado se torna sem-pre mais (pre)potente e irresistível.

Deste modo nascem as várias dependên-cias e a sensação do sujeito de não poderrenunciar a uma certa gratificação. Assim,a busca de afeto fará com que a pessoa te-nha sempre mais fome de sinais “concre-tos” e, talvez, continuamente seja envolvi-da em relações das quais não encontrarásaídas. Ou o estilo egocêntrico levará o in-divíduo a ignorar sistematicamente o outroe a pretender a “ração” cotidiana de con-sentimentos e sucessos; ou a habitual sa-tisfação da curiosidade sexual tornará insa-ciável a fantasia, com conseqüências inevi-táveis em outros níveis (fechamento sobresi mesmo, masturbação, perda de interes-se...). E, assim, a pessoa coloca em jogo osumo bem da liberdade! Até o ponto que adependência se transforma em motivaçãoinconsciente (quarta fase).

Motivação inconsciente

O que sempre foi gratificado instala-seno centro da vida e de lá comanda as ope-rações, subtraindo-se aos poucos de qual-quer controle do sujeito. Ou seja, não seacionará somente em função de uma ex-pectativa instintiva, mas de certo modocriará a própria expectativa. Se, por exem-

plo, o impulso gratificado regularmente foio afetivo, tal impulso (e expectativa pre-tendida de afeto) se estenderá sempre maisà vida inteira, será algo que invade e pe-netra, contaminará cada vez mais as vári-as operações da pessoa, infiltrando-se comdescarada naturalidade também naquiloque é belo e querido a ela. Motivo pelo qualtambém o gesto mais altruísta, pelo me-nos em aparência, poderá ser contamina-do pelo vírus maligno do egoísmo. Até o“estar diante de Deus” poderá ser viciadopela mania exibicionista-narcisista.

A motivação, de fato, é uma disposi-ção constante numa certa direção, comouma atração persistente. Tudo isto acon-tece de forma inconsciente. Dir-se-ia queo sujeito não pode ser responsável, con-siderado o fato de que “não sabe...”. Umavez, porém, sabia; na primeira fase, comojá vimos, a pessoa era bem conscientedaquilo que fazia e queria conseguir. De-pois foi perdendo progressivamente aconsciência, na medida em que continuoua gratificar aquilo que em seguida o te-ria dominado.

Portanto, não se deve excluir uma cer-ta responsabilidade da pessoa: será indi-reta e remota em relação àquilo que a situ-ação presente determinou, e direta e pró-xima pelo que ela agora faz para se dar con-ta da situação na qual se encontra, para ten-tar entender o auto-engano (oxalá percor-rendo de trás pra frente o mecanismo des-crito), e tentar inverter a tendência.

Colocada em jogo, a liberdade é muitoimportante e, por isso, vale o esforço para(re)conquistá-la, partindo da própria des-coberta das amarras. “Existe, de fato, ver-dadeira liberdade apenas para aqueles aosquais os grilhões se gastaram” (DeChateaubriand).

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IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

Meu herói Jesus

Histórias extraídas dos evangelhos, com belas e co-loridas ilustrações, compõe a coleção “Meu he-rói Jesus”, da editora Salesiana, destinada à

catequese e ao ensino religioso da educação infantil e dosprimeiros anos do ensino fundamental. São 12 livros, de32 páginas cada um, com ilustrações de Chantal Mullervan den Berghe e textos de Bernard Hubler. Nas páginasdos livros são destacadas passagens do evangelho segui-das por breves comentários do autor, em uma linguagemsimples e apropriada às crianças de hoje, apresentandoum Jesus amigo, que transforma a vida das pessoas comsuas palavras e ações.

Coleção destinada às crianças abordapassagens do evangelho, muitas delasvocacionais, que mostram como apresença de Jesus transforma a vidade quem é tocado por ele

Formato: 21 x 15,5 cmPreço: R$ 9,00 cada livroPedidos: www.editorasalesiana.com.br

Tel.: (11) 3274-4906

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Esta coleção, das Paulinas Editora, foi inicia-da com a obra “Família, subjetividade, víncu-

los” (2007, 216 p., R$ 25,30), resultado concretodo I Seminário Internacional “Família contempo-rânea: desafios à intimidade e à inclusão social”,realizado em outubro de 2006, em Salvador (BA).As obras seguintes, “Família, gênero e gerações”(2007, 232 p., R$ 32,50) e “Família e educação”(2008, 232 p., R$ 31,80), foram publicadas emseguida. Pedidos: 0800 7010081.

Família na sociedade contemporânea

Formato: 13,5 x 20 cm

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IN FORMAÇÃO

Congregação p ara o CleroO papa Bento XVI nomeou, no dia 12

de junho, o arcebispo de São Paulo, carde-al Odilo Pedro Scherer, membro da Con-gregação para o Clero, cujo prefeito é o car-deal Cláudio Hummes.

Cursos de FormaçãoO Instituto Teológico Pastoral para a

América Latina (Itepal), centro de estudosdo Conselho Episcopal Latino-americano(Celam), com sua sede em Bogotá, Colôm-bia, oferece a partir deste mês de agostodiversos cursos de formação, dentre osquais: Pastoral para a Nova Evangelizaçãona América Latina, Teologia Pastoral, Pas-toral Missionária, Pastoral Catequética,Pastoral da Comunicação Social e PastoralSocial. O Itepal conta com um grupo quali-ficado de professores de toda América La-tina e da Europa.

Mais informações:http://www.celam.org/itepaltel.: (57-1) 667-0110 / 667-0120

Sínodo dos BisposO Instrumento de Trabalho da XII As-

sembléia Geral do Sínodo dos Bispos, queacontecerá de 05 a 26 de outubro deste ano,sobre o tema: “A Palavra de Deus na vidae na missão da Igreja”, foi apresentado emjunho último, pelo secretário-geral doSínodo, arcebispo Nicola Eterovic. O even-to é de índole pastoral e missionária, e terádois pontos de referência: o Sínodo sobrea Eucaristia e o Ano Paulino. O Instrumen-to de Trabalho contou com a contribuiçãodo papa Bento XVI e foi publicado em vá-rios idiomas, inclusive o português. Divi-de-se em três capítulos: O mistério deDeus que nos fala; A Palavra de Deus navida da Igreja; A Palavra de Deus na mis-são da Igreja.

Simpósio do IPV

De 22 a 24 de maio, em São Paulo (SP),realizou-se o XV Simpósio de Estudos doInstituto de Pastoral Vocacional (IPV),aberto aos membros das congregações edos institutos que compõem a entidade, eaos cristãos leigos e leigas que comungamde seus carismas específicos. Participaramcerca de 65 pessoas. O tema, “Perfil Psi-cológico do Jovem; projeto de vida para ajuventude”, foi trabalhado pela professorae doutora Heloísa Helena de Araújo Cam-pos, em continuidade com a temática doano anterior, que abordou o perfil socioló-gico do jovem.

O serviço da autoridadeA Congregação Pontifícia para os Insti-

tutos de Vida Consagrada e as Sociedadesde Vida Apostólica publicou a Instrução “Oserviço da autoridade e a obediência”, du-rante a assembléia dos superiores e supe-rioras gerais, em Roma, em maio último.Segundo a Congregação Pontifícia, “o do-cumento contém uma exortação à obedi-ência, serena e motivada na fé, mas tam-bém oferece um amplo e articulado con-junto de indicações para o exercício da au-toridade”. O documento tem 50 páginas eé destinado às pessoas consagradas, mem-bros de institutos religiosos e sociedadesde vida apostólica.

Foto: Arquivo IPV

23Rogate 264 ago/08

As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

QualidadeGostaria muito de parabenizar toda a

equipe pela excelente qualidade da revistaRogate. Espero com prazer a chegada damesma, pois ela sempre vem trazendo ar-tigos importantes e até mesmo fundamen-tais para nossa vivência cristã, religiosa evocacional.

Ir. Marina AndradeRio de Janeiro (RJ)

Gratuit amenteSe possível, gostaria de receber, gra-

tuitamente, algum exemplar da revistaRogate ou algum livro sobre os Rogacio-nistas, em especial sobre Santo AníbalMaria Di Francia.

Volmir PiovezaniPasso Fundo (RS)

Nota:Volmir, queremos agradecer seu contato

e lhe dizer que estaremos encaminhando oque você solicita, de forma gratuita. Um forteabraço.

L E I T O RLEITOR

Passagens • viagens e excursões • cruzeiros marítimos • hotéisaluguel de carros • promoção e organização de congressos e eventos

Diversos planos de pagamentowww.cattonitur.com.br - Tel.: (11) 3258-5199 - Fax: (11) 3255-3471

Pró-vocaçõesVamos realizar, de 15 a 17 de agosto,

um retiro pró-vocacões, que visa ofereceraos participantes uma experiência pessoalde escuta de Deus, através da reflexão, ora-ção, partilha e testemunhos.

Centro Pastoral Santa FéSão Paulo (SP)

Período eleitoralElaborei um pequeno texto que ajuda a

refletir sobre o comportamento de algunscandidatos durante o período eleitoral ecomo proceder para não ser usado. Se jul-garem oportuno podem repassar.

Pe. Cilto José RosembachSão Paulo (SP)

Nota:Pe. Cilto, agradecemos seu texto, bastante

oportuno. Vamos publicá-lo na edição de se-tembro, provavelmente na seção “opinião”.

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MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

Jesus, nosso formador pessoal

Patrício Sciadini

Cada dia agradeço a Deus pela 5ªConferência do Episcopado daAmérica Latina e do Caribe. O Do-

cumento de Aparecida, fruto do evento, éde uma riqueza incrível, que nos questio-na a partir de dentro. Passou o tempo daevangelização apologética: não podemosachar que nós, católicos, somos os melho-res de todos e que não necessitamos apren-der nada com ninguém. A cada dia se vêque é necessário ter os ouvidos do cora-ção atentos ao que acontece ao nosso re-dor para que seja oferecida uma respostaadequada ao mundo em que vivemos.

Uma coisa é certa: a evangelização nãopode parar. Ela cada vez mais nos empol-ga e nos obriga a sair de nós mesmos e“ir ao encontro” dos que esperam o anún-cio da Boa Nova num mundo cheio de“maus anúncios”, morte e desespero.Quem fixa o olhar em Cristo Jesus sentenascer em seu coração a esperança e acerteza de que o Reino de Deus já che-gou e está dentro de nós.

Não se compreende um cristianismoque não seja também compromisso con-creto que, como fermento, tente dar sen-tido aos valores escondidos no coração dahumanidade. Aparecida nos recorda umaverdade muito bonita e cheia de entusias-mo: “A vocação e o compromisso de serhoje discípulos e missionários de JesusCristo na América Latina e no Caribe re-querem clara e decidida opção pela forma-ção dos membros de nossas comunidades,em favor de todos os batizados, qualquerque seja a função que desenvolvem na Igre-ja. Olhamos para Jesus, o Mestre que for-

mou pessoalmente a seus apóstolos e dis-cípulos. Cristo nos dá o método: Venham evejam (Jo 1,39). Eu sou o Caminho, a Ver-dade e a Vida (Jo 14,6). Com ele podemosdesenvolver as potencialidades que há naspessoas e formar discípulos missionários.Com perseverante paciência e sabedoriaJesus convidou a todos para que o seguis-sem. Àqueles que aceitaram segui-lo, osintroduziu no mistério do Reino de Deus,e depois de sua morte e ressurreição osenviou a pregar a Boa Nova na força doEspírito. Seu estilo se torna emblemáticopara os formadores e adquire especial re-levância quando pensamos na paciente ta-refa formativa que a Igreja deve empreen-der no novo contexto sócio-cultural daAmérica Latina” (n. 276).

Jesus formou pessoalmente os seus dis-cípulos, ele os chamou perto de si e quisque convivessem com ele. E isso não se re-fere somente aos apóstolos, mas a todos osbatizados. Ele é o único formador que nosoferece uma formação integral, personali-zada, dando a possibilidade de nos prepararpara a grande missão que nos espera.

Às vezes chego até a pensar que nuncaos padres serão em grande número paraque todos os batizados se conscientizemde sua vocação missionária. Se houvesseum grandíssimo número de padres prova-velmente os leigos se sentiriam descom-prometidos na tarefa evangelizadora. Fixe-mos o nosso olhar em Jesus, nosso forma-dor pessoal, e nos sentiremos comprome-tidos na transformação do mundo e da Igre-ja onde nós vivemos.