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OLHARES E REPRESENTAÇÕES INFANTIS SOBRE A NATUREZA GLANCES AND INFANTILE REPRESENTATIONS ON THE NATURE Michele Batista Pereira Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPR Salete Kozel Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPR Curitiba 2006

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Page 1: OLHARES E REPRESENTAÇÕES INFANTIS SOBRE A NATUREZA … · o pensamento universal, centrado em uma natureza humana independente da natureza, e o pensamento particular, que naturaliza

OLHARES E REPRESENTAÇÕES INFANTIS

SOBRE A NATUREZA

GLANCES AND INFANTILE REPRESENTATIONS

ON THE NATURE

Michele Batista Pereira Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPR

Salete Kozel Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia da UFPR

Curitiba 2006

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RESUMO

O presente artigo pretende apresentar o conceito de natureza, sob o olhar de crianças

de 6 e 7 anos do Centro de Educação Integral Pedro Dallabona. A percepção de natureza

evidenciada pelas crianças é referendada na representação, tendo os mapas mentais como

aporte metodológico. Para análise dos elementos contidos nas imagens, foi utilizada a

metodologia desenvolvida por Kozel (2001, p. 51 - 76) no que se refere à interpretação e

análise de mapas mentais. Neste artigo, o principal aspecto a ser considerado, é a inclusão ou

não da figura humana dentro do que se considera natureza, tendo como ponto de partida para

a discussão o advento da modernidade e os discursos epistemológicos que a caracterizam.

Palavras-chave: natureza, mapa mental, ecologia rasa e ecologia profunda.

ABSTRACT

The present article intends to discuss the about of the nature concept, tends as base the

analysis of the drawings (mental map) accomplished by 27 students of 6 and 7 years of the

Center of Integral Education Pedro Dallabona. For analysis of the elements contained in the

drawings, the methodology was used developed by Kozel (2001, p. 51 - 76) in what refers to

the interpretation and analysis of mental maps. In this article, the principal aspect to be

considered, is the inclusion or not of the human illustration inside than it is considered nature,

tends as starting point for the discussion the coming of the modernity and the speeches

epistemologys that characterize her.

Keywords: nature, mental map, shallow ecology and deep ecology.

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OLHARES E REPRESENTAÇÕES INFANTIS

SOBRE A NATUREZA

O termo natureza, sempre foi amplamente estudado pela Geografia, até mesmo antes

da sua institucionalização como disciplina, no final do século XIX. Diferindo apenas o

enfoque que é dado, recordando que inicialmente a natureza caracterizava-se pelo teor

mitológico, onde os fenômenos eram explicados por mitos e lendas. Com inspiração na física

a visão de natureza no século XVIII, era uma visão mecânica, onde se analisava os fenômenos

como se fossem uma máquina com suas engrenagens. Avançando um pouco mais, a

supremacia da biologia e sociologia como modelo científico base do Positivismo do século

XIX, atribuiu à natureza a característica de um organismo. Atualmente, o que movimenta os

trabalhos acerca da natureza, são de ordem sistêmica, visando analisá-la de maneira ampla

integrando todos aspectos, buscando a totalidade e a integralidade de elementos. Neste artigo,

o principal aspecto a ser considerado, é a inclusão ou não da figura humana dentro do que se

considera natureza. O ponto de partida para a discussão é o advento da modernidade.

Afinal o que é Natureza? Quando se aborda o termo Natureza, muitos aspectos podem ser elencados e

múltiplas podem ser as considerações. Citamos aqui duas referências descritas por

Suertegaray (2002, p. 114 – 115) a cerca deste conceito:

Resulta destas concepções caminhos analíticos diferenciados: de um lado temos uma natureza externa ao homem, conjunto de todas as coisas produzidas sem a intencionalidade humana, portanto, algo distinto ao homem. De outro lado, temos um caminho analítico que entende a construção humana como natureza. Em sendo assim, deriva daí a leitura de natureza como organismo auto-eco-reorganizacional (MORIN, 1990)1, ou seja, a natureza é a auto-reprodução do ser/seres na sua relação com o entorno. A natureza, não sendo externa ao homem, se auto produz com a presença humana.

Essa dualidade na forma de abordar a relação do homem com a natureza, retratada pela

autora a cima, no âmbito da geografia sempre ocorreu, mas com a procura da definição do que

era Modernidade para esta disciplina, surge a disputa epistemológica entre o racionalismo e o

1 MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. São Paulo: Instituto Piaget, 1990.

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das posições anti-racionalistas que incluem escolas de pensamento como: a Filosofia da

Natureza, o Romantismo, a Hermenêutica e a Fenomenologia. O que difere estes dois pólos

de pensamento é justamente a relação do homem com a natureza, como nos expõe Gomes

(2003, p. 34 -35) quando descreve o pensamento de Legros2:

[...] existem dois núcleos em torno dos quais é pensada a relação do homem com a natureza: o das Luzes e o do Romantismo. O primeiro parte do “arrancamento” do homem da natureza, isto é, distingue-se a atitude humana de qualquer outra manifestação da natureza. A construção da humanidade, nesta perspectiva, passa pela aquisição da autonomia humana, ou a “maioridade” Kantiana, conquistada pela negação racional da “atitude natural”, aquela dos preconceitos, da tradição, dos costumes, das autoridades exteriores. O outro pólo, o romantismo, define uma idéia de humanidade através da relação de pertencimento do homem à natureza. Neste caso, o acesso do homem à humanidade se faz pela “inscrição em uma humanidade particular, dentro de uma tradição, uma época, uma forma de sociedade, uma cultura”. Segundo Legros, a partir desta distinção se abre o abismo entre o pensamento universal, centrado em uma natureza humana independente da natureza, e o pensamento particular, que naturaliza as atitudes pela tradição.

Gonçalves (2000, p. 23) aborda o tema de forma mais crítica “Toda sociedade, toda

cultura cria, inventa, institui uma determinada idéia do que seja natureza. Nesse sentido, o

conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens.

Constitui um dos pilares através do qual dos homens erguem as suas relações sociais, sua

produção material e espiritual, enfim, a sua cultura”, diz ainda, “A natureza se define, em

nossa sociedade, por aquilo que se opõe à cultura. A cultura é tomada como algo superior e

que conseguiu dominar a natureza”. (GONÇALVES, p.25) Este pensamento nos remete às

idéias de Vidal de La Blache, descritas aqui por Moraes (1999, p. 68)

Vidal de La Blache definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre a influência do meio, porém que atua sobre este transformando-o. Observou que as necessidades humanas são condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfazê-las nos materiais e nas condições oferecidos pelo meio. Neste processo, de trocas mútuas com a natureza, o homem transforma a matéria natural, cria formas sobre a superfície terrestre: para Vidal, é aí que começa a “obra geográfica do homem”.

Assim, podemos considerar que existe uma dicotomia entre o que é cultural e natural,

o meio natural, é explorado, transformado, transfigurado através dos instrumentos criados

culturalmente, o que faz com que essa “dominação”, obtida pelo desenvolvimento da técnica

modifique também a avareza da natureza, como nos evidencia Claval (2002, p. 39)

a avareza da natureza aparece cada vez menos como um problema local, porém os limites impostos pelos meios à ação humana não deixaram de existir; mudaram de caráter, manifestam-se mais pela

2 LEGROS, R.. L’idée d’humanité: Introduction à la phénoménologie. Paris: ed. Grasset, 1990.

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multiplicação das poluições do que pela impossibilidade de produzir aquilo que precisamos; mudaram também de dimensão, o equilíbrio global do planeta está ameaçado pelo efeito estufa, o buraco de ozônio etc.

O uso e exploração da natureza enquanto recurso tem causado sérios problemas

inclusive à vida humana, portanto urge repensamos o que é a natureza e qual é a inter-relação.

O físico Fritjof Capra em seu livro: A Teia da Vida (1996), propõe uma mudança de

paradigma, que denomina de “visão de mundo holística” ou também, visão ecológica, onde o

termo ‘ecológica’ é empregado num sentido mais amplo e mais profundo que o usual. A

percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os

fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos

processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos)” e

mais “A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os

seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida.” (CAPRA, 1996, p. 25-26).

Esse aspecto precisa ser considerado em todas as suas dimensões, sobretudo quando

abordamos a relação sociedade natureza na compreensão do espaço geográfico.

Metodologia Utilizada

Aqui se pretende expor o conceito formado por 27 crianças de 6 e 7 anos do

Centro de Educação Integral Pedro Dallabona, que caracterizam o universo de análise, a

respeito do termo natureza. Para isso, foi entregue a cada criança uma folha com o seguinte

comando: Desenhe o que é natureza para você. Os mapas mentais obtidos foram analisados de

acordo com alguns dos aspectos metodológicos desenvolvidos por Kozel (2001, p. 51 - 76) no

que se refere à interpretação e análise de mapas mentais. O objetivo desta pesquisa foi

investigar a percepção e representação sobre a Natureza desenvolvida por crianças na faixa

etária entre 6-7 anos decodificando os elementos registrados através de signos, tendo como

aporte os Mapas mentais. Ao procedermos as análises dos mapas mentais procuramos

diferenciar o universo de análise por gênero, sobretudo para registrar as possíveis diferenças

existentes entre as categorias, lembrando que se trata de uma pesquisa qualitativa.

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Categorias de Análise O gênero e a faixa etária foram os aspectos relevantes considerados para esta análise.

Como pode ser observado nas (tabelas 1 e 2), o número de crianças do gênero masculino nesta

turma é maior. E a faixa etária não varia muito com predominância de crianças de sete anos.

TABELA 01

UNIVERSO DE ANÁLISE: EM RELAÇÃO AO GÊNERO GÊNERO Nº DE ALUNOS Masculino 15 Feminino 12 TOTAL 27

TABELA 02

UNIVERSO DE ANÁLISE: EM RELAÇÃO À FAIXA ETÁRIA FAIXA ETÁRIA Nº DE ALUNOS

6 Anos 8 7 Anos 19 TOTAL 27

Análise dos Mapas Mentais

Conceituamos mapa mental de acordo com Kozel (2006, p. 142) quando diz: “O

mundo é visto e experienciado não como uma soma se objetos, mas como um sistema de

relações onde estão imbricados valores, sentimentos, atitudes, vivências entre outros. As

imagens espaciais provenientes dessas subjetividades foram denominadas mapas cognitivos,

mapas conceituais e posteriormente mapas mentais”. Complementamos essa conceituação

com Pinheiro (2006, p. 152) que ressalta:

Para melhor compreender as interações pessoa-ambiente é necessário conhecer o “circuito psicológico” da informação ambiental, ou seja, os processos psicológicos envolvidos na reação do ser humano ao ambiente à sua volta, analisando o papel da apreensão da informação (sensação, percepção), sua organização interna (percepção, cognição), armazenamento na memória e resgate para utilização como ação, de acordo com as normas socialmente estabelecidas.

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Dessa forma, quando solicitamos às crianças que desenhem o que consideram

natureza, pretende-se que registrem a partir da percepção a relação que estabelecem com o

entorno, o que está sendo considerado mais significativo e principalmente, quais elementos

elas estão incluindo nesta categoria geográfica, atentando para a inserção ou não da figura

humana. O ponto de partida para essa reflexão pode ser considerado para o planejamento e

desenvolvimento da prática pedagógica, atentando para o fato de que o mapa mental é uma

forma de representação do vivido e concebido, representação esta que provém dos sentidos e

da percepção, e que demonstram, sentimentos, emoções, impregnados de subjetividades e que

provavelmente serão refletidos em atitudes e ações.

Com base na metodologia desenvolvida por Kozel (2001, p.51) podemos interpretar

mapas mentais de acordo com os seguintes aspectos: “A. interpretação quanto à forma de

representação dos elementos na imagem; B. Interpretação quanto à distribuição dos elementos

da imagem; C. Interpretação quanto à especificação dos ícones; D. apresentação de outros

aspectos ou particularidades.”

Segundo a autora, a imagem pode ser apresentada através de ícones, letras e mapas.

No caso desta pesquisa os ícones foram preponderantes, não versificando a presença de letras

e mapas.

Quanto à distribuição dos elementos na imagem, podemos encontrar a representação

da imagem em perspectiva, em forma horizontal, em forma circular, em forma de quadros e

quadras, de maneira dispersa e imagens isoladas.

Nas representações analisadas nesta pesquisa predominam a distribuição dos ícones

em forma horizontal, como demonstrado nas figuras 1 e 2 abaixo.

FIGURA 01 FIGURA 02

Os ícones podem ser especificados, de acordo com os elementos apresentados nos

mapas mentais, Kozel (2001, p. 60) apresenta a especificação dos ícones em quatro grupos:

Allan 7 anos Gabriel Mendes 7 anos

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“os elementos da paisagem natural; representação dos elementos da paisagem construída;

representação dos elementos móveis; e representação dos elementos humanos”.

Na pesquisa empírica desenvolvida houve uma maior diversificação de elementos, em

cada categoria como destacamos a seguir: elementos da paisagem natural (sol, nuvens,

árvores, flores, montanhas, rios e lagos, vulcão, insetos, pássaros, animais: terrestres aquáticos

e dinossauros); elementos móveis (carro e ônibus); elementos humanos (homens, mulheres e

crianças); e outros elementos (ninho de pássaros e coração), evidenciados nas figuras 3 e 4 a

seguir.

FIGURA 03 FIGURA 04

Para uma melhor visualização dos ícones representados, elaboramos uma tabela e um

gráfico, distinguindo-se os ícones utilizados segundo o gênero masculino e feminino.

Por meio destes aportes pode-se detectar de acordo com a quantidade de ícones

apresentados nas imagens, os meninos são mais detalhistas que as meninas, e incluem uma

quantidade maior de elementos em suas representações, conforme o demonstrado na (tabela 3)

e (gráfico 1).

TABELA 03 MAPAS MENTAIS – ESPECIFICAÇÕES DOS ÍCONES

CATEGORIAS MASCULINO FEMININO TOTAL Elementos Naturais

Sol 14 11 25 Nuvens 14 10 24 Árvores 15 12 27

Flores e jardins 6 6 12 Montanhas 3 2 5 Rios e Lagos 3 1 4 Vulcão 0 2 2 Insetos 6 3 9 Pássaros 4 3 7

Animais terrestres 7 4 11

João Vitor 6 anos Sthefani 7 anos

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Animais aquáticos 2 1 3 Dinossauros 1 0 1 Insetos 6 3 9

Elementos Móveis Transporte terrestre 1 1 2

Elementos Humanos Homens/mulheres e

crianças 2 3 5

Outros elementos Ninho de pássaros 0 1 1

Coração 0 1 1 TOTAL 78 61 139

GRÁFICO 01

MAPAS MENTAIS - ESPECIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS REPRESENTADOS

0

5

10

15

20

25

30

Sol

Nuvens

Árvores

Flores

Montanhas

Rios

Vulcão

Transporte terrestre

Pessoas

Insetos

Pássaros

Animais terrestres

Animais aquáticos

Dinossauros

Ninho

Coração

MASCULINO

FEMININO

TOTAL

Com o intuito de obter uma melhor compreensão do que as crianças em questão

entendem por natureza e quais classes de elementos foram mais representadas, agrupamos os

elementos em grupos generalizados na (tabela 4) e no (gráfico 2), que demonstram

numericamente, que as crianças consideram natureza, primeiramente elementos externos a si,

como sol, nuvens, árvores, flores, montanhas e animais.

Os elementos considerados como sendo naturais foram os mais representados, com

relação aos mais percebidos, pode-se dizer que os ícones mais lembrados foram, em ordem

decrescente, árvores, sol e nuvens, presentes em praticamente todas as representações, como

podemos verificar nas (figuras 5 e 6). Apenas cinco crianças consideram o ser humano como

parte integrante de uma paisagem natural (figura 6). Um fator interessante a se observar é

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presença em dois desenhos de elementos móveis, um carro e um ônibus, como se a natureza

estivesse tão longe que não pudéssemos ir a pé.

TABELA 04

MAPAS MENTAIS – GENERALIZAÇÃO DOS ELEMENTOS REPRESENTADOS ELEMENTOS QUANTIDADE Elementos naturais 130 Elementos humanos 5

Elementos móveis 2

Outros elementos 2

TOTAL GERAL 139

GRÁFICO 02

MAPAS MENTAIS - GENERALIZAÇÃO DOS ELEMENTOS REPRESENTADOS

Elementos naturais

Elementos móveis

Elementos humanos

Elementos animais

Outros elementos

FIGURA 05 FIGURA 06

De acordo com a metodologia, Kozel (2001, p. 70) as idéias diferenciadas também aparecem

nas imagens exprimindo opinião e/ou mensagens. Essa categoria é denominada “Outros

Melanie 6 anos Karina 7 anos

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aspectos ou Particularidades”, o que de certa forma não foi observado nas representações em

questão. Apesar de estarem vivendo um momento de racionamento de água, nenhuma criança

explorou a questão. Como parte do imaginário infantil associado às discussões sobre animais

em extinção pode-se detectar a imagem de um dinossauro em uma das representações.

Para pensar

A respeito da metodologia de análise utilizada, podemos considerá-la de fácil

aplicação, com efeitos muito significativos no que diz respeito à interpretação de mapas

mentais, pois o simples fato de enumerar elementos e ícones presentes nas representações

oferece condições de agrupar dados importantes, que não seriam percebidos apenas com o

olhar do pesquisador.

A categoria Natureza conforme prevíamos foi conceituada pelos entrevistados como

algo externo a elas, referenciando apenas o seu entorno e elementos tidos como “naturais”.

De acordo com a abordagem teórica privilegiou-se refletir sobre a presença ou não da

figura humana ao representar o conceito de natureza, demonstrando-se que de forma

simbólica, quando o ser humano se retira desta categoria, transforma a natureza em um

recurso a ser dominado. Através dos mapas mentais desenvolvidos na pesquisa empírica, foi

possível detectar que o elemento humano teve presença pouco significativa, onde apenas

cinco entrevistados o consideram dentro de um ambiente natural, o que nos mostra que a

relação homem-natureza, é dicotômica, onde a natureza considerada, sobretudo como recurso

a ser explorado, o que reflete a sociedade capitalista em que vivemos.

Provavelmente se houvesse um sentimento de pertencimento a natureza, imagina-se

que outras posturas seriam tomadas em relação à preservação e respeito ao meio ambiente.

Essa reflexão nos alerta para o enfoque e relevância que damos as questões ambientais, até

quando a natureza será considerada apenas um recurso?

Esta pesquisa evidenciou que natureza, para o universo pesquisado é algo distante,

externo a si e com a presença de poucos elementos (árvores, sol e nuvens), provenientes do

senso comum, o que provavelmente reflete o que é apreendido no ambiente familiar e escolar

assim como na mídia.

Outra reflexão importante a ser considerada relaciona-se ao elemento água,

categorizado aqui como rios e lagos, que foi representado por apenas quatro crianças em seus

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mapas mentais, sobretudo por estarmos vivenciando no contexto da cidade de Curitiba que é

de racionamento de água. Acredita-se que este problema não tenha sido significativo para o

universo da pesquisa, por ter sido praticamente desconsiderado. Um aspecto que deve ser

considerado é o pequeno contato com este elemento, devido ao fato de muitos rios na cidade

de Curitiba estarem canalizados, ou apresentarem-se com o aspecto de “valeta” e “esgoto”,

não podendo ser considerados ou percebidos como elementos da “natureza”.

Referências Bibliográficas

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