olhar crítico sobre a flexibilização
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flexibilização do trabalhoTRANSCRIPT
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Um olhar crtico sobre a flexibilizao da legislao trabalhista no Brasil sob um duplo vis: a flexisegurana e a precarizao dos vnculos trabalhistas
Cssia Cristina Moretto da SilvaProfessora do Instituto Federal do Paran - IFPR Mestranda do Programa de Mestrado Interdisciplinar em Cincias Humanas - Universidade Tuiuti do Paran
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ResumoA flexibilizao das relaes, fenmeno tpico da ps-modernidade, profundamente ligado tanto globalizao e ao neoliberalismo, lana-se sob os diferentes setores da sociedade contempornea. O direito do trabalho, concebido inicialmente como apto a garantir aos trabalhadores direitos de ordem laboral, passa ento a ser questionado no que se refere a sua rigidez, momento em que se clama por uma normatizao mais malevel em sede trabalhista. Neste contexto, passa-se ento a argumentar sobre a flexibilizao das legislaes do trabalho. Assim, o presente artigo tem por objetivo analisar a insero do elemento flexvel das relaes no mbito do direito do trabalho no Brasil, bem como, abordar, criticamente, dois de seus principais pontos, sendo eles: a flexisegurana e a precarizao dos vnculos trabalhistas. Para tanto, o estudo proposto pautar-se- pela anlise da legislao brasileira produzida sobre este assunto e tambm das obras doutrinrias que abordam a temtica aqui evidenciada.
Palavras-chave: Flexibilizao. Flexisegurana. Precarizao dos vnculos trabalhistas.
AbstractThe flexibility of the relations, a typical phenomenon of postmodernity, is deeply attached both to globalization and neoliberalism and it can be found in different sectors of contemporary society. The labor law, initially conceived as being able to guarantee the workers rights, starts to be questioned in terms of its hardness. At the same time, a more malleable norm towards the labor law is clamed. In this context, the labor laws flexibility starts to be discussed. This article aims to analyze the insertion of the flexible element in the Brazilians Labor Law relations, as well as discuss, critically, two of its main point: flexicurity and the casualization of labor ties. Therefore, the proposed study will be guided by the analysis of the Brazilian legislation produced about this question and also the doctrinal works that address these topics.
Keywords: Flexibility. Flexicurity. Casualization of labor ties.
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Introduo
O direito do trabalho, fruto de uma intensa disputa
de classes, surge como o ramo do direito que tem por
objeto tutelar as relaes de trabalho em suas diferentes
vicissitudes. Nota-se, inclusive, que foi especialmente
a partir do sculo XX que se teve sua ascenso e
fortalecimento, quer seja no contexto mundial, quer
seja no Brasil.
No entanto, no foram poucos os fenmenos
sociais, histricos, polticos e econmicos que vieram
a repercutir fortemente nas relaes de trabalho
propriamente ditas, e que de alguma forma, acabaram
por refletir-se no direito do trabalho, como exemplo,
pode-se citar a globalizao, o neoliberalismo e a
prpria condio experimentada na ps-modernidade.
Tais conjecturas, que assumem diferentes formas
conforme o contexto social analisado, vieram a se
projetar no direito do trabalho por uma tendncia
crescente que se conhece como flexibilizao do direito
do trabalho.
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Observa-se que o direito do trabalho concebido
inicialmente com a misso de proteger as relaes de
trabalho, sobretudo, no que se refere perspectiva
do trabalhador, durante o sculo XX, passa ento a
sofrer influncias de diversas ordens, fala-se, inclusive,
na relativizao de alguns de seus princpios at ento
considerados canonizados pelo sistema jurdico
vigente.
Assim, o presente artigo tem por objetivo trabalhar
com esta nova condio experimentada pelo direito
do trabalho no contexto ps-moderno, isto , a
flexibilizao da regras trabalhistas. Logo, inicia-se
a anlise aqui proposta pela noo da flexibilizao
propriamente dita e, na sequncia, dedica-se especial
ateno as suas especificidades no Brasil e, ainda sobre
dois temas latentes quando se fala em flexibilizao,
sendo eles: a flexisegurana e a precarizao dos
vnculos trabalhistas.
1 Noo de flexibil izao e sua conceituao perante o direito do trabalho
A palavra flexibilizao traz em seu bojo a ideia de
ruptura com a rigidez, a noo de uma capacidade de
se moldar a diferentes conjunturas, e a facilidade em
se adaptar a diferentes contextos.
Na contemporaneidade, tal terminologia vem
sendo utilizada em diversos setores da sociedade,
manejada conforme o contexto histrico-social
experimentado. Como exemplo pode-se citar: o
mbito poltico, sindical, laboral, econmico e
empresarial. Para Arion Sayo Romita, a utilizao
deste termo pelos diversos setores sociais citados,
acontece em razo de que Todos, de modo geral, o
admitem, porque ningum deseja aparecer como o
defensor do contrrio, ou seja, da inflexibilidade.
(ROMITA, 2008, p. 25).
A palavra flexibilizao no aspecto laboral
abrange, fundamentalmente, o modo de contratao
dos trabalhadores, a durao do trabalho, o
estabelecimento de salrios, negociao coletiva
e as formas de cessao do contrato de trabalho.
Isso porque a sociedade do trabalho experimentou
durante as ltimas dcadas do sculo XX um grande
desenvolvimento econmico, que, por vezes, lidara
com crises econmicas. Logo, a sociedade capitalista,
em pleno desenvolvimento, clamava por menos
ingerncias do Estado e das entidades sindicais nas
formas de se organizar o trabalho.
David Harvey (2000), em clssica obra intitulada
Condio Ps-Moderna, afirma que existe verdadeira dificuldade em se teorizar a transio do fordismo para
acumulao do flexvel, no contexto ps-moderno.
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Aponta que uma das primeiras dificuldades est em se
captar a natureza da mudana.
Nesse sentido, David Harvey destaca com muita
propriedade, a correlao existente entre a sociedade
capitalista e a acumulao do flexvel ao afirmar
que:
[...] todas as evidncia (incluindo-se a as explicitamente arroladas por Marx) apontam para o fato de ser o capitalismo uma fora constantemente revolucionria da histria mundial, uma fora que reformula o mundo, criando configuraes novas e, com frequncia, sobremodo inesperadas. A acumulao do flexvel mostra-se, no mnimo, como uma nova configurao, requerendo, nessa qualidade, que submetamos a escrutnio as suas manifestaes com o cuidado e a seriedade exigidos, empregando, no obstante os instrumentos tericos concebidos por Marx. (HARVEY, 2000, p. 176)
Assim, a assimilao da noo de flexibilidade
se reflete, fortemente, sob o cenrio jurdico das
relaes trabalhistas, eis que, acabou por influenciar,
profundamente, a prpria organizao das relaes
laborais.
Em sede juslaboral, Arion Sayo Romita afirma que
[...] O Direito do Trabalho passou a ser questionado.
O poder dos trabalhadores organizados em sindicatos
passou a ser hostilizado: reclamava-se menor ingerncia
dos sindicatos. (ROMITA, 2008, p.25).
Arion Sayo Romita evidencia, inclusive, a
priorizao de alguns aspectos neste sistema:
[...] Horrios personalizados, acomodao do tempo de servio, salrios dependentes dos resultados e do interesse revelado pelos empregados, crculos de qualidade, equipes autnomas, transferncia da gesto, negociao mediante mtuas concesses, integrao do trabalhador na vida da empresa [...] (ROMITA, 2008, p.25).
Tudo isso com o objetivo de se obter a melhor
produtividade, com a maior lucratividade e a melhor
relao custo X benefcio.
Arion Sayo Romita descreve com propriedade, o
contexto poltico e social que permeia a assimilao
do elemento flexvel:
[...] A nova poltica social, patronal, desenvolvida para enfrentar a crise, depende de uma melhor produtividade do trabalho e seu instrumento a flexibilidade, conceito amplo, que cobre vasto espectro, desde uma flexibilidade das relaes scias (eliminao da rigidez jurdica), passando pela flexibilidade do aparato produtivo (automatizao) e chegando flexibilidade na utilizao da fora de trabalho (emprego de tempo de trabalho). (ROMITA, 2008, p.26).
Desta forma, veja-se que a flexibilizao do
direito do trabalho apresenta-se como um fenmeno
permeado por fatores de diversas ordens e isso
implica em muitas configuraes deste fenmeno
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nas diferentes sociedades, cada qual, com suas
caractersticas peculiares.
A par desta realidade multifacetada que permeia a
seara trabalhista, muitos autores em sede de direito do
trabalho, dedicaram especial ateno conceituao
do que se entende por flexibilizao. Por oportuno,
cabe-se apresentar o que se entende por flexibilizao
no mbito do direito do trabalho a partir dos conceitos
apresentados por alguns dos principais estudiosos da
matria no cenrio jurdico brasileiro atual.
Inicialmente, Amauri Mascaro Nascimento,
aps contextualizar o surgimento e o prprio
desenvolvimento do direito do trabalho com os
fenmenos scio-econmicos da sociedade, toma a
palavra flexibilizao para identificar toda medida
em direito do trabalho, destinada a reconhecer que
a lei trabalhista e sua aplicao no podem ignorar
os imperativos do desenvolvimento econmico.
(NASCIMENTO, 2011,p. 117).
Veja-se que Amauri Mascaro Nascimento
identifica a flexibilizao como o momento em que
o direito do trabalho internaliza reclames da ordem
econmica.
Arnaldo Sssekin (2005), em obra clssica que
trata das instituies no mbito do direito do trabalho,
explica o que se entende por flexibilizao no cenrio
trabalhista ao escrever que:
Com a flexibilizao, os sistemas legais preveem formas opcionais ou flexveis de estipulaes de condies de trabalho, seja pelos instrumentos da negociao coletiva, ou pelos contratos individuais de trabalho, seja pelos prprios empresrios. Por conseguinte: a) amplia o espao para a complementao ou suplementao do ordenamento legal; b) permite a adaptao de normas cogentes a peculiaridades regionais, empresariais ou profissionais; c) admite derrogaes de condies anteriormente ajustadas, para adapt-las a situaes conjunturais, mtodos de trabalho ou implementao de nova tecnologia. (SSSEKIND, 2005, p. 206).
Ressalta Arnaldo Sssekin o carter malevel dado as
normas trabalhistas pela adoo de medidas que tem por
finalidade flexibilizar a legislao do trabalho no Brasil.
Nesse sentido tambm escreve Jlio Assuno
Malhadas (1991), em obra dedicada ao estudo do
direito do trabalho, em especial sob o ponto de vista
constitucional, uma vez que explica sob qual situao
se enseja a flexibilizao:
[...] a possibilidade de as partes trabalhador e empresa estabelecerem, diretamente ou atravs de suas entidades sindicais, a regulamentao de suas relaes sem total subordinao ao Estado, procurando regul-las na forma que melhor atenda aos interesses de cada um, trocando recprocas concesses. (MALHADAS, 1991, p. 143 apud MARTINS, 2009, p. 12).
Da lio de Jlio Assuno Malhadas evidencia-
se o eminentemente carter de acordo de vontades
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presente nas relaes de trabalho quando o assunto
flexibilizao.
J Luiz Carlos Amorim Robortella (1994), em obra
que estuda e analisa o moderno direito do trabalho,
conceitua a flexibilizao do Direito do trabalho como
sendo:
[...] o instrumento de poltica social caracterizado pela adaptao constante das normas jurdicas realidade econmica, social e institucional, mediante intensa participao de trabalhadores e empresrios, para eficaz regulamentao do mercado de trabalho, tendo como objetivos o desenvolvimento econmico e o progresso social. (ROBORTELLA, 1994, p.27 apud MARTINS, 2009, p. 12)
Nota-se que o conceito apresentado tem na
articulao conjunta da classe operria e da classe
empregadora o mecanismo legitimador para a
negociao de alguns caracteres da relao de
trabalho.
Tambm Srgio Pinto Martins (2009), em obra que
trata da temtica em foco, conceitua a flexibilizao das
condies de trabalho como sendo [...] o conjunto
de regras que tem por objetivo instituir mecanismos
tendentes a compatibilizar as mudanas de ordem
econmica, tecnolgica, poltica ou social existente
na relao entre o capital e o trabalho. (MARTINS,
2009, p. 13).
Observa-se que para Srgio Pinto Martins a
flexibilizao no alcana o direito do trabalho em si,
mas sim as condies segundo as quais o labor acontece
na sociedade contempornea.
Nota-se das definies aqui colocadas que a
flexibilizao surge com o objetivo de dar maior
maleabilidade s regras trabalhistas, de modo a permitir,
em certa medida, a adaptao das mesmas as diferentes
situaes concretas.
No entanto, importante que se destaque:
a flexibilizao no pode ser confundida com
desregulamentao, pois se tratam de duas situaes
jurdicas distintas.
1.1 A flexibilizao e a desregulamentao
Conforme se pode observar do tpico antecessor
inmeras so as definies que buscam delinear a
flexibilizao da legislao trabalhista. Ponto comum
entre as vrias definies existentes associao deste
neologismo, flexibilizao, de modo a tornar o direito
do trabalho mais elstico e malevel, diante da realidade
complexa que se experimenta na ps-modernidade.
Assim, apresenta-se como fundamental a distino
entre flexibilizao e desregulamentao. Isso porque,
enquanto que, de um lado, a flexibilizao das leis
do trabalho surge com o objetivo de permitir que
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instrumentos legtimos possam acordar determinadas
condies de trabalho em uma dada situao ftica,
de outro lado, a desregulamentao, consiste na
situao de total retirada do aparato normativo legal
obrigatrio, norteador das relaes de trabalho.
Srgio Pinto Martins cuidou em diferenciar estes
dois institutos ao separ-los, conceitualmente, da
seguinte maneira, primeiro apresentando o conceito
de desregulamentao:
[...] Desregulamentao significa desprover de normas heternomas as relaes de trabalho. Na desregulamentao, o Estado deixa de intervir na rea trabalhista, no havendo limites na lei para questes trabalhistas, que ficam a cargo da negociao individual ou coletiva. Na desregulamentao, a lei simplesmente deixa de existir, pois retirada a proteo do Estado em relao ao trabalhador. [...] (MARTINS, 2009, p. 14).
Na sequncia, explica em paralelo, o segundo
instituto, isto , a flexibilizao, ao escrever que:
[...] Na flexibilizao so alteradas as regras existentes, diminuindo a interveno do Estado, porm garantindo um mnimo indispensvel de proteo ao empregado, para que este possa sobreviver, sendo a proteo mnima necessria. A flexibilizao feita com a participao do sindicato. Em certos casos, porm, permitida a negociao coletiva para modificar alguns direitos, como reduzir salrios, reduzir e compensar jornada de trabalho, como ocorre nas crises econmicas. (MARTINS, 2009, p. 14)
Nota-se das definies de Srgio Pinto Martins que
o trao distintivo desses conceitos a quantidade de
autonomia presente, quer seja na desregulamentao, ou
na flexibilizao. Isso porque enquanto na flexibilizao
a autonomia mitigada pela interferncia do Estado e
da entidade sindical, na desregulamentao a autonomia
plena.
Tambm Vilma Maria Inocncio Carli categrica
ao explicar a diferena destes dois institutos ao afirmar
que:
[...] a desregulamentao do direito do trabalho seria uma forma mais radical de flexibilizao, na medida em que o Estado retiraria a proteo normativa conferida ao trabalhador, inclusive as garantias mnimas, permitindo que a autonomia privada, individual ou coletiva, regulasse as condies de trabalho e os direitos e obrigaes advindas da relao de emprego. Nota-se que a flexibilizao pressupe a interveno estatal, ainda que para assegurar garantias mnimas ao trabalhador, ou sociedade [...] (CARLI, 2005, p.86).
Das palavras de Vilma Maria Inocncio Carli
pode-se perceber que a desregulamentao prestigia
a autonomia da vontade dos particulares quando da
celebrao de um contrato de trabalho, na medida
em que permite que estas mesmas partes escolham as
regras que vo incidir sobre referido pacto, ao passo
que a flexibilizao importa no exerccio restrito
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desta autonomia, pois, por este prisma, cabe as partes
acordarem somente sobre algumas das condies de
trabalho eis que a maioria dos institutos trabalhistas
continua regulada pelo Estado, dotados assim de fora
obrigatria.
Renata Nbrega Figueiredo Moraes cuidou em
evidenciar a escopo da desregulamentao, qual seja:
[...] uma reduo de normas coletivas, em benefcio da negociao individual e selvagem do contrato de trabalho, numa perspectiva do neoliberalismo. O referido discurso submete o direito do trabalho unicamente aos imperativos da administrao empresarial. Noutro sentido, trata-se de reduzir o legislado, ou o regulamentado, preponderando um direito negociado coletivamente pelos parceiros sociais, que tambm pode ser flexvel. Autonomia individual de um lado, e autonomia coletiva de outro. (MORAES, 2007, p. 124).
Logo, possvel notar-se que a desregulamentao
trata-se de um processo muito mais amplo que a
mera flexibilizao das legislaes, pois d verdadeira
liberdade na estipulao das diversas condies que
possam reger um contrato de trabalho.
Lygia Maria de Godoy Batista Cavalcanti utilizando-
se dos ensinamentos de Siqueira Neto acaba por
concluir, que a relao que envolve estes dois institutos,
flexibilizao e a desregulamentao, se d nos dois
termos seguintes:
Flexibilizar no desregulamentar, mas regular de modo diverso do que est regulado. Todavia, vale lembrar que, de acordo com o grau dessa flexibilizao, pode-se chegar perto da fratura da norma existente, o que resulta em desregulamentao, com ou sem regulamentao substitutiva. O outro lado dessa flexibilizao e que constitui fator de risco a flexibilizao total da norma, que faz emergir uma norma mais rgida em sentido contrrio [...]. (CAVALCANTI, 2008, pp. 131-132).
Esclarece a referida autora, de forma muito incisiva
que a flexibilizao e a desregulamentao, em suas
essencialidades so completamente diversas, mas admite
que uma flexibilizao desenfreada possa conduzir a
configurao de uma verdadeira desregulamentao.
2 A flexibilizao e o direito do trabalho brasileiro
Conforme se pode observar at aqui a flexibilizao
apresenta-se como um fenmeno, caractersticos
das ltimas dcadas e que, aqui no Brasil, ganhou
amplitude principalmente pela insero do elemento
flexibilizador de alguns aspectos do direito do trabalho
na Constituio Federal de 1988.
Isso porque a Constituio permitiu a reduo do
salrio, a modificao da jornada de trabalho padro,
bem como a desenvolvida em turnos de revezamento,
a compensao das horas de trabalho extraordinrio
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da relao de emprego, impondo como nica restrio
a interveno do rgo sindical representante dos
empregados, sob pena, inclusive, de ajustes desta
natureza se apresentarem como invlidos perante o
ordenamento jurdico ptrio.
o que se depreende da leitura das regras
laborais constitucionais postas nos artigos 7 at
11 dentro do Ttulo II Dos Direitos e Garantias
Fundamentais da Constituio Federal de 1988.
Veja-se o contedo dos incisos VI, XIII e XIV do
artigo 7, nos quais encontram-se os permissivos
constitucionais f lexibilizao da legislao
trabalhista:
Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social:(...)VI - irredutibilidade do salrio, salvo o disposto em conveno ou acordo coletivo;XIII - durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho;XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociao coletiva;
justamente do contedo das normas apontadas
que se pode observar a possibilidade da reduo dos
salrios, a alterao da durao da jornada de trabalho
diria regular e a desenvolvida em turnos, mediante
negociao coletiva.
Com tal postura legislativa, pretende-se atribuir
s leis do trabalho dinamicidade, momento em que
o Estado passa a entender como vlido o fato de que
alguns aspectos da relao de trabalho sejam acordados
entre trabalhadores e empregadores, porm, coloca
como condio imprescindvel a interveno do rgo
classista que representa os trabalhadores.
Igualmente a edio da smula 453 do Tribunal
Superior do Trabalho caminha nesse sentido quando
prev que: Estabelecida jornada superior a seis
horas e limitada a oito horas por meio de regular
negociao coletiva, os empregados submetidos a
turnos ininterruptos de revezamento no tem direito ao
pagamento da stima e oitava horas como extras..
Tambm a Smula 364, em seu inciso II, do
Tribunal Superior do Trabalho, mais um exemplo
desta tendncia, nos seguintes termos: A fixao do
adicional de periculosidade, em percentual inferior ao
legal e proporcional ao tempo de exposio ao risco,
deve ser respeitada, desde que pactuada em acordos ou
convenes coletivas.
No entanto, podem-se citar algumas leis advindas
a partir da dcada de 1960 que j demonstravam
inclinao do legislador trabalhista em estabelecer
regras trabalhistas mais maleveis. Como exemplo,
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pode-se citar a edio da Lei 4.923/65 que veio a
tratar de uma possibilidade de reduo de salrios,
reduo esta limitada a 25% e mediante a interveno
do sindicato da categoria. Tambm a Lei 5.107/66
que instituiu o Fundo de Garantia por Tempo de
Servio (FGTS) caminhou neste sentido, sendo que,
os trabalhadores admitidos por este regime, poderiam
ser despedidos sem que houvesse uma justa causa,
rompendo-se, portanto, com o instituto da estabilidade
empregatcia. E a Lei n 6.019/74 que veio a regular
as formas de contratao temporria.
Porm, a partir de 1990 que se pode observar, em
terras brasileiras, um sinal de mudana na legislao do
trabalhista mais evidente, motivado, em grande parte,
segundo, Lygia Maria de Godoy Batista Cavalcanti pelo
fato de que:
[...] a reestruturao produtiva do capital passou-se a desenvolver intensamente no Brasil com a adoo do receiturio da acumulao do flexvel, a intensificao de lean production e a disseminao das formas de subcontrataes e terceirizaes da fora de trabalho. [...] (CAVALCANTI, 2008, p. 171).
Nota-se, inclusive, segundo tal autora, que, a
prpria situao poltica do Brasil passa ento por
mudanas significativas, pois h uma tendncia de se
enxugar a fora de trabalho de forma conjunta com
a implementao de uma reorganizao do processo
produtivo e uma estruturao do trabalho, pautado em
parmetro sociais.
contemporneo ao momento histrico brasileiro
citado, a privatizao de vrias empresas pblicas, a
crescente poltica empresarial de reduo do quadro de
empregados nas organizaes, o incentivo adeso a
planos de aposentadoria e de demisso voluntria em
diversos setores econmicos, e o aumento expressivo
da contratao de empregados terceirizados.
Conforme bem destaca Lygia Maria de Godoy
Batista Cavalcanti, [...] esses novos ditames supem
uma ordem fundamental de estrutura organizacional
flexvel que rompe com a lgica do emprego
tradicional. [...] (CAVALCANTI, 2008, p. 173). Tudo
isso, repercutiu de forma muito forte no contexto
jurdico brasileiro.
Passa-se, pois, a admitir a figura do banco de
horas (situao em que o trabalhador que trabalha
para alm de sua jornada de trabalho realizada
horas-extras tem, mediante um acordo coletivo,
estas horas compensadas em folga em outros dias,
ao invs de receb-las em dinheiro acrescidas de
adicional, conforme preconizava a legislao at ento).
Tal possibilidade surgiu em razo da modificao
do art. 59, 2 da CLT, por intermdio da medida
provisria n 10709-3/98. Outro fato importante foi
a publicao da Lei n 9.601/98 que veio a instituir
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uma modalidade diferente de contrato de trabalho
por prazo determinado, momento em que acabava
por consolidar a adoo da tese flexibilizadora no
direito do trabalho brasileiro, para alm da prtica
de negociaes coletivas, conforme havia sinalizado
a Carta Magna de 1988.
Isso porque a lei em comento traz j em seu artigo
primeiro a faculdade de toda e qualquer empresa,
em toda e qualquer situao, desde que previsto nas
convenes e acordos coletivos, contratar empregados a
tempo determinado, sendo que a nica restrio imposta
foi a de que, tais contrataes, implicassem aumento
do quantitativo de empregados na organizao. E mais,
tal legislao previa que empresas que contratassem
por este regime gozariam de incentivos fiscais, porm
estes vlidos at 2003, sendo que na atualidade, embora
tal lei esteja ainda vigente perdeu-se um pouco de sua
presteza, por ser na poca o ponto atrativo. Por isso,
na opinio de Srgio Pinto Martins, A Lei n 9.601/98
deveria ser revogada, pois a partir do momento em que
no h incentivos fiscais para a contratao por prazo
determinado, ela perdeu totalmente sua utilidade. [...].
(MARTINS, 2009, p. 76).
H que se mencionar tambm a instituio do
trabalho a tempo parcial, entendido este como o que
no exceda 25 horas semanais com o acrscimo do art.
58-A na CLT por intermdio da Lei n 10.243/2001.
Cabe destacar que neste regime, o salrio igualmente
proporcional a jornada de trabalho desenvolvida.
Tambm a Medida Provisria nmero 1.779-11/99
surgiu trazendo alteraes no cenrio trabalhista eis
que veio a inserir o art. 476 na CLT, momento em que
se tem a instituio de um novo tipo de suspenso
do contrato de trabalho destinada a atender os casos
em que o empregado submete-se a qualificao
profissional. Tal suspenso compreende um perodo
de 2 (dois) a 5 (cinco) meses, momento em que o
empregado percebe uma bolsa paga pelo FAT (Fundo
de Amparo ao Trabalhador), sempre com a previso
prvia em negociao coletiva da categoria.
Assim, pode-se perceber que a flexibilizao da
legislao trabalhista no Brasil, no pode alcanar
os direitos mnimos assegurados pelo legislador
constituinte de 1988, e ainda, quando se tratar de alterar
os assuntos em que o legislador previu o permissivo
da flexibilizao, h a restrio de tal negociao
interveno dos sindicatos.
Para Srgio Pinto Martins, a flexibilizao tem
como causas vrios fatores: o desenvolvimento
econmico, a globalizao, as crises econmicas, as
mudanas tecnolgicas, os encargos sociais, o aumento
do desemprego, os aspectos culturais, a economia
informal, os aspectos sociolgicos (MARTINS, 2009,
p. 34).
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Logo se atribui a esta flexibilizao das condies laborais, o meio de se garantir uma relao equilibrada no mbito do direito do trabalho, conforme argumenta Srgio Pinto Martins:
A flexibilizao das normas do Direito do Trabalho visa assegurar um conjunto de regras mnimas ao trabalhador e em, contrapartida, a sobrevivncia da empresa por meio da modificao de comandos legais, procurando outorgar aos trabalhadores certos direitos mnimos e ao empregador a possibilidade de adaptao de seu negcio, mormente em pocas de crise econmicas. [...] (MARTINS, 2009, p. 39)
Assim, apresentam-se, segundo mesmo autor, como tendncias do processo flexibilizador, o aumento da utilizao dos contratos atpicos, a instituio de outras formas de contratos por tempo determinado e a tempo parcial, a contratao de trabalhadores em domiclio e de estagirios, a modificao do mdulo semanal de trabalho para anual, a subcontratao e o trabalho informal. (MARTINS, 2009, p. 40)
Neste contexto, o papel das organizaes sindicais se mostra como sendo muito importante, eis que se reservou a este tipo de organizao a misso de fiscalizar e deliberar, em mbito coletivo, acerca dos direitos dos trabalhadores.
Tambm convm ressaltar a grande importncia da atuao dos tribunais trabalhistas no campo da flexibilizao, eis que foram esses, em ltima instncia,
a quem foi dada a tarefa de verificar se as negociaes
coletivas acontecem de forma vlida, segundo os
preceitos vigentes no ordenamento jurdico ptrio.
3 A flexisegurana
Para os defensores da flexibilizao da legislao
do trabalho, uma das justificativas mais fortes deste
fenmeno a criao e a prpria manuteno de postos
de trabalho.
Porm, cabe destacar que no atribuio do
direito do trabalho ser a fora motriz que impulsiona
a economia a gerar novos empregos, logo no se pode
afirmar, igualmente, que um ordenamento jurdico
flexvel assegure o aumento da empregabilidade ou
at mesmo contribua para a manuteno dos postos
de trabalho existentes.
Pois, conforme explica Arion Sayo Romita o
mecanismo que alimenta tanto as contrataes como
as despedidas trabalhistas esto sujeitas s regras do
capital, e a efetivao do lucro, pois:
No h empresrio que, por mais flexvel que seja a regulao do trabalho, contrate empregados se considerar que sua presena na empresa intil; da mesma forma, no h empresrio que, a despeito de toda a rigidez da lei, deixe de admitir um empregado se este for imprescindvel ao sistema produtivo. (ROMITA, 2008, p. 79).
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o crescimento econmico somado as polticas pblicas de fomento ao desenvolvimento do capital que, em ltima anlise, so os responsveis pelo aumento dos nveis de empregabilidade.
Logo, neste contexto apresenta-se o conceito de flexisegurana, como um neologismo, apto a designar a combinao de flexibilizao e segurana, no contexto econmico e social ps-moderno.
Arion Sayo Romita, define com maestria o que se entende por flexisegurana:
[...] A flexicurity (ou flexicurit, em francs) uma nova forma de equilibrar a flexibilidade e a segurana no mercado de trabalho ( no propriamente na empresa nem no emprego), baseada na observao de que a globalizao e o processo tecnolgico acarretam uma rpida evoluo das necessidades dos trabalhadores e das empresas. (ROMITA, 2008, pp. 80-81).
No dinmico mercado global, para que as empresas possam permanecer de forma estvel e lucrativa, precisam estar constantemente se adaptando ao mercado e as novas condies impostas pelo regime capitalista neoliberal. Os empregados, por sua vez, esto conscientes de que para se manter em seu posto de trabalho e at mesmo conseguir alguma ascenso profissional precisam estar aptos a se adaptarem a novas condies de trabalho, reagindo com dinamismo, eficincia e criatividade s instabilidades tpicas da realidade ps-moderna.
Quando a relao de emprego no se apresenta
protegida tem-se um agravamento deste quadro,
pois se dificulta o planejamento pelos trabalhadores
da vida pessoal e tambm do lado profissional. A
classe trabalhadora necessita de alguma garantia
de estabilidade que tenha por finalidade assegurar
um posto no mercado de trabalho, assim como, a
possibilidade de dar-lhe capacidade de adaptaes
s constantes mudanas e alteraes scio-
econmicas, contemporneas a realidade vivenciada
na atualidade.
Logo, Arion Sayo Romita categrico ao afirmar o
carter preponderantemente poltico da flexisegurana
ao escrever que:
Por isso, define-se a flexisegurana como estratgia poltica que tem por objetivo melhorar ao mesmo tempo a flexibilidade do mercado de trabalho e os novos mtodos de produo por um lado, e a segurana do empregado e dos rendimentos, por outro lado. (ROMITA, 2008, p. 81).
Por este conceito, passa-se da preconizada segurana
no emprego para a segurana da empregabilidade
propriamente dita. H o privilgio da proteo da
pessoa em detrimento da proteo do emprego.
Valoriza-se a qualidade e a especializao.
Por isso, diante da flexisegurana, impe-se o desafio
[...] em se encontrar um ponto de equilbrio entre
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a estabilidade e a flexibilidade, a fim de satisfazer as
necessidades dos trabalhadores e de suas famlias quanto
s necessidades das empresas. (ROMITA, 2008, p. 82).
Este desafio apresenta-se como de difcil resoluo, dada
a diversidade de fatores que o permeiam.
Arion Sayo Romita oferece, ainda, uma possvel
soluo ao desafio posto ao escrever que:
[...] A soluo consiste na permanente participao dos interlocutores sociais e no dilogo autntico, desembaraado de ideologias, de preconceitos, de busca de resultados polticos a curto prazo. Tambm necessria a interveno do Estado, ditada por polticas de governos que no se limitem a ditar as regras do jogo, mas que tambm assumam um papel ativo. (ROMITA, 2008, pp. 82-83).
Assim, por este vis, funo das leis trabalhistas e
dos atores sociais (Estado, organizaes empresariais,
sindicatos, e organismos sociais) buscarem a melhoria
da vida do trabalho, tanto temporalmente como
produtivamente e qualitativamente.
4 A precar izao dos v nculos trabalhistas
Conforme se pode observar, so muitos os fatores
que durante os sculos XX e XXI, que influenciaram as
relaes de trabalho e repercutiram fortemente sobre
os vnculos trabalhistas. Dentre estes fatores, pode-se
destacar: o fenmeno da globalizao, o neoliberalismo
e o prprio contexto ps-moderno.
Muitos autores apontam a crescente tendncia
precarizao dos vnculos trabalhistas, tendncia esta
que pode ser visualizada de forma mais clara quando
se observam os ndices de desemprego das ltimas
dcadas.
Nesse sentido, Ricardo Antunes (2000) em clssica
obra intitulada Os Sentidos do Trabalho destaca que a classe trabalhadora atual, classe essa identificada por
ele como a classe que vive do trabalho, passa por um
momento histrico no qual [...] pode-se constatar
de um lado a intelectualizao do trabalho manual;
de outro, e em sentido inverso, uma desqualificao
e mesmo subproletarizao, expressa no trabalho
precrio, informal, etc. [...] (ANTUNES, 2000,
p. 214). H a existncia concomitante ao avano
tecnolgico de uma necessidade de readequao da
classe trabalhadora.
Tambm Pierre Bourdieu (1998) escreveu sob este
assunto e destaca que a precariedade das relaes pode
ser observada nos mais diversos setores da sociedade
contempornea, seja no mbito privado ou na esfera
pblica, e destaca ainda que:
[...] A precarizao afeta profundamente qualquer homem ou mulher exposto a seus efeitos; tornando o futuro incerto, ela impede qualquer antecipao racional e, especialmente, esse mnimo de
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crena e de esperana no futuro que preciso ter para se revoltar, sobretudo coletivamente, contra o presente, mesmo o intolervel. (BOURDIEU, 1998, p. 120).
A precariedade apontada por Pierre Bourdieu
projeta seus efeitos sobre todos os cidados causando
instabilidades e inseguranas classe trabalhadora,
sobretudo, quanto empregabilidade neste cenrio.
Para Francisco Quintanilha Vras Neto pode o
processo de precarizao apresentar o seu plano mais
nefasto no seguinte aspecto:
[...] pelo aumento do exrcito de reserva ampliado pela banalizao de competncias tcnicas e pela terceira revoluo microeletrnica iniciada nos anos 70 e 80, que permitiram ao longo dos anos 90, uma intensiva substituio tecnolgica do trabalho vivo, sendo que essas mudanas conferem ao trabalhador a impresso de que ele no insubstituvel e que o seu trabalho um privilgio quando comparado a situao de penria dos trabalhadores desempregados. [...] (VRAS NETO, 2008, pp. 392-393).
Por este vis, estar inserido no mercado de trabalho,
de forma pura e simples, passa a ser um privilgio.
Aumenta-se, inclusive, a insegurana no mundo
empregatcio, em face da volatilidade das relaes,
o que, consequentemente, acaba por conduzir a
um quadro de insegurana pessoal e existencial,
comumente experimentado pelo trabalhador.
Nesse contexto, a flexibilidade laboral, que difere
da flexibilizao numrica (salrios e emprego)
e da flexibilizao do capital (leasing, finalizao
e terceirizao), pode apresentar-se como uma
ferramenta que vem a contribuir com este processo de
precarizao dos vnculos trabalhistas, na medida em
que a incerteza e a explorao da produo acarretam
a perda de postos de trabalho em diferentes setores
da economia, de modo que [...] amplia-se a excluso
social e a pobreza incluindo tambm, o aumento da
economia informal, que sofre os efeitos e os impactos
de uma maior precarizao, das relaes de trabalho
[...] (VRAS NETO, 2008, p. 395).
Assim, de acordo com esta linha de raciocnio,
a flexibilizao um mecanismo que contribui
para a precarizao, uma vez que se retira da classe
trabalhadora garantias postas na legislao de outrora,
sob o argumento de que um ordenamento jurdico
rgido aumenta os custos de produo e onera de forma
substanciosa o capital.
Ainda, segundo Francisco Quintanilha Vras Neto,
A lgica da precarizao flexibilizadora se manifesta
por meio de tcnicas de terceirizao, que contribuem
para uma maior fragmentao e precarizao dentro da
situao de trabalho e das ocupaes jurdicas, e isso
amplia os ganhos do capital, [...] (VERS NETO,
2008, p. 428).
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Por esta linha de pensamento, quanto mais
fragmentado o contexto jus-laboral, menos segurana se
oferece ao trabalhador. Logo, a realidade flexibilizadora
pode-se mostrar como um instrumento que mitiga
direitos trabalhistas na medida em que pode oferecer
um risco s garantias postas em lei.
Na sequncia, referido autor apresenta como estas
recentes modificaes no contexto do trabalho se
apresentam de forma predominante na atualidade ao
concluir que:
No que concerne codificao dos novos horizontes metamorfoseados do mundo do trabalho, tambm, devem ser feitas consideraes sobre as novas tendncias, que reconfiguram dialeticamente o seu panorama, com a sua consequente, resignificao acelerada por mudanas, que designam novos projetos de mutao do mercado mundializado atingindo a estrutura do Estado e da Sociedade Civil, reconfigurados pelo movimento do capital processo largamente expresso por nomenclaturas socialmente reconhecveis como: a terceira via, o terceiro setor, a economia solidria e o cooperativismo, que expressam tendncias no neutras, e que podem estar interligadas a formas de gesto neoconservadoras ou a novos projetos parcialmente emancipatrios que descortinam respectivamente, novos horizontes e universos de regulamentao e de gesto neoliberais da crise ou de emancipao se instrumentalizados em novas dinmicas trascendedoras do atual modo de produo capitalista. (VRAS NETO, 2008, p. 447).
Por fim, cabe-se salientar que a atual mudana paradigmtica que permeia a sociedade contempornea,
sobretudo em seu vis laboral, pode ser enfrentada de
forma pragmtica por meio da soma de esforos entre
o capital (empresas), o Estado e organismos sociais,
com vistas a diminuir os efeitos nocivos que possam
pesar sobre a classe trabalhadora.
Concluso
Muitos acontecimentos histricos, polticos
e econmicos repercutiram de forma profunda
na organizao do trabalho e de seu regramento
propriamente dito.
H a evidente necessidade de um ordenamento
jurdico que supere a simples proteo ao trabalho e
a figura do trabalhador em especial, em prol de um
ordenamento jurdico dotado de maior funcionalidade,
tambm gerencial, que possa se adaptar a flexibilidade
das relaes vivenciadas neste momento histrico.
justamente neste contexto que surge ento, em
sede trabalhista, o fenmeno da flexibilizao. Calcada
na admisso pelos diferentes ordenamentos jurdicos
de mecanismos capazes de romper com uma pretensa
rigidez das regras trabalhistas, de modo a torn-las
mais maleveis diante da realidade experimentada na
sociedade.
No Brasil, esta tendncia se manifestou de forma
mais declarada, no momento em que o legislador
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constituinte de 1988 admitiu que determinadas
condies de trabalho fossem objeto de negociao
coletiva, isto , a partir do momento em que
empregados e empregadores, por intermdio do
rgo classista representante dos obreiros, puderam
acertar algumas situaes do contrato de trabalho
que at ento, somente pudera acontecer pela ao
legislativa do Estado.
Esta nova postura repercutiu de forma muito
profunda no s entre as partes envolvidas em uma
determinada relao de trabalho, empregados e
empregadores, como tambm em toda a sociedade.
Nota-se, pois, a formao de um novo binmio
composto por um vis da flexisegurana, e por outro
atravs da precarizao das condies de trabalho. Por
um a admisso de mecanismos permitida, em certa
medida, a negociao de determinadas condies de
trabalho, ainda que por intermdio dos sindicatos,
d a empregados e empregadores ferramentas
capazes de se equilibrarem diante das intempries
econmicas da sociedade contempornea. Por outro
lado, a adoo de condies de trabalho relacionadas
aos instrumentos flexibilizadores vem a colocar os
empregados em situao de desvantagem dentro
das relaes contratuais de trabalho, uma vez que
suprime garantias mnimas ao trabalhador, que foram
conquistas a duras penas durante a histria.
Por isso, fala-se que, para alguns autores, a
flexibilizao mostra-se como algo repugnante, face
ao seu carter negativo para o trabalhador e para
outros autores, como uma ferramenta sem igual,
capaz de equalizar os interesses envolvidos em uma
determinada relao de trabalho, acabando por
equiparar trabalhadores e empregadores.
Assim, configura-se pois a flexibilizao da
legislao trabalhista como tema latente no direito
do trabalho brasileiro, seja pela sua repercusso
no mbito da relao empregatcia, ou pelos seus
reflexos no contexto poltico, social e econmico
do Brasil.
Apresenta-se como prtica recorrente no cenrio
laboral contemporneo, cujo alcance e controle
esto a encargo das cortes da justia especializada
em matria trabalhista, portanto, estas se constituem
na instncia legalmente institucionalizada e apta a
dirimir as controvrsias advindas quando os limites
da flexibilizao apresentam-se, em certa medida,
controversos.
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