old nº 56

128
#56

Upload: revista-old

Post on 27-Jul-2016

217 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Nesta edição apresentamos os trabalhos de Pietro Paolini, Romy Pocztaruk, Inti Gajardo, Fernando Moleta, Maria Oliveira e uma entrevista com João Kehl e Rafael Jacinto.

TRANSCRIPT

#56

equipe editorial

direção de arte

texto e entrevista

capa

fotografias

entrevista

email

facebook

twitter

tumblr

instagram

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Tábata Gerbasi

Angelo José da Silva, Felipe Abreu

e Paula Hayasaki

Pietro Paolini

Fernando Moleta, Inti Gajardo, Maria Oliveira,

Pietro Paolini e Romy Pocztaruk

João Kehl e Rafael Jacinto

[email protected]

www.facebook.com/revistaold

@revista_old

www.revistaold.tumblr.com

@revistaold

revista OLD#número 56

expediente

06

08

10

50 104

72 120

32

10

32

50

72

84

104

84quina

livros

pietro paolinijoão kehl & rafael jacinto

inti gajardo

romy pocztaruk fernando moleta

maria oliveira

reflexões

exposição

portfól io entrevista

portfól io

portfól io portfól io

portfól io

coluna

índice

5

carta ao leitor

Este editorial vai ser um pouco di-ferente do que o normal. Antes de comentar os trabalhos desta edição vou abordar um tema que insiste em assombrar a fotografia e tantas outras áreas profissionais. Fica cada vez mais clara a quantidade de abusos e de di-ferença de tratamento recebidas por fotógrafas ou praticadas por fotógra-fos que, por algum motivo, se veem no direito de se impor pelo simples motivo de terem nascido com o gê-nero masculino. A OLD não compactua com nenhu-ma atitude deste tipo e sempre se posicionou como uma publicação igualitária, que dá espaço para jovens fotógrafas e fotógrafos para apresen-tar seus trabalhos e textos sobre foto-grafia, sem nenhum tipo de distinção social ou de gênero.

Decidi aproveitar para este tópico parte considerável das poucas linhas que tenho aqui porque estas atitu-des violentas e mesquinhas não po-dem mais passar em vão. Somos to-dos iguais atrás e em frente às lentes e devemos ser julgados apenas pela qualidade dos nossos trabalhos. Neste mês, apresentamos mais uma vez uma mistura de fotógrafas e fo-tógrafos das mais variadas origens e abordagens visuais, ressaltando a qualidade e a pluralidade da foto-grafia que se produz hoje. São eles: Pietro Paolini, Romy Pocztaruk, Inti Gajardo, Fernando Moleta e Maria Oliveira, acompanhados de uma en-trevista com João Kehl & Rafael Ja-cinto.

por Felipe Abreu

6

OLD#56

Disponível no site da Aperturevalor R$160208 páginas

Phyllis Galembo viajou por vinte anos por boa parte da África Ocidental e do Haiti para produzir Maske. Deste intenso es-

forço a fotógrafa produziu uma série impressio-nante de retratos de eventos ritualísticos com uso de máscaras. Há na série mascarados que traduzem da alegria ao temor completo. O livro e, por consequência as fotografias, tem uma vi-são bastante direta dos seus retratos, que busca apresentar não só com respeito, mas com uma certa reverência histórica a seus personagens. Maske acaba de ser lançado pela Aperture e se posiciona como uma grande coletânea do in-crível trabalho de Galembo, o organizando ge-ográfica e temporalmente. Se a lógica narrativa não parece das mais complexas, a qualidade fo-tográfica parece compensar este problema.

MASKEde Phyllis Galembo

livros

7

Disponível no site da Aperturevalor R$28076 páginas

CATHEDRAL OF THE PINESde Gregory Crewdson

Gregory Crewdson é um mestre da ilu-minação e da construção de perfor-mances fotográficas. Suas sempre me-

lancólicas imagens tem um nível de precisão e de controle inigualáveis. São fotografias que facilmente te transportam para um mundo em que realidade e ficção se perdem e se mesclam quase que completamente. Em seu novo livro, lançado em Dezembro pela Aperture, Crewdson constrói uma narrativa geográfica criada em homenagem à uma pe-quena cidade no interior do Massachusetts. A nova publicação é o primeiro trabalho inédito do artista em cerca de cinco anos e chega para encerrar um período de problemas pessoais e reclusão social, justamente na área que dá nome ao livro.

livros

8

exposição

9

paz de construir novos mundos em frente ao espectador.A curadoria da mostra é de Eder Chiodetto, que aponta como “Maria-na Tassinari atiça, revolve, provoca a linguagem. Entres, quinas, arestas e dobras formam uma espécie de alfa-beto particular com o qual a artista rearticula as possibilidades de cons-truir o plano, de reinventar códigos e combinações entre a digura e o fun-do.”Na construção desta nova tridimen-sionalidade, Mariana Tassinari faz uso de diferentes apresentações vi-suais e assim divide as três séries que

Mariana Tassinari buscou em seu arquivo fotográfico o material base para cons-

truir a sua nova exposição. A mostra, composta por três séries – Entre, Cai-xa e Quina – é um exercício constante de ressignificação do olhar e de um passado produzido pela fotógrafa. As obras apresentadas em Quina fler-tam com a colagem fazendo da união de imagens sua principal - e mais potente – ferramenta expressiva. São linhas, texturas, cantos e cores que se unem para transformar o que um dia foram apenas registros de viagens em uma geografia própria e pulsante, ca-

A CONSTRUÇÃO DE UMA GEOGRA-

FIA ATRAVÉS DE SUAS LINHASMariana Tassinari apresenta sua individual Quina, na Fauna Galeria, com curadoria de Eder Chiodetto e o constante objetivo de reconstruir cada espaço apresentado.

Quina segue em cartaz na Fauna Galeria até o dia

30 de Abril. A Fauna está na Rua Tangará, 132, na

Vila Mariana.

compõem a mostra: Entre apresenta fotografias em backlight, Caixa foto-grafias em impressão UV em caixas de madeira e Quina fotografias de impressão UV em alumínio. Criando mais um elemento para este processo visual, a mostra também se traduz em livro, de mesmo nome, lançado junto à exposição e criando mais um layer de uniões entre linhas e texturas, agora em papel.

portfólio

PIETRO PAOLINIBalance on the Zero

Pietro Paolini vagou pelo Equador durante meses, buscando a melhor maneira de representar a cultura e a vida diária do país. Na série Balance on the Zero,

Pietro apresenta um país que caminha entre o surreal e o delicado, com uma série de personagens e espaços marcan-tes. Em sua visão não há o desejo de julgar ou construir uma visão antropológica de um país, mas sim apresentar pequenos detalhes que instiguem o observador a completar a viagem em sua própria mente.

12

OLD#56portfólio

13

Busquei descobrir as paisagens e

as pessoas sem preconceitos, com

suas tradições e contradições.

Pietro, como começou seu interesse pela fotografia?Comecei a me interessar por foto-grafia durante o ensino médio, de-pois disso estudei por três anos na Fondazione studio Marangoni na Itália. A fotografia me ajudou a ter uma identidade e a dar sentido à mi-nha vida, meu interesse sempre foi primeiramente com o meio e não como uma profissão em si. Seguindo minhas necessidades e o que eu sen-tia eu fui capaz de construir minha visão fotográfica, que lentamente se tornou minha profissão. Em 2006 fundei junto com um grupo de fo-tógrafos o coletivo TerraProject e as-sim começou minha vida profissio-nal como fotógrafo documental.

Nos conte sobre a criação de Balance on the Zero.A série desenvolvida no Equador faz parte de um projeto maior que apre-senta três países latino-americanos que vivem o novo socialismo: Vene-zuela, Bolivia e Equador. Meu inte-resse era principalmente retratar a vida diária nestes países e não fazer um julgamento político destas expe-riências. Busquei descobrir as paisa-gens e as pessoas sem preconceitos, com suas tradições e contradições. A abordagem sempre era bastante aberta, vagando pelo país e deixando o inesperado me capturar.

Quais foram os desafios de fotografar uma cultura diferente da sua? O desafio é se manter aberto e des-

construir meu imaginário europeu sobre este espaço. A possibilidade de viver uma cultura diferente é uma das coisas mais bonitas em fotografia. Também tenho que considerar que a minha visão pessoal é essencial para produzir um ponto de vista interes-sante. Enfim, fiz quatro viagens para lá durante dois anos e realmente gosto de me perder no lugar em que trabalho, me deixar levar, e não vejo também diferenças além da geogra-fia entre Europa e América Latina, já que pela colonização a cultura da região tem uma série de traços euro-peus. Há gente no Equador que vive

pietro paolini

14

OLD#56

alguns tópicos recorrentes em meu trabalho, como a contradição entre passado e presente, ancestralidade e colonialismo, sonho, surrealismo, etc.

Você fala de equilíbrio – e da falta dele – em volta da linha do Equador no texto sobre o projeto. Como você buscou representar visualmente este sentimento?Eu estava buscando por uma luz bastante suave, nas fotos sempre há um céu cinza que me dá a sensação de suspensão. Nos retratos também, muito vezes não é claro o que está acontecendo na foto, pode ser uma coisa ou outra completamente dife-rente. Gosto quando o observador não tem certeza do que vê e tem que fazer um esforço ou colocar algo de sua própria interpretação para com-pletar o sentido da foto. O equilíbrio

em mansões com piscinas e carros importados, que percebi que eram completamente deslocados do que entendemos como a cultura local, por exemplo.

Você tinha uma série de maneiras distintas para representar a cultura equatoriana em suas imagens. Como você selecionou seus tópicos e como você buscou organizá-los em sua his-tória?Simplesmente não organizei nada, só viajei muito buscando lugares in-teressantes dentro do país, às vezes com uma ideia em mente que acaba se transformando completamente quando chego ao local. Para mim, é fundamental não tentar construir a história antes de realizá-la. Gosto de seguir sugestões visuais e um estado mental pessoal. É claro que existem

portfólio

é uma metáfora da vida e do mundo, socialismo e capitalismo, Europa e América do Sul, tradição e globaliza-ção, eu e o mundo.

15

pietro paolini

17

pietro paolini

18

OLD#56portfólio

19

pietro paolini

20

OLD#56portfólio

21

pietro paolini

22

OLD#56portfólio

23

pietro paolini

24

OLD#56portfólio

25

rafael martins

26

OLD#56portfólio

27

pietro paolini

28

OLD#56portfólio

29

pietro paolini

30

OLD#56portfólio

31

rafael martins

portfólio

ROMY POCZTARUKFeira de Ciências

Romy Pocztaruk começou a produzir sua fotografia depois de sua graduação em artes visuais no Rio Grande do Sul. Esta experiência prévia com outras

formas de expressão e a maturação de seu pensamento vi-sual trazem um frescor e uma lógica produtiva muito mar-cantes em sua obra. Em Feira de Ciências, Romy busca a construção de paralelos entre arte e ciência, suas técnicas e a maneira com que os dois campos transformam os objetos que apresentam ou estudam. É um caminho fantástico en-tre museus, fábricas e caçadores.

34

OLD#56portfólio

35

Procurei imagens que colocam em

“dúvida” o universo científico para

criar uma narrativa poética

Romy, como começou seu interesse pela fotografia?Foi durante a graduação em artes vi-suais no Instituto de Artes da UFR-GS, quando comecei o curso pensava em trabalhar com pintura e desenho mas isso foi mudando ao longo do curso e passei a me interessar por questões relacionadas a fotografia e ao vídeo. Logo apos a graduação, comecei o mestrado com um traba-lho que partia de apropriações de materiais audiovisuais. Nessa época, passei a utilizar a fotografia como re-gistro de trabalhos e também ações/intervenções urbanas e aos poucos fui incorporando a fotografia no meu trabalho de forma sistemática.

Nos conte sobre a produção do ensaio

Feira de Ciências.Feira de Ciências é um projeto em andamento que comecei a desenvol-ver em 2012 durante uma residência na China. Parte de uma coleção de imagens e objetos que articulam re-lações possíveis entre metodologias utilizadas nos campos da arte e da ciência. Meu interesse inicial foi co-locar em discussão a relação entre arte e ciência e como cada campo, com as suas especificidades e par-ticularidades, transformam os obje-tos. Uma transmutação mágica entre dois campos de conhecimento que se cruzam em várias especificidades. Na China, visitei e fotografei diversos museus de história natural. Duran-te essas visitas, o que me chamou a atenção foram os modos de dispo-

sição/apresentação e as estratégias de representação utilizadas nesses lugares. Comecei a traçar paralelos possíveis entre esses sistemas e as metodologias que são utilizadas tam-bém no universo artístico. As foto-grafias dos caçadores de insetos, por exemplo, estavam em um museu de ciência como imagens didáticas de uma atividade científica de coleta de material para pesquisa mas se apro-ximam do que se conhece hoje por “fotografia encenada”, ou seja, foto-grafias que são construídas como um teatro do real. Quando essas imagens saem do seu contexto de origem e

romy pocztaruk

36

OLD#56

com três pernas, por exemplo, pode ser um documento de uma anoma-lia científica, mas deslocada para o universo da arte adquire um novo sentido, através de infinitas possibili-dades de leitura e novas camadas de significado. Assim, para esse projeto, busquei criar um universo que dialo-ga com o intervalo de sentidos e não-sentidos, que se produzem e, con-comitantemente, interrompem-se. A literatura fantástica, principalmente Borges e Bioy Casares, também foi uma referencia essencial para desen-volver esse trabalho.

Quais foram os pontos mais interes-santes de se trabalhar de uma manei-ra artística questões científicas?Um dos ponto de partida desse pro-jeto foi produzir uma reflexão crítica a respeito das relações entre arte e

são deslocadas para outro campo ad-quirem novos significados e possibi-lidades de leitura. Como então, me pergunto, cruzar esses campos e criar novos sentidos para imagens. Foram esses, os questionamentos iniciais para o desenvolvimento do projeto Feira de Ciências.

Qual o papel da ficção e do fantástico na construção desta série?No processo de edição dessa serie procurei criar uma narrativa ficcio-nal, misturando imagens de diversas origens que criam um dialogo entre o campo da arte e o imaginário visu-al científico. No processo de produ-ção e seleção dessas imagens, acabei encontrando imagens estranhas, que desorientaram meu olhar pois des-viavam os sentidos de narrativas pré-estabelecidas. A imagem do cavalo

portfólio

ciência, principalmente de estratégias utilizadas nestes dois campos para pro-dução e recepção de imagens. Parti da discussão sobre a relação entre arte e ciência como uma antinomia, constru-ída historicamente, como afirmação das diferenças entre estes dois campos. As-sim, procurei em imagens que colocam em “dúvida” o universo científico para criar uma narrativa poética e dessa ma-neira estabelecer fissuras em discursos pré-estabelecidos.

37

romy pocztaruk

39

romy pocztaruk

40

OLD#56portfólio

41

romy pocztaruk

42

OLD#56portfólio

43

romy pocztaruk

44

OLD#56portfólio

45

romy pocztaruk

46

OLD#56portfólio

47

romy pocztaruk

48

OLD#56portfólio

49

romy pocztaruk

portfólio

INTI GAJARDOFractura

Momentos de grandes mudanças e a possibilidade de respirar novos ares costumam ser ótimos mo-tores criativos. Enfrentar novas situações, frustra-

ções e alegrias contribuem para a criação e para o cres-cimento de quem produz. No caso de Inti Gajardo uma mudança entre continentes foi o empurrão necessário para a construção de Fractura, uma série que lida com sentimen-tos comuns a qualquer migrante e conseguem dar uma cara aos sentimentos confusos de quem chega para se instalar em um novo país.

52

OLD#56portfólio

53

Assim nasce Fractura, com a ideia de capturar o desenraizamento, as in-certezas do meu novo entorno e das pessoas que também as vivem nele.

Inti, como começou seu interesse pela fotografia?Meu interesse pela fotografia nasceu de uma maneira bastante espontâ-nea com mais ou menos 15 anos, não tenho muita certeza da idade. Só me lembro de estar sempre tirando fotos da minha família e amigos de uma maneira muito natural, sem ter ne-nhuma noção de técnica. Tive uma infância e juventude bastante agi-tadas e acho que a fotografia nestes momentos foi uma maneira de nu-trir esta tremenda inquietude que eu tinha. Com 19 comecei a estudar moda, mas só durei um semestre e fui neste momento que percebi que tinha que me dedicar completamen-te à fotografia e mudei do design de moda para o fotojornalismo.

Acredito que sempre de alguma for-ma ou outra mantenho meu interes-se pela fotografia, mesmo que em momentos em que esteja completa-mente dedicada a outras coisas, sem-pre estou fotografando. Nos conte um pouco sobre a criação de Fractura.Foi um processo bastante confuso na verdade. No princípio só fazia fotos de uma maneira muito espontânea, sem pensar muito, partindo das emo-ções que nem eu conseguia entender perfeitamente. Minha vida pessoal estava em um momento de grande transformação, já que tinha decidido deixar o Chile, meu país natal, e me mudar para Barcelona, uma decisão que tomei em menos de um mês,

para começar tudo do zero. Assim nasce Fractura, com a ideia de captu-rar o desenraizamento, as incertezas do meu novo entorno e das pessoas que também as vivem nele. Acho que é uma série de fotos que não tenho concluída, sigo fazendo imagens que falam dessa Fractura.

Como você buscou materializar senti-mentos, como medo, amor, raiva, em suas imagens?A verdade é que nunca me propus a buscar imagens que projetassem amor, medo, raiva, etc. Só fazia fo-tos de uma maneira muito impulsi-

inti gajardo

54

OLD#56

o que eu queria transmitir com tan-tas imagens. Acho que este foi o pri-meiro desafio, porque também era, de uma certa forma, um momento de me enfrentar e enfrentar o que eu es-tava vivendo. Mas, a nível fotográfico, um dos maiores desafios era cons-truir uma ordem para este vômito de imagens e emoções.

Quais são os papeis das paisagens e dos personagens na construção da narrativa da série?Quando consegui criar uma ordem para a série fui agregando mais pai-sagens como uma maneira de dar mais espaço e calma dentro de uma sequências de tantos retratos de te-mas tão duros. As paisagens também serviam como recordações e a uma evocação da sensação de partida. Os retratos sempre estiveram presentes

va. Fractura é um trabalho sobre um processo muito pessoal. Ao longo do tempo, com a ajuda de meus profes-sores e guias Camilla de Maffei e Eu-geni Gay Marin do El Observatorio, fui me dando conta do que queria transmitir com minhas imagens e que ela falavam de raiva, incertezas e amor, tudo sobre o processo que eu estava vivendo.

Como foi o processo de edição da série e quais foram os desafios desta etapa? O processo de edição foi bastante complexo e lento porque não tinha muita consciência do que estava fa-zendo no início, só estava criando de uma maneira muito impulsiva e não pensando muito. Acabei me guiando pelo que eu sentia sobre cada foto-grafia, até que chegou um momento em que tive que parar, pensar e ver

portfólio

na série e eu sinto que os retratados falam muito mais sobre o que eu es-tava vivendo naquele momento.

55

inti gajardo

57

inti gajardo

58

OLD#56portfólio

59

inti gajardo

60

OLD#56portfólio

61

inti gajardo

62

OLD#56portfólio

63

inti gajardo

64

OLD#56portfólio

65

inti gajardo

66

OLD#56portfólio

67

inti gajardo

68

OLD#56portfólio

69

pietro paolini

70

OLD#56portfólio

71

inti gajardo

OLD entrevista

JOÃO KEHL E RAFAEL JACINTO

74

OLD#56

João, Pio e Rafael marcaram a fotogra-fia brasileira com a cia. de foto. Qua-se dois anos e meio depois do final do grupo conversamos com João e Rafa para conhecer sua nova produção e seus processos de criação atual. Con-versamos sobre uma série de retratos e panorâmicas que exploram e desta-cam os limites da fotografia digital além de apresentar os primeiros pas-sos de um novo trabalho desenvolvido pela dupla.

No final de 2013 vocês fecharam uma importante parte da carreira com o fi-nal da cia. de foto. Um pouco mais de dois anos depois, quais são os pontos mais marcantes da nova caminhada?Rafa: No meu caso, acho que voltar para a fotografia de forma mais leve, mais sincera, mais amadora. No final da Cia de Foto eu estava fotografan-do muito pouco e só depois perce-

bi o quanto isso estava me fazendo mal. Hoje faço, no mínimo, uma foto por dia (que publico no Instagram @aphotoaday_project e @rjacinto). Fora os trabalhos que estamos de-senvolvendo como dupla.João: Essa nova caminhada é meio que um recomeço. a cia de foto dei-xou uma marca muito forte no uni-verso da fotografia brasileira e o pro-cesso de desassociar nossa imagem da imagem do coletivo foi o primeiro passo. Depois de muito tempo, a gen-te voltava a ter nome para o mercado. Esses dois primeiros anos ficaram marcados por uma necessidade de reposicionamento no mercado e uma necessidade profunda de voltar a fo-tografar de maneira mais leve e livre.

Vocês tem uma produção bastante for-te em publicidade além do trabalho autoral. Como estes meios se influen-

entrevista

ciam dentro da criação dos projetos?Rafa: Além de fotógrafos somos tam-bém diretores de cena pela Para-noid, então temos uma rotina diária de “briefings”, reuniões, emails, etc. Essa rotina foi algo que desejamos, buscamos. Foi uma forma que en-contramos de viver de fotografia. Isso faz com que pensemos nos trabalhos publicitários todos os dias mas isso não quer dizer que não temos tempo para nossas ideias.Vamos quase que diariamente para nosso estúdio, onde temos nos-so “canto de projetos”, com textos, ideias, livros e objetos que fazem parte do desenvolvimento de nossos ensaios. Além do mais, estamos sem-pre conversando e pensando sobre tudo. Certamente há uma contamina-ção entre os meios, o que acho muito produtivo. São aprendizados diferen-tes, relações pessoais muito ricas.

75

joão kehl e rafael jacinto

76

OLD#56entrevista

A fotografia comercial nos ensina muito sobre técnica, equipe, respon-sabilidades. E nossas pesquisas nos ajudam a pensar criativamente nos-sos trabalhos comerciais. É uma tro-ca saudável.João: Desde a cia de foto que essa li-gação entre o trabalho autoral e o pu-blicitário acontece. Ela pode ser mui-to interessante em alguns momentos, mas pode ser muito perigosa em ou-tros. O lado bacana é quando as duas formas de comunicar conseguem se influenciar positivamente. Já apli-camos experimentos interessantes da arte na publicidade e vice-versa. Acho que quando isso acontece de forma natural o trabalho tende a ga-nhar e existe um amadurecimento da linguagem. O maior perigo é que muitas vezes, a publicidade te leva pra um jeito um pouco automático de fazer as coisas e isso te consome

77

lível, do alcance máximo da capaci-dade técnica dos dispositivos. Câme-ras que enxergam mais que o olho humano, dezenas de frames por se-gundo, altas velocidades capazes de congelar qualquer objeto, mas ape-sar desse super desenvolvimento, ela tem suas limitações e acho que é isso que a gente tem tentado explorar.

A série de retratos tem um elemento interessante de nostalgia, estenden-do o tempo de exposição e forçando o congelamento dos retratados, como no início da fotografia. O que chamou a atenção de vocês neste jogo entre pas-sado e presente?Rafa: As câmeras “enxergam” mais que o olho humano hoje em dia. A partir desse fato desenvolvemos esse trabalho. Fomos para o estúdio e construímos todo esse ambiente controlado. A câmera com filtros na

mínima de luz.Na série de paisagens, construímos imagens panorâmicas com uma se-quência de fotos. Daí interrompemos o processo de junção dessas imagens pelo Photoshop e expomos a costura que o algoritmo traça de acordo com a duplicidade de informação. Isso é uma falha de visualização do softwa-re, quase imperceptível. Depois tra-balhamos a imagem realçando essas falhas, pintando-as de vermelho.João: Acho que algo fundamental da fotografia é tentar desconstruir as possibilidades do aparelho foto-gráfico. Esse aparelho tem se torna-do cada vez mais complexo e não se limita apenas a câmera fotográfica. Hoje em dia os softwares de trata-mento de imagem, computadores e impressoras, fazem parte desse apa-relho expandido.A fotografia digital tem algo de infa-

e afeta outras áreas da sua vida, in-clusive o trabalho artístico. Enquan-to essa relação é saudável só temos a ganhar.

Os dois trabalhos que apresentamos nesta edição lidam com questões li-gadas a um certo limite da fotogra-fia digital. Lidar com essa busca pelo “máximo” do equipamento é um ponto central para a produção da dupla?Rafa: É muito interessante, pelo me-nos pra mim, entender, questionar e testar os limites técnicos. Acho que é a melhor forma de apreender o po-tencial do equipamento. Na série de retratos operamos no limite do equi-pamento. Com o uso de filtros obri-gamos a câmera a trabalhar, mesmo no ISO mais alto com uma longa exposição, revelando o ruído, resul-tado do esforço que o equipamento fez para registrar aquela intensidade

joão kehl e rafael jacinto

78

OLD#56entrevista

79

joão kehl e rafael jacinto

80

OLD#56entrevista

lente, no ISO mais alto. O estúdio todo escuro com uma única fonte de luz vindo de cima, um banquinho en-tre tapadeiras em V.Durante a realização das fotos, a es-pera incomodava. É realmente um clique muito longo quando estamos sentados lá. E, olhando bem as ima-gens, podemos perceber que a espera está lá. São imagens silenciosas. Tem muita coisa “impressa” nessas ima-gens. Espera, silêncio, esforço, ruído, história, rito, relação humana.João: O Rafa adora estúdio e há al-gum tempo queria fazer algo pra ex-plorar esse espaço tão tradicional da fotografia. Chegamos nesse resultado após alguns dias de experimentação dentro do estúdio, fotografando a nós mesmos.No início da fotografia, a necessi-dade de longas exposições se dava por conta de uma limitação técnica,

pra nós nos dias de hoje, esse ritu-al adquiriu um ar de experimenta-ção. Queríamos explorar os limites da câmera fotográfica, mas também algumas das questões envolvidas no ritual do retrato.

O retrato é um elemento constante dentro da produção da dupla. Como vocês costumam lidar com esta troca? O quanto de vocês está nos retratos produzidos?Rafa: O retrato sempre me fascinou. Há sempre a busca por um equilíbrio entre conduzir e deixar ser conduzi-do. Essa história de que há muito do fotógrafo no retrato é também algo muito relativo. Posso fazer uso de técnicas e artimanhas desenvolvidas durante anos de profissão e colocar nada meu lá, a não ser cacoetes.Mas nesse caso era um único clique, então o antes era muito importante.

A preparação dessa cena, a argumen-tação, eram muito importante. Em uma ou duas tinha mais gente con-versando no estúdio e isso incomo-dou bastante. Foram as únicas vezes que repetimos a ação. Fazer um retrato é, sobretudo, uma negociação. Tem que ter respeito.Acho que nesse ensaio especifica-mente, o que tem de nós nas imagens é a fixação pelo ritual, pelo proces-so. Mostramos como somos curiosos e como temos respeito pela história da fotografia. Aliás, acho que nos dois trabalhos apresentados isso fica evi-dente.João: O retrato é um tema clássico da fotografia, assim como da arte em geral. O interessante é que ele pode assumir diferentes formas e acho que lidamos bem com isso. Se olharmos nosso acervo, vamos encontrar os mais diversos tipos, desde um retra-

81

joão kehl e rafael jacinto

to de executivo pra uma revista de economia, que acho que diz muito pouco sobre fotógrafo e fotografado, até retratos muito intimistas da nossa família, que talvez transbordem um pouco mais do que somos e de quem é o fotografado. Essa série, especifi-camente, diz muito mais sobre a gen-te do que sobre a pessoa que está lá diante da câmera e acho que busca refletir sobre a história dessa fotogra-fia como gênero, então é também um retrato do retrato.

A série de panorâmicas também faz re-ferência ao passado, neste caso à pro-dução de Ansel Adams. Como surgiu a ideia para desenvolver esta série e buscar este tipo de referencial?Rafa: O formato panorâmico nos in-teressa muito. Essa forma que induz uma leitura da imagem da esquerda pra direita, que transforma qualquer

assunto em paisagem. Isso é muito potente.A imagem que escolhemos para ser a primeira da série é justamente a do Parque Nacional de Yosemite, nos EUA. Paisagem que, em nossas men-tes, tinha sido imortalizada pelo An-sel Adams, em um de seus portfólios. Fomos direto na referência. Mas o nosso trabalho é resultado da forma como construímos as pano-râmicas. Fazemos uma sequência de fotos com a câmera em movimento panorâmico e depois as juntamos no computador. Quando o Photoshop usa seu algoritmo para eliminar as informações duplicadas nas margens de cada frame, materializa em uma falha de visualização a negociação entre o tempo de cada captura, e é isso que nos interessa.Apresentar e valorizar as rachaduras criadas pela junção desses “frames”

nos pareceu uma forma de atualizar a fotografia de paisagem.João: A ideia de construir imagens panorâmicas surgiu quase que junto com a fotografia. Desde o início, fo-tógrafos uniam imagens na tentativa de dar conta do mundo que enxer-gavam.Assim como o retrato, a paisagem é um tema clássico da fotografia e sem-pre sentimos o desejo de revisitá-la. A referência ao Ansel Adams acabou surgindo já no meio do processo do trabalho, quando começamos a expe-rimentar com o preto e branco.Fez sentido para nós esse contrapon-to a imagem tecnicamente perfeita do Adams. De longe, essas panorâmi-cas remetem diretamente ao apuro técnico que ele explorava ao máximo, mas quando chegamos perto, enxer-gamos as rachaduras, a marca do pro-cesso interrompido que denuncia a

82

OLD#56entrevista

falibilidade do meio.

Estas panorâmicas quebram com a rea-lidade esperada deste tipo de imagem, evidenciando suas falhas. Quais vocês diriam que são os papeis de realidade e ficção nesta série?Rafa: Acho que é uma interpretação de uma fotografia de paisagem.Nosso referente é a fotografia de pai-sagem. Seja do Ansel Adams ou de outro produtor de imagens. As ra-chaduras evidenciam as margens. O lugar onde a informação é dobrada, onde o tempo é negociado.João: Acho que a fotografia nasce des-se jogo entre realidade e ficção. Nessa série isso fica bem evidente porque adicionamos um elemento estranho na construção das imagens, que nos joga diretamente pra longe da reali-dade, mas não acredito que esse seja o foco principal desse trabalho. Acho

83

joão kehl e rafael jacinto

que o limite que buscamos explorar e expandir aqui é o limite da fotografia de paisagem como gênero, são ima-gens construídas e que denunciam um certo tipo de temporalidade pró-pria que se dá pela sucessão de ins-tantes.

Vocês diriam que o papel destas duas séries é afastar a fotografia de uma simples apresentação da realidade? Rafa: Não sei exatamente qual é o papel das duas séries. Mas de fato pretendem levantar questões sobre o tempo e espaço.João: Sempre achei a ideia da foto-grafia como mero espelho da reali-dade de uma inocência tremenda. Invariavelmente, a fotografia é uma interpretação de mundo. Não acho que o papel dessas séries seja esse, porque pra mim isso é intrínseco a qualquer fotografia. Acho principal-

mente, que essas duas séries são uma reflexão tanto sobre o processo foto-gráfico digital, quanto uma explora-ção e expansão de gêneros clássicos da arte.

Vocês pretendem estender esta temá-tica a outros trabalhos? Tem algo em mente que já possam contar?Rafa: Não sabemos. Essas duas séries estão sendo trabalhadas para serem apresentadas juntas ou separadas. Nas duas apresentamos um argu-mento e o defendemos através da re-

petição.Nosso próximo trabalho, que estamos desenvolvendo já há alguns anos, vai ser diferente.É um trabalho que se baseia no livro “A Doutrina das Cores”, de Goethe. Um livro que tem nos norteado bas-tante na nossa produção atual e que virou objeto de estudo. Um ensaio enorme, mais poético, sem afirmação pela repetição, mas com caminhos que dialogam com as teorias do filó-sofo.João: Rafa disse tudo.

De longe, essas panorâmicas remetem diretamente ao apuro

técnico que ele explorava ao máximo, mas quando chegamos

perto, enxergamos as rachaduras, a marca do processo inter-

rompido que denuncia a falibilidade do meio.

portfólio

FERNANDO MOLETAZonzo

Zonzo é um trabalho íntimo, sensorial, que convida o espectador a se aproximar, a explorar cada um dos detalhes dos corpos apresentados. A série de Fer-

nando Moleta é uma viagem, uma jornada de descoberta por cada um dos personagens presentes em suas imagens, é uma liberação do corpo e de seus sentidos. Para construir este trabalho, Fernando transforma a lógica Situacionista de exploração do urbano e a traz para o íntimo para a des-coberta sem pressa do corpo em frente à sua lente.

86

OLD#56portfólio

87

É como se eu buscasse retratar o

caminho que o olhar fascinado por

aquele corpo nu perfaz, percorre.

Fernando, como começou seu interes-se pela fotografia?Não sei dizer exatamente quando ini-ciou o meu interesse, talvez porque paixões são acontecimentos inespe-rados onde o aspecto temporal deixa de existir para apenas tornar-se algo que simplesmente permanece na nossa vida sem saber de onde veio.Mas além de fotografo, sou estudante de arquitetura. Me recordo que, em diversos momentos do curso, eu pre-feria fotografar a obra de arquitetura do que projetá-la. E é quando tomo consciência disso que tento iniciar uma carreira de fotografo de fato. Meus primeiros trabalhos de fotogra-fia sempre foram inerentes a arqui-tetura, depois eu comecei a envolver outros interesses na fotografia, como

a fotografia de rua, o nu, a land art e mais recentemente a cultura pop.

Nos conte sobre a produção do ensaio Zonzo.Zonzo provém de uma teoria da In-ternacional Situacionista, que foi um movimento político-artístico dos anos 1960. A teoria em questão é a “Théorie de la dérive”, que seria defi-nido basicamente como o “deixar-se ir”. É um “Modo de comportamento experimental ligado as condições da sociedade urbana: técnica de passa-gem apressada por vários ambien-tes. Mais particularmente, também designa a duração de um exercício contínuo desta experiência”. Ou seja, era uma prática de conheci-mento urbano através do ato de per-

der- se pelo espaço. Devanear, estar a deriva pela cidade. E assim se co-nhecerá um determinado espaço de uma forma muito mais sensorial do que pragmática.Já o meu interesse, é metamorfose-ar esta experiência sensorial urbana para explorar o corpo humano atra-vés da fotografia.

Qual o papel da intimidade na cons-trução da linguagem deste trabalho?O trabalho ao mesmo tempo que é muito intimo, por se tratar de cor-pos nus, onde isto ainda é um tabu na nossa sociedade, ele também é um

fernando moleta

88

OLD#56

apresentados na suas fotos?Eu procurei olhar os corpos como paisagens, mas não como alusão a simples bodyscapes, mas sim como paisagem envolvente, onde permite-se devanear através do traçado orgâ-nico do corpo humano. É como se eu buscasse retratar o caminho que o olhar fascinado por aquele corpo nu perfaz, percorre. Talvez estas fotogra-fias devessem ser observadas na sua minuciosidade, como se cada pixel da imagem fosse um frame de um ví-deo a ser visto por um determinado tempo. É uma homenagem muito de-licada ao ofício de voyeur.

Como você buscou trazer outros sen-tidos, além do olhar, para estas foto-grafias? Você quer que o espectador se veja no lugar de quem faz as fotos?Eu acredito que uma boa fotografia

trabalho genérico quanto a identida-de do modelo fotografado, afinal eu nunca fotografei seus rostos. De algu-ma maneira eu também quero dizer que das minhas lentes nunca sairão registros que servem somente para mitificar rostos bonitos ou estéticas temporárias. É um trabalho muito mais denso porque fala de sentidos, sensibilidades, experiências. O fato é que nunca houve combinação prévia entre eu e meus modelos, ou algum roteiro a seguir. Não há nenhuma concessão ao perfeccionismo, pois neste trabalho os erros e as imper-feições tem muito mais valor do que os caminhos práticos e certeiros. Ou seja, a intimidade é importantíssima. Só acontece se o modelo encontrar-se disposto a vaguear como bem en-tender pelo cenário.Como você buscou trabalhar os corpos

portfólio

tem o poder de deslocar o especta-dor para dentro da obra. É um exer-cício de teletransporte através da vi-são. Indo mais além, ao imaginar que este processo de deambulação é um estado de hipnose, em um desorien-tadora perda de controle, também pressupomos que é o momento em que se entra em contato com a parte inconsciente da paisagem. Ou seja, é como se eu conseguisse, agora na fotografia, ir além do que é o padrão. E é nesse momento que os outros sentidos se fazem presente, uma vez que discorda que a imagem é algo relacionado unicamente com a visão, a imagem pode trazer sensações que vão além do olhar. Eu, por exemplo, me sinto acalentado por estas ima-gens.

89

fernando moleta

91

fernando moleta

92

OLD#56portfólio

93

fernando moleta

94

OLD#56portfólio

95

fernando moleta

96

OLD#56portfólio

97

inti gajardo

98

OLD#56portfólio

99

fernando moleta

100

OLD#56portfólio

101

fernando moleta

102

OLD#56portfólio

103

fernando moleta

portfólio

MARIA OLIVEIRASob Vigia

Maria Oliveira é uma fotógrafa portuguesa que des-cobriu a fotografia em um período de seis meses passados estudando no Brasil. Depois deste pe-

ríodo, mais de dez anos atrás, Maria se aprofundou cada vez mais em seus estudos e na sua produção fotográfica. Nas páginas da OLD Maria Oliveira apresenta seu ensaio Sob Vigia, uma revisitação à cidade em que viveu até seus 18 anos. A série é uma busca pela representação das trans-formações vividas no espaço e na visão da fotógrafo sobre a pequena cidade que a acompanhou durante boa parte de sua vida.

106

OLD#56portfólio

107

O meu interesse é ir acompanhando e

registando essa alteração de signifi-

cado, de sentimento

Maria, como começou seu interesse pela fotografia?A minha aproximação à fotografia aconteceu em 2004 quando frequen-tei a disciplina de fotojornalismo du-rante um intercâmbio de 6 meses no Brasil. Foi um momento em que me confrontei com as possibilidades de exploração que este meio permite.

Como foi o processo de criação do en-saio Sob Vigia?Sob vigia é um projecto em desen-volvimento e é baseado no local onde nasci e vivi até aos 18 anos. De-pois de deixar de lá morar continuei a revisitá-lo e o que aconteceu é que a minha relação com este lugar foi-se modificando, aquilo que me trans-

mite foi sofrendo mutações ao lon-go dos tempos e foi essa constatação que me levou a iniciar este trabalho. O meu interesse é ir acompanhando e registando essa alteração de sig-nificado, de sentimento, é, também, nesse aspecto, uma relação terapêu-tica.

Nos conte um pouco sobre a constru-ção da narrativa na série.Este trabalho funciona como ano-tações do meu regresso a este im-portante período da minha vida. Foi desenvolvido em formato analógico porque é também um projecto sobre o tempo; voltar aos campos, percor-rer os caminhos de sempre, revisitar os lugares, ouvir, escrever, desenhar.

Estas imagens são o resultado desse processo de introspecção, dessa ex-periência. Este é, cada vez mais, um lugar parado no tempo, afastado do ritmo do mundo, um espaço que vai sendo preenchido pela natureza, e é, também, esta a ideia que procuro transmitir.

Qual o papel da memória neste traba-lho?A memória é essencial neste projec-to. Revisitar os lugares é também re-cuperar as memórias da infância, dos anos em que lá morei e confrontá-las

maria oliveira

108

OLD#56

com aquilo que sou hoje em dia. A memória é o canal de regresso a essas vivências. Como você acha que a fotografia pode representar - ou até mesmo revisitar - o passado?No caso deste projecto em específi-co, a fotografia permite-me convocar o passado, voltar a ele, mas de outra forma, com o distanciamento provo-cado pelo tempo.

portfólio

109

maria oliveira

111

maria oliveira

112

OLD#56portfólio

113

maria oliveira

114

OLD#56portfólio

115

maria oliveira

116

OLD#56portfólio

117

maria oliveira

118

OLD#56portfólio

119

inti gajardo

120

O uso da fotografia como meio de expressão tem aumenta-do nos últimos anos. Antes,

no tempo, a documentação predomi-nava de outras formas como o foto-jornalismo. Tratava-se de construir uma identidade, a foto três por qua-tro, a carteira de identidade.Hoje, brota a necessidade de expres-são como “prioritária”. Construímos singularidades ao invés de identida-des. Apresentamos o próprio corpo como forma de expressar sentimen-

tos, sensações ou visões de mundo.No momento presente a expressão também pode ser considerada como documentação. Hoje se observa uma espécie de migração do foco de in-teresse da fotografia. Para dizermos algo chamamos o olhar para o in-dividual e não para o social. E, nos referimos à uma predominância nos trabalhos produzidos mais recente-mente, sejam eles classificados como fotojornalismo, fotografia de arte, pessoal, documental, etc. Quando o fotógrafo tira fotos de grupos sociais ele está dizendo, muitas vezes, mais de si mesmo que dos outros. Ou, ela dá voz, visibilidade às questões so-ciais e às suas próprias. Quando ele representa sua individualidade com fotos de seu entorno pessoal ou do

próprio corpo, ou ainda, do corpo de seus afetos ele não mudou a sua questão essencial. Mudou a manei-ra de expressá-la. Passou a mostrar, além da sua individualidade a sua singularidade. Ou seja, represen-ta, pela fotografia os aspectos que o constroem como ser único, singular e pertencente a um grupo. Expande, assim, a representação do indivíduo para uma forma que integra e sinte-tiza o social e o singular em um mes-mo trabalho. A foto que acompanha este texto representa um pedaço de minha história marcado no meu cor-po: um corte feito por um paralama de bicicleta muitos anos atrás. Uma cicatriz no tempo, uma foto. Uma marca em minha perna, uma cicatriz.

Angelo José da Silva é professor de socio-

logia na Universidade Federal do Paraná e

fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes fo-

cam o espaço urbano e o grafite.

EXPRESSÃO, SINGULARI-

DADE E DOCUMENTAÇÃO

reflexões

121

reflexões

Hoje se observa uma espécie de migração do foco de interesse da fotografia. Para dizermos algo chamamos o olhar para o individual e não para o social.

coluna

[email protected]

MANDE SEU PORTFÓLIO

Fotografia do ensaio Gigantes, de Diego Saldiva.Ensaio completo na OLD Nº 57.

facebook.com/UrbanPhotoContest

twitter.com/urbanlifephoto

TOTAL PRIZE VALUE

€ 4,000MAIN PRIZE

» STREET PHOTOGRAPHY» NATURE» SPORTS

PROJECTS & PORTFOLIOS

3 THEMES

+ SPECIAL SECTION

+ INTERNATIONAL EXHIBITIONS+ PUBLICATION ON CATALOGUE+ OTHER PRIZES

3 WINNING PROJCETS WILL BE DISPLAYED IN POREC MUSEUM, CROATIA

URBAN looks for talent and quality both among professional and amateur photographers, offering them an international stage from which to get noticed. The highest placing photos in the competition will take part in series of ”travelling” photography exhibits. Since 2011, URBAN exhibits were held in Italy, Poland, Hungary, Latvia, Slovenia, Cyprus, Ukraine and Colombia.

http://urban.dotart.itRULES ANDSUBSCRIPTIONS

facebook.com/UrbanPhotoContest

twitter.com/urbanlifephoto

TOTAL PRIZE VALUE

€ 4,000MAIN PRIZE

» STREET PHOTOGRAPHY» NATURE» SPORTS

PROJECTS & PORTFOLIOS

3 THEMES

+ SPECIAL SECTION

+ INTERNATIONAL EXHIBITIONS+ PUBLICATION ON CATALOGUE+ OTHER PRIZES

3 WINNING PROJCETS WILL BE DISPLAYED IN POREC MUSEUM, CROATIA

URBAN looks for talent and quality both among professional and amateur photographers, offering them an international stage from which to get noticed. The highest placing photos in the competition will take part in series of ”travelling” photography exhibits. Since 2011, URBAN exhibits were held in Italy, Poland, Hungary, Latvia, Slovenia, Cyprus, Ukraine and Colombia.

http://urban.dotart.itRULES ANDSUBSCRIPTIONS