sumario - banco de ideias nº 56

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    Tudo o que vocsempre quis saber

    sobre o Liberalismo

    1 EDIO - 2011

    P a r t e I n t e g r a n t e d a R e v i s t a B a n c o d e I d i a s n 5 6

    por Jos L. Carvalho

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    TUDOOQUEVOCSEMPREQUISSABERSOBREOLIBERALISMO4

    NDICE

    1. Qual a organizao social mais favorvel s idias liberais?

    2. Por que a propriedade privada to importante para os liberais?

    3. Na filosofia liberal, o que cabe ao Estado fazer?

    4. O liberalismo acha que devemos ter um Estado mnimo mas

    isto significa abandonar os menos privilegiados a sua prpria sorte?

    5. Os liberais no acham que a sade deva ser um direito constitucionalde todos os cidados. Ento como que ficam os mais pobres?

    6. Por que os liberais acham que as Universidades deveriam ser privadas e

    no pblicas? Isto no uma discriminao contra os estudantes pobres?

    7. Para os liberais todos os que se aposentam no servio pblico ou privado

    deveriam ter o mesmo tratamento? E os militares, tambm?

    8. O liberalismo uma forma de governo que s serve a pases de pequena

    populao, com grau de instruo elevado, e no para pases com

    populaes grandes, com elevada concentrao de renda e baixos ndices

    de educao?

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    1) QUALAORGANIZAOSOCIALMAISFAVORVELS

    IDEIASLIBERAIS?

    A grande revoluo da sociedademoderna foi reconhecer que o homem

    livre por natureza e, portanto, aliberdade deve ser preservada epromovida. Contrariamente socie-dade medieval, na qual o homem eravalorizado por seu papel na sociedade,a sociedade moderna emergiu davalorizao da liberdade, trazendo comela uma prosperidade nunca vista, mastambm riscos e incertezas. Assim, umasociedade moderna organizada por

    homens livres sob um contrato social,em que todos so igualmente sub-metidos s regras da lei. O poderpoltico gerenciado no mbito de umprocesso democrtico, e a concentraodo poder pelo Estado est sujeita aregras (Constituio) que visam protegeros direitos e as liberdades dosindivduos. Assim, a sociedade con-siderada neste trabalho est organizadacomo um estado constitucionaldemocrtico de direito e enfrenta oproblema da escassez por meio de umaeconomia de mercado livre. A im-portncia do mercado livre para oprocesso de administrao da escassezest na preservao da liberdade deagir das pessoas e em sua superioridadeem termos de eficincia no uso dos

    recursos escassos. O preo de um bemem um mercado livre ao mesmotempo o valor marginal que osconsumidores atribuem ao bem e ocusto marginal de sua produo. Aimposio de tributos reduz o benefciolquido, para a sociedade, gerado pelomercado.

    Dessa mesma raiz liberal, duasalternativas para a organizao

    econmica foram desenvolvidas paragerenciar o conflito de interesses entre

    os membros de uma sociedade sujeita escassez: capitalismo e socialismo. Nocapitalismo os direitos de propriedadeprivada so essenciais para preservara liberdade e promover a eficinciaeconmica. Porm, o socialismo evoca

    a propriedade comum de recursosprodutivos para promover uma justadistribuio do produto entre osmembros de uma sociedade. Osacontecimentos dos ltimos quinze anosdo Sculo XX, na Unio Sovitica e naEuropa Oriental, so a certido debito dessa ordenao romntica daproduo em uma sociedade humana.O esforo socialista para reduzir os riscos

    e incertezas trazidos pela nova ordemsocial (sociedade moderna) conduziu ohomem de volta para a organizaomedieval, onde este era valorizado porseu papel na engrenagem social e aideologia acenava com um futuromenos arriscado. Dessas duas alter-nativas de organizao do sistemaeconmico social, a organizaocapitalista, isto uma economia demercado, a que mais se adapta sociedade de homens livres e respon-sveis organizada em um estadoconstitucional democrtico de direito.

    Por viver em sociedade, o homem,voluntariamente, abre mo de parte desua liberdade em favor de uma ordemsocial. Dessa forma, uma sociedade spode ser organizada mediante a

    aceitao, por todos, de que suas aessejam igualmente submetidas a umaordem institucionalmente constituda.Como resultado dessa aceitao geral,o Estado de Direito preserva os direitose as liberdades de cada um, emboralimitando sua ao. Trs direitosfundamentais ao indivduo tm de serpreservados sob o Estado de Direito: odireito vida, o direito de, livremente,

    perseguir a prpria felicidade e o direito propriedade. Os direitos vida e

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    liberdade so autoexplicativos. Afundamental importncia dos direitos depropriedade em uma sociedade dehomens livres requer alguma expli-cao. Isso se faz necessrio devido sfrequentes agresses a esses direitos,

    com impactos sobre seu papel napromoo da utilizao eficiente derecursos escassos. Embora a vidahumana e a liberdade estejam, tam-bm, frequentemente sujeitas a ataques,no h nenhuma ideologia contrria aesses dois direitos fundamentais. Issono ocorre com os direitos de proprie-dade que, em muitas ocasies, sovistos como uma fonte de desigualdade

    de riqueza e, portanto, injustos..2) PORQUEAPROPRIEDADEPRIVADATOIMPORTANTE

    PARA OSLIBERAIS?

    Em primeiro lugar porque aliberdade est indissociavelmente ligadaaos direitos de propriedade privada. Ohomem s livre se dono de seuprprio corpo e se capaz de seapropriar do que produz. Mas, o queso os direitos de propriedade? Direitosde propriedade so a proteo que umindivduo tem contra qualquer outrapessoa escolher, contra a sua vontade,um possvel uso para recursos aceitoscomo sendo seus. Essa proteo paraos atributos fsicos do recurso, e no ao

    seu valor de mercado ou valorpsicolgico. Assim, as alteraes novalor de mercado de sua propriedade,as quais resultem de aes de outrosindivduos, por no alterarem osatributos fsicos de sua propriedade,no constituem uma agresso aos seusdireitos. Esse fato nos conduz aodesenvolvimento de James Buchanan,que destaca direitos de propriedade

    como garantidores de liberdade,complementando o desenvolvimento

    mais comum em favor da propriedadeprivada, que o da eficincia no usodos recursos escassos.

    A liberdade garantida pela pro-priedade privada decorre da maiorindependncia do indivduo em relao

    ao de outros membros dasociedade. Existe um dinmico mercadode aluguel de moradia, mas aindaassim as pessoas procuram serproprietrias de suas habitaes demodo a reduzir o impacto das aesde outros indivduos sobre suascondies de moradia. Uma residnciaalugada tem seu aluguel fixado pelascondies de mercado. A propriedade

    do imvel onde o indivduo reside tornaas condies de sua moradia, emtermos do risco de precisar mudar-se emum curto lapso de tempo, indepen-dentes das flutuaes no mercado dealuguel.

    Um sistema eficiente de direitos depropriedade requer pelo menos trspropriedades: universalidade, exclusi-

    vidade e transferibilidade. Direitos depropriedade devem ser universais, nosentido de que todos os recursos devemser propriedade de algum, excetoquando no surge nenhuma questo deeficincia. Exclusividade implica queningum, alm do proprietrio dorecurso, pode comandar o seu uso. Atransferibilidade necessria para apromoo de eficincia alocativa e ao

    longo do tempo. Com relao aotempo, os direitos de propriedadedevem ser entendidos como perma-nentes.

    Transferibilidade o direito que oproprietrio tem de transferir direitos depropriedade a outrem, em termos econdies mutuamente acordadas. importante que apenas o comprador eo vendedor aprovem as condies sobas quais os direitos sero transferidos.Nenhum terceiro poder impor

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    condies, mas a transao deveser legal. Assim, se um controle depreos imposto por terceiros, includoo governo, os direitos de propriedadedaqueles que tm seus preoscontrolados, em um sentido estrito,

    so violados.Quando todos os custos e benefciosassociados ao uso de um bem sounicamente apropriados por seuproprietrio, benefcios e custos privadose sociais so idnticos. raro que oproprietrio tenha controle sobre todosos atributos fsicos de todos osseus bens. interessante notar comoas pessoas reagem diferentemente

    a agresses caracterstica deexclusividade dos seus direitos depropriedade. Fumar em edifciospblicos uma agresso aos direitosdas demais pessoas, uma vez que ofumo vai poluir o ambiente. Alm dealterar as caractersticas do ambiente,fumar em lugares pblicos podeproduzir efeitos negativos sobre a sade

    das pessoas que no fumam. Em algunspases, leis probem fumar em edifciospblicos ou mesmo limitam fumantes areas especficas desses edifcios.Entretanto, nesses mesmos pases operfume no foi proibido em edifciospblicos e, como o fumo, ele gera umimpacto semelhante sobre os direitosdas pessoas. O efeito negativo sobre asade de terceiros no caso de perfumes

    pode advir de uma reao alrgica aoaroma de alguns de seus componentes.Em nenhum lugar h restries sobre

    o uso de perfume. Por qu? Em parteporque os custos de transaes paraidentificar os casos de alergia so muitoelevados. Em parte porque a maioriadas normas resulta de aes de gruposde interesse, e o lobby para banirperfume no forte o suficiente. O fatode o indivduo no ter controle ouinteresse em controlar os efeitos

    negativos de sua ao sobre outraspessoas gera o que os economistasdenominam externalidade. importantedestacar que externalidades s ocorremem um contexto social e geram umadiferena entre custos e benefcios

    privados e sociais. Isso provoca umconflito entre o causador da ex-ternalidade e as pessoas por elaafetadas negativamente. A soluodesses conflitos pode advir de umacordo entre as partes, cujo sucessodepende dos custos de transao nadeterminao desse acordo. Napresena de elevados custos de tran-sao que inviabilizem o acordo, uma

    norma precisar ser imposta peloEstado para garantir o interesse deterceiros.

    A salvaguarda dos direitos depropriedade tambm est sujeita acustos. Quanto maior esse custo, commais frequncia os direitos de pro-priedade sero ignorados e roubosocorrero. Assim, o conjunto de normas

    destinadas a proteger a propriedadeprivada e os direitos individuais tem deser claro e gerencivel a baixo custo.Tendo em conta o Estado de Direito,um sistema judicial e um sistema deaplicao da lei (poder de polcia) tmde ser mantidos a um custo (recursos etempo) menor do que as perdasesperadas decorrentes da m condutade indivduos. Se o custo de aplicao

    da lei relativamente elevado, a lei serfrequentemente desrespeitada. Se aadministrao da justia relativamentecara em tempo e recursos, regras econtratos tambm sero frequentementequebrados. Nessas circunstncias, asconsequncias para a estabilidadesocial, o crescimento econmico e odesenvolvimento de mercado soclaras. Sero frequentes os conflitosentre os membros da sociedade, osincentivos para produo sero

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    precrios, o comrcio ser restrito a pe-quenos grupos e o bem-estar serreduzido.

    Toda transao implica uma troca depropriedades, que tambm est sujeitaa custos de transaes. Quando os

    custos de caracterizao dos direitos depropriedade privada so muito ele-vados, as transaes podem ser invia-bilizadas ou, se ocorrerem, implicaroum risco mais elevado para osparticipantes. Dificuldades na carac-terizao de direitos de propriedadetm o mesmo efeito, sobre o preo docorrespondente bem, que um sistemaineficiente de preservar esses direitos.

    Nesse caso o preo vai cair, porque oproprietrio ir reduzir as expectativassobre o uso do bem e, portanto, suademanda ser reduzida. Tambm,dado o baixo custo para roubar (pira-taria, por exemplo), menos pessoas vocomprar esse bem na expectativa de teracesso a ele por roubo.

    Direitos de propriedade so um

    conceito dinmico que constantementeajustado s circunstncias. A velocidadee a intensidade das mudanas nesseconceito dependem dos benefcios queos novos direitos de propriedade irogerar para a sociedade. Hoje, a terra o nico recurso natural sujeito a umsistema bem definido de direitos depropriedade, em quase todos oslugares do globo. Mas isso nem sempre

    foi assim. Em vrias sociedades a terraera uma propriedade comum e, poresse motivo, era indevidamente utilizadae se tornava uma fonte de conflitos entreos membros da sociedade. A passagemde uma propriedade comum para umsistema de propriedade privada difcile, algumas vezes, induz as pessoas aconfundir o sistema de direitos depropriedade privada com a formaarbitrria como a propriedade privadatem sido implementada. Esse foi

    exatamente o caso do Enclosure Mo-vement na Inglaterra, quando apassagem para um sistema de proprie-dade privada ocorreu por retirar dosarrendatrios os direitos de uso da terrae declarar algumas pessoas, politi-

    camente poderosas, como seus proprie-trios. Esse evento produziu uma crenainjustificada de que s seria possvelimplementar-se um sistema depropriedade privada pela expropriaodos direitos de seu uso comum.

    A discusso acima destaca a impor-tncia dos custos de transaes nacaracterizao dos direitos de pro-priedade, bem como suas implicaes

    para o uso eficiente dos recursos. Pode-se resumir a importncia dos custos detransaes supondo o que aconteceriase eles no existissem em uma socie-dade de mercado livre: (a) no haveriaexternalidades, uma vez que acordosentre as partes produziriam as neces-srias compensaes positivas ounegativas; (b) as propriedades (recursos)

    seriam usadas em suas melhoresalternativas, uma vez que os custos e osbenefcios privados e sociais seriamidnticos; (c) o uso da propriedadeprivada (recursos) seria independenteda distribuio original de direitos,desde que ela pudesse ser livrementenegociada. Esses argumentos foramdesenvolvidos originalmente por Coasee so conhecidos como Teorema de

    Coase, o qual nos fornece as bases parasugerir uma diviso de tarefas entre osetor privado e o Estado.

    3) NAFILOSOFIALIBERAL, OQUECABEAO ESTADOFAZER?

    As sociedades so organizadas emEstado pela mesma razo bsica quenegcios so conduzidos por empresas:

    reduzir os custos de transao. Assim, oEstado tem um papel definido em uma

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    organizao social. Em uma sociedadeem que a liberdade para serpreservada, funo de Estado provercondies para uma vida harmnica,no mbito do Estado de Direito, e parao desenvolvimento de atividades

    econmicas, no mbito do mercadolivre. Um sistema bem definido dedireitos de propriedade necessriopara ambos os objetivos. A ausnciade um sistema bem definido de direitosde propriedade vai exacerbar conflitossobre a utilizao dos recursos,reduzindo a eficincia econmica domercado ou impossibilitando seudesenvolvimento, em alguns casos. Ao

    Estado, portanto, alm da proteo aoscidados contra agresses de estran-geiros cabe garantir a cada residenteem seu territrio segurana pessoal epatrimonial por meio de um conjuntode leis e regulamentos. Para tanto, concedido ao Estado o poder depolcia, a administrao da justia,assim como o poder de confiscar

    recursos da sociedade por meio detributos, de modo a cumprir sua funo. A propriedade pode ser privada,

    pblica ou propriedade do Estado. Apropriedade privada oferece a maiorflexibilidade no uso de recursos escassosenquanto os direitos de propriedadepuderem ser livremente divididos,combinados, trocados e negociados. Apropriedade privada pode referir-se a

    um proprietrio individual ou a umgrupo de indivduos, como no caso declubes, sociedades ou cooperativas. Apropriedade pblica refere-se aosrecursos sujeitos ao uso comum. Nessecaso ningum pode ser excludo do usodo recurso e ningum pode transferirdireitos associados a uma propriedadecomum. Essas so as principais fontesde problemas associadas ao uso depropriedades comuns, tais comoas ruas. O Estado como proprietrio

    representa uma anomalia no uso derecursos escassos. Gerenciada pelaburocracia estatal, a propriedade doEstado em geral usada para beneficiargrupos especficos, custa doscontribuintes. Propriedade comum e

    propriedade do Estado esto crescendoem todas as sociedades devido aodeliberada de pequenos grupos queprocuram, dessa forma, se apropriar derendas ou reduzir os riscos associados sua propriedade.

    A interveno governamental nomercado, em grande parte, tem sidojustificada pelas assim chamadas falhasde mercado. Diz-se que o mercado

    falha quando a ao livre dos agenteseconmicos produz custos e benefciosprivados diferentes de suas contra-partidas sociais. Falhas de mercadopodem ocorrer devido indivisibi-lidade, existncia de bens pblicos,de bens de propriedade comum e deexternalidades. Tambm comumconsiderar como falha de mercado

    imperfeies de mercado geradas pelaexistncia de custos na aquisio deinformaes. Assim, problemas decor-rentes da relao principal-agente, seleo adversa e risco moral soalgumas vezes considerados comofalhas de mercado. Preferimos consi-der-los como decorrentes de diferenasnos custos de obteno de uma mesmainformao pelos agentes envolvidos

    nas transaes e, portanto, eles nosero considerados nesta discusso.Desde o final do sculo XIX, com o

    famoso exemplo de um escravo paracada senhor desenvolvido por FrancisYsidro Edgeworth, a existncia deindivisibilidade considerada como umimpedimento ao mercado livre. Adistribuio de gua em uma cidade um exemplo comum de como aindivisibilidade (no se pode levar guapara um ponto B sem passar o tubo

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    pelo ponto A) impede o desenvol-vimento de um mercado livre. Produziro servio de distribuio de gua pormeio de muitos fornecedores maiscaro do que ter apenas uma empresaresponsvel pela rede de distribuio.

    A soluo para esses casos aautoridade pblica conceder, o que oseconomistas chamam de monoplionatural, para um nico fornecedor doservio ou bem. Para impedir que ofornecedor explore esse poder demonoplio a autoridade pblicacontrola o preo a ser cobrado aosconsumidores.

    Ocasionalmente, uma inovao

    tecnolgica poder eliminar a in-divisibilidade e, portanto, no havernenhum argumento para justificar asoluo via monoplio natural. Esse o caso das telecomunicaes viasatlite. A possibilidade de alugar osservios de satlite para comunicaoelimina a indivisibilidade de investi-mento em infraestrutura de cabos em

    servios telefnicos locais, interurbanosou internacionais.Bens pblicos, na definio formal

    de Paul A. Samuelson, so bens paraos quais o consumo por uma pessoano reduz o consumo de qualqueroutra. Portanto, so bens que uma vezdisponveis no geram rivalidade entreas pessoas para seu uso ou consumo.Segurana nacional o exemplo

    clssico de bem pblico. Uma vez queo bem seja produzido, qualquerconsumidor ter acesso a ele sempagamento, porquanto seu consumono implicar reduzir a possibilidade deconsumo de qualquer outro consu-midor. Mas, algum tem que pagarpara o produto ser produzido. Assim, oproblema de produzir um bem pblicoest em como financiar sua produo,uma vez que cada consumidor esperarque algum financie sua produo para

    ter acesso ao bem sem ter que pagarpor ele. Nesse sentido, o mercado falhano provimento desse bem porqueno h preo a ser cobrado doconsumidor ou do usurio que financiesua produo.

    Geralmente os bens pblicos, quandofornecidos pelas autoridades pblicas,tm sua produo financiada porimpostos gerais, uma vez que nenhumcidado pode ser excludo do acessoao bem. Esse problema financeiroparece ser importante somente quandoo bem pblico produzido pelogoverno ou quando a ausncia dessebem venha a impor um custo para a

    sociedade muito mais elevado do queo custo dos impostos necessrios parafinanciar sua produo. Observe queh muitos bens pblicos produzidos pelosetor privado por interesse prprio doprodutor, como, por exemplo, conhe-cimento cientfico, msicas, etc. Portanto, importante destacar que a ao daautoridade pblica em relao aos bens

    pblicos pode, e em muitos casos deve,se restringir promoo de incentivospara financiar sua produo. Dessaforma o governo no precisa produziro bem pblico para que a sociedadedele usufrua.

    A falha de mercado associada ao usode bens de propriedade comum resulta,na realidade, da falta ou impossi-bilidade de caracterizaes de direitos

    de propriedade privada em seu uso. Apoluio do ar ou da gua ou oscongestionamentos de trfego so umexemplo de falha de mercado asso-ciada a bens de propriedade comum.Observe que a origem da falha a noexistncia de propriedade privada oudefinio inadequada de direitos depropriedade. Na ausncia de proprie-dade privada, quem deve ser excludode desfrutar a propriedade comumquando seu uso precisa ser racionado?

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    Se os direitos de propriedade no soinequivocamente caracterizados, comopode algum se proteger de externali-dades produzidas por outros, quandodo uso de propriedade comum? Emambos os casos, duas situaes

    diferentes podem condicionar o esforoem resolver os conflitos: os custos detransao so baixos ou elevados.

    Gerenciamento eficiente da proprie-dade comum uma tarefa relativa-mente simples quando, na caracte-rizao dos direitos de propriedade, oscustos de transao so baixos. Este o caso de bens comuns em umapequena comunidade ou em condo-

    mnios. Neste ltimo caso, os direitos depropriedade sobre o bem comumtambm so definidos por um conjuntode regras que os participantes aceitamvoluntariamente, quando decidemparticipar do condomnio. A pescariaem um lago pode ser uma atividadepermanente pela restrio atividadepesqueira por imposio de licena e

    um perodo de defeso.Quando os custos de transao soelevados, normas governamentais sofrequentemente usadas para impedir ouso indevido da propriedade comum.O problema com as regulamentaesgovernamentais que elas transformamum problema econmico, o uso de umrecurso escasso, em um problemapoltico. Mas, uma vez que o mercado

    tambm no capaz de resolver oproblema do uso de bens comuns ouda ocorrncia de externalidades, algotem de ser feito para evitar conflitos nasociedade. A regulamentao umamaneira de se resolver tais impasses,mas deve ser usada com cuidado. Aregulamentao precisa ser vista comouma soluo transitria por estar, deuma maneira velada, sujeita ao degrupos de interesse, inclusive a bu-rocracia.

    Uma vez que no h nenhummercado formal para regulamentao,restries s atividades de lobbyprecisam ser impostas para impedir quegrupos consigam, em benefcio prprio,impor restries legais ao dos

    outros. por meio de tais lobbies quemuitas normas so impostas embenefcio de pequenos grupos. Essesbenefcios podem produzir uma maiorconcentrao de recursos econmicos,que dar origem a um maior poder deinfluenciar a direo das normas legaisa serem criadas. preciso, portanto,proteger a sociedade dessa ameaa,bem como superar obstculos impe-

    ditivos do bom e livre funcionamentodos mercados. indispensvel que asociedade tenha na sua lei maior, aConstituio, limitaes ao degrupos de interesse capazes de obteruma legislao que os beneficie. Porcerto, a garantia do Estado de Direitoexige um Judicirio independente,expedito e eficaz, de modo que cada

    cidado tenha certeza de que seusdireitos sero sempre respeitados.Regulamentaes so acompa-

    nhadas da criao de um corpoburocrtico, altamente interessado empreservar seu poder poltico. De ummodo geral, poderes discricionrios soconcedidos a esses burocratas, o quefavorece a corrupo. Em muitos casos,as regulamentaes impem um custo

    de transao to elevado que, nasociedade, atividades so desenvolvidasignorando essas regras (as chamadasatividades informais).

    Quando da introduo de uma regu-lamentao econmica, a burocracia aela associada procurar, ativamente,promover mais regulamentaes que afavorea. Grupos de interesse rapi-damente se uniro aos burocratas nesseesforo de criar regulamentaes quefavoream seu bem-estar. Em breve as

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    pessoas vo perceber que, por meio daregulamentao, possvel obter-serenda, o que promove um mercado deregulamentao. Quando a sociedadeatinge esse estgio os valores moraisda sociedade estaro seriamente

    ameaados. No devemos subestimaro poder de dilacerao do tecido socialda regulamentao.

    Assim, a administrao dos pro-blemas oriundos da existncia de bensde propriedade comum, bem como deexternalidades, pode exigir regula-mentao, enquanto a caracterizaodos direitos de propriedade no puderser feita a custos de transao supor-

    tveis. Restries legais so necessriaspara impedir o desenvolvimento de ummercado de regulamentao. Nessesentido, importante que a regula-mentao seja identificada, pelo cida-do e pelas autoridades pblicas, comouma opo de natureza temporria econcebida de forma a evitar qualquertipo de poder discricionrio para sua

    burocracia.Associados a bens pblicos, existembens cuja natureza pblica at oesgotamento de sua capacidade.

    Alguns desses bens podem ser, tambm,objeto de produo pelo Estado. Umexemplo tpico de bem semipblico asegurana pblica (servios de bom-beiros, etc.). Se no existissem mar-ginais na cidade do Rio de Janeiro, o

    servio de segurana pblica nessacidade seria um bem pblico, por-quanto o uso dos servios de polcia porqualquer residente no impediria aqualquer outro residente ter acesso aomesmo servio, embora no fosseatendido pelo mesmo policial. Entre-tanto, dada a criminalidade existente noRio de Janeiro, a capacidade do serviode segurana pblica est esgotada.Esse o motivo de a segurana pblicaser vista como bem semipblico. Tais

    bens no devem ser considerados deproduo exclusiva pelo Estado, emborano caso especfico de segurana pblicaexista um forte argumento em favor dadelegao da prestao desse servioao Estado, qual seja a possibilidade de

    abuso de poder por parte dos gruposque venham a exercer a funo policial.H um conjunto de bens que trazem

    consigo um elevado teor de exter-nalidades positivas que, por essa razo,devem ser, ainda que no exclusiva-mente, produzidos ou ter sua produoincentivada pelo Estado. Isso porque oprodutor de tais bens no se apropriar,por meio dos preos de mercado, da

    integralidade dos benefcios por elesgerados. Esse o caso tpico de edu-cao primria e sade pblica.

    A vida em sociedade requer comu-nicao. Quanto maiores os custos decomunicao em uma sociedade, maiora quantidade de recursos que serdesviada de outras atividades para suapromoo. O domnio da lngua falada

    e escrita e o conhecimento das ope-raes aritmticas constituem condiesindispensveis para a promoo deeficincia no processo de comunicao.Embora a empresa privada possapromover servios de educaoprimria, ela no ter como cobrar dosseus clientes o benefcio que o saber ler,escrever e contar gera para toda asociedade. H, ento, uma diferena

    entre a rentabilidade privada dosinvestimentos em educao primria ea rentabilidade social. Levando-se emconta as externalidades positivas daeducao, a rentabilidade social dosinvestimentos nesses servios substan-cialmente maior que a rentabilidadeprivada. Por isso mesmo pode o Estado,no exclusivamente, produzir servios deeducao primria ou, preferen-cialmente, por meio de mecanismosfiscais, tornar a rentabilidade privada

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    nesses investimentos igual social.Analogamente, servios de vacinaoe saneamento bsico devem, tambm,ser objeto da ao do Estado. O custoprivado de vacinar toda umapopulao para que algum se proteja

    de uma doena infectocontagiosa proibitivo, embora os benefcios sociaissejam muito mais elevados. Uma vezmais, a rentabilidade social dessesinvestimentos muito maior que arentabilidade privada, o que justifica aao pblica.

    Cabe, portanto ao Estado prover aordem institucional e nessa ordemdeve estar includo o provimento de

    uma moeda de poder de compraestvel , garantir o Estado de Direito,e, por conseguinte, o funcionamento domercado livre, produzir ou promover ofinanciamento de bens pblicos, proverou patrocinar bens semipblicos e bense servios com elevado grau deexternalidades positivas. Agindo nessasreas, o Estado pode favorecer aeficincia econmica e preservar asliberdades individuais. Isso faz com queseja possvel atingir-se um nvel de bem-estar mais elevado, comparativamenteao que resultaria da omisso estatalnesses setores ou se os respectivosrecursos fossem transferidos para aproduo de petrleo, manuteno debancos e outras atividades.

    4) O LIBERALISMOACHAQUEDEVEMOSTERUM ESTADOMNIMO,MASISSOSIGNIFICAABANDONAROS

    MENOSPRIVILEGIADOSSUAPRPRIASORTE?

    Na discusso inicial que estabeleceo paradigma de organizao socialcompatvel com a valorizao e a

    preservao das liberdades dos in-divduos, ficou clara a diviso do

    trabalho entre o Estado e os indivduos.O conceito de Estado mnimo estjustamente associado a manter asatividades estatais circunscritas quelasque o Estado deve desenvolver paramanter e preservar as liberdades

    individuais e favorecer o uso eficientedos recursos escassos. Nesse sentido aorganizao do Estado em uma fe-derao pode contribuir para umamaior eficincia da atividade do Estadoe favorecer a liberdade pela descon-centrao do poder do Estado pelos trsnveis administrativos: a Unio, osEstados e os Municpios. Semelhan-temente diviso do trabalho entre o

    Estado e o setor privado, h critrios deliberdade e eficincia que justificam umadiviso do trabalho no setor estatal entreesses trs nveis administrativos. Como ocidado o maior interessado nasatividades estatais, quanto mais prximoa ele estiver o centro de tais decises,maiores as chances de que as atividadesdo setor pblico sejam produtivas.

    O que no foi explorado em nossadiscusso inicial foi a possibilidade deo Estado desenvolver aes de naturezahumanitria. Isso foi feito proposita-damente, uma vez que a valorizaoda vida humana ocorre em todos osparadigmas de organizao social. Aquesto, portanto, que tipo deatividade estatal deve compreender aschamadas aes humanitrias. Como

    a vida um dos valores fundamentaisda sociedade, as pessoas nessasociedade desenvolvero mecanismosprivados e estatais para a preservaoda vida dos desvalidos, isto , aquelesque no tm condies de se man-terem, ainda que investimentos sejamfeitos na sua pessoa.

    De um modo geral, aqueles que seintitulam social-democratas parecemquerer monopolizar possveis soluespara os chamados problemas sociais.

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    Tais problemas podem ser resumidosem uma nica palavra: pobreza. Ocombate pobreza facilmenteconcebido por um conjunto de polticaspblicas ditas polticas sociais. Narepartio do poder poltico, os partidos

    autodenominados progressistas insistemem manter o controle das secretarias ouministrios cujas atividades estoligadas s polticas sociais. Em quasetodo o mundo, em nome de promovera melhoria da qualidade de vida dospobres tais polticas tm acabado porpenaliz-los. Para usarmos a imagemde Adam Smith, em polticas pblicasas autoridades, com o intuito declarado

    de promoverem o bem-estar dosdesvalidos, so que como conduzidaspor uma mo visvel dos grupos deinteresse a promoverem o bem-estar depoucos a expensas de muitos. Osexemplos so to abundantes quedificilmente passariam despercebidos aum observador ingnuo dos eventossociais: Quem gosta de pobreza

    intelectual. Pobre gosta de luxo(Joozinho Trinta, carnavalesco).Os desastres da interveno equi-

    vocada das autoridades pblicas tmsido objeto de anlise por parte devrios autores. No caso brasileiro temosacompanhado os benefcios apro-priados pela classe mdia alta emdecorrncia de polticas sociais (osubsdio aquisio da casa prpria

    pelo SFH; o subsdio educaosuperior em universidades pblicas),bem como a penalizao de gruposque se deseja proteger com ainterveno (salrio mnimo, proteo mulher trabalhadora). O conceitode capital humano muito til paraconsiderarmos aes pblicas contraa pobreza.

    Podemos dizer que o capital humanode cada indivduo corresponde aosatributos natos e aos atributos

    adquiridos por meio de um processode aprendizagem, o qual os eco-nomistas chamam de investimento.Dessa forma, se quisermos analisarcomo o capital humano acumuladoa partir dos atributos natos temos que

    considerar o que limita a capacidadede aprender das pessoas na acumu-lao de atributos adquiridos.

    Os atributos natos so aqueles quenascem com o indivduo, isto , suascaractersticas hereditrias, sua ca-pacidade de aprender, sua habilidadepessoal, etc. Esses atributos podem serampliados, retardados, estimulados,desestimulados durante o processo de

    vida do indivduo. Os atributos adqui-ridos so aqueles produzidos no seioda famlia ou mesmo na coletividade,e esto condicionados aos atributospessoais originais. Os indivduos tmcapacidade consciente de promoverapenas os atributos a serem adquiridos,porquanto os atributos natos, pordefinio, so as caractersticas

    individuais ao nascer. Dessa forma,condies de sade e educao inibemou incentivam, por meio dos atributosadquiridos, os atributos natos, for-mando, consequentemente, o capitalhumano do indivduo. Isso quer dizerque possvel se acumular capitalhumano por meio de investimentos emsade e educao.

    Para efeito de anlise, o que nos

    interessa so os atributos adquiridos,porquanto os atributos natos de-pendem, fundamentalmente, dequestes ticas (exceto em casosespeciais), uma vez que esses atributosso determinados, at certo pontoinvoluntariamente, pelos pais doindivduo. O que determina ento osatributos adquiridos pelo indivduo?Evidentemente, as condies socio-econmicas nas quais o indivduo sedesenvolve so fundamentais. Cremos

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    que a inter-relao entre renda familiar,sade e educao deve explicar grandeparte da possibilidade de os indivduosadquirirem capital humano.

    Por certo, a renda familiar ex-tremamente importante. Ela se constitui

    na grande restrio quantitativa impostas famlias, na aquisio de bens eservios, inclusive aqueles necessrios formao do capital humano de seusmembros. Os membros economi-camente ativos em uma famlia tm umnvel de sade e educao no momentoatual, o qual resulta de gastos anteriores,realizados por eles mesmos ou por seusfamiliares. Como, de um modo geral,

    alta renda est associada a altocontedo de capital humano, a inter-relao de sade, educao e rendadetermina, para as famlias maispobres, o que se convencionou chamarde crculo vicioso da pobreza e damisria.

    A grande dificuldade em se quebrareste crculo vicioso reside principalmentena impossibilidade de os indivduos seendividarem com base em suas rendasfuturas provenientes de seu trabalho.Pela impossibilidade de investirem emsi prprios, devido s restries debaixa renda e s distores no mercadode capitais, estes indivduos no podemaumentar sua produtividade e,consequentemente, seus rendimentosprovenientes do trabalho. Esse crculo

    vicioso estende-se aos membros dafamlia, isto , os filhos dos tra-balhadores pobres tendem a continuarpobres, porque suas famlias no tmcapacidade de lhes propiciar os meiosmateriais, psicolgicos e ambientaisnecessrios ao desenvolvimento de seusatributos natos (que, por questes desade, j so bastante limitados noscasos de maior pobreza) de modo a

    aumentar-lhes seu capital humano.

    Embora a quebra do crculo viciosoda pobreza e da misria s possa serconseguida em longo prazo, parece-nos claro que a forma mais vivel dese quebrar tal crculo vicioso pelaimplementao de polticas que visem

    ao aumento do contedo de capitalhumano das pessoas mais pobres.Nesse caso especfico, a interveno doEstado justificada: primeiro, pelasexternalidades associadas s condiesde educao e sade da coletividadee, segundo, pela impossibilidade de aspessoas que possuem apenas capitalhumano terem acesso ao mercado decapitais, isto , tomar emprestado para

    acumularem capital humano e entoamortizarem suas dvidas. Alm disso,a importncia da educao no processoprodutivo familiar, constatada em muitostrabalhos empricos, sugere um maiorinvestimento em educao. Especi-ficamente, esses investimentos devem seconcentrar na pr-escola e nos cursosfundamentais e mdios, pelo seu maior

    impacto sobre a eficincia dos indi-vduos na produo de bens, do-msticos ou no, e sobre suacapacidade de absorver informaes.

    Investimentos em educao e sadedevem ser feitos visando, precisamente, melhoria da qualidade de nossascrianas. mais ou menos aceito portodos os cientistas sociais, mdicosinclusive, que os seis primeiros meses de

    vida de uma criana so extremamenteimportantes no que se refere suacapacidade de aprender e, conse-quentemente, sua capacidade deacumular capital humano ao longo desua vida. Assim, investimentos na pr-escola, de modo que as crianas defamlias pobres possam frequent-la apartir de seus primeiros meses de vida,alm de ser o principal instrumento decombate pobreza, se constituem,

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    juntamente com os investimentos naescola (cursos fundamental e mdio),na poltica pblica recomendada pelosprincpios liberais. Note que os inves-timentos na pr-escola e na escola noimplicam que o Estado mantenha

    unidades educacionais. Tais inves-timentos podem ser feitos por meio decheque-educao e outros estmulospara que o setor privado invista em taisatividades.

    5) OSLIBERAISNOACHAMQUEASADEDEVASERUMDIREITOCONSTITUCIONALDETODOSOS

    CIDADOS. ENTO, COMOQUE

    FICAMOSMAISPOBRES?

    O papel fundamental de umaConstituio o de proteger o cidadocontra a concentrao de poder que concedido ao Estado. Infelizmente,nossa Constituio relega essa funoa um plano inferior e, alm de regularem demasia nossas vidas e apresentarclaras contradies, estabelece umconjunto de direitos do cidado que spodem ser garantidos com o uso derecursos escassos. Esse fato, neces-sariamente, implica que tais direitos nopodero ser igualmente garantidos atodos e que, dada a limitao dosrecursos que os indivduos transferemcompulsoriamente para o governo,

    muitos cidados no podero sercontemplados com tais direitos.Exatamente isso ocorre com o direito sade. A oposio concesso de taisdireitos no implica prejuzo aos maispobres. Pelo contrrio, a concessodesses direitos na Constituio acomodaos interesses polticos no sentido de quesempre se pode argumentar que osmais pobres esto constitucionalmente

    protegidos. A dependncia de recursospara fazer valer tais direitos e a

    realidade dos servios pblicos desade no Brasil derrubam essa posiocnica e demaggica. Ento, como que ficam os mais pobres?

    Primeiramente preciso que secompreenda que a sade produzida

    no ambiente familiar. Sua produodepende de condies decorrentes deinvestimentos passados, assim como dedecises correntes. As decises correntescompreendem investimentos no estoqueatual de sade da famlia ou gastospara melhoria ou manuteno da sadedos membros da famlia. Dependendodo nvel de educao e, consequen-temente, de informao do casal chefe

    de famlia, as despesas com investi-mento (educao formal e alimentar,assim como atividades fsicas), excetoem casos excepcionais, predominam nooramento da funo sade da famlia.Essa situao verificada para famliascujas mes tenham nvel educacionaligual ou superior ao ensino mdio. Nasfamlias cujos chefes tenham baixa

    escolaridade, os gastos com serviosmdico-hospitalares e com medica-mentos tendem a predominar na funosade. Como fcil perceber, aproduo de sade no ambientefamiliar bastante complexa. Como agarantia do direito constitucional sade para os mais pobres exige maisintensivamente o provimento de serviosmdico-hospitalares, vamos considerar

    o papel do Estado no provimento desade nesse seu sentido mais estrito.Claro est que educao, vacinao dapopulao e saneamento esto inti-mamente ligados sade, mas a aodo Estado nesses casos o deinternalizar as externalidades por meiode regulamentao e/ou estmulos aosindivduos, conforme apresentado naquesto O que cabe ao Estadofazer?

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    Qualquer que seja a ao do Estadona rea de sade, o princpio de que apessoa autnoma responsvel pelasua manuteno e de sua famlia devenortear a identificao de quem precisacontar com a poltica pblica de

    atendimento mdico-hospitalar. Assim,a ao do Estado tem um cartereminentemente humanitrio. Para tanto,se faz necessrio que o maior nmeropossvel de cidados possa obter essesservios no mercado, caso contrrio serimpossvel a qualquer governo garantira cada cidado os servios mdico-hospitalares garantidos pelo direitoconstitucional sade. Em todos ospases onde os governos proveemservios mdico-hospitalares, pormaiores que sejam os gastos pblicoseles tm sido insuficientes para atender crescente demanda associada acustos crescentes. A demanda crescepelo crescimento da populao e peloaumento da parcela de idosos emdecorrncia da crescente expectativa de

    vida. Os custos crescem pelas inovaestecnolgicas que estendem a vidahumana e melhoram a qualidade devida dos pacientes crnicos. Contra-riamente ao direito constitucional sade, essa ao humanitriarepresenta uma factvel deciso dasociedade em favor daqueles que, porrazes diversas, no tm condies deprover servios mdico-hospitalar para

    si e para seus familiares.Mas, como incorporar ao mercadode servios mdico-hospitalares o maiornmero possvel de cidados? Em1994, na srie de Polticas Alter-nativas, o Instituto Liberal do Rio deJaneiro desenvolveu uma proposta depoltica pblica para a Sade no Brasiltratando especificamente da assistnciamdico-hospitalar:A proposta consisteessencialmente em garantir a cadacidado brasileiro residente no Pas um

    Crdito Individual de Sade CIS, quelhe permita pagar a uma EntidadeMantenedora de Sade EMS, de sualivre escolha, por um plano bsico deatendimento mdico-hospitalar.

    6) PORQUEOSLIBERAISACHAMQUEAS UNIVERSIDADES

    DEVERIAMSERPRIVADASENOPBLICAS? ISSONOUMADISCRIMINAOCONTRAOS

    ESTUDANTESPOBRES?

    Os liberais no so contrrios existncia de universidades pblicas,entretanto so contrrios ao ensinouniversitrio no pago pelo estudanteou sua famlia. A justificativa para aao do Estado na educao aexistncia de externalidades positivas.Por certo, o educando e sua famlia soos maiores beneficiados do processoeducacional. Entretanto, a educaogera, para toda a sociedade, um

    ganho que vai alm daquele apro-priado pelo educando e por suafamlia. Esse ganho j foi destacado emnossa resposta questo sobre oEstado mnimo, e difere conforme onvel educacional.

    Vimos que os investimentos pblicosem educao deveriam estar concen-trados na pr-escola e na escola (ensinofundamental e mdio). Destacamos

    tambm que a ao do setor pbliconesses nveis educacionais no preci-saria ser pela manuteno e operaode unidades de ensino. Por exemplo,um sistema de vale-educao, alm demais eficiente, promoveria a competioentre as unidades de ensino no Pas,favorecendo a melhoria da qualidadedesses servios com impactos deter-minantes sobre o desenvolvimentopessoal dos alunos. O vale-educaoconsiste em financiar a escola,

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    financiando a demanda e no a oferta,como ocorre hoje em muitos pases,inclusive no Brasil. Essa forma definanciar a educao bsica (pr-escolae escola), alm de promover adescentralizao do sistema de ensino,

    promove as famlias a agente deter-minante, e no passivo, da qualidadedo ensino a que seus filhos estosujeitos.

    A formao universitria gera,tambm, externalidades positivas, maso benefcio privado apropriado peloformando em uma universidade muitomais elevado do que o benefcioapropriado pelo resto da sociedade.

    Esse retorno privado mais elevadoincentiva o investimento do indivduo oude sua famlia em sua formaouniversitria. Isso justifica o nooferecimento de ensino universitrio semque o maior beneficirio pague por ele.Imperfeies no mercado de capitaisjustificam um amplo programa deemprstimo para que os jovens

    financiem seus estudos universitrios oumesmo de ps-graduao. Programasde bolsas de estudos, concedidas pormrito, podem complementar.Dedues no IR podem incentivar o setorprivado a financiar bolsas de estudo emtodos os nveis de ensino.

    Assim, as universidades pblicasdeixariam de ser unidades de custo dosetor pblico para serem autnomas,

    tanto acadmica quanto financei-ramente. Ensino universitrio e de ps-graduao nas universidades pblicasestariam sujeitos s mesmas condiesdesses servios oferecidos pelasuniversidades particulares. Nossosistema educacional pblico concentraa maior parte de seus recursos no ensinouniversitrio e de ps-graduao emdetrimento da pr-escola e da escolaem que so gerados os maioresbenefcios lquidos para a sociedade.

    Alm disso, o sistema atual puneduplamente o estudante de baixarenda. Como o nmero de vagas nasuniversidades pblicas menor que ode candidatos a tais vagas, um sistemade racionamento h que ser introduzido.

    Esse sistema o vestibular ou o ENEN,que consistem em provas que avaliamos conhecimentos, em nvel de ensinomdio, dos candidatos. Como asescolas particulares oferecem um ensinode melhor qualidade do que as escolaspblicas, os estudantes mais pobres queconseguem cursar a escola pblica tmum desempenho pior do que osadvindos das escolas particulares.

    Vendo frustrada sua pretenso de entrarem uma universidade pblica, aalternativa do estudante mais pobre ingressar em uma escola particular.

    Assim, o estudante mais pobre paga porseus estudos universitrios enquanto osmais abastados, por cursaremuniversidades pblicas, no pagam.Mas algum paga. Portanto, o estudante

    mais pobre, alm de pagar seus estudosuniversitrios, paga, por meio deimpostos, parte do ensino universitriodos estudantes mais abastados.

    7) PARAOSLIBERAISTODOSOSQUESEAPOSENTAMNOSERVIOPBLICOOUPRIVADODEVERIAM

    TEROMESMOTRATAMENTO?E OSMILITARES, TAMBM?

    Na realidade, o Estado de Direitoexige que todos sejam igualmentetratados pela lei. Nosso problema maiorem relao aposentadoria est naprpria organizao do sistema. Todosistema pblico de aposentadoria, sejao referente aos funcionrios pblicos ouaos trabalhadores do setor privado, regido pelo regime de repartio. Sob

    tal regime, a gerao atual de pessoasativas no mercado de trabalho contribui

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    para um sistema de aposentadoria queusa os recursos assim arrecadados paracobrir seus gastos e pagar os benefciosde aposentadoria e penso para aspessoas que no passado haviam feitocontribuies similares. H ainda outros

    benefcios de responsabilidade dosistema, mas que no sero aquiconsiderados.

    No sistema de repartio, nenhumcontribuinte ativo tem direito sobre o quecontribui. Seu direito est circunscrito auma expectativa de um benefcio deaposentadoria aps cumprir asexigncias estabelecidas pelo sistema(anos de contribuio, idade, invalidez,

    etc.). Assim, tal sistema funciona muitobem quando poucas pessoas esto,segundo as regras, aptas a receber osbenefcios e o nmero de novoscontribuintes crescente. Com o passardo tempo, o nmero de novos con-tribuintes cresce segundo o crescimentovegetativo da fora de trabalhoempregada, enquanto o estoque de

    beneficiados aumenta pelo envelhe-cimento da populao, a qual temexperimentado um marcante aumentona expectativa de vida das pessoas,assim como pelos novos pensionistasem decorrncia do falecimento detrabalhadores contribuintes ou mesmoaposentados. Evidentemente, hbenefcios que so suspensos emdecorrncia de falecimento, mas o

    estoque de benefcios a ser sustentado crescente e tem aumentado o nmerode benefcios por trabalhadorcontribuinte.

    Nosso sistema previdencirio derepartio, alm dessa caractersticaperversa, trata diferentemente otrabalhador regido pela CLT, osfuncionrios pblicos da Unio, osfuncionrios pblicos de Estados e deMunicpios nos casos de essas unidadesadministrativas manterem um sistema

    prprio e diferenciado, os Militares, osprofessores da pr-escola ao ensinomdio e outros trabalhadores que, porrazes de risco ou insalubridade, tmseu tempo de contribuio reduzido. Aconcesso de aposentadorias privi-

    legiadas transformou-se num problemagrave quando a previdncia do setorpblico foi integrada ao INSS, no porrazes financeiras, mas por explicitar ofato de o dficit do sistema previ-dencirio como um todo ser muitoelevado. O INSS incorre num dficit decerca de 1,2% do PIB para distribuir6,9% do PIB em benefcios a cerca de25 milhes de brasileiros. Somente o

    setor pblico federal, que relati-vamente a parcela mais significativa dosetor, para atender a cerca de 880 milaposentados e pensionistas (civis emilitares) incorre em uma despesa de2,8% do PIB, recebendo de contri-buio de todos seus servidores cercade 0,5% do PIB.

    Tratamento diferenciado em sistema

    de aposentadoria por si s no seconstitui em um problema. Os privilgiose o desrespeito ao Estado de Direitodecorrem de o sistema ser de repartio.

    A alternativa adequada filosofialiberal, que considera a pessoaautnoma e responsvel por suasdecises, o sistema de capitalizao.Esse sistema tem sido adotado no Paspela previdncia complementar

    oferecida por empresas privadas(fundos fechados) ou oferecida porempresas especializadas na captaode recursos e administrao de fundosabertos de previdncia privada. Noregime de capitalizao, cada con-tribuinte tem uma conta especfica emseu nome em que so acumuladas suascontribuies (geralmente definidascomo um percentual de sua renda)e os rendimentos que elas geram.Sua aposentadoria ser, portanto,

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    determinada pela sua capacidade depoupana durante sua vida laboral epela eficincia da empresa queadministra o fundo de previdncia.

    Entendemos que um sistema deprevidncia deva tratar a todos

    igualmente, sem que sejam garantidosa qualquer categoria profissional, comoocorrem no atual sistema, privilgiosespeciais. Entretanto, h um argumentousado na justificativa de tratamentoespecial para algumas categorias.Certas atividades consideradasinsalubres ou de alto risco ou, ainda,que exijam dedicao exclusiva ou quepromovam um desgaste fsico

    acentuado num curto perodo detempo, ou mesmo atividades consi-deradas efmeras, como os casos dedesportistas, todas devem ter umtratamento especial. Por certo taispreocupaes so vlidas, mas serque a forma de levar em conta todasessas peculiaridades a concesso deprivilgios?

    Dependendo da organizao domercado de trabalho, este tratamentoespecial concedido pelo mercado sema necessidade de qualquer regula-mentao ou lei que o garanta. Nummercado de trabalho livre, atividadesinsalubres ou de alto risco neces-sariamente remuneram o trabalhadorcom salrios mais elevados, secomparados aos dos trabalhadores

    que, com a mesma qualificao eexperincia, exeram suas funes ematividades no sujeitas a tais condies.Isso implica que os atuais privilgiosconcedidos ao trabalhador do setorprivado podem, facilmente, sereliminados desde que o mercado detrabalho no esteja impedido, pornormas e regulamentao, de incor-porar aos salrios diferenciaiscorrespondentes insalubridade, ao

    risco e a outras particularidades dafuno.

    Em nosso entender, o regime derepartio adotado para a PrevidnciaSocial no Brasil a fonte maior deinstabilidade de nosso sistema previ-

    dencirio, isso porque o regime derepartio favorece a ao dema-ggica de distribuio de benefcios queno podem ser sustentados. Em suma,o regime de repartio favorece aimprevidncia privada com a previ-dncia pblica, por permitir que asautoridades pblicas, na busca deseus prprios interesses, coloquem emrisco a estabilidade e a funcio-

    nalidade do sistema pela distribuiode benefcios insustentveis no longoprazo, dada a atual contribuiodo participante.

    8) O LIBERALISMOUMAFORMADEGOVERNOQUESSERVEA

    PASESDEPEQUENAPOPULAO,COMGRAUDEINSTRUO

    ELEVADO, ENOPARAPASESCOMPOPULAESGRANDES,

    COMELEVADACONCENTRAODERENDAEBAIXOSNDICES

    DEEDUCAO?

    O liberalismo no uma forma degoverno, embora uma sociedade possaser organizada segundo a filosofialiberal. Nessa filosofia, o valor maior

    a liberdade, e, pelo fato de o homemviver em sociedade, esta precisa sercontextualizada de modo a preservar aliberdade de todos e de cada um. Naorganizao de uma sociedade cabeao sistema poltico a conduo dasdecises de natureza coletiva. H muitasformas de uma sociedade organizar-sepoliticamente. Essa organizao vai deum sistema no qual o poder est

    totalmente concentrado nas mos de um

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    lder (chefe, rei ou ditador) at umaorganizao na qual cada pessoaigualmente participa das decises denatureza coletiva expressando suavontade (voto) sob a regra de que asdecises decorrem da vontade da

    maioria, isto , uma democracia direta.Esse processo democrtico, sujeito asalvaguardas das liberdades indivi-duais, o que mais se coaduna com afilosofia liberal.

    Pases com vasta extenso de terra eelevada populao, ao adotarem oprocesso democrtico, no tm comooptar pela democracia direta devido aoseu elevado custo. Assim, emergiram asdemocracias representativas, nas quaisas pessoas elegem seus representantespara que, agindo em seu nome,conduzam o processo de decisocoletiva. Mesmo pases com pequenoterritrio e populao relativamentepequena tm optado pela democraciarepresentativa. Entretanto, o processodemocrtico, embora compatvel com

    a filosofia liberal, extremamente frgile sujeito a elevados riscos. Hayekdistingue liberalismo de democracia daseguinte forma: Liberalismo umadoutrina sobre como deve ser a lei,democracia uma doutrina sobre comose determina o que ser lei.

    Se a Revoluo Francesa forjou oconceito de cidado, a Revoluo

    Americana que gerou os Estados Unidos

    forjou o conceito de Constituio comoa principal salvaguarda das liberdadesindividuais. Alm disso, a Constituioera vista como um instrumento parafortalecer a democracia e o bem-estardos indivduos ao restringir o poder damaioria. A sociedade moderna formada por muitas minorias que, emum processo democrtico, negociampara formar uma maioria. Liberdade

    econmica, nesse contexto, permitindoa mobilizao de minorias, contribuipara limitar a concentrao de poderno sistema poltico. Como a maioria formada ocasionalmente, isso forjaregras testadas, que, por esse motivo,

    so estveis. O papel dos polticos, nadescoberta de ideias que mais facil-mente promovero a constituio demaiorias, semelhante ao papeldesempenhado pelos especuladoresnos mercados de economia.

    Milton Friedman argumentou que suma economia de mercado livre compatvel com uma sociedade cujosistema poltico seja a democracia. Seu

    argumento se fundamenta no fato deos dois sistemas, o econmico e opoltico, se basearem na liberdadeindividual. Dan Usher argumenta queo mercado livre um sistema econmicoque produz endogenamente umadistribuio de renda, independen-temente do sistema poltico. Como ainstabilidade dos sistemas polticos

    democrticos emerge da imposio depolticas de distribuio de renda, Usherconclui com propriedade que o mer-cado livre um pr-requisito econmicopara a democracia.

    A democracia e as liberdadesindividuais so baseadas em princpios,e se esses princpios so substitudos peloclientelismo o voto por convico substitudo pelo voto de barganha, e

    democracia e liberdade tendem adesaparecer. Nesse sentido o debate indispensvel ao processo democrtico.Nesse debate o papel dos intelectuais bastante importante, pois depen-dendo do debate pblico Pedro em-briagado, na linguagem de StephenHolmes (uma Constituio Pedrosbrio, enquanto os eleitores so Pedroembriagado), poderia ser evitado.

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