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Nº 27 Novembro de 2013

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Nesta edição apresentamos os trabalhos de Daniel Sasso, Annete Owatari, André Américo e Bernardo Borges. A entrevista do mês é com a fotógrafa Raquel Brust.

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Nº 27 Novembro de 2013

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Revista OLD Número 27Novembro de 2013

Felipe Abreu e Paula HayasakiFelipe AbreuCamila Martins, Felipe Abreu, Juliana Biscalquin, Luciana Dal Ri e Tito Ferradans

Daniel Sasso

André Américo, Annete Owatari, Bernardo Borges e Daniel Sasso

Raquel Brust

[email protected]/revistaold@revista_oldwww.revistaold.tumblr.com

Equipe Editorial Direção de Arte

Texto e Entrevista

Capa

Fotografias

Entrevista

EmailFacebook

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Parceiros

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Livros06Luigi GhirriExposição08

Daniel SassoPortfolio10Annete OwatariPortfolio24Raquel BrustEntrevista38André AméricoPortfolio46Bernardo BorgesPortfolio58UltrapassagemColuna72FissurasColuna74

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Como de costume esse ano passou voando. Parece que foi ontem que mudamos nosso formato, trouxemos novas sessões e comemoramos nosso segundo aniversário. Isso foi em Maio, seis edições atrás, agora já estamos em Novembro, na penúltima edição do ano. Quase não deu pra ver o tempo passar entre isso tudo.No meio desse turbilhão, publicamos muito gente boa por aqui e esse mês seque a toada, como não poderia ser diferente.Nossa capa é do gaúcho Daniel Sasso, que traz seu know-how de publicidade para a sua produção autoral, apresentando a morte das ideias, dos desejos, tudo de uma maneira muito colorida, criando esse paradoxo entre a morbidez do conceito e a vida das cores apresentadas.Annete Owatari segue com seu trabalho Rostos Ocultos, que discute - entre outras coisas - a relação delicada do povo japônes com a imagem, com a invasão que é ter uma fotografia tirada de seu rosto sem autorização. Esse respeito à privacidade, essa etiqueta mais rígida na fotografia de rua, é algo pouco usual na nossa produção, vale como mote para pensar quais são os limites que devemos ter com nossos personagens, como ou sem autorização deles.Continuando com o pensamento sobre limites na fotografia, André Américo apresenta a reintegração de posse de um terreno em São Bernardo, retratando a dor das famílias que perderam suas casas.Fechando nossa série de portfolios do mês está Bernardo Borges. Seu ensaio mergulha nos locais abandonados da cidade, mostrando as incríveis transformações sofridas por esses locais após o final de sua missão original.

A nossa entrevista do mês também tem um foco especial na cidade e em como transformar seus espaços públicos. Nós conversamos com a fotógrafa Raquel Brust, criadora do projeto Giganto, que vem ocupando São Paulo com imensos retratos. Foi um papo muito bom, que deixa claro que a fotografia não pode ser fechar em espaços e formatos pré definidos, que temos que buscar novas formas e processos de criação, levando nossa produção cada mais longe. É assim que chegamos quase ao final de 2013, nessa correria boa, cheia de fotografia.

Felipe Abreu

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Alguns livros já nascem com status de estrelas daquela ano, de publicações mais aguardadas, a serem mais premiadas, e por ai vai. Foi assim com os Afronautas de Cristina de Middel em 2012, parece que será assim com Karma, de Óscar Monzón em 2013.Karma acabou de ser lançado e já aparece em diversas listas de melhores livros do ano, entre elas a prestigiada Paris Photo-Aperture Foundation Photobook Awards.Óscar investigou a relação entre o homem e o carro, da maneira mais crua e agressiva possível. Suas fotografias encontram momentos de ira, luxúria, distração, sempre com um flash potente denunciando sua presença. O fotógrafo queria ser notado, queria esse embate constante entre ele e seu objeto. O livro é um mergulho nesse confronto, com fotografias estouradas, quase nenhum texto e uma luz dura, que te coloca entre o fotógrafo e o fotografado.Karma ainda não foi lançado no Brasil, mas logo deve estar disponível nas livrarias especializadas em fotografia. Por enquanto você pode comprá-lo pelo site da distribuidora espanhola Dalpine.

Disponível no site da editoraValor médio: R$ 120,00128 páginas.

KARMA,DE ÓSCAR MONZÓN

LIVROS

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LIVROS

Viviasse Sassen tem uma produção fotográfica invejável. Seus trabalhos autorais se misturam com sua fotografia de moda e vice-versa, criando um universo único, onírico e fantástico. Ethan & Me é a continuação dessa estética, agora concentrada na relação da fotógrafa com um habitante de um pequeno vilarejo do Suriname, chamado Ethan. A obsessão de Sassen pelo continente africano é marcante e neste novo trabalho ela consegue personificar esse carinho em uma única pessoa. O livro é composto de retratos de Ethan, coloridos, mergulhados no universo fantástico típico da produção de Viviane Sassen. Ao lado de cada um desses retratos há um autorretrato da fotógrafa, abstrato, dissolvido em uma superfície metálica, construindo esses dois mundos fantásticos: o concentro e o abstrato.Ethan & Me será lançado no final deste mês, durante a Paris Photo, mas pelas imagens apresentadas para a imprensa, parece ser um dos mais marcantes trabalhos de Viviane Sassen. Agora nos resta aguardar e folheá-lo assim que possível!

Lançamento no final do mês, em ParisValor previsto: R$ 150,00

72 páginas

ETHAN & ME,DE VIVIANE SASSEN

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LUIGI GHIRRI CHEGA AO BRASILMais de vinte anos depois de sua morte, o grande fotógrafo italiano

recebe sua primeira retrospectiva no Brasil graças ao IMS

EXPOSIÇÃO

A fotografia italiana ainda é pouco conhecida no Brasil. Temos um apreço especial pela fotografia francesa, um bom conhecimento da fotografia britânica e alemã, mas a italiana nos escapa dentro do cenário fotográfico europeu. O trabalho de Luigi Ghirri pode ser o carro chefe dessa fotografia que pouco conhecemos, um trabalho muito preciso, muito bem composto, de temas delicados. No final deste mês, graças do Instituto Moreira Salles, poderemos sanar um pouco da nossa falta de conhecimento sobre a fotografia italiana com a primeira retrospectiva da obra de Ghirri no Brasil.A exposição é uma das maiores já realizadas sobre o fotógrafo e foi organizada segundo três caminhos centrais ao seu universo: a investigação dos ícones visuais que povoam o mundo contemporâneo; uma releitura da paisagem italiana, baseada num profundo conhecimento da história da arte; e uma indagação sobre os modos de viver, habitar e perceber o espaço.Serão expostas quase 200 fotografias, a maior parte delas cópias de época, além de provas de impressão, livros de artista e outros objetos que ajudarão entender a carreira fascinante do fotógrafo que foi também editor, curador e um grande pensador da fotografia.Luigi Ghirri: Pensar por Imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura

começa a fazer justiça à obra de um artista que, como muitos dos grandes, só recebeu reconhecimento após a sua morte, em 1992. Ghirri soube como poucos organizar paisagens, trazer sentimentos ao espaço que fotografava, mostrar a Itália de um jeito que poucos saberiam enxergar.A exposição abre suas portas no dia 23 de novembro, com uma visita guiada com os curadores Francesca Fabiani, Laura Gasparini e Giuliano Sergio. Além da exposição, vale o destaque para o catálogo que traz um longo portfólio de imagens, textos do próprio Ghirri, ensaios críticos dos curadores e de Quentin Bajac (MoMA), do fotógrafo alemão Thomas Demand, de Bice Curiger, de Lorenzo Mammì, do historiador da arte italiana Giuliano Sergio e de Larissa Dryansky.Com essa grande retrospectiva organizada pelo Moreira Salles, poderemos enfim mergulhar no universo fantástico de Luigi Ghirri.

O IMS fica na R. Piauí, 844, em São Paulo. A exposição abre suas portas para o público no dia 23 de Novembro.

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Luigi Ghirri

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Daniel SassoIdeia Morta

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Daniel Sasso apresenta em nossa páginas seu ensaio Ideia Morta, que tem como propulsor a frustração de ver diversos projetos interessantes não serem realizados em seu estúdio. Dessa tristeza surgiu o start para produzir o ensaio que vocês vêem aqui.

Como surgiu o ensaio Ideia Morta?

O Projeto Ideia Morta começou a ser desenvolvido em 2008 e teve como mote a frustração. O Projeto se chama “Ideia Morta - A Frustração em Devaneios Coloridos”. A ideia surgiu quando comecei a observar a quantidade de projetos fotográficos que passavam pelo meu estúdio e acabavam não acontecendo. Sempre tive muita curiosidade em saber por que esses projetos não se desenvolviam e entrava em contato com meus clientes para saber qual era o motivo “da morte” dos projetos. Os motivos eram variados, mas alguns deles se repetiam com certa frequência. Com esse conhecimento, pensei que, além de informações importantes para a gestão da minha empresa, eu tinha matéria prima para desenvolver imagens que poderiam falar mais sobre esse processo, poderia criar imagens que se relacionassem com essa ideia. Assim, comecei a produzir imagens que retratam corpos de mulheres, aparentemente, ou supostamente, mortas em diversos cenários diferentes, estabelecendo um diálogo com essa “morte” de ideias.

As imagens foram feitas em diversas locações, em espaços bastante complexos, vamos dizer. Como foi o processo de

produção dessas imagens?

Para a produção desse material, tive o apoio criativo da empresa Zungu Produtores de Ideias, formada por Andressa Rocha, Monique Esswein e Isadora Lescano. Para a produção de figurino, contei com o produtor Carlos Paiva. Com essa competente equipe, saímos à procura de modelos, locações, figurinos e objetos para a execução do projeto. O processo não envolvia grande complexidade, mas às vezes era um pouco complicado conseguir autorização de algumas locações e organizar a agenda de toda a equipe, já que se tratava de um trabalho artístico não remunerado.Com as imagens prontas, buscamos mais pessoas para contribuir com o projeto, pedimos a colaboração de pessoas que poderiam escrever textos para enriquecer a exposição através de uma proposta de leitura aberta a interpretações. As imagens foram enviadas a essas pessoas, apenas com o título, e elas poderiam escrever livremente sobre o que viam nas imagens. Dessa forma, montamos a exposição com imagens e textos. A exposição aconteceu na Livraria Cultura em Porto Alegre e depois partiu para outros lugares na cidade.Atualmente estou desenvolvendo a segunda parte do projeto Ideia Morta. Na primeira parte, mostro as “Ideias” já mortas, na segunda, vou mostrar uma perspectiva mais relacionada ao processo, digamos assim. A previsão é que esse projeto seja exposto em 2014.

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Você trabalha bastante com fotografia de publicidade e editorial. Você acha que esse know how influenciou na produção e na estética de Ideia Morta?

Sem dúvida, pois esse é o meu trabalho, é o que eu faço todos os dias, não consigo imaginar um trabalho artístico sem autenticidade. Não posso produzir algo tentando reproduzir alguma estética ou linguagem quando quero ser original. Muitas pessoas, quando viam as imagens da Ideia Morta, comentavam que achavam a estética muito publicitária, sugeriam que eu deixasse as imagens em P&B para ficar mais “artístico” ou mais dramático. Porém, a ideia do projeto não é ser dramático, a ideia é justamente o contrário, é cercar imagens de mortes de mulheres de cor e vivacidade em um lugar atraente. Quando estava concebendo o projeto, uma das minhas referências foi uma parte do filme Janela da Alma na qual o fotógrafo e filósofo Eugen Baucar diz “Eis porque fotografo a mortalidade das mulheres. É um pouco trágico, mas é belo ao mesmo tempo. É preciso dar-se conta da mortalidade das mulheres para amá-las mais, ao longo da vida e do tempo”. Daí a intenção de retratar as ideias como mulheres, para trabalhar a perspectiva da impressão clara da mortalidade.

Durante o período em que a exposição ficou na Livraria Cultura, gostava de ficar anônimo em meio às pessoas que observavam as imagens, era muito divertido escutar as pessoas que se sentiam agredidas pelas imagens, essas pessoas eram atraídas pelas cores das fotos, se aproximavam com o objetivo de ver imagens “belas”, dentro de uma visão conservadora, mas quando se deparavam com mulheres mortas, ficavam realmente chateadas e logo começavam a fazer comentários, às vezes não muito amigáveis. Mas também havia bons comentários, pessoas que gostavam muito das imagens e conseguiam transcender o plano prático e curtir o trabalho.Há uma citação de Joel-Peter Witkin que penso se aplicar bem ao Projeto Ideia Morta.

“Quando as pessoas veem o meu trabalho, não há nunca uma ‘zona cinzenta’ de resposta. O que experimentam é amor ou ódio”.

Acredito que algumas pessoas, quando observam meu trabalho, sentem algo mais ou menos nessa linha e gosto disso.

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Annete OwatariRostos Ocultos

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Annete passou quase uma década morando no Japão. Lá desenvolveu sua fotografia, com um foco especial no PB. Na OLD ela apresenta seu ensaio Rostos Ocultos, discutindo a relação delicada entre o povo japonês e a fotografia.

Você viveu por sete anos no Japão, certo? Como essa experiência moldou sua produção e seu interesse pela fotografia?

Sim, durante sete anos o Japão foi meu lar. A fotografia definitivamente passou a fazer parte da minha vida após alguns anos no país. Morar num lugar tão diferente do nosso já um bom motivo para despertar a curiosidade, fotografar torna-se quase uma obrigação. Moldar-se ao tempo, as circunstâncias é fundamental para o desenvolvimento do meu trabalho, seja ele autoral ou não. Posso dizer que Rostos Ocultos é um reflexo da minha experiência no Japão.

Rostos Ocultos foi produzido durante esse período no Japão.

Quais foram suas motivações para produzir este ensaio?

Observar o que existe em volta e compreender que as situações corriqueiras podem ser bastante interessantes me move, e com certeza foi o ponto de partida para a realização destas imagens. O cotidiano pode ser muito atraente se soubermos observá-lo, somos capazes de nos surpreender com a riqueza de detalhes e nos encantar com pequenos gestos. Rostos Ocultos a princípio foi criado como algo pessoal, as imagens foram feitas aleatoriamente durante algumas viagens e dias comuns. Nas primeiras fotografias percebi que ali estava o Japão que só eu via, o Japão que eu traria comigo para o Brasil, o Japão num rosto Oculto.

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O fato de “não poder” mostrar os rostos dos japoneses neste ensaio serviu como um grande desafio e motivador para a sua produção?

Ocultar as faces destas pessoas sem dúvida foi para preservar suas identidades. Num país onde pedir licença é realmente coisa séria, encarar um desconhecido e simplesmente clicar era algo que eu não estava disposta a fazer, e pedir para fotografar fugia da proposta. A alternativa então era fotografar estas pessoas de costas ou com as faces ocultas. Acredito que o maior desafio era reunir elementos que contribuíssem de uma maneira interessante para a composição do tema. Então passei a observar ainda mais o dia a dia, a prever situações e também aguardar por elas. Essas imagens tem muito de mim, da minha história, de um Japão que eu criei.

Você constrói uma narrativa do cotidiano sem apresentar nenhum rosto. Como você pensou a construção dessa história deste ensaio, pensando neste limitador? Sim, gosto muito de trabalhar com temas. Acredito que nos faz enxergar o que não estamos acostumados, ajustamos nosso foco. Acredito que sem este limitador não teria produzido algo parecido, me fez criar. Hoje trago muito para os meus ensaios idéias que surgiram com trabalhos autorais e que funcionam muito bem.

Quais as principais diferenças que você percebe entre fotografar no Brasil e no Japão? Que temas estão te instigando agora que você está no Brasil?

A segurança e o acesso a cultura no Japão são exemplos. Mas acredito que, onde quer que você esteja o legal é saber utilizar das ferramentas que dispõe, adequar-se ao seu presente e realizar seu trabalho da melhor maneira possível. Considero a entrega muito importante. Tenho aprendido muito desde que cheguei, vejo muitos fotógrafos talentosos, transbordando criatividade e fazendo trabalhos incríveis. Há muitas possibilidade e oportunidades em qualquer lugar, só precisamos criá-las. Hoje existem 2 trabalhos bastante especiais, um com a temática de pernas femininas, um projeto bastante bonito que vem sendo criado com fotografias de diferentes ensaios e o segundo ligado a pintores e artistas que tenho como referência. Mas o cotidiano é, e sempre será muito instigador para mim, é parte do meu exercício diário observar coisas comuns e traduzi-las a minha maneira. Gostaria de finalizar com uma frase de Rene Magritte que diz muito para mim e para minha fotografia.

“Eu não pinto aquela mesa, exatamente, e sim a emoção que ela produz em mim.”

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OLD ENTREVISTA

RAQUEL BRUST

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OLD ENTREVISTA

RAQUEL BRUST

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Raquel é jornalista de formação e atua como fotógrafa e artista multimídia. Seus trabalhos sempre buscam extrapolar os formatos óbvios da fotografia, seja no tamanho, no local ou na técnica utilizada. Neste mês Raquel está expondo seu trabalho Giganto no Minhocão, como parte do PhotoEspaña. Nós conversamos com ela por email para conhecer mais sobre a sua trajetória e sobre Giganto.

Raquel, você é formada em jornalismo pela PUC. Quando começou sua relação com a fotografia? Quando ela se tornou seu principal meio de expressão?

Eu já trazia um interesse desde a adolescência, quanto fiz quinze anos não quis festa nem Mickey, ganhei minha primeira filmadora e câmera fotográfica com alguns recursos divertidos. Costumava fazer fotos usando as amigas de cobaia e vídeos contemplativos. Durante a faculdade de jornalismo eu passei a me dedicar muito a fotografia. Meu trabalho foi acompanhado por dois professores mestres, Fernando Schmitt e Jacqueline Jonner que sempre me ajudaram a procurar um caminho autoral. Fiz ainda um ano de extensão universitária com foco em fotografia. Acho interessante que os temas dos meus trabalhos de final do curso tem muita influência no que estou desenvolvendo hoje com o Giganto. Minha monografia foi “O Uso da Fotografia na Antropologia Visual”, e meu Projeto Experimental se chamou “Olho do Muro”, que acabou virando minha primeira exposição individual e rodou algumas vezes na coletiva “Transfer – arte urbana”. Como o nome já sugere, essas fotos eram sobre os olhos estampados pelos artistas da street art, e como o encontro da tinta com a parede cria uma nova textura. Vim pra São Paulo pra o Curso Abril de Jornalismo em 2006, onde fui selecionada como fotógrafa e não como jornalista, então cheguei na cidade já trabalhando nas revistas da editora. Mesmo já atuando no mercado eu continuei estudando fotografia para seguir na busca da minha linguagem, e atualmente sou pós-graduanda em Fotografia pela

FAAP. O vídeo também sempre esteve ao meu alcance. Nunca distingui muito bem os limites entre um e outro. Em 2008 eu comecei a atuar também como Diretora de Fotografia dos documentários do cineasta Otavio Cury. Para mim não foi nenhuma surpresa quando as câmeras fotográficas viraram filmadoras também, eu fiquei aliviada em diminuir o tamanho da mochila.

Como surgiu o projeto Giganto? Quando ele começou?

Giganto surgiu em 2008 da vontade que eu tinha de interagir com a rua. Achava a fotografia tradicional um pouco limitada às molduras e galerias, queria que ela fosse mais expandida, levando em conta o processo criativo e a relação do público com a obra. O Giganto foi uma resposta a um caminho que eu já estava traçando nas pesquisas e uma reação à São Paulo. Cheguei aqui me sentindo muito miúda diante das estruturas de concreto, perdida e míope na multidão. Eu não via o rosto de ninguém, e sentia uma profunda impermanência em todo mundo. Passageiros: de um edifício, de uma avenida, de uma vida. E fazer todos os dias o mesmo caminho nos cega, já não vemos mais nada diante da rotina. Então eu queria provocar as pessoas, fazer com que mesmo na correria do cotidiano elas ainda conseguissem ver. Dar um respiro, um suspiro, um estímulo. O projeto começou com experimentos de deslocamento de contexto e significado: eu trazia retratos do meu acervo, pessoas que nunca tinham visto a cidade, para locais bem críticos do urbanismo, e tentava diante dessa nova moldura, entender como a imagem ganhava um novo sentido. Foi durante as ações que fiz nas janelas dos moradores em torno do Minhocão, ainda no primeiro ano do projeto, que senti necessidade de intensificar meu contato com o público e fotografar aqueles que convivem com o espaço. Em 2010 o Giganto já estava completamente diferente: público e obra estavam completamente mimetizados.

O quanto é importante para o seu processo criativo buscar

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inovações em processos e formatos na fotografia?

Acredito que tenho uma inquietação com ao suporte e isso me faz pensar a fotografia de outra forma. No Giganto eu parto do local da instalação para a partir do espaço pensar a imagem. Quero seguir nessa pesquisa de fotografia como instalação e a busca por novos suportes e plataformas de exibição fotográfica. Acredito que minha adoração por pessoas e suas histórias não irão me deixar ficar muito longe dos retratos. Mas é na possibilidade de criar uma nova atmosfera com a instalação, de criar uma fotografia tridimensional, que interage e reage ao espaço me encanta. A fotografia está completamente contaminada pelas outras áreas, eu não vejo fronteira nenhuma. Acredito que esse seja o movimento, entender o jogo fotográfico para transcender sua linguagem.

Como você encontra os personagens que serão fotografados para Giganto? Que relação você cria com eles? Ela se estende além do projeto?

Eu parto do local que será instalada a obra. A partir do que eu sinto e percebo da região vou criando mentalmente meu discurso, meu poema visual. Na pesquisa de campo, já inicio a caça aos meus personagens. A abordagem é sempre a mesma, a premissa maior é a sinceridade, o coração aberto e o carinho. Para que eu comece a conversar com alguém, essa pessoa de alguma maneira subjetiva, expressa o que eu gostaria de dizer. São pequenos gestos, traços e linhas que fazem decidir se a pessoa vai ser um Giganto ou não. E esse potencial normalmente é revelado já no ato fotográfico, que é o momento em que as máscaras não seguram e eu consigo alcançar um pouco da essência daquele olhar. Minha relação com os fotografados é essa intensa troca, e um respeito gigante. Eu infelizmente não consigo manter uma relação constante com todos que eu fotografo, o que permanece é o carinho dos momentos que tivemos juntos, nossas memórias construídas a partir do nosso

Achava a fotografia tradicional um pouco limitada às molduras e galerias, queria que ela fosse mais expandida, levando em conta o processo criativo e a relação do público com a obra

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encontro. Eu tenho todos os personagens no meu coração, falo ao telefone com alguns, e tenho certeza de que sigo presente em suas lembranças. A energia que emana dessas pessoas é o que me motiva. Ano passado eu fiquei muito feliz com o desdobramento do Giganto com uma das minhas personagens mais queridas. A filha dela me ligou e disse que sua mãe tinha ficado muito tocada e emocionada com a participação na exposição no Sesc Santana, e que gostaria de dar um presente para ela de dia das mães: queria fazer um painel em casa para que ela sempre lembrasse de quanto ela é especial. Viver isso foi um presente pra mim também.

Vi um dos personagens visitarem seu retrato gigante na Vila Madalena. Ele parecia bastante feliz e emocionado. Como é essa experiência? Para você é importante levá-los aos retratos montados?

O encontro do fotografado com seu Giganto é sempre muito emocionante. Sinto estar fazendo uma intervenção na memória daquela pessoa e ver a reação deles diante da obra é minha maior recompensa. Alguns se assustam com a dimensão, outros sorriem, outros deixam as lágrimas rolarem. Acho que deve ser uma sensação muito diferente mesmo, porque por mais que eu tente explicar o que eu vou fazer, a pessoa só entende quando vê ao vivo. Ontem mesmo levei o Seu Stephan para ver seu retrato no Minhocão, e com muito orgulho atendia o assédio dos carros e das pessoas que queriam fotografá-lo. É dar a dimensão antes dedicada as celebridades em painéis publicitários, ao anônimo, ao invisível, à beleza dos detalhes de uma vida singular.

Giganto é uma ocupação do espaço público urbano, que muda a relação de quem vive naquele local. Essa ocupação é essencial para o projeto? Você vê um fator social, de aumento do moral dos moradores de uma determinada região, com este projeto?

Sinto estar fazendo uma intervenção na memória daquela pessoa e ver a reação deles diante da obra é minha maior recompensa. Alguns se assustam com a dimensão, outros sorriem, outros deixam as lágrimas rolarem

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Vejo que o Giganto transforma a paisagem. No Minhocão acredito que o impacto visual causado pelas fotos mudou até a luz do lugar, mesmo sem trocar nenhuma lâmpada. Especialmente ali vejo que posso ter contribuído para ajudar na relação das pessoas com o Elevado, tornar aquela estrutura um pouco mais humana. Vejo muita gente que não costuma ir pra esta região está indo visitar a exposição, e que com coragem tiram suas câmeras da bolsa para a partir do estímulo do Giganto, criar novas imagens. Sinto que o aspecto melhorou muito. Fiz toda minha pesquisa de campo ali, e atravessei a Av. Amaral Gurgel infinitas vezes. O barulho e a poluição continuam, mas existe uma sensação de conforto visual que antes não havia. Falo isso com espectadora, pois não fiz nenhuma pesquisa quantitativa ou qualitativa pra saber como a obra interfere na vida das pessoas. Digo só o que sinto e observo.

As apresentações de Giganto são sempre públicas e gratuitas. Para você essa é a melhor forma de se apresentar arte? Você vê o projeto sendo apresentado de outra maneira?

O Giganto nasce na rua e morre na rua. Vejo que ele é essencialmente efêmero. Diferente de um público de galeria, que já vai preparado para apreciar uma obra, a instalação feita na rua acontece sem preparo, sem aviso. O impacto dela também se dá por esse elemento surpresa. De repente um retrato surge no seu caminho, e aos pouco vai criando um vínculo emocional com sua rotina. Mas existe também a possibilidade dele não estar ali amanhã, ou já ter sido modificado. Então é necessário aproveitar ao máximo esse descolamento da realidade comum. Aproveitar a presença daquela pessoa de papel, e das pessoas que estão ao nosso redor. Toda imagem se desgasta, inclusive nosso próprio corpo, nosso próprio rosto. Por ser em espaço público é especialmente democrático. Enquanto estávamos colando esse Giganto para o PhotoEspaña.br no

Minhocão, um morador de rua veio perguntar: “ O que vocês estão pintando na minha casa?” Ele ficou feliz com a mudança do visual, e outros em situação de rua também vieram conversar, saber o que era, quem eram aquelas pessoas. Notei que ficavam impressionados quando sabiam que havia também moradores de rua nos retratos. Os invisíveis estavam sendo vistos e tem opiniões bem interessantes sobre a cidade, afinal são os que mais convivem com ela.Trabalhar na rua é garantia de muitas surpresas e de enfrentar as mais diferentes situações. Debaixo do Elevado, a reação do público era constante, as pessoas de dentro dos carros gritavam, buzinavam, os pedestres se aproximavam, fotografavam... enfim. É uma reação imediata. E a partir do momento que a imagem é revelada, que cada parte está em seu lugar e finalizamos a colagem, a fotografia não é mais minha, não me pertence mais. Ela depende do público e de sua relação com ele para sobreviver.

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André AméricoReintegração de Posse

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André Américo trabalha principalmente com fotojornalismo. Seu trabalho tem um carinho especial por questões sociais, por usar a fotografia como um veículo de transformação. Nas próximas páginas, André apresenta um de seus ensaios com essa busca por mudança.

Seu ensaio apresenta uma reintegração de posse em São Bernardo. Como você encontrou essa pauta? O que te levou a fazer essa série?Trabalho em um jornal diário, portanto, essas pautas fazem parte do meu dia a dia. A reintegração havia sido determinada pela justiça e fui pautado para fazer a cobertura. Normalmente, esse tipo de pauta rende uma foto de capa, portanto, já sai pra rua com essa incumbência. No local havia entre 5 a dez fotógrafos de diversos veículos e agências. Nessas situações, procuro ficar posicionado de maneira diferente dos demais para registrar uma foto mais autoral. O meu veículo valoriza imagens diferenciadas e me dá apoio para ir em busca desse tipo de foto. Busco sempre fotografar em forma de ensaio, apesar do meu trabalho exigir apenas duas, as vezes três imagens para ilustrar a edição do dia. Acredito que um fotojornalista, ou um fotodocumentarista (o qual me identifico mais) precisa ser capaz de contar uma história por meio de imagens. O jornalismo diário é um pouco inimigo disso, uma vez que temos que garantir a foto e correr para a próxima pauta. Jornais diários não valorizam ensaios, pois raramente há espaço para mais do que duas fotos por matéria.No dia da reintegração avisei os meus editores que a pauta tomaria o dia todo. Havia uma certa tensão e os advogados

dos moradores da área tentavam impugnar a decisão da justiça. Por isso, foram algumas horas de impasse. Isso me deu tempo para checar toda a área, conversar com os moradores e acompanhá-los na retirada de seus pertences de casa e me preparar para quando as ações começassem de verdade.

Você tem um interesse especial por esse tipo de pauta? Você tem alguma relação mais forte com o espaço que estava fotografando?

Tenho um interesse muito grande por todas as questões de moradia. Grande parte dos meus trabalhos autorais são relacionados a isso. Nasci e cresci no Grande ABC, na região da Grande São Paulo, e aqui, a partir da década de 60, sempre houveram problemas de moradia. A região recebeu milhares de novos trabalhadores para abastecer as indústrias automobilísticas que se instalavam no ABC, foram feitas diversas campanhas incentivando as pessoas a virem pra cá. O problema é que as cidades não tinham infra-estrutura para absorver tantas pessoas (a população da região mais do que duplicou em menos de 10 anos). Os postos de trabalho, pouco a pouco, foram minguando. As indústrias foram investindo cada vez mais na automatização de seus processos. O resultado disso foi um monte de gente recém chegada ao ABC que não tinha emprego e nem lugar para se instalar. Assim surgiram as favelas na região. Essas pessoas construíram suas casas onde podiam, como podiam. Em áreas invadidas, de risco ou de manancial. Por isso, a moradia sempre foi uma questão em evidência no ABC e desde pequeno isso

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me chamou a atenção. Não conhecia o local das fotos, nunca tinha passado por lá. Mas sou intimamente ligado com o ABC, sua história e seus problemas. Ao conhecermos o passado das coisas e dos lugares, passamos a entender melhor os motivos e as consequências. Percebemos que aquelas pessoas que estão sendo despejadas não são apenas invasores, são vítimas.Também acredito que a casa é a representação em objetos do que as pessoas são. Nada mais íntimo do que o lar. Penso que adentrar na casa de alguém é conhecer seus segredos, suas fraquezas. Pois somente lá elas podem se despir de suas armaduras e se mostrar da forma que são. Ser expulso de casa é uma violência terrível. É perder seu porto seguro, seu chão. Acredito que isso fica bastante visível na expressão das crianças. Elas aparentam estar perdidas, sem saber onde ir, o que fazer.

Para você, qual é o limite para se fotografar uma situação tensa como essa? O que deve e não deve ser mostrado?

O limite não somos nós, fotógrafos, que definimos. Estamos fotografando a casa das pessoas, a vida delas. A relação precisa ser de respeito mútuo. Essas pessoas sabiam que estavam sendo fotografadas, pedi autorização para cada uma delas, seja conversando ou com um aceno de cabeça. Algumas não quiseram ser fotografadas, me afastei. Para determinadas fotos, precisei entrar na casa delas enquanto retiravam seus pertences. Em outras, eu estava presente enquanto recebiam o oficial de justiça. É uma situação íntima, eles estão tristes, constrangidos com a ocasião. É preciso saber se aproximar, tratar com empatia e respeito.

Mas na hora em que as ações começam, que a polícia parte pra cima dos barracos ou que os operários começam a demolir as casas, minha obrigação, como profissional, é fotografar. Mesmo que a polícia tente me impedir, mesmo que um morador não queira. Quando se começa a fazer notícia, os limites caem e vou em busca da foto que preciso. São dois momentos diferentes, duas abordagens diferentes. É preciso saber quando ser agressivo na busca da foto e quando deixar a foto chegar até você.

Você vê o fotojornalismo em crise hoje, por conta do crescimento das agências e da falta de investimento das redações?

Acredito que o fotojornalismo diário passa por um mau momento. As agências e os próprios jornais, que comercializam suas imagens como se fossem agências, normalmente sacrificam a qualidade das imagens em prol da agilidade. Os fotógrafos sabem que quem vai vender mais vai ser o que enviar a foto primeiro. Por isso, o trabalho é prejudicado pela pressa. Eu tenho a sorte de trabalhar em um veículo que só me desloca para as pautas mais importantes do dia e não me cobra rapidez, preciso entregar todas as fotos do dia no final da tarde. Portanto, tenho tempo para trabalhar da forma que acho melhor, caso contrário, provavelmente teria dificuldades a me adaptar a esse ritmo de trabalho. Outro agravante é cada vez o número mais reduzido de profissionais trabalhando nas redações. Se antigamente o fotógrafo saía para 3 pautas ao dia, hoje sai pra 5. Óbvio que isso reflete na qualidade do trabalho. Acho que precisamos repensar a forma como é feito fotojornalismo no Brasil.

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Bernardo BorgesAbandonados SP

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Bernardo Borges visitou uma série de locais abandonados na capital e no interior de São Paulo. Sempre armado com sua câmera, registrou as mudanças nesses locais,sua decadência e suas transformações. O ensaio que vocês verão à seguir é fruto dessas andanças.

Esse ensaio está ligado a um movimento chamado Exploração Urbana. Conta um pouco sobre esse movimento.

Como a exploração urbana está relacionada a exploração de construções feitas pelo homem, principalmente as das cidades, existem casos de pessoas praticando (meio inocentemente) desde a revolução industrial. Muitos consideram o início da atividade (oficialmente falando) quando um grupo chamado Suicide Club foi fundado. Eles faziam expedições noturnas por locais abandonados da cidade. Isso em 1977.Desde então vem crescendo, com muitos adeptos e estourou bastante com as redes sociais e o compartilhamento de imagens.Ela tem várias ramificações e especialidades. Tem gente que gosta do underground (túneis, metrôs, cavernas, galerias, esgotos, etc) como por exemplo o grafiteiro Zezão. Tem gente que gosta de prédios e coberturas, gente que gosta de estruturas históricas, de lugares proibidos, de lugares autorizados, enfim. O que vale é querer conhecer e sair do sofá pra isso!

Como você encontrou esses locais? Quais foram as principais surpresas durante essa busca?

Eu descobri esse movimento digitando a palavra “abandoned” no google! A história é bacana! Minha 1ª ideia de TCC não tinha dado certo e o meu prazo era curto. Depois de matutar durante um tempo em busca de gostos e ideias, lembrei que lugares abandonados sempre me instigaram! Desde criança guardo um apreço pessoal por esse tipo de edificação. Não sei explicar bem o porquê. Deve ser culpa do cinema, do mistério e da curiosidade. E ao lembrar disso, comecei minha pesquisa...foi então que ao pesquisar na web me deparei com esse universo gigantesco! Bom, com a ideia decidida, comecei a pesquisar lugares em São Paulo em que eu pudesse começar a praticar. Pesquisei pela net e pela rua também. Nós não damos a devida atenção a esses lugares...eles costumam passar despercebidos ou serem associados a algo ruim, antro de drogados ou ladrões...tudo fantasia da nossa cabeça. Dos lugares que visitei até hoje, encontrei apenas dois lugares com moradores, ambos muito gente fina. Então comecei com um casa da rua Joaquim Antunes. Chamei um amigo e num sábado de manhã lá estava eu pulando o portão da frente! Gostei muito da experiência e do resultado das fotos. A partir disso o site “São Paulo Antiga” foi minha fonte principal. O pessoal responsável por ele registra e arquiva lugares históricos da cidade que estão abandonados, restaurados ou sendo reformados. No site eles dizem a localização, então depois desse pesquisa primária, o próximo passo é ir até o local pra ter uma avaliação da acessibilidade. Se tem entrada, se está vigiada, etc, etc. Passada as barreiras, começam os cliques! A quantidade de locais que estão nessas condições me surpreendeu.

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Quais são seus objetivos com o registro desses locais abandonados? Você busca um efeito estético, uma denúncia...

É um trabalho de dentro pra fora. O objetivo principal do trabalho é uma busca pessoal minha...da minha relação com a fotografia (estética também) e da minha pessoa com o lugar específico. Gosto muito de estar ali, presenciar, viver o momento e poder conhecer um pouco da história por meio dos objetos que ali foram deixados. É uma relação direta (eu-coisas/história), sem intermediários ou mediadores. Existem também alguns outros objetivos secundários: Preservação da história - Em dias de especulações imobiliárias gigantescas, lugares abandonados/históricos da cidade vão embora num piscar de olhos. Empreiteiros não se importam, prefeitura não se importa e muitas vezes os próprios donos não se importam e assim perdemos nossa cultura e nossa história. O projeto é também uma conservação/resgate disso. Arqueologia - Encontro muitos objetos antigos e usados pelo caminho. Registrar o modo que viviam ou trabalhavam é prazeroso e pra mim importante. Denúncia - Apesar do meu trabalho estar diretamente ligado ao fato desses lugares existirem, um lado meu gostaria que eles fossem reformados, pois muitos estão do jeito que estão por descaso do governo. De novo, dá-se pouco valor à nossa história e esse trabalho expõe isso.

Como você buscou construir uma narrativa, pensando que só teria espaço vazios para trabalhar?

Procuro criar uma narrativa por dois meios. Ou pelos objetos do local, o que traz a vida que ali já existiu ou pela minha experiência, ou seja, pelo trajeto e pelo roteiro em que me movimentei pelo local. 90%

dos casos esses são meus fios condutores. Mas isso quando eu quero contar uma história...dependendo do local, basta a arquitetura! Sua pergunta é muito legal ao questionar sobre ter o vazio pra trabalhar. Esse é o cerne do trabalho, acho que é isso que faz dessas imagens algo impressionante ou contemplativo, o vazio contém muito! É pela falta, pela marca deixada e principalmente pela força do tempo que o trabalho ganha força. A imagem de algo que está velho, sendo corroído pelo tempo, nos lembram da nossa mortalidade, nos lembram que não estaremos aqui pra sempre, que assim como começou, um dia vai acabar. Todos fomos feitos pra acabar...o grande lance é como lidamos com o fato.

Como você acredita que esses locais abandonados representam o pensamento de crescimento nas cidades brasileiras, de mudança constante?

As coisas mudam muito e mudam muito rápido. Como já comentei antes, a história da cidade (aqui entra arquitetura, cultura, etc) não é valorizada o suficiente, temos sim algumas reformas bem feitas, alguns prédios restaurados e preservações históricas, mas esses movimentos não conseguem alcançar a velocidade das empreiteiras, da especulação imobiliária e da economia.Locais abandonados não costumam durar muito tempo, principalmente em grandes cidades como São Paulo e Rio. Logo dão lugar a estacionamentos, shoppings, prédios comerciais ou qualquer outra construção. Talvez um especialista em arquitetura, um engenheiro ou um historiador possa dizer com mais afinco, mas tenho a impressão que muita coisa poderia e deveria ser reformada e não derrubada. A relação entre locais abandonados e economia é direta. Um cidade em desenvolvimento tem poucos locais e cidades em decadência tem muitos. Um bom exemplo é Detroit. É uma cidade que está se tornando uma cidade-fantasma aos poucos devido a economia local.

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ultra-passagem

Tito é fotógrafo de vídeo e vive a testar todas as (im)possibilidades que câmeras e lentes lhe

oferecem. Você pode saber um pouco mais de suas peripécias em tferradans.com/blog

Tito Ferradans

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Dentre todas as vantagens que nossos olhos têm em relação a uma câmera, há uma bem óbvia e indiscutível: nossos olhos são DOIS, enquanto a pobre da câmera tem uma lente só. E veja só, você não percebe as coisas em dobro, apesar dos dois olhos! O cérebro recebe as imagens de ambos e processa tudo como “uma coisa só”. Como há uma distância entre os olhos, cada um vê o que está na sua frente de forma levemente diferente do outro, apesar de o foco de ambos estar no mesmo ponto. O resultado dessa coisa toda de “dois para um” é que temos uma excelente noção de tridimensionalidade, espaço e distâncias. É fácil dizer, sem se mexer, se um objeto em cima da mesa está ao alcance da mão ou não; é possível ter consciência da distância do carro da frente, no trânsito por exemplo. Desde tempos remotos – leia-se: 1936 – a humanidade tenta replicar essa noção de espaço tridimensional, mas projetado sobre uma superficie bidimensional, seja uma foto ou uma tela. A técnica tem até um nome bonito: estereoscopia, cuja etimologia é a combinação de “estéreo”, dois, os olhos, e “scopia”, visão. Bem fácil de entender. O cinema, atualmente é a maior plataforma para ter acesso a esse tipo de fotografia. Mas não se iluda: filmes em 3D são produzidos desde a década de 1950, e têm seus ciclos de altos e baixos, caindo no esquecimento e voltando à vida algum tempo depois. No começo, a estereoscopia era só mais uma forma de diferenciar o cinema da televisão mas, recentemente, cada vez mais, essa característica técnica tem sido utilizada como uma ferramenta narrativa, ajudando a contar uma história de uma forma tal que não poderia ser feita no tradicional 2D, e afastando o rótulo de que 3D é só “muito legal” ou “muito curioso”. Um requisito mínimo é o uso de dois receptores de imagem: um para cada olho. O método mais simples consiste de duas câmeras presas a uma barra, levemente distantes entre si (sete centímetros é uma boa média), focadas e apontadas para um mesmo assunto. Disparadas simultaneamente, a câmera da direita produzirá uma imagem equivalente ao olho direito, e a câmera da esquerda, o mesmo, pro olho esquerdo. Existem outras formas de captação 3D, mas exigem equipamentos muito

específicos e caros, então não entrarei em detalhes. Depois de produzidas as imagens estereoscópias, certas pessoas conseguem simplesmente colocá-las lado a lado, cruzar os olhos e perceber a tridimensionalidade entre as duas sem a necessidade de apetrechos. A grande maioria de nós, porém, precisa da ajuda dos óculos especiais. As duas imagens devem ser projetadas – ou impressas – uma por cima da outra e “algo” deve fazer com que cada olho só perceba sua imagem correspondente. É aqui que entram os óculos, filtrando o que cada olho deve ver, e excluindo a imagem relativa ao outro olho. A forma mais simples de fazer isso é através da oposição de cores. Lembra daqueles óculos de papelão, com gelatinas coloridas, onde um olho é vermelho e outro ciano? Tingindo-se uma das imagens totalmente de ciano e a outra totalmente de vermelho, basta por os óculos no rosto e, devido à coloração das “lentes”, cada olho só percebe a imagem que lhe é designada. Voilá! Você está vendo 3D, numa superfície 2D! O maior defeito desse método é que você perde as cores originais da cena, resultando numa imagem em preto e branco. A outra opção – que mantém as cores da fotografia – comum em cinemas, é através da polarização da luz.. As lente dos óculos são polarizadas em 45 graus, uma delas no sentido horário, a outra no sentido anti-horário, assim como a projeção do filme, que sobrepõe as imagens polarizadas. Dessa forma, um olho só vê o que foi polarizado no sentido horário, e o outro só vê o que está no sentido anti-horário. O mais curioso dessa alternativa é que se você tirar os óculos, grande parte da projeção não terá nenhum foco! Tem uma matéria recente – e hilária - sobre um camarada que assistiu o Wolverine em 3D, mas sem os óculos e não conseguiu enxergar – ou entender – quase nada do filme. Estereoscopia é uma das coisas mais complicadas que já apareceram aqui na coluna, e, por ser um campo bastante incomum, é preciso experimentar MUITO antes de se chegar a qualquer resultado realmente impressionante. Mas a apresentação já está feita e está aberta a porta. Fica o desafio de utilizar a tridimensionalidade não apenas como efeito, e sim como ferramenta para contar sua história de forma única.

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fissuras

Ágata é um coletivo multidisciplinar, um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para a investigação do processo criativo e

da expressão artística.

Alexandre Severo

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Na iminência de um sertão

Eternizou-se pela literatura que o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Podemos sugerir que o fotógrafo é, por natureza, um inquieto, um personagem movido pela aventura. Sertanejo e fotógrafo. Figuras que rondam o imaginário brasileiro alimentado por um histórico de representações que escritores e fotógrafos ajudaram a criar. Nessa imbricação entre imagens e palavras, impossível não nos lembrarmos de nomes célebres como de Euclides da Cunha e João Guimarães Rosa. No universo das imagens, Thiago Santana é um autor sempre citado quando o assunto é sertão. Mais recentemente, outro nome desponta dentro dessa temática, o jovem fotógrafo Alexandre Severo, de quem falamos nesta coluna.Trabalhando para o Diário do Comércio, o maior jornal de Recife, Severo saiu pelo sertão nordestino em busca de “tipos” como o vaqueiro, o padre, a carola, o messias, além de novos personagens que hoje habitam esse ambiente, como o traficante, o líder sem terra, o travesti. O resultado foi o premiado trabalho “Sertanejos”, publicado em caderno especial no ano de 2009.Os retratos fechados buscavam uma tipografia clássica e atualizada da região. Mas, ao abrir o quadro e incluir o fundo infinito, os tripés, flashes e sombrinhas, o fotógrafo encontrou um contraste interessante entre seus personagens e o meio em que viviam. As cenas retratadas ganharam notoriedade para além do mundo jornalístico e fizeram o trabalho circular em outros meios, da academia ao mercado da arte, o que pegou o fotógrafo de solavanco.Conta Severo que, ao ouvir as pessoas analisarem seu próprio trabalho, sentiu que lhe faltavam mecanismos para entender tal repercussão. Partiu, então, para a construção de um novo repertório, que mudou essencialmente seu processo criativo e que, hoje, desemboca em um caminho poético e consciente do fazer artístico. “Quando você está fazendo um trabalho, você usa todo o tipo de repertório que tem. Todas as suas referências, sejam elas intelectuais

ou de vida. Quanto mais repertório, mais mecanismos para a criação”, ele diz, revelando boa parte do seu processo, nutrido por muita leitura e conhecimento teórico. É dessa troca com os autores, somada ao ato fotográfico, que Severo deu um novo tom às suas imagens, mergulhando na sua subjetividade, no seu mundo interior, ao passo que se afasta da linguagem direta e arquetípica do fotojornalismo.O tema de sua investigação continua o mesmo, só que agora, o sertão não é mais aquele do imaginário, da identidade brasileira, ou da curiosidade fetichista, mas o catalizador de um desabrochar artístico, de um amadurecimento que acontece junto das imagens e por causa delas.Em seu novo trabalho, ainda em andamento, Severo vai ao encontro de um novo sertão, de uma reconciliação consigo mesmo e com sua profissão. Os retratos de antes dão lugar às paisagens e aos rastros de existência que elas carregam. O calor previsível do sol sertanejo é substituído pelo ambiente noturno, desmistificando o senso comum que deseja encontrar a terra rachada e seca. As imagens desaturadas parecem acompanhar o barulho da vida minimizado pelo silêncio e pela busca incessante do fotógrafo que se atirou em direção ao seu sertão particular. Foi sozinho e distante dos estereótipos - criados por ele e pela própria fotografia - que Severo conseguiu se descobrir, por fim, na iminência de sua própria poética, entre tempos e em plena transição, assim como o sertão o ensinou.

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Mande seu portfolio para [email protected]

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Marcio Isensee e Sá

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