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 Página  | 21 Como definir o bairro? uma breve revisão  Josué Alencar Bezerra GE OT      emas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011. COMO DEFINIR O BAIRRO? UMA BREVE REVISÃO  Josué Alencar Bezerra Professor Me do CGE/CAMEAM/UERN Pesquisador do Núcleo de Estudos em Geografia Agrária e Regional (NuGAR)  [email protected] Resumo: Será que o bairro existe? Há algum tempo, as discussões intra-urbanas na escala de bairro vem sendo cada vez mais comuns na academia. Mesmo assim, percebemos que existem algumas dúvidas quanto à sua real definição. Alguns autores tiveram um impulso fundamental no estudo do conceito de  bairro. Pesquisadores, autores ou mesmo liter ários de diversas áreas do saber relatam a problemática ao longo de sua definição. Podemos observar inicialmente que alguns autores, sejam geógrafos, arquitetos, filósofos ou sociólogos, vem trabalhando o tema de forma bastante diversificada, o que nos fez, devido à ocasião, determo-nos em apenas algumas das fontes encontradas. O texto que apresentaremos terá por base este levantamento e a discussão que realizamos no decorrer da dissertação desenvolvida no Mestrado em Geografia da UFRN. A maioria dos trabalhos que encontramos retrata a evolução no estudo de bairro no Brasil e versa sobre as preocupações dos geógrafos com esta unidade do urbano. Consideramos que seja preciso repensar os espaços da cidade de modo que as transformações oriundas da evolução do capitalismo se deem de forma menos agressiva, criando mecanismos através de um planejamento adequado que preserve a memória urbana construída no decorrer do tempo e proporcione a criação de melhores condições para os que vivem nestes espaços da cidade. Assim, entendemos que o bairro e todo seu conteúdo estarão sempre abertos a renovações impostas em todo o âmbito da cidade. É aquilo que nunca deverá permanecer anacrônico. Palavras chave: Bairro. Unidade espacial. Revisão conceitual. 1 Palavras introdutórias O presente trabalho nasceu a partir de algumas indagações que apareceram antes e durante a elaboração da dissertação de mestrado de Bezerra (2005), desenvolvido na Pós- graduação em Geografia da UFRN, bem como nas discussões realizadas nas disciplinas cursadas nas pós-graduações da Geografia, Ciências Sociais e Arquitetura e Urbanismo. Daí emergiu o objetivo de estudar, buscando subsídios também em outras ciências que se  preocupam co m a questão urb ana, a teoria s obre o bairro. Entendemos que a escala territorial de bairro adquire grande relevância na análise da cidade, à medida que proporciona uma maior visibilidade dos dramas e dos conflitos sociais enredados no local atinente a reprodução social bem como às transformações da morfologia das funções urbanas. Ao escolhermos o bairro, como objeto de análise, fazemos a opção pelo estudo do espaço social, o que, por conseguinte, inclui o estudo da cidade, enquanto totalidade, objeto exaustivamente analisado pelos geógrafos, sociólogos e arquitetos. Assim, apresentaremos neste trabalho uma pequena proposição teórica para o estudo do bairro a partir de diversas fontes cadastrais e científicas resgatadas no decorrer das nossas investigações. 2 Diversas definições sobre bairro

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apresentando uma discussão sobre bairro e cultura barrial

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  • P g i n a | 21 Como definir o bairro? uma breve reviso

    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    COMO DEFINIR O BAIRRO? UMA BREVE REVISO

    Josu Alencar Bezerra Professor Me do CGE/CAMEAM/UERN

    Pesquisador do Ncleo de Estudos em Geografia Agrria e Regional (NuGAR)

    [email protected]

    Resumo:

    Ser que o bairro existe? H algum tempo, as discusses intra-urbanas na escala de bairro vem

    sendo cada vez mais comuns na academia. Mesmo assim, percebemos que existem algumas dvidas

    quanto sua real definio. Alguns autores tiveram um impulso fundamental no estudo do conceito de

    bairro. Pesquisadores, autores ou mesmo literrios de diversas reas do saber relatam a problemtica

    ao longo de sua definio. Podemos observar inicialmente que alguns autores, sejam gegrafos,

    arquitetos, filsofos ou socilogos, vem trabalhando o tema de forma bastante diversificada, o que nos

    fez, devido ocasio, determo-nos em apenas algumas das fontes encontradas. O texto que

    apresentaremos ter por base este levantamento e a discusso que realizamos no decorrer da

    dissertao desenvolvida no Mestrado em Geografia da UFRN. A maioria dos trabalhos que

    encontramos retrata a evoluo no estudo de bairro no Brasil e versa sobre as preocupaes dos

    gegrafos com esta unidade do urbano. Consideramos que seja preciso repensar os espaos da cidade

    de modo que as transformaes oriundas da evoluo do capitalismo se deem de forma menos

    agressiva, criando mecanismos atravs de um planejamento adequado que preserve a memria urbana

    construda no decorrer do tempo e proporcione a criao de melhores condies para os que vivem

    nestes espaos da cidade. Assim, entendemos que o bairro e todo seu contedo estaro sempre abertos

    a renovaes impostas em todo o mbito da cidade. aquilo que nunca dever permanecer

    anacrnico.

    Palavras chave: Bairro. Unidade espacial. Reviso conceitual.

    1 Palavras introdutrias

    O presente trabalho nasceu a partir de algumas indagaes que apareceram antes e

    durante a elaborao da dissertao de mestrado de Bezerra (2005), desenvolvido na Ps-

    graduao em Geografia da UFRN, bem como nas discusses realizadas nas disciplinas

    cursadas nas ps-graduaes da Geografia, Cincias Sociais e Arquitetura e Urbanismo. Da

    emergiu o objetivo de estudar, buscando subsdios tambm em outras cincias que se

    preocupam com a questo urbana, a teoria sobre o bairro.

    Entendemos que a escala territorial de bairro adquire grande relevncia na anlise da

    cidade, medida que proporciona uma maior visibilidade dos dramas e dos conflitos sociais

    enredados no local atinente a reproduo social bem como s transformaes da morfologia

    das funes urbanas.

    Ao escolhermos o bairro, como objeto de anlise, fazemos a opo pelo estudo do

    espao social, o que, por conseguinte, inclui o estudo da cidade, enquanto totalidade, objeto

    exaustivamente analisado pelos gegrafos, socilogos e arquitetos. Assim, apresentaremos

    neste trabalho uma pequena proposio terica para o estudo do bairro a partir de diversas

    fontes cadastrais e cientficas resgatadas no decorrer das nossas investigaes.

    2 Diversas definies sobre bairro

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    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    Ser que o bairro existe? Esta seria uma questo que buscamos responder e que

    proporcionou uma instigante pesquisa acerca do contedo terico j construdo sobre o tema.

    Algumas fontes bsicas, como Lefebvre (1975), tiveram um impulso fundamental no estudo

    do conceito de bairro. Porm, torna-se necessrio fomentar, a partir de ento, uma discusso a

    ttulo de contribuio para o debate acerca da reflexo deste importante recorte espacial que

    entendemos fazer parte do campo de nosso estudo.

    Nesse sentido, Santos (1999) ressalta que todos os objetos espaciais interessam

    Geografia, sejam os mveis ou os imveis, seja uma estrada ou uma barragem, uma cidade ou

    um bairro. Tudo isso so objetos de anlise das cincias humanas.

    Desse modo, como anunciado, ser subscrito nas prximas linhas um resgate terico

    sobre o que vem sendo entendido sobre a temtica, com a busca de uma definio.

    2.1 Bairro: uma diversificao em definio

    Observamos, atravs de cansativas e surpreendentes buscas em acervos bibliogrficos

    e bancos de dados diversos, que a discusso acerca do entendimento do conceito de bairro

    vasta e, por conseguinte, bastante instigante.

    Pesquisadores, autores ou mesmo literrios de diversas reas do saber relatam a

    problemtica ao longo de sua definio. Esta discusso cabe no nosso trabalho, pois estamos

    analisando esta unidade espacial que, primeira vista, surge como um abrigo dotado de

    elementos discutidos neste resgate terico, embora saibamos que boa parte dos estudos

    deixaram de ser citados, no pela sua representatividade ou importncia, mas principalmente

    pela vasta publicao sobre o tema, em diversas lnguas e cincias, e por esta no ser a nossa

    maior preocupao no trabalho.

    Sendo assim, podemos observar inicialmente que alguns autores, sejam gegrafos,

    arquitetos, filsofos ou socilogos, vm trabalhando o tema de forma bastante diversificada, o

    que nos fez, devido ocasio, determo-nos em apenas algumas das fontes encontradas,

    analisando-as a fim de facilitar a sua compreenso, como, por exemplo, sob a tica marxista

    em Lefebvre. Este importante estudioso dedicou uma grande parcela de sua produo no

    estudo dos espaos sociais urbanos, abordando o bairro como umas das suas maiores

    preocupaes, escrevendo o problema na perspectiva da prpria modernidade, com seus

    limites e contradies, chamando-o de unidade natural da vida social devido ideologia

    comunitria inserida na sua base.

    Semelhante a algumas metodologias encontradas em alguns trabalhos, vemos a

    possibilidade de classificar o bairro conforme a delimitao cientfica atribuda ao termo,

    observando sua procedncia ou particularidades deparadas nas fontes.

    As diversas definies de bairro podem ser conformizadas de uma maneira que

    obedeam s vrias interpretaes referentes a esta unidade espacial. Embora saibamos que

    esta classificao um tanto pretensiosa, tendo em vista a complexidade carregada ao termo,

    acreditamos que o suporte colhido para este trabalho vem nada mais que abrir uma reflexo

    que possa contribuir na anlise de uma unidade urbana como um bairro.

    A primeira varivel que podemos trazer para discusso seria o contedo trabalhado

    nos dicionrios e enciclopdias de pesquisa ou mesmo em estudos desenvolvidos com base

    nestes tipos de documentos.

    De uma forma geral, quando pesquisamos a definio de bairro em alguns conjuntos

    de vocbulos, constatamos que a maioria deles o define como uma simples diviso territorial

    de uma cidade; como colocado por Aulete (1948), que pronuncia o bairro como sendo cada

    uma das zonas principais em que se divide uma cidade, ou simplesmente uma poro de

    territrio nas proximidades de um ncleo urbano. Ximenes (2000, p. 112) e Almeida (1981, p.

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    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    420) praticamente acompanham a reflexo da autora exprimindo, respectivamente,

    semelhantes definies: Cada uma das grandes divises de uma cidade e Cada uma das divises principais de uma cidade; poro do territrio de uma povoao.

    Alguns outros dicionrios esboam diferentes tentativas de elaborao do significado

    de bairro. No vocabulrio organizado por Corona e Lemos (1972), so levantados trs modos

    para sua definio que analisa o bairro como uma das partes principais em que se localiza a

    populao de uma cidade ou mesmo uma poro do territrio de uma povoao, mais ou

    menos separada e a semelhana com um arrabalde ou subrbio.

    Em um dos dicionrios mais conhecidos da lngua portuguesa, o autor segue a mesma

    tendncia, porm, este incide rapidamente aguando o debate sobre a utilizao deste termo,

    conceituando o bairro como sendo Cada uma das partes em que se costuma dividir uma cidade ou vila, para mais precisa orientao das pessoas e mais fcil controle administrativo

    dos servios pblicos (FERREIRA, 2004, p. 252). Na Grande Enciclopdia Larousse Cultural (1988), surge a preocupao na

    delimitao do espao para fins de controle administrativo de uma parcela da cidade, quando

    tambm levanta questes locacionais na discusso. A preocupao d-se nas questes

    culturais de um determinado conjunto de moradores traduzido na denominao de bairro, este

    empregado em algumas reas como, por exemplo, um arraialou uma povoao.

    Isso posto, percebemos que o vocbulo bairro, que vem do latim barrium ou do rabe

    barri (de fora, exterior, separado), encontrado de forma bastante comum nestes documentos

    organizados alfabeticamente. Entretanto, em alguns casos, podemos encontrar uma discusso

    que passa pela anlise de caractersticas particulares a uma localidade que, costumeiramente,

    identificada pela denominao. Por exemplo, podemos encontrar, em alguns destes

    documentos, o conceito de bairro atribudo a um pequeno povoado rural, como citado na

    Encyclopaedia Britannica do Brasil (1981), que se remete especificamente a uma determinada

    rea do interior do Brasil. O termo utilizado nestes registros corresponde [...] aos pequenos povoados ou arraiais dos municpios localizados na Zona da Mata do estado de Minas Gerais, como simplesmente urbes elementares (SOUZA, 1961, p. 23).

    Em outras passagens, percebemos a preocupao com a questo da identidade do

    indivduo a esta unidade espacial. Em um estudo realizado por Sousa (1987) sobre o

    povoamento do interior do estado de So Paulo, o pesquisador ressalta que os elementos

    fsicos e os laos afetivos esto intimamente ligados populao do bairro. Em um dos seus

    relatos, Sousa (1987, p. 57-65, grifo do autor) coloca que:

    [...] alm de determinado territrio, o bairro se caracteriza por um segundo

    elemento, o sentimento de localidade existente nos seus moradores, e cuja formao depende no apenas da posio geogrfica, mas tambm do

    intercmbio entre as famlias e as pessoas, vestindo por assim dizer o

    esqueleto topogrfico. [...] O que bairro? - perguntei certa vez a um velho

    caipira, cuja resposta pronta exprime numa frase o que se vem expondo aqui:

    - Bairro uma naozinha. - Entenda-se: a poro de terra a que os

    moradores tm conscincia de pertencer, formando uma certa unidade

    diferente das outras.

    Nesta situao, podemos observar que o entendimento de bairro passa muito prximo

    do que os estudos da Geografia entendem por territrio, este dotado de elementos de

    dominao e pertencimento.

    Em alguns pases, o bairro aparece com uma definio um tanto diferente da que nos

    mais comum no Brasil. A ttulo de exemplo, em Portugal, a definio de bairro est associada

    a um conjunto de freguesias que forma uma regio poltico-administrativa espacialmente

    maior do que observado no Brasil.

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    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    Assim, a cidade de Lisboa encontra-se dividida em apenas quatro grandes bairros

    (Lisboa Oriental, Lisboa Ocidental, Bairro Alto e Bairro Baixo), que reproduzem 43

    freguesias, estas representadas por um santo protetor. Os habitantes da cidade reconhecem as

    reas pelas freguesias, j a importncia dos bairros remete-se apenas a abrigar as funes

    administrativas e de controle de servios da Cmara Administrativa de Lisboa.

    Em um outro estudo desenvolvido por Souza (1989) em diversos vocabulrios de

    algumas lnguas faladas no mundo, o autor trabalha o bairro como uma unidade poltica,

    analisando a real dimenso deste fonema. Daquilo que, segundo o autor, seria o palco do

    cotidiano, a arena de lutas imediatas e o referencial organizador do espao. Entre as vrias

    situaes verificadas, o autor cita alguns exemplos da terminologia encontrada em vrias

    partes do mundo.

    Na interpretao Castellana:

    A etimologia barr, bar, terra, campo, campo imediato a uma populao.

    Bar, barr, barrio, continuou chamando-se esse campo mesmo depois de se

    haver edificado nele; e por ltimo veio a significar barrio umadas divises

    locais ou municipais das povoaes, e sobretudo das povoaes grandes. Em

    algumas partes por barrio se entende o mesmo que arrabalde, grupo de

    populao situado no extremo da mesma, ou um pouco separado dela [...]

    (SOUZA, 1989, p. 153, grifo do autor).

    J [...] o francs quartier designa uma realidade similar do bairro. E tambm no caso francs, embora quartier e banlieue (subrbio, periferia) no se confundam exatamente,

    podemos encontrar quartiers em reas perifricas (SOUZA, 1989, p. 153, grifo do autor). Na lngua inglesa, segundo o autor, a questo mais complexa:

    A palavra inglesa neighbourhood parece freqentemente cobrir uma escala

    intermediria entre a unitde voisinage e o quartier da literatura sociolgica

    culturalista francesa. Isto explica o porqu de se enfatizar [...] o papel do

    neighbourhood como uma rea de relaes primrias e espontneas, o que no combina com o conceito francs de quartier, aproximando-se, isto sim,

    da unit de voisinage. No entanto, parece que a neighbourhoodunit dos

    anglo-saxes e a unit de voisinage, parte a analogia vocabular, no so

    rigorosamente idnticas, embora muitas vezes recubram a mesma escala

    espacial, pois a unit [...] se me afigura elstica a ponto de abarcar escalas

    muito pontuais (como um prdio de apartamentos), o que no seria o caso do

    neighbourhood. Seja como for, so as relaes de tipo primrio, e no as de

    tipo secundrio como no quartier, que definem em princpio o

    neighbourhood (SOUZA, 1989, p. 153-154, grifo do autor).

    E ainda:

    O district, outro referencial, define-se precipuamente pelas relaes de tipo

    secundrio que se do sua escala. [...] o district estar extremamente

    prximo do bairro, do barrio e do quartier[...], varia no somente conforme o indivduo, mas tambm segundo a cidade em questo. Por outro

    lado, talvez justamente por representar uma escala amide excessivamente

    ampla, parece que o neighbourhood, e no o district, o recorte territorial

    preferencial dos ativismos anglo-saxes, o que aparentemente tambm

    denuncia seu extremado paroquialismo desses ativismos (SOUZA, 1989, p.

    154, grifo do autor).

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    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    Podemos observar, sobretudo no trabalho de Souza (1989, p. 154), que o material

    histrico exprime como os bairros possuem um contedo bastante antigo e [...] que se encontra j em processo de extino na civilizao urbana do nosso tempo.

    Vemos que a dificuldade na busca de uma definio persiste em algumas das

    principais lnguas do mundo. Em umas, referentes a soma dos movimentos especficos de

    cada conjunto poltico-cultural de uma nao, em outros casos, morfologia apresentada por

    seus elementos.

    Mas, aproveitando as palavras retiradas do artigo de Souza (1989), uma segunda

    combinao de definies pode ser organizada nesta discusso. Seriam aquelas representadas

    por caractersticas fsicas e dimensionais, particulares de cada recorte espacial.

    Seguindo o mesmo raciocnio, o bairro revelado como uma forma fsica, um pedao

    do urbano que cresce segundo tais eixos ou tais direes, e em um determinado tamanho, seu

    traado segue uma lgica espao-social. Assim, o bairro torna-se uma unidade morfolgica

    espacial e morfolgica social ao mesmo tempo.

    Aps uma densa leitura de determinados trabalhos, percebemos que muitos destes

    resumem-se na apresentao de elementos do espao para definir um bairro.

    Em uma longa passagem, Rossi (1995, p. 63-67) coloca que:

    [...] a cidade, na sua vastido e na sua beleza, uma criao nascida de

    numerosos e diversos momentos de formao; a unidade desses momentos

    a unidade urbana em seu conjunto, a possibilidade de ler a cidade com

    continuidade reside em seu preeminente carter formal e espacial [...] O

    bairro torna-se, pois, um momento, um setor da forma da cidade,

    intimamente ligado sua evoluo e sua natureza, constitudo por partes e

    sua imagem. Para a morfologia social, o bairro uma unidade morfolgica

    eestrutural; caracterizado por uma certa paisagem urbana, por um certo

    contedo social e por uma funo; portanto, uma mudana num desses

    elementos suficiente para alterar o limite do bairro.

    A reunio destas leituras equaciona o bairro como sendo intermedirio entre as trs

    escalas bsicas que compem uma cidade que, presumidamente, elencamos como sendo:

    A escala da rua: apresenta como elemento fundamental da paisagem urbana que abriga os imveis de habitao;

    A escala de bairro: formada pela reunio de quarteires com caractersticas comuns;

    A escala da cidade: composta por um conjunto de bairros. Na leitura desenvolvida em Lamas (1993), podemos perceber a similaridade na anlise

    das subdivises de uma cidade, porm, a autora utiliza as dimenses para classificar as escalas

    urbanas. A menor escala, denominada dimenso setorial, dar-se rua que compreendida

    pela poro de espao urbano, com forma prpria. Neste espao, os elementos morfolgicos

    identificveis so os edifcios, o traado e tambm a rvore ou a estrutura verde entre outros

    instrumentos urbanos de escala menor.

    Em seguida, vem a dimenso urbana, ou seja, o bairro, pois, a partir desta dimenso,

    que:

    [...] existe verdadeiramente a rea urbana, a cidade ou parte dela. Pressupe

    uma estrutura de ruas, praas ou formas de escalas inferiores. Corresponde

    numa cidade aos bairros, s partes homogneas identificveis, e pode

    englobar a totalidade da vila, aldeia, ou da prpria cidade (LAMAS, 1993, p.

    74).

    Nesta dimenso, os elementos morfolgicos tero de ser identificados atravs das

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    Josu Alencar Bezerra

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    formas. A escala inferior e a anlise da forma necessitam do movimento e de vrios percursos.

    So os traados e praas, os quarteires e monumentos, os jardins e as reas verdes que

    constituem os elementos morfolgicos identificveis.

    Finalmente, a dimenso territorial que, segundo Lamas (1993), est compreendida pela

    cidade propriamente dita. Nesta escala, a forma das cidades estrutura-se atravs da articulao

    de diferentes formas dimenso urbana com diferentes bairros ligados entre si. A forma das

    cidades define-se pela distribuio dos seus elementos primrios ou estruturantes: o sistema

    de arruamentos e os bairros, as zonas habitacionais, centrais ou produtivas, que se articulam

    entre si e com o suporte geogrfico (figura 01).

    Figura 01 - Diferentes escalas urbanas de uma cidade.

    Fonte: Santos (1988). Nota: Adaptao de Josu Alencar Bezerra, 2007.

    Quando nos reportamos ao nmero de equipamentos e indivduos necessrios para que

    determinado espao possa ser considerado como um bairro, percebemos que o nmero de

    habitantes, moradias, extenso numrica e nmero de quadras e lotes so colocados como um

    critrio importante para classificao de uma poro do espao urbano. Para Barros (2004,

    s.p.),

    [...] um bairro agruparia entre 2.000 e 3.000 moradias (em torno de um

    centro secundrio) teria uma populao entre 5.000 e 10.000 habitantes; e

    uma extenso de 3 a5 km de permetro.

    No entanto, percebemos que o entendimento de bairro vai mais alm do que foi posto

    at aqui. Isso, tendo por base a organizao da interpretao trabalhada por algumas fontes

    normativas.

    Para isso, no podemos deixar de visitar a posio interpretria do poder pblico, parte

    responsvel para gerir as questes de ordem poltico-administrativa da sociedade, seja na

    esfera federal, estadual ou municipal. Na maioria dos casos, estes instrumentos encaram o

    bairro como uma rea ideal para as reivindicaes coletivas.

    Inegavelmente, o bairro constitui hoje a unidade urbana, a representao

    mais legtima da espacialidade de sua populao, e no por acaso que So

    Paulo conta com 900 sociedades de moradores, tambm conhecidas como sociedade amigos do bairro, cuja territorialidade facilmente estabelecida (WILHEIM, 1982, p. 63, grifo do autor).

    Tratado anteriormente por alguns dicionrios da lngua portuguesa, bairro a

    denominao de cada uma das partes em que se costuma dividir uma cidade, definio

    justificada na promoo da operacionalizao das pessoas e do controle administrativo dos

    servios pblicos, como os correios, telefonia e limpeza.

    Algumas prefeituras tornam-se um tanto sucintas quando tentam definir esta poro

    espacial. Por exemplo, para a prefeitura municipal de Natal, o bairro tido como uma [...]

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    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    unidade territorial de planejamento que utiliza referenciais conhecidos pela populao (SECRETARIA ESPECIAL DE MEIO AMBIENTE E URBANISMO, 2003, p. 2).

    Na verdade, sabemos que, na identificao de um bairro, para a maioria dos seus

    habitantes, no interessa o seu limite imposto por um rgo gestor, porque se j o identificam

    fsico-cognitivamente, pouco lhes importa at onde se estendem seus limites. Seabra (2003, p.

    26) lembra que:

    A dificuldade em alcanar o seu conceito est em circunscrever, no presente,

    essa essncia gregria do bairro, perpassada por institucionalidades, porque

    isto pode levar a um formalismo que pouco esclarece da vida social.

    Por isso, insistimos em relatar que as definies de cunho poltico-administrativo de

    um bairro encontram-se em crise com a realidade histrico-social do contedo que

    compreendemos abarcar um bairro. Entendemos que um bairro no pode ser compreendido

    por uma rea demarcada para uma simples utilizao de ordem administrativa para os seus

    habitantes, mas sim uma organizao do espao de multiplicidade social numa cidade.

    Mesmo assim, percebemos que os limites administrativos devem coexistir assim como

    os limites subjetivos, pois, na maioria das vezes, eles no coincidem. Entendemosque a

    diviso administrativa faz-se necessria porque a partir destes limites que aquele recorte

    identificado oficialmente e planejado ou assistido pelo rgo gestor; e os limites subjetivos

    fazem-se necessrios porque, a partir da coletividade, que as reivindicaes tomam corpo e

    o suporte fsico o faz nico. O professor Souza (1989, p. 140) revela ainda que o bairro :

    [...] um referencial direto e decisivo, pois define territorialmente a base

    social de um ativismo, de uma organizao, aglutinando grupos e por vezes

    classes diferentes (em nveis variveis de acomodao ou tenso); catalisa a

    referncia simblica e, politicamente, o enfrentamento de uma problemtica

    com imediata expresso espacial: insuficincia dos equipamentos de

    consumo coletivo, problemas habitacionais, segregao scio-espacial,

    intervenes urbansticas autoritrias, centralizao da gesto territorial,

    massificao do bairro e deteriorao da qualidade de vida urbana.

    Lefebvre (1975) interpreta o bairro como forma concreta do espao e do tempo na

    cidade, que atua como um mdulo social de maior convergncia entre o espao geomtrico e

    o espao social, entre o quantificado e o qualificado. O bairro seria:

    [...] a diferena mnima entre os espaos sociais mltiplos e diversificados,

    ordenados pelas instituies e pelos centros ativos. Seria o ponto de contato

    mais acessvel entre o espao geomtrico e o espao social, o ponto de

    transio entre um e outro; a porta de entrada e sada entre espaos

    qualificados e espao quantificado, o lugar onde se faz a traduo (para e

    pelos usurios) dos espaos sociais (econmicos, polticos, culturais etc) em

    espao comum, quer dizer, geomtrico. (LEFEBVRE, 1975, p. 200-201,

    traduo nossa).

    O bairro seria um espao que poderia ser dimensionado tambm na escala paroquial, j

    que a parquia no s tinha uma existncia religiosa, mas tambm uma existncia civil e

    poltica. No existia o que chamamos estado civil. Os batismos, os casamentos, as bodas

    comemorativas e os bitos inscreviam-se nos registros paroquiais e os grupos e associaes

    organizavam-se prximos do aparato eclesistico. Entretanto, [...] no podemos deixar de lado a separao do religioso do civil, e da igreja das instituies, um fato real no conceito

    terico (LEFEBVRE, 1975, p. 197, traduo nossa).

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    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    As parquias constituam bairros, e quando a cidade, ao fazer-se demasiado

    grande, perdeu sua unidade e seu carter de comunidade local, o seu ncleo

    a igreja paroquial perdeu simultaneamente suas funes e sua capacidade estruturante. Em consequncia: a conexo bairro-parquia, que em outros

    tempos constitua uma realidade, j no tem mais fundamento (LEFEBVRE,

    1975, p. 197, traduo nossa).

    Como em algumas obras, a noo de centralidade mais importante do que o

    reconhecimento de limites, ou seja, para os moradores de um bairro, ele existe em funo de

    seu centro, um ponto de encontro. E esses centros correspondiam organizao das parquias

    da Igreja Catlica.

    Cada parquia tinha seu templo e seu santo, organizavam-se em torno deles e de

    outras facilidades como feiras e mercados. Importa mais saber em que local h maior

    superposio de significados do que precisar onde comea uma zona homognea e acaba

    outra (LEFEBVRE, 1975).

    Pierre George, autor clssico da Geografia, tambm interpreta o bairro como uma

    unidade de base da vida urbana:

    O morador refere-se ao seu bairro, quando quer situar-se na cidade; tem

    impresso de ultrapassar um limite quando vai a um outro bairro. [...] com

    base no bairro que se desenvolve a vida pblica, que se organiza a

    representao popular. Finalmente, e no menos importante, o bairro tem

    um nome que lhe confere uma personalidade dentro da cidade (GEORGE,

    1983, p. 76).

    Acerca do questionamento: o que um bairro? Certeau, Giard e Mayol (1994, p. 41,

    grifo do autor) sugerem que o mesmo se apresenta como [...] o domnio onde a relao espao/tempo a mais favorvel para um usurio que deseja colocar-se por ele a p saindo de

    sua casa. Apresentando uma relao com o outro, sair de casa, andar pela rua conversar com o vizinho, seria a efetuao de um ato cultural.

    Assim, percebemos que, na viso histrico-social, o bairro, espelho das circunstncias

    temporais, ainda mais perceptveis com a urbanizao, traduz diferentes espacializaes da

    vida social da cidade, surgindo dentro da histria do urbano, como um cone na busca de

    resultado da construo histrica e social do espao citadino.

    A partir de ento, tornou-se possvel pensar a cidade e o urbano numa escala menor,

    mais detalhada, analisando as prticas sociais como o espao vivido, o lugar das experincias,

    das trocas, da reproduo da sociedade no cotidiano.

    O entendimento da boa vizinhana uma caracterstica das prticas tradicionais de

    bairro, algo que alguns dizem ser prejudicial ao planejamento urbano e utilizado como

    soluo dos problemas particulares de cada indivduo daquele espao.

    Um bairro bem-sucedido aquele que se mantm razoavelmente em dia com

    seus problemas, de modo que eles no o destruam. Um bairro malsucedido

    aquele que se encontra sobrecarregado de deficincias e problemas e cada

    vez mais inerte diante deles (JACOBS, 2000, p. 123).

    Para a autora, o bairro digno teria escolas, parques, moradias limpas e coisas do

    gnero. Como a vida seria fcil se isso fosse verdade! Que maravilha poder satisfazer uma sociedade complexa e exigente dando-lhes singelas guloseimas concretas! (JACOBS, 2000, p. 124). A autora considera os bairros rgos autogeridos s conseguindo achar produtivos

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    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    trs tipos de bairro: (1) a cidade com um todo; (2) a vizinhana de rua; e (3) os distritos extensos, do tamanho de uma subcidade, composta por 100 mil habitantes ou mais [...] (JACOBS, 2000, p. 128-129).

    Assim, o bairro [...] est provido de equipamentos coletivos e acessveis ao pedestre; mas, alm disso, ele se constitui em torno de uma subcultura e representa um corte

    significativo na estrutura social [...] (CASTELLS, 1983, p. 131). O contedo do bairro deve ser um espao regado de:

    [...] um acontecer fundado em prticas concretas que articulam, num lugar,

    parentela, vizinhana, compadrio sob mltiplas formas de solidariedade e,

    sobretudo de reciprocidade. Define-se como uma unidade em relao

    cidade (SEABRA, 2003, p. 26).

    aquele espao de representao da vida, uma unidade socioespacial quase completa,

    Fosse atravs dos enterros, dos casamentos, das missas, das festas, das procisses, da feira semanal, da presena do louco conhecido de todos, da presena do bbado, da meretriz, do

    padre [...] (SEABRA, 2003, p. 26). O ritmo acelerado do cotidiano urbano, principalmente nas grandes metrpoles e nas

    principais capitais nacionais, tem esvaziado o contedo pragmtico destes importantes

    espaos urbanos.

    Contudo, quando da identificao do bairro como um espao carregado de elementos

    histricos e sociais, consideramos nossa inexperincia na operacionalizao da noo de

    bairro como um desafio que nos trouxe respostas e mostrou caminhos para o seu

    entendimento. E, ainda, nos referenciando em alguns trabalhos que foram desenvolvidos neste

    mesmo vis, ou seja, com a mesma temtica em estudos de caso observando as diferentes

    situaes de anlise de bairro.

    Como utilizar seu conceito, se procuramos algo mais terico e no to preciso como

    uma mera definio, refletida em algumas linhas atrs, pois tememos a possibilidade da

    extino dos bairros, como previne Lefebvre (1975). Sobre o debate empirista acerca da

    existncia ou a no existncia dos bairros na sociedade moderna, Castells (1983, p. 134, grifo

    do autor) coloca que [...] no se descobre bairros como se v um rio; ns os construmos, determinamos os processos que chegam estruturao ou desestruturao dos grupos

    sociais no seu habitar [...]. Enfim:

    O bairro uma pura e simples sobrevivncia [...] uma unidade sociolgica

    relativa, subordinada, que define a realidade social [...] ele o maior dos

    pequenos grupos sociais e a menor dos grandes. A proximidade no espao e

    no tempo substituem as distncias sociais, espaciais e temporais

    (LEFEBVRE, 1975, p. 201, traduo nossa)

    Esta reflexo surge como um ponto fundamental e indiscutvel para o entendimento

    dos elementos constitutivos no bairro da cidade moderna, e que mais do que uma definio, o

    conceito de bairro traz consigo um contedo terico importante no encaminhamento das

    nossas ideias no estudo do tema.

    3 O bairro ainda resiste? Na tentativa de concluses

    Com base nas definies supracitadas, e na realidade posta nos mdios e grandes

    centros urbanos brasileiros, vem a pergunta: o bairro ainda existe? De um lado temos que a

  • P g i n a | 30 Como definir o bairro? uma breve reviso

    Josu Alencar Bezerra

    GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011.

    medida que o bairro se constitui na circunscrio espacial do habitar, da vivncia e das

    mltiplas relaes que o permeiam, ele se projeta como a unidade territorial privilegiada para

    a identificao e a avaliao dos processos da vida urbana, em que pese o fato da atual

    dinmica de reestruturao urbana.

    O movimento atual de fragmentao do territrio, impulsionado pelo desenvolvimento

    da globalizao, surge s virtualidades e prticas efetivas que se desenrolam na esfera local,

    dentre as quais aes de resistncia e permanncias relativamente bem demarcadas e que

    apresentam visibilidade social e poltica.

    Do outro lado, temos que o bairro e a vida de bairro que este suporta no vm

    resistindo ao avano da urbanizao, a partir do momento em que o processo passa a

    configurar uma imensa aglomerao urbana, como, por exemplo, a metrpole.

    A cidade que se expande na exploso no a cidade obra, apropriada pelos seus

    cidados, mas a cidade produto, a cidade do capital, aquela em que os valores de troca

    predominam sobre os valores de uso, uma cidade fragmentada, recortada, reconstruda sobre

    si mesma constantemente para maximizar a reproduo do capital.

    As prticas intersticiais de bairro pouco percebidas, e at mesmo ignoradas, no denso

    processo de urbanizao, para serem mais bem identificadas e qualificadas requerem um

    acompanhamento mais preciso. A partir desta investigao poderemos tentar responder se o

    bairro ainda resiste aos fenmenos decorrentes do processo de globalizao da economia.

    importante frisar que as possibilidades de estudo do bairro, na sua totalidade, so to

    amplas e complexas que aqui procuramos abordar apenas alguns aspectos dessa extensa gama.

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