oficinas_resumos filosofia agosto

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PROGRAMAÇÃO MINISTRANTES E RESUMOS (CLIQUE SOBRE O TÍTULO DA OFICINA/CURSO PARA VISUALIZAR O RESUMO E A APRESENTAÇÃO DO(S) MINISTRANTE(S)) CURSO PRINCIPAL [Curso] Da historicidade da ciência e suas implicações para a epistemologia OFICINAS A (19 E 20 DE AGOSTO) FILOSOFIA DA CIÊNCIA [A1] Received View e a Interpretação da Linguagem Teórica [A2] Virtudes e Problemas na Obra de Thomas Kuhn [A3] O 'Discurso do método' na sala de aula: a conjunção dos saberes prático e teórico [A4] A economia da pesquisa científica segundo Charles S. Peirce HISTÓRIA DA BIOLOGIA [A5] Genética Mendeliana: memória e ensino [A6] Seleção Natural vs. Design inteligente: acaso ou causa inteligente na evolução? HISTÓRIA DA FÍSICA [A7] Uma proposta para a abordagem do Paradoxo Eisnteim-Podolsky-Rosen (EPR) no ensino médio e seus debates científicos no desenvolvimento da física quântica [A8] O Elétron visita a sala de aula: uma História do Elétron – de Stoney à Tonomura [A9] Galileu contra o dualismo cosmológico da tradição HISTÓRIA DA MATEMÁTICA [A10] O estudo da matemática pode conduzir ao ateísmo?: Religião e matemática no século XVIII [A11] O infinitamente pequeno e o infinitamente grande: uma história do infinito à luz do pensamento de Blaise Pascal HISTÓRIA DA QUÍMICA [A12] História da Ciência e Ensino: construção de interfaces e aplicação em aulas de Química

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Page 1: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

PROGRAMAÇÃOMINISTRANTES E RESUMOS

(CLIQUE SOBRE O TÍTULO DA OFICINA/CURSO PARA VISUALIZAR O RESUMO E A APRESENTAÇÃO DO(S) MINISTRANTE(S))

CURSO PRINCIPAL

[Curso] Da historicidade da ciência e suas implicações para a epistemologia

OFICINAS A (19 E 20 DE AGOSTO)

FILOSOFIA DA CIÊNCIA

[A1] Received View e a Interpretação da Linguagem Teórica[A2] Virtudes e Problemas na Obra de Thomas Kuhn[A3] O 'Discurso do método' na sala de aula: a conjunção dos saberes prático e teórico[A4] A economia da pesquisa científica segundo Charles S. Peirce

HISTÓRIA DA BIOLOGIA

[A5] Genética Mendeliana: memória e ensino[A6] Seleção Natural vs. Design inteligente: acaso ou causa inteligente na evolução?

HISTÓRIA DA FÍSICA

[A7] Uma proposta para a abordagem do Paradoxo Eisnteim-Podolsky-Rosen (EPR) no ensino médio e seus debates científicos no desenvolvimento da física quântica [A8] O Elétron visita a sala de aula: uma História do Elétron – de Stoney à Tonomura[A9] Galileu contra o dualismo cosmológico da tradição

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

[A10] O estudo da matemática pode conduzir ao ateísmo?: Religião e matemática no século XVIII[A11] O infinitamente pequeno e o infinitamente grande: uma história do infinito à luz do pensamento de Blaise Pascal

HISTÓRIA DA QUÍMICA

[A12] História da Ciência e Ensino: construção de interfaces e aplicação em aulas de Química

Page 2: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

[A13] A presença da alquimia nas origens da ciência moderna[A14] Artefatos químicos e seus meios tecnoculturais

HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS HUMANASHISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E DAS POLÍTICAS CIENTÍFICAS

[A15] A influência fenomenológica na Geografia[A16] A Revolução Científica e as Universidades Européias

OFICINAS B (21 E 22 DE AGOSTO)

FILOSOFIA DA CIÊNCIA

[B1] Uma visão geral sobre a causalidade em Hume e Kant[B2] A ciência é racional? A tentativa de resposta de Paul Feyerabend[B3] Itinerário de Thomas Kuhn: da filosofia da ciência à filosofia da linguagem[B4] Karl Popper e a Querela do (In)Determinismo

HISTÓRIA DA BIOLOGIA

[B5] Emoções, fisiologia e remédios: existe uma maneira de não sermos cartesianos?[B6] O mito da neutralidade em ciências: eugenia como estudo de caso

HISTÓRIA DA FÍSICA

[B7] Usando episódios históricos das ciências para discutir em sala de aula sobre o que é ciência [B8] História da Física: O debate entre Blaise Pascal e Étienne Noel sobre o vazio

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

[B9] A Geometria de Descartes: sua importância histórica, sua estrutura interna e seus problemas[B10] Rupuras no Pensamento Matemático do Século XIX: uma filosofia da Matemática Moderna[B11] Aprendendo Cálculo com Sir Isaac Newton

HISTÓRIA DA QUÍMICA

[B12] O Estudo dos Ares e a Estrutura da Matéria: os trabalhos de Scheele, Priestley e Lavoisier, suas contribuições ao modelo atômico de Dalton e para o ensino de química [B13] Modelos atômicos e o ensino de Química e Física: possibilidades a partir da HFC

HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS HUMANASHISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E DAS POLÍTICAS CIENTÍFICAS

[B14] A Geografia como dimensão da cultura na obra de Michel Foucault[B15] Entre técnica e arte: aspectos gerais de uma teoria filosófica dos objetos técnicos[B16] Ciência Aberta: história, filosofia e práticas contemporâneas para uma ciência pública e universal

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Page 3: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

[CURSO] DA HISTORICIDADE DA CIÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EPISTEMOLOGIA

Mauro Condé (UFMG)

O curso analisará como, ao longo do século XX, as ciências (em especial as ciências naturais) se tornaram objeto de análise da história, da sociologia, da antropologia, etc. além da filosofia, que até então tradicionalmente fazia esse estudo transversal da ciência. O curso buscará ainda analisar algumas importantes consequências desse processo, em especial, procurando compreender como essa “historicidade” da ciência possibilitou não apenas uma maior compreensão da história da ciência e, assim, da própria ciência, mas também afetou a epistemologia, obrigando o pensamento contemporâneo a abandonar as “epistemologias fundacionistas” para constituir uma “epistemologia histórica”. Por fim, serão analisados os alcances e limites dessa nova epistemologia. Para compreender esse processo, o curso abordará algumas das principais linhas da historiografia da ciência contemporânea. Serão discutidos alguns dos mais significativos autores e modelos teórico-metodológicos que emergiram na história da ciência, filosofia da ciência e sociologia da ciência e que deram suporte para a escrita da história da ciência, bem como para a reflexão epistemológica sobre ela.

Mauro Lúcio Leitão Condé é professor do Departamento de História da UFMG. Suas pesquisas concentram-se em temas de epistemologia e história da ciência, a partir de autores como Thomas Kuhn, Ludwik Fleck e Ludwig Wittgenstein. Ele é autor de Wittgenstein: Linguagem e Mundo (Annablume, 1998) e As Teias da Razão: Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna (Argvmentvm, 2004), organizador de três livros sobre história e filosofia da ciência, além de autor de artigos em periódicos especializados e artigos de jornais. É atualmente o coordenador do “Scientia: Grupo de Teoria e História da Ciência” da UFMG, que reúne professores e pesquisadores das mais variadas formações acadêmicas em torno de temas de interesses comuns no campo da história, sociologia e filosofia da ciência e da tecnologia.

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Page 4: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

[A1] RECEIVED VIEW E A INTERPRETAÇÃO DA LINGUAGEM TEÓRICA

Gelson Liston (UEL)

Partindo da visão sintática (received view) da filosofia da ciência do positivismo lógico, sobretudo a desenvolvida por Carnap – que ressalta a tese de que as teorias científicas são formuladas de modo axiomático, em linguagem lógica contendo dois vocabulários: o vocabulário observacional (Vo) e o vocabulário teórico (Vt), mais as regras de correspondência – analisarei o desenvolvimento teórico desta posição, considerando três pontos: (i) uma teoria científica é um sistema axiomático parcialmente interpretado; (ii) a distinção entre a linguagem teórica e a linguagem observacional é arbitrária, e (iii) a linguagem observacional é teoricamente contaminada, seus enunciados não estão livres de pressupostos teóricos. Além disso, como as regras de correspondência, que estabelecem uma relação entre a linguagem observacional e a linguagem teórica, são postulados e sempre há a possibilidade de se introduzir novas regras, a interpretação da linguagem teórica permanece incompleta e relativizada a uma estrutura linguística, o que nos conduz ao argumento do contínuo na relação entre ‘observacional’ e ‘teórico’.

Gelson Liston possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (1998), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001), doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008) e pós-doutorado pela University of Leeds, UK. Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina.

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Page 5: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

[A2] VIRTUDES E PROBLEMAS NA OBRA DE THOMAS KUHN

Marcos Rodrigues da Silva (UEL) e Daniel Tozzini (UFPR)

Nesta oficina pretendemos enfocar dois aspectos da concepção de ciência de Thomas Kuhn. O primeiro corresponde à utilização de alguns elementos da concepção kuhniana tendo em vista o esclarecimento de controvérsias historiográficas. Especificamente, focaremos a noção kuhniana de perito e a adotaremos como um conceito adequado para a apresentação de uma proposta de esclarecimento de uma controvérsia historiográfica ainda atual: a utilização dos dados empíricos para a construção da estrutura molecular do DNA. O segundo aspecto diz respeito não somente às intenções ou conclusões da filosofia kuhniana, mas à maneira como ele atribui significado ao seu vocabulário básico. Pretende-se mostrar as ambiguidades de sua obra e os problemas por elas aventados. Dentro elas, serão discutidas as ambiguidades relacionadas à atividade do perito – a saber, à resolução de enigmas na atividade científica – e suas consequências. Sua imprecisão deixou obscuro seu posicionamento sobre célebres questões da filosofia da ciência, como, por exemplo, a resolução do problema da demarcação entre aquilo que pode e aquilo que não pode ser considerado conhecimento científico.

Marcos Rodrigues da Silva é professor associado do Departamento de Filosofia da UEL (Londrina-PR). Daniel Laskowski Tozzini é servidor da Universidade Federal do Paraná e possui graduação e mestrado em filosofia pela UFPR.

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Page 6: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

[A3] O 'DISCURSO DO MÉTODO' NA SALA DE AULA: A CONJUNÇÃO DOS SABERES PRÁTICO E TEÓRICO

Marisa Donatelli (UESC)

Pode-se afirmar que o Discurso do método (1637) talvez seja uma das obras de René Descartes mais utilizadas para introduzir os estudantes, de ensino médio e de graduação, às questões vinculadas ao método científico e à metafísica. Muitas vezes, o enfoque adotado na abordagem desses assuntos acaba por limitar o âmbito de atuação desse autor que, justamente nessa obra, mostra-se de forma bastante ampla. Tal amplitude pode ser vislumbrada com mais nitidez nas duas últimas partes do Discurso e quando se tem presente que esse texto constitui-se como um prefácio a uma obra maior que engloba os ensaios que lhe seguem: Dióptrica, Meteoros e Geometria. Com essa consideração, observa-se que o autor destaca a importância da conjunção entre os saberes prático e teórico, principalmente se forem levados em conta os textos voltados para questões que envolvem a necessidade de construção de aparatos, por exemplo. Dentro desse cenário, a oficina visa apresentar a importância da prática, defendida por Descartes no Discurso, da seguinte maneira: inicialmente, a partir da localização da defesa dessa posição, em textos do filósofo, incluindo algumas cartas; num segundo momento, serão considerados alguns instrumentos presentes nos Ensaios; por fim, será abordada a precedência do domínio de si para o conhecimento da natureza com seus desdobramentos. Além da apresentação expositiva do conteúdo, a oficina será desenvolvida por meio de discussões, com os alunos, sobre os textos de Descartes que costumam ser utilizados em sala de aula.

Marisa Donatelli é professora aposentada do DFCH da Universidade Estadual de Santa Cruz/UESC. Tem doutorado em Filosofia pela USP, com estágio doutoral na Universidade de Paris 7 e atua na área de Filosofia, com ênfase em História e Filosofia da Ciência na Época Moderna.

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Page 7: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

[A4] A ECONOMIA DA PESQUISA CIENTÍFICA SEGUNDO CHARLES S. PEIRCE

Max Rogério Vicentini (UEM)

Neste minicurso, partiremos da apresentação da proposta peirciana de tratamento da investigação científica como um movimento dialético entre dúvida e crença. Nesta perspectiva, a investigação científica é vista como uma tentativa de superar um estado irritante de dúvida para se atingir um estado estável e repousante de crença. Os modos de superação da dúvida e de instauração da crença serão apresentados a partir do texto “A fixação da crença”. A primeira tarefa consistirá na apresentação dos quatros métodos para fixar a crença indicados pelo autor e a sua discussão. O primeiro é denominado de método da tenacidade, o segundo de método da autoridade, o terceiro de método a priori e o quarto de método científico. Após a discussão de cada um deles e indicação das razões que tornam o método científico superior aos demais, isto é, sua capacidade de autocorreção, apresentaremos as peculiaridades da atividade científica na visão de Peirce. As duas principais funções da ciência são, segundo o autor, a elaboração e o teste de hipóteses que visam à superação da dúvida. A ciência só será possível se por meio da realização dessas funções o resultado obtido for a verdade ou dela se aproximar. Inicialmente Peirce creditou à indução esta capacidade, contudo, chegou à conclusão de que a menos que a hipótese já tenha colocado o investigador na boa direção, a ciência não conseguiria atingir seu objetivo. A capacidade de criar hipóteses é classificada pelo filósofo como um dos três tipos de inferência lógica e denominado de abdução, ao lado da indução e da dedução. A abdução é considerada a chave para o progresso que se verifica na ciência, contudo, não passa de uma espécie de adivinhação da boa hipótese. As principais condições de admissibilidade de hipóteses que Peirce estabelece são: 1. A hipótese deve ser experimentalmente testável; 2. Ela deve explicar os fatos surpreendentes com os quais nos confrontamos; 3. A seleção e ordenação das hipóteses a serem testadas devem ser realizadas em função do princípio da economia da pesquisa. Por fim, trataremos dos detalhes da economia da pesquisa e procederemos a uma caracterização geral da sua proposta contrastando-a com algumas ideias de Karl Popper.

Max Rogério Vicentini possui graduação em Filosofia pela Unesp (1994), mestrado em Lógica e Filosofia da Ciência pela Unicamp (1998) e doutorado em Filosofia pela USP (2012). Atualmente é professor adjunto na Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em filosofia da ciência.

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[A5] GENÉTICA MENDELIANA: MEMÓRIA E ENSINO

Danislei Bertoni (SEED-PR)

Com esta oficina pretendo apresentar a história das conhecidas “Leis de Mendel” sob a perspectiva da epistemologia evolucionária do conhecimento proposta pelo médico polonês Ludwik Fleck (1896-1961) como meio de compreensão dos avanços do conhecimento biológico que influenciaram no modo de explicar e ao mesmo tempo compreender, no século XIX, a gênese e o desenvolvimento da Teoria da Hereditariedade. Um dos objetivos dessa oficina é discutir a história das ideias sobre a hereditariedade, a diferença entre a concepção de hereditariedade mais aceita no século XIX e as ideias originais sobre hereditariedade em Darwin e em Mendel, a fim de que os participantes reconheçam os princípios da hereditariedade como um momento histórico da produção coletiva do conhecimento científico que contribuiu para a constituição dos fundamentos da Genética no início do século XX. Para tal, inicialmente, precisamos conhecer os trabalhos de Mendel que estabeleceram as bases para a Teoria da Hereditariedade e dos princípios que possibilitaram coadunar estudos advindos da teoria celular, da biologia do desenvolvimento, da fisiologia da reprodução, da evolução, da bioquímica, concomitantes aos avanços da microscopia ótica e da biotecnologia. Especificamente para esta oficina, destaco a compreensão de que até o século XIX muitas proposições foram elaboradas sobre a hereditariedade da vida, mas ainda sem a defesa em torno de um mecanismo “natural” que explicasse como se dá a perpetuação da herança biológica, considerando a transmissão e as variações entre os seres parentais e os descendentes. Mendel certamente não foi o primeiro a estudar sobre a hereditariedade, mas a originalidade de seus trabalhos, principalmente em comparação com os de Charles Darwin, também sobre a hereditariedade, está no modo com que realizou os experimentos e na argumentação dos resultados pautados na Teoria da Probabilidade. Diferentemente do que se costuma observar em muitos livros didáticos para o Ensino Médio, em que nos capítulos destinados aos conhecimentos da Genética os autores buscam apresentar conceitos a-históricos e descontextualizados, muitas vezes atribuindo os conceitos gene, cromossomo, fenótipo, genótipo, entre outros, à Genética Mendeliana, mas que historicamente tiveram suas gêneses em tempos posteriores, esta oficina se insere no contexto das relações históricas e socioculturais de produção do conhecimento científico sobre a hereditariedade, tendo como referência a História da Ciência e não o discurso em torno dos “conceitos básicos de genética”. Ao longo da oficina, pretendo estabelecer um diálogo com os participantes sobre os estudos de Mendel, a história das Leis e o ensino da genética no Ensino Médio, em dois momentos sequenciais. O primeiro, em que se apresentam os experimentos, destacando a opção pelas ervilhas, o significado de “caráter dominante” e “caráter recessivo”, bem como o entendimento dele sobre “linhagem pura” e “híbrido”. Num outro momento posterior, a análise e sua explicação sobre os experimentos realizados. Em ambos os momentos, farei uso de imagens/ilustrações e esquemas como forma de representação desses experimentos e resultados obtidos por Mendel, bem como a apresentação de referenciais bibliográficos que contribuem para fundamentar tais discussões. Ao final, encaminho a oficina apresentando, em síntese, os princípios mendelianos que formam a base da Genética Moderna, bem como estabelecendo uma relação com o que ficou conhecido como mono-hibridismo, di-hibridismo e tri-hibridismo. Com essa oficina, contribuo de forma significativa para superar concepções errôneas atribuídas à Genética Mendeliana. Proponho encaminhamentos que possibilitam aos participantes reconhecerem os padrões de herança mendelianos, sua importância e limites conceituais frente a Genética Moderna, e a elaborarem hipóteses a partir de situações-problema, bem como, ao participarem do jogo “Bingo das ervilhas”, discutirem sobre o princípio da segregação. Pretendo, também, com esta oficina, que os participantes estabeleçam relações entre a dinâmica do jogo e os experimentos e explicações elaboradas por Mendel.

Page 9: Oficinas_Resumos Filosofia Agosto

Danislei Bertoni é licenciado em Biologia pela Faculdade Integrada Espírita, com doutorado em Educação pela UFPR. Professor de Biologia da rede estadual do Paraná, atualmente atuando no Departamento de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação.

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[A6] SELEÇÃO NATURAL VS. DESIGN INTELIGENTE: ACASO OU CAUSA INTELIGENTE NA EVOLUÇÃO?

Wilson Antonio Frezzatti Jr. (UNIOESTE)

A origem das espécies (1859), de Charles Darwin, teve um papel central na consolidação da concepção de um mundo constituído de processos aleatórios, os quais, por eles mesmos, não teriam significado. As noções de “luta pela existência” e “seleção natural” aparentemente superaram as antigas teorias criacionistas que propunham a direção dos fenômenos orgânicos por uma causa final. Na disputa por recursos, espaço e reprodução (luta pela existência), características físicas e/ou comportamentais que dão pequenas vantagens em determinado momento em determinado lugar são transmitidas à geração seguinte (seleção natural), simplesmente porque seus portadores sobrevivem mais do que os outros membros da espécie. O acúmulo de pequenas diferenças, com o passar do tempo, dá origem a novas espécies. Esse mecanismo cego e automático se contrapõe à idéia de que haveria um criador inteligente da natureza. Essa interpretação acerca das teorias darwinianas levou Daniel Dennett a referir-se a elas como “a perigosa idéia de Darwin”, já que o mundo foi destituído de seu sentido, ou seja, de seu caráter sagrado e teleológico. No entanto, nos últimos anos do século XX, especialmente nos Estados Unidos, cientistas passam a propor que a natureza é mais bem entendida com a postulação de uma causa inteligente do que com a noção de seleção natural. Trata-se da teoria do Design inteligente, proposta por Michael Behe em 1996 (A caixa preta de Darwin: o desafio da bioquímica à teoria da evolução). Para alguns desses cientistas, a causa inteligente é Deus. Os críticos da teoria do Design inteligente afirmam que ela nada mais é do que uma reedição, em roupagem pseudocientífica, da teoria criacionista pré-darwinista. Considerando esse contexto, o objetivo desta oficina é apresentar: 1) os principais conceitos da teoria darwiniana e seus desdobramentos contemporâneos; 2) os principais conceitos da teoria do Design inteligente; e 3) o debate entre essas duas correntes; para, finalmente, permitir que o participante possa tomar sua própria posição sobre o problema. A oficina será ministrada por meio de apresentação dos conceitos das teorias darwinistas e do Design inteligente (uso de power point) e de discussão com os participantes de trechos dos documentários: A viagem de Charles Darwin (BBC, 1978); A perigosa idéia de Darwin (WGBH, 2001); e Revelando o mistério da vida (Illustra Media, 2003). Espera-se intensa participação dos inscritos em debate sobre os argumentos das duas correntes.

Wilson Antonio Frezzatti Jr. é doutor em Filosofia pela USP, professor dos cursos de Graduação e Mestrado em Filosofia da UNIOESTE, professor colaborador do Mestrado em Filosofia da UEM e Membro do Grupo de Pesquisa “Filosofia, Ciência e Natureza na Alemanha do século XIX” (UNIOESTE).

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[A7] UMA PROPOSTA PARA A ABORDAGEM DO PARADOXO EISNTEIM-PODOLSKY-ROSEN (EPR) NO ENSINO MÉDIO E SEUS DEBATES CIENTÍFICOS NO DESENVOLVIMENTO DA FÍSICA QUÂNTICA

Cassiano Rezende Pagliarini (Unicamp) e José Márcio de Lima Oliveira (Unicamp)

A maneira como as ciências naturais são tratadas nos níveis básicos de ensino acaba por caracterizá-las como práticas sempre coerentes e totalmente objetivas, livre de questões problemáticas nos interiores de seus desenvolvimentos. Todavia, é comum que existam divergências entre posições dos cientistas, de forma que debates em torno de uma questão sejam instaurados e eles próprios contribuam para desenvolvimentos e formulações posteriores. Assim, estudos dos posicionamentos dos cientistas em questões controversas na ciência podem trazer relevantes contribuições para o ensino de disciplinas de teor científico. Nesta perspectiva, as várias interpretações que existem dentro da Física Quântica possuem elementos que permitem uma abordagem em torno de questões controversas da ciência, com diversas potencialidades para o ensino de conteúdos de Física Moderna e Contemporânea (FMC) no ensino médio. Dentre essas interpretações, destacamos a incompletude, representada principalmente pelo paradoxo EPR (iniciais dos cientistas Einstein, Podolsky e Rosen), que se destacou pelo intenso debate iniciado na primeira metade do século XX, e envolveu Niels Bohr defendendo outra posição. Tendo como público alvo professores de ensino médio e estudantes de licenciatura em física, a oficina pretende abordar o tema através de trechos dos artigos originais dos cientistas envolvidos no debate do chamado paradoxo EPR, experimentos de pensamento, discussões em torno dos posicionamentos adotados e os limites e perspectivas para as referidas interpretações da teoria quântica, visando destacar os aspectos controversos em torno de seu desenvolvimento. Já num segundo momento, serão discutidas algumas possibilidades de inserção do tema dentro de um contexto de ensino em nível médio, através de outras obras de cientistas que contribuíram para seu desenvolvimento, voltadas à divulgação da ciência, bem como textos de divulgação científica (TDC) que discorrem sobre temáticas atuais, mas que abordam algumas implicações destas interpretações distintas da teoria quântica. Assim, através de uma abordagem de aspectos históricos da ciência, discutiremos as possibilidades de se inserir este debate em nível médio, ou seja, os vários pontos de vista dos cientistas relacionados a duas interpretações da Física Quântica, bem como evidenciar que teorias físicas possuem interpretações distintas e dificuldades filosóficas que não permitem que se alcance um consenso de toda a comunidade acadêmica de cientistas.

Cassiano Rezende Pagliarini (FE/Unicamp) é mestre em física (USP/São Carlos) e doutorando do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM) da Unicamp. José Márcio de Lima Oliveira (FE/Unicamp) é licenciado em física (Unicamp) e mestrando do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM) da Unicamp.

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[A8] O ELÉTRON VISITA A SALA DE AULA: UMA HISTÓRIA DO ELÉTRON - DE STONEY À TONOMURA

Elcio de Souza Lopes (IFUSP – FEUSP)

O elétron foi estudado desde há muito, através de modos como eletrólise e eletrostática. E frequentemente, em sala de aula não fazemos diferente. Porém, é possível tratá-lo com aspectos da História da Física, como a história do nome e da estrutura, do desenvolvimento e da tecnologia. O uso de História da Ciência, especialmente da Física, em sala de aula auxilia o trabalho do professor com o conteúdo de Física Moderna. Pois é possível usar textos adaptados de fontes primárias, mantendo os paradigmas da época e do pesquisador em questão. Sugerimos uma forma de texto como entrevista, em que um entrevistador fictício conversa com o pesquisador, através do artigo original. Queremos assim, que o estudante possa verificar alguns aspectos da Ciência e de seu desenvolvimento, tendo acesso aos artigos originais, na nossa perspectiva (a menos de uma adaptação de tradução e de forma de linguagem, passando de artigo para entrevista). As entrevistas fictícias foram feitas com um entrevistador fictício que encontra GJ Stoney no final da década de 1910, JJ Thomson, GP Thomson no final da década de 1930 e A Tonomura no final da década de 1980. Vemos assim como o elétron recebe este nome e o embate entre Stoney e Helmholtz devido a isso; como o elétron é observado e entendido por JJ Thomson; como as ideias de ondas de matéria são utilizadas por GP Thomson; e, finalmente, como o elétron se comporta em um experimento de fenda dupla, com Tonomura e sua equipe. As fontes primárias utilizadas foram os artigos de GJ Stoney de 1874 e de 1881, o artigo de JJ Thomson de 1897, o artigo de GP Thomson de 1923 e o artigo de Tonomura de 1989. Durante a oficina o cursante receberá os textos primários originais, os textos adaptados, e uma Sequência de Ensino Investigativo como sugestão de aplicação em sala de aula. As oficinas ficarão restritas às atividades de leitura, debate e interpretação dos textos. Ainda, os cursantes serão convidados a discutir os aspectos da dualidade onda partícula do elétron na última parte da oficina, onde terão acesso ao vídeo do trabalho de A Tonomura, J Endo, T Matsuda, T Kawasaki e H Ezawa (http://www.youtube.com/watch?v=_oWRI-LwyC4 ).

Elcio de Souza Lopes possui licenciatura em Física USP e é mestrando em Ensino de Ciências - Módulo Física. E-mail: [email protected]

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[A9] GALILEU CONTRA O DUALISMO COSMOLÓGICO DA TRADIÇÃO

Marcelo Moschetti (UESC)

A aceitação do modelo heliocêntrico de Nicolau Copérnico como a descrição verdadeira do universo implicava no abandono do conjunto da física aristotélica. Entre os princípios mais fundamentais da cosmologia de Aristóteles estavam (a) a idéia de que no céu não existe qualquer tipo de mudança além do eterno movimento circular e (b) a localização da Terra, onde as mudanças acontecem, no centro do cosmo. Segundo Copérnico, a Terra se move através do céu com todas as alterações que nela verificamos cotidianamente. Dessa maneira, não era possível defender a existência concreta do mundo copernicano e, ao mesmo tempo, manter a distinção entre a Terra alterável e o céu inalterável. Por isso, não é espantoso que os copernicanos recebessem com satisfação qualquer evidência que causasse problema a tais princípios. Entre essas evidências contrárias destacam-se as observações telescópicas de Galileu, apresentadas por ele primeiramente no Sidereus nuncius (1610). A obra contém suas primeiras observações telescópicas da Lua, dos satélites de Júpiter e de estrelas que não podiam ser vistas a olho nu. Em cartas posteriores ele divulgou outras observações, como os anéis de Saturno e as fases de Vênus. Três cartas escritas em polêmica com o jesuíta Cristoph Scheiner e publicadas em conjunto em 1613 podem ser lidas como o resultado das primeiras observações, pois ali as observações anteriores são retomadas, mas também e principalmente devido à relevância dos dados telescópicos na discussão sobre a inalterabilidade celeste. As cartas não são meramente uma lista de observações, elas são a primeira versão do conjunto da argumentação galileana contra o cosmo tradicional. Assim, incluem também o questionamento da consequência lógica dos argumentos tradicionais e alguns conceitos que fariam parte da mecânica nos Discursos sobre as duas novas ciências (1638). A discussão cosmológica mais madura de Galileu aparece no Diálogo sobre os dois máximos sistemas de mundo (1632), onde os argumentos surgem na ordem com que são apresentadas no De Caelo de Aristóteles e rejeitados um a um. Primeiramente os argumentos especulativos a favor da inalterabilidade celeste são atacados e, por fim, as novidades telescópicas contra o argumento final do filósofo grego: nunca se observou alterações no céu. Nesta oficina pretendo apresentar, primeiramente, um breve resumo da tradição astronômico-cosmológica, com destaque para a distinção essencial entre céu e Terra; em seguida, mostrarei como se dá o rompimento de Galileu com essa distinção, tanto com argumentos observacionais quanto com a desconstrução lógica dessa tese aristotélica. Como um adendo, tratarei da relação de Galileu com a pintura renascentista e com os pintores do seu tempo, assuntos que estão no cerne da minha interpretação das observações galileanas.

Marcelo Moschetti é graduado, mestre e doutor em Filosofia pela UNICAMP e professor na Universidade Estadual de Santa Cruz.

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[A10] O ESTUDO DA MATEMÁTICA PODE CONDUZIR AO ATEÍSMO?: RELIGIÃO E MATEMÁTICA NO SÉCULO XVIII

Alex Calazans(Unicamp), Veronica F. B. Calazans (USP)

Os séculos XVII e XVIII foram marcados por grandes mudanças em diversos âmbitos do conhecimento. Alguns pensadores da época passaram a caracterizar tais mudanças como o resultado da supremacia da razão. Chamados de “livres-pensadores”, esses homens comemoravam o sucesso das inúmeras novidades científicas; na matemática, em especial, destaca-se o nascimento do que hoje chamamos de “cálculo diferencial e integral”. Tratada como fruto de um raciocínio rigoroso, seus objetos de estudo e seus procedimentos demonstrativos foram frequentemente comparados às outras disciplinas, dentre elas, a teologia. Em 1732, o filósofo George Berkeley, escreveu um texto, chamado Alciphron, contra os “livres-pensadores”. Segundo Berkeley, eles contribuiriam para o descrédito da religião ao compararem a teologia, que consideravam pouco rigorosa, com o rigor de raciocínio das ciências (em especial a matemática): o resultado consistiria na promoção do ateísmo. Em 1734, Berkeley escreve O Analista, um texto de cunho matemático, com o intuito de defender a teologia. Ali se apresenta uma crítica aos fundamentos do novo cálculo infinitesimal, com vistas a refutar a crítica do livre-pensador à religião. A estratégia de Berkeley foi a de mostrar que conceitos centrais para os métodos matemáticos, principalmente de Newton, são “mistérios” que os matemáticos modernos aceitam sem nenhum escrúpulo. Assim, ao acolher uma espécie de matemática formulada com esses mistérios, o livre-pensador não poderia de modo algum levantar juízos contra a religião. Tendo em vista tal cenário, dividimos o curso em duas partes. Primeiramente, tomando o cálculo newtoniano como objeto principal, caracterizaremos a matemática que será alvo das críticas posteriores quanto ao rigor. Pretendemos mostrar que os conceitos chamados por Berkeley de “mistérios” da matemática não estavam isentos de dificuldades, ainda que considerados sob o ponto de vista dos matemáticos. Na segunda parte, analisaremos alguns dos elementos que fundamentam o conceito de “ciência matemática rigorosa”, utilizado por Berkeley contra a crítica dos livres-pensadores e em defesa da religião. Em especial, interessa-nos compreender qual a relação entre “verdade” e “utilidade” no contexto das demonstrações matemáticas. Nesse sentido, investigaremos como a teologia se insere nesse contexto de cientificidade.

Alex Calazans, mestre em filosofia pela UFPR e doutorando em filosofia pela UNICAMP. Veronica F. B. Calazans, mestre em filosofia pela UFPR e doutoranda em filosofia pela USP.

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[A11] O INFINITAMENTE PEQUENO E O INFINITAMENTE GRANDE: UMA HISTÓRIA DO INFINITO À LUZ DO PENSAMENTO DE BLAISE PASCAL

João Figueiredo Nobre Cortese (USP)

É difícil classificar Blaise Pascal (1623-1662) como pensador: além de seus trabalhos científicos e matemáticos, seus Pensamentos são estudados nos domínios da filosofia, da literatura e da teologia. Uma das principais noções que aparecem em sua obra é a de infinito, em mais de um aspecto: Pascal foi um dos precursores do cálculo e propõe somas que lidam com “infinitesimais”; além disso, pensou o homem como desproporcional ao mundo, pois ele se perde entre dois infinitos: o “infinito de grandeza” e o “infinito de pequenez”. A proposta dessa oficina é partir das concepções de Pascal sobre o infinito para analisar os desenvolvimentos desse conceito na história da matemática e na história da filosofia. Analisaremos então como surgiram e como se relacionaram o infinitamente grande e o infinitamente pequeno. Após passar por Pascal e fazer um resumo da história do conceito de infinito na Antigüidade e na Idade Média, nosso curso se centrará em dois momentos da história da matemática. O primeiro, que dá especial atenção ao infinitamente pequeno, será o século XVII ao qual pertence Pascal e o início do século XVIII: é nesse período que outros matemáticos como Cavalieri e Wallis trabalham arduamente buscando algum tipo de operacionalização dos infinitesimais, e que Newton e Leibniz criarão o que veio a ser chamado de cálculo. Já o infinitamente grande será estudado por nós na história da matemática a partir de um matemático que revolucionou a idéia que tínhamos do infinito, ou como dirá ele, dos infinitos. Georg Cantor (1845 – 1918), matemático alemão inventor da teoria dos conjuntos, mostrou que podemos falar em vários infinitos: os números reais são “mais numerosos” do que os números naturais, mesmo se ambos são infinitos! Podemos de alguma maneira contar os infinitos, e os trabalhos de Cantor chegam a um resultado impactante: existe uma infinidade de infinitos. Evidentemente não se trata de uma leitura histórica linear do conceito de infinito. As idéias de Pascal serão estudadas em diálogo não só com a matemática anterior ou contemporânea a ele, mas também com aquela desenvolvida posteriormente. Se tomamos uma liberdade quanto ao paradigma histórico, é porque acreditamos que as idéias de Pascal sobre o infinito e desenvolvimentos como os números transfinitos de Cantor podem produzir um diálogo recíproco, mesmo que uma perspectiva não seja reduzida à outra.

João Figueiredo Nobre Cortese possui bacharelado em Ciências Moleculares (USP,) especialização (Master 2) em História e Filosofia da Ciência (Universidade de Paris 7 - Denis Diderot)e é aluno de mestrado no Departamento de Filosofia da USP.

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[A12] HISTÓRIA DA CIÊNCIA E ENSINO: CONSTRUÇÃO DE INTERFACES E APLICAÇÃO EM AULAS DE QUÍMICA

Lais dos Santos Pinto Trindade (PUC/SP), Maria Helena Roxo Beltran (PUC/SP)

As contribuições que a história da ciência pode trazer ao ensino vêm sendo destacadas por educadores e professores de todos os níveis e é também uma preocupação dos historiadores da ciência. Além disso, aparece em recomendações e diretrizes governamentais de nosso país tanto para o Básico como também para o Superior. No entanto, também aqui se deve observar que da mesma forma que reunindo História e Ciência não se constrói uma área de conhecimento, não basta apenas agrupar a história da ciência e o ensino para que se tenha essa interface bem estabelecida. Para que a articulação entre estas duas áreas de conhecimento alcance um real aproveitamento no ensino e aprendizagem de ciências é necessário que voltemos nossa atenção às propostas didático-pedagógicas juntamente com novas tendências historiográficas da história da ciência. Isso porque a perspectiva histórica dominante que permeia o material didático para o ensino das ciências, bem como a veiculada pelos meios de divulgação, continua ainda a valorizar os feitos dos “grandes homens da ciência”, dando ênfase ao progresso contínuo do pensamento científico. De um modo geral, livros didáticos e paradidáticos trazem uma visão de história da ciência já ultrapassada, da qual os pais ou precursores são os protagonistas. É comum encontrar-se em livros de Química, por exemplo, a Alquimia tratada como uma coleção de erros e superstições. Dela quando muito, selecionam-se algumas práticas que chegaram até os nossos dias, mas as explicações simbólicas são deixadas de lado. Dessa forma, o objetivo desta oficina é oferecer um espaço para reflexão de modo a oferecer um instrumental necessário para que o docente possa fazer uma análise crítica do material disponível para uso em sala de aula. Esta primeira etapa será feita de forma expositiva dialogada, seguida de algumas possibilidades de aplicação. As atividades que serão desenvolvidas nos dois encontros têm por foco a história da química e sua aplicação em sala de aula. A mediação entre história e ensino tem por base textos e/ou experimentos que foram selecionados e elaborados buscando contemplar a interface entre história da química e ensino de química. (Apoio CAPES/OBEDUC)

Lais dos Santos Pinto é professora de Química, especialmente nos cursos de formação de professores. Mestre em Educação e doutora em História da Ciência. Pesquisadora colaboradora do Centro Simão Mathias de Estudos em História de Ciência. Maria Helena Roxo Beltran é professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Historia da Ciência. Mestre em Ensino de Química e doutora em Semiótica. Pesquisadora do Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência.

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[A13] A PRESENÇA DA ALQUIMIA NAS ORIGENS DA CIÊNCIA MODERNA

Luciana Zaterka (UFABC)

A maioria dos trabalhos sobre a chamada revolução científica moderna apresenta como fio condutor as transformações ocorridas no âmbito da astronomia e da física. Os nomes aqui lembrados são sempre os mesmos: Copérnico, Galileu, Descartes e Newton. A química é frequentemente omitida. De fato, os historiadores, por muito tempo, assinalaram o desenvolvimento tardio dessa ciência quando comparado ao da astronomia, física, anatomia ou da fisiologia. Ora, os argumentos que fundamentam essa visão historiográfica seguem a interpretação do historiador H. Butterfield, que utiliza como paradigma as ciências físicas, isto é, o progresso na quantificação como um requisito para qualquer interpretação da revolução científica. Por outro lado, alguns historiadores da ciência acreditam que, para uma melhor compreensão das mudanças ocorridas na revolução científica, é necessária uma abordagem que tenha também como preocupação as diferentes teorias da matéria. Assim, Prof. A. Debus propõe que para o entendimento da revolução científica em sua totalidade devemos incluir alguns aspectos relacionados à história da medicina e da química, especialmente a evolução médico-química dos séculos XVI e XVII e, também, o conflito entre mecanicistas, químicos e vitalistas no início do século XVIII. Assim, poderemos repensar se, de fato, a revolução química seria um fenômeno da segunda metade do século XVIII. Já historiadores como F. Yates e P. Rossi, de maneiras distintas, enfatizam a necessidade de uma abordagem que leve em consideração também a presença de elementos alquímicos e herméticos. É desta perspectiva, então, que gostaríamos de propor uma discussão sobre o nascimento da química moderna que problematize os elementos “antigos e modernos” presentes no período, em particular a dívida de F. Bacon e R. Boyle com a alquimia paracelsista. Assim, poderemos discutir, por exemplo, que, apesar de encontrarmos no século XVII diversas correntes que são consideradas como “corpuscularistas” ou “mecanicistas”, é preciso, todavia, prestar atenção às diferenças específicas de cada uma delas. Embora pensadores como Descartes e Boyle estejam preocupados em explicar os fenômenos da natureza em termos de matéria e movimento, Descartes trata mais especificamente de questões ligadas à física, e Boyle de questões predominantemente ligadas à química. Esta diferença teórica não foi devidamente observada pela história da ciência posterior, que as reuniu sob a designação comum e demasiadamente genérica de mecanicismos e/ou corpuscularismos. Com efeito, Boyle e Descartes são, sem dúvida, corpuscularistas; porém Descartes refuta a noção de vazio e não recorre aos minima para explicar a sua teoria da matéria. Boyle, por sua vez, na esteira baconiana, constrói uma hipótese corpuscular da matéria utilizando elementos da tradição alquímica paracelsista, em particular uma concepção ativa de matéria.

Luciana Zaterka possui Bacharelado e Licenciatura em Química pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Obteve o mestrado em química orgânica pelo Instituto de Química da USP. Possui graduação, mestrado e doutorado em Filosofia pela FFLCH-USP. Obteve o pós-doutorado em História da Ciência pela PUC-SP. Atualmente é Professora de Filosofia Moderna na Universidade Federal do ABC.

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[A14] ARTEFATOS QUÍMICOS E SEUS MEIOS TECNOCULTURAIS

Ronei Clécio Mocellin (USP)

Propomos uma oficina que tem por objetivo apresentar uma articulação histórico-epistemológica do conhecimento químico a partir de suas operações teórico-experimentais, de seus produtos e de sua capilaridade cultural. A oficina será dividida em três partes. Na primeira, procuraremos analisar aquilo que caracterizaria a química ao longo de sua história e seu papel na construção de identidades epistêmicas historicamente constituídas. Para isso, iniciaremos estendendo algumas características epistemológicas e ontológicas do conceito de artefato à expressão “artefatos químicos”, ou seja, os produtos da química serão considerados como resultados de uma arte, produzidos para certo fim, certo propósito e que demonstram uma intenção criadora. Esses artefatos são construídos num espaço social que determinaria a perenidade de uma ciência desprovida de um corpus de conhecimentos historicamente estáveis – o laboratório. Adotando a noção de “estilo de pensamento” apresentada por A. Crombie, desenvolvida por I. Hacking e aplicada à química por B. Bensaude-Vincent, consideraremos o laboratório químico e o conjunto de valores sócio-epistêmicos a ele associados como o local em que se forjou historicamente um estilo químico de pensar, que é irredutível tanto epistemologicamente quanto ontologicamente a outros estilos de raciocínio. A seguir, proporemos pensar esses artefatos como objetos técnicos que seriam o resultado de um processo de individuação e que desempenham determinados comportamentos numa rede de relações que constitui o seu meio-técnico. Para isso, apresentaremos a filiação desses conceitos ao pensamento de G. Simondon, particularmente às suas concepções quanto ao modo de existência dos objetos técnicos com o qual pretendemos dialogar a fim de refletir sobre os diferentes níveis de racionalidade nos quais atuam os artefatos químicos. Finalizando essa parte introdutória, gostaríamos de abordar um tema geral para melhor situar algumas ideias previamente desenvolvidas. Trata-se da relação entre o conhecimento químico e a noção de Progresso. A química esteve omnipresente na construção de “ideologias do progresso”, mas num momento em que a desconfiança do público em relação aos impactos causados pela ciência ao meio ambiente (a química sendo apontada como a grande vilã), o que resta da ideia de progresso? Dado o paradoxo contemporâneo de desconfiança e, ao mesmo tempo, de veneração pelo progresso, como revitalizar este ideal agregando-lhe sistemas de valores (epistêmicos, sociais, políticos...) que contribuam na redefinição de certos objetivos civilizacionais? Qual a papel da química e de seus atores nesse processo? A segunda parte da oficina será consagrada a uma investigação mais aprofundada daquilo que denominamos capilaridade cultural da química. Para isso, propomos uma exposição sobre os diversos níveis de racionalidade nos quais o conhecimento químico tomou parte ao longo do século das Luzes. Isso nos levará a ampliar consideravelmente os interesses da química daquele período, minimizando os efeitos de possíveis “momentos de criação” ou de “fundação disciplinar”. Dito de outro modo, pretendemos demonstrar que um estilo químico de raciocinar foi praticado por múltiplos atores e seus efeitos sentidos de múltiplas formas. Quer dizer, não analisaremos a química das Luzes em retrospectiva a partir, por exemplo, dos interesses teórico-experimentais de Lavoisier, mas a partir de seus próprios problemas e objetos de pesquisa. Aqui, nosso objetivo será apontar o quanto o conhecimento químico foi determinante na fundamentação teórica da chamada “filosofia experimental” (tal como a desenvolvida por Diderot e d’Holbach), mas também a construção de sistemas teórico-experimentais que projetavam a química como uma “ciência física” com identidade própria (tal como o apresentado por P-J. Macquer) e, sobretudo, como a produção industrial de artefatos químicos demandava sua padronização experimental e linguística. Encerraremos esta parte da oficina sintetizando os principais valores da química das Luzes através de alguns trabalhos de Guyton de Morveau, químico, professor e notório enciclopedista. Isso nos conduzirá a por em questão algumas interpretações históricas e epistemológicas acerca do episódio denominado comumente de “revolução química”. Enfim,

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na terceira parte e a guisa de conclusão, abordaremos a legítima questão: para que serve uma história epistemológica da química? Primeiramente, isso nos permitirá tecer algumas considerações acerca do que pensamos ser uma investigação “histórico-epistemológica”, bem como delinear os grandes eixos de seu método de investigação. Propensos a tomar esse tipo de investigação como úteis ao entendimento dos processos de “produção” e de “consumo” de “bens científicos”, concluiremos nossa oficina fazendo alguns apontamentos a respeito de seu lugar na formação tanto de químicos profissionais e professores de química quanto de filósofos e historiadores que tomam as ciências como tema de suas pesquisas.

Ronei Clécio Mocellin possui graduação em Química pela Universidade Federal do Paraná (1997), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003) e doutorado em Filosofia (Epistemologia, História das Ciências e das Técnicas) pela Universidade de Paris X (2009). Foi professor de química e de filosofia em escolas de ensino médio (1991-2005) e professor substituto no departamento de filosofia da Universidade Federal do Paraná (2010-2012). Atualmente faz pós-doutoramento no departamento de filosofia da Universidade de São Paulo no quadro do Projeto Temático da Fapesp "Gênese e significado da tecnociência" (2011/51614-3).

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[A15] A INFLUÊNCIA FENOMENOLÓGICA NA GEOGRAFIA

Eduardo Marandola Jr.(FCA/Unicamp)

A fenomenologia é uma das mais importantes correntes filosóficas a influenciar as ciências humanas no século XX, provocando ondas de reconstruções teórico-metodológicas mais ou menos nítidas nas diferentes ciências. A forma como esta onda repercutiu em cada uma das ciências humanas e sociais, no entanto, ainda está por ser melhor documentada e analisada.Esta oficina objetiva discutir este processo no caso da Geografia, cuja influência da fenomenologia se fez sentir precocemente, em 1952, com a publicação do livro O homem e a terra: natureza da realidade geográfica, de Eric Dardel, mas que só teve repercussão ampliada no coletivo dos geógrafos chamados humanistas nos anos 1970, momento de busca de alternativas para a predominância do paradigma neopositivista. Este movimento, no entanto, não levou a cabo o projeto fenomenológico, mantendo-o incompleto e, de certa forma, abandonado. Com os processos de globalização e a virada cultural e espacial nas ciências humanas e sociais, além das renovadas tendências interdisciplinares, há um contexto com condições epistemológicas mais abertas as quais permitem uma retomada daquele projeto, buscando leva-lo a cabo de forma mais intensiva. Para compreender a influência da fenomenologia na geografia e seu desenvolvimento nos últimos 50 anos, a oficina se dividirá em três momentos: (1) Análise e contexto da obra de Eric Dardel; (2) Os desenvolvimentos e influências da geografia humanista anglo-saxônica, nos anos 1970 e 1980; (3)A retomada contemporânea, nos anos 2000, e seus desdobramentos no Brasil. A oficina será conduzida pela leitura de fragmentos de textos e uma abordagem conjunta dos aspectos epistemológicos e históricos do processo, procurando contextualizar o esforço de incorporação da fenomenologia ao mesmo tempo em que busco apontar os limites e as possibilidades apresentadas enquanto reconstrução epistemológica e, posteriormente, ontológica da geografia. Na parte final da oficina, problematizarei as conexões intra-ciências humanas e sociais da geografia, via fenomenologia, e suas possibilidades de diálogo e interação a partir desta influência comum. Os resultados apontam para a possibilidade de interação no campo das ciências humanas e sociais via a perspectiva fenomenológica, especialmente no contexto da virada espacial dos últimos 30 anos e do advento da filosofia do espaço, cuja influência fenomenológica, especialmente de Heidegger, é notória e fundamental.

Eduardo Marandola Jr., possui graduação (Licenciatura e Bacharelado) em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (2002 e 2003) e Doutorado em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (2008). Atualmente é Professor (MS3) da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp (campus de Limeira), onde coordena o Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGERR), do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS). É editor da revista eletrônica Geograficidade, do Grupo de Pesquisa Geografia Humanista Cultural (UFF/CNPq).

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[A16] A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E AS UNIVERSIDADES EUROPÉIAS

Arthur de Bulhões (Unicamp), Lisiane Basso (Unicamp)

A Revolução Científica dos séculos XVI e XVII é comumente descrita destacando-se duas características, a saber, uma profusão de esforços intelectuais no sentido de uma refutação do aristotelismo da escolástica tardia e a busca pela formulação de uma nova ciência da natureza, amparada na linguagem matemática. A crítica ao paradigma científico constituído combina o surgimento de novos conteúdos - que podemos tomar como descobertas de fenômenos inconciliáveis com as teorias mais amplamente aceitas – com o questionamento dos métodos de sistematização do conhecimento da natureza, que, no entender de autores como Francis Bacon e Descartes, deveriam ser amplamente revisados. Entre as críticas mais moderadas e aquelas mais radicais ao aristotelismo da escolástica tardia, há uma outra diferença a ser destacada. Aqueles autores mais interessados em corrigir o método aristotélico eram, frequentemente, docentes nas universidades européias, como, por exemplo, Jacopo Zabarella (1533-1589) e Cesare Cremonini (1550-1631), ambos professores da Universidade de Pádua. Por outro lado, os críticos mais radicais da ciência aristotélica estavam comumente fora das instituições de ensino, como era o caso de Francis Bacon, René Descartes e Galileo Galilei, tradicionalmente vistos como os principais personagens da Revolução Científica. Tal divisão entre os meios interior e exterior às instituições de ensino, somada a um modelo historiográfico que concebe a assim chamada ‘revolução” como uma total substituição de modelo científico, deu origem a uma leitura que concebe a Revolução Científica como um fenômeno extra universitário. Segundo essa mesma interpretação, há uma espécie de oposição entre vanguarda e retaguarda, na qual as universidades ocupariam o polo conservador. Outro elemento que é frequentemente invocado para reforçar tal dicotomia é o domínio do ensino por ordens religiosas, principalmente os jesuítas. A formalização de métodos e conteúdos de ensino bastante debitários da escolástica tardia contribuiu para que o ensino empreendido pela Companhia fosse visto como um obstáculo à ‘nova ciência’. Assim, convencionou-se dizer, como faz Paolo Rossi em La nascita della scienza moderna in Europa, que a Revolução Científica se deu essencialmente fora do contexto universitário e, além disso, criou suas próprias instituições, como é o caso das academias reais e sociedades científicas. Tal interpretação é devida a dois elementos principais: em primeiro lugar, ela pressupõe uma ‘revolução’ científica como um processo de total substituição de um modelo científico por outro, modelo este importado da história política, que define a ‘revolução’ como a total substituição de um regime político-social por outro; outra característica desse modelo historiográfico é a admissão de duas correntes (ou partidos), criando uma dicotomia entre inovadores e conservadores. Ao contar-se a história do papel das instituições na revolução, normalmente se atribuiu ao revisionismo dos professores universitários o papel dos conservadores. Em segundo lugar, deve-se considerar uma característica dos estudos históricos sobre as universidades europeias. Normalmente, as fontes examinadas são documentos oficiais como estatutos, editais, programas e, no caso dos jesuítas, as edições da Ratio studiorum. Estes textos frequentemente oferecem uma radiografia da posição oficial que é, por sua vez, permeada de motivações políticas, religiosas e culturais. É fácil flagrar posturas conservadoras nesses textos. Entretanto, nem sempre eles coincidem com a atividade intelectual dos docentes, nem com os textos de ensino por estes redigidos. Isso cria um descompasso entre uma história das universidades contada através de documentos oficiais e uma história da ciência, que lhe é confrontada, e contada com base nos trabalhos intelectuais dos autores do cânone. Em estudos recentes, a análise interna dos textos de ensino dos professores universitários tem permitido relativizar essa dicotomia entre a universidade conservadora e o extra universitário inovador. Diante disso, há de se considerar, por um lado, novas fontes – quais sejam, os textos redigidos pelos professores universitários -, e partir de um modelo historiográfico menos comprometido com a ideia de revolução científica como uma substituição completa de modelos

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científicos, a partir de um embate entre conservadores e inovadores, vanguarda e retaguarda. É basicamente este o debate a ser trabalhado em nossa oficina. Portanto, nossa oficina tem os seguintes objetivos: a) apresentar a construção historiográfica do papel da universidade na Revolução Científica dos séculos XVI e XVII; b) mostrar estudos que tem questionado a oposição interior x exterior da universidade como uma oposição entre vanguarda e retaguarda; c) apresentar estudos de caso que partam da consideração do trabalho intelectual e atividade de ensino efetivos dos professores universitários que corroborem a hipótese de leitura aqui apresentada. Pretendemos, além da exposição oral, apresentação de slides e debate, trabalhar com análise de amostras de fontes primárias e do discurso historiográfico, com participação dos alunos.

Arthur de Bulhões é doutorando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Lisiane Basso é professora do Colégio Militar de Curitiba, doutoranda em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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[B1] UMA VISÃO GERAL SOBRE A CAUSALIDADE EM HUME E KANT

Andrea Cachel (IFPR-Curitiba)

A Oficina pretende apresentar os aspectos centrais da discussão humeana acerca da causa e efeito, bem como indicar as linhas gerais da resposta kantiana e os problemas interpretativos que ela gera. Ao analisar a relação causal, Hume acaba por discutir, no fundo, todo o fundamento do nosso conhecimento experimental e o entendimento dessa questão e em que medida isso influencia o interesse kantiano em resguardar o a priori do conhecimento sintético é parte indispensável de uma compreensão de um dos temas mais relevantes da filosofia da ciência. Assim, a primeira parte da Oficina será destinada à análise dos pressupostos da análise de Hume, centrando-se na diferença entre os problemas da causalidade e da indução e no sentido de hábito, bem como das regras gerais do juízo. Estará em jogo nesse momento uma discussão sobre o "associacionismo" humeano e a incidência sobre ele do trabalho do hábito e do entendimento. Tendo como pressuposta essa percepção, a segunda parte da Oficina fará uma apresentação geral da “resposta” kantiana ao problema humeano, apresentada na Segunda Analogia da Experiência, na Crítica da Razão Pura. Exploraremos também o debate quanto a tenha a Segunda Analogia ou não a pretensão de fundamentar legitimamente o princípio mesmas causas, mesmos efeitos, ou se ainda seriam necessários o Apêndice à Dialética Transcendental e a Crítica da Faculdade do Juízo para tanto. No âmbito dos que respondem afirmativamente a essa questão, nos reportaremos inicialmente à tese de STRAWSON (The Bounds of Sense: an essay on Kant’s Critique of Pure Reason), para quem Kant, nesse caso, teria incidido em non sequitur. Por outro lado, esboçaremos a visão de FRIEDMAN e LONGUENESSE, que entendem que a noção de regra pressuposta na sequência temporal “objetiva” implicaria, respectivamente, ou que os estados sucessivos sejam determinados em si mesmos por regras causais universais num sistema unificado da Natureza (FRIEDMAN, Causal Laws and the Foundations of Natural Science) ou que a percepção dessas sequências, enquanto envolvendo regularidades das quais emerge a irreversibilidade, são produtos já de um juízo de experiência, via subsunção do diverso à categoria de causa no esquematismo (LONGUENESSE, Kant on the Human Standpoint, p.143-183; LONGUENESSE, Kant and the Capacity to Judge,1993; p.167-197). No interior da perspectiva oposta, destacaremos as interpretações de BECK (Six Short Pieces on the Second Analogy of Experience), ALLISON (Custom and Reason in Hume. A Kantian Reading of the First Book of the Treatise) e GUYER (Knowledge, Reason and Taste. Kant's Response to Hume), os quais sustentaram, de formas distintas, a independência, em Kant, entre os argumentos destinados a sustentar que todo evento tem causa e os direcionados ao princípio das mesmas causas os mesmos efeitos e vice-versa.

Andrea Cachel é professora de Filosofia do IFPR-Curitiba; mestre em Filosofia pela UFPR; doutora em Filosofia pela USP; pós-doutoranda em Filosofia na Unicamp.

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[B2] A CIÊNCIA É RACIONAL? A TENTATIVA DE RESPOSTA DE PAUL FEYERABEND

Halina Macedo Leal (Faculdade São Luiz/FURB)

A questão da racionalidade da ciência, considerada durante muito tempo como ponto pacífico, é atualmente referida como um problema por vários pensadores. Uma das principais dificuldades para conceber a racionalidade científica reside na tentativa de compatibilização de critérios racionais permanentes dentro de circunstâncias variadas de pesquisa. Um dos mais notáveis críticos do ideal clássico de racionalidade compreendida como obediência a critérios permanentes foi Paul Karl Feyerabend. Este pensador, em virtude de sua proposta anarquista no campo epistemológico, geralmente é interpretado como alguém que nega todo e qualquer tipo de orientação racional na ciência. Mas a crítica de Feyerabend não revela exclusivamente uma análise negativa do racional no sentido clássico. Nesta oficina, tentar-se-á mostrar que tal crítica dá margem a interpretar a epistemologia feyerabendiana como fornecendo uma forma de compreender a racionalidade sem a redução a critérios e padrões universais de investigação científica. Afirma-se, assim, que a postura de Feyerabend não conduz a um irracionalismo, mas a uma compreensão da racionalidade na qual esta pode ser denominada racionalidade científica contextualizada. O que significa dizer uma racionalidade dependente de circunstâncias em que o pensamento opera, sem impor a priori princípios determinantes e demarcadores de ideias a serem exploradas e consideradas relevantes à ciência. Em última análise, o estilo polêmico e vibrante de Feyerabend propõe que se encare a ciência dentro da multiplicidade de sua prática real, recusando a universalidade e reforçando a ideia de distintas possibilidades de interação racional na ciência. As ideias feyerabendianas podem não se apresentar como ponto pacífico, mas tornam-se muito importantes na reflexão dos limites entre racional e irracional, razão e anti-razão e ajuda a compreender, de forma efetiva, episódios da prática científica. Dessa forma, o contexto de ideias deste pensador contribui significativamente para uma nova compreensão do conceito de racionalidade científica e da prática racional dos cientistas. Busca-se, assim, não somente uma análise teórica da racionalidade científica no contexto de ideias de Feyerabend, mas, para além deste contexto, busca-se analisar e avaliar a aplicabilidade prática da proposta feyerabendiana. Para tanto, tenta-se responder às seguintes questões: Na prática efetiva da ciência, como opera a racionalidade do cientista? Em que medida falar em distintas ciências já não pressupõe uma contextualização do racional?

Halina Macedo Leal é bacharel em Filosofia pela UFRGS (1998), mestre em Filosofia pela UFSC (2001) e doutora em Filosofia USP (2005). Como parte de sua pesquisa de doutorado desenvolveu estágio na Universidade de Stanford, Califórnia. Atualmente trabalha como docente na Faculdade São Luiz em Brusque e na Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB).

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[B3] ITINERÁRIO DE THOMAS KUHN: DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA À FILOSOFIA DA LINGUAGEM

Sandro J. Teixeira (Unibrasil)

O ano de 1962 é um ano bastante importante para a história da filosofia da ciência, pois é o ano de primeira edição de A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn. A importância e a influência deste texto ao longo das décadas posteriores a sua edição é inegável, assim como também é inegável o conjunto de polêmicas geradas pelas idéias discutidas no texto. O conceito de incomensurabilidade entre teorias científicas, por exemplo, é ainda hoje alvo de disputas no campo da filosofia da ciência. Contudo, é necessário ressaltar que embora Thomas Kuhn seja mundialmente conhecido por seu livro de 1962, seu pensamento não se esgotou nesta obra. Kuhn, sobretudo nas décadas de 70 e 80 do século XX, procurou ampliar e refinar suas teses de 62 utilizando um espectro maior de ferramentas conceituais e, para isso, procurou como campo privilegiado de discussão a linguagem. O propósito desta oficina é, portanto, apresentar o itinerário do pensamento kuhniano que perfaz este traçado em direção à linguagem. Em um primeiro momento, o objetivo é apresentar as grandes questões presentes em A Estrutura, tais como incomensurabilidade, paradigma e theory ladness, para em seguida acompanhar o desdobramento destes conceitos em trabalhos posteriores de Kuhn e seu avanço rumo aos problemas de linguagem. Dos trabalhos posteriores, dois livros devem ser destacados: A Tensão Essencial e O Caminho desde a Estrutura. São dois livros que compilam a produção de artigos de Kuhn escritos entre a décadas de 60 e 80. Nos dois livros há artigos que apontam para as mudanças da abordagem de Kuhn em relação aos problemas filosóficos propostos em seu livro clássico. Mas é em O Caminho que Thomas Kuhn se torna também um filósofo da linguagem, os textos contidos nele têm alta relevância caso se queira compreender o lingusitic turn em sua obra. No referido livro, a incomensurabilidade será discutida em termos semânticos, o conceito de paradigma será substituído pelo de léxico e o holismo também será discutido em termos semânticos. O curso visará apresentar, portanto, além do itinerário kuhniano, as partes mais significativas das discussões expostas em O Caminho e, na medida do possível, compreender o embate filosófico de Kuhn diante de posições rivais.

Sandro J. Teixeira, professor das Faculdades Integradas do Brasil – Unibrasil, é mestre em Filosofia e doutorando em Filosofia pela UFPR.

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[B4] KARL POPPER E A QUERELA DO (IN)DETERMINISMO

Willian Rodrigo Stubert (SEED/PR)

A temática a ser desenvolvida nesta oficina diz respeito à contribuição de Karl Popper ao debate entre determinismo e indeterminismo. Partiremos de uma breve exposição histórica do assunto, para então nos focarmos na filosofia da ciência popperiana do século XX e seus interlocutores. Ao contrário dos neopositivistas, que pretendiam expurgar as teorias metafísicas do domínio da ciência, Popper procurou defender a ideia de que certas doutrinas metafísicas, caso sejam esclarecidos os problemas para os quais elas são evocadas, podem ser racionalmente avaliadas, discutidas e criticadas. A partir dos Pós-Escritos à Lógica da Investigação Científica, o indeterminismo metafísico e científico acabaria se tornando um dos pilares fundamentais do pensamento popperiano, contrastando-se com uma espécie de determinismo metodológico que suas obras anteriores pressupõem. Dentre as diversas espécies de determinismo, a versão científica pode ser enfraquecida e refutada, pois estaria apoiada, sobretudo, no aparente êxito que certas teorias empíricas logram ao possibilitarem explicações e predições bem-sucedidas. Sob a análise popperiana, os programas científico-deterministas sempre acabam se deparando com indeterminações e, em função disso, pouco restaria em defesa do determinismo metafísico sem o suporte de sua versão supostamente científica. No entanto, os deterministas veem o mundo como um sistema completo e fechado de entidades físicas que estão em interação de acordo com leis rígidas e sem qualquer interferência externa. Eles costumam argumentar que os fenômenos aparentemente desordenados e imprevisíveis não passam de consequências indesejáveis de um estágio provisório da evolução do conhecimento. Por outro lado, os indeterministas científicos procuram estar imunes às críticas, pois simplesmente afirmam que nem tudo no universo pode ser explicado com base em leis rígidas e que nem todos os eventos podem ser conhecidos e preditos com precisão ilimitada. A incompletude e a falibilidade do conhecimento humano apontam na direção de um universo incompleto e aberto, no qual constantemente surgem coisas novas e inesperadas, principalmente se levarmos em conta as produções do espírito inventivo humano. Por fim, veremos que a adesão de Popper ao indeterminismo não se apresenta como uma discussão independente e incompatível com suas reivindicações anteriores. Teses indeterministas, como a abertura do universo, a incompletude e a falibilidade do conhecimento, reforçam outros pilares epistemológicos e metodológicos da filosofia da ciência popperiana.

Willian Rodrigo Stubert é professor de Filosofia (SEED-PR); Mestre em Filosofia (UFPR).

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[B5] EMOÇÕES, FISIOLOGIA E REMÉDIOS: EXISTE UMA MANEIRA DE NÃO SERMOS CARTESIANOS?

Érico Andrade (UFPE)

Poucos filósofos emprestaram seu nome para adjetivar um paradigma. Descartes pertence a esse grupo seleto. Seu nome virou sinônimo de racionalismo. Os cartesianos seriam estritamente racionais e calculistas. Eles deixariam de fora várias dimensões do humano, em particular as paixões ou emoções. Mas, será que Descartes estaria de acordo com uma redução das paixões humanas às relações sinápticas em nosso cérebro? É possível uma explicação científica das emoções? Essas questões marcavam não apenas a reflexão cartesiana, mas várias reflexões que configuravam nos séculos XVII e XVIII a pauta do debate na medicina, na física e na moral. A resposta cartesiana, posso adiantar, é não. Mas, para entender essa resposta é necessário visitar a história da ciência e da filosofia para saber quais eram os argumentos em favor da redução das paixões aos processos físicos, que ocorrem em nosso cérebro, e quais eram os argumentos contrários a essa perspectiva. Nesse sentido, esse curso fará uma investigação das obras de filósofos e cientistas como Hobbes, De Lametrie e Descartes no intuito de mostrar os limites do projeto de redução das emoções à atividade cerebral ou à fisiologia de modo geral. Vou mostrar que, ao contrário da imagem cristalizada do paradigma cartesiano, é possível recuperar bons argumentos de Descartes a favor da tese de que as paixões revelam uma condição humana própria, muito particular, cuja análise envolve uma investigação mais ampla do comportamento humano e não pode ser reduzida à medicina. Esse debate ensejado nos séculos XVII e XVIII encontra profunda ressonância na discussão contemporânea e está presente na esperança dos cientistas de reduzir todas as doenças, ditas emocionais, a aspectos fisiológicos, para os quais apenas um fármaco, uma droga, seria suficiente para acabar com os nossos sofrimentos. Será que isso hoje é verdade? Bom, talvez o debate que meu curso proporcionará possa oferecer alguns caminhos para possíveis respostas. Ou seja, a minha discussão a partir da história da ciência e da filosofia sobre a relação entre as emoções (paixões) e a ciência (medicina) pretende contribuir para esclarecer se somos apenas uma máquina ou se existe algo na nossa natureza que é insondável ou que a ciência não é capaz de dar conta.

Prof. Dr. Érico Andrade é coordenador do Mestrado em filosofia UFPE e doutor em filosofia pela Sorbonne.

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[B6] O MITO DA NEUTRALIDADE EM CIÊNCIAS: EUGENIA COMO ESTUDO DE CASO

Waldir Stefano (Universidade Presbiteriana Mackenzie/Universidade Cruzeiro do Sul)

A palavra inglesa Eugenics (Eugenia em português) foi cunhada por Francis Galton (1822-1911) em 1883 considerando-a como sendo uma ciência do melhoramento biológico da espécie humana. Ele acreditava que grande parte das características humanas físicas, mentais e morais era herdada. A ideia de melhoramento de Galton implicava não somente na eliminação das doenças hereditárias conhecidas, mas também na seleção de características favoráveis a partir do encorajamento de determinadas uniões. É interessante notar que Galton se utilizou de várias áreas de conhecimento para estruturar a eugenia, principalmente os conhecimentos da hereditariedade e posteriormente da genética. Após os trabalhos de Galton "provarem" a existência de componentes hereditários nos atributos principalmente não físicos nos seres humanos, muitos intelectuais no mundo, interessados pela ideia, discutiram possíveis medidas que aperfeiçoariam o seu povo. Medidas como estimular uniões entre indivíduos com bons dotes eugênicos, controle da imigração e até mesmo a esterilização compulsória em alguns países. Nesta oficina discutiremos a relação dieta entre a eugenia e a hereditariedade e os resultados dessa união.

Waldir Stefano é doutor em História da Ciência e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Universidade Cruzeiro do Sul.

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[B7] USANDO EPISÓDIOS HISTÓRICOS DAS CIÊNCIAS PARA DISCUTIR EM SALA DE AULA SOBRE O QUE É CIÊNCIA

José Leandro de A. M. Costa Gomes (IFAL-Arapiraca)

Em sala de aula, a imagem de ciência e de como esta é construída tem sido corriqueiramente apresentada de forma inadequada. Vários estudos exploraram tal fato e suas implicações e possíveis causas. Em várias ocasiões e sem capacidade alguma de crítica, boa parte dos manuais, livros didáticos e alguns paradidáticos de divulgação científica trazem ao estudante do ensino básico uma construção inapropriada sobre o que é ciência. Mostram, direta ou indiretamente, uma ciência blindada às interferências das “fraquezas” humanas. Ciência esta que produz de forma metódica conhecimentos absolutos, os quais não podem ser questionados. Afinal, a ciência prova! Com relação às pessoas que fazem a ciência, estas são curiosamente mostradas como especiais em inteligência, em sua maioria homens e sem muita vida social. Por vezes, os cientistas são caracterizados como loucos que vivem num mundo só deles, trabalham isoladamente e que apenas poucas pessoas podem compreender o que ele faz. Além disso, a forma como a maioria dos livros didáticos organiza os conteúdos acaba construindo a ideia de que aquela sequência estabelecida no sumário foi a sequência exata na qual os saberes e conhecimentos foram pensados e desenvolvidos. Não se pode esquecer que existe no senso comum uma relação muito forte entre descoberta ao acaso e desenvolvimento de novas ideias na ciência. Lembre-se da história do Eureka! Eureka! atribuída a Arquimedes ou da Maçã de Newton. Muitas vezes, há a imagem do cientista que, misturando algumas substâncias, obtém milagrosamente aquilo que desejava. Para construir uma imagem de ciência mais próxima do real, a oficina propõe usar episódios históricos das ciências (Física, Química, Biologia e Matemática) como uma das ferramentas para levar aos educandos do ensino básico situações que propiciem a discussão acerca do que é ciência, quem são os cientistas e como a ciência produz conhecimento. Assim, a oficina aqui apresentada busca dar subsídios teóricos e práticos aos participantes para construção de planos de aula que tenham por objetivo principal inserir o debate sobre aspectos da natureza da ciência em sala de aula.

José Leandro de A. M. Costa Gomes é docente de Física exclusivo do IFAL-Arapiraca, mestrando em Ensino de Ciências e Matemática pela UEPB, especialista em Metodologia do Ensino de Física pela UGF-RJ e licenciado em Física pela UFPE. Atuou nas redes pública e privada em Pernambuco e convidado na UPE.

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[B8] HISTÓRIA DA FÍSICA: O DEBATE ENTRE BLAISE PASCAL E ÉTIENNE NOEL SOBRE O VAZIO

Fumikazu Saito (PUC/SP)

A ideia básica do “experimento de Torricelli” é bem conhecida e descrita em livros didáticos. Toma-se um tubo de vidro com cerca de 1 metro de comprimento, selado em uma de suas extremidades, que é completamente preenchido com mercúrio. Tampando-se com o dedo a extremidade livre, o tubo é então invertido num recipiente contendo também mercúrio. Feito isto, ao remover o dedo de modo a destampar o tubo observa-se a descida do mercúrio que, oscilando por vezes, estaciona a uma altura de cerca de 76 centímetros acima do nível do mercúrio no recipiente (no nível do mar). Fazendo parte do capítulo dedicado à hidrostática, esse experimento comumente é apresentado para ilustrar o conceito de pressão atmosférica. Conclui-se, a partir de tal experimento, que a pressão do ar, atuando na superfície do líquido no recipiente, consegue equilibrar a coluna de mercúrio no tubo. E dado que a coluna líquida no tubo é de 76 cm, chega-se a admitir que o valor da pressão atmosférica equivalha à pressão exercida por uma coluna de mercúrio de 76 cm de altura. Consequentemente, passa-se a denominar a pressão de 76mmHg de 1 atmosfera e a defini-la como uma unidade de pressão. Todavia, o que o “experimento de Torricelli”, enquanto experiência, efetivamente nos demonstra? Em linhas gerais, podemos dizer que ele encerra dois problemas fundamentais. De um lado, está a questão de saber o que impede a descida completa do mercúrio. E, de outro, esclarecer se aquele espaço que surge acima da coluna de mercúrio é, de fato, um vácuo (isto é, um espaço no qual não existe nenhuma substância). A esse respeito, observa-se que tal espaço é definitivamente vazio, pois se fosse feito um orifício no tubo nesta região, de modo a permitir a entrada do ar, a coluna desceria até se nivelar com o mercúrio do recipiente e, no que diz respeito à altura do mercúrio, seria a pressão do ar que o manteria suspenso. Contudo, o que nos autoriza a admitir que aquele espaço seja um vácuo absoluto? No século XVII, o “experimento de Torricelli” não foi visto com tanta simplicidade quanto o é ensinado nos dias de hoje. Naquela época, a ideia de pressão atmosférica era desconhecida e a existência do vácuo não era admitida pela maioria dos estudiosos da natureza. Contudo, mesmo assim, sem o esquema conceitual do qual estamos habituados, tal experimento não oferecia nenhuma dificuldade de interpretação. É o que nos mostra, por exemplo, a célebre polêmica entre Blaise Pascal e o jesuíta Étienne Noël. A controvérsia relativa à existência do vazio, que teve lugar logo após a publicação das experiências de Pascal (1647), nas quais ele exibia e defendia a formação de um vácuo absoluto, é um dos belos exemplos que bem ilustram as dificuldades que encerram a experimentação. Além de apontar para a complexidade das questões que cercam o significado da experiência no desenvolvimento de novos conceitos em ciências naturais, esse debate também nos oferece a oportunidade de discutir o significado de uma evidência experimental. Desse modo, essa oficina tem por objetivo empreender uma reflexão crítica acerca do papel da experiência no desenvolvimento de novos conceitos em ciências naturais mediante um caso histórico, problematizando o significado de evidência experimental em ciências naturais nas origens da ciência moderna. Para tanto, centraremos a discussão sobre o debate entre Noël e Pascal em relação às experiências em relação ao vazio. Embora Pascal tenha realizado diversos experimentos e apresentado argumentos sobre a possibilidade da formação de um vazio na natureza, ele, curiosamente, não convenceu seus oponentes, nem conseguiu provar, de fato, de que era possível produzir vácuo na natureza. A oficina está organizada da seguinte maneira: a) Breve apresentação dos dois problemas fundamentais encerrados pelo “experimento de Torricelli” e o cenário intelectual do século XVII no que diz respeito à possibilidade da existência do vazio; b) Apresentação do opúsculo Expériences nouvelles touchant le vide de Blaise Pascal, suas partes, estrutura, e conclusões; c) Contextualização e introdução ao o debate entre o jesuíta Étienne Noël e Blaise Pascal; d) Leitura de excertos de documentos originais (transcritos) de modo a problematizar a questão

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da observação tendo como foco de discussão o fenômeno e a sua relação com a teoria que a explica; e) Questões dirigidas e discussão. (Apoio: CAPES)

Fumikazu Saito : É Doutor e Mestre em História da Ciência pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Possui graduação em Engenharia Elétrica e é bacharel em Filosofia. Atualmente é professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC/SP e do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência da PUC/SP e pesquisador junto ao Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência (CESIMA-PUC/SP). Editor executivo do periódico "Circumscribere: International Journal for the History of Science". Editor do periódico eletrônico "História da Ciência e Ensino: Construindo Interfaces".

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[B9] A GEOMETRIA DE DESCARTES: SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA, SUA ESTRUTURA INTERNA E SEUS PROBLEMAS

César Augusto Battisti (UNIOESTE)

A oficina pretende apresentar a Geometria de Descartes, obra central do pensamento cartesiano e da história da matemática. A apresentação consistirá dos seguintes itens: a) breve contextualização histórica; b) características gerais do texto; c) discussão da sua estrutura, objetivos e problemas centrais; d) características metodológicas; e) inserção da obra no contexto do pensamento cartesiano. Havendo tempo hábil, haverá uma apresentação sobre itens referentes à concepção cartesiana de ensino-aprendizagem, relacionados ao método empregado por ele em suas investigações. A oficina se destina a professores e estudantes das áreas de matemática, filosofia, ciências em geral e educação.

César Augusto Battisti é doutor em Filosofia, professor da Graduação e do Mestrado em Filosofia da Unioeste, Campus de Toledo – PR.

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[B10] RUPTURAS NO PENSAMENTO MATEMÁTICO DO SÉCULO XIX: UMA FILOSOFIA DA MATEMÁTICA MODERNA

José Carlos Cifuentes (UFPR)

Entendemos por “matemática moderna” a matemática desenvolvida a partir do século XIX como consequência de rupturas ontológicas, epistemológicas e metodológicas com o pensamento matemático tradicional. Essa ruptura com a tradição matemática caracteriza-se por: 1) mudança de linguagem rumo ao formal; 2) fragmentação do conhecimento matemático; 3) maior liberdade, autocrítica e autonomia. Rupturas ontológicas são, por exemplo, o advento do infinito matemático como parte estruturante das novas teorias matemáticas, assim como as concepções do espaço a posteriori para as novas geometrias. São rupturas epistemológicas, por exemplo, o questionamento sobre a absoluticidade da verdade matemática e sua relação com a demonstrabilidade, assim como as impossibilidades matemáticas e as limitações do conhecimento matemático. Ligadas às rupturas metodológicas estão, por exemplo, o advento da nova lógica, desligada das formas do pensamento, e os novos padrões de rigor, assim como a discussão sobre o papel da intuição matemática. Nesse contexto será importante também a discussão sobre o método axiomático em matemática e em física, que permeia o século XIX, especialmente, na aritmética, na teoria dos conjuntos, nas geometrias não-euclidianas, na mecânica newtoniana. O procedimento será expositivo e o envolvimento dos participantes será reflexivo a partir de uma concepção “clássica” de matemática.

Prof. Dr. José Carlos Cifuentes, professor do Departamento de Matemática e Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e em Matemática da Universidade Federal do Paraná – UFPR, é bacharel, Mestre e Doutor em Matemática com áreas de interesse a Lógica Matemática, a Filosofia da Matemática e a Educação Matemática.

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[B11] APRENDENDO CÁLCULO COM SIR ISAAC NEWTON

Luiz Felipe Sigwalt de Miranda (UFPR)

A oficina tratará das técnicas desenvolvidas por Newton em seu trabalho intitulado 'De methodis' (1671), mais precisamente, a redução de frações, raízes e equações à séries infinitas, e, o método das fluxões aplicados aos cinco primeiros problemas apresentados pelo autor. O objetivo da oficina reside na apreciação e compreensão da técnica de redução em séries utilizada por Newton, bem como, do tratamento dado por ele com respeito aos conceitos que fundamentam o método das fluxões.

Luiz Felipe Sigwalt de Miranda é mestrando, bolsa – CNPq/CAPES, Departamento de Filosofia, Universidade Federal do Paraná.

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[B12] O ESTUDO DOS ARES E A ESTRUTURA DA MATÉRIA: OS TRABALHOS DE SCHEELE, PRIESTLEY E LAVOISIER, SUAS CONTRIBUIÇÕES AO MODELO ATÔMICO DE DALTON E PARA O ENSINO DE QUÍMICA.

Deividi Marcio Marques (UFU)

A História da Ciência tem papel de destaque no meio escolar e acadêmico constituindo uma importante fonte de conhecimento e podendo tornar as aulas de química mais dinâmica e que comportem a participação dos alunos em debates e discussões. O objetivo desta oficina, direcionada para professores da educação básica, alunos de graduação e pós-graduação, é a discussão das possíveis contribuições da História da Ciência no ensino, sobretudo ao ensino de Química, por meio do estudo e das controvérsias envolvendo os trabalhos do sueco Carl W. Scheele (1742-1786), do inglês Joseph Priestley (1733-1804) e do francês Antoine L. Lavoisier (1743-1794) que culminaram, entre outros conhecimentos, na identificação do gás oxigênio nas reações de combustão e, consequentemente, na derrubada da teoria do flogisto. Tais estudos impactaram as estruturas da química na época e, posteriormente, permitiu a elaboração do modelo atômico de John Dalton (1766-1844), colocando em evidência os estudos da matéria. O conhecimento desses episódios da História da Química pode permitir uma percepção sobre o fazer científico relacionado à ciência, como se concebe uma ideia, como surge uma teoria e como esta pode ser refutada por meio de novas investigações, assim como dialogar sobre a duvidosa mitificação de Lavoisier como sendo o pai da química moderna. É esperado que a oficina proporcione aos participantes a oportunidade de encontrar informações sobre tópicos específicos de História da Ciência e da História da Química, incentivando-os em proporem novas estratégias de incorporação da História da Ciência em sua prática docente.

Deividi Marcio Marques é professor adjunto II do Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia, licenciado em Química e em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado em Educação para a Ciência pela Unesp de Bauru.

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[B13] MODELOS ATÔMICOS E O ENSINO DE QUÍMICA E FÍSICA: POSSIBILIDADES A PARTIR DA HFC

Ehrick Eduardo Martins Melzer (UFPR) e Tiago Ungericht Rocha (UFPR)

Esta oficina tem por objetivo fazer uma discussão das implicações do ensino dos modelos atômicos nas disciplinas escolares de Química e Física (Ensino Médio). Para tal, pretende-se aliar à discussão elementos da teoria da Transposição Didática, bem como do recurso à História e Filosofia da Ciência (HFC) enquanto encaminhamento para o ensino de Ciências. Num primeiro momento pretendemos trazer à tona elementos que permitam uma discussão ampla sobre os fundamentos presentes no ensino dos modelos atômicos: como estes são apresentados nos livros didáticos e como a sua evolução histórica é considerada. Queremos assim evidenciar aspectos relacionados ao processo de transposição dos mesmos e que visão de ciência e da atividade científica é apresentada nos principais livros didáticos. Deste modo, à luz do referencial teórico refletiremos se o ensino destes modelos contribui para a formação de uma cultura científica. Num segundo momento conduziremos a oficina de modo a discutir possíveis abordagens para o ensino dos modelos atômicos nas disciplinas de Química e de Física. Em relação à disciplina de Química, tomaremos como ponto de partida a questão de que seria necessária a abordagem dos modelos atômicos para se ensinar Química na Educação Básica? Investigaremos se os modelos atômicos podem se confirmar um conteúdo essencial no ensino de Química, bem como seus efeitos nos estudantes quando abordados numa forma tradicional, presente em muitos livros didáticos. Buscaremos compreender novas possibilidades de Transposição Didática para este conteúdo específico, investigando outros fatores que vão além da simples sucessão de modelos. No que se refere ao ensino de Física, tomaremos como pressuposto de que o estudo dos modelos atômicos pode ser um elemento facilitador para a abordagem de conteúdos de Física Moderna e Contemporânea. Neste sentido, propomos como objeto de discussão a inserção de possíveis tópicos de Física Quântica no currículo de Física, tomando como eixo condutor o estudo dos principais modelos atômicos. Nossa proposta para a disciplina de Física, portanto, consiste em inserir os estudantes no universo da teoria quântica a partir da discussão sobre os limites da Física Clássica na compreensão da natureza da luz. Deste modo, esta oficina pretende analisar a viabilidade do ensino dos modelos atômicos, o que pode ser transposto em nível de Ensino Médio e como o recurso à HFC pode contribuir para o ensino de tais modelos nas disciplinas de Química e Física.

Ehrick Eduardo Martins Melzer é mestre em Educação em Ciências e em Matemática – UFPR (2012) e licenciado em Química pela Universidade Federal do Paraná (2010). Tiago Ungericht Rocha é mestre em Educação em Ciências e em Matemática – UFPR (2013), licenciado em Física pela Universidade Federal do Paraná (2010) e licenciado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2004).

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[B14] A GEOGRAFIA COMO DIMENSÃO DA CULTURA NA OBRA DE MICHEL FOUCAULT

Cláudia Maria Martins (UFSCar)

O traço que diferencia os discursos da geografia dos demais discursos das ciências humanas, e ao mesmo tempo o que lhe dá certa identidade, é o modo como as teorias geográficas elaboram o conceito de espaço geográfico ou, simplesmente, o conceito de espaço. A teoria sociológica costuma operar uma separação analítica entre sociedade e espaço e entre espaço e tempo, além de conceber o espaço como uma espécie de palco ou suporte da ação social do homem. O pensamento geográfico opera uma diferença radical ao afirmar que é o social que se instancia no espaço, ou seja, nesta acepção, o espaço torna-se a forma privilegiada de instanciação da vida. Como se o discurso sociológico operasse uma duplicação desnecessária da realidade ao fazer a separação entre sociedade e espaço. Analogamente, partindo de outros problemas epistemológicos e utilizando diferente perspectiva de análise, entendemos que a filosofia de Michel Foucault, particularmente entre os 60 e 70 do século XX, também se particulariza pela busca de apontar os excessos e as duplicações da realidade operados pelos discursos sociais em sua época. Neste mesmo gesto crítico, Foucault acaba também por gestar uma forma particular de operar o espaço geográfico no bojo de suas histórias filosóficas das ciências humanas. Neste contexto, o espaço ocupa lugar central, representando a dimensão privilegiada da cultura de uma época. As estratégias de exposição a serem utilizadas na oficina são aula expositiva, discussão de textos e projeção de imagens.

Cláudia Maria Martins, professora da UFSCarlos, é bacharel em Geografia (USP) e Filosofia (UEM - PR), doutora em Filosofia (Teoria das Ciências Humanas - PUC-SP). E-mail: [email protected]

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[B15] ENTRE TÉCNICA E ARTE: ASPECTOS GERAIS DE UMA TEORIA FILOSÓFICA DOS OBJETOS TÉCNICOS

Walter Romero Menon Jr (UFPR)

Esta oficina pretende-se introdutória da compreensão do que seja um objeto técnico à partir das noções de instrumento, dispositivo, utensílio. O que se evidencia de saída é a particularidade de os objetos técnicos serem determinados na sua relação com o ser humano. Em uma análise mais incisiva, poder-se-ia dizer mesmo que é uma questão antropológica esta da técnica e, conseqüentemente, do objeto técnico. Não, entretanto, como tema de estudo de um ramo especifico das ciências humanas, a antropologia, bem entendido, mas sim como um aspecto elementar e essencial na definição do que é o gênero humano, o anthropos. Nesse sentido, a importância da tecnologia para a definição do humano seria comparável àquela da aquisição da linguagem. Mais do que simples elementos necessários à organização social da espécie, tanto a linguagem, quanto a tecnologia são os próprios alicerces desta e têm seus fundamentos na especificidade biológica do homem. Em ultima instância, tentarei demonstrar, em primeiro lugar, seguindo os passos de dois teóricos da técnica, Arnold Gehlen e Gilbert Simondon, entre outros, que os objetos técnicos não são um subproduto da cultura, mas, efetivamente, algo da ordem da própria constituição desta, e, mais ainda: que os objetos técnicos, por sua especificidade, colocam em litígio as fronteiras que se pretendem definitivas e bem traçadas entre a idéia de cultura, identificada ao “artificial”, ou seja, o que é criado pelo homem, e o que é da ordem do natural “o herdado biologicamente”.

Walter Romero Menon Jr. é professor adjunto do departamento de Filosofia da UFPR. Tem Doutorado pela Université Paris VIII, com tese publicada pela editora l'Harmattan 2010 Paris, com o título de l'Oeuvre d'Art, l'expérience Esthétique de la Vérité. Atualmente desenvolve pesquisa sobre a relação entre arte e teoria do conhecimento e arte e política.

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[B16] CIÊNCIA ABERTA: HISTÓRIA, FILOSOFIA E PRÁTICAS CONTEMPORÂNEAS PARA UMA CIÊNCIA PÚBLICA E UNIVERSAL

Alexandre Hannud Abdo (FMUSP) e Daniela Rozados (USP)

A oficina apresentará, através da discussão histórica e filosófica de casos concretos, o cenário de questões contemporâneas sobre acesso, compartilhamento e participação na produção do conhecimento científico, sintetizado num repertório de alternativas conhecidas como Ciência Aberta, que nas últimas décadas vem ganhando força e espaço dentro e fora da academia. Uma das ideias centrais que acompanham o complexo de valores da ciência, desde sua emergência na época moderna, é seu caráter de bem público e universal. Ou seja, a noção fortemente estabelecida que a ciência e seus frutos são patrimônio da humanidade e que a finalidade e o objetivo da ciência devem estar subordinados a um fim público, e não responder somente a fins privados. Uma estratégia que viabiliza a promoção da ciência como bem público e universal ocorre por meio do acesso à divulgação em revistas e nos periódicos científicos e pelas formas de fazê-la. O século XX testemunhou uma progressiva organização e multiplicação das revistas e periódicos científicos. No entanto, historicamente esse sistema de comunicação constituiu-se forjado por duas forças aparentemente opostas. Por um lado, sua expansão possibilitaria um alcance maior do conhecimento produzido, ao promover maior acesso e circulação das ideias. Por outro, as revistas e periódicos foram adquirindo características típicas de interesse privado, que acabaram por restringir esse mesmo acesso e circulação de ideias para atender a tais interesses. Esse modelo específico de organização e distribuição do conhecimento científico encontra-se saturado e em evidente conflito com os valores científicos que ajudou a cultivar num primeiro momento. As tecnologias da informação que temos hoje à disposição mudam de modo profundo e imediato as condições de distribuição, armazenamento e organização das informações. Nesse cenário, surgem possibilidades totalmente novas, como dados científicos abertos, ciência cidadã, educação aberta e wikipesquisas, que encontram como barreiras os pressupostos do modelo impresso estabelecido no século XX. Além de apresentar e refletir sobre essas tendências, esta oficina investigará o elo entre as discussões promovidas pelos movimentos da ciência aberta e o potencial de revalorização e retomada do ideal típico da ciência moderna: o caráter público e compartilhado por todos do patrimônio científico.

Alexandre Hannud Abdo, cientista molecular e doutor em Física, pesquisa participação e saúde pública na FMUSP e organiza o grupo de trabalho nacional em Ciência Aberta. Daniela Rozados tem formação em psicologia e filosofia, é doutora em psicologia e pós-doutoranda no departamento de filosofia da USP e no IEA (Instituto de Estudos Avançados). Pesquisa atualmente as orientações éticas constituintes da atividade científica contemporânea.

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