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OCORRÊNCIA DE INIMIGOS NATURAIS DE SPODOPTERA FRUGIPERDA (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO, ELDORADO DO SUL, RS. Neiva Knaak 1 ; Jaime Vargas de Oliveira 2 ; Tiago Viegas Cereza 3 ; Rodrigo Rocha Barbosa 4 ; Lidia Mariana Fiuza 5 Palavras-chave: Controle biológico, parasitoides, vírus, fungos. INTRODUÇÃO De acordo com estimativas da Conab (2017), a produção de arroz deve alcançar 11,96 milhões de toneladas na safra 2016/17. O Estado do Rio Grande do Sul teve uma área plantada de 1.106.253 ha, sendo a produtividade média do Estado de 7.968 quilos por hectare. Como em qualquer agroecossistema, a ocorrência de fatores ambientais bióticos ou abióticos pode ser desfavorável à cultura, reduzindo sua produtividade e, consequentemente, a rentabilidade. Entre esses fatores destaca-se Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), mais conhecida por lagarta-da-folha, que está entre os principais insetos-praga da cultura do arroz no Brasil (MARTINS; AFONSO, 2007; SILVA, 2014). O controle dessa espécie praga que ocorre na fase inicial da cultura do arroz tem sido baseado na aplicação de inseticidas químicos, que nem sempre têm a seletividade, desejável aos inimigos naturais. A disponibilização de diferentes métodos de controle de pragas é fundamental para manter o equilíbrio nos ecossistemas e a sustentabilidade do manejo integrado de pragas nos agroecossistemas. Dessa forma, o controle biológico de fitófagos na agricultura pode ser realizado por inimigos naturais como: parasitoides, predadores e entomopatógenos. O desenvolvimento de um programa de manejo integrado de pragas requer o conhecimento prévio da fauna benéfica e seus microrganismos associados, nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a ocorrência de inimigos naturais de S. frugiperda lavouras orizícolas na região da Planície Costeira Interna do RS. MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas lagartas de diferentes instares de Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), em lavouras de arroz irrigado, em Eldorado do Sul no ano agrícola 2016/2017. Os espécimes coletados foram mantidos no Laboratório de Microbiologia e Toxicologia da Estação de Arroz Irrigado EEA/IRGA, e isolados em potes plásticos contendo dieta artificial de Poitout, em condições controladas (26ºC, 70% UR e 12h fotofase), até atingirem a fase adulta ou emergência dos parasitoides ou surgimento de sinais de infecção por agentes patogênicos, como: vírus, fungos e bactérias. Os parasitoides que emergiram dos ovos e/ou das lagartas foram conservados em álcool 70% e posteriormente identificados pelo taxonomista Dr. Rodrigo Rocha Barbosa do Centro Universitário de Volta Redonda - Fundação Oswaldo Aranha (UniFOA), Instituto Oswaldo Cruz. 1 Doutora em Biologia, Instituto Rio Grandense do Arroz IRGA, Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494, Cachoeirinha/RS, E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Agronomia, Instituto Rio Grandense do Arroz IRGA 3 Estudante de gradução em Agronomia, Ulbra e Instituto Rio Grandense do Arroz IRGA 4 Doutor em Biologia, Fundação Oswaldo Aranha (UniFOA), Instituto Oswaldo Cruz Fundação Oswaldo Cruz 5 Doutora em Agronomia - Instituto Rio Grandense do Arroz IRGA

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OCORRÊNCIA DE INIMIGOS NATURAIS DE SPODOPTERA FRUGIPERDA (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM LAVOURA DE

ARROZ IRRIGADO, ELDORADO DO SUL, RS. Neiva Knaak

1; Jaime Vargas de Oliveira

2; Tiago Viegas Cereza

3; Rodrigo Rocha Barbosa

4; Lidia Mariana

Fiuza5

Palavras-chave: Controle biológico, parasitoides, vírus, fungos.

INTRODUÇÃO

De acordo com estimativas da Conab (2017), a produção de arroz deve alcançar 11,96 milhões de toneladas na safra 2016/17. O Estado do Rio Grande do Sul teve uma área plantada de 1.106.253 ha, sendo a produtividade média do Estado de 7.968 quilos por hectare.

Como em qualquer agroecossistema, a ocorrência de fatores ambientais bióticos ou abióticos pode ser desfavorável à cultura, reduzindo sua produtividade e, consequentemente, a rentabilidade. Entre esses fatores destaca-se Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), mais conhecida por lagarta-da-folha, que está entre os principais insetos-praga da cultura do arroz no Brasil (MARTINS; AFONSO, 2007; SILVA, 2014).

O controle dessa espécie praga que ocorre na fase inicial da cultura do arroz tem sido baseado na aplicação de inseticidas químicos, que nem sempre têm a seletividade, desejável aos inimigos naturais.

A disponibilização de diferentes métodos de controle de pragas é fundamental para manter o equilíbrio nos ecossistemas e a sustentabilidade do manejo integrado de pragas nos agroecossistemas. Dessa forma, o controle biológico de fitófagos na agricultura pode ser realizado por inimigos naturais como: parasitoides, predadores e entomopatógenos. O desenvolvimento de um programa de manejo integrado de pragas requer o conhecimento prévio da fauna benéfica e seus microrganismos associados, nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a ocorrência de inimigos naturais de S. frugiperda lavouras orizícolas na região da Planície Costeira Interna do RS.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletadas lagartas de diferentes instares de Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), em lavouras de arroz irrigado, em Eldorado do Sul no ano agrícola 2016/2017. Os espécimes coletados foram mantidos no Laboratório de Microbiologia e Toxicologia da Estação de Arroz Irrigado – EEA/IRGA, e isolados em potes plásticos contendo dieta artificial de Poitout, em condições controladas (26ºC, 70% UR e 12h fotofase), até atingirem a fase adulta ou emergência dos parasitoides ou surgimento de sinais de infecção por agentes patogênicos, como: vírus, fungos e bactérias. Os parasitoides que emergiram dos ovos e/ou das lagartas foram conservados em álcool 70% e posteriormente identificados pelo taxonomista Dr. Rodrigo Rocha Barbosa do Centro Universitário de Volta Redonda - Fundação Oswaldo Aranha (UniFOA), Instituto Oswaldo Cruz.

1 Doutora em Biologia, Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA, Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494,

Cachoeirinha/RS, E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Agronomia, Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA

3 Estudante de gradução em Agronomia, Ulbra e Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA

4 Doutor em Biologia, Fundação Oswaldo Aranha (UniFOA), Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz

5 Doutora em Agronomia - Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise dos resultados foi observado que 26% do total de lagartas de Spodoptera frugiperda coletadas em lavouras de arroz irrigado em Eldorado do Sul, RS, foram parasitadas e/ou infectadas naturalmente por diversos agentes de controle biológico: dípteros, vírus, fungos entomopatogênicos e ectoparasitoides. Em relação aos dípteros foi observada a predominância da família Tachinidae, onde o maior número de indivíduos foram das espécies: Winthemia trinitatis e Lespesia archippivora (Fig. 1).

Figura 1. Dipteros identificados como parasitoides de lagartas de Spodoptera frugiperda. A=Lespesia

archippivora (Diptera: Tachinidae); B=Winthemia trinitatis (Diptera: Tachinidae).

De acordo com Valicente (1999) que fez levantamento de inimigos naturais que ocorrem em lagartas de S. frugiperda na cultura do milho em Minas Gerais, o autor relata a ocorrência de diversos dipteros da família Trachinidae, inclusive as espécies W. trinitatis e L. archippivora, também encontradas na cultura do arroz irrigado no RS. O referido autor também cita a presença do fungo entomopatogênico Nomuraea rileyi e dos vírus de granulose e poliedrose nuclear. No caso do presente trabalho foi isolado e identificado o fungo entompatogênico Nomuraea sp., importante agente de controle biológico natural de lagartas a campo, o qual em condições de elevadas temperaturas e umidade podem causar epizotias nas lavouras infestadas, no caso dessa pesquisa por S. frugiperda (Fig. 2).

Figura 2. Lagarta de Spodoptera frugiperda infectada naturalmente pelo fungo entomopatogênico Nomuraea sp.

Nas avaliações também foi identificado o ectoparasitoide Euplectrus sp. (Hymenoptera: Eulophidae) parasitando naturalmente lagartas de S. frugiperda (Fig. 3). Os parasitoides do gênero Euplectrus são distribuídos no mundo e conhecidos como ectoparasitoides gregários que frequentemente se desenvolvem em diferentes hospedeiros, incluindo espécies de lepidópteros (PUTTLER et al., 1980, JONES; SANDS, 1999; MURÚA et al., 2004).

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Figura 3. Ectoparasitoide Euplectrus sp. (Hymenoptera: Eulophidae) parasitando naturalmente lagartas de Spodoptera frugiperda: A= Postura de Euplectrus sp. nas lagartas parasitadas; B= Larvas de Euplectrus sp. nas lagartas parasitadas; C=Adulto de Euplectrus sp.

No contexto desse trabalho preliminar de inimigos naturais nas áreas orizícolas das diferentes regiões do Rio Grande do Sul pode-se observar a ocorrência de diferentes classes de agentes de controle biológico, cujos dados de monitoramento ambiental são restritos e deverão ser ampliados visando uma maior oferta de alternativas aplicadas no manejo integrado de pragas.

CONCLUSÃO

Esses dados demonstram a presença do controle natural de pragas em campo, os quais podem ser utilizados estrategicamente como parte essencial em programas de manejo integrado de pragas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e a FAPERGS pelo apoio financeiro no desenvolvimento dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONAB. Levantamentos de safra: 8º Levantamento grãos safra 2016/17. Disponível em: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/17_05_12_10_37_57_boletim_graos_maio_2017.pdf Acesso em: 19 maio 2017.

JONES, P.; SANDS D.P.A. Euplectrus melanocephalus Girault (Hymenoptera: Eulophidae), an ectoparasitoid of larvae fruit-piercing moths (Lepidoptera: Noctuidae: Catocalinae) from northern Queensland. Australian Journal of Entomology, v.38, p.377-381, 1999. KUENZER, C.; KNAUER, K. Remote sensing of rice crop areas. International Journal of Remote Sensing, New York, p. 2101–2139, 2013 MARTINS, J. F. Da S.; AFONSO, A. P.. Importância Econômica de Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) como Praga do Arroz no Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 31p. -- (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 213). MURÚA, M.G. et al. Natural distribution of parasitoids of larvae of the fall armyworm, Spodoptera

frugiperda, in Argentina. Journal of Insect Science, v.9, n.20, p. 1-17, 2009. Available from: <http://www.insectscience.org/9.20/i1536-2442-9-20.pdf>. Accessed: Abr. 30, 2017. PUTTLER, B. et al. Bionomics of Euplectrus puttleri Gordh, new species, an introduced parasite of the velvetbean caterpillar, Anticarsia gemmatalis from South America. Annals of the Entomological Society

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of America, v.73, n.1, p.28-35, 1980. SILVA, D. S. Estudo comparativo do efeito do inibidor de Adenanthera pavonina (ApTI) sobre o desenvolvimento da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) e da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): aspectos biológicos, bioquímicos e de proteoma. 2014. 123 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000936706>. Acesso em: 2 abr. 2017. VALICENTE, F. H.; BARRETO, M. R. Levantamento dos inimigos naturais da lagarta do cartucho do milho, Spodoptera frugiperda (JE Smith)(Lepidoptera: Noctuidae), na região de Cascavel, PR. Anais da

Sociedade Entomológica do Brasil, v. 28, n. 2, p. 333-337, 1999.

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INJÚRIAS DE Oebalus poecilus EM ARROZ IRRIGADO NA

FRONTEIRA OESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Nelson Cristiano Weber¹; Eloá Matos dos Santos²; Mateus Silveira Lorenset²; Ester Souza Galvão Sena²;

Fernando Felisberto da Silva³; Luiza Rodrigues Redaelli4

Palavras-chave: espiguetas; percevejo-das-panículas; Oryza sativa; Pentatomidae

INTRODUÇÃO

A região Sul é maior produtora de arroz no Brasil, responsável por 81,71% da produção do grão. O Rio Grande do Sul (RS), com produção de 7,520 milhões de toneladas, representa 70,5% do total produzido no País (CONAB, 2016). A Fronteira Oeste (FO) do RS é responsável por produzir cerca de 2,66 milhões de toneladas deste grão (IRGA, 2017).

Embora a lavoura de arroz alcance elevados índices de produtividade, através do emprego de novas tecnologias em insumos e manejos, a produção ainda é reduzida em função da cultura sofrer com oscilações entre os fatores abióticos e bióticos, nestes últimos inclui-se os insetos-pragas, que podem causar até 30% de perdas em produtividade (Martins et al., 2009).

Neste contexto, destacam-se os percevejos do gênero Oebalus, principalmente O. poecilus Dallas, 1851, conhecido popularmente como percevejo-das-panículas, importante inseto-praga da cultura, na fase reprodutiva. Os danos diretos causados por este percevejo são redução do peso dos grãos e aumento do número de espiguetas vazias, os indiretos, são grãos mais suscetíveis ao ataque de fungos, amarelecimento e menor rendimento durante o beneficiamento (Ferreira et al., 2001).

Oebalus poecilus está presente em quase todas as regiões produtoras do RS, associado especialmente ao cultivo de arroz irrigado por inundação, principal sistema de cultivo utilizado no Estado (REUNIÃO, 2014). Adicionalmente, com o uso de novas tecnologias, incluindo avanços genéticos das cultivares, pouco se sabe sobre o impacto destes percevejos sobre a cultura do arroz irrigado nos dias atuais.

Assim, objetivou-se com este trabalho, avaliar as injúrias de machos e fêmeas de O. poecilus, pré-reprodutivos e reprodutivos, em diferentes densidades em arroz irrigado cultivar IRGA 424 RI.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em lavoura comercial de arroz localizada no município de Itaqui (29° 07’ 31’’S e 56° 33’ 11’O), na região da Fronteira Oeste do RS. O clima da região é classificado como “Cfa”, subtropical, temperado quente, com chuvas distribuídas e estações bem definidas, segundo Köppen-Geiger (1939). O tipo de solo predominante é o Plintossolo argilúvico eutrófico, com declividade média de 3,5% e altitude média de 57 m (Gass et al., 2015).

A cultivar utilizada foi a IRGA 424 RI, lançada em 2014 pelo Instituto Riograndense do Arroz (IRGA, 2014). Utilizou-se uma densidade de semeadura de 60 kg/ha, sendo esta realizada em 29 de setembro de 2016, em sistema convencional e em desnível, utilizando 400 kg/ha da formulação 5-20-25 N-P-K. No estádio V3/V4 foram aplicados 72 kg/ha de N em cobertura. O controle de plantas daninhas foi realizado com aplicação de herbicidas benzotiadiazinona (1,6 L/ha) e isoxazolidinonas (1,2 L/ha), seguindo as recomendações _________________________________________________________________________ ¹Engº Agrº. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia/Sanidade Vegetal – Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712 - Porto Alegre/RS. [email protected]. ²Acadêmico do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/Unipampa, Campus Itaqui. ³Dr. Engº. Agrº. Professor, Universidade Federal do Pampa/Unipampa, Campus Itaqui. 4Dra. Engª.Agrª, Professora, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Porto Alegre.

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técnicas para a cultura do arroz irrigado (REUNIÃO, 2014). Para o controle de insetos-pragas foi utilizado inseticida piretroide (40 ml/ha) aplicado em 10/01/17.

Na fase de grão leitoso, quando a panícula apresentava pelo menos 50% dos grãos neste estágio (Counce et al., 2000), numa área distante 50 metros da borda da lavoura, foram fixadas gaiolas, confeccionadas com garrafas tipo PET (2L), em estacas de madeira colocadas próximas às plantas previamente sorteadas. Foram utilizados insetos, machos (M) e fêmeas (F) em fase pré-reprodutiva (P) e reprodutiva (R), provenientes de criação mantida no Laboratório de Entomologia da Universidade Federal do Pampa. Insetos de um mesmo sexo e fase foram introduzidos nas gaiolas nas densidades 0, 1, 2 e 4 indivíduos, nas quais permaneceram por sete dias. Cada tratamento contou com três repetições, sendo adotado o delineamento de blocos casualizados. Diariamente, as gaiolas foram vistoriadas para retirada dos ovos e reposição de insetos mortos.

Após uma semana de infestação, os insetos foram retirados e as gaiolas permaneceram fixadas junto às panículas até o momento da colheita, evitando infestação natural. Nesta ocasião, as gaiolas foram retiradas e as panículas acondicionadas individualmente em sacos de papel. Estas foram conduzidas ao Laboratório de Entomologia da Unipampa onde procedeu-se a contagem do número de espiguetas por panícula (NEP) e do número de espiguetas com presença de bainha de estilete (NECB) por panícula. A partir destes dados, calculou-se a percentagem de espiguetas atacadas por panícula.

Os dados foram submetidos ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk e à análise de variância (Anova), as médias entre “sexo” e “fase” foram comparadas pelo teste de Tukey e os dados de “densidade” submetidos à analise de regressão. Para todos os testes utilizou-se o nível de 5% de significância e foram processados pelo software estatístico Assistat (Silva et al., 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando a percentagem de espiguetas atacadas, não houve interação significativa entre o sexo e a fase (pré-reprodutiva e reprodutiva) dos insetos (p >0,05), sendo somente os fatores isolados significativos. Insetos reprodutivos atacam maior número de espiguetas do que os pré-reprodutivos, cerca de 14% de diferença entre os estágios (Tabela 1).

Tabela 1. Percentagem média de espiguetas com bainhas de estilete de O. poecilus em panículas de arroz irrigado (O. sativa) em Itaqui/RS, 2017.

Estágio* Pré-reprodutivos Reprodutivos

46,6 ± 3,85 b 62,9 ± 2,81 a Sexo

Machos Fêmeas 48,6 ± 4,14 b 60,9 ± 3,00 a

* Médias seguidas por letras diferentes diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Interação entre os fatores não significativa (p>0,05).

A injúria provocada pelos insetos reprodutivos pode ser atribuída à maior demanda energética dos insetos nesta fase, pois além do gasto para manutenção, os indivíduos precisam de recursos para cópula e oviposição, no caso das fêmeas, enquanto que, na fase pré-reprodutiva, a demanda de recursos é praticamente só para a manutenção e amadurecimento dos órgãos de reprodução.

Adicionalmente, constatou-se que as fêmeas de O. poecilus danificaram cerca de 12% a mais de espiguetas do que os machos (Tabela 1).

A partir do percentual de espiguetas picadas denota-se que fêmeas reprodutivas (FR) são as responsáveis pelo o maior número de espiguetas danificadas, chegando ao máximo de 69,7% quando a densidade foi de 4 insetos/gaiola (Figura 1).

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Figura 1. Percentagem de espiguetas picadas em função de diferentes densidades de O. poecilus em arroz irrigado (Oryza sativa) em Itaqui/RS, 2017. (MP- Machos pré-reprodutivos; FP – Fêmeas pré-reprodutivas; MR – Machos reprodutivos; FR – Fêmeas reprodutivas).

Para os demais tratamentos, machos reprodutivos (MR), machos pré-reprodutivos (MP) e fêmeas pré-reprodutivas (FP) verificou-se que o percentual de espiguetas injuriadas foi proporcional ao aumento da densidade de insetos, sendo que os valores máximos foram de 64,1, 53,7 e 64,3%, respectivamente para MR, MP e FP.

Não levando em conta o sexo e fase de desenvolvimento reprodutivo, na densidade de dois indivíduos por panícula foi registrado em média 56,6% de espiguetas atacadas. Este valor, entretanto, foi inferior ao verificado por Ferreira et al. (2002), 70,8%, os quais avaliaram a suscetibilidade de cultivares de arroz ao ataque de O. poecilus, infestando as panículas com dois adultos (sem identificação do sexo) desde a fase de grão leitoso até a colheita. Considerando o curto período de infestação adotado no presente trabalho, o percentual de espiguetas atacadas obtido foi elevado, quando comparado ao trabalho apresentado anteriormente. Sugerindo que ou a cultivar IRGA 424 RI é mais suscetível do que àquelas utilizadas por Ferreira et al. (2002) ou no período após a fase de grão leitoso não há maiores danos pelos percevejos.

Neste sentido, Ferreira & Barrigossi (2006) indicam que os danos de O. poecilus, dependem do estágio de desenvolvimento da panícula no qual ocorre a infestação sendo maiores quando esta ocorre na fase de grão leitoso. A partir da maturação dos grãos, estes percevejos diminuem a capacidade de alimentação devido ao enrijecimento do endosperma.

CONCLUSÃO

Com base nas condições do presente trabalho, fêmeas reprodutivas de Oebalus poecilus são responsáveis por causar as maiores injúrias às espiguetas de arroz, atingindo quase 70% da panícula.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Acompanhamento da safra brasileira de grãos. v.3, n.9, Jun. 2016. COUNCE, P. A.; KEISLING, T. C.; MITCHELL, A. L., A Uniform and adaptative system for expressing rice development. Crop Science, Madison, v.40, p. 436-443, 2000. FERREIRA, E.; BARRIGOSSI, J. A. F.; VIERA, N. R. A. Percevejos das panículas do arroz: fauna heteroptera associada ao arroz. Embrapa CNPAF (Circular técnica, n. 43), Goiânia- GO, 2001, 52 p. FERREIRA, E.; VIEIRA, N. R. A.; RANGEL, P. H. N. Avaliação dos danos de Oebalus spp. em genótipos de arroz irrigado. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v. 37, n. 6, p. 763-768, jun. 2002. FERREIRA, E.; BARRIGOSSI, J. A. F. Produção e qualidade do grão do arroz irrigado infestado por adultos de percevejo-das-panículas. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília. v.41, n.7, p. 1083-1091, 2006. GASS, S. L. B. et al. Estruturação do banco de dados e caracterização básica do município de Itaqui, RS, Brasil, para fins de seu Zoneamento Ecológico-Econômico. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO (SBSR), 17, João Pessoa-PB. Anais... João Pessoa-PB, 2015. p. 4073-4081. INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA). Evolução da colheita 2016/17. Disponível em: < http://www.irga.rs.gov.br/upload/20170511150840colheita _2016_17.pdf> Acesso em: 13 mai. 2017. INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA). Irga lança três cultivares de arroz na Expointer 2014. Disponível em: < http://www.irga.rs.gov.br/conteudo/4872/irga-lanca-tres-cultivares-de-arroz-na-expointer-2014> Acesso em: 23 mai. 2017.

KÖPPEN, W; GEIGER, R. Handbuch der Klimatologie, Berlin: G, Borntraeger, v.6, 1939. MARTINS, J. F. da S. et al. Situação do manejo integrado de insetos-praga na cultura do arroz no Brasil. Pelotas, Embrapa Clima Temperado. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 290), 2009. 40p. REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o sul do brasil. Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado, Bento Gonçalves, 2014. 192 p. SILVA, F. de A. S. e.; AZEVEDO, C. A. V. de. The Assistat Software Version 7.7 and its use in the analysis of experimental data. African Journal of Agricultural Research. v.11, n.39, p.3733-3740, 2016.

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FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Diatraea saccharalis EM ARROZ

IRRIGADO NA FRONTEIRA OESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Nelson Cristiano Weber¹; Eloá Matos dos Santos²; Fernando Mateus Werner²; Fernando Felisberto da

Silva³; Luiza Rodrigues Redaelli4

Palavras-chave: Dinâmica populacional; Broca-do-colmo; Oryza sativa; Crambidae

INTRODUÇÃO

A região Sul do Brasil é responsável por 81,71% da produção nacional de arroz. O Rio Grande do Sul (RS) é o maior produtor, com 7,520 milhões de toneladas, representa 70,5% do total produzido no País (CONAB, 2016). Neste cenário, cerca de 2,66 milhões de toneladas são oriundos da Fronteira Oeste (FO) do RS, produzidos basicamente em sistema de cultivo convencional e mínimo (IRGA, 2016).

A cultura do arroz irrigado, embora alcance elevados índices de produtividade, está sujeita a inúmeros fatores que comprometem sua produção, como oscilações de temperatura, precipitações pluviométricas elevadas, doenças, plantas daninhas e insetos-pragas (Reunião, 2014). Estes últimos são responsáveis por perdas de produtividade que podem variar de 15 a 30% (Martins et al., 2009).

Dentre os insetos-pragas da cultura, Diatraea saccharalis (Fabr., 1794) (Lepidoptera: Crambidae), comumente conhecida como broca-do-colmo, é referenciada na literatura como de ocorrência esporádica nos estados de Santa Catarina e RS, sendo normalmente encontrada nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil (Ferreira & Barrigossi, 2002; Reunião, 2014). Entretanto, Botta & Martins (2015) já indicaram a ocorrência deste herbívoro na região de Pelotas/RS.

A lagarta de D. saccharalis perfura as plantas próximo à base do colmo, onde penetra formando galerias, sendo possível observar uma massa composta de resíduos vegetais e fecais próximo ao orifício de entrada. A fase larval é completada dentro do colmo, sendo que a pupa permanece na base interna destes até a emergência dos adultos (Embrapa, 2017).

As plantas infestadas na fase vegetativa, apresentam sintomas conhecidos como coração morto, enquanto que na fase reprodutiva, pode acarretar na formação de panículas brancas (Ferreira & Barrigossi, 2002; Reunião, 2014).

Considerando o potencial de dano desta espécie, principalmente em uma importante região produtora de arroz como a FO, objetivou-se com o presente trabalho avaliar a infestação de D. saccharalis em lavouras de arroz irrigado ao longo do ciclo da cultura.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em três lavouras comerciais de arroz localizadas no município de Itaqui (29° 07’ 31’’S e 56° 33’ 11’O), na região da Fronteira Oeste do RS. O clima da região é classificado como “Cfa”, subtropical, temperado quente, com chuvas distribuídas e estações bem definidas, segundo Köppen-Geiger. O tipo de solo predominante é o Plintossolo argilúvico eutrófico, com declividade média de 3,5% e altitude média de 57 m (Gass et al., 2015).

Nas áreas 1 e 2 foi utilizada a cultivar IRGA 424 RI e na área 3 a cultivar IRGA 429. As _________________________________________________________________________ ¹Engº Agrº. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia/Sanidade Vegetal – Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712 - Porto Alegre/RS. [email protected]. ²Academico do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/Unipampa, Campus Itaqui. ³ Dr. Engº. Agrº. Professor, Universidade Federal do Pampa/Unipampa, Campus Itaqui. 4Dra. Engª.Agrª, Professora, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Porto Alegre.

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áreas foram semeadas (60 kg/ha) em 29 de setembro de 2016, em sistema convencional e em desnível, utilizando 400 kg/ha da formulação 5-20-25 N-P-K . No estádio V3/V4 foram aplicados 72 kg/ha de N em cobertura, O controle de plantas daninhas foi realizado com aplicação de herbicidas benzotiadiazinona (1,6 L/ha) e isoxazolidinonas (1,2 L/ha), seguindo as recomendações técnicas para a cultura do arroz irrigado (REUNIÃO, 2014). Para o controle de insetos-pragas foi utilizado um inseticida piretroide (40 ml/ha) aplicado em 10/01/17 e 16/02/17 nas áreas 1 e 2 e em 23/01/17 e 16/02/17 na área 3.

Em cada área foram marcados 16 pontos georreferenciados, distanciados entre si 50 m, a partir de 5 m da borda da lavoura, perfazendo um quadrante de quatro linhas com quatro pontos, que delimitavam uma área total de 2,25 ha em cada lavoura. As amostragens iniciaram-se em estágio V3 e foram realizadas semanalmente até o momento da colheita (R8) conforme escala proposta por Counce et al. (2000). Cada ponto foi alocado sobre as curvas de nível (taipas). A partir do ponto alocado em cada taipa, delineou-se quatro quadrantes longitudinalmente a esta, a fim de aleatorizar as amostragens e evitar sobreposição de pontos entre as ocasiões. No quadrante sorteado, todas as plantas foram inspecionadas em uma área de 1 m², delimitada por uma estrutura de madeira. As plantas foram vistoriadas de cima para baixo durante 5 minutos na fase vegetativa e por 10 minutos, na reprodutiva. Todos os colmos com sintomas de danos de D. saccharalis foram seccionados para verificação da presença ou ausência das lagartas.

O número de lagartas por metro quadrado e por área foi registrado por ocasião de amostragem. Os dados foram submetidos ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk e comparados por Kruskall-Wallis (áreas) e Mann-Whitney (estádios), utilizando o nível de 5% de significância e foram processados pelo software estatístico Assistat (Silva et al., 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O início da infestação se deu aos 57 dias após a semeadura (DAS) (V3-V4) para a área 1, aos 64 DAS (V4) para a área 2 e na área 3, somente a partir dos 97 DAS, quando a cultura já estava no período reprodutivo (Figura 1).

A presença de lagartas foi constatada primeiro na área 1, chegando a uma densidade máxima de 0,625 lagartas/m² aos 70 DAS, (V5) (alongamento do colmo), e reduzindo drasticamente aos 95 DAS (R0). A densidade de insetos foi semelhante entre as áreas 1 e 2 possivelmente, associado ao fato de nas duas a cultivar de arroz ser a mesma (IRGA 424 RI). A antecipação da infestação na área 1 pode ter sido em função de que na borda desta área ocorriam plantas hospedeiras da broca-do-colmo, da mesma família que o arroz, como capim-arroz e arroz vermelho. Beuzelin et al. (2011) avaliando a infestação de D. saccharalis em plantas infestantes em áreas adjacentes à lavoura de arroz no Texas (EUA), indicaram Sorghum halepense (L.) Pers.(capim-massambará) e Paspalum urvillei Steudel como principais hospedeiras, sendo que ambas espécies ocorrem no RS.

Ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura, houve dois picos populacionais de imaturos de D. saccharalis, o primeiro no estádio vegetativo, aos 70 DAS tanto na área 1 como na 2, não sendo constatada a presença da broca-do-colmo na área 3 (IRGA 429). O segundo pico foi registrado no reprodutivo (112 DAS). Nas áreas 1 e 2 neste período verificou-se que as populações da broca-do-colmo foram 30 e 57,1% menores do que no vegetativo, respectivamente (Figura 1).

No período reprodutivo, a área 3 foi a que apresentou maior densidade de imaturos, atingindo 1,25 insetos/m² aos 112 DAS (R3). Tal fato pode estar vinculado à infestação tardia desta área e à elevada infestação de plantas daninhas observada durante a realização das amostragens.

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Figura 1. Flutuação populacional de lagartas de Diatraea saccharalis ao longo do ciclo da cultura de arroz irrigado (Oryza sativa) em três áreas em Itaqui/RS, 2017.

Quando analisada a densidade média de lagartas ao longo de todo ciclo de desenvolvimento do arroz, não foi possível verificar diferenças estatísticas entre as três áreas (p > 0,05) (Tabela 1).

Tabela 1. Número médio de lagartas de Diatraea saccharalis por m² (±EP) nos estádios vegetativo (V) e reprodutivo (R) da cultura de arroz irrigado, em três lavouras, em Itaqui/RS, 2017.

Áreas

(média ± EP)* Estádios

V R V + R

1 0,14 ± 0,074 Aa 0,10 ± 0,070 Aa 0,12 ± 0,051 A

2 0,12 ± 0,095 Aa 0,10 ± 0,062 Aa 0,11 ± 0,060 A

3 0,00 ± 0,000 Ab 0,41 ± 0,204 Aa 0,16 ± 0,093 A

Média±EP 0,08±0,04 b 0,21±0,07 a - * Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas não diferem entre si nas colunas e pelas mesmas letras minúsculas não diferem nas linhas. Os estádios fenológicos foram comparados pelo teste de Mann-Whitney e as áreas foram comparadas pelo teste de Kruskall-Wallis (p<0,05).

A densidade média populacional de D. saccharalis diferiu (p < 0,05) entre os estádios fenológicos, quando as três áreas foram consideradas em conjunto, vegetativo (0,08 ± 0,04) e reprodutivo (0,21 ± 0,07), em média, no período reprodutivo registrou-se cerca de três vezes mais insetos/m² do que o vegetativo.

Ferreira & Barrigossi (2002) apontaram dois momentos críticos do ciclo da cultura no qual o arroz é mais suscetível ao ataque de D. saccharalis, no “alongamento dos colmos” e na “emissão das panículas”, o que é reforçado pelos dados encontrados no presente trabalho. Adicionalmente, Reay-Jones et al. (2007) indicaram que os maiores danos desta broca ocorrem na fase reprodutiva, tendo em vista que a capacidade da cultura em compensar o ataque nesta fase é menor, pois diminui a translocação de fotoassimilados e não ocorre mais a emissão de afilhos, como na fase vegetativa.

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CONCLUSÃO

Lagartas D. saccharalis infestam a cultura do arroz a partir do estádio vegetativo V3, alcançando um pico populacional em V5 e outro em R3, sendo a infestação maior na fase reprodutiva do que na vegetativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 Biólogo, Mestre em Agricultura e Ambiente - Universidade Federal de Alagoas. Povoado Cotovelo, Igreja Nova

AL. E-mail: [email protected].

SELETIVIDADE DE INSETICIDAS A POPULAÇÃO DE ARANHAS NA CULTURA DE ARROZ IRRIGADO

Paulo da Silva1

Palavras-chave: Araneae, fitossanitários, Oryza sativa L., toxicidade.

INTRODUÇÃO

As aranhas são relatadas como importantes inimigos naturais de insetos praga na

cultura do arroz (COSTA, 2007; MACHADO e GARCIA, 2010; RODRIGUES et al., 2005a, 2005b; SILVA et al., 2012). Consideradas predadores generalistas, elas consomem um grande número de presas, não danificam as plantas e quando estão em altos níveis populacionais são reprimidas pelo canibalismo e territorialidade (LEE e KIM, 2001).

Todavia o largo espectro de ação e alta toxicidade dos produtos fitossanitários têm reduzido a presença deste e de outros agentes de controle biológico nas lavouras (NAKANO 1986; SOARES et al., 1995). Pois isso é necessário que seja incentivado o uso de inseticidas seletivos, que atuem somente sobre as pragas alvo e tenham pouca ou nenhuma ação sobre os inimigos naturais (FALEIRO et al., 1995) Além da falta de seletividade, a persistência dos inseticidas no ambiente é um outro problema, pois compromete o estabelecimento nessas áreas dos inimigos naturais que apresentam ciclo de vida curto (GIOLO et al., 2008). Alguns estudos têm demonstrado que quando não matam, muitos inseticidas diminuem por vários dias a capacidade de ação desses agentes de controle biológico (VELLOSO et al., 1999; PRATISSOLI et al., 2004).

Considerando a importância das aranhas como agentes de controle de pragas e a busca por produtos mais seletivos o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de dois inseticidas sobre a população de aranhas na cultura de arroz irrigado.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no Perímetro Irrigado do Boacica localizado no município de

Igreja Nova - AL (10º 15’ 10’’ S; 36º 38’ 33’’O) no ano de 2017 em uma lavoura de arroz, cultivar SCS117 CL em estágio vegetativo, plantada mediante sistema convencional. O manejo da área ocorreu conforme as recomendações técnicas para a cultura do arroz irrigado (REUNIÃO, 2016), menos a aplicação de inseticidas.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com 5 tratamentos (4 inseticidas e controle) e 4 repetições. Cada parcela foi composta de 60 m2 (6m x 10 m). Os inseticidas avaliados foram: Carbosulfano 400 SC nas doses 500 e 1000 ml/ha-1 e Cipermetrina 200 EC nas doses 60 e 120 ml/ha-1.

Os inseticidas foram aplicados com pulverizador costal com pressão manual equipado com bico cônico com vazão de 150 ml/min-1 com volume de calda aplicada de 240 L/ha-1. As coletas foram realizadas pela manhã 2 dias antes da aplicação e aos 3, 7 e 15 dias após a aplicação dos inseticidas. As amostragens foram feitas com rede de varredura de 35 cm de diâmetro com cabo de um metro, efetuando 20 redadas em movimentos de avanços pendulares em cada parcela, desprezando 1,5 metros de borda. As amostras coletadas em cada parcela foram individualizadas em sacos plásticos contendo algodão embebido com álcool 70% para posterior triagem, identificação e quantificação dos espécimes coletados.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para calcular a porcentagem de redução dos inimigos naturais, utilizou-se a fórmula proposta por Henderson e Tilton (1955). A classificação dos inseticidas testados quanto à toxicidade foi realizada segundo a

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escala da International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants (IOBC) (BOLLER et al., 2005), em função da redução da população dos inimigos naturais: inócuo ou levemente tóxico (N): 0 a 50%; moderadamente tóxico (M): 51 a 75%; e tóxico (T): acima de 75%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aos 3 dias após a aplicação o número de aranhas coletadas em todos os tratamentos

diferiu significativamente em relação ao tratamento controle (Tabela 1). Não se observou diferença significativa entre os tratamentos com inseticidas.

Na avaliação aos 7 dias após a aplicação o número de aranhas coletadas nas parcelas dos diferentes tratamentos não diferiu estatisticamente entre si, nem houve diferença significativa em comparação com o tratamento controle. No dia anterior a esta coleta houve precipitação pluviométrica o que pode ter levado a redução no número de aranhas coletadas especialmente no tratamento controle.

Na avaliação aos 15 dias após a aplicação o número de aranhas coletadas nas parcelas dos diferentes tratamentos não diferiu estatisticamente entre si, nem houve diferença significativa em comparação com o tratamento controle. Dois dias antes desta coleta houve precipitação pluviométrica bem mais intensa que a registrada na coleta anterior o que pode ter levado a redução no número de aranhas coletados, especialmente no tratamento controle.

Tabela 1: Número1 e porcentagem de redução2 de aranhas, após a aplicação de diferentes inseticidas na cultura de arroz irrigado (Igreja Nova-AL, 2017).

Tratamentos Dose

mL. ha-

1

Contagem

prévia (Nº)

Dias após a aplicação

3 7 15

Nº %R Nº %R Nº %R

Cipermetrina 60 10 a 0,5 b 93,94 0,5 b 93,03 2,75 b 59,19

Cipermetrina 120 9,25 a 0,25 b 96,73 0,25 b 96,23 2,75 b 55,88

Carbosulfano 500 9,5 a 0,5 b 93,63 0,75 b 89 3,75 b 41,43

Carbosulfano 1000 11,25 a 0,5 b 94,62 0,25 b 96,9 2,5 b 67,03

Controle 11,5 a 9,5 a 8,25 a 7,75 a

F 0,33 136* 81,66* 12,82*

C.V. (%) 34,29 30,9 38,73 31,58

1 Nº: Número médio de aranhas coletadas. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. *Significativo pelo teste F a 5% de probabilidade. 2 %R: porcentagem calculada pela fórmula de Henderson e Tilton (1955).

Com relação à toxicidade o inseticida Cipermetrina nas dosagens avaliadas foi classificado como tóxico (T) mantendo essa classificação até os 7 dias após a aplicação. Na avaliação aos 15 dias percebe-se a que a classificação mudou para moderadamente tóxico (M). Apesar da classificação de toxicidade ter diminuído aos 15 dias não se observou recuperação significativa na população de aranhas nos respectivos tratamentos (Tabela 1).

O inseticida Carbosulfano também foi classificado como tóxico (T) nas doses utilizadas persistindo nessa classificação até os 7 dias após a aplicação. Na avaliação aos 15 dias observa-se que a classificação ficou em levemente tóxico (N) quando se utilizou a dosagem 500 ml/ha-1 contudo, não se observa diferença significativa no número de aranha deste tratamento quando comparado ao dos demais. Nogueira et al. (2007) também concluíram

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que Carbosulfano não foi seletivo a aranhas e apresentou porcentagens de mortalidades que oscilaram entre as classes moderadamente tóxico e tóxico. Em trabalho feito por Ribeiro et al. (2007) o respectivo inseticida foi considera tóxico para aranhas.

CONCLUSÃO

Os inseticidas Cipermetrina nas doses de 60 e 120ml/ha-1 e Carbosulfano nas doses de 500 e 1000ml/ha-1 foram considerados tóxico (T) à população aranhas na cultura de arroz irrigado.

AGRADECIMENTOS

Ao produtor de arroz Wesley Lino por ceder a área para o experimento e a José Alexandre Freitas Barrigossi CNPAF pela parceria.

.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOLLER, E.F. et al. Working document on selectivity of pesticides. International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants. Disponível em: <http://www.iobc.ch/2005/ Working%Document%20Pesticides_Explanations .pdf. Acesso em: 02 março de 2017. COSTA, E. L. N. Ocorrência de artrópodes e seletividade de inseticidas na cultura de arroz irrigado. 2007, 60f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. FALEIRO, F. G.; PICANÇO, M. C. PAULA, S. V. Seletividade de inseticidas a Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) e ao predador Doru luteipes (Scudder) (Dermaptera: Forficulidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 24: 247-252. 1995. GIOLO, F.P. et al. Persistência de agrotóxicos indicados na produção integrada de pêssego a Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Revista Brasileira de Fruticultura, v.30, n.1, p.122-126, 2008. HENDERSON, C.F.; TILTON, E.W. Tests with acaricides against the brown wheat mite. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.1, n.48, p.157-161, 1955. LEE, J. H.; KIM, S. T. 2001. Use of spiders as natural enemies to control rice pest in Korea. Disponível em: <www.agnet.org/library/article/eb501.html#eb501f1>. Acesso em: 02 março de 2017. LINK, D. et al. Aranhas associadas à cultura do arroz irrigado. In: IV CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 4.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 26., 2005, Santa Maria. Anais... Santa Maria: Orium, 2005. v.2, p. 29-30. MACHADO, R. de C. de M.; GARCIA, F. R. M. Levantamento de pragas e inimigos naturais ocorrentes em lavoura de arroz irrigado no município de Cachoeirinha, Rio Grande do Sul. Revista de Ciências Ambientais. Canoas. v.4, n.2. p.60-65, 2010. NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; ZUCCHI, R. A. Entomologia econômica. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", São Paulo. 1981, 314 p. NOGUEIRA, R. F. et al. Seletividade de inseticidas aos inimigos naturais das pragas do algodoeiro. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO 6., 2007. Uberlândia. Resumos ... Uberlândia, Minas Gerais, 2007.

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1 Biólogo, Mestre em Agricultura e Ambiente - Universidade Federal de Alagoas. Povoado Cotovelo, Igreja Nova AL.

E-mail: [email protected].

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Oebalus poecilus (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE) E INIMIGOS NATURAIS EM ARROZ IRRIGADO NO ESTADO DE ALAGOAS

Paulo da Silva1

Palavras-chave: Oryza sativa L., parasitoides, percevejo-do-grão, predadores.

INTRODUÇÃO

O Oebalus poecilus Dallas 1851 (Hemiptera: Pentatomidae) é um dos insetos fitófagos

que atacam a cultura de arroz irrigado. Conhecido também como percevejo-do-grão ele migra para o arroz no início do florescimento até a fase de grão leitoso. O seu ataque após a fertilização das flores gera espiguetas totalmente vazias, na fase do grão leitoso provoca diminuição parcial ou total do conteúdo destas e na fase do grão pastoso, origina grãos gessados que se quebram facilmente durante o beneficiamento (BARRIGOSSI, 2008). Segundo Barrigossi (2008), o controle deve ser efetuado quando forem coletados, em média, cinco percevejos em dez redadas, nas duas primeiras semanas após a floração e 10 percevejos nas duas semanas seguintes. Os inseticidas registrados para o controle do O. poecilus apresentam classe toxicológica igual, porém classe ambiental e intervalos de segurança distintos (AGROFIT, 2017). O problema da resistentes de pragas, a preocupação com a saúde do agricultor e com a contaminação ambiental gerada pelo uso de fitossanitários têm levado a busca de novos métodos de controle, como a utilização de inimigos naturais (COSTA, 2007; MÜLLER, 2009).

Dentre os inimigos naturais encontrados na lavoura de arroz irrigado destacando-se as aranhas, seguidos dos odonatos, himenópteros e coleópteros (LINK et al., 2005; RODRIGUES et al., 2005; SILVA et al., 2012). Segundo Ferreira (1998) como inimigos naturais de O. poecilus há registro de Apiomerus flavipennis Herr. Schaff (Hemiptera: Reduvidae) como predador de ninfas e de adultos; Beskia cornuta Brauer e Bergenstan, 1890 (Diptera: Tachinidae) como parasitoide de ninfas e adultos e de acordo com Ferreira e Barrigossi (2001) como parasitoides de ovos, Microphanurus mormidae Lima, 1935 e Telenomus mormidae Lima, 1935 (Hymenoptera: Platygastridae).

O registro de insetos fitófagos e dos inimigos naturais ao longo do ciclo da cultura é essencial para o estabelecimento de programas sustentáveis de manejo e controle. Diante disso o objetivo desse trabalho foi avaliar a flutuação populacional de O. poecilus e de inimigos naturais na cultura de arroz irrigado no Estado de Alagoas.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no Perímetro Irrigado do Boacica localizado no município de Igreja

Nova - AL (10º 15’ 10’’ S; 36º 38’ 33’’O) no ano de 2017 em uma lavoura de arroz plantada com a cultivar SCS117 CL mediante sistema de plantio convencional. O manejo da cultura ocorreu conforme as recomendações técnicas para a cultura do arroz irrigado (REUNIÃO, 2016), porém não houve aplicação de fungicidas e inseticidas.

As coletas foram realizadas a partir do estágio reprodutivo até a fase de maturação em uma área de 1200 m2 a cada sete dias sempre em torno das 8 horas da manhã. Para isso utilizou-se uma rede entomológica de 35 cm de diâmetro com cabo de um metro para varrer a parte aérea da vegetação com dez redadas em movimentos de avanços pendulares em 20 pontos aleatórios. Os artrópodes coletados foram colocados em sacos plásticos e posteriormente foi realizada triagem e identificação. Os dados foram submetidos à análise de frequência e os resultados comparados com os dados de precipitação pluviométrica.

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1

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados 120 Oebalus poecilus (Hemiptera: Pentatomidae) ao longo das

avaliações com pico populacional na 4ª coleta (Tabela 1). A quantidade capturada a cada 10 redadas demonstrou que a população se manteve abaixo do nível de dano econômico durante as avaliações, o que pode estar relacionado a ação de inimigos naturais. Tabela 1: Relação das ordens e famílias dos artrópodes coletados bem como seus hábitos.

Ordem Família Hábito Coletas

1a 2ª 3ª 4ª 5ª

Hemiptera Pentatomidae

Fitófago 8 21 32 40 19

Araneae Tetragnathidae

Inimigo natural 92 48 19 5 7

Anyphaenidae

Inimigo natural 8 6 4 6 10

Araneidae

Inimigo natural 5 3 2 3 4

Outras famílias

Inimigo natural 3 2 2 1 3

Odonata Coenagrionidae

Inimigo natural 20 17 12 10 2

Diptera Syrphidae

Inimigo natural 11 17 9 8 11

Tachinidae

Inimigo natural 0 0 1 2 0

Coleoptera Coccinellidae

Inimigo natural 2 1 0 2 0

Hymenoptera Ichneumonidae

Inimigo natural 0 6 7 2 0

Dentre os inimigos naturais a ordem Araneae foi a que teve mais representantes com

62,4% dos espécimes coletados. Destes 45,84% pertencem a família Tetragnathidae que apresentou pico no início da fase reprodutiva, diminuindo significativamente nas coletas seguintes. As aranhas das famílias Tetragnathidae, Araneidae e Anyphaenidae também foram as mais predominantes nos trabalhos de Link et al. (2005), Rodrigues et al. (2005) e Costa (2007). As aranhas são predadores inespecíficos e estão presentes constantemente em grande abundância nas áreas de arroz (DIDONET et al., 1999; LINK et al., 2005).

A ordem Odonata foi a segunda mais representativa com 16,34%, sendo todos os insetos da família Coenagrionidae, apresentaram diminuição na última coleta. A respectiva família também foi encontrada nos trabalhos de Fritz (2009) e Feitosa (2014). Krishnasamay et al. (1983) encontrou várias espécies de Coenagrionidae predando cigarrinhas e lepidópteros.

A terceira ordem mais representativa foi a Diptera com 15,8%, sendo que 94,9% destes pertencem a família Syrphidae que se mantiveram praticamente constantes ao longo das coletas. De acordo com Silva et al. (2013), apenas as larvas dos insetos desta família são predadoras e se alimentam de pulgões e cochonilhas.

Os demais inimigos naturais foram menos representativos, porém apresentam importante atividade no controle de pragas. Os insetos da família Tachinidae são parasitas de larvas, lagartas, besouros, percevejos e outros insetos. Os da família Coccinellidae alimentam-se de pulgões, cochonilhas, ácaros, moscas brancas, larvas e também de ovos de diferentes insetos. Os da família Ichneumonidae parasitam ovos, larvas, ninfas, pupas ou adultos de diversos insetos praga, como besouros, mariposas, pulgões, percevejos (SILVA et al., 2013).

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1

A flutuação populacional dos inimigos naturais e do inseto fitófago O. poecilus na lavoura também foi alterada pelas precipitações que ocorreram ao longo das avaliações (Figura 01). Figura 01: Flutuação populacional das famílias dos artrópodes mais representativos e precipitação pluviométrica (Igreja Nova - AL, 2017).

O aumento da população de O. poecilus observado na terceira e quarta coleta, apesar

das precipitações pluviométricas, está relacionado ao estágio da cultura: fase do grão leitoso e do grão pastoso respectivamente, épocas de maior incidência deste inseto. A diminuição significativa na coleta seguinte pode estar relacionada principalmente a ocorrência de grande precipitação pluviométrica (31,1mm), pois estes insetos permanecem até a maturação podendo até ser encontrados misturados aos grãos colhidos (ANTUNES et al., 2005).

Com relação aos inimigos naturais observa-se uma diminuição da população das aranhas da família Tetragnathidae entre a primeira e a segunda coleta, mesmo sem precipitação, o que pode estar relacionado a um pico populacional dessa família a esse estágio da cultura. Contudo, com o início das precipitações, essa diminuição tornou-se cada vez mais significativa. Os insetos da família Coenagrionidae tiveram sua população reduzida da quarta para a quinta coleta devido ao aumento da precipitação. Já as aranhas da família Anyphaenidae mantiveram-se praticamente constante ao longo das avaliações apesar das precipitações. Comportamento semelhante ao dos insetos da família Syrphidae.

A precipitação pluviométrica exerce maior efeito sobre artrópodes que estão em estágios imaturos e que apresentam menor tamanho, além das características do artrópode, o efeito desse fator está relacionado a sua duração, ao tamanho da gota e ao volume (SILVEIRA NETO et al., 1976). A precipitação promove a queda das posturas e aumenta o índice de mortalidade por arrastar das plantas para a lâmina d’agua os artrópodes (COSTA 2007).

CONCLUSÃO

A população de Oebalus poecilus (Hemiptera: Pentatomidae) se manteve abaixo do nível

de dano econômico, contudo é necessário a realização de seu monitoramento nas lavouras. Os inimigos naturais mais abundantes foram os das famílias Tetragnathidae (Araneae),

Coenagrionidae (Odonata), Syrphidae (Diptera) e Anyphaenidae (Araneae). Não houve registro dos inimigos naturais de O. poecilus citados pela literatura. A precipitação pluviométrica influenciou na flutuação da população de artrópodes.

19,1

7,6

31,1

0

5

10

15

20

25

30

35

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

Pre

cip

itação (

mm

)

Núm

ero

de a

rtró

podes

Coletas

Oelabus poecilus Tetragnathidae Coenagrionidae

Syrphidae Anyphaenidae Precipitação (mm)

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1

AGRADECIMENTOS

Ao produtor de arroz Wesley Lino por ceder a área para o experimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . AGROFIT: Sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 10 abr. 2017. ANTUNES, V. M. et al. Pentatomídeos ocorrentes na colheita do arroz. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 4.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 26., 2005. Santa Maria. Anais... Santa Maria: Orium, 2005. v.2, p. 115-116. BARRIGOSSI, J. A. F. Manejo do Percevejo da Panícula em Arroz Irrigado. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2008. 8 p. (Circular Técnica, 79). COSTA, E. L. N. Ocorrência de artrópodes e seletividade de inseticidas na cultura de arroz irrigado. 2007, 60f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. FEITOSA, J. A. Artropofauna da cultura do arroz de várzea em Alagoas, Brasil. 2014, 48f. Dissertação (Mestrado em Proteção de Plantas) - Universidade Federal de Alagoas, Rio Largo. DIDONET, J. et al. Artrópodes benéficos em arroz irrigado: I- predadores. Gurupi: Fundação UNITINS, 1999. 4p. (Comunicado Técnico, 08). FERREIRA, E. Manual de identificação de pragas do arroz. Santo Antônio de Goiás: EMBRAPA-CNPAF, 1998, 22p. (Documentos 90). FERREIRA, E.; BARRIGOSSI, J. A. F. 2001. Cultivo do Arroz Irrigado no Estado do Tocantins. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/. /Arroz/Arroz IrrigadoTocantins/index.htm>. Acesso em: 10 abr. 2017. FRITZ, L. L. Biodiversidade de artrópodes em agroecossistemas orizícolas do Rio Grande do Sul, Brasil. 2009. 53-61 f. Dissertação (Mestre em Biologia) – Universidade do Vale do Rio Sinos, São Leopoldo, 2009. KRISHNASAMAY, N.; CHAUTIAN, O. P.; CHAUTIAN, R. K. 1983. As some common predators of rice insects pest in Assam, India. International Rice Research Notes, 9: 15-16. LINK, D. et al. Aranhas associadas à cultura do arroz irrigado. In: IV CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 4.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 26., 2005, Santa Maria. Anais... Santa Maria: Orium, 2005. v.2, p. 29-30. MÜLLER, J. E. Agroecologia: a semente da sustentabilidade. Florianópolis: Epagri, 2009. 211 p. REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 31., 2016, Bento Gonçalves. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. Pelotas: SOSBAI, 2016. 200p. RODRIGUES, E. N. L. et al. Aranhas e suas formas de predação na cultura do arroz irrigado (Oryza sativa L.) na Depressão Central, RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 4.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 26., 2005, Santa Maria. Anais... Santa Maria: Orium, 2005. v. 2, p. 31-33. SILVA, A. de C. et al. Guia para o reconhecimento de inimigos naturais de pragas agrícolas. Brasília, DF: Embrapa, 2013. 20 p. SILVA, P.; BARRIGOSSI, J. A.; BARROS. R. P. Ocorrência de pragas e inimigos naturais em arroz irrigado em Igreja Nova, Alagoas. In: VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO Santa Maria. Anais... Santa Maria v.1, p. 641-644. SILVEIRA NETO, S.; et al. Manual de ecologia de insetos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1976, 419 p.

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INFLUÊNCIA DE FATORES CLIMÁTICOS NA ABUNDÂNCIA DE Oebalus poecilus EM CULTIVOS DE ARROZ IRRIGADO

Flávio André Vendramini Bertoti1; Patrícia Menegaz de Farias2; Leonardo Rafael Teixeira3

Palavras-chave: Cultivar Epagri 118, Condições Abióticas, Pentatomidae, Orizicultura.

INTRODUÇÃO

O arroz é uma gramínea anual adaptada às mais diversas condições ambientais (SANTOS & RABELO, 2004). O ciclo de desenvolvimento do arroz (Oryza sativa L.) pode ser dividido em três fases: plântula, que vai da semeadura até a emergência; vegetativa, que vai da emergência até o aparecimento do colar da última folha (folha bandeira) no colmo principal; e reprodutiva, que vai da diferenciação da panícula até a maturação fisiológica (COUNCE et al., 2000). Fatores bióticos e abióticos podem interferir na produção e na qualidade dos grãos (RIFFEL, 2007). Assim, temperaturas entre 20 e 35 °C são consideradas mais adequadas para o crescimento, desenvolvimento e a produtividade da cultura (ALONÇO et al., 2005). Contudo, alguns fatores influenciam negativamente ocasionando grandes perdas na produtividade do grão, como a ação dos insetos-praga. Um grupo taxonômico que ganha destaque é o dos pentatomídeos, pelo hábito fitossuccívoro que possuem podem causar danos tanto na fase vegetativa como na reprodutiva do arroz, principalmente quando atingem altas infestações (FERREIRA, 2006; MARTINS et al., 2009; PANIZZI et al., 2000). Na região Sul do Brasil, as espécies: Oebalus poecilus (Dallas, 1851), Oebalus ypsilongriseus (de Geer, 1773) e Tibraca limbativentris (Stal, 1860) são consideradas pragas primárias (FERREIRA et al., 2001; MARTINS et al., 2009; SOSBAI, 2015).

Dentre estas espécies, O. poecilus e O. ypsilongriseus estão distribuídos em todas as regiões produtoras de arroz (BARRIGOSSI, 2008; EMBRAPA, 2008). Entretanto, O. poecilus é considerado o percevejo mais abundante em arroz irrigado e a praga mais agressiva em termos de danos quali-quantitativos na fase reprodutiva da cultura (BARRIGOSSI, 2008). Indivíduos desta espécie ocorrem principalmente nas panículas, causando diminuição no rendimento total do arroz beneficiado e aumento no número de grãos inteiros manchados (FERREIRA, 1998; SILVA et al., 2002). Uma vez que o ataque desta espécie praga em cultivos orizícolas logo após a fertilização das flores resulta na formação de espiguetas totalmente vazias; e quando ocorre alimentação na fase leitosa do grão, pode provocar remoção parcial e/ou total do conteúdo da espigueta (BARRIGOSSI, 2008). A distribuição espacial de O.poecilus em campos comerciais é um aspecto importante no estabelecimento de um programa de amostragem para uso no manejo integrado de pragas, a qual se dá através do monitoramento da praga (HUGHES & MCKINLAY, 1988), bem como o conhecimento dos fatores abióticos que interferem na população deste inseto praga.

Fatores abióticos podem causar grandes flutuações na abundância dos insetos (TOWNSEND et al., 2009), entre os quais os meteorológicos (chuva, umidade relativa,

1 Acadêmico do Curso de Agronomia, Universidade do Sul de Santa Catarina, Centro de Desenvolvimento Tecnológico Amael Beethoven Villar Ferrin, Departamento de Ciências Agrárias, Laboratório De Entomologia, Av. José Acácio Moreira, 787, Bairro Dehon, Caixa Postal 370, Cep 88704-900, Tubarão/SC, Brasil. [email protected]. 2 Enga. Agrônoma, Dra. Patricia Menegaz de Farias, Universidade do Sul de Santa Catarina, Centro de Desenvolvimento Tecnológico Amael Beethoven Villar Ferrin, Departamento de Ciências Agrárias, Laboratório De Entomologia, Av. José Acácio Moreira, 787, Bairro Dehon, Caixa Postal 370, Cep 88704-900, Tubarão/SC, Brasil. [email protected] 3 Eng. Agrônomo, Rice Crop Teixeira's Agrícola, Ed. Miró - Rua 228, 355 - 01 - Meia Praia, Itapema/SC, Brasil. [email protected]

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temperatura, vento) que afetam o desenvolvimento, a reprodução e a dispersão das espécies (SPEIGHT et al., 1999). Partindo desta premissa, nosso estudo teve como objetivo avaliar a influência de fatores climáticos (precipitação, temperatura e umidade relativa) na abundância de O. poecillus m campos de arroz irrigado no município de Içara, Santa Catarina, Sul do Brasil no decorrer da safra 2015/16.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em áreas de cultivo de arroz no município de Içara, Sul de Santa Catarina, Brasil (28º42’S; 49º18’O) na safra 2015/16. No período de novembro/2015 a fevereiro/2016 foram realizadas amostragens semanais, no período da manhã entre às 08h00min e 12h00min, a partir do estádio vegetativo V5 da planta de arroz até o reprodutivo R9, de acordo com a classificação de Counce et al. (2000). Duas áreas de arroz eram amostradas, caracterizando duas repetições.

A área amostral era constituída por 5.000 m² (cultivar Epagri 118, sistema convencional), subdividida em oito pontos nas bordas e cinco no centro de cada área, sendo que cada ponto caracterizava uma unidade amostral. Todos os pontos previamente aleatorizados, respeitando-se uma distância mínima de três metros entre pontos. O tempo de observação em cada ponto amostral foi estabelecido de acordo com o estádio fenológico da cultura, conforme Counce et al., (2000), sendo de cinco e 10 min. nos estádios de V5 até V13 e R0 até R9, respectivamente. Em cada ponto amostral (1 m²) foram coletados todos os pentatomídeos vivos (adultos) e acondicionados em sacos plásticos e levados ao laboratório para triagem e identificação e sexagem. Os indivíduos foram identificados através de chaves dicotômicas e por comparação dos insetos presentes na coleção de referência pertencente ao Laboratório de Entomologia (LECAU) do Centro de Desenvolvimento Tecnológico Amael Beethoven Villar Ferrin (CENTEC) da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

Dados climáticos (precipitação, temperatura e umidade relativa) foram obtidos pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) para correlacionar com os dados de abundância dos percevejos encontrados no período de amostragem. A abundância percevejos foi comparada entre as ocasiões de amostragem, por ANOVA, seguido de Kruskal-Wallis. Foram feitas análises de correlação de Sperman entre o número de indivíduos e os dados climáticos. Todas as análises um nível de significância de 0,05 com auxilio do software Bioestat 5.0 (AYRES et al., 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No decorrer do período de amostragens, registramos um total de 92 indivíduos de O. poecillus, apresentando uma razão sexual de 0.95, sendo fêmeas. Observou-se que em ambas as áreas o número médio de indivíduos do percevejo-do-grão foi baixo nos estádios fenológico vegetativo. Enquanto, que no período reprodutivo da cultura apresentou um acréscimo de quase duas vezes no número médio de percevejos (Figura 1). O mesmo foi observado para a área 2 (Figura 1). Estas espécies têm sido referidas para a cultura do arroz como pragas na fase de enchimento do grão (Ferreira, 1998; Ferreira et al., 2002; Ferreira & Barrigossi, 2004). Nossos resultados mostram que as densidades populacionais foram aumentando de acordo com o avanço dos estádios fenológicos da cultura, correspondendo com o período reprodutivo no qual esta espécie praga é mais abundante (BARRIGOSSI et al., 2008). Na área 1, podemos observar que o número de indivíduos se eleva quando comparado ao início das coletas o que corresponde à saída da panícula (R3), mantendo este densidade populacional estável até o estádio de grão leitoso ou enchimento de grão (R6). Ressaltando a última coleta, em estádio (R9), o que pode ser considera pela migração de outras áreas onde já haviam realizado o processo de colheita. A área 2 segue a mesma regra da área posterior, mas com uma densidade populacional pouco menor, estabilizando-se até o final do ciclo da cultura.

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Figura 1: Número médio de indivíduos do percevejo-do-colmo em áreas orizícolas no município de Içara (SC).

A população de O. poecilus variou no tempo e no espaço, sugerindo que pode

ser sob a influência de diferentes fatores, tanto numa esfera ecológica, biótica e/ou abiótica. Dentre estes, os fatores abióticos são os que mais interferem para sua abundância, podendo induzir a movimentos de migração regulados por variações dos elementos climáticos em diferentes épocas do ano. Neste estudo foi registrada alta correlação para a precipitação média e o número de indivíduos coletados na área 1, (r² = 0,6699; P = 0,0241); enquanto que para, insolação e umidade relativa do ar, observou-se média correlação entre estes fatores e o número de indivíduos em cada ocasião de amostragem (r² = 0,3441; P = 0,003, insolação; r² = 0,2397; P = 0,005, umidade relativa). Fatores como a temperatura média e a velocidade do vento não apresentaram relação (r² = -0,9992; P = 0,9785, temperatura média; r² = -0,0444; P = 0,8969, velocidade ventos). Já na área 2, o padrão foi similar à área 1 para os fatores como precipitação média (r² = 0,4931; P = 0,005) e para insolação média (r² = 0,372; P = 0,001). Não foi registrada correlação entre temperatura média (r² = -0,2373; P = 0,023), umidade relativa (r² = 0,335; P = 0,089) e velocidade dos ventos (r² = 0,005; P = 0,5545).

A densidade média de O. poecillus na área 1 foi maior nas bordas da lavoura (n = 0.42 ± 0.05) do que no centro (n = 0.22 ± 0.01), porém não apresentou diferença significativa (H = 5.78, p = 0.7622). Contudo, observamos que na área 2 o número médio de indivíduos do percevejo-do-grão foi similar tanto nas bordas (n = 0.28 ± 0.02) quanto no centro (n = 0.38 ± 0.09) dos cultivos, fato este que possivelmente pode estar relacionado a esta área não apresentar vegetação espontânea próxima.

CONCLUSÃO

O monitoramento de percevejo-do-grão em campos orizícolas é fundamental para o manejo. Nossos resultados mostram que nas condições que o estudo foi desenvolvido observamos maior densidade do inseto-praga na fase de emissão da panícula (R3) até a colheita (R9). Os fatores abióticos são de suma importância para a densidade de O. poecilus, sendo que em condições adversas sua abundância é relativamente menor.

AGRADECIMENTOS

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Ao Programa Unisul de Iniciação Científica (PUIC) pela concessão da bolsa ao primeiro autor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTERAÇÃO DE CAMPOLETIS FLAVICINCTA COM OS INSETICIDAS

MICROBIANOS E QUÍMICOS APLICADOS NO CONTROLE DE SPODOPTERA FRUGIPERDA (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE).

Lidia Mariana Fiuza

1; Diouneia Lisiane Berlitz

2; Jaime Vargas de Oliveira

3, Neiva Knaak

4

Palavras-chave: lagarta-da-folha, parasitoides, inseticidas,

INTRODUÇÃO

No controle de lagartas na cultura do arroz irrigado, de acordo com as “Recomendações Técnicas da Pesquisa para o Sul do Brasil” são indicados produtos fitossanitários compostos por diferentes ingredientes ativos, cujo método de aplicação é a pulverização foliar. No caso da lagarta-da-folha, Spodoptera frugiperda, que se caracteriza por ser uma praga polífaga, atacando diversas espécies de gramíneas e no caso específico do arroz, as lagartas podem cortar as plântulas junto ao solo, e também se alimentarem das folhas ao longo da fase vegetativa da cultura, com um ciclo de vida de aproximadamente 30 dias, assim podendo causar elevados danos econômicos na cultura (OLIVEIRA et al., 2016).

Os trabalhos de pesquisa têm evoluído na busca, tanto de novas moléculas para o controle de pragas, quanto nas interações dos diferentes métodos de controle, os quais apresentam compatibilidade para avançar no desenvolvimento do Manejo integrado de pragas. Nesse sentido, os biopesticidas a base de Bacillus thuringiensis, que são constituídos de diferentes proteínas específicas aos insetos-alvo, especialmente aos lepidópteros (CRICKMORE, 2005), assim como os inimigos naturais, com ênfase na especificidade dos parasitoides têm uma relevância estratégica.

No controle biológico da lagarta-da-folha, o microhimenóptero da família Ichneumonidae, Campoletis flavicincta infesta as lagartas nos instares iniciais realizando a postura no interior da larva, onde completa seu ciclo alimentando-se do conteúdo interno do hospedeiro, passando posteriormente à fase de pupa que ao final do ciclo, em substituição ao adulto de S. frugiperda, obtém-se um adulto do parasitoide (CRUZ, 1995). No caso do entomopatógeno, B. thuringiensis diversas subespécies têm potencial inseticida, porém os dados bibliográficos revelam que o B. thuringiensis aizawai apresenta maior toxicidade às lagartas dessa espécie.

Nessa pesquisa foi desenvolvida uma análise sobre a interação de três agentes de controle de lagartas de S. frugiperda, onde foram avaliados: o parasitoide C. flavicincta; o

bioinseticida Agree (Btk+Bta) e o inseticida químico a base de cipermetrina.

MATERIAL E MÉTODOS

As lagartas de S. frugiperda foram coletadas em áreas agrícolas do Rio Grande do Sul, e mantidas no Laboratório de Microbiologia e Toxicologia. As lagartas permaneceram em criação, sob condições controladas (25ºC, 75%U.R., 12 horas de fotofase), até o final dos experimentos. Os parasitoides C. flavicincta foram fornecidos pelo Dr. Ivan Cruz

(Embrapa), mantidos nas mesmas condições citadas anteriormente. O produto Agree foi fornecido pela empresa BioControle e o inseticida químico adquirido em empresas de comércio local.

Nos ensaios de interações do parasitoide C. flavicincta com os inseticidas foram aplicados os seguintes tratamentos nas lagartas de S. frugiperda: (1) controle (sem produto e sem parasitismo); (2) parasitismo de C. flavicincta; (3) CL25 de cipermetrina

1 Doutora em Agronomia, Instituto Rio Grandense do Arroz, E-mail: [email protected]

2 Doutora em Biologia – Control_Agro_Bio Pesquisa e Defesa Agropecuária Ltda

3 Mestre em Agronomia – Instituto Rio Grandense do Arroz

4 Doutora em Biologia – Instituto Rio Grandense do Arroz e Control_Agro_Bio Pesquisa e Defesa Agropecuária Ltda

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(0,06507mL/ha) e parasitismo; (4) CL25 de Agree (0,00024g/mL) e parasitismo. Para obter as lagartas parasitadas, no 2º instar essas foram mantidas durante 24h com um casal de parasitoides, para que a fêmea realizasse a postura na lagarta (Fig. 1).

Figura 1. Adulto de Campoletis flavicincta parasitando lagartas de Spodoptera frugiperda.

Foram utilizadas 30 lagartas por tratamento, individualizadas em mini-placas de acrílico, contendo dieta artificial de Poitout. Na superfície da dieta foram aplicados 100µL de cada tratamento, em triplicata, sendo os bioensaios mantidos em B.O.D. (26ºC, 70% de UR e 12h de fotofase). A mortalidade foi avaliada até o 10º dia após a aplicação dos tratamentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da interação do parasitoide Campoletis flavicincta, com os produtos fitossanitários (inseticidas biológico e químico) aplicados no controle das lagartas de S. frugiperda, estão apresentados na Figura 2.

Figura 2. Mortalidade Corrigida (%) de Spodoptera frugiperda após os ensaios de interação do parasitoide Campoletis flavicincta, com os inseticidas Agree® e Cipermetrina.

Os dados de mortalidade corrigida revelam que a interação do parasitoide (C.

flavicincta) com o inseticida a base de cipermetrina (55%) não diferiram significativamente do tratamento onde as lagartas foram apenas parasitadas (50%). Por outro lado, a interação do C. flavicincta com o bioinsticida Agree

® (63%) revelou diferença significativa quando

comparada ao parasitismo isoladamente. Esses dados estão de acordo com a pesquisa de Dequech et al. (2005), cujos autores identificaram que a mortalidade de lagartas de S. frugiperda foi superior quando parasitadas por C. flavicincta e infectadas por B. thuringiensis

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aizawai, as quais também revelaram uma redução no consumo foliar.

CONCLUSÃO

Os dados da pesquisa sobre a interação dos três agentes de controle de lagartas de S.

frugiperda (parasitoide C. flavicincta; bioinseticida Agree (Btk+Bta) e inseticida químico a

base de cipermetrina) avaliados em condições de laboratório revelam que ocorreu uma interação positiva entre o inseticida microbiano Agree

® e o parasitoide C. flavicincta.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Dr. Ivan Cruz e a empresa BioControle pelo fornecimento do material biológico. Também agradecemos, ao CNPq pelo apoio financeiro no desenvolvimento dessa pesquisa, via Editais Universal e CT_Agro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRICKMORE, 2015. Disponível em http://www.lifesci.sussex.ac.uk/home/Neil_Crickmore/. Acesso em 5/06/2015. CRUZ, I.A. lagarta-do-cartucho na cultura do milho. Sete Lagoas: EMBRAPAICNPMS, 1995. 45p. (EMBRAPAICNPMS. Circular Técnica n. 21. OLIVEIRA, J.V. DE; ALMEIDA, D; FIUZA, L.M; SIQUEIRA, P.L.P. Pragas do arroz: monitorar e manejar.

Cultivar, Pelotas, nº 207, p.6-8, 2016. DEQUECH, S.; SILVA, R.P.; FIUZA, L.M. Interação entre Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), Campoletis flavicincta (Ashmead) (Hymenoptera: Ichneumonidae) e Bacillus

thuringiensis aizawai, em laboratório. Neotropical Entomology v. 34. N. 6. P. 937-944. 2005.

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ARROZ PUITÁ-INTA CL NA PLANÍCIE COSTEIRA DO RS: DADOS FÍSICO-QUÍMICOS DOS SOLOS E VALOR NUTRICIONAL.

Jeremias Pakulski Panizzon1; Neiva Knaak2; Denize Ziegler3; Renata Ramos4; Claudio Mundstock5; Lidia Mariana Fiuza6

Palavras-chave: Qualidade nutricional, grãos de arroz integral, alimentação.

INTRODUÇÃO

Os sistemas de cultivo do arroz irrigado são: o plantio convencional, o plantio direto, o cultivo mínimo e o pré-germinado. Cada sistema é caracterizado por diferentes tipos de manejo do solo e da própria cultura. O Rio Grande do Sul apresenta diversas classificações de solo de várzea, que são adequados ou não ao cultivo de arroz irrigado como: Planossolos, Gleissolos, Chernossolos e Neossolos, entre outros, sendo composto por microhabitats que diferem em suas propriedades físico-químicas (CARSON et al. 2009). Estas características determinam uma composição diversificada de micro-organismos onde qualquer mudança, físicas ou químicas, provocam alterações na comunidade de organismos (PANIZZON et al. 2016). A disponibilidade de oxigênio, as relações de umidade, a faixa de temperatura, a matéria orgânica disponível e o pH são fatores que afetam diretamente o solo e por consequência as plantas e os seus produtos utilizados na alimentação tanto animal quanto humana (FEIGI et al. 1998).

Nos alimentos, os antioxidantes, por exemplo, são moléculas capazes de reduzir ou prevenir oxidações. Devido aos riscos de consumir antioxidantes sintéticos, estudos de investigação em produtos naturais que contêm atividade antioxidante têm aumentado com o objetivo de substituí-los (MENDIOLA et al. 2010). Entre as fontes de compostos fenólicos, o arroz tem um papel importante na dieta, pois contém distintos compostos fenólicos, tocoferóis, tocotrienóis e G-orizanol, principalmente associado com o pericarpo. No entanto, o polimento de grãos reduz a concentração de compostos fenólicos no endosperma, que permanecem no farelo de onde eles podem ser limitados a hidratos de carbono ou proteínas tornando o processo de hidrólise importante para se obter o rendimento máximo dos ácidos fenólicos (OLIVEIRA et al. 2012).

Nessa pesquisa foram avaliadas as características físico-químicas do solo que podem influenciar na composição nutricional do arroz Puitá INTA-CL, cultivado na Planície Costeira do RS.

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas de amostras de solo e de grãos foram efetuadas nos anos agrícolas 2013/14 e 2014/15, em lavouras da Planície Costeira Interna e Planície Costeira Externa, com diferentes tipos de solos. A Planície Costeira Externa (Santo Antônio da Patrulha) apresenta majoritariamente o Gleissolo e a Planície Costeira Interna (Charqueadas) apresenta em sua maior parcela o Planossolo. Em cada propriedade agrícola foram coletadas amostras de solo em triplicata, sendo as lavouras subdivididas em áreas homogêneas, identificadas pelo relevo, vegetação, tipo de solo, uso e manejo. Foram coletadas entre 10 e 20 subamostras para formar uma única amostra, percorrendo um caminho em ziguezague ao acaso, cobrindo toda a área. As amostragens foram realizadas com trado à profundidade de 20 cm,

1 Doutorando, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, [email protected]. 2 Doutora em Biologia, Instituto Rio Grandense do Arroz - IRGA 3 Doutora, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. 4 Doutora, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. 5 Doutor em Agronomia, Instituto Rio Grandense do Arroz – IRGA 6 Doutora em Agronomia, Instituto Rio Grandense do Arroz - IRGA

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em cada ponto de coleta, e o solo foi armazenado em frasco esterilizado. Após as coletas, o solo foi homogeneizado e retirada uma amostra de 500 gramas (IRGA, 2013).

A cultivar utilizada no estudo foi a Puita Inta CL, em lavouras de cultivo mínimo, com um ciclo médio de 125 dias, tendo um porte baixo, com estatura média de 86 cm. As coletas de solo foram realizadas em quatro períodos do ciclo da cultura: uma coleta após o preparo do solo, duas coletas no período vegetativo, duas coletas no período reprodutivo e duas no período de maturação, totalizando sete coletas em cada ano agrícola para cada lavoura (IRGA 2013).

Os parâmetros físico-químicos do solo foram analisados na EEA-IRGA, no Laboratório de Análise de solos: Argila (%), pH, Índice de análise e correção de acidez - SMP, Fósforo (mg/L), Potássio (mg/L), Matéria orgânica - MO (mg/L), Al (mg/L), Cálcio (mg L), Magnésio (mg/L), Hidrogênio + Alumínio (mg/L), Capacidade de troca de elétrons efetiva – CTC E (mg/L), Capacidade de troca de elétrons pH 7 – CTC 7 (mg/L), Saturação (Sat) Bases (%), Sat Al (%) Sat K (%), Relação (R) Ca/Mg (mg/L), RCa/K (mg/L) e RMg/K (mg/L). Os procedimentos utilizados para estimar as variáveis físicas e químicas foram de acordo com Tedesco et al. (1995).

Quanto as amostras de arroz: os grãos foram recolhidos em cada propriedade estudada e foram levados para a Estação Experimental do Arroz (IRGA), que realizou ações como o transporte do grão, a recepção, a pré-limpeza, a secagem e o armazenamento. Fazendo o processo industrial de tornar o grão de arroz da lavoura em um produto alimentício processado: arroz polido e arroz integral (IRGA, 2013). As análises efetuadas, em triplicata, foram: composição centesimal; extrato de arroz; método DPPH para os antioxidantes; método Folin-Ciocalteu para o teor fenólico e proteínas 2.

Na análise estatística, para determinar o agrupamento dos elementos físico-químicos foi realizada uma PCA, seguida de uma MANOVA para verificar se existia diferença nas características do solo entre as regiões estudadas que pudessem modificar nutricionalmente o arroz. Com os grãos produzidos nas áreas foi efetuada a análise de Mann Whitney, para dados não normalizados, a fim de determinar a diferença dos componentes nutricionais entre o arroz produzido em cada região e entre os ciclos estudados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os parâmetros avaliados na composição nutricional do arroz polido e integral se

mantiveram nas duas regiões avaliadas, Planície Costeira Interna (PCI) e Externa (PCE), RS/Brasil. De acordo com Zhou et al. (2002), a composição dos grãos e de suas porções está sujeita a diversos fatores, como variedade, variações ambientais, manejo, processamento e armazenamento. Além disso, o polimento do grão reduz o teor de nutrientes, exceto de amido, onde observa-se que o arroz polido apresentou concentrações menores de cinzas, lipídios e fibras insolúveis, quando comparado ao arroz integral.

Os carboidratos são os principais constituintes do arroz, sendo o conteúdo de proteínas considerado baixo (média de 7%) e como os lipídios tem sua maior concentração no gérmen. Dessa forma, a concentração de lipídios é maior no arroz integral, sendo reduzida com o polimento estando de acordo com os valores encontrados experimentalmente (WALTER et al. 2008). A concentração de minerais difere nas frações do grão. Enquanto no arroz com casca o silício é o componente dominante, no arroz integral e polido, destacam-se fósforo, potássio e magnésio. O conteúdo mineral é grandemente influenciado pelas condições de cultivo, incluindo fertilização e condições do solo, e pelo processamento (ITANI et al. 2002). O teor de compostos fenólicos, índice de antioxidantes (DPPH) e proteínas 2, tanto do arroz polido quanto o arroz integral foram maiores na PCE, onde o solo tem maior teor de nutrientes, indicando que os solos mais férteis produzem alimentos com maior qualidade nutricional.

Os testes em Mann Whitney demonstraram que o conteúdo nutricional, teor fenólico e teor de antioxidantes analisados dos grãos gerados nas lavouras não variaram

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significativamente entre os anos agrícolas (p>0,05). Porém, foi detectada uma variação dos mesmos componentes nutricionais entre os grãos produzidos na Planície Costeira Interna e Externa (p<0,0001). Todos os componentes nutricionais analisados foram maiores na PCI, exceto os carboidratos, porque o amido, apesar de ser o polissacarídeo predominante no arroz ele é um resultado da soma dos demais componentes nutricionais, o que indica que se os demais componentes forem mais elevados, o seu teor será reduzido. Entre as várias classes de ocorrência natural de substâncias antioxidantes, os compostos fenólicos têm atraído uma atenção especial porque inibem a peroxidação lipídica e lipo-oxigenação in vivo (KRISTINOVA et al. 2009). Isso é, principalmente, devido às propriedades redutoras das estruturas químicas que permitem a neutralização ou sequestro de radicais livres, bem como a quelação de metais de transição, evitando assim a fase de inibir a propagação de processos oxidativos. Tecidos vegetais são boas fontes destes compostos, muitas vezes contendo fenóis, ácidos fenólicos simples (derivado a partir benzóico e ácido cinâmico), cumarina, flavonóides, estilbenos, ligninas e lignanas (OLIVEIRA et al. 2007).

As 18 variáveis físico-químicos foram analisadas pelo PCA, em seguida foi feita uma MANOVA, para testar se as regiões possuem valores similares das variáveis. Os resultados da PCA (figura 1) demonstram que os três primeiros eixos explicam 74,19%: o eixo 1 (47, 12%) inclui as variáveis local, fósforo, pH, Sat K, R Ca/ Mg, Argila e Matéria Orgânica; o segundo eixo (15,79%) inclui R Ca/K e CTC E; e o terceiro eixo (11, 28%) potássio. Os solos estudados apresentam realmente características físico-químicas diferentes, como detectado pela MANOVA (Lambda de Wilk de 0,008, p<0,0001 e F=61,6). A figura 1 é um detalhamento dos dados encontrados na PCA.

Figura 1: Análise de componentes principais dos elementos físico-químicos do solo das regiões Planície Costeira Interna (Charq) e Planície Costeira Externa (SAP) - RS, Brasil, nos anos de 2013/14 e 2014/15.

Desse modo é possível observar que os parâmetros estão altamente correlacionados com os níveis de eixos totalizando 74,19%. Com a análise do PCA fica evidente que os elementos de maior importância são as regiões, fósforo, pH, argila e matéria orgânica para a diferença entre os pontos, especialmente porque a correlação entre as variáveis é maior que 0,8. Entre as variáveis do segundo componente foram consideradas as correlações mais altas que 0,7 que foram R Ca/K e CTC E. Para o terceiro eixo a variável acima de 0,6 foi potássio.

Estudos demonstram que a presença de P e K, mesmo em solos com baixa matéria orgânica resultando em uma boa produtividade de grãos (BEUTLER et al. 2016). A produtividade das regiões estudadas está muito boa, sendo o estado do Rio Grande do Sul um dos maiores produtores do país. As bactérias do solo usam o Nitrogênio para degradar a matéria orgânica (FAGERIA, 2014). As bactérias e os fungos consomem moléculas como N e incorporando-as em suas células. Portanto, N não se move facilmente para o solo e não

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está disponível para as plantas inicialmente. Além disso, a macroporosidade é um atributo físico importante na análise de distribuição de poros no solo, especialmente porque está ligada à presença de matéria orgânica (SIMIONI et al. 2016). Tendo uma porosidade maior os nutrientes ficam mais acessíveis às plantas. O cálcio foi um elemento que apareceu com relativa importância no PCA (Figura 1). No entanto, a quantidade de Ca necessária para o crescimento de monocotiledóneas é menor que para dicotiledônea (GIONGO et al. 2016).

CONCLUSÃO

Nas condições em que foram realizados esses estudos que se baseiam em coletas de amostras de solos e de grãos de arroz dos anos agrícolas 2013/14 e 2014/15 pode-se inferir que: (i) as duas regiões orizícolas, PCI e PCE apresentam diferentes características físico-químicas do solo, sendo os valores de pH, Matéria Orgânica e Argila maiores na PCE; (ii) os elementos físico-químicos do solo produzem grãos com qualidades nutricionais significativamente distintas; (iii) o arroz polido e integral da PCE, por ter um solo mais fértil produziu grãos de arroz Puita Inta CL de melhor qualidade.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos colegas da EEA-IRGA que apoiaram esse projeto e á FAPERGS e CNPq pelo apoio financeiro no desenvolvimento dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEUTLER, A.N. et al. Effect of nitrogen-fixing bacteria on grain yield and Development of flooded irrigated rice. Revista Caatinga, v. 29, n. 1, p. 11 – 17, jan. 2016. CARSON, J.K. et al. Minerals in soil select distinct bacterial communities in their microhabitats. FEMS Microbial Ecology. v.67, p. 381-388, Mar. 2009. FAGERIA, N. K. Nitrogen management in crop production. Boca Raton: CRC Press, 2014. FEIJI, B.J. et al. Balanço de carbono e biomassa microbiana em solos da Amazônia. In : Ecologia Microbiana, Jaguariúna: EMBRAPA, 1998. Cap 17, p.423-441. GIONGO, V. et al. Soil management systems for sustainable melon cropping in the submedian of the são francisco valley. Revista Caatinga, v.29, n.3, p.537-547, Sept. 2016. ITANIT. et al. Distribution of amylose, nitrogen, and minerals in Rice kernels with various characters. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.50, p.5326-5332, 2002. KRISTINOVA, V. et al. Antioxidant Activity of Phenolic Acids in Lipid Oxidation Catalyzed by Different Prooxidants. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 57, p. 10377-10385, 2009. MENDIOLA, J. et al. Design of Natural Food Antioxidant Ingredients through a Chemometric Approach. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 58, p. 787-792, 2010. OLIVEIRA, M. et al. Atividade antioxidante e antifúngica de extratos vegetais. Alimentos e Nutrição, v.18, n.3, p.267-275, 2007. OLIVEIRA, M. et al. Phenolic compounds and antioxidant actividy in fermented rice (Oryza sativa). Ciência e Tecnologia de alimentos, v. 32, n.3, p.531-537, 2012. PANIZZON, J. et al. Bacteria-Soil-Plant Interaction: This Relationship to Generate can Inputs and New Products for the Food Industry. Rice Research: Open Access. v.4, n.1, p.1-6, 2016. SIMIONI, F.J. et al. Economic and soil quality indicators in soybean crops grown under integrated crop-livestock and winter-grain cultivation systems. Ciência Rural, v.46, n.7, p.1165-1171, jul, 2016. WALTER, M. et al. Arroz: composição e características nutricionais. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.4, p.1184-1192, July 2008. ZHOU, Z. et al. The distribution of phenolic acids in rice. Food Chemistry, Amsterdam v.87,n.3, p.401-406, September 2004.

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COMUNIDADES BACTERIANAS E CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE SOLOS ORIZÍCOLAS DA PLANÍCIE COSTEIRA DO RS. Jeremias Pakulski Panizzon1; Harry Luiz Pilz Júnior 2;Neiva Knaak3; Claudio Mundstock4; Lidia Mariana Fiuza5

Palavras-chave: bactérias, solos, orizicultura, físico-química.

INTRODUÇÃO

O Arroz (Oryza sativa) é um dos alimentos mais consumidos no mundo, sendo um dos mais importantes grãos em termos econômicos mundiais. Ele também é um produto fundamental na economia de muitos dos países latino-americanos pelo fato de ser um item básico na dieta da população (ARSHAD, 2006). É um cereal de fácil adaptação às diferentes condições de solo, sendo considerada a espécie de maior potencial produtivo para o combate da fome no mundo. Contudo, como qualquer cultura agrícola, o arroz está sujeito a uma série de fatores ambientais que influenciam no seu rendimento (MARTINS, 2004).

No contexto de um agroecossistema de arroz, a diversidade microbiana possui grande importância devido às interações realizadas entre as plantas e os micro-organismos, além da manutenção deste ecossistema. A diversidade presente na rizosfera é diferente do resto do solo, pois os micro-organismos dessa região têm relação direta com o crescimento da planta. As bactérias que vivem ali recebem da planta tanto nutrientes como agentes antimicrobianos, que são seletivos e que inibem certos micro-organismos indesejáveis. Uma melhor compreensão dos fatores ambientais que influenciam as mudanças na diversidade das comunidades de bactérias é muito importante porque interferem nas funções indispensáveis para a manutenção dos ecossistemas (CAVIGELLI, 2000; SEKIGUSCHI, 2002).

O estudo aprofundado das comunidades microbianas que habitam agroecossistemas aquáticos é fundamental para a melhor compreensão do que acontece no solo, visto que estes micro-organismos desempenham funções importantes para a manutenção do habitat (PANIZZON, 2015). Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os parâmetros físico-químicos do solo e a diversidade bacteriana, em duas lavouras de arroz irrigado do RS.

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas foram realizadas nos municipios de Santo Antônio da Patrulha, RS (Planície Costeira Externa) e Charqueadas, RS (Planície Costeira Interna), em lavouras no sistema de cultivo mínimo, do cultivar Puitá INTA-CL, em áreas de gleissolo e planossolo, respectivamente. Em cada propriedade agrícola foram coletadas amostras de solo em triplicata. Cada amostra foi formada por subamostras coletadas aleatoriamente, abrangendo uma área representativa da propriedade. Após as coletas, o solo foi homogeneizado e retirada uma amostra de 500 gramas (IRGA, 2013).

A identificação dos principais grupos microbianos encontrados nas áreas de arroz foi efetuada através de cultivo em meios seletivos, análise das propriedades citomorfológicas (microscopia) e fisiológicas (bioquímicas), conforme métodos internacionais de classificação bacteriana, descritos no “Bergey’s Manual of Determinative Bacteriology” (HOLT, 2005). As bactérias foram divididas nas classes Gram-positivas ou Gram-negativas, sendo as Gram-

1 Doutor em Biologia, UNISINOS, CEP: 93.022-000, [email protected]. 2 Mestrando em Microbiologia, UFRGS 3 Doutora em Biologia, EEA-IRGA. 4 Doutor em Ciências Agronômica, EEA-IRGA 5 Doutora em Ciências Agronômica, EEA-IRGA

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positivas classificadas em grupos esporulantes e não-esporulantes identificados pela morfologia celular, características fisiológicas e bioquímicas. As bactérias Gram-negativas foram identificadas pelo método API Biomerieux® 20 E.

Com a colaboração do Laboratório de Análises de Solo e Água da EEA do IRGA, foram analisados os seguintes elementos físico-químicos: Hidrogênio + Alumínio (mg/g), fósforo total (mg/g), Alumínio total (mg/g), cálcio total (mg/g), magnésio total (mg/g), potássio total (mg/g), MO total (mg/g) e pH.

A análise de variância (ANOVA - p<0.05) foi utilizada para avaliar as diferenças na abundância das Unidades Formadoras de Colônias Bacterianas (UFCs) presentes no solo de cada lavoura estudada nos diferentes períodos de cultivo. A diversidade nas áreas orizícolas foi analisada utilizando o índice de Shannon e Eveness, calculados separadamente para cada região, utilizando os valores totais para cada abundância ambiental. Os valores foram transformados pela expressão log10 (X + 1) para compensar os desvios provocados pela menor ou maior abundância. Para verificar a influência dos parâmetros do solo com a diversidade bacteriana foi realizado a Análise de Correspondência Canônica (CCA) utilizando o programa pcord 6.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise dos resultados foi registrado um total de 29 espécies; destas, 27 foram encontrados em Santo Antônio da Patrulha/RS (PCE) e, 22 em Charqueadas/RS (PCI) nos diferentes períodos de cultivo do arroz (Tabela 1). A abundância das colônias bacterianas na PCE (F1,9 =7,84; p<0.05) foi de 18,5% no pré-plantio, 22,3% no período vegetativo, 22,3% no período reprodutivo e 36,9% na maturação. A diversidade estimada foi mais acentuada na maturação (H=3,901) em relação aos valores obtidos no solo de outras fases (H=2,97).

Tabela 1: Frequência de bactérias (UFCs/100 mL) presentes em amostras de solo, nas áreas de cultivo de arroz, em Santo Antônio da Patrulha (PCE) e Charqueadas (PCI), no Estado do Rio Grande do Sul.

Espécies bacterianas/Fases do Cultivo CHA_PRE CHA_VEG CHA_REP CHA_MAT SAP_PRE SAP_VEG SAP_REP SAP_MAT Total

Bacillus thuringiensis 6 4 3 7 3 5 5 7 40 Bacillus cereus 3 2 4 2 3 4 3 5 26 Lysinibacillus sphaericus 3 2 2 1 1 1 2 3 15 Corinebacterium spp. 2 2 1 4 3 2 1 1 16 Lactobacillus spp 2 2 2 1 1 2 2 1 13 Serratia fonticola 0 0 2 0 0 0 0 1 3 Serratia ficaria 0 1 1 0 0 0 1 0 3 Pasteurela aerogenes 0 0 0 1 0 0 0 0 1 Citrobacter koseri/farmeri 0 0 0 0 0 0 0 1 1

Klebsiella oxytoca 0 0 0 0 0 0 0 2 2 Klebsiella pneumoniae spp ozanae 1 0 0 1 0 1 0 3 6

Aeromonas hydrophila gr.1 1 0 0 0 1 0 0 0 2

Acinetobacter baumanni/calcoaceticus 0 0 0 0 0 1 0 0 1

Yersinia enterocolitica 0 1 1 1 1 1 1 0 6

Proteus penneri 0 0 0 0 0 0 0 1 1 Proteus mirabilis 0 0 0 1 0 0 0 0 1

Proteus vulgaris 0 1 0 0 2 0 0 0 3 Chryseobacterium meningosepticum 0 0 2 2 0 0 1 0 5

Stenotrophomonas maltophilia 1 1 0 0 0 1 0 0 3

Pseudomonas fluorescens/putida 2 3 1 1 2 1 2 3 15

Pseudomonas oryzihabitans 0 0 0 3 0 1 1 3 8 Pseudomonas aeroginosa 1 0 0 2 0 0 2 3 8 Pseudomonas luteola 0 0 0 1 0 0 0 1 2 Ewingella americana 0 1 0 0 0 1 0 0 2 Burkholderia cepacia 0 0 0 2 0 0 1 2 5 Cromobacterium violaceum 0 0 0 0 0 1 0 1 2

Citrobacter freundii 0 0 0 0 1 0 0 0 1 Ochrobactrum antropodi 0 0 0 1 1 1 0 0 3 Providencia alcalifaciens/rustigianii 0 0 0 0 0 0 1 0 1

Número de espécies 10 11 10 16 11 14 13 17

Shannon 2.381 2.617 2.380 3.801 2.599 3.302 2.999 3.901 Evenness 0.789 0.802 0.786 0.967 0.812 0.910 0.896 0.988

CHA=Charqueadas; SAP=Santo Antônio da Patrulha; PRE=pré-plantio; VEG=vegetativo; REP=Reprodutivo; MAT=maturação; UFCs=Unidades Formadoras de Colônias.

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Já na PCI (F1,9=7,03; p<0.05) foi de 23,9% no pré-plantio, 21,7% no período vegetativo, 20,7% no período reprodutivo e 33,7% na maturação. A diversidade estimada foi mais acentuada na maturação (H=3,801) em relação aos valores obtidos no solo de outras fases (H=2,46).

O índice de Eveness indica que a distribuição das espécies é semelhante nos dois locais no período de maturação (E=0,988 e 0,967). As espécies Pasteurela aerogenes e Pseudomonas luteola foram registradas somente no solo de áreas de cultivo de arroz, no período de maturação. Já, as espécies Aeromonas hydrophila gr.1 e Ewingella americana foram observadas no período de pré-plantio e vegetativo, respectivamente (Tabela 1).

As espécies mais abundantes foram: Bacillus thuringiensis, Bacillus cereus, Lysinibacillus sphaericus, Corinebacterium spp. e Pseudomonas fluorescens/putida, encontradas em ambas as lavouras avaliadas. Chin et al. (1999) sugerem que as bactérias do gênero Bacillus ocorrem frequentemente em solos orizícolas e que os Bacillus spp. representam espécies numericamente importantes na comunidade microbiana do solo. Esses mesmos autores associam a ampla ocorrência de B. thuringiensis em ambientes terrestres, em relação às demais espécies, devido a sua capacidade de sobrevivência em condições adversas e ao fácil transporte pelo vento, chuva e animais.

Na análise de CCA, as variáveis que influenciaram a diversidade bacteriana foram pH, matéria orgânica e fósforo. Estes resultados estão adequados com estudos já realizados, que mostraram que o uso de fertilizantes nas lavouras, contendo, por exemplo, o fósforo, em sua formulação, influencia a estrutura das comunidades (REALI, 2011). Assim como o pH pode causar alterações importantes correlacionadas com variações químicas. A matéria orgânica como substrato também é um dos principais reguladores das comunidades de micro-organismos heterotróficos (KIST, 2012).

Tabela 2: Média dos parâmetros físico-químicos na amostragem de solo da cultura do arroz irrigado, em

Santo Antônio da Patrulha (PCE) e Charqueadas (PCI), RS.

Regiões - Fase do cultivo

Físico-

químico

CHA_PRE CHA_VEG CHA_REP CHA_MAT SAP_PRE SAP_VEG SAP_REP SAP_MAT

pH 6,6 7,7 5,4 6,3 6,5 8,2 5,5 4,9

Argila 13 13 13 13 13 12 13 13

Nitrogênio 0,9 0,8 0,9 0,9 0,8 0,9 0,9 0,9

Fósforo 16,6 14,4 14,7 21,6 10,7 15 11,7 12,3

Potássio 175 184 182 230 132 182 99 195

Cálcio 4,2 2,5 2,4 2,4 5 2,8 1,4 2,7

Magnésio 1,8 1,3 1,8 1,3 1,8 1,6 1 1,5

MO 1,3 1,4 2,3 0,8 1,1 0,4 1,3 0,9

SATK 5,8 8,7 7,4 9 4,1 7,1 6,5 8,1

H+Al 1,2 1,1 1,6 2,2 1,1 1,7 1,2 1,4

RCa/Mg 2,2 1,9 1,4 1,8 2,7 1,7 1,3 1,8

RCa/K 9,3 5,4 5,3 4,1 14,7 6 5,4 5,5

CHA=Charqueadas; SAP=Santo Antônio da Patrulha; PRE=pré-plantio; VEG=vegetativo; REP=Reprodutivo; MAT=maturação; UFCs=Unidades Formadoras de Colônias. MO=Matéria orgânica; SAT= saturação; R= relação.

Os dados encontrados são uma contribuição para o estudo de fatores que influenciam a diversidade das comunidades bactérias heterotróficas em lavouras de arroz irrigado. Os micro-organismos são elementos essenciais nos processos naturais responsáveis pela qualidade do solo e, portanto, o conhecimento da diversidade microbiana do sistema e dos fatores que as influenciam é de considerável importância.

CONCLUSÃO

Dessa forma, com os dados obtidos nessa pesquisa conclui-se que a diversidade bacteriana é similar nas duas áreas estudadas, independente do tipo de solo. Além disso, a

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diversidade de bactérias foi influenciada pelo nitrogênio e a matéria orgânica.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao apoio dos pesquisadores da EEA/IRGA nesse projeto e também CNPq e à FAPERGS pelo apoio financeiro no desenvolvimento dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTERAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA DE CULTIVARES E CONTR OLE QUÍMICO DA BICHEIRA-DA-RAIZ EM ARROZ IRRIGADO

José Francisco da Silva Martins1; Juliano de Bastos Pazini2; Valdecir dos Santos3; Ivan Marques Pereira3;

Flávio Amaral Bueno3

Palavras-chave: Oryzophagus oryzae, manejo integrado, impacto econômico e ambiental

INTRODUÇÃO

A bicheira-da-raiz, denominação atribuída às larvas de Oryzophagus oryzae (Lima) (Coleoptera: Curculionidae), é muito nociva à cultura do arroz irrigado por inundação, pois danifica as raízes das plantas, o que pode ocasionar perdas de produtividade da ordem de 20% (MARTINS & CUNHA, 2015). Este inseto basicamente é controlado por meio de inseticidas químicos (MARTINS et al., 2017), o que eleva custos produtivos (AZAMBUJA et al., 2015) riscos de contaminação ambiental (MARCHESAN et al., 2010). O uso de cultivares resistentes a O. oryzae (MARTINS & TERRES, 1995) é uma alternativa para reduzir as desvantagens do controle químico. Porém, um maior benefício depende do grau e do tipo de resistência que cultivares de arroz apresentam ao inseto.

Em plantas de arroz a resistência a O. oryzae pode ser dos tipos antixenose, antibiose e tolerância (MARTINS & TERRES, 1995), conforme definidas por Panda & Kuschel (1995). A tolerância, que corresponde à capacidade das plantas de recuperarem tecidos radiculares pós-dano pelas larvas, não interfere no desenvolvimento do inseto. A antixenose, associada a fatores físicos e químicos das plantas, dificulta a colonização pelos insetos, reduzindo os níveis de infestação inicial e sequenciais em cada safra ou até exerce efeitos letais em casos extrema inanição. Efeitos de antibiose são detectados pós-colonização e alimentação dos insetos nas plantas, o que pode afetar o desenvolvimento, a reprodução e a sobrevivência, resultando os dois últimos casos em menor taxa de aumento populacional (PANDA & KUSCHEL, 1995). A antixenose e antibiose, portanto, reduzem a população dos insetos ao afetarem a sua biologia.

O objetivo deste trabalho foi conhecer o potencial para redução do uso de inseticidas no controle da bicheira-da-raiz por meio do uso de cultivares de arroz resistentes ao inseto.

MATERIAL E MÉTODOS

Um experimento foi instalado na safra de 2013/14, num Planossolo Háplico, latitude 31º 81’ 28’’ S e longitude 52º 46’ 56’’ W, na Embrapa Clima Temperado (Capão do Leão - RS), no delineamento de blocos em faixas com seis tratamentos e quatro repetições. As parcelas experimentais, com área bruta de 4,725 m2 (nove fileiras de plantas espaçadas 0,175 m, contendo cada fileira 15 plantas equidistantes 0,20 m), foram formadas por mudas de arroz transplantadas em solo encharcado aos 15 dias pós-emergência. Seis cultivares de arroz desenvolvidas pela Embrapa (BRS Atalanta; BRS Firmeza; BRS Ligeirinho; BRS Querência; BRS Pampa; BRS Sinuelo CL) corresponderam às parcelas enquanto às faixas a dois tratamentos químicos (com e sem aplicação de inseticida). As cultivares BRS Ligeirinho (MARTINS & TERRES, 1995) e BRS Atalanta (MARTINS et al., 2001) foram incluídas como padrão de suscetibilidade e resistência a O. oryzae, respectivamente, sendo desconhecido o grau de resistência das demais cultivares. Outras práticas culturais foram adotadas conforme as recomendações técnicas para a cultura do arroz irrigado (REUNIÃO, 2016). ___________________________________________

1Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador, Embrapa Clima Temperado; BR 392, Km 78, Caixa Postal 403, Pelotas, RS, E-mail: [email protected]; 2Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Doutorando em Fitossanidade, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), 3Graduandos em agronomia (FAEM/UFPel), estágiarios do convênio Embrapa-UFPel.

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Aos 16 dias pós-transplante das mudas foi estabelecida, nas parcelas, uma lâmina d’água de 15 cm de espessura. Dez dias após, numa das faixas de cada bloco (isoladas por taipas), foi aplicado o inseticida carbofurano (ingrediente ativo) na dose de 250 g/ha. A população larval de O. oryzae foi registrada nas faixas sem aplicação de inseticidas, aos 32 e 41 dias pós-inundação (DAI), em quatro amostras-padrão de solo e raízes coletadas por parcela e examinadas segundo Neves et al. (2011). Com base na produção de grãos, obtida pela colheita de uma área útil de 3,36 m2 das parcelas, foi calculada a redução percentual de produtividade de cada cultivar (RP), associada ao dano causado pelas larvas, por meio da seguinte fórmula: RP= (PCI - PSI/PCI) x 100, sendo PCI e PSI a produção de grãos nas parcelas com e sem inseticida, respectivamente.

Para análise estatística, o número de larvas de O. oryzae/amostra padrão de solo e

raízes foi transformado em e a redução percentual de produtividade (peso de grãos) em . O número de larvas registrado aos 32 e 41 dias pós-inundação foi submetido

à análise de variância conjunta. Perante significância do teste F, as médias de ambas as variáveis foram comparadas pelo teste de Tukey (p <0.05). Ainda foi avaliada a interdependência entre o número de larvas/amostra padrão e porcentagem de redução da produção de grãos (teste t: probabilidade <0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As diferenças significativas entre as cultivares de arroz quanto ao índice de infestação larval de O. oryzae (bicheira-da-raiz), menor nas cultivares BRS Atalanta e BRS Firmeza, mediano na cultivar BRS e Sinuelo CL, e mais elevado nas cultivares BRS Ligeirinho, BRS Querência e BRS Pampa, corroboram resultados de estudos pioneiros sobre a detecção de resistência ao inseto (MARTINS & TERRES, 1995). Destaca-se a confirmação do comportamento de resistência da cultivar BRS Atalanta (MARTINS et al., 2001), também apresentado pela “BRS Firmeza” (Tabela 1). Variações na taxa de aumento da infestação larval, como as detectadas entre as cultivares de arroz, podem decorrer de distintos graus de resistência dos tipos antixenose e antibiose, que reduzem a população de insetos ao afetarem a sua biologia, cujos efeitos isolados são difíceis de distinguir (PANDA & KUSCHEL, 1995).

Tabela 1. Índice de infestação larval Oryzophagus oryzae (bicheira-da-raiz) e produção de grãos de seis cultivares de arroz irrigado, tratadas e não tratadas com inseticida químico. Pelotas - RS. 2017.

Cultivares Índice de infestação Produção de grãos (kg/ha)

Larvas/Amostra (Nº)1;5

Taxa de Aumento2

Com Inseticida3;5

Sem Inseticida3;5

Redução (%)4;5

BRS Atalanta 7,50 a - 5.497 dA 5.303 dA 3,53 a BRS Firmeza 9,37 a 1,25 5.699 dA 5.383 dB 5,64 a BRS Ligeirinho 16,12 b 2,15 4.170 eA 3.531 eB 15,27 b BRS Querência 15,75 b 2,10 7.980 bA 7.445 bB 6,71 a BRS Pampa 16,75 b 2,23 9.429 aA 8.902 aB 6,57 a BRS Sinuelo CL 10,87 ab 1,45 6.837 cA 6.563 cB 3,94 a 1Dados originais transformados em √� para análise (F= 8,43; p-valor <0,0001); 2Aumento em relação ao índice de infestação larval na cultivar BRS Atalanta (padrão de resistência); 3F= 3,13; p-valor <0,0001; 4Dados originais de perda de produção associada ao dano de larvas às raízes transformados em ������√�/100 para análise (F= 13,48; p-valor <0,0001); 5Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferiram significativamente pelo teste de Tukey (p <0,05).

Conforme a análise estatística, o ordenamento das cultivares de arroz quanto ao percentual de redução na produção de grãos, foi distinto do estabelecido para a infestação larval de O. oryzae (Tabela 1), sendo isto evidenciado pelo grau de associação entre essas duas variáveis, que apesar de significativa e positiva, resultou num coeficiente de correlação moderado (Tabela 2). Cultivares como a BRS Querência e BRS Pampa mesmo sendo mais infestadas não diferiram das menos infestadas (BRS Atalanta e “BRS Firmeza) quanto ao percentual de perda de produtividade, o que pode decorrer de um relativo grau de tolerância

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(resistência) aos danos causados pelo inseto às raízes. Contudo, a “BRS Ligeirinho”, sendo também uma das mais infestadas, não evidenciou comportamento de tolerância, pois diferiu significativamente das demais cultivares ao apresentar o maior percentual de perda de produtividade, assim confirmando a condição de suscetível (MARTINS & TERRES, 1995). Possivelmente isso decorre do fato da “BRS Ligeirinho” ter ciclo curto de desenvolvimento, portanto, um menor período de crescimento, o que restringe a recuperação das raízes danificadas pelas larvas (CARBONARI et al., 2000). A “BRS Sinuelo CL”, com índice mediano de infestação larval, porém, com o igual percentual de perda de produtividade das demais cultivares evidencia, principalmente, resistência do tipo tolerância.

Tabela 2. Coeficiente de correlação entre infestação larval de Oryzophagus oryzae e perda de produtividade de seis cultivares de arroz irrigado. Pelotas - RS. 2017.

Nº larvas/amostra de solo e raízes x % de redução na produção de grãos (r2) * 0,507

*Significativo pelo teste t a 5% de probabilidade de erro.

Num contexto mais amplo, se destaca que não houve diferença significativa à produção

de grãos entre plantas da “BRS Atalanta” (padrão de resistência a O. oryzae), tratadas e não tratadas com inseticida (Tabela 1), o que evidenciou a desnecessidade do controle químico do inseto nesta cultivar. Contudo, nas demais cultivares, principalmente na “BRS Ligeirinho (padrão de suscetibilidade ao inseto), como houve redução significativa da produção de grãos das plantas não tratadas com inseticida, se evidenciou a necessidade do controle químico. Assim sendo, com base nestas situações contrastantes, se considera que a resistência de cultivares de arroz a O. oryzae é um atributo que muito pode contribuir para a redução do uso de inseticidas direcionado ao controle desse inseto, inclusive a exclusão, com reflexos econômicos e ambientais positivos.

CONCLUSÃO

Há potencial para reduzir a quantidade de inseticidas aplicada à cultura do arroz irrigado visando o controle da bicheira-da-raiz por meio do uso de cultivares resistentes ao inseto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MARCHESAN, E.; SARTORI, G.M.S.; AVILA, L.A.; MACHADO, S.L.O.M.; ZANELLA, R.; PRIMEL, E.G.; MACEDO, V.R.M.; MARCHEZAN, M.G. Resíduos de agrotóxicos na água de rios da depressão central do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural , v.40, p.1053-1059, 2010.

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MARTINS, J.F.S.; MELO, M.; SILVA, F.F.; GRÜTZMACHER, A.D.; CUNHA, U.S. Novo método para aferição da densidade populacional do gorgulho-aquático em plantas de arroz

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irrigado. Agropecuária Clima Temperado , v.4, p.363-370, 2001.

MARTINS, J.F.S.; TERRES, A.L.S. Avaliação de germoplasma de arroz visando resistência à Oryzophagus oryzae (Costa Lima). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil , v.24, p.445-453, 1995.

NEVES, M.B.; MARTINS, J.F.S.; GRÜTZMACHER, A.D.; LIMA, C.A.B.; BÜTTOW, G.T. Profundidade da amostragem de solo e de raízes e índice de infestação de Oryzophagus oryzae (Costa Lima, 1936) (Coleoptera: Curculionidae) em cultivares de arroz. Ciencia Rural , v.41, p.2039-2044, 2011.

PANDA, N.E; KHUSH, G.S. Host plant resistance to insects . Wallingford, CAB International, 1995. 431p.

REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 31: 2016, Bento Gonçalves, RS. Arroz irrigado : recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. SOSBAI. Pelotas, 2016. 197 p.

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PACHYRIZUS AHIPA NO CONTROLE DE ORYZOPHAGUS ORYZAE

Marcelo Mendes de Haro1; Andrey Martinez Rebelo

2; Eduardo Rodrigues Hickel

3

Palavras-chave: manejo integrado de pragas, bioinseticida, controle alternativo.

INTRODUÇÃO

Em função de seus hábitos aquáticos e terrestres a bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae) se destaca como uma das principais

pragas do arroz irrigado, causando danos a produtividade desta cultura. Indivíduos desta

espécie, na fase larval alimentam-se das raízes em áreas inundadas. Os adultos, por outro lado, possuem grande capacidade de voo, facilitando a dispersão e colonização de outras áreas de cultivo (PRANDO, 2002; HICKEL, 2013).

Convencionalmente, o manejo das populações desta espécie tem sido realizado por meio de produtos químicos sintéticos. Porém, esta metodologia de controle pode contribuir para a contaminação de fontes hídricas, acúmulo de resíduos em alimentos, além de

favorecer a seleção de populações resistentes. Devido a estes efeitos indesejados associados ao controle químico convencional, a comunidade científica e a opinião pública têm incentivado estudos e o emprego de técnicas de manejo de baixo impacto, visando uma

produção limpa. Neste contexto, produtos de origem vegetal com eficácia comprovada pode ser uma

opção sustentável, sendo sua obtenção relativamente barata e acessível aos agricultores

(RAJENDRAN; SRIRANJINI, 2008). Estas fontes vegetais devem ser ricas em substâncias com efeito inseticida e/ou características repelentes, estimulantes e fagoinibidoras, visando à alteração do comportamento, biologia, crescimento, desenvolvimento e reprodução de

muitos insetos (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012). Os metabólitos secundários destas plantas, tais como mono e sesquiterpenos, são exemplos destas substâncias, uma vez que constituem os principais componentes responsáveis pelas

interações inseto-planta (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012). A espécie Pachyrhizus ahipa (Wedd.) Parodi, pertencente à família Fabaceae, é nativa

dos Andes e se destaca pela produção de metabólitos secundários. Bioensaios

demonstraram o potencial antialimentar, inseticida e de alteração comportamental desta espécie (BEN JANNET et al., 2001; LAUTIÉ et al., 2012; HARO; REBELO, 2017).

Pensando no manejo desta espécie praga das arrozeiras irrigadas, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito inseticida do extrato de P. ahipa a bicheira-da-raiz em

ambiente aquático, visando seu uso em ambiente agrícola.

MATERIAL E MÉTODOS

Origem e caracterização do material vegetal: o material vegetal foi coletado do Banco

Ativo de Germoplasma (BAG) da Estação Experimental de Itajaí (EEI) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) (26°57'06,34''S, 48°45'41,33''O, Itajaí-SC).

Obtenção do extrato: o extrato de P. ahipa foi preparado a partir da secagem das

folhas a 45 ± 5°C por 48 horas em estufa com circulação forçada de ar. O material desidratado particionado em moinho de facas. Com auxílio de tamizes, foi selecionado

1 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Ecologia, Dr. Entomologia, Estação Experimental de Itajaí (EEI), Epagri - Empresa de

Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Rodovia Antônio Heil, 6800, Itaipava, Itajaí, SC, Brasil, CEP 88318-112, [email protected]. 2 Farmacêutico Industrial, Dr. Química Analítica, Epagri.

3 Engenheiro Agrônomo, Dr. Entomologia, Epagri.

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apenas o material de granulometria entre 6 e 120 de mesh.

Posteriormente, 100 gramas do material moído foi adicionado a 1L de solução hidroalcóolica a 50% e mantido sob agitação por 7 dias, protegido da luz e calor, para promover máxima extração dos ativos. O extrato (10% de concentração) foi filtrado

empregando filtro quantitativo 80g/m² com auxílio de kitasato e filtro de buchner, acoplado a uma bomba de vácuo. O extrato foi conservado em vidro âmbar envolto por papel alumínio a 4°C até o momento dos bioensaios.

Criação de insetos: Para os experimentos foram utilizados indivíduos adultos de O. oryzae, coletados em campo, e mantidos em criações nos laboratório de fitossanidade da

Epagri, em temperatura de 25 ± 2°C, umidade relativa 70±10% e fotoperíodo de 12 horas.

Bioensaios: Os experimentos foram realizados em tubos de vidro, contendo 10 mL de água destilada e extrato fluído de P. ahipa nas concentrações de: 2,0; 1,0; 0,8; 0,6; 0,4; 0,2; 0,1; 0,05; 0,03; 0,01%; controle adicionado apenas a solução extratora (água:etanol, 50:50)

a 2,0% e um controle ambiental, contendo apenas água destilada. Em cada placa 10

adultos da bicheira-da-raiz foram expostas, em quatro repetições, totalizando 40 indivíduos por dose. Os indivíduos foram mantidos nesse meio por 48 horas, sendo avaliadas após 3, 6, 9 12, 24 e 48 horas de exposição.

Análises estatísticas: As doses, concentrações e tempos letais foram determinados por análise de Probit e pelo estimador não paramétrico de Kaplan-Meier.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O extrato de P. ahipa apresentou mortalidade significativa sobre os adultos da bicheira-

da-raiz, com concentração letal média (CL50) de 0,30% após 48 horas de exposição (Figura 1). Além disso, o extrato apresentou concentração letal de 90% (CL90) calculada de 0,67%, com tempo letal médio (TL50) de 15 horas.

Figura 1 Curva de determinação da concentração letal (CL50 e CL90) para extrato de P. ahipa, em O. oryzae por meio da análise de Probit.

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Possivelmente, esta atividade inseticida está relacionada com a presença de metabólitos secundários relacionados com a defesa deste vegetal (MAHLKE et al., 2013). Estudos anteriores relatam a presença de rotenona nas folhas e sementes desta espécie

(MILANEZ; MORAES-DALLAQUA, 2003). Esta substância de origem natural possui capacidade inibitória da cadeia respiratória mitocondrial, sendo reconhecida por sua atividade inseticida (LI et al., 2003). Estudos envolvendo a toxicidade deste extrato em

ambiente aquático devem ser executados, uma vez que a abrangência do modo de ação deste composto abrange outras espécies, não se restringindo apenas a insetos.

Além disso, outros compostos podem ter efeito inseticida neste extrato, potencializando

ou combinando mecanismos de ação com a rotenona. Esta atividade pode ainda ser potencializada no meio aquático, dado os processos bióticos e abióticos nos quais os metabólitos estão envolvidos (COSTA et al., 2008).

CONCLUSÃO

A P. ahipa, na forma de extrato fluído das folhas, apresentou potencial no controle da

bicheira-da-raiz. Estudos posteriores para a caracterização e quantificação deste extrato devem ser executados, assim como a utilização deste produto em campo, visando o manejo sustentável desta produção.

AGRADECIMENTOS

A Fapesc e o CNPq pelo suporte financeiro. A equipe de apoio Unidade de Ensaios Químicos e Cromatográficos (UENQ), Alexandre Ferreira Corrêa e Iremar Ferreira, nas atividades laboratoriais de rotina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HARO, M. M.; REBELO, A. A. Mortalidade de traça-das-crucíferas expostas a extrato hidroalcólico de Pachyrhizus ahipa. Simpósio de Ecotoxicologia e Ecofisiologia Animal, v. I,

2017. HICKEL, E. R. Flutuação populacional de adultos da bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae,

e de outras espécies de gorgulhos aquáticos em arroz irrigado. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 12, n. 3, p. 247-254, 2013.

LAUTIÉ, E. et al. Quantification of rotenone in seeds of different species of yam bean (Pachyrhizus sp.) by a SPE HPLC–UV method. Food Chemistry, v. 131, n. 4, p. 1531-1538, 4/15/ 2012.

LI, N. et al. Mitochondrial Complex I Inhibitor Rotenone Induces Apoptosis through Enhancing Mitochondrial Reactive Oxygen Species Production. Journal of Biological

Chemistry, v. 278, n. 10, p. 8516-8525, March 7, 2003 2003. MAHLKE, J. D. et al. Composition of the essential oil of Buddleja thyrsoides Lam. leaves

from Brazil. Natural Product Research, v. 27, n. 14, p. 1319-1322, 2013/07/01 2013.

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MILANEZ, C. R. D.; MORAES-DALLAQUA, M. A. Ontogênese do sistema subterrâneo de Pachyrhizus ahipa (Wedd.) Parodi (Fabaceae). Brazilian Journal of Botany, v. 26, p. 415-

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PRANDO, H. F. Manejo de pragas em arroz irrigado. In: EPAGRI (Ed.). Arroz irrigado: Sistema Pré-germinado. Florianópolis: Epagri, v.1, 2002. p.175-201.

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PROSPECÇÃO DO CONTROLE DE CARAMUJOS DO ARROZ IRRIGADO COM ADUBO FOLIAR ZINCO-CÚPRICO

Débora Dal Zotto

1; Eduardo Rodrigues Hickel

2; Gabriela Neves Martins

3

Palavras-chave: manejo integrado de pragas, Molusca, Biomphalaria, Oryza sativa,

INTRODUÇÃO

A incidência de caramujos nas regiões orizícolas dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde se pratica o sistema de cultivo pré-germinado, tem sido relatada como altamente prejudicial (OLIVEIRA et al., 1999; HICKEL et al., 2012; INSETOS..., 2014). Neste sistema de cultivo, os caramujos atacam as plântulas tenras de arroz, devido ao desenvolvimento inicial da lavoura ocorrer em área alagada.

Três tipos de caramujos predominam nas lavouras de arroz irrigado (HICKEL et al., 2012): o caramujo-grande, Pomacea canaliculata (Lam.) (Architaenioglossa: Ampullariidae), considerada a espécie mais prejudicial; o caramujo-chato (algumas espécies do gênero Biomphalaria) (Pulmonata: Planorbidae) e o caramujo-pequeno ou caramujo-preto (algumas espécies de Physa) (Pulmonata: Physidae). Em Santa Catarina, as espécies Biomphalaria tenagophila (D'Orbigny), Biomphalaria peregrina (D'Orbigny) e Physa acuta (Draparnaud) ocorrem no Vale do Itajaí e no Sul do Estado (PRANDO & BACHA, 1995). No Rio Grande do Sul foram determinadas as espécies P. canaliculata, Physa marmorata Guilding e B. tenagophila (INSETOS..., 2014)

Os caramujos dos gêneros Biomphalaria e Physa são habitantes comuns nas lavouras de arroz irrigado, porém eram considerados pouco nocivos às plantas de arroz (PRANDO & BACHA, 1995; HICKEL et al., 2012). Contudo, na safra 2015/16, em função da primavera chuvosa, incidiram em algumas lavouras causando perdas significativas no estande de plantas.

O controle dos caramujos do arroz é problemático, devido a questões legais (não há agrotóxicos registrados para tal), impedimentos ambientais e pela própria natureza dos ingredientes ativos usados em arroz irrigado, particularmente os inseticidas, que não são tóxicos aos caramujos (OLIVEIRA et al., 2001; JOSHI, 2005; SCHNORBACH et al., 2006). Assim, há urgência na prospecção de alternativas aos agrotóxicos organossintéticos para o controle das populações de caramujos.

O cobre, na forma de sulfato de cobre ou oxicloreto de cobre, foi outrora pesquisado para o controle de caramujos, com sucesso nos testes (OLIVEIRA, 1999; 2001; PRANDO & BACHA, 1995). Contudo, restrições de ordem legal e ambiental inviabilizaram a recomendação desses produtos. Adubos foliares modernos, onde o cobre está presente na formulação, têm sido experimentados no controle de caramujos, porém restam dúvidas sobre a eficiência destes produtos nessa modalidade de uso. Assim, foi objetivo deste trabalho prospectar o controle de caramujos do arroz com adubo foliar zinco-cúprico, em tratamento de sementes (TS) e em benzedura (BZ), verificando, paralelamente, algum efeito adverso à germinação das sementes tratadas.

MATERIAL E MÉTODOS

Os ensaios foram conduzidos no Laboratório de Entomologia da Estação Experimental da Epagri em Itajaí (EEI), SC, no período de setembro a outubro de 2015, sob temperatura de 26 ± 1°C. Cubas de vidro (2L) foram utilizadas como aquário para manter os caramujos durante os testes. Essas cubas foram enchidas com 155g de solo seco de

1 Eng. agr., UFSC/Centro de Ciências Agrárias, e-mail: [email protected].

2 Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970, Itajaí, SC, e-mail: [email protected].

3 Eng. agr., Dr., Epagri/Departamento Estadual de Pesquisa e Inovação, e-mail: [email protected].

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lavoura e 500mL de água captada de chuva, resultando em pH de 5,17. Pedaços de vidro plano (16 x 58cm) foram utilizados para tampar cada quatro cubas, evitando a fuga de caramujos.

Caramujos B. tenagophila e P. acuta foram coletados em 15/09/2015 nas valas de drenagem de quadras de arroz da EEI. Os indivíduos foram aclimatados no laboratório, em aquário de 20L, até o início dos ensaios, sendo alimentados com folhas de aguapé (Heteranthera reniformis Ruiz & Pav.) e trapoeraba (Commelina spp.).

O ensaio TS seguiu delineamento experimental completamente casualizado com cinco tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos foram doses do adubo foliar de 0 (testemunha), 250, 500, 1.000 e 1.500g por 100kg de sementes. Essas doses foram diluídas em 200mL de água da pré-germinação de 100g de sementes da cv. SCS118 Marques, que permaneceram 24h em hidratação seguidas de mais 24h de incubação em sala climatizada a 25 ± 1°C. Em 17/09/2015, cada uma das 25 cubas recebeu 18 caramujos, sendo seis B. tenagophila e doze P. acuta, mais duas folhas de aguapé. Um dia após, em cada tratamento, foram adicionadas cinco sementes pré-germinadas por cuba, equivalendo a proporção de 300 sementes por metro quadrado. A mortalidade foi avaliada 72h após, quando foram adicionadas mais cinco sementes por cuba em cada tratamento, sendo a mortalidade reavaliada 72h após.

Paralelamente, visando averiguar a germinação das sementes tratadas, realizou-se um teste padrão de germinação de sementes, para cada dose, de acordo com as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009). As avaliações foram realizadas no quinto e décimo dia após a montagem do teste, sendo os resultados, expressos em porcentagem média de plântulas normais, anormais e mortas.

O ensaio BZ seguiu delineamento fatorial 2 x 5 com três repetições, sendo as parcelas a espécie de caramujo (B. tenagophila ou P. acuta) e as subparcelas as doses do adubo foliar de 0 (testemunha), 250, 500, 1.000 e 1.500g por 40L. Em 28/09/2015, cada cuba recebeu 10 caramujos, conforme a espécie, mais 15 sementes pré-germinadas de arroz (sem tratamento de sementes), mais duas folhas de aguapé. A água das cubas foi aerada por 45s, com aerador de aquário, a cada três dias. As doses de benzedura foram preparadas em 400mL de água e, em 05/10/2015, cada cuba recebeu 0,06mL conforme o tratamento. Em seguida 15 plântulas de arroz e duas folhas de aguapé foram colocadas em cada cuba. A mortalidade foi avaliada 72h após.

O número de caramujos mortos foi transformado em (x + 0,5)0,5

e submetido à análise da variância e, quando alcançada a significância estatística, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. O percentual de controle foi obtido pela fórmula de Abbott

4.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O adubo foliar zinco-cúprico (Verno FG) não causou a morte de caramujos, quer em tratamento de sementes (nas duas avaliações) ou em benzedura (Tabela 1). A composição desse adubo corresponde a 30% de teor total de cobre e 27% de teor total de zinco, o que resultou em doses de cobre variando de 0 a 450g por 100kg de sementes ou 40L, normalmente usados em um hectare de lavoura.

Hickel & Scheuermann (2009) testando doses baixas de cobre, de até 120g por hectare na forma de oxicloreto de cobre, não obtiveram controle de P. canaliculata. Nos ensaios executados por Oliveira et al. (1999; 2001), o controle do caramujo P. canaliculata foi obtido com doses de cobre de 500 e 1.000g por hectare, usando sulfato de cobre penta-hidratado. A menor dose testada por Oliveira et al. (1999; 2001) está próxima da maior dose do presente estudo, que se mostrou ineficiente para controlar os caramujos B. tenagophila e P. acuta. Prando & Bacha (1995) obtiveram controle de B. peregrina e P. acuta com doses

4 Controle (%) = (1 - (nT / nC)) x 100 onde: nT – número de indivíduos na parcela tratada e nC – número de indivíduos

na parcela testemunha - http://www.ehabsoft.com/ldpline/onlinecontrol.htm.

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de cobre variando de 1.500 a 3.000g por hectare, na forma de oxicloreto de cobre. Essas doses são mais de três vezes superiores a maior dose testada no presente estudo.

O problema de se aumentar a dose de cobre através do adubo foliar é que as maiores doses testadas já estão bem acima daquelas recomendadas para aplicação nas culturas, que variam de 300 a 500g por hectare. Além disso, isso poderia resultar num excesso de zinco nas áreas de lavoura, caso se obtivesse eficiência de controle com doses maiores desse adubo foliar. Tabela 1. Mortalidade corrigida de caramujos do arroz irrigado submetidos a doses de adubo foliar zinco-cúprico em tratamento de sementes (TS) e em benzedura (BZ). Itajaí, setembro e outubro de 2015.

Tratamento TS BZ3

(dose/100kg ou 40L) 1ª Avaliação1

2ª Avaliação2

B.tenagophila P. acuta B. tenagophila P. acuta B.tenagophila P. acuta

0 (testemunha) - - - - - -

250g 0,00 3,45 0,00 13,33 0,00 6,66

500g 0,00 0,00 3,45 0,00 0,00 0,00

1.000g 0,00 10,34 0,00 0,00 0,00 3,33

1.500g 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

CV (%)4

10,5 14,2 1,2 1/

Não significativo, F = 0,39; p = 0,81; 2/

F = 0,97; p = 0,44; 3/

F = 2,27; p = 0,06. 4/

Coeficiente de variação em porcentagem.

Também não foi verificado efeito de repelência em qualquer das doses testadas.

Inclusive, houve consumo pelos caramujos do coleóptilo e radículas das sementes tratadas. Poder-se-ia suspeitar que o ambiente restrito das cubas não permitisse verificar o efeito de repelência, mas por outro lado, foi suprido alimento alternativo (folhas de aguapé) para os caramujos nas cubas e mesmo assim houve consumo de estruturas germinativas.

As doses do adubo foliar zinco-cúprico, testadas em tratamento de sementes, não prejudicaram a germinação das sementes da cv. SCS118 Marques (F=2,67; p=0,07), que em média 89,4% germinaram normalmente, 4,6% germinaram com alguma anormalidade e apenas 5,8% não germinaram. Oliveira et al. (1999) verificaram que o tratamento de sementes de arroz (cv. IRGA 417) com sulfato de cobre, com doses variando de 700 a 1.300g por 100kg de sementes, foi fitotóxico, impedindo por completo a germinação das sementes.

CONCLUSÃO

O adubo foliar zinco-cúprico Verno FG, até a dose de 1.500g ha-1

, não controla os caramujos do arroz irrigado.

O emprego do adubo foliar zinco-cúprico Verno FG no tratamento de sementes de arroz, até a dose de 1.500g ha

-1, não prejudica a germinação das sementes.

AGRADECIMENTOS

Ao Sr. Edivani Coelho por ceder a amostra do adubo foliar para os testes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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EXTRATO VEGETAL DE PIPER ABUTILOIDES NO MANEJO DE PRAGAS DE ARROZ ARMAZENADO

Andrey Martinez Rebelo

1; Marcelo Mendes de Haro

2.

Palavras-chave: manejo integrado de pragas, bioinseticida, controle alternativo.

INTRODUÇÃO

Apesar dos questionamentos relacionados com os custos ambientais, resultantes da agricultura moderna, e da demanda pela sustentabilidade da mesma, o consumo de insumos sintéticos continua crescendo. O Brasil tem se consolidado nas últimas décadas como um expoente agrícola, ocupando um papel de destaque no cenário mundial da produção de alimentos. No entanto, o crescimento deste setor também está associado ao aumento constante do uso de agrotóxicos De maneira geral, o controle das populações por meio de produtos químicos sintéticos pode levar a eliminação de inimigos naturais, intoxicação dos trabalhadores, contaminação de fontes hídricas, resíduos em alimentos, além de favorecer a seleção de populações resistentes. Devido a estes efeitos indesejados, a comunidade científica e a opinião pública têm incentivado estudos e o emprego de técnicas de manejo de baixo impacto, visando uma produção limpa. Neste cenário, os produtos de origem vegetal podem ser uma fonte sustentável, desde que apresentam resultados favoráveis, sendo sua obtenção relativamente barata e acessível aos agricultores (RAJENDRAN; SRIRANJINI, 2008).

Desta forma, se faz necessária à busca por fontes vegetais ricas em substâncias com efeito inseticida e/ou características repelentes, estimulantes e fagoinibidoras, as quais podem afetar negativamente o comportamento, crescimento, desenvolvimento e reprodução de muitos insetos (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012). Os metabólitos secundários das plantas, tais como mono e sesquiterpenos, são exemplos destas substâncias, uma vez que constituem os principais componentes responsáveis pelas interações inseto-planta. Estes compostos são encontrados de forma abundante em plantas aromáticas (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012).

A espécie Piper abutiloides, pertencente à família Piperaceae, é nativa do Brasil e se destaca pela produção de metabólitos secundários, que podem interagir com fungos, bactérias e moluscos (JOHANN et al., 2009). Desta forma, a utilização do extrato desta planta em programas de manejo integrado de pragas surge como uma possibilidade para a obtenção de tecnologias limpas.

Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito repelente do extrato de P. abutiloides a insetos, para o uso em ambientes agrícolas.

MATERIAL E MÉTODOS

Origem e caracterização do material vegetal: o material vegetal foi coletado do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Estação Experimental de Itajaí (EEI) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) (26°57'06,34''S, 48°45'41,33''O, Itajaí-SC).

Obtenção do extrato: o extrato de P. abutiloides foi preparado a partir da secagem das folhas a 45 ± 5°C por 48 horas em estufa com circulação forçada de ar. O material desidratado particionado em moinho de facas. Com auxílio de tamizes, foi selecionado apenas o material de granulometria entre 6 e 120 de mesh.

1 Farmacêutico Industrial, Dr. Química Analítica, Estação Experimental de Itajaí (EEI), Epagri - Empresa de Pesquisa

Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Rodovia Antônio Heil, 6800, Itaipava, Itajaí, SC, Brasil, CEP 88318-112, [email protected]. 2 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Ecologia, Dr. Entomologia, Epagri.

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Posteriormente, 100 gramas do material moído foi adicionado a 1L de solução hidroalcóolica a 50% e mantido sob agitação por 7 dias, protegido da luz e calor. O extrato (10% de concentração) foi filtrado empregando filtro quantitativo 80g/m² com auxílio de kitasato e filtro de buchner, acoplado a uma bomba de vácuo. O extrato foi conservado em vidro âmbar envolto por papel alumínio a 4°C até o momento dos bioensaios.

Criação de insetos: Para os experimentos foram utilizados como modelo indivíduos de uma colônia de laboratório de fitossanidade da Epagri, da espécie Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae), criados em arroz e mantidos temperatura de 27±2°C, umidade relativa 70±10% e fotoperíodo de 12 horas.

Bioensaios: Os testes de repelência foram realizados em arenas em “X”, compostas por uma câmara central ligada a outras quatro câmaras. Os insetos foram liberados na câmara central, mantida sem alimento, na quantidade de 50 indivíduos por repetição. Cada câmara marginal foi preenchida com 15 gramas de arroz, servindo de estímulo alimentar. Duas câmaras receberam em sua base papel filtro (2,5 x 2,5 cm) embebido em 0,5 mL do extrato hidroalcóolico de P. abutiloides a 1%. Nas outras duas câmaras restantes, para o controle, foram inseridos papéis filtro embebidos apenas com a solução hidroalcóolica. O experimento foi conduzido em seis repetições em delineamento inteiramente casualizado.

Análises estatísticas: Foi calculado o índice de repelência espacial (IRE):

Onde: Nc é o número de insetos no controle, Nt número de insetos na câmara do tratamento, Nm é o número total de insetos nas câmaras e N número total de insetos utilizados no bioensaio. Segundo esta equação, resultados iguais a zero indicam ausência de resposta, valores variando de -1 a 0 indicam que o inseto foi atraído pelo tratamento e valores variando de 1 a 0 indicam que o inseto foi repelido pelo tratamento. Adicionalmente, a repelência dos insetos ao extrato de P. abutiloides foi analisada empregando-se o teste de frequência Qui-Quadrado (χ²) ao nível de 5% de probabilidade..

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O extrato hidroalcóolico de P. abutiloides repeliu significativamente os adultos de S. zeamais nos bioensaios (Figura 1). A frequência de insetos presentes nas câmaras contendo o extrato vegetal foi de 22.53%. Por outro lado, 70.36% dos insetos apresentaram preferência pelo tratamento contendo apenas o controle e 7.11% dos insetos não apresentaram escolha após 48 horas.

Segundo o índice de repelência espacial, extrato se mostrou repelente aos insetos testados, uma vez que apresentou coeficiente médio de 0,48 (±0,08), corroborando com os resultados de frequência.

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Figura 1 – Repelência de adultos de S. zeamais submetidos ao tratamento com extrato

de P. abutiloides. Barras representam o erro padrão da média. Possivelmente, o efeito repelente está ligado à presença de metabólitos secundários

presentes na família Piperaceae, tais como tais como kavalactonas, butenolides, flavonoides e ligninas, cuja ação antifúngica, antibacteriana, antiviral e antioxidante foi relatada anteriormente (JOHANN et al., 2009). Desta forma, os insetos que entraram em contato com o extrato, possivelmente foram repelidos pela bioatividade destes compostos.

Em geral, esta alta complexidade na composição dos extratos vegetais é também responsável pela baixa especificidade biológica dos mesmos, o que possibilita a extrapolação de seu uso para outros organismos alvo (BAKKALI et al., 2008). Os diversos compostos presentes não atuam apenas em um mecanismo biológico, mas sim em múltiplos sítios no interior das células dos insetos, sendo assim responsável pela baixa seletividade destes produtos (BURT, 2004).

CONCLUSÃO

O uso do extrato hidroalcóolico de P. abutiloides demonstrou seu potencial como produto repelente aos insetos modelo testado. Estudos posteriores para a caracterização e quantificação deste extrato devem ser executado, assim como a utilização deste produto em campo, visando o manejo sustentável da produção e armazenamento agrícola.

AGRADECIMENTOS

A Fapesc e o CNPq pelo suporte financeiro. A equipe de apoio Unidade de Ensaios Químicos e Cromatográficos (UENQ), Alexandre Ferreira Corrêa e Iremar Ferreira, nas atividades laboratoriais de rotina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKKALI, F. et al. Biological effects of essential oils – A review. Food and Chemical Toxicology, v. 46, n. 2, p. 446-475, 2// 2008. BURT, S. Essential oils: their antibacterial properties and potential applications in foods—a review. International Journal of Food Microbiology, v. 94, n. 3, p. 223-253, 8/1/ 2004. JOHANN, S. et al. Antifungal activities of compounds isolated from Piper abutiloides Kunth.

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Mycoses, v. 52, n. 6, p. 499-506, Nov 2009. RAJENDRAN, S.; SRIRANJINI, V. Plant products as fumigants for stored-product insect control. Journal of Stored Products Research, v. 44, n. 2, p. 126-135, 2008. REGNAULT-ROGER, C.; VINCENT, C.; ARNASON, J. T. Essential Oils in Insect Control: Low-Risk Products in a High-Stakes World. Annual Review of Entomology, v. 57, n. 1, p. 405-424, 2012.

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ATIVIDADE INSETICIDA DE EXTRATO DE BARBASCO SOBRE BICHEIRA-DA-RAÍZ

Marcelo Mendes de Haro

1; Andrey Martinez Rebelo

2; Eduardo Rodrigues Hickel

3

Palavras-chave: manejo integrado de pragas, bioinseticida, controle alternativo.

INTRODUÇÃO

Dentre as principais pragas do arroz irrigado no Brasil, destaca-se a bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae. Os adultos desta espécie são

aquáticos e possuem ampla capacidade de voo. Suas larvas se desenvolvem no solo úmido

dos arrozais, onde se alimentam das raízes do arroz, causando danos a produtividade desta cultura (PRANDO, 2002; HICKEL, 2013).

O controle das populações deste inseto, convencionalmente, tem sido realizado por

meio de produtos químicos sintéticos. O uso irracional desta metodologia de controle pode contribuir para a contaminação de fontes hídricas, acúmulo de resíduos em alimentos, além de favorecer a seleção de populações resistentes. Devido a estes efeitos indesejados, a

comunidade científica e a opinião pública têm incentivado estudos e o emprego de técnicas de manejo de baixo impacto, visando uma produção limpa.

Como alternativa, os produtos de origem vegetal, com eficácia comprovada, podem ser

uma opção sustentável, sendo sua obtenção relativamente barata e acessível aos agricultores (RAJENDRAN; SRIRANJINI, 2008). Estas fontes vegetais devem ser ricas em substâncias com efeito inseticida e/ou características repelentes, estimulantes e

fagoinibidoras, visando à alteração do comportamento, biologia, crescimento, desenvolvimento e reprodução de muitos insetos (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012). Os metabólitos secundários destas plantas, tais como mono e

sesquiterpenos, são exemplos destas substâncias, uma vez que constituem os principais componentes responsáveis pelas interações inseto-planta (REGNAULT-ROGER; VINCENT; ARNASON, 2012).

A espécie Buddleja madagascariensis Lam, pertencente à família Buddlejaceae, é

nativa de Madagascar e se destaca pela produção de metabólitos secundários (MAHLKE et al., 2013). Bioensaios demonstraram o potencial inseticida do extrato deste vegetal aos adultos da bicheira-da-raiz, quando o mesmo está imerso em meio aquoso (HARO;

REBELO; HICKEL, 2017). Pensando no manejo, baseado no comportamento de locomoção do adulto desta espécie, é necessário que este produto apresente também toxicidade de contato em ambiente seco.

Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito inseticida do extrato de B. madagascariensis a bicheira-da-raiz em ambiente seco, para seu uso em ambiente agrícola.

MATERIAL E MÉTODOS

Origem e caracterização do material vegetal: o material vegetal foi coletado do Banco

Ativo de Germoplasma (BAG) da Estação Experimental de Itajaí (EEI) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) (26°57'06,34''S, 48°45'41,33''O, Itajaí-SC).

Obtenção do extrato: o extrato de B. madagascariensis foi preparado a partir da

1 Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Ecologia, Dr. Entomologia, Estação Experimental de Itajaí (EEI), Epagri - Empresa de

Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Rodovia Antônio Heil, 6800, Itaipava, Itajaí, SC, Brasil, CEP 88318-112, [email protected]. 2 Farmacêutico Industrial, Dr. Química Analítica, Epagri.

3 Engenheiro Agrônomo, Dr. Entomologia, Epagri.

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secagem das folhas a 45 ± 5°C por 48 horas em estufa com circulação forçada de ar. O

material desidratado particionado em moinho de facas. Com auxílio de tamizes, foi selecionado apenas o material de granulometria entre 6 e 120 de mesh.

Posteriormente, 100 gramas do material moído foi adicionado a 1L de solução

hidroalcóolica a 50% e mantido sob agitação por 7 dias, protegido da luz e calor, para máxima extração dos componentes ativos. O extrato (10% de concentração) foi filtrado empregando filtro quantitativo 80g/m² com auxílio de kitasato e filtro de buchner, acoplado a

uma bomba de vácuo. O extrato foi conservado em vidro âmbar envolto por papel alumínio a 4°C até o momento dos bioensaios.

Criação de insetos: Para os experimentos foram utilizados indivíduos adultos de O.

oryzae, coletados em campo, e mantidos em criações nos laboratório de fitossanidade da

Epagri, em temperatura de 25 ± 2°C, umidade relativa 70±10% e fotoperíodo de 12 horas. Bioensaios: Os experimentos foram realizados em placas de petri com 9 cm de

diâmetro, contendo contendo papel filtro embebido em 1 mL de extrato nas concentrações

de: 2,0; 1,0; 0,8; 0,6; 0,4; 0,2; 0,1; 0,05; 0,03; 0,01% do extrato fluído das partes aéreas de B. madagascariensis; controle adicionado apenas a solução extratora (água:etanol, 50:50) a

2,0% e um controle ambiental, contendo apenas água destilada. Em cada placa 10 adultos

da bicheira-da-raiz foram expostas, em quatro repetições, totalizando 40 indivíduos por dose. Os indivíduos foram mantidos nesse meio por 48 horas, sendo avaliadas após 3, 6, 9 12, 24 e 48 horas de exposição.

Análises estatísticas: As doses, concentrações e tempos letais foram determinados por análise de Probit e pelo estimador não paramétrico de Kaplan-Meier.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O extrato de B. madagascariensis apresentou mortalidade significativa sobre os adultos

da bicheira-da-raiz, com concentração letal média (CL50) de 0,40% após 48 horas de exposição (Figura 1). Além disso, o extrato apresentou concentração letal de 90% (CL90) calculada de 0,90%, com tempo letal médio (TL50) de 16,5 horas.

Figura 1 Curva de determinação da concentração letal (CL50 e CL90) para extrato de bardasco (B. madagascariensis), em O. oryzae por meio da análise de Probit.

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Possivelmente, esta atividade inseticida está relacionada com a presença de

metabólitos secundários tais como germacrene D, α-cadinol, bicyclogermacrene, globulol e cariofileno (MAHLKE et al., 2013), relatados na literatura, os quais possuem atividade biológica sobre insetos de diversas espécies (BEN JANNET et al., 2001).

Estudos anteriores empregando o extrato de B. madagascariensis no controle da

bicheira-da-raiz em meio aquático demonstraram uma CL90 de 0,35% de concentração e TL50 de aproximadamente 7 horas (HARO; REBELO; HICKEL, 2017). Estes resultados são

bem menores dos que foram registrados nos experimentos realizados em ambiente seco. Esta maior toxicidade está relacionado com os diversos processos bióticos e abióticos com os quais os metabólitos interagem em ambientes aquáticos, muitas vezes, potencializando,

anulando ou permitindo uma maior interação e efeito dos mesmos (COSTA et al., 2008). Baseado no comportamento e movimentação do adulto de O. oryzae, a atividade

inseticida deste extrato em ambiente seco contribui para o manejo deste inseto praga quando o mesmo não está em ambiente aquático, complementando o efeito encontrado no

ambiente aquático.

CONCLUSÃO

O uso do extrato hidroalcóolico de B. madagascariensis, em baixas concentrações,

demonstrou seu potencial no controle da bicheira-da-raiz. Estudos posteriores para a

caracterização e quantificação deste extrato devem ser executados, assim como a utilização deste produto em campo, visando o manejo sustentável desta produção.

AGRADECIMENTOS

A Fapesce e o CNPq pelo suporte financeiro. A equipe de apoio Unidade de Ensaios

Químicos e Cromatográficos (UENQ), Alexandre Ferreira Corrêa e Iremar Ferreira, nas atividades laboratoriais de rotina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEN JANNET, H. et al. Antifeedant activity of plant extracts and of new natural diglyceride compounds isolated from Ajuga pseudoiva leaves against Spodoptera littoralis larvae.

Industrial Crops and Products, v. 14, n. 3, p. 213-222, 11// 2001.

COSTA, C. R. et al. A toxicidade em ambientes aquáticos: discussão e métodos de avaliação. Química Nova, v. 31, p. 1820-1830, 2008. HARO, M. M.; REBELO, A. A.; HICKEL, E. R. Capacidade inseticida do extrato de Buddleja madagascariensis sobre Oryzophagus oryzae. In: IV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE

CIÊNCIA, S. E. T., Anais do IV Simpósio Internacional de Ciência, Saúde e Território, 2017.

Lages - SC. HICKEL, E. R. Flutuação populacional de adultos da bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae,

e de outras espécies de gorgulhos aquáticos em arroz irrigado. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 12, n. 3, p. 247-254, 2013. MAHLKE, J. D. et al. Composition of the essential oil of Buddleja thyrsoides Lam. leaves

from Brazil. Natural Product Research, v. 27, n. 14, p. 1319-1322, 2013/07/01 2013.

PRANDO, H. F. Manejo de pragas em arroz irrigado. In: EPAGRI (Ed.). Arroz irrigado: Sistema Pré-germinado. Florianópolis: Epagri, v.1, 2002. p.175-201.

RAJENDRAN, S.; SRIRANJINI, V. Plant products as fumigants for stored-product insect

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control. Journal of Stored Products Research, v. 44, n. 2, p. 126-135, // 2008.

REGNAULT-ROGER, C.; VINCENT, C.; ARNASON, J. T. Essential Oils in Insect Control: Low-Risk Products in a High-Stakes World. Annual Review of Entomology, v. 57, n. 1, p.

405-424, 2012..

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SELETIVIDADE DE INSETICIDAS UTILIZADOS NO AGROECOSSISTEMA DE TERRAS BAIXAS SOBRE PARASITOIDES

DE OVOS DE PENTATOMÍDEOS-PRAGA Juliano de Bastos Pazini

1; Ronaldo Zantedeschi

1; Flávio Amaral Bueno

2; Matheus Rakes

2; Ivan Marques

Pereira2; Valdecir dos Santos

2; José Francisco da Silva Martins

3; Anderson Dionei Grützmacher

4

Palavras-chave: controle biológico, controle químico, Oryza sativa.

INTRODUÇÃO

Terras baixas ou várzeas contemplam área de 5,4 milhões de hectares no Rio Grande

do Sul, as quais têm sido utilizadas predominantemente no cultivo de arroz irrigado ou pecuária de corte (PINTO et al., 1999). Nos últimos anos, no entanto, nessas áreas ocorreram mudanças no sistema arroz-pousio ou arroz-pecuária, especialmente pelo cultivo de soja e milho, em sucessão ou rotação (SILVA, 2012).

No agroecossistema de terras baixas, preferencialmente nos cultivos de arroz e soja, os percevejos-pentatomídeos são considerados os insetos-praga mais importantes. O percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris Stal e o percevejo-do-grão Oebalus spp., na cultura do arroz (FERREIRA et al., 2002; PAZINI et al., 2015), o percevejo-verde Nezara viridula (Linnaeus), o percevejo-verde-pequeno Piezodorus guildinii (Westwood) e o percevejo-marrom Euschistus heros (Fabricius) (Hemiptera: Pentatomidae), na cultura da soja (CORRÊA-FERREIRA; PANIZZI, 1999), são os mais prejudiciais.

O controle químico dessas pragas, em muitas circunstâncias, se impõe como único método capaz de evitar perdas econômicas de produção, com rapidez e facilidade. No entanto, o emprego incorreto e abusivo de inseticidas pode provocar impactos negativos sobre inimigos naturais reguladores da população de percevejos-praga ocorrentes nesse agroecossistema (LOU et al., 2013). Dentre os inimigos naturais de percevejos, os parasitoides de ovos Telenomus podisi Ashmead e Trissolcus basalis (Wollaston) (Hymenoptera: Platygastridae) têm sido constatados como principais agentes de mortalidade natural dessas pragas em diferentes culturas, a exemplo do arroz e soja (PACHECO; CORRÊA-FERREIRA, 2000; IDALGO et al., 2013; ZACHRISSON et al., 2014). Em vista disso, agrotóxicos que sejam eficazes contra pragas e minimamente tóxicos a inimigos naturais devem ser preferidos. Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi conhecer a seletividade de inseticidas utilizados no agroecossistema de terras baixas sobre os parasitoides de ovos de pentatomídeos-praga T. podisi e T. basalis.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido de acordo com a International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants (IOBC) (HASSAN et al., 2000), com algumas adaptações (PAZINI et al., 2017; ZANTEDESCHI, 2017).

População de parasitoide e hospedeiro Utilizaram-se ovos do hospedeiro alternativo E. heros e adultos de T. podisi e T. basalis

advindos de criação massal mantida em laboratório (Temperatura: 25±1 ºC; UR: 70±10%; Fotofase: 14 horas), conforme Peres e Correa-Ferreira (2004) e Silva et al. (2008).

Inseticidas Avaliaram-se, sobre insetos adultos de T. podisi e T. basalis, seis inseticidas

1Engenheiros Agrônomos, M. Sc., Doutorandos em Fitossanidade, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM),

Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Campus Universitário s/n, Capão-do-Leão, RS, E-mail: [email protected]; 2 Graduandos em Agronomia, FAEM - UFPel;

3 Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador, Embrapa Clima Temperado;

4 Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Titular, FAEM - UFPel.

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registrados para o controle de insetos-praga nas culturas do arroz e/ou arroz irrigado, milho e soja (AGROFIT, 2017) (Tabela 1), mais um tratamento testemunha (água destilada). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com sete tratamentos e quatro repetições nos bioensaios de seletividade a adultos de T. podisi e T. basalis.

Tabela 1. Inseticidas registrados para o controle de insetos-praga de cultivos conduzidos em agroecossistema de terras baixas e utilizados em bioensaio de seletividade sobre os parasitoides de ovos Telenomus podisi e Trissolcus basalis.

Produto comercial (p.c.)

®

Ingrediente ativo (Grupo químico)

Form./ conc. (g/L ou g/kg)

1

Registro Cultura/ [praga]/ dose (L ou kg

p.c./ha)2

Connect imidacloprido (Neonicotinoide) +

beta-ciflutrina (Piretroide) SC/ 100+12,5 M, S/ [Nv]/ 1,00

Dipel WP Bacillus thuringiensis (--) WP/ 32 A, S/ [Ci]/ 0,50

Incrível acetamiprido (Neonicotinoide) +

alfa-cipermetrina (Piretroide) SC/ 100+200 A, M, S/ [Tl]/ 0,25

Match EC lufenurom (Benzoilureia) EC/ 50 M, S/ [Ag]/ 0,15

Platinum Neo tiametoxam (Neonicotinoide) + lambda-cialotrina (Piretroide)

SC/ 141+106 A, M, S/ [Dm]/ 0,25

Orthene 750 BR* acefato (Organofosforado) SP/ 750 S/ [Pg]/ 1,00

Testemunha água destilada 1Formulação e concentração - EC: emulsão concentrada; SC: suspensão concentrada; SP: pó solúvel;

WP: pó molhável. 2Maior dose de registro para cultura e praga - A: arroz; M: milho; S: soja; Ag:

Anticarsia gemmatalis Hübner; Ci: Chrysodeixis includens (Walker); Dm: Dichelops melacanthus (Dallas); Nv: Nezara viridula ; Pg: Piezodorus guildinii ; Tl: Tibraca limbativentris. *Inseticida utilizado como padrão de toxicidade (testemunha positiva) a inimigos naturais (ZANTEDESCHI, 2017).

Bioensaios de seletividade Nos bioensaios com T. podisi e T. basalis, posturas de E. heros (±50 ovos) parasitadas

foram depositadas em tubos de emergência (frascos de vidro de 12 cm de comprimento x 2 cm de diâmetro numa extremidade e 0,7 cm em outra), com algumas gotas de mel puro. Os tubos foram armazenados em ambiente climatizado (Temperatura: 25±1 ºC, UR: 70±10%; Fotofase: 14 h), até a emergência dos parasitoides.

Os agrotóxicos foram pulverizados sobre placas de vidro (13 x 13 cm) numa Torre de Potter, calibrada para depositar 1,75±0,25 mg de calda por cm

2. Após secagem, as placas

foram afixadas em gaiolas de exposição (HASSAN et al., 2000). Os tubos de emergência contendo ±50 parasitoides adultos com 24 h de idade foram conectados às gaiolas para entrada dos insetos, as quais foram mantidas em sala climatizada (Temperatura: 25±1 ºC; UR: 70±10%; Fotofase: 14 h). Após 20 h, desconectaram-se os tubos e as ofertas de ovos de E. heros (cartelas com ±100 ovos) aos parasitoides ocorreram em 24, 48 e 72 h após a conexão dos tubos de emergência. Passadas 96 h, o experimento foi finalizado, sendo as cartelas de ovos armazenadas em mesma condição do teste para verificar o parasitismo.

Classificação da seletividade A redução no parasitismo (RP) em comparação a testemunha foi calculada pela

equação RP(%)= [(1 – Rt / Rc) * 100], em que: RP é a porcentagem de redução no parasitismo; Rt é o parasitismo médio para o tratamento e Rc é o parasitismo médio da testemunha. Com isso, os inseticidas foram classificados em: classe 1= inócuo (RP<30%); classe 2= levemente nocivo (30%≤RP<80%); classe 3= moderadamente nocivo (80%≤RP<99%); classe 4= nocivo (RP≥99%) (HASSAN et al., 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Observaram-se diferenças quanto à redução do parasitismo de T. podisi e T. basalis

entre os tratamentos inseticidas (Figura 1). Lufenurom e o inseticida biológico a base de B. thuringiensis foram classificados como inócuos (classe 1), com redução no parasitismo de até 10% para ambos os parasitoides (Figura 1).

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Compostos do grupo químico Benzoilureia, como lufenurom, apresentam a capacidade de matar especificamente o inseto-alvo (CARMO et al., 2010). Ademais, em virtude de esses inseticidas afetarem estágios imaturos durante a muda, os insetos adultos de espécies não-alvo, como parasitoides, raramente são afetados (BASTOS et al., 2006).

B. thuringiensis foi descrito como compatível com diferentes parasitoides de ovos (SILVA; BUENO, 2014; 2015). Segundo esses autores, a compatibilidade é atribuída a necessidade da bactéria ser ingerida pelos insetos para a ocorrência do efeito tóxico. Assim, somente o contato via tegumento não foi suficiente para contaminação dos parasitoides.

Figura 1. Redução de parasitismo e classificação de seletividade de inseticidas registrados para o controle de insetos-praga de cultivos conduzidos em agroecossistema de terras baixas sobre os parasitoides de ovos Telenomus podisi e Trissolcus basalis. Classes da IOBC: 1= inócuo (RP<30%), 2= levemente nocivo (30%≤RP<80%), 3= moderadamente nocivo (80%≤RP<99%), 4= nocivo (RP≥99%).

Acetamiprido+alfa-cipermetrina foi enquadrado como levemente nocivo (classe 2) a T. podisi, com redução de parasitismo de 65% (Figura 1). Em contrapartida, esse inseticida se mostrou moderadamente nocivo a T. basalis (classe 3), apresentando redução no parasitismo em torno de 90%. Nesse caso, T. podisi apresentou-se mais tolerante que T. basalis ao efeito tóxico do inseticida (Figura 1). Esse resultado ressalta a importância do estudo da seletividade para diferentes agentes de controle biológico.

Imidacloprido+beta-ciflutrina, tiametoxam+lambda-cialotrina e acefato reduziram o parasitismo em 100%, sendo nocivos (classe 4) aos parasitoides (Figura 1). Inseticidas neurotóxicos, tais como Neonicotinoides, Piretroides e Organofosforados são geralmente menos seletivos a parasitoides de ovos (CARMO et al., 2010; PAZINI et al., 2017).

É importante considerar, contudo, que os parasitoides de ovos foram submetidos ao máximo contato com os inseticidas, e que, ainda, esses efeitos podem ser minimizados em condições de lavoura. Assim, testes complementares em semicampo e campo com acetamiprido+alfa-cipermetrina, imidacloprido+beta-ciflutrina, tiametoxam+lambda-cialotrina e acefato devem ser realizados para efetivação da classificação da seletividade.

CONCLUSÕES

O inseticida lufenurom (Match EC®) e o inseticida biológico a base de B. thuringiensis

(Dipel WP®) são seletivos à T. podisi e T. basalis, portanto, preferenciais para o manejo

integrado de insetos-praga em cultivos conduzidos no agroecossistema de terras baixas. Os inseticidas acetamiprido+alfa-cipermetrina (Incrível

®), imidacloprido+beta-ciflutrina

(Connect®), tiametoxam+lambda-cialotrina (Platinum Neo

®) e acefato (Orthene 750 BR

®) são

100,0

100,0

6,6

92,1

0,0

100,0

100,0

99,4

9,8

65,0

0,0

100,0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

acefato

tiametoxam+lambda-cialotrina

lufenurom

acetamiprido+alfa-cipermetrina

Bacillus thuringiensis

imidacloprido+beta-ciflutrina

Classes da IOBC

Redução de parasitismo (%)

Inseti

cid

as

Telenomus podisi Trissolcus basalis

321

4321 Connect

Dipel WP

Incrível

Match EC

Platinum Neo

Orthene 750 BR

1 21

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prejudiciais a pelo menos um dos agentes de controle biológico, portanto, menos indicados para utilização no manejo integrado de pragas no agroecossistema de terras baixas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGROFIT. Sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br>. Acesso em: 14 mai. 2017. BASTOS, C.S. et al. Selectivity of pesticides used on cotton (Gossypium hirsutum) to Trichogramma pretiosum reared on two laboratory‐reared hosts. Pest Management Science, v.62, n.1, p.91-98, 2006. CARMO, E.L. do et al. Pesticide selectivity for the insect egg parasitoid Telenomus remus. BioControl, v.55, n.4, p.455-64, 2010. CORRÊA-FERREIRA, B.S.; PANIZZI, A.R. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1999. 45p. Circular Técnica, 24. FERREIRA, E. et al. Avaliação dos danos de Oebalus spp. em genótipos de arroz irrigado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.37, n.6, p.763-68, 2002. HASSAN, S.A. et al. A laboratory method to evaluate the side effects of plant protection products on Trichogramma cacoeciae Marchal (Hym., Trichogrammatidae). In: CANDOLFI, M.P. et al. (Ed.). Guidelines to evaluate side-effects of plant protection products to non-target arthropods. Gent: IOBC/WPRS, p.107-19. 2000. IDALGO, T.D.N. et al. Parasitismo de ovos de Tibraca limbativentris Stål (Hemiptera: Pentatomidae) em lavoura de arroz irrigado, Eldorado do Sul, RS. Arquivos do Instituto Biológico, v.80, n.4, p.453-56, 2013. LOU, Y.G. et al. Biological control of rice insect pests in China. Biological Control, v.6, n.1, p.8-20, 2013. PACHECO, D.J.P.; CORRÊA-FERREIRA, B.S. Parasitismo de Telenomus podisi Ashmead (Hymenoptera: Scelionidae) em populações de percevejos pragas da soja. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.29, n.2, p.295-02, 2000. PAZINI, J. de B. et al. Geoestatística aplicada ao estudo da distribuição espacial de Tibraca limbativentris em arrozal irrigado por inundação. Ciência Rural, v.45, n.6, p.1006-12, 2015. PAZINI, J. de B. et al. Toxicity of pesticide tank mixtures from rice crops against Telenomus podisi Ashmead (Hymenoptera: Platygastridae). Neotropical Entomology, p.1-10, 2017. DOI: 10.1007/s13744-017-0483-5. PERES, W.A.A.; CORRÊA-FERREIRA, B.S. Methodology of mass multiplication of Telenomus podisi Ash. and Trissolcus basalis (Woll.) (Hymenoptera: Platygastridae) on eggs of Euschistus heros (Fab.) (Hemiptera: Pentatomidae). Neotropical Entomology, v.33, n.4, p.457-62, 2004. PINTO, L.F.S et al. Caracterização de solos de várzea. In: GOMES, A. da S.; PAULETTO, E.A. (Ed.). Manejo de solo e da água em áreas de várzea. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 1999, p.11-36. SILVA, C.C. et al. Euschistus heros mass rearing technique for the multiplication of Telenomus podisi. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, n.5, p.575-80, 2008. SILVA, D.M da; BUENO, A. de F. Organic products selectivity for Trichogramma pretiosum (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Agricultural Entomology, v.20, n.1, p.1-8, 2015. SILVA, D.M da; BUENO, A. de F. Toxicity of organic supplies for the egg parasitoid Telenomus podisi. Ciência Rural, v.44, n.1, p.11-17, 2014. SILVA, P.R.F. da. Milho em rotação com arroz irrigado: perspectivas e desafios. Lavoura Arrozeira, v.60, n.458, p.38-41, 2012. ZACHRISSON, B. et al. Incidencia natural de parasitoides de huevos de Oebalus insularis Stal (Heteroptera: Pentatomidae) en Panamá. Idesia, v.32, n.2, p.119-21, 2014. ZANTEDESCHI, R. Seletividade de agrotóxicos utilizados na cultura da soja aos parasitoides de ovos Telenomus podisi Ashmead, 1893 e Trissolcus basalis (Wollaston, 1858) (Hymenoptera: Platygastridae). 2017. 71 f. Dissertação (Mestrado em Fitossanidade) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

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EFEITOS SECUNDÁRIOS DE FUNGICIDAS UTILIZADOS EM CULTIVOS DE TERRAS BAIXAS SOBRE Telenomus podisi

ASHMEAD E Trissolcus basalis (WOLLASTON) (HYMENOPTERA: PLATYGASTRIDAE)

Matheus Rakes

1; Juliano de Bastos Pazini

2; Ronaldo Zantedeschi

2; Flávio Amaral Bueno

1; Ivan Marques

Pereira1; Valdecir dos Santos

1; José Francisco da Silva Martins

3; Anderson Dionei Grützmacher

4 Palavras-chave: controle biológico, seletividade, solos de várzea.

INTRODUÇÃO No Rio Grande do Sul, as áreas de terras baixas ou várzea abrangem cerca de 5,4

milhões de hectares (VERNETTI JÚNIOR et al., 2009). O arroz irrigado por inundação corresponde a maior área cultivada e uma produção de, aproximadamente, sete milhões de toneladas (REUNIÃO, 2016). Contudo, é sabido que a rotação ou sucessão de culturas com milho, soja e algumas espécies de pastagens cultivadas em áreas de arroz apresentam grandes benefícios ao sistema produtivo (VERNETTI JÚNIOR et al., 2009).

As doenças fúngicas têm se apresentado como fator limitante à obtenção de altos índices de produtividade, preferencialmente nos cultivos de arroz irrigado e soja em terras baixas. A brusone (Magnaporthe oryzae Couch & Kohn), em arroz irrigado, e a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi Sydow & Sydow), na soja, são as moléstias mais prejudiciais (PRABHU et al., 2006; FREITAS et al., 2016).

Dentre os métodos de controle disponíveis, o controle químico pelo emprego de fungicidas se destaca pela eficiência, rapidez na operação e economia nos custos (JAKELAITIS et al., 2005). Entretanto, os produtos fitossanitários, se utilizados de maneira incorreta e abusiva, podem ter efeitos adversos a organismos não-alvo presentes no agroecossistema, como os inimigos naturais de insetos-praga (TRAN et al., 2012).

Os parasitoides de ovos Telenomus podisi Ashmead e Trissolcus basalis (Wollaston) (Hymenoptera: Platygastridae) são importantes reguladores da população de percevejos sugadores nas culturas do arroz irrigado e da soja. Embora tenham suas especificidades quanto ao hospedeiro preferencial, esses são encontrados parasitando ovos dos principais percevejos-praga destas culturas (LOPES et al., 2012; IDALGO et al., 2013).

Reconhecendo a importância da ação exercida pelos parasitoides de ovos no controle biológico natural de insetos-praga no agroecossistema e que o efetivo emprego de programas de manejo integrado em cultivos em terras baixas, a exemplo de arroz e soja, está intimamente relacionado à compatibilização, principalmente, de métodos biológicos e químicos de controle, objetivou-se, com este trabalho, conhecer os efeitos secundários de fungicidas utilizados em cultivos de terras baixas sobre T. podisi e T. basalis.

MATERIAL E MÉTODOS

Os bionesaios foram conduzidos no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Pelotas (LabMIP/UFPel), no ano de 2016, por meio de metodologia padronizada estabelecida pela International Organization for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants (IOBC) (HASSAN et al., 2000), com algumas adaptações (PAZINI et al., 2016; ZANTEDESCHI, 2017).

1Graduandos em Agronomia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), Universidade Federal de Pelotas (UFPel),

Campus Universitário s/n, Capão-do-Leão, RS, E-mail: [email protected]; 2Engenheiros Agrônomos, M. Sc., Doutorandos em Fitossanidade, FAEM - UFPel;

3Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador, Embrapa Clima Temperado;

4Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Titular, FAEM - UFPel.

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Utilizaram-se ovos do hospedeiro alternativo Euschistus heros (Fabricius) (Hemiptera: Pentatomidae) e adultos dos parasitoides T. podisi e T. basalis, provenientes de criação estabelecida em laboratório (Temperatura: 25±1 ºC; UR: 70±10%; Fotofase: 14 horas) (PERES; CORREA-FERREIRA, 2004; SILVA et al., 2008).

Os efeitos secundários de cinco fungicidas registrados para o manejo de doenças nas culturas do arroz e/ou arroz irrigado e soja (AGROFIT, 2017) (Tabela 1) foram avaliados sobre adultos de T. podisi e T. basalis. O inseticida acefato (Orthene 750 BR

®), de

reconhecida nocividade a inimigos naturais (ZANTEDESCHI, 2017), foi utilizado como padrão de toxicidade nos bioensaios. O tratamento testemunha foi constituído por água destilada. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com sete tratamentos e quatro repetições nos bioensaios de seletividade a T. podisi e T. basalis.

Tabela 1. Fungicidas registrados para o controle de doenças em cultivos conduzidos em agroecossistema de terras baixas e utilizados em bioensaios de seletividade sobre os parasitoides de ovos Telenomus podisi e Trissolcus basalis.

Produto comercial (p.c.)

®

Ingrediente ativo (Grupo químico)

Form./ conc. (g/L ou g/kg)

1

Registro Cultura/ [praga]/

dose (L ou kg p.c./ha)

2

Authority azoxistrobina (Estrobilurina) + futriafol

(Triazol) SC/ 125+125 S/ [FA]/ 600

Bim 750 BR triciclazol (Benzotiazol) WP/ 750 A/ [B]/ 0,30

Brio cresoxim-metílico (Estrobilurina) +

epoxiconazol (Triazol) SC/ 125+125 A, S/ [B]/ 1,00

Opera Ultra pyraclostrobina (Estrobilurina) +

metconazol (Triazol) EC/ 130+80 S/ [FA]/ 600

Sphere Max trifloxistrobina (Estrobilurina) +

ciproconazol (Triazol) SC/ 375+160 S/ [FA]/ 200

Orthene 750 BR* acefato (Organofosforado) SP/ 750 S/ 1,00

Testemunha água destilada 1Formulação e concentração - EC: emulsão concentrada; SC: suspensão concentrada; SP: pó solúvel;

WP: pó molhável. 2Maior dose de registro para cultura e praga - A: arroz; S: soja; FA: ferrugem-asiática;

B: brusone. *Inseticida padrão de toxicidade a inimigos naturais (ZANTEDESCHI, 2017).

Nos bioensaios com T. podisi e T. basalis, ovos de E. heros (±50 ovos) foram depositadas em tubos de emergência (HASSAN et al., 2000) contendo gotas de mel puro. Os tubos foram armazenados em ambiente climatizado (Temperatura: 25±1 ºC, UR: 70±10%; Fotofase: 14 h), até a emergência dos parasitoides.

As caldas foram preparadas para volume de aplicação de 200 L ha-1

e pulverizadas por meio de torre de Potter sobre placas de vidro (13 x 13 cm). Após a secagem, as placas foram afixadas em gaiolas de exposição (HASSAN et al., 2000). Os tubos de emergência com os parasitoides (±24 h de idade) foram embutidos às gaiolas para entrada dos insetos e mantidos em ambiente climatizado (Temperatura: 25±1 ºC; UR: 70±10%; Fotofase: 14 h). Após 20 h, desconectaram-se os tubos de emergência e procedeu-se as ofertas de ovos do hospedeiro (±100 ovos), em cartelas identificadas, em 24, 48 e 72 h após a entrada dos parasitoides às gaiolas. Passadas 24 h da última oferta, o experimento foi encerrado, sendo as cartelas de ovos armazenadas na condição do bioensaio para verificar o parasitismo.

Avaliou-se a redução do parasitismo (RP) em comparação a testemunha. Com isso, os agrotóxicos foram classificados de acordo com as normas da IOBC em: classe 1= inócuo (RP<30%); classe 2= levemente nocivo (30%≤RP<80%); classe 3= moderadamente nocivo (80%≤RP<99%) e; classe 4= nocivo (RP≥99%) (HASSAN et al., 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à redução do parasitismo de T. podisi e T. basalis, observaram-se diferenças

entre os fungicidas testados (Figura 1). Para T. podisi os fungicidas azoxistrobina+flutriafol,

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triciclazol, cresoxim-metílico+epoxiconazol, pyraclostrobina+metconazol e trifloxistrobina+ciproconazol classificaram-se como inócuos (classe 1), com percentual de redução de parasitismo de até 14% (Figura 1).

Figura 1. Redução de parasitismo e classificação de seletividade de fungicidas registrados para o controle de doenças em cultivos conduzidos em agroecossistema de terras baixas sobre os parasitoides de ovos Telenomus podisi e Trissolcus basalis. Classes da IOBC: 1= inócuo (RP<30%), 2= levemente nocivo (30%≤RP< 80%), 3= moderadamente nocivo (80%≤RP<99%), 4= nocivo (E≥99%).

A baixa nocividade de fungicidas pertencentes aos grupos químicos dos Triazois e

Estrobilurinas, registrados para diversas culturas, foi relatada para diferentes espécies de parasitoides de ovos (BUENO et al., 2008; CARMO et al., 2010; MAGANO et al., 2015; PAZINI et al., 2016). Dessa forma, o emprego desses fungicidas para o manejo de doenças em lavouras em terras baixas, a exemplo de arroz irrigado e soja, ocasionaria reduzido impacto sobre o potencial do controle biológico natural de ovos de percevejos exercido por T. podisi.

Azoxistrobina+flutriafol, triciclazol, cresoxim-metílico+epoxiconazol, pyraclostrobina+metconazol e trifloxistrobina+ciproconazol, entretanto, ocasionaram redução no parasitismo de ovos por T. basalis de até 64%, aproximadamente (Figura 1), enquadrando-se como levemente nocivos (classe 2). Nesses casos, T. basalis mostrou-se mais suscetível aos efeitos tóxicos dos fungicidas (Figura 1). Isso pode ser explicado devido a possíveis distinções na fisiologia, composição química e/ou espessura da cutícula existentes entre T. podisi e T. basalis (FERNANDES et al., 2010). Com isso, evidencia-se a necessidade da realização de testes complementares em semicampo e campo com esses fungicidas sobre T. basalis para efetivação da classificação da seletividade.

CONCLUSÃO

Os fungicidas azoxistrobina+flutriafol (Authority®), triciclazol (Bim 750 BR

®), cresoxim-

metílico+epoxiconazol (Brio®), pyraclostrobina+metconazol (Opera Ultra

®) e

trifloxistrobina+ciproconazol (Sphere Max®) são inócuos à T. podisi e levemente nocivos à T.

basalis. T. podisi é menos suscetível que T. basalis aos efeitos tóxicos secundários de

fungicidas dos grupos químicos Triazois e Estrobilurinas empregados para o controle de doenças de cultivos em terras baixas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

100,0

59,3

63,6

58,3

49,5

61,9

100,0

0,0

3,6

9,4

13,8

0,0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

acefato

trifloxistrobina+ciproconazol

pyraclostrobina+metconazol

cresoxim-metílico+epoxiconazol

triciclazol

azoxistrobina+flutriafol

Classes da IOBC

Redução de parasitismo (%)

Fu

ng

icid

as

Telenomus podisi Trissolcus basalis

4321

Brio®

Opera Ultra®

Sphere Max®

Authority®

Orthene 750 BR®

Bim 750 BR®

1 21

321

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ÁCIDO JASMÔNICO E ÁCIDO SALICÍLICO NA INDUÇÃO DE DEFESA DE PLANTAS DE ARROZ AO PERCEVEJO-DO-COLMO Tibraca

limbativentris (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE)

Thais Fernanda Stella de Freitas1 Josué Sant’Ana2 Maria Carolina Blassioli Moraes3 Miguel Borges 4 Raul A. Laumann4

Palavras chave: Fitormônio, quimiotaxia, Telenomus podisi

INTRODUÇÃO

Plantas possuem mecanismos de defesa para conter o ataque dos herbívoros

categorizados como defesas constitutivas ou induzidas. As constitutivas são barreiras presentes mesmo sem exposição à herbivoria, enquanto as induzidas são ativadas após o ataque de insetos. Estas últimas são de ação mais específica e podem atuar de forma direta sobre herbívoro, afetando negativamente sua fisiologia e/ou comportamento, ou indireta, recrutando inimigos naturais. Um dos mecanismos de defesa de plantas é a produção de compostos orgânicos voláteis (COV) derivados do metabolismo secundário (Dicke & Baldwin, 2010).

Machado et al. (2014) constataram que plantas de arroz submetidas ao dano do percevejo-do-colmo apresentaram mudança na emissão de COV, o que refletiu negativamente na atração de fêmeas coespecíficas e positivamente na atração de seu inimigo natural, Telenomus podisi (Hym: Scelionidae). A emissão destes compostos é desencadeada pela ativação de rotas metabólicas como a octadecanoide e do ácido mevalônico, coordenadas principalmente pelos hormônios ácido jasmônico (AJ) e ácido salicílico (AS) (Peñaflor & Bento, 2013). O uso destes fitormônios na indução de defesas tem sido estudado em diversas espécies de importância agrícola. Em arroz, a ativação de defesas com a utilização de AJ foi constatada nas interações com Spodoptera frugiperda (Lep: Noctuidae) (Stout et al., 2009) e Lissorhoptrus oryzophilus (Col: Curculionidae) (Hamm et al., 2010), nas quais os autores observaram menores índices de sobrevivência e desenvolvimento destes insetos.

Tibraca limbativentris é um inseto de difícil controle; seus danos estão relacionados à necrose parcial ou total da parte central dos colmos, em decorrência da injeção de saliva tóxica, podendo acarretar no retardamento do crescimento da planta. O microhimenóptero T. podisi é um importante agente de controle biológico natural de T. limbativentris, com altos índices de parasitismo. Este trabalho objetivou avaliar o perfil químico de plantas que sofreram herbivoria pelo percevejo do colmo ou receberam aplicações exógenas de ácido jasmônico ou salicílico, em diferentes concentrações, bem como, observar as respostas quimiotáxicas de T. limbativentris e T. podisi frente a plantas de arroz submetidas a estes tratamentos.

MATERIAL E MÉTODOS

O efeito do tratamento com fitormônios foi avaliado em bioensaios de quimiotaxia e de

extração de voláteis da planta. Nos dois ensaios foram utilizadas plantas da cultivar BR-IRGA 409 cultivadas em vasos plásticos de 300 mL em casa de vegetação até a realização dos ensaios, quando estavam no estádio V4. Os tratamentos foram: 1) controle; 2) AJ 2mM; 3) AJ 5mM; 4) AS 8mM; 5) AS 16mM; 6) herbivoria. A aplicação das soluções de fitormônios e controle foi feita com um borrifador manual em volume suficiente até que escorresse por

1 Eng. Agr., Dra, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 7712, CEP 91540-000 – Porto Alegre, RS, [email protected] 2 Biólogo, Dr., professor do Departamento de Fitossanidade da UFRGS 3 Química, Dra., pesquisadora da EMBRAPA Recursos genéticos e Biotecnologia 4 Biólogo, Dr., pesquisador da EMBRAPA Recursos genéticos e Biotecnologia

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toda planta (aprox. 10 mL por planta), e o tratamento herbivoria foi feito pelo confinamento de cinco fêmeas virgens de T. limbativentris por planta.

Coleta e identificação de voláteis - Este bioensaio foi realizado no laboratório de análises de semioquímicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em Brasília, DF. Os tratamentos com fitormônios ocorreram duas horas antes do início das coletas de voláteis, enquanto a herbivoria ocorreu 48 horas antes do início das mesmas. Cada vaso de planta foi alocado individualmente em uma câmara de aeração volume interno de 10 L, onde o ar purificado era impulsionado num fluxo de 1,2 L/min. Ao final de cada câmara, uma bomba de vácuo forçava o ar a passar por um tubo de vidro contendo 100 mg do polímero adsorvente Tenax® GR. As plantas foram aeradas por 24 horas; a eluição foi realizada com 500 µL de hexano e os extratos foram armazenados sob refrigeração a -20oC. Para a cromatografia gasosa acoplada a detector de ionização de chamas (CG-DIC) e cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM), uma alíquota de 20 µL de cada extrato foi separada e nesta adicionou-se 1 µL do padrão interno Tetracosano (1 mg/mL) (C24H50) para posterior identificação dos compostos. Em seguida, as soluções foram concentradas a 100 µL por fluxo suave de N2. Os extratos (1µL) foram injetados em CG com detector de ionização por chama (DIC). A quantificação dos compostos foi feita por comparação das áreas em relação a do padrão interno, e a identificação por comparação do padrão de fragmentação da amostra com o de dados catalogados em bibliotecas espectrais (NIST 2008), além pelo cálculo do índice de retenção. As identificações foram confirmadas por comparação dos tempos de retenção e espectros de massas com padrões autênticos e cálculo dos índices de Kovats. Foram realizadas 10 repetições de cada tratamento. A quantidade de compostos emitida pelas plantas foi analisada pelo teste de Kruskal-Wallis e contraste de Dunn, com 95% de confiabilidade, utilizando software Bioestat® 5.0.

Quimiotaxia de insetos - Adultos de T. limbativentris foram coletados em lavouras de arroz do Rio Grande do Sul e criados em sala climatizada no Laboratório de Etologia e Ecologia Química (LEEQI) da UFRGS, adaptando a metodologia proposta por Silva et al. (2004). A criação de T. podisi ocorreu em ovos do percevejo-marrom-da soja Euschistus heros (HEM: PENTATOMIDAE) também nas dependências do LEEQI-UFRGS. A aplicação das soluções controle e de fitormônios e controle foi feita 24 horas antes dos bioensaios e o tratamento herbivoria (infestação de uma planta com cinco fêmeas virgens de T. limbativentris), 48 horas antes dos bioensaios.

O comportamento quimiotáxico de T. limbativentris foi avaliado com fêmeas virgens, em olfatometro em “Y” (diâmetro 6,5 cm; arena inicial 22 cm bifurcada em braços de 8 cm). O comportamento quimiotáxico de T. podisi foi avaliado em fêmeas pareadas, de até 5 dias de idade, também em olfatômetro “Y” (diâmetro 2 cm; arena inicial 11 cm bifurcada em braços de 8 cm). Ao final de cada braço do olfatômetro foi acoplada uma câmera de vidro que continha uma planta, representando um dos tratamentos, por onde passava um fluxo de ar previamente filtrado a uma taxa de 0,8 L/min. Uma fêmea foi colocada na extremidade inicial do olfatômetro e a resposta foi considerada positiva quando esta percorreu, pelo menos, 4 cm dentro dos braços e permaneceu por, no mínimo, um minuto. Foram considerados não responsivos os que não se movimentaram nos primeiros 5 minutos ou quando não percorreram pelo menos 4 cm em nenhum dos dois braços do olfatômetro, em 10 minutos. Foram realizadas 40 repetições por tratamento. Os resultados da primeira escolha foram comparados pelo teste de Qui-quadrado (P < 0,05) utilizando o software BioEstat® 5.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Salicilato de metila (H = 25,33; gl = 6; P = 0,04) e aldeídos (H = 19,35; gl = 6; P = 0,03)

foram emitidos em maior quantidade pelas plantas dos tratamentos herbivoria e aspergidas com AS 16 mM. A emissão de sesquiterpenos (H = 15,00; gl = 6; P =0,02) foi maior pelas plantas que sofreram herbivoria, enquanto que a de monoterpenos e álcoois não variou entre tratamentos (Figura 1, Tabela 1).

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Figura 1. Cromatogramas dos extratos de aeração de plantas. Tratamentos: ácido jasmônico nas concentrações 2 mM (A) e 5 mM (B); ácido salicílico nas concentrações 8 mM (C) e 16 mM (D); Herbivoria: plantas submetidas à herbivoria de Tibraca limbativentris (E); Controle: 1 mL etanol + 200 mL água destilada (F). Os números indicam os compostos: 1) heptanal; 2) α-pineno; 3) 1-octen-3-ol; 4) octanal; 5) 1-hexanol-2-etil; 6) limoneno; 7) γ-terpineno; 8) Octanol; 9) Linalol; 10) Nonanal; 11) salicilato de metila; 12) α-terpineol; 13) indol; 14) α- bergamoteno; 15) geranil acetona; 16) β-farneseno; 17) α-curcumeno; 18) β-bisaboleno; 19) β- sesquifelandreno; 20) α-zingibereno Tabela 1. Quantidade média (µg) ± EP dos compostos liberados por plantas de arroz. Tratamentos AJ: ácido jasmônico nas concentrações 2 mM e 5 mM; AS: ácido salicílico nas concentrações 8 mM e 16 mM; Controle 1 mL etanol + 200 mL água destilada; Herbivoria: plantas previamente submetidas à herbivoria de cinco fêmeas de Tibraca limbativentris (n = 10). Médias seguidas pela mesma letra, na linha, não diferem pelo teste de Dunn ao nível de significância de 5%; ns = não significativo Composto AJ 2 mM AJ 5 mM AS 8 mM AS 16 mM Herbivoria Controle Monoterpenos 98,8 ± 22,0ns 68,8 ± 10,2 108,6 ± 28,2 215,4 ± 51,7 184,1 ± 46,6 180,0 ± 21,7

Sesquiterpenos 151,6 ± 37,9 ab 122,3 ± 29,1 ab 100,5 ± 21,0 b 255,4 ±73,5 ab 360,2 ± 72,4 a 193,1 ± 39,6 ab

Aldeídos 251,6 ± 92,2 ab 139,4 ± 22,0 b 210,8 ± 31,1 ab 733,4 ± 225,7 a 690,4 ± 195,4 a 446,4 ± 94,2 ab Alcoóis 52,1 ± 18,0 ns 28,2 ± 7,0 45,2 ± 15,0 104,7 ± 36,5 110,7 ± 30,8 82,8 ± 24,2

Salicilato de metila

52,2 ± 13,0 b 26,7 ± 7,1 b 39,0 ± 10,0 b 137,1 ± 51,6 a 103,2 ± 33,8 a 82,7 ± 21,5 ab

A primeira escolha de fêmeas de T. limbativentris foi significativamente maior para o

controle quando este foi contrastado com o AS 16 mM (χ2 = 6,4; gl = 1; P = 0,0114). Não houve diferença nas respostas quimiotáxicas do percevejo para os demais contrastes de fitormônios ou herbivoria com o controle (Figura 2 A). As fêmeas de T. podisi, quando submetidas à opção entre plantas tratadas com os fitormônios e plantas controle, escolheram com mais frequência que receberam o tratamento AS 16mM (χ2 = 10; gl = 1; P = 0,0016) (Figura 2 B), demonstrando maior atração por este composto.

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Figura 2. Primeira escolha (%) de fêmeas de Tibraca limbativentris (A) e de fêmeas de Telenomus podisi (B) em olfatômetro em Y a plantas de arroz previamente infestadas por fêmeas de T. limbativentris (herbivoria) ou tratadas com ácido jasmônico (AJ), ácido salicílico (AS), em diferentes concentrações e controle. Valores sobre as barras indicam o número de insetos responsivos e, entre parênteses, de não responsivos. Asterisco indica diferença significativa pelo teste de Qui-quadrado (P < 0,05).

CONCLUSÕES

A aplicação de AS 16mM em plantas de arroz eleva a emissão de salicilato de metila de forma semelhante à herbivoria e resulta em menor preferência por fêmeas de T. limbativentris e maior por fêmeas de T. podisi, evidenciando a indução de defesas da planta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DICKE, M.; BALDWIN, I. T. The evolutionary context for herbivory-induced plant volatiles: beyond the ‘cry for help’. Trends in Plant Science, New York, v.15, n.3, p.167-175, 2010. HAMM, J. C.; STOUT, M. J.; RIGGIO, R. M. Herbivore- and Elicitor-Induced Resistance in Rice to the Rice Water Weevil (Lissorhoptrus oryzophilus Kuschel) in the laboratory and field. Journal of Chemical Ecology, New York, v.36, n.2, p.192-199, 2010.

MACHADO, R. de C. de M. et al. Herbivory-induced plant volatiles from Oryza sativa and their influence on chemotaxis behaviour of Tibraca limbativentris stal. (Hemiptera: Pentatomidae) and egg parasitoids. Bulletin of Entomological Research, Cambridge, v.104, n.3, p. 347-356, 2014. PEÑAFLOR, M.F.G.V.; BENTO, J.M.S. Herbivore-Indiced Plant volatiles to Enhance Biological Control in Agriculture. Neotropical Entomology, Londrina, v. 42, n. 4, p. 332-343, 2013. SILVA, C.C.A. et al. Ciclo de vida e metodologia de criação de Tibraca limbativentris Stål, 1860 (Heteroptera: Pentatomidae) para estudos de ecologia química. Brasília, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento). 2004. 16p. STOUT, M. J.; RIGGIO, M. R.; YANG, Y. Direct induced resistance in Oryza sativa to Spodoptera frugiperda. Environmental Entomology, Lanham, v. 38, n.4, p.1174-1181, 2009.

A B

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AVALIAÇÃO DO FEROMÔNIO SEXUAL SINTÉTICO DE Tibraca limbativentris (HEMIPTERA: PENTATOMIDAE) EM LABORATÓRIO E

EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO

Thais Fernanda Stella de Freitas1 Josué Sant’Ana2 Miguel Borges 3 Maria Carolina Blassioli Moraes 4 Raul A. Laumann3

Palavras chave: monitoramento; percevejo-do-colmo; olfatometria

INTRODUÇÃO

O percevejo-do-colmo é uma das espécies mais prejudiciais à cultura do arroz no Brasil,

podendo atacar plantas desde o início da fase vegetativa até o enchimento de grãos (Martins et al., 2004). Mesmo existindo metodologia recomendada para amostragem, (SOSBAI, 2016), a constatação da presença do inseto na lavoura é dificultada pelo fato do percevejo ficar abrigado entre os colmos, próximo ao solo.

O feromônio sexual de T. limbativentris é produzido pelo macho (Borges et al., 2006) e constitui-se de dois isômeros do sesquiterpeno 1,10-bisaboladien-3-ol (zingiberenol). Ensaios de olfatometria evidenciaram que ambos os compostos são atrativos às fêmeas, porém houve resposta maior para o isômero 7S zingiberenol apenas em relação ao controle, não havendo diferença significativa quando o mesmo foi contrastado com o isômero 7R zingiberenol. Contudo, a campo, foram registradas capturas apenas com septos contendo 7R zingiberenol. Apesar dos resultados positivos para este grupo (7R), é necessário a avaliação de outras misturas de isômeros que potencializem as capturas. Este trabalho objetivou avaliar as respostas de fêmeas de T. limbativentris a septos de borracha impregnados com quatro misturas de diastereoisômeros do zingiberenol, combinados 2 a 2, em testes de laboratório e campo.

MATERIAL E MÉTODOS

Adultos de T. limbativentris foram coletados em diversas lavouras de arroz irrigado do

Rio Grande do Sul. A criação ocorreu em sala climatizada no Laboratório de Etologia e Ecologia Química (LEEQI) da UFRGS, adaptando a metodologia proposta por Silva et al. (2004). Septos de borracha impregnados com as misturas feromonais foram fornecidos pelo Dr. Ashot Khrimian, do Invasive Insect Biocontrol and Behavior Laboratory do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Maryland-USDA). Estes foram impregnados com 4 mg de dois dos isômeros do zingiberenol ou hexano (controle) totalizando cinco tratamentos: a) zingiberenol 1 (3S,6S,7R + 3R,6R,7R); b) zingiberenol 2 (3R,6S,7R + 3S,6R,7R); c) zingiberenol 3 (3S,6S,7S + 3R,6R,7S); d) zingiberenol 4 (3R,6S,7S + 3S,6R,7S) e e) controle. Estas misturas foram avaliadas em testes de campo e em laboratório, com testes de olfatometria.

Olfatometria - Os ensaios foram conduzidos com fêmeas virgens de T. limbativentris com idade entre 15 e 30 dias. O comportamento quimiotáxico foi observado em olfatômetro “Y” de vidro de dupla escolha, com diâmetro de 6,5 cm, arena inicial de 22 cm, bifurcada em dois braços de 8 cm cada. Uma fêmea foi colocada na extremidade inicial do olfatômetro e os septos de borracha no final dos braços, sendo as fêmeas submetidas à escolha entre o controle e um dos tratamentos contendo os isômeros do zingiberenol, além do contraste entre todos os diasteroisômeros. As respostas foram consideradas positivas quando os insetos percorreram, pelo menos, 4 cm dentro dos braços contendo os tratamentos e

1 Eng. Agr., Dra, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 7712, CEP 91540-000 – Porto Alegre, RS, [email protected] 2 Biólogo, Dr., professor do Departamento de Fitossanidade da UFRGS 3 Biólogo, Dr., pesquisador da EMBRAPA Recursos genéticos e Biotecnologia 4 Química, Dra., pesquisadora da EMBRAPA Recursos genéticos e Biotecnologia

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permaneceram nesta área por, no mínimo, um minuto. Foram considerados não responsivos os que não se movimentaram nos primeiros 5 minutos ou quando não percorreram pelo menos 4 cm em nenhum dos dois braços do olfatômetro, em 10 minutos. Foram realizadas 40 repetições por tratamento. Os resultados foram comparados pelo teste de Qui-quadrado de aderência (α = 0,05) utilizando o software Bioestat® 5.0.

Teste de campo - O trabalho foi conduzido nas safras 2013/2014 e 2014/2015 em lavoura no município de Eldorado do Sul, RS (30°02'28.4"S; 51°20'29.3"O), de aproximadamente 2 ha cultivado no sistema pré-germinado com Epagri 108. Os experimentos foram instalados cerca de 20 dias após a semeadura e as avaliações foram realizadas até a colheita, resultando em 17 semanas de amostragens no primeiro ano e em 18 no segundo. Armadilhas de garrafas PET de 2 L foram confeccionadas conforme sugerido por Pires et al. (2006) e iscadas com um septo de borracha contendo um dos tratamentos. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, com quatro repetições. Blocos e tratamentos ficaram equidistantes (30 m). As armadilhas foram rotacionadas dentro de cada bloco a cada 14 dias e os septos foram substituídos a cada 28 dias. As amostragens foram realizadas semanalmente, no turno da manhã. Os percevejos capturados foram LEEQI, onde foram contabilizados, identificados e separados por sexo. Nas mesmas ocasiões das amostragens, também foi estimado o nível populacional de T. limbativentris da área, utilizando uma armação de PVC de 1 m2, em 4 pontos em cada bloco, previamente sorteados, distantes aproximadamente 10 m das armadilhas. As plantas presentes no quadrado foram examinadas por 5 minutos na fase vegetativa e por 10 na reprodutiva, observando o número de fêmeas, machos e ninfas. O efeito de ano foi avaliado para o número de fêmeas capturadas em cada tratamento e para a população de insetos (apenas número de fêmeas e o somatório de fêmeas, machos e ninfas) observada nas inspeções visuais, utilizando modelo linear generalizado (GLM) com distribuição de Poisson e função de ligação logarítmica. Como não houve diferença entre anos, foi avaliada a média de fêmeas capturadas por tratamento e a média de insetos observada durante as 35 semanas de experimento, utilizando o mesmo modelo estatístico, conforme Pires et al. (2006) e Borges et al. (2011). O número de fêmeas capturadas em cada tratamento foi comparado com a população total (considerando fêmeas, machos e ninfas de T. limbativentris) e com o número de fêmeas que estava nos pontos de amostragem próximos, utilizando o mesmo modelo. Quando houve diferença entre tratamentos, as médias foram contrastadas utilizando a diferença mínima significativa. Todas as análises do teste de campo foram feitas com o software SPSS® 17.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No bioensaios em olfatometria fêmeas de T. limbativentris foram mais atraídas pelo

tratamento Z1 (7R) em comparação ao hexano (χ2 = 4,9; gl= 1; P= 0,023). Não houve diferença nos demais contrastes dos diasteroisômeros com hexano (χ2 = 0,4; gl= 1; P = 0,53) (Figura 1 A). Quando as fêmeas foram expostas a escolha entre isômeros, foram mais atraídas pelo Z1 (3S,6S,7R + 3R,6R,7R) apenas quando contrastadas com Z4 (3R,6S,7S + 3S,6R,7S) (χ2=4,9; gl=1; P=0,023). Nos demais testes, não houve diferença entre tratamentos (P > 0,05) (Figura 1 B).

Não houve diferença entre as safras 2013/2014 e 2014/2015 para o número de fêmeas coletadas nas armadilhas (χ2 = 0,995; gl = 1; P = 0,319), para as observadas nas inspeções visuais (χ2 = 0,076; gl = 1; P = 0,782) e para a população total amostrada nas inspeções visuais (χ2 = 0,258; gl = 1; P = 0,612). O número de fêmeas coletadas nas armadilhas variou entre tratamentos (χ2 = 32,92; gl = 4; P <0,001), sendo maior nas iscadas com o tratamento Z1, que teve média de captura de 5,75 fêmeas (Figura 2). O número de fêmeas/m2 observadas nas inspeções visuais também variou de acordo com os tratamentos dos quais estavam próximas (χ2 = 17,099; gl = 4; P = 0,002), mas não entre blocos (χ2 = 2,870; gl = 3; P = 0,412). Nas inspeções próximas às armadilhas iscadas com o tratamento Z1, a média

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foi de 3,25 fêmeas/m2 (χ2 = 6,07; P = 0.014), superior aos das armadilhas iscadas com os demais (Figura 2).

Figura 1. Respostas quimiotáxicas (%) de fêmeas de Tibraca limbativentris testadas em olfatômetro em Y a septos de borracha impregnados com quatro misturas de diastereoisômeros do zingiberenol, em contraste com o controle (A) e em contraste entre misturas (B). Valores sobre as barras indicam o número de insetos responsivos e, entre parênteses, os não responsivos. Asterisco indica diferença significativa pelo teste de Qui-quadrado (P < 0.05).

Figura 2. Número médio (± EP) de fêmeas de Tibraca limbativentris capturadas por armadilha do tipo PET, de fêmeas observadas e da população total (fêmeas + machos + ninfas) observada nos pontos de amostragem próximos às armadilhas iscadas com septos de borracha impregnados com quatro misturas de diastereoisômeros do zingiberenol. Eldorado do Sul, RS, safras 2013/2014 e 2014/2015. Letras maiúsculas indicam a comparação de uma variável entre os tratamentos e minúsculas o efeito de tratamento para diferentes variáveis pelo método de diferença mínima significativa (P < 0,05).

Os resultados indicam que o tratamento Z1 contém uma mistura feromonal mais atrativa para as fêmeas de T. limbativentris que os demais tratamentos. No teste de olfatometria, a preferência pela mistura Z1 apenas em relação a Z4 evidencia que esta última é a menos atrativa para as fêmeas e que as demais não são diferenciadas quando comparadas à Z1. A não diferenciação ocorreu, provavelmente, porque os insetos percebem de forma diferente os compostos isolados ou em mistura, assim como diferentes misturas com uma mesma substância. Isto também explica o fato de que os isômeros que compunham o tratamento 7S, mais atrativa em relação ao controle do que a 7R nos testes de Borges et al. (2006) e Machado (2015), continham a mistura de isômeros que no presente estudo estão nos

A B

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tratamentos Z3 [(3S, 6S, 7S) + (3R, 6R, 7S)] e o Z4 [(3R, 6S, 7S) + (3S, 6R, 7S)]. A mistura Z1 [(3S, 6S, 7R) + (3R, 6R, 7R)] deste estudo estava junto com a Z2 [(3R, 6S, 7R) + (3S, 6R, 7R)] no tratamento 7’R.

No campo, o maior número capturas de fêmeas nas armadilhas iscadas com o tratamento Z1 corrobora os resultados de laboratório. Em conformidade, houve maior número de fêmeas nos pontos de amostragem próximos às armadilhas iscadas com a mistura Z1 do que nos pontos próximos às demais. Além disso, apenas nas amostragens próximas às armadilhas iscadas com o hexano e Z1 o número de fêmeas foi semelhante ao de insetos na população total (fêmeas + machos + ninfas), evidenciando a maior proporção de fêmeas na população amostrada. Tais resultados também evidenciam a maior atratividade da mistura Z1 às fêmeas de T. limbativentris.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos mostraram que um dos isômeros presentes em Z1 é essencial

para atração das fêmeas de T. limbativentris, tanto no campo como no laboratório. Estudos futuros poderiam conduzir bioensaios com diferentes combinações dos isômeros do zingiberenol para chegar na melhor composição para atração das fêmeas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ATRATIVIDADE DE DIFERENTES GENÓTIPOS DE ARROZ À DORU LUTEIPES

Ester Wickert

1; Marcelo Mendes de Haro

2

Palavras-chave: manejo integrado de pragas, atratividade, semioquímicos.

INTRODUÇÃO

O Brasil tem se consolidado como um expoente agrícola, ocupando papel de destaque no cenário mundial da produção de alimentos. No entanto, o crescimento deste setor também está associado ao aumento do uso de agrotóxicos (OLIVEIRA et al., 2014). De

maneira geral, o controle das populações de inseto-praga por meio de produtos químicos sintéticos pode levar a eliminação de inimigos naturais, intoxicação dos trabalhadores, contaminação de fontes hídricas, resíduos em alimentos, além de favorecer a seleção de

populações resistentes. Devido a estes efeitos indesejados, a comunidade científica e a opinião pública têm incentivado estudos e o emprego de técnicas de manejo de baixo impacto, visando uma produção limpa.

O controle biológico possui grande potencial de utilização em praticamente todos os ambientes agrícolas. Para que esta tecnologia seja aplicável em situações de campo são necessárias alterações das técnicas de produção, utilizando nutrientes artificiais, alterando a

arquitetura do habitat, manipulando as espécies de inimigos naturais existentes no ambiente e otimizando os processos ecológicos do ambiente (PARRA, 2002).

Os insetos da ordem Dermaptera, conhecidos popularmente como tesourinhas, dentre as quais se inclui a espécie Doru luteipes (Scudder) (Forficulidae), são consideradas

eficazes organismos no controle de pragas das ordens Lepidoptera, Homoptera, Coleóptera e Diptera (LEMOS, 1997). Entretanto, sua ocorrência no campo não é linear, ocorrendo

geralmente de forma tardia, ou seja, após o pico populacional (PARRA, 2002). Genótipos capazes de atrair e conservar estes agentes de controle biológico no campo antes do pico populacional de determinadas pragas, poderiam reduzir efetivamente suas populações,

favorecendo o manejo limpo do agroecossistema. Plantas de arroz, durante seu florescimento tendem a atrair esses indivíduos, uma vez

que os adultos também se alimentam de pólen (NONINO; PASINI; VENTURA, 2007), podendo atuar como ferramenta na manipulação das populações destes insetos. Sendo

assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a atratividade de diferentes genótipos de arroz a D. luteipes.

MATERIAL E MÉTODOS

Origem e caracterização do material vegetal: o material vegetal foi cultivado na

Estação Experimental de Itajaí (EEI) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) (26°57'06,34''S, 48°45'41,33''O, Itajaí-SC). Os genótipos de arroz em fase de melhoramento utilizados foram agrupados em cinco grupos,

dependendo de suas características, sendo considerado os tratamentos: a) Alta amilose (cinco genótipos) – GEN 16-1, GEN 16-2, GEN 16-3, GEN 16-4 e

GEN 16-5;

b) Aromáticas (cinco genótipos) – GEN 16-6, GEN 16-7, GEN 16-11, GEN 16-12, GEN 16-13;

c) Pericarpo colorido (cinco genótipos) – GEN 16-21, GEN 16-22, GEN 16-23, GEN

1 Engenheira Agrônoma, Dra. Genética e Melhoramento de Plantas, Estação Experimental de Itajaí (EEI), Epagri -

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, Rodovia Antônio Heil, 6800, Itaipava, Itajaí, SC, Brasil, CEP 88318-112, [email protected]. 2 Engenheiro Agrônomo Ph.D. Ecologia, Dr. Entomologia, Epagri.

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16-24, GEN 16-25;

d) Mutação induzida (cinco genótipos) – GEN 16-32, GEN 16-33, SC 429, SC 430, SC 191;

e) Multiespigueta (três genótipos) – GEN 16-16, SC 356, SC 370.

Coletas e avaliações de D. luteipes: Os insetos foram avaliados a campo, durante o

florescimento das cultivares de arroz, as 11h00min, visando à padronização das condições

climáticas, durante cinco dias. Por dia, cinco plantas de cada cultivar foram aleatoriamente escolhidas, sendo a presença de D. luteipes registradas em cada uma das mesmas.

Análises estatísticas: Os dados foram então submetidos à análise de variáveis canônicas (CVA) para a redução da dimensionalidade, ilustrando graficamente as posições relativas e as orientações médias da abundância de D. luteipes em cada tratamento sob

comparação. A significância entre os tratamentos emparelhados foi comparada através do F-teste aproximado (P<0,05) utilizando a distância de Mahalanobis entre as médias das

classes canônicas das variáveis. Todas as análises estatísticas foram realizadas no software R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2013)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo a análise das variáveis canônicas (CVA), os genótipos de arroz aromáticos apresentaram abundância significativamente maior de D. luteipes quando comparado aos demais genótipos (Wilks’ λ = 0,06; F = 4,84; df (num/den) = 16/52,57; P < 0,001). Quatro

eixos canônicos foram calculados, sendo o primeiro significativo, explicando 98% da variação registrada.

Figura 1 Diagrama de ordenação (CVA) mostrando a discriminação entre a abundância de D. luteipes avaliada em diferentes dias nos diferentes grupos de genótipos de arroz

testados. Tratamentos dentro do mesmo círculo não diferem pelo teste F (P< 0,05), baseado

na distância de Mahalanobis entre as médias das classes. Itajaí, SC, 2016.

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Genótipos aromáticos apresentaram em média 12,5±0.91 indivíduos de D. luteipes por

planta amostrada durante o período de avaliação. Os genótipos de alta amilose, multiespigueta, mutação induzida e pericarpo colorido foram semelhantes entre si, apresentando abundância de: 2,8±0,30; 4,7±0,31; 3,75±0,35; 2,35±0,27 indivíduos/planta,

respectivamente. A possível presença de voláteis, em quantidade e qualidade, nos genótipos aromáticos

pode explicar a preferência deste inimigo natural por este grupo. Além disso a quantidade

de pólen pode influenciar essa preferência, uma vez que esta substância é considerada fagoestimuladora para a maioria dos insetos (ADLER, 1989; BARTLET et al. 1994).

Apesar da atração por semioquímicos voláteis possuir atração em pequenas distâncias, estes resultados sugerem que D. luteipes possui capacidade de localizar e selecionar fontes

alimentares. Desta forma, a distribuição estratégica de cultivares atrativas em campo pode facilitar a movimentação e conservação destes inimigos naturais em lavouras de arroz, colaborando para o manejo biológico de população de insetos nocivos no campo (NONINO;

PASINI; VENTURA, 2007). Por outro lado, o conhecimento destas características pode facilitar programas de

melhoramento, uma vez que em experimentos de campo, o consumo do pólen por estes

indivíduos pode prejudicar o cruzamento entre progênies. Desta forma, a inclusão de faixas armadilha, com cultivares atrativas, pode confundir e dispersar a população de D. luteipes

em programas de melhoramento de arroz.

CONCLUSÃO

Genótipos de arroz pertencentes ao grupo aromático exerceram maior atratividade ao inimigo natural D. luteipes, sendo a futura identificação do composto químico responsável

por tal fenômeno uma promissora ferramenta para o controle biológico de pragas em

ambientes agrícolas.

AGRADECIMENTOS

A Fapesce e o CNPq pelo suporte financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADLER, P. H. Sugar Feeding of the Adult Corn Earworm (Lepidoptera: Noctuidae) in the

Laboratory. Journal of Economic Entomology, v. 82, n. 5, p. 1344-1348, 1989. BARTLET, E. et al. The influence of glucosinolates and sugars on feeding by the cabbage stem flea beetle, Psylliodes chrysocephala. Entomologia Experimentalis et Applicata, v. 73,

n. 1, p. 77-83, 1994. LEMOS, W. P. Biologia e exigências de Euborellia annulipes (Lucas, 1847) (Dermaptera:

Anisolabididae), predador do bicudo-do-algodoeiro. 1997. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

NONINO, M. C.; PASINI, A.; VENTURA, M. U. Atração do predador Doru luteipes (Scudder)

(Dermaptera: Forficulidae) por estímulos olfativos de dietas alternativas em laboratório.

Ciência Rural, v. 37, p. 623-627, 2007. OLIVEIRA, C. M. et al. Crop losses and the economic impact of insect pests on Brazilian

agriculture. Crop Protection, v. 56, p. 50-54, 2// 2014. PARRA, J. R. P. Controle biológico no Brasil: parasitóides e predadores. Editora Manole

Ltda, 2002. ISBN 8520415547.

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R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statistical Computing 2013.

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EFEITO DO TRATAMENTO DE SEMENTES NO CONTROLE DE LARVAS DA BICHEIRA-DA-RAIZ, ORYZOPHAGUS ORYZAE, EM

ARROZ IRRIGADO.

Jaime Vargas de Oliveira1; Carlos Eduardo M. De Souza

2; Ricardo Machado Kroeff

3; João Batista dos

Santos4

Palavras-chave: Inseticidas, avaliações, danos.

INTRODUÇÃO

A bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae, é um dos insetos-praga mais importante do arroz irrigado, pois ataca todos os anos atingindo altos níveis populacionais e causando redução no rendimento de grãos (ALMEIDA et al., 2015). Na última safra ocorreu uma alta infestação de bicheira-da-raiz, nas regiões da Depressão Central, Planície Costeira Externa e Planície Costeira Interna, preocupando os produtores e causando perdas significativas.

Os maiores danos são causados pelas larvas, que são visualizadas na lavoura a partir dos 20 dias da irrigação, com ciclo médio de 28 dias, provocam atraso no desenvolvimento das plantas reduzindo o rendimento de grãos de 10 a 18% (MARTINS et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2016).

No Estado, a importância deste inseto-praga foi determinada por estudos de diversos pesquisadores mostrando que a maior parte dos trabalhos estão relacionados ao controle químico (MAFFINI et al.,2011; HICKEL et al., 2011).

As recomendações da pesquisa para o Sul do Brasil, determinam que a coleta de amostras de larvas devem ser feitas com um amostrador, que é cano de 10cm de diâmetro por 15cm de comprimento. A cada larva/amostra, em média é esperada uma redução de 1,1 a 1,5% na produtividade. O controle tardio de larvas após a diferenciação da panícula não evita perdas de produtividade (SOSBAI, 2016).

Este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar diferentes doses dos inseticidas Standak 250FS, Gaucho 600FS e Cruiser Opti 247,5FS, via tratamento de sementes, no controle de larvas de O. oryzae.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado a campo em lavoura comercial no município de Barra do Ribeiro, no ano agrícola 2016/2017. O preparo do solo foi no sistema do cultivo mínimo, sendo semeada a cultivar IRGA 424 RI, na densidade de 90 kg ha

-1, adotando-se o

espaçamento de 17 cm entre as linhas. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, com 4 repetições. A área de cada parcela foi de 1,5m x 5m, com o total de 7,5 m

2. A adubação de base foi realizada conforme a interpretação da análise do solo.

As sementes de arroz foram tratadas com diferentes doses de 3 inseticidas comerciais, um dia antes da semeadura: Standak 250FS (Fipronil): 120 e 160 mL/100kg, Gaucho 600FS (Imidacloprido): 500 e 600 mL/100kg e Cruiser Opti 247,5FS (Thiametoxam + Lambdacialotrina): 400 e 500 mL/100kg. Também fez parte do estudo uma testemunha não tratada. A irrigação do estudo foi realizada aos 21 dias após a irrigação sendo colocada uma lâmina de água elevada, em torno de 15 cm de profundidade, durante os 15 primeiros dias, para favorecer a infestação do inseto.

1 Mestre em Agronomia, Instituto Rio Grandense do Arroz, [email protected]

2 Extensionista, Instituto Rio Grandense do Arroz.

3 Extensionista, Instituto Rio Grandense do Arroz.

4 Extensionista, Instituto Rio Grandense do Arroz.

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Para determinar o número de larvas e a eficiência de controle de O. oryzae, foram realizadas, contagens de larvas aos 28 e 38 dias após o início da irrigação, sendo as coletas obtidas com um amostrador de cano PVC com 10cm de diâmetro por 15cm de comprimento. Em cada parcela foram retiradas quatro amostras, com o amostrador colocado sobre as plantas e introduzido no solo até uma profundidade superior a 8cm. As plantas coletadas foram colocadas em um balde com água e agitadas. O solo desprende-se das raízes e as larvas aparecem na superfície da água sendo feita a contagem. O número médio de larvas por amostra nas parcelas da testemunha foi de 20 na primeira avaliação e 17 na segunda.

O número de larvas/amostra foi transformado pela equação √(x+0,5) e submetido à análise de variância pelo teste F, e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de significância. O rendimento de grãos foi obtido pela colheita de 4 m

2 de área

útil de cada parcela, sendo os resultados expressos em t/ha e a umidade corrigida para 13%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O principal parâmetro avaliado foi o número médio de larvas de Oryzophagus oryzae, obtido nas duas avaliações conforme Tabela 1.

Tabela 1. Tratamentos, doses, número de larvas, percentagem de controle, rendimento de

grãos, da bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae, em arroz irrigado. IRGA, Barra do Ribeiro,

RS, 2017.

1Número médio de larvas/amostra;

2Leituras de larvas;

3Percentagem de controle

*Médias seguidas da mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.

Na primeira avaliação, aos 28 dias após a irrigação, os resultados mostram que o

inseticida Cruiser Opti 247,5FS, na dose de 500mL/100kg de semente, foi superior aos demais tratamentos químicos, com 100% de controle, demonstrando a ótima eficiência deste produto em larvas deste gorgulho aquático. Os produtos químicos, Standak 250FS, na dose de 160 mL/100kg de semente, o Gaucho 600SC, nas doses de 500 e 600 mL/100kg

Tratamentos

Número de Larvas Rendimento dos grãos

Doses N1 28

2 N

1 38

2

p.c. ha-1

larvas C3 larvas C

3 t ha

-1

1.Gaucho 600SC 500 0,5 bc* 97,5 0,0 c 100 9,38 a

2.Gaucho 600SC 600 0,5 bc 97,5 0,0 c 100 9,36 a

3.Cruiser Opti 247,5FS 400 2,25 b 89 2,0 b 88 9,35 a

4.Cruiser Opti 247,5FS 500 0,0 c 100 0,5 b 97 9,43 a

5.Standak 250FS 120 2,25 b 89 2,0 b 88 9,34 a

6.Standak 250FS 160 1,0 bc 95 1,0 b 94 9,39 a

7.Testemunha - 20a 0,0 17 a 0,0 9,06 a

CV %

15,4

14,2

13,3

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de semente, apresentaram controle de 95 e 97,5% respectivamente, não diferindo estatisticamente do inseticida com melhor controle, logo alta eficiência.

Na segunda avaliação aos 38 dias após a irrigação, o inseticida Gaucho 600SC, nas doses de 500 e 600 mL/100kg de semente, apresentou ótima eficiência, sendo estatisticamente superior aos demais tratamentos químicos, com 100% de controle. Também se destacaram, os produtos químicos, Standak 250FS, 160 mL/100kg de semente e o Cruiser Opti 247,5FS, na dose de 500 mL/100kg de semente, que apresentaram controle de 94 e 97% respectivamente, demonstrando boa eficiência nas doses testadas.

Quanto ao rendimento de grãos, não ocorreram diferenças estatísticas entre os tratamentos dos inseticidas e a testemunha, no entanto todos os tratamentos apresentaram produtividade superior à testemunha. Os resultados mostram que em alguns tratamentos, a produção foi superior 350 Kg ha

-1, em relação à testemunha, demonstrando a eficiência do

tratamento das sementes para o controle desta importante praga do arroz irrigado. Durante a realização dos tratamentos não se verificou efeito fitotóxico dos inseticidas nas plantas de arroz irrigado.

CONCLUSÃO

Nas condições em que foi realizado o estudo, conclui-se que os inseticidas, Gaucho 600SC, nas doses de 500 e 600 mL/100kg de semente, Cruiser Opti 247,5FS, na dose de 500 mL/100kg de semente e o Standak 250FS, 160 mL/100kg de semente, apresentaram excelente controle de larvas de bicheira-da-raiz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, D; SCHOENFELD, R; OLIVEIRA J.V. de; Pragas mais danosas das lavouras irrigadas. A granja, Porto Alegre, n.793, p.89-91, 2015.

HICKEL, E.R; EBERHARDT, D. S; BIZZI, F. A. Eficiência do inseticida chlorantraniliprole (Altacor) no controle da bicheira-da-raiz, em arroz irrigado, sistema de cultivo pré-germinado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 7. Balneário Camboriú, SC, 2011. Anais...Itajaí: Epagri/Sosbai, 2011. p.706-708.

MAFFINI, F. S; CORTE, G. D; BRAGA, M; STEFNELLO, M. T; UEBEL, J. D; PINTO, F. F. Tratamento de sementes com inseticidas no controle de Oryzophagus oryzae em arroz irrigado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 7. Balneário Camboriú, SC, 2011. Anais...Itajaí: Epagri/Sosbai, 2011. p.670-673.

MARTINS, J. F. da S. et al,. Efeito de doses de inseticidas aplicadas às sementes de arroz no controle do gorgulho-aquático Oryzophagus oryzae. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 5. Pelotas, 2007. Anais...Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2007. p.45-47.

OLIVEIRA, J.V. DE; ALMEIDA, D; FIUZA, L.M; SIQUEIRA, P.L.P. Pragas do arroz: monitorar e manejar. Cultivar, Pelotas, nº 207, p.6-8, 2016.

SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO. 2016. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. Pelotas: SOSBAI. 197 p.

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SELETIVIDADE DE INSETICIDAS NA POPULAÇÃO DE ARANHAS EM ARROZ IRRIGADO.

Jaime V. de Oliveira¹, Lidia Mariana Fiuza

1,, Danielle Almeida

1,, Neiva Knaak

1

Palavras-chave: Inimigos naturais, fitossanitários, Alpaida veniliae.

INTRODUÇÃO

Os inimigos naturais representam um papel fundamental no Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma vez que abrangem predadores, parasitas, e microrganismos patogênicos capazes de reduzir a densidade de população das pragas e os danos das mesmas. Eles regulam os organismos no seu ambiente natural tornando suas interações relativamente estáveis (HEINRICHS; BARRION, 2004).

A manutenção dos inimigos naturais pode evitar que insetos fitófagos alcancem níveis populacionais capazes de causar danos econômicos. Algumas espécies que ocorrem na cultura do arroz irrigado no Estado do Rio Grande do Sul possuem potencial de atingir níveis populacionais de dano econômico e causar perdas de 15 a 30 % de produtividade (SOSBAI, 2016). Entre os principais inimigos naturais destacam-se as aranhas, que mesmo ocorrendo em altas populações na lavoura de arroz irrigado, poucos trabalhos foram realizados (BERTI FILHO; CIOCIOLA, 2002). Estudos realizados pela pesquisa mostram que existe uma grande diversidade com macroinvertebrados, entre estes as aranhas, nas lavouras de arroz irrigado em nosso Estado (STENERT et al., 2004).

As aranhas desempenham um papel importante como controladores biológicos de insetos fitófagos devido a sua constante presença e relativa abundância durante todas as fases de desenvolvimento da cultura. As aranhas geralmente são encontradas na parte inferior das plantas de arroz, abrigadas entre os colmos ou sobre as taipas (SAAVEDRA et al., 2007).

Embora os insetos-praga possam ter suas populações reduzidas por algumas práticas de manejo e/ou pelos inimigos naturais, dependendo das condições ambientais e do manejo utilizado, podem atingir populações capazes de causar perdas significativas no rendimento da cultura, o que torna necessário o controle químico. Devido a grande importância dos inimigos naturais no manejo das pragas do arroz irrigado, é fundamental proporcionar condições para o aumento da sua população, pois se eliminados os insetos benéficos, as pragas com maior potencial reprodutivo podem ressurgir com maior intensidade. Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar o comportamento de alguns inseticidas sobre os inimigos naturais (aranhas) visando o emprego de produtos mais seletivos e com menor impacto ao ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi instalado a campo na Estação Experimental do Arroz (EEA) do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) em Cachoeirinha, no ano agrícola 2016/2017.

O delineamento experimental foi o de blocos casualizados com 4 repetições. As parcelas mediram 50 m

2 de área (10 x 5m), sendo isoladas por taipas para evitar a

circulação da água entre as mesmas. O preparo do solo foi no sistema do cultivo mínimo, sendo semeada a cultivar IRGA

424, na densidade de 90 kg ha-1. A adubação de base foi realizada conforme a interpretação

da análise do solo, utilizando-se 80 kg/ha de K2O e 60 kg/ha de P2O5. Na adubação de cobertura foram aplicados 150 kg ha

-1 de N, sendo 80% antes da irrigação e 20% na fase

1. Instituto Riograndense do Arroz, Av. Bonifácio Carvalho Bernardes, 1494, Cachoeirinha, RS. CEP 94930-030. E-mail: [email protected]

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final do afilhamento. Nos tratamentos constaram três inseticidas: Altacor 350WG (Clorantraniliprole), na dose

de 50 g ha-1; Actara 250WG (Tiametoxam), na dose de 200 g ha

-1 e Karate 50 CE

(Lambdacialotrina), na dose de 100 mL ha-1, além do tratamento testemunha (sem aplicação

de inseticida). Os produtos foram aplicados no início da fase reprodutiva, pois é o período de maior

pico populacional (RODRIGUES et al., 2008). Para a aplicação dos produtos químicos foi utilizado um pulverizador costal propelido a CO2, regulado com pressão de 35 lb/pol

2

equipado com 4 bicos tipo cone, equidistantes 0,5 m, calibrado para um volume de calda de 150 L ha

-1.

Para determinar o efeito dos produtos sobre as aranhas foram realizadas 5 coletas sendo estas aos 3, 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação dos tratamentos. Todas as amostras foram obtidas sempre a partir das 19h, com o emprego de uma rede entomológica de 35 cm de diâmetro com cabo de 1 m para varrer a parte aérea da vegetação, onde efetuou-se 50 redadas em movimentos de avanço pendulares em cada parcela.

O material coletado em cada parcela foi etiquetado e acondicionado em sacos plásticos contendo álcool etílico a 70%, e levado ao laboratório de entomologia da Estação Experimental do Arroz do IRGA, em Cachoeirinha, para ser feita a triagem e a identificação dos insetos. Os resultados foram analisados estatisticamente através da análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey a nível de 5% de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nas cinco leituras (Tabela 1) mostram que os tratamentos com produtos químicos, mesmo apresentando menor população de aranhas, não diferenciaram estatisticamente da testemunha, sendo que esta apresentou a maior população de aranhas em todas as coletas e, consequentemente, no somatório das cinco coletas.

Tabela 1. População de aranhas nas avaliações do experimento realizado em parcelas de arroz irrigado na Estação Experimental do Arroz do IRGA, Cachoeirinha, RS, 2016/2017.

1 Dias após a aplicação dos tratamentos * Médias nas colunas seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.

No somatório das cinco coletas, a testemunha apresentou 94 exemplares de aranhas.

Nos tratamentos com controle químico, onde foram aplicados os inseticidas Altacor 350WG, a população de aracnídeos foi de 75 exemplares e com o emprego do Actara 250 WG, a população foi de 74 aranhas. Os resultados mostram que o número de aranhas nesses dois tratamentos, mesmo não apresentando diferença estatística em relação à testemunha, diminuiu em torno de 20% durante o período avaliado (28 dias). Ao comparar o comportamento do tratamento com inseticida Karate 50 CE, que também não apresentou diferença estatística em relação a testemunha dentro de cada coleta, a redução do número de aranhas no período de 28 dias foi ainda maior, passando de 40% em relação a

Tratamentos Doses

mL ha-1

Avaliações (número médio de aranhas)

31 7 14 21 28

Actara 250WG 200 14 a* 15 a 11a 15 a 19 a

Altacor 350WG 50 15 a 16 a 10 a 16 a 18 a

Karate 50CE 100 10 a 11 a 07 a 12 a 14 a

Testemunha - 19 a 21 a 15 a 18 a 21 a

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testemunha. Os resultados obtidos com esse piretróide mostram um maior impacto na população desse predador, apresentando em todas as coletas o menor número de aranhas (Tabela 1).

Na coleta realizada aos 28 dias ocorreu uma recuperação da população de aranhas, nos tratamentos com inseticidas. Estes resultados estão de acordo com Oliveira et al (2007), onde somente a partir dos 30 dias da aplicação dos produtos, a fauna de aranhas reagiu à ação dos inseticidas, recuperando-se.

Na terceira avaliação aos 14 dias após aplicação dos inseticidas, a população de aranhas declinou em todos os tratamentos químicos e inclusive na testemunha, esta redução no número de exemplares em comparação com as demais avaliações pode estar relacionada com a diminuição da temperatura e a ocorrência de maior intensidade do vento, deslocando-se as aranhas para parte inferior das plantas, onde não foram capturadas pela rede de varredura.

Nas cinco avaliações, de todos os tratamentos do estudo, foram coletadas 295 aranhas, onde houve predominância das formas jovens com 55% dos exemplares e os demais correspondem a forma adulta. A família que apresentou maior frequência durante as coletas foi a Araneidae, onde se destacou a espécie Alpaida veniliae.

CONCLUSÃO

Os tratamentos químicos, com o Altacor 350WG e o Actara 250WG, apresentaram as maiores abundâncias de aranhas nas áreas tratadas, reduzindo o impacto sobre esse predador de insetos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTI FILHO, E; CIOCIOLA, A.I. Parasitoides ou predadores. Vantagens desvantagens. In: PARRA, J.R.P; BOTELHO, PSM: CORRÊ, F.B.S: BENTO, J.M.S. Controle biológico no Brasil; Parasitóides e predadores. São Paulo; Manole, p. 29-41, 2002. HEINRICH, E.A. and BARRION, A.T. Rice-feeding insects and selected natural enemies in west Africa: biology, ecology and identification. International rice research institute and Abidjan (Cote d’ivoire) WARDA – The África rice center. p. 242. 2004. OLIVEIRA, J.V. et al. 2007. Seletividade de alguns inseticidas na população de aranhas em arroz irrigado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 5, REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 27, Pelotas, 2007. Anais... Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2007. p.118-120. RODRIGUES, E.N.L; MENDONÇA,Jr, M.de S; OTT,R. Fauna de aranhas (Aracnida, Araneae) em diferentes estágios do cultivo de arroz em Cachoeirinha, RS, Brasil. Heringa, Série Zoologia. Porto Alegre, 98(3): 362-371, 2008. SAAVEDRA E.C; FLÓREZ E. D.; FERNÁNDEZ C.H. 2007. Capacidad de depredación y comportamiento de Alpaida veniliae (Araneae: Araneidae) en el cultivo de arroz. Revista Colombiana de Entomología 33:74-76 SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO. 2016. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. Pelotas: SOSBAI. 197 p. STENERT, C; SANTOS, E.M; MALTCHIK, L. 2004. Levantamento da diversidade de macroinvertebrados em areas úmidas do RS, Brasil. Acta Biologica Leopoldensia 26: 225-240.

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DANO DE Diatraea saccharalis EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO

NA FRONTEIRA OESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Mateus Silveira Lorenset¹; Eloá Matos dos Santos²; Fernando Mateus Werner³; Fernando Felisberto da

Silva4; Nelson Cristiano Weber

5.

Palavras-chave: produtividade, broca-do-colmo, Oryza sativa.

INTRODUÇÃO

Estima-se que a produção nacional de arroz irrigado foi de 10,8 milhões de toneladas na safra 2017, no qual o estado do Rio Grande do Sul (RS) colaborou com aproximadamente 8,5 milhões, ou seja, mais de 78% da produção nacional de arroz irrigado (CONAB, 2017). A região da Fronteira Oeste produz em média 30% do arroz irrigado do estado, obtendo destaque nacional na produção do grão (IRGA, 2017).

Embora a região possua uma média de produção alta, fatores como as condições fitossanitárias, podem causar oscilações na produtividade das lavouras. Dentre tais fatores, destaca-se a presença dos insetos-praga, os quais podem acarretar danos de 10 a 30% na produção final. Uma destas pragas é a Diatraea saccharalis (Fabr., 1794) (Lepidoptera: Crambidae),encontrada em todo o Brasil e causando infestações em diversas gramíneas na região Centro-Oeste e Norte. Esporadicamente ocasiona danos em lavouras de arroz nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Martins et al., 2009; Ferreira & Barrigossi, 2002). No entanto, sua ocorrência vêm elevando-se no Rio Grande do Sul nas últimas safras, ocasionando danos ainda pouco quantificados, principalmente na região da Fronteira Oeste.

As reduções de produtividade, causadas pela lagarta de D. saccharalis na cultura do arroz, derivam de danos diretos decorrentes da formação de galerias no interior do colmo da planta, reduzindo consequentemente o fluxo de seiva, além de tornar as plantas mais suscetíveis ao tombamento pela ação do vento e chuvas; ou indiretos, quando os orifícios, oriundos da formação das galerias, favorecem a penetração de microrganismos fitopatogênicos no interior da planta (GALLO et al., 2002).

A severidade de infestação de D. saccharalis nas lavouras de arroz depende de diversos fatores, destacando-se principalmente a suscetibilidade da cultivar à praga, o potencial de controle natural na área, estágio fenológico da cultura e a proximidade com outros hospedeiros infestados (Ferreira et al., 2001).

Dos fatores que dificultam o monitoramento e controle da praga, destacam-se o hábito do inseto e a visualização do dano causado. Os principais sintomas que evidenciam o ataque são “coração-morto” e “panícula-branca”, que são percebidos quando o dano no interior do colmo já foi causado, seja na fase vegetativa ou reprodutiva, respectivamente, tornando-se difícil exterminar as lagartas que estão no interior da planta.

Além disso, outro aspecto importante a ser ressaltado é que o número de colmos atacados, que possivelmente já ocasionaram reduções na produtividade, é sempre superior ao número de colmos que manifestam os dois principais sintomas citados anteriormente, dificultando ainda mais o controle da praga (Ferreira & Barrigossi, 2002). _________________________________________________________________________ ¹Acadêmico do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui, Av. Luis Joaquim de Sá Britto, s/n, Itaqui-RS, [email protected]. ²Acadêmica do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui. ³ Acadêmico do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui. 4Dr. Engº. Agrº. Professor, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui.

5 Engº Agrº. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia/Sanidade Vegetal – Universidade Federal do Rio

Grande do Sul/UFRGS.

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Considerando o potencial de dano possivelmente subestimado desta espécie na cultura,

devido ao seu difícil monitoramento e controle, sobretudo em uma das principais regiões produtoras de arroz como a Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, objetivou-se com o trabalho a avaliação do dano causado de D. saccharalis em uma lavoura de arroz irrigado.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em uma lavoura comercial de arroz localizada no município de Itaqui (29° 07’ 31’’S e 56° 33’ 11’O), na região da Fronteira Oeste do RS. Segundo a classificação de Köppen-Geiger, o clima da região é definido como subtropical, temperado quente, com chuvas distribuídas e estações bem definidas. O solo predominante na região é o Plintossolo argilúvico eutrófico, apresentando declividade em torno de 3,5% e altitude média de 57m (Gass et al., 2015).

A cultivar implantada na área foi a IRGA 424, utilizando-se de 60 kg.ha-1 de sementes

para semeadura realizada no dia 29 de setembro de 2016, em sistema convencional. Para adubação de base, foi utilizado 400 kg.ha

-1 da formulação 5-20-25 de N-P-K. A aplicação de

nitrogênio em cobertura foi realizada no estádio V3/V4, com o emprego de 72 kg.ha-1. Foi

utilizado na área a aplicação dos herbicidas benzotiadiazinona (1,6 L.ha-1) e

isoxazolidinonas (1,2 L.ha-1) para controle de plantas daninhas, conforme recomendações

para a cultura. Nesta lavoura realizou-se uma análise visual prévia da ocorrência dos danos,

selecionando-se um talhão de 2,25ha que melhor representou a área total. Para a coleta das amostras, foram marcados 10 pontos georreferenciados, distanciados entre si 50 m, a partir de 5 m da borda da lavoura, para posterior corte e retirada das plantas.

O corte e coleta das plantas ocorreram quando as mesmas se encontravam em estágio R8, ou seja, no ponto de colheita conforme escala proposta por Counce et al. (2000). Cada ponto foi alocado sobre as curvas de nível (taipas), onde se realizou o corte rente ao solo de um metro linear de plantas.

As amostras coletadas a campo foram transportadas para o laboratório de Entomologia da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Campus Itaqui, para a posterior análise e verificação da presença do dano de D. saccharalis nos colmos das plantas. Todos os colmos com a presença de danos foram seccionados para verificação da presença ou ausência das lagartas. Posteriormente, realizou-se a separação e a pesagem das panículas pertencentes a plantas com colmos atacados e colmos saudáveis, para decorrente comparação de produção entre as mesmas.

A estimativa da redução na produção em cada ponto foi dada pela fórmula: RP= ((PPS-PPA)/PPS)*100. Onde “PPS” e “PPA” representam, respectivamente em gramas, o peso das panículas saudáveis e o peso das panículas atacadas e “RP” a redução na produção em porcentagem. A porcentagem de colmos atacados pela broca foi calculada através da razão percentual entre total de colmos atacados e o total de colmos coletados em cada ponto amostrado. As panículas sem presença de grãos, classificadas como “panículas brancas”, foram inseridas aos cálculos com as suas respectivas quantidades e peso, sendo os seus pesos representados pelo valor zero.

A partir dessas variáveis construiu-se a regressão linear, posteriormente utilizada para obter o modelo estimador da redução de produção (RP) quando relacionada com a percentagem de colmos atacados (PCA) em um metro linear de plantas na lavoura. A equação representativa da regressão linear foi obtida através do auxílio do software “Bioestat-versão 5.3” (Ayres et al., 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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A redução média na produção (RMP) foi de 23,05%, com a porcentagem média de colmos atacados (MCA) de 12,68% por D. saccharalis. Os desvios padrão dos valores que representavam a RMP e MCA foram, respectivamente, de 15,00% e 6,37%, demonstrando de tal modo que interiormente em uma mesma lavoura é possível a obtenção de valores distintos de infestações e consequentemente danos variados. Dentre os dados analisados, se obteve a variação da porcentagem de colmos atacados por metro linear de 5,55% até 27,56%, apresentando reduções na produção, respectivamente, de 18,74% e 58,60%.

Para a produção, calculada para a área de aproximadamente 10.095 kg.ha-1, tais

reduções equivaleriam à 1.891 até 6.390 kg.ha-1. Essas reduções, convertidas em reais (R$

38,91 por saca), representariam aproximadamente 1.471,00 R$.ha-1 (18,74% de redução) e

4.972,00 R$.ha-1 (58,60% de redução), demonstrando de tal forma a importância do controle

da praga para o agricultor se preservar de futuros danos econômicos expressivos. A análise de regressão da porcentagem de panículas com colmos atacados, com a

porcentagem de redução da produção, forneceu o seguinte modelo linear: RP = 1,7846PCA + 0,6498, (R²=0,5744; p≤0,01; n=10). Com a inserção da reta no ponto de intersecção, ou seja, considerando que com nenhuma infestação não haveriam perdas, foi possível a obtenção da equação RP = 1,8232PCA (R²=0,5741; p≤0,01; n=10). Este modelo possibilitou a elaboração da Tabela 1.

Tabela 1. Estimativa de perda de produção de grãos em função do grau de colmos

atacados (%) por Diatraea saccharalis em lavoura de arroz irrigado, com produtividade

esperada de 10.095 kg.ha-1.

Colmos infestados (%.m

-1)

Redução na Produção

(%.ha-1) (Kg.ha

-1)

0 0 0

5 9,12 920,26

10 18,23 1.840,52

15 27,35 2.760,78

20 36,46 3.681,04

25 45,58 4.601,30

30 54,70 5.521,56

35 63,81 6.441,82

40 72,93 7.362,08

45 82,04 8.282,34

50 91,16 9.202,60

Em trabalho realizado por Ferreira et al. (2004), avaliando o dano de D. saccharalis em 24 cultivares diferentes de arroz em Rio Verde (GO), obteve uma porcentagem média de panículas de colmos atacados de 62,8%, sem apresentar diferença significativa entre as cultivares, e redução média na massa das panículas de colmos atacados de 27,29%, obtendo diferença entre as cultivares estudadas. Valores estes, superiores aos encontrados no presente estudo. Para a porcentagem de panículas brancas, o valor médio citado pelos autores foi de 3,3%, e no decorrente trabalho se obteve o valor médio de 5,6%. Quando

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comparados aos valores citados anteriormente, no presente estudo observa-se menor incidência de colmos atacados, porém com a redução média de produção significativamente mais elevada.

Da mesma forma que, Ferreira & Barrigossi (2002), em trabalho realizado em Antônio de Goiás, GO, analisando porcentagem de infestação de D. saccharalis em colmos de arroz e relacionando com reduções na produção, constatou valores médios de 58,3% dos colmos atacados e 17,7% na redução da produção do grão. Novamente apresentando o valor médio da porcentagem de colmos atacados maior e redução na produção menor que os valores obtidos no presente trabalho (Tabela 1). Ressalta-se ainda a necessidade da condução de novos estudos que possam contribuir para a real quantificação dos danos deste inseto nas lavouras do Rio Grande do Sul.

CONCLUSÃO

Pelo modelo proposto, espera-se uma redução de 1,82% na produção de grãos para cada 1% de colmos atacados por D. saccharalis em lavoura de arroz irrigado na Fronteira Oeste do RS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYRES, M. et al. Bioestat 5.0: aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém: IDSM, 2007. 364p COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Acompanhamento da safra brasileira de grãos. v.3, n.9, Jun. 2017. COUNCE, P.A. et al. Uniform and adaptative system for expressing rice development. Crop Science, Madison, v.40, p. 436-443, 2000. FERREIRA, E.; BARRIGOSSI, J.A.F. Orientação para o controle da Broca-do-colmo em Arroz. Embrapa CNPAF (Comunicado técnico, n. 51), Santo Antônio de Goiás-GO, Dezembro, 2002, 4p. FERREIRA, E. et al. Perdas de produção pela broca-do-colmo (diatraea saccharalis fabr.1794) (lepidoptera: pyralidae) em genótipos de arroz de terras altas. Rio Verde, Pesquisa Agropecuária Tropical. 2004. FERREIRA, E. et al. Broca-do-colmo nos agroecossistemas de arroz do Brasil. Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás. 2001. 42 p. (Documentos 114). GALLO, D. et al. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p. GASS, S. L. B. et al. Estruturação do banco de dados e caracterização básica do município de Itaqui, RS, Brasil, para fins de seu Zoneamento Ecológico-Econômico. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO (SBSR), 17, João Pessoa-PB. Anais... João Pessoa-PB, 2015. p. 4073-4081. INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA). Evolução da colheita 2016/17. Disponível em: < http://www.irga.rs.gov.br/upload/20170511150840colheita _2016_17.pdf> Acesso em: 23 mai. 2017. MARTINS, J. F. da S. et al. Situação do manejo integrado de insetos-praga na cultura do arroz no Brasil. Pelotas, Embrapa Clima Temperado. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 290), 2009. 40p.

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COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE AMOSTRAGEM DE Tibraca

limbativentris e Oebalus spp. EM ARROZ IRRIGADO

Nelson Cristiano Weber¹; Eloá Matos dos Santos²; Fernando Mateus Werner²; Mateus Silveira Lorenset²;

Ester Souza Galvão Sena²; Fernando Felisberto da Silva³

Palavras-chave: Pentatomidae; percevejos; monitoramento

INTRODUÇÃO

A região Sul do Brasil é a principal produtora de arroz no País, responsável por cerca de 80% da produção. O Rio Grande do Sul (RS) se destaca neste cenário, com 7,520 milhões de toneladas produzidas, representa 70,5% do total no País (CONAB, 2016). A Fronteira Oeste (FO) do RS é a região dentro do Estado que se destaca, produzindo cerca de 2,66

milhões de toneladas do grão, no qual é adotado o cultivo irrigado por inundação, principal sistema utilizado no RS (IRGA, 2017).

Apesar dos incrementos de produção alcançados nos últimos anos, através do emprego de tecnologia em manejos e insumos, a cultura ainda está sujeita a uma série de fatores limitantes de produção, como alterações nutricionais, precipitações pluviométricas, plantas daninhas, etc (Reunião, 2014). Neste contexto, a incidência de insetos-pragas assume importante papel no desempenho produtivo da cultura e na quantidade e qualidade do produto colhido, com perdas que podem comprometer até 30% da produtividade (Martins et al., 2009).

Entre os insetos-pragas que atacam o arroz, o percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) pode ocorrer tanto na fase vegetativa como reprodutiva da cultura, causando os sintomas conhecidos como coração morto e panícula branca, respectivamente (Martins et al., 2009). Já os percevejos-dos-grãos (Oebalus poecilus e Oebalus ypsilongriseus) atacam na fase reprodutiva, podendo causar perdas diretas (quantitativas e qualitativas) e indiretas, durante o beneficiamento (Ferreira et al., 2001).

Para definição da melhor estratégia de controle destes insetos-pragas, é imprescindível a utilização de métodos de amostragens precisos e aplicáveis pelos produtores, que permitam inferir de forma correta e eficiente a real população de percevejos na lavoura. Tais métodos devem permitir ainda, a definição dos índices de danos adotados, que são balizadores das técnicas do manejo integrado de pragas (MIP), visando a racionalização do uso de agrotóxicos e uma produção agrícola mais sustentável.

Neste sentido, objetivou-se neste trabalho, comparar diferentes métodos de amostragens indicados para os principais percevejos que atacam a cultura do arroz irrigado, e determinar qual melhor método para cada espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Realizaram-se amostragens semanais em um talhão com 6,75 hectares de uma lavoura comercial de arroz irrigado, localizada no município de Itaqui (RS) (29° 07’ 31’’S e 56° 33’ 11’O), semeada com a cultivar IRGA 424 manejada conforme as recomendações técnicas para a cultura (Reunião, 2014). O clima da região é classificado como “Cfa”, segundo Köppen-Geiger (1939). O tipo de solo predominante é o Plintossolo argilúvico eutrófico, com declividade média de 3,5% e altitude média de 57 m (Gass et al., 2015). _________________________________________________________________________ ¹Engº Agrº. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia/Sanidade Vegetal – Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712 - Porto Alegre/RS. [email protected]. ²Acadêmico do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui. ³ Dr. Engº. Agrº. Professor, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui.

As amostragens compreenderam o período de 09/12/2016 a 23/02/2017 (fases fenológicas de V3 a R8 (Counce et al., 2000)), totalizando 11 ocasiões amostrais. Foram

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geoposicionados 48 pontos sob as taipas em um grid regular com 50 metros equidistantes. Como métodos de amostragem utilizou-se a observação visual em 1 m² delimitado por armação de madeira e a rede entomológica de varredura. A amostragem visual foi realizada observando-se as plantas de cima a baixo por 5 min no estádio vegetativo e 10 min no reprodutivo. Para a realização da varredura utilizou-se rede entomológica com aro de 38 cm de diâmetro e cabo de 1 m de comprimento, com 10 golpes pendulares em direção linear à taipa em cada ponto.

Os insetos coletados em cada método e em cada ponto foram acondicionados em recipientes de plástico e conduzidos ao Laboratório de Entomologia da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) para a especiação e separação quanto ao estágio de vida, se ninfa ou adulto.

Para a identificação dos espécimes foram utilizadas as chaves apresentadas por Fernandes & Grazia (1998) para o gênero Tibraca e de Sailer (1944) para o gênero Oebalus. Os dados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk, as médias foram comparadas pelo teste de Mann-Whitney (não paramétrico), todas as análises foram processadas pelo software estatístico BioEstat (Ayres et al., 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados ao total 232 percevejos, sendo 53 e 11, 30 e 96 e 11 e 48 ninfas e adultos das espécies Tibraca limbativentris, Oebalus poecilus e O. ypsilongriseus, respectivamente.

O método da rede de varredura foi o que permitiu capturar maior número de percevejos adultos associados aos grãos (Oebalus spp.), independentemente da espécie. Para as ninfas, não houve diferenças significativas entre os métodos visual e rede (Tabela 1).

Tabela 1: Valores médios (±EP) de ninfas e adultos de espécies de percevejos

coletadas por dois métodos de amostragem em lavoura comercial de arroz irrigado (09/12/2016 a 23/02/2017).

Espécies Estágio do inseto Visual Rede

Tibraca limbativentris Ninfa 1,16 (±0,51) a 0,00 (±0,00)

Adulto 0,22 (±0,07) aA 0,02 (±0,02) B

Oebalus poecilus Ninfa 0,25 (±0,10) aA 0,37 (±0,11) bA

Adulto 0,68 (0,24) aB 1,33 (±0,35) aA

Oebalus ypsilongriseus Ninfa 0,06 (±0,03) bA 0,16 (±0,07) bA

Adulto 0,25 (±0,08) aB 0,72 (±0,17) aA

*Médias seguidas por mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha dentro da espécie, não diferem entre si pelo teste U de Mann-Whitney (p = 0,0716).

O fato de se ter capturado mais adultos justifica-se pela posição que as ninfas ocupam na planta, já que inicialmente permanecem próximas a região da postura, apresentando hábito gregário no primeiro instar, sendo que antes de atingir a fase adulta, se alimentam no interior da panícula, como forma de proteção, o que acarreta em maiores dificuldades de captura pela rede.

Tal fato também é visualizado quando comparado as fases de desenvolvimento dos insetos dentro de cada método de amostragem. Para O. ypsilongriseus, tanto no método visual como rede, foi amostrado maior número de adultos do que ninfas. Para a rede, o mesmo comportamento foi apresentado por O. poecilus, onde os adultos foram mais facilmente capturados do que as ninfas.

Em contrapartida, para T. limbativentris e O. poecilus, não houve diferença estatística na captura entre adultos e ninfas quando utilizado o método visual. Tampouco, não foi

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capturado ninfas de T. limbativentris pelo método da rede de varredura. O que é explicado pelo comportamento biológico da espécie, que se alimenta e permanece no colmo nesta fase, não permitindo a coleta pela rede de varredura (Martins et al., 2009).

Entre os estádios fenológicos da cultura, mais de 92% dos indivíduos de T. limbativentris foram amostrados pelo método visual, independentemente da cultura estar em estádio vegetativo ou reprodutivo, sendo que cerca de 80% estavam na fase de ninfa (). Tais dados não correspondem ao indicado nas recomendações (Reunião, 2014), que apontam o método de rede de varredura ser o mais adequado para amostragem de T. limbativentris na fase reprodutiva da cultura.

Figura 1. Distribuição da frequência absoluta de ninfas e adultos de espécies de percevejos coletadas por dois métodos de amostragem em lavoura comercial de arroz irrigado, durante o período vegetativo (09/12/2016 a 04/01/2017) e reprodutivo (12/01 a 23/02/2017). T. limbativentris (A), O. poecilus (B), O. ypsilongriseus (C) e O. poecilus+O. ypsilongriseus (D).

A rede de varredura é o método que melhor se adequa para amostragem de Oebalus

spp., independente da espécie. Os valores elevados desta espécie já no período vegetativo da cultura podem ser explicados em função da infestação da lavoura em plantas hospedeiras alternativas ao arroz, como o capim arroz (Echinochloa spp.) (Ferreira et al., 2001). Tal fato indica que o monitoramento destas espécies de insetos-pragas deve ser feito antecipadamente à fase mais suscetível da cultura.

Barrigossi et al. (2008) em trabalho avaliando um programa de amostragem sequencial para estes percevejos, utilizando rede de varredura, apontam que eles não apresentam comportamento de agregação na lavoura, embora podem se concentrar em regiões específicas em função da qualidade do alimento presente.

Já Espino et al. (2008), em estudo sobre planos de amostragens com O. pugnax no Colorado (EUA), indicam que o método mais eficiente e aplicável é o visual com auxílio de movimentação das panículas com um suporte de cabo longo. Considerando a dificuldade de monitoramento encontrada dentro da lavoura de arroz irrigado, tal alternativa pode contribuir com os tradicionais métodos recomendados na literatura.

CONCLUSÃO

O método de amostragem para T. limbativentris que apresentou melhor desempenho é o visual, tanto para ninfas como adultos, independente da fase ser vegetativa ou reprodutiva. Para as espécies de Oebalus spp., comuns na região, a rede de varredura é o

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que melhor se adequa tanto na fase vegetativa como reprodutiva da cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYRES, M.; AYRES, J. R. M.; AYRES D. L.; SANTOS A. S. BioEstat 5.0 - Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém: Sociedade Civil Mamirauá, 2007. 364p.

BARRIGOSSI, J. A. F.; COUTO, D.; SOARES, D. M.; SANTIAGO, C. M. Programa de amostragem seqüencial para o manejo do percevejo do grão do arroz (Oebalus spp.) em arroz. In: SIMPÓSIO SOBRE INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE CIENTÍFICA NA EMBRAPA, 1., 2008, Barrigossi. Anais... Brasília, DF: Embrapa Arroz e Feijão, resumos, 2008. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Acompanhamento da safra brasileira de grãos. v.3, n.9, Jun. 2016. COUNCE, P. A.; KEISLING, T. C.; MITCHELL, A. L., A Uniform and adaptative system for expressing rice development. Crop Science, Madison, v.40, p. 436-443, 2000. ESPINO, L.; WAY, M. O.; WILSON, L. T. Sequential sampling plans for sweep net and visual sampling of Oebalus pougnax in rice. Southwestern entomologist. v. 33, n. 1, 53-64, 2008. FERNANDES, J. A. M.; GRAZIA, J. Revision of the genus Tibraca Stål (Heteroptera, Pentatomidae, Pentatominae). Revista brasileira de zoologia. v.15, n.4, 1049-1060, 1998. FERREIRA, E.; BARRIGOSSI, J. A. F.; VIERA, N. R. A. Percevejos das panículas do arroz: fauna heteroptera associada ao arroz. Embrapa CNPAF (Circular técnica, n. 43), Goiânia- GO, 2001, 52 p. GASS, S. L. B. et al. Estruturação do banco de dados e caracterização básica do município de Itaqui, RS, Brasil, para fins de seu Zoneamento Ecológico-Econômico. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO (SBSR), 17, João Pessoa-PB. Anais... João Pessoa-PB, 2015. p. 4073-4081. INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA). Evolução da colheita 2016/17. Disponível em: < http://www.irga.rs.gov.br/upload/20170511150840colheita _2016_17.pdf> Acesso em: 13 mai. 2017. KÖPPEN, W; GEIGER, R. Handbuch der Klimatologie, Berlin: G, Borntraeger, v.6, 1939. MARTINS, J. F. S. et al. Situação do manejo integrado de insetos-praga na cultura do arroz no Brasil. Pelotas, Embrapa Clima Temperado. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 290), 2009. 40p. REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o sul do brasil. Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado, Bento Gonçalves, 2014. 192 p. SAILER, R. I. The genus solubea (Heteroptera : Pentatomidae). Proceedings of the entomological society of Washington. v.46, n.5, 105-127, 1944.

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DANOS CAUSADOS POR Tibraca limbativentris EM ARROZ

IRRIGADO NA FRONTEIRA OESTE DO RS

Eloá Matos dos Santos1; Mateus Silveira Lorenset

2; Nelson Cristiano Weber

3; Fernando Mateus

Werner²; Ester Souza Galvão Sena²; Fernando Felisberto da Silva4

Palavras-chave: Danos, percevejo-do-colmo, produção.

INTRODUÇÃO

O arroz, Oryza sativa L., é um cereal cultivado e consumido em todas as partes do mundo. Com a previsão do aumento da população mundial para os próximos anos estima-se uma maior demanda desse grão (FRITZ, 2008). No Brasil é considerada uma cultura pioneira e é cultivada em todas as regiões, porém a maior parte de sua produção concentra-se em poucos estados (MIRANDA et al.,2009). De acordo com um levantamento recente realizado pela CONAB (2017), aproximadamente 81% da produção nacional do arroz pertence a região sul. Somente o Rio Grande do Sul contribui com 70,5% da produção nacional (CONAB,2016), sendo a região da Fronteira Oeste responsável por cerca de 30% desse total, recebendo assim destaque nacional como produtora do grão.

As condições edafoclimáticas da região são favoráveis para a atividade, porém próprias para ocorrência de diversas pragas e doenças. Os danos causados por pragas são um dos principais fatores que afetam a produtividade e rentabilidade da orizicultura irrigada no país, impedindo assim que as cultivares atualmente no mercado expressem todo seu potencial produtivo (MACHADO et al., 2011). Dentre as principais pragas da cultura destaca-se o Tibraca limbativentris Stal, 1860 (Hemiptera: Pentatomidae), ou percevejo-do-colmo. Sendo o segundo inseto de maior importância econômica no cultivo irrigado do Sul do país, causa os sintomas identificados como “coração-morto” na fase vegetativa e “panícula branca” na fase reprodutiva (SOSBAI, 2016).

A elevada incidência desta praga na Fronteira Oeste do RS pode ser justificada pela maior inclinação das lavouras de arroz, devido ao expressivo número de taipas utilizadas. Uma vez que a cultura também é semeada nessas estruturas ocorre o favorecimento do desenvolvimento da praga pela ausência de lâminas d'água (MARTINS et al., 2009).

O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito dos danos causados por T. limbativentris sobre a produção de uma lavoura comercial de arroz irrigado na Fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em lavoura comercial de arroz irrigado localizada no município de Itaqui (29° 07’ 31’’S e 56° 33’ 11’O), na Fronteira Oeste do RS. Segundo a classificação de Köppen-Geiger, o clima da região é definido como subtropical, com chuvas distribuídas ao longo do ano e estações bem definidas. O solo predominante na região é o Plintossolo argilúvico eutrófico, apresentando declividade em torno de 3,5% e altitude média de 57 m (Gass et al., 2015). A área foi semeada no dia 29 de setembro de 2016, com 60 Kg/ha de sementes da Cultivar IRGA 424. Para adubação de base, foi aplicado 400 kg/ha da formulação 5-20-25 de N-P-K. Quando as plantas estavam em estágio V3/V4 realizou-se adubação nitrogenada em cobertura com 72 kg/ha de N.

As amostras foram coletadas em 10 pontos equidistantes (50 m) e georreferenciados, a partir de 5 m da borda da lavoura, perfazendo um quadrante que delimitava uma área total de 2,25 ha, para posterior corte e retirada das plantas. As plantas foram cortadas rente ao

1 Acadêmica do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA. Rua Luiz Joaquim de Sá Brito -

Promorar, Itaqui – RS. [email protected] 2 Acadêmico do curso de Agronomia, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA.

3 Engº Agrº. Mestrando, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS.

4 Dr. Engº. Agrº. Professor, Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA, Campus Itaqui

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solo, dentro de um metro linear, quando se encontravam em estágio R8, ou seja, no ponto de colheita conforme escala proposta por Counce et al. (2000). As mesmas foram armazenadas em sacos identificados de acordo com os pontos coletados e transportadas para o Laboratório de Entomologia da Universidade Federal do Pampa, Campus Itaqui, onde procedeu-se a análise e verificação da presença do dano de T. limbativentris nos colmos das plantas. A estimativa da redução na produção em cada ponto foi dada pela fórmula: RP= ((PPS-PPA)/PPS)*100. Onde “PPS” e “PPA” representam, respectivamente em gramas, o peso das panículas saudáveis e o peso das panículas atacadas, e “RP” a redução na produção em porcentagem. A percentagem de colmos atacados pelo percevejo foi calculada através da razão percentual entre total de colmos atacados e o total de colmos coletados em cada ponto amostrado. A partir dessas variáveis construiu-se a regressão linear, utilizada para obter o modelo estimador da redução de produção (RP) quando relacionada com a percentagem de colmos atacados (PCA) em um metro linear de plantas na lavoura. A equação representativa da regressão linear foi obtida através do auxílio do software “Bioestat 5.3” (Ayres et al., 2007)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente estudo observou-se duas situações: presença de colmos atacados que produziram panículas e colmos atacados que não produziram panículas. Ambas as situações podem ser evidências dos danos do percevejo, uma vez que, na segunda situação, pode ter ocorrido algum distúrbio fisiológico na planta que impediu a formação das mesmas, em decorrência do ataque do inseto. Desta forma, considerou-se e discutiram-se os resultados apresentando as duas situações.

No primeiro caso, a regressão linear foi significativa para a combinação entre percentagem de colmos atacados com panículas e a percentagem de redução da produtividade. A partir de 5% de ataques nessas amostras verificou-se uma redução de 1,8% na variável produtividade. A maior percentagem encontrada nas amostras para colmos atacados por T. limbativentris foi de 76,92% resultando em uma diminuição da produtividade, 34,91% (Figura 1).

Figura 1. Redução na produtividade em função da porcentagem de colmos atacados por T.

limbativentris que emitiram panículas.

Incluindo-se a percentagem total de colmos atacados (colmos com panículas + colmos

sem panículas), verificou-se resultados semelhantes a primeira avaliação (Figura 2). No entanto, é possível observar um incremento na redução da produtividade ha

-¹ para as

mesmas percentagens de colmos atacados, fato que talvez se justifique pela inclusão dos colmos de plantas sem panículas nesta avaliação. Para 5 e 76,92% de colmos atacados obteve-se perdas de 2,71% e 54,98%, respectivamente, na produtividade ha

-¹.

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Figura 2. Redução na produtividade em função da porcentagem total de colmos atacados por T. limbativentris (colmos com e sem panículas emitidas).

Os resultados obtidos corroboram com os encontrados por SCELZO et al (2013) em seu trabalho sobre avaliação do dano de T. limbativentris a duas cultivares de arroz irrigado em dois estádios de desenvolvimento vegetativo, onde os principais componentes de produtividade do arroz irrigado foram influenciados significativamente pela infestação de do percevejo. No presente estudo fica a necessidade de aprimoramento nas formas de avaliação dos reais danos que o inseto causa à cultura, seja pela redução do peso das panículas ou por simplesmente provocar a sua não emissão, embora não relatado pela literatura. Desta forma, pode estar ocorrendo uma subestimação dos danos causados por este inseto nas lavouras de arroz irrigado.

CONCLUSÃO

O ataque de T. limbativentris em colmos de plantas de arroz irrigado influencia a produtividade da cultura, em função dos danos causados pela praga, seja diminuído o peso das panículas ou provocando sua não emissão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Acompanhamento da safra brasileira de grãos-Oitavo levantamento, v. 4 Safra 2016/17 Brasília, p. 1-144 maio 2017. FRITZ L.L, et al. Agroecossistemas orizícolas irrigados: insetos-praga, inimigos naturais e manejo integrado. O Ecologia Brasileira. 12 720-732, 2008. MARTINS, J.F. da S.; BARRIGOSSI, J.A.F.; OLIVEIRA, J.V. de; Cunha, U.S. da Cunha. Situação do manejo integrado de insetos-praga na cultura do arroz no Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009. 40 p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 290). MARTINS, J.F. da S.; BARRIGOSSI, J.A.F.; OLIVEIRA, J.V. de; CUNHA, U.S. da. Situação do manejo integrado de insetos-praga na cultura do arroz no Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009. 40 p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 290). MIRANDA, S. H. G.; SOUZA, G. de; BRAGHETTA, S. M. A. N. S.; MORAES, H. O. A Cadeia Agroindustrial Orizícola do Rio Grande do Sul. Análise Econômica, v. 27, n. 52, p. 75-96. REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO. Arroz irrigado:

recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. SOSBAI-Sociedade Sul-

Brasileira de Arroz Irrigado. Pelotas, 2016. SCELZO, A. C.; FREITAS, T. F. S. de. Avaliação do dano de Tibraca limbativentris a duas cultivares de arroz irrigado em dois estádios de desenvolvimento vegetativo. CBAI2013 - Santa Maria, RS, 2013. Disponível em:

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CONTROLE QUÍMICO DO PERCEVEJO Oebalus poecilus (HEMIPTERA:

PENTATOMIDAE) NA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO

Érika Nogueira Muller1 ; Danie Martini Sanchotene2; Cinthia Borges Leon3; Eduardo Pereira Shimoia4;

Sandriane Neves Rodrigues5; Maicon Pivetta6; Mariane Peripolli7; Higor Modesto Garlet Voss8

Palavras-chaves: Percevejo-do-grão, inseticidas, manejo integrado de pragas.

INTRODUÇÃO

O arroz (Oryza sativa L.) se destaca por ser um dos cereais mais cultivados do mundo,

sendo base da alimentação de boa parte da população mundial (Copatti et al., 2009) é

considerada uma das culturas mais importantes do estado do Rio Grande do Sul, maior

estado produtor do cereal na safra 2016/17. A Região Sul foi responsável por cerca de

81,6% da produção nacional onde, a área plantada foi de 1.267,8 mil hectares, ocorrendo

aumento do plantio em área irrigada, o que ajuda a explicar o aumento de produtividade em

15,5%. A produção deve chegar a 11.968,1 mil toneladas, um aumento de 12,8% em

relação à safra passada. A Região foi responsável por cerca de 81,6% da produção

nacional, com um incremento de 1,9% de área em relação à safra anterior (CONAB, 2017).

No entanto, a cultura do arroz é alvo de pragas e entre as diversas espécies destaca-se os

Oebalus poecilus, vulgarmente conhecido como percevejo-do-grão, e pode ser encontrado

em todas as regiões do Brasil (DALLAS 1851). Os insetos localizam-se principalmente nas

panículas, durante o período de desenvolvimento das espiguetas, nas quais, pela

alimentação direta, provocam reduções quantitativas e qualitativas (FERREIRA &

MARTINS, 1985; MARTINS et al., 1989; OLIVEIRA & KEMPF, 1989; FERREIRA, 1998;

VIEIRA et al.,1999). Os percevejos-do-grão são caracterizados por apresentarem manchas

amarelas em formato de meia lua na parte dorsal e três manchas amarelas no escutelo

(EMBRAPA, 2008). Conforme Oliveira et al. (2010) o ataque do percevejo diminui o poder

germinativo dos grãos, faz com que os mesmos fiquem mais leves e quebrem facilmente

durante o beneficiamento. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi comparar

diferentes doses de um inseticida no controle do Oebalus poecilus, para obtenção de

informações que sirvam de orientação para o uso no contexto do manejo integrada de

pragas, na cultura do arroz irrigado.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido no município de Itaqui - RS na safra agrícola 2015/2016. A semeadura da cultura ocorreu de maneira mecanizada, sendo realizada no dia 15 de dezembro de 2015, com a cultivar Guri Intá CL, densidade de semeadura de 100 kg de sementes.ha-1.

1 Graduanda em Agronomia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus Santiago, Av. Batista Bonoto Sobrinho n:733, Santiago, RS, Brasil. E-mail: [email protected]; 2 Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor titular do Departamento de agronomia, URI Campus Santiago; 3 Graduanda em Agronomia, UFSM 4 Graduando em Agronomia, URI 5 Mestre em Agrobiologia, UFSM 6 Graduando em Agronomia, UFSM 7 Graduanda em Agronomia, UFSM 8 Mestrando em Agrobiologia, UFSM

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A adubação de base utilizada foi de 320 kg.ha-1 do adubo formulado 05-20-20, A adubação de cobertura utilizada foi 200 kg.ha-1 de ureia (46-00-00) parcelado em duas aplicações, a primeira com 120 kg.ha-1 no perfilhamento e a segunda com 80 kg.ha-1 na diferenciação do primórdio floral. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro repetições. A unidade experimental foi constituída de parcelas com 18 m2 (3 metros de largura e 6 metros de comprimento). A taxa de aplicação foi de 200 L.ha-1. No momento da aplicação dos tratamentos inseticidas observou-se a presença de adultos do inseto-praga. A aplicação dos tratamentos foi realizada no dia 17/03/2016, no estágio 71 (maturação aquosa) da escala BBCH.

As avaliações foram realizadas previamente (anterior a aplicação dos tratamentos) e ao 01, 03, 07 e 15 DAA (dias após aplicação dos tratamentos), através da contagem número de percevejos vivos (ninfas e adultos) nas duas linhas centrais da parcela. Os resultados apresentam a média de indivíduos avaliados em 4 amostragens por parcelas (1 m2). A eficácia foi calculada pela fórmula de Abbott (1925). Para a avaliação de produtividade (kg.há-1), realizou-se a colheita no dia 12/04/2016 através da colheita manual em dois metros quadrados de cada parcela.

Os parâmetros avaliados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P≤0,05), pelo programa SASM-AGRI.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a aplicação verificou-se uma redução na população do percevejo-do-grão na área experimental devido à aplicação de inseticida realizada quando comparado com a testemunha sem aplicação, sendo que, nas demais avaliações realizadas, aos 03, 07, 10 e 15 dias após a aplicação, a população de O. poecilus se manteve em decréscimo.

A Tabela 1 apresenta os dados médios referentes ao número de indivíduos de Oebalus poecilus por parcela, previamente e ao 01, 03, 07, 10 e 15 DAA (dias após a aplicação dos tratamentos), A partir da análise da tabela 1, nota-se que houve diferença significativa, pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade de erro, entre os tratamentos onde realizou-se a aplicação de inseticidas e a testemunha sem aplicação.

Tabela 1. Avaliação do número de percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) vivos quando submetidos a aplicação dos tratamentos inseticidas na cultura do arroz irrigado. Itaqui - RS 2015/2016

Tratamentos1 Dose ml

/ha

Número de percevejos vivos2

Prévia 1

DAA3

3 DAA

7 DAA

10 DAA

15 DAA

1. Testemunha - 2,25a4 2,25a 2,75a 3,0a 3,25a 4,0a

2.Tiametoxam + Lambda-cialotrina

50 2,25a 1,0ab 1,0b 1,0b 1,25b 1,25b

3.Tiametoxam + Lambda-cialotrina

100 2,0a 0,75ab 0,75b 0,75b 1,0b 1,0b

4.Tiametoxam + Lambda-cialotrina

150 2,0a 0,5b 0,5b 0,5b 0,75b 0,75b

5.Tiametoxam + Lambda-cialotrina

200 2,75a 0,5b 0,25b 0,25b 0,5b 0,5b

6,Tiametoxam + Lambda-cialotrina

250 2,5a 0,25b 0,0b 0,25b 0,5b 0,5b

CV (%) -- 38,13 82,36 57,45 75,20 55,68 63,73

1 Tratamentos Inseticidas aplicados. 2 Valores referente a amostragem em 2 linhas de arroz, amostrados em 4 pontos – 1m2. 3 Dias Após Aplicação dos tratamentos.

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4 Médias não seguidas pelas mesmas letras nas colunas diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade erro.

Tabela 2. Avaliação da porcentagem de controle do percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) e a produtividade da cultura do arroz irrigado. Itaqui - RS 2015/2016

Tratamentos1 Dose ml/ha

Controle do percevejo-do-grão 3 Produtividade Kg/ha

1 DAA2

3 DAA

7 DAA

10 DAA

15

DAA

1. Testemunha - 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 6802,5a4

2.Tiametoxam + Lambda-cialotrina 50 55,6 63,6 66,7 61,5 68,8 6870,0a

3.Tiametoxam + Lambda-cialotrina 100 66,7 72,7 75,0 69,2 75,0 6800,0a

4.Tiametoxam + Lambda-cialotrina 150 77,8 81,8 83,3 76,9 81,3 6992,5a

5.Tiametoxam + Lambda-cialotrina 200 77,8 90,9 91,7 84,6 87,5 6870,0a

6,Tiametoxam + Lambda-cialotrina 250 88,9 100,0 91,7 84,6 87,5 6995,0a

CV (%) -- - - - - - 7,95

1Tratamentos Inseticidas aplicados. 2 Dias Após Aplicação dos tratamentos. 3 Percentual de controle obtido por cada tratamento aplicado de acordo com Abbott 1925.

A Tabela 2 apresenta a porcentagem média de controle sobre Oebalus poecilus ao 01,

03, 07, 10 e 15 dias após a aplicação dos tratamentos (DAA). Controle eficiente sobre O. poecilus na primeira avaliação realizada, com um dia após a aplicação dos tratamentos inseticidas, foi proporcionado pelo tratamento tiametoxam + lambda-cialotrina apenas na dose de 250 ml.ha-1, o qual apresentou média de controle de 88,9%. Controle eficiente até 15 dias após a aplicação foi proporcionado pelos tratamentos tiametoxam + lambda-cialotrina nas doses de 150, 200 e 250 ml.ha-1, os quais apresentaram médias de controle de 81,3%, 87,5% e 87,5%, respectivamente nesta avaliação. Estes resultados de eficiência agronômica encontrados no controle do percevejo do grão encontrados neste experimento corroboraram por àqueles encontrados por MACHADO et al., 2011, trabalhando com inseticidas neonicotinóides.

Analisando a Tabela 2 verifica-se que a produtividade da cultura do arroz irrigado não obteve diferença estatística pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade, obtendo apenas um acréscimo numérico de acordo com a eficiência do controle sobre Oebalus poecilus proporcionado pelos tratamentos inseticidas avaliados. Esse efeito sobre a produtividade está relacionado principalmente aos danos provocados pela praga sobre as plantas de arroz irrigado, sendo esse dano reduzido nos tratamentos com controle (superior a 80%) quando comparados à testemunha sem aplicação.

A prática do manejo integrado deve envolver todos os princípios e medidas disponíveis e viáveis de controle, através do uso de sementes sadias, rotação de culturas e princípios ativos de inseticidas, doses adequadas, época de semeadura, adubação equilibrada, mas proporcionem um equilíbrio do sistema. Dessa forma, o inseticida avaliado com os ingredientes ativos tiametoxam + lambda-cialotrina nas doses 150, 200 e 250 ml.ha-1pode ser recomendado para integrar uma opção no manejo integrado para controle de Oebalus poecilus na aplicação foliar na cultura do arroz irrigado. Sendo que, priorizando o MIP, não devemos realizar a aplicação do mesmo, na época do florescimento da cultura.

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CONCLUSÕES

O inseticida Tiametoxam + Lambda-cialotrina nas doses de 150, 200 e 250 ml.ha-1 é eficiente (controle superior a 80%) no controle do percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) e acarretou uma redução no número médio de indivíduos vivos quando comparados à testemunha sem aplicação, até 15 dias após a aplicação.

O inseticida Tiametoxam + Lambda-cialotrina nas doses de 150, 200 e 250 ml.ha-1 pode ser recomendado como uma opção de controle químico no manejo integrada da praga em questão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOTT, W.S., A method of computing the effetiviness of na insecticide. Journal of Economic Entomology, Riverside, v.18, p. 265-267. 1925. BBCH Monograph - Growth stages of mono-and dicotyledonous plants. Edited by Uwe Meier, Federal Biological Research Centre for Agriculture and Forestry. Edition 2, 2001. CONAB – COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra brasileira: grãos, oitavo levantamento, maio 2017. Disponível em: < http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/17_05_12_10_37_57_boletim_graos_maio_2017.pdf Acesso em: 28 maio 2017. COPATTI, E. C.; GARCIA, L. O.; BALDISSEROTOO, B. Uma importante revisão sobre o impacto de agroquímicos da cultura de arroz em peixes. Biodiversidade Neotropica, v.9, p.235-242, 2009. EMBRAPA. Manejo do percevejo da panícula em arroz irrigado. Ediçao 1. Santo Antônio de Goiás, GO: EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO - ISSN 1678-9636, 2008. 8p. (EMBRAPA – ISSN. Circular Técnica, 79). EUROPEAN WEED RESEARCH COUNCIL – EWRC. Report of the 3rd, and 4thmeetings of EWRC. Comitte of methods in Weed Research. Weed Res., v. 4, p. 88,1964. FERREIRA, E.; MARTINS, J. F. da S. Insetos prejudiciais às panículas do arroz de sequeiro. Goiânia, Embrapa-CNPAF, 1985. 5 p. (Comunicado Técnico, 18). LINK, D., E. C. COSTA & E. MARCHEZAN. 1987. Avaliação preliminar de diferentes densidades de Oebalus poecilus (Dalla 1851) sobre o rendimento do arroz, p. MACHADO, R.T. et al. Eficiência de inseticidas no controle de percevejo do grão e percevejo do colmo na cultura do arroz irrigado. In: XV simpósio de ensino, pesquisa e extensão/SEPE Unifra, 2011, Santa Maria-RS. Anais... Santa Maria-RS: Editora da Unifra, 2011, p. 1-6. OLIVEIRA, J. V. de; KEMPF, D. Avaliação de danos do arroz irrigado pelo percevejo-do-grão (Oebalus poecilus, Dallas, 1851). In: REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 18., 1989, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Instituto Rio-Grandense do Arroz, 1989. p. 405-409 OLIVEIRA, J. V.; FREITAS, T. F. S.; FIUZ, L. M.; MENEZES, V. G.; DOTTO, G. Manejo de insetos associados à cultura do arroz irrigado. Cachoeirinha: IRGA/Estação Experimental. Seção de Agronomia, 2010. 56 p.: color. (Boletim Técnico, 8). RIBEIRO, C. S. N.; MARTINS, G. V.; GUIMARÃES, J. F. R.; SILVA, E. F. Resistência de genótipos de arroz a pragas de grãos armazenados. Revista Caatinga, v.25, p.183-187, 2012. SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO (Sosbai). Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. Porto Alegre: Sosbai, 2014.

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EFICIÊNCIA DO CONTROLE QUIMICO SOBRE LARVAS DE Oryzophagus oryzae NA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO,

APLICADO VIA TRATAMENTO DE SEMENTES.

Maicon Pivetta1; Danie Martini Sanchotene2; Otávio dos Santos Escobar3; Cinthia Borges Leon4; Érika Nogueira Müller5; Higor Modesto Garlet Voss6 e Mariane Peripolli7 Sandriane Neves

Rodrigues8

Palavras-chave: bicheira-da-raiz do arroz, inseticida, imidacloprido, fipronil, Oryza sativa.

INTRODUÇÃO

O arroz (Oryza sativa L.) é considerado um alimento elementar para a metade da população do mundo. Ele é um dos cereais básicos de maior importância na dieta humana, onde ele representa mundialmente 20% da ingestão de energia e 15% do aporte de proteína (NAVES, 2007). Também, é observado uma importância econômica e social muito forte nessa cultura, principalmente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (WALTER et al., 2008).

O Brasil é o décimo maior produtor de arroz no mundo, onde a safra 2016/2017 teve queda de 17,6% na produção de áreas de sequeiro comparado ao exercício anterior, em contrapartida houve retomada de 4,3% nas áreas irrigadas atingindo um total de 11,96 milhões de toneladas de produção que foram favorecidas pelas condições climáticas. Devido a essa situação as médias de produtividades passaram de 5.280 kg há-¹ para 6.099 kg há-¹ (CONAB, 2017).

Na cultura do arroz irrigado uma das pragas que mais causa danos é a bicheira-da-raiz-do-arroz (Oryzophagus oryzae) (Costa Lima, 1936). A maior lesão causada por esta praga é na fase larval, onde a mesma causa severos danos no sistema radicular, após a entrada da água, causando a morte das plantas. Seus danos podem chegar a 10% de redução na produtividade (MARTINS et al., 1996). Seu ataque é mais severo em sistema de plantio pré-germinado (LIMA, 1951), acarretando em prejuízos que chegam a atingir 25% da produtividade (PRANDO & PEGORARO, 1993).

No tratamento de semente com inseticidas para a cultura do arroz, temos uma predominância no uso de fipronil, que faz parte do grupo químico pirazol (ANVISA, 2005). Extremamente ativo, o fipronil atua no sistema nervoso central do inseto inibindo o receptor do ácido gama aminibutírico (GABA). Imidacloprid é um inseticida sistêmico que pertence à família dos neonicotinoides, ataca o sistema nervoso do inseto e é extremamente eficaz de encontro a várias pragas da sucção e da mineração (SUCHAIL et al., 2001).

O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficiência de fipronil + imidacloprido comparado ao inseticida fipronil aplicado isoladamente, no controle da bicheira-da-raiz-do-arroz (Oryzophagus oryzae), na cultura do arroz-irrigado, aplicado via tratamento de sementes.

MATERIAL E MÉTODOS

1 Acadêmico curso de Agronomia, UFSM – [email protected] 2 Professor Adjunto, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. 3 Mestrando Engenharia Agrícola, UFSM 4 Graduando em Agronomia, UFSM 5 Graduando em Agronomia, URI 6 Mestrando em Agrobiologia, UFSM 7 Graduando em Agronomia, UFSM 8 Mestre em Agrobiologia, UFSM

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O experimento foi conduzido em área comercial situada na cidade de Agudo/RS. Onde as coordenadas geográficas eram latitude 29º34’20,824”, longitude 53º17’17,86” e altitude de 67 metros. O solo da área experimental foi classificado como Planossolos areno-argilosos.

Os tratamentos foram aplicados no dia 07 de dezembro de 2016, via tratamento de sementes e a semeadura foi realizada no dia 08 de dezembro de 2016. A cultivar utilizada foi a 424 RI em sistema de cultivo convencional, com densidade de semeadura de 100 kg.ha-1 e espaçamento entre linhas de 0,17m. Para a adubação foi utilizado 180 kg.ha-1 do adubo formulado 05-20-20. O manejo de dessecação ocorreu 15 dias antes da semeadura utilizando 3 L.ha-1 do herbicida Glifosato. A entrada da água de irrigação ocorreu aos 30 DAS (dias após a semeadura da cultura). O delineamento utilizado foi de blocos ao acaso com parcelas medindo 15 m2. Os tratamentos testados foram: 1) testemunha sem aplicação; 2) fipronil + imidacloprid na dose 100 ml.100 kg sementes-1 (25 + 35 g.i.a/há); 3) fipronil + imidacloprid na dose 150 ml.100 kg sementes-1 (37,5 + 52,5 g.i.a/há); 4) fipronil + imidacloprid na dose 200 ml.100 kg sementes-1 (50 + 70 g.i.a/há); 5) fipronil + imidacloprid na dose 250 ml.100 kg sementes-1 (62,5 + 87,5 g.i.a/há); 6) fipronil na dose 120 ml.100 kg sementes-1 (30 g.i.a/há).

Os tratamentos foram avaliados através da presença de plantas atacadas pelas larvas de Oryzophagus oryzae em quatro amostras cilíndricas de solo e raiz, retiradas de cada unidade experimental, aos 30, 45 e 60 DAE (dias após a emergência da cultura). A avaliação de produtividade da cultura consistiu na colheita manual no dia 27/04/2017 de uma área de dois metros quadrados de cada parcela. Após a colheita realizou-se a trilha e correção da umidade das sementes até atingir uma umidade constante das amostras de 13%.

A avaliação da fitotoxicidade dos tratamentos sobre a cultura consistiu em uma avaliação visual dos sintomas fitotóxicos sobre as plantas através do Modelo de Escala Conceitual da European Weed Research Community – EWRC. Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística com teste de agrupamento de médias Tukey com grau de significância de p≤0,05. As análises foram efetuadas com o Software SASM-Agri.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 3 apresenta a porcentagem de plantas atacadas por Oryzophagus oryzae em quatro amostras por parcela. Nas avaliações realizadas observamos que a presença de plantas atacadas apresentou um crescimento significativo chegando a 100% das plantas avaliadas com dano da praga em questão, aos 45 e 60 DAE (dias após emergência da cultura).

Pode-se inferir que houve diferença estatística significativa pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro entre os tratamentos fipronil + imidacloprido, fipronil e a testemunha sem aplicação. Tabela 3 - Médias de plantas atacadas por Oryzophagus oryzae, na cultura do arroz irrigado. Agudo/RS, 2016/2017.

Tratamentos

Doses (ml.100 kg-1

de sementes)

% de plantas atacadas por Oryzophagus oryzae

30 DAE 45 DAE 60 DAE

1 - Testemunha - 92,5d1 100,0e 100,0e

2 - Fipronil + Imidacloprido 100 28,0c 30,0d 31,5d

3 - Fipronil + Imidacloprido 150 16,25ab 18,5b 20,0b

4 - Fipronil + Imidacloprido 200 14,5ab 15,25ab 17,25ab

5 - Fipronil + Imidacloprido 250 12,25a 13,25a 15,25a

6 - Fipronil 120 20,75b 22,75c 24,75c

CV - 10,09 5,50 5,69 1médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro.

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A Tabela 4 apresenta os resultados médios para controle de Oryzophagus oryzae, com relação ao número de plantas de arroz-irrigado atacadas pela praga. Analisando os resultados presentes na Tabela, pode-se inferir que nas avaliações realizadas aos 30, 45 e 60 DAE o tratamento fipronil + imidacloprido na dose de 100 ml.100 kg-1 de sementes apresentou redução da incidência de plantas atacadas de 68,5% aos 60 DAE, não apresentando controle eficiente sobre a praga.

Tabela 4 - Médias do controle de Oryzophagus oryzae, na cultura do arroz irrigado. Agudo/RS, 2016/2017.

Tratamentos Doses (ml.100 kg-1 de

sementes)

Controle de Oryzophagus oryzae

30 DAE 45 DAE 60 DAE

1 - Testemunha - 0,0 0,0 0,0

2 - Fipronil + Imidacloprido 100 69,7 70,0 68,5

3 - Fipronil + Imidacloprido 150 82,4 81,5 80,0

4 - Fipronil + Imidacloprido 200 84,3 84,8 82,8

5 - Fipronil + Imidacloprido 250 86,8 86,8 84,8

6 - Fipronil 120 77,6 77,3 75,3

CV - - - -

Os tratamentos fipronil + imidacloprido nas doses de 150, 200 e 250 ml.100 kg-1 de

sementes apresentaram controle eficiente (superior a 80%), com médias de 80,0%, 82,8% e 84,8%, respectivamente, sobre Oryzophagus oryzae, aos 60 DAE. Resultados semelhantes de controle de O. oryzae foi observado por COSTA et al., 2006 testando os inseticidas Tiametoxam nas dosagens de 105 e 140g de i.a. 100 kg-1 de sementes, o qual apresentaram percentual de controle superior a 80% podendo ser recomendado para controle de larvas de O. oryzae. O tratamento padrão apenas com o inseticida fipronil na dose 120 ml.100 kg-1 de sementes apresentou redução de plantas atacadas de 75,3% com relação a testemunha sem aplicação, não apresentando eficiência no controle da praga. Não houve diferença estatística para rendimentos de grãos.

Segundo GRÜTZMACHER et al., 2005 os inseticidas fipronil e carbosulfano têm sido identificados como eficientes para controle de O. oryzae por meio do tratamento de sementes realizado cerca de três horas antes da semeadura. Os resultados encontrados por GRÜTZMACHER et al., 2005 divergem daqueles encontrados no experimento principalmente quando analisamos o inseticida fipronil isoladamente. Estes resultados podem estar interligados com a dosagem do tratamento bem como a densidade de infestação do gorgulho na área experimental.

Com relação a fitotoxicidade causada pelos tratamentos sobre as plantas de arroz-irrigado, não foram visualizados efeitos fitotóxicos sobre as plantas de arroz-irrigado, quando submetidos a aplicação na modalidade de tratamentos de sementes com os produtos testados.

A produtividade da cultura do arroz irrigado não obteve diferença estatística pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade, obtendo apenas um acréscimo numérico de acordo com a eficiência do controle sobre Oryzophagus oryzae proporcionado pelos tratamentos inseticidas avaliados. Esse efeito sobre a produtividade está relacionado principalmente aos danos provocados pela praga sobre as plantas de arroz irrigado, sendo esse dano reduzido nos tratamentos com controle (superior a 80%) quando comparados à testemunha sem aplicação.

CONCLUSÃO

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Os tratamentos fipronil + imidacloprido nas doses 150, 200 e 250 ml.100 kg-1 de sementes é eficiente no controle de Oryzophagus oryzae na cultura do arroz irrigado até 60 DAE (dias após emergência da cultura).

O inseticida fipronil na dose de 120 ml.100 kg-1 de sementes apresentou redução da presença de plantas com danos de Oryzophagus oryzae de 75,3% quando comparado com a testemunha sem aplicação. Dessa forma, a aplicação do inseticida fipronil isolado não apresenta controle eficiente sobre a praga em questão.

Com base nos resultados, concluímos que o inseticida fipronil + imidacloprido pode ser indicado para o manejo de O. oryzae na cultura do arroz irrigado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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POTENCIAL DE BIOPESTICIDAS BACTERIANOS E BOTÂNICOS NO CONTROLE DE POMACEA CANALICULATA.

Lidia Mariana Fiuza

1; Neiva Knaak

2; Daniela costa e Silva

3 Jaime Vargas de Oliveira

4

Palavras-chave: Bioensaios. Caramujos. Biopesticidas

INTRODUÇÃO

Bacillus thuringiensis é um procarioto, predominante entomopatogênico, que do ponto de vista microbiológico, trata-se de uma bactéria ubíqua, gram-positiva e formadora de endósporos, elipsoidais, a qual contém um corpo de inclusão paraesporal denominado cristal. O cristal é constituído por proteínas Cry, com massa molecular entre 30 e 140 kDa, as quais são codificadas por genes cry. Por outro lado, essa espécie bacteriana sintetiza diversas enzimas e toxinas que lhes conferem uma ampla adaptação aos habitats naturais, especialmente saprofíticos. As cepas de B. thuringiensis estão sendo estudadas e ao longo do tempo, caracterizadas e descritas como tóxicas e especificas para: Lepidoptera, Diptera, Coleoptera, Nematoide, Protozoários, Trematoides, Ácaros; Hymenoptera, Hemiptera, Orthoptera, Isoptera, Malohaga, entre outras atualmente correspondem a mais de 700 genes cry distribuídos em cerca de 70 classes. No contexto do controle biológico no Brasil, a utilização de B. thuringiensis é uma alternativa promissora às pragas cujos métodos de controle ainda não estão bem estabelecidos e/ou recomendados aos produtores.

Também no controle biológico de pragas, atualmente têm muitas pesquisas com substâncias vegetais que possam ser utilizadas no desenvolvimento de produtos mais econômicos, biodegradáveis, seguros e disponíveis comercialmente (SILVA et al., 2008). Nesse caso, as plantas da família Meliaceae têm sido as mais exploradas porque possuem diversos compostos secundários em diferentes partes das plantas, como as azadiractinas e os limonóides, com baixa toxicidade ambiental e diferentes formas de ação biológica (SALLES; RECH, 1999).

Quanto ao caramujo, Pomacea canaliculata foi introduzido na Ásia como fonte de alimentação humana, no entanto os mercados comerciais não foram bem-sucedidos. A espécie tornou-se então invasora de lavouras de arroz irrigado, causando sérios danos à produção, inclusive no estado do Rio Grande do Sul (KENJI, 2003; WADA, 2004). Os caramujos que chegam nas lavouras de arroz normalmente provêm de reservatórios de água infestada, os quais são utilizados como fonte de irrigação da lavoura e também pela dispersão ativa dos moluscos que se encontram em canais à jusante das lavouras. Quando resta água nos canais de drenagem, os indivíduos deslocam-se pelo fundo, no contra fluxo de água (BEDUHN et al., 2001). Lavouras de arroz com pequenos riachos podem ter problemas crônicos de ocorrência de caramujos, porque o fluxo contínuo de água em determinados canais possibilita a manutenção de uma população de caramujos, que migra para as quadras quando o arroz pré-germinado é semeado (OLIVEIRA et al., 1999).

O manejo de caramujos nas lavouras de arroz irrigado tem como problema a falta de produtos fitossanitários registrados para o controle da referida praga. Nesse sentido alguns bioprodutos à base de bactérias têm sido avaliados, em laboratório para determinar o potencial moluscicida das formulações comerciais que são consideradas seguras aos humanos e não causam impacto ambiental. Nesse trabalho foram efetuados bioensaios, em

1 Doutora em Ciências Agronômicas. EEA-IRGA, e-mail: [email protected]

2 Doutora em Biologia. EEA-IRGA.

3 Mestre em Biologia. UNISINOS.

4 Mestre em Agronomia. EEA-IRGA

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laboratório, com biopesticidas à base de Bt aizawai + Bt kurstaki e óleo de Neem visando o controle de P. caniculata.

MATERIAL E MÉTODOS

Os espécimes de Pomacea canaliculata foram coletados em lavouras de arroz no

município de Cachoeirinha (RS), no ano agrícola 2016/2017. Os caramujos foram previamente aclimatados em laboratório por 10 dias, em recipientes de vidro, com água sem cloro (água mantida 24h, em recipiente aberto, para evaporação do cloro). Nos frascos de vidro, contendo os caramujos, a troca da água e lavagem dos recipientes foi realizada diariamente. Os moluscos foram mantidos na temperatura 26±2ºC e alimentados, uma vez ao dia, com folhas de alface e plântulas de arroz.

Nos bioensaios com P. canaliculata, o pesticida botânico elaborado com óleo de Neem que contém azadiractinas A e B (1% p/v) foi diluído, em H2O na proporção de 1/1; 1/10 e 1/100 mL, além da testemunha (H2O), totalizando quatro tratamentos. Nos ensaios com o bioformulado à base de Bt aizawai e Bt kurstaki, os ensaios foram constituídos por quatro tratamentos: 1g/L, 10g/L, 15g/L e H2O destilada (testemunha). Cada experimento foi realizado em triplicata, sendo utilizados 10 caramujos de 20 a 25mm de diâmetro, conforme ilustra a figura 1. Os moluscos foram mantidos em frascos de vidro de 1L, contendo 300mL da suspensão correspondente aos tratamentos, que foram protegidos com tule. A mortalidade foi avaliada 24 horas após a exposição aos tratamentos.

Figura 1. Bioensaios com Pomacea canaliculata e bioformulados de Bacillus thuringiensis (Bt aizawai + Bt kurstaki) e Óleo de Neem, em laboratório, na Estação Experimental do Arroz, IRGA, Cachoeirinha, RS. Ano agrícola 2016/17.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados dos bioensaios mostram que o bioformulado Bt aizawai + Bt kurstaki na

concentração de 1g/L causou 30% de mortalidade, porém nas concentrações de 10 e 15g/L, a mortalidade corrigida foi de 100% em 24 horas após a aplicação dos tratamentos (figura 2A). Também se observou que os caramujos expostos aos tratamentos com 10 e 15g/L do bioproduto Bt aizawai + Bt kurstaki apresentaram liberação da hemolinfa e retração do opérculo (figuras 2B e 2C). Embora o entomopatógeno, B. thuringiensis vem sendo utilizado a quase um século no controle de pragas, os dados sobre efeitos patogênicos em caramujos são escassos e as publicações quase inexistentes.

Os resultados dos ensaios com o pesticida botânico óleo de neem (contendo azadiractina a 1% p/v) causou 100% de mortalidade em todos os tratamentos (1/1 a 1/100mL) quando comparada a testemunha.

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Figura 2. Dados dos ensaios de Pomacea canaliculata submetidos a aplicação dos bioformulados Bt aizawai e Bt kurstaki (A) Caramujos 24 horas após a exposição aos tratamentos (AET) de 10g/L e 15g/L; (B) Caramujos 24h AET com 10g/L; (C) caramujos 24h AET com 15g/L.

Os resultados dos ensaios com o pesticida botânico óleo de Neem, contendo azadiractina a 1% p/v, causou 100% de mortalidade em todos os tratamentos (1/1 a 1/100mL) quando comparada a testemunha. O potencial da azadiractina no controle de P. Caniculata, também foi observado por Venturini et al. (2008), utilizando extratos de folhas de Azadaractina indica, onde obteve uma CL50 de 142,75 ml/L.

CONCLUSÃO

Os bioformulados a base Bt aizawai + Bt kurstaki e óleo de Neem revelaram efeito letal aos caramujos da espécie P. canaliculata, nos ensaios realizados em laboratório. Nesse contexto, infere-se que esses bioprodutos têm potencial para avaliação em áreas experimentais e campo a fim de inclusão nas “Recomendações Técnicas da Pesquisa para o Sul do Brasil – CTAR.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq (edital Universal e CT-Agro) pelo apoio

financeiro no desenvolvimento dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEDUHN, A. A.; SILVA, J. J. C.; YUSA, Y. 2001. Padrão de consumo de caramujo do banhado (Pomacea canaliculata) pelo gavião caramujeiro (Rosthramus sociabilis) na restinga da Lagoa Mirim, Rio Grande, RS, 2001. In: Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, 2., 2001, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: IRGA. p.392-393. KENJI, I. 2003. Expansion of the golden apple snail, Pomacea canaliculata, and features of its habitat. Food and Fertilizer Technology Center. OLIVEIRA, J. V.; RAMIREZ, H. V.; MENEZES, V. G.; CRUZ, F. Z. 1999. Controle do molusco Pomacea canaliculata em arroz irrigado no sistema pré-germinado. Anais. Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, Pelotas: Embrapa Clima Temperado.

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SALLES, L. A. B; RECH, N. L. 1999. Efeitos de extratos de nim (Azadiractha indica) e Cinamomo (Melia azedarach) sobre Anastrepha fratercullus (Wied.) (Diptera: Tephritidae). Revista Brasileira de Agrociência, Pelotas, V.5, n.3, p.225-227. VENTURINI, F. P.; CRUZ, C.; PITELLI, R. A. 2008. Toxicidade aguda do sulfato de cobre e do extrato aquoso de folhas secas de nim para o caramujo (Pomacea canaliculata). Acta Scientiarum: Biological Sciences, 179-183. WADA, T. 2004. "Strategies for controlling the apple snail Pomacea canaliculata (Lamarck) (Gastropoda: Ampullariidae) in Japanese direct-sown paddy fields." Japan Agricultural Research Quarterly: JARQ 38.2: 75-80.

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BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS DE ORYZA SATIVA QUE CONFEREM TOLERÂNCIA ÀS LAGARTAS DE SPODOPTERA FRUGIPERDA

(LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE).

Neiva Knaak1; Larissa Bedin Battistin

2; Diouneia Lisiane Berlitz

3; Lidia Mariana Fiuza

4

Palavras-chave: Bioensaios, Chryseobacterium indologenes, Lagarta-da-folha.

INTRODUÇÃO

No último século, a pesquisa repetidamente demonstrou que as bactérias e os fungos têm uma íntima interação com suas plantas hospedeiras e são capazes de promover o crescimento das plantas, resistência contra patógenos e parasitas, maior resistência a condições de estresse biótico e abiótico (WHIPPS, 2001), além de possuírem grande potencial biotecnológico (LINDOW; LEVEAU, 2002).

A interação benéfica entre planta e micro-organismo tem sido pouco explorada na agricultura, apesar de possuir importância global e local no equilíbrio dinâmico dos ecossistemas, para utilização em estratégias no Manejo Integrado de Doenças e Pragas.

Na cultura do arroz, Spodoptera frugiperda (J. E. SMITH, 1797) é conhecida como lagarta-da-folha. Esses insetos danificam plantas jovens, cortam colmos rente ao solo, desfolham plantas mais desenvolvidas e também causam danos a flores e panículas (inflorescências). No arroz irrigado o período mais severo do ataque acontece entre a emergência das plântulas e a inundação, podendo ocorrer a destruição de áreas extensas da plantação. Quando a lavoura já está inundada, a lagarta corta os colmos e folhas no nível da superfície da lâmina de água. (PEREIRA; BANDEIRA; QUINCOZES, 2005; SOSBAI, 2012).

Conforme Azevedo (2000), o controle natural e biológico de pragas agrícolas de plantas cultivadas tem sido visto como uma das maneiras de redução do uso de produtos químicos na agricultura. Dentre os microrganismos, destacam-se os endofíticos, que são aqueles que habitam o interior de tecidos e órgãos de vegetais, pelo menos durante um período do seu ciclo vital, sem lhes causar qualquer efeito danoso, sendo importantes na manutenção das plantas que residem. (AZEVEDO, 2008; PEIXOTO NETO; AZEVEDO; ARAÚJO, 2002). Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo selecionar e identificar bactérias endofíticas de plantas de arroz, Oryza sativa, e verificar seu potencial inseticida à lagarta S. frugiperda, em laboratório.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram selecionadas, aleatoriamente, 20 bactérias endofíticas de plantas de O. sativa,

acondicionadas sob refrigeração (-18º C). As bactérias foram inoculadas no meio de cultivo e incubadas a 35°C (± 2°C), pelo período de 18 a 24 horas. Em seguida, foi realizada a classificação das bactérias Gram-negativas e Gram-positivas. Para identificação das espécies bacterianas classificadas como Gram-negativas foram efetuadas provas bioquímicas no sistema API

® 20E (Biomérieux Brasil SA) e avaliado com auxílio do

programa APIWEB (Fig. 1).

1 Doutora em Biologia. Instituto Rio Grandense do Arroz – EEA, E-mail: [email protected]

2 Bióloga, Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

3 Doutora em Biologia. Control_Agro_Bio Pesquisa e Defesa Agropecuária Ltda.

4 Doutora em Ciências Agronômicas. Instituto Rio Grandense do Arroz.

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Figura 1 - Identificação bioquímicas das espécies bacterianas, no sistema API

® 20E(A) e

análise no programa APIWEB/Biomérieux Brasil SA(B). Nos bioensaios com S. frugiperda foi utilizada a bactéria identificada como

Chryseobacterium indologenes. Esta foi cultivada em meio usual glicosado, a 180 rpm, a 28ºC por 48 horas (DEBARJAC e LECADET, 1976). Em seguida, a suspensão bacteriana foi centrifugada, a 5000 rpm, por 15 minutos. A contagem das células foi realizada em Câmara de Neubauer e microscopia óptica (400x), sendo a concentração ajustada em 1x10

10 células/mL.

Para os bioensaios foram aplicados 10 µL da suspensão bacteriana padronizada sob a superfície de secções de folhas de soja perene acondicionadas em mini-placas de acrílico de 30 mm de diâmetro, onde 30 lagartas de 2º ínstar de S. frugiperda foram individualizadas, os ensaios foram realizados em triplicata. No grupo controle as suspensões bacterianas foram substituídas por água destilada esterilizada.

Os experimentos foram mantidos em câmara climatizada (25°C± 2°C; 70% UR e fotoperíodo de 12 horas). A mortalidade foi avaliada até o sétimo dia após a aplicação dos tratamentos, sendo corrigida pela fórmula de Abbott (1925). Os dados obtidos foram submetidos ao teste t (p<0,05), para comparação entre as médias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre as 20 cepas bacterianas avaliadas, oito foram classificadas como Gram-negativas, sendo identificadas quatro espécies endófitas do arroz (Tabela 1).

Tabela 1 - Bactérias endófitas Gram-negativas identificadas pelo sistema API® 20E e analizadas pelo programa APIWEB.

Nº das Cepas Espécies identificadas

P 17-1 Brucella spp.

P 17-2 Chryseobacterium indologenes

P 18-1 Brucella spp.

P 18-2 Chryseobacterium indologenes

P 24-1 Brucella spp.

P 29-1 Pasteurella pneumotropica/Mannheimia haemolytica

P 29-2 Chryseobacterium indologenes

P 40 Bibersteinia trehalosi

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Entre as cepas bacterianas identificadas, a espécie C. indologenes foi relacionada como uma bactéria comum nos ecossistemas, especialmente em áreas úmidas, sendo encontrada no solo, planta, alimentos, e água (CHANG et al., 2015). Dessa maneira, foi selecionada para os bioensaios contra as lagartas de S. frugiperda, pois as demais são descritas como patógenos em animais e humanos. (DASSANAYAKE et al., 2010; ELISEI et al., 2010).

C. indologenes, na concentração de 1x1010

células/mL, causou uma mortalidade corrigida de 25%, em lagartas de 2º instar de S. frugiperda. O teste t foi realizado através do programa Past, sendo obtido um valor de t= 29,698 com p= 0,001, ou seja, houve diferença significativa entre o grupo controle e a bactéria endófita isolada de Oryza sativa. Esse resultado infere que C. Indologenes tem uma função de proteção da planta hospedeira contra fitófagos.

CONCLUSÃO

A presença desse endófito em arroz é positiva, pois segundo Shi et al. (2010),

plantas inoculadas com C. indologenes, tiveram um aumento significativo do teor de clorofila e a capacidade fotossintética, com consequente aumento da produção de carboidratos. Os dados das bactérias endofíticas de Oryza sativa conferem tolerância às lagartas de Spodoptera frugiperda que é um impotante fitófago da fase inicial da orizicultura. Estudos focados na utilização de bactérias endofíticas como ferramentas para aumentar a produtividade da cultura de cereais, como a orizicultura, indicam potencial para a aplicação desses procariotos, seja como estimuladores do crescimento e/ou agentes proteção contra as pragas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e a FAPERGS pelo apoio financeiro no desenvolvimento dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HORÁRIO DE VOO NOTURNO DAS PRAGAS DO ARROZ IRRIGADO Eduardo Rodrigues Hickel

1; Marino Antônio de Quadros

2; Luciano da Silva Alves

2

Palavras-chave: dinâmica populacional, manejo integrado de pragas, Oryza sativa,

INTRODUÇÃO

De acordo com o horário de voo, os insetos podem ser classificados como (i) diurnos, quando voam das 7 às 17h; (ii) noturnos, com voo entre as 19 e 5h e (iii) crepusculares, que voam sob condições de baixa luminosidade, quer no amanhecer ou no entardecer (SILVEIRA NETO et al., 1976). Os insetos crepusculares matutinos são aqueles que voam das 5 às 7h e os crepusculares vespertinos, das 17 às 19h.

Os insetos-praga do arroz irrigado com fototropismo positivo incluem os adultos de bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae Costa Lima e Helodytes sp.), o percevejo-do-grão (Oebalus spp.), a mariposa da lagarta-boiadeira (Nymphula spp.), a noiva-do-arroz (Rupela albinella Cramer) e o cascudo-preto (Euetheola humilis (Burm.)). Todas essas espécies voam durante a noite, porém o horário de voo é desconhecido. Isso porque os estudos de monitoramento e flutuação populacional baseiam-se na captura de indivíduos com armadilhas luminosas que operam ininterruptamente por toda a noite (HICKEL, 2013; 2014). Ligadas à rede elétrica, não há, para essas armadilhas, a preocupação com o suprimento e consumo de energia. Não obstante, as possibilidades de emprego dessas armadilhas em lavouras de arroz são restritas, devido ao baixo alcance das redes de distribuição de energia.

Preocupados com essa situação, Knabben et al. (2015) projetaram e construíram a “Sonne”, uma armadilha luminosa autônoma para uso em lavouras de arroz irrigado. A “Sonne” utiliza energia solar fotovoltaica para alimentar o sistema eletrônico e diodos emissores de luz (LEDs) como fonte luminosa atrativa. Não obstante os avanços e inovação obtidos com essa armadilha, ainda é preciso aprimorar e compactar o modelo, para facilitar o deslocamento e instalação nas lavouras. Para a compactação física da “Sonne” é preciso melhor dimensionar e otimizar o consumo de energia elétrica dos circuitos e da lâmpada de LEDs. Isto permitirá, não apenas reduzir o banco de baterias, mas possivelmente também o tamanho do painel solar (KNABBEN, 2014).

O consumo de energia elétrica da “Sonne” será grandemente otimizado com o conhecimento do(s) período(s) de maior atividade de voo das pragas do arroz irrigado. Isto permitirá estabelecer o exato horário em que a armadilha deverá ficar acesa, poupando energia nas demais horas de baixa movimentação de insetos. Assim sendo, foi objetivo deste trabalho conhecer o horário de voo noturno das pragas do arroz irrigado.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Estação Experimental da Epagri de Itajaí, SC, durante a safra 2015/16, numa lavoura de arroz irrigado, de 0,15 ha (quadra C1; 26°56’44”S 48°45’42”O). Esta quadra limita a norte, sul e leste com outras quadras de arroz e a oeste com o leito seco original do Rio Itajaí Mirim. A cutivar utilizada foi a Epagri 106, de ciclo precoce, transplantada em 29 de setembro de 2015 no espaçamento de 15 x 25cm. O manejo do cultivo seguiu as recomendações para o sistema pré-germinado (EBERHARDT & SCHIOCCHET, 2015), excetuando a aplicação de inseticidas.

Quatro armadilhas luminosas, modelo “Luiz de Queiroz” com luz negra (T8 15W BL LE), foram instaladas aos pares em dois postes de madeira. Os postes foram posicionados

1 Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970, Itajaí, SC, fone: (47) 3398-6337, e-mail:

[email protected]. 2 Acadêmico de Agronomia., UFRGS/Centro de Ciências Agrárias, e-mail: [email protected];

[email protected].

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ao lado da taipa, um no canto nordeste da quadra e o outro a 50m longe deste. Para limitar a captura de insetos maiores, uma tela de náilon (5 x 5mm de malha) foi colocada circundando as aletas das armadilhas “Luiz de Queiroz”.

No período de 07 de janeiro a 02 de março de 2016, as armadilhas foram ligadas diariamente nas seguintes frações de horário: das 18 às 21h, das 21 às 24h, das 24 às 3h e das 3 às 6h. ‘Timers’ controlaram os horários de acendimento alternado das armadilhas de modo que apenas uma armadilha ficou acesa em cada fração de horário.

Os insetos atraídos foram aprisionados em sacos plásticos de 20L, fixados no funil coletor das armadilhas, de onde posteriormente efetuou-se a triagem e contagem dos indivíduos em laboratório. Com o registro das contagens foram confeccionados os gráficos de flutuação populacional para cada fração de horário. Os horários de vôo das pragas do arroz irrigado foram estabelecidos com a análise de variância e comparação de médias, seguindo delineamento em blocos ao acaso com quatro tratamentos (frações de horário). Cada semana de coleta foi considerada um bloco na montagem da análise de variância, sendo o número de insetos transformado para (x + 0,5)

0,5. Para essa análise foi utilizado o

suplemento DSAAStat (versão 1.101) em planilha eletrônica Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os horários de voo noturno das pragas do arroz irrigado são apresentados na Tabela 1. De maneira geral, as seis primeiras horas da escotofase foram as que proporcionaram as maiores capturas de indivíduos nas armadilhas, embora não haja um comportamento único para todas as espécies. Por exemplo, as mariposas da lagarta-boiadeira (Nymphula spp.) quase não voam no início da noite (das 18 às 21h). Já os gorgulhos aquáticos Helodytes sp. preferem fazê-lo nesse horário. As coletas de cascudo-preto foram escassas e reduzidas e foram desconsideradas nesse estudo.

Williams (1939) verificou que, para os insetos noturnos, as duas primeiras horas da escotofase eram aquelas em que ocorria a maior atividade de voo, principalmente para os Coleoptera. Isso contudo, não foi válido para os adultos da bicheira-da-raiz (O. oryzae) que voaram em todos os horários. Rodrigues et al. (2010) também verificaram que o escarebeídeo Cyclocephala verticalis Burm. voa por toda a noite. Persson (1976), por sua vez, mostrou que o horário de voo noturno de mariposas noctuídeas era variável e dependia não apenas da espécie, mas também do sexo dos indivíduos.

Face à metodologia empregada, é possível que a redução da captura de indivíduos nas seis horas finais da escotofase se deva, em parte, pelo esgotamento momentâneo da população residente na área. Para O. oryzae e Oebalus spp. esta parece ser uma possibilidade plausível. Tabela 1. Número total de indivíduos capturados das espécies de pragas do arroz irrigado, de acordo com o horário noturno. Itajaí, 07/jan. a 02/mar. 2016.

Horário Espécie(s)1

O. oryzae Helodytes sp. Oebalus spp. Nymphula spp. R. albinella E. humile2

18 às 21h 1.041 ab 204 a 254 a 72 b 39 b 10

21 as 24h 1.632 a 87 b 212 a 2.649 a 97 a 7

24 às 3h 518 b 60 b 75 b 599 b 60 ab 0

3 às 6h 553 ab 42 b 21 b 247 b 48 ab 9

CV (%)3

41,8 31,2 29,3 61,1 31,2 46,6 1/

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste Tukey (p ≤ 0,05). 2/

Não significativo (F = 1,76; p = 0,18). 3/

Coeficiente de variação em porcentagem.

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Como era de se esperar, as flutuações populacionais foram muito variáveis (Figura 1), o que resultou em coeficientes de variação altos (Tabela 1). Isso por sua vez teve influencia no teste de separação de médias, que tendeu a ser menos discriminatório (somas altas de indivíduos foram igualadas a somas baixas).

12/jan 15/jan 21/jan 27/jan 02/fev 05/fev 12/fev 18/fev 25/fev 02/mar

0

10

20

30

40

50

12/jan 15/jan 21/jan 27/jan 02/fev 05/fev 12/fev 18/fev 25/fev 02/mar

0

20

40

60

80

100

12/jan 15/jan 21/jan 27/jan 02/fev 05/fev 12/fev 18/fev 25/fev 02/mar

0

50

100

150

200

400

600

800

12/jan 15/jan 21/jan 27/jan 02/fev 05/fev 12/fev 18/fev 25/fev 02/mar

0

5

10

15

20

25

12/jan 15/jan 21/jan 27/jan 02/fev 05/fev 12/fev 18/fev 25/fev 02/mar

0

50

100

150

200

300

400

500 Helodytes sp.

Indi

vídu

os (

no )

Oebalus spp.

Tempoo (dia)

Nymphula spp.

Indi

vídu

os (

no )

Tempo (dia)

Rupela albinella

Indi

vídu

os (

no )

18 às 21h

21 às 24h

24 às 03h

03 às 06h

Oryzophagus oryzae

Figura 1. Flutuação populacional de pragas do arroz irrigado, de acordo com o horário de voo noturno. Itajaí, 07/jan. a 02/mar. 2016.

O horário de voo dos insetos tem sido alvo de diversas pesquisas, quer para fins acadêmicos (RIEHS, 2006; MESQUITA FILHO, 2009; ALBUQUERQUE, 2013) ou de manejo de pragas (D’AVILA & COSTA, 2005; KLESENER et al., 2007; SANTOS & ÁVILA, 2009; RODRIGUES et al., 2010). No caso do manejo de pragas, o horário de voo normalmente é pesquisado visando à adequação do controle químico, notadamente no que diz respeito ao horário de pulverização de inseticidas. O intuito dessa pesquisa foi outro e, para fins de otimização do consumo energético de armadilhas luminosas fotovoltaicas, estas poderiam ficar acesas apenas no período das 18 às 24h, coletando-se assim mais de 70% do número de indivíduos esperado. Prevendo-se um funcionamento diário para essas armadilhas, os insetos não capturados na continuação do período noturno, ficariam sujeitos a serem capturados na noite seguinte.

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CONCLUSÃO

As pragas do arroz irrigado voam com maior intensidade nas primeiras seis horas do período noturno.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina - Fapesc e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pelo suporte financeiro ao desenvolvimento da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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